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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL EVENTO: Audiência Pública N°: 0176/07 DATA: 20/3/2007 INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 20h16min DURAÇÃO: 05h02min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 05h01min PÁGINAS: 87 QUARTOS: 61 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO MAURO SPÓSITO - Representante do Departamento de Polícia Federal. Coordenador de Operações Especiais de Fronteira. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - General-de-Exército. Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência — ABIN. SUMÁRIO: Debate sobre Relatório de Situação, elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia — GTAM. OBSERVAÇÕES Há oradores não identificados. Houve exibição de imagens.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E … · Web viewAcho que a nossa obrigação — e não sou mais Deputada de Oposição — é regulamentar o uso econômico das riquezas existentes

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DE DESENVOLVIMENTO REGIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 0176/07 DATA: 20/3/2007INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 20h16min DURAÇÃO: 05h02minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 05h01min PÁGINAS: 87 QUARTOS: 61

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOMAURO SPÓSITO - Representante do Departamento de Polícia Federal. Coordenador de Operações Especiais de Fronteira.MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - General-de-Exército. Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa.MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência — ABIN.

SUMÁRIO: Debate sobre Relatório de Situação, elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia — GTAM.

OBSERVAÇÕESHá oradores não identificados.Houve exibição de imagens.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Declaro aberta a

presente reunião de audiência pública, promovida pela Comissão da Amazônia,

Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional em atendimento ao

Requerimento nº 4, de 2007, de minha autoria, destinada à discussão do Relatório de

Situação elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia — GTAM.

Inicialmente, cumprimento todos os presentes, em especial os expositores,

que convido para compor a Mesa: Sr. Márcio Paulo Buzanelli, Diretor-Geral da

Agência Brasileira de Inteligência — ABIN; Sr. Maynard Marques de Santa Rosa,

General-de-Exército e Secretário de Política, Estratégica e Assuntos Internacionais

do Ministério da Defesa; Sr. Mauro Spósito, Delegado, representante da Polícia

Federal e responsável pela Coordenação-Geral de Operações Especiais de

Fronteira.

Agradeço também às Sras. e aos Srs. Deputados a presença.

Dando continuidade à presente reunião, informo que a lista de inscrição para

os debates encontra-se sobre a mesa. O Parlamentar que desejar interpelar os

expositores deverá dirigir-se primeiramente à Mesa para registrar o seu nome.

Esclareço aos Srs. Parlamentares e expositores que a reunião está sendo

gravada para posterior transcrição. Por isso, solicito a todos que, durante as

exposições e interpelações, manifestem-se ao microfone.

Informo ainda que os convidados não poderão ser aparteados no decorrer de

sua exposição. Somente após os Deputados poderão fazer as suas interpelações,

tendo cada um o prazo de 3 minutos, e o interpelado, igual tempo para resposta,

facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo. Os apartes e as interpelações

deverão ser feitos estritamente quanto ao assunto objeto da convocação, nos termos

regimentais.

Solicito às senhoras e aos senhores presentes que façam silêncio para que

possamos dar início à audiência pública.

Deputado Marcio Junqueira, muito obrigada pela presença.

Dou início a esta reunião de audiência pública.

De acordo com acerto prévio feito com os convidados, darei início às

exposições na ordem inversa da chamada para a composição da Mesa.

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Supervisor.:Cláudia Luiza
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Sessão:0176/07 Quarto:2 Taq.:Andréa Nogueira Rev.:Gilberto
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Sessão:0176/07 Quarto:1 Taq.:Andréa Nogueira Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Informo o recebimento de comunicado assinado pelo Deputado Marcio

Junqueira, solicitando o registro da presença da Deputada Estadual Aurelina

Medeiros, representante do Governador do Estado de Roraima, bem como do Dr.

Washington Pará de Lima, que representa o ITERAIMA — Instituto de Terras e

Colonização de Roraima. Muito obrigada a V.Sas. pela presença.

De acordo com o Regimento, cada expositor dispõe do prazo de 20 minutos

para as suas manifestações. Assim, concedo a palavra imediatamente ao Dr. Mauro

Spósito, representante da Polícia Federal.

O SR. MAURO SPÓSITO - Sra. Presidenta, antes de mais nada, em nome do

Departamento da Polícia Federal, agradeço a V.Exa. o convite recebido.

Vou tentar apresentar em alguns slides como a instituição verifica os

problemas amazônicos no que tange às suas atribuições constitucionais. É uma

série de slides que tentarei apresentar o mais rapidamente possível. (Pausa.)

(Segue-se exibição de imagens.)

Seria até didático falar acerca da Amazônia, posto que temos a Amazônia

Continental, a Amazônia brasileira, a Amazônia Legal. Assim, apenas a título de

exemplificação, estamos falando pura e unicamente da Amazônia brasileira; não

estamos querendo verificar os reflexos em outros países.

O primeiro problema com que nos defrontamos na Amazônia refere-se ao

narcotráfico, não pela ação naquela região, mas, sim, pela influência dos países

produtores de cocaína. No mundo, apenas 3 países produzem coca: Peru, Bolívia e

Colômbia, com os quais a Amazônia tem fronteira. Portanto, quando falamos de

narcotráfico na América do Sul, falamos do tráfico organizado de cocaína.

O Brasil possui 8 mil quilômetros de fronteira com os países produtores de

coca, o que significa pelo menos 2 vezes a fronteira dos Estados Unidos com o

México, isso para que V.Exas. tenham a dimensão da distância que temos a cobrir.

Os plantios de coca estão todos situados na banda oriental da Cordilheira dos

Andes, nas cabeceiras dos rios que formam a Bacia Amazônica. Portanto,

verificamos, nestas manchas amarelas, tanto na Bolívia quanto no Peru e na

Colômbia, a situação dos plantios de coca existentes na América do Sul.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Este é o quadro que formulamos acerca dos plantios de coca em toda a

região. Como podemos ver, nos últimos 10 anos, sempre estamos oscilando na

média de 200 mil hectares de folhas de coca plantados no continente sul-americano.

É importante também mostrar o sistema básico de produção da cocaína.

Temos de ter em mente que existem 2 derivados da folha de coca, utilizados para

produção de entorpecente: a pasta-base de cocaína e o cloridrato de cocaína.

A pasta-base de cocaína é feita na etapa anterior ao refino da coca. Colhem-

se as folhas, que posteriormente são transformadas em pasta de coca; que é

transformada em pasta-base de cocaína, até transformar-se, se refinada, em

cloridrato de cocaína, o sal da cocaína, elemento que pode ser aspirado e absorvido

pelas mucosas.

Quanto à exploração mineral, o que verificamos? Além dos garimpos e das

empresas mineradoras, essas atividades são utilizadas tanto para a lavagem de

dinheiro quanto para a evasão de divisas. Mas, fundamentalmente, se analisarmos o

quadro de exploração mineral na Amazônia, verificaremos que 80% das empresas

que fazem exploração mineral são estrangeiras, acobertadas por nomes de

empresas nacionais. Posso garantir que pelo menos 20% do território amazônico

estão cobertos por títulos minerários em nome de empresas brasileiras, que, na

realidade, pertencem a estrangeiros. Por exemplo: em Rondônia, o Garimpo

Roosevelt, bem comentado, está totalmente loteado em nome de empresas

estrangeiras.

A Polícia Federal trabalha fundamentalmente na proteção das áreas

indígenas, em defesa da conservação de suas tradições e de sua cultura. Porém, há

muita influência externa. Em 2005, a Declaração de Mar del Plata nos deu clara

dimensão de que o desejo dos povos indígenas é o de alcançar livre determinação

de constituição política. Isso é patrocinado por algumas entidades que vêm de fora.

Quem dá condição aos índios de se mobilizarem são organismos estrangeiros, que

geralmente pouco conhecem a realidade amazônida.

Outro aspecto: o extrativismo. A população ribeirinha, que lá está por opção,

fixa as nossas fronteiras. Costumo dizer que nós, da Polícia Federal, lá estamos

porque recebemos verba do Governo, que nos paga diárias e condução; mas aquela

população ribeirinha realmente demarca a nossa fronteira. E não recebe nenhuma

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Sessão:0176/07 Quarto:3 Taq.:Márcia Luisa Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

benesse por isso; paga os mesmos impostos e não é reconhecida por isso. Então, é

fundamental levar a presença do Estado àquela comunidade ribeirinha.

Outro ponto: as ONGs. O que vem a ser uma ONG? Num contexto de

inúmeras organizações, algumas com as melhores intenções, outras com péssimas

intenções, a ONG nada mais é do que o agrupamento de pessoas que visam influir

em políticas públicas, ou seja, fazer lobby. Se não tivermos regulamentação básica a

respeito disso, não poderemos diferenciar o joio do trigo. E, fundamentalmente,

ONGs que fazem um trabalho maravilhoso terão seus nomes manchados por outras

que praticam o mal.

Outro aspecto relevante é o da Zona Franca de Manaus. Instituída para

impulsionar o desenvolvimento regional, ela é o principal pólo de desenvolvimento

de toda a Amazônia Ocidental. Mas a série de fraudes perpretada contra o programa

pode transformar a Zona Franca num paraíso fiscal. Se houver a sua

desconstituição, teremos enormes prejuízos. Alguns dizem que voltaremos a ser

porto de lenha e que todos os grileiros, para ocupar a terra, secarão a água.

Portanto, é fundamental a permanência da Zona Franca de Manaus e a criação de

instrumentos que fiscalizem qualquer desvio naquela área.

Outra questão: o terrorismo. Não há terrorismo em território brasileiro. Porém,

temos problemas em nossas fronteiras. Há um movimento insurgente na Colômbia,

que há mais de 40 anos sobrevive naquela região e de cujo componente militar

temos claro conhecimento. Todos sabemos quem é o líder do componente militar e

onde se encontra, mas sabemos também que é uma organização político-militar,

cujo efetivo político está diluído em movimentos indígenas, camponeses, sindicais,

partidos políticos e organizações não-governamentais.

Contudo, essa insurgência junto à Colômbia não nos interessa. Se querem

tomar o poder naquele país, é problema deles. O que nos preocupa é que eles

dominam as áreas de produção de cocaína, bem junto à nossa fronteira. É para isso

que está voltada a nossa atenção, assim como para o recrutamento indiscriminado.

Tenho aqui algumas imagens que mostram o recrutamento de crianças indígenas

pelas FARC.

Outro problema é o movimento insurgente, porém emergente, do

Tawantinsuyu, a reformação da pátria inca, que dá margem ao movimento

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Sessão:0176/07 Quarto:4 Taq.:Andréa Nogueira Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

revolucionário tawantinsuyana e engloba diversos movimentos insurgentes, tanto da

Bolívia quanto do Equador, da Colômbia e do Peru. Esse movimento visa à

reconstituição do território inca, com fracionamento.

A outra questão é política, basicamente a origem do dinheiro que financia

campanhas eleitorais. Já tivemos problemas com financiamentos de campanha

feitos por organizações do narcotráfico. Portanto, damos atenção especial a essa

questão.

A questão do meio ambiente, se não é a fundamental, é uma das mais

relevantes para nós. Hoje, vive-se período de choque entre o antropocentrismo e o

ecocentrismo na Amazônia, onde está a maior floresta tropical do planeta, além de

ser um dos maiores ecossistemas mundiais; uma reserva de energia limpa,

reguladora dos efeitos climáticos e que passou a fazer parte da agenda global,

sendo eixo fundamental da segurança internacional. Este novo tema — “segurança

internacional” — tem de ser avaliado com muito cuidado e, em termos práticos,

muito bem definido. Por exemplo: se eu não cuidar do meu quintal e nele deixar

crescer mato, meu vizinho vai julgar-se com legitimidade para vir limpá-lo. Portanto,

essa é uma preocupação muito grande.

Um professor nos apresenta a segurança ecológica como princípio de

segurança coletiva e nos dá clara demonstração do que é o meio ambiente para a

comunidade internacional. Temos aqui a reprodução de uma entrevista concedida

por Thomas Barnett à revista Época, em dezembro de 2004, em que mostra, neste

novo desenho, se há algum risco de o Brasil perder a Floresta Amazônica.

Ele diz o seguinte:

“Não vejo risco. Muito pelo contrário. O Brasil

precisa — e está bem-sucedido nisso — gerar

transparência na Bacia Amazônica para impedir tráfico de

drogas, pilhagem ambiental e que terroristas busquem

refúgio na floresta”.

Essas são basicamente as palavras do Pentágono.

Outro problema que enfrentamos, relacionado à questão ambiental, é o da

biopirataria, da qual até agora não temos definição clara. É grande a dificuldade de

combater o que não está conceituado. Então, necessitamos desse instrumento.

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Sessão:0176/07 Quarto:5 Taq.:Zagotto Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O último dos 10 problemas que enfrentamos diz respeito às questões

fundiárias e aos projetos da região amazônica. O choque cultural com a expansão

das fronteiras agrícolas na região ocasiona uma série de conflitos fundiários,

responsáveis por 61% das mortes havidas em conflitos fundiários em todo o território

brasileiro.

Quando há expansão da fronteira agrícola, quando há maior projeção para

aquela região, encontramos ainda a área com ausência do Poder Público. Fizemos

um levantamento para traduzir o porquê disso e daquilo e não encontramos

nenhuma novidade.

Em 1991, a Universidade de Nova Iorque patrocinou um estudo para 7

universidades colombianas, para saber por que a Colômbia tinha aquela cultura de

violência . As 7 universidades concluíram que a ausência do Poder Público foi o

fomento para que tudo acontecesse.

Então, para eliminar o problema, nada mais é preciso do que a presença do

Poder Público em 61% do território brasileiro.

Esses são os problemas verificados pela Polícia Federal.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradecemos a

participação ao Dr. Mauro Spósito, que não usou nem o tempo integral. Muito

obrigada pela colaboração.

Na seqüência, passo a palavra ao General-de-Exército Maynard Marques de

Santa Rosa, que aqui representa a Secretaria de Política, Estratégica e Assuntos

Internacionais do Ministério da Defesa.

V.Sa. dispõe de 20 minutos.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Tenho muita satisfação

em poder contribuir para o debate de temas amazônicos, que nos são muito caros.

Agradeço, então, o espaço proporcionado pela Sra. Presidenta, nobre Deputada

Vanessa Grazziotin, para que isso fosse possível.

Para obedecer, então, ao princípio da objetividade, vou seguir raciocínio

montado em slides, conforme a mesma orientação seguida pelo Delegado Mauro

Spósito.

(Segue-se exibição de imagens.)

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O objetivo desta minha breve e singela apresentação é o de comentar

aspectos da agenda amazônica sob o enfoque da Defesa Nacional.

Vou começar invocando uma idéia-força transplantada dos Pampas para o

Médio Amazonas. O índio Sepete Araju, no ano de 1755, resistindo à ordem de

despejo das populações indígenas emitida pelas Coroas de Espanha e Portugal,

quando dos acertos do Tratado de Madri, revoltou-se ante a imposição do

estrangeiro. Então, na presença do Comandante português, quando feito prisioneiro,

declarou: “Esta terra tem dono”.

A 16ª Brigada de Infantaria Motorizada, sediada no Rio Grande do Sul, foi

transferida na década de 90 para a Amazônia e levou junto a idéia-força que hoje

anima todos os soldados brasileiros que servem na Bacia Amazônica: “Esta terra

tem dono”.

Inicialmente, vamos ver alguns aspectos que podem ter efeitos geopolíticos.

Sob a égide do art. 142 da Constituição, vamos abordar apenas aqueles que podem

requerer intervenção da Defesa Nacional.

O primeiro: a questão ecológica, o aquecimento global.

Mais de 90% do dióxido de carbono, o gás causador do efeito estufa, são

lançados na atmosfera pelos países desenvolvidos e pela China. Segundo as

medições recentemente publicadas, o Brasil é responsável por 6% das emissões,

sendo que 3% decorrem das queimadas e 3% da produção industrial nacional.

Somente o pool dos 7 países desenvolvidos é responsável por 91,9% do lançamento

de dióxido de carbono na atmosfera.

O Protocolo de Kyoto, ratificado por 84 países e em vigor desde que a Rússia

a ele aderiu, instituiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo — MDL, que consiste

numa série de pré-requisitos para investimentos e nos créditos de carbono,

potencialmente favoráveis na medida em que serviriam de fonte de captação de

recursos para o Brasil, desde que não implicassem a perda da soberania nacional.

É nesse ponto — e aí está a maior causa de polêmicas — que mais importa o

papel desempenhado pela hiléia, a Floresta Amazônica. Procurei extrair aspectos

cientificamente comprovados.

Segundo o pesquisador Flávio Luizão, que trabalha em Belém, a hiléia já foi

savana há 14 mil anos. Essa constatação científica decorre da evolução das

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Sessão:0176/07 Quarto:6 Taq.:Kátia Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

mutações climáticas. A vegetação evita a desertificação do solo quaternário, o que

também é cientificamente comprovado, de tal modo que florestas em terreno

sedimentar em solo quaternário têm de ser preservadas ou, de outra forma, haverá a

desertificação da área.

Ficou igualmente comprovado — aliás, depois de muitos debates na CPI da

Amazônia, do Senado — que a floresta não é fonte emissora de gás carbônico.

Estudos recentes comprovaram que ela funciona como sumidouro de parte do

excesso de CO² atmosférico, absorvendo 25% do dióxido de carbono existente na

atmosfera.

Segundo o cientista alemão Harold Sioli, a proporção de absorção é de 1 a 6

toneladas de carbono por hectare/ano.

Infelizmente, essa comprovação científica nos obriga a uma consideração

sobre o papel da hiléia no clima mundial.

A Constituição Federal, em seu art. 225, §4º, diz que a Floresta Amazônica é

patrimônio nacional, e sua utilização deve obedecer a diretrizes de manejo

ambiental. Ora, se o Brasil, por intermédio da floresta, absorve 25% e apenas polui

6%, tem crédito de 19% para poluir a atmosfera do planeta. Ou, então, alguma

contrapartida tem de ser proporcionada para que nós a preservemos para os outros.

Outras agressões ambientais são desmatamento, degradação do solo,

devastação das nascentes, assoreamento dos rios e contaminação da água. Já há

legislação reguladora, mas é preciso que se dê eficácia ao seu cumprimento.

Também interfere nesse tema a pressão migratória.

Eu procurei copiar um mapa do IBGE que tivesse a distribuição filiforme da

população na Bacia Amazônica.

A população está desdobrada ao longo dos rios e das estradas, concentrada

em pólos que são os núcleos urbanos e os grandes centros urbanos: Manaus,

Belém e demais Capitais.

O interland é desse povoado; essa é uma característica do ambiente. No

entanto, desde que se criou Brasília e passou a haver o povoamento do

Centro-Oeste, formou-se pressão migratória que, desta região, segue os vales dos

rios afluentes da margem direita do Rio Amazonas e as estradas abertas. Essa

pressão migratória requer atenção e preocupação porque é inexorável. Não é

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Sessão:0176/07 Quarto:7 Taq.:Kátia Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

possível detê-la. No entanto, é possível acompanhá-la, apoiá-la e controlar as

condições em que ocorre, sobretudo no sul do Pará, na direção do Vale do Rio

Madeira e dos vales amazônicos orientais, na direção do Tocantins e do Araguaia.

Aqui foram apresentadas, portanto, algumas sugestões para embasar

possíveis políticas públicas ligadas ao problema que estudamos.

Para a política de ordenamento territorial, sugere-se substituir o conceito de

preservação pelo de equilíbrio. Preservar, sim, quando impositivo, como no caso

daquelas florestas desdobradas em solo quaternário. Quanto às demais, quando

necessário. Não se pode quebrar o equilíbrio; o equilíbrio tem de ser preservado,

mas a floresta não necessariamente — depende do efeito político que se pretenda.

Repito: essencial é a preservação das florestas de solo quaternário.

Temos aqui outra sugestão: interiorizar os órgãos federais. Em vez de se

concentrar em Manaus, Belém, Porto Velho e Boa Vista, a burocracia deve ser

interiorizada, sobretudo na faixa de fronteira demográfica, em pontos que requerem

atenção pela dinâmica da evolução do processo.

Pela experiência já obtida no campo da segurança, sugere-se também ação

integrada mediante gabinete de gestão.

Outro ponto que também interfere, já citado pelo Delegado Mauro Spósito, é o

da ideologia, principalmente manifestada por intelectuais que nunca moraram na

Amazônia e que, de Ipanema, do Leblon ou de Belo Horizonte, postulam idéias

conservacionistas.

Cito um pensamento do grande filósofo alemão Nietzsche: “As convicções

são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

E, como curiosidade, a respeito da intrusão em assuntos amazônicos,

sobretudo sob o enfoque ideológico, informo que 250 mil ONGs operam no Brasil,

sendo que 29 mil recebem recursos governamentais e, destas, 320 foram

cadastradas na Amazônia. Há estimativas de até 100 mil ONGs operando hoje na

região amazônica. O problema são as motivações ocultas: existem as que se

interessam em estar presentes; mas muitas estão a serviço dos interesses

internacionais. Sabe-se, por exemplo, que existem ONGs patrocinadas por recursos

de órgãos de inteligência dos países centrais. Temos certeza de que existem

patrocínios de ONGs. Então, quando um órgão de inteligência patrocina uma delas,

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Sessão:0176/07 Quarto:8 Taq.:Daisy Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

visa a benefício na forma de busca de informações para alimentar o sistema. E as

ONGs têm acesso à mídia.

Estou fazendo constatações e não vou aprofundar o debate porque o assunto

já foi abordado pelo Delegado Mauro Spósito.

Quanto ao problema ecológico, surge o seguinte dilema: desenvolvimento

versus preservação in natura. O conceito de desenvolvimento sustentável indica a

necessidade de exploração dos recursos naturais com respeito ao meio ambiente.

Os projetos sempre devem ser precedidos do Estudo de Impacto Ambiental.

A ideologia do interesse da humanidade, patrocinada por um pool de ONGs

bastante atuantes no exterior, sobretudo na Alemanha e no Reino Unido, postula a

preservação in natura, o que corresponde ao desenvolvimento zero da região.

Citamos o exemplo de desenvolvimento sustentável que tem sido dado como

exemplo pelo respeito que inspira em organismos internacionais: o Projeto Urucu, da

PETROBRAS. Referência internacional pela eficiência, prova que se pode

tranqüilamente explorar o recurso natural sem ameaçar o meio ambiente.

Também suscita preocupação a problemática indígena, a demarcação de

terras principalmente, assunto bastante polêmico e que é sensível aos aspectos de

segurança nacional.

O art. 231 da Constituição Federal estabelece que são reconhecidos aos

índios os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União

demarcá-las.

Em função desse preceito, cria-se a motivação para pressionar os Governos

quanto à demarcação de terras indígenas. Hoje, temos 294 terras indígenas

demarcadas, a demarcar ou em processo de demarcação na Região Norte. São 80

milhões e 229 mil hectares, o que corresponde a 83% do total de terras indígenas do

território nacional.

A Constituição Federal, no art. 91, §1º, estabelece as atribuições do Conselho

de Defesa Nacional. Especificamente no inciso III prevê o seguinte:

“Art. 231.....................................................................

§ 1º. ..........................................................................

III - propor os critérios e condições de utilização de

áreas indispensáveis à segurança do território nacional e

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de

fronteira e nas relacionadas com a preservação e a

exploração dos recursos naturais de qualquer tipo”.

No entanto, o Decreto nº 1.775, de 1996, que regula a demarcação de terras

indígenas, omite a necessidade de parecer do Conselho de Defesa Nacional,

mesmo na faixa de fronteira. Esse ponto merece atenção.

Outro ponto também merece atenção: os índios têm direito a usufruto e não à

posse nem à propriedade da terra.

Quanto às reservas indígenas demarcadas na faixa de fronteira, são estas

aqui no mapa. É preocupante para a Defesa Nacional a dificuldade de controle do

que se passa no interior destas vastas áreas, algumas de enorme potencial.

Procurei incluir aqui a sobreposição das áreas restritas, os corredores

ecológicos e as terras indígenas, a áreas de interesse estratégico, principalmente na

faixa de fronteira.

Reservas minerais e faixa de fronteira: a imagem é auto-explicativa. Há

coincidência, inclusive, com algumas províncias minerais.

