42
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - FMU UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Giovanna Bini Guidolin DERMATITE ATÓPICA CANINA SÃO PAULO 2009

DERMATITE ATÓPICA CANINA

  • Upload
    others

  • View
    11

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DERMATITE ATÓPICA CANINA

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - FMU

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Giovanna Bini Guidolin

DERMATITE ATÓPICA CANINA

SÃO PAULO

2009

Page 2: DERMATITE ATÓPICA CANINA

Giovanna Bini Guidolin

DERMATITE ATÓPICA CANINA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado no Curso de Medicina

Veterinária da FMU, sob orientação

da Prof. Dra. Ana Claudia Balda.

SÃO PAULO

2009

Page 3: DERMATITE ATÓPICA CANINA

Giovanna Bini Guidolin

DERMATITE ATÓPICA CANINA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado no Curso de Medicina

Veterinária da FMU, sob orientação

da Prof. Dra. Ana Claudia Balda.

Aprovado em:

Profa. Dra. Ana Claudia Balda

FMU - Orientador

Prof. Ms. Arnaldo Rocha

FMU

Mv. Fernando Felippe de Carvalho

Page 4: DERMATITE ATÓPICA CANINA

Dedico este trabalho aos meus pais, por terem transformado

o meu sonho em realidade. Á minha pequenina Mel,razão

de minhas escolhas, dedico este trabalho e o meu amor

incondicional.

Page 5: DERMATITE ATÓPICA CANINA

AGRADECIMENTOS

Existem situações na vida em que é fundamental poder contar com o apoio e a ajuda de

algumas pessoas. Durante todo o percurso até chegar a realização deste trabalho de conclusão

pude contar com várias, e a estas pessoas prestarei, através de poucas palavras, os meus mais

sinceros agradecimentos.

Ao meu pai e minha mãe, por terem tornado possível a realização do meu sonho, e

dessa forma terem contribuído imensamente para a construção do meu futuro. Agradeço por

terem acreditado na minha capacidade, pelos intermináveis momentos de apoio e pelas doces

palavras ditas nos momentos de dificuldade.

Á Professora Ana Claudia Balda, orientadora deste trabalho, que em pouco tempo se

tornou um exemplo ao qual irei seguir. Agradeço pelo seu conhecimento, sua atenção e boa

vontade.

Aos meus amigos, companheiros de cinco longos e inesquecíveis anos, por terem feito

parte de momentos muito importantes da minha vida.

Page 6: DERMATITE ATÓPICA CANINA

As dificuldades não foram poucas...Os desafios foram muitos...Os obstáculos muitas vezes

pareciam intransponíveis...O desânimo quis contagiar, porém a garra e a tenacidade foram

mais fortes, sobrepondo esse sentimento. Agora, ao olhar para trás, a sensação do dever

cumprido se faz presente e posso constatar que as noites de sono perdidas, o cansaço, os

longos tempos de leitura, as dores no corpo, as viagens adiadas, a ansiedade em querer fazer e

a angústia de muitas vezes não o conseguir, não foram em vão.

Aqui estou, como sobrevivente de uma longa batalha, porém, muito mais forte, com coragem

suficiente para seguir em frente e alcançar todos os meus objetivos.

„‟OS MEUS SONHOS NÃO TEM FIM‟‟

(Anônimo)

Page 7: DERMATITE ATÓPICA CANINA

RESUMO

GUIDOLIN, G.B. Dermatite Atópica Canina [Canine Atopic Dermatitis] n̊ pág. 39, 2009.

Os mecanismos da dermatite atópica ainda não estão totalmente definidos, porém sabe-se que

a patogenia da atopia envolve um defeito na barreira epidérmica que pode provocar maior

contato entre sistema imunológico cutâneo e antígenos ambientais. Trata-se de uma doença

inflamatória crônica, recorrente e intensamente pruriginosa. Não existe predileção racial

definida, porém por tratar-se de doença genética têm sido relatada em maior quantidade em

cães de raça pura. Geralmente a sintomatologia aparece em cães de 1 a 3 anos, não havendo

predisposição sexual. Quando a atopia se desenvolve, trata-se de um quadro insolúvel que

deverá ser sempre acompanhado pelo médico veterinário. Este trabalho tem como objetivo

revisar os mecanismos envolvidos na Dermatite Atópica Canina, que está se tornando um

problema crescente na rotina da clínica de pequenos animais.

Palavras-chave: Cães. Prurido. Dermatologia. Dermatite Atópica.

Page 8: DERMATITE ATÓPICA CANINA

ABSTRACT

GUIDOLIN, G.B. Canine Atopic Dermatitis [Dermatite Atópica Canina] n̊ pág. 39, 2009.

The mechanisms of atopic dermatitis are not yet fully defined, but it is known that the

pathogenesis of atopic disease involves a defect in epidermal barrier that can lead to increased

contact between skin and immune system environmental antigens. It is a chronic

inflammatory disease, recurrent and intensely itchy. There is no racial predilection defined,

but because it is a genetic disease have been reported in greater quantities in purebred dogs.

Symptoms usually appear in dogs from one to three years, with no sexual predisposition.

When atopy develops, it is an insoluble framework that should always be accompanied by a

veterinarian. This article has an objective of a review about Canine Atopic Dermatitis that is

an increasing problem in the small animal practice.

Key words: Dogs. Pruritus. Dermatology. Atopic Dermatitis

Page 9: DERMATITE ATÓPICA CANINA

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Cão Labrador, de 4 anos de idade com eritema interdigital em

quadro de atopia...........................................................................20

FIGURA 2 - Cão Shar Pei, de 2 anos de idade, com hiperpigmentação em

caso de atopia com malasseziose secundária..............................20

FIGURA 3 - Cadela Cocker Spaniel, de 7 anos com alopecia,hiperqueratose

e hiperpigmentação em caso de atopia.........................................21

FIGURA 4 - Cadela, Poodle, de 8 anos de idade com hiperqueratose e

hiperpigmentação em região perianal e perivulvar em caso

de atopia........................................................................................21

FIGURA 5 - Cadela, Shih Tzu, de 5 anos de idade com hiperpigmentação

e liquenificação em quadrode Atopia, com malasseziose

secundária.....................................................................................26

FIGURA 6 - Mesma cadela da figura 1, após 9 meses de controle do quadro,

utilizando doses baixas de corticóide (0,5mg de prednisolona á

cada 6 dias), banhos frequentes, controle parasitário e redução

da exposição antigênica................................................................26

Page 10: DERMATITE ATÓPICA CANINA

LISTA DE ABREVIATURAS

DAC - Dermatite Atópica Canina

HA - Hipersensibilidade Alimentar

DAPE - Dermatite Alérgica á Picada de Ectoparasitas

et al - e outros

p. - Página

Hrs - Horas

IgG - Imunoglobulina G

IgE - Imunoglobulina E

SRD - Sem Raça Definida

Page 11: DERMATITE ATÓPICA CANINA

LISTA DE SÍMBOLOS

% - Por Cento

mg - Miligramas

kg - Kilogram

Page 12: DERMATITE ATÓPICA CANINA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................12

2 ETIOLOGIA .............................................................................15

3 FISIOPATOLOGIA .................................................................16

3.1 Fatores Responsáveis pela Intensificação da Respostosta

Imunoalérgica em Cães........................................................17

4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS.........................................19

5 DIAGNÓSTICO .......................................................................22

5.1 Análises Laboratoriais ..........................................................23

6 TRATAMENTO .......................................................................25

6.1 Exposição ao Alérgeno ..........................................................27

6.2 Imunoterapia ..........................................................................27

6.3 Ácidos Graxos Essenciais ......................................................28

6.4 Recuperação da Função da Barreira ...................................29

6.5 Anti-Histamínicos .................................................................30

6.6 Terapia Tópica ......................................................................30

6.7 Glicocorticóides ....................................................................31

Page 13: DERMATITE ATÓPICA CANINA

6.7.1 Efeitos Colaterais Relacionados á Corticoideterapia ............32

6.8 Ciclosporina.............................................................................32

6.9 Outras Recentes Possibilidades no Tratamento...................33

7 PROGNÓSTICO.......................................................................35

8 CONCLUSÃO............................................................................36

REFERÊNCIAS............................................................................37

Page 14: DERMATITE ATÓPICA CANINA

1 INTRODUÇÃO

O diagnóstico da etiologia do prurido em cães não é tarefa fácil para o clínico

veterinário, particularmente pela variação da apresentação clínica dos casos (LUCAS, 2007).

