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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JOÃO DE CRISTO PORTES FILHO DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O INCIDENTE NO NOVO CPC CURITIBA 2018

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O … · Aqui no ordenamento jurídico brasileiro, a aplicação da desconsideração foi construída através de decisões jurisprudenciais

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JOÃO DE CRISTO PORTES FILHO

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O

INCIDENTE NO NOVO CPC

CURITIBA

2018

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JOÃO DE CRISTO PORTES FILHO

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O

INCIDENTE NO NOVO CPC

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Di-reito da Universidade Tuiuti do Paraná como requi-sito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Antônio Augusto Cruz Porto

CURITIBA

2018

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TERMO DE APROVAÇAO

JOÃO DE CRISTO PORTES FILHO

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O IN-

CIDENTE NO NOVO CPC

Este trabalho foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Bacharel no

curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de ______________de

2018.

Prof. Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador ______________________________________

Profº Antônio Augusto Cruz Porto

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. ____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. ____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

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Primeiramente cabe reconhecer que sou apenas um homem, e que nada se-

ria sem uma força superior que vem de Deus.

Dedico ao meu Professor e Orientador, Antônio Augusto Cruz Porto, pela

atenção, ajuda e extraordinárias aulas expostas durante este trajeto.

Quero dedicar a todos os meus professores durante o curso, foi uma experi-

ência fantástica a qual irei levar para toda minha vida.

Dedico aos meus pais, familiares e amigos que sempre acreditaram e me

deram forças para concluir um sonho de se formar no curso de Direito.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela saúde, coragem e força em adentrar em novo caminho.

Agradeço ao meu Orientador, o Professor Antônio Augusto Cruz Porto, pela

dedicação em transmitir seu conhecimento durante suas aulas, o que me levou a es-

colher um tema relacionado com sua matéria. A área empresarial não é fácil, mas

Porto com excelente competência e paciência, tornava suas aulas em verdadeiros

momentos de extrema sabedoria.

Agradeço de coração a todos os grandes e renomados professores que trans-

formaram esse curso na melhor experiência da minha vida.

Quero agradecer meus pais, o Sr. João de Cristo Portes e a Sra. Ediliane Apa-

recida Moraes Portes, pelo incentivo e ajuda durante este trajeto ao qual serei grato

pelo restante de minha vida. Independentemente de onde estiver, onde meu caminho

for trilhar, saiba que vocês estarão sempre em meu coração.

Tenho gratidão por todos meus amigos, por termos compartilhados alegrias,

conhecimentos, momentos de tensão antes da prova e de orgulho após o dever cum-

prido.

Agradeço de forma especial meu amigo e advogado Dr. Victor Vitelci de Souza

Alves pelos conselhos durante o curso, pelos ensinamentos práticos, pelo suporte

prestado, sempre demonstrando amor e dedicação pela carreira escolhida no mundo

jurídico.

Agradeço meu amigo o Senhor Joel Agostinho Mendes, pessoa que tenho or-

gulho de trabalhar, sempre demonstrando força e nunca deixando de acreditar em

seus propósitos.

A todos envolvidos diretos e indiretamente nesse percurso, levarei sempre vo-

cês aonde eu estiver.

Muito Obrigado.

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Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não

esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela supersti-

ção, a realidade pelo ídolo. – Rui Barbosa.

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RESUMO

Trata-se de pesquisa relacionada a autores e suas defesas referentes a desconside-ração da personalidade jurídica em especial o procedimento previsto no Novo Código de Processo Civil. O estudo desse tema se tornou de uma elevada importância, pois um dos princípios principais do CPC/2015 é a previsão de um contraditório amplo, oque impossibilitaria a aplicação jurisprudencial que foi pacificada, consistindo em de-fesa a posteriore. Por objetivo básico compreende a análise técnica do incidente de desconsideração no Novo Código de Processo Civil, esclarecer as suas característi-cas, seu funcionamento, hipóteses de cabimento e a previsão do contraditório e ampla defesa. Os meios utilizados para construir esse trabalho foi principalmente a análise de livros de Direito Empresarial, que se preocuparam desde a construção histórica da disregard doctrine baseado na jurisprudência norte americana, sua primeira base teó-rica com o alemão Rolfh Serick, sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro até seu procedimento no NCPC/2015. É possível constatar que o incidente de desconsi-deração é tratado como demanda. Pactuo também, a necessidade de citação dos só-cios, afim de permitir um equilíbrio maior ocasionando o contraditório e ampla defesa, principio este que foi uma das maiores preocupações que o legislador teve com a criação do Novo Código de processo Civil.

Palavras Chave. Desconsideração da personalidade jurídica. Incidente. Novo Código

de Processo Civil. Contraditório. Jurisprudência.

