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11/04/11 1 A INVESTIGAÇÃO FORENSE EM SITUAÇÕES DE DESASTRES Maria Cristina de Mendonça DESASTRE Situação que, resultante da mesma ocorrência, ocasiona um número de vítimas superior à capacidade de resposta das instituições de socorro locais.

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A INVESTIGAÇÃO FORENSE EM SITUAÇÕES DE DESASTRES

Maria Cristina de Mendonça

DESASTRE

Ø  Situação que, resultante da mesma ocorrência, ocasiona um número de vítimas superior à capacidade de resposta das instituições de socorro locais.

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DESASTRE DE MASSA (MASS DISASTER)

Catástrofe (gr. Katastrepho) = destruir

Ø  Elevados danos patrimoniais Ø  Elevado número de vítimas

(mortais e não mortais) Ø  Dificuldade de restabelecimento

da normalidade

DESASTRES MASSIVOS

São cada vez mais frequentes Ø  facilidades de transportes Ø  aglomerações populacionais Ø  acções terroristas

Há cada vez maior visibilidade

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DESASTRES DE MASSA

Importância social

Ø  Ressonância nos meios de comunicação social Imagens chocantes, sem critérios de impacto Os familiares das vítimas conhecem as circunstâncias (nomes das vítimas mortais) antes de ser informados oficialmente pelas autoridades competentes Os familiares das vítimas podem ver imagens dos corpos antes de receberem a comunicação oficial dos resultados das investigações

DESASTRES DE MASSA

Importância social

Ø  Riscos para a saúde pública Ø  Riscos para a ordem pública Vítimas de ferimentos graves Infecções, epidemias, pilhagens Populações desalojadas Situação emocional dos familiares

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DESASTRES DE MASSA

Importância social

Ø  Exigências das investigações policiais Pressão das autoridades políticas locais e governamentais Pressão das famílias Pressão dos grupos financeiros/comerciais envolvidos

DESASTRES DE MASSA

Importância social

Ø  Características das vítimas

Diferentes nacionalidades Diferentes grupos populacionais Diferentes origens dos dados identificativos

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DESASTRES DE MASSA

Necessidade de coordenação dos diferentes organismos intervenientes

Necessidade de estratégias de actuação conjunta eficazes

Ø Necessidade de intervenção de equipas especializadas multidisciplinares (serviços médicos de emergência, forças de segurança e ordem pública, bombeiros, equipas de identificação, voluntários, serviços funerários, etc.)

eficácia ≠ rapidez

População: 10 803 000 h.

Superfície: 91 836 Km2

Continente .... 88 705 Km2

Açores ............ 2 335 Km2

Madeira ............. 796 Km2

Extensão litoral: 848 Km Madeira

Açores

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Riscos Naturais: •  Cheias

•  Incêndios florestais

•  Sismos

•  Deslizamentos geomorfológicos

•  Situações meteorológicas adversas

Riscos Tecnológicos: •  Acidentes de viação

•  Acidentes ferroviários

•  Acidentes de aviação

•  Acidentes industriais

•  Acidentes no transporte de materiais perigosos

•  Incêndios em centros urbanos

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Riscos Sociológicos: •  Espectáculos desportivos

•  Concentrações religiosas

•  Manifestações políticas

•  Atentados terroristas

•  Guerras

•  Crimes contra a

Humanidade

(genocídio)

•  Violação de

direitos humanos

DESASTRES MASSIVOS

Ø  Abertos não se conhecem as vítimas (terramotos, inundações, incêndios)

Ø  Fechados as vítimas são conhecidas (acidentes de transporte aéreo, naufrágios)

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Dificuldade de encerrar os trabalhos de resgate

Haiti, 2010 “Resgatado dos escombros após duas semanas soterrado…”

Ministério da Administração Interna

SERVIÇO NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL

Decreto-Lei n.º 203/93, de 3 de Junho Lei Orgânica do SNPC

Decreto-Lei n.º 152/99, de 10 de Maio

alterações à Lei Orgânica do SNPC

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Ministério da Administração Interna

SERVIÇO NACIONAL DE BOMBEIROS E PROTECÇÃO CIVIL

Decreto-Lei n.º 49/2003, de 25 de Março Novo serviço de protecção civil e socorro

tendo por base as experiências institucionais existentes

e a sua evolução

em substituição do SNPC

e do Serviço Nacional de Bombeiros

Ministério da Administração Interna

AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL

Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho

Lei de Bases da Protecção Civil

Princípios: (...) actividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e

autarquias locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas, com a finalidade de prevenir riscos colectivos inerentes a situações de acidente

grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram. (...) promover as condições indispensáveis à sua execução, de forma descentralizada, sem prejuízo do apoio mútuo entre organismos e entidades do mesmo nível ou proveniente de

níveis superiores.

