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“... Senhor, irmão de Tupã, fazei Com que o chicote seja por fim pendurado Revogai da intolerância a lei Devolvei o chão a quem no chão foi criado...” Gilberto Gil Deputado Estadual Edson Portilho e Ministro da Cultura Gilberto Gil 17158.p65 04/09/99, 16:15 1

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“... Senhor, irmão de Tupã, fazei

Com que o chicote seja por fim pendurado

Revogai da intolerância a lei

Devolvei o chão a quem no chão foi criado...”

Gilberto Gil

Deputado Estadual Edson Portilho e Ministro da Cultura Gilberto Gil

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Composição da Mesa Diretora daAssembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

Presidência: Dep. Vilson Covatti (PP)1ª Vice-Presidência: Dep. Ronaldo Zulke (PT)2ª Vice-Presidência: Dep. Márcio Biolchi (PMDB)1ª Secretaria: Dep. Paulo Azeredo (PDT)2ª Secretaria: Dep. Manoel Maria (PTB)3ª Secretaria: Dep. Paulo Brum (PPB)4ª Secretaria: Dep. Cézar Busatto (PPS)

Composição da Comissão deParticipação Legislativa Popular

Presidente: Dep. Edson Portilho (PT)Vice-Presidente: Dep. Jussara Cony (PC do B)

Titulares:

Dep. Cézar Busatto (PPS)Dep. Floriza dos Santos (PDT)Dep. Iradir Pietroski (PTB)Dep. Jair Soares (PP)Dep. Jerônimo Goergen (PP)Dep. João Osório (PMDB)Dep. Márcio Biolchi (PMDB)Dep. Paulo Brum (PSDB)Dep. Raul Pont (PT)Dep. Sérgio Peres (PL)

Reuniões Ordinárias: quintas-feiras às onze horas

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Índice

Apresentação ................................................................................. 5

A Colônia Africana em Porto Alegre ............................................ 7

Audiência Pública:A Territorialidade Negra no Rio Grande do Sul ................... 9

Anexos: ........................................................................................... 77Cartilha da Família Silva ........................................................ 79Termo de Cooperação Técnica entre a Fundação Cultural Palmares e a Prefeitura de Porto Alegre ............................. 96

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Apresentação

A presente publicação é resultado da Audiência Pública sobre aTerritorialidade Negra no Rio Grande do Sul – A Luta dos Rema- nescentes de Quilombo no estado. Aqui, estão registrados todos

os depoimentos prestados durante o encontro realizado em 13 de ju-nho de 2003, na Assembléia Legislativa, pela Comissão Mista Perma-nente de Participação Legislativa Popular.

Num dos mais significativos encontros realizados no estado paratratar deste relevante tema, estiveram presentes representantes doMinistério Público Federal, do Ministério da Cultura, da FundaçãoPalmares, do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comu-nidade Negra (CODENE/RS), do Movimento Negro Unificado, da Se-cretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana de Por-to Alegre, do Gabinete da Reforma Agrária e Cooperativismo do Gover-no do Estado, além de representantes de inúmeras organizações nãogovernamentais e de vários segmentos dos Movimentos Populares eSociais, especialmente os ligados à luta em defesa dos direitos huma-nos e contra a discriminação racial.

O reconhecimento das áreas onde vivem comunidades formadaspor descendentes de escravos, como terras remanescentes dequilombos, é uma das principais lutas do movimento negro do país.Essa é uma das tantas reparações que a sociedade brasileira aindadeve a este povo que sofreu por mais de três séculos o horror da es-cravidão e segue vivenciando, diariamente, a dura realidade da discri-minação e do preconceito.

O caso da família Silva é emblemático. Por isso é objeto de focoespecial nesta publicação e audiência. Existem evidências substanci-ais de que estamos diante de um quilombo urbano, o primeiro do país.A causa dos Silva é representativa porque ali se trava uma batalha de,pelo menos quatro décadas, de resistência pela posse da terra. Osafrodescendentes da família Silva lutam nos tribunais contra litigan-tes poderosos e, assim mesmo, resistem.

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A luta dos irmãos Silva, em Porto Alegre, é mais um exemplo quebem ilustra a realidade dos negros em nosso país. Mesmo sendo 45%da população brasileira e tendo dado sua contribuição fundamentalpara a riqueza nacional ao longo da história, os negros são mais de65% dos pobres do Brasil.

A implementação de ações afirmativas que busquem reparar osdanos causados pela discriminação contra os negros é o imperativopara a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Políticasde cotas em instituições de ensino, bem como para o preenchimentode vagas para emprego, tanto no setor público como em empresasprivadas são iniciativas fundamentais para o resgate da dívida que asociedade tem para com os afrodescendentes.

A Comissão de Participação Legislativa Popular está cumprindoseu papel ao propor, instrumentalizar e contribuir na formulação decaminhos para o enfrentamento da questão da territorialidade da etnianegra no Estado. Com este documento, pensamos estar colaborandopara busca das resoluções que demanda a comunidade negra do RioGrande do Sul.

Deputado Edson PortilhoPresidente da Comissão de Participação Legislativa Popular

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A COLÔNIA AFRICANAEM PORTO ALEGRE

Emir da SilvaMovimento Negro Unificado

Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do séculoXX a área que corresponde atualmente aos bairros Rio Branco,Mont Serrat e Bonfim em Porto Alegre era habitada essencial-

mente por negros e negras. O seu estabelecimento foi por volta dosanos da abolição até, aproximadamente o ano de 1920, sendo que en-tre 1940 e 1960 houve uma completa descaracterização da área coma especulação imobiliária, urbanização acelerada e progressiva ex-pulsão institucional dos moradores negros.

O projeto de modernidade capitalista considerava que a herançagenética e cultural africana inviabilizava a construção de uma socie-dade civilizada sob os novos parâmetros de desenvolvimento urbano,balizado pelo progresso racional, tecnológico e científico mundial. Nasua formação, aquela região representava um espaço de segregaçãoracial urbana em relação ao centro da cidade onde estava a burguesiada época. Eram arrabaldes com alto nível de insalubridade e miséria;o verdadeiro cenário da exclusão social dos descendentes de africa-nos após a abolição da escravatura.

Este processo de embranquecimento transcorre, até hoje na his-tória de Porto Alegre, onde os negros constituem um anel de pobrezana região metropolitana, inclusive sob programas habitacionais dopoder público, como a criação do bairro da Restinga. Além disto, hou-ve um brutal rompimento cultural com o desaparecimento da ColôniaAfricana que era um território importante para os batuqueiros, devi-do as antigas casas de religião.

No bairro Mont Serrat havia a Casa da Mãe Laudelina do Barácultuando a tradição conhecida como lado de Oió, de matriz africana.

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Este choque foi influenciado pela penetração da Igreja Católica naregião e o processo de catequização da comunidade negra, bem como,a chegada dos judeus israelitas que até hoje habitam o bairro do Bonfim.Estes aspectos são fundamentais para uma reavaliação da constitui-ção urbanística contemporânea que continua passando por cima deterritórios negros.

Estes espaços, verdadeiramente, são denominados Quilombos poisrefletiram e refletem geográfica e politicamente a resistência negracontra a espoliação e a discriminação racial, social e econômica.

Atualmente, estamos participando do movimento em defesa dafamília Silva, no bairro Três Figueiras em Porto Alegre, na região daAntiga Colônia Africana, onde estes descendentes de escravos estãosob ação de despejo e reintegração de posse de parte dos supostosproprietários.

Além deste caso, o estado do Rio Grande do Sul apresenta váriosproblemas de identificação, demarcação, regularização fundiária, eviolência no campo em relação às comunidades remanescentes dequilombos. Localidades como Morro Alto, Restinga Seca, Casca, Ser-tão e Barro Vermelho são alguns dos Quilombos Rurais que reivindi-cam a posse de suas terras.

Contudo, é fundamental um processo de reparação pelos crimesque lesaram a humanidade e deflagraram a realidade contemporâneade desigualdade racial no Brasil, devido ao regime escravocrata, poisse a escravidão foi sustentada pelo estado, cabe a ele reparar as atro-cidades cometidas que influenciam diretamente a situação atual deexclusão sócio-econômica da população negra no país. Neste aspecto,um passo importante a ser dado é o direito à terra e a preservação dopatrimônio histórico cultural dos afro-brasileiros. O cumprimentodestas etapas serão importantes para alcançarmos a cidadania e averdadeira democracia.

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AUDIÊNCIA PÚBLICA:A Territorialidade Negra no Rio Grande do Sul:

a luta dos remanescentes de quilombos no Estado

F O TO 1

Deputado Edson Portilho (Pt)Presidente da Comissão de Participação Legislativa Popular

Declaro abertos ostrabalhos dareunião extra-

ordinária da Comissãode Participação Legisla-tiva Popular, uma Co-missão nova na Assem-bléia Legislativa do Es-tado Rio Grande do Sul,mas que funciona nasAssembléias Legisla-tivas de Brasília e deSão Paulo.

A nossa Vice-Presi-dente é a Deputada Jus-sara Cony e os mem-bros titulares são osDeputados Cézar Bu-

satto do PPS, Floriza dos Santos do PDT, Iradir Pietroski do PTB,Jair Soares do PP, Jerônimo Goergen do PP, João Osório do PMDB,Márcio Biolchi do PMDB, Paulo Brum do PSDB, Raul Pont do PT eSérgio Peres do PL.

Convido a fazer parte da Mesa o Sr. Representante do MistérioPúblico Federal Procurador Marcelo Beckhausen; o Secretário Extra-ordinário da Reforma Agrária e Cooperativismo, Celso Geiger, neste

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ato representando o Governo Rigotto; o Sr. Representante da Secreta-ria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana do Municípiode Porto Alegre, Talis Rosa da Rosa; o Presidente da Fundação Palmares,Ubiratan Castro de Araújo; a Presidente do Conselho de Desenvolvi-mento e Participação da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul –CODENE –, Ivonete de Carvalho; o Sr. Representante do MovimentoNegro Unificado, Emir da Silva; o Sr. Representante da Delegacia Regi-onal do Trabalho, Gilmar Valadares; a Sra. Representante da Secreta-ria Estadual da Cidadania e Assistência Social, Sônia Santos; e aProcuradora da República de Santa Maria, Carmem Hensel.

Na medida do possível vamos registrando a presença das entida-des e das pessoas que estão conosco. Sabemos das dificuldades doshorários e dos dias, temos na Casa muitas reuniões das ComissõesPermanentes.

Recebemos justificativas de ausência do Chefe-Geral da EMBRAPATrigo, Benami Bacaltchuk; do Ministro das Cidades, Olívio Dutra; doMinistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, LuizFernando Furlan; do Ministro da Saúde, Humberto Costa; da Ministrado Meio Ambiente, Marina Silva; do Ministro do Trabalho, JacquesVagner; do Ministro da Cultura, Paulo Miguez; do Ministro do Desen-volvimento Agrário, Miguel Rossetto; e do Presidente do Comitê dasRotas de Integração, Joal Teitelbaum.

Todos enviaram ofício se congratulando com a iniciativa da Co-missão, colocando à disposição seus Ministérios e suas Secretariaspara possíveis parcerias e lamentando suas ausências, por compro-missos assumidos anteriormente.

Registro a presença da Sra. Representante da Procuradoria-Geraldo Estado, Dra. Christianne Caminha, a quem convido a fazer parteda Mesa; da Sra. Vera Regina Triumpho, neste ato representando oSenador Paulo Paim; da Sra. Representante da Delegacia Regional doTrabalho, Iara Aragones; da Sra. Representante do Ministério Públicodo Trabalho, Aline Maria Schneider Conzatti; do Sr. Representante daDiretoria Regional do Trabalho, Luiz Müller; do Sr. Representante doBanco do Brasil, Vangue Dócolas; do Sr. Representante da Farsul,Ademir Monteiro; e da Sra. Representante do Ministério do Desenvol-vimento, Andréa Butto.

Nossos agradecimentos às entidades negras do Rio Grande doSul; aos quilombolas de todo o Estado, aqui representados por seus

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conselheiros que fazem parte do CODENE; aos negros e negras detodos os partidos políticos aqui presentes; aos gabinetes; aos Depu-tados e suas assessorias.

Enquanto aguardamos a presença do Presidente da FundaçãoPalmares, Ubiratan Castro de Araújo, vamos passar à nossa pauta.

Esta Comissão tem um caráter bem popular e como objetivos apre-ciar sugestões legislativas apresentadas pela sociedade organizada,contribuir na gestão do Estado, promover maior integração entre oLegislativo e a comunidade gaúcha, debater e incentivar a participa-ção popular na gestão pública e aprofundar a democracia participativa.

Também tem como competência receber, examinar e transformarem proposições as sugestões legislativas apresentadas por associa-ções, órgãos de classe, sindicatos e conselhos, organizações não-go-vernamentais, entidades organizadas da sociedade, excetuando-se ospartidos políticos e os organismos internacionais.

Os partidos políticos já têm assento nesta Casa. Então, trabalha-mos com as entidades que, muitas vezes, não encontram porta-vozesou têm dificuldades para chegar a esta Casa.

Promover pareceres técnicos e exposições sobre experiências ino-vadoras de gestão pública, participação popular e transferência admi-nistrativa; requisitar informações, relatórios e documentos sobre aaplicação de leis, programas de despesas do Estado, diretamente ouatravés do Tribunal de Contas; propiciar o envolvimento da cidadaniaem assuntos de interesse social, promovendo o direito à sociedade, àinformação e à participação.

Quero agradecer a dedicação e o carinho que os funcionários daComissão e da Casa tiveram em relação a essa audiência pública, des-de a preparação dos convites até este momento da recepção e da aco-modação das pessoas.

Convido a fazer parte da Mesa a Sra. Ivonete de Carvalho, Presi-dente do CODENE – Conselho de Desenvolvimento e Participação daComunidade Negra do Estado do Rio Grande do Sul.

Registro a presença da Sra. Ana Lúcia Meira, Superintendente doInstituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; do companheiroRuan Pinedo, de Santa Catarina; dos representantes das comunida-des quilombolas do Rio Grande do Sul, de Casca, Morro Alto, São Miguel,Restinga Seca; do representante da família Silva, Rita de Castro da

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Silva Dutra; do companheiro Ivan, do Movimento Negro de Sapucaiado Sul; do companheiro Bira, representando aqui o IACOREQ; do Sr.Renato Oliveira, do Movimento Negro de Porto Alegre; da Sra. SôniaSaraí, representando o Gabinete do Deputado Dionilso Marcon; docompanheiro Jorjão; de Giovani Machado, representando a DeputadaJussara Cony, Vice-Presidente desta Comissão e que se encontra re-presentando a Assembléia Legislativa em outro evento; da Sra. IsauraSilva, representando a Rede de Mulheres Negras do Rádio Comunitá-rio; do Sr. Ruben da Silva, do Conselho de Segurança Alimentar doEstado do Rio Grande do Sul – Fome Zero; do Vereador Alexandre San-tos, do Partido dos Trabalhadores, do Município de Esteio.

Esta Comissão recebeu correspondências, ofícios, parabenizando-a pela iniciativa, do Grupo de Trabalho Angola Janga, que tem sede naAvenida Farrapos, no Bairro Floresta, em Porto Alegre e, também, naVila David Canabarro, no Jardim Leopoldina.

Esta audiência pública tem o objetivo de fazer a discussão e o deba-te sobre a territorialidade negra no Rio Grande do Sul, sobre a luta dosremanescentes de quilombos do nosso estado, que iniciou com amobilização da comunidade negra na resistência, na luta pela inclusão,pela cidadania, pela reafirmação da terra, pela infra-estrutura necessá-ria, pelo cumprimento da Lei, aprovada por unanimidade nesta Casa,que trabalha na regularização das terras dos remanescentes dequilombos no Estado do Rio Grande do Sul e pela sua sanção.

A Lei é de nossa autoria, mas tem o trabalho do conjunto do Movi-mento Negro Gaúcho e o apoio importante e decisivo do CODENE, queajudou a construir e a mobilizar todas as comunidades históricas doEstado e do País para que hoje e, a cada dia que passa, consigam tra-balhar, participar e resistir.

Ontem, participamos de importante ato junto à Prefeitura Munici-pal de Porto Alegre, ocasião em que foi assinado convênio de parceriapara a realização de um estudo, um laudo antropológico em relação àfamília Silva, que também é um quilombo. Com certeza poderá ser osímbolo da nossa luta e um exemplo ao nosso País a presença de umquilombo urbano aqui em Porto Alegre, no sul do país, onde uma comu-nidade reside há mais de 60 anos.

O símbolo de luta da família Silva é o exemplo de uma resistêncianegra, de uma comunidade pobre, trabalhadora e humilde que hoje

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recebe o apoio desta Comissão, desta Casa, da Prefeitura de PortoAlegre, do Ministério Público Federal e dos Movimentos Negros dePorto Alegre e do Rio Grande do Sul, além de servir como parâmetrode como devemos lutar e resistir por esse pedaço de terra situado noBairro Três Figueiras, hoje cercada por grandes mansões em áreanobre da nossa Cidade, a capital de todos os gaúchos.

É uma luta difícil, árdua, mas que está tendo guarida e apoio emtodos os cantos deste estado. A presença do Dr. Ubiratan será funda-mental na parceria entre a Prefeitura, o Governo do Estado, o CODENE,a Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assistência Social e os Movimen-tos Negros porto-alegrenses e gaúchos para que possamos fazer umagrande mudança, uma grande transformação na sociedade, atendendoesse apelo que nada mais é do que uma reparação, uma obrigação que oEstado brasileiro tem para com as nossas comunidades negras.

Sinto-me feliz, realizado por estarmos hoje discutindo esse assun-to tão importante e que muitas vezes é esquecido ou relegado a segun-do plano, quando somos mais da metade do povo brasileiro, quandosomos uma grande população estadual. Esperamos que os poderespúblicos constituídos, Assembléia Legislativa, Câmara de Vereadores,Governo do Estado, Governo Federal, Fundação Palmares e Movimen-tos Negros, possam, através de ações como essas, avançar nas parce-rias, nos projetos e nas resoluções que penso serem pertinentes nummomento importante da história do nosso País.

Registramos as seguintes presenças: Sargento Irani, representan-do o Deputado Federal do Partido dos Trabalhadores, Ary Vanazzi;Quilombo de São Miguel; Quilombo do Rincão dos Martimianos, deRestinga Seca; Quilombo de Morro Alto, do Município de Maquiné;Quilombo de Casca, do Município de Mostarda; Quilombo de Cambará;do Município de Cachoeira do Sul; Quilombo do Barro Vermelho, doMunicípio de Gravataí e Quilombo da família Silva, do Município dePorto Alegre.

Também contamos com a presença da Sra. Santa Irene, represen-tando o Sindicato de Jornalistas Afro-descendentes do Rio Grande doSul e do Sr. Nilo Feijó, do Satélite Prontidão.

Faz parte da Mesa a Sra. Rita de Cássia da Silva Dutra, represen-tando a família Silva e o Sr. Ubiratan, Presidente da FundaçãoPalmares.

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Iniciaremos esta Audiência Pública, usando a seguinte dinâmi-ca: cederemos 10 minutos para cada painelista ou debatedor e de-pois abriremos espaço para que a plenária possa se manifestar. Aspessoas que estão aqui têm muito a contribuir e terão a oportunida-de de se manifestar com perguntas, intervenções, críticas e suges-tões sobre o tema.

A palavra está à disposição da Sra. Ivonete de Carvalho, represen-tando o CODENE – Conselho de Desenvolvimento e Participação daComunidade Negra do Estado do Rio Grande do Sul.

Pedimos que os debatedores observem o tempo estabelecido pelaMesa e convidamos a todos para uma visita ao Quilombo Urbano dafamília Silva, às 15h30min. Conosco irão os Srs. Ubiratan e demaisconvidados da Mesa.

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Sra. Ivonete de CarvalhoRepresentante do Codene

Boa tarde a todos. Cumprimentamos especialmente o Presidenteda Comissão, Deputado Edson Portilho e o Presidente da Funda-ção Cultural Palmares, que nos alegra com sua presença no Rio

Grande do Sul, neste momento tão importante do cenário brasileiro,especificamente sobre as questões raciais nas quais acreditamos.

Saudamos a representante da família Silva, que está na Mesa e, deuma maneira especial, os grandes protagonistas deste processo, ascomunidades quilombolas: Arvinha e Mormaço, da Região de PassoFundo; São Miguel e Martimianos, da Região de Santa Maria, Municí-pio de Restinga Seca; Quilombo de Gravataí, da família Manoel Barbo-sa; Quilombo de Cambará, da Comunidade de Casca e outros quilombosque se somam a esta caminhada e que, com certeza, estão pleiteandoo seu reconhecimento, o seu laudo antropológico e as suas políticasde auto-sustentabilidade.

Parabenizo o Presidente da Comissão por esta iniciativa. Temos oentendimento, enquanto Conselho de Participação e Desenvolvimen-to da Comunidade Negra do Estado do Rio Grande do Sul, de que mo-mentos como este são extremamente importantes para que se possaestabelecer um diálogo com a sociedade gaúcha a respeito dosquilombos.

Para isso é necessário o envolvimento de todos: aqui temos a re-presentação do Governo do Estado, através da Sra. Sônia Santos – e oDepartamento de Cidadania tem sido um efetivo parceiro nessa cami-nhada – assim como as nossas representações e também a do Gover-no Federal, através da DRT, do MDA e outras entidades e parlamenta-res sujeitos desta história extremamente importante para nós.