Dentre as doenças pruriginosas, destacam-se na rotina cotidiana da clínica de pequenos

animais os casos de dermatites alérgicas. Antes de definir um diagnóstico de alergopatia,

outras enfermidades pruriginosas devem ser descartadas, entre essas enfermidades, estão a

escabiose, foliculiute superficial pruriginosa, doenças autoimunes, malasseziose, entre outras.

Para que se obtenha sucesso em se firmar o diagnóstico preciso, o exame clínico deve ser

completo, destacando-se os pontos chave relacionados a um animal alérgico (LUCAS, 2003).

A alergia é uma resposta imunológica exagerada, que se desenvolve após a exposição a

um determinado antígeno e que ocorre em indivíduos geneticamente susceptíveis e

previamente sensibilizados (NASCENTE et al, 2006).

As dermatites alérgicas são seguramente os quadros mais frequentemente relacionados

ao prurido em cães, sendo a Dermatite Alérgica á Picada de Ectoparasitas (DAPE), a

Hipersensibilidade Alimentar (HA) e Dermatite Atópica as mais importantes e frequentes em

nosso meio (SCOTT et al, 2001).

A Atopia Canina é apontada como o segundo distúrbio cutâneo alérgico mais comum

em cães e é descrita como presente em 10 a 15% da população canina dependendo do autor

consultado, sendo menos frequente apenas que a Dermatite Alérgica à Picada de Pulgas

(HILLIER; GRIFFIN, 2001; SOUZA; HALLIWELL, 2001; SCOTT et al 2001).

Como a primeira dermatopatia alérgica mais frequente, autores indicam a DAPE, e

estima-se que 50% dos animais com ectoparasitas podem desenvolver a doença. A

Hipersensibilidade Alimentar é a menos frequente, representando aproximadamente 10% dos

animais com dermatopatias alérgicas (SCOTT et al, 2001; LUCAS, 2007; HILLIER;

GRIFFIN, 2001).

Estes números não levam em consideração o fato de que muitas vezes estas

dermatopatias apresentam-se associadas umas ás outras, complicando em parte a análise da

frequência de ocorrência. Não há predisposição racial confirmada nem sexual ou etária. Sabe-

se que as três dermatopatias alérgicas podem acometer animais adultos e jovens, sendo que a

maioria dos casos ocorre entre 2 e 5 anos de idade (SCOTT et al, 2001).

A Dermatite Atópica Canina (DAC) é uma doença geneticamente programada em

Page 15: DERMATITE ATÓPICA CANINA

cães, onde os pacientes tornam-se sensibilizados a antígenos ambientais. Além disso a Atopia

foi definida como uma doença alérgica mediada por anticorpos IgE e IgG alérgeno-específico.

O papel das células de Langerhans, células T e Eosinófilos também estão sendo reconhecidos

como importantes componentes do processo da doença (SCOTT et al, 1995; SCOTT et al,

2001).

Os primeiros sintomas da Dermatite Atópica geralmente ocorrem entre 6 meses e 3

anos de idade e em cães com mais de sete anos eventualmente observados, sendo que, cerca

de 70% dos cães desenvolvem o problema entre 1 e 3 anos de idade, todos caracterizados por

prurido intenso. Embora uma predisposição sexual não tenha sido comprovada no

desenvolvimento da Dermatite Atópica, alguns autores têm observado uma incidência maior

da doença em fêmeas (SCOTT et al, 2001; HILLIER, 2002).

Como a DAC constitui-se em uma genodermatose, maior ocorrência da doença têm

sido observada em cães de raças puras, principalmente das raças Boxer, Chihuahua, Yorkshire

Terrier, Shar Pei Chinês, Cairn Terrier, West Highland White Terrier, Scotish Terrier, Lhasa

Apsos, Shih Tzu, Fox Terrier de pelo duro, Dalmata, Pug, Setter Irlandês, Setter Inglês,

Boston Terrier, Golden Retrivers, Labrador Retrivers, Cocker Spaniel, Schnauzer Miniatura,

Tervuren belga, Shiba inus e Beacucerons (SCOTT et al, 2001).

Embora na Dermatite Atópica o prurido possa ser considerado sazonal, de acordo com

a integridade da barreira epidérmica, das condições climáticas e da exposição á alérgenos,

geralmente ele é continuo e diuturno, podendo apresentar intensificações principalmente nas

estações mais quentes do ano. Nos Estados Unidos, cerca de 80% dos cães com Atopia

sazonal manifestam sinais clínicos iniciais no período da primavera ao outono e 20%

apresentam sintomatologia no inverno (GRIFFIN; DEBOER, 2001; SCOTT et al, 2001;

HILLIER, 2002).

Outra marcante característica do prurido na Dermatite Atópica é sua pronta resposta

em 81% das vezes, a terapia glicocorticóide (HILLIER, 2002).

Para que se firme o diagnóstico de Atopia frente a um quadro pruriginoso, a

abordagem diagnóstica do veterinário deve ser o descarte das outras dermatites alérgicas. O

meio mais efetivo e que é apontado por diferentes autores é a eliminação racional de cada

uma das possibilidades, sendo elas a Dermatite Alérgica á Ectoparasitas (DAPE) e

Hipersensibilidade Alimentar (LUCAS, 2007; SCOTT et al, 2001).

Inicialmente o clínico terá que avaliar a possibilidade da presença de pulgas, carrapatos

ou de infestação do paciente avaliado. A alergia á picada de pulga é uma reação de

Page 16: DERMATITE ATÓPICA CANINA

hipersensibilidade mista (tipos I e IV ) a componentes antigênicos existentes na saliva da

pulga. Embora as pulgas estejam presentes comumente durante o ano todo, a doença

usualmente começa no verão e gradualmente tende a ser um problema perene (WILLEMSE,

2002).

Se os animais apresentarem parasitas, estes devem ser eliminados através do

tratamento com anti-pulgas, sendo eficazes em intervalos menores do que o indicado pelo

fabricante. Em ambientes infestados, tratar o local onde os animais permanecem, e seus

contactantes (WILLEMSE, 2002).

Após a eliminação dos parasitas por 40-60 dias, havendo melhora no quadro lesional e

do prurido, confirma-se o diagnóstico de DAPE. O controle parasitário em um animal Atópico

deve ser rigoroso, pois este animal não pode sequer receber a picada do parasita. Caso não

haja melhora, passa-se para o segundo passo que é o descarte de Hispersenbilidade Alimentar

(LUCAS, 2003).

A Hipersensibilidade Alimentar que acomete cães e gatos é uma desordem cutânea

pruriginosa e não sazonal, associada presumivelmente ao material antigênico presente na

dieta, e quase que exclusivamente causada por proteínas (primariamente glicoproteínas) e

peptídeos, que escapam a digestão e são absorvidos através da mucosa. Assim as reações

alérgicas aos alimentos podem ser divididas basicamente naquelas de início rápido (tipo I) e

de início lento (tipo IV). Os dois tipos de reação podem ocorrer isolada ou concomitantemente

(NASCENTE et al, 2006).

O único método eficiente e mais frequentemente utilizado para o diagnóstico de

Hipersensibilidade Alimentar é a dieta de eliminação. Deve-se alterar a dieta do animal por

oito a treze semanas, utilizando ração comercial com proteínas hidrolisadas, ou comida

caseira com fontes de proteínas desconhecidas pelo organismo. A dieta deve ser baseada em

uma fonte de proteína e uma fonte de carboidrato, como por exemplo, arroz e carne de ovelha,

em uma mistura de 1:1 para cães (NASCENTE, 2006; LUCAS, 2003; HILLIER, 2002;

FARIAS, 2007; SCOTT et al, 2001).

Durante o período de teste, deve-se evitar o uso de medicações com flavorizantes, na

medida em que estes podem precipitar uma resposta imunoalérgica, e a água oferecida ao

animal deve ser mineral (SCOTT et al, 2001).

A dieta deve ser individualizada de acordo com o caso, e sempre baseada nos dados

obtidos pela anamnese. Para que se estabeleça o diagnóstico de HA, o animal deve apresentar

remissão dos sintomas com a dieta de eliminação, e posteriormente o clínico deverá liberar a

Page 17: DERMATITE ATÓPICA CANINA

antiga alimentação e observar o recrudescimento do quadro em 72 horas a 10 dias. Caso o

paciente não melhore após a dieta, fica estabelecido o diagnóstico de Atopia (NASCENTE et

al, 2006).