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Ministério da Administração Interna

AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho

Objectivos: (...)

a)  Levantamento, previsão, avaliação e prevenção dos riscos colectivos; b)  Análise permanente das vulnerabilidades perante situações de risco; c)  Informação e formação das populações, visando a sua sensibilização (...); d)  Planeamento de situações de emergência, visando a busca, o salvamento, a

prestação de socorro e de assistência, bem como a evacuação, alojamento e abastecimento das populações;

e)  Inventariação dos recursos e meios disponíveis e dos mais facilmente disponibilizáveis (...);

f)  Estudo e divulgação de formas adequadas de protecção (...); g)  Previsão e planeamento de acções atinentes à eventualidade de isolamento de áreas

afectadas por riscos.

Ministério da Administração Interna

AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho

Comissão Nacional de Protecção Civil presidida pelo Ministro da Administração Interna

Comissões Distritais de Protecção Civil presididas pelos governadores civis

Comissões Municipais de Protecção Civil presididas pelos presidentes das câmaras municipais

Subcomissões permanentes

Unidades locais

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Ministério da Administração Interna

AUTORIDADE NACIONAL DE

PROTECÇÃO CIVIL

Plano Nacional de Emergência

Planos Sectoriais de Intervenção: • Planos Municipais de Emergência

• Planos Distritais de Emergência

• Planos Regionais de Emergência

Ministério da Administração Interna

AUTORIDADE NACIONAL

DE PROTECÇÃO CIVIL

Sistema Integrado de Operações de Protecção e Socorro

(SIOPS)

articula operacionalmente os agentes de protecção civil

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Agentes de Protecção Civil

1. - Os corpos de bombeiros

- As forças de segurança

- As Forças Armadas

- As autoridades marítima e aeronáutica

- O INEM e demais serviços de saúde

- Os sapadores florestais

2. A Cruz Vermelha Portuguesa

3. - Associações humanitárias de bombeiros voluntários

- Serviços de segurança

- Instituto Nacional de Medicina Legal

- Instituições de segurança social

- Instituições com fins de socorro e de solidariedade

- Organismos responsáveis pelas florestas, conservação da natureza, indústria e energia, transportes, comunicações, recursos hídricos e ambiente

- Serviços de segurança e socorro privativos das empresas públicas e privadas, dos portos e aeroportos

Plano Nacional de Emergência 1994 / 2011

Grupo de Saúde e Evacuação Secundária!

coordenado pelo

Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)

Secção de Mortuária

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AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL

INSTITUTO NACIONAL DE

MEDICINA LEGAL

Equipa Médico-Legal de Intervenção em Desastres (2001)!

integrada na base de dados do Mecanismo Comunitário de Protecção Civil

do Centro de Monitorização e Vigilância da União Europeia

RECOLHA DOS CADÁVERES

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ERAV – Entidades Responsáveis de Avaliação de Vítimas

GNR / PSP investigador criminal médico

Verificação do óbito

TARJA NEGRA

referenciação do cadáver validação suspeita de crime preservação das provas verificação do óbito

Equipas médicas de emergência

Verificação do óbito

Investigação criminal

TARJA NEGRA

ETIQUETA DE SINALIZAÇÃO

Ministério Público

ORDEM DE LEVANTAMENTO E AUTÓPSIA

Autorização de remoção do cadáver para autópsia

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TRANSPORTE DOS CADÁVERES

Autoridades locais

Autoridades militares

Voluntários (CVP)

O transporte tem que ser organizado

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Ø  a tarja negra e a etiqueta de sinalização colocadas no cadáver nunca se retiram

Os corpos das vítimas devem ser protegidos e transportados juntamente com o espólio, em sacos adequados - body bags Ø  os documentos e os objectos pessoais servirão para a posterior identificação

Ø  os sacos devem ser marcados/etiquetados por fora com a mesma numeração da etiqueta de sinalização

As vítimas que estavam a viajar habitualmente levam documentos identificativos

Ø  as que estavam em casa, na rua ou na praia, já não

Transporte massivo

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DEPÓSITO DOS CADÁVERES

Valas comuns: corpos sem identificar

Valas comuns: acondicionar os corpos para posterior identificação, quando as condições permitirem

Zonas de Reunião de Mortos (ZRnM)

Utilização de body bags

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Acautelar a conservação dos cadáveres FRIO

