Desastres Naturais VolI

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  • MANUAL DE DESASTRES

    VOLUME I

    DESASTRES NATURAIS

    Braslia - 2003

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  • MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL

    Ministro da Integrao Nacional CIRO GOMES

    Secretrio Nacional de Defesa Civil JORGE DO CARMO PIMENTEL

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  • Autor ANTNIO LUIZ COIMBRA DE CASTRO Co-Autores LELIO BRINGEL CALHEIROS MARIA INZ RESENDE CUNHA MARIA LUIZA NOVA DA COSTA BRINGEL Reviso ANA ZAYRA BITENCOURT MOURA Colaborao FRANCISCO QUIXABA FILHO RAIMUNDO BORGES Montagem MARIA HOSANA BEZERRA ANDRE MARIA INZ RESENDE CUNHA MARIA LUIZA NOVA DA COSTA BRINGEL Capa e Digitao MARCO AURLIO ANDRADE LEITAO

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  • SUMRIO CAPITULO I - DESASTRES NATURAIS DE ORIGEM SIDERAL TTULO I - IMPACTO DE CORPOS SIDERAIS 1 - Impacto de Meteorito CAPITULO II - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINMICA TERRESTRE EXTERNA TITULO I - DESASTRES NATURAIS DE CAUSA ELICA 1 - Vendavais ou Tempestades 2- Vendavais Muito Intensos ou Ciclones Extratropicais 3-Vendavais Extremamente Intensos, Furaces, Tufes ou Ciclones Tropicais 4 - Tornados e Trombas dgua . . TITULO II - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM TEMPERATURAS EXTREMAS 1 - Ondas de Frio Intenso 2 - Nevadas 3 - Nevascas ou Tempestades de Neve 4 - Aludes ou Avalanches de Neve 5 - Granizos 6 - Geadas 7 - Ondas de Calor 8 - Ventos Quentes e Secos . . . TITULO III - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM O INCREMENTO DAS PRECIPITAOES HDRICAS E COM AS INUNDAES 1 - Enchentes ou Inundaes Graduais 2 - Enxurradas ou Inundaes Bruscas 3 - Alagamentos 4 - Inundaes Litorneas Provocadas pela Brusca Invaso do Mar TITULO IV - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A INTENSA REDUO DAS PRECIPITAES HDRICAS . 1 - Estiagens 2 - Seca 3 - Queda Intensa da Umidade Relativa do Ar 4 - Incndios Florestais CAPTULO III - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINMICA TERRESTRE INTERNA

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  • TITULO I - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A SISMOLOGIA 1 - Terremotos, Sismos e/ou Abalos Ssmicos 2 - Maremotos e Tsunamis. TITULO II - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A VULCANOLOGIA 1 - Erupes Vulcnicas TITULO III - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEOMORFOLOGIA, O INTEMPERISMO, A EROSO E A ACOMODAO DO SOLO 1 - Escorregamentos ou Deslizamentos 2 - Corridas de Massa 3 - Rastejos 4 - Quedas, Tombamentos e/ou Rolamentos CAPITULO IV - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM DESEQULIBRIOS NA BIOCENOSE TITULO I - PRAGAS ANIMAIS 1 - Ratos Domsticos 2 - Morcegos Hematfagos 3 - Ofdios Peonhentos 4 - Gafanhotos 5 - Formigas Savas 6 - Bicudos 7- Nematides TITULO II - PRAGAS VEGETAIS 1- Fragas Vegetais Prejudiciais Pecuria 2 - Pragas Vegetais Prejudiciais Agricultura 3 - Mar Vermelha REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • Apresentao H uma vasta bibliografia sobre desastres, mas poucos trabalhos, especialmente no Brasil, permitem uma viso geral. No presente Manual, procurou-se agregar um volume significativo de informaes sobre os desastres provocados por fenmenos e desequilbrios da natureza, de ocorrncia no Brasil e nos outros pases. Os demais tipos de desastres, ou seja, aqueles provocados pela ao ou omisso do homem e os mistos sero assunto de outros volumes, j em fase final de elaborao. O Manual de Desastres Naturais - Volume I, ora apresentado pela Defesa Civil, foi elaborado com base na Classificao Geral dos Desastres e na Codificao de Desastres, Ameaas e Riscos - CODAR, aprovadas pela Resoluo n 2, do Conselho Nacional de Defesa Civil, e aborda cada desastre utilizando a seguinte sistemtica: - Caractersticas; - Causas; - Ocorrncia; - Principais Efeitos Adversos: - Monitorizao. Alerta e Alarme; - Medidas Preventivas. O tema deste Manual foi desenvolvido em 4 captulos, detalhando os desastres naturais relacionados com: - o impacto de corpos oriundos do espao sideral sobre a superfcie da Terra; - os fenmenos atmosfricos, meteorolgicos e/ou hidrolgicos que ocorrem na atmosfera terrestre; - as foras atuantes nas camadas superficiais e profundas da litosfera; - a ruptura do equilbrio dinmico entre os bitopos e a biocenose dos ecossistemas e na prpria biocenose. Neste Manual, no se pretende esgotar o assunto, e, por se tratar de verso preliminar, de grande importncia a contribuio de tcnicos das reas setoriais, das Defesas Civis estaduais e municipais e dos rgos de apoio do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, para o enriquecimento deste trabalho. Deseja-se, portanto, que este Manual sirva de referencial tcnico para o estudo e o gerenciamento dos desastres, em todo o territrio nacional.

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  • CAPTULO I DESASTRES NATURAIS DE ORIGEM SIDERAL

    CODAR:NS/CODAR: 11

    TTULO I - IMPACTO DE CORPOS SIDERAIS

    1 - Impacto de Meteoritos

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  • TTULO I IMPACTO DE CORPOS SIDERAIS

    CODAR: NS.Q/CODAR: 11.1

    Introduo

    Desastres naturais de origem sideral podem ocorrer como conseqncia do impacto de corpos oriundos do espao sideral sobre a superfcie da Terra.

    Os corpos siderais tm atingido a Terra e outros planetas do sistema solar, bem

    como seus satlites, desde sua remota formao, h mais de 4,5 bilhes de anos.

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  • Impacto de Meteoritos

    CODAR: NS.QMT/CODAR: 11.101

    Caracterizao Qualquer corpo sideral que impacte contra a Terra denominado de meteorito, independentemente de sua origem. Ao penetrar na atmosfera terrestre, sua velocidade inicial aproxima-se de 75 km/s, sendo freada pelo atrito com os fluidos gasosos da atmosfera, atingindo uma velocidade terminal superior a 25 km/s. O atrito torna os meteoritos incandescentes e luminosos. Os meteoritos podem ser subdivididos em: - carbonticos, que so extremamente friveis e queimam com tal intensidade na fase incandescente, que dificilmente atingem a superfcie da Terra; - assideritos ou aerlitos, os quais podem ser constitudos principalmente por silicato de alumnio, de composio semelhante do SIAL, camada mais externa da crosta terrestre, ou por silicato de magnsio, de composio semelhante do SIMA, camada intermediria do globo terrestre; - sideritos, constitudos por uma liga de ferro (92%) e nquel (8%), de composio semelhante do NIFE, que constitui o ncleo externo do globo terrestre; - litossideritos, quando constitudos por pores rochosas e metlicas; - fragmentos gelados dos cometas, que podem provocar grandes exploses ao atingirem as camadas mais adensadas da atmosfera. Dependendo do tamanho do fragmento, essa exploso pode provocar um impacto superior ao de numerosas bombas de hidrognio. Meteoritos so corpos siderais cujas massas variam entre centigramas e vrias toneladas. Originados no espao interplanetrio, ao entrarem na atmosfera, tornam-se incandescentes em funo do atrito e acabam por impactar sobre a superfcie da Terra. Esses corpos siderais tm duas origens principais: - asterides; - fragmentos de cometas. Asterides Os asterides foram identificados a partir de 1801 e, ao longo dos anos, registrou-se mais de 1.560 deles, gravitando em torno do Sol, numa rbita intermediria entre Marte e Jpiter. Para alguns cientistas, esses asterides, tambm chamados de objetos Apollo, so restos de um planeta que primitivamente orbitava entre Marte e Jpiter. Esse planeta, que tinha aproximadamente um tero da massa da Terra, por algum motivo fragmentou-se, dando origem ao atual cinturo de asterides, que continua ocupando sua rbita primitiva. Para outros cientistas, o processo de consolidao desse planeta hipottico foi interrompido pela ao interativa das foras de gravidade do planeta Jpiter e do Sol, e os asterides seriam os corpos resultantes da interrupo do processo. Dentre os asterides mais volumosos, destacam-se o Hephaistos, com 8 km de dimetro e o Nereus, com 4 km.

  • Cometas Os cometas so corpos siderais que desenvolvem longas rbitas excntricas entre Pluto e o Sol. So constitudos por aglomerados de gelo e de outras partculas csmicas e, morfologicamente, formados por um ncleo condensado, uma aura mais luminosa denominada cabeleira ou coma e uma cauda que sempre se distribui em sentido oposto ao do Sol. O astrnomo holands Jan Oort, falecido em 1992, descobriu, alm de Pluto, nos confins do sistema solar, uma nuvem repleta de partculas de gases congelados e de detritos do espao csmico. Essa nuvem conhecida como Nuvem de Oort, em homenagem ao seu descobridor. Segundo os cientistas atuais, os cometas so gerados na Nuvem de Oort e, ao receberem um chute gravitacional provocados pela passagem de um conglomerado de poeira e gs, iniciam sua derrota em direo ao Sol. Na medida em que os cometas aproximam-se do Sol, ganham velocidade, e o calor solar transforma os gases congelados em vapor que, juntamente com partculas ionizadas do espao sideral, formam a coma e a cauda do cometa. As rbitas dos cometas em princpio so elpticas, mas, algumas vezes, a excentricidade pode aproximar-se da unidade, caracterizando rbitas parablicas, tendentes a hiperblicas. Aproximadamente 514 cometas, com rbitas conhecidas, j foram catalogados. Desses, aproximadamente 216 possuem rbitas nitidamente elpticas e 67 tm perodos inferiores a 10 anos, dos quais 31 retornam s proximidades da Terra a intervalos regulares. Os cometas mais citados, inclusive pela imprensa, so os de: HalIey, Encke, Biella, Brooks, Swift-Tuttle e, recentemente, o Shoemaker-Levy 9. O cometa Halley tem uma rbita peridica de 76 anos. Sua ltima aproximao ocorreu em 1986 e provavelmente retornar em 2.062. O cometa Swift-Tuttle, detectado em 1862, retornou no dia 07 de novembro de 1992, passando a 177 milhes de quilometro da Terra. Esse cometa responsvel pelas tempestades de meteoritos Posseidon, que ocorrem anualmente em agosto, quando a Terra cruza com sua cauda. O Swift-Tuttle, aps circundar Pluto, numa rbita de 134 anos, retornar em agosto de 2.126, quando sua distncia da Terra corresponder a 23 milhes de quilmetros ou 60 distncias lunares. O cometa Shoemaker-Levy 9 impactou entre 18 e 22 de julho de 1994 contra a superfcie de Jpiter. Segundo os cientistas, h 65 milhes de anos, um fragmento de cometa, com 9.600 metros de dimetro, impactou sobre a superfcie da Terra, provocando a destruio de dois teros da vida existente, inclusive a extino dos dinossauros que, at ento, dominavam as formas de vida animal presentes. Em 30 de julho de 1908, os restos de um cometa explodiram a 2.000 metros de altura, sobre Tunguska, na Sibria, liberando uma quantidade de energia superior a 20 milhes de toneladas de TNT (20 megatons), com poder destruidor duas mil vezes superior ao da bomba de Hiroshima. A exploso destruiu 2.000 km2 de florestas, calcinando rvores e animais. O estrondo provocado foi ouvido a 800 km de distncia. 10