O Conselho de Participação e Desenvolvimento da ComunidadeNegra vem trilhando uma caminhada aqui no Estado juntamente comas comunidades no sentido, sim, de buscar, através de parceria com oGoverno do Estado e com os mecanismos do Governo Federal, a reali-

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zação dos laudos e o reconhecimento dessas comunidades. Tanto issoé verdadeiro, que as comunidades estão aqui, hoje, para estabeleceresse diálogo com os mecanismos governamentais dos diversos níveis,com o Poder Legislativo e com as instâncias municipais, fundamen-tais nesse processo. E por que não acontecer, também um diálogo como Movimento Negro Gaúcho, que tem desenvolvido um processo fun-damental nesse como protagonista dos quilombos, da luta dosquilombos em nosso Estado?

Convém esclarecer ao Presidente da Comissão que, nos dois últi-mos anos, conseguimos avançar com a realização de cinco laudos an-tropológicos de reconhecimento dessas comunidades. Esses laudos fo-ram elaborados através de um convênio entre o Governo do Estado –com o então Governador Olívio Dutra –, com o Conselho de Participaçãoe a Fundação Cultural Palmares. Esses laudos foram concluídos no anopassado e entregues à Fundação Palmares, e cabe a essa fundação umparecer jurídico sobre os mesmos, a publicação em Diário Oficial daUnião e o reconhecimento dessas comunidades como comunidades dequilombos. A partir desse momento, caberá ao Governo do Estado doRio Grande do Sul proceder aos outros passos que são de demarcação,de regularização fundiária, enfim, de indenização dos posseiros de boafé que estão ocupando as áreas da comunidade, hoje.

Por isso é importante a presença da Fundação Cultural Palmares,que tem sido uma efetiva parceira nessa caminhada nacional. Tambémgostaríamos de expressar o nosso contentamento com a criação de umgrupo interministerial criado pelo Governo Lula, no dia 13 de maio, afim de rediscutir toda a legislação de quilombos. Esse grupo tem porobjetivo o diálogo com as entidades do Movimento Negro e com osquilombolas, no sentido de buscar um projeto de auto-sustentabilidade,um projeto de desenvolvimento para as nossas comunidades, que histo-ricamente estão à margem da sociedade brasileira.

A presença do Presidente da Fundação Palmares está sendo mui-to importante para os quilombolas do Estado, tendo em vista que hoje,pela parte da manhã, tivemos uma audiência com o Vice-Governadorem que sinalizamos algumas tratativas para que, no máximo em 30dias, o nosso Presidente esteja novamente no Estado, concretizandoum convênio que contemplará as comunidades que ainda estão aguar-dando a realização dos seus laudos.

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Isso é extremamente importante para nós, para cada uma dessascomunidades, para que possamos, também, fazer a entrega ao Presi-dente da Comissão – e já fizemos, hoje, pela parte da manhã, a entregaao Presidente da Fundação Cultural Palmares –, de um programa deauto-sustentabilidade para as comunidades quilombolas do Estado doRio Grande do Sul, um projeto que já vem sendo discutido com o órgãodo Governo Federal aqui no Estado, que é a DRT. Esse trabalho vemsendo discutido juntamente com as comunidades quilombolas, e te-mos, reiterando, um projeto de desenvolvimento auto-sustentável paraas comunidades negras do Rio Grande do Sul, amplamente trabalhadoe discutido com essas comunidades.

Pediria que o Sr. Roberto Potássio, nossa liderança do QuilomboSão Miguel, fizesse essa entrega ao Presidente da Comissão para que,também ele, possa ser um interlocutor dentro do Poder Legislativo, demaneira que possamos avançar nesse projeto. Eram essas as minhasconsiderações iniciais. Estamos à disposição para discutir, na tenta-tiva de encontrar caminhos para todos nós.

Muito obrigada.Sr. Roberto Potássio

Representante do Quilombo de São Miguel

Boa tarde a todos. Ao passar esse documento ao Sr.

Presidente desta Co-missão, Deputado Ed-son Portilho, as comu-nidades aqui presentes,as quais represento, le-vam a consciência dodever cumprido naconstrução daquilo quenecessitam, dos seus di-reitos adquiridos cons-titucionalmente. Volta-remos para casa tran-qüilos, pois sabemos

SÃO MIGUEL

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que o Presidente Edson Portilho dará aquela atenção especial, comojá vem dando há muito tempo nessa luta, e teremos assim nossasnecessidades atendidas.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Registro a presença do Deputado Cézar Busatto, membro titulardesta Comissão, a quem dou boas-vindas.

Passo a palavra ao Sr. Emir da Silva, representando o MovimentoNegro Unificado.

Sr. Emir da SilvaRepresentante do Movimento Negro Unificado

Boa tarde a todos. Saudando o Deputado Edson Portilho, Presi-dente da Comissão de Participação Legislativa Popular, estendoas saudações aos representantes desta Casa; ao companheiro

Ubiratan de Castro, Presidente da Fundação Palmares; aos represen-tantes federais aqui presentes; à companheira Sônia Santos, que tam-bém está comprometida com esta luta; às representações do Governodo Estado do Rio Grande do Sul; à Sra. Secretária de Direitos Huma-nos e Segurança Urbana, Sra. Helena Bonumá; ao companheiro Talisda Rosa; às representações do Poder Público Municipal de Porto Ale-gre; à nossa companheira Ivonete de Carvalho e a todos os compa-nheiros do Movimento Negro, das entidades, às lideranças e aosquilombolas que estão construindo conosco essa luta que já apresen-ta resultados consideráveis na história contemporânea no nosso país.

No dia 05 de outubro de 2003 a promulgação da Constituição Fede-ral de 1988 estará completando 15 anos. Nesse momento, devemos re-fletir sobre os avanços desse primeiro passo de uma longa caminhadaem direção à democracia aqui no Brasil, após o momento terrível quefoi a ditadura militar. Hoje podemos, em função de um ganho inestimá-vel para o movimento negro brasileiro, fazer uma pequena análise doque representou o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Tran-sitórias. Ele nos traz, em função de uma ação constitucional, de umaemenda constitucional do Governo Fernando Henrique, um fato muito

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interessante do ponto de vista do conceito jurídico constitucional, queacabou dando início a um processo histórico que seria a regularizaçãoe a titulação das terras dos remanescentes de quilombos.

Como a companheira Ivonete bem apontou anteriormente, a cria-ção de um grupo interministerial que está tratando de uma nova con-cepção da legislação em função do art. 68 é de extrema importância,porque desde 1992, 1995, devido a vários processos jurídicos, seja deportaria, seja de medidas provisórias, seja de pareceres, seja de emen-das constitucionais, acabou travando-se uma luta que a Constituiçãoapontou como um grande avanço na luta contra o racismo no país.

Podemos citar, fiz uma rápida relação, temos um fato marcante, umdecreto da Sub-Secretaria da Casa Civil que acaba deslegitimando, colo-cando na inconstitucionalidade as ações do Ministério de Desenvolvi-mento Agrário e do INCRA. Foi o fato que acabou culminando no Decreto3.912, que simplesmente entrava todo o processo de regularizaçãofundiária no país, inclusive um critério extremamente absurdo, aparente-mente, que só considera os quilombos que estavam organizados até 1888.

E há mais um fato marcante para avaliarmos: além de todo o re-sultado dos movimentos sociais que deflagrou na Constituição, domovimento negro, dos movimentos dos direitos humanos, aquele perí-odo constitucional era um marco da reforma social do país e a pró-pria formatação da Constituição se deu muito pelo caráter simbólico.Tivemos problemas na sistematização, no rigor da lei. Um fatomarcante é que essa vulnerabilidade constitucional acabou num his-tórico de medidas do Governo Fernando Henrique, que fundamental-mente, em função de uma concepção jurídica da doutrina brasileira,já embargada e sustentada pela elite deste país, que não tem compre-ensão da questão racial, ou não admite o racismo usando esse pro-cesso para entravar uma luta histórica do movimento negro.

Além da conquista, em 1988, o grande marco simbólico foi a pas-sagem dos 100 anos de abolição. Isso moveu o Movimento Negro, opoder institucional, para que tivéssemos esse ganho que é o art. 68.Fazendo uma breve comparação entre o período da constituição atéagora, podemos argumentar que o período pré-abolição também con-tou com várias iniciativas, do ponto de vista legislativo, que forammeramente paliativas, como as leis do Sexagenário, a Eusébio deQueiroz, a do Ventre Livre.

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Então, companheiro Bira, creio ser fundamental que o GTI tragaessas questões para fazer o grande debate nacional do ponto de vistada reparação, do que representa a concepção jurídica deste país paraentravar os ganhos sociais, e isso aconteceu agora. O GTI, e já encami-nho, deve fazer um grande debate no Brasil para que, a partir dessainiciativa de revogação do decreto, ele tem que ser revogado – não seise uma nova emenda constitucional – mas tem que ter o debate. Esseé o debate necessário para a sociedade brasileira entender a necessi-dade de se reparar as atrocidades cometidas pelo escravismo. E mais,que o poder de entravar a luta social está na instituição deste país, eé reproduzida pelo estado. Então, creio que o art. 68 é um grandetema para o debate contemporâneo do movimento negro, porque doponto de vista dos direitos, está dada essa situação de que o Estadonão pode agir, e do ponto de vista dos deveres, também não fez nada.Ou melhor, quando deveria propor, ele usou de várias questões jurídi-cas, do ponto de vista do conceito técnico, que acabou tirando da res-ponsabilidade do Poder Público a apresentação de um programa espe-cífico para as comunidades remanescentes de quilombos.

Então, creio que esse debate é fundamental, e há outros concei-tos que são imprescindíveis para a relação da questão racial no país,como o conceito de democracia. Tivemos avanços consideráveis: aqueda do regime militar, as eleições diretas, a própria Constituiçãodo País, que acabou por se ter o perfil de uma democraciainstitucional, mas a verdadeira democracia estamos por construir,a partir do Governo Lula e das representações que conseguimosconquistar, tanto na Fundação Palmares quanto na Secretaria Es-pecial da Igualdade e da Promoção Racial, que reflete a luta históri-ca do Movimento Negro aqui no Brasil.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Gostaria de registrar a presença da Secretária dos Direitos Hu-manos e Segurança Urbana do município de Porto Alegre, VereadoraHelena Bonumá; da Sra. Eni Canarin, representando a luta das Mu-lheres Negras Gaúchas; de Ilmair Santos, da Academia do SambaPuro, do Morro da Maria da Conceição; e da Sra. Marta Messias,

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Diretora de Políticas Sociais da Prefeitura de Santa Maria, agrade-cendo a presença de todos.

Passo a palavra ao Sr. Talis da Rosa, representando a SecretariaMunicipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana.

Devido ao grande número de participantes desta audiência, e sen-do o espaço pequeno, estaremos transmitindo esta reunião pelo telãopara as pessoas acompanharem desde lá de fora. Dessa forma, a Casaestá colocando a sua estrutura à disposição.

Sr. Talis da RosaRepresentante da Secretaria Municipal

de Direitos Humanos e Segurança Urbana

Boa tarde a todos. Em primeiro lugar saúdo o Deputado EdsonPortilho, Presidente desta Comissão; os Parlamentares destaCasa; o Presidente da Fundação Palmares, companheiro Ubiratan

Castro; as representações do Governo Federal; a Sra. Sônia Santos eas representações do Governo Estadual; a companheira Ivonete e to-das as entidades aqui presentes e o movimento negro em especial.

Como é de conhecimento de todos, Porto Alegre é uma das cida-des que tem, hoje, constituídos, os vários instrumentos de regulari-zação fundiária e urbana. Inclusive, em 2000, aprovamos, na Câma-ra de Vereadores, um segundo Plano Diretor, quando aconteceu adiscussão de um processo democrático para todas as regiões da ci-dade, por um período de cinco anos, quando então foi votado esseplano, inclusive com espaço para que se discutam nas regiões, com aparticipação das comunidades e das entidades de classe, para efei-tos de regularização e fins.

Mesmo com toda essa discussão e com essa transparência em níveldas limitações do município, persistiu a questão do Estatuto das Cida-des, pois só no ano retrasado foi votado e saiu, depois de 11 anos deespera no Congresso. Com isso quero dizer que ainda temos uma situa-ção muito grave nas grandes cidades, em que um terço das áreas nãosão regularizadas, representando zonas de risco ou sub judice, estandoem discussão na Justiça quem são os proprietários. E pasmem, é aí quemora 80 a 90% da população negra, tanto no Rio Grande do Sul comoem todo o Brasil. É o espaço constituído para o povo negro. Ou seja,

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apesar de todos os avanços, ainda temos esse empecilho de podermostraçar políticas concretamente para essas comunidades.

Vejam que a Constituição Federal impede que qualquer governantepossa fazer infra-estrutura nessas áreas. É necessário que se salien-te isso, para não parecer má vontade do Poder Público, a lei engessaisso, que não está explícito na vida.

Dito isso, embora tenhamos trabalhado várias comunidades noprocesso de regularização fundiária, através do núcleo de regulariza-ção fundiária, criado junto aos municípios, com diversos órgãos, atéhoje não está contemplada essa especificidade, essas questões como ados quilombolas, de remanescentes de escravos e de comunidades queestão há mais de 70 anos em determinadas áreas. Não temos essafigura dentro da legislação de maneira a podermos trabalhar isso.

Temos outros pontos que identificamos em Porto Alegre, como asilhas, o Morro da Glória, a comunidade da D. Beva, Pai Joaquim, enfim,há uma série de comunidades dentro da nossa cidade que poderiam,tranqüilamente, ser consideradas remanescentes de quilombos.

E para nós, com muita satisfação, no ano de 2002, na 11ª Semanade Consciência Negra, esta Casa, através da Comissão de DireitosHumanos e do Movimento, trouxe essa questão da família Silva, inclu-sive com despejo localizado, no início de novembro. A partir do mo-mento que tomamos conhecimento desse processo, fizemos, com nos-sa advogada, todo um estudo dos processos que existiam na cidadeem relação a essa área. Com isso, objetivamente, encontramos, nomínimo, algumas incongruências. Com esse material, foi possível an-gariar a participação de vários setores, com audiência pública juntoao Ministério Público Federal, que teve um processo de acolhida nadefesa dessa família.

Desde então, transcorridos cerca de sete meses, começou um pro-cesso de mobilização na cidade. Trata-se de uma área, numa das zo-nas mais caras de Porto Alegre, com alguns projetos em curso da pró-pria Prefeitura, que ficaram estacionados, em função das audiênciase do compromisso que assumimos com o Ministério Público Federal,culminando efetivamente, nessa busca incessante de parceria, princi-palmente com a Fundação Palmares, para que pudéssemos buscar essafigura, e a partir de onde, conseguirmos, então, assinar um termo decooperação técnica, onde poderemos abrir esse expediente.

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Buscamos a feitura desse laudo antropológico que nos daráembasamento político e jurídico para que possamos definir juntos,mais especificamente, com a Fundação Palmares, agora então o GTI,essa questão da posse.

É com muita satisfação que estamos nessa Comissão dando contadessa demanda específica, que nos foi trazida a Prefeitura de PortoAlegre, e que conseguimos, principalmente com a ajuda do Movimen-to, desta Casa e do Ministério Público, chegarmos a essa equação.

Estamos no início da nossa luta, mas com certeza, se todos so-marmos esforços, conseguiremos essa vitória e haverá espaço paramilhares de comunidades, encravadas neste país, que hoje estão nes-sa situação, dentro de áreas não regularizáveis, com a plenitude desua cidadania, completamente desfacelada, refém de qualquer proces-so de marginalidade, refém do narcotráfico, refém de uma série demazelas, em função de que o poder público não tem gerência nessasáreas que hoje estão irregulares.

É fundamental que se some esforços, tanto em nível urbano comorural, para que se possa, de fato, dar conta dessa demanda, que é umademanda de quase 500 anos. Muito obrigado a todos e a todas.

Deputado Edson Portilho (PT)

Passaremos a palavra ao Sr. Celso Geiger, Secretário Extraordiná-rio da Reforma Agrária e Cooperativismo do Governo do Estado.

Sr. Celso Luiz Franco GeigerRepresentante da Secretaria Extarordinária da

Reforma Agrária e Cooperativismo do Governo do Estado

É com muita honra que represento, aqui, o Sr. Secretário do Gabi-nete da Reforma Agrária e Cooperativismo, Dr. Vulmar Leite.

Hoje pela manhã ele participou de um encontro com o Presiden-te da Fundação Palmares, Sr. Ubiratan Castro de Araújo.

Hoje à tarde já tinha outros compromissos, inclusive, no interiordo Estado.

Pediu-me que o representasse, aqui, mesmo porque, dentro do Ga-binete de Reforma Agrária, a minha atividade diz respeito aos proces-

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sos de reassentamento dos agricultores que estão sendo desalojadosda terras indígenas.

Como o Decreto Estadual nº 41.498, de 25 de março de 2002, noseu artigo 6º, § 1º, determina que cabe a Secretaria da Reforma Agrá-ria o reassentamento das famílias que, por ventura, sejam desaloja-das dos quilombos ou dos remanescentes dos quilombos.

O papel da nossa Secretaria é posterior a todo esse procedimentode reconhecimento dessas áreas de quilombos. Apesar disso, já estamosacompanhando alguns desses processos, inclusive as terras doQuilombo de Morro Alto.

Já temos, também, em mão de Casca e Mostardas, para já sentiros problemas que depois vão desaguar na Secretaria, e procurar tam-bém acompanhar e partilhar dos procedimentos que se fazem neces-sários para que o processo tenha uma diretriz adequada a legislação,por quanto, temos aqui, com relação às comunidades negras, temos osprocedimentos previstos em Decreto Federal e temos os procedimen-tos previstos em Decreto Estadual. Então, cabe, de início, conjugaressas disposições legais, para que não haja tropeços mais adiante,com o reconhecimento dessas áreas.

Congratulo-me com o Deputado Edson Portilho, Presidente dessaComissão, pelo seu empenho em atuar, de forma positiva e participativa,na busca de solução para os povos negros do estado, que, há anos,certamente estão aguardando que seus problemas sejam diminuídos,que o seu sofrimento seja minimizado, e possam, assim, transmitir agerações futuras já o resultado das lutas que, agora, estão encetando.

A todos que compõem os movimentos negros os meus cumprimen-tos e, na medida do possível, o apoio da Secretaria Estadual de Refor-ma Agrária.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Registro as presenças do Jornalista, Presidente da TriboGuaianazes, Sr. Mário Bartochiak; da Assessora Chefe de Comunica-ção do INSS do Rio Grande do Sul, Sra. Janice Dias Ramos.

Registro, também, as presenças do Prefeito de Palmeira das Mis-sões, Sr. Alecrides Sant’Ana de Moraes; bem como dos Representan-

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tes da Angola Janga; CONSEA; Banco do Brasil; Farsul; CONEM; Secre-taria Municipal do Negro do PDT; Clube de Mães da Vila Nova Brasília;da CUT/RS; Farias; Prefeitura de Alvorada, da Secretaria de Desen-volvimento, Sr. Quener; Movimento da Consciência Negra; da Secreta-ria Municipal de Educação de Porto Alegre, representando a VereadoraClênia Maranhão, na pessoa da Sra. Adriana Perdomo; enfim, agrade-ço a todos que, de uma forma ou outra, estão colaborando com ostrabalhos desta Comissão.

Agora, concedo a palavra a Sra. Rita de Cássia da Silva Dutra, quefalará, por dez minutos, em nome da família Silva.

Sra. Rita de Cássiada Silva Dutra

Representante do Quilombo da Família Silva

Boa tarde a todos presentes.A luta da família Silva co-meçou em 1941, ano em

que os avós de meu marido che-garam a Porto Alegre, onde hojese situa um bairro nobre da ci-dade. Naquela época, era só matoque havia ali. Chegaram no locale plantaram. Colheram bons fru-tos, inclusive, tiveram uma filhaque deu origem a 11 filhos, que,hoje, constituem 9 famílias. São,portanto, 9 famílias que moramnesse Bairro – Três Figueiras.

Em 1964, apareceram os supostos donos dessa terra. Gente pode-rosa, com dinheiro, querendo a posse dessa terra. Até então, não ha-via dono nenhum. Só nossa família. Chegou esse pessoal, com cami-nhão, com a Brigada Militar, afirmando que tínhamos que sair daque-la região, daquela área, porque queriam construir em cima do terreno.

Propomos duas ações de usucapião, nesse meio tempo, mas nãotivemos êxito. No terceiro despejo, conhecemos o Sr. Alceu Rosa. Eleque nos ajudou a trancarmos o terceiro despejo. Nesse período, ele

Família Silva

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apresentou a nossos irmãos o pessoal do Movimento Negro e dosRecursos Humanos. A partir daí, viemos à Assembléia Legislativa;conseguimos mais aliados, porque, até então, éramos cegos no as-sunto: confiávamos em uns e em outros, enquanto isso, só passa-vam a perna na gente.

Só por que somos negros, pobres e trabalhadores não temos direi-to de estarmos na terra? Depois de anos e anos lutando, todo mundotem direito. A única coisa que queremos é a posse da terra, nada mais.Não estamos pedindo favor a ninguém. Isso todo ser humano quer: odireito de plantar e colher o fruto desse trabalho, coisa que os ante-passados da gente vêm buscando. Não só os de agora – na era de 2000–, mas os de muito tempo atrás, no tempo da escravidão.

