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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DESAFIOS INTERGERACIONAIS: O TRABALHO DE UM TÉCNICO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO Andreia Carina Serras Roupeta Mestrado em Educação e Formação Área de especialização em Desenvolvimento Social e Cultural Relatório de Estágio orientado pela Profª. Doutora Carolina Carvalho 2017

DESAFIOS INTERGERACIONAIS: O TRABALHO DE UM TÉCNICO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO ... · 2019-04-24 · UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DESAFIOS INTERGERACIONAIS: O TRABALHO

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

DESAFIOS INTERGERACIONAIS: O TRABALHO DE UM TÉCNICO

DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

Andreia Carina Serras Roupeta

Mestrado em Educação e Formação

Área de especialização em Desenvolvimento Social e Cultural

Relatório de Estágio orientado pela Profª. Doutora Carolina Carvalho

2017

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II

Agradecimentos

Ao longo deste percurso foram muitas as pessoas importantes e que me ajudaram a

tornar este trabalho possível. Cada um teve o seu papel e significado.

Quero agradecer à minha Orientadora Carolina, pela paciência que teve ao esclarecer

as dúvidas que foram surgindo.

Agradeço ainda ao local de estágio por me terem acolhido da melhor forma e pelo

carinho que ficou.

Aos meus amigos sempre presentes, com palavras de incentivo, são espetaculares.

Em especial à minha família que sem eles nada disto seria possível.

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III

Resumo1

O presente relatório de estágio procura descrever uma experiência de trabalho que

teve como grande objetivo desenvolver um projeto na temática da Intergeracionalidade. A

motivação pessoal em desenvolver um projeto de estágio na temática resultou das

fragilidades (mas também potencialidades) que crianças e idosos possuem na sociedade.

Em Portugal a população tem-se tornado cada vez mais envelhecida e com as

alterações no seio das famílias, a falta de tempo tende a ser um fator que prejudica os nossos

idosos, pois só recebem os cuidados básicos de saúde e para as crianças, permanecem mais

tempo nas instituições.

Por isso, a necessidade de se desenvolverem projetos Intergeracionais, em que os

idosos recebem atenção, as suas histórias de vida são valorizadas e não perdem o sentimento

de pertença a um grupo, como acontece nos lares. Para os mais novos, a ocupação dos tempos

livres com pessoas que têm sabedoria e valores a transmitir é uma mais-valia.

Estas atividades dinamizam a rotina das pessoas que se encontram institucionalizadas,

melhorando a parte pessoal, social e de comunicação. As sessões são planeadas de acordo

com as limitações dos participantes e valoriza-se a troca de saberes entre os grupos etários,

recuperando tradições como jogos e músicas.

Palavras-chave: Infância, Intergeracionalidade, Envelhecimento

1 Este trabalho está associado ao Projeto Convergir na Diversidade: Participação das crianças e jovens na cidade.

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IV

Abstract2

This internship report seeks to describe a work experience that has as its main

objective to develop a project on the theme of Intergenerationality. The personal motivation

to develop an internship project in this area resulted from the weaknesses (but also

potentialities) that children and the elderly have in our society.

In Portugal the population has become increasingly aging and with the changes within

families, the lack of time tends to be a factor that affects our seniors, who only receive the

basic health care, and children, that remain more time in institutions.

Therefore, there is the necessity to develop intergenerational projects, in which the

elderly receive attention, their life histories are valued and they don’t lose the sense of

belonging to a group, as it happens in nursing homes. For young people, the occupation of

leisure time with people who have the wisdom and values to transmit is an asset.

These activities dynamize the routine of people who are institutionalized, improving

their personal and social lives, as well as their communication. The sessions are planned

according with the participants’ handicaps and is appreciated the exchange of knowledge

between the age groups, recovering traditions like games and music.

Keywords: Childhood, Intergenerationality, Aging

2 This work is associated with the Project Convergir na Diversidade: Participação das crianças e

jovens na cidade.

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V

Índice

Índice de Quadros ............................................................................................................................... VI

Índice de Figuras ................................................................................................................................. VI

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1

CAPÍTULO I .......................................................................................................................................... 4

ENQUADRAMENTO TEÓRICO .......................................................................................................... 4

1.1. Revisitando algumas ideias em torno da Infância ................................................................... 4

1.2. Olhares sobre o Envelhecimento ............................................................................................. 9

1.3. Intergeracionalidade: Clarificação de um conceito ............................................................... 15

1.4. Desafios Educacionais da Intergeracionalidade .................................................................... 18

CAPÍTULO II ....................................................................................................................................... 23

PROJETO DE ESTÁGIO ..................................................................................................................... 23

2.1. Caracterização da Instituição ................................................................................................ 23

2.2. Diagnóstico de necessidades ................................................................................................. 30

2.2.1. Uma proposta de atividades .......................................................................................... 36

2.3. Construção e Desenvolvimento do Projeto de Estágio ......................................................... 39

2.3.1. Componente de Apoio à Família................................................................................... 39

2.3.1.1. Objetivos ............................................................................................................... 40

2.3.1.2. Atividades desenvolvidas ...................................................................................... 40

2.3.1.3. Materiais desenvolvidos ........................................................................................ 46

2.3.1.4. Calendarização de Atividades ............................................................................... 49

2.3.1.5. Avaliação da Componente .................................................................................... 53

2.3.2. Componente área de atuação atividades Intergeracionais ............................................. 58

2.3.2.1. Objetivos ............................................................................................................... 58

2.3.2.2. Atividades ............................................................................................................. 59

2.3.2.3. Materiais desenvolvidos ........................................................................................ 69

2.3.2.4. Calendarização de Atividades ............................................................................... 71

2.3.2.5. Avaliação da Componente .................................................................................... 73

2.3.3. Componente área de atuação Formação para as educadoras ......................................... 77

2.3.3.1. Objetivos ............................................................................................................... 78

2.3.3.2. Atividades ............................................................................................................. 78

2.3.3.3. 1. Análise de Conteúdo da Focus Group sobre a Formação ................................. 85

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VI

2.3.3.4. Materiais desenvolvidos ........................................................................................ 86

2.3.3.5. Calendarização de Atividades ............................................................................... 87

2.3.3.6. Avaliação da Componente .................................................................................... 88

CAPÍTULO III ...................................................................................................................................... 91

REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO REALIZADO ........................................................................ 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 95

ANEXOS ............................................................................................................................................ 101

Anexo 1. Modelo de Plano de Atividades da Componente de Apoio à Família ............................. 101

Anexo 2. Modelo da Instrução de Trabalho das Atividades de Componente de Apoio à Família . 102

Anexo 3. Modelo de avaliação das Atividades da Componente de Apoio à Família ..................... 103

Anexo 4. PowerPoint da Formação para as Educadoras ................................................................. 104

Índice de Quadros

Quadro 1. Tipos de família (adaptado de Goldenberg, 1980) ................................................................. 7

Quadro 2. Planificação das atividades do Estágio ................................................................................ 37

Quadro 3. Um exemplo da Planificação da Componente de Apoio à Família ...................................... 49

Quadro 4. Planificação de Atividades Intergeracionais. ....................................................................... 71

Quadros 5. Plano de Formação elaborado pela estagiária..................................................................... 78

Quadro 6. Análise de Conteúdo ............................................................................................................ 85

Índice de Figuras

Figura 1. Os três pilares da estrutura política para o envelhecimento ativo .......................................... 14

Figura 2. Organograma geral da instituição .......................................................................................... 25

Figura 3. Árvore Genealógica ............................................................................................................... 45

Figura 4. Puzzle dos Sentimentos ......................................................................................................... 45

Figura 5. Jogo da Teia ........................................................................................................................... 46

Figura 6. Jogo do Contorno .................................................................................................................. 46

Figura 7. Maquete Parque das Nações .................................................................................................. 48

Figura 8. Cartaz do Brasil e Jogo do Galo ............................................................................................ 51

Figura 9. Jogo da corda humana e jogo da apanhada ............................................................................ 51

Figura 10. Um exemplo de Instrução de Trabalho (I.T) desenvolvido pela estagiária ......................... 52

Figura 11. Exemplo de Ficha de Avaliação preenchida ........................................................................ 54

Figura 12. Teatro Carochinha ............................................................................................................... 68

Figura 13. Máscaras de Carnaval .......................................................................................................... 68

Figura 14. Anjos de Natal ..................................................................................................................... 68

Figura 15. Teatro Capuchinho Vermelho ............................................................................................. 69

Figura 16. Jogo da Glória ...................................................................................................................... 69

Figura 17. Jogo dos números ................................................................................................................ 70

Figura 18. Teatro Capuchinho Vermelho ............................................................................................. 70

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VII

Figura 19. Jogo com bolas e lenço colorido .......................................................................................... 73

Figura 20. Canções e poemas ................................................................................................................ 76

Figura 21. Folha com algumas ferramentas da Formação para as educadoras ..................................... 81

Figura 22. Formação para as educadoras .............................................................................................. 82

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1

INTRODUÇÃO

O presente Relatório insere-se na temática da Intergeracionalidade. A escolha do local

de estágio resultou do interesse pessoal e profissional em estagiar numa instituição com

população com duas faixas etárias: as crianças e os idosos, concretamente num espaço

comum onde poderiam desenvolver-se atividades e reforçar a relação geracional valorizando

novas potencialidades aos Técnicos de Educação e Formação, um campo de trabalho que

engloba diversos grupos etários, incluindo os mais velhos.

(…) A escolha do local para estagiar, dentro da grande variedade de instituições que

foram disponibilizadas com todo o tipo de público-alvo (crianças, jovens, adultos e idosos),

deveu-se à preferência e fácil contacto em lidar com crianças, por gostar de criar atividades e

de as aplicar com elas. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

O interesse por este tema da Intergeracionalidade, começou com um projeto para uma

Unidade Curricular de Envelhecimento Ativo durante o qual a estagiária realizou diversas

pesquisas. Nessa altura pareceu um desafio à estagiária conseguir implementar algo que ainda

não existia na instituição.

As questões orientadoras para a elaboração deste relatório centram-se:

1. O que um Técnico de Educação e Formação faz de diferente na instituição;

2. A importância do Técnico de Educação para a promoção da Intergeracionalidade, do

bem-estar das crianças e dos idosos.

Tal como se tem vindo a observar nas sociedades atuais, a população está cada vez

mais envelhecida e a promoção do seu bem-estar é uma preocupação atual. As estruturas

familiares por si também foram sofrendo alterações e a convivência das crianças com os

idosos pode ficar esquecida.

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2

A construção de um projeto de estágio que una gerações, pretenda dar estima aos

idosos, valorizando os seus conhecimentos e competências e transmita às crianças que ser

velho não significa estar débil e não ter energia é importante. Para isto é necessário que as

gerações mais novas tenham contacto com os idosos, para em primeiro lugar, absorverem a

sua sabedoria e em segundo alterarem os pensamentos e estereótipos negativos que lhes são

transmitidos. A estagiária considera que esta convivência ampliada às várias instituições,

junto com a criação de programas Intergeracionais poderá obter resultados positivos. Os

idosos alegram-se com as crianças, aceitam-nas e têm o sentimento de responsabilidade. As

crianças, sentem-se acarinhadas, pois têm alguém com tempo para elas, ocupando os tempos

livres de ambos.

Ao se elaborar este relatório espera-se que estas iniciativas comecem a ser

implementadas com mais frequência e que promovam o papel dos Técnicos de Educação no

processo.

Ao longo do relatório irão aparecer as siglas de C.A que se destinam a mencionar a

creche e jardim-de-infância e a de C.M que se refere ao lar residencial onde moram os idosos.

O presente Relatório encontra-se estruturado por dois capítulos.

No Capítulo I encontra-se o enquadramento teórico que será a base para se justificar o

Projeto. Começa-se com algumas ideias sobre a Infância, tendo continuidade para as famílias,

nesta linha de orientação aparecem os olhares sobre o Envelhecimento, a forma como as

relações geracionais podem ser incluídas. Por fim segue-se a clarificação do termo da

Intergeracionalidade com as visões de alguns autores e termina-se com os desafios

educacionais para esta temática da Intergeracionalidade.

Importa salientar que a ordem dos temas e das atividades que se seguem, encontram-

se consoante foram realizadas no local de Estágio.

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3

No Capítulo II, começa o Projeto de Estágio. Faz-se uma caracterização da instituição,

seguida pelo diagnóstico de necessidades, com os métodos de recolha de dados. Depois

apresenta-se a construção e desenvolvimento do Projeto que se divide em três componentes,

mediante as principais atividades implementadas.

Concretamente, a Componente de Apoio à Família que engloba os objetivos, as

atividades, os materiais desenvolvidos, a calendarização das atividades e a sua avaliação.

De seguida, vem a Componente área de atuação atividades Intergeracionais, com os

objetivos, as atividades, os materiais desenvolvidos, a calendarização das atividades e a sua

avaliação também.

Por último, aparece a Componente área de atuação Formação para as educadoras, com

os mesmos pontos das Componentes anteriores, os objetivos, as atividades, os materiais

desenvolvidos, a calendarização das atividades e a avaliação.

No final, aparece o Capítulo III com as reflexões sobre o trabalho realizado, um

momento fundamental para se descreverem os aspetos positivos e as limitações que foram

aparecendo ao longo deste caminho bem como as soluções que se foram implementando.

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4

CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1. Revisitando algumas ideias em torno da Infância

Na maior parte dos países ocidentais, o papel da criança na vida em sociedade nem

sempre foi como hoje o conhecemos. Até ao século XII as condições de saúde eram muito

precárias e o índice de mortalidade infantil bastante elevado. O facto de a criança não ter uma

identidade própria e só ter valor quando tinha capacidades de realizar atividades económicas

que competiam aos adultos originou que os adultos não tivessem reparado nesta faixa etária,

“(…) por exemplo, as crianças tinham muito menos poder do que atualmente têm em relação

aos adultos. Provavelmente ficavam mais expostas à violência dos mais velhos” (Ariés, 1973,

p. 3).

Quer isto dizer que, por serem mais pequenas estavam sujeitas à violência nas

fábricas, através de trabalhos que não se adequavam às suas idades e ainda eram vistas de

forma negativa por retirarem postos de trabalho aos mais velhos, por terem diferentes

capacidades que beneficiavam à entidade patronal.

A questão de género também era visível, pois dava-se muito mais importância ao

nascimento de rapazes sendo vistos como “pequenos homens” do que às raparigas, visto que

“procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que esta é, antes de ser homem”

(Rousseau, 1995, p. 6).

Já no século XIII, a criança era vista como uma página em branco, em que os adultos

teriam que inserir os conteúdos necessários para a preparação da vida adulta. As crianças que

se inseriam no seio destas famílias consideradas “antigas”, tinham o objetivo de conservar os

seus bens, a prática comum de um ofício no seu quotidiano para a sua subsistência e ainda a

proteção das suas vidas, embora a parte afetiva não estivesse incluída. Só a partir do século

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5

XV é que a infância passou a ter um valor diferente, “quando então se reconheceria que as

crianças precisavam de tratamento especial, “uma espécie de quarentena”, antes que

pudessem integrar o mundo dos adultos” (Heywood, 2004, p. 23).

Era necessário dar-se um tempo para o desenvolvimento de certas competências que

deu origem à escola, onde a criança já não era misturada com os restantes adultos e a

afetividade por parte dos cônjuges apareceu com a preocupação pelos estudos.

Rousseau (1995) propôs uma educação infantil sem juízes, sem prisões e sem

exércitos. A partir da Revolução Francesa em 1789, modificou-se a função do Estado e, com

isso, a responsabilidade para com a criança e o interesse por ela.

A família começou então a valorizar a criança e a dar-lhe um papel central, onde era

necessária, visto que “o envolvimento parental e dos educadores na educação da criança

representa um papel preponderante no desenvolvimento infantil, tornando-se as experiências

precoces, essenciais para o normal crescimento da criança.” (Pacheco, 2013, p. 11).

Na sociedade contemporânea é visível a separação das faixas etárias e das áreas que

cada uma delas pode ocupar, como por exemplo, as crianças para a creche, os adultos nos

escritórios e os idosos em lares, embora dentro de uma família todas estas gerações se

encontrem (Nascimento, 2008, p. 7).

Assim, “ a família ocupa, como célula-base da sociedade, um lugar imprescindível

para o futuro da humanidade, pois no seu seio se marca primordialmente o indelevelmente

cada criança e por isso o futuro do homem.” (Oliveira, 2002, p. 9).

A família é então um pilar de construção de qualquer indivíduo, pois grande parte das

ações vão ser influenciadas pelo meio onde se insere e pode ter ou não sucesso no seu

desenvolvimento social, emocional e intelectual através das suas experiências. Estas

experiências podem tornar a família como um local de proteção e de privacidade, onde

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6

existem relações de intimidade, reciprocidade e em que se tenta ao máximo satisfazer as

necessidades que a criança ou jovem possam vir a ter, como a questão da segurança, da

saúde, da socialização, da autonomia e dotá-las também de capacidades para conseguirem

saber viver em sociedade.

Como tal, a família é uma importante base da vida social, contudo cada estrutura

familiar desenvolve as suas interações e vivências de acordo com a cultura e sociedade em

que está inserida, este facto torna a família um sistema dinâmico, com características

pluridimensionais e multiculturais. Todo este caráter dinâmico faz com que o conceito de

família se transforme consoante as mudanças do meio em que a mesma está inserida,

provocando a criação de novas formas de famílias. (Alarcão & Relvas, 2002)

Portanto, o contexto sociocultural em que se vive pode realmente alterar o percurso de

uma criança para o lado positivo, mas também para o negativo e levá-la a ter comportamentos

de risco que a prejudiquem a ela e aos outros, como é o caso do Bullying que tem

consequências como a baixa autoestima, distúrbios de atenção e aprendizagem, o desespero e

a perda de interesse nas atividades favoritas, a falta de energia e insatisfação com a vida, a

depressão, a comunicação pobre e a incapacidade para se relacionar com os outros. (Musitu,

Estevez, Jiménez & Veiga, 2011) Tal como indica Goldenberg (1980), existem diferentes

tipos de famílias de acordo com os fatores mencionados acima e que serão representados no

Quadro 1.

O autor refere que no decorrer do ciclo vital é possível observar uma sequência de

estádios, marcados por transições ou mudanças que são provocadas pelas necessidades

biológicas, sociais e psicológicas dos membros da família, tais como o nascimento do

primeiro filho, a saída dos filhos de casa, a reforma e até algumas mudanças no próprio casal

com as alterações que vão aparecendo decorrentes das vivências realizadas.

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7

Neste mesmo ciclo, a passagem de um estádio para outro irá ocorrer quando aparecem

transformações na composição da família e que todas as mudanças efetuadas terão um

impacto no funcionamento do dia-a-dia.

A observação do Quadro 1 revela a sua importância, pela forma como se consegue

enquadrar o estilo de famílias que hoje existem. Como a escolha da instituição para o local de

Estágio se centra na criança e na sua aprendizagem, na família e no idoso, este cruzamento de

Tipo de Famílias Características

Famílias Nucleares Esposo, esposa e filhos;

Família Extensa A família nuclear mais avós, tios, e outros

familiares;

Família Recasada Esposo, esposa e filhos de casamentos

anteriores;

Família de Facto Um homem e uma mulher e possíveis filhos

sem casamento formal;

Família de Monoparental Lar com apenas um dos pais - homem ou

mulher;

Família Comunitária Homens, mulheres e filhos que vivem juntos,

partilhando direitos e responsabilidades;

Família em Série

Homem ou mulher com uma sucessão de

casamentos, com vários cônjuges ao longo

da sua vida, mas com uma família nuclear de

cada vez;

Família Composta

Uma forma de casamento polígamo em que

duas ou mais famílias nucleares partilham o

mesmo marido ou esposa embora, a primeira

forma seja a mais comum;

Família em Coabitação

Um relacionamento mais ou menos

permanente entre duas pessoas não casadas

do sexo oposto;

Famílias Homoparentais Casamento ou união de facto entre pessoas

do mesmo sexo.