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  • Ocorrncia Os astrnomos concluram que numerosas crateras observadas na Lua, nos planetas e em seus satlites foram provocadas pelo impacto de meteoritos, desviados de seus campos orbitais e atrados pela fora de gravidade desses astros. Estima-se que aproximadamente 20 toneladas de partculas csmicas da dimenso aproximada de um gro de areia precipitam-se diariamente sobre a superfcie da Terra. Anualmente, milhares de meteoritos do tamanho de pedras de carvo atingem a superfcie da Terra, aps desenharem na atmosfera suas trajetrias incandescentes. Segundo o Departamento de Avaliao Geolgica do Canad, foram detectadas 139 grandes crateras na superfcie terrestre, as quais foram provocadas pelo impacto de meteoritos de porte. Anualmente, so descobertas mais 5 a 6 novas crateras. No Brasil, foram identificadas 8 crateras, at o momento. Como numerosas crateras foram desfeitas pelo intemperismo e pela eroso e como dos 659.082.000 km2 da superfcie da Terra, aproximadamente 148.148.000 correspondem s terras emersas, muito provvel que o planeta tenha sofrido mais de 3.000 grandes impactos, a partir de sua consolidao. Conseqentemente, pode-se estimar que a cada 1,5 milhes de anos a Terra impactada por um meteorito de tal magnitude que, se o fenmeno ocorresse nos dias atuais, muito provavelmente provocaria um desastre de grandes propores. H aproximadamente 100 mil anos, um meteorito de ferro-nquel, com um dimetro de 150m e uma massa aproximada de 10 milhes de toneladas, impactou, numa velocidade aproximada de 25 km/s superfcie da Terra, nas imediaes da atual Winslow, no Arizona. Do impacto, resultou uma cratera com 1.590m de dimetro e 170m de profundidade. Em junho de 1178, um meteorito explodiu sobre Canterbury, na Inglaterra, e os monges da poca registraram o fenmeno, caracterizado pelo aparecimento de uma grande bola de fogo acompanhada de um estrondo muito intenso e de imensos incndios florestais. O mais famoso meteorito que atingiu o solo brasileiro o de Bendeg, com 5.300 kg de ferro-nquel, o qual caiu no Estado da Bahia e est em exposio no Museu Nacional de Histria Natural, localizado na Quinta da Boa Vista, cidade do Rio de Janeiro. Principais Efeitos Adversos Caso um meteorito semelhante ao que impactou contra a Terra no perodo Cretceo, h 65 milhes de anos, atingisse o planeta nos dias de hoje, provocaria um desastre de tal intensidade, que poderia inviabilizar a prpria existncia da espcie humana. Dentre os principais efeitos adversos, relacionados com essa ameaa, compete destacar: - o efeito trmico; - o efeito qumico; - o efeito mecnico; - a formao da nuvem de poeira. 1 - Efeito Trmico 12

  • O meteorito, ao penetrar na atmosfera terrestre, com velocidade aproximada de 75 Km/s, em funo do atrito crescente e da intensa compresso dos gases, durante sua trajetria, reduziria sua velocidade terminal para aproximadamente 25 Km/s, entraria em incandescncia e formaria um tnel de gases superaquecidos, onde a temperatura seria superior a 1.000C 2 - Efeito Qumico Nessas elevadssimas temperaturas, os gases que compem a atmosfera terrestre se combinariam, produzindo cido ntrico, provocando um dilvio de chuva cida, de alto poder destrutivo que, no exemplo citado, atingiria uma superfcie superior do atual Estado de Minas Gerais. 3 - Efeito Mecnico Ao impactar contra a superfcie da Terra, com uma fora cujo momento corresponde ao produto da massa pela velocidade terminal (3,1416 X 9.000 m3 X Densidade Fe X 25.000 m/s), o blide provocaria uma onda de presso proporcional ao quadrado da velocidade e liberaria uma quantidade de energia, tambm proporcional ao quadrado da velocidade, a qual superaria, em muitas vezes, a totalidade do arsenal atmico atualmente existente. Esse impacto, alm de formar uma imensa cratera capaz de engolfar toda a cidade de Nova lorque, provocaria uma onda de choque que causaria um terremoto de grande magnitude, com maremotos e, possivelmente, reativaria grande quantidade de vulces. 4 - Formao da Nuvem de Poeira Como toda a ao produz uma reao igual e contrria, o violentssimo impacto liberaria uma quantidade de energia to grande, que: - provocaria a elevao da temperatura em nveis somente existentes na superfcie solar (6.000C); - provocaria a evaporao instantnea de toda a gua e a calcinao de todas as formas de vida existentes nas imediaes; - elevaria uma grande quantidade de projteis secundrios at as camadas mais elevadas da atmosfera, os quais, ao reimpactarem contra a Terra, provocariam novos incndios, ondas de choque e perdas de vida; - elevaria uma imensa nuvem de poeira, que necessitaria de muitas centenas de anos para dissipar-se. Essa nuvem de poeira, ao bloquear a passagem dos raios solares, inviabilizaria a fotossntese, provocando o desaparecimento de todos os vegetais superiores e dos animais, cujas cadeias nutritivas dependem dos mesmos. Monitorizao, Alerta e Alarme Cogita-se a criao de uma agncia internacional que, sob os auspcios da Organizao das Naes Unidas - ONU, coordene as atividades das agncias espaciais, como a NASA, e de observatrios astronmicos, objetivando o cadastramento de informaes relacionadas com asterides e cometas, que possam apresentar riscos de impacto para o planeta. O custo inicial de implantao do sistema seria de aproximadamente US$ 100 milhes, e 13

  • sua operacionalizao custaria US$ 10 milhes anuais. A comunidade de astrnomos amadores, responsvel por mais de 70% das descobertas de cometas, poderia participar do sistema, cabendo a cada um dos astrnomos cadastrados a responsabilidade de vigiar, permanentemente, um setor determinado do espao sideral. Medidas Preventivas No atual estgio de desenvolvimento tecnolgico, o homem ainda no tem condies de alterar o curso de um meteorito de sua rota de impacto. Teoricamente, msseis extremamente potentes e precisos poderiam utilizar ogivas atmicas para interferir e modificar essas rotas. evidente que muito esforo de pesquisa dever ser desenvolvido para permitir um aceitvel grau de preciso, para um sistema antimeteorito.

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  • CAPTULO II DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINMICA TERRESTRE EXTERNA CODAR: NE/CODAR: 12 TITULO I DESASTRES NATURAIS DE CAUSA ELICA 1 - Vendavais ou Tempestades 2 - Vendavais Muito Intensos ou Ciclones Extratropicais 3 - Vendavais Extremamente Intensos, Furaces, Tufes ou Ciclones Tropicais 4- Tornados e Trombas dgua TITULO II - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM TEMPERATURAS EXTREMAS 1 - Ondas de Frio Intenso 2 - Nevadas 3 - Nevascas ou Tempestades de Neve 4 - Aludes ou Avalanches de Neve 5 - Granizos 6 - Geadas 7 - Ondas de Calor 8 - Ventos Quentes e Secos TITULO III- DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM O INCREMENTO DAS PRECIPITAES HDRICAS E COM AS INUNDAES 1 - Enchentes ou Inundaes Graduais 2 - Enxurradas ou Inundaes Bruscas 3 - Alagamentos 4 - Inundaes Litorneas Provocadas pela Brusca Invaso do Mar TITULO IV -DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A INTENSA REDUO DAS PRECIPITAES HDRICAS 1 - Estiagens 2 - Seca 3 - Queda Intensa da Umidade Relativa do Ar 4- Incndios Florestais

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  • TTULO I DESASTRES NATURAIS DE CAUSA ELICA CODAR: NE. E/ CODAR: 12.1 1 - Vendavais ou tempestades Introduo Os desastres naturais de causa elica so os relacionados com a intensificao do regime dos ventos ou com a forte reduo da circulao atmosfrica. Esses desastres so subdivididos em: - vendavais ou tempestades; - vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais; - vendavais extremamente intensos, furaces, tufes ou ciclones tropicais; - tornados e trombas dgua. A inverso trmica nas camadas ser examinada quando do estudo dos desastres mistos. Escala Modificada de Beaufort A escala foi idealizada pelo almirante e hidrgrafo ingls Sir Francis Beaufort, em 1806. Inicialmente, era definida em funo dos estados do mar; com o decorrer do tempo, foi modificada e utilizada, tambm, para medir os fenmenos elicos correntes nos continentes. N DA ESCALA NOMENCLATURA VELOCIDADE DO

    VENTO EM km/h CARACTERIZAO

    0

    Vento calmo ou calmaria

    Menos de 1,8

    Nada se move. A fumaa sobe verticalmente.

    1

    Bafagem, aragem leve, vento quase calmo

    1,8 - 6,0

    O sentido do vento indicado pela fumaa, mas no pelo cata-vento.

    2

    Brisa leve ou aragem

    7,0 - 11,0

    Sente-se o vento na face. As folhas das rvores so agitadas levemente. Os cata-ventos so acionados

    3

    Vento fresco ou leve

    12,0 - 19,0

    As bandeiras leves desfraldam. As folhas das rvores e arbustos movimentam-se continuamente.

    4

    Vento moderado

    20,0- 30,0

    Levanta poeira e papis. Movimenta pequenos galhos de rvores.

    Forma ondas com

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  • 5 Vento regular 31,0 - 40,0 cristas nos rios e lagos. Faz oscilar os arbustos.

    6

    Vento muito fresco ou meio forte

    41,0 - 51,0

    Faz zunir os fios telegrficos. Movimenta os galhos maiores das rvores. Dificulta o uso de guarda-chuvas

    7

    Vento forte

    52,0 - 61,0

    Movimenta o tronco das rvores. Dificulta caminhar contra o vento.

    8

    Ventos muito forte ou ventania

    62,0 74,0

    Quebra galhos de rvores. Impossibilita andar contra o vento.

    9

    Vento duro ou ventania fortssima

    75,0 87,0

    Produz pequenos danos nas habitaes. Arranca telhas. Derruba chamins de barro.

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    Vento muito duro, vendaval ou tempestade

    88,0 102,0

    Derruba rvores. Produz danos considerveis em habitaes mal construdas. Destelha muitas edificaes.

    11

    Vento tempestuoso, vendaval muito forte, ciclone extratropical

    103,0 119,0

    Arranca rvores. Provoca grande destruio. Derruba a fiao.

    12

    Furaco, tufo ou ciclone tropical

    Acima de 120,0

    Efeitos devastadores. Provoca grande danos e prejuzos.

