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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 3.337/04 - AGÊNCIAS REGULADORASEVENTO: Audiência Pública N°: 0884/04 DATA: 17/6/2004INÍCIO: 9h55min TÉRMINO: 12h33min DURAÇÃO: 2h38minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h37min PÁGINAS: 75 QUARTOS: 32
DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO
ANTONIO PALOCCI - Ministro de Estado da Fazenda.
SUMÁRIO: Debate sobre o Projeto de Lei nº 3.337/04, que dispõe sobre a gestão, a organizaçãoe o controle social das agências reguladoras.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de imagens.Há intervenções inaudíveis.Há oradores não identificados.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0884/04 Data: 17/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião de audiência pública
da Comissão Especial destinada a oferecer parecer ao Projeto de Lei nº 3.337/04,
que dispõe sobre a gestão, a organização e o controle social das agências
reguladoras.
Nesta reunião de audiência pública vamos ouvir o ilustre Ministro da Fazenda,
Sr. Antonio Palocci, cuja presença agradeço e que convido a tomar assento à Mesa.
Saúdo o Líder do Governo na Câmara dos Deputados, Deputado Professor
Luizinho, e cumprimento todos os Deputados que compõem a Comissão.
Tendo em vista a distribuição de cópias da ata da reunião anterior, indago da
necessidade de sua leitura. (Pausa.)
Atendendo a pedido do Deputado Eliseu Resende, está dispensada a leitura
da ata.
Em discussão a ata. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, em votação a ata.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada.
Como em todas as audiências públicas, primeiro fará uso da palavra o
convidado, Sr. Ministro Antonio Palocci, pelo tempo de 20 a 30 minutos. Em seguida,
a palavra será franqueada aos Parlamentares que dela quiserem fazer uso, pelo
tempo de 5 minutos, e então será devolvida ao Sr. Ministro.
Sabendo das dificuldades de agenda do Sr. Ministro, combinamos com S.Exa.
que a audiência não ultrapassará o tempo de 2 horas.
Esta reunião está sendo transmitida ao vivo pela TV Câmara.
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Com a palavra o ilustre Ministro da Fazenda, Sr. Antonio Palocci.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Sr. Presidente, Deputado Henrique
Fontana, Sr. Relator, Sras. e Srs. Deputados, pretendo não fazer mais do que uma
breve apresentação, deixando tempo para o diálogo com V.Exas. sobre uma das
questões centrais, do ponto de vista da política econômica, para a garantia de
instrumentos eficazes de desenvolvimento econômico e para a garantia de uma
institucionalidade moderna para o Brasil que aumente o nosso PIB potencial e faça
com que os ganhos de produtividade e de competitividade sejam absorvidos pelo
conjunto da economia, beneficiando-se o País desses ganhos.
(Segue-se exibição de imagens.)
Como sabem V.Exas., estamos em plena recuperação da atividade
econômica; vivemos agora o final do quarto trimestre de crescimento econômico.
Portanto, a retomada do crescimento é uma pauta que já se consolidou nos últimos
4 trimestres.
A questão fundamental que se apresenta para o desenvolvimento brasileiro
neste momento não são apenas as condições macroeconômicas para o aumento da
atividade, na medida em que elas basicamente existem. A questão que se apresenta
neste momento é de que maneira o Brasil vai ampliar a musculatura de sua
economia, preparar-se para fortalecer as iniciativas de novos investimentos,
fortalecer sua institucionalidade, modernizar sua legislação, melhorar a qualidade
dos créditos privados e públicos, melhorar a qualidade do tratamento dado ao
Orçamento, permitindo que a poupança pública seja maior e de melhor qualidade e,
assim, criando condições para que o PIB potencial do Brasil seja ampliado ano a
ano.
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O que todos certamente desejam não é o crescimento de 2004, mas, sim, um
crescimento constante pelos próximos 10, 12, 15 anos, a taxas cada vez mais
elevadas, com maior competitividade empresarial, e que o País responda a seus
desafios.
Por isso, quando recentemente um conjunto de Ministérios, sob a liderança do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, lançou a política
industrial do Governo, fizemos questão de ressaltar que ela entrava com a
fundamental inovação da Ciência e da Tecnologia. Sabemos que essa questão é a
que mais pode ter inflexão horizontal em toda a cadeia produtiva brasileira, do
campo e da cidade, e potencializar de maneira bastante eficaz o crescimento
brasileiro.
Portanto, o tema de hoje — agências reguladoras — refere-se também à
institucionalidade do País, de grande importância não apenas para os próximos
meses, mas também para as próximas décadas, no sentido de que seja consolidado
o compromisso nacional com os contratos de longo prazo, contratos de infra-
estrutura, fundamentais para o desenvolvimento brasileiro, ou seja, no sentido de
que sejam acompanhados e regulados por um sistema bastante moderno e forte que
diga respeito aos desafios do Brasil.
Vou rapidamente discorrer sobre 3 questões: influência dos investimentos em
infra-estrutura sobre o crescimento; razões para a regulamentação; e principais
alterações propostas pelo PL nº 3.337, de 2004, que esta Comissão Especial está
analisando.
Os investimentos em infra-estrutura aumentam a produtividade de diversas
atividades econômicas. Estudos demonstram que investir em infra-estrutura é
mecanismo eficaz para aumentar a produtividade da economia. O aumento da
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produtividade diminui os custos de produção do setor privado, elevando a
rentabilidade e estimulando novos investimentos produtivos; ou seja, o aumento da
produtividade é instrumento estimulador de um círculo virtuoso na economia. Novos
investimentos elevam o PIB e a renda do trabalhador.
Trago aqui conclusões apresentadas por trabalho de 2003 — portanto recente
—, em que Lederman e Maloney, economistas do Banco Mundial, comparam o PIB
por trabalhador da América Latina e do Leste Asiático e procuram analisar por que
houve distanciamento entre as duas regiões, nos últimos 20 anos.
As conclusões são importantes e se transformam em questões conceituais
conhecidas, mas com dimensão medida pelo estudo, que é de alta qualidade.
Nele se destaca, por exemplo, que os menores investimentos em infra-
estrutura na América Latina explicam cerca de um terço do aumento da diferença na
renda por trabalhador entre as duas regiões, ou seja, a defasagem de infra-estrutura
da América Latina em relação à Ásia — trata-se de estudo comparativo — explicaria
um terço da diferença do PIB por trabalhador entre essas regiões.
O estudo ressalta também que os menores investimentos nas demais
atividades produtivas — aí incluída a construção de áreas e bens de capital —
explicam outro um terço do aumento da diferença na renda do trabalhador.
Por fim, o menor crescimento da escolaridade, ou seja, a formação da mão-
de-obra, explica cerca de 10% do aumento da diferença na renda por trabalhador.
Portanto, são fundamentais para a consolidação de um PIB elevado 3
elementos, medidos nessa relação comparativa de maneira bastante clara por
estudo recente, repito: investimento em infra-estrutura, nas demais atividades
produtivas e na escolaridade do trabalhador.
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Nos Estados Unidos, estima-se que no período pós-guerra — também esses
são estudos de econometria — cada 1% de aumento da infra-estrutura gerou
aumento de produtividade de 0,4% a 0,5%, ou seja, um grande impacto de
investimentos em infra-estrutura gerou ganhos na atividade econômica.
O Governo atualmente está seguindo 3 linhas de ação para ampliar e
melhorar a eficiência do investimento em infra-estrutura.
A primeira delas é o reforço da poupança pública. Essa foi uma decisão
tomada no início do Governo, quando reforçamos o equilíbrio fiscal para recompor a
poupança pública. Esse equilíbrio tem levado a uma redução das taxas de juros de
mercado e a maior solidez macroeconômica, reduzindo os riscos agregados que
penalizam os investimentos de longo prazo, ou seja, um maior compromisso fiscal
melhora o ambiente macroeconômico, reduz juros de mercado e permite maior
solidez e confiança para o investimento de longo prazo, além de estabilizar contratos
e relações público-privadas.
O aprimoramento do marco regulatório do sistema de agências reguladoras é
a segunda das 3 linhas de ação que visam aumentar o investimento em infra-
estrutura, tema que vamos discutir mais à frente.
E a terceira linha de ação é a criação do marco legal para as Parcerias
Público-Privadas, que não vou abordar hoje, pois a matéria já foi discutida e votada
e encontra-se em andamento final no Congresso Nacional.
Por fim, temos o quadro das bases para o crescimento sustentável. Em
primeiro lugar, o alicerce de uma casa chamada crescimento é a estabilidade
macroeconômica. A nossa convicção é de que a estabilidade macroeconômica não
é condição suficiente para o crescimento sustentado, mas condição essencial. Sem
ela, não há crescimento econômico sustentado. Não há exemplo de país que, sem
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inflação controlada e equilibro fiscal, tenha alcançado crescimento de longo prazo
estável e sólido.
Em seguida, a eficiência e a produtividade, no caso que citei, fazem parte de
uma política industrial focada na inovação tecnológica, na redução do custo de
capital e comércio, além de serem um marco regalório. É o que estamos discutindo
hoje, quando se trata do reforço do empreendedorismo e da proteção social efetiva.
Como temos destacado em outras oportunidades, a melhora da qualidade do ajuste
fiscal e do gasto público pode gerar eficiência maior e ampliação dos compromissos
e investimentos em programas sociais.
Consideramos que, num país com o nível de desigualdades de renda do
Brasil, a melhoria da eficiência e da magnitude do gasto social bem realizado, tem
influência importante no crescimento econômico e na estrutura de resistência do
País a choques externos.
São conhecidos diversos estudos econômicos segundo os quais países com
má distribuição de renda têm resistência muito diminuída a choques externos, na
medida em que a difusão desses choques na economia se dá de maneira
diferenciada, abatendo certamente a renda das famílias mais pobres e
desorganizando o processo econômico e social. Portanto, esses instrumentos e
pilares seriam as condições para o crescimento econômico, a geração do emprego e
a redução da pobreza e da desigualdade.
Por que fazer a regulamentação? Essa é a questão levantada. Em primeiro
lugar, porque os setores de infra-estrutura apresentam, se deixados para o livre
mercado, falhas importantes que precisam ser acompanhadas e reguladas.
A primeira delas é relativa aos monopólios naturais. Existem atividades em
que é inevitável o monopólio, principalmente no caso dos serviços de rede. Não há
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em nenhum país do mundo o estímulo ou a normalidade de desenvolvimento de
projetos de infra-estrutura concorrenciais. Em diversas áreas de serviços de rede
não se têm observado ganhos nos processos concorrenciais na atividade econômica
privada. Portanto, esses setores são inevitavelmente monopolistas.
Para que o consumidor seja defendido, é necessária a regulação desses
segmentos, para que todos tenham ganhos de escala — e esses serviços
normalmente os têm — que possam ser transferidos para o consumidor. Essa
basicamente é a ação precípua de um agente regulador diante de serviços em que o
monopólio é tido por natural. Esses serviços têm a característica de reduzir seus
custos com ganhos de escala. Quanto maior o ganho, menor o custo. E aos serviços
reguladores cabe observar isso e procurar transferir esses ganhos de escala para os
serviços de rede, para a população e o consumidor.
O segundo elemento econômico importante que justifica a regulação é a
existência de grandes barreiras de entrada. Ou seja, numa determinada atividade, o
custo de competitividade de um novo agente no mercado muitas vezes é bastante
diferenciado e dificultado, visto que outros já atuam no setor, tendo ganhos de
competitividade por atividades cruzadas, por atividades associadas que impedem
que uma concorrência efetiva se realize. Também nesse caso o agente regulador
deve atuar para assegurar a entrada de novas firmas, cujo conteúdo econômico
estimule maior concorrência. As barreiras de entrada devem ser debatidas de
maneira clara.
Em terceiro lugar, as “externalidades” negativas, ou seja, geração de
poluição, danos ambientais, que também devem exigir por parte das agências
reguladoras trabalho de contorno do seu nível.
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Por que a regulamentação por intermédio de agências? A utilização de
agências como instrumentos de Estado para a regulação dos setores de infra-
estrutura decorre da existência simultânea de falhas de mercado e do longo prazo
de maturação dos investimentos em infra-estrutura. Ou seja, essas falhas de
mercado, além do fato de que os investimentos em infra-estrutura quase sem
exceção exigem longo prazo de maturação, fazem com que a regulação seja
exigida, no sentido de garantir a estabilidade desses projetos e a ação das agências
para combater as falhas.
Portanto, a regulação vai garantir incentivos para que os consumidores se
beneficiem dos ganhos de eficiência. E as agências de Estado vão garantir a
estabilidade de regras e viabilizar investimentos privados de longo prazo.
O modelo atual apresenta algumas insuficiências que exigem
aprimoramentos. Por exemplo: não-uniformidade de regras para as diversas
agências. A experiência brasileira se deu num período recente, e a implantação das
agências foi sendo feita conforme os setores se modificavam. Esse foi um trabalho
feito com avanços e conquistas importantes para o País. Todavia, não foi completo.
É importante que o Congresso Nacional olhe agora o resultado do trabalho feito em
relação às agências reguladoras e consolide-o numa legislação mais definitiva.
É fácil observar que as agências, por serem criadas em situações e períodos
diferentes, contam com regras muito diferenciadas. Algumas contam com o contrato
de gestão e outras não; umas têm mandatos claros e outras não; algumas definem o
mandato do presidente e outras não.
Portanto, não é desejável que permaneça essa legislação. É justificável o
fato de isso ter acontecido, visto que o processo de implantação das agências não
se deu num único momento, de maneira linear e global. Não seria justificável
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permanecer uma diferenciação em relação às agências, o que não permitiria a
consolidação institucional no Brasil, adequada ao investimento de longo prazo.
Trata-se da uniformização das regras, da clarificação do papel do Executivo e
das agências, para evitar sobreposição de funções e para a interação entre os
setores regulados e o sistema brasileiro de defesa da concorrência.
Essa é uma questão importante que o novo projeto apresenta.
O Governo apresentou 2 anteprojetos de lei, que, disponibilizados para
consulta pública, receberam mais de 700 contribuições. Com elas o Governo enviou
o projeto que está nas mãos de V.Exas.
Resumidamente, a definição de competências, o planejamento e a formulação
de políticas setoriais cabem aos órgãos da administração direta, ou seja, os
Ministérios ficariam responsáveis pela definição das características das políticas
setoriais.
As agências têm competência definida para regulamentar e fiscalizar as
atividades reguladas, implementando a política setorial definida no ambiente dos
Ministérios.
O poder de outorga de concessões e permissões é atribuído ao Poder
Executivo, mas cada Ministério pode delegar essas atribuições às agências,
devendo dialogar sempre com as mesmas, com base na legislação.
É importante ressaltar que esse aspecto da legislação acompanha a média
verificada em outros países. Não há um padrão no mundo em relação ao
funcionamento das políticas públicas pelos órgãos diretos de Estado, do Poder
Executivo, e por agências reguladoras ou sistema semelhantes. Muitos países
trabalham com essa metodologia; uns reforçam mais a ação direta do Executivo;
outros reforçam um pouco mais a ação do agente regulador. Procuramos uma
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mediação que nos parece adequada para a experiência brasileira, que diz respeito à
consolidação das políticas setoriais nos Ministérios; E à agência a competência para
regulamentar e fiscalizar as atividades e, eventualmente, quando transferida pelo
Ministério, a própria outorga de serviços e o acompanhamento dos contratos.