Page 18: DERMATITE ATÓPICA CANINA

2 ETIOLOGIA

A exata ocorrência desta doença na população canina é desconhecida, estima-se que de

10 a 15% da população canina seja afetada pela Dermatite Atópica e represente 21% das

causas de problemas tegumentares em cães. As estimativas são provavelmente mais baixas

quando se considera que muitos cães Atópicos nunca são apresentados ao veterinário, seja por

apresentarem sintomas leves ou porquê apresentam apenas otite externa intermitente, que

normalmente não é atribuída a Dermatite Atópica Canina. (FARIAS, 2007; LUCAS, 2007).

A DAC é uma doença de pele de caráter genético e inflamatório na qual o paciente

torna-se sensibilizado a antígenos ambientais mediante a formação de anticorpos IgE que

causa afecção alérgica pruriginosa (OLIVRY et al, 2001; SOUZA; MARSELLA, 2001;

SCOTT et al, 2001).

Os antígenos responsáveis por desencadear a resposta imune observada na DAC

recebem o nome de alérgenos e estão no ambiente, promovendo uma reação de

hipersensibilidade do tipo I. Estes alérgenos são bolores, pólens, debris da epiderme humana,

sementes de gramíneas, penas e a poeira doméstica. Entre os ácaros de poeira doméstica,

destaca-se o Dermatophagoides farinae (HILLIER, 2002; OLIVRY et al, 2001).

Acredita-se que os cães geneticamente predispostos absorvem por via percutânea,

inalam ou ingerem diversos alérgenos que podem causar a reação pruriginosa ( SCOTT et al,

2001).

Page 19: DERMATITE ATÓPICA CANINA

3 FISIOPATOLOGIA

A patogênese da Dermatite Atópica canina é extremamente complicada, uma vez que

envolve fatores genéticos, diversas células inflamatórias, inúmeros mediadores inflamatórios,

uma barreira cutânea deficiente, e provavelmente uma ação bacteriana (DETHIOUX, 2006).

O extrato córneo da epiderme é a primeira linha de defesa entre o organismo e o

ambiente. É formado pelos corneócitos, que são células achatadas que representam o estágio

final da diferenciação dos ceratinócitos basais. A barreira á penetração de irritantes, alérgenos

e agentes infecciosos está localizada nas porções inferiores do extrato córneo, sendo que a

espessura da camada córnea varia entre as regiões corporais na tentativa de aumentar a

proteção das áreas expostas a maior fricção e trauma (CORK et al, 2006 apud FARIAS,

2007).

A Atopia é uma reação de hipersensibilidade do tipo I, que é mediada principalmente

pela IgE. As reações do tipo I são aquelas que envolvem predisposição genética, produção de

anticorpos reagentes, além da degranulação de mastócito. São reações que geralmente se

iniciam após o segundo contato com o antígeno, sendo também chamadas de reações

imediatas (SCOTT et al, 1996).

Os antígenos absorvidos por via percutânea encontram-se com IgE nas células de

Langerhans, os quais são capturados, processados e apresentados aos linfócitos T alérgeno

específicos. Há uma consequente expansão preferencial de células T helper2 culminando em

produção aumentada de IgE pelos linfócitos B. A IgE interage com mastócitos e basófilos

através dos receptores específicos. A expansão subsequente ao alérgeno forma ligações

cruzadas com duas moléculas de IgE induzindo degranulação e liberação ou produção de

mediadores que produzem reações alérgicas, histamina, leucotrienos e citosinas (SCOTT et al,

2001; WILLENSE, 2002).

Há fortes evidências de que defeitos genéticos primários na barreira epidérmica podem

ser determinantes no desenvolvimento da Dermatite Atópica. A IgE se distribui pela

superfície das células dendríticas e de mastócitos, originando a formação do complexo

antígeno-anticorpo, o realce da capacitação e da apresentação antigênica e a degranulação

mastocitária, o que conduz a amplificação da resposta imune, da inflamação e do prurido

associado a Dermatite Atópica (CORK et al, 2006 apud FARIAS, 2007).

A via epicutânea é a principal via de penetração dos alérgenos na pele, além de ser a

Page 20: DERMATITE ATÓPICA CANINA

principal responsável pelos escores clínicos e pela persistência do prurido e dos sintomas

lesionais em cães com DAC (DETHIOUX, 2006).

Um estudo recente relata que foram feitas tentativas de se estabelecer um modelo

clínico para Atopia Canina, mediante o uso de altas doses de IgE, porém, verificou-se sucesso

limitado neste experimento (EGLI, 2002 apud MARSELLA, 2006).

Achados desta natureza, talvez expliquem as especulações de que diferentes formas de

IgE, possuam diferentes potenciais patogênicos e que há mecanismos adicionais podendo

exercer papéis decisivos na patogenia da Dermatite Atópica (MARSELLA, 2006).

3.1 Fatores Responsáveis pela Intensificação da Resposta Imunoalérgica em Cães

Os alérgenos provenientes dos ácaros da poeira doméstica são os principais

responsáveis pela sensibilização e pelo desenvolvimento dos sintomas clínicos de doenças

alérgicas em ambiente intradomiciliar. Estes vivem normalmente em roupas de cama,

travesseiros, carpetes, tapetes e outros materiais do domicílio. A umidade e a temperatura do

ar são os mais importantes fatores que determinam o local onde os ácaros vivem, seu

crescimento e as variações sazonais de sua população (COLLOFF et al, 1991 apud FARIAS,

2007).

Os trofo-alérgenos capazes de induzir uma resposta de hipersensibilidade geralmente

têm origem nas proteínas de carne bovina, suína, equina e de frango, do leite (caseína e

lactona), do ovo, do trigo, da aveia e de derivados da soja ou em fungos e algas presentes na

água. Dessa forma, a grande variedade de proteínas e ingredientes utilizados na composição

da ração, bem como os seus métodos de processamento e conservação, têm sido responsáveis

pela indução da resposta imunoalérgica em cães. Adicionalmente está bem estabelecido que o

alimento pode realçar a reação de hipersensibilidade de origem alérgica e não alérgica

(SCOTT et al, 2001; COLLOFF et al, 1991 apud FARIAS, 2007; NASCENTE et al, 2006).

Embora a verdadeira ocorrência das reações de hipersensibilisdade aos trofo-alérgenos

em cães atópicos ainda não tenha sito determinada, acredita-se que esta ocorra entre 19,6 e

30,6% dos cães com prurido não sazonal, podendo estes apresentar sintomas dermatológicos,

gastroentéricos ou uma combinação de ambos, em até 48 horas após a ingestão de alimentos

(MARSELLA, 2006).

Page 21: DERMATITE ATÓPICA CANINA

O aumento da presença de Malassezia packydermatis e Staphylococcus intrmedius na

pele de cães atópicos têm sido observadas, principalmente em áreas seborréicas e eritematosas

da pele, realçando a resposta inflamatória tegumentar (LUCAS et al, 2007).

Page 22: DERMATITE ATÓPICA CANINA

4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

O principal sintoma associado a Dermatite Atópica é o prurido em áreas com ou sem

lesão, podendo ser localizado ou generalizado. Este geralmente se inicia de forma moderada,

porém tende a intensificação com a cronicidade da doença (SCOTT et al, 2001).

A topografia lesional observada independe de sua via de exposição aos alérgenos

(epicutânea, respiratória ou oral). Este fato sugere que existem certas áreas da pele onde existe

maior possibilidade de fricção, trauma e quebra de sua barreira, tenham maior quantidade de

células T de memória e sejam mais susceptíveis ao desenvolvimento das lesões

(MARSELLA, 2006).

É comum observar lesão em pavilhão auricular, extremidades distais dos membros,

axilas e região inguinal. Em virtude do prurido, pode-se observar também lesões por

lambedura dos membros (FIGURA 1), atrito da face contra o chão, entre outros. As lesões de

pele em cães atópicos, são geralmente aquelas associados com o auto traumatismo,

malasseziose secundária (FIGURA 2), seborréia seca laminar e furfurácea. Estas podem

resultar no aparecimento de alopecia parcial ou generalizada (FIGURA 3), pápulas, pústulas,

hiperpigmentação (FIGURA 4), liquenificação tegumentar, tonsura, escoriações e erosões

encimadas por crostas. Em fase crônica, as lesões são observadas principalmente nos locais

onde há prurido intenso e repetido e a pele é eritrodérmica e disqueratótica (SCOTT et al,

1996; SCOTT et al, 2001; GRIFFIN; DEBOER, 2001).