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ABSTRACT

It is a research related to authors and their defenses referring to disregard of the legal personality in particular, the procedure established in the New Code of Civil Procedure. The study of this topic has become of high importance, since one of the main principles of CPC / 2015 is the prediction of a broad contradiction, which would prevent the ap-plication of jurisprudence that was pacified, consisting of posteriori defense. The basic objective is to analyze the technical aspects of the incident of disconsideration in the New Code of Civil Procedure, to clarify its characteristics, its operation, hypotheses of appropriateness and the forecast of the contradictory and ample defense. The means used for this work was mainly the analysis of Business Law books, which concerned itself from the historical construction of disregard doctrine based on North American jurisprudence, its first theoretical basis with the German Rolfh Serick, its application in the Brazilian juridical order until its procedure in CPC / 2015. It is possible to verify that the incident of disregard is treated as demand. There was also a need for the partners to be summoned, in order to allow a greater balance, resulting in a contradiction and ample defense, a principle that was one of the major concerns that the legislator had with the creation of the New Code of Civil Procedure.

Key Words. Disregard of legal personality. Incident. New civil process code. Contra-

dictory. Jurisprudence.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 09

2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS LIMITADAS............................................. 11

2.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS SOCIEDADES EMPRESA-

RIAS LTDA.....................................................................................................

12

2.2 LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE

IMPULSO ECONÔMICO................................................................................

15

2.3 FORMAÇÃO DA SOCIEDADE – ATO CONSTITUTIVO...................... 16

2.4 REGISTRO, AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA PARA NEGÓCIOS:

PERSONIFICAÇÃO.......................................................................................

18

3 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA................. 19

3.1 ORIGEM DO INSTITUTO..................................................................... 19

3.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO............................................................. 24

3.2.1 Direito do consumidor........................................................................... 24

3.2.2 Direito civil............................................................................................. 26

3.2.3 Direito tributário..................................................................................... 28

3.2.4 Direito Ambiental................................................................................... 31

3.2.5 Direito do Trabalho................................................................................ 32

4 INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA......................................................................................................

33

4.1 CRIAÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL....................... 35

4.2 FUNCIONAMENTO............................................................................... 35

4.3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA................................................... 38

5 CONCLUSÃO............................................................................................. 42

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 44

ANEXOS........................................................................................................ 49

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1 INTRODUÇÃO

A responsabilidade limitada, um dos modelos societários mais conhecido no

mundo, surge através de uma necessidade de juntar características atrativas para

empresários. Nada melhor que tornar um caminho mais flexível para abertura de de-

terminada atividade econômica e tornando protegido, como regra, bem pessoal dos

integrantes da sociedade. Como bem se sabe, o país necessita de atividade econô-

mica. Empregos, circulação de bens e serviços, a concorrência, tudo isso engloba a

atividade mercantil. O que ficaria inviável sem a presença de algo atrativo. De modo

que a responsabilidade limitada foi ficando conhecida, um verdadeiro fenômeno de

aberturas empresariais, abre-se abismo profundo para a prática de condutas diver-

gentes das previstas em Lei. Basicamente se quebra a função social da sociedade

(circulação de bens ou serviços).

O instituto da disregard of legal entity (nomenclatura usada pelos doutrinadores

americanos para desconsideração da personalidade jurídica), surgiu com o objetivo

de coibir atos contrários a função social empresarial. Primeiramente países commun

law, principalmente a norte americana, através de decisões jurisprudenciais menciona

o fato da possibilidade da retirada da autonomia patrimonial da sociedade e ingressão

no patrimônio pessoal do sócio.

Aqui no ordenamento jurídico brasileiro, a aplicação da desconsideração foi

construída através de decisões jurisprudenciais. Possui sua primeira previsão ex-

pressa no Código de Defesa do Consumidor no ano de 1990, posteriormente é posi-

tivada nos crimes de ordem econômica e meio ambiente. No Código Civil de 2002, a

desconsideração da personalidade jurídica é prevista no artigo 50, mencionando a

possibilidade de aplicação quando houver abuso da personalidade, caracterizado pelo

desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.

De forma que duas correntes divergiam em torno da aplicabilidade da descon-

sideração. A primeira basicamente dispensa citação dos sócios e a segunda defende

a aplicação do devido processo legal.

Com a chegada do Novo Código de Processo Civil, no Título Intervenção de

Terceiros, nos artigos 133 a 137, é instaurado um incidente de desconsideração da

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personalidade jurídica. Há uma série de princípios que o legislador se atentou ao re-

digir não só o incidente, mas todo o código de Processo Civil.

O que se esperar agora, de um instituto que foi aplicado de uma forma durante

anos, e que neste momento possui previsão de um procedimento no CPC/2015? Ou-

tra questão importante, é a celeridade confrontando a efetividade do devido processo

legal, como pesar na balança definitivamente em relação a dois princípios prestigiados

pelo nosso ordenamento jurídico? Como ficará os entendimentos construídos na ju-

risprudência?

Diante de uma matéria não exata chamada Direito, que se entrelaça com a

necessidade social, o Novo Código de Processo Civil foi elaborado para tentar resol-

ver as lacunas existentes no antigo código de processo civil de 1973. No que se refere

a desconsideração da personalidade jurídica, seu novo procedimento encontra-se po-

sitivados em seus artigos 133 a 137 NCPC. Uma frase marcante do Professor Stephen

Hawking “inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”, da face a primeira

justificativa deste trabalho, que consiste em uma ferramenta fundamental abrangendo

a pesquisa sobre referido tema, buscando se adaptar as novas regras procedimentais

estabelecidas. A pesquisa também tem como objetivo mostrar, os melhores caminhos

para se chegar na conclusão final com o resultado eficiente, atendendo tanto o polo

passivo quanto polo ativo em determinada demanda.

