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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 3.337/04 - AGÊNCIAS REGULADORAS EVENTO: Audiência Pública N°: 0884/04 DATA: 17/6/2004 INÍCIO: 9h55min TÉRMINO: 12h33min DURAÇÃO: 2h38min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h37min PÁGINAS: 75 QUARTOS: 32 DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO ANTONIO PALOCCI - Ministro de Estado da Fazenda. SUMÁRIO: Debate sobre o Projeto de Lei nº 3.337/04, que dispõe sobre a gestão, a organização e o controle social das agências reguladoras. OBSERVAÇÕES Houve exibição de imagens. Há intervenções inaudíveis. Há oradores não identificados.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · segmentos, para que todos tenham ganhos de escala — e esses serviços normalmente os têm — que possam ser transferidos

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 3.337/04 - AGÊNCIAS REGULADORASEVENTO: Audiência Pública N°: 0884/04 DATA: 17/6/2004INÍCIO: 9h55min TÉRMINO: 12h33min DURAÇÃO: 2h38minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h37min PÁGINAS: 75 QUARTOS: 32

DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO

ANTONIO PALOCCI - Ministro de Estado da Fazenda.

SUMÁRIO: Debate sobre o Projeto de Lei nº 3.337/04, que dispõe sobre a gestão, a organizaçãoe o controle social das agências reguladoras.

OBSERVAÇÕES

Houve exibição de imagens.Há intervenções inaudíveis.Há oradores não identificados.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Havendo número

regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião de audiência pública

da Comissão Especial destinada a oferecer parecer ao Projeto de Lei nº 3.337/04,

que dispõe sobre a gestão, a organização e o controle social das agências

reguladoras.

Nesta reunião de audiência pública vamos ouvir o ilustre Ministro da Fazenda,

Sr. Antonio Palocci, cuja presença agradeço e que convido a tomar assento à Mesa.

Saúdo o Líder do Governo na Câmara dos Deputados, Deputado Professor

Luizinho, e cumprimento todos os Deputados que compõem a Comissão.

Tendo em vista a distribuição de cópias da ata da reunião anterior, indago da

necessidade de sua leitura. (Pausa.)

Atendendo a pedido do Deputado Eliseu Resende, está dispensada a leitura

da ata.

Em discussão a ata. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, em votação a ata.

Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovada.

Como em todas as audiências públicas, primeiro fará uso da palavra o

convidado, Sr. Ministro Antonio Palocci, pelo tempo de 20 a 30 minutos. Em seguida,

a palavra será franqueada aos Parlamentares que dela quiserem fazer uso, pelo

tempo de 5 minutos, e então será devolvida ao Sr. Ministro.

Sabendo das dificuldades de agenda do Sr. Ministro, combinamos com S.Exa.

que a audiência não ultrapassará o tempo de 2 horas.

Esta reunião está sendo transmitida ao vivo pela TV Câmara.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Com a palavra o ilustre Ministro da Fazenda, Sr. Antonio Palocci.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Sr. Presidente, Deputado Henrique

Fontana, Sr. Relator, Sras. e Srs. Deputados, pretendo não fazer mais do que uma

breve apresentação, deixando tempo para o diálogo com V.Exas. sobre uma das

questões centrais, do ponto de vista da política econômica, para a garantia de

instrumentos eficazes de desenvolvimento econômico e para a garantia de uma

institucionalidade moderna para o Brasil que aumente o nosso PIB potencial e faça

com que os ganhos de produtividade e de competitividade sejam absorvidos pelo

conjunto da economia, beneficiando-se o País desses ganhos.

(Segue-se exibição de imagens.)

Como sabem V.Exas., estamos em plena recuperação da atividade

econômica; vivemos agora o final do quarto trimestre de crescimento econômico.

Portanto, a retomada do crescimento é uma pauta que já se consolidou nos últimos

4 trimestres.

A questão fundamental que se apresenta para o desenvolvimento brasileiro

neste momento não são apenas as condições macroeconômicas para o aumento da

atividade, na medida em que elas basicamente existem. A questão que se apresenta

neste momento é de que maneira o Brasil vai ampliar a musculatura de sua

economia, preparar-se para fortalecer as iniciativas de novos investimentos,

fortalecer sua institucionalidade, modernizar sua legislação, melhorar a qualidade

dos créditos privados e públicos, melhorar a qualidade do tratamento dado ao

Orçamento, permitindo que a poupança pública seja maior e de melhor qualidade e,

assim, criando condições para que o PIB potencial do Brasil seja ampliado ano a

ano.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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O que todos certamente desejam não é o crescimento de 2004, mas, sim, um

crescimento constante pelos próximos 10, 12, 15 anos, a taxas cada vez mais

elevadas, com maior competitividade empresarial, e que o País responda a seus

desafios.

Por isso, quando recentemente um conjunto de Ministérios, sob a liderança do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, lançou a política

industrial do Governo, fizemos questão de ressaltar que ela entrava com a

fundamental inovação da Ciência e da Tecnologia. Sabemos que essa questão é a

que mais pode ter inflexão horizontal em toda a cadeia produtiva brasileira, do

campo e da cidade, e potencializar de maneira bastante eficaz o crescimento

brasileiro.

Portanto, o tema de hoje — agências reguladoras — refere-se também à

institucionalidade do País, de grande importância não apenas para os próximos

meses, mas também para as próximas décadas, no sentido de que seja consolidado

o compromisso nacional com os contratos de longo prazo, contratos de infra-

estrutura, fundamentais para o desenvolvimento brasileiro, ou seja, no sentido de

que sejam acompanhados e regulados por um sistema bastante moderno e forte que

diga respeito aos desafios do Brasil.

Vou rapidamente discorrer sobre 3 questões: influência dos investimentos em

infra-estrutura sobre o crescimento; razões para a regulamentação; e principais

alterações propostas pelo PL nº 3.337, de 2004, que esta Comissão Especial está

analisando.

Os investimentos em infra-estrutura aumentam a produtividade de diversas

atividades econômicas. Estudos demonstram que investir em infra-estrutura é

mecanismo eficaz para aumentar a produtividade da economia. O aumento da

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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produtividade diminui os custos de produção do setor privado, elevando a

rentabilidade e estimulando novos investimentos produtivos; ou seja, o aumento da

produtividade é instrumento estimulador de um círculo virtuoso na economia. Novos

investimentos elevam o PIB e a renda do trabalhador.

Trago aqui conclusões apresentadas por trabalho de 2003 — portanto recente

—, em que Lederman e Maloney, economistas do Banco Mundial, comparam o PIB

por trabalhador da América Latina e do Leste Asiático e procuram analisar por que

houve distanciamento entre as duas regiões, nos últimos 20 anos.

As conclusões são importantes e se transformam em questões conceituais

conhecidas, mas com dimensão medida pelo estudo, que é de alta qualidade.

Nele se destaca, por exemplo, que os menores investimentos em infra-

estrutura na América Latina explicam cerca de um terço do aumento da diferença na

renda por trabalhador entre as duas regiões, ou seja, a defasagem de infra-estrutura

da América Latina em relação à Ásia — trata-se de estudo comparativo — explicaria

um terço da diferença do PIB por trabalhador entre essas regiões.

O estudo ressalta também que os menores investimentos nas demais

atividades produtivas — aí incluída a construção de áreas e bens de capital —

explicam outro um terço do aumento da diferença na renda do trabalhador.

Por fim, o menor crescimento da escolaridade, ou seja, a formação da mão-

de-obra, explica cerca de 10% do aumento da diferença na renda por trabalhador.

Portanto, são fundamentais para a consolidação de um PIB elevado 3

elementos, medidos nessa relação comparativa de maneira bastante clara por

estudo recente, repito: investimento em infra-estrutura, nas demais atividades

produtivas e na escolaridade do trabalhador.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Nos Estados Unidos, estima-se que no período pós-guerra — também esses

são estudos de econometria — cada 1% de aumento da infra-estrutura gerou

aumento de produtividade de 0,4% a 0,5%, ou seja, um grande impacto de

investimentos em infra-estrutura gerou ganhos na atividade econômica.

O Governo atualmente está seguindo 3 linhas de ação para ampliar e

melhorar a eficiência do investimento em infra-estrutura.

A primeira delas é o reforço da poupança pública. Essa foi uma decisão

tomada no início do Governo, quando reforçamos o equilíbrio fiscal para recompor a

poupança pública. Esse equilíbrio tem levado a uma redução das taxas de juros de

mercado e a maior solidez macroeconômica, reduzindo os riscos agregados que

penalizam os investimentos de longo prazo, ou seja, um maior compromisso fiscal

melhora o ambiente macroeconômico, reduz juros de mercado e permite maior

solidez e confiança para o investimento de longo prazo, além de estabilizar contratos

e relações público-privadas.

O aprimoramento do marco regulatório do sistema de agências reguladoras é

a segunda das 3 linhas de ação que visam aumentar o investimento em infra-

estrutura, tema que vamos discutir mais à frente.

E a terceira linha de ação é a criação do marco legal para as Parcerias

Público-Privadas, que não vou abordar hoje, pois a matéria já foi discutida e votada

e encontra-se em andamento final no Congresso Nacional.

Por fim, temos o quadro das bases para o crescimento sustentável. Em

primeiro lugar, o alicerce de uma casa chamada crescimento é a estabilidade

macroeconômica. A nossa convicção é de que a estabilidade macroeconômica não

é condição suficiente para o crescimento sustentado, mas condição essencial. Sem

ela, não há crescimento econômico sustentado. Não há exemplo de país que, sem

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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inflação controlada e equilibro fiscal, tenha alcançado crescimento de longo prazo

estável e sólido.

Em seguida, a eficiência e a produtividade, no caso que citei, fazem parte de

uma política industrial focada na inovação tecnológica, na redução do custo de

capital e comércio, além de serem um marco regalório. É o que estamos discutindo

hoje, quando se trata do reforço do empreendedorismo e da proteção social efetiva.

Como temos destacado em outras oportunidades, a melhora da qualidade do ajuste

fiscal e do gasto público pode gerar eficiência maior e ampliação dos compromissos

e investimentos em programas sociais.

Consideramos que, num país com o nível de desigualdades de renda do

Brasil, a melhoria da eficiência e da magnitude do gasto social bem realizado, tem

influência importante no crescimento econômico e na estrutura de resistência do

País a choques externos.

São conhecidos diversos estudos econômicos segundo os quais países com

má distribuição de renda têm resistência muito diminuída a choques externos, na

medida em que a difusão desses choques na economia se dá de maneira

diferenciada, abatendo certamente a renda das famílias mais pobres e

desorganizando o processo econômico e social. Portanto, esses instrumentos e

pilares seriam as condições para o crescimento econômico, a geração do emprego e

a redução da pobreza e da desigualdade.

Por que fazer a regulamentação? Essa é a questão levantada. Em primeiro

lugar, porque os setores de infra-estrutura apresentam, se deixados para o livre

mercado, falhas importantes que precisam ser acompanhadas e reguladas.

A primeira delas é relativa aos monopólios naturais. Existem atividades em

que é inevitável o monopólio, principalmente no caso dos serviços de rede. Não há

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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em nenhum país do mundo o estímulo ou a normalidade de desenvolvimento de

projetos de infra-estrutura concorrenciais. Em diversas áreas de serviços de rede

não se têm observado ganhos nos processos concorrenciais na atividade econômica

privada. Portanto, esses setores são inevitavelmente monopolistas.

Para que o consumidor seja defendido, é necessária a regulação desses

segmentos, para que todos tenham ganhos de escala — e esses serviços

normalmente os têm — que possam ser transferidos para o consumidor. Essa

basicamente é a ação precípua de um agente regulador diante de serviços em que o

monopólio é tido por natural. Esses serviços têm a característica de reduzir seus

custos com ganhos de escala. Quanto maior o ganho, menor o custo. E aos serviços

reguladores cabe observar isso e procurar transferir esses ganhos de escala para os

serviços de rede, para a população e o consumidor.

O segundo elemento econômico importante que justifica a regulação é a

existência de grandes barreiras de entrada. Ou seja, numa determinada atividade, o

custo de competitividade de um novo agente no mercado muitas vezes é bastante

diferenciado e dificultado, visto que outros já atuam no setor, tendo ganhos de

competitividade por atividades cruzadas, por atividades associadas que impedem

que uma concorrência efetiva se realize. Também nesse caso o agente regulador

deve atuar para assegurar a entrada de novas firmas, cujo conteúdo econômico

estimule maior concorrência. As barreiras de entrada devem ser debatidas de

maneira clara.

Em terceiro lugar, as “externalidades” negativas, ou seja, geração de

poluição, danos ambientais, que também devem exigir por parte das agências

reguladoras trabalho de contorno do seu nível.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Por que a regulamentação por intermédio de agências? A utilização de

agências como instrumentos de Estado para a regulação dos setores de infra-

estrutura decorre da existência simultânea de falhas de mercado e do longo prazo

de maturação dos investimentos em infra-estrutura. Ou seja, essas falhas de

mercado, além do fato de que os investimentos em infra-estrutura quase sem

exceção exigem longo prazo de maturação, fazem com que a regulação seja

exigida, no sentido de garantir a estabilidade desses projetos e a ação das agências

para combater as falhas.

Portanto, a regulação vai garantir incentivos para que os consumidores se

beneficiem dos ganhos de eficiência. E as agências de Estado vão garantir a

estabilidade de regras e viabilizar investimentos privados de longo prazo.

O modelo atual apresenta algumas insuficiências que exigem

aprimoramentos. Por exemplo: não-uniformidade de regras para as diversas

agências. A experiência brasileira se deu num período recente, e a implantação das

agências foi sendo feita conforme os setores se modificavam. Esse foi um trabalho

feito com avanços e conquistas importantes para o País. Todavia, não foi completo.

É importante que o Congresso Nacional olhe agora o resultado do trabalho feito em

relação às agências reguladoras e consolide-o numa legislação mais definitiva.

É fácil observar que as agências, por serem criadas em situações e períodos

diferentes, contam com regras muito diferenciadas. Algumas contam com o contrato

de gestão e outras não; umas têm mandatos claros e outras não; algumas definem o

mandato do presidente e outras não.

Portanto, não é desejável que permaneça essa legislação. É justificável o

fato de isso ter acontecido, visto que o processo de implantação das agências não

se deu num único momento, de maneira linear e global. Não seria justificável

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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permanecer uma diferenciação em relação às agências, o que não permitiria a

consolidação institucional no Brasil, adequada ao investimento de longo prazo.

Trata-se da uniformização das regras, da clarificação do papel do Executivo e

das agências, para evitar sobreposição de funções e para a interação entre os

setores regulados e o sistema brasileiro de defesa da concorrência.

Essa é uma questão importante que o novo projeto apresenta.

O Governo apresentou 2 anteprojetos de lei, que, disponibilizados para

consulta pública, receberam mais de 700 contribuições. Com elas o Governo enviou

o projeto que está nas mãos de V.Exas.

Resumidamente, a definição de competências, o planejamento e a formulação

de políticas setoriais cabem aos órgãos da administração direta, ou seja, os

Ministérios ficariam responsáveis pela definição das características das políticas

setoriais.

As agências têm competência definida para regulamentar e fiscalizar as

atividades reguladas, implementando a política setorial definida no ambiente dos

Ministérios.

O poder de outorga de concessões e permissões é atribuído ao Poder

Executivo, mas cada Ministério pode delegar essas atribuições às agências,

devendo dialogar sempre com as mesmas, com base na legislação.