A piodermite estafilocócica acomete em torno de 68% dos cães atópicos. Geralmente

é superficial, mas pode ser profundo em alguns casos (HILLIER, 2002).

A otite externa está presente em 86% dos cães com Dermatite Atópica, sendo

geralmente caracterizada em fase aguda, por eritema, hiperplasia e exsudação ceruminosa nos

pavilhões auriculares e condutos auditivos, e na fase crônica, caracteriza-se por hiperplasia,

estenose, hiperceratose ou liquenificação, sendo comum a presença de infecção bacteriana ou

por malasseziose associada ao quadro ( HILLIER, 2002).

Os sinais clínicos relatados que não estão relacionados com a pele podem ocorrer

ocasionalmente em cães atópicos e incluem rinite, asma, distúrbios urinários, gastrointestinais

e hipersensibilidade hormonal. Cadelas atópicas podem apresentar estro irregular, baixas

taxas de concepção, e alta incidência de pseudociese (OLIVRY; HILL, 2001b).

Page 23: DERMATITE ATÓPICA CANINA

FIGURA 1: Cão Labrador, de 4 anos de idade

com eritema interdigital em quadro de atopia.

Fonte: LUCAS, 2007.

FIGURA 2: cão Shar pei, de 2 anos de idade,

com hiperpigmentação em caso de atopia com

malasseziose secundária.

Fonte: LUCAS, 2007.

Page 24: DERMATITE ATÓPICA CANINA

FIGURA 3: Cadela Cocker Spaniel, de 7 anos

com alopecia, hiperqueratose e hiperpigmentação

em caso de atopia.

Fonte: LUCAS, 2007.

FIGURA 4: Cadela, Poodle, de 8 anos de idade

com hiperqueratose e hiperpigmentação em região

perianal e perivulvar em caso de atopia.

Fonte: LUCAS, 2007.

Page 25: DERMATITE ATÓPICA CANINA

5 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da atopia baseia-se no histórico, exame físico, excluir outros possíveis

diagnósticos e no teste intradérmico (SCOTT et al, 2001).

Deve-se excluir uma ampla variedade de doenças antes de condenar um animal a

atopia. Para o diagnóstico diferencial, considera-se piodermite superficial, sarna sarcóptica,

malasseziose, demodiciose, hipersensibilidade a parasitas intestinais, hipersensibilidade

hormonal, hipersensibilidade bacteriana, HA, DAPE entre outros. Outro fator a ser avaliado é

que doenças consideradas no diagnóstico diferencial também podem acompanhar um quadro

de atopia, ou seja, o animal apresenta a enfermidade e concomitantemente outras

dermatopatias que podem agravar o quadro (SCOTT et al, 2001; LUCAS; CANTAGALLO;

BEVIANI, 2007).

Devem ser realizados raspados de pele para a exclusão de sarna sarcóptica em cães

com quadro intensamente pruriginoso e histórico e sintomas tegumentares compatíveis com

escabiose. Caso os raspados apresentem resultados negativos para a presença de formas

adultas, ovos ou fragmentos do ácaro e seja forte a suspeita de escabiose, terapia específica

deve ser imediatamente instituída. Devem-se obter amostras da superfície da pele em mais de

um local acometido, por meio de “imprint”, para realização de exame citológico e fazer swab

de pústulas para a cultura bacteriana se houver uma resposta inapropriada a antibioticoterapia.

O exame citológico, bem como a cultura bacteriana das orelhas acometidas também é

indicado (HILLIER, 2002).

Após a exclusão dos demais possíveis diagnósticos, e existindo histórico e sinais

clínicos de Dermatite Atópica é necessário fazer o controle dos fatores perpetuantes incluindo

piodermite, malasseziose, otite externa, demodiciose e doenças crônicas da pele. Uma

minuciosa inspeção direta da pele deve ser realizada para a identificação de ectoparasitas

como pulgas, piolhos ou carrapatos, bem como uma avaliação parasitológica do cerúmem

para a exclusão de otocaríase em animais com otite externa pruriginosa. Histórico ou sinais

clínicos sugestivos de dermatite alérgica a picada da pulga são fortes indicações para o

tratamento adulticida e larvicida no animal e em todos os seus contactantes, bem como para a

instituição de controladores de crescimento no animal e no ambiente (HILLIER, 2002).

Se após a exclusão da DAPE houver persistência do prurido de moderado a intenso e

não sazonal, será necessário manter o controle de pulgas e o animal deverá ser submetido a

exclusão dietética para se verificar a possibilidade de Hipersensibilidade Alimentar

Page 26: DERMATITE ATÓPICA CANINA

(HILLIER, 2002; SCOTT et al, 2001; FARIAS, 2007).

A dieta de eliminação consiste em retirar da alimentação do animal por determinado

período (mínimo de 45 dias) todos os ingredientes que este já tenha ingerido anteriormente,

administrando em seu lugar uma dieta baseada em uma fonte protéica e um carboidrato. As

diversas opções de ração comercialmente formuladas para o uso como dieta de eliminação

oferecem como vantagem a fácil utilização pelos proprietários além de serem

nutricionalmente completas e balanceadas. Entretanto não devem conter corantes

conservantes e aromatizantes, e os suplementos vitamínicos e minerais devem ser suspensos

(NASCENTE et al, 2006).

Há registros de que alguns cães pruríticos não melhoram com o uso de rações

comerciais, mas apresentam, melhora acentuada quando alimentados com dietas caseiras

(NASCENTE et al, 2006).

Após o período de dieta estabelecido, desafia-se o animal com sua dieta original e

observa recidiva entre 72 horas e 14 dias. Este teste confirma o diagnóstico de HA, porém não

identifica claramente a qual alérgico do componente da dieta original provocou a reação de

hipersensibilidade (LUCAS, 2007; NASCENTE et al, 2006).

Se após o período de teste ocorrer melhora apenas parcial do prurido e dos sintomas

clínicos, o paciente apresenta dermatite atópica, porém neste caso, os trofo-alérgenos são mais

um dos fatores que precipitam, mantêm ou exacerbam a inflamação e o prurido relacionados á

doença. Se o animal apresentar melhora do prurido e dos sintomas tegumentares abaixo de

50%, firma-se o diagnóstico de Atopia (HILLIER, 2002; HALLIWELL et al 2005; SCOTT,

2001; OLIVRY et al 2005 apud FARIAS, 2007).

Após a confirmação da DAC, a detecção dos alérgenos envolvidos no quadro pode ser

feita com o teste intradérmico e testes alérgicos in vitro ou sorológicos (SCOTT et al, 1996).

5.1 Análises Laboratoriais

Segundo Scott et al (2001, p. 584) : „‟...Deve ser enfatizado que os testes laboratoriais

nunca devem substituir uma anamnese cautelosa, um meticuloso exame físisco e a completa

eliminação dos demais diagnósticos. Devido a pouca especificidade dos testes in vitro, eles

não devem ser utilizado para o diagnóstico da atopia...‟‟.

Page 27: DERMATITE ATÓPICA CANINA

O teste intradérmico é considerado o único método in vivo aceito para investigações a

respeito de drogas antialérgicas, sendo o preferido na detecção dos alérgenos causadores de

sinais nos cães. Ele consiste na injeção intradérmica dos alérgenos suspeitos e na observação

da hipersensibilidade do tipo imediata, porém, um resultado positivo não é um pré-requisito

para o diagnóstico de DAC, sendo mais útil para selecionar os alérgenos ao qual o paciente

possui anticorpos sensibilizantes na pele. Assim, é necessário que as respostas positivas sejam

interpretadas correlacionando-as com o histórico do animal (HILLIER; DEBOER, 2001;

SCOTT et al, 1996; HILLIER, 2002).

Em relação aos testes alérgicos sorológicos (in vitro), eles podem ser úteis, quando o

teste intradérmico não for possível por interferência de drogas, comprometimento grave da

pele, quando os resultados forem negativos em um cão com grande evidência de DAC ou

quando a dessensibilização com base no teste intradérmico for mal sucedida (SCOTT et al,

1996; SCOTT et al, 2001).