Outro ponto a respeito da problemática indígena é o da integração versus a

segregação de populações indígenas. A população amazônica é resultado de

miscigenação e de movimentos migratórios, sobretudo de nordestinos.

Publicação do IBGE, atualizada, diz o seguinte quanto à população

amazônica: mestiços — quase 70%, principalmente de etnia indígena e mesclada

com o branco; população branca — menos de 25%; negros — 3,9%; índios —

apenas 2,7%.

A composição da sociedade amazônica indica a tendência de assimilação dos

brancos pelos nativos. Tal fenômeno sociológico deve ser considerado, até porque,

em alguns países, inclusive da América, a população indígena foi extinta. Ao longo

da história, eles absorveram os contingentes brancos que vieram posteriormente.

A Constituição Federal omite o preceito de integração do índio que constava

das anteriores. No entanto, o Estatuto do Índio — Lei nº 6.001 — prevê a integração

progressiva e harmoniosa das comunidades indígenas à comunhão nacional.

Aqui temos alguns preceitos que interferem na avaliação desse problema.

O art. 3º da Constituição Federal reza o seguinte:

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Sessão:0176/07 Quarto:9 Taq.:Tereza Augusta Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil:

..................................................................................

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de

origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas

de discriminação”.

E o art. 5º diz:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem

distinção de qualquer natureza (...)”.

Conseqüentemente, a preservação dos grupos indígenas que se quer impor

— in natura, deixando-os intocados — é discriminatória, contrária ao princípio de

que todos os seres humanos têm direito ao progresso e ao livre arbítrio. Quem tem

de optar entre continuar no estágio civilizatório ou avançar são as comunidades

indígenas e não antropólogos ou outras figuras, principalmente do exterior. À luz da

Constituição Federal, há uma única nação e um único povo. Não existem povos nem

nações.

O ponto seguinte, que suscitou comentários, diz respeito a contradições da

Reserva Ianomâmi, demarcada em 1991. Após pressões internacionais, o Governo

do Reino Unido manifestou a intenção de boicotar a ECO-92, se a reserva não fosse

demarcada de forma contínua. Estava prevista a demarcação descontínua. A área

representa 1.600 quilômetros de fronteira; 9,6 milhões de hectares para 6.700 índios

— o que significa 1.432 hectares por índio, segundo o que foi previsto. Fazendo uma

comparação, podemos dizer que Portugal, Áustria, Holanda, Bélgica e Hungria são

menores do que a Reserva Ianomâmi.

A edição do Jornal do Brasil do dia 27 de janeiro de 2007 diz o seguinte:

“Uma área ianomâmi plantada de dendê equivale a 1,3% da bioenergia da Arábia

Saudita”.

A respeito da problemática indígena, a maior preocupação incide no Estado

de Roraima. Aqui estão destacadas as áreas que o Estado não pode utilizar para o

seu desenvolvimento econômico e social — as áreas indígenas estão em vermelho.

Neste mapa, coincidentemente, estão as incidências minerais já comprovadas. Há

muitas reservas não comprovadas, como é o caso do urânio que existe na Reserva

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Sessão:0176/07 Quarto:10 Taq.:Jacira Rev.:Gilberto
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Raposa Serra do Sol e que ainda não consta dos relatórios do Departamento

Nacional de Produção Mineral — DNPM.

Outro ponto que merece atenção é o do interesse estrangeiro. Incluí alguns

dados representativos, entre eles o parecer do Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente — PNUMA. Em 2004, o Diretor do PNUMA fez pronunciamentos

agressivos ao Brasil, defendendo que a biodiversidade da floresta é patrimônio

comum da humanidade.

Motivo de preocupação também foi a Cúpula de Haia que ocorreu em março

de 1989, convocada pelo então Primeiro-Ministro da França, Michel Rocard, a fim de

ser discutida a proteção da atmosfera. Participaram do evento 24 países. O Brasil foi

representado pelo Embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima.

Os objetivos ocultos da cúpula eram a criação de uma entidade supranacional

para administrar a questão ambiental amazônica e sanções contra os países que

apresentassem má conduta em matéria de proteção ambiental. O texto final previa a

criação de uma entidade supranacional, mas a diplomacia brasileira conseguiu diluir

a proposta, ficando todos os trópicos úmidos e não apenas a Amazônia, e tendo as

decisões caráter congênito, por meio do Tribunal Penal Internacional.

Os Estados Unidos não são signatários da Cúpula de Haia.

Extraí um trecho do relatório final da CPI da Amazônia:

“A Floresta Amazônica como pulmão do mundo é

uma falácia originada de um erro de jornalista e mantida

graças à ignorância generalizada de botânica e de

geofisiologia. Ao contrário das florestas, são os oceanos,

por suas algas e fitoplânctons, os grandes responsáveis

pela produção e acúmulo do oxigênio na atmosfera

terrestre”.

Outro ponto que também merece atenção é o seguinte: o ex-Secretário-Geral

da ONU tem postulado que a Amazônia, enquanto patrimônio da humanidade, deve

ser submetida a um sistema internacional de tutela, baseado na Carta das Nações

Unidas. Sugere que os países amazônicos voluntariamente coloquem o território sob

a jurisdição do Conselho de Tutela.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Feita essa abordagem, vou rapidamente citar a integração sul-americana, que

constitui preocupação dos países condôminos da Bacia Amazônica e da América do

Sul.

Neste mapa estão desdobrados os principais centros de poder do Brasil, os

pólos regionais e os corredores de integração, de forma esquemática. O problema

está aí: a integração só pode ser feita se atravessar áreas sob restrição, como as

reservas indígenas apresentadas no mapa.

Ou o Brasil faz a integração, ou não faz. Só existirá o mercado sul-americano,

se houver integração. E, para fazê-la, é preciso resolver as restrições artificiais.

Passando à questão da defesa, gostaria de falar sobre algumas tendências.

Está estabelecida pelo Governo, desde 1995, a série histórica que congelou os tetos

orçamentários das instituições militares. Por outro lado, o esforço que o estamento

militar vem fazendo para cumprir o seu dever de casa na Amazônia está desdobrado

ali à direita: a evolução dos efetivos do pessoal. Aqui foi incluído apenas o do

Exército. Em 1986, tínhamos 6 mil homens na Bacia Amazônica; hoje, temos 27 mil.

Apesar de o orçamento estar decrescendo, o efetivo está aumentando, o que

comprova o esforço militar para ocupar a Amazônia.

Finalmente, vamos ver os aspectos do Programa Calha Norte. A área de

jurisdição do programa inclui a Calha Sul também. Os Estados de Rondônia e Acre e

todos os seus municípios foram inseridos no Programa Calha Norte.

Está é a evolução do orçamento do Calha Norte. Vejam V.Exas. que, de 2005

para 2007, houve um pico, principalmente da vertente desenvolvimentista do

programa.

Este é o resumo geral das vertentes civil e militar. A parte menor representa

os investimentos militares, e a parte maior, os civis.

Observem que, para 2007, a previsão é de 275 milhões de reais de

investimento no Programa Calha Norte, a serem aplicados na construção de infra-

estrutura econômica e social na faixa de fronteira.

Concluindo, vou lançar uma pergunta: qual é o futuro que o Brasil deseja para

a sociedade amazônica, os índios e os recursos naturais? O Brasil deseja manter a

Amazônia subdesenvolvida?

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Sessão:0176/07 Quarto:11 Taq.:Rosana Rev.:Eliana
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

A Amazônia contribuiu com 6% do PIB nacional. Como disse o Dr. Spósito,

61% do território nacional contribuem com 6% do PIB. Desejamos congelar essa

situação? E os índios? E os recursos naturais?

Transcrevi a seguinte frase de Euclides da Cunha, dita em 1908:

“Se as nossas autoridades não se preocuparem

com a Amazônia, mais cedo ou mais tarde, ela se

destacará do Brasil natural e irresistivelmente, como se

desprega uma nebulosa de seu núcleo, pela expansão

centrífuga de seu próprio movimento”.

Também aproveitei uma citação do Jornal do Brasil, edição de 28 de janeiro

de 2007:

“A tribo dos brasileiros não aprendeu com os índios

do passado que uma vastidão abandonada desperta a

cobiça de invasores e aventureiros”.

Finalmente, a frase que está fixada na frente de todos os quartéis do Exército

na região amazônica, de autoria do General Rodrigo Octávio, Comandante Militar da

Amazônia de 1969 a 1971, é a seguinte:

“Árdua é a missão de desenvolver e defender a

Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos

antepassados em conquistá-la e mantê-la”.

Encerro a minha participação. Procurei destacar os pontos que podem

produzir efeitos geopolíticos do interesse da Defesa Nacional.

(Não identificado) - Sra. Presidenta, peço a palavra pela ordem apenas para

sugerir que, da apresentação dos slides, seja feita uma encadernação, para que

todos possamos ter acesso ao material. O General Santa Rosa, com certeza, vai

nos ceder o material.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito. Já

solicitamos isso e obtivemos a permissão. Estávamos somente aguardando a

conclusão da palestra.

Vamos providenciar cópias da apresentação do Sr. Mauro Spósito e do

General Santa Rosa, para distribuí-las às Sras. e aos Srs. Deputados.

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Sessão:0176/07 Quarto:12 Taq.:Cristiane Regina Rev.:Cláudia Castro
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Dando seqüência aos nossos trabalhos, passo a palavra ao Sr. Márcio Paulo

Buzanelli, Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência.

Peço a permissão de meus pares para, em nome da Comissão, cumprimentar

o Sr. Buzanelli pelo transcurso do seu aniversário, hoje. (palmas) Receba os nossos

cumprimentos e, ao mesmo tempo, o agradecimento pela presença.

O Deputado Jair Bolsonaro encaminhou-me bilhete avisando do aniversário,

mas nós já sabíamos e íamos fazer a homenagem ao convidado, em nome da

Comissão.

V.Sa. dispõe de 20 minutos, Sr. Márcio Paulo Buzanelli.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Muito obrigado, cara Deputada

Vanessa Grazziotin, Srs. Deputados.

Aproveito o ensejo para agradecer a menção que fez ao nosso natalício a

Deputada Vanessa Grazziotin e também para anunciar a todos que amanhã faz

aniversário o Deputado Jair Bolsonaro. A festa vai ser de S.Exa. amanhã.

É uma satisfação muito grande estar aqui. Agradeço à Comissão a

oportunidade que oferece à ABIN de se apresentar. O serviço de inteligência foi

criado há somente 8 anos, embora a atividade já tenha 80 anos no Brasil, que

também se completam neste ano que estamos vivendo.

Nesta oportunidade vou falar um pouco sobre a ABIN na Amazônia, sobre a

visão que tem sobre essa área tão importante que corresponde a 60% do território

nacional e que tem dados os mais expressivos. Todos os números que tratam da

Amazônia são expressivos.

A grande concentração de biodiversidade está na Amazônia, onde está

localizada a maior floresta tropical do planeta. Isso naturalmente atrai a atenção e o

interesse de pesquisadores estrangeiros e de outras pessoas que utilizam o

mimetismo dessa denominação para, com objetivos não declarados, executar ações

que qualificamos como de agressão à biodiversidade, que a lei brasileira ainda não

tipifica. A Convenção da Diversidade Biológica não tipifica isso, e temos de nos

remeter sempre à Lei de Crimes Ambientais.

Agradeço novamente e com bastante ênfase esta oportunidade.

A Agência Brasileira de Inteligência, embora tenha chegado à Amazônia

talvez por último entre as instituições brasileiras, atua com grande ênfase. Desde o

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

ano passado, promoveu um processo de reforma estrutural e hoje está presente em

toda a Amazônia. Atualmente, existem superintendências estaduais em todos os 9

Estados amazônicos e subunidades estaduais em longínquos rincões da nossa

Pátria, naquela tão importante parte do território nacional. Desde Pacaraima, ponto

fulcral da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima; até Brasiléia e

Cruzeiro do Sul, no Acre; passando por Tabatinga, Tefé, São Gabriel da Cachoeira e

outras localidades do nosso grande espaço amazônico.

Além disso, a Agência Brasileira de Inteligência trabalha na Amazônia em

uma área essencial. Desenvolveu, porque tem competência legal para tal, o

Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento, que visa a diagnosticar situações

de grave ameaça a conhecimentos sensíveis — lá na Amazônia temos os

conhecimentos derivados de métodos tradicionais relativos à biodiversidade — e

promover palestras de sensibilização. Seus integrantes trabalham em parceria com

algumas Organizações Não-Governamentais, visando a orientá-las a se

autoprotegerem.

Temos feito levantamentos sobre biopirataria e verificado que, em lugares

como o Vale do Javari, por exemplo, onde o ecoturismo vem se desenvolvendo com

bastante amplitude, ela é praticada intensivamente, por vezes empregando hotéis de

selva. Visitantes estrangeiros, sob a capa do turismo de selva, têm tido contato com

indígenas das regiões próximas sem o conhecimento e a autorização da FUNAI —

que, devo dizer aqui, embora atuando bastante positivamente, tem dificuldade de

executar o seu trabalho naquela região e também tem acesso a espécies da

biodiversidade.

Este é um tema fundamental: nós ainda não temos a tipificação do crime de

biopirataria. Acredito que deveria haver um esforço do Parlamento no sentido de

buscar a tipificação dessa figura criminal. Nós sempre nos reportamos à Lei de

Crimes Ambientais ou à convenção já mencionada pelo General Santa Rosa,

estabelecida após a realização da ECO-92.

Da mesma forma, quero deixar frisada — porque cabe a ênfase nesse sentido

— observação sobre a atuação das Organizações Não-Governamentais. São

organizações de direito privado, sem fins lucrativos, mas com alcance e objetivos

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Sessão:0176/07 Quarto:13 Taq.:Márcia Moreira Rev.:Cláudia Castro
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

sociais. Muitas delas trabalham positivamente em lugares em que o Estado não está

presente, e na Amazônia nós constatamos isso amiúde.

Dada a grande dimensão territorial, há rarefação da presença do Estado

brasileiro. Então, algumas Organizações Não-Governamentais instituídas em

convênio com setores competentes do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério

da Justiça, por intermédio da FUNAI, vêm realizando ações de Estado. E o fazem

muito bem. Mas existem ONGs que poderiam muito bem responder por crime de

falsidade ideológica, biopirataria — insisto, se estivesse prevista em lei —, evasão

de divisas, lavagem de dinheiro e outros.

A Agência Brasileira de Inteligência, em parceria com outros órgãos

governamentais, em especial a Polícia Federal e o IBAMA, com quem fizemos um

convênio há 2 anos, vem atuando de maneira bastante efetiva nesse sentido,

embora seja um grão de areia na imensidade amazônica. O Estado brasileiro,

embora possua disposição, ainda não tem capacidade de estar presente ali

integralmente.

Quero lembrar um momento importante para a tese. Muito se fala da

internacionalização da Amazônia. Hão de se lembrar todos os amazônicos e

amazônidas aqui presentes que um dos primeiros pensadores brasileiros a tratar da

questão foi o ex-Governador do Amazonas Arthur Cezar Ferreira Reis, que nos anos

1950 escreveu um livro que ainda hoje é básico — está na sua quarta edição;

deveria haver mais — na compreensão desse fenômeno: A Amazônia e a Cobiça

Internacional.

Hão de lembrar todos os que têm memória histórica — uma parte, vejo, é de

jovens, mas refiro-me a todos aqueles que têm interesse na história recente do

Brasil — que na mesma época se deflagrava, a partir da Capital Federal, então Rio

de Janeiro, a campanha O petróleo é nosso. Essa campanha rendeu a pujança que

o Brasil tem hoje na área dos combustíveis minerais, a grande empresa que é a

PETROBRAS. Mas idêntica campanha, no mesmo período histórico, não aconteceu

a partir de um movimento de conscientização, como mencionado, pelo

ex-Governador Arthur Reis.

Vivemos isso neste momento. Muito se discute a internacionalização, e

deveríamos discutir a “nacionalização” — entre aspas —, ou seja, nacionalização no

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Sessão:0176/07 Quarto:14 Taq.:Ângela Ventura Rev.:Cláudia Castro
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Supervisor.:J. Carlos
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

sentido de integração. Por vezes, o Centro-Sul não conhece a Amazônia, não

entende a Amazônia, e precisa compreendê-la para perceber que ali não estão os

problemas, mas as soluções. Uma delas, a do biodiesel, como mencionado pelo

General Santa Rosa. Ali talvez tenhamos a resposta às grandes necessidades de

combustível limpo, de auto-suficiência e de presença maior do Brasil nesse mercado

nos próximos anos, mediante cultivos extensivos de palma de dendê.

Temos pesquisas relevantes feitas por um instituto dos mais importantes do

Brasil e alvo de ações insidiosas de cooptação, de infiltração, por vezes de

espionagem, que é a EMBRAPA. Pesquisas e estudos feitos pela EMBRAPA

demonstram que nós temos essa real capacidade. E a Amazônia, naquele espaço

entre o cerrado e a floresta, fornece o elemento natural para isso. Talvez tenhamos

ali a resposta.

Há outras questões que trago aqui de forma complementar à que já foi

exposta pelos debatedores e expositores que me antecederam. Uma delas é a

questão do crime transnacional, uma das grandes ameaças ao Estado Democrático

de Direito. Nós o temos no nosso subcontinente de maneira tangível, concreta. O

Brasil tem 16 mil quilômetros de fronteira. Mais de 9 mil dos limites fronteiriços do

Brasil pertencem a porções amazônicas que dividimos com países vizinhos. Tal

como mencionado anteriormente, 4 desses países são produtores de drogas de

origem natural. O Paraguai não corresponde à região amazônica, naturalmente, mas

entra nesse contexto porque por lá transita droga que vem também da Bolívia.

Então, Bolívia, Peru e Colômbia são países que resultam para o Brasil, embora não

o façam de moto próprio, em graves problemas, devido às dificuldades de fiscalizar

e controlar tão extensa fronteira.

A nossa fronteira mais controlada e mais fiscalizada, que não fica na região

amazônica, é uma das nossas 10 tríplices fronteiras, a mais comentada: e é onde

ocorre o maior número de ilícitos. Imaginem então todos os senhores e senhoras os

que ocorre nessa extensa, grande e porosa linha de fronteira, particularmente

porque na Amazônia nós temos os rios de penetração, que nascem nas encostas

orientais dos Andes e vêm atravessando o território brasileiro para desaguar no

Oceano Atlântico. Temos o caso do Rio Caquetá, que é o nosso Juruá; do Rio

Putumayo, que é o nosso Içá; o Negro; o Maranhão, que é o nosso Solimões. Enfim,

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Sessão:0176/07 Quarto:15 Taq.:Cristiane Regina Rev.:Cláudia Castro
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

esses rios todos, além daqueles que fazem fronteira natural particularmente com o

Rio Javari, são pontos de entrada de drogas de origem natural produzida nesses

países. Refiro-me em especial à cocaína.

Embora exista o Plano Colômbia, o Plano Consolidación, embora exista o

pesado e grande investimento financeiro que fazem os Estados Unidos em apoio à

contenção da guerrilha e do narcotráfico, hoje as áreas de cultivo de coca na

Colômbia se ampliaram e estão em áreas sob controle das FARC.

Uma das principais frentes de atuação das FARC, que é a Frente 16, atua em

espaço próximo ao território brasileiro na Cabeça do Cachorro, nas proximidades da

Serra do Caparro. Ali ocorre um fenômeno que vem acontecendo também em outros

lugares nessa extensa faixa de fronteira, que é o fenômeno do escambo, da troca de

drogas por armas, que vão alimentar a guerrilha, fortalecê-la na Colômbia, enquanto

a droga que dali se origina entra em território nacional e vai para os países

consumidores.

Apesar da Lei do Abate, apesar da presença das nossas Forças Armadas, em

especial da Força Aérea Brasileira, em regiões de trânsito dessa droga, o fenômeno

ainda ocorre porque os narcotraficantes se utilizam de modelos intermodais de

tráfico, combinando o transporte aéreo com o fluvial e o rodoviário. Com essa

combinação, eles conseguem burlar, iludir a vigilância que com muita dificuldade a

Polícia Federal, as polícias estaduais e, por vezes, as Forças Armadas vêm fazendo

nessas regiões. Em conseqüência disso, hoje verificamos aumento da criminalidade

no Brasil em níveis nunca antes considerados.

Quero aduzir a questão da Bolívia. Desde janeiro de 2006, quando foi eleito o

Presidente Evo Morales, foram adotados procedimentos conjuntos entre Estados

Unidos e Bolívia para a erradicação de coca não-autorizada, visto que a Bolívia tem

áreas em que a coca é produzida de forma legal para uso ritual, nativo, cultural. A

área do Chapare, que é próxima ao território brasileiro, no Trópico de Cochabamba,

vem aumentando sua porção, sua área de cultivo de coca.

Quero lembrar que Evo Morales foi eleito Presidente da Bolívia, mas que

ainda assim continua presidente das 6 confederações de produtores de coca

naquele País. E não poderia deixar de sê-lo, porque daí advém parte de seu poder

político. Ocorre que o controle sobre a produção de coca na Bolívia é bastante

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

insignificante, e a área de cultivo vem aumentando, com um fim único: a produção

de cloridrato de cocaína.

Entretanto, dada a ocorrência de uma operação internacional de grande efeito

e sucesso, que é a chamada Operação Púrpura, hoje o acesso a determinados

reagentes químicos que entram na produção do cloridrato de cocaína é dificultado.

Um deles é o permanganato de potássio — daí o nome da operação, pela sua cor.

Em conseqüência, a qualidade da cocaína proveniente da Bolívia é

baixíssima em termos de alcalóide de cocaína. Essa cocaína que não tem acesso

aos grandes mercados internacionais é a que fica em nosso País para abastecer o

consumo local, por vezes e quase sempre mesclada com todo tipo de pó branco. Aí

temos o consumo mais deletério possível, uma abundância de oferta de drogas nas

Regiões Sul e Sudeste, particularmente.

Outro aspecto muito importante que cabe frisar é a atenção que devemos dar

à estabilidade política, econômica e social nesses países vizinhos.

Comentava o primeiro expositor, o Delegado Mauro Spósito, sobre a questão

do Tahuantisuyo. O que é Tahuantisuyo? O Império Inca foi um dos grandes

impérios indígenas da América, e era chamado de Tahuantisuyo. Correspondia à

área geográfica que hoje compreende vários países. Tinha sua sede em Cuzco, a

capital imperial, e se estendia pela Bolívia, pelo Peru, pelo Equador, enfim. Há um

movimento étnico indigenista que busca recuperar o antigo fausto desse império

com uma proposta diferente, igualmente socialista como era então. Isso está

produzindo uma série de reverberações, o fortalecimento de organizações de

partidos dessa natureza e a construção de um sistema de alianças que pode vir a

produzir reflexos nas relações entre países da América do Sul. Isso também atrai o

interesse das grandes potências no sentido de melhor conhecer esse fenômeno.

Nesse sentido, a aliança Venezuela/Bolívia é algo que devemos levar em

consideração até para evitar situações possivelmente mais delicadas ao interesse

nacional nesses países.

Gostaria de falar um pouco sobre outras questões. Uma delas — e aqui cabe

mencionar, talvez tenha sido o moto e certamente fortaleceu a intenção de realizar

esta audiência pública, que julgo fundamental — foi a publicação do relatório do

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

GTAM pela imprensa, no dia 29 de janeiro; aquele mencionado pelo General Santa

Rosa.

A ABIN tem várias iniciativas voltadas para a Região Amazônica, uma delas

no âmbito SISBIN. O grupo de trabalho da Amazônia não é da ABIN, mas do

SISBIN. Outros órgãos atuam nisso, e os relatórios são feitos com base na

observação do que coletam os que viajam, os que participam, os que testemunham,

os que entrevistam autoridades e técnicos nessas regiões. Então é uma visão muito

pessoal, subjetiva, por vezes, da situação.