Quadro 1. Tipos de família (adaptado de Goldenberg, 1980)

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dados é essencial. Concretamente, o bem-estar da criança passa, não só pela prática de

atividades dinâmicas dentro da creche (1-3 anos) ou jardim-de-infância (3-5/6 anos), como

por toda uma estrutura familiar e um suporte que lhe permita desenvolver as suas capacidades

num ambiente descontraído e de confiança.

Pacheco em 2013, aponta que a infância pode ser considerada como uma fase de

dependência. Neste período é fundamental que o ser humano absorva a cultura e as

aprendizagens que cada geração transmite, se possa desenvolver nas diferentes áreas que

compõem a evolução do indivíduo enquanto pessoa, nomeadamente a nível físico, motor,

cognitivo e social, para mais tarde se tornar num ser mais completo.

Tal como Pais (2013) refere, é habitual pensarmos na família como um lugar onde

naturalmente se nasce, se cresce e onde se morre, ainda que, nesse longo percurso, se possa ir

tendo mais do que uma família.

Com as diversidades da sociedade, a estrutura das famílias também vai sofrendo

alterações, visto que,

A família de hoje não é a mesma de ontem, pois se pensarmos as famílias de

antigamente desempenhavam papéis mais rígidos, mais demarcados, mais estáveis e

definidos, com um maior grau de hierarquização, enquanto a família de hoje é mais

dinâmica e flexível, com uma hierarquia menor e papéis que mudam com mais

facilidade, aspetos que influenciam na prestação de cuidados dos seus idosos.

(Zimerman, 2000, p. 49)

De facto a criança não tinha identidade, nem lhe era reconhecida a importância que

tem nos dias de hoje. Com o evoluir dos estudos e do pensamento das pessoas, as crianças

precisam de atravessar um conjunto de “etapas” para crescerem de forma saudável. Os

educadores e Técnicos educacionais, colocam-nas no centro das atenções, ao terem de

planificar atividades e fortalecer as suas aprendizagens, respeitando o ritmo de cada uma e a

exploração de forma autónoma do que as rodeia.

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9

Por isso, a família vai sofrendo alterações à medida que os seus membros vão

crescendo. Para uma criança, a sua família resume-se ao pai e à mãe; para um adolescente,

juntam-se os irmãos, os tios, os primos e os avós e o mesmo vai acontecendo quando se é

adulto. Mas quando se envelhece, já muitos dos papéis estão invertidos e a família para um

idoso baseia-se nos filhos, nos netos e bisnetos se houver. Pode aparecer o sentimento de

dependência, e neste caso, o papel da família é proporcionar conforto à pessoa mais velha e

integrá-la no seu quotidiano. (Zimerman, 2000)

“Para muitas pessoas, quando se fala em velho a imagem que vem à mente é a de um

sapato gasto, furado e que, portanto, já não serve para mais nada” (Zimerman, 2000, p. 28)

De acordo com Monteiro (2012), as relações familiares ainda são consideradas como

um apoio e uma proteção para qualquer idade e fase de desenvolvimento, quer seja criança,

adulto ou até mesmo idoso.

“Envelhecer é simplesmente passar uma nova etapa de vida, que deve ser vivida da

maneira mais positiva, saudável e feliz.” (Zimerman, 2000, p. 28)

1.2. Olhares sobre o Envelhecimento

O acentuado envelhecimento demográfico da população portuguesa juntamente com a

baixa natalidade, que se verifica ao longo dos últimos anos, tem contribuído para que a

velhice e o conceito de envelhecimento assumam uma maior importância na nossa sociedade

atual. “Importa salientar que, devido aos avanços dos cuidados de saúde e da melhoria da

qualidade de vida das populações, a esperança média de vida tem vindo a aumentar,

contribuindo assim para um aumento significativo do número de idosos.” (Duarte, 2009, p.

10)

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10

De acordo com Lima (2010), o envelhecimento diz respeito a um processo que ocorre

ao longo da nossa vida, desde a conceção até à morte; enquanto a velhice é uma fase da vida,

designando-se por idoso o indivíduo que se encontra neste período da vida.

Relativamente aos idosos, o seu envelhecimento ocorre num contexto que envolve

outras pessoas (amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família). “A criança de

ontem é o adulto de hoje e o avô ou avó de amanhã.” (OMS, 2005, p. 13)

A imagem do idoso na sociedade tem vindo, assim, a sofrer profundas alterações. Se

antes o idoso era visto com respeito e o seu papel na sociedade era determinante no

aconselhamento e decisão sobre matérias importantes, tal como ainda acontece noutras

sociedades com culturas diferentes, hoje em dia em Portugal, numa sociedade onde a

produtividade e a atividade profissional são mais valorizadas; o envelhecimento é visto

exclusivamente como um conjunto de perdas de capacidades, pois o idoso é tido como um

fardo. (Duarte, 2009)

A origem dos estereótipos sobre o envelhecimento e a terceira idade reside,

essencialmente, na falta de informação sobre o que é a velhice e na tendência predominante

de atribuir quase sempre aos idosos papéis passivos, marcados pela dependência e pelo

assistencialismo. (Freitas, 2011)

Um conceito frequente dentro da temática do envelhecimento é o idadismo, que se

traduz nas atitudes negativas face às pessoas devido à sua idade. Este tipo de crença com

grande impacto em várias esferas da vida quotidiana, aplica-se na forma como as pessoas

olham para os idosos, cheias de estereótipos, como também para a ideia pré-concebida que

estes séniores possam ter das pessoas mais novas que os acompanham e planeiam as suas

atividades, aliado de um certo sentimento de desvalorização pela pouca idade que possuem.

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“O idadismo tem por base um tipo de raciocínio pré-operatório com o qual se calcula

o valor ou o merecimento de um indivíduo com base apenas numa caraterística, a idade.”

(Ferreira, 2007 citado em Oliveira, 2012, p. 89)

Toda esta situação e a difícil adaptação, leva ao isolamento das pessoas mais velhas

na sociedade, juntamente com a alteração na estrutura familiar, a redefinição de funções e

valores da família, pois as relações afetivas foram substituídas pelas instrumentais:

A cessação da actividade profissional, a ausência de familiares, inclusive do

próprio cônjuge, a perda ou diminuição das relações sociais, conduzem as pessoas

idosas ao isolamento social, alimentam sentimentos de solidão, pessimismo, tédio,

passividade e frustração induzidos pelo «não fazer nada», pelo «não se sentirem

úteis», provocando a exclusão e marginalização social. (Osório & Pinto, 2007, p. 4)

“O conceito de velhice não é homogéneo, pelo facto de cada pessoa envelhecer

individualmente e consoante o estilo de vida que desfrutou.” (Pereira, 2011, p. 12)

Atualmente, as pessoas vivem mais e têm melhores condições de saúde, em média, podendo

assim manter uma atividade profissional por mais tempo. A vantagem de se manter ativo

consiste em integrar-se melhor na sociedade, adiando a diminuição dos contactos sociais e

institucionais provocados pela situação de reforma. (Cabral & Ferreira, 2014)

Para Cabral e Ferreira, (2014), o envelhecimento é, em princípio, um fenómeno

positivo, quer para os indivíduos, quer para as sociedades, testemunhando os progressos

realizados pela humanidade em termos económicos, sociais e biomédicos.

“O segredo está em viver cada uma das etapas com alegria, lucidez e sabedoria. Ao

longo destas etapas e à medida que as vamos vivendo, encontramos novos desafios,

estabilidade, maturidade, experiência e equilíbrio emocional.” (Monteiro, 2012, p. 11)

Resume-se tudo a uma questão de atitude e à maneira como cada pessoa encara a

etapa da vida em que se encontra. Se for de forma negativa irá apressar o processo de

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envelhecimento, pelo contrário, se for uma atitude saudável e positiva, as mudanças que vão

acontecendo serão mais fáceis.

O processo de envelhecimento é marcado tanto por mudanças físicas, que acontecem

a nível do corpo, como a nível psicológico e emocional. As rugas, os cabelos brancos, a

diminuição da visão, da audição, a redução da agilidade de locomoção, da força física nas

mãos e nas pernas são os aspetos biológicos mais visíveis. O idoso é capaz de satisfazer as

próprias necessidades e de resolver os seus próprios problemas, tendo alguma autonomia.

(Monteiro, 2012)

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o “Envelhecimento ativo é o processo de

otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar

a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.” (OMS, 2005)

É crucial nos dias de hoje consciencializar as pessoas para a importância do

envelhecimento ativo, e fazer com que percebam o seu potencial para o bem-estar físico,

social e mental ao longo da sua vida.

No início do séc. XX, surge a disciplina de geriatria como um ramo da medicina, que

depois se subdividiu para a gerontologia educativa que está relacionada com modelos e

programas de animação, estimulação, enriquecimento pessoal, formação e instrução a idosos.

Esta educação pode ser eficaz na alteração de atitudes, estereótipos e mitos ou preconceitos

negativos sobre a velhice, oferecendo assim uma imagem mais dinâmica desta etapa de vida.

Segundo a OMS (2005), o termo de envelhecimento saudável foi substituído por

envelhecimento ativo, enfatizando-se a otimização das oportunidades de saúde, participação e

segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam

mais velhas, sendo que defende que envelhecer não é apenas uma questão individual e sim

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um processo que deve ser facilitado pelas políticas públicas e pelo aumento das iniciativas

sociais e de saúde ao longo de toda a vida.

Posto isto, o objetivo do envelhecimento ativo é “aumentar a expectativa de uma vida

saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que

são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados”. (OMS, 2005, p. 13)

Tal como indica Cabral e Ferreira (2014), a nível internacional, este termo do

envelhecimento também é levado em consideração e são muitas as organizações que dão o

seu “olhar”/ perspetiva sobre o mesmo, tal como a Organização das Nações Unidas (ONU), a

Comissão Europeia (CE) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

(OCDE). Aconteceu em 2012 uma iniciativa, o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da

Solidariedade entre Gerações “que visa combater a discriminação com base na idade

(idadismo) e promover a sustentabilidade entre gerações, incentivando os países a

promoverem o envelhecimento ativo atuando no domínio do emprego, participação social e

autonomia.” (Veloso, 2015, p. 13)

Para a OCDE, o envelhecimento ativo é a capacidade das pessoas levarem uma vida

ativa e produtiva na sociedade, à medida que envelhecem. O envelhecimento ativo implica

uma flexibilização do modo como os indivíduos e as famílias repartem o seu tempo entre o

trabalho, a educação, o lazer e a prestação de cuidados (OCDE, 1998 citado em Veloso,

2015). Por sua vez, a CE entende o envelhecimento como “uma estratégia coerente visando

permitir um envelhecer saudável” (CE, 2002 citado em Cabral & Ferreira, 2014, p. 13).

De acordo com a OMS (2005) existem três pilares importantes para o envelhecimento

ativo, tal como apresenta a Figura 1: a saúde, a participação e a segurança.

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Figura 1. Os três pilares da estrutura política para o envelhecimento ativo

Adaptado: OMS, 2005, p. 45

No pilar da participação encontra-se o mercado de trabalho, o emprego, a educação, as

políticas sociais e de saúde e programas apoiam a participação integral de atividades

socioeconómicas, culturais e espirituais conforme os direitos humanos, os indivíduos

continuam a contribuir para a sociedade com atividades enquanto envelhecem. Na saúde, os

que precisam de assistência devem ter acesso a uma gama de serviços sociais e de saúde que

atendam às necessidades e direitos de homens e mulheres no processo. E por último a

segurança, quando as políticas e os programas abordam as necessidades e os direitos dos

idosos à segurança social, física e financeira ficam asseguradas a proteção, dignidade e

assistência aos mais velhos.

Em suma, o envelhecimento acentua os riscos da vulnerabilidade do estado de saúde;

do isolamento social e da solidão propriamente dita; da dependência não só física e mental,

como também económica; e, finalmente, aumenta o risco da estigmatização em relação aos

«velhos», seja a discriminação excludente ou o preconceito paternalista. (Cabral & Ferreira,

2014)

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1.3. Intergeracionalidade: Clarificação de um conceito

“As relações intergeracionais assumem ainda maior relevo quando se trata de prestar

apoio aos idosos, sendo a importância da família, neste período de vida, elevada.” (Pais,

2013, p. 32)

Apresenta-se agora o tema principal do Estágio, a Intergeracionalidade. O idoso tem

um papel extremamente importante na formação das gerações mais novas, papel este que

deve ser preservado, e as crianças têm um papel também ele importante na vida das gerações

mais velhas. A incidência nestas duas gerações torna-se relevante pelo facto de serem dois

mundos interligados, cada um no seu extremo na linha cronológica, mas que as etapas da vida

encontram-se semelhantes. Para além das necessidades emocionais e físicas já referidas, estas

gerações possuem tempo livre como nenhuma outra e o tipo de atividades que realizam

podem ser idênticas.

(…) é necessário potenciar as relações entre as gerações que se tornaram

bastante escassas, em virtude das mudanças sociais, como, por exemplo, as alterações

das estruturas familiares e da economia, o avanço tecnológico, as políticas e o

mercado de consumo direcionados a diferentes grupos etários, entre outras. (Villas-

Boas, 2015, p. 32)

De acordo com Teiga (2012), para se entender do que se trata a Intergeracionalidade,

tem que se definir também o conceito de geração e de relações sociais. O termo geração,

associa-se ao contexto histórico e sociológico, é mais amplo do que o conceito de idade, e

está estritamente associado a influências normativas, respeitantes à história. As diversas

idades não se relacionam apenas para a Intergeracionalidade, pois no seio de uma família

podemos encontrar e conviver com quatro gerações, teremos uma mãe, um filho, uma avó e

ou uma bisavó num lar ou centro de dia. Para o segundo conceito, as relações sociais

baseiam-se na partilha recíproca de ideias, pensamentos, visões e aprendizagens que levam a

novas conceções sociais acerca das pessoas e do mundo.

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Não se restringe apenas à relação entre velhos e crianças nem à família. Trata-

se de um diálogo solidário entre duas pessoas de gerações diferentes, dentro e fora do

seio familiar, que vivenciam sentimentos de pertinência, de significado e de status

social (Palacios, 2004 citado em Teiga, 2012, p. 28)

Para Hatton-Yeo (2009) existem várias definições e descrições de práticas

Intergeracionais, mas a maioria identifica-se com a definição internacional, que diz “As

práticas Intergeracionais procuram juntar pessoas com um propósito, através de atividades

que as beneficiem mutuamente e que promovam um melhor entendimento e respeito entre

gerações”. (Hatton-Yeo, 2009 citado em Monteiro, 2012, p.46)

“O Projeto cria a oportunidade e explora a capacidade dos professores, em conjunto,

refletirem sobre a escola, as suas funções, os seus problemas e as formas de os solucionar.”

(Braz, 2012, p. 2) Quer isto dizer, que os Projetos Intergeracionais que já vão aparecendo nos

lares em parceria com escolas/creches, têm como função alertar as pessoas (comunidade

educativa) para as necessidades de cada idoso, o seu estado e assim proporcionar de uma

forma mais dinâmica o contacto de faixas etárias diferenciadas e a troca de experiências de

vida. Portanto, reforça-se a importância do desenvolvimento de Projetos desta natureza, onde

se pensem estes assuntos e onde se desenvolvam práticas variadas, de modo a contribuir para

que os idosos e as crianças não sejam vistos apenas como um grupo etário ou uma geração

homogénea.

“ (...) as actividades intergeracionais podem, de certa forma, preencher um pouco do

vazio do quotidiano dos idosos, bem como contribuir para que estes não encarem o seu

processo de envelhecimento como um declínio.” (Duarte, 2009, p. 25)

Duarte em 2009, refere que o efeito de atividades Intergeracionais, entre crianças e

idosos institucionalizados, poderá trazer benefícios afetivos aos idosos, que muitas vezes

sofrem de depressão. Este contacto regular entre crianças e idosos é algo que poderá ser

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muito benéfico para ambas as gerações. Mais benéfico ainda quando se recorre à construção

de um plano de atividades específico para esse mesmo contacto regular, organizando o tempo

disponível para que seja rentabilizado, onde sejam criadas oportunidades para o

desenvolvimento de relações de empatia e respeito entre os participantes.

“Os programas intergeracionais devem ter em conta os ritmos e motivações dos idosos

e dos jovens, assim como a duração que não deve ultrapassar uma hora, caso contrário uma

boa experiência pode-se tornar numa má experiência.” (Félix, 2011, p. 26)

Ao se planificar atividades para esta população deve ter-se em conta as dificuldades

das duas gerações, com a condicionante de algumas doenças nos idosos como o Alzheimer e

Parkinson. Alguns exemplos de atividades que poderão ter sucesso são o contar histórias,

interpretação de pequenas peças de teatro, oficinas de trabalhos manuais, jogos tradicionais,

músicas e comemoração de épocas festivas. Esta interação entre as crianças e os idosos é

extremamente prazerosa e enriquecedora para ambos. Em algumas sociedades tradicionais, os

idosos assumem um papel fundamental em narrar a história da família, da comunidade,

servindo de referência às novas gerações. (Brandão et al. 2006, citado em Rodrigues, 2014)

“A transmissão de memórias e experiências permite que cada geração compreenda a

sua linguagem e a simbologia diminuindo os conflitos (…) ultrapassa as diferenças etárias, o

que está em causa são as discordâncias de atitudes, crenças, culturas e experiências.” (Teiga,

2012, p. 31)

Desta maneira, a promoção do contacto Intergeracional favorece o desenvolvimento e

valorização pessoal de todos os que usufruem dos serviços prestados, criando e promovendo

atividades que juntam crianças e idosos. Existem benefícios desta ligação, por parte do idoso

tende a aumentar a sua autoestima e autoconfiança, libertando um pouco as ideias pré-

definidas que as pessoas que são velhas não têm utilidade para a sociedade. As crianças

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podem ajudar, não só no convívio como também a melhorar a integração e socialização do

idoso. (Monteiro, 2012)

(…) Benefícios para as crianças e jovens: compreensão da história e da vida

como um processo e curso; atitudes mais positivas em relação a pessoas de idade e ao

processo de envelhecimento, maior cooperação, comunicação, tolerância,

preocupação e respeito pelas limitações dos outros, aprendizagem de coisas tão

variadas como artesanato, jogos tradicionais, história cultural, habilidade de artes

cénicas e de horticultura, entre outros. (Villas-Boas, 2015, p. 36)

É necessário atribuir sentido e importância aos nossos idosos, possibilitando que se

tornem parte da evolução dos que os rodeiam. As crianças com a sua energia, simplicidade,

simpatia e sinceridade acima de tudo, transmitem valores positivos aos mais velhos e

proporcionam-lhes motivação e bem-estar, sem que seja algo implícito. A implementação de

atividades Intergeracionais, pode tornar-se como uma alternativa para que estes dois grupos

etários se encontrem envolvidos e para as instituições encontrarem também uma harmonia.