Estes testes identificam os anticorpos IgE específicos circulantes no soro dos pacientes

atópicos. Dentre eles estão: o teste radioalergoabsorvente (RAST), o ensaio imunoabsorvente

ligado a enzimas (ELISA) e o ensaio imunoenzimático de fase líquida, que detectam níveis

relativos de IgE alérgeno específicos no soro (SCOTT et al, 1996; SCOTT et al, 2001).

Níveis elevados de IgE séricas podem provocar reações falso-positivas no teste

alérgico sorológico, assim sendo, a ocorrência de falsos-positivos é comum, o que caracteriza

uma de suas principais desvantagens (SCOTT et al, 1996; SCOTT et al, 2001).

Quanto ao exame histopatológico da pele, este foi considerado não específico para

diagnóstico de atopia nos cães. Entretanto, se estabeleceu recentemente que essas lesões

exibem características inflamatórias com padrão de cronicidade e dermatite perivascular

hiperplástica, puras ou espongióticas. São encontradas células epiteliotrópicas como células

de Langerhans, linfócitos e raros eosinófilos. Na derme encontram-se mastócitos, linfócitos e

ocasionalmente eosinófilos intactos ou degranulados (OLIVRY; HILL, 2001c).

Page 28: DERMATITE ATÓPICA CANINA

6 TRATAMENTO

A dermatite atópica é uma doença incurável mas pode ser controlada na maioria dos

casos. Os proprietários devem ser instruídos sobre os fatores que podem agravar ou gerar

crises de prurido, sobre a natureza crônica da doença e a possibilidade de exacerbações

periódicas e todos devem ser considerados na proposta do tratamento do paciente (LUCAS;

CANTAGALLO; BEVIANI, 2007).

Devido a complexidade da cascata inflamatória que conduz a dermatite atópica o

sucesso do controle terapêutico exige a manutenção da hidratação cutânea, o reconhecimento

e a minimização da exposição e\ou a eliminação dos fatores exacerbadores da inflamação e do

prurido atópico, tais como agentes infecciosos, ectoparasitas, irritantes, alérgenos e fatores

emocionais, além da modulação da resposta imunológica (FARIAS, 2007).

A eliminação dos efeitos somatórios e a diminuição do limiar pruriginoso são pontos

importantes a serem considerados no início do tratamento. Terapias tópicas, dessensibilização,

drogas antipruriginosas sistêmicas, ácidos graxos, anti-histamínicos e ocasionalmente drogas

imunossupressoras constituem o arsenal terapêutico para o tratamento da DAC (FIGURA 5),

(FIGURA 6) (SCOTT et al, 2001).

Um dos primeiros passos no tratamento da DAC é o controle do limiar pruriginoso e a

eliminação dos efeitos perpetuantes. Em alguns indivíduos, há o chamado efeito somatório,

que ocorre quando mais de um agente que estimula o prurido é necessário para desencadear os

sinais clínicos. Dessa forma, torna-se imperativo quando for o caso, o controle das outras

hipersensibilidades, a exemplo da dermatite alérgica à picada de pulgas, da hipersensibilidade

alimentar e de infecções secundárias (Stafilococus intermedius e Malassezia pachydermatis) e

outros fatores estimulantes do limiar pruriginoso (MARSELLA; SOUZA, 2001; LUCAS,

2004; OLIVRY; SOUZA, 2001).

O uso de antibióticos na maioria das vezes constitui a primeira medida no tratamento

da DAC. A droga de escolha é a Cefalexina, administrada por via oral, e quando se confirma à

presença de malassezíose, antifúngicos como o cetoconazol são necessários como parte

adjuvante do tratamento (OLIVRY; SOUZA, 2001).

Page 29: DERMATITE ATÓPICA CANINA

FIGURA 5: Cadela, Shih Tzu, de 5 anos de idade

com hiperpigmentação e liquenificação em quadro

de Atopia, com malasseziose secundária.

Fonte: LUCAS, 2007

FIGURA 6: Mesma cadela da figura 1, após 9

meses de controle do quadro, utilizando doses

baixas de corticóide (0,5mg de prednisolona a

cada 6 dias), banhos freqüentes, controle parasi-

tário e redução da exposição antigênica.

Fonte: LUCAS, 2007

Page 30: DERMATITE ATÓPICA CANINA

6.1 Exposição ao Alérgeno

Esta opção é a mais desejável para o tratamento da atopia , porém na prática são raros

os casos em que se torna possível impedir completamente a exposição ao alérgico causador da

dermatite atópica. Deve-se destacar que entre as possibilidades de alérgenos que levam ao

quadro, nem todos os animais reagem ao mesmos antígenos. É possível reduzir a carga

antigênica através de medidas de higiene introduzidas no meio ambiente do animal: colchão

anti-pulgas, aspiradores com filtros, acaricidas, desnaturantes, expor menos os animais aos

vegetais e as regiões mais empoeiradas da casa. Desumidificadores em locais de estocagem e

aplicação de desinfetantes parasiticidas podem colaborar na redução da pressão alergênica

(DETHIOUX, 2006; LUCAS; CANTAGALLO; BEVIANI, 2007; LUCAS, 2007).

Os ácaros do pó doméstico (Dermatophagoides farinae e D. pteronyssinus) são

identificados como vetores frequentemente responsáveis pela dermatite atópica canina,

estando presentes em almofadas, colchões, tapetes e outros. Eliminar componentes que podem

acumular ácaros pode ser uma manobra útil no controle da doença (DETHIOUX, 2006).

É sempre interessante salientar que a dermatite atópica envolve fatores genéticos

imunológicos e ambientais sendo que tais medidas são capazes de apenas minimizar os seus

sintomas clínicos e exacerbações periódicas (FARIAS, 2007).

6.2 Imunoterapia

Poderá ser realizada se o alérgeno ou os alérgicos forem identificados com precisão, e

consiste na administração de doses crescentes de um extrato de alérgenos aos quais o animal

revelou sensibilidade. A teoria aceite nos últimos quarenta anos é que a inoculação de

pequenas quantidades de alérgenos específicos induz uma resposta do sistema imunitário que

posteriormente desenvolve IgG ou anticorpos „‟bloqueadores‟‟ (DETHIOUX, 2006).

Estudos revelam, que quando combinada com outras tratamentos (anti-histamínicos,

xampus ou ácidos graxos) a imunoterapia específica é efetiva em mais de 75% dos cães

atópicos, sendo que estes não precisarão de terapia com glicocorticóides (MARSELLA,

2006).

Page 31: DERMATITE ATÓPICA CANINA

A vantagem da imunoterapia em relação ao tratamento sintomático convencional inclui

a baixa frequência de administração, o baixo risco de efeitos colaterais devidos à

administração prolongada e o potencial de alterar permanentemente o curso da doença

(HILLIER, 2002).

A vacina é feita para cada paciente com base nos resultados dos testes intradérmicos e

sorológicos. Para a confecção dessa vacina podem ser usados três tipos de alérgenos: em

emulsão, precipitados em alúmen e aquosos. Os alérgenos aquosos são mais vantajosos, pois

são mais rapidamente absorvidos, necessitam de doses menores e requerem injeções múltiplas

e frequentes, sendo os mais utilizados nesse procedimento (SCOTT et al, 2001).

A indução convencional inicia o procedimento com uma injeção subcutânea semanal

(soluções de dessensibilização preparadas na França) ou com intervalos de 2 -3 dias (EU),

aumentando progressivamente a dose de antígenos contidos na solução aquosa. Na fase de

manutenção a dosagem é adaptada a cada caso específico e varia entre 5 a 20 dias entre duas

inoculações. A imunoterapia deverá ser mantida ao longo de toda a vida do animal, não

existindo qualquer referência a cura ( HILLIER, 2001; GRIFFIN, 2001 apud DETHIOUX,

2006).

A imunoterapia específica não foi associada com o desenvolvimento de nenhuma

doença secundária, nem com a incidência do aparecimento de infecções. Esta terapia não

necessita do acompanhamento de hemogramas completos, exames bioquímicos e urinálise

(GRIFFIN, 2006).

Os benefícios da imunoterapia são comprovados, e cerca de 50 a 80% das respostas

são consideradas boas a excelentes demonstrando melhora clínica dos pacientes. É bem aceito

que esse tratamento é eficiente, valioso e relativamente seguro para cães atópicos (SCOTT et

al, 1996; SCOTT et al, 2001).