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2 SOCIEDADES EMPRESARIAS LIMITADAS.

Os países com maior destaque no surgimento das sociedades limitadas são a

Inglaterra e a Alemanha (JUNIOR, 2011, p. única). A necessidade em se criar um

modelo societário mais flexível era claro, que o autor Rodrigo Prado Marques menci-

ona:

“Clamavam os comerciantes por um modelo que ao mesmo tempo em que limitasse a responsabilidade do sócio ao capital subscrito na sociedade, lhe permitisse a condução pessoal dos negócios, não abrindo o capital a terceiro. A solução para o problema eram as chamadas sociedades de responsabili-dade limitada”. (2006, Apud JÚNIOR, 2011).

Na Inglaterra, Júnior (2011, p. única) destaca que “o comércio inglês se desen-

volvia em meio à Revolução Industrial e foi criado um tipo societário nomeado limited

by shares, que limitava a responsabilidade do sócio e era mais flexível”.

De forma inicial esse tipo societário é nomeado como sociedade por quotas de responsabilidade limitada, sendo que o número de sócios era limitado, o capital era de origem privada e havia restrição à acessibilidade por quota. O sucesso foi tão grande que o poder público inglês reconheceu essas empre-sas como legais em 1900 e as regularizou em 1907. (JÚNIOR, 2011, p. única).

No Direito Alemão, Seguindo a ideia de Fabio Ulhoa Coelho (2010, p. 376) em

1892, foi criado um modelo societário próprio, diferente de uma sociedade anônima

simplificada. Mesmo entendimento possui Rubens Requião, e menciona:

Em 1891 foi enviado, pelo Ministro da Justiça do Império, ao Congresso Ale-mão, um projeto de Lei, inspirado diretamente nas ideias de Oechelhauser. A tramitação legislativa, com algumas modificações, resultou na promulgação da Lei de 20 de abril de 1892, sobre as Gsellschaften mit beschraenkter Haf-tung – sociedades de responsabilidade limita. Em pouco tempo essas socie-dades dominaram o comércio alemão, de molde a, em nosso tempo, ultra-passarem de muitíssimo, em número, as sociedades anônimas existentes na Alemanha. (REQUIÂO, 2012. p.551).

O autor Paulo Roberto Tavares Paes (1993, p. 121), também considera a Ale-

manha como o primeiro país a se valer do modelo societário de responsabilidade limi-

tada, pela Lei 20.4.1892. O autor Rodrigo Prado Marques (2006 apud, Júnior 2011)

complementa que legislativamente, pode-se considerar a Alemanha como primeiro

país a adotar a sociedade de responsabilidade limita, pois foi promulgada em 1892,

sendo a inglesa logo após em 1907.

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No Brasil, segundo Calças (2003, Apud, ANDRADE, 2013): a primeira menção

a respeito desta modalidade societária, foi introduzida por José Thomaz Nabuco de

Araújo em 1865, inspirado na legislação francesa. Tinha como base proteger o patri-

mônio pessoal dos sócios de pequenas empresas sem as regras complexas das S.A,

porém referido projeto não foi aprovado pelo Conselho de Estado. (CALÇAS, 2003,

Apud, ANDRADE, 2013).

Conforme o autor Paes (1993, p. 123), 47 anos depois, em 1912, Inglez de

Souza introduz em seu projeto de Código Comercial, baseado na Lei portuguesa a

sociedade por quotas. Joaquim Luiz Osório, deputado na época, apresenta o projeto

de Souza na câmara, sendo aprovado somente em 10 de janeiro de 1919 com o De-

creto n 3.708 (sociedades por quotas). (PAES, 1993, p. 123).

“No Brasil o Decreto 3708/1919 instituiu em nosso ordenamento as socieda-des por quotas de responsabilidade limitada. Neste tipo de sociedade há um limite fixado para a responsabilidade dos sócios por obrigações sócias. Uma vez livremente fixado o valor do capital entre os sócios (já que no Brasil ao contrário do que ocorre em outros países a lei não estabelece um piso para o valor do capital social) e totalmente integralizado, os bens pessoais dos sócios não podem, como regra, ser alcançados por credores da sociedade. A responsabilidade do sócio está limitada ao valor das quotas por ele subs-critas”. (PATROCÍNIO, 2008, Apud, JÚNIOR, 2011).

Esse Decreto, como bem explica Júnior (2011, p. única), vigorou cerca de 80

anos, prevendo aplicação supletiva do Código Comercial de 1850 e da Lei das Socie-

dades por Ações. Também, em 2002, o Novo Código Civil, regula a matéria nos artigos

1052 0 1087, sendo sua nomenclatura renomeada para sociedade limitada, deixando

para trás o termo sociedade por quotas de responsabilidade limitada. (JUNIOR, 2011,

p única).