Assim, “se queremos pessoas felizes temos de mudar os sistemas, as leis, as

instituições, os espaços de trabalho, de lazer e de aprendizagem no sentido de edificar uma

sociedade com um sentido mais forte de conexão e de Intergeracionalidade.” (Lima, 2010, p.

129)

1.4. Desafios Educacionais da Intergeracionalidade

O tema da Intergeracionalidade deve ser também incluído na área de educação uma

vez que existe um conjunto de contextos como a intervenção em instituições, os programas

que podem e devem ser criados consoante as necessidades do público-alvo e os benefícios

para estas duas gerações (crianças e idosos) que permitem compreender de forma mais clara a

importância desta temática e o papel dos Técnicos de Educação.

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No presente relatório, irá ser referida apenas a idade de pré-escolar para estes desafios

educacionais, atendendo ao local de estágio. No entanto outras idades de crianças ou jovens

também podem ser exploradas.

Tal como nos indica Vieira (2010), para se construir a relação educacional ao lado da

Intergeracionalidade, a modificação do ambiente educativo pode ser bastante útil para

melhorar a qualidade de interações entre crianças e idosos, isto porque, os participantes

também têm características que às vezes precisam ser tomadas em consideração no

desenvolvimento das atividades aplicadas.

O papel das instituições para transmitir uma imagem positiva aos grupos sociais do

que é ser velho, podem desde cedo na idade pré-escolar promover e reforçar o contacto

Intergeracional, pois as crianças desde pequenas convivem com o preconceito que lhes é

transmitido pela família e a ideia do mundo que a rodeia, vai tomando forma.

“Neste sentido, a educação Pré-escolar, como entidade responsável pela educação das

crianças e como fonte de recursos e materiais educativos, possui um papel pertinente na

transmissão e percepção de conceitos e imagens pelas crianças.” (Vieira, 2010, p. 36)

“Educação intergeracional é extremamente importante, sendo que, para se conseguir

mudar estereótipos, é preciso mudar as imagens proveniente nos livros escolares, introduzir

nas escolas atividades que integrem idosos e crianças/jovens e, se possível, a comunidade.”

(Rodrigues, 2014, p. 1)

Portanto, como se pode verificar, “os ambientes de educação infantil também têm um

papel importante na maneira como a criança cria as suas próprias imagens sobre o

envelhecimento, bem como sobre os idosos.” (Vieira, 2010, p. 36)

Dentro destas mesmas instituições, o papel que os Técnicos exercem deve basear-se

mais numa relação educativa e cultural que pessoal, numa partilha de competências,

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capacidades e experiências em que as pessoas são mais importantes que os métodos e

conteúdos culturais a transmitir, em que os profissionais ajudam a incorporar-se nos espaços

sociais da sua época.

O método através do qual o educador actua pedagogicamente (e.g. construção

do currículo baseado numa abordagem intergeracional) pode ser uma maneira de

definir a qualidade do apoio prestado à criança, melhorando as suas competências

sociais e permitindo-lhe lidar com um mundo em mudança. (Vieira, 2010, p. 38)

Um Técnico de Educação para conseguir reunir as condições necessárias de ambas as

partes “deve basear-se numa ampla rede social incluindo idosos, crianças, profissionais, pais,

organizações e serviços da comunidade - onde as relações sociais e emocionais entre os

participantes estão no centro da troca intergeracional.” (Vieira, 2010, p. 34)

A atitude da criança perante a velhice é influenciada pela convivência que esta tem

com pessoas mais velhas. Logo, crianças que convivam com os avós, vizinhos ou outras

pessoas idosas tendem a encarar o processo de envelhecimento como algo positivo. A

educação pode e deve intervir nestas diferentes áreas, a familiar, a escolar, a social e

possibilitar que este contacto Intergeracional se concretize de forma natural e espontânea, “a

socialização é um dos processos através do qual os conceitos sobre o envelhecimento são

percebidos pela criança durante o seu crescimento e desenvolvimento.” (Vieira, 2010, p. 35)

“(…) a educação intergeracional, constitui o veículo de transmissão de conhecimento

e sabedoria entre gerações, fortalece as redes sociais, tão necessárias para os adultos maiores

e, ainda o desenvolvimento da cidadania, do voluntariado e empreendorismo.” (Martins,

2015, p. 681)

Existem instituições que possuem diferentes faixas etárias no mesmo local, mas não

significa que pratiquem atividades Intergeracionais, para aproveitar a organização existente e

o potencial: “Ou seja, constata-se que a existência de dois grupos geracionais numa mesma

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instituição não significa, à partida, que ela se oriente pelos pressupostos da

intergeracionalidade e que promova uma relação entre as gerações.” (Vieira, 2010, p. 33)

O indicado será criar-se iniciativas para combinar diferentes grupos etários, de forma

a incorporar os Projetos Intergeracionais no que já existe, e não apenas como algo extra. Os

programas de educação gerontológica e/ou gerontagogia geram relações de convivência,

compensações sociais, cuidados do ser e o ‘estar com pessoas’ (melhoria dos contextos

culturais). A metodologia pedagógica com essas pessoas assenta nos princípios de atividade,

independência, protagonismo e participação de modo a aproximar-se às outras gerações.

(Martins, 2015)

Por isso, ao criarem-se e incentivarem-se programas para gerar comunidades de

aprendizagem Intergeracionais, devem ter como foco as necessidades dos participantes para

que possuam motivações para continuar a aprender; conhecer outras pessoas (relacionarem-

se); implicação em tarefas criativas e atividades estimulantes; necessidade de aprofundar

saberes ou temáticas que lhes interessa (ampliar horizontes); preencher algumas deficiências

formativas anteriores; ocupação do tempo de modo produtivo (participação comunitária);

desempenhar com mais competência certas ocupações (com ou sem remuneração); treinar a

parte físico-cognitiva e emocional para se manterem bem na sua idade; readaptarem-se às

novas situações da reforma; dar sentido e significado a este ciclo de vida (velhice); construir

processos que lhe permitam ir da dependência à independência. (Martins, 2015)

Todas estas sugestões de interação devem ter uma estrutura não formal dentro da área

educação, promovendo o contacto das gerações mais novas com as mais velhas, através de

atividades ao ar livre, por exemplo, onde de uma maneira geral se consiga contribuir para o

desenvolvimento pessoal de cada um, a sua satisfação e qualidade de vida.

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“Uma actividade intergeracional vai além da simples mistura de diferentes grupos

geracionais, pelo que se torna importante estar consciente da ideia de que não é suficiente

colocá-los em contacto.” (Vieira, 2010, p. 38)

Tal como este autor indica, para além de se ter os participantes e as estruturas, não é

suficiente se não houver planificação, estrutura e dinamização de atividades Intergeracionais

por Técnicos especializados, de forma a criar-se uma relação de convivência positiva e

desmistificar todos os entraves de ambas as gerações.

A revalorização da história e do tempo histórico vivido, a experiência e as

narrações dos adultos maiores são fundamentais para conseguir uns entrelaços

geracionais, projetar uma nova visão da velhice, fortalecer a pessoa como tal e

continuar a aprender a aprender. (Martins, 2015)

De acordo com Martins (2015), existem finalidades de educação como a realização

pessoal e o compromisso social, o desenvolvimento de competências sociais e individuais, a

troca de vivências e experiências num compromisso com as outras gerações. Toda esta

interatividade tem como objetivo uma maior participação, na recuperação da cultura e

tradições populares e memórias históricas que as nossas crianças muitas vezes já não têm

conhecimento. A recuperação destes saberes antigos e a viagem ao passado, proporciona aos

nossos idosos uma satisfação e acima de tudo um sentimento de “utilidade”, como se fosse a

sua missão ensinar os mais novos e ajudá-los a terem um futuro melhor que o deles.

Assim, programas educacionais voltados para o envelhecimento e para a participação

social dos idosos, promovem interação entre os mais jovens com os mais velhos,

contribuindo para uma melhor velhice no presente e no futuro (Andrade, 2002).

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CAPÍTULO II

PROJETO DE ESTÁGIO

Neste capítulo serão especificadas as informações relativas ao local de Estágio, às

práticas a serem realizadas e às condições necessárias para a implementação deste Projeto.

2.1. Caracterização da Instituição

A instituição onde o Estágio foi realizado C.A enquadra-se no Ensino Particular e

Cooperativo. É uma entidade que tem serviços dirigidos à Educação de Infância – C.A - e

também de acompanhamento e apoio à 3ª Idade – C.M.

Quanto ao meio social em que se insere, a estagiária dirigiu-se à C.A que é um Jardim-de-

Infância privado situado no Parque das Nações, ao qual foi a escolha para a realização do

Estágio do Mestrado. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

A instituição está situada perto de grandes eixos rodoviários, com grandes áreas

residenciais, serviços, equipamentos, infraestruturas urbanas, estacionamentos e zonas

verdes, de forma a se valorizar mais o rio Tejo. Possui então um espaço urbano de elevada

qualidade, onde o nível socioeconómico e cultural é médio-elevado. Existem ainda serviços

de apoio, como comércio, restauração, escolas, hospital, clínicas médicas, farmácias, entre

outros.

Este projeto nasceu de um forte interesse pela educação de infância, e tem

como objetivo privilegiar uma intervenção consciente, refletida e promotora de

autonomia, autoconfiança e autoestima das crianças. Assenta em estratégias

educativas diversificadas com a visão de que a criança é motor da sua própria

aprendizagem devendo o educador de infância observar, identificar, incentivar os seus

conhecimentos, interesses e motivações. (Projeto Educativo, 2016-2019, p. 14)

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A instituição iniciou o serviço à Comunidade do Parque das Nações em 2005,

contando já com doze anos de funcionamento. Tem serviço nas valências de Creche (dos 4

meses aos 2 anos) e Jardim de Infância (entre os 3 e os 6 anos), com lotação total para 199

crianças. A C.A funciona durante os 12 meses do ano, das 8h00 às 19h30.

Na valência da Creche existem o Berçário A e B e cinco salas organizadas de acordo

com as faixas etárias presentes. Uma copa de leites, uma instalação sanitária para as crianças,

duas despensas para arrumos, uma instalação sanitária para os adultos e cacifos individuais

para crianças/colaboradores.

A valência de Jardim de Infância é composta por quatro salas heterogéneas, duas

instalações sanitárias para crianças, um sanitário para crianças com deficiência motora, uma

despensa de arrumos e cacifos para crianças/colaboradores.

Nos espaços comuns existem o secretariado e os serviços administrativos, uma sala de

reuniões, um gabinete da direção, outro para a direção técnica, o de qualidade e o gabinete

médico, uma sala de isolamento/recobro, uma sala polivalente/ginásio, a sala de música, uma

sala de convívio para os funcionários, um espaço exterior, o refeitório/bar, a cozinha, a

lavandaria e 25 lugares de estacionamento no piso -1.

Na Figura.2 temos o organograma da instituição que tem de corpo docente uma

diretora técnica, seis educadoras para a valência de Creche, quatro educadoras para a valência

de Jardim de Infância e um professor de Educação Motora e Língua Inglesa. As restantes

aulas de Educação Artística que compõem as atividades de enriquecimento curricular e as

extracurriculares são dadas por professores externos (Ciência Divertida; Nutricientistas;

EcoKids; Prol- Cabeça com ideias; Ballet; Judo; Tic; Yoga para crianças; ZumbaKids e

Natação.)

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Figura 2. Organograma geral da instituição

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No corpo não-docente existem 16 Técnicas de Ação Educativa (auxiliares), quatro

administrativas, três colaboradores de higiene e limpeza, um médico e quatro enfermeiros

comuns à C.M.

(…) É importante referir que dentro daquela instituição, os profissionais que existem

são Educadores de Infância, Psicólogos, Professores de disciplinas específicas, existe desde

há pouco tempo uma Técnica de Educação Social que desempenha um papel diferente com as

crianças, junto das educadoras e que veio dar mais apoio às crianças com necessidades

educativas especiais que era uma parte que estava a faltar. Mas uma Licenciada em Ciências

da Educação e a terminar o Mestrado em Educação e Formação, foi uma área que nunca

receberam até à data. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

De acordo com a reunião inicial que foi feita no início de setembro de 2016 à diretora

técnica,

(…) A reunião começou com um conjunto de perguntas que a diretora tinha para

fazer, sobre os objetivos concretos do mestrado, as competências da estagiária, o local exato

onde deveria ser colocada a trabalhar para atingir as metas com sucesso. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

Quanto à organização das salas de Jardim de Infância que é onde incide a intervenção

do Estágio, encontram-se divididas por áreas (biblioteca, casinha, garagem, jogos de chão e

de mesa), para que as crianças possam estar divididas em cada uma delas a brincarem no que

mais gostam. Os desenhos estão sempre presentes, com lápis de cor e de cera à disposição,

bem como canetas de filtro para determinados trabalhos de contornos. Para além das folhas

brancas para os desenhos, ainda existem imagens e revistas para o recorte e colagem e os

musgamis de cores e brilhantes para serem colados.

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Após dois meses de observações,

(…) Houve uma preferência das meninas para irem para a casinha imaginando as suas

brincadeiras (…) na biblioteca onde imaginam que são professoras. Já os meninos pediram

logo para irem à garagem e para fazerem as suas construções nos legos.

[Nota de Campo, 27-09-2016]

Assim, o grupo das meninas é que adere mais aos recortes e colagens e a tudo o

contém brilhantes, onde se divertem a criar cenários de princesas, das suas famílias e a

elaborarem desenhos com as figuras geométricas que estão recortadas nos materiais. Já os

rapazes, gostam mais do espaço da garagem, dos legos e das construções que fazem,

baseando-se nos jogos que têm em casa.

As educadoras em cada sala fazem planificações semanais das suas atividades

entregando-as à direção, de acordo com os temas previamente estipulados. Para a realização

dos trabalhos manuais são necessários recursos materiais, como folhas, cartolinas, tintas,

pincéis, adereços, brilhantes, limpa-cachimbos coloridos, massa de modelar, barro, entre

outros.

(…) Surgiu a oportunidade de conversar com a educadora Matilde que explicou a

dinâmica da sala e da instituição, onde cada educadora, tem que planificar atividades

semanais para serem aprovadas pela direção e que nesta altura a sua sala estava a trabalhar o

“Eu” por haver pessoas novas dentro do grupo. Para Outubro, irão trabalhar o outono, o que

acontece na estação do ano, os frutos que aparecem, o São Martinho (convívio com a

família), as vindimas com uma pequena demonstração na sala, as abóboras, depois vem a

época do natal que é para se preparar a festa e em Janeiro irão falar sobre a cidade de Lisboa.

(…)

[Nota de Campo, 19-09-2016]

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A partir do documento do Projeto Educativo facultado pela diretora técnica, a valência

da C.M do lar residencial, teve início em 1977 pela antiga gerência que era uma cooperativa

de habitação e construção.

A C.M é também uma instituição privada com fins lucrativos e a sua principal missão

é dar resposta à população sénior, promovendo a prestação de cuidados individualizados indo

ao encontro das necessidades e expetativas dos residentes, proporcionando uma melhoria na

qualidade de vida, inovação e humanização dos serviços, pois “(…) presta serviços

permanentes e adequados à problemática do residente, contribuindo para a estabilização ou

retardamento do processo de envelhecimento.” (site da instituição)

Esta residência tem uma arquitetura moderna e adaptada às necessidades dos

destinatários, num único piso com 1300 m2, sem escadas. Dispõe de três salas, (…) a

estagiária foi conhecer com a diretora técnica (Marta) o lado dos idosos que é um lar

residencial com 31 idosos, junto da diretora Maria. Foram-lhe mostradas as instalações, onde

possuem uma sala de refeições, uma sala de estar e outra sala de atividades, dezasseis quartos

(individuais, duplos e de casal). (…)

[Nota de Campo, 20-09-2016]

Cada quarto possui televisão, ar condicionado, camas com grades de proteção e

colchões adaptados à geriatria, estores elétricos, telefone fixo e casa de banho privativa; duas

casas de banho sociais para os residentes e outra para os funcionários; gabinete de

enfermagem e médico; um escritório para a diretora técnica; uma cozinha e lavandaria e um

jardim e portaria 24 horas.

O lar acolhe pessoas a partir dos 65 anos dependentes, semi-independentes e independentes,

de ambos os sexos. Atualmente encontram-se 31 residentes ao todo do sexo feminino e

masculino que (…) sofrem de demências, Alzheimer e fronto-temporal , portanto, para

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algumas delas, existem certas perguntas que não conseguem responder (por serem memórias

mais recentes). (…)

[Nota de Campo, 21-09-2016]

Tal como é apresentada na Figura.2, existe uma diretora técnica, uma médica que

presta serviços duas vezes por semana, três enfermeiros, uma nutricionista, um professor de

animação sociocultural, duas chefes de equipa, um cozinheiro, três ajudantes de cozinha,

dezassete agentes de geriatria, duas colaboradoras de limpeza e estagiários da área de

assistentes sociais e animadores socioculturais.

A C.M presta serviços de alojamento; cuidados médicos; higiene pessoal e banho

assistido; limpeza geral; alimentação personalizada e adequada; cabeleireiro, manicura e

pedicura; serviço completo de lavandaria; atividades ocupacionais; acompanhamento a

consultas externas; serviço de cofre e fisioterapia. São realizadas atividades de animação e

ocupação como por exemplo, comemoração de datas festivas, tardes de cinema, pintura e

trabalhos manuais para os que conseguem realizar, ateliers de culinária, passeios ao exterior,

idas ao teatro e visitas a museus. (site da instituição)

Os recursos materiais necessários incluem cadeiras de rodas, cadeiras de rodas de

banho e andarilhos fornecidos pelos familiares dos utentes. Para a sala de estar, existem

cadeiras, uma mesa, um quadro, canetas, um retroprojetor, um DVD, uma televisão e um

sofá.

Assim, de uma maneira geral, os residentes e os seus familiares encontram-se

satisfeitos com os serviços prestados, salientando à estagiária a vantagem de se realizarem

visitas a qualquer hora.

(…) Disseram à estagiária que o lar é um local agradável, onde são bem tratadas e as

senhoras que tratam delas são simpáticas. (…)

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[Nota de Campo, 21-09-2016]

2.2. Diagnóstico de necessidades

“Um projeto pode ser considerado como uma atividade temporária a fim de se obter

um determinado resultado, como um produto ou um serviço, realizado por pessoas e com

recursos limitados.” (Ferreira, 2013, p. 16)

O Projeto Educativo de uma instituição é o documento base para toda a comunidade

educativa se orientar. Tem uma dimensão temporal e é um processo contínuo que vai

evoluindo e que necessita de constante atualização. As instituições seguem os documentos

lançados pela Direção Geral de Educação divididos por grupos etários. No presente caso

serão as Orientações para a Educação Pré-escolar.

As Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (OCEPE, 2016) que

serviram de suporte para a construção do Projeto Educativo do local de Estágio, baseiam-se

em quatro pontos. Nomeadamente:

Desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociáveis;

Criança como sujeito central e ativo do processo educativo;

Deve dar resposta a todas as crianças;

Construção articulada do saber. (p. 9-11)

O documento do Projeto Educativo da instituição (2016-2019), “No Caminho da

Autonomia…”- Formação Pessoal e Social, indica-nos que cada estabelecimento tem os seus

recursos materiais e humanos e cada criança tem as suas características próprias. Quando se

cria um determinado estabelecimento, existe uma razão específica, todo um funcionamento e

é necessário refletir sobre os procedimentos utilizados, com vista sempre a uma melhoria. No

caso do Projeto Educativo de modo geral, tem de ser global, estar de acordo com as

Orientações Curriculares do Pré-escolar e motivar os diferentes intervenientes que são os

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educadores, os pais, os membros da comunidade e claro as próprias crianças. Este Projeto

requer que se tenha um processo interativo, uma dinâmica própria, de forma a orientar o bom

funcionamento da escola e a sua auto-organização.

O papel dos educadores neste percurso é importante e ajuda ao bom desempenho de

um Projeto Educativo, visto que,

A ação profissional do/a educador/a caracteriza-se por uma intencionalidade,

que implica uma reflexão sobre as finalidades e sentidos das suas práticas

pedagógicas, os modos como organiza a sua ação e a adequa às necessidades das

crianças. Esta reflexão assenta num ciclo interativo - observar, planear, agir, avaliar -

apoiado em diferentes formas de registo e de documentação, que permitem ao/à

educador/a tomar decisões sobre a prática e adequá-la às características de cada

criança, do grupo e do contexto social em que trabalha. (OCEPE, 2016, p. 5)

Como se pode observar, a criança tem um papel preponderante para o

desenvolvimento e planificação de atividades na instituição, tendo como visão, “Crescer

continuamente e ser reconhecido pelas crianças, pais e encarregados de educação como uma

das mais reputadas e credíveis Creches e Jardim de Infância” e de missão, “Prestar um

serviço baseado em modernas metodologias pedagógicas com o objetivo de privilegiar uma

intervenção promotora da autonomia, autoconfiança e autoestima das crianças.” (Projeto

Educativo, 2016-2019, p. 13)

A C.A assume ser uma unidade educativa que privilegia uma educação global que

pretende promover a capacidade de observação, o sentido crítico, a transformação, a

exploração e vivência de emoções para motivar o desenvolvimento da criatividade das

crianças.

(…) Neste sentido, a qualidade da vida imaginativa da criança carece de um

ambiente favorável ao “faz-de-conta”, em que ela expressa e comunica a forma como

perceciona o mundo que a rodeia, aprende a identificar, a pôr hipóteses, a resolver as

questões com que se depara (…) (Projeto Educativo, 2016-2019, p. 4)

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Portanto, para se elaborar o Projeto Educativo, no contexto da infância e colocando a

criança como centro das preocupações, o Projeto na C.A pretende:

Dar resposta às necessidades biopsicossociais da criança;

Promover o desenvolvimento integral da criança numa perspetiva de educação para a

cidadania;

Fomentar e favorecer uma progressiva consciência da criança como membro da

sociedade;

Valorizar e implementar a autonomia da criança.

Assim, através das informações que se podem encontrar no Projeto Educativo

(contextualização social, local e económica) e informação da organização, permite-nos

entender o contexto em que a instituição se insere, o tipo de público a que se dirige, as suas

possibilidades, a estrutura e orgânica e a forma como utilizam todas estas informações e as

conseguem aplicar e adequar ao que é realmente necessário. A questão das diferentes

gerações e o contacto que se pode proporcionar com as mesmas, bem como, o nível

socioeconómico elevado que permite a existência de outro tipo de experiências e recursos são

alguns indicadores que permitem entender melhor o porquê de algumas ideias no Projeto,

nomeadamente as visitas de estudo, as atividades e os materiais educativos que são utilizados

e o contacto Intergeracional que irá ser desenvolvimento mais à frente.

(…) A presença de diferentes gerações privilegia a importância dada ao

atendimento das necessidades específicas. É também nossa convicção de que a

promoção do contacto inter- geracional favorece o desenvolvimento e valorização

pessoal de todos os que usufruem dos serviços prestados (…) (Projeto Educativo,

2016-2019, p. 6)

Relativamente às metodologias utilizadas na instituição que acolheu o presente

Estágio, importa referir que têm um modelo pedagógico alternativo, para que “Todos os

alunos alcancem o sucesso e realizem plenamente as suas potencialidades, respeitando-se os

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seus diferentes ritmos, capacidades e estilos de aprendizagem.” (Projeto Educativo, 2016-

2019, p. 19)

(…) A educadora gosta de dar autonomia e acompanhar o ritmo de cada criança, portanto

quando começam uma atividade destas no início da semana, por vezes, tende a estender-se

pela semana toda, pois na sala ainda existem crianças mais novas que dormem a sesta (…)

[Nota de Campo, 26-09-2016]

Os modelos curriculares são os seguintes:

Metodologia High Scope (aprendizagem pela ação e vivência de experiências chave);

Pedagogia de Projeto (onde se identificam os problemas e se tentam resolver);

Movimento Escola Moderna (envolvimento da criança no processo educativo);

Temas de Vida (insere-se no Modelo pedagógico com um currículo eclético).

Segundo Capucha (2008), o resultado do trabalho de produção de um diagnóstico

pode variar muito em função do conhecimento que previamente se dispõe sobre as situações,

da complexidade das mesmas, das dimensões selecionadas para análise e das técnicas de

pesquisa. Para se identificar os problemas pressupõe um bom diagnóstico, os recursos que

estão disponíveis, os fatores que serão determinantes no contexto e ter um bom sistema de

avaliação.

Concretamente, no presente Estágio que este Relatório procura revelar foi realizado

um levantamento de necessidades a partir das conversas informais, dos documentos

consultados e das planificações que se encontram no dossiê das atividades da instituição, as

planificações de sala das educadoras tendem a ser de acordo com os grandes temas que são

mencionados nas OCEPE (2016) e posteriormente transportados para o Projeto. A escolha da

área da formação pessoal e social foi motivada por ser,

considerada como área transversal pois embora tendo conteúdos próprios, se

insere em todo o trabalho educativo realizado no jardim de infância. Esta área incide

no desenvolvimento de atitudes, disposições e valores, que permitam às crianças

continuar a aprender com sucesso e a tornarem-se cidadãos autónomos, conscientes e

solidários. (OCEPE, 2016, p. 6)

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Na reunião inicial com a diretora técnica a 1 de setembro de 2016, a estagiária propôs

para a sua intervenção o seguinte:

(…) ajudar na Coordenação Pedagógica através da construção de recursos educativos (TIC)

para incluir no novo Projeto Educativo; perceber como se cria um Projeto; ajudar na

dinamização de planos de atividades; colaborar com as equipas de conceção e dinamização

de atividades; perceber como o Projeto é recebido pelos pais (toda a participação envolvida e

entender o que está em ação) e trabalhar a temática da Intergeracionalidade, aproveitando a

estrutura da instituição (crianças e idosos no mesmo edifício). (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

Após o debate destas sugestões, chegou-se à conclusão que:

(…) o foco inicial da estagiária quanto ao Projeto Educativo, não estava a ser o mais

apropriado, dado a falta de formação na área de Educação Infantil como educadora em que

este mesmo Projeto se baseia com os principais pilares, teorias e técnicas. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

No decorrer de setembro até novembro de 2016 foram feitas observações diariamente e

aconteceram conversas informais com as educadoras, as auxiliares, a representante legal e a

Direção Pedagógica, o que permitiu identificar três áreas concretas onde poderia haver uma

intervenção, através do estágio:

1. Componente de Apoio à Família ou Atividades Socioeducativas

2. Intergeracionalidade

3. Formação para as educadoras em Tecnologias

A Componente de Apoio à Família terá continuidade na instituição, com a

planificação de atividades por temas, para se trabalhar a componente social com as crianças e

ajudá-las a crescer.

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Tal como foi transmitido à estagiária que por ser (…) a primeira planificação da estagiária

destas atividades da Componente de Apoio à Família, a diretora técnica Marta disse-lhe que a

iria auxiliar nesta tarefa, até para que entendesse melhor os moldes em que era feita, como

por exemplo, cada mês trabalha-se um tema específico e as atividades devem ir ao encontro

desse tema. (…)

[Nota de Campo, 28-09-2016]

Na Intergeracionalidade, vai recorrer-se à infraestrutura da C.A e da C.M e

proporcionar atividades de convívio e verdadeira interação com estes dois grupos etários

bastante distintos, para que se conheça estes dois mundos.

(…) Mas como uma só vertente para esta intervenção não bastava, pela duração de

meses que o Estágio irá ter, a estagiária sugeriu fazer-se a ligação das crianças na C.A, com

os idosos da C.M, que se encontram todos dentro do mesmo edifício. (…)

[Nota de Campo, 01-09-2016]

E por último, para as tecnologias irá ser planificada uma oficina de Formação para

oferecer às educadoras diferentes ferramentas e materiais para serem utilizados em sala, visto

que existe resistência nesta área, atendendo à reunião inicial e às observações.

(…) Quando a estagiária colocou esta questão, percebeu-se que houve uma pequena

resistência em inserir as tecnologias nas atividades de enriquecimento, possivelmente, pela

estruturação das atividades e os moldes em que se baseiam, podendo causar algum

desconforto aos funcionários, pois a justificação que foi dada pela diretora técnica, era que as

educadoras queriam ensinar as crianças a brincar e afastá-las um pouco do mundo das

tecnologias onde nas suas casas não faltava. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

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(…) Perante este desafio, a estagiária pensou em atuar com as educadoras oferecendo-

lhes ferramentas, como por exemplo, recursos educativos digitais para posteriormente

utilizarem nas suas salas e fazerem elas próprias uma devida exploração autónoma. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

Assim, um projeto educativo é um,

Instrumento global de gestão e orientação pedagógica da organização educativa que,

tendo em conta o seu contexto e situação, prevê os modos de melhorar o seu

funcionamento e eficácia, promovendo a aprendizagem de todos os alunos, apoiando

o desenvolvimento profissional de docentes e não docentes, respondendo às

características da comunidade. (OCEPE, 2016, p. 109)

2.2.1. Uma proposta de atividades

O levantamento de necessidades junto da instituição realizado através de conversas

informais, notas de campo e observações revelou:

a) Planificação da Componente de Apoio à Família para ajudar as auxiliares no final de

cada dia.

(…) A estagiária reuniu-se com a diretora técnica Marta para combinarem a

planificação das atividades socioeducativas para o mês de outubro (…)

[Nota de Campo, 27-09-2016]

b) Fragilidades das educadoras na utilização da tecnologia e dos diversos recursos

educativos digitais (RED) disponíveis para preparem conteúdos e como as implementar com

as crianças.

(…) Mais tarde, a estagiária teve oportunidade de ter uma conversa informal com a

educadora Matilde e perceber qual o uso que ela dava às tecnologias dentro da sua sala. A

informação que lhe foi transmitida foi que de tecnologias só utilizavam os Dvd´s e quanto a

aplicações não percebia muito bem. (…)

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[Nota de Campo, 04-10-2016]

c) Potencialidades da promoção de ações onde o relacionamento de dois grupos etários

presentes no mesmo edifício, a C.A e a C.M fosse valorizado por todos os que habitam o

espaço através da planificação de atividades Intergeracionais.

(…) Esta parte da ligação e participação destes dois grupos etários, foi algo a que a

estagiária explorou, pois não tinha muita informação disponibilizada. Ao qual a diretora

acabou por mencionar que não existe realmente elos de ligação substanciais entre estes dois

públicos.(…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

A problemática a abordar no estágio centra-se na Intergeracionalidade:

(…) a diretora técnica Marta falou das atividades do projeto Intergeracional da estagiária. A

diretora do colégio referiu ter curiosidade em ver como se desenrolavam.

[Observação, 22-09-2016]

a) As crenças idadistas, (des)construindo a ideia das crianças do que é ser velho e para

os idosos de que as crianças podem ser uma companhia;

b) A autonomia dos idosos e das crianças;

c) Aprendizagem ao longo da vida e as histórias de vida;

d) A tecnologia como geradora de comunicação e de aproximação entre gerações.

(…) A diretora gostou bastante desta proposta de criar atividades Intergeracionais, onde se irá

promover algumas competências e ver mais tarde resultados positivos. (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

Quadro 2. Planificação das atividades do Estágio

Atividades Objetivos Métodos

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Com

ponen

te

de

Apoio

à

Fam

ília

1) Atividades de

Apoio à Família

(datas previstas: meses

de outubro de 2016 a

maio de 2017)

Envolvimento dos pais

nas atividades; brincar

para ensinar

aprendizagens do

quotidiano

Preparação de

atividades informais

por temas

Ati

vid

ades

Inte

rger

acio

nai

s

2) Leitura e

reinterpretação de

contos infantis entre os

idosos e as crianças

(datas previstas: mês

de janeiro, fevereiro e

março)

Envolvimento de dois

grupos etários, sem

nenhuma se sentir

excluída do grupo e de

forma a desconstruir as

ideias pré-concebidas

do que é ser velho

(limitações) e criança

(muita energia);

desenvolver o gosto

pela leitura e estimular

a criatividade

Convidar os idosos

que conseguirem a

ler os contos às

crianças, mas

realizar alterações

nas histórias

originais e

colocarem-se a eles

próprios como

personagens e com

as suas próprias

fisionomias.

Realização de

pequenos teatros

3) Oficinas de

Histórias de Vida

(datas previstas: mês

de abril)

Valorização das

experiências de vida

dos idosos e

desenvolvimento da

capacidade oral, saber

prestar atenção, ouvir e

a noção da

temporalidade nas

crianças

Realizar algumas

sessões onde os

idosos se sintam

confiantes para

contarem as suas

vivências e

proporcionar às

crianças ao mesmo

tempo a noção de

que estão a dar-lhes

atenção e onde

podem participar de

forma ativa

4) Trocar desenhos ou

outros “trabalhos”

entre as duas gerações

(datas previstas: meses

de março e abril)

Dar liberdade de

pensamento e

imaginação e

conseguirem sentir que

estão a preparar algo

com carinho

Criar pequenos

espaços onde os

idosos e as crianças

possam elaborar

desenhos e realizar a

troca destes

pequenos presentes

entre ambos

5) Jogos com música e

danças das duas

gerações tendo em

conta as limitações de

ambas

(datas previstas: meses

Proporcionar um

convívio entre idosos e

crianças de forma a

gostarem da presença

uns dos outros e assim

ambos se sentirem úteis

Colocar uma música

e criar danças tendo

em conta as

condições físicas

dos participantes

para que ambos se

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de abril e maio) e ocupados. divirtam.

(e.g. Jogo do lençol

colorido) F

orm

ação

par

a as

educa

dora

s

6) Formação e

sensibilização às

educadoras sobre os

Recursos Educativos

Digitais

(data prevista: mês de

fevereiro)

Fornecer ferramentas

da tecnologia da

informação, para

utilizar em cada sala

com as crianças,

proporcionando

inovação e favorecendo

brincadeiras

Utilização de

algumas ferramentas

como o Pinterest e o

MovieMaker entre

outras para a criação

de narrativas

digitais,

visualização de

vídeos e jogos a

serem mais tarde

utilizados

2.3. Construção e Desenvolvimento do Projeto de Estágio

De seguida serão descritas as atividades que foram desenvolvidas na instituição

durante o Estágio e que se definem por três momentos: a Componente de Apoio à Família; a

Componente das atividades Intergeracionais e a Componente de Formação para as

educadoras. Será também efetuada uma avaliação destas práticas e de todo o percurso de

aprendizagem ao longo dos 9 meses de estágio.

2.3.1. Componente de Apoio à Família

As atividades da Componente de Apoio à Família (CAF) acontecem nos períodos

após as 25 horas letivas da educação pré-escolar e acompanham as entradas das crianças na

instituição, os almoços, os tempos depois das atividades pedagógicas planeadas pelas

educadoras de sala e os períodos de interrupções curriculares, oferecendo um apoio aos pais

que precisam que os filhos permaneçam mais tempo.

De cordo com o Ministério da Educação (2002), a CAF deve estar interligada ao

Projeto Educativo da instituição, ter em conta as situações familiares das crianças e manter o

diálogo com os familiares, salientando a importância destas mesmas atividades para o bem-

estar da criança, mantendo a qualidade de atendimento.

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(…) Mais que "compensar" o meio familiar, é importante esclarecer os pais sobre as

práticas desenvolvidas no jardim-de-infância, envolvê-los nas decisões da política

educativa da instituição, como meio de os interessar pelas práticas "escolares" e pelo

sucesso dos filhos. (Ministério da Educação, 2002, p. 40)

2.3.1.1. Objetivos

Os objetivos para a Componente de Apoio à Família de acordo com o Projeto

Educativo centram-se:

Contribuir para o sucesso das aprendizagens;

Apoiar as famílias e envolve-las nas atividades;

Ter um carácter informal em relação à estrutura do Jardim de Infância.

É importante salientar que se deve respeitar os ritmos dos participantes, os seus gostos e

os interesses para criar uma ligação positiva com o adulto que implemente a CAF tal como

acontece na instituição do local de Estágio.

(…) As crianças são agentes ativos que constroem o próprio conhecimento, transformando as

suas ideias em sequências lógicas e intuitivas. O educador pertence ao grupo, procurando ir

ao encontro dos interesses e necessidades de cada criança, proporcionando-lhes autonomia.

(…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

2.3.1.2. Atividades desenvolvidas

A Componente de Apoio à Família realiza-se todos os dias da semana, das 17:30-18h.

Através de algumas reuniões e conversas informais com a diretora técnica, deu para entender

os moldes em que estas atividades já funcionavam anteriormente.

(…) A estagiária foi informada das idades das crianças que estão nas quatro salas de Jardim

de Infância Heterogéneas (Heterogénea.A-3,4,5 anos; Heterogénea.B-2,3 anos;

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Heterogénea.C-2,3,4,5 anos e a Heterogénea.D-2,3,4 anos) para ser mais fácil adequar os

jogos e dinâmicas. (…)

[Nota de Campo, 28-09-2016]

Existem temas que são trabalhados todos os meses e que vão variando, consoante as

necessidades dos grupos em que vão ser inseridos.

(…) A estagiária teve uma conversa com a diretora técnica Marta onde lhe mostrou a sua

planificação das atividades de novembro (…) Foram apresentados alguns jogos como por

exemplo, um bicho; qualidades e manias; concurso de talentos; receita de autoestima;

escolhas positivas; descoberta de si mesmo; puzzle dos sentimentos entre outros. (…)

[Nota de Campo, 19-10-2016]

É dada relevância à parte social das crianças, para fornecer ferramentas que as ajudem

a integrar-se melhor na sociedade e perceberem as regras sociais.

(…) Foi importante conviver com as crianças e deixa-las conheceram a estagiária, criando

ligações para ser mais fácil realizar as atividades. (…)

[Nota de Campo, 17-10-2016]

Nalgumas situações a estagiária também teve dificuldade em interagir com as

crianças, por exemplo na seguinte situação:

(…) Como estava vento e frio no recreio todos tinham de vestir os casacos. Um dos meninos

fez uma birra, gritando e agitando-se. Este menino recusava-se a vestir o casaco mesmo com

a ajuda da auxiliar. Esta não o deixou ir para o recreio. A estagiária ficou a conversar com o

menino na sala para entender o porquê da situação. (…)

[Observação, 11-10-2016]

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Nestes casos foi importante perceber o ponto de vista da criança e estabelecer laços

afetivos com ela ouvindo-a e dando-lhe a possibilidade de explicar o porquê do seu

comportamento. Este episódio foi um dos muitos que possibilitou a estagiária estabelecer

laços relacionais com as crianças.