Esses relatórios, tal como publicados na imprensa, nos mostram alguns

aspectos que também gostaria de abordar. Um deles é relativo à presença

norte-americana na área. E fico à vontade, sinto-me confortável para tratar disso,

porque em recente passado fui Oficial de Ligação Brasileiro junto a um órgão de

controle e combate a drogas e terrorismo nos Estados Unidos, onde tive

oportunidade de visitar algumas dessas bases que antes nos aguçavam o

conhecimento. Percebi e me manifesto de maneira clara que elas são

exclusivamente voltadas à atuação contra o narcotráfico. Após o 11 de setembro as

prioridades de política externa, a agenda de política externa americana,

particularmente em termos de segurança, se modificaram bastante. O combate ao

narcotráfico reduziu-se bastante, embora se mantenha pontual, em especial na

Colômbia, em detrimento da agenda de combate ao terrorismo. Então essas bases

mencionadas, que a imprensa também noticiou, são voltadas para o narcotráfico.

Algumas já deixaram de existir. O convênio com os países hospedeiros já está

sendo denunciado. Mas isso não significa menor ou maior capacidade de os

Estados Unidos atuarem na região. No entender da ABIN, significa, simplesmente,

que elas estão voltadas para a luta contra o terrorismo. E não vemos, pelo menos

agora, nenhuma tentativa de cerco estratégico ao Brasil, tal como foi mencionado.

Há que se ter equilíbrio na análise de todas essas questões.

Entendo que as questões mais significativas de interesse nacional estão

ocorrendo hoje na Amazônia. Nós — e aqui a responsabilidade é da Câmara, e por

isso saúdo a Deputada Vanessa Grazziotin pela iniciativa — precisamos fazer essa

discussão. É fundamental iniciar uma ampla discussão sobre a Amazônia, inseri-la

no contexto nacional, por meio de processos educativos; falar sobre a Amazônia;

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

envolver o cidadão brasileiro na questão da Amazônia; fazer com que os cidadãos

brasileiros tenham a compreensão do que hoje ocorre na Amazônia; discutir a

presença ou não de imensas jazidas de minerais estratégicos, tais como o nióbio, o

urânio, em áreas que coincidentemente correspondem a terras indígenas, nos

limites, nas terras altas.

Se olharmos desde a Serra do Caparro, na Cabeça do Cachorro, até o

oriente, passando pela Serra do Tumucumaque até as proximidades do Oiapoque,

vamos ver evidências, apontadas pelo DNPM e outros órgãos, da existência de

jazidas de minerais da mais alta importância estratégica. Limitar o tamanho dessas

terras indígenas talvez seja o momento de fazê-lo. Talvez seja o momento de iniciar

uma discussão nesse sentido. Sei que o Senador Mozarildo Cavalcanti tem um

projeto que propõe diminuir o tamanho da reserva indígena Raposa Serra do Sol.

Temos recebido relatórios bastante importantes sobre esse tema. Temos

informações de que indígenas do lado de lá da fronteira da Guiana vieram para o

Brasil antes da demarcação. Temos informações de que algumas malocas,

conhecidas como malocas da homologação, foram ocupadas por indígenas que

eram do lado de lá da Guiana. Há evidências de que o laudo antropológico que deu

origem a isso teria sido falseado também.

Cabe — e a ABIN e outros órgãos federais se dispõem a fazê-lo —, fazer uma

investigação maior nesse sentido. A discussão “desenvolver ou preservar” tem de

estar presente no cotidiano de cada brasileiro, não só do amazônico ou do

amazônida, mas também de todos os brasileiros.

Em 22 de março comemora-se o Dia da Água. Cada vez mais cresce a

discussão sobre a gestão internacional dos bens comuns: as florestas e os recursos

hídricos. Todos sabem que um dos grandes fatores de contencioso entre países é a

falta de fontes d’água, tão abundantes no Brasil.

O Rio Eufrates, que é o rio que deságua em Basra, no Golfo Pérsico, sai da

Turquia e vai para a Síria. A Turquia construiu algumas hidrelétricas e diminuiu a

vazão desse rio, o que levou a uma situação de fricção tão grande entre esses

países que, devido à simetria de poder entre eles, a Síria teve de recorrer ao que

não admite tê-lo feito, ou seja, a grupos que atuam de maneira insurgente, fazendo

terrorismo mesmo dentro da Turquia — curdos, armênios e outros. Talvez amanhã o

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Sessão:0176/07 Quarto:18 Taq.:Cristiane Regina Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

mundo tenha de entrar em conflito pela questão da água. Relatórios da ONU

apontam nesse sentido. E o Brasil tem essa benevolência que Deus nos deu em

termos de recursos hídricos de toda ordem. Cabe-nos preservá-los.

A Agência Brasileira de Inteligência — e falo isto com grande orgulho — é dos

poucos serviços de inteligência que têm “brasileira” no nome. Podem observar KGB,

Mossad, CIA, nenhuma dessas tem o nome do país. A Agência Brasileira de

Inteligência tem no seu símbolo assim escrito “Em defesa do Brasil”. A ABIN é um

daqueles órgãos que se junta aos demais, ao Exército Brasileiro, à Marinha, à Força

Aérea, à Polícia Federal, ao IBAMA, ao DNPM, ao INPA e a outros e empunha essa

bandeira. Temos de marcar muito claramente que quem defende os interesses dos

brasileiros não é uma organização não-governamental, que é financiada pelo

exterior; somos nós, brasileiros.

Muitos se lembram de Bismarck, que é conhecido por uma frase muito

importante, um de seus pensamentos: “Leviano é aquele aprende à custa de sua

própria experiência e não da experiência alheia.” Ele mencionava isso, porque era o

Chanceler de uma Alemanha que se unificava à custa da pressão de adversários

poderosos, da França de então. E ele aprendeu isso com a unificação italiana, que

foi muito dolorosa.

Há outra frase de Bismarck que não é tão conhecida: “Riquezas minerais em

poder de Estados que não podem ou não querem utilizá-las se transformam não em

benefício, mas em ameaça, ameaça a si próprio”. O Brasil tem imensas riquezas que

ainda não estão mapeadas. Vamos protegê-las, vamos preservá-las?! Quem está

preservando para nós?! As ONGs, mas em nome de que interesse?! Para usá-las no

futuro?!

Essas questões são muito candentes.

Para finalizar, quero cumprimentar a todos, especialmente a Presidenta da

Comissão, pela iniciativa de ter convocado esta audiência.

O Brasil precisa conhecer a Amazônia, precisa discuti-la. Só assim vamos

efetivamente ocupá-la, mais do que com a presença humana, com o conhecimento

sobre esse pedaço que, como disse o General Santa Rosa, é nosso, é do Brasil.

Muito obrigado.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - A Mesa agradece ao

Dr. Paulo Buzanelli a participação.

Passaremos para a próxima fase da nossa reunião.

Informo aos Parlamentares que ainda não se inscreveram que a lista de

inscrição se encontra sobre a mesa. V.Exas. podem fazê-lo neste momento.

Passaremos a palavra aos oradores inscritos.

O SR. DEPUTADO ÁTILA LINS - V.Exa. é autora do requerimento, tem

prioridade.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Sou autora do

requerimento, mas, como estou na Mesa, vou abrir mão, temporariamente, dessa

prioridade.

Passo a palavra ao primeiro inscrito, que é o Deputado Márcio Junqueira.

Deputado Márcio, antes gostaria que aprovássemos uma nova metodologia

de trabalho.

De acordo com o Regimento, cada Parlamentar tem direito a 3 minutos para

fazer seus questionamentos e igual tempo, os expositores, para fazerem a réplica e,

em seguida, a tréplica.

Como já temos 13 Parlamentares inscritos, sugiro que os questionamentos

sejam feitos em 3 blocos, com 4 ou 5 Parlamentares em cada um. Ao final de cada

bloco os expositores teriam a palavra para responderem às perguntas. Seriam, no

máximo, 5 minutos. Mais do que isso é exagero, diante de uma relação de

Parlamentares inscritos tão extensa!

Todos concordam com essa metodologia?

O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Deputada, depois dos

questionamentos de 3 Parlamentares ouviríamos as respostas?

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Aí haveria 5 blocos,

Deputado Carlos Souza.

O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Um bloco com mais do que 3

Parlamentares fica muito confuso, Deputada. Perdem-se as perguntas.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Vamos ver a

quantidade de questionamentos.

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Sessão:0176/07 Quarto:19 Taq.:Clóvis Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Os senhores têm capacidade de anotar os questionamentos? Vamos ver, com

o andamento dos trabalhos. Às vezes, não são tantos questionamentos, mas, sim,

uma oportunidade a mais para os Deputados se pronunciarem. Vamos fazer esse

monitoramento.

Todos concordam em levar os trabalhos dessa maneira, por blocos de

Parlamentares? (Pausa.)

Perfeito.

Depende da quantidade das perguntas. A princípio, 4 Parlamentares

comporão um bloco, para não ficarem nem 5 nem 3. A princípio fazemos de 4. A

base do sucesso é a negociação.

Deputado Márcio Junqueira, V.Exa. dispõe, regimentalmente, de 3 minutos.

São 16h47min.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Deputada Vanessa Grazziotin,

primeiro, eu quero agradecer a V.Exa. pela maneira positiva e responsável com que

está tratando do assunto.

Nós queríamos aproveitar a presença das autoridades que se encontram aqui

para mostrar algumas situações do nosso Estado e assim começarmos a tratar da

problemática da Amazônia, para que não caiamos na repetição e aqui haja só mais

uma audiência pública.

Vejo homens e mulheres verdadeiramente imbuídos do sentimento de iniciar

um processo, como muito bem disse o Dr. Márcio Paulo Buzanelli, de

nacionalização.

Se V.Exa. permitir, gostaria de exibir aqui um vídeo de 4 minutos.

Posteriormente, os Deputados poderão avaliar. Entendo de suma importância a

exibição desse vídeo, até porque há aqui Deputados de outros Estados. Depois, eu

vou tecer alguns comentários, muito rapidamente.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Segundo o Deputado

Átila Lins, V.Exa. abriria mão do seu tempo, uma vez que seria gasto com o vídeo.

V.Exa. já havia me apresentado essa solicitação.

Como estamos numa reunião de audiência pública, penso que cabe aos

Parlamentares a decisão. V.Exa. iria dispor de todo o seu tempo para passar o

vídeo. É isso?

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - São 4 minutos. Se os

companheiros entenderem que tem que ser consumido o meu tempo...

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Algum Parlamentar é

contrário à solicitação do Deputado?

Deputado Praciano, V.Exa. tem a palavra.

O SR. DEPUTADO PRACIANO - Não, muito pelo contrário. Não tem sentido

passar o vídeo sem que haja uma complementação por parte do Deputado. Acho

que, além dos 4 minutos, 2 ou 3 minutos seriam necessários para S.Exa. comentar.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito.

Dois minutos, a Mesa concede a V.Exa.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Obrigado, Deputado Praciano.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Está tudo pronto

para que o vídeo seja passado? (Pausa.)

Enquanto os técnicos preparam o aparelho, vou passar a palavra ao próximo orador

inscrito, o Deputado Ilderlei Cordeiro.

O SR. DEPUTADO ILDERLEI CORDEIRO - Primeiramente, quero agradecer

a Deus por mais este grande dia, aos Deputados Federais e aos nossos convidados

que vieram aqui nos passar um pouco de seu conhecimento sobre a Amazônia,

principalmente para os Deputados novatos.

Tenho uma pergunta para cada palestrante. A primeira pergunta é para o

General Mayanard Marques de Santa Rosa. Faço essa pergunta em nome do meu

Estado. No Acre, o batalhão que vai para as fronteiras é muito pequeno. Enquanto

isso, ouvimos várias denúncias de exploração ilegal de madeira, que sai do País

pela fronteira com o Peru. Contrabandistas peruanos são presos, mas não temos

como trazer a madeira de volta para beneficiar nosso povo com casas populares.

Com isso, cada vez mais ficamos à mercê da destruição da nossa Amazônia. Há

vários corredores de passagem de drogas na região do Juruá. Pergunto: como o

Exército, com toda sua estrutura montada na região do Juruá, pode fortalecer a

fiscalização nessas passagens?

Outra pergunta. Com certeza, temos tanto medo de tropas estrangeiras, mas

a qualquer momento podemos ter a próxima guerra contra nós. Existem tropas

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

estrangeiras fazendo curso e aprendendo a conhecer nossa Amazônia? Esse é um

problema muito sério. Temos que tomar uma posição contra essa situação.

A outra pergunta é para nosso querido companheiro Dr. Mauro Spósito, da

Polícia Federal. O efetivo da Polícia Federal no Acre é muito pequeno,

principalmente nas fronteiras. Hoje, na região do Juruá, não chega a 20 policiais

federais trabalhando naquela região. O que nós, Deputados Federais pelo Acre,

podemos fazer para que a Polícia Federal aumente seu efetivo no nosso Estado?

A outra pergunta é dirigida ao Márcio Paulo Buzanelli. A ABIN tem

conhecimento do problema da biopirataria na Amazônia? Tudo quanto é tipo de

espécie animal ou vegetal, o que quer que seja, está sendo levado para fora do

nosso País. Por que não se toma uma atitude?

Quero comentar um pouco sobre o que nosso amigo acabou de falar do

Secretário da PNUMA, que deu depoimento de que a Amazônia é de toda a

Humanidade. Por que os Estados Unidos e os países ricos da Europa não dividem

seu potencial econômico conosco? Por que eles querem tanto entrar na nossa

Amazônia? Por que as riquezas deles não são divididas conosco? Temos que

mostrar para eles que a Amazônia é do Brasil, é brasileira. E que estamos dispostos

a preservá-la.

É um grande erro aprovar leis que dispõem sobre o arrendamento de nossas

terras para empresas estrangeiras explorarem nossa madeira. Eles já vêm aqui,

usando de ONGs, para explorar a nossa Amazônia. Imaginem uma empresa dessas

fazendo projetos de manejo na região! Lá dentro eles conseguem colocar, com

certeza, um laboratório e, livremente, vão pesquisar mais a fundo as nossas

riquezas.

São essas questões que temos de analisar. Não podemos aprovar leis sem

antes fazer uma análise mais profunda do que nos pode acontecer, no futuro, com a

aplicação dessa lei.

Outro caso é o da integração entre os países sul-americanos. Hoje houve a

reunião do ISA, quando se discutiu todas essas ligações sul-americanas. Eu e o

Deputado Urzeni Rocha participamos dessa reunião. Fiz um requerimento

solicitando uma audiência pública, para ouvir como está sendo resolvido esse

problema, quais as prioridades. O nosso povo não está sabendo o que é prioridade.

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Sessão:0176/07 Quarto:21 Taq.:Maria Lílian Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

E nós somos prejudicados na região amazônica. Em Cruzeiro do Sul, temos uma

ligação com Pucallpa, no Peru, a menos de 250 quilômetros. Para passarmos para

Pucallpa, temos que atravessar a fronteira com a Serra do Divisor e os

ambientalistas não deixam. Mas vamos trabalhar. Precisamos da ajuda de toda a

bancada federal da Amazônia para nos ajudar a desenvolver a região.

Outra questão. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, somente serve

para cobrar proibições na Amazônia. Enquanto isso, não vemos um igarapé ser

despoluído no Acre para beneficiar a população. Pergunto: o que a Ministra está

fazendo para a proteção da Amazônia? Tudo indica que somente há influência

internacional no Ministério do Meio Ambiente para proteger a Amazônia, porque

nada é feito em favor do desenvolvimento na nossa região. Trago só um exemplo.

Por causa da proibição do herbicida da malária, há mães-de-família perdendo seus

filhos, e nada é feito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Gostaria de fazer uma

sugestão aos demais Parlamentares. Precisamos adotar um critério para que o

debate seja um pouco mais rápido, em virtude de já ter começado a Ordem do Dia.

A qualquer momento o Presidente da Casa poderá determinar o encerramento dos

trabalhos. Isso representará um prejuízo para todos os que querem participar.

Não adianta, Deputado Asdrubal Bentes, fazermos blocos e apenas 1

Deputado fazer 8, 10 perguntas. Isso traz prejuízo para todos os que querem

participar.

Com a palavra o Deputado Asdrubal Bentes.

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, Srs. expositores,

Srs. Deputados, General Santa Rosa, vou começar com uma expressão de alívio:

Ufa! Até que enfim, já no meu quinto mandato, vejo nesta Casa representantes do

Governo falar da realidade amazônica.

Vínhamos alertando — V.Exa., Presidente, é testemunha — para o perigo da

internacionalização da Amazônia, o que já ocorre, não através da força, mas de

subterfúgios legais. O próprio Governo vem se sucumbindo com a criação de

excessivas áreas de unidades de conservação, áreas essas que engessam o oeste

do Pará. Enquanto isso, áreas indígenas não cumprem o preceito constitucional —

art. 231, § 1º — que exige 4 condições, cumulativas, para que a posse seja

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

efetivamente indígena. Eles não preenchem sequer uma, que é a ocupação em

caráter permanente. E mesmo assim são criadas novas áreas. Até nossos tribunais

se sucumbem às pressões externas. Esta é a dura realidade. Eles dão uma

interpretação diversa ao que consta na Constituição. Por sua vez, a FUNAI — já

disse aqui nesta Comissão, em reuniões passadas — já deveria ter sido extinta,

porque não cumpre seu papel constitucional.

Vejam bem. A FUNAI também usou de subterfúgio. Se não me falha a

memória, o art. 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz que a

União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de 5 anos a partir da

promulgação da Constituição. Em vez de concluir, distorce o texto constitucional, ela

baixando novas portarias, sobrepondo-se à Lei Maior. Assim, ampliou essas áreas

desmesuradamente, criando conflitos onde não existia. É o caso típico de Roraima.

Aliás, V.Sas. disseram que a ausência do Estado é que ocasiona isso.

Em Roraima, General Santa Rosa, presenciamos aquilo que foi o maior crime

que se poderia cometer contra uma unidade da Federação! Participei de uma

Comissão Externa que foi ao Estado e pude verificar que há ameaça de conflito. O

que se repete hoje, conforme está divulgado pela imprensa nacional, é o provável

conflito entre arrozeiros e índios. Essa demarcação não devia ser contínua, mas, por

pressões externas, foi feita de forma contínua. Existem municípios dentro de áreas

indígenas e a Constituição diz que eles têm de sair. Ora, como vamos resolver esse

problema?

Creio que chegou o momento de nos unirmos. Uma coisa estranha,

perdoem-me a franqueza: V.Sas. pertencem ao Governo. Já conhecemos o

Delegado Mauro Spósito há muito tempo e acompanhamos o seu trabalho. O

General Santa Rosa já o conhecia de nome. V.Sas. representam a inteligência, a

segurança na área da Justiça Federal e das Forças Armadas. Que medidas V.Sas.

sugeriram ao Governo para evitar esse desenfreado avanço de nações, usando ou o

meio ambiente ou áreas indígenas, ou servindo-se de outros subterfúgios, para

internacionalizar a Amazônia? Quero saber o que existe no âmbito da área de

segurança. Não tenho receio algum de conflitos armados. A Inteligência certamente

já detectou que são as grandes potências que estão investindo dinheiro em ONGs,

organizações essas que prestam um desserviço ao Brasil, recebendo em euros ou

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Sessão:0176/07 Quarto:22 Taq.:Maria Lílian Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

dólares, para entregar nossas riquezas. Aliás, é muita coincidência ser justamente

nas áreas indígenas que existem minérios estratégicos. É muita coincidência que

justamente nessas unidades de conservação é que existam as maiores riquezas da

Amazônia. Nós é que temos de preservar essa riqueza toda para os brasileiros.

Hoje, lamentavelmente, o macaco vale mais que o ser humano. Se eu tiver

uma discussão com V.Sa., General, e lhe der um tiro e, desgraçadamente, V.Sa.

morrer, como sou réu primário, de bons antecedentes, tenho domicílio certo,

ocupação, certamente vou responder ao processo em liberdade. Mas, se eu matar

um macaco, vou para o xilindró e não há quem me tire de lá! Creio que há uma

distorção muito grande. A ecologia tem que ter como objetivo maior o ser humano.

Parabéns a todos pela exposição. Hoje estou gratificado por ter encontrado

pessoas de bom senso, pessoas que comungam do nosso sentimento de

brasilidade.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Passo a palavra agora para

a Presidenta da Comissão, Deputada Vanessa Grazziotin.

A SRA. DEPUTADA VANESSA GRAZZIOTIN - Muito obrigada, Sr.

Presidente.

Sras. e Srs. Deputados, nobres convidados, vou fazer um enorme esforço

para ser sucinta em minha intervenção. Agradeço aos senhores que aqui vieram

para debater um assunto importante não só para a bancada da Amazônia ou para

aqueles que lá vivem, mas também para todo o País. Agradeço ao Dr. Mauro

Spósito, ao General Santa Rosa e ao aniversariante do dia, Dr. Buzanelli. Obrigada

pela presença dos senhores aqui.

Não sou daquelas que considera delírio o fato de a Amazônia ser cobiçada

internacionalmente. Isso não é delírio. Em minha opinião, essa é uma realidade.

Também não considero exagerado qualquer discurso que anteveja um futuro conflito

internacional em torno do interesse da água. O conflito de hoje é em torno da posse

do petróleo, e todos sabemos disso. Os Estados Unidos não estão preocupados

com os direitos humanos do Iraque, das mulheres do Oriente. Não é esse o

problema. A questão é econômica.

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Sessão:0176/07 Quarto:23 Taq.:Maria Lílian Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Vi o General Santa Rosa fazer alguns comentários sobre afirmações do

Secretário do PNUMA, órgão de meio ambiente das Nações Unidas. Há alguns dias,

esteve no Brasil o Diretor-Executivo do PNUMA, Sr. Achim Steiner, que se reuniu

com o Governo brasileiro e com o setor privado. Ele concedeu uma longa entrevista

ao jornal Folha de S.Paulo. O Sr. Steiner disse: “Talvez os bens da Amazônia

possam ser muito mais produtivos e viáveis se ela continuar em pé”. Concordo

plenamente com ele. Acho que a nossa riqueza é maior se a floresta permanecer em

pé.

Em seguida, ele disse: “Claro que há questões sensíveis, pois o Brasil, de

maneira correta, vê aquela parte da Amazônia dentro de suas fronteiras nacionais, e

não como um bem internacional sobre o qual outros possam tomar decisões”. Isso é

o que ele chamaria o ponto de partida na defesa dessa discussão. E continua: “Se

for possível lidar com a preocupação da soberania enquanto se lida com as

oportunidades do mercado global, talvez existam formas de desenvolver essas

oportunidades sem contradizer os interesses soberanos do Brasil”.

Li na imprensa, com muito cuidado, tudo o que foi divulgado pelo relatório.

Por isso, achei que esta audiência seria não só importante, mas também necessária

para os Parlamentares terem a oportunidade de debater com os senhores questões

tão sensíveis levantadas no relatório: terra indígena, presença de ONGs de origem

estrangeira, bases militares estadunidenses que avançam não só na Amazônia

brasileira, mas na Amazônia continental; enfim, ausência do Estado.

Vou destacar somente uns pontos porque não tenho tempo para falar de tudo.

Primeiro, o relatório serve para subsidiar o Conselho Consultivo do Sistema

Brasileiro de Inteligência.

Primeira pergunta: qual a eficácia na elaboração das políticas públicas, não

só nas de defesa, que tem um relatório como esse do GTAM? Ele não é o único. O

nosso sistema de inteligência aborda aspectos que vão muito além da Amazônia.

Há uma segunda questão que levanto, quando se fala de ONGs. Primeiro,

não podemos generalizar o que seria um erro. Eu fico muito triste quando ouço —

infelizmente, é o que mais ouvimos — que todo Parlamentar é corrupto, que a

Câmara é corrupta. A Câmara não é corrupta; os Parlamentares não são corruptos.

Talvez entre os Parlamentares haja alguns cuja conduta não seja aceitável. O

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Sessão:0176/07 Quarto:24 Taq.:Margarida Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

mesmo acontece com entidades governamentais. Na minha opinião, não podemos

incorrer no erro de generalizar e dizer que nenhuma entidade presta. Existem

entidades de todo tipo.

Participei da CPI da Biopirataria. Estive com o Dr. Mauro Spósito e sei que

existem várias entidades não-governamentais que se utilizam dessa fachada para

remeter, ilegalmente, recursos genéticos do Brasil para o exterior.