Parece-nos ser um desenho adequado para a experiência atual brasileira.
É essencial que os mecanismos de controle social sejam estabelecidos. O
projeto procura balancear a independência das agências com mecanismos mais
eficientes de controle social e de prestação de contas. Ou seja, não podemos jamais
confundir independência com desnecessidade de prestação de contas à sociedade.
A realização de consultas e de audiências públicas, com ampla divulgação
dos seus resultados, deve ser prática permanente das agências.
Estão definidos na lei também a concessão do direito das associações de
defesa do consumidor ou do usuário de indicar até 3 representantes especializados
para acompanhar as consultas públicas, o conjunto das atividades; a apresentação
de relatórios anuais de atividades ao Ministério setorial, à Câmara dos Deputados e
ao Senado Federal; e a criação de Ouvidorias em todas as agências reguladoras.
A própria Ouvidoria tem como característica a atuação não dependente da
diretoria do órgão. Trata-se de uma Ouvidoria propriamente dita funcionando dentro
da agência.
A independência decisória das agências é dada pela definição de mandato
para os seus presidentes não coincidente com o do Presidente da República. Foram
mantidas as atuais condições para demissão dos diretores. Achamos que está
adequada, correta e bem apresentada essa questão.
E fica mantida a decisão colegiada.
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Existe uma proposta que não consta desta apresentação. Discutiu-se a
necessidade de criar mecanismos para que o Congresso Nacional possa convocar
presidentes e diretores de agências reguladoras. Essa questão deve ser discutida.
Somos favoráveis a ela, mas não é matéria de legislação infraconstitucional e, sim,
constitucional. Por isso, não consta desse projeto. É uma discussão que caberia
fazermos, a fim de verificar o mecanismo que poderia ser utilizado. Seria uma
proposta de emenda à Constituição.
Um segundo aspecto do projeto são os contratos de gestão. Está definido que
o objetivo do contrato de gestão é promover maior transparência na gestão da
agência e aperfeiçoar as relações de cooperação com o Poder Público.
O contrato de gestão estabelecerá metas mínimas de desempenho
administrativo e de fiscalização a serem atingidas pela agência, além de estimar os
recursos orçamentários necessários e os prazos para o alcance dessas metas.
As condicionalidades do contrato de gestão não devem implicar a restrição de
liberdade na tomada de decisão para a implementação das políticas setoriais. O
contrato de gestão não se aplica à regulação. Qual o escopo dos contratos de
gestão? Eles não servem para acompanhar a atividade de regulação. Entendemos
que a atividade de regulação é atribuição central e nuclear que caracteriza a
independência das agências.
Consideramos adequado que se estabeleçam entre o órgão executivo setorial
e a agência contratos de gestão que definam num mesmo patamar as suas
necessidades orçamentárias, para que obtenha garantias ao seu funcionamento e
não dependa de decisões temporárias, extraordinárias e isoladas. O contrato de
longa duração dá às agências garantia orçamentária para as suas atividades como
um todo, sendo possível o acompanhamento das atividades administrativas e,
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principalmente, de fiscalização. Esse contrato de gestão deve prever o
acompanhamento, o estímulo e a divulgação das metas de fiscalização da agência.
Diferentemente da discussão sobre a atividade central da agência,
consideramos que a atividade de regulação não deve fazer parte do contrato de
gestão. Essa definição pareceu-nos a mais correta e adequada para o
desenvolvimento do setor de agências reguladoras no Brasil.
O contrato de gestão será negociado e celebrado entre a diretoria colegiada
da agência e o titular do Ministério a que estiver vinculada, ouvidos previamente o
Ministério da Fazenda e o do Planejamento.
Há ainda uma série de pontos relativos às agências a serem abordados, mas
termino aqui a minha exposição, ressaltando um aspecto fundamental e até agora
não resolvido no arcabouço institucional do projeto: a relação entre os setores
regulados, as agências e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, formado
pelo CADE e pela SDE, órgãos ligados ao Ministério da Justiça, e pela Secretaria de
Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda.
Estamos preparando um projeto sobre o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência, a ser enviado à Câmara dos Deputados no menor prazo possível.
Com a nova Lei das Agências Reguladoras, queremos estreitar a relação delas com
o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. A nova legislação fará o mesmo
movimento, no sentido de que essas duas instâncias institucionais da regulação no
Brasil, essenciais para a garantia de um mercado saudável, dos direitos do
consumidor e da transparência na gestão, modernizem-se e fortaleçam a estrutura
regulatória brasileira.
Por fim, relativamente a polêmicas que podem surgir na construção de um
modelo de agências reguladoras, o Governo se dedicou muito a avaliar o atual
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estágio delas e a fazer interpretação muito pragmática e realista do seu valor para o
Brasil e daquilo que deveríamos fazer para melhorá-las.
Esse primeiro trabalho resultou em publicação feita pela Casa Civil, se não
me engano em outubro do ano passado. É um documento que consolidou visão não
apenas do Governo, mas também das autoridades que debateram o assunto com
diversos setores e procuraram apresentar conceitualmente o modo como a evolução
do marco regulatório se apresenta no Brasil.
É importante ressaltar que não há receita pronta para o marco regulatório. É
preciso que se considerem as experiências brasileira e internacional e que se crie
estrutura institucional que tenha relação com o que o mundo tem feito de melhor
ultimamente e com aquilo que o processo histórico brasileiro, nesses setores
regulados, pôde produzir até este momento.
Nesse sentido, achamos que a legislação proposta consolida avanço
regulatório que o Brasil experimentou no último período. É fundamental ser
consolidado para que a estabilidade do investimento seja uma mensagem clara para
o País, para os investidores nacionais e estrangeiros, para o agente de mercado,
para o consumidor e para o Estado.
Dessa maneira, achamos ser momento de o Congresso Nacional, analisando
a proposição enviada pelo Governo e, evidentemente, aperfeiçoando-a, entregar ao
País modelo regulatório mais avançado. Não acredito que, com essa legislação,
encerremos o assunto do modelo regulador. Do mesmo modo que o processo
econômico, os modelos regulatórios também devem ser dinâmicos.
Não devemos imaginar que essa legislação será cristalizada para as próximas
décadas. Ela será, no nosso entendimento, instrumento positivo para aumentar o
PIB potencial do Brasil no próximo período, mas tem de garantir, ao mesmo tempo,
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a estabilidade das regras e dos contratos, bem como ser dinâmica, acompanhar as
mudanças dos setores de infra-estrutura do mundo. O setor de telecomunicações,
por exemplo, muda com velocidade extraordinária. Não é desejável que as regras de
uma agência sejam de tal forma cristalizadas que, eventualmente, ela seja
atropelada por mudanças tecnológicas que tragam altos benefícios para os
consumidores.
Devemos ter o cuidado de equilibrar, numa legislação, a necessária
estabilidade das regras para que os investimentos sejam encorajados, estimulados e
consolidados. Ao mesmo tempo, é necessário que os procedimentos não sejam
cristalizados, que não sejam atropelados pela Tecnologia, que avança de forma
muito sadia e positiva em muitos setores e que precisa ser absorvida rapidamente
pelos sistemas reguladores, para que o consumidor se beneficiar dela. No setor de
telecomunicações, é evidente — e esse não é um fenômeno brasileiro, mas mundial
— o grande benefício do consumidor, assim como no setor de informática.
Portanto, um sistema regulador deve ter capacidade de observar os
movimentos tecnológicos mundiais em cada setor regulado, absorvendo esses
ganhos nas suas regras, para que sempre o consumidor seja beneficiado pela ação
fundamental da agência, quando se volta para o seu trabalho de regulamentação.
Agradeço a atenção às Sras. e aos Srs. Deputados. Agradeço o convite ao
Presidente Henrique Fontana e ao Relator. Estou à disposição para o diálogo a
respeito daquilo que estiver ao alcance do meu limitado conhecimento.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço ao Ministro
Antonio Palocci a contribuição e a análise inicial.
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Se alguém, porventura, não tiver feito a inscrição para falar, poderá solicitá-la
agora.
Passo a palavra ao Relator.
O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, Sr. Ministro Antonio Palocci, agradeço-lhe a contribuição que traz ao
debate que ora empreendemos.
Justifico ao Plenário minha ausência no início da reunião: participava de um
debate, na Rede Globo, com a Presidenta da Associação Brasileira de Agências de
Regulação.
Por não ter assistido a toda a exposição, não farei nenhuma pergunta
específica. Ouvirei atentamente os questionamentos dos Deputados e a resposta do
Ministro Antonio Palocci.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado.
Quero fazer um acordo inicial com os Parlamentares. Há 13 inscritos, número
do partido do Ministro.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - E do índice de desemprego
também.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - É uma propaganda
indireta. O Deputado Alberto Goldman fez um contraponto direto. No período pré-
eleitoral, não se pode deixar passar qualquer embate, nem por um minuto.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Se a bola pingou na área...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Os partidos de nº 45 e
13 continuarão a ter embates, que, esperamos, não sejam tão acirrados nesta
Comissão, na qual desejamos construir ambiente harmônico que nos dê um bom
projeto para o futuro do País.
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Srs. Deputados, proponho que sejamos rigorosos com o tempo — são 4
minutos para cada Parlamentar —, a fim de deixarmos aproximadamente 30 minutos
para as respostas do Sr. Ministro.
O primeiro orador inscrito é o Deputado Ricardo Barros, a quem passo a
palavra.
O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Sr. Presidente, foi muito
interessante o início da palestra do Sr. Ministro, quando tratou do crescimento
econômico. De fato, o objetivo da consolidação e da independência das agências
reguladoras é a atração dos investimentos e o crescimento econômico. Considerar
estes importantes itens para o aprimoramento do marco regulatório coincide com o
nosso pensamento.
Em relação ao empreendedorismo, melhores condições para o investidor
abrangem também os juros, ponto renitente, mas que não vamos discutir neste
momento.
O Sr. Ministro participou de um congresso promovido pela ABDIB, no qual, ao
final dos trabalhos, foi-lhe entregue um documento com recomendações e
solicitações relativas justamente à independência, à consolidação e ao
fortalecimento das agências como representantes do Estado e não do Governo. Os
governos são transitórios e muitos deles passarão até que apareça o retorno dos
investimentos em infra-estrutura.
Sr. Ministro, as empresas de telecomunicações privatizadas até abril de 2003
— quando o Ministro Miro Teixeira questionou os índices de reajuste das tarifas e,
portanto, questionou o contrato e o retorno do capital que elas poderiam ter —
obtiveram um ganho de 6,5 bilhões de reais na Bolsa de Valores. De lá para cá,
perderam 14,5 bilhões de reais.
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Por isso, a definição do marco regulatório é fundamental. Os contratos
existem, e as empresas, quando decidiram investir no Brasil, basearam-se em suas
regras. Portanto, a alteração dessas regras vai constranger os investidores.
A palestra do Sr. Ministro se baseou nas conclusões do Grupo de Trabalho
Interministerial e na mensagem que encaminha o texto do projeto a esta Casa. Por
outro lado, o texto em si não reflete essencialmente o que está proposto. Há
distorções. Provavelmente, elas surgiram da ingerência de cada Ministro na sua
respectiva área.
No que diz respeito à estrutura de pessoal qualificado, o Ministro afirma que
essa atribuição poderá ser delegada. Isso implica que a estrutura física, humana e
qualificada deve existir no Ministério e na agência. Devemos ter duas estruturas de
pessoal qualificado para exercer as tarefas da licitação.
Ontem a Ministra Dilma Rousseff afirmou que a licitação é atribuição da
agência. Vamos deixar esse ponto bem claro, para alocar o pessoal especializado
na agência. A expressão “poderá delegar”, acredito eu, pode prejudicar a
implementação do projeto.
Consulto o Sr. Ministro sobre se poderíamos alterar a expressão para
“delegará”. Segundo V.Exa., para aperfeiçoar o marco regulatório, será preciso
deixar clara a atribuição do Executivo e das agências, o que também não faz parte
do texto.
Apresentamos uma proposta que define bem essa atribuição. O que cabe ao
Governo? Conforme está no seu texto, cabe a ele formular as políticas, ou seja,
encaminhar ao Congresso Nacional projeto sobre a política setorial. Assim, poderão
ser aprovados por decreto o Plano de Outorgas e o Plano Geral de Metas. E o que
cabe à agência? Implementar o Plano de Outorgas e o Plano Geral de Metas.
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Pergunto ao Sr. Ministro: concorda V.Exa. em deixarmos esclarecidas no
projeto as atribuições do Executivo e das agências? Repito: a expressão “poderá
delegar” é, na nossa opinião, complicadora.
Quanto ao contrato de gestão, está claro que se dará no âmbito administrativo
de fiscalização e não no de regulação. Contudo, essa atribuição também não consta
do projeto. Consulto o Sr. Ministro sobre se devemos deixar isso claro.
Evidentemente, podemos diminuir muito a restrição existente quanto ao contrato de
gestão.
No que diz respeito ao contingenciamento das agências, todos sabem que há
grandes dificuldades que as impedem de exercer a fiscalização. Pergunto ao
Ministro: é possível impedir o contingenciamento das taxas de fiscalização, da
arrecadação direta das agências?
Ainda hoje no Brasil enfrentamos dificuldade muito grande em relação ao
apagão. Quando chove e quando não chove há apagão. É muito importante buscar
investimentos, e as PPP dependem da independência das agências e da sua
capacidade de mediar diferenças entre empreendedores privados e públicos.
As agências, Sr. Ministro, não podem receber nota 10 do Governo, nem da
sociedade, nem do mercado. Elas devem receber notas médias. Portanto , o
instrumento proposto deve ser amenizado, vamos dizer assim, quanto à força que o
Governo pretende exercer sobre as agências.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Ricardo Barros.
Com a palavra o Deputado Eduardo Gomes, por 4 minutos.
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O SR. DEPUTADO EDUARDO GOMES - Sr. Presidente, Sr. Ministro Antonio
Palocci, Sr. Relator, quero deixar registrado que, mesmo na segunda intervenção,
fica difícil não repetir aquilo que tem sido consenso nesta Comissão, na verdade
uma espécie de angústia, tendo em vista o depoimento dos representantes do
Governo. Tudo aquilo que se espera de um ambiente regulatório eficaz vem
encontrando dificuldades para ser incluído no texto da lei.
O nosso Relator terá uma grande missão pela frente, com a qual
pretendemos contribuir, mas isso não deixa de ser uma preocupação porque, de
certa forma, os investimentos em infra-estrutura e sua repercussão são de grande
valia, e isso ficou claro na exposição do Ministro Palocci.
Entendemos que já existe um ambiente regulatório a ser aperfeiçoado. É
certo também que o debate saiu da esfera político-ideológica e entrou em uma
agenda que une todos nesta Comissão, até porque debater não teria mais sentido.
Só nos resta aperfeiçoar o que já existe. As agências reguladoras surgiram para
prestar um bom serviço à sociedade, e preservar esse objetivo é a nossa intenção.
Com esse intuito, Sr. Ministro, a minha intervenção tem muito a ver com o
contingenciamento dos recursos para o funcionamento das agências. Vou utilizar o
exemplo específico da ANEEL, cuja taxa de fiscalização é cobrada do consumidor,
mas o que se arrecada deixa dúvidas quanto a sua utilização.
