Depoimento CACD

Embed Size (px)

Citation preview

  • INTRODUO

    Em 2008, eu tive um sonho: ser diplomata. Comeava ento minha experincia com o CACD, obstculo que separa os aspirantes carreira de diplomata da Casa do Baro. Foi sem dvida o maior desafio da minha vida: aps anos me dedicando exclusivamente ao concurso, tendo sido derrotado 4 vezes (3 por nocaute, no TPS, 1 por deciso), fui vitorioso no CACD 2013. Cada um tem uma trajetria diferente, e todos os aprovados tm sua quota de sacrifcios e dificuldades. O relato a seguir, portanto, apenas uma tentativa de compartilhar com os futuros colegas parte da minha experincia, o que eu aprendi nesses anos de preparao. tambm uma tentativa de desmistificar o certame. comum, no incio do processo, enxergar o CACD como o Tiamat dos concursos pblicos, uma besta mtica, superior nossa inteligncia. Nada mais fora da realidade. O CACD , sim, um concurso bastante difcil, com suas peculiaridades, mas isso no significa que no possa ser vencido, apenas que o caminho rduo e exige disciplina, sacrifcio, foco! um processo desgastante, no qual pontuamos bons anos de nossa vida com reticncias, imaginando o momento em que estaremos em Braslia tomando posse e deixando para trs as angstias que nos acompanham at o dia da aprovao. Espero que esse depoimento possa auxiliar aqueles que esto se dedicando ao concurso, assim como, no passado, o depoimento de outros aprovados me manteve motivado a persistir nesse sonho. Sempre absorvi mais a parte motivacional dos depoimentos, pois as estratgias de estudo so por vezes bastante pessoais (alguns fazem fichamentos, outros, como eu, optam por no faz-lo), ento dedicarei a maior parte do meu relato comentando como foi minha trajetria, na expectativa de que algum de vocs possa se identificar. Separei meu depoimento em partes, assim os mais pragmticos podem passar diretamente lista dos livros e das estratgias de estudo que, no meu caso, foram mais produtivas. Tendo em vista que se trata de um relato pessoal, tomei a liberdade de escrev-lo em um tom mais coloquial e at mesmo jocoso, conforme me deu na telha. Formalidades, deixemo-las para a carreira. No sou o Forrest Gump, mas senta que l vem estria.

    PRIMEIRO ANO

    No primeiro ano, como no havia opes de cursos preparatrios em Minas Gerais, fui morar no Rio de Janeiro. Minha preparao comeou na cidade maravilhosa, mas obcecado que estava com o concurso, pouco conheci das belezas cariocas. Estudei muito e muito mal. Na poca (2008), ainda havia a lista bibliogrfica dos livros e eu achava que era uma boa ideia ler tudo, ou o mximo dos livros que estavam presentes na lista. No entendam mal: de fato, a leitura , muito provavelmente, uma das atividades mais importantes na preparao para o concurso. Contudo, melhor reler vrias vezes o Amado Cervo do que perder tempo lendo Edgar Carone e outros autores que, embora constassem da lista de leituras indicadas, no eram indicados por nenhum professor ou cursinho, e por uma boa razo. Foi, de qualquer forma, um ano produtivo, pois foi quando comecei a me familiarizar com as matrias (nunca havia estudado Direito Internacional ou Poltica Internacional, tendo tido apenas algumas aulas de Introduo Economia, pois havia decidido prestar o concurso quando ainda estava na graduao do curso de Letras). Cometi outros equvocos que creio serem recorrentes entre os candidatos, como partir para a leitura das quatro Eras do Hobsbawm sem antes ter lido Burns ou outro manual mais didtico, de sntese. O resultado: l estava eu, lendo Hobsbawm, A Era das Revolues, para da a cinco pginas, j no me lembrar de mais nada... quem j