Por outro lado, as ONGs, na minha opinião, se proliferam porque o Estado

consente. E não é só isso, mas também porque chama. Dou como exemplo o que

ocorreu no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando quem

assistia a saúde da população indígena era o Estado brasileiro. Hoje, a assistência a

saúde indígena está terceirizada, e ninguém diz nada. O Estado tem que voltar a

assistir a população indígena. É dele a tarefa de assistir a saúde dos indígenas.

Esse é um ponto que tem de unir todos nós. Não basta ficarmos falando mal de

entidade não-governamental; temos que chamar a atenção do Estado.

Quanto às terras indígenas, acho incorreto dizerem que tem muita terra para

pouco índio. Hoje os índios estão se miscigenando. Aliás, eu sou um exemplo disso.

A minha filha é uma cabocla nascida naquela região. O Brasil era dos índios. Eram

mais de 7 milhões e hoje temos menos de 500 mil índios.

A questão da extensão das terras não deve ser o centro da nossa

preocupação. Digo isso com todo o carinho pelo pessoal de Roraima, que vive um

problema sério. Precisamos resolver esse problema. O problema não é a extensão

da demarcação. Na minha opinião, esse é um problema menor do que a questão

das terras que estão nas mãos de grileiros.

Imagina, Dr. Buzanelli, se essa terra, rica em minérios, não fosse demarcada

e estivesse na mão de um grileiro? Quantos grileiros existem na Amazônia? De

acordo com a CPI, somente 1 grileiro detinha 13 milhões de hectares. Não era 1

milhão, mas 13 milhões de hectares! Há estrangeiros que também estão se

apossando de grandes extensões de terra. Como o próprio General Santa Rosa

disse, terra indígena é de usufruto do índio, mas de propriedade da União.

Acho que a nossa obrigação — e não sou mais Deputada de Oposição — é

regulamentar o uso econômico das riquezas existentes na terra indígena, discutir a

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

mineração, ou seja, como os índios podem utilizar essa riqueza para melhorar a sua

qualidade de vida.

Alguém pode querer mantê-los segregados. O índio quer estudar na

universidade e também quer continuar vivendo na sua terra. Ele não quer ser

expulso do interior para as metrópoles. E nós temos que propiciar isso a eles.

Para concluir, quero falar sobre os conflitos fundiários, um problema. A

Campanha da Fraternidade tem como tema Amazônia e Fraternidade e se preocupa

com os conflitos. Acho que o nosso sistema de inteligência tem que se preocupar

mais com essa questão.

Muito obrigada, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Deputado Marcio Junqueira,

vamos assistir ao vídeo. Tudo está pronto; o áudio já está funcionando.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Perfeito. Obrigado.

(Segue-se exibição de imagens.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Deputado Marcio Junqueira,

como bem disse o Deputado Praciano, não teria sentido mostrarmos este vídeo que

V.Exa. trouxe do Estado de Roraima se V.Exa. não tivesse oportunidade de fazer

algumas observações. Portanto, a Mesa lhe concede 2 minutos.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Obrigado, Deputado Carlos

Souza.

Entendo que ficou claro, Dr. Mauro Spósito, a forma como a Polícia Federal

atua no Estado. Fica complicado ouvir suas afirmações aqui hoje, em defesa da

Amazônia, enquanto vemos que a Polícia Federal instrumentaliza sua absurda força

a serviço de interesses escusos. Não sou eu que estou dizendo isso, mas as

imagens aqui mostradas. Se o senhor quiser, vamos lhe mandar, com mais

detalhes, imagens do absurdo cometido no meu Estado, um ente da Federação.

Tenho aqui — vou repassar também aos senhores — um ofício datado em 22

de janeiro de 1979. Nele, o encarregado do INCRA em Roraima pede: “Tendo em

vista a deflagração da discriminatória administrativa da gleba Caracaranã,

considerando a insuficiência da informação precisa a respeito das áreas indígenas

naquela localidade e por se tratar de uma ação administrativa com prazos fatais,

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

solicitamos o vosso pronto atendimento no sentido de nos informar quais são

exatamente as pretensões desta fundação na gleba supracitada”.

Esmiuçando o assunto. Nesse ofício, o INCRA pede que a FUNAI informe

qual é a área pretendida, em Raposa Serra do Sol, Caracaranã. A FUNAI, no dia 23

do mesmo ano, responde: “Atendendo à solicitação do ofício, devolvo o mapa — ele

está ali com o Dr. Waldemar, se for preciso. Vamos encaminhar cópia dele para os

senhores também. A área de interesse dessa fundação é de aproximadamente 150

mil hectares.” Isso ocorreu em 1979. Estranhamente, os 150 mil hectares se

transformaram em 1,7 milhões de hectares na área de fronteira.

Como é que vamos falar em Defesa Nacional — está aí em suas costas —,

se “nós”, entre aspas, se os dirigentes do País, que são eleitos, entregamos o

Brasil? A História vai mostrar que houve maus brasileiros que o entregaram. A

ocupação no Brasil começa em Roraima. Portanto, na Comissão da Amazônia,

nesta tarde, a História também vai lembrar que homens e mulheres se reuniram para

falar de forma verdadeira sobre o que está acontecendo no meu Estado.

Lógico que eu poderia passar o dia todo aqui tratando deste assunto, mas

sem ofender ninguém, porque estou aqui para clamar, para pedir como brasileiro.

Como disse a nobre Deputada Vanessa Grazziotin ainda há pouco, não existe aqui

Deputados de Oposição ou de Situação. Não vejo nenhum partido aqui dentro; vejo

a necessidade de brasilidade. Esqueçam a discussão partidária. Esta é uma

discussão nacional.

Está aqui: “Para preservar a Amazônia — que tristeza ler e ouvir isso! — o

Brasil depende do dinheiro estrangeiro. Só a Alemanha colocou 85 milhões de reais.

O total de investimento estrangeiro...” Será por quê? Já ouvi isso antes. Já li algo na

História da Borracha no Amazonas, do Deputado Carlos Souza. Foi a benevolência

dos ingleses que nos tiraram a seringa e o poder de crescer, e levaram a borracha

para a Malásia. Essa benevolência eu não quero!

Para concluir, aqui diz o seguinte: “O Presidente do país da Alemanha, Horst

Köhler, esteve na semana passada no Amazonas para conferir o investimento”. Eles

estão vindo constantemente para ver o que estão aplicando. Então, será que a

Polícia Federal não deveria correr atrás, quebrar correntes desses que vêm aqui só

para nos tirar?

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p_4175, 03/01/-1,
Sessão:0176/07 Quarto:26 Taq.:Paulo Rev.:Maria Teresa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Faço, nesta tarde, uma reflexão e peço que todos façam também: a Amazônia

é nossa?! Se é nossa, então vamos lutar por ela. Peço encarecidamente que não se

esqueçam que o nosso Estado depende desta reunião de hoje. Precisamos

encontrar uma saída para um Estado que está à beira da extinção!

Muito obrigado! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Muito obrigado, nobre

Deputado Marcio Junqueira.

O primeiro bloco já foi concluído. Passo a palavra, agora, aos debatedores.

Vamos começar ouvindo o Dr. Mauro Spósito, que foi questionado agora pelo

último Parlamentar, Deputado Marcio Junqueira. S.Sa. dispõe de 3 minutos para a

resposta.

O SR. MAURO SPÓSITO - Sr. Presidente, gostaria de responder aos

questionamentos dos Deputados.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Pois não, à vontade.

O SR. MAURO SPÓSITO - Pela ordem, a primeira pergunta foi feita pelo

Deputado Ilderlei Cordeiro, acerca do efetivo da Polícia Federal.

Realmente, temos uma carência de efetivo muito grande. Um estudo feito, em

1973, demonstrava que o efetivo da Polícia Federal seria de 17 mil homens. Hoje,

temos 11 mil. A partir da Constituição de 1988 tivemos inúmeras outras atribuições

atreladas. Quer dizer, esse é nosso grande calcanhar de Aquiles. Agora, perguntar

por que não se aumenta o efetivo... Tudo isso está atrelado à questão do

Orçamento, algo que não podemos definir. O problema é que realmente precisamos

ampliar o efetivo. Mas o efetivo só pode ser aumentado em decorrência de

orçamento prévio.

O Deputado Asdrubal Bentes pediu o seguinte: quais seriam as medidas

sugeridas para neutralizar essa situação carente que constatamos?

Pelo programa de metas da Polícia Federal, identificamos 3 tópicos utilizados

pelos países em desenvolvimento que são usados como pressão não só contra nós,

mas contra todos os países em desenvolvimento: narcotráfico, meio ambiente e

direitos humanos. Nossa sugestão tem sido sempre no sentido de que devemos tirar

essas bandeiras das mãos de quem nos pressiona e passar a atuar com mais

eficiência nesses campos.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

A Sra. Deputada Vanessa Grazziotin pergunta sobre a eficácia do relatório.

Ora, esse relatório é um documento interno da ABIN; ele ainda não nos chegou às

mãos. Portanto, não é um documento que faça parte do nosso conjunto de

atividades.

Quanto a ONGs, concordo plenamente: elas proliferam diante da ausência do

Estado. Mas não devemos extingui-las, e sim controlá-las. Toda e qualquer atividade

que não tenha controle tende a cair no abuso.

Quanto à pergunta do Deputado Marcio Junqueira sobre a forma de a Polícia

Federal atuar, esse é um direito que nos é assegurado. O que é inviolável, segundo

a Constituição, é o domicílio. Nenhuma terra, seja pública ou privada, pode ser

vedada por correntes para se evitar a fiscalização policial.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Dr. Mauro Spósito, meu

questionamento é outro. Como o senhor iniciou sua exposição fazendo uma série de

observações contra a internacionalização, estranhei que a Polícia Federal tenha

essa atitude num Estado da Federação. Não questiono se o senhor estava ou não

cumprindo a lei. O caso é que aquelas pessoas eram brasileiras. Acho que eu terei

de mostrar o vídeo mais detalhadamente para o senhor. Minha pergunta é esta: o

discurso é um e a ação é outra?

O SR. MAURO SPÓSITO - Deputado, o senhor me desculpe, mas o que eu vi

foi a Polícia Federal rompendo a cerca de uma fazenda porque estava sendo

impedida, pelo proprietário ou posseiro da terra, de entrar na propriedade. Isso foi o

que eu vi. Quem quer que seja o responsável pela área — o proprietário, o posseiro,

um pequeno lavrador ou um grande detentor de terras —, esse não tem

competência para fazer isso. Necessitamos de mandado judicial para ingressar no

interior de residências, de domicílios, mas para fiscalizar terras, sejam elas públicas

ou privadas, não necessitamos de mandado judicial.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - A Polícia Federal usa claramente

a expressão “vamos entrar à força”. Volto a dizer que não me dou por satisfeito,

porque meu questionamento não obteve resposta. No início de sua apresentação, à

qual todos assistimos atentamente, sentados, o senhor manifestou toda uma

preocupação, mas não vejo a Polícia Federal dizer, por exemplo, que reconhece que

está errado o que está fazendo por lá. Aquilo lá é Brasil, é área de fronteira. Isso

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

ninguém questiona. Não vejo nenhuma ação no sentido de tirarmos um Estado

brasileiro do perigo da extinção.

Vamos debater a tarde toda. Só quero registrar que não meu dou satisfeito

com a sua resposta, porque entendo que o senhor não focou na pergunta que eu lhe

fiz.

O SR. MAURO SPÓSITO - Sr. Deputado, permita-me pedir-lhe que formule a

pergunta novamente.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Em outra oportunidade. Vamos

tentar marcar uma reunião.

O SR. MAURO SPÓSITO - Terei o maior prazer.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Perpétua Almeida) - Senhores, sei que o

assunto é efervescente e mexe com o sentimento dos representantes de Roraima,

mas vamos em frente, porque não há previsão para tréplica. Se formos permitir a

réplica e a tréplica, os outros Parlamentares inscritos não vão conseguir falar.

Vamos então suspender as réplicas e tréplicas. Cada um faz suas perguntas

e ouve as respostas.

Vamos ouvir outro expositor também questionado.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Vou responder às perguntas que

foram formuladas diretamente a nós, se me permite a nossa Presidenta.

Nosso Deputado Ilderlei Cordeiro, do Estado do Acre, perguntava o que fazer

para que o Exército Brasileiro fiscalize nossas fronteiras. Pois bem, precisamos

esclarecer que existem as destinações legais. O Exército não é uma instituição

policial. Nós não temos, segundo o art. 144 da Constituição Federal, os encargos

afetos aos órgãos de segurança pública. No caso específico da faixa de fronteira,

cabe ao Exército, subsidiariamente, sem prejuízo da sua destinação constitucional,

exercer algumas ações em benefício da segurança, da garantia da lei e da ordem. É

isso o que está especificado na Constituição. E penetrar em atividades estranhas à

destinação constitucional implica crime de usurpação de função pública, tipificado, o

que nos expõe ao arbítrio do Ministério Público de primeira instância. Por conta

disso, temos de obedecer ao ordenamento jurídico e à destinação constitucional.

Existem orientações estratégicas do exterior no sentido de desprofissionalizar

as Forças Armadas latino-americanas. Nós não podemos desviar nossa preparação,

38

p_5827, 03/01/-1,
Sessão:0176/07 Quarto:28 Taq.:Márcia Moreira Rev.:Anna Augusta
P_1960, 03/01/-1,
Supervisor.:Letícia
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

nosso preparo para a defesa nacional, para atividades afetas a outros órgãos. É

esse o esclarecimento que eu poderia dar sobre esse assunto.

Quanto à atuação do 4º Batalhão de Infantaria de Selva, devo dizer que essa

é uma unidade com efetivo de 800 homens para cobrir uma fronteira de mais de 2

mil quilômetros. Ou seja, mesmo que desdobrássemos toda a unidade, seria difícil

obtermos rendimento satisfatório.

Quanto à sugestão de que militares estrangeiros não fizessem cursos no

CIGS, quero esclarecer ao nosso Deputado que seguimos o princípio diplomático da

reciprocidade. Nós, brasileiros, fazemos cursos no exterior, e temos, portanto, de

proporcionar aos povos amigos acesso aos nossos cursos. Por esse motivo, muitos

Exércitos fazem cursos no CIGS. Assuntos que sejam, digamos assim, suscetíveis

de proteção, os que têm divulgação contra-indicada pela contra-inteligência, são

vedados ao currículo desses militares que fazem aqui cursos de guerra na selva,

além de outros cursos. Esse é o esclarecimento que posso dar ao Deputado.

Também indagaram por que os Estados Unidos e alguns povos europeus não

dividem seu território. Na semana passada, numa exposição como esta, porém feita

para 47 adidos militares estrangeiros credenciados no Brasil, acreditados pelo

Governo brasileiro, foi apresentada a seguinte frase: a Amazônia, assim como a

Louisiana, a Prússia, a Bretanha e a Escócia, é território nacional, isto é, não

pertence ao patrimônio comum da humanidade. Todas têm a mesma soberania.

Quanto à afirmação de que somos representantes do Governo, eu preferiria

dizer que somos representantes do Estado. Nós, as Forças Armadas,

representamos o Estado, e o Estado transcende o Governo, que muda

periodicamente. Não somos institucionalmente representantes do Governo. Nós

representamos o Estado nacional.

Quanto às medidas sugeridas para que o Governo se contraponha às

pressões internacionalizantes, posso afiançar ao nosso Deputado que existem

inúmeros relatórios, mas o princípio da disciplina nos impede de apresentá-los,

porque eles não iriam contribuir para a harmonia dos Poderes.

Quanto à afirmação da nossa Deputada de que existiam 7 milhões de índios

no princípio, eu diria que as estimativas em que se baseiam os historiadores estão

calcadas no relatório de Frei Carvajal, que foi o relator da expedição de Pedro

39

p_5907, 03/01/-1,
Procurei, mas não encontrei este nome.
p_5827, 03/01/-1,
Sessão:0176/07 Quarto:29 Taq.:Hely Cácia Rev.:Anna Augusta
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Teixeira que explorou o Rio Amazonas, realizada em 1645, se não me engano.

Nesse relatório, o Frei Carvajal estimava em 3 milhões o número de pessoas, ou de

almas, como ele dizia, e em 150 o número de nações indígenas.

Era isso o que eu podia esclarecer neste momento.

Muito obrigado pela atenção.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Perpétua Almeida) - Com a palavra o Sr.

Márcio Paulo Buzanelli.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Seguindo a ordem, o Deputado Ilderlei

Cordeiro nos perguntou o que fazer a respeito da biopirataria. Como eu mencionei

anteriormente, uma lei específica ainda é inexistente, então nos reportamos à Lei de

Crimes Ambientais. Vou me referir a uma menção que fez o Deputado Marcio

Junqueira quando tratava da seringueira.

Em 1876, um cidadão britânico chamado Henry Wickman levou, primeiro para

o Tapajós, depois para o Kew Gardens, onde fica o Jardim Botânico Real Britânico,

70 mil sementes de seringueiras, de Hevea brasiliensis. Naquele momento, o

monopólio brasileiro de cultivo exclusivo da borracha deixou de existir. Em 30 anos,

os britânicos desenvolveram um espécime resistente a mudanças climáticas e a

determinados fungos que assolam a seringueira e passaram a plantá-la na Malásia,

no Ceilão, na Indonésia, suas antigas colônias. Foi quando o Brasil deixou de ser o

principal exportador dessa importante commodity.

Esse é o exemplo mais marcante de biopirataria. Não há outro melhor. Mas

alguns anos antes, exemplares da casca amargosa, de onde se extrai o quinino,

também foram levados por cidadãos ingleses, que o patentearam. Se relacionarmos

outros episódios do gênero, veremos que, desde o final do século XIX, o Brasil, em

especial a Amazônia, tem sido vítima e alvo de uma série interminável de ações de

biopirataria.

Como eu disse, a lei ainda não contempla a biopirataria, que fica como uma

infração administrativa inscrita na Lei de Crimes Ambientais: transferir ou tentar

transferir patrimônio genético. E a pena é mínima, muito pequena. Vejam o que

aconteceu com o nosso País, a decadência que as grandes cidades amazônicas

experimentaram nesse período.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Outro problema questionado também pelo Deputado Ilderlei Cordeiro são os

corredores de droga no Acre. O Deputado referiu-se especificamente ao Rio

Amônia. Hão de se lembrar todos que o Amônia percorre a Terra Indígena Kampa

do Rio Amônia. E o Amônia, assim como o Azul, são afluentes de um grande rio, o

Juruá. Esse é um grande corredor de drogas, particularmente de pasta base, que

entra em território brasileiro passando pela terra indígena Kampa. Aliás, a etnia

kampa vivia do lado de lá, às margens do Ucayali. Kampas e ashaninkas são índios

que vieram do Peru e ganharam uma terra indígena aqui.

Outra questão que cumpre responder, a da Deputada Vanessa Grazziotin, é

sobre o relatório do GTAM. O relatório do GTAM foi feito por componentes de um

grupo de trabalho multidisciplinar, multiagencial. Fazem parte desse grupo vários

órgãos de inteligência que estão, de acordo com a Lei nº 9.883, de 7 de dezembro

de 1999, sob a coordenação da Agência Brasileira de Inteligência. Cada órgão

desse grupo, ao voltar das viagens, faz o seu próprio relatório. E esse relatório,

assim como outros relatórios de inteligência, compõe um grande caudal que,

examinados por vários especialistas na questão, se transformam nos conhecimentos

que irão influenciar ou assessorar os responsáveis pela edição de políticas públicas.

O que é detalhado no relatório do GTAM é um dos afluentes desse

mencionado grande caudal.

Não devemos generalizar o trabalho das ONGs. Como disse, há ONGs e

ONGs. Há várias organizações que realizam um trabalho bastante produtivo na área

da saúde e de integração educacional junto aos índios, e há outras que, conforme

mencionei anteriormente, poderiam ser muito bem enquadradas em crimes de várias

natureza, a começar pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, que dispõe sobre os

crimes de lavagem de dinheiro.

Há também a questão de o Serviço de Inteligência preocupar-se com

questões fundiárias, para evitar conflitos fundiários. Quero responder, de maneira

oficial, que o Serviço de Inteligência brasileiro preocupa-se com essa questão

principalmente para evitar que conflitos com base em questões de origem fundiária

ocorram em nosso País, que soluções com base na discussão política e no diálogo

sejam adotadas.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Internacionalização. Há que compreender que internacionalização talvez não

seja ocupação do território. Embora falte uma definição mais adequada, poderíamos

apresentar uma tentativa. Internacionalização talvez seja a baixa capacidade de o

Estado controlar atividades estrangeiras em seu território. Talvez assim cheguemos

a um consenso e, com base nesse entendimento, à adoção de medidas necessárias

para evitar que esse processo continue se ampliando.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Agradecemos aos

expositores. Vamos devolver a palavra a mais um grupo de 4 Parlamentares. Peço,

em nome da Mesa, a todos que sejam sucintos, pois hoje a Comissão está muito

concorrida, pela importância do tema.

Concedo a palavra à Deputada Maria Helena, lembrando que os Deputados

dispõem de 3 minutos para as perguntas. Peço aos expositores que também sejam

concisos nas respostas.

A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Quero cumprimentar nosso

Presidente e todos os convidados. Prometo que vou tentar fazer minha exposição

em 3 minutos. Agradeço a todos a presença, especialmente ao Dr. Márcio, que

compareceu a esta Comissão no dia de seu aniversário.

Represento o Estado de Roraima. Acho que já deu para sentir que Roraima é

o Estado que vive a maior problemática no que se refere à demarcação de reservas

indígenas.

Hoje, com a demarcação de Anaro e Trombetas/Mapuera, 60% das terras do

Estado estão destinadas aos índios. Roraima comunica-se com a fronteira em área

não indígena apenas por um corredor. À esquerda, temos a Reserva Ianomâmi;

pouco mais à direita, a Reserva de São Marcos, fechando o leste do Estado com a

Reserva Raposa Serra do Sol, que tem mais de 1 milhão e 600 mil hectares. Como

bem disse o Dr. Mauro Spósito, a Reserva Ianomâmi tem mais de 9 milhões e 600

mil hectares. Nessa área encontra-se a maior reserva de minerais do Brasil e uma

das maiores reservas minerais do planeta.

Temos grandes recursos hídricos, belezas naturais que atraem o turismo.

Paradoxalmente, Roraima é um Estado pobre, com uma economia cada vez mais

fraca, com um solo extremamente fértil para a produção de grãos e palmas

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P_4162, 03/01/-1,
Sessão:0176/07 Quarto:31 Taq.:Regina Rev.:Zilfa
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

oleaginosas, hoje fonte do biodiesel. Portanto, é um Estado que tem tudo para

crescer e participar do crescimento do País.

Vou tentar ser concisa nas minhas abordagens.

Corredor do narcotráfico. Estamos vulneráveis ao tráfico de combustíveis e de

drogas. E o pior é que malocas de Sorocaima estão sendo usadas, constantemente,

para contrabandistas esconderem combustíveis trazidos da Venezuela. Estamos na

rota do narcotráfico, que vem da Colômbia pela Venezuela, e numa área hoje cada

vez mais desabitada, porque o não índio pode ali penetrar.

Ainda temos nessa área 96 famílias, que serão retiradas. O representante da

Polícia Federal está aqui e sabe muito bem que elas serão retiradas. Infelizmente,

os compromissos do Governo Federal não foram cumpridos. O Presidente da

República assumiu, em cadeia nacional — foi um ato público e divulgado por toda a

imprensa —, que todos os produtores desse região receberiam uma área

equivalente à que estavam ocupando, com solo propício ao cultivo de grãos, se

fosse possível, com irrigação; e que ele destinaria uma área de 150 mil hectares no

Estado para a implantação de pólos de desenvolvimento agropecuário. Infelizmente,

isso não aconteceu. Não houve uma avaliação justa, conforme preconiza a

Constituição Federal, nem indenizações a essas famílias, algumas centenárias na

região.

O que disse o Diretor-Geral da ABIN é verdade. Quando da demarcação, para

povoar a região vieram índios da Guiana que não falavam uma palavra de

português. Havia um laudo antropológico assinado por uma antropóloga que

declarou na Comissão Especial Externa desta Casa que não acompanhou a

demarcação. Portanto, trata-se de um laudo frágil e que sequer foi acompanhado

pelo Governo do Estado à época.