Nas atividades da Componente de Apoio à Família os temas que ficaram delineados

em reunião foram:

(…) Conhecimento de si e dos outros: Eu sou assim...por fora-características, valorização e

autoestima; eu sou assim...por dentro-sentimentos, valores; de onde vim-família e pessoas

importantes; escola/casa; diferenças culturais (…)

[Nota de Campo, 28-09-2016]

Estes mesmos temas vão ao encontro do Projeto Educativo da instituição e das

Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (DGE,2016):

Construção da identidade e da autoestima

Independência e autonomia

Consciência de si como aprendente

Convivência democrática e cidadania (p.38)

Depois da definição dos temas para as CAF, houve reuniões com as auxiliares para se

partilhar ideias e fornecer os materiais necessários.

(…) A estagiária teve uma conversa com a diretora técnica Marta para marcar a

planificação da componente de apoio à família e acertar todos os pormenores para quinta-

feira haver reunião com as auxiliares para se explicar a planificação do mês e tirar algumas

dúvidas. (…)

[Observação, 03-10-2016]

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(…) Houve reunião com a diretora técnica Marta, as auxiliares de Jardim de Infância e

a estagiária na sala de reuniões para explicar a planificação do mês de outubro das atividades

socioeducativas. No decorrer, duas auxiliares demonstraram alguma resistência, não

participando, possivelmente por ainda não terem contacto com este Projeto nos anos

anteriores (…) Para além disso, uma das auxiliares sugeriu atividades do corpo humano para

fazerem com as crianças mais velhas, tendo em conta a altura do dia, os participantes e toda a

logística necessária para o bom desempenho. (…)

[Nota de Campo, 13-10-2016]

A ideia é cada sala ter as suas dinâmicas e jogos e a estagiária estar presente e apoiar.

Quer isto dizer, as planificações de cada semana vão sendo adaptadas consoante as idades, o

tipo de grupo e o próprio feedback das auxiliares e das educadoras. Nos dias em que

acontecem as dinâmicas de grupo (atividades de grupo mais estruturadas), para além da

auxiliar na sala, também se encontra a estagiária para ajudar com as crianças.

Portanto, para se planificar estas atividades tinha que se ter em conta diferentes livros

para as histórias serem contadas e no final haver uma pequena reflexão; jogos relacionados

com as temáticas para o mês que eram destinadas; dinâmicas de grupo para estimular o

pensamento e motivar as crianças a darem a sua opinião e filmes para se consolidar o que se

trabalhava durante aquele mês. Existiam quatro salas heterogéneas com diferentes idades e

com o passar do tempo, foi necessário ajustes de acordo com o grupo que se trabalhava, a sua

evolução para as atividades propostas e o comportamento ao final do dia/ disposição.

(…) Por ser o final do dia, a sala da Heterogénea B, um grupo de crianças mais novas,

estavam saturados e a estagiária acalmou-os, mas não houve ambiente apropriado para a

realização da atividade, bem como as restantes da planificação da semana. Tem que se ter em

atenção consoante as diferenças de idade deste grupo, a organização de atividades em relação

às outras (…)

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[Nota de Campo, 20-10-2016]

Alguns exemplos de atividades planeadas foram jogos com músicas, sobre o corpo

humano, técnicas de relaxamento que obtiveram bons resultados ao final do dia, jogos para se

conhecerem uns aos outros, para proporcionar mais autoestima, confiança, trabalho em

equipa.

(…) Foi-lhes mostrado imagens do esqueleto humano para depois cada um desenhar dentro

do contorno do corpo da maneira que sabia. Os ossos foram colados com papel de revista e

dobrados para dar relevo. Ficou um trabalho original e conseguiram ser criativos. (…) A

estagiária percebeu que as crianças estavam interessadas pelo assunto. Algumas já sabiam

nomes de partes do corpo, possivelmente tiveram acesso a estas informações com os seus

familiares. O trabalho conjunto resultou.

[Nota de Campo, 18-10-2016]

Um tema importante trabalhado foi o das emoções, para os colocar a pensar como se

sentiam, criar situações menos agradáveis para ver como era a reação e ajudá-los a terem

ferramentas para as ultrapassar da melhor forma. Outro tema foi o da família, onde se

contruiu uma árvore genealógica e se fez o jogo da teia, para fortalecer os laços.

(…) No jogo “ Concurso de talentos”, a estagiária colocou uma música e juntou as crianças

em roda, onde explicou as instruções. Cada um fez a sua demonstração e no final

conversaram e decidiram em conjunto que todos os participantes mereciam ganhar e foram

criar cinco medalhas para cada um deles. (…)

[Nota de Campo, 09-11-2016]

(…) O jogo “ Escolhas positivas” foi realizado com cinco crianças. A estagiária juntou os

cartões com os nomes dos participantes num saco e cada um ficava com uma pessoa e tinha

de dizer duas coisas boas da pessoa. A estagiária percebeu que as crianças entenderam que

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era para todos se sentirem bem, no seguimento da atividade do dia anterior da autoestima

compreenderam o que estava a ser trabalhado e ficaram mais unidos como grupo. (…)

[Nota de Campo, 16-11-2016]

(…) A dinâmica de grupo “ Puzzle dos Sentimentos” foi feita com oito crianças. A estagiária

dividiu a folha em oito quadrados para cada criança fazer o seu desenho sobre um sentimento.

Estiveram todos a conversar e foi pedido às crianças para darem exemplos práticos de

sentimentos que já tiveram. Foi curioso que a maioria fez desenhos sobre alegria / felicidade.

(…)

[Nota de Campo, 29-11-2016]

Figura 3. Árvore Genealógica

Figura 4. Puzzle dos Sentimentos

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Figura 5. Jogo da Teia

Figura 6. Jogo do Contorno

2.3.1.3. Materiais desenvolvidos

Para a realização da Componente de Apoio à Família, foi necessário bastante pesquisa

em jogos, tendo em conta o nível etário, as limitações das crianças e do espaço disponível, o

tempo e os próprios materiais disponíveis pela instituição.

(…) Na reunião com a diretora técnica foi feita uma revisão dos materiais necessários de

acordo com as épocas comemorativas do Jardim de Infância, falou-se de jogos com as partes

do corpo, de se fazer pinturas faciais e do dia do pijama (21 Novembro), em que se irá

decorar o espaço e realizar atividades alusivas ao dia.(…)

[Nota de Campo, 28-09-2016]

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Foram disponibilizados pelas educadoras e pela diretora técnica livros e posters para

ajudar nas atividades. “Os pais são também uma fonte de informação sobre os materiais com

que as crianças gostam de brincar em casa.” (Ministério da Educação, 2002, p. 55)

(…) A forma de se marcar a diferença é encontrar materiais originais para serem explorados

pelas crianças e se “fugam” aos que estão habituadas por parte das educadoras. A estagiária

utilizou a criatividade e as potencialidades das pesquisas na internet para tornar as atividades

CAF mais apelativas para as auxiliares se encontrarem motivadas e as crianças divertirem-se

aprendendo.

[Nota de Campo, 10-10-2016]

Tal como se encontra nas notas de campo realizadas ao longo dos meses de estágio,

houve muita preparação nos primeiros meses em que se implementou as atividades, foram

períodos de adaptação, por parte das crianças e das auxiliares que executavam nas suas salas

o que constava na planificação. Deu-se privilégio à utilização dos materiais que já existiam

na instituição, mas que não eram utilizados, como tapetes de jogos (galo, macaca, arco), as

bolas, os materiais de corte e colagem (cartolinas, papéis coloridos, colas, tesouras,

brilhantes, lápis e tintas), todos de fácil utilização.

(…) Mais tarde, a estagiária teve uma conversa informal com a diretora técnica para

lhe mostrar o local onde guardavam as bolas, os arcos e os tapetes de jogos do galo e da

macaca e que poderiam ser incluídos nas planificações das atividades de CAF quando o

tempo melhorasse. (…)

[Nota de Campo, 14-11-2016]

Foram também criados brinquedos com materiais recicláveis como o puzzle dos

sentimentos e uma maquete do Parque das Nações, onde todas as salas deram o seu

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contributo e aproveitaram materiais como pacotes de leite, iogurtes e caixas de cereais ou

papas.

Figura 7. Maquete Parque das Nações

“São inúmeros os materiais possíveis, importa que a sua organização seja menos

estruturada que no espaço da sala destinada a tempo curricular.” (Ministério da Educação,

2002, p. 57)

Os locais onde se desenvolvem as atividades têm que ser adaptados aos diferentes

espaços, como por exemplo, dentro da sala ou no ginásio e no recreio.

(…) Reunião com a diretora técnica Marta para fornecer os documentos da planificação da

CAF e falar-se de tudo o que seria preciso para estas mesmas atividades, nomeadamente os

espaços em que iriam decorrer. Por exemplo, jogos em grupo em que seria necessário as

crianças correrem e estarem com bolas, seriam realizados no recreio, mas as atividades mais

pequenas, como contar histórias ou trabalhos manuais já poderiam ficar nas salas com as

mesas e cadeiras, para ficarem confortáveis. (…)

[Nota de Campo, 31-10-2016]

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2.3.1.4. Calendarização de Atividades

Para auxiliar o planeamento das atividades a diretora técnica forneceu à estagiária o

modelo da calendarização mensal das CAF para posteriormente ser preenchido pela

estagiária, o documento da Instrução de Trabalho (I.T) para cada uma das atividades a serem

implementadas e fichas de avaliação das atividades que serão mencionadas mais à frente. O

primeiro documento da planificação mensal encontra-se dividido pelas semanas do mês e os

dias da semana. Foram realizadas oito planificações ao longo do período de Estágio alterando

atividades e temas. A título de exemplo, às segundas costumava ser a leitura de uma história;

às terças a dinâmica de grupo; às quartas um jogo; às quintas brincadeiras livres e às sextas o

visionamento de um filme, mas a ordem ia alterando consoante as salas.

Quadro 3. Um exemplo da Planificação da Componente de Apoio à Família

Mês: Março Ano Letivo:2016/2017

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Técnica Superior de Educação: Andreia Roupeta Sala: Heterogénea A

Auxiliar Ação Educativa:

Segunda-feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira

Semana

__________________

_________________ Jogo “O meu país” Recorte / Colagem

Visionamento de um filme

Semana

Leitura de uma história sobre Multiculturalidade

“Branca de Neve e Negra de Carvão”

Dinâmica de grupo “França”

Jogo “Monumentos de França”

Modelagem / Desenho

Visionamento de um filme

Semana

Leitura de uma história sobre

Multiculturalidade “Oficina de corações”

Dinâmica de grupo “O que se come em

França?”

Jogo “Postal bandeira de França”

Desenho livre Visionamento de um

filme

4ª Semana

Leitura de uma história sobre

Multiculturalidade “Atlas das crianças”

Dinâmica de grupo ”Danças francesas”

Jogo ”Festas em França”

Jogos de construção Visionamento de um

filme

Semana

Leitura de uma história sobre

Multiculturalidade “As rãs que queriam um

Rei”

Dinâmica de grupo “ Diversidade no mundo, as suas

músicas”

Jogo “Painel da França”

Recortes

Visionamento de um filme

“Alice no país das maravilhas”

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Portanto, cada mês estava associado a um tema, sendo que em outubro era sobre o

corpo humano, onde as crianças fizeram um esqueleto e dançaram com o corpo; em

novembro era sobre a autoestima e a valorização de nós mesmos, com um concurso de

talentos e um jogo de qualidades e manias; em dezembro foram os sentimentos e as emoções;

em janeiro, a família e as pessoas importantes; em fevereiro foi sobre a casa de cada um e a

escola, para se situarem e distinguirem o que os rodeia; março foi a multiculturalidade, em

que cada sala teria de construir um cartaz com curiosidades do país de acordo com as

nacionalidades das crianças em sala (e.g. França, Portugal, China e Brasil); em abril e maio,

com a vinda do bom tempo, as atividades já foram mais dinâmicas e livres sem uma grande

estrutura, onde se apostou para jogos tradicionais, como o macaquinho do chinês, a linda

falua, o jogo do galo, entre outros.

Figura 9. Jogo da corda humana e jogo da apanhada

Figura 8. Cartaz do Brasil e Jogo do Galo

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Quanto ao documento da I.T, nome que a estagiária tentou alterar, pela conotação de

uma imposição, mas que se manteve, destinava-se à especificação de todos os passos e etapas

de cada atividade a ser desenvolvida. O objetivo era qualquer pessoa que lesse a atividade,

conseguir implementá-la junto com as crianças como forma de complemento do quadro das

atividades CAF mensais.

1. Objetivos e Âmbito

Descrição de atividades a desenvolver no âmbito da componente socioeducativa dirigida às

crianças das salas heterogéneas, grupo etário dos 3 aos 6 anos.

2. Responsabilidades

Inerentes às funções da Técnica Superior de Educação e Auxiliares de Ação Educativa.

3. Metodologias

3.1 Jogo “O meu país”

Perguntar às crianças qual é o nome do país onde vivemos.

Falar um pouco sobre Portugal, pequenas curiosidades.

Pedir para cada criança desenhar/pintar a bandeira de Portugal.

3.2 Dinâmica de grupo “Clubes de Futebol em Portugal” (Het.B)

O país que a sala Het.B irá trabalhar é o nosso, Portugal. De maneira a que consigam

identificar-se onde pertencem.

Explicar que existem alguns desportos e dar exemplos. Dentro do futebol, como é mais

conhecido, a auxiliar diz o nome de alguns clubes.

Pedir a cada criança para dizer qual é o seu clube, se por acaso tiver e souber e explicar.

3.3 Dinâmica de grupo “Danças na China/França/Portugal/Brasil”

Esta dinâmica é idêntica para as quatro Heterogéneas.

Cada sala trabalha um país diferente. Referir que existem meninos na sala daquele país

ou que os pais são de lá, para que consigam associar mais facilmente.

Figura 10. Um exemplo de Instrução de Trabalho (I.T) desenvolvido pela estagiária

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A auxiliar traz o nome e imagens de algumas danças tradicionais do país e explica

como funcionam.

No fim, podem exemplificar as danças aprendidas, apresentando vídeos.

3.4. Dinâmica de grupo “França/Portugal/China/Brasil”

Esta será das primeiras dinâmicas a ser realizada. Cada sala fala um pouco sobre

curiosidades do país que está a trabalhar. (ex: população, língua, hino).

De seguida, sentar as crianças à volta da mesa e com uma cartolina de cor clara, a

auxiliar desenha o contorno do seu país e as crianças pintam-no. Esta cartolina servirá

para as semanas seguintes para se colocarem as restantes curiosidades que

aprenderam.

2.3.1.5. Avaliação da Componente

Para se avaliar estas atividades, foi distribuído a todas as auxiliares fichas de

avaliação, onde tinham que colocar o nome da atividade, as crianças presentes e os seus

nomes, a avaliação de como correu, se gostaram ou não e alguma sugestão.

(…) Conversas com as auxiliares para saber como estão as atividades socioeducativas e pedir

para tirarem fotos e guardarem os registos do que é feito. (…)

[Nota de Campo, 10-01-2017]

(…) A estagiária teve o cuidado de ir falando no recreio informalmente com as auxiliares

para as orientar para as atividades da semana, de maneira a facilitar o trabalho (…)

[Nota de Campo, 19-10-2016]

Nos primeiros meses de setembro até dezembro de 2016, uma grande parte das

atividades da CAF não foram realizadas pelas auxiliares, justificando-se com os trabalhos

para terminar das épocas festivas e que não tinham tempo para tudo, logo o preenchimento

destas fichas não era feito.

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(…) Houve reunião de auxiliares com a diretora técnica Marta e a estagiária. Alertou-se para

fazerem mais atividades e as respetivas fichas de avaliação e a estagiária explicou

detalhadamente a planificação de fevereiro. (…)

[Nota de Campo, 26-01-2017]

Figura 11. Exemplo de Ficha de Avaliação preenchida

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Com o avançar do tempo e depois de reuniões com a direção e as funcionárias, passou

a ser pedido a entrega mensal destas avaliações, para serem sujeitas a comentários em

reunião.

(…) No final da tarde, a diretora técnica Marta pediu à estagiária para a substituir na

reunião de auxiliares junto com a diretora da instituição, onde teria que explicar a

planificação do mês de abril e referir que as atividades tinham que ser realizadas, para não

acontecer como no mês de março que não foram aplicadas. Este comentário gerou indignação

por parte da diretora que pediu explicações pelo acontecido (…)

[Nota de Campo, 30-03-2017]

Após o preenchimento das fichas de avaliação pelas auxiliares, a estagiária refletia

sobre os comentários e tomava decisões para as atividades seguintes.

(…) Conversa com as auxiliares e cada sala de Jardim de Infância para recolher as avaliações

das atividades da Componente de Apoio à Família, para posteriormente a estagiária as

analisar. (…)

[Nota de Campo, 29-11-2016]

Houve a sugestão das reuniões serem mais frequentes com a direção e as auxiliares

com o objetivo das planificações passarem a ser feitas em conjunto para que todos os

intervenientes fizessem parte do processo.

(…) No mês de abril as auxiliares não realizaram as várias atividades propostas pela

estagiária. Assim houve necessidade de uma nova reunião com a diretora técnica Marta para

planear a Componente Apoio à Família para o mês de maio. Para a estagiária esta dificuldade

acontece pela diversidade de atividades e comemorações que a instituição celebra, as quais

requer empenho e preparação prévia das auxiliares. Assim, a estagiária optou por simplificar

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as atividades, recorrendo a jogos no recreio, alguns dos quais antigos que irão ser recuperados

às memórias coletivas (e.g. jogo da macaca, da linda falua) (…)

[Nota de Campo, 20-04-2017]

Por parte das crianças, as ideias propostas eram bem recebidas, colaboravam, ficavam

atentos às explicações e davam o seu contributo. Das quatro salas, uma delas por ter um

grupo mais agitado e com idades menores, nem sempre era possível realizar o que estava

planeado, sofrendo sempre alterações e ajustes de acordo com os comportamentos

observados.

(…) Hoje foi dia de atividades CAF com o jogo do contorno. Na sala dos mais novos, a

Heterogénea B. o grupo não estava a ouvir as indicações da estagiária do que era para ser

feito e com os materiais à sua disposição começaram a pisar as cartolinas e a espalhar os lápis

de cor pelo chão. A estagiária optou por uma outra estratégia, pedindo ao grupo para se sentar

no tapete junto dela para ficarem mais calmos e ler-lhes uma história escolhida por eles de

entre as que estavam na biblioteca da sala. A atividade passou para um novo dia, atendendo

ao adiantado da hora (…)

[Observação, 26-10-2016]

Nas reuniões com a diretora técnica, as planificações mensais sofriam alterações e

algumas ideias não foram possíveis de realizar, por falta de tempo ou por serem demasiado

elaboradas e que poderiam ser um motivo de conflito dentro da instituição.

(…) reunião com a diretora técnica para conversar sobre as propostas de atividades CAF.

Alguns jogos de raciocínio ou de trabalhos manuais não são de fácil execução, pelo horário

em que se realizam, o número de crianças a participar e os pais a chegarem e por ser apenas

uma auxiliar por sala. Assim, terá que haver alguns ajustes e ter em atenção estes fatores. (…)

[Observação, 21-02-2017]

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Assim, a realização da Componente de Apoio à Família é importante, mas deve

reforçar-se a interação das famílias neste mesmo processo, com dinâmicas conjuntas.