  • passou por isso sabe o quo frustrante ler alguma coisa e ver que voc no absorveu praticamente nada da sua leitura. Isso acontece tambm se voc resolver ler um livro denso como Ordem do Progresso sem antes dominar os fundamentos de economia, querendo pular etapas. Se voc j passou por isso, fique tranquilo. Acontece com todos, de uma forma ou de outra... A lio: no existem atalhos para a aprovao! Repito: NO EXISTEM ATALHOS PARA A APROVAO. Tornou-se comum, nos ltimos anos, muitos candidatos optarem por ler apostila do Anglo de Histria Mundial e Histria do Brasil no lugar de Boris Fausto, Eric Hobsbawm, Burns e outros livros mais extensos, porque um candidato aprovado em primeiro lugar (Bruno Resende) fez isso. No tomem a exceo pela regra. O Bruno Resende, como ele mesmo deixou claro no relato dele, teve uma trajetria de preparao singular e suas recomendaes de leitura, assim como a de qualquer um de ns, aprovados, devem ser criteriosamente levadas em considerao. Se existe um fator X, um denominador comum entre todos os aprovados : o tempo sentado com a bunda na cadeira lendo, estudando, fazendo exerccios, maior (pode haver excees, mas se existem, so raras, motivo pelo qual no devem servir de justificativa para a preguia daqueles que querem passar com o mnimo esforo) do que o tempo que voc faz qualquer outra coisa. Meu maior erro nesse primeiro ano foi achar que passar 12 horas ou mais estudando era o bastante. No . De nada adianta passar horas estudando se voc est estudando errado. Li um monte de livro intil (os de Geografia, que constavam da lista, na sua maioria eram, mas felizmente no h mais tal lista e vocs no cometero esse erro) e s fui ler a HPEB do Amado Cervo, conhecida como Bblia Vermelha entre os candidatos, semanas antes do meu primeiro TPS, erro primrio, que com certeza contribuiu para no ter tido um desempenho satisfatrio, ficando de fora do ponto de corte por uns 4 pontos, bastante coisa para os parmetros do concurso. Aps um ano inteiro estudando, assistindo aula, fazendo simulados, fao meu primeiro TPS em 2009 no Rio apenas para, em poucos dias, conferir o gabarito provisrio e ver que no tinha chances de ir para a segunda fase... Foi uma queda e tanto! No tinha recursos para continuar estudando mais um ano no Rio e tive que retornar para Barbacena, minha cidade natal, para me recuperar da derrota e recomear os estudos visando ao CACD 2010.

    SEGUNDO ANO

    Em 2009, de volta Barbacena, eu no podia contar com aulas preparatrias direcionadas especificamente ao concurso, mas tinha aprendido muita coisa no ano anterior, e uma que era fundamental: os livros que devia estudar com mais afinco, pois eram sistematicamente cobrados na primeira e terceira fases, entre eles a j mencionada Bblia Vermelha, Histria do Brasil (Boris Fausto), Formao Econmica do Brasil (Celso Furtado), Introduo Microeconomia (Mankiw), entre outros. Um amigo comentou comigo de um curso voltado para o CACD num cursinho em que estava fazendo uma ps. Esse cursinho mais famoso entre aqueles que se preparam para a prova da OAB e para carreiras jurdicas, mas havia aberto um curso direcionado para o CACD e achei que no custava nada (na verdade custava dinheiro, e mesmo que fosse de graa, como aprendemos em economia, no h almoo grtis) conhec-lo. Estava isolado em Barbacena, tinha comprado os livros que considerava imprescindveis, j que a biblioteca da minha cidade no tinha os livros que eram cobrados no concurso. Com as esperanas renovadas para o concurso do ano seguinte, resolvi me inscrever nesse cursinho e aprofundar mais meus conhecimentos sobre as matrias. Foi uma deciso acertada. Embora nem todos os professores fossem bons (todos os cursinhos, sejam voltados

  • para o CACD ou para outros concursos, tm professores que so considerados muito bons e outros nem tanto...), tinha professores excelentes, como o Luigi, com os quais pude aprender bastante, tanto com suas aulas quanto com suas indicaes de leituras. Estudei tanto quanto no primeiro ano, mas com a diferena de que procurava fazer com que minhas horas de estudo primassem mais pela qualidade do que pela quantidade, de modo a no repetir os erros do ano anterior. O resultado veio no TPS de 2010: fiz uma pontuao melhor, tendo entrado para um lugar bastante temido pelos candidatos, o famoso limbo. Para os que no conhecem, o limbo quando voc no faz uma mdia segura (aps a divulgao do gabarito provisrio) para passar para a segunda etapa, mas tambm ainda no carta fora do baralho, pois com os recursos, voc tanto pode ficar dentro quanto fora do ponto de corte. Em 2010 tambm optei por fazer a prova no Rio, pois tinha a expectativa de continuar os estudos para as fases subsequentes l, caso fosse aprovado. Fiz recursos, vivi intensamente mais um momento de reticncias, mas ainda no seria daquela vez. Por 0,20 fiquei de fora das prximas etapas do CACD 2010, tendo que retornar mais uma vez para Barbacena. No sei se pior ser eliminado por 4 pontos de diferena (2009) ou 0,20 (2010), mas sei que o sentimento de frustrao o mesmo, se no maior, por ter chegado to perto...