O negro, naquela época, não era nada. Eram tratados como ani-mais. Hoje, não é mais assim. Agora, nós nos aliamos, pegamos todosjuntos e vamos em frente. Era isso que queria dizer.

Muito obrigada a todos.(Palmas)

Deputado Edson Portilho (PT)

Emociona a todos nós, quando se fala com o coração, com a razão,com a luta, com a justiça. Com certeza, a família Silva vai dar muito oque falar. Teremos muitas famílias Silvas por esse Brasil afora. E te-mos, não é Ivonete?

Sra. Ivonete de Carvalho

Trata-se da maior família, hoje, no Brasil.

Deputado Edson Portilho (PT)

Vamos passar a palavra, agora, ao Procurador da República, Dr.Marcelo Beckhausen, que tem nos acompanhado, desde o início, nessacaminhada, que terá dez minutos para fazer a sua intervenção.

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Sr. Marcelo BeckhausenProcurador da República – Representante do Ministério Público

Boa tarde a todos. Gostaria de cumprimentar o Deputado Estadu-al Edson Portilho, em nome do qual estendo a todas as autorida-des aqui presentes, como também cumprimentar a todas autori-

dades da sociedade civil e, especial, aos Representantes, Membros,Líderes das Comunidades Quilombolas, aqui do Estado do Rio Grandedo Sul, que se fazem presentes.

Enfatizo que o Ministério Público Federal tem tido um efetivo pa-pel, uma atuação, junto com essas comunidades, no sentido de fazercom que os direitos que estão dentro da Constituição – esses direitosconsagrados na Constituição – efetivem-se, concretizem-se. Esse é opapel do Ministério Público Federal; a incumbência dele, portanto, éum dever constitucional em relação a essas comunidades.

Aproveito essa audiência pública para tratar de alguns assuntospontuais, já que estamos na presença do Presidente da Fundação Cul-tural Palmares, Professor Ubiratan Castro de Araújo. Portanto, tenta-rei referir algumas questões que envolvem as ComunidadesQuilombolas aqui no estado.

A primeira comunidade que cito é a de Casca. A Comunidade deCasca é a primeira reconhecida, pelo Estado Brasileiro, comoQuilombola aqui no Estado do Rio Grande do Sul.

Em que pese esse fato do reconhecimento – que é extremamenteimportante para a comunidade –, até hoje já se passou um longo tem-po, e a mesma comunidade ainda não teve os seus demais direitos –que são conseqüentes ao reconhecimento da condição como Comuni-dade Quilombola – implementados. A questão da regularizaçãofundiária, da demarcação, da titulação, ainda não foi realizada.

Assim, o Ministério Público Federal aguarda uma resposta maispositiva e séria por parte do Poder Público Federal, especialmente,com relação a essa questão. O fato de alongar-se no tempo a não-implementação da regularização fundiária tem acarretado problemaspara a comunidade. Existe uma ansiedade e uma expectativa muitogrande de que isso seja revertido pelo atual Governo Federal, que temum compromisso com as questões sociais em nosso país.

Nós, como Representantes do Ministério Público Federal, que temessa incumbência de acompanhar essa Comunidade na defesa de seus

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direitos, solicitamos, portanto, uma manifestação do Poder PúblicoFederal em relação a isso.

Em relação às demais comunidades, gostaria de referir, inclusive,que o Governo do Estado passado deixou de implementar essa regula-rização fundiária, em que pese ter tido toda a munição possível pararealizar tal atividade – existe um laudo brilhante produzido pela Pro-fessora Ilca Boaventura Leite em relação a isso, com todo um delinea-mento do território da comunidade.

Gostaria de deixar claro, então, que o governo passado deixou pas-sar a oportunidade de proceder a essa regularização. Lamentamossensivelmente esse fato. No entanto, temos que continuar a pressãode cobrança do Poder Público Federal e do Poder Público Estadual,enfim, de todos os Órgãos que estão responsáveis para a implementaçãodesses direitos, que estão dispostos, especialmente, no art. 68 do Atodas Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT.

Em relação às demais comunidades, existem laudos antropológi-cos já efetivados por equipes em função de um convênio entre a Fun-dação Cultural Palmares e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul.Está-se aguardando uma resposta por parte dessa Fundação para aimplementação total dos direitos, o reconhecimento dessas comuni-dades como remanescentes de quilombos. Cito a comunidade de Mor-ro Alto, que trouxe os cartazes para cá exigindo o seu reconhecimen-to como comunidade quilombola.

Muito mais do que isso, em relação à comunidade de Morro Alto, exis-te a questão da duplicação da BR-101 e, em função disso, todo o problemaque envolve a indenização. Sabemos que existem comunidades étnicas,grupos indígenas, que já têm a sua indenização garantida através de ter-mos realizados pela Fundação Nacional do Índio – Funai – junto ao De-partamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes Terrestres –DENITT. Entendemos que a Fundação Cultural Palmares, o Poder PúblicoFederal tem que se engajar nessa questão da indenização pelos danoscoletivo e cultural produzidos em função da duplicação da BR-101. É algoque precisa ser feito imediatamente. Essa situação também causa umaexpectativa muito forte por parte da comunidade de Morro Alto. Gostarí-amos que o poder público se manifestasse sobre isso.

As demais comunidades também estão ansiosas que seus laudostenham o crivo da Fundação Cultural Palmares e que sejam reconhe-

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cidas de forma mais célere, mais imediata como comunidades rema-nescentes de quilombos para fins do art. 168 do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias.

Em que pese essas questões exigirem um atendimento célere porparte do Poder Público, também temos notícias extremamente saluta-res por parte dos Governos Federal, especialmente, e do Municipal.Foi criada uma comissão interministerial que irá analisar o Decretonº 3912, que tenta regulamentar a situação das comunidadesquilombolas no nosso país.

No entanto, esse decreto está eivado de diversas inconstitu-cionalidades. Ele tenta colocar um prazo de posse para que as comu-nidades possam ter o seu direito implementado. Seria exigida das co-munidades quilombolas – o que não se exige de nenhuma outra, o queé um absurdo – uma prova de posse de 100 anos, ferindo o princípioda razoabilidade constitucional. Esse decreto tem que ser extirpadodo ordenamento jurídico brasileiro, porque traz, inclusive, em tornode si, toda uma gama de preconceitos, de discriminação em relação àscomunidades quilombolas. É extremamente salutar que se analise deforma adequada, aprofundada uma legislação para essas comunida-des no nosso país.

Uma outra notícia extremamente importante – porque terá umarepercussão em nível nacional – é o convênio firmado entre o Mu-nicípio de Porto Alegre e a Fundação Cultural Palmares no sentidoda análise e feitura de um laudo antropológico em relação à comu-nidade quilombola da família Silva, que está situada dentro de umcentro urbano.

Se existe todo um estereótipo em função dessas comunidades deque estariam somente situadas em zonas rurais, o fato de os PoderesPúblicos federal e municipal – estão de parabéns – estarem efetivan-do esse convênio para que se produza um laudo, que irá evidenciartodas as questões culturais envolvendo essa comunidade, é extrema-mente importante, é pioneiro e, de fato, irá repercutir em nível nacio-nal. Existem outras comunidades que estão nessa mesma situação,localizadas em meio urbano, e que também aguardam a implementaçãodo art. 168 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Muito obrigado pela atenção.

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Deputado Edson Portilho (PT)

Registro e agradeço a presença de professores e alunos da UFRGS,de representantes da Organização Hip-Hop, da Tribo Guaianazes, daComunidade Chapéu do Sol, do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids –GAPA –, da Comunidade Manoel Barbosa, da Biblioteca do Negro, doMovimento Negro Unificado – MNU –, da União dos Negros pela Igual-dade – Unegro –, da Ação Cultural, do Sindicato dos Petroleiros –Sindipetro –, do Cpers-Sindicato, da Central dos Movimentos Popula-res de Porto Alegre e do Ministério Público Estadual.

Concedemos a palavra a Dra. Andréa Butto, que representa, nestemomento, o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Sra. Andréa ButtoRepresentante do Ministério do Desenvolvimento Agrário

Boa tarde a todos os presentes. Saúdo as autoridades na pessoa do Deputado Edson Portilho e a comunidade negra do Rio Grande do Sul, especialmente a

quilombola.Transmito uma carinhosa saudação do Ministro Miguel Rossetto,

que está inviabilizado de participar deste encontro. Estou represen-tando o Ministério não apenas por indicação do Ministro, mas tam-bém por ter a responsabilidade, no interior do Ministério, de coorde-nar as políticas para a igualdade de gênero, raça e etnia.

Inicialmente, parabenizo a iniciativa do Deputado. Houve ou-tra iniciativa semelhante a esta, na semana retrasada, em SãoPaulo, que também foi muito importante para aglutinar as comuni-dades quilombolas daquele lugar. Esse evento serviu também paradar visibilidade num momento muito especial em que o GovernoLula reafirma um compromisso de desenvolver políticas públicaspara esse setor e amplia essa concepção, na medida em que inte-gra diferentes áreas, rompendo uma lógica anterior, produzida noGoverno Fernando Henrique, de torná-las políticas de gueto, a se-rem tratadas exclusivamente por uma área do governo e não in-corporadas no conjunto dos órgãos que devem ter uma interface,devendo atuar nessa área.

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Também há o simbolismo desta iniciativa, pois, pela primeira vez,vem a público o aparecimento de um quilombo urbano, especialmentepela iniciativa de um município. Até então, todos os convênios, todasas ações realizadas em torno de quilombos envolviam o Governo Fe-deral ou, no máximo, o Governo Estadual. Porto Alegre sai na frente edá um exemplo para vários municípios rurais que deverão se envol-ver nesse assunto, na medida em que a legislação, o direito constitu-cional não está restrito a uma atuação dos Governos Federal e Esta-dual, mas também do Municipal.

A Delegacia Regional do Ministério do Desenvolvimento Agrário doRio Grande do Sul já nos encaminhou o projeto, descrito pelo Conselhode Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Rio Gran-de do Sul – CODENE –, de desenvolvimento auto-sustentável para ascomunidades quilombolas. Assim que for possibilitada uma atuação doMDA nesse sentido, obviamente que procuraremos intervir.

Ao longo da história da garantia do direito constitucional de 1988,temos dois períodos, eu diria, e estamos entrando no terceiro.

No primeiro, que foi de 1995 a 1999, especificamente e apenas oINCRA atuou nessa direção com entendimento da auto-aplicabilidadedo direito do art. 168. Com precariedade de instrumentos e procedi-mentos administrativos, procurou atuar e conseguiu titular seis co-munidades quilombolas, a maioria delas no Estado do Pará. Em ou-tros estados vivenciou isso de uma maneira extremamente precária,aliás, da mesma maneira como a Fundação Palmares, até o ano passa-do, atuou: sem recursos, sem uma equipe capacitada para intervir esem – digamos assim – fôlego e poder para assistir de uma formaintegral as comunidades quilombolas no país.

Não havia instrução normativa, e foi formulada exatamente nomomento em que o Governo Fernando Henrique decidiu pela transfe-rência dessa atribuição para a Fundação Palmares. Em 1999, o Mi-nistério, como um todo, teve que se retirar dessas iniciativas, exata-mente em função do parecer da subchefia – como relatou o Sr. Emirda Silva – que caracterizava como inconstitucional, ilegal e sujeita aum processo administrativo qualquer tipo de iniciativa que o ministé-rio viesse a adotar para o atendimento dessas comunidades.

A Fundação Palmares, durante este período, ficou extremamen-te precarizada para atender essas populações, seja do ponto de

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vista dos orçamentos, seja pela falta de profissionais pra formaruma equipe.

Como se trata de uma fundação pequena, com pouca estrutura esem um suporte regionalizado para intervir nessa área, o resultadoque todos vemos é uma limitação muito grande de avanço nesse direi-to, especialmente no segundo mandato do Governo Fernando Henrique.

O Governo Lula já deu claras demonstrações do compromisso jun-to a essas populações, tanto com a criação da Secretaria de Promoçãoda Igualdade Social, quanto com o anúncio de gestos que indicam umaintervenção nesse sentido. O Governo tem mantido iniciativas inter-nas para discutir a política de cotas nas universidades, com especialdestaque para os direitos constitucionais que devem ser garantidospara as comunidades quilambolas.

O MDA está, em primeiro lugar, abraçando a idéia. Concordamoscom a posição do Movimento Negro, especialmente a do MovimentoQuilambolas no país. As políticas voltadas a essas comunidades de-vem ser atendidas integralmente pelo Governo, por isso, temos parti-cipado desde as primeiras reuniões interministeriais.

Queremos, é claro, que o ministério fique aberto e à disposiçãopara o atendimento dessas populações, inclusive porque as políticasagrárias e agrícolas, até hoje desempenhadas no governo federal, sem-pre foram oferecidas de uma maneira extremamente homogênea àspopulações tradicionais.

Mesmo as políticas públicas, nunca eram concebidas respeitandoas diferenças, sejam de gênero, raça ou etnia. A população negra émaioria entre a população rural, sendo a que possui o menor nível depropriedade de terra, as piores condições de habitação e de acesso àenergia elétrica e à infra-estrutura rural.

Por esse motivo, independente das demandas das populaçõesquilambolas, o Ministério do Desenvolvimento Agrário não pode con-tinuar agindo como agora, observando a população rural de uma for-ma indistinta, homogênea e equivocada.

Isso levou o ministério a encaminhar à Secretaria de Planejamen-to a proposição de criar uma Sub-Secretaria de Promoção da Igualda-de de Gênero, Raça e Etnia, modificando a estrutura anterior que eraapenas uma assessoria, no gabinete do ministro, de promoção de polí-ticas e ações afirmativas.

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Consideramos a política de ações afirmativas importante, mas nãodeve ser a única. Deve haver a promoção dessa área, com a criação detrês gerências, cada uma específica para gênero, raça e etnia, comuma pessoa responsável por cada uma delas.

Não está presente a gerente de raça porque estamos esperando asua cedência da universidade, por isso está a coordenação geral re-presentando esta área. Mas, certamente, não será uma branca queestará à frente dessas políticas no Ministério, será uma pessoa oriun-da do Movimento Negro, com bagagem e legitimidade para atuar nes-se sentido.

Elaboramos uma proposição para o nosso plano plurianual con-templando as áreas de promoção, de apoio e de organização da produ-ção; de acesso à terra, à infra-estrutura e equipamentos; fortaleci-mento da cidadania e também de apoio a políticas públicas que nãosão competência direta do MDA, mas que podemos apoiar, seja,prioritariamente na área de educação, de saúde, de prevenção à vio-lência, de combate à discriminação.

Algumas ações já foram efetivadas, neste último período, a exemplodo redesenho do programa de agricultura familiar, o PRONAF. Uma dassuas modalidades é o crédito OB que está dirigido especificamente paraas populações tradicionais indígenas e quilombolas, com condições fa-voráveis e semelhantes ao crédito que é concedido aos assentados daReforma Agrária. Possibilita projetos específicos, garantindo a incorpo-ração da diversidade das especificidades culturais desses grupos.

Além disso, temos garantido a representação das populaçõesquilombolas nos seminários de participação social do PPA, que estãosendo realizados em todos os estados do país e garantimos essa pre-sença também no seminário nacional.

Está também combinado e acertado, no próprio decreto que vaiser publicado, a inclusão das comunidades quilombolas no ConselhoNacional de Desenvolvimento Rural Sustentáv-el. Poderá haver a cri-ação de um órgão específico que terá interface com o conjunto doministério, não apenas com o INCRA, mas com as diferentes secreta-rias, e também a proposição, o orçamento, com uma pessoa capacita-da para coordenar essas políticas.

Desta maneira, estaremos muito mais capacitados e munidos paraintervir de um jeito justo e necessário para este segmento.

Muito obrigada.

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Deputado Edson Portilho (PT)

Quero registrar a presença do CADECUNE, através do Sr. JoãoLucas e da Sra. Vera Rosane, da Associação dos Amigos do Museu 13de Maio de Santa Maria e do Secretário Adjunto da Secretaria dosDireitos Humanos da Segurança Urbana de Porto Alegre, Sr. Rui Lean-dro da Silva Santos. Obrigado pela presença.

Deputado Cézar Busatto (PPS)

Sr. Presidente, querido amigo, Deputado Edson Portilho, agra-deço a oportunidade de uma breve manifestação. Sou membro titu-lar da Comissão, mas estou especialmente honrado de estar aqui,por ser esta uma reunião da mais alta importância, onde estouaprendendo muito.

Não conhecia a experiência da família Silva, por exemplo, paramim, foi uma novidade, fiquei extremamente impressionado com odepoimento que a Sra. Rita prestou, e com os depoimentos dos demaisparceiros do nosso trabalho na Comissão.

Quero pedir desculpas porque não vou poder permanecer paraouvir o Sr. Ubiratan Castro de Araújo, Presidente da FundaçãoPalmares. Desculpem-me, da Fundação Palmares.

Deputado Edson Portilho (PT)

Disseram Quilombo da República, brincando.

Deputado Cézar Busatto (PPS)

Peço desculpas por não permanecer para ouvi-lo, mas, desde às14 horas, estou fora de agenda. Antes de mais nada e acima de tudo,quero cumprimentar o Presidente Edson Portilho e a nossa Comissãopor esta belíssima reunião. Realmente, temos de fazer um resgate muitogrande, neste país, daqueles que construíram a riqueza do Brasil du-rante séculos e foram totalmente espoliados e excluídos nos seus di-reitos: os negros. Não sou negro, mas tenho uma enorme simpatia euma solidariedade intrínseca à causa. Acho que algo da minha origem

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tem de ver com a África, porque tenho muita solidariedade orgânica,emocional e afetiva, além de intelectual, com essa luta.

Acima de tudo, temos de nos unir para enfrentar o problema soci-al, visto que, no Brasil, a pobreza tem cor. E a cor da pobreza brasilei-ra é negra e é infantil. Temos, portanto, de resgatar essa injustiçasocial que se comete contra uma boa parte majoritária da populaçãobrasileira. Parabéns, Deputado Edson Portilho, por esta capacidadede aglutinação, de mobilização, porque, acima de tudo, essa é uma ques-tão política. Se os negros brasileiros tivessem consciência políticados seus direitos, com certeza, o Brasil já seria outro. Poderiam exer-cer esses direitos e mudar o país, já que são maioria. Trata-se de umamobilização de consciência, de afirmação de identidades. O Brasil estávivendo um momento realmente propício para esta afirmação da iden-tidade do negro, da consciência negra e, acima de tudo, do resgate dosdireitos de cidadãos dos negros brasileiros que são a parcela maisespoliada, mais injustiçada, mais excluída da população brasileira.

Solidarizo-me à causa. Participo com muita alegria desta Comis-são. Parabenizo o nosso Presidente por esta iniciativa. Cumprimentoo nosso Presidente da Fundação Palmares, que está aqui, prestigiandoesta audiência da Assembléia Legislativa. Coloco-me à disposição paraa continuidade desta luta. Ofereço o meu trabalho, a minha energia, aminha solidariedade e todo o meu esforço. Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Registro a presença da Vereadora Rita Teresinha Sanco Lima, doPartido dos Trabalhadores, do Município de Gravataí; do Grupo AçãoCultural Quenda, que representa o Quilombo do Rincão, dos negros deRio Pardo; do Sr. Luís Alberto da Silva, do Centro de Assessoria e Estu-dos Urbanos.

De imediato, concedo a palavra ao Presidente do Quilombo dosPalmares do Brasil, segundo o Deputado Cézar Busatto. Nós lhe dele-gamos mais uma tarefa revolucionária, portanto. Vamos brincar, poisos momentos de descontração são necessários.

Com a palavra, o nosso estimado e querido guerreiro, Sr. UbiratanCastro de Araújo, Presidente da Fundação Palmares.

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Sr. Ubiratan Castro de AraújoPresidente da Fundação Cultural Palmares

Boa tarde, Deputado Edson Portilho, Presidente desta Comissão.Ao saudá-lo, saúdo todas as autoridades aqui presentes, mulhe-res e homens do Rio Grande do Sul.

Estou muito contente de estar nesta sessão, porque, normalmen-te, os baianos sentem muito frio quando chegam ao Sul. Nesta sala,tenho de recorrer a uma ventarola, dado o calor cidadão que esquentaesse ambiente. Esta é uma cerimônia de participação republicana quedeve marcar o novo Governo.

Já estive em vários locais, discutindo o mesmo assunto, partici-pando de várias reuniões, nas Assembléias Legislativas de São Paulo,Pernambuco, Tocantins. Sei que o MDA está sendo discutido em vári-as localidades. Passei pelo Tocantins e já haviam estado lá, discutin-do. Enfim, esse é um momento na vida brasileira em que o cidadãodeverá aproveitar, alargar e consolidar os espaços de discussão davida pública, os espaços de interferência.

Também é muito gratificante para mim fazer parte de um governoque marcou efetivamente uma mudança em relação ao trato, à aten-ção à cidadania negra.