Quando o Governo contingencia praticamente 63% de 198 milhões de reais, e
a agência deixa de prestar serviços por falta de recursos, surgem duas dúvidas: ou a
taxa está alta demais e não deveria ser cobrada, ou esse recurso deveria estar
disponível da mesma forma que está disponível no orçamento do consumidor todos
os meses para pagar a fatura de energia elétrica. E a agência precisa prestar o
serviço com base nesse recurso.
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Esse fato acaba trazendo outro prejuízo: por falta de pesquisas ou de análise
de serviços, algumas concessionárias, cumprindo até mesmo o regulamento da
ANEEL, deixam de dar descontos na tarifa de energia a seus consumidores.
Como se vê, são 2 prejuízos: retira-se do consumidor um recurso específico
da sua renda familiar; e se contingencia esse recurso.
Quero restringir a minha participação, Sr. Ministro, a esse questionamento.
A respeito do contrato de gestão, fiquei satisfeito com a sua análise, ou seja,
de que ele tem uma perspectiva administrativa que não influi diretamente na política
de regulação.
Quanto à participação do Ouvidor, penso que já existe consenso a respeito da
necessidade de uma sabatina pelo Senado Federal e de incursão na agência, nos
mesmos moldes, por parte dos diretores.
De outro lado, não sei se vamos conseguir — e estou tentando entender essa
situação — conciliar as agendas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
para não atropelar a votação de matéria tão importante. Corremos o risco de ver o
Senado dar-lhe tratamento diferente, como vem acontecendo com a Lei de
Falências e com as PPP. É importante fazer essa ressalva, já que, de certa forma, o
Governo controla o tempo de tramitação, por intermédio da suas Lideranças nas
duas Casas.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Eduardo Gomes.
Com a palavra o Deputado Eliseu Resende.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Sr. Ministro, a minha primeira
palavra é de parabéns pelo seu desempenho no Ministério da Fazenda. E a segunda
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é de saudade sobretudo depois do convívio que tivemos aqui na Câmara dos
Deputados, quando elaboramos a Lei das Agências Reguladoras.
V.Exa. foi muito feliz, quando disse que esse projeto de lei deve ser uma
mensagem clara aos investidores e aos consumidores.
De nossa parte, estamos preocupados com a redação do projeto de lei.
Refiro-me especificamente — e como temos pouco tempo, vou tratar apenas do
assunto que considero mais importante — ao que consta da pág. 5 da apresentação
de V.Exa.: “O poder de outorga de concessões e permissões é atribuído ao Poder
Executivo”.
A meu ver, está claro, porque a própria Constituição estabelece em seu art.
177, que a União poderá contratar, mediante licitação, empresas públicas e
privadas. O mesmo artigo diz que as atribuições das agências são definidas em lei.
Por isso, precisamos de uma mensagem clara aos consumidores, principalmente
aos investidores.
Cada Ministério pode delegar essas atribuições às agências. Temos
profundas considerações a fazer sobre esse ponto, para que o projeto de lei seja
uma mensagem clara, Sr. Ministro. As atribuições das agências ficam ao alvedrio, ao
arbítrio de cada Ministério. Sabe V.Exa., como eu costumo dizer, que nós não
somos Ministros, mas que nós “estamos Ministros”.
Queremos que esse projeto de lei alcance todas as agências, conforme
estabelece a Exposição de Motivos. Não podemos mais ficar em dúvida se aquele
Ministério vai fazer a mesma coisa que o outro fez; Ministérios diferentes e agências
distintas? Será que aquilo que determinado Ministro fez ou vai fazer vai ter
continuidade com o outro que o sucederá? Entendemos que a mensagem ainda não
está clara para consumidores e investidores.
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Não acho também que o poder de outorga deva ser delegado às agências. O
poder de outorga é muito complexo, pois nele se incluem a autorização da outorga,
a determinação para contratar, as condições do contrato e as partes contratantes.
Acho que, para efeito de formulação das políticas, o Governo não pode delegar a
aprovação da outorga à agência. Quem define o que contratar, como contratar e em
que condições contratar é o Poder Executivo. Não pode ser a agência. Ela pode
licitar e contratar, mas com a outorga do Poder Executivo.
Portanto, permita-me V.Exa. fazer uma ressalva em relação ao texto citado na
sua palestra. Não podemos dar poder exclusivo de outorga às agências, assim como
não podemos deixar os Ministérios licitarem e contratarem livremente. É preciso
haver diferença nítida entre eles. A Constituição, no Título VII (Da Ordem Econômica
e Financeira), no período de 1995 a 1997 — e V.Exa. estava aqui —, estabelece que
a União poderá contratar com empresas públicas e privadas, mediante licitação.
Ora, quem vai julgar licitação em que comparecem empresas públicas e privadas
com independência, com garantia, com confiança e com credibilidade ao investidor
que precisa trazer o dinheiro para o País?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Conclua, Deputado
Eliseu Resende.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - V.Exa. sabe, Sr. Ministro, não
preciso dizer-lhe, que o Brasil precisa dramaticamente do investimento produtivo e
direto do setor privado.
Por isso, queremos muito esclarecer esta parte do texto. Temos de respeitar a
Constituição, que definiu bem as atribuições das agências. O que faz um Ministro? O
que fazem os Conselhos de Políticas Setoriais? A outorga de concessões tem de ser
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um ato do Presidente da República, mediante decreto, mesmo que seja coletivo o
plano de outorga, mesmo que seja caso a caso.
Por exemplo: a autorização para construir a usina de Belo Monte, no Rio
Xingu, tem de ser dada pelo Governo e não pela agência. Lembro a V.Exas. que a
Ministra de Minas e Energia esteve aqui e concordou plenamente conosco quanto a
esse aspecto.
É preciso definir bem esses limites, para que investidores e consumidores
tenham bem clara a mensagem do projeto.
Desculpe a minha ênfase, Sr. Ministro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Eliseu Resende.
Por permuta, tem a palavra agora o Deputado Luciano Zica, por 4 minutos.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, caro Ministro Antonio
Palocci, Sras. e Srs. Deputados, venho acompanhando o debate sobre as agências
reguladoras desde a criação da primeira. Vale lembrar que a discussão sobre a
criação da Agência Nacional de Energia Elétrica, a primeira, durou 15 minutos no
plenário. O relatório foi conhecido lá e votado em 15 minutos.
Participei ativamente daquela discussão. De fato, chegou a esta Casa um
projeto do Executivo, mas o relatório, completamente diferente do projeto, foi lido e
votado em 15 minutos. Participei do acordo com o Deputado José Carlos Aleluia, o
Relator da matéria.
Surgiram, então, a ANP e várias outras agências durante a Legislatura
1995/1999, no Governo Fernando Henrique Cardoso.
Hoje compreendo melhor esse processo, mesmo quando se fala em quebra
de contrato e se mostra o gráfico da ABDIB; mesmo com o anúncio do Diretor-Geral
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da Agência Nacional de Telecomunicações, que não concordava com a forma de
reajuste de tarifas estabelecida no contrato. Com a transferência do prestador do
serviço, vale lembrar, o usuário teve o seu contrato quebrado e pagou um preço
muito alto por isso.
Não creio que devamos deixar a lógica do mercado prevalecer sobre o
atendimento da demanda e o serviço de infra-estrutura. Com certeza, a incidência
no salário de qualquer um de nós das tarifas de energia elétrica, de
telecomunicações e dos serviços estabelecidos nos contratos naquele período,
vigendo esse processo, ou seja, a porcentagem do custo desses serviços é muito
maior na nossa cesta básica.
Assim, não me impressiono com o argumento dos que defendem a
manutenção das regras. A lei está aí para ser aperfeiçoada e melhorada, e esse
projeto melhora a legislação das agências reguladoras.
Outro aspecto: as expressões “poderá delegar” e “delegará”. Evidentemente,
no processo de contratação e de funcionamento dessa política, há competências e
momentos diferenciados. Logicamente, não serão delegadas todas as atividades.
Algumas delas terão de ser exercidas pelo Ministério. Cada situação vai dizer o que
poderá ser delegado para a agência.
Formulação de políticas setoriais é tarefa do Governo. Regulação e
fiscalização é tarefa do Estado. Então, o que é do Governo não é possível transferir.
Concordo com o Deputado Eliseu Resende.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Exatamente. Concordo com a
formulação apresentada pelo Deputado Eliseu Resende. Devemos trabalhar nesse
sentido.
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Ontem a Ministra Dilma Rousseff respondeu a esse questionamento sobre as
expressões “poderá delegar” versus “delegará” com base nessa compreensão.
E apresentei uma sugestão, depois de V.Exa. mostrar dados sobre o contrato
de gestão. Sou favorável ao contrato de gestão no que tange a atos administrativos
e fiscalização. Evidentemente, na regulação ele seria inócuo. Talvez pudéssemos
elaborar um dispositivo para resolver essa situação.
Aparentemente, a Ministra Dilma Rousseff concordou com a nossa proposta.
Acredito também que o Relator deva acolher essa sugestão.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Luciano Zica.
Com a palavra o Deputado Sérgio Miranda.
O SR. DEPUTADO SÉRGIO MIRANDA - Sr. Presidente, Sr. Ministro, é
sempre um prazer ouvir sua palestra, pela objetividade com que trata os temas em
questão.
Mais do que o papel das agências reguladoras, discutimos aqui a concessão
de serviços públicos. Devemos partir do princípio de que há uma crise de modelos
tanto no setor de telecomunicações quanto no setor elétrico; enfim, em todos os
setores, mesmo no de petróleo. A concepção inicial, quando da criação das
agências, por exemplo de telecomunicações, era a de acabar com o Ministério das
Comunicações.
Fala-se que o setor público ou o Estado é que definirá as políticas setoriais. O
que são as políticas do setor de telecomunicações? É o Plano Geral de Outorga e
de Metas, e mediante decreto.
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Quando se discutiu o padrão de TV digital, a agência queria açambarcar a
definição. Por que a agência definiria o padrão da TV digital? Foi essa a pergunta do
Governo. Tal decisão teria diversas implicações: de âmbito internacional, de
desenvolvimento tecnológico etc.
O projeto tem o mérito de iniciar esse debate, de definir com clareza,
primeiramente, o controle público das agências. Elas não podem continuar sem
controle público. É preciso um contrato de gestão que delimite as atribuições
administrativas e de fiscalização das agências, ou seja, temos de definir com mais
precisão o papel do Estado. Não podemos transferir atribuições do Estado para as
agências.
Vou falar agora do controle social. Srs. Deputados, quando o TCU faz uma
análise e diz que a ANEEL errou no cálculo das tarifas? Quando se discutem os
ganhos de produtividade e as condições das agências para examinar esse ganho de
produtividade? No setor de telecomunicações, sabem V.Exas. de quanto era o
ganho de produtividade? Zero, nos 2 primeiros anos da privatização.
Posteriormente, 1% de ganho de produtividade. Foi distribuído com os
consumidores? Qual a realidade das tarifas de serviço público hoje? Lemos
editoriais, na grande imprensa — e ninguém pode acusá-los de tendenciosos — a
favor dos consumidores, segundo os quais parte da renda das famílias cada vez
mais paga serviços públicos.
Considero esse projeto um esforço para delimitar com mais clareza o papel
das agências, uma defesa dos interesses do consumidor, porque antes aparecia
apenas o interesse das grandes empresas ou dos investidores. Não havia o
interesse do consumidor nem do Estado nesse debate.
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Acho também que avançamos ao definir mais claramente que quem formula
política setorial é o Poder Público. O único ponto não tratado — e o Sr. Ministro
poderia dar suas explicações — refere-se à utilização das taxas recolhidas pelas
agências para fazer superávit. Há alguns casos, por exemplo o da ANATEL, em que
um terço é utilizado por ela. Quanto à ANP, um representante veio a esta Comissão
e fez reparos quanto às restrições orçamentárias para cumprirem suas
determinações legais.
Esse é um ponto. Outros devem ser mais debatidos.
O papel das agências em relação à defesa da concorrência tem de ser mais
esclarecido, bem como a transparência das decisões internas, a fim de permitir o
controle social, de fomentar a competição, a universalização e a satisfação do
interesse do consumidor.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado Sérgio Miranda.
Vamos fazer 2 blocos, a pedido do Ministro e respeitando o que ficou
combinado.
Com a palavra o Deputado Alberto Goldman.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Sr. Presidente, Sr. Ministro, não
posso deixar de aproveitar a sua presença, que tem sido rara. Com muito orgulho
recebemos V.Exa. aqui.
Quero fazer apenas uma pergunta, que nada tem a ver com a matéria. Quero
saber o resultado das receitas de maio. Parece-me que há uma greve do servidor, e
não é a dos servidores, mas do servidor da Internet. Ele está em greve há alguns
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dias. Estamos no dia 17, e esse servidor continua em greve. Normalmente, as
receitas são divulgadas no dia 10.
O que houve no Ministério que levou a essa greve do servidor? Não
conseguimos saber qual foi a receita. A especulação é de que a discussão do salário
mínimo está por trás disso. Temos dados, em alguns casos, sobre a evolução da
receita da COFINS, muito superior à previsão inicial não só do nosso Orçamento,
mas também dos decretos do Governo. Isso é fundamental.
Quanto à matéria, Sr. Ministro, louvo a compreensão que se tem agora de
que o que fizemos nos últimos anos, na elaboração desse sistema, não foi na linha
de abertura do mercado, numa linha ultraliberalizante. Pelo contrário, caminhamos
no sentido do fortalecimento do papel do Estado. As agências representam o Estado
brasileiro mais do que o Governo, mais do que o Ministério, porque elas
representam as vontades do Executivo e do Legislativo. Elas têm esse papel muito
mais importante como instrumento de Estado, e não como instrumento de Governo.
Portanto, trata-se do fortalecimento do Estado. Saúdo V.Exa. por ter vindo
nos trazer este documento que, evidentemente, há 5 anos, seria inimaginável ter
sido feito pelos Deputados Palocci e outros de seu partido. É uma evolução.
Estamos aqui para contribuir, não para jogar com o quanto pior melhor. Queremos
investimentos, desenvolvimento, crescimento e distribuição de renda. Esse papel é
nosso e queremos contribuir. Estamos aqui para isso.
Quero fazer apenas algumas referências a apresentação de V.Exa. Na
realidade, não é que havia falta de clareza em relação às atribuições do Executivo e
das agências, mas, sim, que os Ministérios não exerceram no passado o papel que
deviam exercer. Faço essa crítica ao Governo que apoiei. Os Ministérios não
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exerceram o papel definido em lei, ou seja, o de estabelecer políticas, e as agências
acabaram assumindo um pouco essa função. E esse erro deve ser corrigido.
Quanto ao “poderá delegar” ou “delegará”, para mim nem uma coisa nem
outra é boa. A lei, sim, precisa dizer o que cabe a cada um. A lei não tem de dizer
que a alguém cabe delegar a alguém quando ele quiser delegar ou não quiser
delegar. Votada no Congresso Nacional, que representa a vontade popular, com a
sanção do Presidente da República, a lei deve dizer o que cabe a um, o que cabe a
outro e ponto. Esse quadro não pode ficar indefinido.
Acredito que se pode aperfeiçoar ou mudar as leis existentes, mas não
devemos inserir o “delegar”, nem o “poderá delegar”, nem o “delegará”. Nada disso.
A lei deve determinar exatamente o que cabe a cada um, repito.