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  • 1 Vendavais ou tempestades CODAR: NE.EVD/ CODAR: 12.101 Caracterizao So perturbaes marcantes no estado normal da atmosfera. Deslocamento violento de uma massa de ar, de uma rea de alta presso para outra de baixa presso. Tambm chamados de ventos muito duros, correspondem ao nmero 10 da Escala de Beaufort, compreendendo ventos cujas velocidades variam entre 88,0 a 102,0 km/h. Os vendavais normalmente so acompanhados de precipitaes hdricas intensas e concentradas, que caracterizam as tempestades. Alm das chuvas intensas, os vendavais podem ser acompanhados por queda de granizo ou de neve, quando so chamados de nevascas. Causas Os vendavais so provocados pelo deslocamento violento de uma massa de ar. Normalmente esses deslocamentos violentos so causados pelo: - estabelecimento de um intenso gradiente de presso; - incremento do efeito de atrito e das foras centrfuga, gravitacional e de Coriolis. O efeito da acelerao estudado por Coriolis definido pela frmula: F = 2v. w.sen L onde: v = velocidade inicial do vento; w = velocidade angular da Terra; L = latitude. O superaquecimento local, ao provocar a formao de grandes cumulonimbus isolados, gera correntes de deslocamentos horizontal e vertical de grande violncia e de elevado poder destruidor. As tempestades relacionadas com a formao de cumulonimbus so normalmente acompanhadas de grande quantidade de raios e troves. Ocorrncia Esses fenmenos ocorrem em todos os continentes. Principais Efeitos Adversos Os vendavais ou tempestades normalmente: - derrubam rvores e causam danos s plantaes; - derrubam as fiaes e provocam interrupes no fornecimento de energia eltrica e nas comunicaes telefnicas; - provocam enxurradas e alagamentos; - produzem danos em habitaes mal construdas e/ou mal situadas; - provocam destelhamento em edificaes; - causam traumatismos provocados pelo impacto de objetos transportados pelo vento, por afogamento e por deslizamentos ou desmoronamentos. 18

  • Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos acompanham diariamente a evoluo do tempo e tm condies de alertar a Defesa Civil com horas, ou mesmo, dias de antecedncia, sobre: - a passagem de uma frente fria intensa; - a caracterizao de linhas de instabilidade; - a caracterizao de formaes convectivas. Normalmente, nessas condies, a queda acentuada da presso baromtrica em uma determinada rea e o estabelecimento de um forte gradiente do presso, com uma frente em deslocamento, so prenncio de vendaval. Medidas Preventivas Dentre as medidas preventivas de longo prazo para reduzir os efeitos dos vendavais ou tempestades, destacam-se: - plantao de renques, com quatro a seis fileiras de rvores com enraizamento profundo, de alturas gradualmente ascendentes, em sentido transversal ao do ventos dominantes, para proteger as plantaes; - construo de habitaes slidas e bem situadas, evitando reas alagveis ou sujeitas a deslizamentos e, sempre que possvel, protegidas dos ventos dominantes, por elevaes ou quebra-ventos; - construo de coberturas com telhas cuidadosamente fixadas, para evitar deslizamentos ou destelhamentos. A construo de forros e lajes contribui para aumentar a segurana contra traumatismos; - proteo das aberturas, dificultando a entrada de fortes correntes de ar no interior das residncias, atravs de janelas e portas que fechem hermeticamente. Dentre as medidas preventivas emergenciais, destacam-se: - desligar a entrada da corrente eltrica, para evitar curtos-circuitos e incndios; - proteger as pessoas do impacto de objetos, colocando-as embaixo de mesas e de outros mveis slidos, caso as habitaes no sejam slidas e confiveis; - fechar hermeticamente todas as aberturas da casa; - fixar todos os objetos que possam se tornar perigosos, caso sejam arrastados pelo vento; - manter a comunicao atravs de rdios de pilha; - estacionar o veculo automotor fora da estrada, em reas protegidas de riscos de inundaes, quedas de rvores, deslizamentos e desmoronamentos, com as luzes de alerta acionadas.

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  • 2 - Vendavais muitos intensos ou ciclones Extratropicais CODAR: NE.ECL/ CODAR: 12.102 Caracterizao Tambm chamados de ventos tempestuosos, correspondem ao nmero 11 da Escala de Beaufort, compreendendo ventos cujas velocidades variam entre 102,0 a 120,0 km/h. Normalmente, so acompanhados de precipitaes hdricas muito intensas e concentradas. Alm das chuvas concentradas, os vendavais muito intensos costumam acompanhar-se de inundaes, ondas gigantescas, raios, naufrgios e incndios provocados por curtos-circuitos. Os ciclones tropicais, que no Hemisfrio Norte tm uma rota de formato parablico e, quando originados em Cabo Verde, em funo do efeito Coriolis, seguem uma derrota curva, inicialmente na direo noroeste e, ao atingirem latitudes mdias, infletem para nordeste, acabam por se converter em ciclones extratropicais, atingindo a Europa e a Sibria. No Hemisfrio Sul, as trajetrias encurvam-se para sudoeste e depois para sudeste e, pelas mesmas causas, os ciclones tropicais podem ser continuados por ciclones extratropicais de menor intensidade. Causas Os vendavais muito intensos surgem quando h uma exacerbao das condies climticas, responsveis pela gnese do fenmeno, incrementando a magnitude do mesmo. Ocorrncia Os vendavais muito intensos ocorrem em qualquer parte da Terra. Principais Efeitos Adversos Esses fenmenos, quando muito intensos, arrancam rvores, destroem fiaes e provocam danos, normalmente mais intensos que os provocados pelos vendavais e menos que os causados pelos ciclones tropicais ou furaces. Monitorizao, Alerta e Alarme Esses fenmenos so pr-ditos da mesma forma que as tempestades ou vendavais e se beneficiam, no caso de ciclones extratropicais, pelo sistema de predio de furaces. Medidas Preventivas Semelhantes s apresentadas nos casos de vendavais ou tempestades.

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  • 3 Vendavais Extremamente Intensos, Furaces, Tufes ou Ciclones Tropicais CODAR: NE.EFR/ CODAR: 12.103 Caracterizao Ventos de velocidades superiores a 120,0 km/h, correspondendo ao nmero 12 da Escala de Beaufort. O termo furaco deriva da palavra espanhola huracan, que provm da lngua Caribe. O primeiro furaco sofrido por europeus ocorreu em 16 de junho de 1494, no porto de Isabela, da Ilha de So Domingos. O fenmeno ocorreu enquanto Colombo estava ausente, em viagem de explorao, e provocou a destruio de duas naus. O fenmeno tem varias terminologias locais e denominado de: - tufo, no mar da China e no golfo de Bengala; - ciclone, no Oceano Indico; - bagio, nas Filipinas; - willy-willy, na Austrlia. Os furaces no atingem a violncia dos tornados, mas a rea afetada e a durao do fenmeno so muito maiores. Os furaces podem cobrir meio milho de milhas quadradas e durar trs semanas. Ocorrncia Os furaces formam-se sobre guas mornas (aproximadamente 270C) dos oceanos, dentro da faixa de depresso equatorial, situada entre 5 e 10 de latitude norte ou sul. No equador, devido reduo do efeito Coriolis, no h possibilidade de ocorrer o fenmeno. Os furaces ocorrem normalmente nos meses correspondentes ao fim do vero e outono: - no Atlntico norte; - no Pacfico norte e sul; - no ndico. Em conseqncia da maior temperatura e umidade, provocadas pela circulao dos alsios, as margens ocidentais dos oceanos so mais propcias formao de furaces. O fenmeno no ocorre no Atlntico sul e nos mares europeus. Na zona temperada do Atlntico norte, podem ocorrer os chamados ciclones extratropicais, menos intensos que os tropicais, e que resultam da extenso do fenmeno a essas guas. Causas A ciclognese de um furaco depende da energia latente do vapor dgua formado na faixa de depresso equatorial. A caracterizao de um vrtice ou de uma linha de cisalhamento dentro da corrente dos alsios d inicio a um movimento centrfugo, de direo anti-horria no Hemisfrio Norte e horria, no Hemisfrio Sul. Quando se instala uma clula de baixa presso nas camadas superiores da zona de 21

  • depresso equatorial, o efeito chamin provoca a ascenso do ar para a alta troposfera, onde resfriado e desviado para fora. As foras de Coriolis e a fora centrfuga transformam a energia cintica radial do ar, que converge para a rea de baixa presso, em energia cintica tangencial, caracterstica dos ciclones. As condies bsicas para a formao de ciclones tropicais so as seguintes: - o fenmeno inicia-se dentro da faixa de depresso equatorial; - a temperatura da superfcie do oceano deve estar prxima dos 270C; - o ponto de orvalho e a temperatura do ar acima da superfcie devem estar acima da normal. A freqncia mdia anual do fenmeno varia em torno de 8 ocorrncias no Atlntico norte e 28, no Pacifico e ndico. Principais Efeitos Adversos Os danos provocados pelo fenmeno so causados: - pela presso dos ventos, normalmente de muito grande violncia; - por objetos transportados e arremessados pelos ventos; - por chuvas torrenciais, causadoras de inundaes bruscas e alagamentos; - pela formao de ondas gigantescas que, embora inferiores ao tsunamis, tm grande poder de destruio. As costas rebaixadas e as ilhas em forma de atol dos mares do sul so as regies mais vulnerveis aos ciclones. Normalmente, as inundaes so responsveis por 75% das mortes provocadas pelo fenmeno. Monitorizao, Alerta e Alarme Existe um sistema integrado de previso de ciclones ou furaces, constitudo por satlites meteorolgicos, sistemas de radar, avies, navios e outros recursos utilizados pelos servios meteorolgicos. As informaes so rapidamente transmitidas pelos centros para os sistemas de alerta e alarme da Defesa Civil, permitindo que as informaes fluam com razovel antecedncia, definindo sua provvel magnitude e rota. Medidas Preventivas A reduo dos danos depende de medidas objetivando a minimizao das vulnerabilidades, atravs de medidas estruturais e no-estruturais. As medidas no-estruturais dizem respeito a uma racional utilizao do espao geogrfico, evitando construir em reas sujeitas a inundaes, ao impacto de ondas gigantescas ou a deslizamentos e desmoronamentos. As medidas estruturais dizem respeito construo de habitaes e outras instalaes devidamente reforadas, com telhas corretamente fixadas, protegidas dos ventos dominantes e sobre pilotis ou com stos habitveis. 22

  • As medidas preventivas emergenciais so semelhantes as j apresentadas no item que trata de vendavais e tempestades. Nas ilhas e costas de pequena altitude e sujeitas a riscos e ondas gigantescas, deve ser providenciada a construo de abrigos slidos nas reas mais elevadas, para onde a populao evacuada, com a devida antecedncia.