É importante ressaltar que esse aspecto da legislação acompanha a média

verificada em outros países. Não há um padrão no mundo em relação ao

funcionamento das políticas públicas pelos órgãos diretos de Estado, do Poder

Executivo, e por agências reguladoras ou sistema semelhantes. Muitos países

trabalham com essa metodologia; uns reforçam mais a ação direta do Executivo;

outros reforçam um pouco mais a ação do agente regulador. Procuramos uma

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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mediação que nos parece adequada para a experiência brasileira, que diz respeito à

consolidação das políticas setoriais nos Ministérios; E à agência a competência para

regulamentar e fiscalizar as atividades e, eventualmente, quando transferida pelo

Ministério, a própria outorga de serviços e o acompanhamento dos contratos.

Parece-nos ser um desenho adequado para a experiência atual brasileira.

É essencial que os mecanismos de controle social sejam estabelecidos. O

projeto procura balancear a independência das agências com mecanismos mais

eficientes de controle social e de prestação de contas. Ou seja, não podemos jamais

confundir independência com desnecessidade de prestação de contas à sociedade.

A realização de consultas e de audiências públicas, com ampla divulgação

dos seus resultados, deve ser prática permanente das agências.

Estão definidos na lei também a concessão do direito das associações de

defesa do consumidor ou do usuário de indicar até 3 representantes especializados

para acompanhar as consultas públicas, o conjunto das atividades; a apresentação

de relatórios anuais de atividades ao Ministério setorial, à Câmara dos Deputados e

ao Senado Federal; e a criação de Ouvidorias em todas as agências reguladoras.

A própria Ouvidoria tem como característica a atuação não dependente da

diretoria do órgão. Trata-se de uma Ouvidoria propriamente dita funcionando dentro

da agência.

A independência decisória das agências é dada pela definição de mandato

para os seus presidentes não coincidente com o do Presidente da República. Foram

mantidas as atuais condições para demissão dos diretores. Achamos que está

adequada, correta e bem apresentada essa questão.

E fica mantida a decisão colegiada.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Existe uma proposta que não consta desta apresentação. Discutiu-se a

necessidade de criar mecanismos para que o Congresso Nacional possa convocar

presidentes e diretores de agências reguladoras. Essa questão deve ser discutida.

Somos favoráveis a ela, mas não é matéria de legislação infraconstitucional e, sim,

constitucional. Por isso, não consta desse projeto. É uma discussão que caberia

fazermos, a fim de verificar o mecanismo que poderia ser utilizado. Seria uma

proposta de emenda à Constituição.

Um segundo aspecto do projeto são os contratos de gestão. Está definido que

o objetivo do contrato de gestão é promover maior transparência na gestão da

agência e aperfeiçoar as relações de cooperação com o Poder Público.

O contrato de gestão estabelecerá metas mínimas de desempenho

administrativo e de fiscalização a serem atingidas pela agência, além de estimar os

recursos orçamentários necessários e os prazos para o alcance dessas metas.

As condicionalidades do contrato de gestão não devem implicar a restrição de

liberdade na tomada de decisão para a implementação das políticas setoriais. O

contrato de gestão não se aplica à regulação. Qual o escopo dos contratos de

gestão? Eles não servem para acompanhar a atividade de regulação. Entendemos

que a atividade de regulação é atribuição central e nuclear que caracteriza a

independência das agências.

Consideramos adequado que se estabeleçam entre o órgão executivo setorial

e a agência contratos de gestão que definam num mesmo patamar as suas

necessidades orçamentárias, para que obtenha garantias ao seu funcionamento e

não dependa de decisões temporárias, extraordinárias e isoladas. O contrato de

longa duração dá às agências garantia orçamentária para as suas atividades como

um todo, sendo possível o acompanhamento das atividades administrativas e,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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principalmente, de fiscalização. Esse contrato de gestão deve prever o

acompanhamento, o estímulo e a divulgação das metas de fiscalização da agência.

Diferentemente da discussão sobre a atividade central da agência,

consideramos que a atividade de regulação não deve fazer parte do contrato de

gestão. Essa definição pareceu-nos a mais correta e adequada para o

desenvolvimento do setor de agências reguladoras no Brasil.

O contrato de gestão será negociado e celebrado entre a diretoria colegiada

da agência e o titular do Ministério a que estiver vinculada, ouvidos previamente o

Ministério da Fazenda e o do Planejamento.

Há ainda uma série de pontos relativos às agências a serem abordados, mas

termino aqui a minha exposição, ressaltando um aspecto fundamental e até agora

não resolvido no arcabouço institucional do projeto: a relação entre os setores

regulados, as agências e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, formado

pelo CADE e pela SDE, órgãos ligados ao Ministério da Justiça, e pela Secretaria de

Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda.

Estamos preparando um projeto sobre o Sistema Brasileiro de Defesa da

Concorrência, a ser enviado à Câmara dos Deputados no menor prazo possível.

Com a nova Lei das Agências Reguladoras, queremos estreitar a relação delas com

o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. A nova legislação fará o mesmo

movimento, no sentido de que essas duas instâncias institucionais da regulação no

Brasil, essenciais para a garantia de um mercado saudável, dos direitos do

consumidor e da transparência na gestão, modernizem-se e fortaleçam a estrutura

regulatória brasileira.

Por fim, relativamente a polêmicas que podem surgir na construção de um

modelo de agências reguladoras, o Governo se dedicou muito a avaliar o atual

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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estágio delas e a fazer interpretação muito pragmática e realista do seu valor para o

Brasil e daquilo que deveríamos fazer para melhorá-las.

Esse primeiro trabalho resultou em publicação feita pela Casa Civil, se não

me engano em outubro do ano passado. É um documento que consolidou visão não

apenas do Governo, mas também das autoridades que debateram o assunto com

diversos setores e procuraram apresentar conceitualmente o modo como a evolução

do marco regulatório se apresenta no Brasil.

É importante ressaltar que não há receita pronta para o marco regulatório. É

preciso que se considerem as experiências brasileira e internacional e que se crie

estrutura institucional que tenha relação com o que o mundo tem feito de melhor

ultimamente e com aquilo que o processo histórico brasileiro, nesses setores

regulados, pôde produzir até este momento.

Nesse sentido, achamos que a legislação proposta consolida avanço

regulatório que o Brasil experimentou no último período. É fundamental ser

consolidado para que a estabilidade do investimento seja uma mensagem clara para

o País, para os investidores nacionais e estrangeiros, para o agente de mercado,

para o consumidor e para o Estado.

Dessa maneira, achamos ser momento de o Congresso Nacional, analisando

a proposição enviada pelo Governo e, evidentemente, aperfeiçoando-a, entregar ao

País modelo regulatório mais avançado. Não acredito que, com essa legislação,

encerremos o assunto do modelo regulador. Do mesmo modo que o processo

econômico, os modelos regulatórios também devem ser dinâmicos.

Não devemos imaginar que essa legislação será cristalizada para as próximas

décadas. Ela será, no nosso entendimento, instrumento positivo para aumentar o

PIB potencial do Brasil no próximo período, mas tem de garantir, ao mesmo tempo,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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a estabilidade das regras e dos contratos, bem como ser dinâmica, acompanhar as

mudanças dos setores de infra-estrutura do mundo. O setor de telecomunicações,

por exemplo, muda com velocidade extraordinária. Não é desejável que as regras de

uma agência sejam de tal forma cristalizadas que, eventualmente, ela seja

atropelada por mudanças tecnológicas que tragam altos benefícios para os

consumidores.

Devemos ter o cuidado de equilibrar, numa legislação, a necessária

estabilidade das regras para que os investimentos sejam encorajados, estimulados e

consolidados. Ao mesmo tempo, é necessário que os procedimentos não sejam

cristalizados, que não sejam atropelados pela Tecnologia, que avança de forma

muito sadia e positiva em muitos setores e que precisa ser absorvida rapidamente

pelos sistemas reguladores, para que o consumidor se beneficiar dela. No setor de

telecomunicações, é evidente — e esse não é um fenômeno brasileiro, mas mundial

— o grande benefício do consumidor, assim como no setor de informática.

Portanto, um sistema regulador deve ter capacidade de observar os

movimentos tecnológicos mundiais em cada setor regulado, absorvendo esses

ganhos nas suas regras, para que sempre o consumidor seja beneficiado pela ação

fundamental da agência, quando se volta para o seu trabalho de regulamentação.

Agradeço a atenção às Sras. e aos Srs. Deputados. Agradeço o convite ao

Presidente Henrique Fontana e ao Relator. Estou à disposição para o diálogo a

respeito daquilo que estiver ao alcance do meu limitado conhecimento.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço ao Ministro

Antonio Palocci a contribuição e a análise inicial.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Se alguém, porventura, não tiver feito a inscrição para falar, poderá solicitá-la

agora.

Passo a palavra ao Relator.

O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, Sr. Ministro Antonio Palocci, agradeço-lhe a contribuição que traz ao

debate que ora empreendemos.

Justifico ao Plenário minha ausência no início da reunião: participava de um

debate, na Rede Globo, com a Presidenta da Associação Brasileira de Agências de

Regulação.

Por não ter assistido a toda a exposição, não farei nenhuma pergunta

específica. Ouvirei atentamente os questionamentos dos Deputados e a resposta do

Ministro Antonio Palocci.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado.

Quero fazer um acordo inicial com os Parlamentares. Há 13 inscritos, número

do partido do Ministro.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - E do índice de desemprego

também.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - É uma propaganda

indireta. O Deputado Alberto Goldman fez um contraponto direto. No período pré-

eleitoral, não se pode deixar passar qualquer embate, nem por um minuto.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Se a bola pingou na área...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Os partidos de nº 45 e

13 continuarão a ter embates, que, esperamos, não sejam tão acirrados nesta

Comissão, na qual desejamos construir ambiente harmônico que nos dê um bom

projeto para o futuro do País.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Srs. Deputados, proponho que sejamos rigorosos com o tempo — são 4

minutos para cada Parlamentar —, a fim de deixarmos aproximadamente 30 minutos

para as respostas do Sr. Ministro.

O primeiro orador inscrito é o Deputado Ricardo Barros, a quem passo a

palavra.

O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Sr. Presidente, foi muito

interessante o início da palestra do Sr. Ministro, quando tratou do crescimento

econômico. De fato, o objetivo da consolidação e da independência das agências

reguladoras é a atração dos investimentos e o crescimento econômico. Considerar

estes importantes itens para o aprimoramento do marco regulatório coincide com o

nosso pensamento.

Em relação ao empreendedorismo, melhores condições para o investidor

abrangem também os juros, ponto renitente, mas que não vamos discutir neste

momento.

O Sr. Ministro participou de um congresso promovido pela ABDIB, no qual, ao

final dos trabalhos, foi-lhe entregue um documento com recomendações e

solicitações relativas justamente à independência, à consolidação e ao

fortalecimento das agências como representantes do Estado e não do Governo. Os

governos são transitórios e muitos deles passarão até que apareça o retorno dos

investimentos em infra-estrutura.

Sr. Ministro, as empresas de telecomunicações privatizadas até abril de 2003

— quando o Ministro Miro Teixeira questionou os índices de reajuste das tarifas e,

portanto, questionou o contrato e o retorno do capital que elas poderiam ter —

obtiveram um ganho de 6,5 bilhões de reais na Bolsa de Valores. De lá para cá,

perderam 14,5 bilhões de reais.

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Por isso, a definição do marco regulatório é fundamental. Os contratos

existem, e as empresas, quando decidiram investir no Brasil, basearam-se em suas

regras. Portanto, a alteração dessas regras vai constranger os investidores.

A palestra do Sr. Ministro se baseou nas conclusões do Grupo de Trabalho

Interministerial e na mensagem que encaminha o texto do projeto a esta Casa. Por

outro lado, o texto em si não reflete essencialmente o que está proposto. Há

distorções. Provavelmente, elas surgiram da ingerência de cada Ministro na sua

respectiva área.

No que diz respeito à estrutura de pessoal qualificado, o Ministro afirma que

essa atribuição poderá ser delegada. Isso implica que a estrutura física, humana e

qualificada deve existir no Ministério e na agência. Devemos ter duas estruturas de

pessoal qualificado para exercer as tarefas da licitação.

Ontem a Ministra Dilma Rousseff afirmou que a licitação é atribuição da

agência. Vamos deixar esse ponto bem claro, para alocar o pessoal especializado

na agência. A expressão “poderá delegar”, acredito eu, pode prejudicar a

implementação do projeto.

Consulto o Sr. Ministro sobre se poderíamos alterar a expressão para

“delegará”. Segundo V.Exa., para aperfeiçoar o marco regulatório, será preciso

deixar clara a atribuição do Executivo e das agências, o que também não faz parte

do texto.

Apresentamos uma proposta que define bem essa atribuição. O que cabe ao

Governo? Conforme está no seu texto, cabe a ele formular as políticas, ou seja,

encaminhar ao Congresso Nacional projeto sobre a política setorial. Assim, poderão

ser aprovados por decreto o Plano de Outorgas e o Plano Geral de Metas. E o que

cabe à agência? Implementar o Plano de Outorgas e o Plano Geral de Metas.

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Pergunto ao Sr. Ministro: concorda V.Exa. em deixarmos esclarecidas no

projeto as atribuições do Executivo e das agências? Repito: a expressão “poderá

delegar” é, na nossa opinião, complicadora.

Quanto ao contrato de gestão, está claro que se dará no âmbito administrativo

de fiscalização e não no de regulação. Contudo, essa atribuição também não consta

do projeto. Consulto o Sr. Ministro sobre se devemos deixar isso claro.

Evidentemente, podemos diminuir muito a restrição existente quanto ao contrato de

gestão.

No que diz respeito ao contingenciamento das agências, todos sabem que há

grandes dificuldades que as impedem de exercer a fiscalização. Pergunto ao

Ministro: é possível impedir o contingenciamento das taxas de fiscalização, da

arrecadação direta das agências?

Ainda hoje no Brasil enfrentamos dificuldade muito grande em relação ao

apagão. Quando chove e quando não chove há apagão. É muito importante buscar

investimentos, e as PPP dependem da independência das agências e da sua

capacidade de mediar diferenças entre empreendedores privados e públicos.

As agências, Sr. Ministro, não podem receber nota 10 do Governo, nem da

sociedade, nem do mercado. Elas devem receber notas médias. Portanto , o

instrumento proposto deve ser amenizado, vamos dizer assim, quanto à força que o

Governo pretende exercer sobre as agências.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Ricardo Barros.

Com a palavra o Deputado Eduardo Gomes, por 4 minutos.

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O SR. DEPUTADO EDUARDO GOMES - Sr. Presidente, Sr. Ministro Antonio

Palocci, Sr. Relator, quero deixar registrado que, mesmo na segunda intervenção,

fica difícil não repetir aquilo que tem sido consenso nesta Comissão, na verdade

uma espécie de angústia, tendo em vista o depoimento dos representantes do

Governo. Tudo aquilo que se espera de um ambiente regulatório eficaz vem

encontrando dificuldades para ser incluído no texto da lei.

O nosso Relator terá uma grande missão pela frente, com a qual

pretendemos contribuir, mas isso não deixa de ser uma preocupação porque, de

certa forma, os investimentos em infra-estrutura e sua repercussão são de grande

valia, e isso ficou claro na exposição do Ministro Palocci.