Não é a toa que, hoje, temos uma cara do Estado Brasileiro. Ele seapresenta pelo seu primeiro escalão com uma presença marcante decidadãos negros ilustres. Ilustres porque negros, mas também ilus-tres nas suas áreas de atuação. Vários de nossos ministros, como oMinistro Gilberto Gil, a Ministra Benedita da Silva, a Ministra MatildeRibeiro, a Ministra Marina da Silva, como o Ministro Humberto Costaque se assume como negro e que está na raiz de uma lei que tornaobrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas esco-las. Para quem não sabe, isso começou com o então Deputado HumbertoCosta. Depois, ele saiu e isso foi seguindo até a Deputada Esther Grossi.Houve também a nomeação do Ministro Joaquim Barbosa, um grandejurista, para o Supremo Tribunal Federal. Enfim, são sinais.

Como um segundo sinal, destaco a criação de uma secretaria emnível de ministério, ligada diretamente ao Presidente via Casa Civil,para a qual foi escolhida uma pessoa que representa o movimentonegro e a sua tradição de luta, a Professora Matilde Ribeiro, conheci-

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da de todos, que já está desempenhando sua atuação no sentido dearticular, coordenar, promover políticas de igualdade racial.

Puxando um pouco a brasa para a minha sardinha, mas sem que-rer ser o Presidente do Quilombo, porque isso me faria um Zumbi enão tenho as qualidades para tal, nem políticas nem militares paraser um chefe guerreiro. Aliás, fui recusado para servir o Exército porconta da minha incapacidade física e fui recusado também para omovimento guerrilheiro porque eu era gordo demais e não podia sairda clandestinidade. Portanto, não posso aceitar a carapuça de Zumbi.O meu papel restringe-se a aceitar o chamado do Ministro Gilberto Gilpara também construir uma nova Palmares que pudesse sair da ilu-são de ser um grande quilombo, de concentrar todas as responsabili-dades e ser a única referência da população negra sem os meios paradesenvolver sua ação.

Na minha candidatura, coloquei isto claramente na minha plata-forma: a Fundação Palmares deveria deixar de ser uma espécie deanteparo para barrar e amortecer as reivindicações do movimentonegro para distribuir migalhas entre os mais próximos e fazer deconta que havia uma política para a população negra e, realmente,recoloca-se na sua posição de uma fundação cultural. Aí, é como defi-ne o Ministro Gilberto Gil, mediante a cultura, entendida como algoativo e dinâmico, cultura identidade, cultura ação política, culturapromoção e apoio a todas as comunidades negras que se assumemcomo tal e que lutam como tal. Enfim, que pudéssemos redefinir nos-sa atuação.

Em primeiro lugar, portanto, Palmares caiu na real e está seredefinindo. Em segundo lugar, a grande questão para Palmares e amais escandalosa, porque, nas outras, o não-fazer era o não-fazer poromissão. No caso da questão dos quilombos, o não-fazer era odesatendimento a uma obrigação legal, ou seja, tudo se colocava sobrePalmares e nenhum recurso se atribuía a ele. Ou seja, não havia re-cursos técnicos e humanos e, ainda assim, concentrava orgulhosa-mente ser o grande quilombo – por isso que não quero ser Zumbi –,gerando uma grande insatisfação.

Antes mesmo da criação da Secretaria de Promoção da IgualdadeRacial, antes mesmo da criação do GTI, eu já tinha pedido, eu já tinhaestado com o Ministro Miguel Rossetto, para expor-lhe que, do ponto

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de vista da nova Fundação Palmares, entendíamos claramente que ascomunidades de quilombo são comunidades negras rurais diferencia-das pela sua história, sua simbologia e sua cultura. Portanto têm duasdimensões: agricultura e cultura.

Sendo assim, uma fundação cultural não poderia trabalhar comagricultura. Deveríamos acabar imediatamente com qualquer tipo decompetição e entrave entre INCRA e Fundação Palmares, porque en-tendemos, bem como o Governo, que o atendimento aos quilombos éuma política nacional, a responsabilidade é do estado brasileiro e, por-tanto, ela não pode se limitar a um ou a outro órgão, nem cabe a dispu-ta de competências, nem de primacias.

A partir daí, desencadeou-se todo um processo de reunião entreministros, a formação do GTI e a nossa participação dentro desta Co-missão é exatamente essa: propositiva. Estamos discutindo e encami-nhando proposições.

Esperamos que, ao fim desse período definido pelo Decreto de 13de maio para o funcionamento do grupo, possamos sair desse proces-so com uma política nacional para a população quilombola. Não so-mente uma divisão de tarefas, que considero ser fundamental, masacima de tudo uma concepção de que é preciso um plano nacionalpara desenvolver e apoiar essa população, com a locação dos recursossuficientes para esse plano, porque sabemos do passado, tanto com aatuação do INCRA, quanto da Fundação Palmares, que não adiantadistribuir competências, glórias e louros, se você não tem os recursospara implementar as tarefas.

Certa vez alguém me disse, numa dessas reuniões em Brasília, quequando alguém no Brasil não quer fazer uma coisa vota e aprova umalei. Deputado, não digo isso para desmoralizar o Legislativo. Quandoefetivamente você quer fazer algo, coloca uma rubrica no orçamento ecria uma lei. Sem rubrica no orçamento, sem lei. Uma questão que deveser levantada já para todas as pessoas e para todo o movimento negro éque a locação de recursos suficientes para se desenvolver uma políticapara a população quilombola é uma luta de todos. Reitero que sem re-cursos não há o laudo, nem demarcação, nem movimento sustentável,não há nada. Ficaremos sempre catando migalhas aqui e acolá.

Segundo, nós, da Fundação Palmares, também pretendemos alar-gar a nossa ação. Acredito que como historiador que trabalha com a

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história do negro no Brasil, tenho de falar aqui que graças a ignorân-cia da nossa classe dominante, conseguimos enganá-los na Constitui-ção. Houve uma grande jogada de enganação dos senhores das terras,dos representantes dos latifundiários, porque na cabeça deles jamaisimaginaram que quilombo fosse algo tão fundamental, tão difundido,generalizado e onipresente no Brasil como é.

Apesar de toda a militância do Movimento Negro, eles acharamque era ideologia, que era conversa, que esse movimento vivia falandomuita coisa e que era tudo mentira. A grande verdade é que acredita-vam que no máximo quatro ou cinco quilombos no Brasil pudessemser caracterizados como tal. Por isso, deixaram passar o art. 68, dasDisposições Transitórias. Desde então, têm desenvolvido uma com-preensão extremamente restritiva de quilombo.

Quilombo era só o Quilombo dos Palmares, algo muito antigo, ondevocê vai encontrar as paliçadas, enfim, algo meio arqueológico. Aí, li-mitou tudo. De repente, não somente o movimento negro denunciou epediu, mas todo o avanço da história hoje no Brasil demonstra – achoque essa é a primeira grande realidade – que o quilombo foi a formamais avançada de luta de classe no escravismo. Ou seja, onde houveescravidão, houve quilombo. Quilombo na beira da estrada, na cidade,dentro da mata, em beira de rio, no charco, nas Fronteiras do Uruguaie do Amazonas. Portanto, quando temos hoje livros, trabalhos, comoos dos meus colegas João Reis e Flávio Gomes, notamos que o quilombofoi a forma de luta de classe. O abolicionismo.

Quilombo abolicionista, Quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro, em1887, eram os quilombos onde havia tráfico de escravos e nos portos.De repente, essa forma de luta e a organização do povo negro come-çou a emergir e a ser reconhecida, e os caras ficaram assustados.

Quilombo é realmente muito mais do que aquele resto arqueológi-co que podia ser tratado com a política localizada e jogada curiosa-mente e infelizmente para a cultura, já que eles entendem a culturacomo – conforme Gilberto Gil – um caco de planta sobre a mesa.

A questão hoje é entender que uma política de quilombos é umapolítica de reparação para a população negra. É uma política de reco-nhecimento da luta, onde quer que ela tenha se dado, seja no campoou na cidade. Daí por que estamos avançando e inclusive estamosmuito contentes e felizes de ter firmado esse acordo com o município.

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Acreditamos que temos de abrir o entendimento dentro da própriaComissão de que quilombo não é a comunidade que tem de provar queocupava um espaço em 1888. Essa é uma visão policial do Império daescravidão, que qualificava o quilombo como um grupo de bandidosque devia ser destruído e registrado pela polícia.

Nosso entendimento é de que quilombo é toda a comunidade ne-gra que se reconhece como continuadora e como remanescente daluta pela liberdade do povo negro. Portanto, o importante é aautodefinição, a manutenção de uma tradição de luta da comunidade.Não há prova de que eles eram todos negros fugidos. Há quilombosinclusive do pós-abolição. Ou seja, que se organizaram enquanto co-munidades negras de combate e de luta. Esse é um dado.

Outro dado são as comunidades urbanas. Estamos aqui diante dafamília Silva. Penso que esse também é um entendimento que deveser aberto. Temos que entender que as cidades brasileiras cresceramgraças também aos quilombos urbanos. Todos os estudos de históriaurbana mostram que na fronteira de cada núcleo habitacional portu-guês e metropolitano se formavam quilombos e havia aldeias indíge-nas. É o avanço e a incorporação progressiva dentro da área urbanadesses quilombos que fez com que as cidades crescessem.

Podemos informar largamente aqui os quilombos da Bahia, dentroda cidade de Salvador, como o Buraco do Tatu – que trocou de nome –o Mata Escura e por aí vai; no Rio de Janeiro, o Quilombo do Leblon.Enfim, quilombos dentro das cidades. Temos de reconhecer um crité-rio bastante mais avançado e amplo de quilombos e, mais ainda, te-mos de avançar para além de quilombos. Ou seja, para uma noção –que a própria fundação lutará – da possibilidade do dever de reconhe-cimento como patrimônio cultural e nacional de comunidades negrasque desenvolvem ativamente uma cultura identitária, que faz com queesse nosso movimento possa buscar a cidadania.

Portanto, comunidades que desenvolvem atividades artísticas,culturais, de tradições. Por exemplo, estive no Tocantins e estava lá aBandeira do Divino Espírito Santo entrando em uma casa. Essa é umamanifestação negra que representa a tradição e a cultura de um cato-licismo negro, que era católico antes do descobrimento do Brasil noReino do Congo na África, mas que ninguém diz. Ao contrário, conti-nuam afirmando que foi invenção, que os negros ficaram católicos

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para enganar os Senhores. Não! Eles tinham o seu catolicismo noReino do Congo. São as comunidades de religiões afro-brasileiras, como,Candomblé, Umbanda e Xangô, que representam uma tradiçãoorganizativa de comunidades a partir de uma tradição africana.

Essa visão de que é uma política cultural para o negro, deve serbastante abrangente e plural, porque a cultura negra no Brasil é plu-ral, é diversificada. Esse é o nosso compromisso.

No que diz respeito à comunidade de quilombo, estamos partici-pando do GTI, mas enquanto ele não decide, estamos tentando cum-prir com as nossas obrigações. Por exemplo, quando o Ministério Pú-blico, por intermédio do Procurador Federal, Dr. Marcelo, nos coloca umcontencioso, atrás do qual estamos correndo – provavelmente na próxi-ma semana a nossa diretoria já estará aqui para ver especificamentea questão do Município de Casca, quanto à ampliação de área –, enten-demos que há algumas ações que podemos desenvolver, até porquepenso que esse GTI deve desbloquear os limites para que todos pos-sam trabalhar.

Na verdade, a grande orientação para a política de quilombos éque seja dada pelas próprias comunidades. Já estamos participandode um programa que também reflete um compromisso do GovernoFederal com a comunidade quilombolas, que é o programa desenvol-vido pelo Ministério da Segurança Alimentar, mais conhecido comoFome Zero.

Esse programa, que também é anterior, até o próprio Programa FomeZero do Governo Lula, definiu para a zona rural, três comunidadeespecais que deveriam e foram tomadas como prioritárias – as comuni-dades indígenas, os assentados rurais e as comunidades quilombolas.

Portanto, fomos procurados pelo Ministério de Comida – MESA –e desde então montamos um projeto conjunto. O protocolo já está as-sinado, o convênio está saindo, de atendimento emergencial, até o fimdo ano, há 48 comunidades quilombolas no Brasil, distribuídas emtodo território nacional e há mais 38 comunidades quilombolas atin-gidas por barragem, que é outro problema.

As comunidades estão lá, e, de repente, desaba sobre suas cabeçasum projeto modernizador que diz que eles são desnecessários e de-vem ser tangidos da sua área para dar lugar a uma barragem gerado-ra de energia.

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Essas 48 comunidades e mais 38 atingidas por barragem serãoobjetos do programa emergencial que consta, não somente, da segu-rança alimentar, do socorro alimentar, ou levar alimentos, ou intervirna produção familiar de alimentos dentro das comunidades, e, ao mes-mo tempo, o desenvolvimento de ações estruturantes, ou seja, açõesque sejam capazes de tornar essas comunidades mais fortes, no sen-tido de ter acesso a uma renda maior, a um nível de vida melhor, comoartesanato, a nova agricultura, o desenvolvimento com o MDA de pro-jetos de agricultura familiar mais avançada.

Esse é um programa que envolve algumas comunidades do RioGrande do Sul, como Gravataí, Cambará do Sul e a família Silva, quepara o Fome Zero, já está reconhecida como quilombo (aplausos).

Após essa fase emergencial, estamos desenvolvendo um projetopara que todo o universo de comunidades identificadas como qui-lombos, possam receber esse tipo de ação.

Nesse projeto, o importante, não somente é o resultado, mas é tam-bém o método.

Foi definido desde o começo que ele seria um projeto participativo,portanto, ele tem em comitê executivo que é composto, não somenteda Fundação Palmares, que o coordena, do MESA que financia e queprovidencia os alimentos, mas da representação do INCRA, MDA, Pro-moção de Igualdade Racial, da Assistência Social e Promoção Social,da Ministra Benedita, do Ministério da Saúde, enfim.

Há uma busca de uma coordenação intergovernamental para ope-rar esse projeto. Ao lado disso, um grupo de consulta permanente delideranças quilombolas, que são chamadas regularmente para toma-das de decisões, tanto que essa primeira seleção da comunidades be-neficiadas foi feita em conjunto com representantes de federações ecoordenações de quilombolas e do Movimento Negro Organizado.

Lá estavam sentados coordenadamente, irmamente a CONEN,UNEGRO, o Movimento Negro Unificado. Para nós é importante insis-tir que essa unidade de ação é fundamental para o movimento negro.

Esperamos que a operação em cada quilombo, em cada municípiose de através da participação de comitê gestores locais onde as pesso-as sejam eleitas a partir da comunidade e onde os movimentos parti-cipem. Essa é uma experiência participativa.

Fechando, Sr. Presidente, porque já ultrapassei meu tempo, queoutras ações estamos desenvolvendo em relação a comunidades

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quilombolas, como, alfabetização, projetos que já estão asseguradospelo Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco Mundial.

Enquanto discutimos no GTI, cada um trabalha pelo seu lado.Sei que a companheira Andréa Butto, pelo seu lado, está traba-

lhando e fazendo coisas, pelo nosso lado também. Esperamos que essaconvergência marque um novo tempo em que o povo negro e, especial-mente os quilombolas, possam exercer-se plenamente como cidadãosbrasileiros.

Falei demais, muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Ficamos entusiasmados com a fala do Sr. Ubiratan Castro deAraújo.

Vamos passar a palavra aos demais parceiros e parceiras da Mesa,por três minutos, depois abriremos para a nossa plenária representa-tiva, importante, não só do ponto de vista de qualidade, mas tambémde quantidade.

Estamos com um bom número de representações, de lutadoressociais, contra o racismo e pela inclusão da igualdade racial nonosso país.

Passamos de imediato a palavra a Sra. Sônia Santos.

Sra. Sônia SantosRepresentante da Secretaria do Trabalho,

Cidadania e Assistência Social

Sou da Secretaria do Trabalho, da Cidadania e Assistência Social. Antes de fazer a saudação, Sr. Presidente, por força do Decreto nº 41.498 que regulamenta a Lei sobre a questão de quilombos

no Estado do Rio Grande do Sul pelo Sr. Governador Olívio Dutra, nogoverno passado, que dá a Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assis-tência Social a competência de atuar na questão dos quilombos, aquino Estado do Rio Grande do Sul, peço que meu tempo seja cedido commais de três minutos.

Saúdo meu amigo, Edson Portilho, Ubiratan Castro de Araújo, Ritade Cássia da Silva Dutra, que é uma lutadora, uma guerreira, o Profes-

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sor Celso Luiz Franco Geiger, Noemi, Gilmar Valadares, Andréa Butto,a Procuradora Carmem Hensel, a companheira de luta Ivonete de Car-valho, ao companheiro Ruben da Silva, Procurador Marcelo Be-ckhausen e a todos vocês que estão aqui nesta tarde.

Quero dizer que a Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistên-cia Social, como todo governo que começa, tem buscado se apropriarda questão, não só, no nosso caso aqui, da questão do negro, mas detodas as outras. Tem demonstrado, publicamente, a busca de parce-ria com o Governo Federal. Estivemos em audiência com o UbiratanCastro de Araújo, em Brasília, com a Matilde, com o BID, buscandoparceiros para que as ações concretas e não de discurso se dêem eque atendam às necessidades das nossas comunidades quilombolasno Rio Grande do Sul.

Hoje pela manhã, estivemos em audiência com o Sr. Vice-Governa-dor, e por sugestão desta Diretora do Departamento de Cidadania,será também, aqui no Rio Grande do Sul, criado um grupo de trabalhointersecretarial, porque aquilo que tem sido feito em várias Secretari-as para atender as necessidades dos quilombolas do Rio Grande doSul, agora será por força de Lei.

Teremos um grupo de trabalho para, não só definir políticas, masacompanhar o cumprimento delas.

Será um Fórum permanente para a questão de quilombos no Esta-do do Rio Grande do Sul. (palmas)

Além dessas considerações, temos já definido, e foi nossa parceirana construção do nosso PPA, um valor significativo para que venha-mos a dar continuidade no processo de reconhecimento de áreas re-manescentes de quilombos no Estado do Rio Grande do Sul.

Já estamos preparando-nos nessa parte operacional. Temos tra-balhado desde o início, e faz pouco tempo, apenas seis meses, conjun-tamente com o Gabinete de Reforma Agrária – GRA –, com a Secreta-ria da Agricultura, com o RS/Rural, com outras Secretarias. Estamostrazendo a parceria da Secretaria do Turismo, Secretária da Culturapara que venhamos a fazer um projeto consistente e que traga resul-tados o mais brevemente possível, para que dê sustentabilidade a es-sas comunidades que terão posse das suas terras.

Ao finalizar minha participação, quero dizer, como cidadã gaúcha,que me sinto muito feliz, porque desde que comecei a me apropriar

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dessa questão que envolve o negro no nosso estado, tenho visto quetemos trabalhado em uníssono.

Aqui, Estado, Município, Governo do Estado, Governo da União têmtrabalhado num mesmo sentido.

Fico muito feliz, Procurador Marcelo, e brinquei com ele quandoestávamos na Fundação Palmares, porque ele vive nos cobrando esempre nos manda e nos cobra com documentação. É que tenhamosum Ministério Público atuante, cônscio da sua responsabilidade.

É bom que muitas vezes ele nos puxa a orelha, nós, Governo doEstado, Governo da União, Fundação Palmares, porque ficamosassoberbados com nossas tarefas. Não podemos esquecer que na pon-ta, há vidas, e essas vidas dependem de nossas ações.

Essa audiência pública não é para brigar, não é para acusar. Épara prestar conta para a sociedade do que já vem sendo feito, do quenós estamos nos comprometendo a fazer para o futuro.

Ouvi aqui, mulheres e homens brancos dizerem que não são ne-gros, alma não tem cor.

Essa causa transcende a vida humana que é passageira, quer se-jamos brancos, quer sejamos negros essa causa existia antes de nós,existe conosco e existe depois de nós. Ouvi vozes que gritaram aolonge, outras bem perto e muitas que continuam como a Rita – gritan-do. Somos apenas parte de um processo. Oxalá, sejamos competenteso suficiente para que esse processo se dê o mais rápido possível. Sehouve um negro que ganhou notoriedade e quando esperavam deleuma voz forte, disse que tinha um sonho e esse sonho não é só dele éde todos nós. É o sonho que sonho também, e espero que um dia deixede ser sonho, vire realidade.

Muito obrigada.

Deputado Edson Portilho (PT)

Quero registrar a presença do Vereador do PT de Gravataí, JairoSanterra, membro da Comissão que acompanha o Quilombo Barro Ver-melho. Muito obrigado, pela presença.

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Sr. Gilmar ValadaresRepresentante da Delegacia Regional do Trabalho

Agradeço ao Depu-tado EdsonPortilho pelo

convite que fez a DRT. Eparabenizar todos queestão presentes, princi-palmente, as represen-tações das comunida-des, porque elas fazemesse movimento. Como

foi dito por alguns, são as comunidades que se articulam, nos cobram.O Município, o Estado e a União precisam dar o retorno das demandasque são apresentadas e a comunidade, ao longo dos anos, vem fazen-do, apresentando e se mobilizando. Pela mobilização da sociedade eda comunidade negra é que estão acontecendo os retornos.

Nós, da Delegacia Regional do Trabalho, representação do MinistérioTrabalho e Emprego, no estado, já estamos desenvolvendo em conjuntocom o ministério, que a Andréa representa, e tem como Ministro um gaú-cho, Miguel Rossetto. No Ministério do Trabalho e Emprego foi criada aquarta Secretaria de Economia Popular e Solidária e aqui no Estado, naDRT, já estamos desenvolvendo, através da Economia Popular e Solidária,novas formas de trabalho e estamos discutindo junto com o CODENE eoutras pessoas que articulam e fazem parte do Movimento Negro.