2.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS LIMITA-

DAS

O modelo societário de responsabilidade limitada, existe para atender as ne-

cessidades de médio e pequenos empreendedores (COELHO, 2000, p.357). Ramos

(2017, p.295), pode-se afirmar que essa modalidade societária é um fenômeno, sendo

estimada em 90% presente no nosso mercado econômico. Conforme Ramos:

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“A grande presença de sociedades limitadas no meio empresarial se deve basicamente ao fato de ela ostentar duas características especificas que a tornam um tipo societário bastante atrativo para os pequenos e médios em-preendimentos: a contratualidade e a limitação de responsabilidade dos só-cios. (RAMOS, 2017, p.295).

A palavra limitada, na tradução básica do dicionário Houaiss (2010, p.479) sig-

nifica “...que tem limites, pouco extenso, limitado, reduzidos a certos limites, restrito...”

O termo sociedade limitada, primeiramente merece ser esclarecido, buscando respon-

der melhor enquadramento e funções de tal limitação. Conforme a explicação de

Nahas (2004, p. 91) “A responsabilidade que é limitada é apenas dos sócios, sendo a

sociedade empresária responsável ilimitadamente por qualquer relação assumida”.

Na explicação de Thereza Christina Nahas, a sociedade (pessoa jurídica), res-

ponderá por todos seus atos que causem prejuízos a terceiros, mediante todo seu

patrimônio, ou seja, sem limitação (NAHAS, 2004 p. 91). A figura do sócio, pessoa

física, está limitado, a responder apenas pela quota integrada do capital social, como

regra, salvo exceções (Ibid, 2004).

A limitação da responsabilidade dos sócios é uma das características mais mar-

cante, conforme informação de Elisabete Vido (2017, p. 212) é essencial o termo Li-

mitada ou a sigla LTDA, sob pena de se confundir com atividade empresarial diversa

e os sócios responderem de forma ilimitada e solidária por atos e obrigações da soci-

edade. Regra encontrada no artigo 1158 parágrafo 3⁰ do C.C “a omissão da palavra

“limitada” determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que

assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. (art.1158 do C.C 2002).

Conforme Tereza Christina Nahas, o sócio coloca em risco apenas sua quota

integrada ao capital social, porém, essa característica, nem sempre poderá prepon-

derar, há exceções quanto a essa regra a fim de não concretizar um poder consistente

em irresponsabilidade dos integrantes de determinada sociedade (NAHAS, 2004, p.

95). Segue abaixo disponibilizada por Nahas, algumas exceções:

A). Quando agirem com excesso de mandato ou violação do contrato ou da lei (art. 10, Decreto n 3078/19; o excesso somente poderá ser oposto a ter-ceiros se: a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro pró-prio da sociedade; provando-se que era conhecida do terceiro; tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade (art. 1015, Código Civil, incisos, in verbis); B). Quando usarem indevidamente a firma ou dela abusarem (art.11, decreto n 3078/1919);

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C). Quando deliberarem contra preceitos legais ou contratuais ou infringirem o contrato social (art. 1080 C.C) D). Quando não averbarem o ato de nomeação de administrador à margem da inscrição da sociedade (art. 1012, C.C) E). Quando realizarem operações que sabem, ou deveriam saber, ser con-trárias à vontade da maioria (art.1013, par. 2 C.C) F). Quando agirem com culpa no desempenho de suas funções (art. 1016, C.C) G). Quando não restituírem à sociedade as aplicações de crédito ou bens sociais que tenham aproveitado a si próprios ou a terceiros (art. 1017, C.C) H). Pelas obrigações tributárias nos casos dos artigos 134 e 135 do Código Tributário Nacional. (NAHAS, 2004, p. 95, p. 96).

A seguir, depois de pesquisas realizadas a fim de encontrar maior conheci-

mento sobre o tema Ramos (2017, p. 295): destaca a característica da contratuali-

dade, “deixa mais atrativo para pequenos e médios empresários optarem pela socie-

dade limitada, pois confere maior liberdade na hora de firmar o vínculo societário entre

eles”.

Convenhamos, que tudo que é simples, mais fácil, nós seres humanos optamos

por esse caminho. Comentário marcante de Rubens Requião ilustra esta ideia. “fal-

tava, pois, na escala societária, um tipo mais leve de estrutura jurídica, que atendesse

melhor aos propósitos organizacionais das pequenas e médias empresas”. (1988,

apud NAHAS, 2004). O autor André Luiz Santa Cruz Ramos, menciona o fato de que

a vontade dos sócios definirá basicamente todas as questões em relação aos interes-

ses sociais (RAMOS, 2017, p. 299).

A sociedade Limitada possui previsão legal nos artigos 1052 a 1087 do

Código Civil. No entanto, Elisabete Vido menciona:

As regras das sociedades simples se aplicam subsidiariamente nas omissões dos dispositivos referente a sociedade limitada, lembrando que na formação do contrato social houver previsão expressa da aplicação da Lei das Socie-dades Anônimas, referida poderá ser usada de forma supletiva, desde que

não se aplique de forma contrária a natureza da sociedade limitada. (VIDO, 2017, p. 209, p. 210).