    TERCEIRO ANO

    O ano era 2010. Eu j havia prestado o concurso duas vezes e nas duas vezes, levei uma rasteira do TPS e fui lona. No me conformava de ter ficado de fora por to pouco, mseros vinte dcimos, mas parafraseando o personagem Dom Toretto, do blockbuster Velozes e Furiosos (sim, voc leu isso certo, estou parafraseando o Vin Diesel, avisei no incio que seria um relato informal, o que pressupe liberdade de recurso cultura pop) no importa se voc ficou de fora por 2 pontos ou 0,2 dcimos, voc no passou e vai ter que prestar o concurso de novo. Dessa vez me recuperei mais rpido da queda e aps umas duas semanas, estava de volta aos estudos, ansioso para que 2011 chegasse logo e eu pudesse finalmente superar a primeira fase. Nessa poca, comeavam a surgir cursos online, que tornaram possvel que eu pudesse continuar estudando em Barbacena, com meus livros, que pouco a pouco iam aumentando de nmero, sem que tivesse que me deslocar para outras cidades. At hoje no sei bem o que me derrubou nessa segunda tentativa, teria que pegar minha pontuao e meu desempenho comparado de cada matria, mas independentemente do que tenha sido, uma coisa eu sabia: estava perto, tinha que continuar tentando! E o resto do ano se passou, em meio a estudos, leituras, aulas online e alguns momentos de lazer, pois ningum de ferro. Alis, eis uma lio que geralmente custamos a aprender no processo de estudar para o CACD: o EQUILBRIO entre a dedicao ao concurso e a dedicao a ns mesmos. Tentar viver como um rob, apenas estudando para o CACD, antinatural e contraproducente. preciso aprender a conciliar o tempo de estudo com outras atividades que tornem a preparao suportvel. Ir pra balada todo fim de semana enquanto se estuda para o CACD temerrio, pois quebra seu ritmo de estudos. Reservar um tempo da sua semana para sua famlia, amigos, namorada(o) , por outro lado, fundamental para manter a sanidade mental durante todo esse processo. Continuei estudando com afinco, ansioso pelo edital do CACD 2011. Estava confiante de quem em 2011 passaria. Dessa vez, fiz o TPS em casa, em Belo Horizonte. Infelizmente, ainda no foi dessa vez... Em vez de passar, fiquei por 2 pontos, um resultado pior do que em 2010. No sei quantos j passaram por isso, mas uma experincia desestimulante encarar que nosso desempenho, com mais tempo de estudo, acabou sendo

  • pior do que no ano anterior. Foi o terceiro nocaute. O TPS havia me derrubado outra vez, mas seria a ltima! Nesse momento, talvez alguns estejam se perguntando: e voc no pensou em desistir? Afinal foram 3 anos de estudos intensos investidos no concurso e voc sequer passou do TPS... No, e digo porque: cada ano que passava, eu ficava mais convicto de que era isso que eu queria, de que minha vocao estava na carreira de diplomata, de que no seria feliz pessoal e profissionalmente se optasse por fazer outra coisa. E mais, de que se desistisse, chegaria um dia da minha vida, talvez com trinta e poucos anos, talvez mais, em que seria atormentado por aquelas duas palavras mais terrveis: E SE? E SE eu tivesse tentado mais uma vez? Como teria sido? Onde eu estaria agora? Eu podia viver com outras pessoas me perguntando por que no tentava um concurso mais fcil (imagino que a grande maioria j tenha escutado essa), mas no podia viver com a dvida. Para mim, o CACD nunca foi uma questo de E SE, mas, sim, de QUANDO. Em vez de E SE eu no passar esse ano?, me perguntava QUANDO eu passar, como vai ser? Reconheo, contudo, que nessa altura do campeonato, estava se tornando muito difcil me manter motivado, pois tinham sido 3 anos sem ver um resultado tangvel. Mais do que nunca, eu precisava de uma vitria, pois embora desistir no fosse uma opo, estava comeando a me questionar se era bom o bastante para ser aprovado.