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  • 4 Tornados e Trombas dgua CODAR: NE.ETR/ CODAR: 12.104 Caracterizao Os tornados so vrtices ou redemoinhos de vento formados na baixa atmosfera, apresentando-se com caractersticas nuvens escuras, de formato afunilado, semelhante a uma tuba, que descem at tocar a superfcie da Terra, com grande velocidade de rotao e forte suco, destruindo em sua trajetria grande quantidade de edificaes, rvores e outros equipamentos do territrio. No Hemisfrio Sul, a rotao ocorre no sentido horrio, enquanto no Hemisfrio Norte ocorre no sentido anti-horrio. O tornado supera a violncia do furaco, mas sua durao menor e a rea afetada de menor extenso. As trombas dgua so fenmenos em tudo semelhantes aos tornados, que ocorrem apenas sobre uma superfcie de gua, ou seja no mar ou num lago. Nesses casos, a suco no centro da tempestade eleva para os ares a gua da superfcie. As trombas dgua, em geral, desaparecem quando encontram a terra. A imprensa e parte da populao chamam impropriamente de trombas dgua as chuvas concentradas ou aguaceiros. Os maiores aguaceiros ocorrem quando correntes ascendentes de velocidades superiores a 30 km/h mantm em suspenso no interior dos cumulonimbus as gotas de chuva formadas, at que o peso das mesmas ultrapasse a fora ascensional, fazendo com que o fenmeno ocorra de forma violenta. Causas Os tornados podem originar-se: - em processos convectivos, caracterizados pela formao de grandes nuvens cumulonimbus; - em situaes geradas pelo encontro de massas de ar altamente diferenciadas e de grande intensidade. Nessas condies, a instalao de uma clula de baixa presso nas camadas superiores da atmosfera provoca o efeito chamin e a ascenso do ar para a alta troposfera, caracterizando o efeito de vrtice, responsvel pela suco. Ocorrncia Os tornados ocorrem em todos os continentes. No Brasil, so pouco freqentes e ocorrem, principalmente, nas regies Sul e Sudeste, especialmente em So Paulo e no Paran. A maior tromba dgua ocorreu em 1888, nas proximidades das Bermudas, e foi presenciada pelo capito Cleary, comandante do vapor River Avon. A tromba dgua tinha uma milha de dimetro e uma altura descomunal. 24

  • Principais Efeitos Adversos A presso atmosfrica, que normalmente de 760 mmHg no nvel do mar, pode cair em nveis de 580 mmHg no interior do tornado, provocando fortes correntes ascendentes, em funo do movimento tangencial. A velocidade do vento na periferia do vrtice pode atingir incrveis nveis, correspondentes a 800 km/h. Como a presso do vento aumenta com o quadrado da velocidade, nessas condies o vento exerce uma presso 25 vezes superior de um ciclone extremamente violento, com velocidade de 160 km/h. A corrente ascendente, provocada pelo efeito chamin, pode atingir velocidades de at 320 km/h. Por esses motivos, a destruio provocada pelos tornados altamente concentrada e extremamente violenta. O efeito chamin provoca o arrancamento das rvores, a destruio das habitaes e a elevao no ar dos destroos resultantes. O terremoto de Yokohama (1923) provocou um incndio de grandes propores, dando origem a foras convectivas, que provocaram um tornado de fogo, causando a morte de 40.000 pessoas, que tinham sobrevivido catstrofe geolgica. Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de alertar a defesa civil sobre a provvel ocorrncia de um tornado, em uma regio determinada, com algumas horas de antecedncia. A predio do local exato da ocorrncia e da derrota seguida pelo fenmeno extremamente difcil. Medidas Preventivas A melhor proteo individual constituda por abrigos subterrneos, j que o efeito de suco dos tornados s ocorre a partir da superfcie do solo. Pessoas surpreendidas por tornados, fora de casa, devem deitar-se ao comprido, em uma vala ou depresso.

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  • TITULO II - DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM TEMPERATURAS EXTREMAS CODAR: NE.T/CODAR: 12.2 Introduo Compreendem os desastres relacionados com temperaturas extremamente altas ou baixas e os fenmenos relacionados com as mesmas. Os desastres naturais relacionados com temperaturas extremas so classificados em: - ondas de frio intenso; - nevadas; - nevascas ou tempestades de neve; - aludes ou avalanches de neve; - granizos; - geadas; - ondas de calor; - ventos quentes e secos.

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  • 1 - Ondas de Frio Intenso CODAR: NE.TFI/ CODAR: 12.201 Caracterizao Rpida e grande queda na temperatura sobre uma extensa rea. Esta temperatura, bastante baixa, permanece sobre esta rea por vrias horas, dias e, s vezes, uma semana ou mais, acompanhada geralmente por cu claro. Em funo da dinmica atmosfrica, em determinadas pocas do ano, h uma intensificao do deslocamento de frentes frias, que passam a atingir regies de clima subtropical, tropical e, at mesmo, equatorial. Denomina-se frente fria o limite anterior da massa de ar frio ou a interface entre essa massa de ar e outra de ar quente, a qual normalmente apresenta a forma de cunha. As massas de ar de origem polar, ao se deslocarem, elevam o gradiente de presso ao nvel da superfcie, fornecendo a energia necessria ao deslocamento dessas frentes e, quando as mesmas estacionam em regies de clima quente, as massas de ar frio provocam a queda da temperatura local. As quedas bruscas de temperatura, normalmente acompanhadas de ventos frios, que contribuem para agravar a sensao de desconforto trmico, so conhecidas localmente por friagem. Causas Como j foi caracterizado, as ondas de frio intenso relacionam-se com a dinmica atmosfrica global. Durante o outono/inverno no Hemisfrio Sul, ocorre uma intensificao no mecanismo de produo de massas de ar frio nas imediaes do Plo Sul. O ar resfriado, por ser mais denso, acumula-se nas camadas atmosfricas prximas da superfcie e as altas presses resultantes fornecem a energia necessria ao deslocamento das mesmas, no sentido sul-norte. Ocorrncia Na Amrica do Sul, o fenmeno ocorre entre os meses de maio e setembro (outono/inverno), com maior prevalncia nos meses de julho e agosto. Nessas ocasies, cidades com mdias anuais de temperatura extremamente elevadas podem apresentar subitamente quedas para patamares muito baixos. O fenmeno normalmente dura de quatro a cinco dias. Em Manaus, a queda pode ser de uma mxima de 30C para uma mnima de 17C e, em casos extremos, de 150C. Em Cuiab, a mnima pode atingir nveis inferiores a 50C. O ar aquecido das regies de clima subtropical e tropical, por ser menos denso, tende a elevar-se, reduzindo as presses nas camadas prximas do solo, facilitando a penetrao das frentes frias. 27

  • Em funo de gradiente horizontal de presso, estabelecido entre as duas massas de ar, as frentes frias deslocam-se rapidamente atravs do continente sul-americano e o ar frio substitui o ar aquecido em reas tropicais e equatoriais, permanecendo durante alguns dias nessa condio, at que se restabeleam as condies homeostticas, com a dissipao das frentes. Principais Efeitos Adversos Os danos relacionam-se muito mais com a vulnerabilidade de determinados estratos populacionais do que com a magnitude do fenmeno. importante recordar que as populaes de regies com climas equatoriais aclimataram-se a condies de temperatura, caracterizadas por mdias anuais muito elevadas e variaes muito pouco importantes, entre as mdias das mximas e das mnimas. Os estratos populacionais mais vulnerveis so constitudos por idosos, enfermos, crianas e minusvlidos, especialmente quando pertencentes a populaes de baixa renda, ou quando desabrigados e desprovidos de agasalhos. A mortalidade imediata freqente entre mendigos e brios, surpreendidos pela friagem, ao dormirem ao relento. O costume de ingerir bebidas alcolicas para combater o frio na realidade contribui para aumentar a mortalidade. A sensao de conforto trmico provocada pelo lcool deve-se a: - acelerao do metabolismo, que contribui para consumir mais rapidamente as poucas reservas calricas acumuladas; - vasodilatao perifrica, que acelera e intensifica a circulao subcutnea, incrementando a perda de calor por irradiao. Alm do incremento da mortalidade, as ondas de frio provocam, tambm, aumento da morbilidade, especialmente a relacionada com doenas transmitidas por inalao, como gripe ou influenza, infeces respiratrias agudas inespecficas (IRA), coqueluche, difteria, sarampo e meningite meningoccica Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de informar, com muita preciso e razovel antecedncia, sobre frentes frias, ondas de frio e quedas bruscas de temperatura. Medidas Preventivas 1 - Medidas de Longo Prazo As medidas de longo prazo relacionam-se com programas habitacionais e com todos os demais programas relativos ao pleno emprego e elevao da qualidade de vida dos estratos populacionais carentes. 2 - Medidas Emergenciais As medidas emergenciais, de natureza assistencial, desenvolvidas em apoio s populaes carentes, na iminncia de friagens, compreendem: 28

  • - coleta e distribuio de agasalhos; - recolhimento de mendigos e de pessoas desabrigadas em albergues ou abrigos temporrios; - suplementao alimentar, especialmente com sopas quentes e ricas em calorias (gordurosas); - campanhas esclarecedoras sobre os riscos de ingesto de bebidas alcolicas, nessas circunstncias.

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  • 2- Nevadas CODAR: NE.TNV/ CODAR: 12.202 Caracterizao So fenmenos meteorolgicos caracterizados pelo ato de cair neve. Para que ocorra a formao da neve, necessrio que: - o ar esteja supersaturado pelo vapor dgua; - a temperatura, nas altas camadas, atinja valores entre 12 e 20C abaixo de zero, compensando a queda da presso atmosfrica. importante recordar que, somente ao nvel do mar e sob presso de uma atmosfera, a gua congela a 0; - existam ncleos de condensao, formados por partculas microscpicas de fumaa, p ou plen. Nessas condies, os fenmenos ocorrem na seguinte seqncia: - as molculas de vapor dgua aderem umas s outras, em torno do ncleo de condensao, formando minsculas gotculas de gua; - as gotculas de gua passam ao estado slido, transformando-se em diminutas gotas de gelo; - por serem mais densas que o ar, as gotculas de gelo comeam a descer e a se reunir, tomando formas geometricamente perfeitas, caractersticas dos cristais; - os cristais renem-se, formando flocos de neve, que se chocam com o solo, aps oito a dez minutos de queda. O primeiro estudioso a observar a forma hexagonal dos cristais de neve foi o sueco OIaf MAGNUS (1490-1558). O fsico ingls Robert HOOKE (1635-1703) publicou ilustraes de cristais de neve observados ao microscpio. provvel que a estrutura dos cristais de neve varie em funo das caractersticas do ar, onde os mesmos iniciaram o processo de cristalizao. Enquanto um litro de ar pesa 1,293g, um litro de vapor dgua pesa 0,8g; por isso a gua que se evapora dos mares, lagos e rios ou aquela eliminada das plantas e animais, atravs da transpirao, eleva-se na atmosfera. O ar rarefeito das camadas elevadas da atmosfera perde sua capacidade de acumular grandes quantidades de vapor dgua e satura-se facilmente, isto , medida que o vapor de gua atinge as camadas atmosfricas mais elevadas, menos densas e mais frias, provoca a saturao do ar. Ocorrncia As nevadas so fenmenos meteorolgicos freqentes nos pases de clima temperado e frio. No Brasil, ocorrem nevadas nas regies serranas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e sul do Paran. Principais Efeitos Adversos Em nosso Pas, os danos humanos e materiais provocados por nevadas so 30

  • relativamente pequenos. Paradoxalmente, a neve protege o solo contra o supercongelamento, provocado pelas geadas, j que, em sua superfcie em contato com o solo, a temperatura mnima de 0 C. Normalmente, os riscos pessoais ocorrem nos deslocamentos motorizados, durante as nevadas. Nessas condies, caso ocorra algum acidente ou pane, as pessoas correm o risco de permanecerem isoladas durante a intemprie. Monitorizaro, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de informar com antecedncia sobre a ocorrncia de nevadas. Medidas Preventivas Em regies de nevadas intensas, os telhados das casas devem ser: - fortemente inclinados, para reduzir a acumulao da neve; - suficientemente resistentes, para suportar um peso superior a 120 kglm2. Durante as nevadas, aconselha-se que os veculos se renam em comboios, em condies de prestarem apoio mtuo, quando trafegarem em estradas vicinais de regies montanhosas.