Destes textos acima, colocando lado a lado a característica de responsabili-

dade limitada dos sócios e a contratualidade, conferindo proteção aos bens pessoais

dos integrantes da sociedade e maior liberdade em firmar o contrato social, pode-se

concluir o por que esse modelo societário é o mais comum no ramo empresarial. Oque

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faz com a responsabilidade limitada seja usada como instrumento para impulsionar o

mercado econômico, que através de pesquisa, será exposta no tópico a seguir.

2.2 LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE IMPULSO

ECONÔMICO

Em sã consciência, quais as chances de determinada pessoa, proprietária de

vasto patrimônio, colocar em risco todos seus bens a fim de uma incerta atividade

empresarial? O Autor André Luiz Santa Cruz Ramos, descreve que na prática, em-

presários de pequenos e médio porte, necessitam de uma modalidade empresarial, a

fim de ser menos burocráticas para sua formação e de carona, trazer proteção a bens

pessoais de seus integrantes (RAMOS, 2017, p. 296).

Conforme destaque de Christian Garcia Vieira, no que relaciona a iniciativa pri-

vada, a responsabilidade limitada é a saída para o desenvolvimento da exploração de

atividade econômica (VIEIRA, 2017, p. 41). É uma forma de permitir o desenvolvi-

mento e atividade econômica, sem prejudicar o patrimônio pessoal, apenas pelo me-

nos como regra, o capital investido (IBID, 2017, p. 41).

O site estatísticas empresariais, dispõe vários estudos a respeito da área em-

presarial, ao qual destaca-se o crescimento da sociedade por quotas. http://www.es-

tatisticasempresariais.mj.pt/Paginas/filtros.aspx?estatistica=14.

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Este gráfico, só de olhar já é claro em que podemos constatar que as socieda-

des de responsabilidade limitada são um verdadeiro fenômeno. Conforme Ramos

(2017, p. 295) Estima-se que no Brasil possui cerca de 90% de empresas de respon-

sabilidade limitada de modo que facilmente se deparamos com a sigla LTDA. Também

o fato devido a duas características presente nesta modalidade empresarial, a contra-

tualidade consistindo em maior liberdade entre os sócios, e a sua limitação de respon-

sabilidade, de modo a proteger sua autonomia patrimonial (RAMOS, 2017, p.295).

2.3 FORMACÃO DA SOCIEDADE – ATO CONSTITUTIVO.

No entendimento de Paula Leite, a expressão em sentido estrito de sociedade,

declara o objetivo das sociedades em uma organização das relações individuais em

se atingir uma finalidade comum em certa atividade econômica (LEITE, p. única). Toda

atividade que envolve um agrupamento de pessoas, é necessário um elemento voli-

tivo, capaz de gerar harmonia entre a coletividade (Ibid, p. única). No meio empresa-

rial, duas palavras em latim affectio societatis, resume na intenção dos sócios de cons-

tituir uma sociedade basicamente, “como a vontade de cooperação ativa dos sócios,

a vontade de atingir um fim comum” (TOMAZETTE, 2009, p. 206).

É necessário a edição de um contrato. De acordo com Ramos (2017, p. 301) o

contrato deverá ser escrito para posteriormente ser possível registrá-lo. Conforme dis-

posição do artigo 1054 do Código Civil, “o contrato mencionará, no que couber, as

indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma social” (Artigo 1054 C.C). Seguindo

explicação, atentos a palavra “no que couber”, que deixa de modo muito claro a inten-

ção do legislador em deixar de lado requisitos não necessários a sociedade limitada

(RAMOS, 2017 p. 299). Um exemplo disso, bem mencionado por André Luiz Santa

Cruz Ramos, é o inciso V do artigo 997 C.C, “as prestações que se obriga o sócio,

cuja contribuição consista em serviços”. O modelo societário de responsabilidade li-

mitada, não admite sócio que disponibiliza somente sua força de trabalho. (RAMOS,

2017, p. 299)

A redação completa do artigo 997 CC, positiva as seguintes regras:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato inscrito, particular ou pú-blico, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

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I-nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pes-soas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios se jurídicas; II-denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III-capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária: IV-a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realiza-la; V-as prestações que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em servi-ços; VI-as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII-a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII-se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações so-ciais. Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. (artigo 997 caput, incisos I a VII e parágrafo único do Código Civil)

Assim, como ficou claro a desnecessidade de reprodução de todos os incisos

do dispositivo 997 C.C, Segundo RAMOS (2017, p.299) “esse rol de indicações que

deve conter o contrato social, previsto no art. 997 do Código, não é exaustivo, apli-

cando-se também outras exigências contidas na legislação pertinente para fins de re-

gistro”

Para ilustrar, o site(www.jucergs.rs.gov.br/downloads/JUCERGS-Alteraca-

oContratualempresario.doc,), disponibiliza um modelo de contrato social que pode

ser conferido em anexo.