Entendemos que já existe um ambiente regulatório a ser aperfeiçoado. É

certo também que o debate saiu da esfera político-ideológica e entrou em uma

agenda que une todos nesta Comissão, até porque debater não teria mais sentido.

Só nos resta aperfeiçoar o que já existe. As agências reguladoras surgiram para

prestar um bom serviço à sociedade, e preservar esse objetivo é a nossa intenção.

Com esse intuito, Sr. Ministro, a minha intervenção tem muito a ver com o

contingenciamento dos recursos para o funcionamento das agências. Vou utilizar o

exemplo específico da ANEEL, cuja taxa de fiscalização é cobrada do consumidor,

mas o que se arrecada deixa dúvidas quanto a sua utilização.

Quando o Governo contingencia praticamente 63% de 198 milhões de reais, e

a agência deixa de prestar serviços por falta de recursos, surgem duas dúvidas: ou a

taxa está alta demais e não deveria ser cobrada, ou esse recurso deveria estar

disponível da mesma forma que está disponível no orçamento do consumidor todos

os meses para pagar a fatura de energia elétrica. E a agência precisa prestar o

serviço com base nesse recurso.

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Esse fato acaba trazendo outro prejuízo: por falta de pesquisas ou de análise

de serviços, algumas concessionárias, cumprindo até mesmo o regulamento da

ANEEL, deixam de dar descontos na tarifa de energia a seus consumidores.

Como se vê, são 2 prejuízos: retira-se do consumidor um recurso específico

da sua renda familiar; e se contingencia esse recurso.

Quero restringir a minha participação, Sr. Ministro, a esse questionamento.

A respeito do contrato de gestão, fiquei satisfeito com a sua análise, ou seja,

de que ele tem uma perspectiva administrativa que não influi diretamente na política

de regulação.

Quanto à participação do Ouvidor, penso que já existe consenso a respeito da

necessidade de uma sabatina pelo Senado Federal e de incursão na agência, nos

mesmos moldes, por parte dos diretores.

De outro lado, não sei se vamos conseguir — e estou tentando entender essa

situação — conciliar as agendas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,

para não atropelar a votação de matéria tão importante. Corremos o risco de ver o

Senado dar-lhe tratamento diferente, como vem acontecendo com a Lei de

Falências e com as PPP. É importante fazer essa ressalva, já que, de certa forma, o

Governo controla o tempo de tramitação, por intermédio da suas Lideranças nas

duas Casas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Eduardo Gomes.

Com a palavra o Deputado Eliseu Resende.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Sr. Ministro, a minha primeira

palavra é de parabéns pelo seu desempenho no Ministério da Fazenda. E a segunda

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é de saudade sobretudo depois do convívio que tivemos aqui na Câmara dos

Deputados, quando elaboramos a Lei das Agências Reguladoras.

V.Exa. foi muito feliz, quando disse que esse projeto de lei deve ser uma

mensagem clara aos investidores e aos consumidores.

De nossa parte, estamos preocupados com a redação do projeto de lei.

Refiro-me especificamente — e como temos pouco tempo, vou tratar apenas do

assunto que considero mais importante — ao que consta da pág. 5 da apresentação

de V.Exa.: “O poder de outorga de concessões e permissões é atribuído ao Poder

Executivo”.

A meu ver, está claro, porque a própria Constituição estabelece em seu art.

177, que a União poderá contratar, mediante licitação, empresas públicas e

privadas. O mesmo artigo diz que as atribuições das agências são definidas em lei.

Por isso, precisamos de uma mensagem clara aos consumidores, principalmente

aos investidores.

Cada Ministério pode delegar essas atribuições às agências. Temos

profundas considerações a fazer sobre esse ponto, para que o projeto de lei seja

uma mensagem clara, Sr. Ministro. As atribuições das agências ficam ao alvedrio, ao

arbítrio de cada Ministério. Sabe V.Exa., como eu costumo dizer, que nós não

somos Ministros, mas que nós “estamos Ministros”.

Queremos que esse projeto de lei alcance todas as agências, conforme

estabelece a Exposição de Motivos. Não podemos mais ficar em dúvida se aquele

Ministério vai fazer a mesma coisa que o outro fez; Ministérios diferentes e agências

distintas? Será que aquilo que determinado Ministro fez ou vai fazer vai ter

continuidade com o outro que o sucederá? Entendemos que a mensagem ainda não

está clara para consumidores e investidores.

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Não acho também que o poder de outorga deva ser delegado às agências. O

poder de outorga é muito complexo, pois nele se incluem a autorização da outorga,

a determinação para contratar, as condições do contrato e as partes contratantes.

Acho que, para efeito de formulação das políticas, o Governo não pode delegar a

aprovação da outorga à agência. Quem define o que contratar, como contratar e em

que condições contratar é o Poder Executivo. Não pode ser a agência. Ela pode

licitar e contratar, mas com a outorga do Poder Executivo.

Portanto, permita-me V.Exa. fazer uma ressalva em relação ao texto citado na

sua palestra. Não podemos dar poder exclusivo de outorga às agências, assim como

não podemos deixar os Ministérios licitarem e contratarem livremente. É preciso

haver diferença nítida entre eles. A Constituição, no Título VII (Da Ordem Econômica

e Financeira), no período de 1995 a 1997 — e V.Exa. estava aqui —, estabelece que

a União poderá contratar com empresas públicas e privadas, mediante licitação.

Ora, quem vai julgar licitação em que comparecem empresas públicas e privadas

com independência, com garantia, com confiança e com credibilidade ao investidor

que precisa trazer o dinheiro para o País?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Conclua, Deputado

Eliseu Resende.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - V.Exa. sabe, Sr. Ministro, não

preciso dizer-lhe, que o Brasil precisa dramaticamente do investimento produtivo e

direto do setor privado.

Por isso, queremos muito esclarecer esta parte do texto. Temos de respeitar a

Constituição, que definiu bem as atribuições das agências. O que faz um Ministro? O

que fazem os Conselhos de Políticas Setoriais? A outorga de concessões tem de ser

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um ato do Presidente da República, mediante decreto, mesmo que seja coletivo o

plano de outorga, mesmo que seja caso a caso.

Por exemplo: a autorização para construir a usina de Belo Monte, no Rio

Xingu, tem de ser dada pelo Governo e não pela agência. Lembro a V.Exas. que a

Ministra de Minas e Energia esteve aqui e concordou plenamente conosco quanto a

esse aspecto.

É preciso definir bem esses limites, para que investidores e consumidores

tenham bem clara a mensagem do projeto.

Desculpe a minha ênfase, Sr. Ministro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Eliseu Resende.

Por permuta, tem a palavra agora o Deputado Luciano Zica, por 4 minutos.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, caro Ministro Antonio

Palocci, Sras. e Srs. Deputados, venho acompanhando o debate sobre as agências

reguladoras desde a criação da primeira. Vale lembrar que a discussão sobre a

criação da Agência Nacional de Energia Elétrica, a primeira, durou 15 minutos no

plenário. O relatório foi conhecido lá e votado em 15 minutos.

Participei ativamente daquela discussão. De fato, chegou a esta Casa um

projeto do Executivo, mas o relatório, completamente diferente do projeto, foi lido e

votado em 15 minutos. Participei do acordo com o Deputado José Carlos Aleluia, o

Relator da matéria.

Surgiram, então, a ANP e várias outras agências durante a Legislatura

1995/1999, no Governo Fernando Henrique Cardoso.

Hoje compreendo melhor esse processo, mesmo quando se fala em quebra

de contrato e se mostra o gráfico da ABDIB; mesmo com o anúncio do Diretor-Geral

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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da Agência Nacional de Telecomunicações, que não concordava com a forma de

reajuste de tarifas estabelecida no contrato. Com a transferência do prestador do

serviço, vale lembrar, o usuário teve o seu contrato quebrado e pagou um preço

muito alto por isso.

Não creio que devamos deixar a lógica do mercado prevalecer sobre o

atendimento da demanda e o serviço de infra-estrutura. Com certeza, a incidência

no salário de qualquer um de nós das tarifas de energia elétrica, de

telecomunicações e dos serviços estabelecidos nos contratos naquele período,

vigendo esse processo, ou seja, a porcentagem do custo desses serviços é muito

maior na nossa cesta básica.

Assim, não me impressiono com o argumento dos que defendem a

manutenção das regras. A lei está aí para ser aperfeiçoada e melhorada, e esse

projeto melhora a legislação das agências reguladoras.

Outro aspecto: as expressões “poderá delegar” e “delegará”. Evidentemente,

no processo de contratação e de funcionamento dessa política, há competências e

momentos diferenciados. Logicamente, não serão delegadas todas as atividades.

Algumas delas terão de ser exercidas pelo Ministério. Cada situação vai dizer o que

poderá ser delegado para a agência.

Formulação de políticas setoriais é tarefa do Governo. Regulação e

fiscalização é tarefa do Estado. Então, o que é do Governo não é possível transferir.

Concordo com o Deputado Eliseu Resende.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Exatamente. Concordo com a

formulação apresentada pelo Deputado Eliseu Resende. Devemos trabalhar nesse

sentido.

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Ontem a Ministra Dilma Rousseff respondeu a esse questionamento sobre as

expressões “poderá delegar” versus “delegará” com base nessa compreensão.

E apresentei uma sugestão, depois de V.Exa. mostrar dados sobre o contrato

de gestão. Sou favorável ao contrato de gestão no que tange a atos administrativos

e fiscalização. Evidentemente, na regulação ele seria inócuo. Talvez pudéssemos

elaborar um dispositivo para resolver essa situação.

Aparentemente, a Ministra Dilma Rousseff concordou com a nossa proposta.

Acredito também que o Relator deva acolher essa sugestão.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Luciano Zica.

Com a palavra o Deputado Sérgio Miranda.

O SR. DEPUTADO SÉRGIO MIRANDA - Sr. Presidente, Sr. Ministro, é

sempre um prazer ouvir sua palestra, pela objetividade com que trata os temas em

questão.

Mais do que o papel das agências reguladoras, discutimos aqui a concessão

de serviços públicos. Devemos partir do princípio de que há uma crise de modelos

tanto no setor de telecomunicações quanto no setor elétrico; enfim, em todos os

setores, mesmo no de petróleo. A concepção inicial, quando da criação das

agências, por exemplo de telecomunicações, era a de acabar com o Ministério das

Comunicações.

Fala-se que o setor público ou o Estado é que definirá as políticas setoriais. O

que são as políticas do setor de telecomunicações? É o Plano Geral de Outorga e

de Metas, e mediante decreto.

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Quando se discutiu o padrão de TV digital, a agência queria açambarcar a

definição. Por que a agência definiria o padrão da TV digital? Foi essa a pergunta do

Governo. Tal decisão teria diversas implicações: de âmbito internacional, de

desenvolvimento tecnológico etc.

O projeto tem o mérito de iniciar esse debate, de definir com clareza,

primeiramente, o controle público das agências. Elas não podem continuar sem

controle público. É preciso um contrato de gestão que delimite as atribuições

administrativas e de fiscalização das agências, ou seja, temos de definir com mais

precisão o papel do Estado. Não podemos transferir atribuições do Estado para as

agências.

Vou falar agora do controle social. Srs. Deputados, quando o TCU faz uma

análise e diz que a ANEEL errou no cálculo das tarifas? Quando se discutem os

ganhos de produtividade e as condições das agências para examinar esse ganho de

produtividade? No setor de telecomunicações, sabem V.Exas. de quanto era o

ganho de produtividade? Zero, nos 2 primeiros anos da privatização.

Posteriormente, 1% de ganho de produtividade. Foi distribuído com os

consumidores? Qual a realidade das tarifas de serviço público hoje? Lemos

editoriais, na grande imprensa — e ninguém pode acusá-los de tendenciosos — a

favor dos consumidores, segundo os quais parte da renda das famílias cada vez

mais paga serviços públicos.

Considero esse projeto um esforço para delimitar com mais clareza o papel

das agências, uma defesa dos interesses do consumidor, porque antes aparecia

apenas o interesse das grandes empresas ou dos investidores. Não havia o

interesse do consumidor nem do Estado nesse debate.

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Acho também que avançamos ao definir mais claramente que quem formula

política setorial é o Poder Público. O único ponto não tratado — e o Sr. Ministro

poderia dar suas explicações — refere-se à utilização das taxas recolhidas pelas

agências para fazer superávit. Há alguns casos, por exemplo o da ANATEL, em que

um terço é utilizado por ela. Quanto à ANP, um representante veio a esta Comissão

e fez reparos quanto às restrições orçamentárias para cumprirem suas

determinações legais.

Esse é um ponto. Outros devem ser mais debatidos.

O papel das agências em relação à defesa da concorrência tem de ser mais

esclarecido, bem como a transparência das decisões internas, a fim de permitir o

controle social, de fomentar a competição, a universalização e a satisfação do

interesse do consumidor.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,

Deputado Sérgio Miranda.

Vamos fazer 2 blocos, a pedido do Ministro e respeitando o que ficou

combinado.

Com a palavra o Deputado Alberto Goldman.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Sr. Presidente, Sr. Ministro, não

posso deixar de aproveitar a sua presença, que tem sido rara. Com muito orgulho

recebemos V.Exa. aqui.

Quero fazer apenas uma pergunta, que nada tem a ver com a matéria. Quero

saber o resultado das receitas de maio. Parece-me que há uma greve do servidor, e

não é a dos servidores, mas do servidor da Internet. Ele está em greve há alguns

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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dias. Estamos no dia 17, e esse servidor continua em greve. Normalmente, as

receitas são divulgadas no dia 10.

O que houve no Ministério que levou a essa greve do servidor? Não

conseguimos saber qual foi a receita. A especulação é de que a discussão do salário

mínimo está por trás disso. Temos dados, em alguns casos, sobre a evolução da

receita da COFINS, muito superior à previsão inicial não só do nosso Orçamento,

mas também dos decretos do Governo. Isso é fundamental.

Quanto à matéria, Sr. Ministro, louvo a compreensão que se tem agora de

que o que fizemos nos últimos anos, na elaboração desse sistema, não foi na linha

de abertura do mercado, numa linha ultraliberalizante. Pelo contrário, caminhamos

no sentido do fortalecimento do papel do Estado. As agências representam o Estado

brasileiro mais do que o Governo, mais do que o Ministério, porque elas

representam as vontades do Executivo e do Legislativo. Elas têm esse papel muito

mais importante como instrumento de Estado, e não como instrumento de Governo.

Portanto, trata-se do fortalecimento do Estado. Saúdo V.Exa. por ter vindo

nos trazer este documento que, evidentemente, há 5 anos, seria inimaginável ter

sido feito pelos Deputados Palocci e outros de seu partido. É uma evolução.

Estamos aqui para contribuir, não para jogar com o quanto pior melhor. Queremos

investimentos, desenvolvimento, crescimento e distribuição de renda. Esse papel é

nosso e queremos contribuir. Estamos aqui para isso.

Quero fazer apenas algumas referências a apresentação de V.Exa. Na

realidade, não é que havia falta de clareza em relação às atribuições do Executivo e

das agências, mas, sim, que os Ministérios não exerceram no passado o papel que

deviam exercer. Faço essa crítica ao Governo que apoiei. Os Ministérios não

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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exerceram o papel definido em lei, ou seja, o de estabelecer políticas, e as agências

acabaram assumindo um pouco essa função. E esse erro deve ser corrigido.