Temos de assumir nossa culpa também, porque alguns representantes da

Comissão nunca compareceram a uma reunião, portanto, não acompanharam o

trabalho de demarcação. Quando a Câmara e o Senado, por intermédio das

Comissões Especiais, propuseram a exclusão da Reserva Raposa Serra do Sol de

áreas importantes para o desenvolvimento do Estado, esses laudos, essas

recomendações do Legislativo não foram seguidas, observadas, nem consideradas.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Consulto o Diretor-Geral da ABIN e o General Santa Rosa, Secretário de

Assuntos Internacionais, uma vez que se trata de uma região estratégica em

questões internacionais, área de fronteira com 2 países: a ABIN e o Exército foram

ouvidos pelo Governo Federal quando da homologação dessa demarcação realizada

no Governo Fernando Henrique Cardoso?

Consultamos também o Dr. Mauro Spósito: como a Polícia Federal, o

Comando do Exército e o Serviço de Inteligência poderão nos auxiliar a encontrar

uma solução pacífica para a retirada das 96 famílias que ainda lá estão, mesmo que

o Governo não esteja disposto a cumprir o compromisso assumido por ocasião da

homologação? Que apoio esses órgãos federais poderão nos dar neste momento?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Agradeço à

Deputada Maria Helena.

Concedo a palavra ao Deputado Átila Lins, do Amazonas.

O SR. DEPUTADO ÁTILA LINS - Sr. Presidente, senhores convidados — Dr.

Mauro Spósito, General Santa Rosa e Dr. Márcio Paulo Buzanelli —, creio que a

discussão desta tarde leva em conta um fator preponderante: o relatório do Grupo

de Trabalho da Amazônia — GTAM, divulgado amplamente pela imprensa brasileira,

em que finalmente determinados órgãos do País reconheceram a existência de atos

que ferem a soberania nacional na região amazônica.

Essa é, sem dúvida, a linha mestra da nossa discussão. Evidentemente, há

muitas variáveis não só nos problemas de Roraima, mas também nos problemas da

Amazônia, do Amapá. Todavia, no cômputo geral, o que se discute hoje é a

apuração, feita por entidades governamentais, da movimentação estrangeira

propiciada por ONGs.

Quero também, como outros companheiros, não generalizar, pois há ONGs

que prestam relevantes serviços, mas há ONGs que, lamentavelmente, deixam

muito a desejar em suas ações na nossa região.

Em 1991, no meu primeiro mandato nesta Casa, presidi a CPI da

Internacionalização da Amazônia. Nessa CPI apuramos a atuação das missões

religiosas — católicas, protestantes, evangélicas. Examinamos o comportamento

dessas missões, como também a existência de aeroportos clandestinos — o Dr.

Mauro Spósito se lembra muito bem disso, muitos deles foram dinamitados —, o

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

contrabando e a pressão econômica, porque àquela altura já se percebia que não

haverá uma invasão armada; será uma invasão econômica.

Os governos estrangeiros, interessados no engessamento econômico da

região, não permitiram que nenhuma ação do Governo, nenhuma obra, nenhuma

rodovia, nada pudesse ser financiado por organismos internacionais, alegando a tal

preservação ambiental. Depois dessa CPI, percebemos que algo mudou com a

criação do SIVAM, do SIPAM e da Lei do Abate, que viabilizaram um comando

maior sobre nosso espaço territorial.

Hoje se percebe que a ação estrangeira na Amazônia está sendo feita pelas

ONGs e ainda pela pressão econômica. Criou-se uma CPI no Senado para apurar a

atuação das ONGs no Brasil inteiro. Tentei negociar no sentido de que fosse uma

CPI Mista, mas entendi que o exame que o Senado está-se propondo a fazer não

está direcionado à questão amazônica, mas ao âmbito mais geral — ONGs que

recebem dinheiro do Governo. Não é bem isso que queremos apurar na região

amazônica. Trata-se de um tema que pode evoluir para uma CPI sobre a atuação

das ONGs na nossa região. Então, o Senado está avançando nessa direção.

Há poucos dias, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional,

apresentei um requerimento de convite a autoridades — Ministros Celso Amorim,

Waldir Pires e Marina Silva e o Diretor-Geral da Polícia Federal —, a fim de que

S.Exas. nos informem quais as providências estão sendo tomadas pelo Governo em

relação ao relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia. A denúncia e a

apuração já foram feitas. O que o Governo está pretendendo fazer? Faremos esse

debate na Comissão de Relações Exteriores.

Antes de formular minha pergunta, destaco a louvável iniciativa da Deputada

Vanessa Grazziotin. Realmente, era necessário debater na Comissão da Amazônia,

o fórum adequado, o relatório do Grupo de Trabalho, a fim de verificarmos

exatamente quais são os envolvidos. A ABIN, a Secretaria de Assuntos Estratégicos,

o Ministério da Defesa e a Polícia Federal têm tido atuação relevante na região.

Registro também o trabalho sempre fecundo do Delegado Mauro Spósito, que

conheço há muito tempo. Sei da sua luta a favor da manutenção da brasilidade da

nossa região, do nosso território.

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Sessão:0176/07 Quarto:33 Taq.:Cristiane Regina Rev.:Luciene Fleury
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Formulo uma pergunta aos 3 convidados: quais as providências tomadas

pelos órgãos que os senhores representam depois da divulgação do relatório do

GTAM?

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada,

Deputado Átila Lins.

Antes de conceder a palavra ao Deputado Urzeni Rocha, informo a V.Exas.

que foi concluída a sessão do plenário. Todos podem ficar tranqüilos, porque temos

tempo. Foi encerrada a sessão para que a Comissão de Constituição e Justiça

pudesse continuar seus trabalhos.

Agradeço a presença ao Senador Augusto Botelho. S.Exa. participou desta

nossa audiência até poucos instantes.

Com a palavra o Deputado Urzeni Rocha, pelo prazo de 3 minutos.

O SR. DEPUTADO URZENI ROCHA - Muito obrigado.

Amigos Parlamentares, público presente a esta Comissão, o que motivou o

chamamento desta audiência pública foi o relatório do Grupo de Trabalho da

Amazônia — GTAM, que fez graves denúncias sobre a presença de ONGs naquela

região e sobre a possibilidade de sua tomada, devido à cobiça internacional.

Confesso aos Srs. Parlamentares que nunca tinha ouvido tantas verdades

como as que ouvi hoje, proferidas pelo General Santa Rosa. General Santa Rosa,

V.Exa. é um brasileiro, tem o verde-amarelo no coração, percebemos isso. Oxalá

tivéssemos muitos brasileiros como V.Exas. As verdades têm de ser ditas sem

emoção, mas com a razão, falando do que se conhece.

Digo a V.Exa.: a realidade é tão nua e crua com relação à Amazônia que,

nessa disputa de tomada da região, até proibir a construção de um batalhão do

Exército na fronteira do Brasil com a Guiana as ONGs tentaram por muito tempo

fazer. Isso ocorreu no Município do Uiramutã, em Roraima. E V.Exa., com muita

precisão, diz quais são os motivos da presença dessas ONGs na Amazônia.

Fui Relator de uma CPI na Assembléia Legislativa de Roraima. Chegamos às

mesmas conclusões a que o GTAM chega hoje. Apresentamos o relatório a todas as

autoridades do País, mas nenhuma providência foi tomada com o objetivo de salvar

a Amazônia brasileira.

46

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OK. Luciene
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Sessão:0176/07 Quarto:34 Taq.:Maria Lílian Rev.:Luciene Fleury
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Em 1993, estivemos com o Ministro Maurício Corrêa e com todas as cores

partidárias de Roraima. Viemos aqui para salvar o Estado de Roraima, quando da

proposição da demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol. Dissemos que eles

não tinham dinheiro para o processo de indenização. Sabem o que o Ministro disse?

“Deixe que nós arrumamos, nós falamos com o Vaticano.” — palavras do Ministro

Maurício Corrêa, na frente do Governador de Roraima e do Prefeito da Capital.

Para que serve o SIVAM? Um general esteve em Roraima e questionou esse

sistema. Ele disse que foram gastos milhões de dólares na instalação do SIVAM e

só há um satélite brasileiro — o resto é americano, japonês ou alemão. Será que as

informações do SIVAM servem para o Brasil e para a Amazônia ou servem para os

países estrangeiros?

IBAMA, INCRA, FUNAI e FUNASA, qual o papel desses órgãos em todo esse

questionamento? A FUNAI presta-se única e exclusivamente a servir a organizações

não-governamentais, impedindo, proibindo, dificultando, como também fazem o

INCRA e a FUNASA. Esses são os grandes atos dos órgãos governamentais com

relação à Amazônia.

A maioria das demarcações de área indígena, Srs. Parlamentares, é feita por

antropólogos internacionais, que não conhecem a região, a não ser pelas imagens

de satélite. Conheço vários processos de demarcação assinados por antropólogos

estrangeiros. Por que isso?

Os índios do meu Estado são usados como pretexto, porque são totalmente

sociáveis, aculturáveis. Há índios que são Prefeitos, Vereadores, Secretários.

Nossos índios, em Roraima, estão em perfeita sintonia. E sempre foi assim,

historicamente. Nunca houve conflito. O conflito foi fomentado pela FUNAI, pelas

organizações não-governamentais e pela Igreja Católica. Tanto é que hoje, nas

comunidades indígenas, não há Igreja Católica, mas só Igreja Evangélica. Nem os

índios aceitam a presença da Igreja. E ainda são usados pelos traficantes, pelos

contrabandistas, como ocorre em Pacaraima, no marco BV-8, na fronteira da

Venezuela. Muitas vezes, os coitadinhos dos índios são usados para esconder o

combustível, o descaminho de combustível da Venezuela. Nem eles sabem o que é

isso e são usados pelos bandidos, em troca de pequenos favores.

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Chamou-se BV-8, foi chamada de Paracáima e hoje é a cidade de Pacaraima. Luciene
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Sessão:0176/07 Quarto:35 Taq.:Maria Lílian Rev.:Luciene Fleury
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Na região, há muito crime de biopirataria, como bem disse o Sr. Márcio Paulo

Buzanelli. Não temos uma legislação que tipifica o crime da biopirataria, e essa, Srs.

Deputados, é uma função desta Casa, do Congresso Nacional. Precisamos legislar

nesse sentido, para que os criminosos que praticam a biopirataria, que roubam o

que temos no País possam ir para a cadeia e pagar por seus crimes. Essa é a

realidade da Amazônia.

A Amazônia tem de ser discutida não nos escritórios de Washington, da

Alemanha ou da França. A Amazônia tem de ser discutida pelos brasileiros e, se

possível, in loco, com os amazônidas, como a Deputada Vanessa Grazziotin, que

tem filha cabocla e sabe qual é a realidade da nossa região.

Portanto, para finalizar, para não ser prolixo, quero que me respondam qual é

a política do Governo Federal para a nossa Amazônia: é desenvolver ou

desaparecer? Será que vamos ter de mudar o mapa do Brasil? Como? Quando?

Essa é a primeira pergunta.

Segunda pergunta: diante das graves denúncias feitas pelo GTAM, quais as

providências imediatas que o Governo Federal tomou até agora para que sejam

apuradas e providências imediatas possam ser tomadas com relação ao Brasil, à

Amazônia e aos brasileiros?

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado

Urzeni Rocha.

Com a palavra o Deputado Mauro Nazif, do Estado de Rondônia.

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Cumprimento a Deputada Vanessa

Grazziotin e a parabenizo por esta iniciativa, ao mesmo tempo em que saúdo o Dr.

Márcio Spósito, o General Santa Rosa e o Dr. Mauro Buzanelli.

Para nós, que somos da região amazônica, este assunto tem grande

relevância, porque, como foi dito pelos convidados, quando se discute isso em um

bar da Praia de Copacabana, a discussão é feita de uma maneira. Quando o

assunto é discutido por quem mora na região, o tema é abordado de forma

totalmente diferente.

Um ponto me chamou muito a atenção. Sou médico, e uma das primeiras

coisas que aprendemos na faculdade de Medicina é tentar diagnosticar a causa. E,

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

pelo que foi abordado pelos palestrantes, várias causas foram apresentadas. Hoje

nos deparamos com as conseqüências, mas agora somos sabedores das causas

que colocam em risco a nacionalização da região amazônica.

Há vários pontos importantes para a questão da nacionalização. Lembro que,

em 1970, no Governo Médici, usava-se muito o lema: “Integrar para não entregar”.

Isso fez com que brasileiros de todas as partes — das Regiões Sul, Sudeste,

Nordeste e Centro-Oeste — fossem para a Amazônia, assim como eu, que sou do

Estado do Rio, também fui. E vários trabalhos foram feitos. Depois, medidas

provisórias, uma atrás da outra, certamente não representaram um incentivo àqueles

agricultores que para lá foram trabalhar em prol do desenvolvimento dos Estados da

Região Norte, porque em vez de a ação governamental incentivar, adotou medidas

contrárias.

A nacionalização parte de princípios importantes. Se não me engano, foi o

General Santa Rosa que citou o projeto de gás natural, em Urucu, um exemplo para

o mundo, um projeto que se alavanca no Brasil e que trata do aquecimento global e

do desenvolvimento. Simultaneamente, observamos a Bolívia propor ao Brasil um

reajuste de mais de 300% no preço do gás. Questiono se vem sendo feita alguma

tratativa para que a extensão do gasoduto de Urucu chegue a Rondônia e dali se

prolifere, haja vista que a agressão ambiental é mínima em relação a outras

substâncias.

Todos sabemos que a instalação de um gasoduto em qualquer região gera

desenvolvimento. Se fomos ficar preocupados com a nacionalização e com o

desenvolvimento daquela região, teremos de pensar no que pode ser feito para

melhorar a condição de vida das pessoas que ali residem.

Preocupa-me também a interiorização de organismos federais. Pude observar

nessa discussão, além de ser um grande mérito desta Comissão, a participação de

Parlamentares de todos os Estados da Amazônia e constatar que o nosso grande

entrave não está somente em Rondônia, mas também no Acre e em Roraima, ou

seja, é o mesmo em todos os Estados amazônicos.

Quanto à FUNASA, entendo que ela possui uma ação social vinculada à

saúde, mas quando se discute IBAMA, INCRA e FUNAI, pergunto: o trabalho desses

órgãos tem como objetivo trazer bem-estar àqueles que precisam desses

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

organismos ou serve apenas para atender determinadas necessidades

internacionais?

Constatamos a existência de apenas um órgão repressor para o meio

ambiente e para outros setores considerados supérfluos até por nós, que lá vivemos,

mas que certamente trazem enormes prejuízos àquela população.

Ficamos satisfeitos quando se faz um diagnóstico tendo como base as

causas. Pude observar, conforme o mapa apresentado, que há hoje no Brasil cerca

de 320 mil ONGs e, segundo estimativa mais atualizada, aproximadamente 100 mil

cadastradas na Amazônia.

Existem aqui órgãos competentes que certamente fazem todo tipo de

investigação. Sabemos também que muitas dessas ONGs são mecanismos

utilizados por estrangeiros para se infiltrarem no nosso País.

Foram feitos diversos diagnósticos, mas pergunto: o que tem sido feito pelas

nossas autoridades — entendo que já devem ter detectado a situação dessas ONGs

— para retirar essas organizações do nosso País?

Obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado

Mauro Nazif.

Vou passar a palavra à Deputada Bel Mesquita, mas antes quero solicitar a

S.Exa. que observe o tempo, pois vamos ouvir ainda 10 Parlamentares. Se todos se

restringirem aos 5 minutos, encerraremos esta audiência pública com um quorum

elevado.

Tem V.Exa. a palavra, Deputada.

A SRA. DEPUTADA BEL MESQUITA - Parabenizo a nossa Presidenta

Vanessa Grazziotin pela iniciativa e agradeço aos nossos convidados, Dr. Márcio

Paulo Buzanelli, General Maynard Marques de Santa Rosa e Dr. Mauro Spósito, a

participação.

Não vou fazer muitos questionamentos, mas quero deixar registrado que

nasci em São Paulo e só comecei a ter a noção do que é a Amazônia quando para

lá fui em 1984. Moro no sul do Pará, em Parauapebas, mas morei também em

Cachoeira Porteira, entre Mapuera e o Rio Trombetas.

50

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Sessão:0176/07 Quarto:37 Taq.:Denise Honda Rev.:Antonio Morgado
P_5192, 03/01/-1,
Supervisor.:Joel
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Mantive vários contatos com índios da região. Conseguia conversar com eles

porque eu sabia falar inglês. Nenhum deles sabia falar português.

A região amazônica é imensa, linda e portentosa. Somos 57 Deputados

amazônidas, 11% dos Deputados desta Casa. Na Comissão da Amazônia,

Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, apenas 5 Deputados não são

representantes da Amazônia. Talvez seja mesmo, como disse o Deputado Nazif, a

síndrome do “isso não é problema meu”. O que já foi devastado no resto do Brasil é

discutido hoje como algo que já aconteceu, e nada mais pode ser feito. Mesmo

assim, a Amazônia não pode ser vista só como mancha verde no mapa do Brasil.

Se o verde votasse, como um eleitor, talvez houvesse mais Deputados para

defender a nossa região. Na verdade, quando se fala em espaço de poder, vê-se a

Amazônia também discutindo o seu próprio espaço.

Nessa situação, que poder nós da Amazônia, os nascidos e os que adotaram

a Amazônia como o seu lar, podemos ter para discutir diante do processo da

internacionalização da Amazônia?

Faço essa indagação à ABIN, ao Secretário de Política, Estratégia e Assuntos

Internacionais e ao representante da Polícia Federal. São questões vitais para a

nossa região, mas acho que precisamos introjetá-las nesta Casa quando das

discussões sobre políticas de integração nacional e desenvolvimento regional, o que

não é apenas um problema da Amazônia, mas de todo o Brasil.

Faço das suas perguntas as minhas e agradeço muito por estar aqui e ouvir

suas respostas e principalmente a apresentação do relatório do GTAM. Não se deve

ficar apenas no relatório, é preciso que alguma coisa seja feita.

Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputada

Bel Mesquita.

Registro a presença do Prefeito Ivan Severo, do Município de Caroebe,

Roraima, e do ex-Prefeito de Pacaraima, também de Roraima, Paulo César

Quartiero. Sejam bem-vindos à nossa Comissão.

Vamos ouvir o Deputado Praciano. Depois, concederemos a palavra aos

Deputados Carlos Souza, Neudo Campos, Perpétua Almeida, Dalva Figueiredo,

Eduardo Valverde e Zequinha Marinho.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Tem a palavra o Deputado Praciano, do Amazonas.

O SR. DEPUTADO PRACIANO - Sr. Presidente, companheiros convidados,

amigos, Sras. e Srs. Deputados, membros da Comissão da Amazônia, quero

lembrar um amazonólogo, bem conhecido em toda a Amazônia, chamado Samuel

Benchimol.

Na época em que a lua era a vedete do programa espacial americano, ele

conta num de seus livros que um general americano faz uma pergunta para um

general brasileiro: “Por que vocês no Brasil, onde há tanta violência na rua,

indicadores sociais dos piores, fome, miséria por todos os lados, estão preocupados

com a Amazônia? Por que se preocupar com a Amazônia se há tanta coisa com que

se preocupar?” O general brasileiro respondeu: “General, a Amazônia é nossa lua”.

Quis dizer o sociólogo que temos de considerar a Amazônia como uma região

estratégica. Se é estratégica, devemos convencer o Brasil disso. Aliás, acho um erro

que, nesta Comissão, quase todos os seus integrantes sejam representantes da

Amazônia. Precisamos falar com São Paulo, Rio de Janeiro. Não podemos falar

somente para nós mesmos. São Paulo precisa entender que a Amazônia é

estratégica e que algumas atividades econômicas precisam ser dirigidas para a

Amazônia. A Zona Franca tem de ser protegida, porque também é uma atividade

estratégica.

Portanto, temos de convencer o Brasil e o mundo de que a Amazônia é

estratégica, repetindo o que disse o Samuel Benchimol. Devemos criar um clube,

similar ao Clube de Roma, em que um grupo de cientistas trabalhava com grandes

variáveis — demografia, energia, ecologia —, mostrando a todos, por meio de

modelos matemáticos, qual é o comportamento do mundo, qual o modelo de

crescimento do mundo, que variáveis o homem deveria levar em consideração para

proteger o planeta. Era o Clube de Roma. Foi sugerida a criação um clube da

Amazônia, ou algo parecido com isso. Para quê? Para pensar a Amazônia grande,

para criar um plano diretor da Amazônia.

O que se vê hoje nas pautas de discussão da Amazônia? Se a BR-319 é ou

não importante? Se tal hidrelétrica deveria ser ou não instalada? Se há ou não

conflito de terra ali ou acolá? Temos tratado pontualmente a Amazônia, uma região

de complexidade e de diversidade ecológica, biológica, social e econômica

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Sessão:0176/07 Quarto:38 Taq.:Denise Honda Rev.:Antonio Morgado
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

reconhecidas. Se, em relação à Amazônia, consideramos o SIVAM ali, uma BR

acolá, um conflito de terra ali, outra atividade acolá, vamos comer pela beirada toda

a Amazônia.

A Amazônia entra muito pouco na pauta real do Congresso. Ele aparece em

discursos feitos da tribuna, mas não no Orçamento da União, nem no dos Estados.

Verifiquem quais dos nossos Estados, os que têm interesse em proteger e defender

a Amazônia, o seu meio ambiente ou as cidades em que moramos, constam de

orçamentos regionais?

A cidade em que moro passou a ter, num período de 30 anos, 2 milhões de

habitantes — antes tinha 500 mil habitantes. Não é só culpa do Governo Federal. É

falta de visão e de responsabilidade. Em Manaus não há um igarapé em que eu

possa lavar o rosto. Todos os mananciais da cidade estão poluídos. Temos uma

atividade chamada Zona Franca, uma atividade sem fumaça, fábrica sem fumaça e

sem chaminés. Ainda assim, conseguimos acabar com o meio ambiente daquela

cidade.

Como dissemos antes, temos de convencer o País de que Amazônia é

estratégica. Há que se ter um plano global, com visão ampla e horizontes mais

largos em relação à Amazônia.

Não há dúvida, General Santa Rosa, de que este País matou muito índio. Não

tenho dúvida alguma sobre isso. O índio tem de fazer parte desse plano diretor.

Ainda podemos preservar a arara-azul e a onça-pintada, que estão desaparecendo.

São vários os animais em extinção, como também as tribos indígenas. Há povo com

apenas 6 integrantes, sem macho — desculpem-me a expressão —, e, em se

perdendo o homem dessa etnia, não se reproduz mais aquela raça.

Moral da história: perdemos experiências acumuladas milenarmente,

perdemos línguas. O desaparecimento de uma língua é uma perda muito grande.

Um dos maiores patrimônios de um povo é a sua língua. Perdemos línguas,

perdemos gente e, por fim, perdemos experiência acumulada.

O índio tem de fazer parte desse plano diretor. Não há dúvida sobre isso.

Quando se faz a relação entre quantidade de terra e índio, o resultado é de 4

pessoas por quilômetro. E aquilo que sobra não é dado ao índio porque é muito.

Vamos entregar para quem? Que projeto temos para as terras que estão sobrando

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Sessão:0176/07 Quarto:39 Taq.:Denise Honda Rev.:Antonio Morgado
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

na Amazônia? Está faltando terra no restante do Brasil para a reforma agrária ou há

excesso de terras na Amazônia?

Vamos substituir floresta por cana-de-açúcar, por conta do etanol? Faz parte

desse plano. Trocaremos isso por mamona? Faz parte do plano. Vamos substituir as

florestas por dendê, em nome do combustível limpo? Faz parte do projeto da

Amazônia? A minha pergunta é esta: existe no País, por parte do Governo, dos

Estados e do Congresso, um plano para a Amazônia?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputado

Praciano.

Vamos ouvir os nossos convidados.

Com a palavra o Dr. Mauro Spósito, representante da Polícia Federal, que

poderá cingir-se aos temas que considerar pertinentes, de acordo com as perguntas

ou pelas análises feitas pelos membros da Comissão.