Quanto ao contrato de gestão, tenho apenas uma dúvida e nenhuma objeção.
No contrato de gestão, Sr. Ministro, citam a avaliação de desempenho
administrativo. Não consigo imaginar metas de desempenho administrativo. Não
consigo imaginar como isso seria uma meta de desempenho administrativo.
Evidentemente, o controle dos desempenhos administrativos das agências é
importante, e quanto a isso não tenho dúvidas.
Em relação ao quadro de pessoal, devo dizer que temos perdido pessoas
com capacitação e qualificação para exercer os papéis mais importantes do Estado.
Temos perdido os melhores. Eles estão indo embora; estão indo para o setor
privado, onde ganham muito mais e não têm tanta responsabilidade. Não há perigo
de serem processados. Sabe V.Exa. muito bem, porque é Ministro, como eu já fui,
que pode surgir e já surgiu um monte de ações judiciais que terão de ser carregadas
para o resto da vida. Felizmente isso não aconteceu comigo, mas V.Exa. está mais
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tempo do que eu no Ministério e vai carregá-las para o resto da sua vida, como
outros carregam até hoje.
O que não podemos admitir, Ministro Palocci, é a continuidade dessa
situação. Não é possível manter um quadro qualificado de dirigentes públicos com
tal nível salarial. Temos de enfrentar tal situação com coragem. Não dá para fazer
de outro jeito. O Governo passado não quis enfrentar o problema; o atual também
não quer. Enquanto não o enfrentarmos, aquela conversa de que queremos
fortalecer o Estado brasileiro não vai passar de história da carochinha.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Alberto Goldman. Vamos torcer para que não se configure essa situação de o
Ministro carregar diversos processos judiciais nas costas.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Fora eu, não conheço nenhum
que não carregue.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Só V.Exa. teve essa
sorte?
O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Questão de ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Vários Parlamentares não estão
mais aqui, apesar de terem se inscrito. Como só faltam falar 3 dos que estão aqui,
sugiro que se manifestem, para que o Ministro, posteriormente, possa responder a
suas questões. É a minha sugestão, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Antes de mais nada,
quero penitenciar-me e, na qualidade de Presidente, convidar o Secretário de
Política Econômica, Marcos Lisboa, para tomar assento ao lado do Ministro.
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Vamos adotar esse sistema, Deputado Julio Semeghini. O meu temor é que
cheguem os Deputados inscritos em outro bloco. Em todo caso, vamos tentar,
porque, na realidade, quatro Deputados ainda não se manifestaram. São eles: Julio
Semeghini, Eliseu Padilha, José Roberto Arruda e o Henrique Fontana.
Tem a palavra o Deputado Eliseu Padilha, em permuta com o Deputado
Henrique Fontana.
O SR. DEPUTADO ELISEU PADILHA - Obrigado, Presidente.
Quero inicialmente cumprimentar o Ministro Palocci pela excelência de sua
apresentação. Como alguém que teve a responsabilidade de formatar o projeto de
lei de duas das agências existentes, devo dizer que reconheço os avanços, ainda
mais se pensarmos no corpo inteiro. Se pensarmos uma lei geral para as agências,
indiscutivelmente veremos que houve avanços nesse projeto.
Há pontos que não poderiam deixar de ser considerados, e estão sendo.
Mesmo assim há algumas observações a fazer e, por uma questão de tempo, falarei
a respeito delas de forma objetiva. Primeiro, a do Deputado e ex-Ministro Eliseu
Resende, no que diz respeito à disposição constitucional. Não é de acordo com a
vontade do Ministro Eliseu Resende ou com a nossa que competências tem de ser
claramente definidas. No que diz respeito às agências, obrigatoriamente,
competências têm de ser definidas em lei –– a Lei Geral das Agências. Penso que
não podemos perder isso de vista, e a própria Constituição Federal é que determina
isso.
Concordo com a observação do Deputado e ex-Ministro Alberto Goldman: não
se admite o “poderá delegar”, ou o “delegar”, ou o “se delegará, se quiser”. Se a
Constituição determina que tem de estar na lei, a delegação pode ser interpretada —
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e V.Exa. tem tratado muito com o mercado –– pelo mercado de forma que haja uma
aquilatação maior do risco regulatório, o que não nos interessa.
Portanto, parece-me que a definição legal das competências, o que cabe
efetivamente ao Poder Executivo e às agências, é, primeiro, preceito constitucional
e, segundo, a necessidade de atender ao objetivo primeiro.
Em sua exposição, V.Exa. mostrou que se quer mais investimentos e mais
franquias. Logo, temos de corresponder a essa expectativa.
Quero frisar as manifestações do Deputado Sérgio Miranda, e não voltarei a
elas, mas penso que avançamos também no que se refere a dar satisfação ao
consumidor, à sociedade. A Agência, como foi dito pelo Deputado Ricardo Barros,
contracena com 3 atores: o usuário, a sociedade, o Estado, o poder concedente e o
investidor ou concessionário. Ela procura estabelecer uma relação de igualdade,
mas evidentemente tem como pressuposto a defesa do consumidor, da sociedade.
Ela é um instrumento de Estado, como disse V.Exa. em sua exposição, e visa cuidar
do Estado nacional. E o fundamento do Estado nacional é a cidadania. Logo, o
usuário cidadão é que, em primeiro lugar, deve ser objeto da atenção da Agência.
Nisso temos de reconhecer que houve avanço.
Quando V.Exa. fala do controle social, dá como exemplo a Ouvidoria. Espero
que V.Exa. espanque a dúvida que tenho. Se é para ser um instrumento de controle
social, a Ouvidoria não pode ser um instrumento do Poder Executivo. Caso
contrário, é intervenção. E não é um instrumento de controle social. Talvez um
reparo que mereça ser feito — e sei que o Relator está atento — seja a questão da
Ouvidoria. Ela não pode ser indicada pelo Poder Executivo. A indicação deve vir da
sociedade.
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Quem representa a sociedade no sistema republicano é a Câmara dos
Deputados, mas, para que não haja um debate com o Senado sobre essa
competência, quem sabe o Congresso Nacional possa esclarecer essa questão
relativa à Ouvidoria.
Para concluir, quanto à gestão, concordamos por inteiro. Ela não estava clara.
Parece-me que tem de ser clara. O contrato de gestão vai cuidar do aspecto
administrativo. Não se pode pensar em regulação. Vai cuidar também de
fiscalização e da área administrativa. Nela, sim, Deputado Goldman, é perfeitamente
possível ter contrato de gestão.
O que me preocupa — e essa é a interrogação que faço a V.Exa. — é o fato
de que as PPPs estão na reta de chegada.
Participei da Comissão também. No projeto de lei há uma disposição que diz
que às agências aplicar-se-á o que couber — o texto, ao final, foi de Eliseu
Resende. Pergunto a V.Exa.: há interesse em que a agência, no caso das PPPs, vá
além do que irá quando, na parceria, for tratada também a prestação de serviços? A
parceria, na maioria das vezes, não inclui prestação de serviços. Inclui o
investimento, a construção. Então, nos casos em que não haverá prestação de
serviços, a agência deverá cuidar também da parceria?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Eliseu Padilha.
Registro, para satisfação de todos, a presença entre nós da Presidente da
Associação Brasileira de Agências de Regulação, Maria Augusta Feldmann, que tem
participado muito dos nossos debates.
Passo imediatamente a palavra ao Deputado José Roberto Arruda, pelo
período de 4 minutos, com o apelo do Presidente para que seja conciso.
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O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Sr. Presidente, muito
obrigado.
Primeiramente, quero cumprimentar o Ministro Palocci pelo trabalho que vem
realizando com seriedade e principalmente com muita tranqüilidade. Isso é passado
para as pessoas de todo o País.
Também com tranqüilidade, Sr. Ministro, eu, que já tive a chance de participar
de debates internos do Governo, quero pedir licença — já que todos os que me
antecederam manifestaram-se sobre questões técnicas — para dizer que V.Exa. tem
conduzido a política econômica com habilidade política.
Quanto à questão que se está discutindo, Sr. Ministro, fico imaginando como
foi o debate interno do Governo. Outros Ministros certamente lhe disseram: “Palocci,
você tem que ceder em alguma coisa. Vamos ter que mexer nesse negócio das
agências”. V.Exa. então chamou o Marcos Lisboa, brilhante acadêmico — é
professor dos meus filhos na Fundação Getúlio Vargas —, e ele disse: “Palocci, vou
embora se fizer isso. Leia aqui: ‘agenda perdida’. Eu que escrevi. Temos um monte
de coisas para fazer, não estamos conseguindo e você ainda quer voltar lá atrás,
mexer num negócio que já está pronto, e mexer para pior?! Não. Vou-me embora.
Vou dar aula”. “Não, Lisboa, temos que compor. Sabe como é Governo”.
Essa briga deve ter sido do mais alto nível e V.Exa., Ministro Antonio Palocci,
que tem ganho tantas, acho que perdeu essa.
O Presidente João Paulo Cunha acaba de chegar. (Palmas.) Os aplausos
suprapartidários que ele recebe devem-se à maneira sempre correta com que dirige
os trabalhos da Casa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Convido o Presidente
João Paulo Cunha a tomar assento à mesa para ouvir um pouco os debates sobre
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as agências reguladoras. A presença de S.Exa., ainda que por alguns minutos,
muito nos honra.
Quanto a essa história que o Deputado José Roberto Arruda está contando,
parece-me que S.Exa. está muito bem informado sobre o cotidiano do Governo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Acho que o Ministro
Antonio Palocci ligou para o Deputado João Paulo Cunha a fim de pedir ajuda nessa
queda-de-braço. Deve ter-lhe dito que estão querendo fazer mudanças e isso vai dar
um sinal terrível para o investidor internacional. Ninguém mais vai investir aqui. E
Marcos Lisboa vai chegar à Fundação Getúlio Vargas na sexta-feira e dizer a seus
alunos que mexeram nas agências reguladoras, o único avanço que reconhecemos
publicamente.
Ministro, de forma bem humorada, e respeitando a coerência com que vem
conduzido a política econômica, não era hora de mexer nisso, ainda que reconheça
que aperfeiçoamentos podem ser feitos. Isso foi um gol contra; sinalizou
negativamente. De um lado, V.Exa. faz um ajuste fiscal sério e, de outro, com essa
mudança, faz um gol contra.
Se conseguíssemos fazer apenas coisas boas na mudança do modelo
regulatório seria diferente. No entanto, o fato de o Governo mandar para o
Congresso Nacional uma mudança por si só já é ruim.
Mas há algo que pode ser pior do que essa queda-de-braço que, desconfio,
V.Exa. perdeu: permanecer no texto a expressão “concessão do Governo”. Essa não
dá para ficar. A concessão é do Governo, mas pode ser passada para o Estado,
representado pela agência. Ou é de um, ou é de outro. Cada um tem que assumir a
sua posição.
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Sr. Ministro, a grande maioria desta Comissão defende a tese de que a
concessão tem que ser da agência.
A Ministra Dilma Rousseff, de forma brilhante — S.Exa. tem uma formação
acadêmica sólida — disse que quem tem de planejar o setor elétrico, por exemplo, é
o Governo. Dá-se então ao Governo poder para planejar e este, tendo ganho as
eleições, decidirá se nos próximos 4 anos pretende colocar mais mil megawatts no
mercado. Assim fazendo, caberá às agências escolher que quedas d’água vai
aproveitar, que edital vai fazer, que contrato vai assinar, e aquele que tiver
empregado dinheiro na construção da usina saberá que não foi o Governo, que é
transitório, que o contratou, mas o Estado, que é definitivo, que assinou o contrato e
vai cumpri-lo.
Esse é o sinal negativo que esse projeto está mandando ao mercado.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço ao Deputado
José Roberto Arruda. Este Presidente estendeu o prazo de S.Exa. porque foi preciso
e porque a história era longa e bem humorada.
Sinto que de fato temos uma grande harmonia, mas volta e meia tentam dizer
que há conflito.
Com harmonia e tranqüilidade, no estilo zen, as mudanças vão sendo
processadas.
(Não identificado) - Inventaram até um negócio de “fogo amigo”.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - “Fogo amigo”. Existe
até esse negócio.
Estou sentindo que os Deputados estão retomando seus postos, salvo o
Deputado Julio Semeghini, que sinto querer falar neste bloco. Vou atender ao apelo
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de S.Exa. e depois passar a palavra ao Ministro. Quero formar os 2 blocos. Eu, o
Deputado Francisco Appio e outros desejamos nos manifestar.
Com a palavra o Deputado Julio Semeghini, por 4 minutos.
O SR. DEPUTADO JULIO SEMEGHINI - Sr. Presidente, muito obrigado.
Acho que o Presidente João Paulo Cunha em boa hora veio a esta Comissão.
Sinto que talvez venhamos a precisar de um pouco de articulação política.
Quem acompanha o trabalho que o Ministro Palocci tem feito sabe que S.Exa.
procura contribuir para que essas agências reguladoras sejam realmente uma coisa
mais acomodada, como o mercado e todos os demais esperam.
Não sei se falo pelo lado do futebol — porque senti que o Deputado José
Roberto Arruda, ao falar em gol contra, estava muito perto do futebol do Presidente
Lula —, ou parto para outra brincadeira, aquela cobrança política do PSDB com o
PT de tentar aproximar o discurso da prática.
Sem brincadeira, temos de usar também nesse projeto a competência do
Ministro Palocci, que tem sido grande em relação ao Brasil. S.Exa. é médico, mas
mostra-se brilhante nas ciências exatas.
Todos têm sido unânimes nas suas reivindicações, quando o Ministro diz, ao
explicar por que aperfeiçoar o marco regulatório: pela não uniformidade de regras,
não atribuição clara do papel do Executivo e das agências e pela sobreposição de
funções. Está claro que todos reivindicam ajuda ao Ministro. O grande problema está
no texto do projeto de lei que se encontra nesta Casa. Quando falamos na não
uniformidade de regras, de novo estamos delegando decisão aos Ministérios. Claro
que, no tocante às questões operacionais relativas a cada Ministério, deve ser
assim, mas não se pode discutir assuntos inclusive inconstitucionais, como de forma
muito brilhante disse o Ministro Eliseu Resende, tais como outorga e outras. O ato
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de delegar restringe-se a ações que dizem respeito a cada Ministério, que não têm
impacto no papel das agências.
Outra coisa importante são os contratos de gestão. Toda a sociedade está
preocupada com isso. Dizemos aqui que o contrato de gestão haverá na área
administrativa e na de fiscalização. Mas como colocar contrato de gestão em área
que poderá discutir meta mínima de desempenho da fiscalização? A fiscalização
estamos atribuindo, nessa lei, às agências. Estamos tentando fazer com que elas
sejam responsáveis por lei. Não se pode estabelecer que fiscalizem pela metade, Sr.
Ministro.
Além de definirmos que “fiscalizará mínimos desempenhos”, devemos
registrar: “estimar recurso orçamentário”. Cabe à agência dizer que não está
podendo fiscalizar porque não definimos recursos orçamentários suficientes.
O texto feito pelo grupo interministerial liderado por V.Exa. — e V.Exa. está
tentando aproximá-lo cada vez mais do projeto de lei — é o que a sociedade e
grande parte dos Deputados querem. Esse avanço que V.Exa. tem liderado, essa
visão do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência que V.Exa. agora corrige,
porque no Brasil não se estava tendo essa clareza, é exatamente do que
precisamos. Estávamos discutindo o assunto só no âmbito das agências, e outros
órgãos fundamentais estavam ficando de fora. Mas agora estão entrando.