Só acredito que vá dar certo com a participação de todos – daUnião, do Estado e do Município –, principalmente, do movimento,movimento articulado, organizado que poderemos, num futuro próxi-mo, reverter essa exclusão que ocorre hoje.

O presidente da Fundação, Ubiratan, disse bem cultura, agriculturajunto com o ministério, mas também emprego. Sabemos muito bem oquanto o negro é excluído do mercado de trabalho e isso precisa cessare em conjunto com os ministérios, governo federal estaremos traba-lhando lado a lado para revertermos a situação. Estamos trabalhandocom a Conferência Estadual do Trabalho Fórum Nacional do Trabalho, equeremos fazer um convite para as comunidades participarem para

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podermos, na Conferência Estadual, no Fórum Nacional, encontrar al-ternativas e que a inclusão seja de todos e não só de uma parcela dasociedade. E o Governo Lula está aí para incluir todos na sociedade.

Muito obrigado.Deputado Edson Portilho (PT)

Concedemos a palavra ao Sr. Rubem da Silva, representante doConselho Estadual de Segurança Alimentar – Programa Fome Zero.

Sr. Rubem Da SilvaRepresentante do Conselho Estadual de

Segurança Alimentar – Programa Fome Zero

Quero cumprimentar o Deputado Edson Portilho que está na defe- sa dos valores e dos direitos dos negros e da cultura do nossoestado. Estou pela primeira vez na frente de um Presidente da

Fundação Palmares que muitas vezes disse que vinha e não veio.Hoje tenho este prazer e muito mais com a mentalidade, que esperá-vamos, de centralizar as ações e políticas públicas do governo federale, principalmente, da nossa Fundação.

Estamos contentes em estar com o Ubiratan e nos colocamos àdisposição para esta troca de informações e participar das ações dogoverno federal. Após muitas lutas do nosso movimento, o CODENEera mantido por um decreto, e nesse ano, depois de muita luta, tive-mos a felicidade de sermos desarquivados pelo Governador GermanoRigotto, foi formado e passou uma Lei, depois de tanta luta do nossoamigo Edson Portilho e todos os Deputados desta Casa, conseguimospela Lei nº 177/2002 a Lei Normativa Paritária Deliberativa eFiscalizadora para termos o controle social da sociedade civil peran-te todas as ações que forem feitas no Rio Grande do Sul.

Foi uma grande vitória, uma grande luta de todo o movimento doEstado do Rio Grande do Sul. Com isso conseguimos, e hoje vejo pe-rante à Comissão todos os meus colegas, nossos representantes e lu-tadores como foi Zumbi e muitos descendentes dos nossos lanceirosnegros do Rio Grande do Sul, muito fizeram pelo nosso estado e mui-tos não conhecem as suas histórias.

Estou participando como Conselheiro do CONSEA, empossado nodia 28, pelo Ministro Grazziano, estamos nesta luta e a prioridade no

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Rio Grande do Sul é a criança até seis anos, o índio e o negro – osquilambolas –, e com a participação da nossa companheira Andréa,sabendo que o Ministro Humberto Costa é do nosso time, temos quefazer ações paralelas para conseguirmos algo na saúde, educação esegurança nos projetos da Fome Zero, senão chegaremos a nada, arru-maremos apenas uns votinhos para Prefeito, Vereador. A sociedade civillevará a culpa e não vai resultar em nada. Eu acredito no PresidenteLula e sei, como todos que estão aqui, que vamos conseguir, porque tere-mos o controle da sociedade. Também, junto com isso, vamos ter aconscientização do negro do Rio Grande do Sul, que está aqui, está pre-senciando toda essa transformação no estado. Agora só está faltandouma coisa para nós, que é nos unirmos a todas as raças, todos os credose a todas as cores, para que possamos ter o benefício da lei, como oSenhor disse, também, da rubrica, a fim de que possamos levar esseconforto a muitos que lutaram. Agora há também a esperança não só dafamília, mas de todo negro do Brasil. Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra ao Sr. Rui Leandro da Silva Santos.

Sr. Rui Leandro da Silva SantosRepresentante da Secretaria dos Direitos Humanos

e Segurança Urbana de Porto Alegre

Boa tarde a todos e a todas. Cumprimentando o Deputado EdsonPortilho quero cumprimentar a Mesa. O Talis Rosa da Rosa jáfalou, representando, na verdade, a Secretaria Municipal de Di-

reitos Humanos e Segurança Urbana.Só gostaria de apresentar uma questão para o Presidente da Fun-

dação. Já que se está falando da questão da descentralização das po-líticas da Fundação Palmares, seria necessário também pensar naquestão do patrimônio imaterial. Estamos comentando aqui a respei-to do patrimônio material, mas talvez não estejamos dando o devidovalor ao patrimônio imaterial, essas formas de saber e de fazer emque a comunidade negra, durante todos esses anos, se envolveu. Deum ou outro modo, no IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e

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Artístico Nacional – e essa é a questão – muitas vezes não são reco-nhecidas, não são valorizadas, pela política que o IPHAN tem hoje noBrasil. Então é importante também pensarmos nas questões subjeti-vas do povo negro, na importância da construção da sua identidade,da sua auto-estima, que passa não só pela questão da terra, mas além.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Vamos abrir as inscrições para os nossos ilustres visitantes, mili-tantes, Movimento Negro, entidades presentes, para que possam fa-zer as suas manifestações, falando no microfone, porque está sendogravado, e ocupando três minutos, para que todos possam manifes-tar-se. Vamos abrir uma bateria com dez inscrições, depois retorna àMesa, para que os debatedores possam responder e ajudar a discutiras questões levantadas. Se for necessário, retomar-se-ão as inscri-ções num segundo momento, para que possamos, então, encerrar aaudiência. A assessoria anotará corretamente os nomes.

Concedo a palavra à Sra. Vera Rosane Rodrigues de Oliveira.

Sra. Vera Rosane Rodrigues de OliveiraRepresentante da Luta das Mulheres Negras Gaúchas –

CADECUNE

Boa tarde a todas e a todos. Parabenizo em especial a Casa, porestar organizando este evento.

Quero falar em nome do Fórum Estadual de Articulação de Enti-dades Negras, da CONEN. É importante a proposição deste evento, emespecial pela presença da Fundação Palmares, como entidade que buscaum mecanismo que deve, de fato, dialogar mais de perto com o povonegro para atender às suas necessidades, para que ocupe efetivamen-te o seu papel no elo de promoção das políticas públicas.

Gostaria de enfatizar três elementos fundamentais, que foramcitados em algumas falas – e nesta sala, hoje, o próprio Presidentemenciona que o calor humano está expresso entre todos nós. O pri-meiro elemento fundamental é a própria caracterização de como estáestruturada a questão do racismo na nossa sociedade e como issoestá colocado inclusive pelos governos que são demandados. Por quê?

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Porque o racismo é uma questão estrutural, que foi implementada edemandada por todos os governos da sociedade brasileira. Não é à toaque tivemos um ato falho da representação da Casa, que coloca que anossa questão estaria no marco da consciência e que por isso deverí-amos demandar uma nova forma de mobilização. Não. Conscientes eorganizados nós somos, tanto é que resistimos a mais de quinhentosanos de exploração e de luta. E o reconhecimento da discussão dosquilombos, que para nós é de fulcral importância, demarca isso.

Existem dois outros elementos, e não só pela questão que o estadobrasileiro colocou, como lugar e posição, aos negros. Isso está muitobem demarcado em 1860, quando ocorreu a questão da lei da terra, ecomo e qual seria o espaço, mais ou menos trinta anos antes do proces-so da abolição da escravatura. Ou seja, estariam demarcando e justifi-cando quem poderia ter acesso, ou não, à terra, à produção e à subsis-tência. Hoje, esta discussão dos quilombos remarca essa questão.

O Presidente da Fundação Palmares, a representação do Ministé-rio do Desenvolvimento Agrário citaram dois elementos que são fun-damentais hoje e sempre: falarmos sobre a questão do racismo estru-tural e sobre a questão da discriminação é falarmos a respeito deonde virão os recursos para demandarmos isso. Não basta simples-mente termos vontade política de algo, precisamos efetivamente sa-ber de onde virá dinheiro para desenvolver políticas de saúde, deeducação, de moradia e de assistência. É importante termos preocu-pação com a fome e ajudarmos no programa Fome Zero no nosso país,mas não basta, evidentemente, termos doação para evitar o problemada fome, pois precisamos é de emprego, precisamos dos quilombolasna terra, produzindo, tendo dinheiro do estado para produzir, tendofinanciamento efetivo para a construção dos quilombos – que foram oque gerenciou o estado. (palmas)

Essas são questões fundamentais. Todos da Mesa menciona-ram elementos fundamentais, como o fato de que o estado brasilei-ro, historicamente, retira nossos direitos por meio das leis. Issofoi muito bem explicado. Quer dizer, se você quiser que algo nãoseja feito, crie uma lei. Hoje deparamos com as reformas constitu-cionais que acabam massificando mais a vida dos negros nestepaís. E nós efetivamente não vinculamos isso à discussão racial,que é um equívoco histórico, porque, se existem pessoas que mais

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sofrerão com todas as reformas que estão sendo propostas – Re-forma da Previdência, Reforma Tributária, Reforma das Leis Tra-balhistas –, seremos nós, negros e mulheres, seremos nós, osquilombolas do campo e da cidade.

Todos se surpreendem com o Quilombo Silva. Quem já ouviu falardo Quilombo da República, do quilombo que existe em Higienópolis edos vários quilombos construídos em distintos pontos desta cidade?Nem sabemos disso, porque isso foi sufocado. Esses quilombos urba-nos são hoje constituídos por trabalhadores informais, por trabalha-dores desempregados e por pessoas na mendicância, que precisamrealmente de políticas que lhes garantam condições.

Muito obrigada. (manifestações na platéia)

Deputado Edson Portilho (PT)

Já há oito inscrições. Gostaria que auxiliassem a Mesa no sentidode todos poderem falar, para que a reunião não se esvazie. Contamoscom um bom número de pessoas, depois verificaremos com a assesso-ria quantas pessoas circularam por aqui hoje, para ficar gravada amobilização e a nossa unidade em relação a este seminário, e não só ànossa luta. Somos organizados, sim. Somos corajosos, trabalhadores eguerreiros. Não aceitaremos mais conotações como desorganizados edesmobilizados, porque nos mobilizamos, sim. A mostra disso é que, emuma sexta-feira à tarde, este espaço é pequeno para tantas pessoas. Seestivéssemos no Plenarinho, ele também estaria lotado, o que demons-tra a nossa unidade, o nosso grau de preocupação e de mobilização.

Os participante terão três minutos para manifestarem-se.Concedo a palavra ao Sr. Secretário-Geral da União de Negros pela

Igualdade do Estado do Rio Grande do Sul, José Antônio dos Santos.

Sr. José Antônio dos SantosRepresentante da União de Negros pela

Igualdade do Rio Grande do Sul

Saúdo o companheiro Deputado Edson Portilho pela realizaçãodeste evento, que nos oportuniza mostrar a unidade do nossomovimento; a companheira Vera de Oliveira, nossa ex-representante

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na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, a quem expresso a nossasolidariedade e de quem sentimos falta na defesa dos nossos interessesnaquela Comissão; os companheiros do CODENE , na pessoa da Ivonetede Carvalho; e a família Silva e todos os quilombolas aqui presentes.

Este processo que hoje iniciamos já começou no estado, por meiode vários companheiros. Trata-se realmente de um processo de cons-trução de políticas para a inclusão de toda a nossa comunidade, inde-pendentemente de estarmos nos quilombos urbanos ou rurais.

A manifestação da Vera de Oliveira foi realmente muito importan-te. Somos uma população de 13% no Rio Grande do Sul e 46% no país;somos uma população de mais de 50% de desempregados, a maioriaem todos os índices.

No final de semana realizamos o 2° Seminário em Defesa das Re-ligiões de Matriz Africana e da Intolerância Religiosa. Nesse seminá-rio, que contou inclusive com a presença do pessoal do DepartamentoJurídico, foi relatado que tivemos a primeira condenação de uma pes-soa no nosso estado – pelo menos que tomamos conhecimento – porexercer os atos e comandar uma casa de religião. Essa pessoa é anossa companheira Gisele, que não é de matriz africana, é uma com-panheira branca que está abrindo uma casa de religião – uma religiãonossa –, que é desenvolvida em todo o país.

Em três minutos não poderemos falar de todo esse processo, masnós, da Unegro Nacional, desenvolvemos com a Fundação Palmaresum projeto que visa a retomada das pesquisas das casas de matrizafricana por todo este País, porque temos que levar a organizaçãopara dentro dessas casas, para que não aconteça mais o que aconte-ceu na cidade de Rio Grande e o que está acontecendo em todo o país.Essa intolerância é um desrespeito à nossa religião.

Quem quiser ter acesso a esse processo, mande um e-mail [email protected], que estaremos repassando cópia da condena-ção da companheira a trinta dias de prisão, em regime fechado. O com-panheiro Júlio Martins, que é Vereador em Rio Grande, é o advogadoque está acompanhando o processo.

Queremos fazer uma corrente não apenas para denunciar, mastambém para levar ao conhecimento público as palavras utiliza-das na condenação dessa companheira. Ali está dito, por exemplo,o seguinte: (...) esses ditos C.E.E.s na verdade são uns verdadei-ros infernos (...).

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Se estamos lutando por organização e inclusão social, temos delutar também pelo respeito às nossas religiões de matriz.

Meus parabéns à família Silva e a todos os companheirosquilombolas. Que essa vitória represente a unificação.

Muito obrigado. (palmas)

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra ao Sr. Representante do Instituto de Assesso-ria às Comunidades Remanescentes de Quilombos – IACOREQ –,Ubirajara Carvalho Toledo.

Sr. Ubirajara Carvalho ToledoRepresentante do Instituto de Assessoria às Comunidades

Remanescentes de Quilombos

Saúdo os componentes da Mesa pela excelente atividade. Aprovei-to a oportunidade para convidar os representantes dos gover-nos do estado e Federal, da Assembléia Legislativa e todos os

presentes para participarem, nos dias 18, 19 e 20 de julho, do 2° En-contro das Comunidades Remanescentes de Quilombos, que será rea-lizado no Plenarinho da Assembléia Legislativa, aqui em Porto Alegre.

Sou apenas um amplificador das demandas das comunidades, por-que nós, militantes, nos nossos espaços, somos atores coadjuvantesnesse processo. Espero naquele encontro ouvir os nossos companhei-ros quilombolas falarem das suas experiências, as quais tenho parti-lhado nos últimos quatro anos. Só quem vive no rabo do arado sabe oquanto é dura a vida no campo, e o nosso povo está cansado de viverde promessas. (palmas)

O povo quer, de fato, a concretização das demandas que estão noorçamento do estado e quer que o governo federal assuma a respon-sabilidade daquilo que lhe cabe. Chega de discurso e de poesia! Quere-mos política, o resgate da dignidade e o atendimento das demandasdas comunidades, que têm voz!

No encontro dos dias 18, 19 e 20, estará presente o Ivo Fonseca,que é o Coordenador Nacional das Comunidades Quilombolas. Seráuma atividade única e exclusivamente voltada à manifestação das

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comunidades quilombolas. Serão convidadas a participarem tambémrepresentantes das Secretarias do Trabalho e da Agricultura do go-verno do estado e representantes do governo federal, para que falemacerca das políticas de seus respectivos governos para as comunida-des remanescentes de quilombos. A partir daí, as comunidades pode-rão cobrar aquilo que lhes é de direito.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra a Sra. Representante do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional – IPHAN – Beatriz Muniz.

O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para quemnão conhece, é um órgão do Ministério da Cultura com representa-ções em todo o país. No Rio Grande do Sul está situada a 12° Superin-tendência Regional do IPHAN.

A razão pela qual estou aqui é que o IPHAN iniciou recentemente,com a participação de alguns representantes do Movimento Negro eda Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Urbana, um debatevisando a implementar ações pelo reconhecimento e pela preserva-ção do patrimônio cultural dos afro-brasileiros. Iniciou tardiamente,eu diria, mas antes tarde do que nunca.

Fiquei muito feliz ao ouvir o Professor Ubiratan relatar aqui areestruturação pela qual está passando a Fundação Palmares. Quemtrabalha em instituições públicas federais sabe a situação que elasenfrentam. Nos são dadas atribuições, mas não nos são dados os re-cursos. Essa tem sido a situação há pelo menos dez anos. Não há con-curso público há 15 anos, e o quadro está reduzido. Há muitos proble-mas e cada vez mais atribuições. Mas, enfim, vamos enfrentar essenovo desafio. Estamos abertos à participação de todos.

Concedo a palavra ao Sr. Representante da Associação Comunitá-ria Morro Alto, de Maquiné, Vilson Marques da Rosa.

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Sr. Vilson Marques da RosaRepresentante da Associação Comunitária de Morro Alto

Saúdo o Sr. Deputado Edson Portilho; o Sr. Presidente da Funda-ção Palmares, Ubiratan Castro de Araújo; o Sr. Representante doMinistério Público Federal, Dr. Marcelo Veiga Beckhausen; o Sr.

Representante da Secretaria Extraordinária da Reforma Agrária; aSra. Representante da Secretaria do Trabalho e Assistência Social; e

os demais represen-tantes de entidadesaqui presentes.

Pretendo fazeruma intervenção mui-to rápida e objetiva.Quero saber em que péestá o nosso laudo den-tro da Fundação Cultu-ral Palmares, a comuni-dade nos cobra, esta-mos com expectativaem relação ao trabalho,que vem sendo desen-volvido há muitosanos, não é de agora

que estamos brigando por isso, muito antes da Constituição.Já se passaram seis meses de governo, em poucos dias deu um

canetaço na situação da reforma agrária, liberando terra para o Mo-vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio Grande do Sul.

Ficamos preocupados, porque a pressão local é muito forte,os poderosos locais são muito fortes e o poder político também émuito forte.

Quem convive conosco sabe dos entraves, a perseguição, isso noscria uma expectativa muito forte.

Gostaríamos que o presidente da Fundação Cultural Palmares, hoje,desse um prazo para que a nossa comunidade venha a ser reconheci-da, haja vista a questão da duplicação, há momentos em que está libe-rada, em outro; ainda falta.

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Estamos no meio do fogo cruzado e lá existem muitas famílias quedependem da exploração da pedra, todo o litoral norte depende disso,tem a questão da outra estrada, da década de 50, que já foi feita e nãopagaram nem indenizaram ninguém.

Fizeram a Estrada do Mar, que diminuiu o movimento na beirada praia.

São questões que foram levantadas no laudo, pedimos uma urgên-cia para que se defina isso de uma vez e que após, aí sim, vêm aspolíticas públicas, a gente quer terra, é a nossa convicção, é o nossodireito constitucional.

Viemos nesta reunião, com a nossa comitiva de dezesseis pesso-as, para pedir isso ao senhor.

Muito obrigado. (Palmas)

Sr. Roberto Potássio

No momento anterior já havia cumprimentado a Mesa, saúdo maisuma vez todas as autoridades aqui presentes.

Eu apenas queria complementar as palavras do companheiro Vilsonsobre o andamento do nosso laudo.

A partir do momento em que se entra em uma comunidade quetem uma vivência de longos anos de trabalho árduo, de mão calejada,buscando o seu pão de cada dia, pegando chuva, vento e frio, cami-nhando duas, três horas até chegar no seu local de trabalho e o mes-mo tempo de volta para a sua casa, quando chega um projeto dessedentro de uma comunidade, cria-se toda uma expectativa.

Que expectativas são essas? Melhorias, uma casa melhor paraabrigar seus filhos, uma melhor infra-estrutura dentro da sua comu-nidade, um projeto eficaz de geração de renda, tudo isso fica plantadona cabeça das pessoas que vêem ali um fio de esperança.

Mais do que isso, o pai e a mãe dizem para os filhos que eles irãomelhorar, que terão um calçado melhor para ir à escola.

Sr. Presidente, é isso que está em jogo no parecer dos senhoressobre o nosso laudo antropológico, que lá está desde o ano passado,quando foi entregue ao Dr. Fernando Linhares.

Pelo que as comunidades compreendem e eu também, esse ór-gão tem trinta dias para dar o seu parecer, já estamos chegando

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na metade do ano e nenhum posicionamento foi dado em relação aessas questões.

Quando ele pede urgência, eu digo que colocou a palavra no lugarcerto, isso tem que ser urgência, urgentíssima, porque criar expecta-tiva numa comunidade que já está esperando há séculos, é pisar emcima dela, é frustrar totalmente a sua sensibilidade e dos seus filhos,isso nós não queremos.

Até sentimos que há um certo interesse pelo assunto, sabemosque não é culpa sua, pois o senhor está chegando agora, mas pedimosa sua sensibilidade nesse processo. (Palmas)

Gostaria de direcionar uma pergunta à Fundação CulturalPalmares, que levou em consideração o protagonismo, a autonomia ea organização das comunidades remanescentes de quilombos, a exem-plo dos indígenas, mas os indígenas criaram o seu próprio projeto,tiveram autonomia para tanto e lá está orçado determinada quantiade verba.

Quando é que as comunidades poderão fazer parte do Projeto FomeZero no total?

As comunidades de lá estão organizadas de acordo com a propos-ta do Fome Zero.