A administração da sociedade, Ramos explica (2017, P. 310), “não poderá ser

administrada por pessoa jurídica conforme regra do art. 997 inciso VI do C.C, pois há

a previsão expressa de pessoas naturais afim de administração”. Outro impedimento

está previsto no artigo 1011, par. 1 do C.C:

“Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei espe-cial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema finan-ceiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as rela-ções de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. (artigo 1011, par.1 Código Civil).

Nas palavras de Elisabete Vido, a sociedade poderá ser de pessoas ou de ca-

pital, tudo dependerá do que estiver previsto no contrato social (VIDO, 2017, p. 210).

Conforme explicação de Thereza Christina Nahas, se o contrato for omisso em

expressar se é de pessoas ou de capitais, seguirá regra do Código Civil, adotando

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característica de pessoas (NAHAS, 2004, p. 92). Elisabete Vido complementa, se o

contrato social possuir expressamente a aplicação supletiva das S.A, se caracteriza

uma sociedade de capital (VIDO, 2017, p.210). De mesma forma, se houver alguma

espécie de controle de entrada de pessoas, logo esta será sociedade de pessoas.

Não havendo nenhuma espécie de controle, presume-se que é de capital (Ibid, 2017

p. 210).

2.4 REGISTRO, AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA PARA NEGÓCIOS: PERSONIFI-

CAÇÃO

Passamos adiante e de forma exauriente sabemos como é feito um contrato de

sociedade limitada, mas ainda existem formalidades a se seguir. Primeiramente, de

modo óbvio e bem observado por Ramos, é certo que o contrato social deve ser es-

crito, “a fim de os sócios o registrarem em órgão competente conforme o objeto da

sociedade” (RAMOS, 2017, p.301). Essa regra expressamente encontramos no artigo

1150 do Código Civil:

O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. (Artigo 1150 C.C)

Simplificando, “se a sociedade limitada tiver por objeto o exercício de empresa,

a Junta Comercial é o local certo para o registro” (RAMOS, 2017, p.302), sendo a

sociedade limitada na modalidade simples (não possuindo exercício de empresa) o

Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas é o caminho certo para ser registrado.

(2017, p.302).

Por fim, redação do artigo 967 C.C, “é obrigatório a inscrição do empresário no

Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua

atividade”. Artigo 36 da Lei 8.934/1994,

os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30(trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o arqui-

vamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder. (Lei 8.934/1994, artigo 36).

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Regra que Ramos (2017, pg.302), explica em que depois de concretizado e

assinado o contrato social, é necessário levá-lo a registro antes de se iniciar as ativi-

dades. Tal regra se complementa com o Art. 36, da Lei 8.934/1994, ao qual se obe-

dece o prazo de trinta dias contados de sua assinatura, sendo a regra de retroagir a

data da assinatura. Depois desse processo de registro no órgão competente, ocorre

sua personificação (RAMOS, 2017, p.302). Adquirida sua personalidade, a sociedade

é apta a realizar as mais diferentes relações jurídicas (compra, venda, limite de crédito

em banco, etc...) em nome próprio.

3 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Todo instituto, conceito, tese até mesmo coisas práticas do nosso dia a dia (que

não fazem parte do mundo jurídico) evoluem. Podemos mencionar o aparelho celular

que quando foi criado, sua forma e sua capacidade não se comparam aos poderosos

smartphones que conhecemos hoje. A seguir, com base em autores que se preocu-

param em dissertar sobre a desconsideração, vamos conhecer aspectos históricos e

técnicos de mencionado instituto de suma importância, não só apenas para operado-

res do Direito, mas também para empreendedores, empresários e por que não, estu-

diosos em geral.

3.1 ORIGEM DO INSTITUTO

Antes de falar da desconsideração, e necessário estabelecer um conceito só-

lido definindo o que seria a personalidade jurídica. Nas palavras de Francesco Ferrara,

“as pessoas jurídicas podem definir-se como associações ou instituições formadas

para a consecução de um fim e reconhecidas pelo ordenação jurídica como sujeito de

direitos”. (FERRARA, Apud FREITAS, 2004).

Conforme explicação de Nahas (2004, p. 133) “uma vez que a pessoa jurídica

foi constituída de maneira regular, é ela que ficará responsável por direitos e deveres

nas relações jurídicas por ela praticada”.

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No entendimento de Christian Garcia Vieira, “um dos pilares para a criação da

personalidade jurídica foi a busca por determinados objetivos práticos como a limita-

ção ou a supressão de responsabilidades individuais e a autonomia patrimonial” (VI-

EIRA, 2017, p. 41).

O autor Vieira (2017, p. 31) informa que mesmo com as exceções, nota-se um

abismo formidável para práticas diversas da atividade econômica (abusos, fraudes,

etc). Quanto maior o crescimento, mais era claro a preocupação da jurisprudência em

coibir tais atos.

Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas, em sua pesquisa, aponta “maior

desenvolvimento da teoria da desconsideração da personalidade jurídica nos países

de common law, principalmente a norte-americana, através de decisões jurispruden-

ciais” (FREITAS, 2004, p. 57). Mesmo entendimento do Professor André Luiz Santa

Cruz Ramos, “a teoria da desconsideração (conhecida como disregard doctrine) é

fruto de construção jurisprudencial, historicamente a jurisprudência inglesa e norte-

americana” (RAMOS, 2017, p. 458). Caso muito famoso que aconteceu na Inglaterra

no ano 1897, apontado pela doutrina comercialista como o pioneiro da aplicação da

desconsideração da personalidade jurídica foi de Salomon versus Salomon & Co. Ltd.

(Ibid, 2017).

Neste caso, foi entendido a possiblidade de abranger todo o patrimônio de Mr. Salomon, pois este, possuía o total controle societário sobre a socie-dade, de modo que não obsta a separação patrimonial entre ele e a pessoa jurídica. A nível de conhecimento, essa decisão foi reformada pela Casa dos Lords, em que ao final, ficou decidido pela separação patrimonial de Mr. Sa-lomon e a Sociedade Solomon & Co. Lltd, concluindo pela irresponsabili-dade pessoal frente as dívidas da pessoa jurídica. (RAMOS, 2017, p. 458).

Conforme consta no livro de desconsideração da personalidade jurídica de Eli-

zabeth Cristina Campos Martins de Freitas, na década de 1950, Rolf Serick (conside-

rado para a maioria como precursor da matéria de desconsideração), depois de estu-

dos realizados relata a preocupação em quais hipóteses caberia a necessidade de

aplicar a desconsideração da pessoa jurídica (FREITAS, 2004, p. 59). Serick, estudou

variados aspectos relacionados a pessoa jurídica, levando em conta sua honra, se era

titular de direito autoral (Ibid, p. 60).

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Serick, aponta 4 princípios para que possa ser aplicada a teoria da desconsi-

deração da personalidade jurídica, que de forma simplificada Elizabeth Cristina Cam-

pos Martins de Freitas relata:

1. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica tem cabimento quando houver utilização abusiva da pessoa jurídica, com o objetivo de se furtar da incidência da Lei ou de Obrigações contratuais, ou causar danos a terceiros de forma fraudulenta;

2. A autonomia subjetiva da pessoa jurídica pode ser desconsiderada quando isso for necessário para coibir a violação de normas de direito societário que não possam ser violadas nem mesmo por via indireta;

3. As normas que tiverem por base atributos, capacidade, ou valores huma-nos à pessoa jurídica podem ser aplicadas se, entre a finalidade de tais normas e a função da pessoa jurídica à qual são as mesmas aplicadas, não se detectarem contradições. Importa salientar que, para se determi-narem os pressupostos normativos, é possível considerar as pessoas fí-sicas que agem por intermédio da pessoa jurídica;

4. No caso de a pessoa jurídica servir de instrumento para ocultar o fato de que as partes envolvidas no negócio são, na prática, o mesmo sujeito, a autonomia da pessoa jurídica pode ser afastada, se for necessário aplicar a norma embasada sobre a efetiva diferenciação, não sendo possível am-pliar tal entendimento à diferenciação ou identidade apenas jurídico-for-mal. (FREITAS, 2004, p.62).

Em 1960, Rubens Requião foi o grande propulsor a defender a aplicação da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil, levando em pauta a

ausência de regulamentação legal (RAMOS, 2017, p. 459). Rubens Requião, defende

que o Estado permite o reconhecimento de personificação às sociedades comercias,

cabe ao próprio Estado, determinar limites de tal personificação. (1969, TRIBUNAIS,

apud. VIEIRA, 2017). Conforme Rubens Requião:

“Se a pessoa jurídica não se confunde com as pessoas físicas que a com-põem, pois são personalidades radicalmente distintas; se o patrimônio da so-ciedade personalizada é autônomo, não se identificando com o dos sócios, tanto que a cota social de cada um deles não pode ser penhorada em execu-ção por dívidas pessoais, seria então fácil burlar o direito dos credores, trans-ferindo previamente para a sociedade comercial todos os seus bens. Desde que a sociedade permanecesse sob o controle desse sócio, não haveria in-conveniente ou prejuízo para ele que o seu patrimônio fosse administrado pela sociedade, que assim estaria imune às investidas judiciais de seus cre-dores.” (1998, REQUIÃO, apud FREITAS, 2004).

Nas palavras de Fabio Ulhoa Coelho, a desconsideração da personalidade ju-

rídica tem por objetivo coibir fraudes, sem discutir a basilar regra de separação patri-

monial e personalidade da sociedade e seus membros (COELHO, 200, p. 34, 35). A

jurisprudência foi quem tomou para si a aplicação do mencionado instituto nos casos

de desvio de finalidade das sociedades (RAMOS, 2017, p. 457). Um importante

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destaque de Vido (2017, p. 177), “a disregard doctrine, não consiste em extinguir a

pessoa jurídica (dissolução ou liquidação), mas simplesmente, a tornar ineficaz para

determinados atos”. Nesse mesmo raciocínio, o STJ já decidiu:

RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL - ARTIGOS 472 , 593 , II e 659 , § 4º , DO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE - INCIDÊNCIA