Na verdade, não há muito o que discutir com o Governo. O ponto de vista que
o Ministro defende — e temos saudade de V.Exa. nesta Casa — no tocante a esse
projeto é o que queremos, mas não se pode fazer uma apresentação brilhante,
como a que V.Exa. fez, com todas essas contradições. Não podemos mudar o
marco regulatório e tirar a uniformidade da regra, como estamos fazendo.
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Não podemos dizer que queremos clara a atribuição, o papel do Executivo e
da agência se estamos inclusive causando superposição de funções, como bem
disse, se não me engano, o Ministro Eliseu Padilha. São especialistas aqueles que
vão fazer o planejamento, mas aqueles homens treinados, preparados para
acompanhar uma licitação e dar continuidade ao processo temos poucos. Não
vamos poder tê-los ao mesmo tempo no Ministério e na agência.
Na verdade, Ministro, acho que devemos tentar conquistar o apoio do
Presidente João Paulo e do Ministro-Chefe da Casa Civil para fortalecer a luta de
V.Exa., a fim de ajustar esses debates. Dessa forma, tenho certeza de que vamos
votar esse projeto de lei a partir de um grande acordo nesta Casa e trazer de volta
ao Brasil uma série de investimentos de que precisam vários setores.
Desenvolvimento é realmente do que o País precisa.
Obrigado, Sr. Presidente. Agradeço por ter me incluído neste bloco.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Julio Semeghini.
A Comissão agradece ao Presidente João Paulo por prestigiar nossa reunião.
S.Exa. não vai usar da palavra, porque está uma agenda carregada, e o Presidente
do STJ já o aguarda em seu gabinete. (Palmas.)
Passo a palavra ao Sr. Ministro Antonio Palocci, que falará sobre as agências
reguladoras, o dia-a-dia do Governo e como se construiu esse projeto e para que
nos transmita mais um capítulo da brilhante novela iniciada pelo Deputado José
Roberto Arruda.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Agradeço a todos as contribuições.
Parto não da história contada pelo Deputado José Roberto Arruda, mas da
questão que S.Exa. apresentou, se devemos ou não mexer na legislação atual e se
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o projeto de lei enviado pelo Governo contribui com as mudanças que deveríamos
fazer. Porque não adianta mexer se consideramos que isso vai piorar a situação.
Evidentemente, se queremos avançar, estamos em um bom momento para,
depois de toda a evolução da questão do marco regulatório no Brasil, buscar
consolidar a legislação. A princípio, acho que é um bom momento para
aperfeiçoarmos a legislação. E penso que o projeto enviado está em consonância
com o estudo feito pelo Governo.
Não vamos aqui nem esconder o sol com a peneira, nem tentar achar pêlo em
ovo. Só o devemos fazer quando o pêlo é maior que o ovo. Mas não é o caso.
Na verdade, há uma complexidade de opiniões em torno da questão do marco
regulatório. Não complexidade de opiniões no Ministério, no Governo. Recebemos
700 contribuições sobre o projeto de lei apresentado em audiência pública, o que
mostra uma riqueza, não uma pobreza de debates, de visão e uma atenção muito
importante da sociedade sobre a inovação que isso representa em termos de Estado
brasileiro. E cabe ao Governo procurar, num primeiro momento, coordenar as
expectativas manifestadas nesta audiência pública relativamente ao texto que o
Governo produziu e enviar ao Congresso Nacional, ao qual caberá, a partir daí,
aperfeiçoar o texto que o Governo enviou. Senão, faremos um decreto. É evidente
que todo o País, não só o Governo, espera que o Congresso Nacional aperfeiçoe o
projeto de lei enviado e nele resolva eventuais questões que se apresentem. Por
quê? Porque isso é uma evolução.
A proposta de projeto de lei enviada parece-nos a melhor evolução
conseguida até este momento. Se o Congresso puder acentuar esse
aperfeiçoamento, será bom para o País.
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Vou dar um exemplo. Fazia 10 anos, tramitava nesta Casa o Projeto de Lei de
Falências. No ano passado, nós o recolhemos, reestruturamos e propusemos que
fosse votado na Câmara. Esta Casa não apenas analiso e votou o que propusemos;
aperfeiçoou muito, melhorou o projeto. Digo, sem nenhuma dificuldade, que o que
saiu daqui foi melhor do que aquilo que propusemos — tenho humildade para dizer
quando um trabalho é feito para aperfeiçoar o projeto. O Senado o melhorou ainda
mais, e o projeto voltará à Câmara para uma consolidação.
Acho que esse é o caminho para se construir uma legislação aperfeiçoada, do
ponto de vista institucional.
Tenhamos clareza de que organizar institucionalmente o Brasil não é tarefa
de um partido, mas das instituições brasileiras. Todos os partidos, todos os agentes
econômicos, todas as representações devem interferir de maneira positiva nisso. É
preciso ver que vamos evoluir no aperfeiçoamento institucional do Brasil. É como a
construção da democracia: ela leva tempo, ela vai se aperfeiçoando, ela tem idas e
vindas. A construção do arcabouço institucional no plano regulatório tem esse
mesmo ritmo.
Não há aqui fórmulas acabadas. Acompanhamos experiências diferentes de
vários países, e não é regra que quando há presença mais forte do Estado, por
intermédio da agência, o resultado é melhor, ou quando há compartilhamento do
poder de outorga. Não há experiência que prove uma coisa ou outra. Temos que
olhar as experiências internacionais naquilo que podem ser adequadas para o Brasil
de hoje e do próximo período.
Na questão das outorgas, levo em conta algumas críticas expostas aqui, de
que talvez não esteja o projeto de lei com uma definição absolutamente adequada.
Pareceu-me que essa é a definição possível neste momento. Mas se esta Comissão
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conseguir dar um passo à frente, vamos aplaudi-la. O Governo não vai travar uma
queda de braço com a Comissão, tampouco dizer que, se o que ele mandou não for
aprovado, não serve. De forma alguma. O que o Governo mandou foi uma evolução.
Acreditamos nisso. Se a Câmara e o Senado avançarem mais, vamos ter uma lei
melhor.
Então, sob esse ponto de vista, acho que vamos ganhar com o processo que
ocorrerá aqui.
Insisto no que penso. Ou seja, que na questão da outorga não há retrocesso,
não há erro. Claramente, os órgãos do Executivo devem fazer definições quanto ao
planejamento setorial. É adequado que isso seja feito no plano do Executivo, ao
contrário das questões regulatórias e das questões de fiscalização: é inadequado
que sejam feitas no âmbito do Executivo e adequado que sejam feitas na agência.
Se, na parte onde permite que contratos sejam transferidos para assinatura
na agência, ou seja, do poder concedente, etc., a redação dada parece à Câmara
dos Deputados um tanto desequilibrada, vamos aperfeiçoá-la. Não há problema
algum. O Ministro Eliseu Resende — aliás, esta Comissão é cheia de Ministros; é
privilegiada, há vários Ministros...
(Não identificado) - Ex e futuros.
(Não identificado) - Nós estivemos Ministros.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - As definições colocadas aqui,
insisto, partiram de pessoas com larga experiência nos Ministérios e na área. São
definições que certamente vão ajudar. No entanto, não acho inadequado — insisto
nisso — que em algumas questões, definido o poder concedente, definidas as
funções da agência, o Ministério e agência contratem-se mutuamente, dialoguem
permanentemente sobre como proceder aos contratos.
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Se pudermos definir com mais clareza o que fica no Ministério e o que fica na
agência, não serei contra. Se essa evolução for feita na Câmara dos Deputados,
penso que será em benefício do País. E não pensem que será contra o Governo.
Esse projeto não é a favor ou contra o Governo, mas a favor do País. Se a Câmara
o aperfeiçoar, bom para o País.
Acredito que, baseados nos debates realizados e nas 700 contribuições que
recebemos em audiências públicas, fomos até onde era possível ir. Acreditamos que
o projeto é adequado. Mas sabem V.Exas. que este é um debate caloroso.
Disse o Deputado Alberto Goldman que há 5 anos eu não faria essa
exposição. Acho que S.Exa. errou um pouco no tempo. Há 7 anos fiz a primeira
concessão pública, em Ribeirão Preto. Talvez há 20 anos, quando eu era trotskista,
eu não imaginasse fazer exposição desse tipo. S.Exa. imaginou 5 anos. Talvez seja
um pouco mais de tempo. (Risos.)
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Eu pensei nos seus colegas.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - É importante verificarmos que essa
questão institucional regulatória é nova no mundo e no Brasil. Devemos ter
capacidade de avançar, porém sem pressa. Seria um equívoco profundo copiarmos
simplesmente o modelo de um país que já resolveu essa questão. A dinâmica deste
processo no Brasil é outra, e é adequado que a legislação obedeça a essa dinâmica
estabilizadora dos investimentos e dos direitos do consumidor e a partir da
necessidade de ser mudada, quando for possível absorver novos ganhos para o
consumidor. Essa é uma discussão que vejo com muita tranqüilidade.
Esta Comissão, sob a liderança do Deputado Henrique Fontana, deve se
ocupar em aperfeiçoar a contribuição que veio para cá. E não penso que o Governo
aqui está contra a Oposição ou o partido “a” está contra o partido “b”. Estamos num
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trabalho de aperfeiçoamento daquilo que o Brasil precisa para ampliar o
investimento e melhorar os direitos do consumidor.
Não responderei agora a todas as questões que foram apresentadas, porque
há oradores inscritos para falar, mas gostaria de falar sobre o contingenciamento. O
Brasil só vai conseguir equilíbrio de longo prazo quando compreender que a questão
fiscal não é problema do Ministro da Fazenda.
Engraçado que todos os setores reivindicam seus recursos, todos
legitimamente — saúde, educação, etc. — e todos querem proteção de seus
recursos. Todos dizem ao Ministro da Fazenda que querem seu recurso protegido,
que não podem fazer parte do superávit primário. Alguém poderia me explicar como
fazer superávit primário atendendo a todos? O único acordo que posso aceitar é
todos ficarem com aquilo que for arrecadado e o Ministério da Fazenda ficar com a
arrecadação da Receita Federal. Neste caso, tudo bem. Mas não é possível pensar
na hipótese de que todos os setores ficam com as suas receitas, por 2 motivos
principais: primeiro, porque há diferenciações de receitas que não necessariamente
correspondem às necessidades do setor. Uma agência pode arrecadar muito e
precisar de pouco, e outra arrecadar pouco e precisar de muito. Ou seja, a base
naquilo que arrecada não é o adequado. Segundo, se estimularmos o critério de que
quem arrecada fica com o recurso arrecadado, vamos estimular a multiplicação de
taxas e de novos impostos, o que não é adequado. Cabe ao Governo dar os
instrumentos necessários para as agências funcionarem. Se o que elas têm hoje não
é suficiente, o Governo deverá, apesar dos esforços primário e fiscal, apesar das
dificuldades, suprir as necessidades das agências.
O que me estimulou a pensar que o contrato de gestão pode ser positivo foi
justamente este ponto: um contrato de gestão no qual o Ministério e a agência estão
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de acordo no que diz respeito aos recursos necessários a longo prazo e às
atribuições mensuráveis, do ponto de vista administrativo e de fiscalização. Isso
seria razoável na construção desse modelo. Mas não seria razoável um contrato de
gestão em que o Ministério supervisione a ação reguladora da agência. Isto seria
brincar de independência, seria fugir completamente à regra.
Mesmo nesse caso do contrato de gestão, dos limites que isso possa ter,
pode ser aperfeiçoado o texto. A proposta é que possamos estabelecer entre o
Ministério e a agência — e insisto que o contrato de gestão pode ajudar, não
significa impedimento — uma relação que seja de fato contratada, que não dependa
do humor das pessoas. Por exemplo, não posso dizer que a agência vinculada ao
Ministério da Fazenda terá a cada ano a verba que o meu humor decidir.
(Intervenção inaudível.)
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - A matéria fiscal, nem todos a
consideram.
Neste caso, é interessante ter um instrumento simples. Muitos consideram um
risco o contrato de gestão — e nisso estou de acordo com o alerta que se faz. O
contrato de gestão não pode ser a subversão da independência. Se assim for,
vamos construir uma monstruosidade institucional e não um avanço institucional.
Portanto, o contrato de gestão é útil, porém dentro de determinados limites,
assim como nessa relação entre poder de outorga e contratos é útil que haja alguma
maleabilidade, dentro dos limites. No que pudermos avançar, será positivo.
Nosso Ministério e todos os demais Ministérios envolvidos estão à disposição,
tenham certeza, para um diálogo bastante aprofundado, se for o caso de uma
votação urgente, para dedicarmos mais tempo à discussão, a fim de que tenhamos a
segurança de que o que sairá daqui será um avanço.
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Não gostaria de, ao final dessa votação, ouvir a Situação dizer que isto foi um
avanço e, a Oposição, que foi um retrocesso. Não construiremos o País que o
brasileiro quer se trabalharmos dessa maneira, nas questões institucionais,
principalmente. Podemos brigar bastante nas disputas partidária, eleitoral. Isso faz
parte da democracia, da evolução do País; é positivo, sadio. Mas, nas questões
institucionais, não se trata de Governo ou Oposição, mas de construções difíceis,
complexas, que respondem ao interesse do Brasil como um todo, do consumidor e
do investidor, insisto.
Não acho incompatível — alguns colegas demonstraram preocupação mais
aqui, ou mais ali — o interesse do investidor com o do consumidor. É regulando
adequadamente que vamos reduzir o custo do capital e o custo da tarifa para os
consumidores. Portanto, se fizermos uma regulação que atraia mais investimentos, o
beneficiário será o usuário. Isso é que de fato poderá construir um modelo mais
adequado.
Há outras questões sobre as quais espero poder dialogar ao final.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Fale da receita do servidor, que
ficou parada.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Pessoas me perguntaram se havia
relação entre a Receita com e a votação de matérias no Congresso Nacional. A
Receita não pôde fazer a divulgação no início desta semana, mas marcou para hoje
ou amanhã, se não me engano, mas isso será divulgado. Mesmo porque os dados
estão publicados. A imprensa tem capacidade extraordinária de saber dos dados
apresentados ao País, e inclusive já divulgou quase todos. Então, não há surpresa.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Mas preferem ouvi-los de V.Exa.
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O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Se V.Exa. me permite, não vamos
ser apressados na avaliação de resultados, até em benefício do processo como ele
ocorre na economia.
No ano passado, matérias fortíssimas informaram que a arrecadação do PIS
aumentara 41%. De fato, em março, o PIS estava calculado em 26% acima do ano
anterior. Um conjunto de matérias publicadas diziam que o Governo exagerara na
sua arrecadação, etc. Em outubro, o PIS estava igual ao do ano anterior, e ninguém
falou mais nada. Fiquei sozinho falando do assunto.
No que se refere à COFINS, é verdade que este mês vai aumentar fortemente
a arrecadação, porque foi o primeiro mês em que se cobrou dos produtos
importados. Vai haver um aumento mesmo. Equilibramos a cobrança do produto
nacional e do importado e vai haver aumento de arrecadação.
Agora, enquanto isso se acomoda ao longo do ano, vamos ter de observar. O
compromisso do Governo é não aumentar a carga tributária, para o bem do País, e
não porque seja proibido por alguma lei ou pela Constituição.