Não me parece justo, quando há uma proposta dessa envergadura,que seja colocada entre um ou dois, quando todos nós somos filhos deDeus e não me sentiria bem em comer um saco de bolachas e dividirsó com vocês, que estão na mesa, e não com os outros.

Acho que a avaliação deveria ter mais sensibilidade nesse proces-so de inclusão dessas comunidades num contexto geral, porque ficaaquela expectativa de quando é que as comunidades poderão se asso-ciar a esse projeto no total e até quando. (Palmas)

Deputado Edson Portilho (PT)

Registro a presença da Deputada Jussara Cony, vice-presidentedesta Comissão, que a partir de agora fará a sua manifestação.

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Deputada Jussara Cony (PC do B)Vice-presidente da Comissão de Participação Legislativa Popular

Faço questão de, rapidamente, fazer essa intervenção, cumprimen-tando o nosso companheiro, Presidente desta Comissão, Deputa-do Edson Portilho.

Esta Comissão surgiu este ano na Assembléia Legislativa e já estámostrando a que veio.

Saúdo a todos através do companheiro Ubiratan Castro, da Fun-dação Palmares.

Eu estava em outra atividade, o Batalhão de Suez, que tem todauma história na luta pela paz e que agora, nesse recente conflito dopoder hegemônico dos Estados Unidos contra o povo iraquiano, esta-va no nosso plenarinho fazendo outorga de uma medalha de méritoao Batalhão de Suez, a todos aqueles que vêm lutando pela paz.

Tivemos a honra de coordenar, nesta Assembléia Legislativa, aComissão de Representação Externa pela paz e contra a guerra impe-rialista, pela autodeterminação dos povos e pela necessidade da cons-trução de nações soberanas, porque só assim teremos a paz no mun-do, por isso não pude estar presente desde o primeiro momento.

Tenho necessariamente que viajar hoje à noite, pois, em São Paulo,participarei da reunião da direção nacional do meu partido, o PCdoB,onde sou uma das mulheres que participam da luta pelas quotas femi-ninas e tantas outras, faço parte da direção nacional.

Eu queria apenas dizer que vivemos um novo momento nestanação, se a esperança venceu o medo, temos que transformá-la emrealidade.

É o momento de um novo ciclo político nesta nação, momento debuscar e construir novos rumos, mas não haverá novos rumosconstruídos se não estivermos todos resgatando as dívidas históri-cas que existem com todos aqueles povos e principalmente oafrodescendente, que contribuiu e todos aqueles de diversas etniasque contribuíram na construção de uma nação livre, soberana, demo-crática e justa que eu creio, pela primeira vez, temos a perspectiva deconstruir.

Não haverá novos rumos sem a verdadeira emancipação política,econômica, social e cultural de todos nós que estamos a construir, háséculos, um novo mundo, um novo Brasil.

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Um Brasil que nos garanta igualdade, não a igualdade formal, masa igualdade na vida, um Brasil que garanta a nossa soberania, a digni-dade para aqueles que o constróem.

Portanto, há muitas reparações a fazer, uma delas, sem dúvidanenhuma, é aquela que resgata, como bem foi dito na apresentação, osnossos quilombos, que não são apenas um espaço na busca da liberda-de, muito mais do que isso, são a reafirmação de uma visão de ummundo africano no trato da terra.

Que trato é esse? O resgate da função social da terra, para queatravés desse resgate possamos ter a nação soberana, livre e justaque podemos construir.

Não apenas olhando para nós mesmos, mas o significado deste Bra-sil na construção de uma América Latina, de uma África, na construçãodos continentes onde possamos dar um fim à guerra e semear a paz.

Não a paz dos cemitérios, patrocinadas por guerras hegemônicas ede interesses que nada têm a ver com os nossos, mas a que se constróibaseada na construção de nações soberanas, na solidariedade interna-cional e no respeito a todos que contribuem, como no nosso Brasil, paraa liberdade, para a emancipação e para a dignidade de uma nação.

Essa é a nossa mensagem, se é que podemos chamá-la assim, nummomento como esse.

Cumprimento, mais uma vez, o nosso companheiro Edson Portilho,que tem dado exemplos significativos nesta Assembléia Legislativado que significa um mandato à disposição da luta popular. (Palmas)

Deputado Edson Portilho (PT)

Obrigado, Deputada Jussara Cony.As próximas inscrições pertencem à Sra. Juraciara, ao Sr. Ivan

Braz e ao Márcio.Eu gostaria que assessoria distribuísse o material que nós elabo-

ramos: A Luta dos Remanescentes de Quilombos no Rio Grande do Sul– O Caso da Família Silva.

Assim podem levar às suas casas um material simples, mas quecontém informações importantes, a fim de que divulguem a todos oscantos onde estão morando, residindo e construindo, a nossa luta con-tra o racismo e pela transformação da sociedade.

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Sra. Juraciara da SilvaRepresentante da Comunidade de Barro Vermelho

Boa tarde a todos, estou representando a comunidade de BarroVermelho, situada em Gravataí.

Em primeiro lugar quero agradecer ao Deputado Edson Portilho,pela oportunidade desta audiência pública e também à DeputadaJussara Cony. Para nós, quilombolas, que sabemos da luta que viemostravando há muito tempo, é muito importante uma audiência públicapara podermos reivindicar o que é nosso.

Como para todos nós, contribuindo um pouco com o que o Robertofalou, o laudo importância para todos nós. Um laudo para uma comu-nidade de quilombo é o centro, é tudo. É o sinal de toda a luta, de tudoque foi percorrido, porque todas as histórias sobre quilombos – é tris-te dizer – sempre são de mágoas, rancores e tristezas, por serem dis-criminados quando vão buscar seus direitos.

Um laudo para nós é um troféu, ele significa tudo que é importan-te. Nós da comunidade de Pau Vermelho também estamos nessa luta,buscando nosso laudo, nosso reconhecimento, porque sabemos a im-portância que ele tem.

Vemos a importância das comunidades que vieram de longe. Ge-ralmente quem nos ajuda é a nossa mãe Ivonete de Carvalho, doCODENE, que sempre dá um jeito de conseguir trazer a comunidadepara cá para que possamos estar aqui lutando, reivindicando e mos-trando o nosso interesse.

Não é o fato de não haver interesse da comunidade em participar,mas, sim, de pensarmos que muitas comunidades são pobres, todastêm dificuldade em locomover-se dos seus lugares para chegarem aquie reivindicarem seus direitos.

Por isso que, quando temos oportunidade, buscamos isso. Nós ago-ra estamos querendo não somente o laudo, para dizer que o temos,mas o resgate da nossa cultura, da nossa história para podermos nosauto-sustentar com a terra sem precisarmos mendigar algumas mi-galhas. Esse não é o nosso caso, porque todos nós somos produtivos. Avocação do quilombola é a terra: podem dizer que não, mas é a terra.

O que posso deixar claro é que todas as comunidades reivindicamo laudo, o reconhecimento, para que a partir daí comecem a trabalhar.

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E com isso não deixem essa herança triste para seus filhos. Nós, doQuilombo Pau Vermelho, vivemos nessa luta desde 1939, porque so-mos descendentes de escravos que residiram naquelas terras, mas opessoal nunca teve direitos a sua parte nas terras. Sempre viveramapertados, com dificuldades, sem água, luz, telefone, etc.

Nós não queremos deixar essa herança para nossos filhos. Queremospelo menos deixar claro que não somos mais coitadinhos, porque temospoder de trabalhar, de lutar e de nos auto-sustentar, pois todos somospessoas que pensam. Essa história de que, por termos sido escravos, nãopensávamos, não existe. É bem o contrário. E isso é uma prova viva.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra ao Sr. Ivan Braz da Conceição, meu companhei-ro de Sapucaia.

Sr. Ivan Braz da ConceiçãoRepresentante de Angola Janga

Boa tarde a todos. Saúdo o Deputado Edson Portilho e, em seunome, a todos os componentes da Mesa e demais personalida-des presentes.

Inscrevi-me para falar de forma mais política porque esta é umaatividade política e acho que devemos nesses momentos refletir umpouco sobre nosso papel enquanto agente político. E nesse aspectofoi muito importante o que falou o Deputado Edson Portilho. Voufazer um desabafo porque o movimento negro quando quer pode seunir. E a resposta disso é essa mobilização que está acontecendoneste momento.

Temos de aproveitar esse fato para avançar naquilo que historica-mente estamos atrás nesse processo de exclusão da sociedade. Paraavançarmos precisamos fazer além dessa mobilização um processocontínuo de mobilização. Sem isso dificilmente vamos conseguir con-quistar o que há muito estão nos devendo. Sejam reparações, indeni-zações ou o que quer que seja do ponto de vista social: se não nosmobilizarmos e não tivermos a consciência política de que é impor-tante participar, dificilmente vamos conseguir.

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Por outro lado, a nossa unidade Nação tem demonstrado isso. Po-demos até ter divergências aqui ou acolá, mas quando as questõesdizem respeito a nossa comunidade, o movimento negro tem dado umsalto de qualidade muito grande e demonstrado para muitos que nãoacreditam nisso que somos capazes de sermos sensíveis e solidárioscom os nossos.

Tenho dito que para nós o conceito de solidariedade é diferente:não é somente uma retórica, mas uma ação. Muitos de nós estamosaqui por solidariedade: não somos quilombolas, mas estamos aqui emsolidariedade a quem lá está e que participa deste movimento.

Por último, com relação a algumas coisas que foram ditas aqui – eelas estão corretas –, devemos tencionar o governo, tanto do ponto devista estadual quanto municipal, e até federal, de forma permanente.

Precisamos ressaltar que o governo que está aí, o governo Lula – eo Bira tem muito mais propriedade que eu para falar – é um governosensível. A prova está quando ele falou das representações que lá estão.

Nós devemos ser ousados e nessa ousadia, se for o caso DeputadoEdson Portilho, podemos encaminhar a esta plenária uma resoluçãoque acelere este processo dos laudos que o pessoal está reivindican-do. E também o da titulação, como disse o Bira, pois essa ação, confor-me foi feita para o MST – e não temos nenhuma contradição nisso –pode também ser feita para as questões da comunidade negraquilombola.

Acho que, se essa Comissão puder encaminhar uma resoluçãonesse sentido, será um grande avanço pela representatividade queestá hoje presente. Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra ao Sr. Marcio Roberto da Silva, de Cambarádo Sul.

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Sr. Marcio Roberto da SilvaRepresentante do Quilombo de Cambará do Sul

Desejo a todos uma boa tarde e agradeço em nome do DeputadoEdson Portilho, autor da lei, conforme lia no jornal local da ci-dade de sua origem, Cachoeira do Sul e não propriamente do

interior, que é a cidade de Cambará do Sul.Sou de Cachoeira do Sul, da comunidade de Cambará do Sul. Estou

representando esta comunidade de origem negra. E quando falo a pa-lavra fome não significa simplesmente insuficiência alimentar, mastambém carência de dignidade das pessoas.

E para prosseguir e aprofundar mais o assunto, parto da palavrado companheiro que anteriormente falava sobre essa questão comoquestão política.

Digo o contrário, digo que esta é uma questão social, onde o negrovem sofrendo há séculos. Esse é um período histórico que precisamosresgatar. E não simplesmente resgatar a história dos amontoados denomes muitas vezes desconexos, mas, sim, conseguir o desenvolvi-mento para as comunidades que hoje vivem nessa dificuldade e pre-cariedade que nos traz a essa desigualdade.

Estas são as palavras simples e descultuadas de um remanescen-te de quilombo neste Brasil.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra a um guerreiro do carnaval, do movimento ne-gro e figura respeitada em todo o nosso Estado, Sr. Mário Bartochiak.

Sr. Mário BartochiakRepresentante dos Guaianazes

Senhoras e Senhores, é com prazer e alegria – como digo na rádio,na televisão – gente fina, gente boa, negros – porque tenho mi-nha alma negra, como já frisou a companheira.

O criador do universo deu origem ao negro onde? Na África. Vie-ram, depois, várias gerações e o negro sempre atrasado. Mas por

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que sempre atrasado? Porque não se conscientiza que deve existirmais união.

Vejo na minha frente um grande amigo, o Tales. Esse grande Depu-tado Edson Portilho, o qual conheço há muitos anos, o presidente doquilombismo do Brasil.

Deputado Edson Portilho (PT)

Ele vai sair do Rio Grande com uma responsabilidade maior doque a que tinha quando chegou.

Lula que se cuide.

Sr. Mario Bartochiak

A nossa alma, o nosso coração é negro, vamos nos unir.Não estou fazendo política, vamos aproveitar essa grande oportu-

nidade que estamos tendo, na tarde de hoje, para acompanhar essetrabalho magnífico que está fazendo o Deputado.

Deputado Portilho, que Oxalá e Xangó o protejam, dando forçae saúde para que continue unindo essa querida raça colorida queDeus criou.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Obrigado.Isso se deve ao conjunto do Movimento Negro Gaúcho, a todos nós,

ao trabalho coletivo e persistente, são os negros e negras gaúchos queestão aqui demonstrando força, humildade e garra.

Levaremos ao centro do Governo Lula que, no Rio Grande, os ne-gros, negras e os não negros, a Andréa também, estão unidos numapolítica só, aqui estamos conseguindo trabalhar conjuntamente, o quenão é uma tarefa fácil, mas é revolucionária.

Diremos ao Governo Lula, que saiu com dois títulos daqui, o depresidente do Quilombo e pelo movimento de Pernambuco, aqui no RioGrande do Sul.

A união faz a força.

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Sra. Ivonete de Carvalho

Só para contribuir.Acho que estamos todos de parabéns por esta audiência, princi-

palmente pela fala dos nossos quilombolas.Demonstramos o protagonismo dos quilombos e o quanto essas

comunidades têm a nos ensinar e a caminhar junto com a gente.Quanto ao que foi abordado aqui pelos quilombolas sobre a questão

de por que só três quilombos, quero dizer que nós, enquanto CODENE ,fomos interlocutores para indicar, num primeiro momento, trêsquilombos aqui do Sul para contemplar o plano piloto, que está sendodesenvolvido pela Fundação Cultural Palmares, mas, também estamosimbuídos de uma luta onde nós queremos contemplar os demais.

Prova disso é o projeto de auto-sustentabilidade das comunidadesde todo o Estado e que nós entregamos tanto ao presidente da Funda-ção Cultural Palmares, como ao Deputado Edson Portilho, para fazeressa interlocução aqui dentro da Casa.

Em relação ao plano plurianual deste governo, também contribuí-mos na proposição do programa estadual de regularização fundiáriae política de auto-sustentação de comunidades remanescentes dequilombos rurais e urbanas.

A nossa proposta é de cinco milhões e oitocentos ao planoplurianual do atual governo e já foi encaminhado para a AssembléiaLegislativa, está aqui na Casa.

Gostaríamos de contar com a interlocução do nosso grande líderdo estado, um parceiro na caminhada dos quilombos, para que seja onosso porta-voz aqui dentro da Casa no sentido de que também possa-mos estar contemplados no plano plurianual do governo estadual.

No programa RS/ Rural, que estava implementado no GovernoOlívio, tínhamos garantida uma participação e, agora com a amplia-ção do programa no atual governo, garantimos, numa interlocuçãojuntamente com o Banco Mundial, a realização de um diagnóstico ge-ral no nosso estado, quantos quilombos somos, onde estamos e o nú-mero de famílias para que, de fato, possamos construir um programade auto-sustentabilidade para as nossas comunidades e possamos fa-zer uma radiografia dos quilombos no nosso estado, já sabemos queexistem mais de cem quilombos no Rio Grande do Sul.

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Queremos sair desse espaço de invisibilidade para um espaço deprotagonismo, sim, estamos agindo, na medida do possível, naquiloem que cabe uma ação de conselho, estamos fazendo a interlocuçãotanto com o governo estadual quanto com o federal.

Quero deixar esse recado e agradecer a oportunidade.

Deputado Edson Portilho (PT)

Muito obrigado, Ivonete, representando o CODENE.

Sr. Emir da Silva

Acho que é de comum acordo e avaliação de todos, que o debate foiextremamente rico, qualificado e trouxe-nos uma série de elementosimportantes tanto do ponto de vista dos programas de governo, quan-to dos debates que estão sendo propiciados pela ação do governo Lula,as reivindicações das comunidades quilombolas.

Tudo isso trouxe algumas solicitações, reivindicações e acho im-portante que o Poder Público, representado aqui na Casa, pelo Deputa-do Edson Potrilho, companheiro presidente da Fundação Palmares,Ubiratan; Sônia Santos, pela Secretaria do Trabalho, poderia articu-lar, entre os poderes, esses debates que são da Ordem do Dia, por exem-plo, quando se coloca a questão do orçamento, estamos agora no perí-odo de debate do plano plurianual, sabemos que a Fundação Palmarese o próprio Ministério da Cultura, não têm condições estruturais defazer esse debate no Brasil.

Eu estava comentando com a Andréa, o MDA está fazendo essedebate no país todo, há um maior orçamento, tem estrutura, os INCRAs,inclusive, é bom ressaltar que a Andréa iria para o Amazonas e aca-bou priorizando aqui, o que eu acho que foi fundamental essa repre-sentação do MDA.

Acho que o Rio Grande do Sul pode sediar um grande seminárionacional, não sei se para discutir o plano plurianual, porque temprazos, mas para discutir essas questões de legislação, o presidenteda Fundação Palmares também faz parte do GTI, que discute a ques-tão da educação, em função da lei aprovada de autoria da DeputadaEsther Grossi.

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A meu ver esse debate tem que estar de acordo com a contribui-ção do Movimento Negro e das comunidades, bem como dos poderespúblicos estaduais, municipais, enfim.

Sugiro que se faça um grande seminário no Rio Grande do Sulcom a participação de todos os poderes e que o presidente da Funda-ção Palmares leve, também para o GTI, que discute o decreto quanto àeducação, a possibilidade de se fazer um debate nacional em parceriacom o poder público de cada região.

Eu queria fazer uma saudação e uma homenagem especial para oSr. Ido José da Silva, natural de São Francisco de Paula, 85 anos, re-presentante da família Silva, veio especialmente para reforçar essaluta, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com ele, que trazuma história extremamente interessante, trabalhou num engenho.

Gostaria de pedir uma salva de palmas para ele. (Palmas)

Deputado Edson Portilho (PT)

Uma homenagem à família Silva e a todos os quilombolas desteestado e deste país, na figura deste guerreiro que, com muita dificul-dade, chegou até aqui, passo por passo, firme, também esteve conosco,ontem, na audiência com a prefeitura.

Parabéns, continue levando essa luta que não é só sua, é nossatambém.

Após a audiência estaremos nos dirigindo para a zona nobre dePorto Alegre, onde tem uma negadinha resistindo, não vamos deixarque os negros e as negras saiam de lá, lutaremos para que eles perma-neçam ali, até para colorir mais o bairro.

Se queremos um quilombo, temos que ter uma área multirracial.

Sra. Sônia Santos

A minha palavra final, mais uma vez, será em forma de agradecimento.Agradeço ao Bira, pela sua presença aqui conosco, com toda essa

força que tem, sairá daqui com uma responsabilidade imensa sobre osombros, dizer ao outro Bira, que nos fez um convite.

Quero dizer que eu topo, pois sou mulher de desafios, quero ir lá edizer o que estamos fazendo e que já assumimos o compromisso de fazer.

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O plano plurianual, aqui na Assembléia Legislativa, foi muito bemreferido pela Ivonete Carvalho, é o nosso compromisso, já assumido,de atender a essas necessidades, estamos fazendo, vamos fazer e va-mos mostrar.

Quero dizer que vou acompanhar da poesia, porque muita poesiatem na história desse povo e não foi queimando aqueles livros históri-cos que conseguiram queimar a história do povo, a história se sobres-sai à letra e ao papel.

Não adiantou queimar a história do povo negro, naquela época,pois ela continua viva e ardendo no coração do povo brasileiro.

Muito obrigada. (Palmas)

Sra. Andréa Butto

Eu queria fazer dois convites: o primeiro é para o dia 26 de junho,haverá audiência pública estadual, o Seminário Estadual de Consultado PPA, que o MDA promoverá.

É muito importante que haja uma representação das comunida-des quilombolas nessa audiência, já orientamos aos organizadorespara que seja garantida a representação.

No dia 29 de julho, exatamente às vésperas do encerramento doSeminário Estadual de Consulta do PPA, faremos um seminário espe-cífico contemplando as populações de índios, negros e mulheres emBrasília, para fazer consulta do nosso PPA.

Vocês irão receber um convite para uma representação local.Termino dizendo que eu não saí com o título de presidente dos

quilombos, inclusive assumir uma bronca como essa é difícil, mas,sei que, com certeza, sairei muito mais comprometida com essasdemandas.

Dizer que não basta lei, tem que haver recursos e esses só vêm sehouver organização e pressão, portanto, acho que temos que praticarisso não só neste momento de definição, mas durante o mandato in-teiro deste e dos outros governos que virão.

Muito obrigada. (Palmas)

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Sr. Ruben da Silva

Só queria dar uma informação e agora olhei para o Vilsinho e melembrei desse grande compromisso e o direito dos quilombolas também.

O CODENE está em reunião, já é a terceira, para a primeira eleiçãodo CODENE pela nova lei, um dos compromissos que tivemos, foi-nospassado que aumentou de nove para doze do Governo e também asociedade civil terá direito a doze representantes no CODENE.