2.3.2. Componente área de atuação atividades Intergeracionais

Hoje em dia a população idosa (que tem vindo a aumentar significativamente) tende a

encontrar-se isolada e com poucas oportunidades de convívio com as gerações mais novas

(em particular no caso de idosos institucionalizados, em lares ou em residências),

especificamente as crianças no grupo etário dos três aos seis anos.

Por sua vez, as famílias atuais apresentam uma estrutura onde não lhes resta tempo

para despender com cuidados aos idosos (para além dos básicos), muito menos para um

acompanhamento das necessidades emocionais. A realidade das crianças, que fazem parte das

famílias atuais é semelhante, uma vez que os pais (ou encarregados de educação) muitas

vezes têm mais do que um emprego, não tendo assim tempo que lhes permita dar o devido

apoio e atenção que as crianças tanto necessitam.

Daí a necessidade das atividades Intergeracionais onde se pretende reunir crianças e

idosos para se estabelecerem interações emocionais resultantes de partilhas entre ambos.

2.3.2.1. Objetivos

Os objetivos das atividades Intergeracionais caracterizam-se por:

Promover a qualidade de vida dos idosos;

Proporcionar um crescimento saudável e completo das crianças;

Reforçar o contacto das duas gerações;

Combater estereótipos e crenças idadistas.

A literatura revela que estas duas gerações necessitam de estabelecer relações, estarem

ambas em contacto e sentirem-se úteis na realização de atividades.

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2.3.2.2. Atividades

Para a realização destas atividades houve reuniões previamente agendadas com a

diretora da C.M para se obter informações importantes acerca dos residentes.

(…) Conversa com a diretora técnica Maria dos idosos sobre os objetivos do Estágio

da estagiária, os conteúdos e o planeamento das atividades. (…) Debate sobre a reação das

crianças ao verem idosos mais debilitados, ou como os seus familiares encaram estes assuntos

(…)

[Nota de Campo, 02-11-2016]

Nesse momento foi transmitido à estagiária a informação que 29 dos 31 residentes

têm Alzheimer ou outro tipo de demência e que ao se realizarem estas atividades havia

aspetos a ter em conta devido às suas limitações.

(…) A estagiária visitou os idosos e como estava lá o professor José de arte falou-lhe

da sua ideia do Projeto Intergeracional e o conselho que lhe foi dado foi apenas para verificar

melhor as limitações dos utentes e adequar com as crianças que irão participar. (…)

[Nota de Campo, 29-09-2016]

Visto que não era a área de estudo da Técnica de Educação, houve a necessidade de

procurar uma associação com Técnicos especializados nestas problemáticas, pois houve

incertezas para a concretização de atividades por parte do local de estágio.

(…) Visita aos idosos para conversar com alguns utentes e saber como estava a correr o seu

dia, conhecer outros e criar ligações, ouvindo as suas histórias de vida. Posteriormente, a

estagiária teve uma conversa informal com a diretora técnica Maria da C.M, onde se falou

das atividades Intergeracionais a serem desenvolvidas e do que poderia não correr bem, como

a falta de motivação dos idosos ou as crianças não se sentirem à vontade. A estagiária pensou

que estas incertezas se deviam ao pouco contacto destes dois grupos etários.

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[Nota de Campo, 06-10-2016]

Assim a estagiária dirigiu-se no dia 27 de outubro de 2016 pelas 9:45h à Avenida de

Ceuta à Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de doentes de Alzheimer. Foi

explicada a intervenção que era pretendida no Estágio e houve importantes recomendações e

estratégias para que as atividades Intergeracionais obtivessem sucesso.

Da conversa informal na associação várias indicações foram sendo referidas.

Nomeadamente,

A socialização e o elogio são bastante benéficos, bem como as rotinas;

Não se deve apontar o erro, pois a pessoa tem tendência a enervar-se e pode ficar

agressiva, assim como demasiado barulho à sua volta também a confunde;

Foram sugeridas algumas atividades Intergeracionais como música, jogos de cartas

(agrupar por números, cores ou símbolos), imagens de animais ou estações do ano (não

infantilizar), sessões de ginástica e alguns ateliês;

Foi ainda recomendado levar um grupo pequeno de crianças ao lar para os utentes se

habituarem. Antes seria necessário ter uma conversa com as crianças e explicar que se

vão encontrar com pessoas que têm uma doença que as faz esquecer das coisas isto para

não estranharem se o discurso não fizer muito sentido ou for repetido.

[Conversa Informal Associação de Alzheimer, 27-10-2016]

Depois das sugestões foi altura de intervir. No início foram apenas visitas aos idosos,

apenas para conversar com eles.

(…) Visita aos idosos (14h-15h) para falar com alguns utentes sobre o Projeto das crianças e

perceber se a ideia lhes agrada e recolher algumas sugestões de possíveis atividades. (…)

[Observação, 07-11-2016]

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61

É relevante que se conheça os participantes e que o Técnico se dê a conhecer, mostrar

interesse pelas suas rotinas, demonstrar que se está presente.

(…) Conversa com os idosos de forma individual para os conhecer, saber o que acham de se

fazer atividades com as crianças. A estagiária verificou que na grande maioria gostaram da

ideia e mostraram-se participativos para o que virá acontecer através de perguntas do que se

ia fazer. (…)

[Nota de Campo, 06-10-2016]

Uma estratégia positiva neste processo é ter-se conversas com todos os residentes

individualmente, mas em diferentes alturas e dar a entender que estão a ser ouvidos

(…) A estagiária foi conversar com a D. Sónia que lhe contou um pouco da sua história de

vida e partilharam opiniões. Estas interações são importantes para conhecerem a estagiária e

aceitarem o que juntos vão fazer. (…)

[Nota de Campo, 03-11-2016]

Outra preocupação que um Técnico de Educação e Formação deve ter nestas

iniciativas, é que os participantes conheçam os espaços uns dos outros, para atribuírem

significado, associarem às pessoas e às suas rotinas.

Por isso, a estagiária com (…) a ajuda de duas outras estagiárias de Serviço Social,

convidaram três senhoras, uma delas de cadeira de rodas a passear pelo lado das crianças

pelos corredores e observarem os trabalhos manuais que elas fazem. Ficaram muito felizes e

conheceram a sala da Heterogénea. A, onde as crianças vão participar no Projeto e as crianças

fizeram-lhes adeus e foram simpáticas querendo ir ao seu encontro, dar beijinhos e oferecer

uns desenhos. (…)

[Nota de Campo, 17-11-2016]

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62

As atividades foram planeadas apenas para o grupo de finalistas do Jardim de Infância,

por serem mais velhos e já terem competências de escuta e de atenção que não criassem

grande confusão nas rotinas dos idosos. O grupo foi informado dos utentes e levado ao local,

onde se alertou para os cenários possíveis a acontecer, de forma a ambientar-se com este

contexto.

(…) A estagiária falou com as crianças sobre o que poderiam encontrar e para não gritarem

ou fazerem movimentos bruscos junto aos idosos. (…)

[Observação, 30-11-2016]

A primeira atividade a ser desenvolvida foi a construção de anjos de Natal com

material reciclado. Quatro crianças foram à C.M e com alguns residentes que estavam na sala

de convívio, criaram uns anjos para serem colocados nas árvores de Natal.

(…) A estagiária convidou os idosos a participarem na atividade da construção dos anjos de

natal. (…) Quando a estagiária e as crianças chegaram à sala dos idosos às 14:15h estiveram

um pouco a falar uns com os outros para se conhecerem e depois em grupo na mesa da sala

fizeram anjos de Natal com cápsulas de café recicladas, pompons, arames coloridos e

resultou muito bem com todos os participantes. Como a estagiária se encontrava sozinha com

o grupo, por vezes era complicado ajudar em todos os lados. A Cecília foi a única que teve

mais dificuldade em adaptar-se ao ambiente, pois não respondia quando lhe faziam perguntas

e mostrava um ar contrariado. (…)

[Nota de Campo, 05-12-2016]

Os idosos tiveram que ser ajudados com a cola devido à sua motricidade fina e houve

crianças a fornecerem-lhes materiais para a decoração. Como os anjos ficaram bonitos e o

grupo gostou, a estagiária decidiu repetir a atividade, mas com outras crianças.

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63

(…) No segundo momento houve a participação de mais utentes. Uma estagiária de Serviço

Social e uma visita de um dos utentes que se encontrava no seu quarto mas que ficou curioso

por ouvir crianças a falar e juntou-se ao grupo que estava na sala onde decorria a atividade.

Neste segundo momento, os anjos realizaram-se com materiais diferentes, mais coloridos. As

crianças e os idosos expressaram contentamento com o produto final. Esta atividade teve

sucesso e terá continuidade. (…)

[Observação, 07-12-2016]

A estagiária reuniu-se com a diretora técnica dos idosos para se fazer um ponto da situação da

primeira fase das atividades Intergeracionais (…) ficou decidido que se iria começar na

próxima semana com a leitura e reinterpretação de histórias, onde haverá uma preparação só

com os idosos e depois com as crianças e no final junta-se tudo. (…)

[Nota de Campo, 16-01-2017]

A segunda atividade foi um teatro com a interpretação de contos infantis tradicionais.

A estagiária treinou com as crianças a história durante dois dias e disse com que crianças iria

trabalhar.

(…) A estagiária leu a história às crianças para se lembrarem e convidou quatro crianças (a

Flávia, o João, a Susana e a Micaela por serem os mais velhos da sua sala) para participarem

no teatro. Mais tarde, fez-se um pequeno ensaio para os outros colegas assistirem. (…)

[Observação, 16-01-2017]

A estagiária levou os quatro meninos para o ginásio para ensaiarem as falas e os sons dos

animais. De seguida visitou os idosos, falou com os voluntários e os estagiários que estava a

ajudar os residentes para prepará-los para a sala verde. A estagiária estava com receio da

Micaela e do João não seguirem as suas falas na peça de teatro por ser um ambiente diferente

ao que estão habituados e com pessoas que ainda não tinham confiança. (…)

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[Nota de Campo, 25-01-2017]

As crianças escolheram a história da “Carochinha” e com fantoches apresentaram-na

aos idosos.

(…) A estagiária chegou mais cedo às 13:40h para preparar o cenário, levar as coisas aos

idosos e ficou a saber pela educadora que a Micaela tinha ido embora. Então foi trabalhar

com a Érica. Dirigiu-se aos idosos para os reunir na sala verde, só que muitos estavam nos

quartos a descansar e outros na sala lá em baixo. Então falou com as auxiliares para irem

levantar alguns idosos e trazer outros para cima, mas não seguiram o combinado. As crianças

fizeram o teatro com os utentes que se encontravam na sala. (…)

[Nota de Campo, 26-01-2017]

A terceira atividade Intergeracional, foi descontraída para ajudar o grupo a comunicar

mais através de canções da infância dos idosos e das crianças e da declamação de poesia.

(…) A estagiária e seis das crianças mais velhas foram visitar os idosos. A sala estava repleta

à espera deles. Idosos e crianças cantaram todos juntos a música da “ A Laurindinha”, “

Papagaio Louro”,“ As Pombinhas da Catrina”, “ Atirei o pau ao gato”, “ Bom dia”, “ Adeus”,

“ Todos os patinhos”, e a da “ Barata”. (…)

[Observação, 16-02-2017]

(…) Depois ouviram a D. Sónia declamar quatro poemas de autores portugueses. Os meninos

comunicaram mais com os idosos, foram todos queridos e deu para perceber que as raparigas

foram mais afetivas que os rapazes, possivelmente por estarem mais descontraídos e terem

uma maior recetividade a receber atenção de outras pessoas para além dos seus familiares.

[Nota de Campo, 16-02-2017]

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A quarta atividade foi a construção de máscaras de carnaval, onde decoraram de

forma livre uma ou duas máscaras e depois fizeram umas brincadeiras com elas.

(…) A estagiária trabalhou com três meninas e um menino e foram fazer máscaras de

Carnaval. Disponibilizou-se alguns modelos de máscaras para escolherem, bem como

pompons, adereços, botões para cada um escolher e colar à sua maneira para ficar uma

máscara personalizada. Ao início os idosos não estavam com muita disposição, pois só

queriam ficar a ver os meninos porque tinham dores. Mas com alguma persistência e ajuda

das crianças, como era apenas para colar, conseguiram. Estiveram todos animados e correu

tudo bem, as crianças já se encontram mais à vontade no espaço e com os idosos. (…)

[Nota de Campo, 23-02-2017]

A quinta atividade, foi outro teatro, desta vez da história do “Capuchinho Vermelho”.

Estas atividades eram espaçadas umas das outras, no início foi mais ou menos uma por mês e

depois começaram a introduzir-se mais frequentemente.

(…) A estagiária chegou às 13:45h e foi à sala convidar cinco meninos - um por personagem

- para virem ensaiar a história do Capuchinho Vermelho. Pelas 14:30h chegaram à sala não se

encontrando nenhum idoso.

[Observação, 09-03-2017]

(…) Na ausência de idosos na sala, a diretora técnica Maria informou que era necessário ir

convidar alguns residentes à sala de baixo para assistirem ao teatro do Capuchinho Vermelho.

O teatro decorreu muito bem, todos apreciaram a história e a sala ficou repleta de utentes a

assistir. No final, as crianças foram dar beijinhos e abraços a todos os que assistiam. (…)

[Nota de Campo, 09-03-2017]

Como as atividades Intergeracionais estavam a agradar as crianças e os idosos, a

estagiária pensou em introduzir novos jogos com mais interação entre os participantes.

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(…) A estagiária foi com a Susana, a Cecília e o Ricardo dar as máscaras de presente aos

idosos. Quando lá chegaram estava o prof. José a fazer um jogo com as bolas e as crianças

juntaram-se. Resultou muito bem e deu a ideia à estagiária de criar uma atividade com bolas e

tecidos do género de seda ou para-quedas com várias cores e texturas que ajuda na

motricidade. (…)

[Nota de Campo, 15-03-2017]

Na sexta atividade já foram introduzidos jogos com bolas e um paraquedas colorido,

pois os participantes já se sentiam mais confiantes e mais à vontade, tornando esta

convivência como natural.

(…) Hoje foi dia de ir aos idosos e a estagiária decidiu fazer uma coisa diferente. A estagiária

levou cinco crianças consigo, mais umas bolas de cores diferentes e texturas e um para-

quedas de várias cores (…) quando chegaram à sala dos idosos ficaram todos sentados à volta

da mesa e a estagiária começou a dar indicações de várias formas de tocarem na bola e

passarem-na às outras pessoas ( e.g. tocar com 1 dedo, mão aberta, fechada). Depois

introduziu o tecido e simularam um mar com golfinhos e barcos. O jogo correu muito bem,

todos perceberam as regras e cooperaram. Alguns idosos só quiseram ficar a ver sentados no

sofá. (…)

[Nota de Campo, 30-03-2017]

Como ainda houve tempo, inventaram o jogo das cores. Cada um perguntava a cor e

um objeto/ planta/ animal para os outros adivinharem. Aqui já participaram mais idosos e a

estagiária notou uma vez mais que em atividades que não necessitem de movimento há mais

adesão por parte dos idosos e ficam mais satisfeitos.

A sétima atividade jogaram ao dominó três vezes e a um jogo com dados para se fazer

contas e adivinhar os números.

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(…) Os idosos estavam com expetativa de ver as crianças e quando chegaram foram

sentando-se à volta da mesa. Começaram com o dominó, onde a estagiária fez uma pequena

explicação e uma das crianças exemplificou. Perceberam todo o objetivo do jogo e depois de

duas rodadas, trocou-se pelo tabuleiro dos dados e dos números. Aqui o objetivo era

consoante os números dos dados que iam saindo, conseguirem fazer as somas. Os idosos

souberam e na vez das crianças houve ajudas. Ficaram todos tranquilos e satisfeitos pelo

convívio, que se irá repetir (…)

[Nota de Campo, 06-04-2017]

A oitava atividade foi o famoso e antigo jogo da Glória, em que os idosos explicaram

as regras que se lembraram às crianças que nem conheciam este jogo.

(…) A estagiária e as crianças fizeram o jogo dos números e o jogo da Glória com uma das

residentes que lá se encontrava. Como era um jogo do tempo dos idosos, algumas regras

foram explicadas pela residente às crianças. (…)

[Nota de Campo, 20-04-2017]

Houve reunião com a diretora técnica dos idosos para conversar sobre as atividades

Intergeracionais que foram desenvolvidas e foi pedido à estagiária para realizar uma última

atividade com os meninos da sala da Heterogéna A e os residentes.

A última atividade Intergeracional, na última semana do estágio, em modo de

despedida, foi levar a turma inteira das crianças finalistas, cerca de dezasseis em conjunto

com a educadora.

Foram cantadas canções do tempo dos idosos e outras mais atuais que as crianças

conheciam. A ideia foi colocar as crianças aos pares com os idosos para juntos cantarem as

canções. Houve um grande número de utentes a participar, muitos deles que nem era habitual

e a direção também marcou presença.

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(…) Levou-se todos os finalistas e a educadora de sala Matilde para a sala dos idosos para

fazerem equipas de crianças e idosos para jogarem à roleta de canções. As músicas foram: a

“Laurindinha”, “Olha a bola Manel”, “Todos os patinhos”, “Papagaio louro” e o “Coelhinho

branco” (…)

[Observação, 11-05-2017]

(…) Mesmo sendo a última atividade que a estagiária iria realizar, desenvolveu materiais e

dinâmicas apelativas para crianças e idosos para no futuro o seu projeto ter continuidade pelo

benefício da Intergeracionalidade.

[Nota de Campo, 11-05-2017]

Figura 12. Teatro Carochinha

Figura 14. Anjos de Natal Figura 13. Máscaras de Carnaval

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Figura 16. Jogo da Glória

2.3.2.3. Materiais desenvolvidos

Para a realização das atividades Intergeracionais, houve um conjunto de materiais que

tiverem de ser, numa primeira fase pesquisados e analisados em parceria com a diretora

técnica da C.A e a diretora da C.M para se ver a sua concretização, bem como uma base

teórica.

(…) Fornecimento à estagiária de dois relatórios de estágio pela diretora técnica dos idosos

sobre o envelhecimento para consulta da parte de enquadramento teórico e das atividades

(…)

[Nota de Campo, 02-11-2016]

Optou-se por comemorar algumas épocas festivas, como o Natal e o Carnaval, para se

criar um clima de envolvimento de todos os participantes. Para isso, foram utilizados

materiais recicláveis (cápsulas de café), objetos de decoração que a instituição possuía, livros

infantis, material de desenho, cola, cartolinas, brilhantes, limpa cachimbos de cores, adereços

e pompons. Para os teatros da “Carochinha” e do “Capuchinho Vermelho”, a estagiária e as

crianças construíram adereços para os fantoches que se encontravam em sala (e.g. coroa,

espada, véu, moeda, vassoura, espingarda, cama, cesto) e nos jogos utilizou-se os que a

educadora disponibilizou, pois existe um armário com jogos lúdico pedagógicos em cada sala

Figura 15. Teatro Capuchinho Vermelho

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disponível para as educadoras e as auxiliares utilizarem com as crianças. As bolas e o

paraquedas existiam no ginásio da instituição.