Portanto, se houver aumento, se houver algum desajuste na legislação,
teremos que observar e acomodar. Mas insisto em dizer que aquilo que pareceu
grande no ano passado se acomodou depois. Temos de observar os impostos.
Tudo aquilo que for tido como dados objetivos da Receita será publicado com toda
a transparência. A Receita sempre foi uma instituição transparente — e não foi no
nosso mandato que começou a ser — e continuará sendo transparente durante
todo o próximo período, não há dúvida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Sr.
Ministro, particularmente pela apresentação de V.Exa. e por deixar a estrutura do
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seu Ministério à disposição desta Comissão para discutir eventuais
aperfeiçoamentos que aqui se entenderem válidos.
Com a palavra o Deputado Henrique Fontana, titular da Presidência desta
Comissão.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA - Muito obrigado, Sr. Presidente,
Deputado Eliseu Resende.
Nobres colegas, Sr. Ministro, nobre Relator, o ambiente aqui está muito
adequado para esta discussão, porque, primeiro, não estamos tratando de uma
ciência exata. Definir o papel de uma agência, qual o melhor sistema de organizar
esse arcabouço institucional para o País não é como a Matemática. Não há quem
possa dizer o que é certo e o que é o errado. E há componentes, divisão de
sociedade e gestão, que vão ter de aparecer em uma mediação. O que sai do
Congresso é, evidentemente, a opinião majoritária da sociedade, do ponto de vista
democrático.
Se alguém me perguntar se é mais certo ou menos certo o poder de
concessão ficar com os Ministérios ou com a agência, digo que tenho convicção de
é melhor para o País que fique com os Ministérios. Na minha concepção de
sociedade, respeita melhor o critério democrático e respeita melhor aquele
planejamento estratégico, que é a visão de médio e longo prazo de que o País tem
que ser pensado enquanto Estado nacional. Evidentemente, a cada momento, ou
seja, a cada 4 ou 5 anos ou como for o sistema democrático, tem-se de refletir sobre
esse pensamento e os câmbios democráticos que a sociedade tem direito de fazer.
Às vezes, Ministro, cria-se um conceito de estabilidade como sendo regras
iguais a vida toda. Isso seria praticamente suprimir a democracia, porque algumas
tensões que surgem, que não podem colocar em risco critérios de contratos em
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andamento, têm de ser rediscutidas. Repactuação, renegociação de situações são
naturais em uma sociedade.
É lógico que devemos procurar criar ambientes que garantam maior
estabilidade. Mas essa estabilidade também tem de levar em conta a estabilidade
que o consumidor procura, porque o sentimento da sociedade brasileira — não vou
discutir isso aqui, porque, evidentemente, na maioria dos casos, isso não é de
responsabilidade da agência, foram contratos assinados — é que essas tarifas e
serviços cresceram demais em alguns setores. A sociedade não está errada. Nós
temos de discutir e debater mais o assunto.
Estamos caminhando para uma posição mais consensual: o contrato de
gestão é bom. Podemos colocar um ou outro item que evite, por exemplo, que o
contrato de gestão seja utilizado como fator de constrangimento da parcela
importante de independência que as agências têm de ter, não de outra que
eventualmente queiram ter, de forma inadequada, em relação ao que seja a
necessidade da sociedade.
Ter contrato de gestão considero ser uma qualificação desse sistema, até
porque em algumas agências isso já existe.
Outro tema é a figura do ouvidor. Ele só pode nos ajudar. Ouvi algumas falas
mais radicais contra o Ouvidor, no sentido de que ele será o interventor do
Executivo. Por que isso? Antes de se inventar a Agência, já havia ouvidor em outras
áreas, o que é positivo. Vamos discutir o critério, se o Presidente da República
indica, se o Congresso, o Senado ou a Câmara, tem de aprovar o Ouvidor, e há
projeto que estabelece que tem de ser o Senado.
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Enfim, ter a figura do Ouvidor é avanço positivo, defendo-o em nosso debate
e vamos dialogar para ver se há algum tipo de segurança democrática para que o
Ouvidor seja, de fato, representante da sociedade.
Essas as minhas contribuições de hoje, Sr. Presidente.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) - Muito obrigado, Deputado
Henrique Fontana, a quem devolvo a Presidência.
Antes, concederei a palavra ao Deputado Mauro Passos.
O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Cumprimento o Ministro, a quem
peço escusas pelo meu rápido afastamento da audiência, pois tivemos de conversar
com a direção da ELETROBRÁS sobre situações criadas no passado, como a
federalização de algumas empresas do setor que hoje passam por enormes
dificuldades. Registro essa observação, que já deve ser do conhecimento do
Ministro e que passou despercebida no projeto que gerou as privatizações.
Vou fazer duas observações: na audiência de ontem com a Ministra Dilma foi
utilizado o mesmo exemplo do quanto as empresas de telefonia perderam em razão
de anúncios assim ou assado. Deixo registrado que no mundo inteiro empresas
perdem e empresas ganham. As bolsas flutuam no mundo inteiro, inclusive em
países onde a regularização foi estabelecida há anos. Às vezes, temos excessiva
preocupação com o que acontece no Brasil e seus efeitos nas empresas.
Cumprimento o Ministro por tratar dessa questão sobre o eterno
protecionismo, como se as empresas não pudessem perder devido à nossa própria
situação política e econômica. Isso faz parte do jogo. Não entendo esses exemplos
seguidamente repetidos. Agora, em razão da discussão das agências reguladoras, o
grupo da área de telefonia perdeu vários milhões. E quando eles ganham, esse
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ganho é repassado aos consumidores ou é repactuado? Evidente que não. Tanto é
que o próprio Presidente comentou, em matéria publicada recentemente no jornal
Folha de S.Paulo, que os efeitos das tarifas dos serviços públicos hoje consomem
30% da renda da classe média.
Outra observação que, para mim, não é de todo verdadeira é o ganho de
escala, que também não está sendo verificado por nós. A AES, com certeza, é a
empresa que melhor se enquadraria no chamado ganho de escala por atender ao
maior mercado da América Latina em energia elétrica, que hoje é a Grande São
Paulo, e não vemos em momento algum diferenciação de tarifas por essa razão.
Teoricamente, se houvesse ganho de escala, a energia paga por quem mora
em São Paulo e utiliza os serviços lá, onde há 10 milhões de consumidores, no meu
entender, deveria ser menor do que para quem mora em Florianópolis, como nós,
onde há 300 mil consumidores. Isso também não é algo pronto.
Sabemos que há estradas em que passam cerca de 100 mil carros e cujos
pedágios são do mesmo valor daqueles cobrados em estradas onde circulam 5 mil
carros. Ora, não está de todo resolvida a questão da escala.
Por último, Sr. Ministro, gostaria de ouvir a opinião de V.Exa. sobre como
vamos tratar disso no âmbito das fontes renováveis de energia. Recentemente, o
Governo brasileiro, numa atitude elogiável, assinou o PROINFA, com 3 mil e 300
megawatts distribuídos em PCHs, biomassa e eólicas. O Brasil, como outros países
do mundo, tem de caminhar nessa direção. Mas sabemos que não é possível esse
setor crescer e se consolidar, nesse caso, sim, sem ajuda, porque a energia
produzida em qualquer uma dessas fontes que citei está bem acima do que é hoje
produzido pelas grandes hidrelétricas e pelo sistema como um todo. A Alemanha,
por exemplo, país que mais avançou na alteração da sua matriz energética, possui
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hoje 15 mil megawatts de energia eólica, enquanto o Brasil possui 24. Como vamos
tratar isso? Qual seria o papel das agências na questão regulatória dessas fontes
renováveis, cuja presença na nossa matriz energética vem sendo sinalizada de
forma correta pelo Governo Lula?
Gostaria de ouvir a opinião do Ministro a respeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Mauro Passos.
Destaco a presença entre nós do Líder do PFL na Casa, Deputado José
Carlos Aleluia. Há poucos minutos também esteve conosco o Líder do PL, Deputado
Sandro Mabel.
Concedo a palavra ao próximo orador inscrito, Deputado Francisco Appio.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO APPIO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras. e
Srs. Parlamentares, é evidente que todos nós esperamos que esse projeto que já
era bom melhore nesta Casa, com as contribuições recebidas por V.Exa. no
Executivo e com as emendas aqui apresentadas.
É forçoso reconhecer que houve avanço no controle social, mas poderíamos
ter ousado mais. No Rio Grande do Sul, há cerca de 8 ou 9 anos, discutimos com a
então Deputada e hoje Presidente da Associação Brasileira de Agências
Reguladoras, Maria Augusta Feldmann, durante a reforma do Estado realizada pelo
então Governador Antonio Britto, a criação da AGERGS, primeira agência
reguladora do Estado, na qual incluímos o usuário e seu representante. Acredito ter
sido bom porque as queixas diminuíram bastante. Mas o projeto trata da concessão
do direito de as associações de defesa do consumidor e do usuário indicarem até 3
representantes especializados para acompanhar as consultas públicas. Penso que
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deveríamos ter ousado, e talvez possamos ainda fazê-lo, colocando o usuário dentro
das nossas agências reguladoras.
Sr. Ministro, V.Exa. sabe perfeitamente que os caminhoneiros que saem de
São Marcos, cidade do Deputado Henrique Fontana e capital do caminhão no Brasil,
vão parar semana que vem ou na outra. É previsível e inevitável o “apagão” nas
estradas por conta dos problemas das rodovias, sua restauração, a não-aplicação
dos recursos da CIDE. O caminhoneiro reclama que hoje paga duas vezes: quando
a rodovia é concedida, ele paga o pedágio; e paga ainda no recolhimento da CIDE.
E onde ele só recolhe a CIDE, não há estradas decentes, são esburacadas, o que o
obriga a transitar pelo acostamento e facilita que o assaltante tenha acesso à cabina
do caminhão pelo estribo, causando, claro, enormes prejuízos de abastecimento, por
conta da demora e outras coisas.
Em São Paulo, hoje à noite e amanhã os caminhoneiros autônomos vão
decidir a respeito. Eles aguardam a palavra do Governo. Não pretendem bloquear
estradas, mas vão fazer paralisação. Eles têm expectativas e desejam conhecer a
perspectiva do Governo sobre a restauração das rodovias. Se estivessem dentro
das agências, provavelmente teriam mais condições para compreender o porquê
desse aumento do petróleo lá fora, que provoca o aumento do preço do diesel no
Brasil, e entenderiam por que são alterados contratos de concessionárias de
rodovias e pedágios sem se ouvir o usuário. Por que existem alterações no curso do
contrato?
Por exemplo, no Rio Grande do Sul — estou diante de três ex-Ministros do
Transporte, Srs. Eliseu, Goldman e Padilha, que conhecem esse discurso melhor do
que eu —, nas concessões rodoviárias, os pedágios eram cobrados, inicialmente, só
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na ida, mas houve alteração contratual para cobrança tanto na ida quanto na volta, e
o usuário não foi consultado.
Seria importante, Sr. Ministro, que pudéssemos avançar ou ousar um pouco
mais no controle social desse serviço oferecido, para que esses setores não
chegassem a tomar atitudes extremas como essa — que deve ocorrer amanhã — de
apagão nas estradas, por conta de buracos e uma série de outros problemas. Sr.
Ministro, pela primeira vez eles contarão com a adesão também das empresas
transportadoras e não só dos autônomos.
Obrigado, Sr. Ministro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Francisco Appio.
Passo a palavra ao Líder do PFL, Deputado José Carlos Aleluia. Apelo a
S.Exa. que seja breve por causa da escassez de tempo do Ministro.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Deputado Henrique Fontana,
muito obrigado por sua gentileza e pode ter a certeza de que serei breve, até porque
sei da importância do Ministro para o Governo e como o seu tempo deve ser
retalhado em pedacinhos. Vou usar o menor pedaço possível do precioso tempo do
Ministro.
Sr. Ministro, saúdo V.Exa e seu Secretário. Fomos colegas nesta Casa e acho
que V.Exa. tem papel importante no Governo. Quero apenas, sem fugir ao assunto
das agências reguladoras, dar um depoimento histórico. Fui o Relator do projeto que
criou a ANEEL, a primeira agência a ter alguma autonomia. Recordo-me, Sr.
Ministro, que quando levei o projeto à Casa Civil para apresentar a idéia de
independência, que não era a desejada nem a existente nos países onde há regras
mais sólidas, encontrei oposições.
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O Ministro Clóvis Carvalho, que é um homem moderno, disse-me que a idéia
de independência era boa, mas não sabia se o País estava preparado para isso. O
Ministro Raimundo Brito, que é meu amigo, também tinha dúvidas e reagiu.
Recordo-me de que usei expedientes os mais diversos para reforçar a
queda-de-braço existente dentro do Governo, que existe em todo governo e que é
natural no processo democrático, e a idéia de ter uma agência mais independente.
Terminei usando pessoas como Sérgio Abranches, um cientista político que à época
tinha acesso direto ao Presidente Fernando Henrique, e Piquet Carneiro, conhecido
jurista de todos nós, e fomos fazendo um processo de aculturamento das pessoas. E
no meio havia uma figura muito forte, a de Sérgio Motta, Ministro forte do Governo
Fernando Henrique, que ainda estava com saúde plena e também tinha dúvidas a
respeito do assunto.
Fizemos um trabalho de convencimento muito grande. E não só eu, mas
muitas pessoas e, no fim, o Presidente Fernando Henrique foi quem arbitrou:
“Vamos dar alguma independência”. No caso da ANEEL, foi inserido o chamado
contrato de gestão, contra a minha vontade e a de muitos outros, e que depois se
mostrou inócuo e ficou com a pouca independência existente hoje, mas que termina
assegurando certa estabilidade. O fato de o assunto ser discutido há tanto tempo
gera instabilidade. A Oposição quer ajudar o Governo a fechar essa questão.
Ontem fechei acordo com o Presidente João Paulo Cunha e com os Líderes
do Governo para votarmos essa questão até o dia 8, aceitando inclusive prorrogar o
início do recesso, porque acho fundamental que o Brasil tenha regras que saiam da
Câmara, do Senado e que o Presidente sancione e que se tome logo a decisão.
Sei, Sr. Ministro, que neste ponto devo estar muito próximo de V.Exa. e sei da
sua dificuldade dentro do Governo, porque os Ministros às vezes não percebem que
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os Ministérios são permanentes, que as agências são permanentes, mas que nós
somos temporários. Eu sou temporário na função de Deputado, V.Exa. é temporário
na de Ministro. E espero que seja uma temporada muito longa, pois V.Exa. está
fazendo um trabalho extremamente...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Temos em mente mais
uns 6 anos de mandato para o Ministro Palocci.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Pelo menos até o fim do
Governo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - É a nossa idéia, uns 6
anos para o Ministro Palocci.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Até o fim do Governo
acredito que o Ministro vai prestar grande trabalho.
Sr. Ministro, presto este depoimento, e V.Exa. tem meu apoio nessa
queda-de-braço. Se tivermos possibilidade de fazer algum esforço, seria sempre no
sentido de mais independência, até porque, decorridos quase 1 ano e meio de
Governo, os novos comissários indicados por Lula irão além do seu Governo, dos 4
anos, ou, se forem 8, além dos 8, falando claramente.