O SR. MAURO SPÓSITO - Sra. Deputada Maria Helena, como poderemos

ajudar na retirada das 96 famílias? Deputada, esse é um assunto muito complexo.

Primeiro, porque decisão judicial se cumpre. Não há apenas uma situação. Vivemos

hoje o Estado de Direito.

A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Só uma informação. Não há uma

decisão judicial. O que existe é uma homologação feita pelo Governo Federal. O que

se tenta judicialmente é reverter essa situação, porque ainda não obtivemos uma

decisão favorável do Judiciário. Portanto, não há uma decisão judicial exigindo a

retirada. A retirada é conseqüência de uma homologação em área contínua.

Reconhecemos a necessidade da homologação e que os índios recebam as terras

que habitualmente ocupavam, mas não onde não havia índios. A própria ABIN

reconhece que vieram populações indígenas até da Guiana para auxiliar no

povoamento dessa área demarcada.

O SR. MAURO SPÓSITO - Agradeço a observação. Eu iria referir-me

justamente a esse tópico. A causa está sub judice. O que está sub judice? A posição

do Governo Federal de promover a retirada, inclusive com a avaliação das terras.

Não é 1 ação; na verdade, tramitam diversas ações. Neste momento, no caso,

qualquer ação está sob a égide do Poder Judiciário. O que podemos fazer? Só

podemos dar seguimento àquilo que está previsto. Não tenho dúvida de que foi

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

custosa a retirada dessas 96 famílias. Para se fazerem os laudos de vistoria,

ultrapassamos uma série de problemas. Não tenho dúvida de que é uma questão

traumática, mas temos de caminhar por esse trilho. Em relação a tudo o que se

tentou compor — houve negociações entre a FUNAI, arrozeiros e índios —, não

houve acordo entre as partes; houve, sim, litígio. Portanto, teve de se colocar isso

nas mãos do Judiciário, a única instância que as podem socorrer.

Não restam dúvidas de que vamos tentar contornar a situação. Estão em jogo

componentes religiosos e econômicos, de interesse dos próprios indígenas. Não é

algo simples. Tanto não é simples que, até agora, não houve condições de

composição.

Quanto à pergunta do Deputado Átila Lins e às providências adotadas pela

Polícia Federal depois da divulgação do relatório do GTAM, informo que só tivemos

conhecimento desse relatório através da imprensa. Ele não nos foi encaminhado e

não nos será encaminhado, porque se trata de objeto de estudo de um grupo. Ou

seja, não é um relatório efetivo feito por um órgão estatal.

Deputado Urzeni Rocha, o relatório do GTAM, elaborado por um grupo de

trabalho, ainda será analisado pela ABIN, que verificará o ponto de vista de cada um

dos participantes Ainda não o recebemos. Creio que nos será enviado como

documento oficial.

Quanto à política do Governo Federal, concordo com a Deputada Bel

Mesquita. Falar sobre isso é bater em cristais. A questão indígena é delicada em sua

essência. Temos diversas culturas indígenas, todas diferentes entre si, e desde o

Estatuto do Índio não temos uma legislação que nos oriente sobre como tratar a

causa indígena, o que é realmente uma lacuna imensa.

Como dizia, o tema é delicado e envolve diversos setores. Como orientação

legal para o cumprimento de algumas determinações, contamos hoje apenas com a

Constituição Federal e com o Estatuto do Índio, de 1961, se não me falha a

memória.

Houve avanço nas relações mundiais. Vivenciamos quanto vale o

ecossistema para a humanidade, mas continuamos paralisados no que diz respeito

à política indígena. Até hoje não definimos uma legislação para esse tipo de tutela. A

mesma tutela que nós — entre aspas — “civilizados” temos. E qual a tutela que cabe

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Sessão:0176/07 Quarto:40 Taq.:Kátia Rev.:Antonio Morgado
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

nesse caso? Há, portanto, um vácuo muito grande nessa área. Nesse sentido, vou

também ao encontro do que disse o Deputado Praciano: precisamos de um plano

diretor, precisamos encarar a Amazônia num contexto maior, mas precisamos saber

bem o que fazer.

Conheço os corubos, do Vale do Javari, os cintas-largas, da Reserva

Roosevelt, e os ianomâmis, de Roraima. São povos totalmente diferentes. São

situações totalmente diferentes. Se para nós já é difícil legislar para gaúchos e

nordestinos, porque são situações diferentes, imagine-se para um quadro de

tamanha variedade? Infelizmente, essa é a nossa realidade.

Falta-nos hoje direcionamento e política indigenista para a questão

indigenista, assim como nos falta o famoso plano diretor da Amazônia, sobre o que

falar e fazer com a Amazônia em sua totalidade. Pensar a Amazônia não é fácil. São

mais de 5 milhões de quilômetros quadrados — área do tamanho da Europa —, com

a maior floresta do mundo. A cobiça é um fato real.

Internacionalizar a Amazônia é um risco, sim. Vai faltar água no resto do

mundo? Onde estão as nascentes de água potável do mundo? Não estão

localizadas em território brasileiro, estão nas cabeceiras do Amazonas, que não

estão situadas no Brasil. A Amazônia é um pouco maior do que nossos limites. Se

faltar água no resto do mundo e só restar água potável aqui, vamos precisar de um

exército muito grande para tomar conta dessa água, e mesmo assim vamos ter de

fornecer água para o resto do mudo. É uma situação bem delicada.

Talvez seja este o momento de começarmos, como sugeriu o Sr. Márcio, a

campanha A Amazônia é nossa. Não há dúvida de que os riscos são grandes.

Por fim, a pergunta do Deputado Mauro Nazif, sobre o que foi feito para retirar

as ONGs do País. Novamente digo que as ONGs não são o bicho-papão. Médicos

Sem Fronteiras, com subsídios estrangeiros, levam assistência médica ao Vale do

Javari, onde o Estado brasileiro não se faz presente. Ao mesmo tempo, Médicos

Sem Fronteiras trabalham em Roraima com outras intenções. Precisamos exercer

mais controle. Vejam que ONGs são utilizadas para vários fins, até para não pagar

impostos: donos de empresas jogam dinheiro numa ONG para terem descontos no

Imposto de Renda. É um dos motivos por que se proliferam essas organizações.

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Sessão:0176/07 Quarto:41 Taq.:Kátia Rev.:Antonio Morgado
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Sr. Mauro Spósito, se temos um serviço

de inteligência tão competente, devemos saber quais ONGs estão aqui com

interesses de desenvolvimento e quais têm interesses escusos. Contando com o

trabalho desenvolvido pelo serviço de inteligência, pela Polícia Federal, pelo Exército

e pelo Ministério da Defesa a respeito das ONGs é que faço meu questionamento.

Não quis generalizar.

O SR. MAURO SPÓSITO - Peço perdão pelo modo como me expressei. De

fato, generalizar induz ao erro.

A ONG é uma personalidade jurídica. O que nos cabe fazer quando

encontramos uma ONG que afronta a legislação? Pedir sua desconstituição, e é isso

o que nos falta. Compete-nos notificar o estrangeiro que esteja em situação irregular

no Brasil e até, se for o caso, tomar medidas para que deixe o País, mas não temos

instrumentos para coagi-lo a fazer isso.

Nesse sentido, precisamos dispor de mais instrumentos. Se uma ONG estiver

agindo de forma errada, deveríamos desconstituí-la como sociedade civil,

verificando em seu estatuto a parcela de responsabilidade de seu dirigente. Em

geral, o dirigente não tem nenhuma responsabilidade nesse tipo de conduta.

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - E isso tem sido feito?

O SR. MAURO SPÓSITO - Sim, temos acompanhado praticamente todos os

estatutos das ONGs que se registraram em cartórios.

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Pergunto se já houve alguma

desconstituição como sociedade civil.

O SR. MAURO SPÓSITO - Não, e não nos cabe fazê-lo. O órgão fiscalizador

é o Ministério Público Estadual.

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Então se conhecem as causas, mas

elas não estão sendo tratadas. Sabe-se que há problemas, mas não tomam

providências.

O SR. MAURO SPÓSITO - Precisamos do remédio. Como disse V.Exa.,

sabemos a causa, sabemos o efeito, precisamos do remédio. Sem o remédio não

vamos nunca eliminar as causas e os efeitos. Enquanto não se regulamentarem as

ONGs, elas continuarão sendo um lobby, ou seja, um grupo de pessoas que

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Sessão:0176/07 Quarto:42 Taq.:Kátia Rev.:Luciene Fleury
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

desejam ter voz ativa em políticas públicas. Se forem regulamentadas, poderemos

dizer se isso ou aquilo é contrário à lei, por exemplo.

Obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra o

General Maynard Marques de Santa Rosa.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Respondendo às

indagações da Deputada Maria Helena, de Roraima, inicio por afirmar que aqui não

represento o Comando do Exército, mas sim o Ministério da Defesa, que é uma

entidade civil. Ou seja, embora oficial-general, estou a serviço de um organismo civil,

o Ministério da Defesa, de modo que não posso responder nada sobre o Exército

Brasileiro.

A respeito das proteções para desmandos ou abusos relativamente a áreas

estratégicas, principalmente na faixa de fronteira, eu poderia resumir a situação da

seguinte maneira: a Constituição anterior previa o mecanismo do assentimento

prévio do Conselho de Segurança Nacional; assim, os órgãos que detinham o

conhecimento dos interesses estratégicos tinham o poder de influir na tomada

dessas decisões; com a Constituição de 1988, foi removido, como entulho

autoritário, o conceito de assentimento prévio.

Como citei aqui ao apresentar a legislação que dispõe sobre a delimitação de

terras indígenas, o decreto que regulamenta a matéria não se refere à imposição,

até constitucional, de que seja ouvido o Conselho de Defesa Nacional. Dessa forma,

os decretos que criaram reservas nos últimos 10 anos não tiveram a participação do

setor responsável pela defesa nacional, que não foi consultado.

A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - E isso é grave?

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Estou considerando a

legislação tendo em conta a evolução dos tempos.

Talvez o mecanismo do assentimento prévio não fosse um entulho autoritário,

mas um mecanismo de proteção da soberania nacional, ponto que submeto à

consideração dos Parlamentares responsáveis pela formulação da legislação

brasileira.

O nobre Deputado Átila Lins perguntou que providências foram tomadas

depois da divulgação do relatório do GTAM. Poderia dizer que, primeiro, não houve

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Sessão:0176/07 Quarto:43 Taq.:Jacinta Rev.:Luciene Fleury
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divulgação do relatório do GTAM porque é um relatório interno da ABIN e ainda não

foi elaborado um documento pela Agência. Tomamos conhecimento e estamos

abordando aqui aspectos que preocupam o Parlamento, mas que foram publicados

no Jornal do Brasil do dia 28 de janeiro de 2007. Então, não foi divulgado o relatório

do GTAM.

Eu poderia dizer que foi aprovada, pela primeira vez na história do Brasil, a

estratégia militar de defesa que contempla de maneira sistemática os aspectos de

defesa da região amazônica. Sendo documento sigiloso, só posso fazer essa

observação. E também foi aprovada a Doutrina Militar de Defesa, que regula o

modus operandi das forças militares no cumprimento das missões constitucionais de

defesa. São 2 documentos que não tinham precedentes na história do Brasil e que

agora estão devidamente publicados e em vigor na área de defesa.

Quanto à afirmação do Deputado Urzeni Rocha sobre a região do Uiramutã,

quero dizer que foi um promotor brasileiro que acionou a Justiça Federal para

impedir a instalação de um pelotão brasileiro nessa região. E foi um juiz brasileiro

que a deferiu, concedendo a liminar que suspendeu a construção. Felizmente,

depois foi derrubada a liminar e instalado o pelotão de Uiramutã. Mas foram os

brasileiros que fizeram isso. A defesa do Brasil não deve caber somente aos

militares, mas também a todos nós, que somos brasileiros antes de sermos

Parlamentares, médicos, militares etc.

O Deputado Mauro Nazif pergunta se está previsto passar por Rondônia o

gasoduto de Urucu. Infelizmente, não tenho essa informação. Só sei que está

previsto no projeto inicial o abastecimento do mercado de Manaus, porque a oferta

de gás não é suficiente. Então, não se justifica economicamente a extensão desse

gasoduto. É a informação que posso transmitir a V.Exa., Deputado.

O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - De acordo com a discussão na

PETROBRAS, é totalmente viável.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu não vou

aprofundar-me nesse ponto porque não afeta a defesa nacional. Mas a informação

que tenho é que, por condições mercadológicas, ficaria para o consumo da Grande

Manaus e de regiões adjacentes ao longo do percurso do próprio gasoduto.

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O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Essa discussão é diferente. O que

passa pela PETROBRAS é que existe uma grande quantidade de gás nessa região

e que seria viável fazer o repasse a outros Estados.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu não contesto.

O Deputado Mauro Nazif fez uma pergunta a respeito de ONGs. Em relação a

esse tema, eu responderia que o que falta é legislação. Quem produz legislação é o

Parlamento. O problema está lançado. Tudo indica que há necessidade de

resolvê-lo o mais rápido possível, uma vez que 300 mil ONGs atuam livremente,

protegidas por direitos que a Constituição assegura a todos os brasileiros e

entidades. É preciso que seja elaborada uma legislação reguladora urgentemente,

sem a qual os nossos organismos de repressão não podem coibir os abusos. E

legislação é encargo do Parlamento.

Quanto à indagação da Deputada Bel Mesquita a respeito de uma política de

integração nacional, poderia fazer algumas considerações. Está em curso um

estudo, que já dura 1 ano, a respeito do plano de ordenamento territorial, da política

de ordenamento territorial. Isso inclui o Ministério da Integração e o Ministério da

Defesa. Estão em curso vários trabalhos com vistas a elaborar isso aí. É como se

fosse um zoneamento das diversas atividades econômicas e sociais no território

nacional.

Sei que não respondi completamente a sua pergunta, Deputada. Eu poderia

dizer, resumidamente, que a primeira grande política consistente para a Amazônia

foi feita por Marquês de Pombal. Graças a ele, consolidou-se a posse da região

amazônica pela Coroa portuguesa, e inclusive o ordenamento comercial, o

aproveitamento da produção amazônica. Para isso, teve de expulsar os jesuítas e

criar mecanismos pesados na época.

Depois de Marquês de Pombal, Getúlio Vargas, ao criar os Territórios

Federais de Rondônia, Amapá e Rio Branco — não se chamava Rondônia, mas

Território Federal de Guaporé, o Acre existia como Território Federal desde 1905 —,

criou efetivamente uma política visando a responder às pressões norte-americanas

pela revitalização da oferta de borracha. Os japoneses haviam ocupado as fontes

produtoras de borracha na Malásia, na Indonésia e nas Filipinas. A indústria

mundial, a fim de enfrentar o esforço de guerra, precisava da produção amazônica

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Sessão:0176/07 Quarto:44 Taq.:Jacinta Rev.:Luciene Fleury
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durante a Segunda Guerra Mundial. Isso foi feito, devido às pressões americanas,

pelo Presidente Getúlio Vargas.

Depois de Getúlio Vargas, os planos nacionais de desenvolvimento, que

objetivavam prioritariamente a integração nacional e o pólo da Amazônia, foram

implementados de 1966 a 1985.

Então, essas 3 etapas históricas configuram planejamentos para a região

amazônica. De lá para cá, desconheço planejamento sistemático para a gestão do

território amazônico.

Respondendo ao Deputado Praciano, a respeito da existência de um plano

para a Amazônia, um plano diretor que inclua os índios e que faça a gestão

adequada, diria que desconheço. Na área da defesa existe, posso assegurar-lhe.

Mas, nos setores de desenvolvimento, eu não tenho conhecimento, nem estou

autorizado a responder.

Então, é o que eu poderia dizer para responder as indagações.

A SRA. DEPUTADA BEL MESQUITA - Eu me referi ao plano de integração

porque somos membros da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de

Desenvolvimento Regional, e apenas 5 Deputados não são da Amazônia. Foi isso

que quis dizer.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputada.

Com a palavra o Deputado Praciano.

O SR. DEPUTADO PRACIANO - Sra. Presidenta, pelo exposto, entendi que

o plano de defesa da Amazônia é frágil.

V.Exa. acabou de dizer, se não estou enganado, que, para a Amazônia, há

um contingente de 800 pessoas.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Não. No Exército há 27 mil

homens hoje.

O SR. DEPUTADO PRACIANO - E nas fronteiras?

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Em 1986, tínhamos 6 mil.

Hoje, há 27 mil no Exército. Somando-se as forças da Marinha e da Aeronáutica, há

mais de 40 mil homens na região amazônica.

O problema não é só de quantidade de homens, mas também de doutrina,

equipamento, comando de controle, sistema de armas. Quanto a esse aspecto,

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

temos planos, mas faltam equipamentos de alta tecnologia, que os orçamentos não

têm contemplado. Planos, que é o nosso dever de casa, temos, e bem feitos.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra o

Diretor-Geral da ABIN, Dr. Márcio Paulo Buzanelli.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Respondendo às questões da

Deputada Maria Helena, tenho a dizer que a ABIN tem, sim, conhecimento do tráfico

de combustível da Venezuela, feito pelos pampeiros ali conhecidos, e também do

tráfico de drogas, particularmente de maconha cultivada na Guiana e de cocaína que

vem da Colômbia e vai para a Venezuela. A ABIN tem, sim, conhecimento e tem-se

informado.

Em relação a que apoio a ABIN pode oferecer relativamente à demarcação,

pelo que está estabelecido legalmente, ela tem como competência coletar, obter

dados e produzir informações visando ao assessoramento de uma autoridade de

âmbito decisório. Tem como incumbência também avaliar as ameaças aos

interesses nacionais e à segurança do Estado e, como competência, igualmente

avaliar, assinalar, levantar ações contrárias ao patrimônio, aos conhecimentos

sensíveis. Então, o que a ABIN pode fazer é cumprir sua atribuição legal, e é o que

vem fazendo, particularmente na Amazônia.

A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Então, isso confirma que a ABIN

advertiu o Governo dos problemas de demarcações em áreas de fronteira.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Isso quer dizer que a ABIN vem

dando informações regularmente sobre situações de possível potencial de conflito,

situações irregulares, como faz em todos os campos de atividade.

O Deputado Átila Lins perguntou que providências foram tomadas depois da

divulgação do relatório do GTAM? Como mencionei, o relatório do GTAM é um dos

que são produzidos no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência. Trata-se de uma

atividade compartilhada, de um grupo informal, um grupo de estudos. Um conjunto

de dados são coletados periodicamente. A ABIN tem várias atividades operacionais

na Amazônia, como a coleta, a busca de dados feita pelas Superintendências

Estaduais da Amazônia, pelas Subunidades Estaduais da Amazônia em locais

considerados de importância estratégica pelo GTAM, que os recebe, então, como

subsídio para completar todo o conhecimento do grande quadro.

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Grupamento Especial Tático-Móvel \\ Cláudia Márcia
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Então, que providências são tomadas depois disso? Basicamente, a

providência que se refere à competência legal da ABIN, que é a de informar. A ABIN

informa; a ABIN não tem lado; a ABIN não tem vinculação político-partidária com

sindicatos, com grupos, com nada. A ABIN é um órgão do Estado brasileiro à

disposição dos sucessivos governos. Por isso não se preocupa apenas com a

política da semana que vem, com o que vai acontecer nos próximos 15, 20 dias. Não

é somente isso. Preocupa-se com a sobrevivência do Estado brasileiro, com as

questões maiores que afetam inclusive sua soberania.

O Deputado Urzeni Rocha pergunta: “Qual é a política do Governo para a

Amazônia? Quais são as providências?” Posso tratar setorialmente do assunto,

falando sobre a política do órgão de inteligência para a Amazônia. A política setorial

do órgão de inteligência do Governo Federal...

(Não identificado) - Dr. Márcio.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Pois não.

(Não identificado) - Especificamente sobre o SIVAM, apresentei informação

prestada por um general que tinha dúvidas sobre a participação do SIVAM no

Sistema de Proteção da Amazônia. Segundo as informações de S.Exa., havia 6

satélites estrangeiros e 1 brasileiro. Esse logicamente é um assunto pertinente à

ABIN. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Todos nos lembramos das

dificuldades para iniciar o projeto SIVAM, cuja concorrência foi vencida pela

Raytheon, americana. Ela é a provedora do material e faz a manutenção. Enfim, há

evidentemente um estado de dependência tecnológica em relação à provedora.

Então, isso é de todos conhecido.

Ocorre que o Estado brasileiro, por meio dos entes que utilizam o Sistema de

Vigilância da Amazônia, tanto no âmbito do SIVAM quanto no do SIPAM, adota uma

série de medidas cautelares de segurança para evitar uma intrusão, um

conhecimento não autorizado.

A ABIN, por exemplo, tem entre suas unidades uma muitíssimo conhecida de

todos os senhores e senhoras aqui, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento para

a Segurança das Comunicações — CEPESC, que produz os algoritmos utilizados na

urna eletrônica, que assegura ao Brasil grande dianteira em termos de processo

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Sessão:0176/07 Quarto:46 Taq.:Cláudia Márcia Rev.:Veiga
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eleitoral e computação dos resultados eleitorais em relação a outros sistemas

existentes no mundo e, sobretudo, de inviolabilidade. Nós temos sistemas

criptográficos ali de alta qualidade, e é a indústria brasileira, vamos dizer assim, uma

unidade da ABIN.

Então, nosso CEPESC é um dos que produzem essa capacidade adicional de

obstruir, pelo menos até onde imaginamos que conseguimos, essa intrusão no

SIVAM. Evidentemente, os fornecedores têm capacidade tecnológica infinitamente

maior, e é possível que fiquemos até à mercê de algum tipo de controle. Eu não

descartaria essa hipótese. É possível, mas nós tomamos todas as medidas de

segurança devidas. O SIVAM e o CENSIPAM, órgão da Casa Civil, vem executando

um trabalho de amplo fôlego. Esse sistema deve ser considerado exemplar. Poucos

países têm isso. Adquiriu o Brasil a capacidade de controlar, pelo menos desde o ar,

o seu território.

Estou tentando responder à pergunta do Deputado Urzeni Rocha sobre a

política do Governo para Amazônia. Como eu mencionava, posso falar da política

setorial de inteligência. A política da ABIN para a Amazônia é buscar saber o

máximo possível sobre o que ali acontece, particularmente em termos de ameaças à

integridade e à soberania nacional, naquela vasta porção do território brasileiro.

Entretanto, a ABIN é extremamente pequena, sofre restrições e dificuldades

orçamentárias, o que todos compreendemos. A tarefa é hercúlea — são mais de “12

trabalhos”, nem sendo Hércules. É uma tarefa muito grande conhecer tudo que ali

ocorre, ter capacidade real de investigar organizações não-governamentais, tratar da

questão do narcotráfico, do tráfico de armas, do tráfico de animais silvestres, da

imigração desautorizada. É muito difícil, mas a ABIN vem tentando fazer isso, e uma

das prioridades de sua atuação é exatamente a Amazônia.

No que se refere à questão levantada pelo Deputado Mauro Nazif relativa às

organizações não-governamentais, quero lembrar que o Parlamento, por intermédio

do Senado Federal, em 2001, constituiu Comissão Parlamentar de Inquérito para

apurar a questão das ONGs. Fruto disso, o Projeto de Lei nº 3.877, de 2004, agora

em tramitação na Câmara dos Deputados, busca estabelecer mecanismos de

fiscalização e controle das ONGs.

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Sessão:0176/07 Quarto:47 Taq.:Viviane Rev.:Luciene Fleury
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Estamos precisando disso. Como já foi mencionado, não devemos

generalizar. Algumas ONGs produzem resultados bastante positivos, mas seriam

muito mais facilmente obstadas aquelas que não o fazem se tivéssemos uma

legislação pertinente, efetiva, atual e operante. É incumbência da Casa, do

Parlamento, acompanhar e produzir esse tipo de inovação na legislação.

Finalmente, respondo ao Deputado Praciano, que nos lembra o nosso

amazonólogo Samuel Benchimol. Samuel fez alusão à lua. Para os Estados Unidos

a chegada à lua era uma questão estratégica. No nosso caso, a Amazônia é a nossa

lua, conforme a conversa, citada por Benchimol e lembrada pelo Deputado, entre um

general americano e um general brasileiro. Este quis dizer que a Amazônia para nós

é uma questão de Estado, não é uma questão de políticas meramente regionais,

municipais. A Amazônia é uma questão do Estado brasileiro.