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  • 3 - Nevascas ou Tempestades de Neve CODAR: NE.TTN/ CODAR: 12.203 Caracterizao Ventos violentos e muito frios carregados de neve. Parte desta neve levantada do solo nevado. O termo originou-se na Amrica, donde estendeu-se para outros pases. Ocorrncia As nevascas so fenmenos relativamente raros no Brasil e ocorrem nas regies serranas dos estados sulinos, especialmente em Santa Catarina. Principais Efeitos Adversos Quando ocorrem nevascas, somam-se os efeitos destruidores dos vendavais aos danos provocados pelo resfriamento e pela acumulao da neve. Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de informar com antecedncia sobre a ocorrncia de nevascas. Medidas Preventivas Os planos operacionais de defesa civil devem prever medidas assistenciais para a populao desabrigada e exposta ao frio, atravs de abrigos temporrios, onde se deve prover agasalhos e alimentos quentes, com alto valor calrico.

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  • 4 - Aludes ou Avalanches de Neve CODAR: NE.TAN/ CODAR: 12.204 Caracterizao So massas de neve e/ou gelo que deslizam de forma rpida e violenta pelas encostas de altas montanhas, arrastando fragmentos de rochas, rvores e at habitaes. As avalanches ou aludes caracterizam-se por movimentos extremamente rpidos e violentos, com limites laterais e profundos muito bem definidos. Causas As avalanches ocorrem em funo da ruptura do equilbrio inercial, provocada pela interao dos seguintes fatores: - reduo do grau de coeso das camadas de neve, o qual depende da granulometria das camadas e varia em proporo inversa da temperatura. A elevao gradual da temperatura, ao trmino do inverno e incio da primavera, torna a massa mais frivel e facilita os deslizamentos; - declividade da encosta - o grau de declividade da encosta define o ngulo de repouso em funo do peso das camadas, da granulometria e do grau de coeso; - peso das camadas de neve - a deposio de neve varia em proporo inversa aos ndices de umidade relativa do ar, os quais dependem da evaporao e decrescem com a queda da temperatura nas reas continentais, aumentando quando da penetrao de frentes frias, formadas nas superfcies dos mares; - grau de coeso e atrito - como a densidade da gua maior que a da neve e a do gelo, uma massa de neve ou de gelo, ao se liquefazer, passa a ocupar um volume menor que o primitivo, facilitando o surgimento de planos de clivagem e lubrificando as superfcies de deslizamento. Nas condies descritas, qualquer vibrao pode desencadear a avalanche. As vibraes podem ser provocadas por estampidos, passagem de trens ou de outros veculos ou, ainda, por qualquer outra causa circunstancial de vibraes. Ocorrncia As avalanches ocorrem nas reas mais elevadas de regies montanhosas, que acumulam neve e/ou gelo nas estaes invernosas. So muito freqentes nos Alpes, Andes, Himalaia, Montanhas Rochosas e em outras regies de altas montanhas, onde a temperatura mantm-se abaixo de 00C, durante o inverno. O fenmeno no ocorre no Brasil. Normalmente, as avalanches intensificam-se no final do inverno e incio da primavera. Principais Efeitos Adversos Em comparao com outros desastres, as avalanches causam prejuzos moderados. A mdia anual de mortes, provocadas por avalanches, costuma ser inferior a 200. Os danos materiais, nos pases mais desenvolvidos que convivem com o fenmeno, normalmente so moderados. 33

  • Durante a Primeira Guerra Mundial, na frente italiana, as avalanches provocaram maior nmero de mortos que as aes do inimigo. Monitorizao, Alerta e Alarme Nas regies onde esses fenmenos so prevalentes, os servios meteorolgicos e a Defesa Civil tm condies de informar, com razovel antecipao, sobre variveis meteorolgicas que aumentem os riscos de avalanches. Os habitantes locais tm condies de prenunciar o fenmeno, atravs da observao de mudanas comportamentais de animais silvestres. Medidas Preventivas 1 - Medidas No-Estruturais O mapeamento das reas de risco intenso permite o zoneamento e a definio de reas non aedificandi . Nas reas aedificandi com restries, as construes devem ser situadas em locais protegidos e devem ser muito slidas. 2 - Medidas Estruturais As principais medidas estruturais so: - reflorestamento das encostas, com rvores de razes pivotantes muito profundas; - construo de obstculos em forma de V invertido, para desviar o curso de avalanches; - construo de plataformas de deslizamento e de muros de conteno, para proteger rodovias e ferrovias. As medidas estruturais s so eficazes frente a aludes pouco intensos. 3 - Medidas Emergenciais Dentre as medidas emergenciais mais utilizadas, compete ressaltar: - a antecipao do fenmeno, provocando vibraes, quando as camadas de neve ainda so pouco volumosas, contribuindo para reduzir a magnitude do fenmeno; - a formao de equipes de busca e salvamento, altamente capacitadas, para reduzir os riscos de perdas humanas.

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  • 5 Granizos CODAR: NE.TGZ/ CODAR: 12.205 Caracterizao Precipitao slida de grnulos de gelo, transparentes ou translcidos, de forma esfrica ou irregular, raramente cnica, de dimetro igual ou superior a 5mm. O granizo formado nas nuvens do tipo cumulonimbus, as quais se desenvolvem verticalmente, podendo atingir alturas de at 1.600m. Em seu interior, ocorrem intensas correntes ascendentes e descendentes. As gotas de chuva provenientes do vapor condensado no interior dessas nuvens, ao ascenderem sob o efeito das correntes verticais, congelam-se ao atingirem as regies mais elevadas. O granizo, tambm conhecido por saraivada, a precipitao de pedras de gelo, normalmente de forma esferide, com dimetro igual ou superior a 5mm, transparentes ou translcidas, que se formam no interior de nuvens do tipo cumulonimbus. Podem subdividir-se em dois tipos principais: - gotas de chuvas congeladas ou flocos de neve quase inteiramente fundidos e recongelados; - grnulos de neve envolvidos por uma camada delgada de gelo. Os meteorologistas designam as pedras de gelo com dimetros superiores a 5mm de saraiva. As saraivadas so constitudas por vrias camadas de gelo que podem ser alternativamente claras e opacas, em forma de casca de cebola, agrupadas em torno de um ncleo central. Este ncleo pode ser constitudo por um gro de gelo, por ar comprimido, por poeira ou por plen ou sementes. Quando o granizo choca-se com o solo, o ncleo de gelo gera uma presso interna mais intensa e provoca pequenas detonaes. Ao carem por seu prprio peso, absorvem mais umidade nas camadas inferiores, at que, novamente, so arrastadas para altitudes mais elevadas, onde sofrem novo congelamento. O processo se repete, at que o peso do gelo ultrapasse a fora ascensional, provocando a precipitao. Ocorrncia O fenmeno ocorre em todos os continentes, especialmente em regies montanhosas. As tempestades de granizo de maior magnitude ocorrem em regies continentais de clima quente, especialmente na ndia e na frica do Sul. No Brasil, as regies mais atingidas por granizo so a Sul, Sudeste e parte meridional da Centro-Oeste, especialmente nas reas de planalto, de Santa Catarina, Paran e Rio Grande do Sul. Principais Efeitos Adversos O granizo causa grandes prejuzos agricultura. No Brasil, as culturas de frutas de clima temperado, como ma, pra, pssego e kiwi e a fumicultura so as mais vulnerveis ao granizo. Dentre os danos materiais provocados pela saraiva, os mais importantes correspondem destruio de telhados, especialmente quando construdos com telhas de amianto ou 35

  • de barro. As tempestades que normalmente acompanham o granizo causam tambm outros prejuzos. O temporal ocorrido na cidade de So Paulo, em 21 de julho de 1995, durou apenas meia hora, causando danos materiais e humanos. Sete pessoas morreram, todas esmagadas por um muro de 7 metros de altura e 100 metros de comprimento, que desmoronou com a ao do vento; vrios carros foram atingidos por rvores e galhos cados e alguns bairros ficaram horas sem energia. Monitorizaro, Alerta e Alarme Os servios de meteorologia acompanham diariamente as condies do tempo e tm condies de prevenir sobre a provvel ocorrncia desses eventos. As cooperativas de fruticultores, especialmente as de produtores de mas, esto adquirindo aparelhos de radar, que informam sobre a formao de nuvens cumulonimbus. Medidas Preventivas As cooperativas de fruticultores adquiriram baterias de foguetes para bombardearem as nuvens com substncias higroscpicas e anticriognicas, objetivando provocar a precipitao da chuva e evitar a formao do granizo. O mtodo tem sido largamente utilizado no Estado de Santa Catarina. Os fumageiros e outros produtores garantem-se contra provveis prejuzos, atravs de seguro. necessrio que incentivem pesquisa para produzir telhas de baixo custo e resistentes saraiva.

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  • 6 Geadas CODAR: NETGE/ CODAR: 12.206 Caracterizao A geada formada pelo congelamento direto do vapor dgua existente na atmosfera, sem passagem pela forma lquida, e ocorre quando a temperatura ambiental cai a nveis abaixo de 0C (ponto de congelao da gua). Nessas condies, o orvalho transforma-se em geada. O calor acumulado durante o dia pela crosta terrestre irradia-se durante a noite, provocando uma inverso de temperatura, de tal forma que, nas madrugadas de noites excepcionalmente frias, ocorre uma grande queda de temperatura nas camadas mais prximas do solo, formando o orvalho. Portanto, completamente errada a expresso cair geada, j que o prprio orvalho no cai. Ocorrncia A geada ocorre com mais freqncia em regies elevadas e frias. Normalmente, o fenmeno est relacionado com a passagem de frentes frias e costuma ocorrer nas madrugadas de noites frias, estreladas e calmas, com maior intensidade nos fundos de vales e regies montanhosas e, menos intensamente, nas encostas mais ensolaradas. No Brasil, a geada ocorre, principalmente, nos planaltos sulinos e nas reas montanhosas da regio Sudeste. Principais Efeitos Adversos Com a baixa temperatura forma-se e geada, provocando o congelamento da seiva das plantas, podendo causar grandes prejuzos s culturas perenes e s culturas de inverno, plantadas nas regies com climas subtropicais de altitude. No Brasil, os maiores prejuzos ocorrem com as plantaes de caf, de frutas ctricas e demais frutas de clima temperado e produtos hortigranjeiros. Monitorizao, Alerta e Alarme Em seus boletins dirios, os servios meteorolgicos informam sobre a provvel ocorrncia de geadas nas reas sujeitas ao fenmeno. Medidas Preventivas A reduo das vulnerabilidades s geadas depende, fundamentalmente, de medidas no-estruturais. O seguro agrcola a principal forma de reduzir os possveis prejuzos dos agricultores. A seleo de culturas resistentes s geadas, o racional zoneamento das culturas e as tcnicas de cultivo adensado contribuem para a reduo das vulnerabilidades.