A independência interessa a todos e há um aspecto particular. Tivemos sorte
na escolha dos comissários. Não temos caso de corrupção, temos na Justiça, no
Executivo, neste Governo e em outros, mas felizmente não vimos ainda nas
agências — e esperamos não ver. Espero que sejam escolhidas mais mulheres. A
escolha de mulheres e homens para comissários tem sido correta. Alguns até
terminaram saindo de forma muito digna, como o Dr. Shimura, que não seria bom
que tivesse saído, mas, enfim, saiu, jogo político, jogo jogado.
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Sr. Ministro, a tendência adotada por V.Exa tem o apoio do PFL, que quer
Agências mais independentes para os comissários que serão indicados pelo
Presidente Lula. Não quero independência para os comissários antigos, não. Hoje,
V.Exa. vive o que os economistas chamam — e nós não somos economistas, mas
somos curiosos; V.Exa. mais que eu — de retomada cíclica do crescimento. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Ainda bem que o
Deputado José Carlos Aleluia está elogiando o Ministro. Pelo tempo, S.Exa. tem um
grau de curiosidade maior; portanto, tem desempenho melhor na direção da
economia, mas isso da Oposição construtiva é muito positivo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Vivemos um crescimento
cíclico, mas V.Exa. sabe que não teremos desenvolvimento sustentado se não
viabilizarmos os investimentos de risco na infra-estrutura e, por isso, terminamos
divagando para falar do transporte, do saneamento, do PROINFA, cuja construção,
aliás, foi de minha responsabilidade. Fico muito orgulhoso em ver o atual Governo
implantar esse projeto, uma vez que fui o autor do substitutivo que o instituiu.
Sr. Ministro, trago aqui o incentivo à idéia de que mudemos esse projeto para
que haja Agências independentes que dêem confiança e segurança ao consumidor
e ao investidor. Não há segurança nem confiança ao investidor sem confiança e
segurança ao consumidor e vice-versa. Não se trata de dependência, mas
interdependência. O mundo não é mais da dependência, mas da interdependência.
É por isso que a Oposição está interdependendo da ação do Governo e trazendo o
apoio a V.Exa. para buscar mais independência às Agências.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado José Carlos Aleluia, Líder do PFL.
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Com a palavra o último orador inscrito, Deputado Fernando Ferro, digno
representante do Estado de Pernambuco nesta Casa.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente. Sr. Ministro, Sras.
e Srs. Parlamentares, demais participantes desta audiência pública, saúdo esta
Casa por promover este debate. Sinto-me um eterno aprendiz nesta Comissão.
Ministro Palocci, é freqüente a citação do passado trotskista de V.Exa. e do
nosso passado de esquerda, mas considero isso extremamente salutar. É muito
menos constrangedor o nosso passado de esquerda — e ainda me considero de
esquerda —, e sermos lembrados como ex-trotskista e ex-leninista do que sermos
chamado de ex-fascista, adepto de Hitler ou de Mussolini. Ou seja, até nisso
levamos certa vantagem. No processo de construção democrática há aqueles que
têm heranças muito mais constrangedoras.
Não vejo isso como problema, mas como sinal do nosso amadurecimento
democrático. Exemplos disso vivemos no debate desta Comissão. Ouvi há pouco
testemunho do Deputado Aleluia, que decidiu a questão das Agências Reguladoras
junto com Fernando Henrique, Sérgio Mota, Clóvis Carvalho e mais um cientista
político. Estamos em audiência pública, com a presença de vários Ministros, para
buscar o aperfeiçoamento, o que mostra a evolução do espírito democrático e
libertário do Deputado Aleluia, e o estágio em que estamos hoje, o quanto
avançamos: já não precisamos nos juntar apenas a Lula ou ao Ministro Palocci para
dizer o que deveria ser votado aqui. Isso é um avanço e uma conquista democrática
altamente positivo. É uma realidade que nossos amigos da Oposição às vezes não
querem reconhecer. Este Governo tem dado sucessivas provas de que tem
construído políticas com outro viés, com outra característica democrática. O debate
sobre a restruturação do setor elétrico, as reformas que estavam paralisadas, todas
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elas foram novamente trazidas à luz e submetidas a intenso debate democrático. É
significativo processo de evolução, que só temos a elogiar.
É neste espaço que temos garantido o contraditório, ouvindo os diversos
atores, os diversos grupos de pressão. O debate sobre as Agências Reguladoras é,
no fundo, o debate sobre a feição do Estado que queremos, o caráter do Estado que
queremos. E esse debate, mais do que nunca, é preciso que seja o mais amplo
possível.
0 SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Deputado Fernando
Ferro, o meio-dia está se aproximando e ficamos um pouco mais inquietos. Peço
para retomarmos o silêncio. Devolvo a palavra ao Deputado Fernando Ferro.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - As pessoas que gostariam de falar
e não têm espaço ficam às vezes murmurando entre elas, até com certa
legitimidade, mas é a regra do jogo.
Discutimos aqui uma proposta para o País. Muito bem observou o Deputado
Alberto Goldman quando há poucos minutos dizia: “É bom discutir isso pensando no
Brasil, até porque voltaremos a ser Governo”. É lógico que podem voltar a ser
Governo. Lembro-me de que, há 4 anos, os amigos tucanos diziam que ficariam 20
anos no poder.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Faltou explicar o intervalo de 4
anos.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sim. O importante é
compreendermos que esse debate é um processo de aprendizado conjunto, que
estamos construindo instrumentos para reforçar o processo democrático, a
articulação e a organização da sociedade e, acima de tudo, que estamos
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aprendendo. É preciso ter um pouco de humildade para compreender que se trata
de um processo de aprendizado.
Felizmente, reconheço o avanço político de que participamos com o Deputado
José Carlos Aleluia, e graças à boa vontade de S.Exa. fizemos 2 ou 3 reuniões para
discutir a ANEEL no gabinete da Liderança do PFL.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Ele convidou V.Exa.? É
importante.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Ele me convidou, teve esse gesto
magnânimo, o que inclusive nos permitiu apresentar sugestões ao projeto do
PROINFA, das fontes alternativas. Fomos ombro a ombro, para mostrar que a
Oposição também participava. À época, o espírito democrático do Deputado Aleluia
permitiu essas reuniões.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Deputado Ferro, eram
audiências rápidas ou prolongadas?
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Foram poucas, porém demoradas
e produtivas. Agora, evidentemente, seguíamos a regra do jogo à época. Hoje,
podemos participar com mais liberdade, com mais amplitude dessa discussão, que é
salutar, graças à conquista democrática que fizemos.
Mais do que formular perguntas, quero elogiar o Ministro Palocci pela
presença nesta Comissão e pelo esforço de melhorar o projeto que veio para cá.
Isso reflete claramente o estágio de cidadania política que estamos galgando e o
crescimento democrático desta Instituição e da sociedade brasileira como um todo.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Fernando Ferro, o último Parlamentar inscrito.
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Passamos a palavra imediatamente ao Ministro Palocci para suas
considerações finais, pelo tempo que achar necessário e ou possível, de acordo com
sua agenda.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Vou ser breve, até porque penso
que devo deixar algumas contribuições e não procurar resolver eventuais
dificuldades, porque temos de fazer isso juntos. Insisto em que o Ministério da
Fazenda fica à disposição, como certamente todo o Governo, no trabalho de apoio a
esta Comissão.
Quero reforçar algumas questões da mediação e o que é preciso fazer. Houve
muitas contribuições ao debate — recebemos 700 na audiência pública a respeito do
poder concedente.
De certa forma, o Ministro Eliseu Resende expôs bem a questão. Precisamos
melhor clarificar disso. Não se pode transferir poder concedente de um nível
institucional para outro, o que se pode é transferir procedimentos. Essa é uma
questão que me parece clara. Desculpem se na minha exposição não ficou tão claro.
Lendo agora a exposição, concordo que não ficou tão claro.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Fico muito honrado em ter podido
corrigir V. Exa.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Aqui o senhor sempre foi professor.
É preciso ser preciso, porque, senão, vamos criar legislação ruim para o
processo político. É preciso ter muita precisão relativamente à definição do poder
concedente, à definição das atribuições da Agência, aquilo que pode ou não se
transferir. Poder concedente não se transfere. Se o texto deu esse entendimento,
desde já faço essa correção, porque não é questão de o Ministério querer ou não, é
que não se pode transferir poder concedente, porque poder concedente faz-se em
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nome do povo, portanto, não pode, em nome dele, entregar a outro, quem quer que
seja esse outro.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - O poder concedente, no caso, é a
União, não é Ministro?
O MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Pois é. Essa questão é importante ser
definida. Se vamos ter no projeto ou não um nível de possibilidade de transferência
de algumas questões, como assinatura de contratos, consolidação de
procedimentos licitatórios, a formulação que veio aqui é adequada não para a
evolução do debate no interior do Governo, mas para o estágio em que hoje está a
questão institucional no Brasil. Agora, se o Congresso Nacional avançar, vai mostrar
que pode avançar um pouco mais.
Então, com referência a essa questão, insisto em que o importante é ter uma
definição, mas concordo com o Presidente da Comissão, Deputado Henrique
Fontana, de que o poder concedente nos Ministérios é o procedimento correto.
Muitos países fazem assim, e é correto que seja assim. Não acho que compromete
de maneira alguma a independência da Agência. É um aperfeiçoamento que
teremos na legislação.
O Deputado Henrique Fontana e o Deputado Mauro Passos apontaram uma
série de questões relativas a preços. É verdade que, em algumas situações, a
evolução dos preços não parece adequada, tendo em vista os ganhos de
produtividade de escala que houve em vários setores. É por isso que temos de
aperfeiçoar as Agências e os contratos. Por exemplo, tínhamos uma política de
preços para a qual — e não tenho nenhuma crítica a fazer — foram escolhidos
alguns indexadores.
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Recentemente, quando o Ministério da Fazenda e o Ministério da
Comunicação discutiam o setor de telefonia, ocasião em preparamos a política para
os contratos que vão ser feitos a partir do ano que vem para os próximos 20 anos, já
construímos uma outra política de preços, não mais baseada no IGP, mas no teto de
preços, com fatores de produtividade. Isso é aperfeiçoamento. O que não pode é
chegar em 2003 ou 2004 e dizer: “Cidadão, aquele seu contrato não vai ser feito
daquele jeito, porque eu resolvi que vai ser feito de outra forma”. Isso não se pode
fazer, porque não há investidor que resista a esse tipo de prática por longo prazo.
Pode até resistir no curto prazo, se estiver ganhando bem, mas no longo prazo
ninguém resiste, e vai procurar outro país que lhe dê algum nível de segurança na
atividade.
Mas isso não quer dizer que não possamos mudar e aperfeiçoar os contratos
atuais para contratos mais modernos. Os indexadores tradicionais não são
adequados; é preciso que se busquem indexadores que digam respeito ao setor e
que, por intermédio deles, se permita que todo ganho de produtividade seja
transferido para o consumidor, senão a Agência estaria cometendo grave equívoco
na sua função essencial, que é dupla: garantir segurança ao investidor e garantir
ganhos ao consumidor. As duas funções não são incompatíveis. É muito comum as
pessoas no Brasil dizerem que ou se defende o consumidor ou se defende o
investidor. Não penso assim. É perfeitamente possível a boa política proteger o
investidor, porque a proteção do investidor não é garantir ganhos — quando se
investe tem-se de correr o risco de ganhar ou de perder — mas garantir regras. Se
as regras estiverem garantidas, ganhar ou perder é resultado da atividade
econômica. Por outro lado, ao consumidor, é garantir que os ganhos do processo
sejam a ele transferidos. O Deputado Mauro Passos disse que se houve ganho de
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escala em determinado setor e se não se transferiu ao preço, há um problema, e
temos de aperfeiçoar os projetos.
Mas, insisto, aperfeiçoar contratos não significa rompê-los. Se há contratos
em andamento, analisa-se a experiência desses contratos; quando forem feitas as
grandes renovações, aproveita-se a experiência obtida para fazer melhor com
relação ao próximo período. É isso que o Brasil precisa fazer para evoluir o seu
marco institucional.
Embora não concluído, o modelo feito na área de telecomunicações no ano
passado — em que tivemos pequena participação — é o caminho adequado.
Preparam-se contratos de 20 anos e um ano antes anunciam-se mudanças. Assim,
tem-se um ano de audiências públicas para consolidá-las, de forma que os novos
contratos sejam construídos de maneira bastante sólida. E, a partir da sua
assinatura, são 20 anos em que essa regra tem de valer.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Sr. Ministro, existem cláusulas de
revisão contratual?
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Sim. Todas as exceções confirmam
as regras. De fato, existem situações nos contratos de concessão que permitem a
revisão deles. E hoje, olhando como o mundo tem feito essas formulações, vemos
que não se trata de um problema brasileiro. No mundo inteiro é problema
gravíssimo, difícil, complexo de resolver. Normalmente, trabalhava-se com o famoso
equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, mas atualmente isso já evoluiu para
melhor.
Os sistemas de preços e de ganhos de produtividade são mais adequados e
protegem mais o consumidor, inclusive no tocante ao ganho. É importante ressaltar
que se o ganho do investidor não for repassado ao consumidor, no médio prazo o
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prejuízo é de ambos os lados, porque aquele modelo não vai se sustentar. É preciso
que o Estado, o Parlamento e as Agências cuidem de zelar por essa questão
fundamental. Senão, não vai se sustentar o modelo em que o povo observa, os
Deputados observam, o Governo observa, a sociedade observa ganhos de escala
extraordinários que, ao longo do tempo, não se transferem para o consumidor. É
evidente que em determinado momento o País vai se perguntar: “Como é isso?
Como pode um ganho de escala tão evidente não chegar ao consumidor?” São
esses aspectos que devemos fazer evoluir na legislação.
O Deputado Mauro Passos expôs algumas questões sobre fontes renováveis
de energia. É importante que possamos definir no modelo regulatório. Insisto, Sr.
Deputado, em que o exemplo que V.Exa. citou permite ver com mais clareza a
necessidade de se ter atribuição no âmbito do Executivo e no da Agência.
Exclusivamente a Agência, com seu caráter independente que todos queremos
reforçar, não consegue resolver questão como essa. É preciso ter o concurso do
Ministério da área. A definição que V.Exa. deu é muito correta. Não tenho nenhum
comentário a fazer, porque a ela me associo.
O Deputado Francisco Appio abordou temas relativos a estradas, a pedágios,
a contratos. O projeto responde de alguma maneira às suas preocupações, pelo
menos quando levanta duas questões. A primeira é a Ouvidoria, importante para as
Agências. Se não está claro no projeto, vamos deixá-lo. Não pode haver dúvidas
sobre o fato de o Ouvidor ser instrumento do Estado. O Ouvidor é instrumento do
consumidor. É preciso que se garanta isso mediante um sistema, aprovado pelo
Parlamento, que assegure que ele possa cumprir sua função.
Além disso, está bastante reforçado no projeto o fato de que as Agências
prestam contas à representação pública do País, que é o Congresso Nacional, mais
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do que ao Governo. Nesse particular, o projeto está certo. Não é ao Governo que as
Agências prestam contas. Com o Governo, elas estabelecem seus contratos de
gestão dentro dos limites propostos e os conduzem, mas prestam contas de suas
atividades ao povo brasileiro. E para prestar contas ao povo o mais adequado é
fazê-lo à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, enfim, ao Congresso
Nacional.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN – Sr. Ministro, V.Exa. acabou de
falar em relação ao poder concedente. Tem de haver prestação de contas ao poder
concedente, no caso o Executivo. Não invalida sua afirmação final de que a
prestação de contas seria no Congresso Nacional, mas o Poder Executivo não pode
ficar ausente.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI - Estão estabelecidas no projeto.