E, como bem lembrou o General Santa Rosa, o Marquês de Pombal,

preocupado com a expansão da Coroa espanhola, no século XVIII, em 1777,

construiu o Forte Príncipe da Beira, em Rondônia. É por isso que o Brasil é tão

ocidental. Depois de Pedro Teixeira, a Coroa portuguesa esteve lá.

Bem lembrou o General Santa Rosa que, em 1941, o Presidente Getúlio

Vargas anunciou um plano governamental para a Amazônia.

O que há de comum entre esses 2 momentos históricos? O exercício de

pressões exógenas, de fora para dentro: o temor da expansão da Colônia espanhola

e, no segundo momento histórico, a pressão dos países aliados pela perda do

suprimento fundamental de borracha de origem natural.

O que posso dizer em termos de plano de governo para a Amazônia é o que

se refere basicamente a um plano de inteligência.

A nossa Agência Brasileira de Inteligência faz a sua parte na Amazônia:

busca conhecer o máximo e informar, com precisão e oportunidade, às autoridades

o que ali acontece. Tenta fazê-lo com competência.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada, Dr.

Buzanelli.

Vamos passar a uma próxima rodada de questionamentos dos Srs.

Parlamentares. Informo que são 6 o número de Parlamentares inscritos. Vamos

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

procurar fazer com que os 6 falem nessa fase. Em seguida, passarei a palavra aos

nossos convidados.

Com a palavra o Deputado Carlos Souza, Vice-Presidente desta Comissão,

que disporá de 5 minutos.

O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Obrigado, Deputada Vanessa

Grazziotin, Presidenta da Comissão.

Senhores convidados, senhoras e senhores, na semana passada participei,

no Senado Federal, de um seminário promovido pela Subcomissão criada para

discutir sobre os gases que provocam o efeito estufa. Tive o privilégio e o prazer de

ter como debatedor o Prof. José Goldenberg, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia e

Coordenador da Eco-92, um homem renomado, profundo conhecedor das questões

ambientais. Nesse debate, fiz alguns questionamentos ao Prof. José Goldenberg a

respeito de qual era a grande utilidade da floresta amazônica não só para o Brasil,

mas também, acima de tudo, para o mundo. Quanto à questão das emissões de

dióxido de carbono, atualmente o mundo todo discute o tema.

O Prof. José Goldenberg fez algumas considerações que me deixaram um

tanto alarmado, pela grande utilidade que a Amazônia tem para o Brasil e para o

mundo. Ele disse que, dos 280 milhões de toneladas de dióxido de carbono que o

Brasil produz, poluição que lança na natureza e que, conseqüentemente, prejudica o

mundo, 200 milhões de toneladas são de responsabilidade da Amazônia. Em

síntese: a Amazônia é a grande vilã da poluição no Brasil, da poluição no mundo. O

Brasil contribui, relativamente à poluição da atmosfera no mundo, com 4%. Desse

percentual, 3% são de responsabilidade da Amazônia.

Questionei-o a respeito do processo fotossintético. Todos sabemos que a

grande produção de oxigênio é feita pelas algas dos oceanos. Elas são as

responsáveis pela grande produção de oxigênio no mundo. Mas sabemos também

da grande importância que tem a floresta amazônica, através do processo

fotossintético. Alguns estudos realizados por entidades científicas internacionais

indicam que, de cada hectare da floresta amazônica — peço ao General Santa Rosa

para esclarecer essa situação —, em relação à fase clara e à fase escura do

processo fotossintético, há um saldo de meia tonelada de moléculas de carbono que

a floresta consegue retirar da natureza. Ora, se temos 550 milhões de hectares de

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Sessão:0176/07 Quarto:48 Taq.:Viviane Rev.:Luciene Fleury
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floresta, multiplicando isso, temos 275 milhões de toneladas de moléculas de

carbono que retiramos da natureza.

Fiz esse questionamento ao Prof. José Goldenberg. Ainda assim, sendo a

floresta amazônica a grande vilã da poluição no Brasil e no mundo, teríamos um

saldo de 75 milhões de toneladas, levando em consideração os 200 milhões que

retiramos da natureza.

S.Exa. disse que isso não acontece porque a floresta amazônica, no seu

entendimento, na condição de pesquisador, de cientista, atingiu a sua plenitude,

atingiu seu clímax, não cresce mais. Entendo de maneira diferente. Sou caboclo da

região, vivo com o pé no chão. Desmatamos hoje, e daqui a 1 semana há uma

floresta novamente.

S.Exa. disse que a floresta não cresce mais, atingiu seu clímax —

considerando-se, no caso, a quantidade de oxigênio e a de gás carbônico, o

resultado é zero —, a floresta não tem utilidade nenhuma nesse sentido.

Perguntei qual é a importância da nossa floresta. Disse S.Exa.: “É um grande

armazém de carbono a floresta amazônica. Se a queimarmos, poluiremos o mundo”.

Fiquei triste.

Sei dos outros potenciais que a floresta amazônica tem: o pólo madeireiro

(são mais de 1 trilhão de dólares, se soubermos explorar esse potencial); o

manancial de água doce, levando-se em conta a liminologia; a pesca (mais de 2.500

espécies de peixe podemos explorar e exportar para o mundo). Do minério nem se

fale.

Dizer que a floresta amazônica não tem utilidade, porque absorve o que o

Primeiro Mundo polui — digo que somos os garis do mundo, prestamos esse serviço

à humanidade, pelo qual não somos remunerados —, deixou-me perplexo, general.

Temos alternativas de desenvolvimento para essa região, sim. Política

nacional ou política mundial voltada para a Amazônia não existe. Não deveria ser

uma política nacional, mas uma política mundial, porque a floresta amazônica é de

interesse do Brasil, mas também da humanidade.

Hoje, discute-se no mundo a produção da energia limpa, da energia verde.

Devemos aproveitar todas as áreas devastadas da Amazônia para plantarmos

dendê, cana, para produzirmos o etanol. Enfim, devemos utilizar esses espaços de

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Sessão:0176/07 Quarto:49 Taq.:Maria Lílian Rev.:Luciene Fleury
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terra que não estão sendo utilizados, estão sendo degradados. Não haveria

necessidade de se derrubar o restante da floresta.

General Santa Rosa, gostaria que V.Exa. prestasse esclarecimentos sobre a

utilidade da floresta amazônica na absorção do dióxido de carbono.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado

Carlos Souza.

Concedo a palavra ao Deputado Neudo Campos, ex-Governador de Roraima,

que disporá de 5 minutos.

O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - General Santa Rosa, a Venezuela

está descobrindo petróleo cada vez mais próximo da fronteira com o Brasil — vou

falar da minha aldeia. E compete à Agência Nacional do Petróleo designar as áreas

onde haverá prospecção, pesquisa de petróleo. Estive presente em um evento, em

Puerto Ordaz, no qual o Presidente Hugo Chávez disse que a nova descoberta, na

bacia do Rio Orenoco, fazia da Venezuela a maior reserva mundial de petróleo — e

lá é petróleo pesado.

Por que a PETROBRAS e a ANP se recusam a incluir essas áreas como área

de prospecção, de pesquisa? A Bacia do Rio Itacutu, que faz a fronteira com a

Guiana, também é outro lugar que merece ser pesquisado, para se analisarem as

possibilidades de se encontrar petróleo e gás.

Qual é a posição do Governo, General Santa Rosa, no que diz respeito a

essa questão? Pretende deixar tudo à mercê da Agência Nacional do Petróleo ou

pretende absorver isso e tomar uma decisão de governo?

Outra pergunta diz respeito à importância que a Venezuela dá ao sul do

território venezuelano e à importância que o Governo brasileiro tem dado ao norte do

Brasil. Refiro-me à fronteira viva entre o Brasil e a Venezuela, em Pacaraima e

Santa Elena de Uairén.

A Venezuela instalou uma zona franca em Santa Elena de Uairén e lá

construiu um aeroporto, que, em meados de 2007, já estará operando. A Venezuela

modernizou as suas aduanas, de tal forma que, quando alguém sair da Venezuela e

entrar no Brasil, a impressão nítida, se a pessoa não conhecer aquele país nem tiver

uma idéia do que é o Brasil, será a de que se está saindo de um país desenvolvido e

entrando em um subdesenvolvido.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Nossas aduanas são vergonhosamente ultrapassadas, os projetos são

ridículos. O posto da ANVISA de lá parece um boteco; da mesma forma o IBAMA,

com acomodações acanhadas. Não há um projeto maior. Na verdade, Pacaraima é

uma área indígena, irresponsavelmente demarcada como área indígena nos idos de

1991 e 1992.

Enquanto a Venezuela está cuidando da sua parte sul, o Brasil sequer tem

uma política para resolver um problema de uma cidade que cresceu ao longo de

uma rodovia transamericana, a cidade de Pacaraima. Existe a centenária Santa

Elena de Uairén. Isso não vai acabar. Em Pacaraima, há toda uma infra-estrutura

urbana, com os quartéis do Exército e da Polícia Militar. Só falta algo: índio. Lá não

existe índio, mas é uma reserva indígena. Enquanto não desatarmos esses nós,

enquanto o Governo ficar deixando o tempo passar e não tomar uma atitude firme, o

Presidente Hugo Chávez vai continuar fazendo as coisas e se tornando mais popular

do que o Presidente do Brasil.

Precisamos ter projetos maiores de integração, e a Secretaria de Política,

Estratégia e Assuntos Internacionais se enquadra perfeitamente nessa situação.

Deve-se pressionar o Governo para tomar uma atitude com relação àquilo. Não

pode ficar do jeito que está. Não nos podemos envergonhar de ser brasileiros na

fronteira.

Aliás, o Dr. Mauro Spósito fez uma referência que considero da maior

importância, com a qual concordo plenamente. Ninguém é mais patriota, ninguém se

sente mais brasileiro do que o homem de fronteira, que está, no dia-a-dia,

defendendo a condição de brasileiro, sem receber em troca disso absolutamente

nada. Muitas vezes é uma carga negativa, são as dificuldades que ele tem para

continuar naqueles lugares.

Portanto, gostaria de saber que políticas a Secretaria pensa em sugerir ao

Governo Lula para vencermos essa etapa, ou seja, resolvermos o problema de

Pacaraima e resolvermos um outro problema, que é a imagem do Brasil. Ali deveria

ser uma sala de entrada; como toda sala, deveria estar à altura do resto da

residência, que é muito grande. E o Brasil é muito maior e muito mais desenvolvido

do que a Venezuela.

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Sessão:0176/07 Quarto:50 Taq.:Maria Lílian Rev.:Luciene Fleury
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Muitas queixas foram constatadas aqui relativamente à demarcação das

áreas indígenas. O meu Estado é vítima disso. Se olharmos a oeste, não há nada,

está fechado. O lado sul, saindo de Manaus para entrar em Roraima, só funciona

durante 12 horas, porque se tem de passar na reserva dos uaimiris-atroaris. No lado

norte, tem de se passar na Reserva São Marcos. No lado leste, foi demarcada a

Reserva Raposa Serra do Sol. E há mais outras reivindicações, outras indicações da

FUNAI para demarcação também.

Tudo isso parece fazer parte de uma conspiração para sitiar Boa Vista e,

quem sabe, inviabilizar o nosso Estado. Mas isso não vai acontecer. Acreditamos na

boa-fé dos homens que dirigem o Brasil. Mais dia, menos dia, isso vai ter de mudar.

Uma das mudanças fundamentais refere-se à Constituição de 1988, que

atribuiu poderes excepcionais à FUNAI na identificação e demarcação das áreas. De

tal forma que a gleba São Marcos foi demarcada pela FUNAI quando não poderia

ser demarcada. Enfim, ela bateu o escanteio e fez o gol, jogando em várias

posições. Mas retirou da mesa de negociações, sem poder e sem voz, o Governo do

Estado.

Os Estados em que as áreas são demarcadas não têm voz, não podem se

defender, enquanto se elaboram essas demarcações que têm sido injustas. Algumas

são justas e outras têm sido profundamente injustas. O Estado de Roraima é um

caso realmente crítico, devemos tomar uma posição.

Então, General Maynard Santa Rosa e Dr. Márcio Buzanelli, qual a posição

sobre isso? Quais políticas podem, de alguma forma, ser implementadas? Qual a

receita que os senhores pretendem levar ao Governo Federal para conseguirmos

evitar isso?

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradeço ao

Deputado Neudo Campos a intervenção.

Com a palavra a Deputada Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre, que disporá

de 5 minutos.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, em primeiro

lugar, entendo a preocupação da bancada de Roraima, embora não deva ser esse o

foco do nosso debate. Já me coloquei à disposição da bancada em alguns

momentos e gostaria de sugerir uma ajuda à bancada de Roraima para articular,

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Sessão:0176/07 Quarto:51 Taq.:Stella Maris Rev.:André Galvão
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dentro da Comissão da Amazônia, o cumprimento pelo Governo Federal de todos os

acordos firmados e negociados a partir da homologação da Raposa Serra do Sol.

Está na hora de parar de achar que o problema está na terra indígena Raposa Serra

do Sol, porque, enquanto estivermos batendo nessa tecla, assim como faz a

bancada de Roraima, não conseguiremos resolver o problema. Está faltando bater

na tecla do cumprimento do acordo, e entendo que a Comissão da Amazônia tem

que se dispor a ajudar, discutir e negociar com o Governo. Nesses termos, eu me

proponho a articular com a Comissão da Amazônia.

Outra questão. Exerci um mandato de 4 anos e vou exercer o próximo

defendendo a soberania nacional. Aliás, foi proposta nossa a presença do Exército

brasileiro nas fronteiras do Acre, por meio de emendas parlamentares, e também

para garantir da presença da Polícia Federal na região. Mas podemos ficar em

devaneios. Em minha opinião, parte do Relatório é devaneio, principalmente com

relação a algumas questões.

O Sr. Márcio Paulo refere-se à reserva indígena do Acre ocupada pelos

campas, achanincas como área de entrada e passagem de drogas a partir do Peru.

Ora, isso não é verdadeiro com relação à reserva, porque, afinal de contas, foram

aqueles povos indígenas que alertaram o Brasil e este Parlamento exatamente

sobre esses problemas. Fui porta-voz deles nesta Casa e alertei para a necessidade

da presença das Forças Armadas naquela fronteira, porque ali há um rio que serve

de passagem de drogas e retirada ilegal de madeira, algo que estava acontecendo

dentro da terra deles, mas com a participação de madeireiros peruanos.

Precisamos fazer essa referência, pois são os próprios indígenas que

realizam as apreensões de drogas e madeiras e as entregam nas mãos da Polícia,

pois são eles os conhecedores da região. Portanto, são os indígenas os defensores

das nossas fronteiras, não podemos deixar de reconhecer isso.

Queria registrar rapidamente que fiquei preocupada. É uma pena que o texto

tenha chegado à imprensa primeiro e não aos Parlamentares. Quero ouvir da ABIN

quais providências foram tomadas no que se refere ao vazamento desse relatório —

vazou o primeiro e vazou o segundo. Que providências internas foram tomadas com

relação ao vazamento do relatório para a imprensa nacional?

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O relatório se refere a conflitos étnicos. Eu gostaria que a ABIN pudesse

mostrar exatamente onde estão os conflitos étnicos e quais são as provas referentes

a isso.

Aliás, eu queria entender a convicção desse grupo ao afirmar que a defesa do

meio ambiente, definida como “ambientalismo”, é usada como pretexto para impedir

o progresso. Quero entender isso, porque não podemos elaborar um relatório e ficar

divagando sem colocar o dedo na ferida. Ou seja, vamos apontar fulano, sicrano,

beltrano, ONGs e vamos punir. Temos de levantar questões como essa, mas

também temos de tocar na ferida e punir. Caso contrário, ficaremos apenas

relatando.

Se existem ações contra o desenvolvimento da Amazônia, quais foram as

providências apontadas pelo grupo para evitarmos isso?

Outro aspecto que me preocupa são as referências às ONGs que, segundo o

relatório, atuam no Brasil de forma descontrolada e estão a serviço de governos

estrangeiros. O relatório não diz quais são essas ONGs. Se é um documento

produzido por um serviço de inteligência, o texto deveria apontar quais são. Embora

não exista uma legislação regulamentando a matéria, o relatório poderia citar

nominalmente quais são as ONGs que estão a serviço de governos estrangeiros e

quais são esses governos.

Vou ler um trecho do relatório: “Há crença generalizada de interferência

estrangeira praticada pelas ONGs, principalmente na região do Estado do Pará. A

atuação de Dorothy Stang foi um indício da existência dessas influências”. E o texto

continua mencionando as motivações. Quero saber se a ABIN sustenta a afirmação

de que a Dorothy, uma missionária dedicada ao trabalho de inclusão social das

comunidades rurais, estava de fato a serviço de governos estrangeiros.

Obrigada, Sra. Presidenta.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra a

Deputada Dalva Figueiredo, do PT do Amapá, por 5 minutos. Em seguida, terão a

palavra os Deputados Eduardo Valverde e Zequinha Marinho.

A SRA. DEPUTADA DALVA FIGUEIREDO - Tenho observado que há

sempre nos debates uma discussão muito forte entre desenvolvimento e

preservação. Sempre se coloca a questão: desenvolvimento ou preservação? Essa

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Sessão:0176/07 Quarto:52 Taq.:Stella Maris Rev.:André Galvão
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discussão inclui a questão das terras indígenas, das reservas. Passei um tempo no

Governo do Amapá, justamente no período em que foi criado o Parque do

Tumucumaque, e a grande discussão era sobre a fácil aceitação no sentido de não

ter havido a reivindicação necessária em termos de compensações. Falamos sobre

um Estado com 98% do território em áreas de preservação, e até hoje se

reivindicam benefícios que fizeram parte da negociação da criação do Parque do

Tumucumaque.

Ouço sempre essa discussão com a convicção de que nos preocupamos com

o desenvolvimento da Amazônia e com a cobiça de suas riquezas. Ao mesmo

tempo, fortaleço a convicção de que, se não dispusermos dos instrumentos

necessários para usar nossos recursos de forma sustentável, previstos em

legislação específica, chegará um momento em que não teremos o que explorar de

forma sustentável.

Em meio a esse debate, há sempre a posição de que a demarcação de terras

indígenas — com as respectivas atividades e riquezas — provoca disputas e causa

prejuízos para quem mora nas áreas urbanas. Venho de um Estado cujas terras

indígenas, felizmente, estão homologadas e demarcadas e posso dizer que não

temos esse tipo de conflito, embora existam outros problemas, a exemplo das

dificuldades nas áreas de saúde, transporte e agricultura. Em nosso Estado, há leis

sobre a floresta e o aproveitamento dos recursos hídricos. Estamos criando um

instrumental que nos permita utilizar nossas riquezas.

Repito que não há, de forma estanque, essa discussão sobre o futuro que

esperamos para a Amazônia, para os índios e para os recursos naturais da

Amazônia. As políticas devem ser integradas, até porque o desenvolvimento e o uso

sustentável desses recursos também vão contribuir para que não só as Forças

Armadas sejam responsáveis pela segurança do nosso País.

Aproveito a oportunidade para reiterar a questão levantada pela Deputada

Perpétua Almeida: como podemos afirmar que ONGs ou aqueles que defendem o

desenvolvimento em conjunto com o uso sustentável dos recursos e a preservação

do meio ambiente vão impedir o desenvolvimento da Amazônia?

Que medidas foram tomadas para apurar o vazamento de informações de um

relatório não oficial e que ainda não se transformou em instrumento de formulação

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Sessão:0176/07 Quarto:53 Taq.:Noélia Rev.:André Galvão
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de políticas públicas e de acompanhamento? Até que ponto as ações desenvolvidas

na Amazônia por organizações não-governamentais contribuem para os conflitos

étnicos?

Gostaria de ouvi-los sobre isso, além de dizer que foi muito proveitosa esta

tarde em que pudemos avaliar diversos posicionamentos.

Parabenizo a Presidenta da nossa Comissão pela oportunidade de conhecer

as posições dos Parlamentares da Amazônia.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradecemos a

valiosa contribuição de V.Exa., Deputada Dalva Figueiredo, que fez uso estrito do

tempo de 5 minutos. As mulheres estão mostrando-se disciplinadas (Risos.)

Estando ausente o Deputado Zequinha Marinho, o nosso último orador é o

Deputado Eduardo Valverde, a quem solicito seguir o exemplo das Deputadas Dalva

Figueiredo e Perpétua Almeida, ou seja, utilizar os exatos 5 minutos destinados a

cada Deputado.

O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Sra. Presidenta, espero ser

sucinto.

Ainda bem que o relatório é um instrumento interno e não um documento

oficial, porque, ao lê-lo, encontrei uma série de erros, como certa dose de xenofobia

e de preconceito.

Afirmar que as populações indígenas são essencialmente predatórias, que a

cultura indígena é, na sua essência, predatória, é algo descabido, já que a Amazônia

ainda preserva sua condição de grande floresta porque lá vivem povos indígenas.

É natural que a convivência e a cosmovisão desses povos estejam em

harmonia com o meio ambiente. Então, esse aspecto não é inerente à cultura. A

cultura da Amazônia moderna, essa sim é predatória. A pecuária e a monocultura da

soja é que são predatórias ao meio ambiente. Mas não é o índio, somos nós que

assim agimos.

O relatório tem aspecto muito economicista, parece que foi feito por arrozeiros

de Roraima — e desculpo-me com nosso colega Deputado Neudo Campos.

Parece-nos que tal documento foi pago ou financiado por arrozeiros, porque o texto

esquece que existe algo chamado etnodesenvolvimento, típico das populações

tradicionais, que lá conseguem sobreviver em harmonia com o meio ambiente e tirar

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

o sustento da terra sem destruí-la, ou seja, aumentar sua qualidade de vida de

maneira correta.

Então, o aspecto economicista do relatório pressupõe um interesse contrário

à forma peculiar como as populações tradicionais da Amazônia sobrevivem há

séculos. Algumas lá estão há milênios, segundo dados antropológicos.

A Guerra Fria foi utilizada para justificar a corrida armamentista. Hoje se

buscam as ONGs para justificar que a Amazônia tem de ser tratada de maneira

diferente, como se a ONG chegasse ao Brasil e fosse direto para a reserva, como se

os representantes não passassem por aeroportos, por hotéis, pelo controle

aduaneiro, enfim, pelo controle do Estado. As ONGs têm que ser tratadas como

entidade civil e não como organismo internacional com projetos e estratégia de

tomada do Brasil — como se isso fosse possível.

Será que o País não tem instrumentos para combater as ONGs que se

desvirtuam da sua finalidade? Não é possível fazer um controle de fronteira ou

aeroportuário que impeça pessoas de levar produtos da floresta?

Portanto, não podemos imputar aos povos tradicionais a responsabilidade

pela inaptidão do Estado de controlar suas fronteiras. Não podemos culpar os índios

pela existência de contrabando.

O Dr. Mauro Spósito esteve em Rondônia e sabe que na Reserva Roosevelt,

que fica no Estado de Rondônia e não em área de fronteira, não há estrangeiros,

mas lá há contrabando de diamante. Não são os estrangeiros que contrabandeiam

na Reserva Roosevelt, são brasileiros que desrespeitam a lei, embora saibam que a

Constituição Federal estabelece que o território indígena é patrimônio da União, de

domínio público, ou seja, o usufruto é dos povos indígenas.

Enorme segurança tem o Brasil ao manter uma reserva indígena, tal como

previsto na Constituição Federal, pois o território permanece com a União. Isso

fortalece o sentimento de nacionalidade, de propriedade da terra, ao contrário do

que se prega, ou seja, que a criação de uma reserva desnacionalizaria o Brasil.

No tocante à declaração de que os índios não falam português, indago: onde

há essa obrigatoriedade? A Constituição Federal, no art. 231, estabelece que será

mantida a cultura desses povos. Eles podem falar a língua deles no Brasil, não

necessariamente têm que falar português e assimilar nossa cultura.