    QUARTO ANO

    Chegamos a 2011, ano que decidi me mudar para Belo Horizonte pela segunda vez (a primeira foi quando cursei Letras na UFMG. Pode parecer uma meno enfadonha e irrelevante, mas foi decisiva para minha organizao de estudos. Assim como um estudante de RI tem mais familiaridade com Poltica Internacional, eu tinha mais facilidade com a matria de Ingls que outros candidatos por ter estudado na graduao. Da mesma forma, Francs e Espanhol cursei um tempo como matrias optativas; logo, quando fui estud-las para a quarta fase, no estava comeando do zero como muitos.) Meus estudos em Barbacena j no rendiam muito, precisava de algo que me motivasse a continuar estudando e ir para BH era uma forma de me manter focado e disciplinado, pois no estaria no conforto do lar, e, sim, pressionado a continuar me dedicando ao CACD. Ao contrrio de quando comecei (2008), agora em 2011 j existiam cursos preparatrios telepresenciais em BH, o que tornava possvel que assistisse as mesmas aulas que os outros candidatos do tradicional eixo SP-RJ-BSB. Mais uma vez, eu no via a hora de chegar o prximo TPS, pois significava que teria outra chance. Outra chance para fazer melhor, outra chance para me superar, outra chance para alcanar meu objetivo. Uma coisa muito importante que o CACD ensina, aps quebrarmos a cara mais de uma vez tentando venc-lo, HUMILDADE. Se ramos os melhores da turma na faculdade, no CACD competimos com candidatos muitas vezes mais preparados do que ns e por vezes mais experientes. essa poca, eu tinha aprendido a ser humilde, a reconhecer que sempre tinha algum que sabia mais do que eu. Fui para o TPS de 2012 mais sereno, mais tranquilo at, ciente de que tinha estudado, feito minha parte e de que faria meu melhor. Era procurar fazer a prova com calma e sair de cabea erguida, no importasse qual fosse o resultado. Dessa vez eu no fui nocauteado, eu tinha conseguido ser aprovado para a segunda fase! Era a primeira vez que teria oportunidade de fazer as fases seguintes. Era a vitria que eu precisava! Foi por pouco, raspando mesmo, mas eu tinha conseguido entrar no ponto de corte. Estava to obcecado em superar o TPS que no estudei redao nos anos anteriores, com exceo de 2008. Seriam 3 semanas para a prova de redao e eu precisava compensar o tempo perdido. Tenho

  • procurado evitar adentrar no terreno fiz esse cursinho, depois fiz o outro, da gostei daquele outro por causa do professor tal, pois no minha inteno nesse relato polemizar sobre que curso melhor, apenas compartilhar minha experincia. De alguma forma, todos os cursinhos que fiz me ajudaram a chegar at aqui (os cursinhos, na verdade, so to-somente a infraestrutura, o que faz mesmo a diferena, na minha opinio, so os professores, os quais cimentam os alicerces dos cursinhos e aos quais devo a maior parte da minha gratido) . No caso da segunda fase, todavia, penso ser relevante comentar com mais detalhes como foi minha preparao, haja vista receber frequentemente pedidos nesse sentido. Fiz minha preparao para a segunda fase de 2012 no Curso Atlas, com o professor Maurcio Costa. Foram trs semanas escrevendo muito e lendo mais ainda. Sim, isso mesmo. Muitos acham que a segunda fase se resume basicamente a escrever, escrever, escrever. Leem o enunciado dos exerccios de interpretao e da redao e disparam a escrever, com preguia de pesquisar mais a fundo o tema. A vem o questionamento: ah, mas no dia da prova no vamos poder consultar... verdade, mas agora, a no ser que voc esteja fazendo um exerccio que tenha que devolver ao professor ou postar na plataforma no tempo exato que voc teria no dia da prova, voc tem. No me entendam mal: acredito que todos os exerccios da segunda fase devem ser cronometrados, assim como os da terceira e quarta fases tambm. O que acontece que muitas vezes os cursinhos ou professores particulares deixam um tempo para pesquisar o assunto e da escrever a redao. Em vez de utilizar esse tempo para ler a respeito do tema, muitos optam por escrever logo e, assim, ficarem livres da obrigao de escrever. o bvio ululante, a maioria sabe disso, mas no custa enfatizar: se voc quer escrever bem, voc tem que ler. O fato de ler muito no garante que voc vai escrever bem, isso leva tempo e prtica, agora uma coisa garantida: no ler nada na preparao para a segunda fase ou achar que porque leu o captulo sobre o Gilberto Freyre no livro Um Banquete nos Trpicos vai conseguir mandar bem em redao, uma receita infalvel para fazer uma nota medocre em contedo. Mesmo que nem tudo que voc leu se preparando para escrever acerca de determinado assunto venha a ser utilizado na preparao da segunda fase, pode vir a s-lo no dia da prova. Lia vrios artigos acadmicos para depois elaborar um exerccio de interpretao, que no pode passar de 150 palavras. Naturalmente, tinha que selecionar bastante o que ler e escrever. O importante que no fim da preparao tinha lido tanta coisa, sobre tantos assuntos, que me sentia preparado para escrever com propriedade sobre qualquer tema. Uma coisa que tinha lido para escrever um exerccio de interpretao X acabava servindo de argumento para dissertar sobre o assunto Y na redao do dia da prova (isso aconteceu tanto em 2012 quanto em 2013). Depois da vitria de finalmente ter passado no TPS, consegui uma nota excelente na segunda fase e fui bastante motivado para a terceira fase. Era a primeira vez que realizaria todas as provas do concurso. Estudei o que pude, seguindo as orientaes dos professores, fazendo os exerccios discursivos, mas, infelizmente, meu desempenho na terceira fase de 2012 no foi satisfatrio e eu no obtive uma boa classificao, ficando muitas posies abaixo do nmero de vagas. Foi a quarta tentativa fracassada e eu ainda no tinha conseguido a aprovao... Tinha conseguido, contudo, duas vitrias muito importantes: ter superado a experincia traumtica do TPS e ainda ter tido um timo desempenho na segunda fase.