V.Exa. tem razão, Sra. Deputada, de que há questões no relacionamento
permanente da Agência com o Poder Executivo que devem ser preservadas, até em
benefício do processo. Quando se pergunta a quem presta contas a Agência, diria
que é ao povo, e o ambiente de prestações de contas me parece que é o próprio
Congresso Nacional.
Ressalto, Deputado Francisco Appio, que destinamos muito mais recursos
para as estradas neste ano do que no ano passado e enviamos para esta Casa — e
V.Exas. aprovaram — proposta de transferência de 29% dos recursos da CIDE para
os Estados investirem em estradas. Portanto, houve uma ampliação das verbas.
Espero que isso possa de fato significar se não o investimento necessário — e todos
conhecem as limitações do investimento público —, pelo menos boa parte dele.
Tanto a ampliação dos investimentos quanto a transferência de 29% da CIDE para
os Estados são importantes contribuições do Governo.
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Agradeço ao Líder do PFL, Deputado José Carlos Aleluia, a gentileza do
comentário em relação à minha pessoa. No entanto, na verdade, tenho certeza de
que é vontade do Presidente Lula que avancemos na independência do marco
regulatório brasileiro, para o bem do País.
É evidente a polêmica que a discussão de um projeto como esse cria na
sociedade. V.Exa. descreveu seu recente esforço para elaborar o primeiro desses
projetos e saber em que estágio está o País — não o estágio em que está na minha
cabeça ou na cabeça de outro Ministro — e a forma como ele pode transformar
aquele avanço num impulso ao processo econômico.
Esse é o equilíbrio que todos devem buscar num bom projeto. Não se trata de
uma questão que um Ministro ou outro possa resolver. No caso do Governo, não
vejo esse problema, porque o Presidente Lula, que teve 52 mil e 364 votos, é
quem...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Milhões. Está certo que
a inflação está baixa, mas não dá para diminuir tanto assim os votos recebidos pelo
Presidente Lula.
O SR. MINISTRO ANTONIO PALOCCI O Presidente teve, na verdade, 52.
793.364 votos — eu só tive 1 dos 364; se não fosse eu, seriam 363. Quem teve 52
milhões de votos foi o Presidente Lula. S.Exa. tem resolvido essas divergências de
maneira muito tranqüila e positiva.
O debate sobre a questão regulatória foi feito pelo Governo de forma
transparente, e eventuais divergências foram publicamente expostas. Não considero
negativa tal atitude, porque faz parte de um processo de construção do País,
processo que está em andamento há menos de 20 anos e para o qual o Governo
atual tem uma contribuição a dar junto ao Congresso Nacional.
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O Presidente Lula tem sido muito positivo no sentido de consolidar os
instrumentos que visam a garantir o investimento e os direitos do consumidor e tem
pessoalmente se envolvido no trabalho de busca de novos investimentos. Isso tem
ficado claro com a sua participação em eventos e com as viagens que tem feito,
como as que recentemente fez à China e a Genebra, onde teve importante diálogo
com investidores da área de infra-estrutura, e também na viagem que faremos, na
próxima semana, aos Estados Unidos, onde conversaremos com investidores da
área de infra-estrutura. Além disso, tem sido fundamental o diálogo permanente com
as lideranças empresariais brasileiras. Portanto, essa não é uma questão de um
Ministério ou outro, de um setor ou outro, mas do País.
É fundamental que o Brasil não tenha medo do sucesso. Ontem vi dados
relativos ao aumento das vendas no País, recentemente divulgados, sobre os quais
muitas pessoas disseram o seguinte: “Já podemos estar otimistas, mas cautelosos”.
O povo brasileiro tem muita dúvida. A meu ver, o desafio do Brasil é explorar
a sua vocação, pois pode crescer a índices elevados, durante um grande período de
tempo, e responder positivamente aos desafios que lhe são apresentados. Creio que
exageramos nas dúvidas sobre a nossa própria capacidade. Refiro-me à nossa
capacidade como País — e não como Governo —, como grande economia, que dá
belos exemplos em áreas de alta competitividade, e não apenas na área da
produção de grãos — competimos até na área de fabricação de aviões.
Este País pode vencer o desafio de crescer a taxas elevadas, resolver
questões regulatórias e buscar agressivamente novos investimentos. O grande
desafio do País é esse, e a perda com relação a alguns detalhes de uma legislação
que apenas é um reforço ao processo e à musculatura econômica do crescimento
de que o Brasil necessita não é o mais importante.
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Devemos nos apressar — e concordo com os Deputados José Carlos Aleluia
e Fernando Ferro — na aprovação dessa legislação, porque o debate está
praticamente feito. Agora devemos procurar, por meio do Relator, do Presidente e
dos partidos, aperfeiçoar a compreensão que o País e esta Comissão têm hoje, para
dar mais um passo em relação ao avanço institucional no nosso País, em um curto
espaço de tempo.
Eu não vim aqui pedir pressa aos Deputados. Vim a convite do Presidente da
Casa, João Paulo Cunha, do Presidente da Comissão, Deputado Henrique Fontana,
e do Relator. Mas, como os próprios Deputados estão dizendo que é necessário
agilizar a aprovação da matéria, vou concordar com V.Exas. — não estou, de forma
alguma, pedindo a V.Exas. que a agilizem. Quero apenas concordar com V.Exas.,
porque, de fato, se observarmos o momento político e econômico do Brasil, veremos
que o País saiu de um período de restrição, que foi duro, que veio de uma crise que
elevou nossa dívida, elevou nosso risco, elevou nossa inflação, e superou esse
período, retomou a atividade econômica e aponta para a possibilidade de
crescimento a longo prazo.
Insisto em dizer que a nossa preocupação neste momento não é em relação a
quanto o País vai crescer neste ano, mesmo porque pouco do que se faz em um
mês tem reflexo no mês seguinte. Este ano o Brasil vai crescer; o País já retomou o
crescimento. A questão apresentada para nós é: quanto vamos dar de musculatura
institucional e econômica ao País para que possamos enfrentar o desafio de crescer
a taxas elevadas e a longo prazo.
O Governo vai cumprir sua parte. Vamos trabalhar com grande
responsabilidade fiscal, vamos trabalhar acompanhando o processo inflacionário e
não vamos deixar a inflação voltar no Brasil. Felizmente, estamos vivendo um
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processo muito positivo em relação à inflação. A conquista foi obtida em curto prazo
e foi importante. Muitos dizem que foi a um duro custo, mas não há combate à
inflação sem custo em lugar nenhum do mundo. Estamos vendo a tensão que é
gerada no mundo quando um país como os Estados Unidos fala em elevar 0,25%,
0,5% a sua taxa de juros. É assim mesmo. É difícil, é duro.
Mas o fundamental é que — estando o Governo e a sociedade
comprometidos com um ajustamento de longo prazo e estando o Congresso e o
Governo comprometidos com o aperfeiçoamento institucional do País, de forma a
dar ao Brasil o que é preciso para que, a cada semestre, a cada ano, tenhamos um
ganho agregado, em termos de instrumentos de crescimento — o Brasil não tem por
que ter dificuldade de crescer, insisto, a taxas elevadas e a longo prazo.
Não é mais possível, não é desejável e não é vocação do Brasil repetirmos as
dificuldades que tivemos no passado: o País crescer 3 anos e ter uma crise, crescer
2 anos e ter outra crise, crescer 1 ano e meio e ter uma crise. Não é essa a vocação
do Brasil. Não podemos ter medo do desafio que nos é apresentado e devemos ter
capacidade de separar as divergências partidárias — que são legítimas, que fazem
bem ao País — das construções que devem ser de todos os setores, do Congresso
e da sociedade: construir instrumentos institucionais não é atribuição de uns contra
outros, mas de uns com outros. É atribuição do País e de suas autoridades, dos
seus agentes econômicos, dos representantes da população. Essas são atribuições
nossas, esses são desafios nossos.
Vamos expor nossas diferenças partidárias no debate político-eleitoral, que
faz bem ao País, e vamos sempre deixar que o povo decida o rumo que se deve dar
ao Estado, ao Governo. Mas, na hora de criar instrumentos institucionais, não
podemos atribuir o erro a um, o acerto a outro, o acerto a este, o erro àquele.
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Temos que fazer com que o País evolua conjuntamente nesses marcos, por
meio do somatório de uma macroeconomia ajustada; de uma política industrial
voltada para a ciência e tecnologia; de mudanças no sistema de avaliação de crédito
e valorização das iniciativas que possam baixar os juros de mercado e dar mais
fôlego ao processo de retomada econômica, entre as quais estão os sistemas de
regulação, a Lei de Falências — que, como eu disse no início e repito aqui, foi
melhorada por esta Casa e pelo Senado Federal. Portanto, essas conquistas
precisam se traduzir em ganhos para a economia.
Se o Brasil souber, a cada etapa dos próximos períodos, ao lado de um
equilíbrio macroeconômico, adotar medidas microeconômicas — como o pacote da
construção civil, sobre o qual dialoguei ontem com as Lideranças desta Casa; como
os marcos regulatórios; como a Lei de Falências; como as parcerias público-privadas
—, alcançaremos sem dúvida o nosso objetivo.
No entanto, essas medidas todas não precisam ser aprovadas no mesmo
mês. Não é verdade que se não aprovarmos tudo isso agora nada dará certo. Não é
verdade! Precisamos ir aos poucos aprovando essas medidas, de acordo com a
necessidade que o País for tendo, ao longo deste e do próximo ano, para que a
energia econômica e o PIB potencial do Brasil possam responder ao desafio que o
povo espera de nós, Governo, e de V.Exas, Deputados — sejam de Situação ou de
Oposição —, porque, de fato, a geração de empregos, o crescimento econômico e a
inclusão social são questões que não podem esperar. O Brasil tem que trabalhar
com agilidade.
Como disse o Deputado Fernando Ferro, o Presidente Lula tem tido
capacidade e mantido o compromisso de olhar para a necessidade de se fazer os
duros ajustes que tiveram de ser feitos, sem deixar de olhar — com o seu olhar, que
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é todo próprio — para as necessidades de inclusão social. Não foi por acaso que o
Presidente Lula determinou que as verbas de transferência de renda fossem
praticamente duplicadas nesse curto período de Governo. Fizemos isso com muita
dificuldade, porque as limitações do orçamento são grandes. Mas foram
praticamente duplicadas as verbas de transferência de renda e foi atendida uma
parcela da população cuja renda é inferior ao tão debatido salário mínimo.
Algumas vezes debatemos algumas referências de salários nominais na
economia e não vemos que, infelizmente, a renda de boa parcela do nosso povo
ainda está abaixo do salário mínimo. É necessário que as políticas públicas tenham
compromisso com isso, porque a solução para a grande diferenciação de renda no
País é tão importante quanto o estabelecimento de marcos regulatórios, de políticas
industriais etc. É preciso termos capacidade de enfrentar esses desafios com
paciência e persistência, mas com a agilidade que o processo exige.
Agradeço ao Deputado Henrique Fontana o convite e espero que tenha
ajudado a Comissão a agilizar o seu trabalho — insisto em dizer que a agilidade foi
proposta pelos Deputados, e não por mim. Espero que possamos, no próximo
período, ter um ganho efetivo para o País no debate que V.Exa., Sr. Presidente, está
coordenando juntamente com as Lideranças de todos os partidos.
Agradeço a todos a atenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado, Ministro
Palocci.
Solicito a V.Exa. que permaneça conosco por mais 3 minutos, a fim de
mantermos o Plenário organizado — sei que, quando o Ministro se levanta, há
sempre grande balbúrdia —, pois o Relator pediu para usar a palavra por poucos
minutos.
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Com certeza, a participação de V.Exa. foi muito importante e nos ajudou
sobremodo.
Concedo a palavra ao Relator, Deputado Leonardo Picciani.
O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, peço a atenção do Plenário: vou falar a respeito da apresentação do
parecer, que havíamos marcado para hoje à tarde.
Em razão da participação do Ministro Palocci, que nos trouxe grande número
de elementos à reflexão, e dos vários pedidos que temos recebido dos agentes
interessados no assunto para que possam ainda apresentar sugestões — e o
Presidente Henrique Fontana tem me reiterado a solicitação para que ouçamos
essas novas sugestões —, consulto o Plenário e o Presidente da Comissão sobre a
possibilidade de marcarmos a leitura do parecer para a próxima terça-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Concedo a palavra ao
Deputado Alberto Goldman. Peço a S.Exa. que seja breve.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Os dados e as opiniões trazidos
pelo Ministro Palocci têm um peso muito grande e convergem, inclusive, com as
opiniões de muitos que integram esta Comissão. Seria muito útil que pudéssemos
utilizá-las.
Na verdade, seria estranho que o parecer fosse apresentado hoje, uma vez
que o Ministro Palocci acabou de nos falar sobre o tema da proposição. É como se
as opiniões de S.Exa. não tivessem valido nada. É claro que elas são muito
relevantes, têm grande valor, e, portanto, acho muito importante que a leitura do
parecer seja feita na próxima terça-feira.
Quero deixar claro que temos interesse — inclusive, o PSDB sugeriu isso —
em que a votação da legislação sobre as Agências seja feita em plenário no dia 6.
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O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Deputado Alberto Goldman, foi
importante a vinda do Presidente João Paulo Cunha à Comissão para que
pudéssemos dar esse encaminhamento. Confirmou-me S.Exa. que a Presidência da
Casa pretende marcar a votação em plenário para o dia 6 de julho.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - A previsão feita às Lideranças é
de que seja no dia 6 de julho. Até lá temos ainda pouco mais de 2 semanas para
discutir na Comissão e aperfeiçoar o projeto, o que é interesse de todos nós.
É importante ressaltar que — a experiência na Casa nos mostra e o Ministro
Palocci sabe muito bem disso — se o projeto sair daqui bem concertado, passará
pelo Senado muito rapidamente, a exemplo do que ocorreu com a Lei Geral de
Telecomunicações. Um projeto bem articulado nesta Câmara passa muito rápido
pelo Senado; um projeto mal articulado aqui passa meses naquela Casa e acaba
saindo de lá totalmente diferente, e cria-se uma enorme balbúrdia.
Então, vale a pena a proposição ficar um pouco mais de tempo nesta Casa,
para que saia daqui bem afinada com a opinião de todos nós.
O SR. DEPUTADO ELISEU RESENDE - Também concordo com o Deputado
Alberto Goldman, Sr. Presidente. O Relator precisa, efetivamente, de tempo para
assimilar os ensinamentos obtidos da Ministra Dilma Rousseff ontem e do Ministro
Palocci hoje. Espero que S.Exa. contemple no seu parecer esses ensinamentos e
que, na terça-feira, possamos examinar um trabalho que venha a esta Comissão de
forma mais bem elaborada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito bem. Então, na
próxima terça-feira será feita a leitura do parecer. Estão encerradas as audiências
públicas.
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Antes de encerrar esta reunião, agradeço ao Ministro Palocci a contribuição e
desejo a S.Exa. um bom trabalho, para que a economia nacional continue
crescendo.
Está encerrada a reunião.