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Sessão:0176/07 Quarto:54 Taq.:Noélia Rev.:André Galvão
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Além disso, há o impedimento de transitarem de um lado para outro. Isso é

algo que demonstra preconceito, porque na fronteira do Uruguai com o Brasil os

brancos vão para lá e para cá. No meu Estado de Rondônia, tanto o boliviano

quanto o brasileiro branco podem ir de uma cidade para outra sem qualquer

problema. Por que os índios não podem transitar nas suas áreas de reserva? Parece

que isso representa uma ameaça à soberania nacional.

E foram eles, os índios macuxis de Roraima, os únicos brasileiros que durante

muito tempo guarneceram a fronteira, assim como fizeram os quilombolas no

Guaporé, a população negra. Após serem abandonados à própria sorte pelos

portugueses, em função do medo da malária, durante quase 1 século e meio, esses

foram os únicos brasileiros que guarneceram a fronteira do Brasil no Estado de

Rondônia.

O conteúdo do texto revela um lado preconceituoso, ao se afirmar que o índio

tem que falar nossa língua e ter a nossa visão.

No tocante ao roubo de madeira e à destruição da floresta, os dados apontam

que o grande elemento predador da floresta amazônica foi o modo de ocupação,

que não foi projetado pelos índios, mas por nós. Houve uma política de ocupação

presencial, e, como a floresta era algo impeditivo à ocupação humana, trocava-se a

floresta pelo corte raso.

Hoje, sofremos em Rondônia e no Pará esse conflito social permanente, pois

aqueles que foram levados a ocupar áreas de floresta, destruindo-a, depois

abandonaram aquele pedaço de terra, que virou pasto, reocupando um novo pedaço

de terra. Trata-se de ocupação desordenada. Esse é o nosso modelo predatório.

Finalizo destacando uma preocupação que pode até ser correta no que diz

respeito ao tráfico de armas e drogas. Dados da própria Polícia Federal apontam

que o Porto do Rio de Janeiro e o Porto de Santos são as principais entradas do

contrabando de armas e drogas no Brasil. Então, não é o território indígena que

representa uma ameaça ao combate ao narcotráfico e ao tráfico de armas no País.

São Paulo e Rio de Janeiro são passagens, assim como os aeroportos brasileiros

são instrumento de passagem das drogas para a Europa.

O debate deveria envolver também a FUNAI e outros órgãos de Estado, para

construirmos uma verdadeira política indigenista que supere o preconceito étnico e

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

racial, que construa uma idéia de estratégia de soberania brasileira que não refaça

aquela concepção antiga de um nacionalismo que foi frágil para o Brasil. E tal não

ocorreu pela presença dos povos indígenas, mas pela inoperância do Estado

brasileiro ao construir sua soberania.

Nossa economia foi quase toda desnacionalizada durante certo período da

fase republicana. Isso não se deveu a nenhuma invasão de tropa ianque no Brasil,

mas à opção que a classe dirigente naquele momento fez no sentido de aderir aos

preceitos do modelo liberal de Estado, hoje enfraquecido.

Vejo que a ABIN e a Polícia Federal se erguem e se fortalecem, mas durante

boa parte da história brasileira foram enfraquecidas. O aparato estatal foi

enfraquecido, e isso não ocorreu em razão da convivência, em território brasileiro,

de diversos povos, mas por uma política deliberada de Estado.

Peço desculpas pela ênfase, pois sou da Frente Parlamentar em Defesa dos

Povos Indígenas e enfrentei esse debate quando se discutiu a demarcação da

Raposa Serra do Sol, época em que um relatório muito similar foi feito.

Não se trata de ato isolado, desarticulado, mas sim de algo engendrado com

o objetivo de firmar uma convicção de que o modelo ideal para a Amazônia é a

pecuária e a ocupação humana branca, em total desrespeito às populações

tradicionais, que são minoria, populações pequenas, mas que têm o direito de ser

maioria daqui a mais 100 ou 200 anos, se dermos a elas condições de

sobrevivência.

Retiraremos delas essa condição de sobrevivência se não reconhecermos

sua ocupação no território, porque para as populações indígenas é fundamental a

existência dele. Índio sem território não é índio. Nós é que fazemos do território um

patrimônio. Território para as populações indígenas é a forma peculiar de viver. Por

isso, esse relatório é preconceituoso, pois sequer cita esses aspectos. Em outras

palavras, o texto afirma que índio tem muita terra.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada,

Deputado Eduardo Valverde.

O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Sra. Presidenta, peço a palavra pela

ordem.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Pois não, Deputado.

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Sessão:0176/07 Quarto:55 Taq.:Helena Rev.:André Galvão
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Supervisor.:Daniel
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Sra. Presidenta, quero fazer um

breve comentário. O Deputado Eduardo Valverde e a Deputada Perpétua Almeida,

com muita propriedade, citaram as questões de Roraima, meu Estado, e, portanto,

quero dizer que estou encaminhando requerimento exatamente para podermos

discutir essas questões de forma pertinente em uma subcomissão. Vamos enfrentar

essas questões, porque o Estado de Roraima precisa realmente ser objeto de

discussão mais detida. Rondônia já tem seu caminho econômico traçado, o Acre

também, mas o mesmo não acontece com Roraima.

Deputado Valverde, daqui a 4 anos teremos eleição, e V.Exa. poderá se

candidatar em Roraima, mas vai notar que esse discurso não vai soar bem àquela

população. O ex-Presidente de seu partido, reeleito agora, o Presidente Lula, perdeu

nos 2 turnos naquele Estado, exatamente porque a política econômica do Governo

Federal para Roraima está errada. Mas vamos discutir isso em uma subcomissão,

caso a Presidenta amanhã coloque em votação o meu requerimento.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito. V.Exa.

amanhã poderá apresentar o requerimento, contanto que apresente juntamente com

ele a lista de assinaturas da maioria absoluta dos Srs. Deputados, o que permitirá

que a matéria seja votada extrapauta.

O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Já está na pauta, Sra. Presidenta.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Sra. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Pois não.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Como meu nome foi citado pelo

Deputado Eduardo Valverde, quero esclarecer um ponto. Sou absolutamente

favorável à demarcação das áreas indígenas. Penso que os índios têm que ter sua

própria terra, para viver de acordo com sua cultura. Mas sou contra os exageros, as

enormes glebas, algumas exageradamente grandes. Isso nos afronta, pois lá

estamos porque assumimos responsabilidades públicas de defender os interesses

do Estado. Quanto a esse aspecto não há diferença entre índio e branco: ambos são

cidadãos brasileiros que merecem a nossa defesa.

Quantas vezes já defendi os índios no meu Governo? Introduzi o magistério

indígena, que formou professores para ensinar e difundir idiomas que estavam se

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

extinguindo. As aulas eram ministradas não só em português, mas em macuxi, em

wapixana, em ingarikó, na própria gíria de cada etnia.

Enfim, quero deixar claro que sou favorável à demarcação das áreas

indígenas, mas absolutamente contrário aos exageros praticados pela FUNAI.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradeço a V.Sa. a

participação. Na realidade, estamos dando seqüência — não estamos iniciando nem

concluindo — a um debate que é polêmico, mas necessário ao Parlamento,

sobretudo à Comissão da Amazônia, que trata de assuntos relativos à região que

tem a maior extensão de terras indígenas demarcadas.

Vamos entrar na última fase desta reunião de audiência pública.

Passo a palavra aos nossos convidados por um tempo máximo de 5 minutos

para cada um. Os convidados poderão responder os questionamentos, que não

foram muitos. Em seguida, ainda nessa fase, poderão todos fazer as considerações

finais para que possamos encerrar a reunião.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, peço a palavra

pela ordem.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Tem V.Exa. a

palavra.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Terei menos de 10 minutos

para levar ao médico o meu filho, que já está há 1 hora me esperando no

estacionamento. Como fiz várias perguntas ao Diretor-Geral da ABIN, não gostaria

de ser indelicada e sair sem ouvi-lo. Se V.Exa. pudesse inverter a ordem dos

trabalhos, não haveria essa indelicadeza de um Parlamentar questionar e não ficar

para ouvir a resposta.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - É possível. Vamos

iniciar pelo Dr. Buzanelli, que será o primeiro a responder os questionamentos e, ao

mesmo tempo, fazer suas considerações finais, em 5 minutos.

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Obrigado, Sra. Presidenta, obrigado,

Deputada. Quero dizer inicialmente que concordo integralmente com o que V.Exa.

mencionou em relação à Terra Indígena do Rio Amônia, pois eu não disse que o

tráfico passava pela terra indígena, mas sim pelos Rios Amônia e Azul. Disse

também que os índios — e aqui concordo novamente com V.Exa. —, os habitantes

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Sessão:0176/07 Quarto:56 Taq.:Helena Rev.:André Galvão
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

da região, foram os primeiros a denunciar a presença de madeireiros peruanos que

atravessaram pelo Parque Nacional da Serra do Divisor para extrair mogno da terra

indígena. Portanto, concordo integralmente com as observações da Deputada.

Com relação ao relatório do GTAM que saiu na imprensa, quero mencionar

mais uma vez que o Grupo de Trabalho da Amazônia não pertence à estrutura da

ABIN. Trata-se de grupo informal que reúne pessoas que se revezam, viajam à

Amazônia e fazem contato com lideranças indígenas. No caso de Roraima, houve

contato com lideranças das várias etnias — ingarikó, wapixana, macuxi. Estiveram

na Capital do Estado e em Pacaraima. No caso desse relatório, conforme

mencionado, os componentes do grupo estiveram em outras regiões daquela vasta

porção do território brasileiro e fizeram contato com pessoas de vários extratos,

vários segmentos — políticos, não políticos, acadêmicos e profissionais de várias

áreas —, dali extraindo dados que passaram para o papel de maneira certamente

carregada, eivada de subjetividade.

Esse não é um documento da ABIN, insisto em dizer. Os documentos da

ABIN são passados para o Presidente da República, para o Ministro-Chefe do

Gabinete de Segurança Institucional e para os demais Ministros designados para

recebê-los. Esses textos são um produto de análise de vários documentos, de várias

situações, de vários trabalhos. Isto tem que ficar claro. Não é um documento final,

nem representa o pensamento da ABIN sobre essa questão dos conflitos étnicos.

Que isso fique bem claro.

Portanto, que fique bem claro que esse documento foi produzido por um

grupo de trabalho que reúne pessoas especialistas do SISBIN — Sistema Brasileiro

de Inteligência, que congrega vários órgãos.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, Dr. Márcio,

sem querer atrapalhar, permitam-me apenas uma pergunta: a quem devo cobrar a

responsabilidade sobre o que está no relatório?

O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Estamos verificando quem participou

dessa viagem e quem produziu esse texto. A partir daí, V.Exa. poderá ser informada,

até porque foi V.Exa. a autora do requerimento formal e recebeu, formalmente, esse

documento.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. RegionalNúmero: 0176/07 Data: 20/3/2007

Com relação a uma menção muito importante que a Deputada Perpétua

Almeida fez sobre a Irmã Dorothy Stang, quero mencionar que a ABIN foi a primeira

a chegar a Anapu, em março de 2005. Fretou-se um avião, e pessoas de outras

localidades onde a ABIN tem presença para lá foram, exatamente no momento em

que não havia qualquer outra presença do Estado brasileiro.

No início das investigações, juntamente com a Polícia Federal e a Polícia

Militar do Pará, a ABIN estava lá e, desde o início, participou das investigações. Isso

não significa dizer que o que está escrito no relatório é a opinião da ABIN.

A questão da Irmã Dorothy Stang nada tem a ver com a intrusão de

estrangeiros.

Parece-me que abordei as questões.

Quero agradecer mais uma vez à Deputada Perpétua Almeida e ao Deputado

Eduardo Valverde, que levantaram esses questionamentos. Devo dizer que não vi

no relatório um conflito entre desenvolvimentismo e etnocentrismo. Não percebi isso,

embora em algumas passagens me tenha ocorrido que poderia estar tal conflito

evidente. Mas atribuo essa interpretação às entrevistas realizadas pelas pessoas

que fizeram esses relatórios. Refletem muito o momento vivido e a opinião das

pessoas com quem conversaram.

Por último, agradeço mais uma vez aos membros da Comissão o convite, em

especial à Deputada Vanessa Grazziotin, para participar desta importante audiência

pública. Lembro que a lei que criou a ABIN, Lei nº 9.983, tramitou por este

Congresso durante 27 meses e, entre outros atributos, recebeu o da criação de uma

comissão de controle das atividades de inteligência, a CECAI. Essa comissão ainda

precisa ser regulamentada. Trata-se de indicação do próprio Congresso.

Naturalmente, a Comissão é constituída pelos Presidentes das Comissões de

Relações Exteriores e de Defesa Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos

Deputados, pelos Líderes da Maioria e da Minoria nas 2 Casas. Isso significa que a

ABIN tem relação muito especial com o Congresso, o que não é prerrogativa de

todos os serviços de inteligência. Mas isso nos mostra como a ABIN está inserida de

modo perfeito no Estado Democrático de Direito, pois tem relação muito especial

com o Parlamento. A ABIN se sujeita, por ser órgão do Estado, aos controles

externos do Parlamento e tem com este relação exponencial.

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A Agência Brasileira de Inteligência precisa, e muito, do apoio do Congresso

Nacional para melhorar sua capacidade de atuação nas áreas do território nacional e

com relação aos temas que lhe são atribuídos.

A ABIN terá maior capacidade — e aqui clamo por apoio do Congresso — se

o Congresso Nacional nos apoiar nesse sentido.

Muito obrigado, Sra. Presidenta. Obrigado a todos os Srs. Deputados.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada a

V.Sa., Dr. Buzanelli.

Passo a palavra ao representante do Ministério da Defesa, General Santa

Rosa, que disporá de 5 minutos.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Quero começar

respondendo, dentro do possível, ao Deputado Carlos Souza, do Amazonas. Com

base em informações oficiais, sabe-se que nossa floresta amazônica é responsável

pela absorção de um quarto, ou seja, 25% do excedente de CO2 — dióxido de

carbono — produzido artificialmente pelo homem. É isto o que se sabe: um quarto

desse CO2 é absorvido pela floresta. No entanto, foi quantificada a participação

brasileira nessa poluição em 6% do total desse lixo que se projeta na atmosfera,

sendo que 3% são oriundos de queimadas e 3% da produção industrial brasileira,

dos veículos etc. Quantificando matematicamente isso, teríamos um saldo de 19%.

O importante é caracterizar que quem gera a poluição deve diminuí-la.

O que não pode acontecer, a meu sentir, é preservarmos a floresta para

garantir o excedente de poluição dos Estados Unidos, do Japão e da China. Isso

não é justo. Se entendemos a função da floresta como absorvedora do excedente de

CO2, temos que ter uma compensação por esse esforço nacional de preservação.

Isso não exclui o aproveitamento racional da floresta. A sua devastação e extinção é

o que não deveria ocorrer. Até se questiona que em algumas áreas há maior

potencialidade econômica em outras culturas.

Portanto, só podemos contra-indicar a exploração na área geológica do

quaternário, porque a extinção da floresta ali geraria desertificação.

O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - General, permita-me, por

gentileza. Não seria o momento, então, em nome dessa compensação por esse

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grande trabalho que a floresta amazônica presta à humanidade, de se criar um

fundo internacional de preservação com desenvolvimento da floresta amazônica?

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Perfeitamente.

O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Houve uma pesquisa em

Londres, e as famílias européias estão dispostas a participar da criação desse

fundo.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - O importante é não

vincular isso com obrigações que comprometam a nossa soberania. No restante,

concordo com o senhor.

Quanto àquela outra observação sobre o Dr. Sardenberg, eu podia comentar

que mesmo os grandes cientistas cometem enganos. Quando o Dr. Sardenberg,

sendo Ministro do Governo Collor, viajou pela primeira vez e sobrevoou o Estado de

Roraima, na região de Boa Vista, ele comentou — com testemunho de

companheiros nossos que estavam presentes — que achava um absurdo aquela

área ter sido devastada. Isso demonstra que ele desconhecia que o lavrado nunca

foi floresta. Isso prova que nem sempre as afirmações dos nossos cientistas devem

ser levadas ao pé da letra, porque eles também cometem enganos.

Houve indagações do Deputado Neudo Campos a respeito da Venezuela e do

petróleo. Pelas informações que temos, o petróleo venezuelano é produzido nas

regiões de Guajira e de Zulia, no vale do Rio Orinoco. Não temos informações sobre

incidência com esse potencial todo de petróleo na área amazônica da Venezuela.

Essas são as informações que tenho. Por que a PETROBRAS exclui o Vale do

Tacutu? Isso é um problema de gestão da PETROBRAS. Lamentavelmente nada

posso afirmar.

Quanto ao problema de Pacaraima, a precariedade da aduana e a afirmação

de que os órgãos brasileiros de controle envergonham os brasileiros perante os

venezuelanos, o que posso dizer é o seguinte: todos os anos o comandante daquele

batalhão de selva de Santa Elena de Uairén visita pelo menos uma vez o nosso

pelotão de fronteira em Pacaraima para mostrar aos seus subordinados a maneira

competente de controlar a logística das suas forças.

Só por curiosidade, os venezuelanos não conseguem desdobrar pequenos

efetivos, tal como nós, brasileiros, fazemos. Eles só conseguem ter grandes efetivos,

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porque os pequenos efetivos ensejam o descontrole, o contrabando, a venda e a

perda de armamento, o que não acontece com a nossa cultura militar. Temos

pequenos destacamentos e um controle cerrado do nosso equipamento e da nossa

munição. Isso tem servido de exemplo para os companheiros venezuelanos de

Santa Elena de Uairén.

Quanto à sua pergunta sobre o que estamos fazendo, eu poderia dizer ao

senhor que o programa Calha Norte, gerido pela minha Secretaria, aplicou 60

milhões de reais no seu Estado, no ano passado. Para este ano, há previsão

semelhante. Então, estamos fazendo a nossa parte, dentro do possível, dentro dos

recursos previstos.

O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Se me permite um aparte, general,

gostaria de perguntar qual a contribuição que a sua Secretaria pode dar para

sensibilizar o Governo Federal para essa questão. Quando se observa que do outro

lado da fronteira se dá maior importância ao desenvolvimento, como citei o caso da

Zona Franca de Santa Elena, devo dizer que temos do nosso lado, em Pacaraima,

previsão de área de livre comércio, cuja lei instituidora foi aprovada em 1991, mas

até hoje a área não foi instalada. Foi aprovada antes das de Macapá e Santana, mas

não foi instalada ainda. O Governo Federal está inerte com relação àquela região.

Falei especificamente de Pacaraima.

Conheço e elogio a atuação do Calha Norte, da sua Secretaria. É a primeira

vez que sou Deputado, mas os Deputados mais antigos têm feito referências

altamente elogiosas à forma rápida com que vocês decidem e resolvem as

questões.

O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu poderia dizer que a

nossa Secretaria ou, no caso, o Ministério da Defesa, toma suas providências de

forma normativa e sob a forma de assessoramento. Como se diz na minha terra, não

podemos nos meter em assuntos dos outros. Sugerimos, orientamos, mas “cada

macaco no seu galho”. Não temos que fazer a gestão, apenas ajudar. Temos que

ajudar. Esse é o ponto.

Quanto ao comentário da Deputada Perpétua Almeida, de fato, temos

conhecimento de que os ashaninkas têm sido defensores da fronteira. O problema

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está na cobiça que tem despertado a existência de mogno naquelas áreas do Javari

nas empresas asiáticas que receberam concessões no Peru.

A dificuldade está em controlar o contrabando de madeira que sai da reserva

indígena brasileira para o território peruano. Conforme esclareci, esse é um

problema que deve preocupar nossas autoridades federais e os policiais federais.

Não é um problema das Forças Armadas, embora tenhamos contribuído para

estancar esse problema.

Finalmente, a respeito da questão do preconceito contra o índio, não tive

oportunidade de ler o relatório, mas queria manifestar a nossa posição. Achamos

que é justo que o índio seja protegido. O índio tem que ter condições. Como dizia o

Marechal Rondon: “Morrer, se for preciso; matar, nunca!”

E também devemos proteger a cultura, a língua e a sobrevivência do índio,

individualmente e em grupo, mas isso deve ser feito, porém, subordinado ao

interesse da soberania nacional. A soberania nacional é um valor inquestionável que

transcende todos os demais interesses. Esse é o nosso enfoque. É possível

compatibilizar os interesses da soberania com a preservação e o bem-estar dos

grupos indígenas nacionais. Os índios são brasileiros como todos nós.

Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, pode-se confirmar que 80% dos

soldados que se orgulham da profissão são índios. Aquela afirmação de que nossos

soldados estavam corrompendo as índias na região conhecida como Cabeça do

Cachorro esvaziou-se, na medida em que os soldados são índios da mesma tribo.

Se eles estivessem a se confraternizar com brancas, aí sim estaria estabelecida

uma área de contencioso.

Agradeço a oportunidade de aqui fazer esses esclarecimentos. Coloco-me à

disposição na condição de brasileiro e de profissional do Ministério da Defesa.

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada a V.Sa.,

General Santa Rosa.

Por fim, passo a palavra ao Dr. Mauro Spósito, representante do

Departamento de Polícia Federal.

O SR. MAURO SPÓSITO - Creio que a pergunta dirigida especificamente à

Polícia Federal foi apenas uma referência da Deputada Perpétua Almeida.

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Se me permitem, desde 1991 venho acompanhando a questão das terras

indígenas. Na demarcação da terra indígena ianomâmi, também surgiram as

mesmas questões. Tudo parece que se renova. Os argumentos apresentados

naquela época sobre a localização da terra indígena junto à fronteira foram

combatidos. Falarei apenas sobre o que se passou na época, na minha opinião.

Falava-se que as terras do Amazonas e de Roraima eram terras da União.

Como tal, na condição de terras devolutas, passavam a ser patrimônio da União

quando fossem registradas em cartório como terras indígenas. Portanto, ali se

assegurava realmente a eficácia da fronteira, o limite da fronteira, passando a ser

patrimônio.

Na realidade, durante todo esse tempo, coube apenas à FUNAI legislar

acerca da matéria. Então, não caberia aqui falar da Raposa Serra do Sol. Em 1991

houve discussões, inclusive foi instalada uma CPI aqui no Congresso. O Deputado

Átila Lins foi Presidente de uma CPI sobre esse assunto. Passados 16 anos —

talvez 20 anos —, a discussão é a mesma: o que é interessante para a Amazônia?

O fato é que há diversas “Amazônias”. O Amapá não é igual ao Acre, que não é

igual a Rondônia. Mas o bloco amazônico é patrimônio da União.

Se me permitem novamente insistir nisso, temos que tratar desse assunto

como um bloco e verificar as características de cada região, para que não voltemos,

daqui a 16 anos, com a mesma discussão. Esse mesmo episódio ocorreu em 1991.

Estamos em 2007, e isso irá se repetir, se não tomarmos alguma providência.

Em nome do Departamento de Polícia Federal, gostaria de agradecer

sinceramente a oportunidade de expor as nossas preocupações com a Amazônia.

Obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada, Dr.

Mauro Spósito.

Gostaria de agradecer mais uma vez a presença aos nossos convidados: Dr.

Buzanelli, Diretor-Geral da ABIN, que, no dia do seu aniversário, está conosco até

agora, e já passamos das 20h; o general Santa Rosa; e nosso querido Mauro

Spósito, representante da Polícia Federal. Agradeço a V.Sas. a presença.

Para todos nós Parlamentares que aqui estivemos foi uma audiência pública

muito concorrida. Quinze intervenções de Deputadas e Deputados foram feitas. Esta

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audiência foi de fundamental importância para que todos pudéssemos ter contato

maior com o problema. Ouvimos a opinião dessas 3 instituições importantes, a

Agência Brasileira de Inteligência, o Ministério da Defesa e a Polícia Federal, acerca

da Amazônia.

Agradeço aos convidados a contribuição e os esclarecimentos prestados. Da

mesma forma, agradeço a presença aos colegas Parlamentares e aos demais que

aqui estiveram e que contribuíram para o êxito deste nosso evento.

Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião, antes, porém,

convoco as Sras. e Srs. Deputados para reunião ordinária deliberativa a ser

realizada amanhã, às 10h, no Plenário 15.

Obrigada a todos.

Está encerrada a reunião.

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