  • QUINTO ANO

    O ano de 2012, quinto ano da minha preparao, foi fundamental para que eu parasse de me questionar se era bom o bastante. Havia superado o TPS, havia passado com uma nota excelente na segunda fase, no havia me classificado no nmero de vagas, mas havia ido at o final, tinha feito todas as provas. Por mais frustrante que fosse passar mais um ano desapontado por ainda no ter conseguido, sabia que agora a aprovao estava cada vez mais perto. Eu tinha que procurar ir melhor no TPS seguinte (passar com uma nota segura), repetir o timo desempenho da segunda fase e melhorar consideravelmente minhas notas de terceira fase, especialmente Economia, que tinha me presenteado com um zero bem redondo numa questo de 30 pontos! O resto de 2012 terminou sem muitos sobressaltos aps a decepo de nadar, nadar e morrer na praia. Se os anos anteriores tinham me ensinado a ter HUMILDADE, 2012 me ensinou a ter CONFIANA. Como diria Pai Mei (sim, aquele velhinho porreta do Kill Bill), a prova que precisa temer a sua caneta, e no o contrrio. Ter medo de fazer a prova admitir a derrota, antes mesmo de comear. Percebi, nesse momento, que precisava encarar as provas com mais confiana, sem perder a humildade. Acredito que os candidatos so aprovados quando conseguem alcanar este equilbrio entre confiana e humildade na realizao das provas. Sabia que um novo concurso viria em 2013 e eu precisava estar preparado para ele. Retornei para Barbacena mais uma vez, pois assim como da vez que morei no Rio, no tinha recursos para continuar morando em Belo Horizonte por mais tempo. Os estudos teriam que continuar novamente em Barbacena. E assim foi...

    SEXTO ANO

    2013, o ano da aprovao. Depois de 4 derrotas consecutivas, enfim a vitria. Dessa vez no vou parafrasear, vou citar na ntegra mesmo porque sintetiza minha experincia com o CACD e meu ponto de vista de como devemos encar-lo: nas sbias palavras de Rocky Balboa, it aint about how hard you hit, its about how much you can take and keep moving forward, thats how winning is done. De volta a Barbacena, os meses passavam e o edital no saa... muitos, eu estava entre eles, passaram a acreditar que o edital no sairia mais e que no teramos concurso em 2013. poca, eu participava de um grupo de estudos no Skype com alguns amigos, entre eles o candidato tambm aprovado ano passado, Guilherme Raicoski, com os quais discutia temas afetos ao concurso. Para mim, nesses encontros virtuais, o melhor era as nossas sesses do descarrego, em que os desabafos sobre o concurso se somavam ao multilateralismo da reciprocidade das angstias. O edital no era publicado e a ansiedade pouco a pouco dava lugar resignao... De repente, no mais que de repente, eis que o edital publicado e o dia D determinado. Tnhamos a data do primeiro confronto e uma notcia desestabilizadora: apenas 100 candidatos seriam aprovados para a segunda fase (em 2012 tinha sido o dobro, 200). Dessa vez, queria mais que nunca ser aprovado com folga no TPS para ir motivado para a segunda fase e seguir confiante at o fim do concurso. Fiz o TPS num estilo Kamikaze, partindo pro tudo ou nada. Em anos anteriores, teria sido mais conservador ao julgar as assertivas, mas precisava pontuar muito bem e estava decidido a entrar de cabea no concurso de Analista do BACEN, cujas inscries tinham sido abertas na mesma semana, caso no conseguisse uma nota segura aps a divulgao do gabarito provisrio. No se tratava de