6.3 Ácidos Graxos Essenciais

A suplementação em ácidos graxos tem como objetivo, em primeiro lugar, restabelecer

a função da barreira que está afetada nos casos de dermatite atópica canina, proporcionando

recursos á pele que lhe permitam executar essa função (DETHIOUX, 2006).

Em segundo lugar, combater a inflamação através da passagem da produção de

mediadores pró inflamatórios (prostaglandinas E2 e leucotrienos B4) para a produção de

Page 32: DERMATITE ATÓPICA CANINA

prostaglandinas e leucotrienos não inflamatórios. Os ácidos graxos são agentes terapêuticos

importantes, mas seu uso tem de ser ajustado, pois requer diversas semanas de suplementação

antes de serem visíveis efeitos positivos. É indispensável utilizar doses muito elevadas para

obter uma ação sobre o produto, sendo que também não existe uma quantidade ideal

determinada. Podem ser empregues sem qualquer hesitação , uma vez que permitem reduzir

as quantidades de corticosteróides e anti-histamínicos (DETHIOUX, 2006).

Sugere-se que cães com atopia exibem anormalidades nos lipídios que formam a

proteção da epiderme, levando à perda de água e hiperidrose. Desta forma, há evidências de

que a administração oral de altas doses de ômega 6 poderia melhorar os sinais clínicos

provocados por tal alteração. A suplementação de ácidos graxos na dieta poderia, portanto,

diminuir a perda de água pela pele. O mecanismo sugerido é que essas substâncias se

incorporam aos lipídeos intracelulares da epiderme. Assim, como a perda de água está

aumentada em cães atópicos, a suplementação oral com ácidos graxos essenciais e a aplicação

tópica de óleos poderiam levar à normalização da barreira epidérmica (MARSELLA, 2006;

OLIVRY; HILL, 2001).

6.4 Recuperação da Função da Barreira

A perda de água existente na dermatite atópica canina está associada á xerose, a

inflamação, ao prurido e a perda da função da barreira epidérmica, o que favorece a

penetração epicutânea de aero-alérgicos (FARIAS, 2007).

O conceito de „‟Skin Barrier‟‟ têm sido utilizado em empresas de ração na tentativa de

minimizar a perda de água trans-epidérmica e conseqüentemente o ressecamento e quebra da

função da barreira cutânea. Este conceito esta ligado a dietas que contêm ingredientes que

aumentam a proteção da pele, como ácido pantotênico, inositol, nicotinamida, colina,

histadina, além de níveis diferenciados de ômegas 3 e 6 e ervas como a curcumina e aloe vera

(DETHIOUX, 2006; LUCAS, 2007).

A hidratação da pele representa peça fundamental no controle da doença, e esta deverá

ser pouco agredida. A preferência deverá ser por uso regular de xampús que não alterem o

micro clima e PH cutâneo, que sejam hidratantes, emolientes e umectantes e dessa forma

ajudam a recuperar a função da barreira da pele e eliminar e minimizar a absorção de

Page 33: DERMATITE ATÓPICA CANINA

alérgicos ambientais e irritantes (FARIAS, 2007; DETHIOUX, 2006; LUCAS, 2007).

6.5 Anti- Histamínicos

Os anti histamínicos são amplamente utilizados, porém poucos estudos demonstram a

eficácia dos anti-histamínicos no controle do prurido e inflamação dos cães com dermatite

atópica ( FARIAS, 2007).

Seu mecanismo de ação baseia-se em inibir os efeitos fisiológicos da histamina,

bloqueando seus receptores. O uso deste fármaco esta mais intimamente relacionado com o

intuito de reduzir as dosagens de corticosteróides administradas.O grau de sucesso é da

ordem de 30% valor que pode parecer relativamente baixo, sendo que a resposta a terapia

anti-histamínica varia de caso para caso e entre as várias classes desse fármacos

(DETHIOUX, 2006; FARIAS, 2007).

Um estudo recente, no qual se revisou o efeito dos anti-histamínicos em pacientes

caninos atópicos, a terfenadina, a hidroxizina e a clemastina foram os mais eficientes ,

resultando em minimização do prurido e do eritema presentes no quadro clínico da dermatite

atópica (OLIVRY; MUELLER, 2003).

Por não exercer efeitos secundários graves, são agentes de grande utilidade numa

abordagem global da patologia. São freqüentemente utilizados em combinação com os ácidos

graxos essenciais (DETHIOUX, 2006).

6.6 Terapia Tópico

Os produtos tópicos constituem uma importante arma na dermatologia veterinária, pois

promovem reidratarão da pele, limitam as super infecções, combatem os alérgicos, possuem

ação paliativa, o custo dos produtos é viável e têm fácil utilização. Os animais associam

rapidamente o procedimento da aplicação dos tópicos com o alívio do seu desconforto,

aceitando muito bem a aplicação destes (DETHIOUX, 2006).

Os xampus com aveia coloidal glicerina, aloe vera e alantoína podem ser utilizados

Page 34: DERMATITE ATÓPICA CANINA

com grande frequência (2 vezes por semana), os xampus ditos fisiológicos ricos em ceramidas

e ômegas e que não alterem as características da pele, podem ser utilizados em igual

propósito. Devem ser evitados xampus com peróxido de benzoila, malaleuca e clorexidine em

concentração maior que 3% para uso frequente. Xampus com corticóides podem ser utilizados

com cautela e se o paciente não estiver utilizando outro tipo de corticóide (LUCAS, 2007).

6.7 Glicocorticóides

Os corticosteróides são moléculas lipossolúveis e estão distribuídos por todo o

organismo. Administrados por via oral ou através de aplicação local são rapidamente

absorvidos pelo corpo e dispersam-se pela totalidade dos tecidos. Os corticosteróides fixam-se

aos receptores do cortisol e reproduzem os efeitos deste hormônio natural (DETHIOUX,

2006).

A ação dos glicocorticóides processa-se no núcleo da célula, estimulando ou atenuando

a expressão de vários genes que, em particular, inibem acentuadamente a síntese de citoquinas

pró-inflamatórias. Na pele os queratinócitos e as células de Langherans constituem os

principais alvos (DETHIOUX, 2006).

Os corticosteróides promovem efeito satisfatório no controle do prurido em 57 a 100%

dos cães com dermatite atópica, sendo sua eficácia clínica estimada entre 58% e 86%. Seja

sob a forma tópica ou sistêmica, os corticóides são sempre parte integrante do tratamento

desta patologia. (OLIVRY; MUELLER, 2003; OLIVRY; SOUZA, 2001).

No caso da dermatite atópica, pretende-se uma ação antiinflamatória dos corticóides,

optando sempre pelas moléculas menos potentes como a prednisona, prednisolona e

metilprednisolona, que comportam a vantagem de apresentar uma ação rápida e um efeito

mineralocorticóide quase inexistente (DETHIOUX, 2006).

Corticosteróides orais de curta ação como a prednisona e prednisolona na dose de 0,5 a

1 mg\kg, podem ser indicados no controle da exacerbação aguda da inflamação e do prurido

relacionados a dermatite atópica. Seu uso a longo prazo deve ser restrito aos animais com

dermatite atópica crônica, que não respondem a terapias alternativas e dependem dos

corticóides para controlar o prurido (HILLIER, 2002).

Nesses caos, após a instituição da dose de 0,5mg\kg\24horas, seu uso deve ser

Page 35: DERMATITE ATÓPICA CANINA

espaçado para cada 48 horas e em seguida para cada 72 horas. Sua dose então deve ser

reduzida e espaçada, até ser encontrado um equilíbrio entre ausência de sinais clínicos e de

efeitos colaterias da corticoideterapia. Nos casos em que o espassamento ou a diminuição da

dose, causam o aparecimento de recidiva dos sintomas, a associação com outros princípios

deve ser tentada (SCOTT et al, 2001; HILLIER, 2002).

A utilização conjunta de outros agentes terapêuticos quer sob a forma tópica ou mesmo

de origem nutricional permite muitas vezes reduzir as dosagens de corticosteróides

administradas (DETHIOUX, 2006).

