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8/18/2019 Desapegar-se do “mito Lula” e não se iludir com a Lava-Jato – Brasil em 5.pdf
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Brasil em 5
A conjuntura em 5 minutos
Desapegar-se do “mito Lula” e não se iludir com
a Lava-Jato
05/03/2016 Rodrigo Santaella GonçalvesPor Rodrigo Santaella
As qualidades e o carisma como quadro público, a capacidade de expressar-se de forma simples edireta e a história que carrega sobre os ombros fazem com que Lula desperte encanto e sentimento desolidariedade em muita gente. De outra parte, é esse mesmo conteúdo histórico que ele carrega quedesperta o ódio de muitos setores da sociedade. Admirado e odiado, Lula é um mito e écompreensível que desperte paixões, especialmente em uma situação extrema como a sua “conduçãocoercitiva” para depor na última sexta-feira.
Entretanto, para aqueles que querem transformar a realidade, definitivamente é preciso desapegar-sedo “mito Lula”. É inconcebível que a militância de esquerda e parte da intelectualidade do país secomporte de forma acrítica com relação ao que foram os governos Lula e Dilma. Sob a justificativa deque não haveria como fazer diferente, a opção por alianças com oligarquias as mais diversas, umarelação orgânica e bastante consolidada com setores do empresariado nacional e internacional, e osconsequentes métodos de corrupção sistemática utilizados na administração estatal terminaram pordestroçar quaisquer avanços que poderiam ter restado do chamado fenômeno do “lulismo”. Se emalgum momento ele serviu para barrar alguns avanços neoliberais, isso acabou.[1]
Não só quaisquer avanços estão sendo desmantelados, como o próprio lulo-petismo toma muitas
iniciativas nesse sentido (hp://brasilem5.org/2016/01/19/dez-golpes-de-direita-do-governo-dilma-rousseff/). Retirada de direitos trabalhistas e ataques à Constituição de 88 (hps://www.youtube.com/watch?v=eA3GZuNMveo), privatizações, lei antiterrorismo, megaprojetos destruidores do meioambiente, um fiasco na demarcação de terras indígenas, e tanto outros eteceteras. Tantas alianças etanta corrupção em nome do projeto? Que projeto, caras pálidas? Lula, principal símbolo disso tudo,efetivamente atua como lobista internacional de megaempresas como a Odebretch. É aí que nóschegamos. E é essa a cara mais nefasta da decomposição melancólica de um projeto que surgiu da
base e referenciado nas classes populares para tornar-se de cúpula e de setores das elites. Não é umprojeto popular, longe disso.
Por outro lado, é preciso que não nos iludamos com a “Operação Lava-Jato”. Se ela tem o mérito deajudar a elucidar mecanismos das entranhas da corrupção do país, não há dúvidas de que fere oEstado democrático de direito em alguns momentos, e o faz pautada em interesses também escusos.É o motor de um espetáculo bizarro, que empolga os desavisados e que conta com a volta escrachadade uma mídia que flerta com o golpismo e se encanta com as próprias possibilidades de incidir no
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futuro do país. A inspiração de Sérgio Moro na Lava Jato, a operação Mãos Limpas na Itália(hp://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1723856-escrito-em-2004-artigo-de-moro-sobre-operacao-na-italia-espelha-lava-jato.shtml), contava com os mesmos métodos: vazamentos seletivosde informações alternado com prisões e apreensões espetaculosas, o que gera um espetáculo teatralmidiático contínuo criador heróis e vilões. Agora, o jogo de troca-troca entre o judiciário e a mídiaterminou por, de forma muito articulada, insuflar as manifestações marcadas para o dia 13 de março,oxigenando uma mobilização e uma agenda que já estavam arrefecendo no país. E nada é por acaso.
Depois de anos de fartura com os governos do PT, importantes setores dos “mercados” querem aqueda de Dilma, e querem a cabeça do Lula. Isso fica claro quando vemos que o dólar baixou mais de7% e a bolsa de valores teve as maiores altas dos últimos 7 anos nos últimos dois dias. O “mercado”não é neutro e contribui, pressiona e manipula suas peças no jogo político o tempo todo. A Lava-Jatotem tudo isso como pano de fundo, e é permeada por todos esses interesses – a blindagem ediferença de tratamento com relação aos partidos tradicionais do país, especialmente PSDB e PMDB,deixa isso muito claro – e por eles fere o Estado de Direito [2]. Não há o que se celebrar e não háheróis nessa polarização.
Não é hora de mobilizar-se em defesa do PT nem de Lula. Se a ação da PF deve requentar a ideia de
uma polarização entre um suposto projeto popular e um projeto de direita, não devemos cair nessacantilena. Não é hora de comemorar nada, nem a operação da PF nem o discurso inflamado ecircunstancial de um Lula que lembrou velhos tempos. A hora é de aproveitar a crise para avançar naconstrução de outro projeto, pela base. As Frentes formadas não podem perder-se no discurso dedefesa do governo ou de figuras como Lula, sob pena de perderem seu sentido. De imediato, nãopodemos esquecer do #ForaCunha, oportunamente deixado de lado no momento de maiorfragilidade do Presidente da Câmara. Precisamos aproveitar o momento para criar uma novaplataforma dos movimentos que paute reforma agrária, dívida pública, democratização dacomunicação, direitos sociais, etc. e ocupar espaços e o vácuo político que deve abrir-se no país. Se osespaços tendem a ser hegemonizados pela defesa de Lula e contra o impeachment, por um lado, epela celebração de uma operação cheia de problemas e a busca pelo impeachment, por outro, nossodesafio, mais uma vez, é não cair na falsa polarização. Nessa disputa entre os de cima, o povo
brasileiro tem pouco a ganhar. É preciso explicitar as semelhanças estruturais entre o que parecemprojetos distintos, e ocupar o espaço, que tende a abrir-se com a perda geral de referências políticas,com a construção coletiva de outro projeto. Sem isso, seguiremos vendo a Nova Repúblicadesmoronar em meio a uma disputa que há muito não nos pertence.
[1] Se dizíamos ainda em 2009 (hps://brasiledesenvolvimento.wordpress.com/2009/11/22/debate-com-emir-sader/), quando Lula tinha 80% de aprovação, que havia alguns avanços no governo, masque por serem aliados a uma deseducação política e a uma lógica macroeconômica neoliberal
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impediam estruturalmente qualquer projeto efetivamente alternativo de sociedade, isso hoje estáconsolidado.
[2] É preciso dizer, entretanto, que o “estado de exceção” que tangencia uma operação como essas eque por ora assusta militantes do governo, atinge setores organizados do povo brasileiro há tempos,com anuência e protagonismo desse mesmo governo: lembremos do esquema de repressão montadodurante a Copa do Mundo, para ficarmos em um exemplo.
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