Quanto ao “poderá delegar” ou “delegará”, para mim nem uma coisa nem

outra é boa. A lei, sim, precisa dizer o que cabe a cada um. A lei não tem de dizer

que a alguém cabe delegar a alguém quando ele quiser delegar ou não quiser

delegar. Votada no Congresso Nacional, que representa a vontade popular, com a

sanção do Presidente da República, a lei deve dizer o que cabe a um, o que cabe a

outro e ponto. Esse quadro não pode ficar indefinido.

Acredito que se pode aperfeiçoar ou mudar as leis existentes, mas não

devemos inserir o “delegar”, nem o “poderá delegar”, nem o “delegará”. Nada disso.

A lei deve determinar exatamente o que cabe a cada um, repito.

Quanto ao contrato de gestão, tenho apenas uma dúvida e nenhuma objeção.

No contrato de gestão, Sr. Ministro, citam a avaliação de desempenho

administrativo. Não consigo imaginar metas de desempenho administrativo. Não

consigo imaginar como isso seria uma meta de desempenho administrativo.

Evidentemente, o controle dos desempenhos administrativos das agências é

importante, e quanto a isso não tenho dúvidas.

Em relação ao quadro de pessoal, devo dizer que temos perdido pessoas

com capacitação e qualificação para exercer os papéis mais importantes do Estado.

Temos perdido os melhores. Eles estão indo embora; estão indo para o setor

privado, onde ganham muito mais e não têm tanta responsabilidade. Não há perigo

de serem processados. Sabe V.Exa. muito bem, porque é Ministro, como eu já fui,

que pode surgir e já surgiu um monte de ações judiciais que terão de ser carregadas

para o resto da vida. Felizmente isso não aconteceu comigo, mas V.Exa. está mais

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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tempo do que eu no Ministério e vai carregá-las para o resto da sua vida, como

outros carregam até hoje.

O que não podemos admitir, Ministro Palocci, é a continuidade dessa

situação. Não é possível manter um quadro qualificado de dirigentes públicos com

tal nível salarial. Temos de enfrentar tal situação com coragem. Não dá para fazer

de outro jeito. O Governo passado não quis enfrentar o problema; o atual também

não quer. Enquanto não o enfrentarmos, aquela conversa de que queremos

fortalecer o Estado brasileiro não vai passar de história da carochinha.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Alberto Goldman. Vamos torcer para que não se configure essa situação de o

Ministro carregar diversos processos judiciais nas costas.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Fora eu, não conheço nenhum

que não carregue.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Só V.Exa. teve essa

sorte?

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Questão de ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Vários Parlamentares não estão

mais aqui, apesar de terem se inscrito. Como só faltam falar 3 dos que estão aqui,

sugiro que se manifestem, para que o Ministro, posteriormente, possa responder a

suas questões. É a minha sugestão, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Antes de mais nada,

quero penitenciar-me e, na qualidade de Presidente, convidar o Secretário de

Política Econômica, Marcos Lisboa, para tomar assento ao lado do Ministro.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Vamos adotar esse sistema, Deputado Julio Semeghini. O meu temor é que

cheguem os Deputados inscritos em outro bloco. Em todo caso, vamos tentar,

porque, na realidade, quatro Deputados ainda não se manifestaram. São eles: Julio

Semeghini, Eliseu Padilha, José Roberto Arruda e o Henrique Fontana.

Tem a palavra o Deputado Eliseu Padilha, em permuta com o Deputado

Henrique Fontana.

O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Obrigado, Presidente.

Quero inicialmente cumprimentar o Ministro Palocci pela excelência de sua

apresentação. Como alguém que teve a responsabilidade de formatar o projeto de

lei de duas das agências existentes, devo dizer que reconheço os avanços, ainda

mais se pensarmos no corpo inteiro. Se pensarmos uma lei geral para as agências,

indiscutivelmente veremos que houve avanços nesse projeto.

Há pontos que não poderiam deixar de ser considerados, e estão sendo.

Mesmo assim há algumas observações a fazer e, por uma questão de tempo, falarei

a respeito delas de forma objetiva. Primeiro, a do Deputado e ex-Ministro Eliseu

Resende, no que diz respeito à disposição constitucional. Não é de acordo com a

vontade do Ministro Eliseu Resende ou com a nossa que competências tem de ser

claramente definidas. No que diz respeito às agências, obrigatoriamente,

competências têm de ser definidas em lei –– a Lei Geral das Agências. Penso que

não podemos perder isso de vista, e a própria Constituição Federal é que determina

isso.

Concordo com a observação do Deputado e ex-Ministro Alberto Goldman: não

se admite o “poderá delegar”, ou o “delegar”, ou o “se delegará, se quiser”. Se a

Constituição determina que tem de estar na lei, a delegação pode ser interpretada —

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e V.Exa. tem tratado muito com o mercado –– pelo mercado de forma que haja uma

aquilatação maior do risco regulatório, o que não nos interessa.

Portanto, parece-me que a definição legal das competências, o que cabe

efetivamente ao Poder Executivo e às agências, é, primeiro, preceito constitucional

e, segundo, a necessidade de atender ao objetivo primeiro.

Em sua exposição, V.Exa. mostrou que se quer mais investimentos e mais

franquias. Logo, temos de corresponder a essa expectativa.

Quero frisar as manifestações do Deputado Sérgio Miranda, e não voltarei a

elas, mas penso que avançamos também no que se refere a dar satisfação ao

consumidor, à sociedade. A Agência, como foi dito pelo Deputado Ricardo Barros,

contracena com 3 atores: o usuário, a sociedade, o Estado, o poder concedente e o

investidor ou concessionário. Ela procura estabelecer uma relação de igualdade,

mas evidentemente tem como pressuposto a defesa do consumidor, da sociedade.

Ela é um instrumento de Estado, como disse V.Exa. em sua exposição, e visa cuidar

do Estado nacional. E o fundamento do Estado nacional é a cidadania. Logo, o

usuário cidadão é que, em primeiro lugar, deve ser objeto da atenção da Agência.

Nisso temos de reconhecer que houve avanço.

Quando V.Exa. fala do controle social, dá como exemplo a Ouvidoria. Espero

que V.Exa. espanque a dúvida que tenho. Se é para ser um instrumento de controle

social, a Ouvidoria não pode ser um instrumento do Poder Executivo. Caso

contrário, é intervenção. E não é um instrumento de controle social. Talvez um

reparo que mereça ser feito — e sei que o Relator está atento — seja a questão da

Ouvidoria. Ela não pode ser indicada pelo Poder Executivo. A indicação deve vir da

sociedade.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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Quem representa a sociedade no sistema republicano é a Câmara dos

Deputados, mas, para que não haja um debate com o Senado sobre essa

competência, quem sabe o Congresso Nacional possa esclarecer essa questão

relativa à Ouvidoria.

Para concluir, quanto à gestão, concordamos por inteiro. Ela não estava clara.

Parece-me que tem de ser clara. O contrato de gestão vai cuidar do aspecto

administrativo. Não se pode pensar em regulação. Vai cuidar também de

fiscalização e da área administrativa. Nela, sim, Deputado Goldman, é perfeitamente

possível ter contrato de gestão.

O que me preocupa — e essa é a interrogação que faço a V.Exa. — é o fato

de que as PPPs estão na reta de chegada.

Participei da Comissão também. No projeto de lei há uma disposição que diz

que às agências aplicar-se-á o que couber — o texto, ao final, foi de Eliseu

Resende. Pergunto a V.Exa.: há interesse em que a agência, no caso das PPPs, vá

além do que irá quando, na parceria, for tratada também a prestação de serviços? A

parceria, na maioria das vezes, não inclui prestação de serviços. Inclui o

investimento, a construção. Então, nos casos em que não haverá prestação de

serviços, a agência deverá cuidar também da parceria?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Eliseu Padilha.

Registro, para satisfação de todos, a presença entre nós da Presidente da

Associação Brasileira de Agências de Regulação, Maria Augusta Feldmann, que tem

participado muito dos nossos debates.

Passo imediatamente a palavra ao Deputado José Roberto Arruda, pelo

período de 4 minutos, com o apelo do Presidente para que seja conciso.

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O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Sr. Presidente, muito

obrigado.

Primeiramente, quero cumprimentar o Ministro Palocci pelo trabalho que vem

realizando com seriedade e principalmente com muita tranqüilidade. Isso é passado

para as pessoas de todo o País.

Também com tranqüilidade, Sr. Ministro, eu, que já tive a chance de participar

de debates internos do Governo, quero pedir licença — já que todos os que me

antecederam manifestaram-se sobre questões técnicas — para dizer que V.Exa. tem

conduzido a política econômica com habilidade política.

Quanto à questão que se está discutindo, Sr. Ministro, fico imaginando como

foi o debate interno do Governo. Outros Ministros certamente lhe disseram: “Palocci,

você tem que ceder em alguma coisa. Vamos ter que mexer nesse negócio das

agências”. V.Exa. então chamou o Marcos Lisboa, brilhante acadêmico — é

professor dos meus filhos na Fundação Getúlio Vargas —, e ele disse: “Palocci, vou

embora se fizer isso. Leia aqui: ‘agenda perdida’. Eu que escrevi. Temos um monte

de coisas para fazer, não estamos conseguindo e você ainda quer voltar lá atrás,

mexer num negócio que já está pronto, e mexer para pior?! Não. Vou-me embora.

Vou dar aula”. “Não, Lisboa, temos que compor. Sabe como é Governo”.

Essa briga deve ter sido do mais alto nível e V.Exa., Ministro Antonio Palocci,

que tem ganho tantas, acho que perdeu essa.

O Presidente João Paulo Cunha acaba de chegar. (Palmas.) Os aplausos

suprapartidários que ele recebe devem-se à maneira sempre correta com que dirige

os trabalhos da Casa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Convido o Presidente

João Paulo Cunha a tomar assento à mesa para ouvir um pouco os debates sobre

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004

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as agências reguladoras. A presença de S.Exa., ainda que por alguns minutos,

muito nos honra.

Quanto a essa história que o Deputado José Roberto Arruda está contando,

parece-me que S.Exa. está muito bem informado sobre o cotidiano do Governo.

O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Acho que o Ministro

Antonio Palocci ligou para o Deputado João Paulo Cunha a fim de pedir ajuda nessa

queda-de-braço. Deve ter-lhe dito que estão querendo fazer mudanças e isso vai dar

um sinal terrível para o investidor internacional. Ninguém mais vai investir aqui. E

Marcos Lisboa vai chegar à Fundação Getúlio Vargas na sexta-feira e dizer a seus

alunos que mexeram nas agências reguladoras, o único avanço que reconhecemos

publicamente.

Ministro, de forma bem humorada, e respeitando a coerência com que vem

conduzido a política econômica, não era hora de mexer nisso, ainda que reconheça

que aperfeiçoamentos podem ser feitos. Isso foi um gol contra; sinalizou

negativamente. De um lado, V.Exa. faz um ajuste fiscal sério e, de outro, com essa

mudança, faz um gol contra.

Se conseguíssemos fazer apenas coisas boas na mudança do modelo

regulatório seria diferente. No entanto, o fato de o Governo mandar para o

Congresso Nacional uma mudança por si só já é ruim.

Mas há algo que pode ser pior do que essa queda-de-braço que, desconfio,

V.Exa. perdeu: permanecer no texto a expressão “concessão do Governo”. Essa não

dá para ficar. A concessão é do Governo, mas pode ser passada para o Estado,

representado pela agência. Ou é de um, ou é de outro. Cada um tem que assumir a

sua posição.

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Sr. Ministro, a grande maioria desta Comissão defende a tese de que a

concessão tem que ser da agência.

A Ministra Dilma Rousseff, de forma brilhante — S.Exa. tem uma formação

acadêmica sólida — disse que quem tem de planejar o setor elétrico, por exemplo, é

o Governo. Dá-se então ao Governo poder para planejar e este, tendo ganho as

eleições, decidirá se nos próximos 4 anos pretende colocar mais mil megawatts no

mercado. Assim fazendo, caberá às agências escolher que quedas d’água vai

aproveitar, que edital vai fazer, que contrato vai assinar, e aquele que tiver

empregado dinheiro na construção da usina saberá que não foi o Governo, que é

transitório, que o contratou, mas o Estado, que é definitivo, que assinou o contrato e

vai cumpri-lo.

Esse é o sinal negativo que esse projeto está mandando ao mercado.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço ao Deputado

José Roberto Arruda. Este Presidente estendeu o prazo de S.Exa. porque foi preciso

e porque a história era longa e bem humorada.

Sinto que de fato temos uma grande harmonia, mas volta e meia tentam dizer

que há conflito.

Com harmonia e tranqüilidade, no estilo zen, as mudanças vão sendo

processadas.

(Não identificado) - Inventaram até um negócio de “fogo amigo”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - “Fogo amigo”. Existe

até esse negócio.

Estou sentindo que os Deputados estão retomando seus postos, salvo o

Deputado Julio Semeghini, que sinto querer falar neste bloco. Vou atender ao apelo

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de S.Exa. e depois passar a palavra ao Ministro. Quero formar os 2 blocos. Eu, o

Deputado Francisco Appio e outros desejamos nos manifestar.

Com a palavra o Deputado Julio Semeghini, por 4 minutos.

O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Sr. Presidente, muito obrigado.

Acho que o Presidente João Paulo Cunha em boa hora veio a esta Comissão.

Sinto que talvez venhamos a precisar de um pouco de articulação política.

Quem acompanha o trabalho que o Ministro Palocci tem feito sabe que S.Exa.

procura contribuir para que essas agências reguladoras sejam realmente uma coisa

mais acomodada, como o mercado e todos os demais esperam.

Não sei se falo pelo lado do futebol — porque senti que o Deputado José

Roberto Arruda, ao falar em gol contra, estava muito perto do futebol do Presidente

Lula —, ou parto para outra brincadeira, aquela cobrança política do PSDB com o

PT de tentar aproximar o discurso da prática.

Sem brincadeira, temos de usar também nesse projeto a competência do

Ministro Palocci, que tem sido grande em relação ao Brasil. S.Exa. é médico, mas

mostra-se brilhante nas ciências exatas.

Todos têm sido unânimes nas suas reivindicações, quando o Ministro diz, ao

explicar por que aperfeiçoar o marco regulatório: pela não uniformidade de regras,

não atribuição clara do papel do Executivo e das agências e pela sobreposição de

funções. Está claro que todos reivindicam ajuda ao Ministro. O grande problema está

no texto do projeto de lei que se encontra nesta Casa. Quando falamos na não

uniformidade de regras, de novo estamos delegando decisão aos Ministérios. Claro

que, no tocante às questões operacionais relativas a cada Ministério, deve ser

assim, mas não se pode discutir assuntos inclusive inconstitucionais, como de forma

muito brilhante disse o Ministro Eliseu Resende, tais como outorga e outras. O ato

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de delegar restringe-se a ações que dizem respeito a cada Ministério, que não têm

impacto no papel das agências.

Outra coisa importante são os contratos de gestão. Toda a sociedade está

preocupada com isso. Dizemos aqui que o contrato de gestão haverá na área

administrativa e na de fiscalização. Mas como colocar contrato de gestão em área

que poderá discutir meta mínima de desempenho da fiscalização? A fiscalização

estamos atribuindo, nessa lei, às agências. Estamos tentando fazer com que elas

sejam responsáveis por lei. Não se pode estabelecer que fiscalizem pela metade, Sr.

Ministro.

Além de definirmos que “fiscalizará mínimos desempenhos”, devemos

registrar: “estimar recurso orçamentário”. Cabe à agência dizer que não está

podendo fiscalizar porque não definimos recursos orçamentários suficientes.