6.7.1 Efeitos Colaterais Relacionados á Corticoideterapia

Os efeitos variam de atrofia tegumentar, calcificação metastática, telagioctasias,

poliúria, polidipsia, polifagia, ganho de peso, retenção de sódio e água vômito, pancreatite,

dislipidemias, hipertensão, tromboembolismo, atrofia da musculatura apendicular e

desenvolvimento de infecções oportunistas, efeito imunossupressor, atrasos de

cicatrização,úlceras gastrointestinais, infecções microbianas, hiperadrenocorticismo

(FARIAS, 2007; DETHIOUX, 2006).

Os corticóides de longa duração não devem ser indicados para o tratamento e controle

da dermatite atópica, pois tem alta propensão para a indução de efeitos colaterias (SCOTT et

al, 2001).

Muitos pacientes necessitarão de tratamento ad eternum e estes devem ser

acompanhados por exames laboratoriais (hemograma, urinálise, função hepática e renal,

glicemia, triglicérides e colesterol) a cada 3 meses para avaliar alterações precoces e

descontinuar a terapia em caso de mudanças importantes (LUCAS, 2007).

6.8 Ciclosporina

Estudos recentes sobre o uso da ciclosporina A para o tratamento da dermatite atópica

canina têm demonstrado alta eficácia e mínimos efeitos colaterias (RADOWICZ; POWER,

Page 36: DERMATITE ATÓPICA CANINA

2004).

A ciclosporina A é um potente imunossupressor pertencente a família dos inibidores da

calceurina, uma vez absorvida age primariamente nas células T ligando-se a uma proteína

intracelular, a ciclofilina-1, inibindo a calcineurina e suprimindo a transcrição de citosinas,

como a IL2 e IFNy. A ciclosporina age nos mastócitos, eosinófilos e nas células de

Langherans, reduzindo as respectivas funções de apresentação de antígeno, tendo assim vários

efeitos imunomoduladores benéficos na dermatite atópica (AKDIS et al, 2006; LEUNG, 2000

apud FARIAS, 2007; DETHIOUX, 2006).

Estudos revelaram que a dose de 5mg\kg a cada 24 horas causam uma indução efetiva

dos efeitos da ciclosporina para controlar os sintomas da dermatite atópica. É necessário

tratamento por no mínimo 30 dias até se observar resposta clínica. Após evidenciada melhora

no estado geral do animal, passa-se para uma dosagem de manutenção, quer pela redução da

dose diária ou pelo aumento do intervalo de administração (GRIFFIN, 2006; HILLIER,

2002).

Guaguère, Stefan e Olivry (2004) relatam um trabalho em que o objetivo fora

comparar a eficácia da ciclosporina versus o uso de glicocorticóides no tratamento da atopia

canina. Ambas as medicações resultaram em uma melhora similar nas lesões da pele e no

prurido, entretanto, verificou-se que a incidência de infecções bacterianas na pele, foi menor

em cães recebendo ciclosporina do que nos tratados com metilprednisolona. Para tratamentos

de longa duração, a ciclosporina torna-se uma alternativa (GUAGUÉRE et al, 2004).

Dessa forma o uso da ciclosporina têm permitido melhoria da qualidade de vida e

minimização do uso de corticosteróides, sendo a medicação de escolha para o controle da

atopia crônica em cães com menos de 10kg que não respondem adequadamente a instituição

de medidas que controlem os fatores perpetuastes da atopia, á terapia hidratante e\ou aos anti-

histamínicos (LUCAS et al, 2007).

Os efeitos do uso da ciclosporina são visualizados após 30 dias de uso contínuo,

devendo ser inicialmente associada com anti-histamínicos ou corticosteróides orais. A

ciclosporina deve ser administrada fora das refeições em um intervalo mínimo de duas horas

(HILLER, 2002; DETHIOUX, 2006).

Efeitos colaterais são incomumente observados e incluem vômito ou diarréias

intermitentes , hirsutismo, hiperplasia gengival e neoplasias orais (RADOWICZ; POWER,

2004).

Page 37: DERMATITE ATÓPICA CANINA

6.9 Outras Recentes Possibilidades no Tratamento

Há relatos do uso de inibidores da fosfodiesterases, como a pentoxifilina 10 mg/kg via

oral, duas vezes ao dia (Hillier, 2002), para o tratamento da DAC. Esta droga possui

propriedades imunomoduladoras e em cães é relatada a supressão da produção de interferons

(inibe as propriedades pró-inflamatórias das citocinas), o uso desta droga reduz o prurido e o

eritema. A pentoxifilina é bem tolerada e considerada segura para uso em animais. Efeitos

colaterais graves não foram relatados, sendo que os mais comuns foram vômito e diarréia

(MARSELLA; OLIVRY, 2001).

O tracolimus é uma lactona macrolítica produzida pelo fungo Streptomyces

tsukubaensis e, embora seja distinto quimicamente da ciclosporina, seu mecanismo de ação é

semelhante, inibindo a resposta dos linfócitos T aos antígenos e a produção de citocinas

responsáveis pela proliferação destes. Uma das vantagens dessa droga é que seu uso pode ser

tópico, limitando os riscos de efeitos colaterais sistêmicos. Em cães atópicos seu principal

efeito é a diminuição do eritema, contudo a diminuição do prurido não é significativa

(MARSELLA; OLIVRY, 2001).

Em seres humanos com asma e rinite alérgica, o uso de um tipo de anticorpo

monoclonal (IgG1) contra IgE, tem se mostrado efetivo no tratamento. Ele reconhece e

mascara o epítopo na região CH3 do IgE responsável pela alta afinidade pelos mastócitos e

basófilos. Desse modo, reduz os níveis séricos de IgE e regula os receptores IgE das células

dendríticas circulantes. A terapia anti-IgE está começando a ser pesquisada em cães, e

vacinação com o peptídeo anti-IgE tem demonstrado uma diminuição do IgE total,

controlando os sinais clínicos associados à DAC (MARSELLA, 2006)

Page 38: DERMATITE ATÓPICA CANINA

7 PROGNÓSTICO

Apesar do avanço na compreensão de sua etiopatogênese, a DAC continua sendo um

significante desafio terapêutico para os clínicos veterinários, em particular nos casos de

pacientes que apresentam doença inflamatória crônica recorrente e intensamente pruriginosa

(FARIAS, 2007).

O cão que apresenta atopia, deverá ser acompanhado pelo veterinário por toda a vida,

pois o tratamento estabelecido é a longo prazo, ou ad eternum, e suas evoluções ou recaídas

devem ser cuidadosamente analisadas. A administração prolongada de medicamentos

possibilita o surgimento de efeitos colaterais e o aparecimento de doenças graves o que

caracteriza um prognóstico de evolução reservado, então reavaliações constantes destes

pacientes serão necessárias (SCOTT et al, 2001; FARIAS, 2007; LUCAS, 2007).

O estudo da aplicação dos antagonistas dos receptores de quimiocinas em medicina

veterinária, associado ao uso de terepia tópica e imunomoduladora, pode permitir que animais

gravemente acometidos possam reduzir a frequência de crises agudas, prolongar o intervalo

entre crises, além de otimizar o controle da dermatite atópica a longo prazo (HILLIER, 2002).

Seu controle envolve a recuperação da barreira tegumentar, a eliminação de infecções

bacterianas ou micóticas e a minimização da exposição a aero-alérgenos e irritantes, associado

ao uso crônico de terapia antiinflamatória, anti-alérgica ou imunomoduladora (DETHIOUX,

2006).

O principal objetivo do clínico veterinário é dar conforto ao paciente atópico, orientar

o cliente que a palavra de ordem é o controle do quadro e infelizmente não há cura definitiva.

Além do uso de medicamentos, outras manobras poderão ajudar o paciente a ter uma melhor

qualidade de vida (LUCAS, 2007).

A terapia do cão atópico deve ser baseada em três princípios básicos, utilização do

menor número de fármacos, obtendo o melhor índice de melhora clinica possível, oferecendo

ao paciente, menos efeitos colaterais (LUCAS; CANTAGALLO; BEVIANI, 2007).

Paralelamente a educação do proprietário é uma peça fundamental no controle da

dermatite atópica devendo este ser bem orientado para que tenha a real percepção da doença e

motivação pessoal para controlar a inflamação e o prurido relacionado a esta doença,

mantendo assim a qualidade de vida de seu cão (SCOTT et al, 1996; SCOTT et al, 2001)

Page 39: DERMATITE ATÓPICA CANINA

8 CONCLUSÃO

Os mecanismos da atopia ainda não são totalmente definidos, porém sabe-se que a

patogenia da atopia envolve um defeito na barreira epidérmica que pode provocar maior

contato entre o sistema imunológico cutâneo e antígenos ambientais.