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  • 7 - Ondas de Calor CODAR: NET.TOC/ CODAR: 12.207 Caracterizao As ondas de calor originam-se quando frentes de alta presso, formadas em regies quentes, ridas ou semi-ridas, deslocam-se, invadindo regies de climas mais amenos, onde se estabilizam por alguns dias. Ocorrncia O fenmeno adverso ocorre anualmente nos pases do sul da Europa, como Grcia, Itlia, Espanha, Frana e outros. Tambm, nos Estados Unidos da Amrica do Norte, o fenmeno provoca intensos danos pessoais. No vero de 1995, nas cidades de Chicago, Nova Iorque, Filadlfia e em cidades dos Estados da Gergia e do Kansas, morreram mais de 700 pessoas, em conseqncia da onda de calor. O fenmeno ocorreu com maior intensidade em Chicago, onde a temperatura mxima atingiu 43C, com uma umidade relativa do ar de 90%, ndice alto como o de uma cidade da Amaznia, regio onde chove todos os dias. Essa taxa de umidade dificulta a transpirao e potencializa os efeitos danosos do calor sobre o corpo humano. Principais Efeitos Adversos As ondas de calor podem incrementar a morbimortalidade dos grupos vulnerveis, especialmente crianas, idosos e pessoas portadoras de afeces cardiorrespiratrias importantes. Os estrangeiros, especialmente os turistas nrdicos, pouco adaptados s condies climticas dos pases mediterrneos, so os mais susceptveis ao fenmeno adverso. Nessas condies, a queda sustentada da umidade atmosfrica favorece a intensificao de incndios florestais muito intensos, principalmente porque os reflorestamentos so feitos com conferas, altamente combustveis. Como a populao brasileira bem adaptada ao calor, embora registre a sensao de desconforto trmico, no est sujeita aos mesmos danos que as populaes no adaptadas.

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  • 8 Ventos Quentes e Secos CODAR: NE.TVQ/ CODAR: 12.208 Caracterizao Tempestades de ventos quentes e abrasadores ocorrem em regies ridas e desrticas, como as do deserto do Saara. Algumas vezes o fenmeno to intenso, que a poeira pode ultrapassar o Mediterrneo e atingir os pases do sul da Europa. O viajante, surpreendido pelo fenmeno no interior do deserto, corre graves riscos. Inmeras expedies de conquistadores foram dizimadas pelo Simum ou Siroco, nome dado ao vento do deserto. O nmade do deserto, quando surpreendido pelo Simum, faz ajoelhar seu camelo e o utiliza, como anteparo contra o vento. Com o albarnoz, improvisa um abrigo para proteger-se e tambm para proteger a cabea de sua montaria, evitando a sufocao pela poeira. Depois aguarda, com estoicismo e resignao, que o vento se abrande, a fim do que possa retomar sua viagem. Ocorrncia No Brasil, tempestades do ventos quentes e secos no so registradas e o fenmeno adverso no ocorre de forma aguda. No entanto, durante a estao estival, o Nordeste e Centro-Oeste so constantemente percorridos por ventos cujas intensidades variam entre 7 e 30 km/h, correspondentes, na escala de Beaufort, aos nmeros: - 2 - brisa leve ou aragem - 3 - vento fresco ou leve - 4 - vento moderado Principais Efeitos Adversos Como nas citadas regies so raros os proprietrios que se preocupam em plantar pra-ventos, esses ventos constantes, alm de provocarem eroso elica, contribuem para aumentar a evapotranspirao e para ressecar as passagens. Esse desastre crnico, em termos econmicos, muito mais importante que o Simum. Anualmente, no Brasil, produz prejuzos financeiros superiores a US$ 2 bilhes, ao se computar: - a perda de peso do gado de corte; - o atraso na idade de abate de dois para quatro anos; - a reduo da produo leiteira no perodo de entressafra; - o aumento dos ndices do morbimortalidade, provocados pelas desnutrio dos animais.

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  • TITULO 3 DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM O INCREMENTO DA PRECIPITAES HDRICAS E COM AS INUNDAES CODAR: NE.TOC/ CODAR: 12.207 Caracterizao As inundaes podem ser definidas como um transbordamento de gua proveniente de rios, lagos e audes. As inundaes podem ser classificadas em funo da magnitude e da evoluo. Em funo da magnitude, as inundaes, atravs de dados comparativos de longo, prazo, so classificadas em: - inundaes excepcionais; - inundaes de grande magnitude; - inundaes normais ou regulares; - inundaes de pequena magnitude. Em funo da evoluo, as inundaes so classificadas em: - enchentes ou inundaes graduais; - enxurradas ou inundaes bruscas; - alagamentos; - inundaes litorneas provocadas pela brusca invaso do mar Causas As inundaes tm como causa a precipitao anormal de gua que, ao transbordar dos leitos dos rios, lagos, canais e reas represadas, invade os terrenos adjacentes, provocando danos. O incremento dos caudais superficiais, na maioria das vezes, provocado por precipitaes pluviomtricas intensas e concentradas, mas, tambm, pode ter outras causas imediatas e/ou concorrentes, como: - degelo; - elevao dos leitos dos rios por assoreamento; - reduo da capacidade de infiltrao do solo, causada por ressecamento, compactao e/ou impermeabilizao; - saturao do lenol fretico por antecedentes prximos, de precipitaes continuadas; - erupes vulcnicas em reas de nevados; - combinao de precipitaes concentradas com perodos de mars muito elevadas; - invaso de terrenos deprimidos e dos leitos dos rios em reas de rebaixamento geolgico, por maremotos ou ressacas intensas; - rompimento de barragens construdas com tecnologia inadequada; - drenagem deficiente de terrenos situados a montante de aterros, em estradas que cortem transversalmente vales de riachos; - estrangulamento de leitos de rios, provocado por desmoronamentos causados por terremotos ou deslizamentos relacionados com intemperismo. Ocorrncia As inundaes ocorrem em todos os continentes e em regies com todos os padres de 40

  • clima, inclusive regies ridas e semi-ridas, quando recebem chuvas concentradas. Principais Efeitos Adversos Normalmente, as inundaes provocam grandes danos materiais e, dependendo de sua violncia, graves danos humanos. Quando extensas, as inundaes destroem ou danificam plantaes e exigem um grande esforo para garantir o salvamento de animais, especialmente bovinos, ovinos e caprinos. Em reas densamente habitadas, podem danificar ou destruir habitaes mal localizadas e pouco slidas, bem como danificar mveis e outros utenslios domsticos. O desastre prejudica a atuao dos servios essenciais, especialmente os relacionados com a distribuio de energia eltrica e com o saneamento bsico, principalmente distribuio de gua potvel, disposio de guas servidas e de dejetos e coleta do lixo. Normalmente, o fluxo dos transportes e das comunicaes telefnicas prejudicado. O alagamento de silos e armazns causa danos s reservas de alimentos estocados. As inundaes tambm contribuem para intensificar a ocorrncia de acidentes ofdicos e aumentar o risco de transmisso de doenas veiculadas pela gua e pelos alimentos, por ratos (leptospirose), assim como a ocorrncia de infeces respiratrias agudas (IRA). Monitorizaro, Alerta e Alarme A permanente monitorizaro dos nveis dos rios e a medio de seus caudais, bem como a monitorizaro da evoluo diria das condies meteorolgicas permitem antecipar as variveis climatolgicas responsveis pela ocorrncia de inundaes. No Brasil, a Diviso de Controle de Recursos Hdricos, do Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica - DNAEE - responsvel pela manuteno e operacionalizao de extensa rede de estaes pluviomtricas, responsveis pelo acompanhamento dirio dessas variveis. As principais variveis observadas e registradas diariamente so: - fluviomtricas e/ou fluviogrficas; - climatolgicas, relacionadas com a pluviometria e evaporimetria; - medio do caudal e descarga diria; - sedimentomtricas - de controle de qualidade da gua. Segundo dados de 1944 e de anos anteriores, os estudos so realizados nas seguintes bacias da rede fluvial brasileira: 1 - Bacia do Rio Amazonas; 2- Bacia do Rio Tocantins; 3- Bacia do Atlntico - Norte e Nordeste; 4- Bacia do Rio So Francisco; 5- Bacia do Atlntico - Leste; 6- Bacia do Rio Paran; 7- Bacia do Rio Uruguai; 41

  • 8- Bacias do Atlntico - Sul e Sudeste. Semanalmente, o DNAEE encaminha Defesa Civil relatrios pormenorizando as medies dirias realizadas por suas estaes, em todas as bacias citadas. Nos perodos de maior risco de enchentes, as informaes so dirias. As variveis so relacionadas com a mdia de longo perodo mensal (MLPM) e com cotas de alerta. A monitorizaro das inundaes bruscas ou enxurradas facilitada pela operao dos radares meteorolgicos, que tm condies de antecipar a quantidade de chuva que vai cair numa determinada regio, com razovel nvel de preciso. Medidas Preventivas 1 - Previso de Inundaes A estrutura de um sistema de previso de inundaes de capital importancia para a reduo da vulnerabilidade ao fenmeno. 2 - Zoneamento Dentre as medidas no-estruturais, a definio e o mapeamento das reas de risco e o conseqente zoneamento urbano, periurbano e rural facilitam o correto aproveitamento do espao geogrfico e permitem uma definio precisa das reas: - non aedificandi; - aedificandi com restries; - aedificandi sem outras restries, que no as impostas pelo cdigo de obras local. 3 - Construo de Habitaes Diferenciadas Nas reas aedificandi com restries, s quais correspondem os locais atingidos pelo alagamento, mas onde as guas fluem sem impetuosidade, podem ser construdas habitaes sobre pilotis ou com stos habitveis, mediante adaptaes pr-planejadas. 4 - Projetos Comunitrios de Manejo Integrado de Microbacias Microbacias bem manejadas preservam a flora e a fauna silvestres, garantem a biodiversidade, facilitam o controle de pragas e reduzem as inundaes e as secas ou estiagens. A reunio de microbacias corretamente manejadas: - preserva o solo; - protege as culturas; - melhora o metabolismo das guas; - permite o pleno aproveitamento das obras de conteno e de perenizao. Encostas reflorestadas protegem o solo, aumentam a infiltrao das guas e a alimentao dos lenis freticos, reduzindo as enxurradas. O terraceamento e o desenvolvimento de culturas em harmonia com as curvas de nvel evitam a eroso, o assoreamento dos rios, aumentam a infiltrao das guas e a alimentao do lenol fretico, reduzem as enxurradas e, a longo prazo, melhoram a qualidade do solo agricultvel. 42

  • Matas ciliares reduzem o assoreamento, a evaporao e as enxurradas, alm de protegerem as nascentes e conservarem as essncias vegetais nativas e a fauna local. A rotao racional das culturas, a adubao orgnica, a cobertura do solo com palhadas e o plantio direto conservam a umidade, aumentam a infiltrao, reduzem a eroso, o assoreamento e as enxurradas, aumentam a humificao e melhoram a sade do solo. A construo de bacias de captao, s margens das estradas vicinais, alm de preserv-las, contribuem para ampliar a infiltrao e a alimentao do fretico e reduzir as enxurradas. 5 - Obras de Perenizao e de Controle das Enchentes O manejo racional do sistema de represas de uma bacia permite, atravs do controle dos deflvios, nos diversos nveis do falI-line, reduzir a intensidade das inundaes e garantir a perenizao dos aproveitamentos. A construo de canais extravasores e a interligao de bacias, com transposio de deflvios, facilita o controle integrado das inundaes e garante a perenizao de caudais, por ocasio de estiagens prolongadas. 6 - Barragens Reguladoras Dentre as obras de reduo de riscos de inundaes, as mais efetivas so as barragens reguladoras, como: - Trs Marias, no rio So Francisco; - Furnas, no rio Grande; - Emborcao, no rio Paranaba; - Boa Esperana, no rio Parnaba; - Castanho, a ser construda no rio Jaguaribe. Ao regularem os deflvios das grandes bacias, essas barragens contribuem para: - controlar os escoamentos ao longo das calhas dos rios e reduzir a magnitude das inundaes a jusante das mesmas; - reduzir os custos das barragens construdas a jusante e otimizar as condies de gerao de energia eltrica, reduzindo os custos de produo; Naqueles casos em que a quase totalidade dos desnivelamentos dos rios aproveitada, por intermdio de sistemas lineares de barragens (fall-line), como j acontece na bacia do rio Paran, especialmente no Estado de So Paulo e no sul dos Estados de Minas Gerais e de Gois, o nvel dos rios controlado em funo das vazes regularizadas das represas, programadas e controladas por sistemas integrados de computadores. 7 - Obras de Desenrocamento, Desassoreamento e de Canalizao Essas obras so especialmente indicadas nas inundaes por alagamento, nas quais o acmulo de gua depende muito mais de deficincias nos sistemas de drenagem, a jusante da rea inundada, do que da intensidade das precipitaes. As obras de desassoreamento ou de dragagem contribuem para aprofundar as calhas dos rios, aumentar a velocidade dos fluxos e reduzir a magnitude das cheias. As obras de desenrocamento (retirada de rochas) produzem os mesmos resultados das 43