Depósito e conservação de cadáveres

IDENTIFICAÇÃO DOS CADÁVERES

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Câmara Municipal de Phuket International Victim Identification Centre

Desaparecidos Cadáveres

A entrega dos corpos por identificação visual é inadmissível

IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL

Ø Exames não científicos, de presunção Ø  Exames gerais, espólio Ø  Exames radiológicos

Ø Exames científicos Ø  Medicina Dentária Forense Ø  Dactiloscopia Ø  Genética Forense

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IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL

Método reconstrutivo

Factores genéricos de identificação

Método comparativo

Factores individualizantes de identificação

perfil do desconhecido

identificação positiva

IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL

Dados AMcolhidos juntos dos familiares e amigos

Dados PMcolhidos no cadáver

permitem a reconstrução do perfil do desconhecido

AM/PMpermite a identificação positiva

permitem a reconstrução do perfil do cadáver

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INTERVENÇÃO MÉDICO-LEGAL EM DESASTRES

OBJECTIVOS

Mortuária

Ø  Identificação das vítimas Ø Determinação da causa da morte Ø Determinação da data (momento) da morte

(comoriência)

EXAME DO CADÁVER AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL

AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL

Ø Exame sumário do cadáver → DVI Ø Exame pormenorizado → key victims

Exames complementares

Nos desastres de múltiplas vítimas a autópsia médico-legal é obrigatória

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AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL

DVI - Disaster Victim Identification

formulários da INTERPOL

formulários do ICRC

Mesmo que os corpos estejam íntegros (“reconhecíveis”), é necessário fundamentar a identificação com métodos científicos (objectivos)

DESASTRES MASSIVOS

Autópsia médico-legal

A obrigatoriedade da autópsia médico-legal leva à necessidade da existência de equipas médico-legais de intervenção especializadas

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Autópsia médico-legal

Uniformização de metodologias

Ø Técnica de autópsia Ø Exames complementares Ø Relatórios periciais

DESASTRES MASSIVOS

Autópsia médico-legal

Instalação do necrotério provisório NECPRO

Ø  Fora do teatro de operações Ø  Fora das rotas de evacuação de vítimas Ø  Com condições básicas de trabalho Ø  Em local não estigmatizante para as populações

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Administrative tasks and reception of

relatives Relaxation of staff

Access for relatives

A. for reception of bodies

Area for preparation and delivery of

bodies

Cold

Exit of bodies Entry of bodies

Area for identification Area for

autopsies Area for equipment

NECPRO

Zona de atendimento de

familiares

Serviços funerários

Fluoroscopia Conflitos armados

Medicina Dentária Forense RX dentário Ficha dentária

Exame externo do cadáver

Exame do espólio

Exame do vestuário

Dactiloscopia

Colheita de amostra biológica

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Exame do cadáver Equipa multidisciplinar patologista antropólogo médico dentista investigador criminal técnico de autópsia

Inventariado de todos os artefactos (investigação criminal)

Vestuário objectos pessoais documentação projécteis etc.

Introdução constante dos dados PM

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ENTREGA DOS CADÁVERES

Acondicionamento do corpo

para entrega

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Disaster Victim Identification Ante Mortem Coordination Centre

(DVI-AMCC)

AM-PM Reconciliation Centre INTERPOL Plass Data

Disaster Victim Identification Post Mortem Coordination Centre

(DVI-PMCC)

Criminal Police Department

Reconciled Thai victims by primary evidence under TTVI (after Feb 3, 05)

49 % 46 %

2 % 3 %

Source: TTVI on April 30, 2005 Dr. Pongruk Sribanditmongkol Department of Forensic Medicine, Faculty of Medicine, Chiang Mai University, Thailand

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Nos desastres abertos

Há mais/menos dados PM do que AM Os dados AM podem incluir “desaparecidos”

Vão ficando por identificar os casos mais difíceis, nos quais as técnicas morfológicas não resultam - crianças

Nos desastres fechados

O número de dados PM e AM é igual

A identificação faz-se “encaixando” os casos por grupos de características morfológicas

A identificação positiva deve-se conseguir em 100% dos casos

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ACEITAÇÃO DOS RESTOS IDENTIFICADOS

POR PARTE DOS FAMILIARES

Desastres naturais versus Conflitos armados

Idoneidade das equipas forenses intervenientes

(recurso a equipas internacionais)

Cadeia de custódia

Certificado

de óbito

A identificação visual está vivamente desaconselhada

É inaceitável do ponto de vista moral

Substituir os restos cadavéricos por espólio

É inútil do ponto de vista técnico