  • abrir mo do CACD, continuaria tentando quantas vezes fosse preciso, mas no podia ficar apostando todas minhas fichas ano aps ano somente no CACD, pois a presso familiar era grande e eu estava ficando velho demais pra isso (um livro da bibliografia de presente pro primeiro que identificar essa referncia cinematogrfica). Dei all-in no TPS, consegui uma nota alta, segura, que me deixava numa situao tranquilizadora para pensar nas fases seguintes. J fazia o curso de questes discursivas de Economia da Michelle Miltons para me preparar para a terceira fase (o zero de 2012 no podia ser repetido) e Francs com a Mariana, professora do IDEG no RJ. No estudei Espanhol, pois no tinha tempo nem recursos, mas sugiro fortemente que todos estudem. H uma amplitude de notas maior entre os candidatos na quarta fase do que nas outras, e todo ano candidatos caem e sobem muitas posies devido ao desempenho nas provas de Francs e Espanhol. Estudem, portanto, no s as matrias tradicionais, como tambm tenham uma ateno especial com as lnguas (Ingls, Francs e Espanhol). Tendo passado com uma nota tima na segunda fase novamente, tinha agora a chance de fazer melhor na terceira fase. Consegui fazer as provas com mais serenidade, sem afobar (o tempo muito curto, no d para fazer rascunho, mas essencial pelo menos um rpido brainstormpara articular quais sero os argumentos e a ordem em que sero apresentados). Convenci-me e pude notar empiricamente nas minhas notas o que o Joo Daniel, professor de Histria do Brasil do Curso Clio, sempre enfatizou: na terceira fase, o contedo serve forma. Um texto claro, coerente, ainda que superficial, melhor avaliado que um texto com timos argumentos, mas totalmente desarticulado. Naturalmente, o melhor dos dois mundos ter um texto articulado e coeso, com uma argumentao slida e consistente. No fcil, no calor da batalha, suando para responder a prova tempo, elaborar um texto assim. Mas possvel, do contrrio no haveria Guias de Estudos com as respostas mais bem avaliadas. Sa do ltimo dia de provas (Economia, Francs e Espanhol), seguro de que havia feito meu melhor e nada me restava a no ser descansar da maratona e aguardar a divulgao das notas. Foi o ano da virada! O ano em que as reticncias deram lugar ao maior ponto de exclamao da minha vida: eu havia conseguido! Todas as decepes, angstias e frustraes dos anos anteriores tinham ficado para trs. Meu nome estava entre os aprovados e em breve eu estaria em Braslia, tomando posse como diplomata, vivendo o momento pelo qual eu dedicara tantos anos.

  • PRA NO DIZER QUE NO FALEI DE LIVROS

    A pergunta sempre a mesma: que livros voc leu, que dicas voc daria para quem est comeando... quanto s dicas, creio que as mais relevantes (sempre segundo meu ponto de vista) foram mencionadas no decorrer do relato. Em se tratando de livros, mencionei alguns, mas como prometi, farei um relato mais extenso das obras que considero importantes e que ajudaram muito na minha preparao. Sem mais delongas, vamos aos livros:

    HISTRIA MUNDIAL

    Embora no conste das disciplinas de terceira fase, fundamental ter um bom aproveitamento no TPS, haja vista na primeira fase, nada menos de 10 questes versarem sobre temas de Histria Mundial, o dobro das questes de Histria do Brasil (cinco). Nessa matria, no h muito mistrio: a leitura atenta e recorrente dos livros mais cobrados passo seguro para um bom aproveitamento na prova.

    A Era das Revolues

    A Era do Capital

    A Era dos Imprios

    A Era dos Extremos

    Considero a leitura das 4 Eras do Hobsbawm uma leitura cansativa, porm fundamental. As questes tendem a seguir o enfoque do historiador, logo preciso conhecer sua perspectiva sobre os eventos histricos mais marcantes (Revoluo Francesa, Revoluo Industrial, I e II GM, temas de Cultura, entre outros)

    Histria das Relaes Internacionais Contemporneas Sombra Saraiva

    O autor um dos membros da banca de terceira fase de HB e as questes sobre o perodo ps-II GM no raro so cpias de trechos e/ou interpretaes contidas neste livro

    O Sculo XX Paulo Fagundes Vizentini

    Sntese bastante didtica dos eventos cobrados na prova referentes ao sculo XX

    O Mundo Contemporneo Demtrio Magnoli

    Ajuda muito a compreender os fatos posteriores ao fim da segunda guerra mundial (1945)

    Histria da Civilizao Ocidental II Volume Burns

    timo manual para os estudos iniciais. Convm sempre rel-lo, especialmente perto da prova.