  • obras de desassoreamento e contribuem para reduzir os regimes turbilhonares de escoamento, os quais, quando intensos, produzem alteraes nas margens (desbarrancamentos) e nos fundos dos rios. As obras de canalizao podem ser desenvolvidas: - ao longo do trajeto dos rios, com o objetivo de regularizar o desenho dos mesmos; - para derivar deflvios excedentes, diretamente para o mar ou para outras bacias mais carentes de recursos hdricos. 8 - Canais de Derivao e de lnterligao de Bacias Os canais de derivao podem ser construdos com o objetivo de: - derivar parte do fluxo em direo ao mar, aliviando o leito principal do rio, dos deflvios excedentes, derivar os deflvios excedentes de uma bacia para outra, onde os recursos hdricos so carentes. Nessas condies, os canais de derivao funcionam como obras de controle, tanto de inundaes como de secas. Os canais de derivao so especialmente indicados quando se diagnostica uma evidente desproporo entre: - as possibilidades de captao das bacias hidrogrficas de drenagem - BHD; - a capacidade de escoamento das calhas dos rios, a jusante do ponto considerado. Nessas circunstncias, a construo de canais de derivao permite otimizar as condies de escoamento e restabelecer o equilbrio dinmico entre captao e drenagem. Na maioria das vezes, a desproporo entre a captao da BHD e a capacidade de escoamento da calha dos rios depende de condies relacionadas com a evoluo da geomorfologia da rea em estudo. No Brasil, muitas vezes esta desproporo provocada pela captura, em perodos geolgicos anteriores, de um determinado rio ou afluente, por um outro rio, durante o seu crescimento em direo a montante. Um bom exemplo de captura ocorreu na bacia do rio ltaja-Au. H evidncias de que o rio Itaja do Norte foi primitivamente um afluente do rio lguau, o qual foi capturado pelo crescimento, em direo a montante, da bacia do atual ltaja-Au. Nesse caso especifico, a construo de um canal de derivao, na plancie litornea, ao otimizar as condies de drenagem, pode contribuir para reduzir a magnitude das cheias que afetam as cidades ribeirinhas. Tambm no rio So Francisco, existe uma evidente desproporo entre a capacidade de captao de BHD ao Alto e Mdio So Francisco, quando comparadas com as possibilidades de escoamento da calha do Baixo So Francisco, depois que o rio inflete para leste e sudeste. muito provvel que o rio primitivo drenava em direo ao norte, desembocando no antigo mar Siluriano, que deu origem bacia sedimentar do Parnaba. possvel que, num determinado perodo geolgico, esse rio tenha sido capturado pelo brao principal do primitivo rio do Pontal e, em conseqncia, tenha mudado de curso. Caso essa teoria esteja correta, a abertura de um canal de derivao (Cabrob-Jati) 44

  • unindo a bacia do rio So Francisco com a do Jaguaribe, por intermdio do Salgado com ramais de interligao para os rios Piranhas, Apodi, Paje, Terra Nova e Brgida, alm de restabelecer parte do sistema de drenagem primitivo, contribuiria para: - reduzir a magnitude das cheias do Baixo So Francisco; - perenizar rios intermitentes na rea com as maiores carncias hdricas de todo o semi-rido. 9 - Diques de Proteo A construo de diques de proteo s realmente efetiva quando as reas das plancies subjacentes no se encontram em nvel sensivelmente inferior ao das mdias de cotas mximas das cheias anuais. Necessariamente, os diques de proteo devem ser complementados com a instalao de potentes bombas de recalque e, sempre que possvel, com aes de desassoreamento da calha principal. 10 - Medidas para Otimizar a Alimentao do Lenol Fretico As enxurradas ou inundaes relmpago, freqentes nos pequenos rios de planalto, que apresentam grandes variaes de deflvios, aps poucas horas de chuvas concentradas, so minimizadas por minuciosos trabalhos de planejamento e gesto integrada das microbacias. Todas as medidas que contribuem para reduzir o volume de sedimentos transportados pelos cursos de gua, diminuem o processo de assoreamento dos rios e a magnitude das cheias. Da mesma forma, a alimentao regularizada das calhas dos rios pelos lenis freticos marginais e de fundos de vale, ao permitir uma melhor distribuio espacial da gua, contribui para horizontalizar a curva de acumulao e de depleo hidrogrfica. Por esse motivo, as atividades de manejo integrado das microbacias contribuem para minimizar: - as secas; - as inundaes relmpago ou enxurradas; - os processos erosivos. Dentre as Tcnicas de Manejo Integrado de Microbacias, destacam-se: - O florestamento e o reflorestamento de reas de preservao e de proteo ambiental, em encostas ngremes, cumeadas de morros, matas ciliares e matas de proteo de mananciais. - O cultivo em harmonia com as curvas de nvel e a utilizao de tcnicas de terraceamento. Os sulcos, quando abertos em sentido perpendicular ao do escoamento das guas, contribuem para reter a gua e para reduzir a eroso. - Sempre que possvel, deve-se roar e no capinar as entrelinhas das culturas. Os restos da capina, ao permanecerem sobre o solo, contribuem para reduzir a eroso, reter a umidade e diminuir o aquecimento das camadas superficiais do solo. - O plantio de quebra-ventos, em sentido perpendicular ao dos ventos dominantes, reduz a eroso elica e a evapotranspirao. - A adubao orgnica, mediante a utilizao de tcnicas de compostagem, permite a 45

  • utilizao de esterco, lixo orgnico e palhada, devidamente curtidos, com o objetivo de aumentar a fertilidade e a sade do solo humificado, e contribui para otimizar a infiltrao da gua. - A incorporao ao solo dos restos de cultura, mediante tcnicas de plantio direto, e a utilizao da gua reduzem a eroso, diminuem a insolao direta do solo e a evaporao da gua e preservam a umidade. - A rotao de culturas, alm de facilitar o plantio direto, contribui para evitar a especializao das pragas, ao reduzir a oferta regular de um determinado padro de substrato alimentar. - O adensamento das culturas, pela reduo do espaamento, permite uma maior concentrao das plantas por umidade de rea e diminui a exposio do solo insolao direta e reduz os processos erosivos. - A utilizao de culturas intercalares, plantando leguminosas como feijo, soja ou ervilha entre as fileiras de cereais, como milho, sorgo ou cana, ou de tubrculos como batata-doce, diminui os fenmenos erosivos e a evapotranspirao e aumenta a fixao de nitrognio no solo, por intermdio dos rizbios que se desenvolvem em regime simbitico, nas razes das leguminosas.

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  • Bacias de Captao de gua CODAR: NE.HIG/ CODAR: 12.3 Bacias de captao de gua, construdas nas laterais das estradas vicinais, de acordo com tcnica desenvolvida pelo engenheiro agrnomo Aloysio Miguel Agra, em Batatais - SP, so muito teis porque, alm de evitarem que o leito das estradas vicinais seja danificado pelas enxurradas, permitem o aproveitamento das guas pluviais, como bebida para o gado e para alimentar o lenol fretico.

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  • 1 Enchentes ou Inundaes Graduais CODAR: NE.HIG/ CODAR: 12.301 Caracterizao O Centro de Pesquisas Agropecurias do Trpico Semi-rido - CPATSA, rgo da EMBRAPA, situado em Petrolina-PE, adaptou as bacias de captao de Miguel Agra s condies edafo-climticas do semi-rido. As bacias foram alongadas e estreitadas, sob a forma de canais, cobertos com troncos de palmeira, palhada e terra, com o objetivo de reduzir as perdas hdricas por evaporao. Nas enchentes, as guas elevam-se de forma paulatina e previsvel; mantm-se em situao de cheia durante algum tempo e, a seguir, escoam-se gradualmente. Normalmente, as inundaes graduais so cclicas e nitidamente sazonais. Exemplo tpico de periodicidade ocorre nas inundaes anuais da bacia do rio Amazonas. Ao longo de quase uma centena de anos de observao e registro, caracterizou-se que, na cidade de Manaus, na imensa maioria dos anos, o pico das cheias ocorre em meados de junho. As inundaes graduais so intensificadas por variveis climatolgicas de mdio e longo prazos e pouco influenciveis por variaes dirias do tempo. Relacionam-se muito mais com perodos demorados de chuvas contnuas do que com chuvas intensas e concentradas. O fenmeno caracteriza-se por sua abrangncia e grande extenso. Ocorrncia As inundaes graduais so caractersticas das grandes bacias hidrogrficas e dos rios de plancie, como o Amazonas, o Nilo e o Mississipi-Missouri. O fenmeno evolui de forma facilmente previsvel e a onda de cheia desenvolve-se de montante para jusante, guardando intervalos regulares. Monitorizaro, Alerta e Alarme A implementao de um maior nmero de estaes monitoras automticas, interligadas por satlites aos centros de computao de dados de Braslia, est permitindo que o Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica - DNAEE - aperfeioe modelos matemticos de previso, altamente precisos. A previso da evoluo temporal do fenmeno e da magnitude do mesmo, nas diferentes regies da bacia Amaznica, permitir incorporar mais de 80 milhes de hectares de vrzeas dessa regio ao processo produtivo, com um mnimo de custos. De um modo geral, a previsibilidade das cheias peridicas e graduais facilita a convivncia harmoniosa com o fenmeno, de tal forma que possveis danos ocorrem apenas: - nas inundaes excepcionais; - em funo de vulnerabilidades culturais, caractersticas de mentalidades imediatistas e sem o mnimo de previsibilidade. O mapeamento das cotas mximas das cheias, nos anos de inundaes excepcionais, 48

  • facilita o zoneamento urbano e periurbano e a definio de reas de riscos intensificados. Atravs do zoneamento, o poder municipal poder caracterizar, com extrema facilidade, as reas non aedificandi e aedificandi com restries. Medidas Preventivas A monitorizao anual do fenmeno e o aperfeioamento de modelos matemticos, ao permitirem uma previso cada vez mais precisa, contribuiro para a reduo de possveis danos e prejuzos. O mapeamento das inundaes e o zoneamento urbano e periurbano conseqentes permitiro uma maior harmonizao do homem com a natureza. A seleo de culturas e de cultivares, com ciclos de produo compatveis com os perodos de estiagens, e de culturas e pastagens resistentes ao alagamento facilita a incorporao ao processo econmico de milhes de hectares de vrzeas, fertilizadas e humificadas anualmente pela natureza. A seleo de espcies e de raas resistentes s chuvas intensas e ao alagamento das pastagens contribuir para aperfeioar a explorao pecuria. Dentre as espcies, destacam-se os bfalos e, das raas brasileiras, o Indobrasil, que, por possuir um grande numero de glndulas sebceas, tem melhores condies de prosperar na regio. Na pennsula de Malabar, na ndia, um dos lugares de maior ndice de precipitao do mundo, houve uma seleo natural de gado, produzindo a raa Dangi. Essa raa, de tamanho mdio, corpo compacto, barbela pouco desenvolvida, cabea pequena, chifres grossos e curtos, orelhas pendentes e pelagem chitada, com tons vermelhos, brancos e negros, caracteriza-se pelo nmero aumentado de glndulas sebceas e pela produo de uma secreo untuosa, que contribui para proteg-la de chuvas intensas. Esse gado, bastante semelhante ao Gir, pode ser importado da ndia, para cruz-lo com o gado da regio Amaznica e verificar a possibilidade de transferir suas caractersticas aos seus mestios. Medidas estruturais, como construes de cais, aterros e canais de drenagem, s se justificam em reas restritas das cidades.