O texto feito pelo grupo interministerial liderado por V.Exa. — e V.Exa. está

tentando aproximá-lo cada vez mais do projeto de lei — é o que a sociedade e

grande parte dos Deputados querem. Esse avanço que V.Exa. tem liderado, essa

visão do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência que V.Exa. agora corrige,

porque no Brasil não se estava tendo essa clareza, é exatamente do que

precisamos. Estávamos discutindo o assunto só no âmbito das agências, e outros

órgãos fundamentais estavam ficando de fora. Mas agora estão entrando.

Na verdade, não há muito o que discutir com o Governo. O ponto de vista que

o Ministro defende — e temos saudade de V.Exa. nesta Casa — no tocante a esse

projeto é o que queremos, mas não se pode fazer uma apresentação brilhante,

como a que V.Exa. fez, com todas essas contradições. Não podemos mudar o

marco regulatório e tirar a uniformidade da regra, como estamos fazendo.

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Não podemos dizer que queremos clara a atribuição, o papel do Executivo e

da agência se estamos inclusive causando superposição de funções, como bem

disse, se não me engano, o Ministro Eliseu Padilha. São especialistas aqueles que

vão fazer o planejamento, mas aqueles homens treinados, preparados para

acompanhar uma licitação e dar continuidade ao processo temos poucos. Não

vamos poder tê-los ao mesmo tempo no Ministério e na agência.

Na verdade, Ministro, acho que devemos tentar conquistar o apoio do

Presidente João Paulo e do Ministro-Chefe da Casa Civil para fortalecer a luta de

V.Exa., a fim de ajustar esses debates. Dessa forma, tenho certeza de que vamos

votar esse projeto de lei a partir de um grande acordo nesta Casa e trazer de volta

ao Brasil uma série de investimentos de que precisam vários setores.

Desenvolvimento é realmente do que o País precisa.

Obrigado, Sr. Presidente. Agradeço por ter me incluído neste bloco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Julio Semeghini.

A Comissão agradece ao Presidente João Paulo por prestigiar nossa reunião.

S.Exa. não vai usar da palavra, porque está uma agenda carregada, e o Presidente

do STJ já o aguarda em seu gabinete. (Palmas.)

Passo a palavra ao Sr. Ministro Antonio Palocci, que falará sobre as agências

reguladoras, o dia-a-dia do Governo e como se construiu esse projeto e para que

nos transmita mais um capítulo da brilhante novela iniciada pelo Deputado José

Roberto Arruda.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Agradeço a todos as contribuições.

Parto não da história contada pelo Deputado José Roberto Arruda, mas da

questão que S.Exa. apresentou, se devemos ou não mexer na legislação atual e se

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o projeto de lei enviado pelo Governo contribui com as mudanças que deveríamos

fazer. Porque não adianta mexer se consideramos que isso vai piorar a situação.

Evidentemente, se queremos avançar, estamos em um bom momento para,

depois de toda a evolução da questão do marco regulatório no Brasil, buscar

consolidar a legislação. A princípio, acho que é um bom momento para

aperfeiçoarmos a legislação. E penso que o projeto enviado está em consonância

com o estudo feito pelo Governo.

Não vamos aqui nem esconder o sol com a peneira, nem tentar achar pêlo em

ovo. Só o devemos fazer quando o pêlo é maior que o ovo. Mas não é o caso.

Na verdade, há uma complexidade de opiniões em torno da questão do marco

regulatório. Não complexidade de opiniões no Ministério, no Governo. Recebemos

700 contribuições sobre o projeto de lei apresentado em audiência pública, o que

mostra uma riqueza, não uma pobreza de debates, de visão e uma atenção muito

importante da sociedade sobre a inovação que isso representa em termos de Estado

brasileiro. E cabe ao Governo procurar, num primeiro momento, coordenar as

expectativas manifestadas nesta audiência pública relativamente ao texto que o

Governo produziu e enviar ao Congresso Nacional, ao qual caberá, a partir daí,

aperfeiçoar o texto que o Governo enviou. Senão, faremos um decreto. É evidente

que todo o País, não só o Governo, espera que o Congresso Nacional aperfeiçoe o

projeto de lei enviado e nele resolva eventuais questões que se apresentem. Por

quê? Porque isso é uma evolução.

A proposta de projeto de lei enviada parece-nos a melhor evolução

conseguida até este momento. Se o Congresso puder acentuar esse

aperfeiçoamento, será bom para o País.

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Vou dar um exemplo. Fazia 10 anos, tramitava nesta Casa o Projeto de Lei de

Falências. No ano passado, nós o recolhemos, reestruturamos e propusemos que

fosse votado na Câmara. Esta Casa não apenas analiso e votou o que propusemos;

aperfeiçoou muito, melhorou o projeto. Digo, sem nenhuma dificuldade, que o que

saiu daqui foi melhor do que aquilo que propusemos — tenho humildade para dizer

quando um trabalho é feito para aperfeiçoar o projeto. O Senado o melhorou ainda

mais, e o projeto voltará à Câmara para uma consolidação.

Acho que esse é o caminho para se construir uma legislação aperfeiçoada, do

ponto de vista institucional.

Tenhamos clareza de que organizar institucionalmente o Brasil não é tarefa

de um partido, mas das instituições brasileiras. Todos os partidos, todos os agentes

econômicos, todas as representações devem interferir de maneira positiva nisso. É

preciso ver que vamos evoluir no aperfeiçoamento institucional do Brasil. É como a

construção da democracia: ela leva tempo, ela vai se aperfeiçoando, ela tem idas e

vindas. A construção do arcabouço institucional no plano regulatório tem esse

mesmo ritmo.

Não há aqui fórmulas acabadas. Acompanhamos experiências diferentes de

vários países, e não é regra que quando há presença mais forte do Estado, por

intermédio da agência, o resultado é melhor, ou quando há compartilhamento do

poder de outorga. Não há experiência que prove uma coisa ou outra. Temos que

olhar as experiências internacionais naquilo que podem ser adequadas para o Brasil

de hoje e do próximo período.

Na questão das outorgas, levo em conta algumas críticas expostas aqui, de

que talvez não esteja o projeto de lei com uma definição absolutamente adequada.

Pareceu-me que essa é a definição possível neste momento. Mas se esta Comissão

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conseguir dar um passo à frente, vamos aplaudi-la. O Governo não vai travar uma

queda de braço com a Comissão, tampouco dizer que, se o que ele mandou não for

aprovado, não serve. De forma alguma. O que o Governo mandou foi uma evolução.

Acreditamos nisso. Se a Câmara e o Senado avançarem mais, vamos ter uma lei

melhor.

Então, sob esse ponto de vista, acho que vamos ganhar com o processo que

ocorrerá aqui.

Insisto no que penso. Ou seja, que na questão da outorga não há retrocesso,

não há erro. Claramente, os órgãos do Executivo devem fazer definições quanto ao

planejamento setorial. É adequado que isso seja feito no plano do Executivo, ao

contrário das questões regulatórias e das questões de fiscalização: é inadequado

que sejam feitas no âmbito do Executivo e adequado que sejam feitas na agência.

Se, na parte onde permite que contratos sejam transferidos para assinatura

na agência, ou seja, do poder concedente, etc., a redação dada parece à Câmara

dos Deputados um tanto desequilibrada, vamos aperfeiçoá-la. Não há problema

algum. O Ministro Eliseu Resende — aliás, esta Comissão é cheia de Ministros; é

privilegiada, há vários Ministros...

(Não identificado) - Ex e futuros.

(Não identificado) - Nós estivemos Ministros.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - As definições colocadas aqui,

insisto, partiram de pessoas com larga experiência nos Ministérios e na área. São

definições que certamente vão ajudar. No entanto, não acho inadequado — insisto

nisso — que em algumas questões, definido o poder concedente, definidas as

funções da agência, o Ministério e agência contratem-se mutuamente, dialoguem

permanentemente sobre como proceder aos contratos.

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Se pudermos definir com mais clareza o que fica no Ministério e o que fica na

agência, não serei contra. Se essa evolução for feita na Câmara dos Deputados,

penso que será em benefício do País. E não pensem que será contra o Governo.

Esse projeto não é a favor ou contra o Governo, mas a favor do País. Se a Câmara

o aperfeiçoar, bom para o País.

Acredito que, baseados nos debates realizados e nas 700 contribuições que

recebemos em audiências públicas, fomos até onde era possível ir. Acreditamos que

o projeto é adequado. Mas sabem V.Exas. que este é um debate caloroso.

Disse o Deputado Alberto Goldman que há 5 anos eu não faria essa

exposição. Acho que S.Exa. errou um pouco no tempo. Há 7 anos fiz a primeira

concessão pública, em Ribeirão Preto. Talvez há 20 anos, quando eu era trotskista,

eu não imaginasse fazer exposição desse tipo. S.Exa. imaginou 5 anos. Talvez seja

um pouco mais de tempo. (Risos.)

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Eu pensei nos seus colegas.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - É importante verificarmos que essa

questão institucional regulatória é nova no mundo e no Brasil. Devemos ter

capacidade de avançar, porém sem pressa. Seria um equívoco profundo copiarmos

simplesmente o modelo de um país que já resolveu essa questão. A dinâmica deste

processo no Brasil é outra, e é adequado que a legislação obedeça a essa dinâmica

estabilizadora dos investimentos e dos direitos do consumidor e a partir da

necessidade de ser mudada, quando for possível absorver novos ganhos para o

consumidor. Essa é uma discussão que vejo com muita tranqüilidade.

Esta Comissão, sob a liderança do Deputado Henrique Fontana, deve se

ocupar em aperfeiçoar a contribuição que veio para cá. E não penso que o Governo

aqui está contra a Oposição ou o partido “a” está contra o partido “b”. Estamos num

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trabalho de aperfeiçoamento daquilo que o Brasil precisa para ampliar o

investimento e melhorar os direitos do consumidor.

Não responderei agora a todas as questões que foram apresentadas, porque

há oradores inscritos para falar, mas gostaria de falar sobre o contingenciamento. O

Brasil só vai conseguir equilíbrio de longo prazo quando compreender que a questão

fiscal não é problema do Ministro da Fazenda.

Engraçado que todos os setores reivindicam seus recursos, todos

legitimamente — saúde, educação, etc. — e todos querem proteção de seus

recursos. Todos dizem ao Ministro da Fazenda que querem seu recurso protegido,

que não podem fazer parte do superávit primário. Alguém poderia me explicar como

fazer superávit primário atendendo a todos? O único acordo que posso aceitar é

todos ficarem com aquilo que for arrecadado e o Ministério da Fazenda ficar com a

arrecadação da Receita Federal. Neste caso, tudo bem. Mas não é possível pensar

na hipótese de que todos os setores ficam com as suas receitas, por 2 motivos

principais: primeiro, porque há diferenciações de receitas que não necessariamente

correspondem às necessidades do setor. Uma agência pode arrecadar muito e

precisar de pouco, e outra arrecadar pouco e precisar de muito. Ou seja, a base

naquilo que arrecada não é o adequado. Segundo, se estimularmos o critério de que

quem arrecada fica com o recurso arrecadado, vamos estimular a multiplicação de

taxas e de novos impostos, o que não é adequado. Cabe ao Governo dar os

instrumentos necessários para as agências funcionarem. Se o que elas têm hoje não

é suficiente, o Governo deverá, apesar dos esforços primário e fiscal, apesar das

dificuldades, suprir as necessidades das agências.

O que me estimulou a pensar que o contrato de gestão pode ser positivo foi

justamente este ponto: um contrato de gestão no qual o Ministério e a agência estão

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de acordo no que diz respeito aos recursos necessários a longo prazo e às

atribuições mensuráveis, do ponto de vista administrativo e de fiscalização. Isso

seria razoável na construção desse modelo. Mas não seria razoável um contrato de

gestão em que o Ministério supervisione a ação reguladora da agência. Isto seria

brincar de independência, seria fugir completamente à regra.

Mesmo nesse caso do contrato de gestão, dos limites que isso possa ter,

pode ser aperfeiçoado o texto. A proposta é que possamos estabelecer entre o

Ministério e a agência — e insisto que o contrato de gestão pode ajudar, não

significa impedimento — uma relação que seja de fato contratada, que não dependa

do humor das pessoas. Por exemplo, não posso dizer que a agência vinculada ao

Ministério da Fazenda terá a cada ano a verba que o meu humor decidir.

(Intervenção inaudível.)

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - A matéria fiscal, nem todos a

consideram.

Neste caso, é interessante ter um instrumento simples. Muitos consideram um

risco o contrato de gestão — e nisso estou de acordo com o alerta que se faz. O

contrato de gestão não pode ser a subversão da independência. Se assim for,

vamos construir uma monstruosidade institucional e não um avanço institucional.

Portanto, o contrato de gestão é útil, porém dentro de determinados limites,

assim como nessa relação entre poder de outorga e contratos é útil que haja alguma

maleabilidade, dentro dos limites. No que pudermos avançar, será positivo.

Nosso Ministério e todos os demais Ministérios envolvidos estão à disposição,

tenham certeza, para um diálogo bastante aprofundado, se for o caso de uma

votação urgente, para dedicarmos mais tempo à discussão, a fim de que tenhamos a

segurança de que o que sairá daqui será um avanço.

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Não gostaria de, ao final dessa votação, ouvir a Situação dizer que isto foi um

avanço e, a Oposição, que foi um retrocesso. Não construiremos o País que o

brasileiro quer se trabalharmos dessa maneira, nas questões institucionais,

principalmente. Podemos brigar bastante nas disputas partidária, eleitoral. Isso faz

parte da democracia, da evolução do País; é positivo, sadio. Mas, nas questões

institucionais, não se trata de Governo ou Oposição, mas de construções difíceis,

complexas, que respondem ao interesse do Brasil como um todo, do consumidor e

do investidor, insisto.

Não acho incompatível — alguns colegas demonstraram preocupação mais

aqui, ou mais ali — o interesse do investidor com o do consumidor. É regulando

adequadamente que vamos reduzir o custo do capital e o custo da tarifa para os

consumidores. Portanto, se fizermos uma regulação que atraia mais investimentos, o

beneficiário será o usuário. Isso é que de fato poderá construir um modelo mais

adequado.

Há outras questões sobre as quais espero poder dialogar ao final.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Fale da receita do servidor, que

ficou parada.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Pessoas me perguntaram se havia

relação entre a Receita com e a votação de matérias no Congresso Nacional. A

Receita não pôde fazer a divulgação no início desta semana, mas marcou para hoje

ou amanhã, se não me engano, mas isso será divulgado. Mesmo porque os dados

estão publicados. A imprensa tem capacidade extraordinária de saber dos dados

apresentados ao País, e inclusive já divulgou quase todos. Então, não há surpresa.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Mas preferem ouvi-los de V.Exa.

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O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Se V.Exa. me permite, não vamos

ser apressados na avaliação de resultados, até em benefício do processo como ele

ocorre na economia.

No ano passado, matérias fortíssimas informaram que a arrecadação do PIS

aumentara 41%. De fato, em março, o PIS estava calculado em 26% acima do ano

anterior. Um conjunto de matérias publicadas diziam que o Governo exagerara na

sua arrecadação, etc. Em outubro, o PIS estava igual ao do ano anterior, e ninguém

falou mais nada. Fiquei sozinho falando do assunto.