Uma vaga, já por direito e justiça, será permanente dos quilombolas,será escolhido, entre eles, para resolver e discutir, terá direito a voz evoto, os problemas que lhes afligem, eles nos passarão e falarão por simesmo e nós debateremos, para que tenham consciência e condiçõesde resolver os seus problemas sem precisar de tutor nenhum parasolucionar as questões dos quilombolas.

Esse direito já foi conseguido pela comissão eleitoral, compostapor três representantes do governo e três da sociedade civil. Esse foio nosso primeiro passo dessa comissão eleitoral.

Então espero que seja muito feliz, como o Senhor, para nos trazeressas experiências, que muito têm a nos transmitir, porque às vezestemos a prepotência de morar na Capital e não conhecer nada, porquenão demos oportunidade aos mais idosos de nos repassarem suasexperiências a respeito de todo esse sofrimento e também esse liris-mo, essa capacidade de, com toda essa idade, ter nos lábios esse sorri-so. Espero que eu consiga chegar também assim a essa idade.

Muito obrigado.

Deputado Edson Portilho (PT)

Concedo a palavra ao Ubirajara.

Sr. Ubirajara Carvalho Toledo

Já que fui citado pela Diretora Sônia Santos, ex-Vereadora, a quemtive oportunidade de conhecer durante a campanha, gostaria de es-clarecer que se realizarão nos dias 18, 19 e 20 de julho as atividadespropiciando o encontro das comunidades remanescentes de quilombo,que já havíamos proposto ao Instituto de Solidariedade.

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Também gostaria de dizer à ilustre Diretora que a poesia, muitasvezes, é utilizada para nos ludibriar. Queremos é mais ação, Diretora.A poesia é imprescindível para a vida e é a nossa resistência, sabe-mos disso, mas este povo quer ação. Era o que eu queria dizer, parareforçar a nossa posição.

Deputado Edson Portilho (PT)

Gostaria de agradecer pela presença de todos, aos funcionários daCasa, aos assessores da comissão, aos assessores do gabinete, a todasas pessoas que vieram dos mais longínqüos rincões deste estado.

Também agradeço pela participação dos representantes dos Mu-nicípios, da Região Metropolitana, do Interior, de Porto Alegre, aosnossos ilustres debatedores, aos integrantes da família Silva – queaqui comparecem em peso –, aos Vereadores, às Secretarias, às Prefei-turas, aos Deputados que estiveram presentes – Deputada JussaraCony, Deputado Cézar Busatto. Igualmente, a todas as entidades queenviaram correspondências agradecendo pela iniciativa e nos dandoo maior apoio para que esta luta continue; ao Governo do Estado, aoCODENE, à Prefeitura Municipal de Porto Alegre, às duas pessoas quefizeram o esforço de vir de Brasília – Andréa Butto e Ubiratan Araújo–, tenho certeza de que as sua vindas não foram em vão, porque leva-rão muitas idéias do Rio Grande do Sul, muita energia, muita força,muito axé aqui do povo gaúcho.

Quero também dizer que aceitamos as três propostas feitas aqui.Primeiro, lutaremos para manter e ampliar os recursos de cinco mi-lhões de reais no PPA, o Plano Plurianual. Vamos fazer um lóbi negrona Assembléia Legislativa para que se possam manter e até ampliaros recursos, a fim de garantir recursos aos quilombolas e, de modogeral, à comunidade negra.

Aceitamos também a proposta do companheiro Ivan. Esta co-missão pode, deve e mandará uma resolução ao governo Lula, aocentro de governo, informando sobre as contribuições desta audiên-cia pública, com grande número de pessoas. Estaremos pressionan-do o Governo Federal, por dentro, no Plano Plurianual, para que tam-bém possa reservar e garantir recursos importantes no MDA, naFundação Palmares, na Secretaria, em todos os espaços em que pre-

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cisamos garantir as políticas públicas, no Ministério da Educação,no Ministério da Saúde.

A lei existe se tiver força de ação e se tivermos pressão para queela saia do papel. Se a lei que existe não é boa, vamos mudá-la. E se alei hoje não está sendo cumprida nas esferas de poder, seja municipal,federal ou estadual, vamos pressionar. E um Parlamentar só tem êxi-to quando ele tem base, e que a base seja organizada, a fim de pressi-onar esta Casa, como também o Congresso Nacional, para que possa-mos garantir recursos.

Gostaria de agradecer pela presença do representante da Delega-cia Regional do Trabalho – DRT –, companheiro Gilmar Valadares, quetambém veio trazer a sua contribuição.

Esperamos com isso então encerrar a audiência pública com cha-ve de ouro, com um grande axé do povo gaúcho. E o Bira sai daqui como título, concedido pelo povo negro do Sul, de Presidente do Quilombismoe com a responsabilidade dobrada.

Logo após o encerramento da reunião, nós nos dirigiremos à famí-lia Silva para levar muita força, muito axé e uma energia positiva, queesta audiência transmitiu. Aproveitamos para convidá-los a se faze-rem presentes naquele quilombo, que talvez esteja deixando algumaspessoas sem dormir: são os poderosos, que não querem permitir queos nossos irmãos negros permaneçam naquela área. Mas ficarão porum bom tempo sem dormir, porque não vamos arredar pé e vamoscontinuar lutando até que possamos, na Justiça do Rio Grande do Sul,no Ministério Público Estadual, ver arquivado esse processo ou queseja retirado de discussão, pois esse processo de reintegração de pos-se hoje ameaça o povo negro do Rio Grande do Sul, especialmente afamília Silva. Vamos fazer o possível e o impossível para que essafamília não seja prejudicada. E esta audiência pública, com certeza,vai causar repercussão, amanhã, nos jornais da Capital e também doInterior, porque esta audiência não foi em vão. A presença dos pode-res públicos aqui constituídos – Câmara de Vereadores, MovimentoNegro, Prefeitura, Governo do Estado, Fundação Palmares e Ministé-rio do Desenvolvimento Agrário – só soma nesta pressão de garantira posse da terra.

Para finalizar, concedo a palavra ao companheiro Bira.

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Sr. Ubiratan Castro de Araújo

Agradeço pela gentileza dos amigos, mas não sou nem Presidentede Quilombo, nem líder de quilombismo, sou apenas um professor queatendeu a um chamado de Gil e de Lula, deixou a sala de aula, e paraela vou voltar, pois é ali onde sempre fui feliz. E quero voltar de cabe-ça levantada, tendo cumprido a minha obrigação, e não apenas tendofeito discurso.

Acredito que o mais importante não é discurso nem poesia, mas évir, pessoalmente, assumir o compromisso cara a cara. Para isso es-tou vindo. E eu estando errado ou não cumprindo, vocês terão todo odireito de me cobrar, de exigir, enfim, de até me condenar, mas estouvindo pessoalmente, não estou fazendo discurso de longe. Então odiscurso é para isso.

Estou assumindo também a responsabilidade por um órgão quechegou ao fundo do poço, de uma péssima administração e de um pés-simo governo. Acho que a transição foi muito elegante, muito pacífica,mas não podemos deixar de dizer que recebemos uma FundaçãoPalmares destruída, com toda essa cobrança do que ela não fez. Entãoo que ela não fez, os seis meses de laudos que não andaram, foi poruma péssima administração, não só da Fundação Palmares, mas umafundação que levou seis meses sem um tostão para pagar nada.

Agora, isso não justifica que hoje, três meses tendo assumido, fi-cássemos sem nenhuma ação. Estamos também sem dinheiro, masteremos. E acho que dentro de trinta dias já estará isso em curso denovo, os meios já estão sendo buscados, por meio de convênio, de acor-do com o Governo do Rio Grande do Sul, com o Banco Mundial, atémesmo do descontingenciamento de recursos que já vão chegar nofim do mês. Vamos poder retomar aquilo que o outro Governo não fez– isso tem de ser dito –, aquilo que a outra administração não fez. Issonão é desculpa, mas é uma explicação. E dou como limite o tempo deuns trinta dias para ter tudo andando. Não significa terminar o laudo,mas significa que isso vai estar andando.

Do ponto de vista técnico, também já estamos com acordo pron-to e acertado com a Associação Brasileira de Antropologia – ABA.Portanto, daqui para a frente, a Fundação Palmares não vai ficarcorrendo atrás de um outro antropólogo, nem escolhendo quem é

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amigo. Será a Associação Brasileira de Antropologia que indicaráantropólogo, que vigiará a qualidade do laudo e que assumirá a res-ponsabilidade técnica do laudo. Estamos, portanto, procurando umasolução pública e transparente.

Em relação ao que fica de contencioso – e o companheiro daUNEGRO mencionou a questão da pesquisa –, quem mais quer somosnós, e estamos pedindo, insisto mais uma vez e mando a mensagem àdireção, que nos mandem, por favor, pelo menos algum relatório di-zendo o que fez e o que não fez, para que possamos refazer o projeto,porque, da forma como ele não foi vigiado pela outra administração edo jeito que o encontramos, é um projeto que não pode continuar, poruma questão até de Tribunal de Contas. Mas temos compromisso como negro, que é uma liderança fundamental do Movimento Negro, deretomar isso. Foi feito em relação a Minas. Podem contar conosco, danossa parte iremos retomar, não daquela forma, porque discordamos,porque é uma questão técnica. Vamos retomar, até porque a intolerân-cia religiosa é um dos assuntos que temos de tratar na nossa luta. Jálutamos na Bahia, já estive em Minas Gerais e acho que é uma lutacentral do povo negro a luta contra o racismo, que se faz por meio damídia, a repressão à cultura negra, àquilo que o negro tem de maissagrado, que é a sua religião. Então estamos juntos nisso.

O patrimônio imaterial, assunto que foi levantado pelo companhei-ro, isso é outro ponto fundamental. Mencionei a questão das comuni-dades negras rurais e urbanas, que são produtoras de cultura. Já estáincluído na proposta um programa amplo, primeiramente de inventá-rio. Estamos já em contato com o IPHAN, fizemos trabalhos juntos,para elaborar um grande inventário do patrimônio cultural negro noBrasil. Não sabemos o que temos em matéria de obras de arte, de ma-nifestações culturais.

Estive, há pouco tempo, nos Estados Unidos, e, conversando comadministradores dos museus, eles diziam que, se não temos inventá-rio, se não sabemos o que temos, eles viriam aqui e levariam tudo paralá – porque lá eles estão fazendo grandes museus. E eles, em troca dequaisquer cem dólares, podem daqui levar peças, obras de arte. Enfim,isso é uma prioridade.

Vamos mais longe, a nossa concepção de patrimônio imaterial nãoé somente proteger manifestações, nem comunidades, mas está na

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nossa proposta de trabalho o Programa Tesouros Negros, que é umsistema do tipo japonês e nigeriano, de identificar pessoas como onosso patriarca da família Silva, que sejam pessoas portadoras de umsaber especial e que possam ser tombadas como se tomba um prédio.No Japão tombam-se pessoas portadoras de uma arte, e o governoassume bolsas, num sistema de remuneração até vitalício, para queessa pessoa passe adiante esse saber. O nosso ideal é poder identifi-car esses tesouros negros e chegar até lá.

Não vou falar muito, pois podem dizer que é promessa e vai des-pertar expectativa. Mas isso é algo que se vai fazer – e não sabemosquantos tesouros vamos localizar, mas pelo menos alguns.

Quanto à questão dos quatro laudos, deixamos o nosso compro-misso no sentido de resolver. Virão aqui, já na semana que vem ou naoutra, técnicos nossos para, pessoalmente, identificar onde estão osentraves específicos de cada caso. Portanto, não vamos sumir, vamosestar presentes, enfrentando essa reivindicação, que é fundamental.Vocês têm de jogar duro mesmo, tem de cobrar, e temos de obter umamaneira de responder sim ou não. Não se pode é fugir, nem se escon-der. Acho que isso é o que pode ser feito.

Para o Deputado Edson Portilho – e enviarei também para o e-mail de quantas pessoas quiserem – enviarei o que já temos até agora,que é o nosso Plano Plurianual de Ação, o famoso PPA, com a indica-ção de estratégias e linhas de ação, para que vocês tomem conheci-mento e para que possamos marcar, no máximo em quinze dias, umavinda ao Rio Grande do Sul, para discutir nossas proposições e, acimade tudo, ações e projetos específicos.

Não há nenhum mistério, primeiro precisamos aprovar, dentrodesse prazo, um planejamento, dizer o que se quer fazer em quatroanos; depois temos de lutar pelos recursos para fazermos o queestamos prometendo. Logo após esse período de discussão dos PPAs,vai entrar na pauta a discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias,a LDO. Essa lei determina quanto dinheiro se dispõe para executarprojetos. O importante para nós é o conhecimento desse PPA, que aintervenção e a participação gerem um movimento de pressão so-bre os nossos legisladores, que vão alocar recursos e colocar o di-nheiro dentro das gavetas, para não termos gavetas vazias. Esse éum compromisso, que envolve a mobilização de todo o Movimento

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Negro, de todas as tendências e orientações, para todos os partidospolíticos. Sem isso, não voltarei ao Rio Grande do Sul, não voltareiaqui de gaveta vazia, sem dinheiro para fazer nada, apenas conver-sar. Isso não quero fazer.

Aviso também que o grupo de trabalho que está redefinindo a polí-tica de quilombos e a legislação tem sessenta dias para terminar seutrabalho, portanto, 13 de julho. E ele prevê a consulta, nas últimasreuniões, das lideranças das comunidades quilombolas. Isso será sub-metido a essas lideranças. Está prevista audiência pública, cujo resul-tado será submetido a discussões em cada local, antes de se transfor-mar em novo decreto ou nova lei.

Por fim, gostaria de convidar a quem tiver interesse e quiser dis-cutir conosco para uma reunião amanhã, às 14 horas, no Clube Flo-resta Aurora. Analisaremos uma pauta mais ampla do que especifica-mente a questão dos quilombos. Poderemos apresentar linhas geraisdo plano, enfim, estabelecer um contato direto com o Movimento Ne-gro do Rio Grande do Sul. Obrigado a todos – e não me elogiem muito,não, porque isso me faz engordar, o que é pior para mim. (manifesta-ções da platéia).

Deputado Edson Portilho (PT)

Agradeço a presença de todos e dou por encerrada esta reuniãoextraordinária da Comissão Mista Permanente de ParticipaçãoLegislativa Popular. Muito axé para todos nós.

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A N E X O S

– Cartilha da Família Silva

– Termo de Cooperação Técnica que celebram aFundação Cultural Palmares e a Prefeiturade Porto Alegre

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ApresentaçãoEm 115 anos de abolição da escravatura, os negros nunca tive-

ram qualquer tipo de indenização pela força do trabalho que cons-truiu o país. Trabalharam a terra por três séculos e sairam do proces-so sem terra. Foram por todo esse tempo, os únicos construtores dariqueza e sequer tiveram, ao final da escravidão, o respeito por isso. Oracismo os persegue até hoje, provando que não se livraram das so-brevivências ideológicas de um passado maldito.

Atualmente, mais de cem anos após a abolição, a questão da escra-vatura ainda delineia alguns aspectos do quadro social da nação einúmeros debates estão sendo travados em nível nacional e interna-cional, na direção da busca de reparação desses povos.

Dados recentes dão conta de que cerca de 45% da população bra-sileira é formada por negros e desses, 76,4 milhões vivem numa situ-ação de pobreza quase absoluta.

A perversidade do sistema escravista já foi ampla e profundamen-te estudado e até hoje se conhece e se sente de forma ainda muitoaguda suas seqüelas. Foram três séculos de horrores. Durante todo otempo da escravidão no Brasil, em maior ou menor grau houve resis-tência. Os escravos se revoltaram e marcaram a sua revolta em pro-testos cuja interação não encontra paralelo na história de qualqueroutro país do Novo Mundo.

Os quilombos foram por excelência o instrumento de resistênciados povos negros ao processo escravista, e eram dotados de extraor-dinária capacidade de organização. Tratava-se de uma sociedade livree igualitária, onde eram agasalhados generosamente todos os perse-guidos e injustiçados da sociedade escravocrata.

Mas os quilombos não eram apenas áreas ou refúgio de escravosou base de acampamento guerreiro: era antes uma estrutura econô-mico-social, onde a agricultura formava a base da produção econômi-ca. Havia nesses lugares uma nítida divisão do trabalho, onde tudoera de todos. Cada quilombo erguido representava uma pequena epo-péia de um povo que lutava pela sua libertação. O resgate das terrasdos remanescentes de quilombos representa um ato de justiça social.

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A legislação sobre o assuntoAs comunidades negras, em virtude do descaso proposital das au-

toridades federais e da grande maioria dos estados, sofrem as maisdiversas agressões, desde a exclusão de programas sociais e serviçosdo Estado, até a expulsão violenta das terra por grileiros docoronelismo.

Nesse sentido, vale lembrar que a Constituição de 1988, em seuartigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, decla-ra que “aos remanescentes de quilombos que estejam ocupando suasterras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emi-tir-lhes títulos respectivos”. Mas, o Decreto 3912, publicado em 2001,comete atetado contra esse direito, quando diz que “somente podemter reconhecida a propriedade sobre terras que eram ocupadas porquilombos em 1999”. Ou seja, os quilombos formados após a aboliçãonão poderão ser titulados bem como não podem ser reparadas as co-munidades expulsas de suas terras.

No Rio Grande do Sul foi aprovado, em 1999, o Projeto de Lei 306,do Deputado Estadual Edson Portilho que determina a emissão detítulos e regularização fundiária das propriedades onde vivem as co-munidades remanescentes de quilombos no Estado. São cerca de 100comunidades, sendo que destas, 34 foram cartalogadas pela Universi-dade Federal de Santa Catarina, através do Núcleo de Estudos sobreIdentidade e Relações Interétnicas.

Porém, ao terem notícias dos programas, outras comunidades têmse apresentado reivindicando a aplicação da lei.

O ato de aprovação deste projeto aqui no Rio Grande do Sul é, por-tanto, importante sinalizador para a sociedade de que é necessário epossível um mundo justo, fraterno e multiracial.

É preciso lembrar que a intolerância racial não se restringe sóaos negros, embora esses sejam a maior população mundial expratriadaviolentamente.

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O caso da família Silva

O caso da família Silva, formada por remanescentes de quilombourbano oriundo da antiga colônia africana, é de extrema importânciapara denunciar as pressões da especulação imobiliária sobre as co-munidades de ascedência africana que habitam territórios historica-mente construídos como forma de resistência ao racismo.

Situado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre este quilombo estásob ação de despejo e reintegração de posse para os “proprietários”.

Os negros reivindicam a aplicação da Constituição do Brasil (arti-go 69 dos Atos e Disposições Transitórias, do inciso XXIII do artigo5º, do artigo 183 e no Código Civil, sob o artigo 551), que prevê aposse das terras àqueles que historicamente habitam áreas remanes-centes de quilombos.

Violência cotidianaSe a violência caracteriza a todos os cidadãos, no caso dos Silva

ela toma proporções ainda maiores. A comunidade é frenqüentementeassediada por policiais. Qualquer denúncia feita sobre assalto é moti-vo para a brigada passar na área, “ procurando no pátio, entrandonas casas e colocando adultos e crianças na parede”, conforme de-

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núncia de moradores feitas ao Movimento Negro Unificado e ao Depu-tado Edson Portilho.

Essas agressões são registradas, tem a comprovação de atendi-mento médico decorrente das mesmas, mas, sistematicamente essaspessoas nunca são chamadas para prestar depoimentos, indicar osagressores e muitos boletins simplesmente desaparecem.

De acordo com as denúncias, “eles entram nas casas, às vezescerca de 30 deles, desarrumam tudo, mexem nas coisas, abrem armá-rios, roupeiros, isso sem falar com ninguém”.

O luxo mora ao lado

O quilombo dos Silva, que reúne as famílais de nove irmãos negros- é formado por remanescentes de uma colônia africana urbana, numaárea de 5,6 mil metros quadrados, localizada na rua João Caetano,num dos bairros mais valorizados da Capital. No local, estão casas demadeira humildes, com água, luz e iluminação bastante precários quefazem vizinhança com mansões.

A família dos Silva estão na justiça pedindo o usucapião das ter-ras, pleiteando seus direitos. Estudos antropológicos deverão ser rea-lizados no local para definir se esse agrupamento se caracteriza defato como reminiscências de escravos.

Num lado do muro, as casasem condomínios luxuosos...

...no outro, os Silva, quevivem em casas humildes,numa área cobiçada pelaespeculação imobiliária.

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Denúncias de violência

Várias agressões físicas e morais foram feitas contra a famíliaSilva. Estas agressões foram apresentadas pela Comissão de Partici-pação Legislativa e Popular da Assembléia Legislativa, da qual EdsonPortilho é presidente, para o Conselho Brasileiro de Direitos Huma-nos, no dia 27 de maio de 2003, em Brasília. A partir desta denúncia,foi encaminhado pelo Conselho, providências ao governo do Estado doRS sobre o assunto. Essas denúncias fazem parte de um inquérito eforam feitas pelos próprios moradores a partir de um levantamentorealizado pelo Movimento Negro Unificado em abril de 2003.

Veja a seguir algumas das denúncias relatadas pelos moradoresdo quilombo.

“O pátio é invadido pela Brigada a toda hora, pois usam como pas-sada da rua (beco) de cima. Qualquer denúncia que fazem sobre assal-tos na praça de baixo e praça Paris, a Brigada vem procurar no pátio,entrando nas casas e colocando os adultos e as crianças na parede”.