(…) A estagiária escolheu trabalhar com quatro crianças que não tinham ido na semana

passada e junto da educadora selecionou um dominó com animais e um jogo de números para

todos juntos participarem. (…)

[Nota de Campo, 06-04-2017]

Portanto, para a concretização destas atividades foram reaproveitados materiais, sem

ter custo extra para a instituição e mantendo os participantes satisfeitos com o resultado final.

(…) Reunião com a diretora técnica dos idosos para saber como os residentes estão a encarar

as atividades Intergeracionais. Foi dito à estagiária que, os idosos perguntam porque as

crianças não vão mais vezes visitá-los e que está haver uma aceitação bastante positiva a este

projeto (…)

[Nota de Campo, 21-03-2017]

Figura 17. Jogo dos números

Figura 18. Teatro Capuchinho Vermelho

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2.3.2.4. Calendarização de Atividades

Quadro 4. Planificação de Atividades Intergeracionais.

Atividades Objetivos Métodos

1) Leitura e

reinterpretação de contos

clássicos infantis entre os

idosos e as crianças

14h-15h

Datas previstas:

26 janeiro

Envolvimento dos dois

grupos etários, sem

nenhum se sentir excluído

do grupo e de forma a

desconstruir as ideias pré-

concebidas do que é ser

velho (limitações) e

criança (muita energia);

desenvolver o gosto pela

leitura e estimular a

criatividade.

Colocar os idosos que

conseguirem a ler os

contos às crianças, mas

realizar alterações nas

histórias originais e

colocarem-se a eles

próprios como

personagens e com as

suas próprias fisionomias.

Realizar teatros.

2) Oficinas de Histórias

de Vida

Datas previstas:

Mês de abril

Valorização das

experiências de vida dos

idosos e desenvolvimento

da capacidade oral, saber

prestar atenção e a noção

da temporalidade nas

crianças.

Realizar algumas sessões

onde os idosos se sintam

à vontade para contarem

as suas vivências e

proporcionar às crianças

ao mesmo tempo a noção

de que estão a dar-lhes

atenção e onde podem

participar de forma ativa.

3) Troca de desenhos

entre as duas gerações

Datas previstas:

Mês de março e abril

Dar liberdade de

pensamento e imaginação

e conseguirem sentir que

estão a preparar algo com

carinho.

Criar pequenos espaços

onde os idosos e as

crianças possam desenhar

livremente e realizar a

troca destes pequenos

presentes entre ambos.

4) Jogos com música e

danças das duas gerações

tendo em conta as

limitações de ambas

Datas previstas:

Mês de abril e maio

Proporcionar um convívio

entre idosos e crianças de

forma a gostarem da

presença uns dos outros e

assim ambos se sentirem

úteis e ocupados.

Colocar uma música e

criar danças tendo em

conta as condições físicas

dos participantes para que

ambos se divirtam.

(e.g. Jogo do lençol

colorido)

Atividade adaptada-

músicas do tempo dos

idosos e das crianças para

serem cantadas em

conjunto e declamar

poesia

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De acordo com o Quadro 4 da planificação elaborada no início do Estágio e fazendo a

comparação com as atividades que foram implementadas com os idosos e as crianças, as

leituras e reinterpretações de contos infantis foram transformadas em pequenas peças de

teatro que agradou e divertiu os idosos, não foi possível serem os idosos a ler para as

crianças, pois muitos deles já tinham uma visão reduzida.

(…) Quando a estagiária chegou foi falar com os utentes das 14h-15h para os ouvir e

perceber se gostavam de participar em atividades com as crianças da C.A. Concretamente se

gostariam de ler para as crianças. Um dos exemplos dado foi a leitura de histórias às crianças,

por estas ainda não conseguirem ler. A D.Sónia disse que já não consegui ver bem e que os

restantes residentes deveriam estar iguais. (…)

[Nota de Campo, 14-11-2016]

As oficinas de histórias de vida resultaram, mas a estagiária percebeu que se houver

continuidade das atividades com os mesmos grupos será cada vez mais fácil a partilha destas

histórias e acontecimentos; a atividade de troca de desenhos das crianças e dos idosos, teve

mais adesão por parte das crianças, pois é algo que realizam no seu dia-a-dia, para além disso

também houve troca de trabalhos manuais que ambos construíam (os anjos de Natal e as

máscaras de Carnaval). Já os jogos com músicas, materiais como tecidos e bolas,

funcionaram muito bem e ajudaram os idosos a realizarem pequenos movimentos, consoante

as suas possibilidades.

(…) Neste dia, quando a estagiária chegou à sala da Heterogénea A as crianças pediram-lhe

para irem oferecer os anjos de Natal aos idosos, pois gostaram da atividade e queriam mais

(…)

[Nota de Campo, 12-12-2016]

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Assim, um Técnico de Educação precisa de ter conhecimento daquilo que os

participantes são capazes de fazer e da maneira como funciona o grupo, pois muitas das

ideias para estas atividades Intergeracionais pareciam exequíveis, mas com o trabalhar no

terreno, comprovou-se o contrário.

(…) A técnica da Associação reforçou a ideia de que é necessário conhecer o grupo de idosos

com que se trabalha para conseguirmos adaptar as atividades mediante a personalidade de

cada pessoa, mas com esforço e trabalho tudo é possível.

[Conversa Informal Associação de Alzheimer, 27-10-2016]

Figura 19. Jogo com bolas e lenço colorido

2.3.2.5. Avaliação da Componente

Segundo Capucha (2008), a avaliação consiste, resumidamente, no processo

sistemático de pesquisa, questionamento e reflexão através do qual as pessoas e as

instituições envolvidas ou interessadas no Projeto pensam criticamente sobre os objetivos

planeados.

(…) Quando a ideia das atividades Intergeracionais foi apresentada à direção, houve uma

reação positiva e de incentivo, pois (…) era mesmo o que precisavam para terem mais

comunicação. (…)

[Nota de Campo, 22-09-2016]

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74

No início houve pequenas conversas com o professor de artes que trabalha nas duas

valências e conhece tanto as crianças como os idosos para uma possível parceria e junção de

dinâmicas praticadas.

(…) A estagiária foi procurar o professor de artes ao seu gabinete para lhe falar das suas

ideias de atividades Intergeracionais, perceber se poderiam fazer uma parceria. O professor

referiu que o seu programa de atividades para as crianças e para os idosos já estava concluído

e que o melhor seria a estagiária procurar outra solução (…)

[Nota de Campo, 12-10-2016]

Uma importante ajuda para a implementação das atividades com as crianças e os

idosos foi a conversa informal que a estagiária teve na Associação Portuguesa de Familiares e

Amigos de doentes de Alzheimer, onde a Técnica lhe forneceu ferramentas para trabalhar

com os idosos da C.M e realizar as suas atividades Intergeracionais. Para além disso, ainda

houve partilha de conhecimentos

(…) como por exemplo, quando se tem pessoas com esta doença, não se deve ter tapetes

escuros, pois a pessoa confunde com um buraco e provoca-lhe medo, assim como, plantas

artificiais grandes que podem provocar algumas alucinações. Interessante foi também

perceber que quando estas pessoas veem televisão, pensam que as personagens que

observavam no ecrã estão a falar diretamente com elas. O que leva a estagiária a refletir sobre

o tempo que os utentes com estas características passam a ver televisão quando estão

institucionalizados. (…)

[Conversa Informal Associação de Alzheimer, 27-10-2016]

As atividades Intergeracionais começaram com trabalhos manuais simples, para o grupo se

conhecer, (…) o grupo de crianças ficou a ouvir as histórias e os acontecimentos que os

idosos começaram a contar (…)

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75

[Nota de Campo, 12-12-2016]

Posteriormente foram introduzidos jogos de raciocínio e que requeriam um pouco

mais de mobilidade aos idosos, o que nem sempre lhes agradava. Assim, deu para entender

que atividades que impliquem muito movimento, não há colaboração e podem ficar chateados

por estarmos a dar-lhes “trabalho”.

(…) A estagiária pensou que o facto de os idosos estarem pouco participativos em algumas

atividades deu-se ao isolamento e às famílias só conseguirem visitá-los ao fim de semana (…)

[Nota de Campo, 23-02-2017]

Por isso, os teatros e as canções resultaram na perfeição, todos participaram de forma

voluntária e percebia-se o entusiasmo em realizar algo conjunto com os mais novos.

(…) No final do teatro os idosos ficaram satisfeitos pela presença das crianças e perguntaram

logo à estagiária quando voltariam (…)

[Nota de Campo, 09-03-2017]

As crianças, algumas ficavam envergonhadas e não respondiam ao que os idosos lhes

perguntavam, mas com o avançar das visitas, o ambiente foi melhorando e como eram

recebidos com carinho e alegria tudo melhorou.

(…) uma das crianças que não falava com os idosos numa visita inicial, neste dia já ficou

entusiasmada e a perguntar quando iria ver os idosos (…)

[Observação, 07-12-2016]

Estes encontros Intergeracionais nem sempre decorriam conforme o planeado, pois

havia reuniões prévias com a diretora técnica da C.M para que no dia seguinte os residentes

estivessem na sala de convívio para receber as crianças, mas a comunicação entre os

diferentes intervenientes era deficitária. Muitas vezes, não se encontravam idosos na sala, a

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76

estagiária tinha de relembrar na véspera a realização das atividades Intergeracionais à diretora

técnica dos idosos, no entanto no dia seguinte, verificava que mesmo assim ao entrar na sala

não estavam idosos

(…) Nova dificuldade de comunicação por parte da diretora técnica dos idosos e das

auxiliares que não sabiam as atividades Intergeracionais e muitos residentes estavam nos seus

quartos a descansar. (…)

[Nota de Campo, 30-03-2017]

Na reunião inicial em setembro de 2016, após conversa com a diretora técnica ficou

definido o horário do seu Estágio,

(…) Ficou ainda estabelecido com a direção e a estagiária o horário das 14h-18h, porque a

sua colaboração faria mais sentido ser da parte da tarde, devido à saída das educadoras às 16h

e para oferecer mais apoio às auxiliares em sala, com as atividades de Apoio à Família (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

Este horário levantou alguns constrangimentos, nomeadamente em situações de

atividades Intergeracionais. No entanto, na maioria das vezes os colaboradores participavam

no desenvolvimento das atividades, entendendo a sua importância e ajudando na sua

execução.

Figura 20. Canções e poemas

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77

2.3.3. Componente área de atuação Formação para as educadoras

A Componente da Formação para as educadoras do local de estágio surgiu através de

conversas informais na instituição em que houve interesse por uma atualização de tecnologias

de informação.

(…) Assim sendo, no seguimento do diálogo a estagiária sugeriu inserir a área das

tecnologias, visto que só existia nas atividades extracurriculares que são pagas e só estão

inscritos um pequeno grupo de crianças (…)

[Nota de Campo reunião inicial, 01-09-2016]

As tecnologias estão presentes na vida de todos e a educação pré-escolar não é

exceção. Os educadores necessitam de uma renovação da sua formação inicial, para o

desenvolvimento de skills (competências) e as ferramentas tecnológicas irão oferecer este

complemento.

Correia (2012), refere que um professor/educador deve planificar e elaborar

estratégias de ensino que motivem os alunos e os cativem. Para isso, o professor deve ter

consciência do seu valor e que o auxílio dos recursos informáticos só irá beneficiar o seu

trabalho com mais eficácia. O que se pode observar é que em muitos dos casos, as

tecnologias não funcionam na totalidade para ajudar os educadores neste percurso “ (…) as

tecnologias educativas não são utilizadas pela maioria dos docentes, no seu quotidiano, na

planificação e avaliação das atividades, na construção de resultados mais eficazes.” (Correia,

2012, p. 2)

Assim, o reforço na Formação desta área tecnológica será uma vantagem para toda a

comunidade escolar.

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78

2.3.3.1. Objetivos

Os objetivos definidos para esta Formação foram os seguintes:

Fornecer diversas ferramentas de trabalho (Pinterest, Storybird, Movie Maker);

Criação durante a oficina de materiais de trabalho para ajudar as educadoras em sala;

Proporcionar a inovação, desenvolvimento de competências de saber fazer novos

recursos.

Estas ferramentas têm potenciais de utilizar e dinamizar os trabalhos feitos pelas crianças

e a criação de outros de maneira criativa e apelativa.

2.3.3.2. Atividades

Quadros 5. Plano de Formação elaborado pela estagiária

Preâmbulo

Esta formação permite uma atualização de tecnologias e obtenção de materiais de trabalho

criativos, dinâmicos e apelativos para toda a comunidade escolar, onde se prevê a

realização de uma oficina de formação dividida por dois blocos temáticos para as

educadoras da escola que terão de ter pelo menos um portátil para cada duas pessoas.

Estas ferramentas proporcionam um desenvolvimento de skills (competências) relacionadas

com a prática das educadoras e a consequente evolução por parte da escola, oferecendo um

complemento à formação inicial das profissionais.

Tema: Tecnologias de informação: importantes ferramentas de trabalho

Destinatários: Educadoras de Infância, prevendo-se cerca de 11 participantes

Data: 1, 2, 8 e 9 de Fevereiro

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79

Objetivos Conteúdos Procedimentos Duração Avaliação

2-

- Integração de

aplicações

visuais no

quotidiano dos

formandos

2-

- Aplicação

Movie Maker

2-

Demonstração do

download da aplicação

compatível para o

software Windows e

Mac.

---------------------

Exploração da aplicação

com as suas

dinamizações, seleção

10 min

--------------------

50 min

(3ª Semana)

2-

Comentários

dos

participantes

sobre a oficina

de formação

Objetivos Conteúdos Procedimentos Duração Avaliação

1-

- Conhecer

diferentes

plataformas

- Criação de

diferentes

materiais de

trabalho

-

Proporcionar

inovação

1- Ferramentas

de livre acesso

1-

Demonstração da

ferramenta/rede social

Pinterest e Wookmark

pela formadora.

- - - - - - - - - - - -

Pesquisa, exploração e

debate das

potencialidades das

ferramentas por uma

educadora convidada,

relacionando-as com

temas

(e.g.

Multiculturalidade)

- - - - - - - - - - - - -

Elaboração em grupo

de um evento com as

ferramentas

exploradas.

60 min

(1ª Semana)

Dia 1/02/17

- - - - - - - - - - -

40 min

Dia 2/02/17

- - - - - - - - - - -

20 min

(2ª Semana)

Dia 2/02/17

1-

Simulação de

um evento

festivo para a

escola com a

criação de

materiais a

partir das

ferramentas

apresentadas.

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80

de fotos, música e

vídeos pela formadora e

o engenheiro convidado.

Construção de um vídeo

com as ferramentas da

aplicação.

(Em situações futuras

prevê-se a continuidade

da oficina presencial e

não-presencial.)

Dia 8/02/17

60 min

(4ª Semana)

Dia 9/02/17

O Plano de Formação sobre “Tecnologias de informação: importantes ferramentas de

trabalho” foi destinado a todas as educadoras de infância da instituição, sendo dividido por

dois módulos. O primeiro foi sobre ferramentas de livre acesso, em que no primeiro dia foi

explicada a origem da rede social Pinterest. Algumas educadoras já tinham conhecimento,

mas o uso era pessoal e só retiravam ideias para atividades e decoração.

(…) Hoje foi o 1º dia de Formação para as educadoras. Perto da hora combinada, a estagiária

foi organizar a sala de reuniões, colocar cadeiras/ bancos, ligar o retroprojetor, distribuir as

folhas A4 para cada participante. Às 16:30h começaram a chegar pessoas e passado 10

minutos a estagiária apresentou-se. Explicou o plano de Formação que se iria dividir em 2

blocos, um com as ferramentas de Pinterest e Wookmark e a outra parte o Movie Maker.

Acompanhada de um PowerPoint foi dando a conhecer algumas curiosidades e a própria

história da origem da rede social (…)

[Nota de campo, 01-02-2017]

Esta ferramenta precisa de um registo, serve para compartilhar fotografias, criar

álbuns, fazer comentários e seguir outras pessoas/grupos. Os maiores utilizadores são

mulheres e funciona por pins que estão divididos por categorias de interesse, como por

exemplo, natureza, educação, moda, entre outras. (www.pinterest.pt)

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81

(…) De seguida, (…) entregou uma folha A4 a cada participante com um conjunto de outras

ferramentas e pediu para explorarem cada uma delas e se gostassem para se registarem.

[Nota de Campo, 01-02-2017]

(…) A estagiária ajudou algumas educadoras com dificuldades no registo de certos sites.

Foram trocadas algumas dúvidas relacionadas (e.g. conteúdos, registo e livre acesso) (…)

[Observação, 01-02-2017]

A folha A4 possuía ferramentas como o Pinme.ru (plataforma Russa); Via.me

(necessita de download); Minglewing (compra e venda); Spinpicks (complemento do

Pinterest); Storybird (criação de histórias digitais) e o Vizia (criar vídeos originais). Deste

conjunto, o que permite construir as narrativas digitais foi o que teve mais sucesso, havendo

até pessoas a fazer experiências.

(…) Do conjunto de ferramentas apresentadas, o Storybird para as narrativas digitais foi o

que despertou mais curiosidade às educadoras que tentaram utilizá-lo no momento (…)

[Nota de Campo, 01-02-2017]

Figura 21. Folha com algumas ferramentas da Formação para as educadoras

No segundo dia de Formação, houve a participação de uma convidada que também é

educadora de infância e que permitiu às formandas um sentimento de igualdade por terem

alguém com o mesmo percurso académico que elas. Depois de uma breve apresentação, a

convidada direcionou-se para as potencialidades do Pinterest, como a facilidade de

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utilização; compilação de várias ideias na plataforma; publicação de atividades e troca de

ideias como se pode observar no PowerPoint no Anexo 4.

Figura 22. Formação para as educadoras

(…) Quando as participantes chegaram, a convidada pediu para cada uma se apresentar

dizendo o seu nome, formação académica, há quanto tempo lá estavam e em que zonas

(Berçário, Creche, Jardim de Infância) estavam a trabalhar. Ela própria fez a sua apresentação

e depois com o PowerPoint falou das potencialidades do Pinterest (…)

[Observação, 02-02-2017]

Foram exemplificadas pesquisas de temas como a multiculturalidade que foi

trabalhado nas salas pelas educadoras.

(…) Posteriormente, a convidada mostrou umas imagens com ideias de atividades retiradas

do Pinterest e ao lado a ideia adaptada que realizou com as crianças (…)

[Nota de Campo, 02-02-2017]

No final houve a parte da avaliação das participantes, de forma a se encerrar este

módulo.

(…) Na avaliação da atividade a pares, as educadoras criaram um evento (…) Houve

pesquisas que se fizeram em inglês atendendo à variedade de material existente. A convidada

e a estagiária interagiam com cada grupo, esclarecendo e ajudando no que era necessário.

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83

(e.g. pesquisa por temas no sites, exploração das potencialidades técnicas dos sites). Depois

os grupos apresentaram entre si oi seu trabalho, salientando o que descobriram de novo e o

que poderia ser aplicado (…)

[Observação, 02-02-2017]

Para o segundo módulo, o terceiro momento de Formação teve a integração de

aplicações visuais na plataforma do Movie Maker e uma vez mais contou-se com a

colaboração de outro convidado que é Técnico de Engenharia tal como se encontra no plano

de Formação. Esta escolha de convidado deu-se para se demonstrar que estas ferramentas são

utilizadas em qualquer profissão. O Movie Maker permite colocar fotografias com música;

fazer vídeos, com divisões e cortes; definir onde começa e termina o vídeo; colocar uma

gravação de voz, utilizar imagens tiradas no momento a partir da câmara web do computador.