No que se refere à COFINS, é verdade que este mês vai aumentar fortemente

a arrecadação, porque foi o primeiro mês em que se cobrou dos produtos

importados. Vai haver um aumento mesmo. Equilibramos a cobrança do produto

nacional e do importado e vai haver aumento de arrecadação.

Agora, enquanto isso se acomoda ao longo do ano, vamos ter de observar. O

compromisso do Governo é não aumentar a carga tributária, para o bem do País, e

não porque seja proibido por alguma lei ou pela Constituição.

Portanto, se houver aumento, se houver algum desajuste na legislação,

teremos que observar e acomodar. Mas insisto em dizer que aquilo que pareceu

grande no ano passado se acomodou depois. Temos de observar os impostos.

Tudo aquilo que for tido como dados objetivos da Receita será publicado com toda

a transparência. A Receita sempre foi uma instituição transparente — e não foi no

nosso mandato que começou a ser — e continuará sendo transparente durante

todo o próximo período, não há dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Sr.

Ministro, particularmente pela apresentação de V.Exa. e por deixar a estrutura do

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seu Ministério à disposição desta Comissão para discutir eventuais

aperfeiçoamentos que aqui se entenderem válidos.

Com a palavra o Deputado Henrique Fontana, titular da Presidência desta

Comissão.

O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA - Muito obrigado, Sr. Presidente,

Deputado Eliseu Resende.

Nobres colegas, Sr. Ministro, nobre Relator, o ambiente aqui está muito

adequado para esta discussão, porque, primeiro, não estamos tratando de uma

ciência exata. Definir o papel de uma agência, qual o melhor sistema de organizar

esse arcabouço institucional para o País não é como a Matemática. Não há quem

possa dizer o que é certo e o que é o errado. E há componentes, divisão de

sociedade e gestão, que vão ter de aparecer em uma mediação. O que sai do

Congresso é, evidentemente, a opinião majoritária da sociedade, do ponto de vista

democrático.

Se alguém me perguntar se é mais certo ou menos certo o poder de

concessão ficar com os Ministérios ou com a agência, digo que tenho convicção de

é melhor para o País que fique com os Ministérios. Na minha concepção de

sociedade, respeita melhor o critério democrático e respeita melhor aquele

planejamento estratégico, que é a visão de médio e longo prazo de que o País tem

que ser pensado enquanto Estado nacional. Evidentemente, a cada momento, ou

seja, a cada 4 ou 5 anos ou como for o sistema democrático, tem-se de refletir sobre

esse pensamento e os câmbios democráticos que a sociedade tem direito de fazer.

Às vezes, Ministro, cria-se um conceito de estabilidade como sendo regras

iguais a vida toda. Isso seria praticamente suprimir a democracia, porque algumas

tensões que surgem, que não podem colocar em risco critérios de contratos em

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andamento, têm de ser rediscutidas. Repactuação, renegociação de situações são

naturais em uma sociedade.

É lógico que devemos procurar criar ambientes que garantam maior

estabilidade. Mas essa estabilidade também tem de levar em conta a estabilidade

que o consumidor procura, porque o sentimento da sociedade brasileira — não vou

discutir isso aqui, porque, evidentemente, na maioria dos casos, isso não é de

responsabilidade da agência, foram contratos assinados — é que essas tarifas e

serviços cresceram demais em alguns setores. A sociedade não está errada. Nós

temos de discutir e debater mais o assunto.

Estamos caminhando para uma posição mais consensual: o contrato de

gestão é bom. Podemos colocar um ou outro item que evite, por exemplo, que o

contrato de gestão seja utilizado como fator de constrangimento da parcela

importante de independência que as agências têm de ter, não de outra que

eventualmente queiram ter, de forma inadequada, em relação ao que seja a

necessidade da sociedade.

Ter contrato de gestão considero ser uma qualificação desse sistema, até

porque em algumas agências isso já existe.

Outro tema é a figura do ouvidor. Ele só pode nos ajudar. Ouvi algumas falas

mais radicais contra o Ouvidor, no sentido de que ele será o interventor do

Executivo. Por que isso? Antes de se inventar a Agência, já havia ouvidor em outras

áreas, o que é positivo. Vamos discutir o critério, se o Presidente da República

indica, se o Congresso, o Senado ou a Câmara, tem de aprovar o Ouvidor, e há

projeto que estabelece que tem de ser o Senado.

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Enfim, ter a figura do Ouvidor é avanço positivo, defendo-o em nosso debate

e vamos dialogar para ver se há algum tipo de segurança democrática para que o

Ouvidor seja, de fato, representante da sociedade.

Essas as minhas contribuições de hoje, Sr. Presidente.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Deputado

Henrique Fontana, a quem devolvo a Presidência.

Antes, concederei a palavra ao Deputado Mauro Passos.

O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Cumprimento o Ministro, a quem

peço escusas pelo meu rápido afastamento da audiência, pois tivemos de conversar

com a direção da ELETROBRÁS sobre situações criadas no passado, como a

federalização de algumas empresas do setor que hoje passam por enormes

dificuldades. Registro essa observação, que já deve ser do conhecimento do

Ministro e que passou despercebida no projeto que gerou as privatizações.

Vou fazer duas observações: na audiência de ontem com a Ministra Dilma foi

utilizado o mesmo exemplo do quanto as empresas de telefonia perderam em razão

de anúncios assim ou assado. Deixo registrado que no mundo inteiro empresas

perdem e empresas ganham. As bolsas flutuam no mundo inteiro, inclusive em

países onde a regularização foi estabelecida há anos. Às vezes, temos excessiva

preocupação com o que acontece no Brasil e seus efeitos nas empresas.

Cumprimento o Ministro por tratar dessa questão sobre o eterno

protecionismo, como se as empresas não pudessem perder devido à nossa própria

situação política e econômica. Isso faz parte do jogo. Não entendo esses exemplos

seguidamente repetidos. Agora, em razão da discussão das agências reguladoras, o

grupo da área de telefonia perdeu vários milhões. E quando eles ganham, esse

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ganho é repassado aos consumidores ou é repactuado? Evidente que não. Tanto é

que o próprio Presidente comentou, em matéria publicada recentemente no jornal

Folha de S.Paulo, que os efeitos das tarifas dos serviços públicos hoje consomem

30% da renda da classe média.

Outra observação que, para mim, não é de todo verdadeira é o ganho de

escala, que também não está sendo verificado por nós. A AES, com certeza, é a

empresa que melhor se enquadraria no chamado ganho de escala por atender ao

maior mercado da América Latina em energia elétrica, que hoje é a Grande São

Paulo, e não vemos em momento algum diferenciação de tarifas por essa razão.

Teoricamente, se houvesse ganho de escala, a energia paga por quem mora

em São Paulo e utiliza os serviços lá, onde há 10 milhões de consumidores, no meu

entender, deveria ser menor do que para quem mora em Florianópolis, como nós,

onde há 300 mil consumidores. Isso também não é algo pronto.

Sabemos que há estradas em que passam cerca de 100 mil carros e cujos

pedágios são do mesmo valor daqueles cobrados em estradas onde circulam 5 mil

carros. Ora, não está de todo resolvida a questão da escala.

Por último, Sr. Ministro, gostaria de ouvir a opinião de V.Exa. sobre como

vamos tratar disso no âmbito das fontes renováveis de energia. Recentemente, o

Governo brasileiro, numa atitude elogiável, assinou o PROINFA, com 3 mil e 300

megawatts distribuídos em PCHs, biomassa e eólicas. O Brasil, como outros países

do mundo, tem de caminhar nessa direção. Mas sabemos que não é possível esse

setor crescer e se consolidar, nesse caso, sim, sem ajuda, porque a energia

produzida em qualquer uma dessas fontes que citei está bem acima do que é hoje

produzido pelas grandes hidrelétricas e pelo sistema como um todo. A Alemanha,

por exemplo, país que mais avançou na alteração da sua matriz energética, possui

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hoje 15 mil megawatts de energia eólica, enquanto o Brasil possui 24. Como vamos

tratar isso? Qual seria o papel das agências na questão regulatória dessas fontes

renováveis, cuja presença na nossa matriz energética vem sendo sinalizada de

forma correta pelo Governo Lula?

Gostaria de ouvir a opinião do Ministro a respeito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Mauro Passos.

Destaco a presença entre nós do Líder do PFL na Casa, Deputado José

Carlos Aleluia. Há poucos minutos também esteve conosco o Líder do PL, Deputado

Sandro Mabel.

Concedo a palavra ao próximo orador inscrito, Deputado Francisco Appio.

O SR. DEPUTADO FRANCISCO APPIO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras. e

Srs. Parlamentares, é evidente que todos nós esperamos que esse projeto que já

era bom melhore nesta Casa, com as contribuições recebidas por V.Exa. no

Executivo e com as emendas aqui apresentadas.

É forçoso reconhecer que houve avanço no controle social, mas poderíamos

ter ousado mais. No Rio Grande do Sul, há cerca de 8 ou 9 anos, discutimos com a

então Deputada e hoje Presidente da Associação Brasileira de Agências

Reguladoras, Maria Augusta Feldmann, durante a reforma do Estado realizada pelo

então Governador Antonio Britto, a criação da AGERGS, primeira agência

reguladora do Estado, na qual incluímos o usuário e seu representante. Acredito ter

sido bom porque as queixas diminuíram bastante. Mas o projeto trata da concessão

do direito de as associações de defesa do consumidor e do usuário indicarem até 3

representantes especializados para acompanhar as consultas públicas. Penso que

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deveríamos ter ousado, e talvez possamos ainda fazê-lo, colocando o usuário dentro

das nossas agências reguladoras.

Sr. Ministro, V.Exa. sabe perfeitamente que os caminhoneiros que saem de

São Marcos, cidade do Deputado Henrique Fontana e capital do caminhão no Brasil,

vão parar semana que vem ou na outra. É previsível e inevitável o “apagão” nas

estradas por conta dos problemas das rodovias, sua restauração, a não-aplicação

dos recursos da CIDE. O caminhoneiro reclama que hoje paga duas vezes: quando

a rodovia é concedida, ele paga o pedágio; e paga ainda no recolhimento da CIDE.

E onde ele só recolhe a CIDE, não há estradas decentes, são esburacadas, o que o

obriga a transitar pelo acostamento e facilita que o assaltante tenha acesso à cabina

do caminhão pelo estribo, causando, claro, enormes prejuízos de abastecimento, por

conta da demora e outras coisas.

Em São Paulo, hoje à noite e amanhã os caminhoneiros autônomos vão

decidir a respeito. Eles aguardam a palavra do Governo. Não pretendem bloquear

estradas, mas vão fazer paralisação. Eles têm expectativas e desejam conhecer a

perspectiva do Governo sobre a restauração das rodovias. Se estivessem dentro

das agências, provavelmente teriam mais condições para compreender o porquê

desse aumento do petróleo lá fora, que provoca o aumento do preço do diesel no

Brasil, e entenderiam por que são alterados contratos de concessionárias de

rodovias e pedágios sem se ouvir o usuário. Por que existem alterações no curso do

contrato?

Por exemplo, no Rio Grande do Sul — estou diante de três ex-Ministros do

Transporte, Srs. Eliseu, Goldman e Padilha, que conhecem esse discurso melhor do

que eu —, nas concessões rodoviárias, os pedágios eram cobrados, inicialmente, só

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na ida, mas houve alteração contratual para cobrança tanto na ida quanto na volta, e

o usuário não foi consultado.

Seria importante, Sr. Ministro, que pudéssemos avançar ou ousar um pouco

mais no controle social desse serviço oferecido, para que esses setores não

chegassem a tomar atitudes extremas como essa — que deve ocorrer amanhã — de

apagão nas estradas, por conta de buracos e uma série de outros problemas. Sr.

Ministro, pela primeira vez eles contarão com a adesão também das empresas

transportadoras e não só dos autônomos.

Obrigado, Sr. Ministro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Francisco Appio.

Passo a palavra ao Líder do PFL, Deputado José Carlos Aleluia. Apelo a

S.Exa. que seja breve por causa da escassez de tempo do Ministro.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Deputado Henrique Fontana,

muito obrigado por sua gentileza e pode ter a certeza de que serei breve, até porque

sei da importância do Ministro para o Governo e como o seu tempo deve ser

retalhado em pedacinhos. Vou usar o menor pedaço possível do precioso tempo do

Ministro.

Sr. Ministro, saúdo V.Exa e seu Secretário. Fomos colegas nesta Casa e acho

que V.Exa. tem papel importante no Governo. Quero apenas, sem fugir ao assunto

das agências reguladoras, dar um depoimento histórico. Fui o Relator do projeto que

criou a ANEEL, a primeira agência a ter alguma autonomia. Recordo-me, Sr.

Ministro, que quando levei o projeto à Casa Civil para apresentar a idéia de

independência, que não era a desejada nem a existente nos países onde há regras

mais sólidas, encontrei oposições.

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O Ministro Clóvis Carvalho, que é um homem moderno, disse-me que a idéia

de independência era boa, mas não sabia se o País estava preparado para isso. O

Ministro Raimundo Brito, que é meu amigo, também tinha dúvidas e reagiu.

Recordo-me de que usei expedientes os mais diversos para reforçar a

queda-de-braço existente dentro do Governo, que existe em todo governo e que é

natural no processo democrático, e a idéia de ter uma agência mais independente.

Terminei usando pessoas como Sérgio Abranches, um cientista político que à época

tinha acesso direto ao Presidente Fernando Henrique, e Piquet Carneiro, conhecido

jurista de todos nós, e fomos fazendo um processo de aculturamento das pessoas. E

no meio havia uma figura muito forte, a de Sérgio Motta, Ministro forte do Governo

Fernando Henrique, que ainda estava com saúde plena e também tinha dúvidas a

respeito do assunto.

Fizemos um trabalho de convencimento muito grande. E não só eu, mas

muitas pessoas e, no fim, o Presidente Fernando Henrique foi quem arbitrou:

“Vamos dar alguma independência”. No caso da ANEEL, foi inserido o chamado

contrato de gestão, contra a minha vontade e a de muitos outros, e que depois se

mostrou inócuo e ficou com a pouca independência existente hoje, mas que termina

assegurando certa estabilidade. O fato de o assunto ser discutido há tanto tempo

gera instabilidade. A Oposição quer ajudar o Governo a fechar essa questão.

Ontem fechei acordo com o Presidente João Paulo Cunha e com os Líderes

do Governo para votarmos essa questão até o dia 8, aceitando inclusive prorrogar o

início do recesso, porque acho fundamental que o Brasil tenha regras que saiam da

Câmara, do Senado e que o Presidente sancione e que se tome logo a decisão.

Sei, Sr. Ministro, que neste ponto devo estar muito próximo de V.Exa. e sei da

sua dificuldade dentro do Governo, porque os Ministros às vezes não percebem que

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os Ministérios são permanentes, que as agências são permanentes, mas que nós

somos temporários. Eu sou temporário na função de Deputado, V.Exa. é temporário

na de Ministro. E espero que seja uma temporada muito longa, pois V.Exa. está

fazendo um trabalho extremamente...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Temos em mente mais

uns 6 anos de mandato para o Ministro Palocci.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Pelo menos até o fim do

Governo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - É a nossa idéia, uns 6

anos para o Ministro Palocci.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Até o fim do Governo

acredito que o Ministro vai prestar grande trabalho.

Sr. Ministro, presto este depoimento, e V.Exa. tem meu apoio nessa

queda-de-braço. Se tivermos possibilidade de fazer algum esforço, seria sempre no

sentido de mais independência, até porque, decorridos quase 1 ano e meio de

Governo, os novos comissários indicados por Lula irão além do seu Governo, dos 4

anos, ou, se forem 8, além dos 8, falando claramente.