    Histria da Amrica Latina - Luiz Roberto Lopez

    Sucinto, vale a leitura, pois pode salvar uma eventual questo sobre Amrica Latina, a exemplo da questo sobre o Chile na prova deste ano (2014)

  • Introduo Histria Contempornea Geoffrey Barraclough

    Gosto muito deste livro. Tem um enfoque mais analtico que factual, mas sem se perder em detalhes e digresses extensas como o Hobsbawm. Em pelo menos 2 TPS caram questes que foram tiradas ipsis litteris deste livro, como a referente comparao entre o projeto internacionalista de Lenin e o de Roosevelt. Lembro-me at hoje da minha surpresa quando aps ter sido reprovado no TPS de 2010, ter lido uma passagem nesse livro que respondia perfeitamente essa questo.

    O Sculo XIX e o Sculo XX Ren Dumont

    Leitura bastante agradvel, que pode complementar os estudos e fornecer alguns detalhes no encontrados em outras obras.

    HISTRIA DO BRASIL

    Histria do Brasil - Boris Fausto

    Leitura essencial. Quem quiser se arriscar lendo Apostila do Anglo, v em frente! Fica, contudo, a estatstica: 99% dos candidatos aprovados leram exausto esse livro!

    Histria do Brasil Yedda Linhares

    Leitura mais densa, a ser feita aps o Boris Fausto, tem captulos que so referncia no estudo, como os referentes ao Imprio Brasileiro, escritos pelo historiador Marcello Basile.

    Volumes Histria do Brasil Nao

    tima aquisio para a biblioteca. Trata-se de uma coleo recente (no tanta agora, mas vale a lembrana, pois muitos ainda no conhecem), dividida em marcos temporais e escrita por historiadores renomados.

    Histria da Poltica Exterior do Brasil Amado Cervo e Clodoaldo Bueno

    No tem escapatria. Ajoelhou, ento vai ter que rezar! Apresento aos infiis a Bblia Vermelha, leitura obrigatria antes da primeira comunho (leia-se: TPS), que vai se tornar livro de cabeceira at voc passar no concurso.

    Manual do Candidato de Histria do Brasil (FUNAG) Joo Daniel

    Sem dvida um dos melhores e mais prazerosos livros de HB que eu li. A diviso de tpicos e a organizao da obra, aliadas linguagem clara, oferecem ao leitor ao mesmo tempo uma viso panormica e densa da HB, tornando este livro uma leitura bastante enriquecedora para os candidatos. Recomendo sua leitura aps a assimilao de outros manuais de sntese como o Boris Fausto, pois o livro repleto de argumentos trabalhados na historiografia, os quais sero melhor compreendidos se o candidato j tiver uma base slida de HB.

  • GEOGRAFIA

    Manual do Candidato Geografia (FUNAG) - Bertha Becker

    No cobre todos os temas e em alguns pontos j est desatualizado, mas ainda assim uma leitura bastante til para se familiarizar com os temas.

    Conexes Brasil e Mundo - Regina Celina Arajo

    Semelhante ao Projeto de Ensino de Geografia, muito conhecido entre os candidatos. Cobre, em tese (porque sempre tiram um coelho da cartola na prova de GEO), praticamente tudo que voc precisa saber para fazer a prova.

    Geografia Pequena Histria Crtica Antonio Carlos Robert Moraes

    Livro bem curto, que resolve qualquer questo sobre Histria da Geografia, tema que tem cado com frequncia nos ltimos anos.

    DIREITO INTERNACIONAL

    Direito Internacional Pblico e Privado Portela

    Direito Internacional - Rezek

    Esses dois manuais, na minha opinio, do conta do recado. O Rezek em alguns pontos est ultrapassado (sujeitos de DIP), mas continua sendo muito til para uma primeira aproximao ao tema.

    ECONOMIA

    Economia Brasileira Contempornea Gremaud

    Manual bastante didtico, recomendo antes de aventurar em leituras mais densas como o Ordem do Progresso

    Formao Econmica Brasileira - Celso Furtado

    Indispensvel. Cai simplesmente todo ano na prova, seja no TPS, seja na terceira fase. Leia e releia, pois os argumentos do Furtado so sistematicamente cobrados no certame.