Esta complexa interação resulta em sintomas como inflamação e congestão, que

promovem eritema e prurido, levando a escoriações e maior exposição a microorganismos

oportunistas como bactérias e leveduras, finalmente oferecendo processos secundários de

desqueratinização, malasseziose e foliculite bacteriana, levando a um controle difícil da

sintomatologia. Todo esse quadro gera processos crônicos, diminui em muito a qualidade de

vida dos animais e preocupa muito os proprietários .

Face ao exposto, pode-se considerar a DAC como uma doença de importância

crescente na clínica de pequenos animais. Assim sendo, reconhecer o problema e iniciar

terapia adequada são os pontos-chave para conseguir controlar a doença, uma vez que não

existe cura. O plano diagnóstico inicia-se com o intuito de promover o controle em relação

aos fatores perpetuantes. É necessário estabelecer os possíveis diagnósticos diferenciais,

baseados na resenha, histórico e sinais clínicos.

Por ser uma dermatopatia caracterizada por prurido intenso, além do cão, ela gera

aflição ao proprietário, que deve ser esclarecido a respeito das recidivas do quadro e do quão é

gradual a melhora após o início do tratamento.

A terapia do cão atópico deve ser baseada em três princípios básicos: utilização do

menor número de fármacos, obtendo o melhor índice de melhora clinica possível, oferecendo

ao paciente, menos efeitos colaterais, visando estabelecer uma melhor qualidade de vida ao

animal e conforto ao proprietário.

Page 40: DERMATITE ATÓPICA CANINA

REFERÊNCIAS

ARLIAN, L. G. ; PLATTS-MIILS, T. A. E. Definitively diagnosing atopic dermatitis in dogs.

Journal of Allergy and Clinical Immunology, (Supplement 406), v. 107, n. 3, p. 406 - 413,

2001.

DAVID, D. Reações Alimentares. In: RHODES, K. H. Dermatologia de pequenos animais:

consulta em 5 minutos. Revinter, p. 253 - 256, 2005.

DETHIOUX, F. A dermatite atópica canina, um desafio para o clínico. Focus, edição

especial, p. 7 - 56, 2006.

FARIAS, M. R. Dermatite atópica canina: da fisiopatologia ao tratamento. Clínica

Veterinária, n. 69, p. 48 - 62, 2007.

GUAGUÉRE, E. ; STEFAN, J. ; OLIVRY, T. Ciclosporin A: a new drug in the Field of

canine dermatology. Veterinary Dermatology, v. 15, p. 61 - 70, 2004.

GRIFFIN, C. E.; DEBOER, D. J. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (XIV):

clinical manifestations of canine atopic dermatitis. Veterinary Immunology and

Immunopathology, Amsterdam, v. 81, n. 3-4, p. 255-269, 2001.

GRIFFIN, G. E. Allergen-specific immunotherapy for canine atopic dermatitis: Making it

work. Veterinary Medicine, v. 101, n. 9, p. 590 - 605, 2006.

HILLIER, A. Allergy testing and treatment for canine atopic dermatites. Veterinary

Medicine, v. 97, n. 3, p. 210 - 224, 2002.

HILLIER, A. Symposium on atopic dermatits. Veterinary Medicine, Lenexa, KS, v. 97, n. 3,

p. 196-222, Mar. 2002.

HILLER, A. Definitively diagnosing atopic dermatitis in dogs. Veterinary Medicine, v. 97,

n. 3, p. 198 - 208, 2002.

HILLIER, A.; DEBOER, D. J. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (XVII):

intradermal testing. Veterinary Immunology and Immunopathology, Amsterdam, v. 81, n.

3-4, p. 289-304, 2001.

HILLIER, A.; GRIFFIN, C. E. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (I):

incidence and prevalence. Veterinary Immunology and Immunopathology, Amsterdam, v.

Page 41: DERMATITE ATÓPICA CANINA

81, n. 3-4, p. 147-151, 2001.

LEUNG, D. Y. M. Atopic dermatitis: New insights and opportunities for therapeutic

intervention. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 105, n. 5, p. 858 - 876, 2000.

LUCAS, R. Diagnóstico diferencial do prurido. In: SOUZA, Heloísa Justen M. de. (Org.).

Coletâneas em medicina e cirurgia felina. 01. ed. Rio de Janeiro, 2003, v. único, p. 115 -

138.

LUCAS, R. ; BEVIANI, D. ; PELEGRIN, C. ; CANTAGALLO, K. ; MINGOSS, R. J.

Avaliação da efetividade do uso da ciclosporina na terapia de cães atópicos. Clínica

Veterinária, n. 69, p. 68 - 72, 2007.

LUCAS, R. ; CANTAGALLO, K. ; BEVIANI, D. Diagnóstico diferencial das principais

dermatopatias alérgicas parte II: Atopia: Diagnóstico e estratégias terapêuticas. Nosso

Clínico, v. 10, n. 56, p. 6 - 14, 2007.

MARSELLA, R. ; NICKLIN, C. ; LOPEZ, J. Studies on the role of routes of allergen

exposure in high IgE - producing beagle dogs sensitized to house dust mites. Veterinary

Dermatology, v. 17, p. 306 - 312, 2006.

MARSELLA, R. Atopy: New targets and new terapies. Veterinary Clinics Small Animal

Practice, Philadelphia, v. 36, n. 1, p. 161-174, 2006.

MEDLEAU, L. ; HNILICA, K. A. Dermatologia de pequenos animais: Atlas colorido e

guia terapêutico. Roca, p. 104-121, 2003.

MULLER, R. S. Dermatologia para o clínico de pequenos animais. Roca, p. 49 - 51, 2003.

NASCENTE, P. S. ; XAVIER, M. O. ; DAROSA, C. S. ; SOUZA, L. L. ; MEIRELER, M. C.

A. ; MELLO, J. R. B. Hipersensibilidade alimentar em cães e gatos. Clínica Veterinária, n.

64, p. 60-66, 2006.

OLIVRY, T. ; FONTAINE, J. Treatment of canine atopic dermatitis with ciclosporin: a pilot

study. Veterinary Record, v. 148, p. 662 - 663, 2001.

OLIVRY, T.; DEBOER, D. J.; GRIFFIN, C. E.; HALLIWELLD, R. E. W.; HILLD, P. B.;

HILLIERE, A.; MARSELLA, F. R.; SOUSAG, C. A. The ACVD task force on canine atopic

dermatitis: forewords and lexicon. Veterinary Immunology and Immunopathology,

Amsterdam, v. 81, n. 3-4, p. 143-146, 2001.

Page 42: DERMATITE ATÓPICA CANINA

OLIVRY, T.; HILL, P. B. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (VIII): is the

epidermal lipid barrier defective?. Veterinary Immunology and Immunopathology,

Amsterdam, v. 81, n. 3-4, p. 215-218, 2001.

RADOWICZ, S. N. ; POWER, H. T. Long-term use of cyclosporine in the treatment of canine

atopic dermatitis. Veterinary Dermatology, v. 16, p. 81 - 86, 2005.

ROCHA, N. S. Exame citológico no diagnóstico de lesões de pele e subcutâneo. Clínica

Veterinária, n. 76, p. 76 - 80, 2008.

SOUSA, C. A.; HALLIWELL, R. E. W. The ACVD task force on canine atopic dermatitis

(XI): the relationship between arthropod hypersensitivity and atopic dermatitis in the dog.

Veterinary Immunology and Immunopathology, Amsterdam, v. 81, n. 3-4, p. 233-237,

2001.

SOUSA, C. A.; MARSELLA, R. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (II):

genetic factors. Veterinary Immunology and Immunopathology, Amsterdam, v. 81, n. 3-4,

p. 153-157, 2001.

SCOOT, D. W. ; MILLER, W. H. Jr. ; GRIFFIN, G. E. Small animal dermatology. 6. ed.

Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1996, 1213p.

SCOOT, D. W. ; MILLER, W. H. Jr. ; GRIFFIN, G. E. Small animal dermatology. 6. ed.

Philadelphia: W. B. Saunders Company, 2001, 1528p.

WILLEMSE, T. Dermatologia clínica de cães e gatos. 2. ed. Holanda: Manole, p. 44 - 53,

2002.