A independência interessa a todos e há um aspecto particular. Tivemos sorte

na escolha dos comissários. Não temos caso de corrupção, temos na Justiça, no

Executivo, neste Governo e em outros, mas felizmente não vimos ainda nas

agências — e esperamos não ver. Espero que sejam escolhidas mais mulheres. A

escolha de mulheres e homens para comissários tem sido correta. Alguns até

terminaram saindo de forma muito digna, como o Dr. Shimura, que não seria bom

que tivesse saído, mas, enfim, saiu, jogo político, jogo jogado.

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Sr. Ministro, a tendência adotada por V.Exa tem o apoio do PFL, que quer

Agências mais independentes para os comissários que serão indicados pelo

Presidente Lula. Não quero independência para os comissários antigos, não. Hoje,

V.Exa. vive o que os economistas chamam — e nós não somos economistas, mas

somos curiosos; V.Exa. mais que eu — de retomada cíclica do crescimento. (Risos.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Ainda bem que o

Deputado José Carlos Aleluia está elogiando o Ministro. Pelo tempo, S.Exa. tem um

grau de curiosidade maior; portanto, tem desempenho melhor na direção da

economia, mas isso da Oposição construtiva é muito positivo.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Vivemos um crescimento

cíclico, mas V.Exa. sabe que não teremos desenvolvimento sustentado se não

viabilizarmos os investimentos de risco na infra-estrutura e, por isso, terminamos

divagando para falar do transporte, do saneamento, do PROINFA, cuja construção,

aliás, foi de minha responsabilidade. Fico muito orgulhoso em ver o atual Governo

implantar esse projeto, uma vez que fui o autor do substitutivo que o instituiu.

Sr. Ministro, trago aqui o incentivo à idéia de que mudemos esse projeto para

que haja Agências independentes que dêem confiança e segurança ao consumidor

e ao investidor. Não há segurança nem confiança ao investidor sem confiança e

segurança ao consumidor e vice-versa. Não se trata de dependência, mas

interdependência. O mundo não é mais da dependência, mas da interdependência.

É por isso que a Oposição está interdependendo da ação do Governo e trazendo o

apoio a V.Exa. para buscar mais independência às Agências.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,

Deputado José Carlos Aleluia, Líder do PFL.

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Com a palavra o último orador inscrito, Deputado Fernando Ferro, digno

representante do Estado de Pernambuco nesta Casa.

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente. Sr. Ministro, Sras.

e Srs. Parlamentares, demais participantes desta audiência pública, saúdo esta

Casa por promover este debate. Sinto-me um eterno aprendiz nesta Comissão.

Ministro Palocci, é freqüente a citação do passado trotskista de V.Exa. e do

nosso passado de esquerda, mas considero isso extremamente salutar. É muito

menos constrangedor o nosso passado de esquerda — e ainda me considero de

esquerda —, e sermos lembrados como ex-trotskista e ex-leninista do que sermos

chamado de ex-fascista, adepto de Hitler ou de Mussolini. Ou seja, até nisso

levamos certa vantagem. No processo de construção democrática há aqueles que

têm heranças muito mais constrangedoras.

Não vejo isso como problema, mas como sinal do nosso amadurecimento

democrático. Exemplos disso vivemos no debate desta Comissão. Ouvi há pouco

testemunho do Deputado Aleluia, que decidiu a questão das Agências Reguladoras

junto com Fernando Henrique, Sérgio Mota, Clóvis Carvalho e mais um cientista

político. Estamos em audiência pública, com a presença de vários Ministros, para

buscar o aperfeiçoamento, o que mostra a evolução do espírito democrático e

libertário do Deputado Aleluia, e o estágio em que estamos hoje, o quanto

avançamos: já não precisamos nos juntar apenas a Lula ou ao Ministro Palocci para

dizer o que deveria ser votado aqui. Isso é um avanço e uma conquista democrática

altamente positivo. É uma realidade que nossos amigos da Oposição às vezes não

querem reconhecer. Este Governo tem dado sucessivas provas de que tem

construído políticas com outro viés, com outra característica democrática. O debate

sobre a restruturação do setor elétrico, as reformas que estavam paralisadas, todas

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elas foram novamente trazidas à luz e submetidas a intenso debate democrático. É

significativo processo de evolução, que só temos a elogiar.

É neste espaço que temos garantido o contraditório, ouvindo os diversos

atores, os diversos grupos de pressão. O debate sobre as Agências Reguladoras é,

no fundo, o debate sobre a feição do Estado que queremos, o caráter do Estado que

queremos. E esse debate, mais do que nunca, é preciso que seja o mais amplo

possível.

0 SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Deputado Fernando

Ferro, o meio-dia está se aproximando e ficamos um pouco mais inquietos. Peço

para retomarmos o silêncio. Devolvo a palavra ao Deputado Fernando Ferro.

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - As pessoas que gostariam de falar

e não têm espaço ficam às vezes murmurando entre elas, até com certa

legitimidade, mas é a regra do jogo.

Discutimos aqui uma proposta para o País. Muito bem observou o Deputado

Alberto Goldman quando há poucos minutos dizia: “É bom discutir isso pensando no

Brasil, até porque voltaremos a ser Governo”. É lógico que podem voltar a ser

Governo. Lembro-me de que, há 4 anos, os amigos tucanos diziam que ficariam 20

anos no poder.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Faltou explicar o intervalo de 4

anos.

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sim. O importante é

compreendermos que esse debate é um processo de aprendizado conjunto, que

estamos construindo instrumentos para reforçar o processo democrático, a

articulação e a organização da sociedade e, acima de tudo, que estamos

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aprendendo. É preciso ter um pouco de humildade para compreender que se trata

de um processo de aprendizado.

Felizmente, reconheço o avanço político de que participamos com o Deputado

José Carlos Aleluia, e graças à boa vontade de S.Exa. fizemos 2 ou 3 reuniões para

discutir a ANEEL no gabinete da Liderança do PFL.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Ele convidou V.Exa.? É

importante.

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Ele me convidou, teve esse gesto

magnânimo, o que inclusive nos permitiu apresentar sugestões ao projeto do

PROINFA, das fontes alternativas. Fomos ombro a ombro, para mostrar que a

Oposição também participava. À época, o espírito democrático do Deputado Aleluia

permitiu essas reuniões.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Deputado Ferro, eram

audiências rápidas ou prolongadas?

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Foram poucas, porém demoradas

e produtivas. Agora, evidentemente, seguíamos a regra do jogo à época. Hoje,

podemos participar com mais liberdade, com mais amplitude dessa discussão, que é

salutar, graças à conquista democrática que fizemos.

Mais do que formular perguntas, quero elogiar o Ministro Palocci pela

presença nesta Comissão e pelo esforço de melhorar o projeto que veio para cá.

Isso reflete claramente o estágio de cidadania política que estamos galgando e o

crescimento democrático desta Instituição e da sociedade brasileira como um todo.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado

Fernando Ferro, o último Parlamentar inscrito.

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Passamos a palavra imediatamente ao Ministro Palocci para suas

considerações finais, pelo tempo que achar necessário e ou possível, de acordo com

sua agenda.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Vou ser breve, até porque penso

que devo deixar algumas contribuições e não procurar resolver eventuais

dificuldades, porque temos de fazer isso juntos. Insisto em que o Ministério da

Fazenda fica à disposição, como certamente todo o Governo, no trabalho de apoio a

esta Comissão.

Quero reforçar algumas questões da mediação e o que é preciso fazer. Houve

muitas contribuições ao debate — recebemos 700 na audiência pública a respeito do

poder concedente.

De certa forma, o Ministro Eliseu Resende expôs bem a questão. Precisamos

melhor clarificar disso. Não se pode transferir poder concedente de um nível

institucional para outro, o que se pode é transferir procedimentos. Essa é uma

questão que me parece clara. Desculpem se na minha exposição não ficou tão claro.

Lendo agora a exposição, concordo que não ficou tão claro.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Fico muito honrado em ter podido

corrigir V. Exa.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Aqui o senhor sempre foi professor.

É preciso ser preciso, porque, senão, vamos criar legislação ruim para o

processo político. É preciso ter muita precisão relativamente à definição do poder

concedente, à definição das atribuições da Agência, aquilo que pode ou não se

transferir. Poder concedente não se transfere. Se o texto deu esse entendimento,

desde já faço essa correção, porque não é questão de o Ministério querer ou não, é

que não se pode transferir poder concedente, porque poder concedente faz-se em

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nome do povo, portanto, não pode, em nome dele, entregar a outro, quem quer que

seja esse outro.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - O poder concedente, no caso, é a

União, não é Ministro?

O MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Pois é. Essa questão é importante ser

definida. Se vamos ter no projeto ou não um nível de possibilidade de transferência

de algumas questões, como assinatura de contratos, consolidação de

procedimentos licitatórios, a formulação que veio aqui é adequada não para a

evolução do debate no interior do Governo, mas para o estágio em que hoje está a

questão institucional no Brasil. Agora, se o Congresso Nacional avançar, vai mostrar

que pode avançar um pouco mais.

Então, com referência a essa questão, insisto em que o importante é ter uma

definição, mas concordo com o Presidente da Comissão, Deputado Henrique

Fontana, de que o poder concedente nos Ministérios é o procedimento correto.

Muitos países fazem assim, e é correto que seja assim. Não acho que compromete

de maneira alguma a independência da Agência. É um aperfeiçoamento que

teremos na legislação.

O Deputado Henrique Fontana e o Deputado Mauro Passos apontaram uma

série de questões relativas a preços. É verdade que, em algumas situações, a

evolução dos preços não parece adequada, tendo em vista os ganhos de

produtividade de escala que houve em vários setores. É por isso que temos de

aperfeiçoar as Agências e os contratos. Por exemplo, tínhamos uma política de

preços para a qual — e não tenho nenhuma crítica a fazer — foram escolhidos

alguns indexadores.

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Recentemente, quando o Ministério da Fazenda e o Ministério da

Comunicação discutiam o setor de telefonia, ocasião em preparamos a política para

os contratos que vão ser feitos a partir do ano que vem para os próximos 20 anos, já

construímos uma outra política de preços, não mais baseada no IGP, mas no teto de

preços, com fatores de produtividade. Isso é aperfeiçoamento. O que não pode é

chegar em 2003 ou 2004 e dizer: “Cidadão, aquele seu contrato não vai ser feito

daquele jeito, porque eu resolvi que vai ser feito de outra forma”. Isso não se pode

fazer, porque não há investidor que resista a esse tipo de prática por longo prazo.

Pode até resistir no curto prazo, se estiver ganhando bem, mas no longo prazo

ninguém resiste, e vai procurar outro país que lhe dê algum nível de segurança na

atividade.

Mas isso não quer dizer que não possamos mudar e aperfeiçoar os contratos

atuais para contratos mais modernos. Os indexadores tradicionais não são

adequados; é preciso que se busquem indexadores que digam respeito ao setor e

que, por intermédio deles, se permita que todo ganho de produtividade seja

transferido para o consumidor, senão a Agência estaria cometendo grave equívoco

na sua função essencial, que é dupla: garantir segurança ao investidor e garantir

ganhos ao consumidor. As duas funções não são incompatíveis. É muito comum as

pessoas no Brasil dizerem que ou se defende o consumidor ou se defende o

investidor. Não penso assim. É perfeitamente possível a boa política proteger o

investidor, porque a proteção do investidor não é garantir ganhos — quando se

investe tem-se de correr o risco de ganhar ou de perder — mas garantir regras. Se

as regras estiverem garantidas, ganhar ou perder é resultado da atividade

econômica. Por outro lado, ao consumidor, é garantir que os ganhos do processo

sejam a ele transferidos. O Deputado Mauro Passos disse que se houve ganho de

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escala em determinado setor e se não se transferiu ao preço, há um problema, e

temos de aperfeiçoar os projetos.

Mas, insisto, aperfeiçoar contratos não significa rompê-los. Se há contratos

em andamento, analisa-se a experiência desses contratos; quando forem feitas as

grandes renovações, aproveita-se a experiência obtida para fazer melhor com

relação ao próximo período. É isso que o Brasil precisa fazer para evoluir o seu

marco institucional.

Embora não concluído, o modelo feito na área de telecomunicações no ano

passado — em que tivemos pequena participação — é o caminho adequado.

Preparam-se contratos de 20 anos e um ano antes anunciam-se mudanças. Assim,

tem-se um ano de audiências públicas para consolidá-las, de forma que os novos

contratos sejam construídos de maneira bastante sólida. E, a partir da sua

assinatura, são 20 anos em que essa regra tem de valer.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Sr. Ministro, existem cláusulas de

revisão contratual?

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Sim. Todas as exceções confirmam

as regras. De fato, existem situações nos contratos de concessão que permitem a

revisão deles. E hoje, olhando como o mundo tem feito essas formulações, vemos

que não se trata de um problema brasileiro. No mundo inteiro é problema

gravíssimo, difícil, complexo de resolver. Normalmente, trabalhava-se com o famoso

equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, mas atualmente isso já evoluiu para

melhor.

Os sistemas de preços e de ganhos de produtividade são mais adequados e

protegem mais o consumidor, inclusive no tocante ao ganho. É importante ressaltar

que se o ganho do investidor não for repassado ao consumidor, no médio prazo o

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prejuízo é de ambos os lados, porque aquele modelo não vai se sustentar. É preciso

que o Estado, o Parlamento e as Agências cuidem de zelar por essa questão

fundamental. Senão, não vai se sustentar o modelo em que o povo observa, os

Deputados observam, o Governo observa, a sociedade observa ganhos de escala

extraordinários que, ao longo do tempo, não se transferem para o consumidor. É

evidente que em determinado momento o País vai se perguntar: “Como é isso?

Como pode um ganho de escala tão evidente não chegar ao consumidor?” São

esses aspectos que devemos fazer evoluir na legislação.

O Deputado Mauro Passos expôs algumas questões sobre fontes renováveis

de energia. É importante que possamos definir no modelo regulatório. Insisto, Sr.

Deputado, em que o exemplo que V.Exa. citou permite ver com mais clareza a

necessidade de se ter atribuição no âmbito do Executivo e no da Agência.

Exclusivamente a Agência, com seu caráter independente que todos queremos

reforçar, não consegue resolver questão como essa. É preciso ter o concurso do

Ministério da área. A definição que V.Exa. deu é muito correta. Não tenho nenhum

comentário a fazer, porque a ela me associo.

O Deputado Francisco Appio abordou temas relativos a estradas, a pedágios,

a contratos. O projeto responde de alguma maneira às suas preocupações, pelo

menos quando levanta duas questões. A primeira é a Ouvidoria, importante para as

Agências. Se não está claro no projeto, vamos deixá-lo. Não pode haver dúvidas

sobre o fato de o Ouvidor ser instrumento do Estado. O Ouvidor é instrumento do

consumidor. É preciso que se garanta isso mediante um sistema, aprovado pelo

Parlamento, que assegure que ele possa cumprir sua função.

Além disso, está bastante reforçado no projeto o fato de que as Agências

prestam contas à representação pública do País, que é o Congresso Nacional, mais

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do que ao Governo. Nesse particular, o projeto está certo. Não é ao Governo que as

Agências prestam contas. Com o Governo, elas estabelecem seus contratos de

gestão dentro dos limites propostos e os conduzem, mas prestam contas de suas

atividades ao povo brasileiro. E para prestar contas ao povo o mais adequado é

fazê-lo à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, enfim, ao Congresso

Nacional.