    Economia Brasileira Contempornea Fbio Giambiagi

    Abarca apenas o perodo posterior a 1945, mas bastante elucidativo e complementa o manual do Gremaud.

  • Introduo Microeconomia Mankiw

    Outra leitura incontornvel. No conheo ningum que tenha sido aprovado que no tenha se debruado vrias vezes sobre os grficos deste livro. Embora Microeconomia tenha perdido espao na prova de terceira fase, tem seu lugar ao sol na primeira fase e no deve ser negligenciada.

    Contabilidade Social A nova referncia das contas nacionais Carmen Feij

    Referncia para os estudos de contabilidade nacional, tema bastante recorrente na prova. Nuff said!

    Comrcio Internacional Paul Krugman

    Comrcio internacional tornou-se um tema recorrente na terceira fase. batata: todo ano uma das 4 questes da terceira fase versam sobre um tema de comrcio internacional, logo bom estar preparado para responder bem o assunto.

    POLITICA INTERNACIONAL

    Nessa matria, o pulo do gato manter-se informado pelas notas diplomticas do Itamaraty sobre tudo que acontece na poltica exterior brasileira. Torne a leitura das notas diplomticas e dos discursos oficiais um hbito corriqueiro e estar um passo mais perto de ter um bom desempenho na prova. Lembre-se que a prova cobra o enfoque oficial, logo no se perca lendo artigos criticando a poltica externa do Brasil. Seja pragmtico! Voc quer passar no concurso e sua opinio ou de pessoas fora do MRE no importam! Assimile o discurso oficial, reproduza na prova e venha para o lado negro da fora.

    PORTUGUS

    Seguramente a prova mais difcil do concurso. Ficar decorando gramtica do Celso Cunha contraproducente. Treine bastante fazendo exerccios de Portugus do CESPE e, se possvel, invista num professor que conhea bem a prova. O tempo curto e as questes tendem a ser bem capciosas. Negligencie o estudo desta matria e prepare-se para fazer a inscrio no CACD do ano seguinte.

    INGLS

    Segunda matria com mais peso na primeira fase (13 questes) e nmesis dos candidatos na terceira fase. Estude muito e estude bem, de preferncia com um professor que conhea a prova (a notcia boa que existem timos professores de ingls especializados no CACD)

  • FRANCS E ESPANHOL

    No tem como fugir. Se voc no sabe estes idiomas, aprenda. E aprenda antes de comear o concurso, pois depois o tempo ser escasso e voc corre o srio risco de ter seu desempenho prejudicado e talvez sua aprovao adiada por no ter estudado com dedicao estes idiomas. Novamente, vale a mesma sugesto dos outros idiomas (Portugus e Ingls). Estude com foco na prova, com professores que j tm experincia preparando candidatos para o CACD.

    LAST BUT NOT LEAST

    Aps muito tempo, finalmente algum se deu o trabalho de comentar as questes objetivas do TPS. O livro da editora Foco, Como Passar no Concurso da Diplomacia, uma mo na roda para treinar as questes objetivas e pegar o feeling da prova. Com o tempo, voc comea a desenvolver uma intuio (voc meio que entra na cabea do examinador, e mesmo que no saiba o porqu, seu spider alert te avisa que tem algo errado com a formulao da assertiva...)

    Naturalmente, tem muitos outros livros importantes para a preparao, porm preferi dar destaque queles que considero imprescindveis para uma base slida. Com o tempo, vamos descobrindo outras obras, sugeridas por professores e colegas, mas essas tm o respaldo do tempo. Tais leituras tm sido adotadas e recomendadas tanto por aprovados quanto por professores, o que demonstra sua importncia para uma boa preparao.

    CONCLUSO

    Espero que meu relato tenha sido til a todos aqueles que esto se preparando para o CACD e que tambm compartilham o sonho de servir os interesses do Brasil no exterior. Brincadeiras e comentrios irnicos parte, toro para que voc, candidato, seja bem-sucedido no concurso e em breve venha para Braslia fazer parte dessa carreira incrvel. Fao parte do quadro de diplomatas brasileiros h pouco tempo e estou fascinado com esse novo mundo. ltimo momento palestra motivacional/autoajuda do texto: It is not about IF, it is about WHEN. No desista! Keep moving forward e nos vemos em Braslia!

    Pedro Piacesi