(…) Quando as dez participantes chegaram à sala de reuniões e se instalaram, a estagiária

começou por apresentar o segundo bloco da Formação e dar informações gerais do que o

programa Movie Maker permite fazer. De seguida o convidado apresentou-se como

Engenheiro Eletrotécnico e mencionou a utilidade do Movie Maker para o seu trabalho na

área da robótica e também para os seus “hobbies” (…)

[Observação, 08-02-2017]

O convidado causou impacto pela forma como dava as explicações ao pormenor das

opções que a ferramenta oferecia o que despertou a atenção das educadoras para o que se

queria partilhar e permitindo tirar dúvidas.

(…) Depois abriu-se o Movie Maker e o convidado explicou e ensinou detalhadamente a

opção de vídeo, imagem, música, gravação de voz e fotos na webcam que é permitido fazer,

bem como os efeitos especiais. As dúvidas foram sendo tiradas e foi pedido para

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experimentarem por exemplo a gravação de voz, salientando a vantagem para a elaboração do

vídeo para as reuniões de pais que irão ter (…) [Notas de Campo, 08-02-2017]

No quarto e último dia da oficina de Formação, mantendo a presença do convidado, (…) foi o

dia de se aplicar os conhecimentos obtidos na sessão anterior. A estagiária em conjunto com

o convidado solicitou para as educadoras criarem a pares um vídeo utilizando o que se tinha

explorado no dia anterior (…), servindo este como forma de avaliação das sessões.

[Nota de Campo, 09-02-2017]

Este género de metodologias numa Formação, onde houve a intervenção e a

participação das educadoras foi algo inovador para as formandas, tendo-as levado a participar

e a estarem interessadas ao longo da mesma.

(…) Constatou-se que na reunião de pais após a Formação, algumas participantes aplicaram

nos seus vídeos fotografias, fizeram cortes na música, definiram os segundos de início e fim

de um vídeo, acrescentaram efeitos e animações nas fotografias, legendas, retiraram os ruídos

de fundo indesejados dos vídeos, utilizaram a câmara web e o microfone.

[Observação, 09-02-2017]

No final, foi feito um balanço de toda a Formação, com os dois módulos e cada

participante demonstrou a sua opinião/utilidade através de uma Focus Group, onde as

formandas se demonstraram mais participativas, como resultado do avançar das sessões.

(…) O ambiente estava descontraído, já todos se conheciam melhor uns aos outros, depois de

duas semanas de Formação (…)

[Nota de Campo, 90-02-2017]

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85

2.3.3.3.1. Análise de Conteúdo da Focus Group sobre a Formação

Depois de terminadas as apresentações, foi altura de se fazerem comentários

individuais da utilidade de toda a Formação, onde as participantes expressaram as suas

opiniões. Estes comentários foram transcritos, com notas do Focus Group que se realizou.

O focus group é uma técnica qualitativa que visa colocar um grupo de pessoas

a discutir um determinado tema proposto por um moderador. A interação entre cada

elemento do grupo proporciona múltiplas visões e reações emocionais que

transparecem uma visão coletiva e não individual. (Morgan, 1997 citado em Teiga,

2012, p. 42)

Quadro 6. Análise de Conteúdo

Categoria Subcategoria Unidade de Registo

Unidade de

Frequência

%

Aprendizagem

Novas

competências

“(…) tinha algumas dúvidas e

conseguiram esclarecer”

“(…) ajudou-me com a

gravação de voz.”

2 (40)

2 (40)

Formação

Implicações

para a prática

“foi útil “

“produtivo”

“partilha de ideias (…)”

“(…) aprendi efetivamente e

depois consegui aplicar”

“Links e sites apelativos”

3 (60)

1 (20)

1 (20)

1 (20)

1 (20)

Formadores

Qualidades

de

comunicação “dinâmicos e interativos” 1 (20)

De acordo com a análise de conteúdo do Quadro 6, na categoria da aprendizagem,

foram esclarecidas dúvidas e adquiriram-se conhecimentos, nomeadamente na plataforma do

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86

Movie Maker. Na utilidade da Formação salienta-se a partilha de ideias e de experiências

profissionais. Quanto aos formadores convidados, uma educadora de infância e um

engenheiro, destacou-se a forma dinâmica e a interatividade para com os participantes, o que

por sua vez originou um clima descontraído e aberto a novos conhecimentos.

(…) Foi realizado um balanço de toda a Formação dada e pediu-se a cada participante

para dar os aspetos positivos e menos positivos, o que tinham aprendido e a utilidade do

conteúdo da Formação, bem como da presença dos dois convidados, realizando assim uma

Focus Group. A estagiária percebeu a partir da análise de conteúdo que os conteúdos da

oficina de Formação e a participação de convidados foram bem recebidos e houve sugestões

para próximas Formações, o que sugere que houve um bom desempenho.

[Nota de Campo, 09-02-2017]

As crianças desde cedo aprendem a utilizar os telemóveis, tabletes e computadores.

Por isso, as tecnologias são uma forma de se aproximarem das crianças e de os cativar.

2.3.3.4. Materiais desenvolvidos

Os materiais necessários e elaborados para a execução da Formação foram um

computador, um retroprojetor, colunas de som, PowerPoint para a apresentação dos

conteúdos, folhas com a planificação para cada participante e outras folhas A4 com os links

de outras ferramentas a título de curiosidade para além das que foram apresentadas. O facto

de se ter a colaboração de dois convidados de áreas distintas, ajudou a partilhar os conteúdos

e por serem pessoas do exterior da instituição.

Quanto ao PowerPoint (Anexo 4), importa referir que foi uma compilação das

informações que os dois convidados traziam para partilhar nos seus respetivos dias.

No final do primeiro e segundo módulos, com as atividades práticas que foram

propostas às educadoras, foram produzidos vídeos em grupos de forma criativa e na

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87

plataforma do Pinterest houve material devidamente armazenado em pastas nos portáteis das

educadoras.

2.3.3.5. Calendarização de Atividades

Nas primeiras reuniões com a diretora técnica da C.A, foi sugerido que a Formação

poderia dar algum género de ferramentas às educadoras que as ajudasse a editar melhor e de

forma mais moderna os vídeos para as reuniões de pais que acontecem nos trimestres, ou algo

para retirarem ideias e inovarem nos trabalhos desenvolvidos com as crianças em sala.

(…) Conversa sobre a oficina de Formação, quais os melhores conteúdos a serem abordados.

A diretora técnica comentou com a estagiária que seriam úteis algumas ferramentas para

ajudar as educadoras a manusearem mais facilmente as tecnologias e a introduzirem

novidades nas suas apresentações de reuniões de pais (…)

[Nota de Campo, 03-10-2016]

Foram então selecionadas as ferramentas para suprir as necessidades que a instituição

mencionou, mas poderia ter sido feita uma reunião com as educadoras para elas mesmas

darem sugestões de temáticas a serem abordadas e para se tornar algo do seu verdadeiro

interesse, sem se tornar como um dever a ser cumprido.

De acordo com a planificação para a Formação, ficou definido que seria nas duas

primeiras semanas do mês de fevereiro. Cada sessão apenas com a duração de 60 minutos,

duas vezes por semana (quarta e quinta-feira).

(…) Reunião com a diretora técnica Marta para acertar as datas das ações de Formação,

ficando para dia 1, 2, 8 e 9 de fevereiro, das 16:30-17:30h (…)

[Notas de Campo, 24-01-2017]

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88

Da calendarização, os conteúdos a serem abordados foram concretizados e os tempos

também conseguiram ser respeitados.

2.3.3.6.Avaliação da Componente

De maneira a conseguir perceber se os conteúdos trabalhados tinham sido

apropriados, no final de cada módulo foi pedido às participantes que aplicassem os

conhecimentos, com ajuda da Técnica de Educação e dos convidados para as sessões.

Portanto, a primeira atividade foi uma simulação de um evento festivo para a escola

com a criação de materiais a partir das ferramentas apresentadas.

Surgiu o tema do Carnaval, da Páscoa, da cidade de Lisboa, atividades sensoriais e a

multiculturalidade. Foi-lhes dada a sugestão de criarem álbuns / pastas no Pinterest ou no seu

ambiente de trabalho para guardarem as ideias que iam recolher e no fim apresentarem-nas

(…)

[Nota de Campo, 02-02-2017]

A ideia destas pequenas avaliações, para além de se entender se a mensagem foi

passada, é dos materiais criados terem utilidade para trabalhos futuros das educadoras. Neste

primeiro módulo, o grupo não sabia como seria a dinâmica e nem sempre estiveram atentas,

tendo sido alertadas, para a presença da convidada.

(…) O grupo por vezes mantinha conversas paralelas, já se encontrava cansado,

possivelmente por iniciarem o serviço na instituição às 9:00h da manhã, então foi necessário

alterar o ritmo da ação de Formação, por ter que se repetir o que já tinha sido dito (…)

[Nota de Campo, 01-02-2017]

Ainda nestas pesquisas sobre ideias para atividades de determinados temas, como por

exemplo o Carnaval ou o Natal, houve vantagens pedagógicas como a procura de palavras-

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chave em inglês, aparece mais material e grupos relacionados com os temas procurados.

Algumas educadoras não se mostraram à vontade com a língua estrangeira e foi-lhes

fornecida ajuda com estas palavras.

(…) No final a convidada mostrou a sua própria página do Pinterest com os álbuns

selecionados por temas com pesquisas realizadas em inglês e houve um debate das atividades

já realizadas por cada uma, de maneira a ajudar as educadoras e simplificar o seu trabalho

(…)

[Nota de Campo, 02-02-2017]

No segundo módulo, houve a criação de vídeos pelos participantes, utilizando todas as

opções que o MovieMaker disponibiliza. Neste vídeo tinham de colocar fotos, fazer cortes na

música, definir os segundos de início e fim de um vídeo, acrescentar efeitos e animações nas

fotografias, legendas, retirar os barulhos de fundo indesejados dos vídeos, utilizar a câmara

web e o microfone, para depois ser apresentado ao grupo.

(…) Algumas participantes aplicaram nos seus vídeos de reunião de pais, outras criaram

novos vídeos. Ao longo da sessão, a estagiária e o convidado foram ajudando, tirando

dúvidas e incentivando o trabalho de forma dinâmica (…)

[Nota de Campo, 09-02-2017]

A estagiária entendeu pelas reações das formandas que tudo o que era mais teórico

perdiam facilmente a concentração, em relação a atividades práticas menos comuns na

instituição, nas quais se tornavam participativas e dispostas a colaborar.

“Assim, as tecnologias servem para explorar novas possibilidades pedagógicas e

visam contribuir para uma melhoria do trabalho do professor na sala de aula, valorizando o

aluno como sujeito do processo educativo.” (Correia, 2012, p. 3)

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91

CAPÍTULO III

REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO REALIZADO

Para se conseguir uma reflexão do que aconteceu ao longo dos nove meses de estágio

é importante voltar a mencionar quais foram as questões orientadoras para esta intervenção,

nomeadamente:

1. O que um Técnico de Educação e Formação faz de diferente na instituição;

2. A importância do Técnico de Educação para a promoção da Intergeracionalidade, do

bem-estar das crianças e dos idosos.

É necessário a partir da criação de objetivos perceber se são operacionalizados e

como, a questão da calendarização de todas as atividades desde a proposta até à execução das

mesmas.

Para desenvolver este Projeto com o público-alvo das crianças e dos idosos foi

necessário mobilizar conhecimentos anteriores adquiridos na Licenciatura em Ciências da

Educação e no Mestrado, para o diagnóstico, planeamento, conceção e avaliação de projetos

de natureza educativa. Quer isto dizer que um Técnico quando vai para o terreno tem de estar

muito atento a tudo o que o rodeia, para conseguir identificar na instituição os factos para

realizar um diagnóstico claro e preciso, pois aparentemente parece estar tudo organizado.

Quando se começa a conceber as atividades educativas, não se torna uma tarefa fácil,

porque de local para local as dinâmicas são diferentes e as direções têm objetivos distantes

uns dos outros. Esta realidade constata-se através das entrevistas realizadas aos vários atores

educativos, nas conversas informais, nas notas de campo. Mais tarde todo este material é

trabalhado e serve de justificação para as rotinas e os acontecimentos vividos ao longo do

Estágio.

A possibilidade de se trabalhar com pessoas de diferentes áreas e formações distintas,

desde educadores de infância, a professores de artes, assistentes sociais e técnicos de

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educação social, possibilitou à estagiária ter uma visão alargada das funções de cada um.

Reforça assim a ideia de que os trabalhos em colaboração onde existem conhecimentos e

saberes fazer transdisciplinares permitem obter mais resultados e possibilitam maiores

aprendizagens para todos os envolvidos e aos públicos a que se destinam.

No início a estagiária sentia-se apreensiva por não conhecer o espaço e pelo seu

estatuto de estagiária. Com o passar do tempo foi sendo acolhida pela instituição de tal forma

que muitos nem se aperceberam que estava apenas como estagiária. Tinha responsabilidades

e confiança da instituição para estar com as crianças e com os idosos, tendo autonomia para

idealizar e implementar as atividades previamente acordadas.

A supervisão do estágio, através da colaboração da diretora técnica da C.A foi

bastante importante e por terem áreas idênticas de formação, muitas das atividades da

Componente de Apoio à Família, implementadas por ela naquela instituição estavam em

sintonia com as propostas pensadas para o Estágio. Foi uma parceria importante, pois

A supervisão é a teoria e a prática da regulação de processos de ensino e

aprendizagem. Abrange toda a comunidade escolar, a vida na escola, a própria

educação. Assume a educação enquanto objecto de formação e investigação na

interacção entre o pensamento e a acção. (Sousa, 2011, p. 34)

A partir desta supervisão aparecem um conjunto de conhecimentos, atitudes e

instrumentos que permitem reflexão, coordenação e orientação das atividades pedagógicas a

serem implementadas. (Sousa, 2011)

Neste processo, nem tudo decorreu tal como o planeado. Nas atividades da

Componente de Apoio à Família houve uma tentativa de se alterar o modelo da Instrução de

Trabalho, para se tornar num trabalho colaborativo (estagiária, auxiliares e direção) que não

aconteceu. Estava prevista uma reunião mensal com as auxiliares para se debaterem os

assuntos das atividades, mas o horário sempre preenchido e os poucos colaboradores, não

possibilitava às auxiliares saírem das salas.

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93

No que se refere aos idosos, houve a necessidade de aprofundar conhecimentos e a

visita à Associação de Alzheimer para a dinamização das atividades propostas. Assim esta

visita ajudou a estagiária a (re)construir conhecimentos, práticas de interação e a ter uma

atenção especial por este grupo etário, a compreender que uma simples conversa, o saber

ouvir um episódio de uma história de vida tem um grande significado e carinho.

As atividades Intergeracionais revelaram que a comunicação da Técnica de Educação

e as funcionárias foi uma área sensível onde ocorreram imprevistos devido a alteração nas

rotinas dos idosos.

A diretora técnica dos idosos manifestou falta de tempo para ter reuniões de

planificação, argumentando que não era o melhor horário entre as 14h e as 15h. No entanto,

este mesmo horário ficou logo estabelecido no início do estágio como se constata na Nota de

Campo da reunião inicial no dia 01 de setembro de 2016.

Esta situação levantou alguns constrangimentos, nomeadamente em situações futuras

de trabalho com os idosos. O que se tornou vantajoso de horário para as crianças,

transformou-se em desvantagem para o trabalho com os idosos.

A oportunidade de ter construído e implementado a Formação para as educadoras,

ajudou na comunicação com as mesmas, a quebrar barreiras e a partilhar a ideia de que uma

inovação nas práticas educativas habituais pode facilitar o trabalho e as aprendizagens. Porém

importa estar atento enquanto Técnico de Educação e Formação às condições humanas e

físicas onde estas ocorrem. Atendendo que o cansaço pela hora em que foram realizadas as

atividades da oficina de Formação interferiu com a participação das educadoras só superada

com o clima descontraído construído à medida que as sessões avançavam.

Para terminar, falta mencionar o decorrer das ações de Formação, em que o

comportamento das educadoras nos dias da Formação transmitiu cansaço pela hora em que

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foram realizadas, mas com o avançar da oficina de Formação as participantes ficaram mais

descontraídas e com vontade de participar.

O que a estagiária aprendeu na instituição para a sua futura profissão foi a ter

persistência e a defender da melhor forma as ideias que propõe ouvindo os outros e refletindo

sobre o que dizem, não desistir e contornar os obstáculos, obtendo uma capacidade de

resiliência para o que aí vem.

Assim, a estagiária aprendeu com o estágio que a forma destas iniciativas resultarem

depende dos intervenientes estarem de acordo com o que é feito, participarem de forma ativa

ao longo de todo o processo de planeamento e implementação do trabalho e promoverem-se a

realização de reuniões periódicas para dar a conhecer as dificuldades que as diversas

valências apresentam, por forma a conseguir ultrapassar os obstáculos e a criar-se uma

dinâmica de colaboração de grupo na instituição.

No final do Projeto a estagiária sente que superou diversos desafios pessoais e

profissionais melhorando práticas educativas enquanto Técnica de Educação e Formação.

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s

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ANEXOS

Anexo 1. Modelo de Plano de Atividades da Componente de Apoio à Família

Mês: ____________________________________________________ Ano Letivo:____________

Técnica Superior de Educação: _______________________ Sala: ___________________

Auxiliar Ação Educativa:______________________

Segunda-

feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira

Semana

Semana

Semana

4ª Semana

Semana

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Anexo 2. Modelo da Instrução de Trabalho das Atividades de Componente de Apoio à

Família

1. Objetivos e Âmbito

Descrição de atividades a desenvolver no âmbito da componente socioeducativa dirigida às

crianças das salas heterogéneas, grupo etário dos 3 aos 6 anos.

2. Responsabilidades

Inerentes às funções da Técnica Superior de Educação e Auxiliares de Ação Educativa.

3. Metodologias

3.1 Dinâmica de grupo

Objetivo: Estimular a autonomia e a criatividade das crianças;

Seleção de dinâmicas, cuja base seja a reflexão sobre um tema dado e a partilha de

dúvidas;

Descrição das dinâmicas a utilizar.

3.2 Jogo

Objetivo: Estimular o trabalho em equipa, divisão de tarefas e aquirição de hábitos

sociais (e.g. dizer obrigado, por favor…)

Seleção de jogos, cuja base seja a reflexão sobre um tema. Podem ser jogos com um

objetivo definido ou apenas para descontrair no fim do dia;

3.3. Leitura de uma história

Objetivo: Estimular o imaginário, a concentração e a capacidade de interpretação das

crianças;

Seleção de uma história por semana, que poderá ser no seguimento de um tema

definido;

Deixar um momento após a leitura, para reflexão.

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Anexo 3. Modelo de avaliação das Atividades da Componente de Apoio à Família

Gostaram Não Gostaram

Data: __/__/__

Sala: ________

Duração: ______

Nome da atividade: _______________________

Nº Crianças presentes:________ ____________ ____________

Nome das Crianças:

_______________ ______________ _______________ _______________ ______________

_______________ ______________ _______________ _______________ ______________

_______________ ______________ _______________ _______________ ______________

_______________ ______________ _______________ _______________ ______________

Avaliação:

___________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Sugestões: ___________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Assinatura: _________________________

Desenho

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Anexo 4. PowerPoint da Formação para as Educadoras

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