A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN – Sr. Ministro, V.Exa. acabou de

falar em relação ao poder concedente. Tem de haver prestação de contas ao poder

concedente, no caso o Executivo. Não invalida sua afirmação final de que a

prestação de contas seria no Congresso Nacional, mas o Poder Executivo não pode

ficar ausente.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Estão estabelecidas no projeto.

V.Exa. tem razão, Sra. Deputada, de que há questões no relacionamento

permanente da Agência com o Poder Executivo que devem ser preservadas, até em

benefício do processo. Quando se pergunta a quem presta contas a Agência, diria

que é ao povo, e o ambiente de prestações de contas me parece que é o próprio

Congresso Nacional.

Ressalto, Deputado Francisco Appio, que destinamos muito mais recursos

para as estradas neste ano do que no ano passado e enviamos para esta Casa — e

V.Exas. aprovaram — proposta de transferência de 29% dos recursos da CIDE para

os Estados investirem em estradas. Portanto, houve uma ampliação das verbas.

Espero que isso possa de fato significar se não o investimento necessário — e todos

conhecem as limitações do investimento público —, pelo menos boa parte dele.

Tanto a ampliação dos investimentos quanto a transferência de 29% da CIDE para

os Estados são importantes contribuições do Governo.

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Agradeço ao Líder do PFL, Deputado José Carlos Aleluia, a gentileza do

comentário em relação à minha pessoa. No entanto, na verdade, tenho certeza de

que é vontade do Presidente Lula que avancemos na independência do marco

regulatório brasileiro, para o bem do País.

É evidente a polêmica que a discussão de um projeto como esse cria na

sociedade. V.Exa. descreveu seu recente esforço para elaborar o primeiro desses

projetos e saber em que estágio está o País — não o estágio em que está na minha

cabeça ou na cabeça de outro Ministro — e a forma como ele pode transformar

aquele avanço num impulso ao processo econômico.

Esse é o equilíbrio que todos devem buscar num bom projeto. Não se trata de

uma questão que um Ministro ou outro possa resolver. No caso do Governo, não

vejo esse problema, porque o Presidente Lula, que teve 52 mil e 364 votos, é

quem...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Milhões. Está certo que

a inflação está baixa, mas não dá para diminuir tanto assim os votos recebidos pelo

Presidente Lula.

O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI O Presidente teve, na verdade, 52.

793.364 votos — eu só tive 1 dos 364; se não fosse eu, seriam 363. Quem teve 52

milhões de votos foi o Presidente Lula. S.Exa. tem resolvido essas divergências de

maneira muito tranqüila e positiva.

O debate sobre a questão regulatória foi feito pelo Governo de forma

transparente, e eventuais divergências foram publicamente expostas. Não considero

negativa tal atitude, porque faz parte de um processo de construção do País,

processo que está em andamento há menos de 20 anos e para o qual o Governo

atual tem uma contribuição a dar junto ao Congresso Nacional.

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O Presidente Lula tem sido muito positivo no sentido de consolidar os

instrumentos que visam a garantir o investimento e os direitos do consumidor e tem

pessoalmente se envolvido no trabalho de busca de novos investimentos. Isso tem

ficado claro com a sua participação em eventos e com as viagens que tem feito,

como as que recentemente fez à China e a Genebra, onde teve importante diálogo

com investidores da área de infra-estrutura, e também na viagem que faremos, na

próxima semana, aos Estados Unidos, onde conversaremos com investidores da

área de infra-estrutura. Além disso, tem sido fundamental o diálogo permanente com

as lideranças empresariais brasileiras. Portanto, essa não é uma questão de um

Ministério ou outro, de um setor ou outro, mas do País.

É fundamental que o Brasil não tenha medo do sucesso. Ontem vi dados

relativos ao aumento das vendas no País, recentemente divulgados, sobre os quais

muitas pessoas disseram o seguinte: “Já podemos estar otimistas, mas cautelosos”.

O povo brasileiro tem muita dúvida. A meu ver, o desafio do Brasil é explorar

a sua vocação, pois pode crescer a índices elevados, durante um grande período de

tempo, e responder positivamente aos desafios que lhe são apresentados. Creio que

exageramos nas dúvidas sobre a nossa própria capacidade. Refiro-me à nossa

capacidade como País — e não como Governo —, como grande economia, que dá

belos exemplos em áreas de alta competitividade, e não apenas na área da

produção de grãos — competimos até na área de fabricação de aviões.

Este País pode vencer o desafio de crescer a taxas elevadas, resolver

questões regulatórias e buscar agressivamente novos investimentos. O grande

desafio do País é esse, e a perda com relação a alguns detalhes de uma legislação

que apenas é um reforço ao processo e à musculatura econômica do crescimento

de que o Brasil necessita não é o mais importante.

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Devemos nos apressar — e concordo com os Deputados José Carlos Aleluia

e Fernando Ferro — na aprovação dessa legislação, porque o debate está

praticamente feito. Agora devemos procurar, por meio do Relator, do Presidente e

dos partidos, aperfeiçoar a compreensão que o País e esta Comissão têm hoje, para

dar mais um passo em relação ao avanço institucional no nosso País, em um curto

espaço de tempo.

Eu não vim aqui pedir pressa aos Deputados. Vim a convite do Presidente da

Casa, João Paulo Cunha, do Presidente da Comissão, Deputado Henrique Fontana,

e do Relator. Mas, como os próprios Deputados estão dizendo que é necessário

agilizar a aprovação da matéria, vou concordar com V.Exas. — não estou, de forma

alguma, pedindo a V.Exas. que a agilizem. Quero apenas concordar com V.Exas.,

porque, de fato, se observarmos o momento político e econômico do Brasil, veremos

que o País saiu de um período de restrição, que foi duro, que veio de uma crise que

elevou nossa dívida, elevou nosso risco, elevou nossa inflação, e superou esse

período, retomou a atividade econômica e aponta para a possibilidade de

crescimento a longo prazo.

Insisto em dizer que a nossa preocupação neste momento não é em relação a

quanto o País vai crescer neste ano, mesmo porque pouco do que se faz em um

mês tem reflexo no mês seguinte. Este ano o Brasil vai crescer; o País já retomou o

crescimento. A questão apresentada para nós é: quanto vamos dar de musculatura

institucional e econômica ao País para que possamos enfrentar o desafio de crescer

a taxas elevadas e a longo prazo.

O Governo vai cumprir sua parte. Vamos trabalhar com grande

responsabilidade fiscal, vamos trabalhar acompanhando o processo inflacionário e

não vamos deixar a inflação voltar no Brasil. Felizmente, estamos vivendo um

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processo muito positivo em relação à inflação. A conquista foi obtida em curto prazo

e foi importante. Muitos dizem que foi a um duro custo, mas não há combate à

inflação sem custo em lugar nenhum do mundo. Estamos vendo a tensão que é

gerada no mundo quando um país como os Estados Unidos fala em elevar 0,25%,

0,5% a sua taxa de juros. É assim mesmo. É difícil, é duro.

Mas o fundamental é que — estando o Governo e a sociedade

comprometidos com um ajustamento de longo prazo e estando o Congresso e o

Governo comprometidos com o aperfeiçoamento institucional do País, de forma a

dar ao Brasil o que é preciso para que, a cada semestre, a cada ano, tenhamos um

ganho agregado, em termos de instrumentos de crescimento — o Brasil não tem por

que ter dificuldade de crescer, insisto, a taxas elevadas e a longo prazo.

Não é mais possível, não é desejável e não é vocação do Brasil repetirmos as

dificuldades que tivemos no passado: o País crescer 3 anos e ter uma crise, crescer

2 anos e ter outra crise, crescer 1 ano e meio e ter uma crise. Não é essa a vocação

do Brasil. Não podemos ter medo do desafio que nos é apresentado e devemos ter

capacidade de separar as divergências partidárias — que são legítimas, que fazem

bem ao País — das construções que devem ser de todos os setores, do Congresso

e da sociedade: construir instrumentos institucionais não é atribuição de uns contra

outros, mas de uns com outros. É atribuição do País e de suas autoridades, dos

seus agentes econômicos, dos representantes da população. Essas são atribuições

nossas, esses são desafios nossos.

Vamos expor nossas diferenças partidárias no debate político-eleitoral, que

faz bem ao País, e vamos sempre deixar que o povo decida o rumo que se deve dar

ao Estado, ao Governo. Mas, na hora de criar instrumentos institucionais, não

podemos atribuir o erro a um, o acerto a outro, o acerto a este, o erro àquele.

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Temos que fazer com que o País evolua conjuntamente nesses marcos, por

meio do somatório de uma macroeconomia ajustada; de uma política industrial

voltada para a ciência e tecnologia; de mudanças no sistema de avaliação de crédito

e valorização das iniciativas que possam baixar os juros de mercado e dar mais

fôlego ao processo de retomada econômica, entre as quais estão os sistemas de

regulação, a Lei de Falências — que, como eu disse no início e repito aqui, foi

melhorada por esta Casa e pelo Senado Federal. Portanto, essas conquistas

precisam se traduzir em ganhos para a economia.

Se o Brasil souber, a cada etapa dos próximos períodos, ao lado de um

equilíbrio macroeconômico, adotar medidas microeconômicas — como o pacote da

construção civil, sobre o qual dialoguei ontem com as Lideranças desta Casa; como

os marcos regulatórios; como a Lei de Falências; como as parcerias público-privadas

—, alcançaremos sem dúvida o nosso objetivo.

No entanto, essas medidas todas não precisam ser aprovadas no mesmo

mês. Não é verdade que se não aprovarmos tudo isso agora nada dará certo. Não é

verdade! Precisamos ir aos poucos aprovando essas medidas, de acordo com a

necessidade que o País for tendo, ao longo deste e do próximo ano, para que a

energia econômica e o PIB potencial do Brasil possam responder ao desafio que o

povo espera de nós, Governo, e de V.Exas, Deputados — sejam de Situação ou de

Oposição —, porque, de fato, a geração de empregos, o crescimento econômico e a

inclusão social são questões que não podem esperar. O Brasil tem que trabalhar

com agilidade.

Como disse o Deputado Fernando Ferro, o Presidente Lula tem tido

capacidade e mantido o compromisso de olhar para a necessidade de se fazer os

duros ajustes que tiveram de ser feitos, sem deixar de olhar — com o seu olhar, que

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é todo próprio — para as necessidades de inclusão social. Não foi por acaso que o

Presidente Lula determinou que as verbas de transferência de renda fossem

praticamente duplicadas nesse curto período de Governo. Fizemos isso com muita

dificuldade, porque as limitações do orçamento são grandes. Mas foram

praticamente duplicadas as verbas de transferência de renda e foi atendida uma

parcela da população cuja renda é inferior ao tão debatido salário mínimo.

Algumas vezes debatemos algumas referências de salários nominais na

economia e não vemos que, infelizmente, a renda de boa parcela do nosso povo

ainda está abaixo do salário mínimo. É necessário que as políticas públicas tenham

compromisso com isso, porque a solução para a grande diferenciação de renda no

País é tão importante quanto o estabelecimento de marcos regulatórios, de políticas

industriais etc. É preciso termos capacidade de enfrentar esses desafios com

paciência e persistência, mas com a agilidade que o processo exige.

Agradeço ao Deputado Henrique Fontana o convite e espero que tenha

ajudado a Comissão a agilizar o seu trabalho — insisto em dizer que a agilidade foi

proposta pelos Deputados, e não por mim. Espero que possamos, no próximo

período, ter um ganho efetivo para o País no debate que V.Exa., Sr. Presidente, está

coordenando juntamente com as Lideranças de todos os partidos.

Agradeço a todos a atenção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado, Ministro

Palocci.

Solicito a V.Exa. que permaneça conosco por mais 3 minutos, a fim de

mantermos o Plenário organizado — sei que, quando o Ministro se levanta, há

sempre grande balbúrdia —, pois o Relator pediu para usar a palavra por poucos

minutos.

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Com certeza, a participação de V.Exa. foi muito importante e nos ajudou

sobremodo.

Concedo a palavra ao Relator, Deputado Leonardo Picciani.

O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, peço a atenção do Plenário: vou falar a respeito da apresentação do

parecer, que havíamos marcado para hoje à tarde.

Em razão da participação do Ministro Palocci, que nos trouxe grande número

de elementos à reflexão, e dos vários pedidos que temos recebido dos agentes

interessados no assunto para que possam ainda apresentar sugestões — e o

Presidente Henrique Fontana tem me reiterado a solicitação para que ouçamos

essas novas sugestões —, consulto o Plenário e o Presidente da Comissão sobre a

possibilidade de marcarmos a leitura do parecer para a próxima terça-feira.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Concedo a palavra ao

Deputado Alberto Goldman. Peço a S.Exa. que seja breve.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Os dados e as opiniões trazidos

pelo Ministro Palocci têm um peso muito grande e convergem, inclusive, com as

opiniões de muitos que integram esta Comissão. Seria muito útil que pudéssemos

utilizá-las.

Na verdade, seria estranho que o parecer fosse apresentado hoje, uma vez

que o Ministro Palocci acabou de nos falar sobre o tema da proposição. É como se

as opiniões de S.Exa. não tivessem valido nada. É claro que elas são muito

relevantes, têm grande valor, e, portanto, acho muito importante que a leitura do

parecer seja feita na próxima terça-feira.

Quero deixar claro que temos interesse — inclusive, o PSDB sugeriu isso —

em que a votação da legislação sobre as Agências seja feita em plenário no dia 6.

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O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Deputado Alberto Goldman, foi

importante a vinda do Presidente João Paulo Cunha à Comissão para que

pudéssemos dar esse encaminhamento. Confirmou-me S.Exa. que a Presidência da

Casa pretende marcar a votação em plenário para o dia 6 de julho.

O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - A previsão feita às Lideranças é

de que seja no dia 6 de julho. Até lá temos ainda pouco mais de 2 semanas para

discutir na Comissão e aperfeiçoar o projeto, o que é interesse de todos nós.

É importante ressaltar que — a experiência na Casa nos mostra e o Ministro

Palocci sabe muito bem disso — se o projeto sair daqui bem concertado, passará

pelo Senado muito rapidamente, a exemplo do que ocorreu com a Lei Geral de

Telecomunicações. Um projeto bem articulado nesta Câmara passa muito rápido

pelo Senado; um projeto mal articulado aqui passa meses naquela Casa e acaba

saindo de lá totalmente diferente, e cria-se uma enorme balbúrdia.

Então, vale a pena a proposição ficar um pouco mais de tempo nesta Casa,

para que saia daqui bem afinada com a opinião de todos nós.

O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Também concordo com o Deputado

Alberto Goldman, Sr. Presidente. O Relator precisa, efetivamente, de tempo para

assimilar os ensinamentos obtidos da Ministra Dilma Rousseff ontem e do Ministro

Palocci hoje. Espero que S.Exa. contemple no seu parecer esses ensinamentos e

que, na terça-feira, possamos examinar um trabalho que venha a esta Comissão de

forma mais bem elaborada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito bem. Então, na

próxima terça-feira será feita a leitura do parecer. Estão encerradas as audiências

públicas.

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Antes de encerrar esta reunião, agradeço ao Ministro Palocci a contribuição e

desejo a S.Exa. um bom trabalho, para que a economia nacional continue

crescendo.

Está encerrada a reunião.