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  • 2 Enxurradas ou Inundaes Bruscas CODAR: NE.HEX/ CODAR: 12.302 Caracterizao As enxurradas so provocadas por chuvas intensas e concentradas, em regies de relevo acidentado, caracterizando-se por produzirem sbitas e violentas elevaes dos caudais, os quais escoam-se de forma rpida e intensa. Nessas condies, ocorre um desequilbrio entre o continente (leito do rio) e o contedo (volume caudal), provocando transbordamento. A inclinao do terreno, ao favorecer o escoamento, contribui para intensificar a torrente e causar danos. Esse fenmeno costuma surpreender por sua violncia e menor previsibilidade, exigindo uma monitorizaro complexa. Ocorrncia As enxurradas so tpicas de regies acidentadas e normalmente ocorrem em bacias ou sub-bacias de mdio e de pequeno portes. Normalmente, relacionam-se com chuvas intensas e concentradas, sendo o fenmeno circunscrito a uma pequena rea. Principais Efeitos Adversos De um modo geral, as enxurradas provocam danos materiais e humanos mais intensos do que as inundaes graduais. Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de acompanhar a evoluo diria do tempo e informar, com antecipao de horas, sobre a provvel ocorrncia de chuvas concentradas. Radares meteorolgicos permitem previses sobre a magnitude das precipitaes futuras, atravs do estudo das nuvens causadoras de chuvas. Medidas Preventivas O conjunto de medidas relacionadas no Ttulo III deste Captulo - pg. 36- aplica-se s enxurradas. As inundaes bruscas, por ocorrerem em pequenas e mdias bacias, exigem minuciosos estudos, planejamento integrado e intensa participao da comunidade no planejamento integrado e na execuo de medidas de previso, preveno e controle. O manejo integrado de microbacias contribui para reduzir as vulnerabilidades e minimizar os danos. 50

  • 3 Alagamentos CODAR: NE.HAL/ CODAR: 12.303 Caracterizao So guas acumuladas no leito das ruas e nos permetros urbanos por fortes precipitaes pluviomtricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes. Nos alagamentos o extravasamento das guas depende muito mais de uma drenagem deficiente, que dificulta a vazo das guas acumuladas, do que das precipitaes locais. O fenmeno relaciona-se com a reduo da infiltrao natural nos solos urbanos, a qual provocada por: - compactao e impermeabilizao do solo; - pavimentao de ruas e construo de caladas, reduzindo a superfcie de infiltrao; - construo adensada de edificaes, que contribuem para reduzir o solo exposto e concentrar o escoamento das guas; - desmatamento de encostas e assoreamento dos rios que se desenvolvem no espao urbano; - acumulao de detritos em galerias pluviais, canais de drenagem e cursos dgua; - insuficincia da rede de galerias pluviais. Ocorrncia Os alagamentos so freqentes nas cidades mal planejadas ou quando crescem explosivamente, dificultando a realizao de obras de drenagem e de esgotamento de guas pluviais. comum a combinao dos dois fenmenos - enxurrada e alagamento - em reas urbanas acidentadas, como ocorre no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em cidades serranas. Em cidades litorneas, que se desenvolvem em cotas baixas, como Recife e cidades da Baixada Fluminense, a coincidncia de mars altas contribui para agravar o problema. Principais Efeitos Adversos Os alagamentos das cidades normalmente provocam danos materiais e humanos mais intensos que as enxurradas. Monitorizaro, Alerta e Alarme A monitorizaro semelhante descrita, a propsito das enxurradas. Medidas Preventivas A organizao de mapas de risco de inundaes facilita o planejamento urbano e o desenvolvimento de planos diretores, em harmonia com os determinantes ambientais. A comunidade deve ser motivada para participar do planejamento de medidas preventivas no-estruturais e estruturais. O planejamento deve ser integrado, multidisciplinar e de longo prazo. O consenso 51

  • importante e a filosofia dos projetos comunitrios semelhante que orienta os projetos comunitrios de manejo integrado de bacias, devidamente adaptada ao espao urbano.

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  • 4 Inundaes Litorneas Provocadas pela Brusca Invaso do Mar CODAR: NE.HIL/ CODAR: 12.304 Caracterizao As inundaes litorneas, provocadas pela brusca invaso do mar, normalmente caracterizam-se como desastres secundrios, podendo ser provocadas por vendavais e tempestades marinhas, ciclones tropicais, trombas dgua, Tsunmis e ressacas muito intensificadas. Ocorrncia O fenmeno ocorre, principalmente, em costas pouco elevadas de continentes ou de ilhas rasas. Dentre as inundaes resultantes de invaso do mar, as mais famosas so as que ocorreram nas terras baixas da Holanda, as quais, como se sabe, foram conquistadas ao mar atravs da construo de diques. O fenmeno particularmente destrutivo em reas sujeitas a furaces, especialmente em Bangladeche e no Pacfico sul. Tambm pode ocorrer como conseqncia de tsunmis, causados pela propagao de ondas de choque desencadeadas por terremotos. Principais Efeitos Adversos Normalmente, os danos humanos e materiais e os prejuzos econmicos e sociais so muito intensos. Monitorizao, Alerta e Alarme Como o fenmeno tem mltiplas causas, a monitorizaro depende do estudo das causas especficas do fenmeno, nas reas consideradas. Medidas Preventivas O conjunto do medidas relacionadas no Titulo III deste Capitulo - pg. 36 - aplica-se s inundaes litorneas, provocadas por brusca invaso do mar. Em alguns casos, a construo de diques e as facilidades de bombeamento permanente podem contribuir para a reduo do fenmeno. Nas ilhas rasas do Pacifico, a previso antecipada permite a evacuao da populao para reas de cotas elevadas e a reduo da mortalidade. 53

  • TITULO IV DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM INTENSA REDUO DAS PRECIPITAO HDRICAS CODAR: NE.S/ CODAR: 12.4 Introduo Esses desastres relacionam-se com a reduo das precipitaes hdricas, com a queda da umidade ambiental, com as estiagens, secas e incndios florestais. Classificam-se em: - estiagens; - seca; - queda intensa da umidade relativa do ar; - incndios florestais

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  • 1 Estiagem CODAR: NE.SES/ CODAR: 12.401 Caracterizao As estiagens resultam da reduo das precipitaes pluviomtricas, do atraso dos perodos chuvosos ou da ausncia de chuvas previstas para uma determinada temporada. Nas estiagens, ocorre uma queda dos ndices pluviomtricos para nveis sensivelmente inferiores aos da normal climatolgica, comprometendo necessariamente as reservas hidrolgicas locais e causando prejuzos a agricultura e pecuria. Quando comparadas com as secas, as estiagens caracterizam-se por serem menos intensas e por ocorrerem durante perodos de tempo menores. Embora o fenmeno seja menos intenso que a seca, produz reflexos extremamente importantes sobre o agrobussines, por ocorrer com relativa freqncia em reas mais produtivas e de maior importncia econmica que as reas de seca. Causas A estiagem, enquanto desastre, relaciona-se com a queda intensificada das reservas hdricas de superfcie e de subsuperfcie e com as conseqncias dessa queda sobre o fluxo dos rios e sobre a produtividade agropecuria. A reduo das precipitaes pluviomtricas relaciona-se com a dinmica atmosfrica global. A reduo das reservas hdricas de superfcie e de subsuperfde depende de: - fatores relacionados com a dinmica global das condies atmosfricas, que comandam as variveis climatolgicas relativas aos ndices de precipitao pluviomtrica; - fatores ambientais locais, relacionados com o segmento abitico do meio fsico, especialmente os concernentes geologia, pedologia e geomorfologia e suas influncias e interaes recprocas sobre os ndices de infiltrao da gua e de alimentao do lenol fretico; - fatores ambientais locais relacionados com o segmento bitico do meio ambiente (biota), especialmente com a cobertura vegetal; - fatores antrpicos relacionados com a intensidade do consumo das reservas hdricas ou, ao contrrio, com a capacidade de acumulao das mesmas. Ocorrncia Embora as estiagens ocorram com maior freqncia em regies de clima tropical, nenhuma rea de produo agropecuria pode ser considerada como absolutamente imune ao fenmeno. As mdias climatolgicas anuais de precipitaes pluviomtricas so obtidas pela somao das mdias mensais de longo perodo, de uma regio determinada. Considera-se que existe estiagem, quando: 55

  • - o incio da temporada chuvosa em sua plenitude atrasa por prazo superior a quinze dias; - as mdias de precipitao pluviomtricas mensais dos meses chuvosos alcanam limites inferiores a 60% das mdias mensais de longo perodo, da regio considerada. Principais Efeitos Adversos A intensidade dos danos provocados pelas estiagens proporcional: - magnitude do evento adverso; - ao grau de vulnerabilidade da economia local ao evento. As vulnerabilidades s estiagens relacionam-se com: - fatores ambientais relacionados com o segmento abitico do meio fsico, especialmente os concernentes geologia, pedologia e geomorfologia; - - fatores ambientais relacionados com a biota, especialmente os concernentes a preservao da cobertura vegetal; - fatores antrpicos relacionados com o manejo agropecurio, com a intensidade da explorao dos recursos hdricos e com tcnicas protecionistas, concernentes proteo dos mananciais e do lenol fretico, bem como da capacidade de reserva da gua. Monitorizao, Alerta e Alarme Os servios meteorolgicos tm condies de antecipar previses de longo e de mdio prazos sobre as condies climticas e, de curto prazo, sobre as condies do tempo. Os servios de acompanhamento hidrolgico e hidrogeolgico tm condies de informar sobre a evoluo das reservas de superfcie e de apresentar estimativas razoavelmente seguras sobre o potencial das reservas de subsuperfcie. Medidas Preventivas No atual estgio de desenvolvimento tecnolgico, o homem no tem condies de influenciar na reduo da magnitude do fenmeno adverso, j que este depende da dinmica atmosfrica global. Dessa forma, as medidas preventivas, objetivando a minimizao dos danos, devem concentrar-se na reduo das vulnerabilidades socioeconmicas e ambientais. Dentre as medidas preventivas mais eficientes, destacam-se as relacionadas com o manejo integrado das microbacias e com o plantio direto. 1 - Manejo Integrado das Microbacias O manejo integrado das microbacias contribui para atenuar os efeitos das estiagens e aumentar a produtividade natural, atravs de: - florestamento e/ou reflorestamento de reas de preservao ambiental, como encostas ngremes, cumeadas de morros, matas ciliiares e matas de proteo de nascentes; - cultivo em harmonia com as curvas de nvel