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O que foi mesmo que acordou? Sophia Midian A partir de uma perspectiva pós-estruturalista, sobretudo deslizando pelo conceito de Différance – herança de Derrrida, grifado com "a" no sentido de acentuar a distinção com a mera différence, que equivaleria `a diferença em português, o que não dá conta do neologismo que não se situa numa negação do sujeito ou objeto que questiona, antes sendo um entre provocador incapturável - podemos refletir um pouco o contexto atual de manifestações urbanas que mobiliza o Brasil. O discurso hegemônico, risível aos que adquiriram uma postura crítica elementar às vozes “oficiais” - evocadas a partir do ponto de vista dos que detém o poder e são guiados pelos lucros abusivos e pelo acúmulo de capital, onde o direito se volatiliza em detrimento dos privilégios - tenta apreender um fenômeno , por essência multifocal e escorregadio, pela sua consistência fluída. Jorram nas redes sociais, certamente a cartola mágica que contém uma quantidade quase infinita de elementos de referencia que transitam do senso comum até compartilhamento de análises intelectuais academicamente consagradas pelo respaldo de seus autores, diversos exemplos que nos ajudam a afirmar não só a incapacidade imbecilizada da grande mídia em avaliar o caráter transversal do inonimável - generalizado pelo epípeto de “manifestantes” – assim como a contradição da própria linha editorial dos grandes meios diante do insurgente momento. Ainda sobre as mídias sociais: "De tempos em tempos a humanidade se vê diante de desafios para migrar sua herança cultural e sua produção de conhecimento, cada vez mais complexa, para novas bases e suportes tecnológicos de inteligência. (...) Algumas tecnologias da inteligência causam impacto profundo e alteram significativamente o modo como produzimos e tratamos as informações e nossas diversas representações no mundo físico e social, este é o caso das mídias sociais." (TELLES, 2010)

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O que foi mesmo que acordou?

Sophia Midian

A partir de uma perspectiva pós-estruturalista, sobretudo deslizando pelo conceito de Différance – herança de Derrrida, grifado com "a" no sentido de acentuar a distinção com a mera différence, que equivaleria `a diferença em português, o que não dá conta do neologismo que não se situa numa negação do sujeito ou objeto que questiona, antes sendo um entre provocador incapturável - podemos refletir um pouco o contexto atual de manifestações urbanas que mobiliza o Brasil.

O discurso hegemônico, risível aos que adquiriram uma postura crítica elementar às vozes “oficiais” - evocadas a partir do ponto de vista dos que detém o poder e são guiados pelos lucros abusivos e pelo acúmulo de capital, onde o direito se volatiliza em detrimento dos privilégios - tenta apreender um fenômeno , por essência multifocal e escorregadio, pela sua consistência fluída. Jorram nas redes sociais, certamente a cartola mágica que contém uma quantidade quase infinita de elementos de referencia que transitam do senso comum até compartilhamento de análises intelectuais academicamente consagradas pelo respaldo de seus autores, diversos exemplos que nos ajudam a afirmar não só a incapacidade imbecilizada da grande mídia em avaliar o caráter transversal do inonimável - generalizado pelo epípeto de “manifestantes” – assim como a contradição da própria linha editorial dos grandes meios diante do insurgente momento. Ainda sobre as mídias sociais:

"De tempos em tempos a humanidade se vê diante de desafios para migrar sua herança cultural e sua produção de conhecimento, cada vez mais complexa, para novas bases e suportes tecnológicos de inteligência. (...) Algumas tecnologias da inteligência causam impacto profundo e alteram significativamente o modo como produzimos e tratamos as informações e nossas diversas representações no mundo físico e social, este é o caso das mídias sociais." (TELLES, 2010)

A fim de não me estender por um campo movediço, sobretudo pela gama de suas ilustrações, me deterei num recorte ultra-acadêmico usando como exemplo a Rede Globo de televisão e, ainda assim, não desenvolvendo um trabalho analítico como costuma ser os que se desenvolvem dentro de um espaço-tempo que proporcione a meticulosidade. Esse ensaio, aliás, que poderá vir a se tornar um artigo científico, quiçá encontre fôlego de paralelamente o desenvolver em alternância com outros compromissos que extrapolam os limites da academia, pretende somente trazer à tona algumas questões levantadas num debate frutífero, acalorado e vibrante que tivemos na manhã do dia 28 de junho de 2013, data em que nasceria o nosso Raul Seixas, em 1945.

Aproveitando o ensejo “datalístico”, não há como negar em meu cerne discursivo as contribuições da Escola de Frankfurt, em textos como “A indústria Cultural”, de Adorno e Horkheimer ou “A obra de arte da era da reprodutibilidade técnica”, escrito por Walter Benjamin, vigorantes na década de nascimento do roqueiro baiano, metamorfose ambulante, tal qual Derrida, nossa outra referencia citada logo no início dessa escritura, em que o próprio, interpelado por Elisabeth

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Roudinesco no diálogo “De que amanhã” afirma “não, eu sou isto e aquilo; e sou antes isto que aquilo, de acordo comas situações de urgência”.

Na medida em que reconhecemos na Indústria Cultural um círculo de manipulação e necessidades onde a técnica encara o poder do próprio domínio adquirindo um caráter repressivo da sociedade que se autoaliena e onde essa mesma técnica adquire o poder do economicamente mais forte, reproduzindo um discurso que não destempere com os interesses de quem a patrocina e a quem ela se esforça para conservar seu status quo, facilmente desmontamos a estrutura falaciosa do local dessa fala obstruída. Nenhuma suposta objetividade, nenhuma tentativa de isenção forçada, nem a seriedade nas faces dos apresentadores de telejornal quando anunciam a catástrofe dos vândalos ou o sorriso de canto de boca ao celebrar o despertar da juventude em passeatas pacíficas, nada disso passa incólume ao olhar sagaz e treinado de quem perdeu a ilusão e a inocência na espontaneidade da notícia. Afinal, sabemos que os dirigentes injetam suas intenções subjetivas ao público, aliadas aos setores singulares que promovem o desenvolvimento de seus conglomerados midiáticos, numa rede co-interessada e interdependente. Não se iluda, tudo está estritamente ligado, e os clichês e estereótipos das obras funcionais, quiçá as novelas e programas de auditório têm a finalidade de “confirmar o esquema, enquanto impõe a sua realidade” (ADORNO) provocando uma atrofia da imaginação e vetando uma Possível atividade mental do espectador.

A partir de uma perspectiva pós-estruturalista, sobretudo deslizando pelo conceito de Différance - grifado com "a" no sentido de acentuar a distinção com a mera différence, que equivaleria`a diferença em português, o que não dá conta do neologismo que não se situa numa negação do sujeito ou objeto que questiona, antes sendo um entre provocador incapturável - podemos refletir melhor o contexto atual de manifestações urbanas que mobiliza o Brasil e provoca nos discursos que tentam apreender o fenômeno - e se levamos em conta sua categorização mambembe, deslocada, opressora e risível