“Vários fatos de agressões já aconteceram. Um dos fatos foi quan-do a Brigada colocou o revólver na cabeça do menino Lucas, de 10anos, em 2001, na frente da Ângela (tia) e esta chamou o Paulinho(padrasto), pedindo socorro. O mesmo discutiu com o brigadiano quepuxou uma faca e pediu reforço e houve mais agressões (toda a famí-lia foi agredida). Após o menino (Lucas) foi levado até o Pronto Socor-ro (Boletim de Atendimento nº 01049672779, dia 11.12.2001, às21h50). Também foram atendidas Ângela da Silva, Zeneide da Silva(já falecida) e Ana Cristina da Silva que estava grávida. E todos foramencaminhados para o Palácio da Polícia onde registraram queixa eaté hoje não foram chamadas (foi feito exame de corpo e delito). Obs.:os outros boletins não foram encontrados em casa”.

“Outro fato aconteceu com o sobrinho Roberto Leandro da SilvaBarreto, morador do Quilombo, que havia feito uma pequena cirurgiae estava com dreno. Após uma semana ainda se recuperando saiu a péem direção a parada de ônibus para o postão na Nilo Peçanha, poispretendia ir a casa de sua cunhada mais ou menos às 20h30 quandofoi abordado pela Brigada que estava atrás de uns assaltantes. Pedi-ram os documentos, o mesmo apresentou a identidade mais a

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carteirinha de portador de doenças do pulmão que foi jogada no chão.Mas mesmo assim foi agredido e levado para o matagal na frente doposto de gasolina do Iguatemi – estava com o revólver na boca. Nestemomento sua tia Ângela estava indo para o mercado e viu a viatura eparou neste momento Roberto a viu e gritou pedindo socorro. Ângeladirigiu-se aos brigadianos e identificou-se argumentando que RobertoLeandro estava se recuperando de uma cirurgia. A mesma foi maltra-tada com palavras de baixo nível; mas Roberto Leandro já havia apa-nhado muito e a cirurgia estava aberta e o dreno solto, pois levouvários pontapés. A tia argumentou que era necessário levá-lo ao hos-pital. Os brigadianos concordaram mas só levariam no Hospital Con-ceição, a mesma queria que fossem no Cristo Redentor para fazer oregistro e os mesmos não concordaram...(isto aconteceu no dia 15 defevereiro de 2003)”.

“Diariamente a polícia usa o pátio como passagem. No início domês de março de 2003, a polícia invadiu o pátio e arrombou 2 casasa da Lígia, do Roberto (viúvo de Zeneide) pais das crianças Fabrício,Maurício e Juliana menores de seis anos, porque estavam fechadase procuravam alguma coisa, viraram tudo armários, roupeiros. E nacasa do Lori entraram no banheiro e mexeram em algumas caixas.Eram mais ou menos uns trinta: Polícia Civil, Brigada e policiaisencapuzados. Com vários carros...entraram e não falaram com nin-guém, Lori foi falar com eles e levou pontapés, foi cercado, nestemomento pegou o telefone e foi pedir socorro ligando para o seuAlceu e a brigada se afastou. Mesmo assim todos foram revistadosaté os menores”.

“Os menores são perseguidos. Outro fato é quando o menorRodrigo da Silva sai do pátio e vai até a praça Paris ou a rua. Éabordado e agredido e a brigada diz que tem ordem para atirar ematar assim como com os outros menores. As crianças conhecemtodos eles, são do batalhão 11 – porque chegam a ser abordadosmais de uma vez por dia”.

“O esposo da Ângela – Paulo Roberto Muniz – profissão vigilante,formado quando foi socorrer seu filho Diego de 14 anos na frente dapraça Paris no lado do muro, que estava sendo abordado pela brigadatambém foi empurrado e levou pontapés. Ângela também foi revista-da por uma brigadiana. Os policiais têm o costume de dizer que: crian-

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ça também rouba e mata; as mulheres (mães) são chamadas de pros-titutas e vadias. Toda vez que vão socorrer as crianças”.

“Outro fato foi quando o Movimento Negro Unificado estava fa-zendo um documentário sobre o Quilombo no dia 19 de janeiro de2003, eram mais ou menos 15 pessoas, que estavam filmando e fo-tografando. Quando vimos 4 brigadianos entrarem como de costu-me com as armas em punho, pela parte de cima e mais 2 pela frente.O pessoal levou o maior susto e dissemos que era comum (foi entre15h e 16h)”.

Obs. Os textos foram reproduzidos sem alterações na forma ou conteúdo.

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LEI Nº 11.731, DE 09 DE JANEIRO DE 2002

Dispõe sobre a regularização fundiária de áreas ocupadaspor remanescentes de comunidades de quilombos

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.Faço saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV,

da Constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e eusanciono e promulgo a Lei seguinte:

Art. 1º - Aos remanescentes das comunidades dos quilombos queestejam ocupando suas terras no Estado do Rio Grande do Sul seráreconhecida a propriedade definitiva, devendo o Poder Público emitir-lhes os títulos respectivos e providenciar seu registro no Registro deImóveis correspondente.

Parágrafo Único - O Poder Púbico indenizará, na forma da lei, aspessoas e comunidades que venham a ser atingidas pelaimplementação do direito previsto neste artigo.

Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 09 de janeiro de 2002.

Autor da Lei: Deputado Estadual Edson Portilho – PT/RS.

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DECRETO Nº 3.912,DE 10 DE SETEMBRO DE 2001.

Regulamenta as disposições relativas ao processo administrativopara identificação dos remanescentes das comunidades dos

quilombos e para o reconhecimento, a delimitação, a demarcação,a titulação e o registro imobiliário das terras por eles ocupadas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lheconfere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o dispos-to no art. 14, inciso IV, alínea “c”, da Lei no 9.649, de 27 de maio de1998, e no art. 2o, inciso III e parágrafo único, da Lei no 7.668, de 22de agosto de 1988,

DECRETA:Art. 1o Compete à Fundação Cultural Palmares – FCP iniciar, dar

seguimento e concluir o processo administrativo de identificação dosremanescentes das comunidades dos quilombos, bem como de reco-nhecimento, delimitação, demarcação, titulação e registro imobiliáriodas terras por eles ocupadas.

Parágrafo único. Para efeito do disposto no caput, somente podeser reconhecida a propriedade sobre terras que:

I - eram ocupadas por quilombos em 1888; eII - estavam ocupadas por remanescentes das comunidades dos

quilombos em 5 de outubro de 1988.Art. 2o O processo administrativo para a identificação dos rema-

nescentes das comunidades dos quilombos e para o reconhecimento,a delimitação, a demarcação, a titulação e o registro imobiliário desuas terras será iniciado por requerimento da parte interessada.

§ 1o O requerimento deverá ser dirigido ao Presidente da Funda-ção Cultural Palmares - FCP, que determinará a abertura do processoadministrativo respectivo.

§ 2o Com prévia autorização do Ministro de Estado da Cultura, aFundação Cultural Palmares - FCP poderá de ofício iniciar o processoadministrativo.

Art. 3o Do processo administrativo constará relatório técnico eparecer conclusivo elaborados pela Fundação Cultural Palmares - FCP.

§ 1o O relatório técnico conterá:

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I - dentificação dos aspectos étnicos, histórico, cultural e sócio-econômico do grupo;

II - estudos complementares de natureza cartográfica e ambiental;III - levantamento dos títulos e registros incidentes sobre as ter-

ras ocupadas e a respectiva cadeia dominial, perante o cartório deregistro de imóveis competente;

IV - delimitação das terras consideradas suscetíveis de reconhe-cimento e demarcação;

V - parecer jurídico.§ 2o As ações mencionadas nos incisos II, III e IV do parágrafo

anterior, poderão ser executadas mediante convênio firmado com oMinistério da Defesa, a Secretaria de Patrimônio da União – SPU, oInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e ou-tros órgãos e entidades da Administração Pública Federal ou empre-sas privadas, de acordo com a natureza das atividades.

§ 3o Concluído o relatório técnico, a Fundação Cultural Palmares– FCP o remeterá aos seguintes órgãos, para manifestação no prazocomum de trinta dias:

I - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN;II - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Natu-

rais Renováveis – IBAMA;III - Secretaria do Patrimônio da União – SPU;IV - Fundação Nacional do Índio – FUNAI;V - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.§ 4o Após a manifestação dos órgãos relacionados no parágrafo

anterior, a Fundação Cultural Palmares – FCP elaborará parecer con-clusivo no prazo de noventa dias e o fará publicar, em três dias consecu-tivos, no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federadaonde se localizar a área a ser demarcada, em forma de extrato e com orespectivo memorial descritivo de delimitação das terras.

§ 5o Se, no prazo de trinta dias a contar da publicação a que serefere o parágrafo anterior, houver impugnação de terceiros interes-sados contra o parecer conclusivo, o Presidente da Fundação Cultu-ral Palmares - FCP a apreciará no prazo de trinta dias.

§ 6o Contra a decisão do Presidente da Fundação Cultural Palmares– FCP caberá recurso para o Ministro de Estado da Cultura, no prazode quinze dias.

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§ 7o Se não houver impugnação, decorridos trinta dias contadosda publicação a que se refere o § 4o, o Presidente da Fundação Cultu-ral Palmares – FCP encaminhará o parecer conclusivo e o respectivoprocesso administrativo ao Ministro de Estado da Cultura.

§ 8o Em até trinta dias após o recebimento do processo, o Minis-tro de Estado da Cultura decidirá:

I - declarando, mediante portaria, os limites das terras e determi-nando a sua demarcação;

II - prescrevendo todas as diligências que julgue necessárias, asquais deverão ser cumpridas no prazo de sessenta dias;

III - desaprovando a identificação e retornando os autos à Funda-ção Cultural Palmares – FCP, mediante decisão fundamentada, cir-cunscrita ao não atendimento do disposto no art. 68 do Ato das Dispo-sições Constitucionais Transitórias da Constituição.

§ 9o Será garantida à comunidade interessada a participação emtodas as etapas do processo administrativo.

Art. 4o A demarcação das terras dos remanescentes das comuni-dades dos quilombos será homologada mediante decreto.

Art. 5o Em até trinta dias após a publicação do decreto de homolo-gação, a Fundação Cultural Palmares - FCP conferirá a titulação dasterras demarcadas e promoverá o respectivo registro no cartório deregistro de imóveis correspondente.

Art. 6o Quando a área sob demarcação envolver terra registradaem nome da União, cuja representação compete à Procuradoria-Geralda Fazenda Nacional, a titulação e o registro imobiliário ocorrerão deacordo com a legislação pertinente.

Art. 7o Este Decreto aplica-se aos processos administrativos emcurso.

Parágrafo único. Serão aproveitados, no que couber, os atos admi-nistrativos já praticados que não contrariem as disposições desteDecreto.

Art. 8o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 10 de setembro de 2001; 180o da Independência e 113o

da República.

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DECRETO Nº 41.498, DE 25 DE MARÇO DE 2002

Dispõe sobre o procedimento administrativo de reconhecimento,demarcação e titulação das terras das comunidades

remanescentes de quilombos do Estado do Rio Grande do Sul.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL no uso daatribuição que lhe confere o artigo 82, inciso V, da Constituição Es-tadual, e tendo em vista o disposto na Lei nº 11.731, de 9 de janeirode 2002,

DECRETA:Art. 1º - O Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria do

Trabalho, Cidadania e Assistência Social e do Gabinete da ReformaAgrária, fará a identificação, a delimitação, o reconhecimento, a regu-larização fundiária, a demarcação, a titulação e o registro imobiliáriodas áreas ocupadas pelas Comunidades remanescentes de Quilombos,em conformidade com o determinado pelo artigo 68 do Ato das Dispo-sições Constitucionais transitórias da Constituição Federal, e pela leinº 11.731, de 9 de janeiro de 2002.

Parágrafo Único - O procedimento administrativo a que se refereeste artigo será iniciado por ato do Secretário de Estado do Trabalho,Cidadania e Assistência Social, com base em requerimento das comu-nidades remanescentes de quilombos, ou de quaisquer interessados.

Art. 2º - As Comunidades Remanescentes de Quilombos serãoidentificadas a partir de critérios de auto-identificação e dados an-tropológicos, históricos, jurídicos, sociais, econômicos

Parágrafo Único - O Relatório Técnico-Científico conterá:I - identificação dos aspectos étnicos, históricos, culturais, sócio-

econômicos e demográficos da comunidade;II - estudos complementares de natureza ambiental e de etno-

sustentabilidade;III - delimitação das terras, sua cartografia e memorial descritivo;IV - parecer jurídico;V - levantamento dos títulos e registros incidentes sobre as terras

e a respectiva cadeia dominial.Art. 3º - Os limites das áreas ocupadas serão definidos de acordo

com a territorialidade indicada pelos remanescentes de comunidades

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de quilombos, que levarão em consideração os espaços de moradia,exploraçãoeconômica, social, cultural e os destinados aos cultos reli-giosos e ao lazer, garantindo-se as terras necessárias à sua reprodu-ção física e sociocultural.

Art. 4º - Compete à Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistên-cia Social remeter o Relatório Técnico Científico, no prazo de 30 (trin-ta) dias de sua conclusão, aos seguintes Órgãos, para manifestação:

I - Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos - SARH;II - Fundação Estadual de Proteção Ambiental - FEPAM;III - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN;IV - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-

rais Renováveis - IBAMA;V - Fundação Cultural Palmares - FCP;VI - Fundaçao Nacional do Índio - FUNAI;VII - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA;VIII - Secretaria do Patrimônio da União - SPU.Parágrafo Único - Decorrido o prazo estipulado no caput, a Secre-

taria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, no prazo de 60 (ses-senta) dias, elaborará Parecer Conclusivo e o fará publicar no DiárioOficial do Estado, em forma de extrato e com o respectivo memorialdescritivo das terras, e declarará, mediante Portaria, o reconhecimentoda área como de Comunidades Remanescentes de Quilombo, determi-nando a sua demarcacão.

Art. 5º - Para a realização de Relatório Técnico-Científicos e dePareceres Conclusivos a Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assis-tência Social poderá estabelecer convenios e parcerias com outrosÓrgãos públicos ou privados, especialmente com instituições de ensi-no e pesquisa.

Art. 6º - Havendo domínios, posses e benefeitorias de boa fé inci-dentes sobre as áreas definidas como áreas remanescentes dequilombos, estas deverão ser indenizadas.

Parágrfo 1º - Concluída a retirada dos ocupantes não quilombolas,o Gabinete da Reforma Agrária iniciará, no prazo máximo de 30 (trin-ta) dias, a demarcação física das terras das comunidades remanes-centes de quilombos, que será homologada mediante Decreto.

Parágrafo segundo - Após a publicação do Decreto de homologa-ção, o Gabinete da Reforma Agrária conferirá a titulação das terras

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demarcadas conforme apontamento do Relatório Técnico-Científico,garantindo cláusulas de inaliebabilidade, e promovendo a transcriçãono cartório de registro de imóveis correspondentes.

Art. 7º - Será garantida à comunidade remanescente de quilomboa participação em todas as etapas do procedimento administrativo.

Art. 8º - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação,revogando-se as disposições em contrário.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 25 de março de 2002.

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TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA QUE ENTRE SICELEBRAM A UNIÃO FEDERAL, ATRAVÉS DAFUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES E PREFEITURA DEPORTO ALEGRE, ATRAVÉS DA SECRETARIA MUNICIPALDE DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA URBANA.

Aos ..... dias do mês de junho do ano de dois mil e três, a UNIÃOFEDERAL, através da FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES, entida-de vinculada ao Ministério da Cultura, criada pela Lei n.º 7.668, de 22de agosto de 1988, com sede no SBN – Qd. 02 – Bloco “F” – EdifícioCentral Brasília – 1º Subsolo – Brasília – DF, inscrita no CGC/MF sobo nº32.901.688/0001-77, doravante denominada FCP, neste ato re-presentada por seu Presidente UBIRATAN CASTRO DE ARAÚJO,brasileiro, casado, portador da C.I. n.º 00 419 039-43– SSP/BA e CPFnº 047.569.675-15, residente e domiciliado em Brasília – DF, e a PRE-FEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, neste ato representadapor seu Prefeito JOÃO VERLE, brasileiro, .........., portador da C.I. n°............ e CPF n° .............., residente e domiciliado em Porto Alegre-RS,e a SECRETARIA MUNICIPAL DE DIREITOS HUMANOS E SEGU-RANÇA URBANA, neste ato representada por sua Secretária HELE-NA BONUMÁ, brasileira, ..............., portadora da C.I. n° ...............- SSP/RS e CPF n° .............., residente e domiciliada em Porto Alegre, resol-vem de mútuo acordo, celebrar o presente Termo de Cooperação Téc-nica, nos termos e condições seguintes:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO OBJETO

As partes implementarão ações conjuntas visando o reconheci-mento da Comunidade de Remanescentes do Quilombo Família Silva,em cumprimento ao disposto no artigo 68 do Ato das Disposições Cons-titucionais Transitórias, da Constituição Federal de 1988.

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CLÁUSULA SEGUNDA – DAS OBRIGAÇÕES

I – A FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES propõe-se a:

a) coordenar, os estudos para a elaboração do relatório técnico; le-vantamento cartorial e os trabalhos de delimitação territorial,demarcação e titulação em parceria com a Secretaria Municipalde Direitos Humanos;

b) emitir o título de reconhecimento de domínio dando cumprimentoao disposto no Art. 68 do ADCT;

II –A SECRETARIA MUNICIPAL DE DIREITOS HUMANOS E SE-GURANÇA URBANA, propõe-se a:

a) realizar, em conjunto com a FCP, os trabalhos de elaboração delaudo técnico, delimitação territorial e demarcação de acordocom os estudos realizados e aprovados através de parecer pelaFCP e em conformidade com a legislação em vigor;

b) participar com técnicos e recursos materiais na elaboração eexecução dos programas a serem desenvolvidos nos convêniosposteriormente firmados pelos partícipes;

SUBCLÁUSULA PRIMEIRA - As atividades de cooperação que envol-verem a aplicação de recursos financeiros serão assinados convêniosobjetivando atender as demandas surgidas, conforme acordado pelas par-tes, observados, em caso a caso, os procedimentos, as exigências previs-tas na legislação em vigor e a disponibilidade financeira dos partícipes.

SUBCLÁUSULA SEGUNDA - Os convênios obedecerão a progra-mas, critérios e roteiros previamente acordados pelas partesconveniadas, bem como explicitarão as obrigações e responsabilida-des dos órgãos envolvidos.

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CLÁUSULA TERCEIRA – DA EXECUÇÃO

Os entendimentos necessários ao cumprimento das disposiçõesda Cláusula Primeira, bem como aquelas indispensáveis às condiçõesespecíficas para sua operacionalização, serão mantidos por represen-tantes ou respectivos substitutos indicados pelas partes.

CLÁUSULA QUARTA – DA DIVULGAÇÃO

Em qualquer ação promocional, decorrente da aplicação deste Ter-mo, deverão ser destacadas, igualitariamente, as participações dosentes signatários.

CLÁUSULA QUINTA – DA DENÚNCIA, RESCISÃO E ALTERAÇÃO

O presente instrumento, mediante acordo das partes, poderá seralterado por termos aditivos, denunciado ou rescindido unilateralmen-te. mediante comunicação por escrito, com 60 dias de antecedência,no caso de inadimplemento de cláusulas que o tomem material ouformalmente inexeqüível.

CLÁUSULA SEXTA – DA VIGÊNCIA

O presente Termo vigorará por 02 (dois) anos, contados a partirda data de publicação, podendo ser prorrogado por acordo prévio eexpresso entre as partes, mediante Termo Aditivo.

CLÁUSULA SÉTIMA – DA PUBLICAÇÃO

A publicação do presente Termo será providenciada pela FCP e aSecretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, deacordo com as normas aplicáveis em seus âmbitos, devendo seu textoser divulgado por circular específica nos diversos setores adminis-trativos de cada uma das partes.

E, pela fineza e validade do que foi acordado, lavrou-se o presenteinstrumento em 03(três) vias de igual teor e forma, o qual vai assina-

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do pelos representantes legais das partes e testemunhas abaixo, atudo presentes.

Brasília, de junho de 2003.

UBIRATAN CASTRO DE ARAÚJOPresidente da Fundação Cultural Palmares

JOÃO VERLEPrefeito Municipal

HELENA BONUMÁSecretária Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana

TESTEMUNHAS:

1.Nome:______________________________________________ CPF n.º2.Nome:______________________________________________ CPF n°

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Composição da Assessoria Técnica daComissão de Participação Legislativa Popular

Venício Guterres GuareschiRomeu Machado Karnikowski

Joel Fernandes CantoLígia Maria Sica da RochaLoise T. Melecchi Costanzo

Tatiana Raminnger

Publicação:

Territorialidade Negra no Rio Grande do Sul –A Luta dos Remanescentes de Quilombos no Estado.

Promovido pela Comissão Mista Permanentede Participação Legislativa Popular.

Texto: Serviço de Transcrição do Setor de Taquigrafia daAssembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Projeto Gráfico e Editoração: Juçara Campagna - Corag

Fotolito e Impressão: Corag - Cia. Rio-grandense de Artes Gráficas

Tiragem: 5.000 exemplares

Porto Alegre, junho de 2003.

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