DA SÚMULA 284 /STF - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA

SOCIEDADE EMPRESÁRIA - MEDIDA EXCEPCIONAL - OBSERVÂNCIA DAS HI-

PÓTESES LEGAIS - ABUSO DE PERSONALIDADE - DESVIO DE FINALIDADE -

CONFUSÃO PATRIMONIAL - DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE - ATO

EFEITO PROVISÓRIO QUE ADMITE IMPUGNAÇÃO - BENS DOS SÓCIOS - LIMI-

TAÇÃO ÀS QUOTAS SOCIAIS - IMPOSSIBILIDADE - RESPONSABILIDADE DOS

SÓCIOS COM TODOS OS BENS PRESENTES E FUTUROS NOS TERMOS DO

ART. 591 DO CPC - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,

NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO. I - A ausência de explicitação precisa, por parte

do recorrente, sobre a forma como teriam sido violados os dispositivos suscitados atrai

a incidência do enunciado n. 284 da Súmula do STF. II - A desconsideração da per-

sonalidade jurídica é um mecanismo de que se vale o ordenamento para, em situa-

ções absolutamente excepcionais, desencobrir o manto protetivo da personalidade

jurídica autônoma das empresas, podendo o credor buscar a satisfação de seu crédito

junto às pessoas físicas que compõem a sociedade, mais especificamente, seus só-

cios e/ou administradores. III - Portanto, só é admissível em situações especiais

quando verificado o abuso da personificação jurídica, consubstanciado em excesso

de mandato, desvio de finalidade da empresa, confusão patrimonial entre a sociedade

ou os sócios, ou, ainda, conforme amplamente reconhecido pela jurisprudência desta

Corte Superior, nas hipóteses de dissolução irregular da empresa, sem a devida baixa

na junta comercial. Precedentes. IV - A desconsideração não importa em dissolução

da pessoa jurídica, mas se constitui apenas em um ato de efeito provisório, decretado

para determinado caso concreto e objetivo, dispondo, ainda, os sócios incluídos no

pólo passivo da demanda, de meios processuais para impugná-la. V - A partir da des-

consideração da personalidade jurídica. (STJ, 2011, on-line).

A primeira previsão legal em nosso ordenamento jurídico brasileiro aconteceu

em 1990, segundo Vido (2017, p. 177), positivado no Código de Defesa do Consumi-

dor (Lei 8.078/1990), que em sua redação no artigo 28 relata:

“o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade jurídica quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da Lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provo-

cados por má administração”. (Art. 28 CDC)

O parágrafo 5⁰, desse dispositivo menciona o fato de que “também poderá ser

desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma

forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”. (Art. 28

CDC, par. 5).

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Em sequência, no ano de 1994, com a Lei 8.884, que descreve sobre às infra-

ções à ordem econômica, em seu artigo 18, possui a seguinte redação:

a personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da Lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurí-dica provocados por má administração. (LEI 8.884, art. 18)

A posteriori, no tocante sobre a aplicação da desconsideração da personali-

dade jurídica, Elisabete Vido (2017, p.178) descreve que em 1998, com a edição da

Lei 9.605, no tocante aos crimes ambientais, trouxe na bagagem em seu artigo 4, a

possibilidade do disregard doctrine. Segundo redação do dispositivo “poderá ser des-

considerada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressar-

cimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. (Lei 9.605, artigo 4).

Atento para a comparação e crítica feito pelo brilhante Professor André Luiz

Santa Cruz Ramos, em que o artigo a previsão referente a desconsideração da per-

sonalidade jurídica do CDC, de forma nítida inspira os dois textos legais posteriores

mencionados acima (RAMOS, 2017, p.460). Facilmente se percebe que a leitura des-

tes artigos não se enquadra com as formulações doutrinárias quanto a origem à dis-

regard doctrine, pois dispensa requisitos essenciais, bastando apenas a demonstra-

ção de prejuízo ao credor (ibid, 2017).

Com a entrada em vigor do código civil de 2002, sua redação positiva:

Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. (Art. 50 CC)

.

Seguindo entendimento de Elisabete Vido (2017, 180, 181), o Código Civil

adota a teoria maior, em que a desconsideração ocorrerá desde que na prática acon-

teça as hipóteses previstas no art. 50 CC. Se complemente com a regra do enunciado

51 das Jornadas de Direito Civil, “Art. 50: a teoria da desconsideração da personali-

dade jurídica – disregard doctrine – fica positivada no novo CC, mantidos os parâme-

tros existentes no microssistemas legais e na construção jurídica sobre o tema”.

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3.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO

Como bem ficou definido pelo autor André Luiz Santa Cruz Ramos o disregard

doctrine foi construído ao longo do tempo basicamente de alicerce jurisprudencial,

com destaque a norte-americana (2017, p. 458). Rolfh Serick é considerado o primeiro

a patentear uma teoria sobre desconsideração da personalidade jurídica (Ibid, p.458).

Rubens Requião foi o primeiro a aprofundar estudos da teoria da desconside-

ração da personalidade jurídica no Brasil (VIDO, 2017, p. 176). A aplicação deste ins-

tituto consiste em afastar momentaneamente em atos determinados, para que se

atinja os bens pessoais dos sócios (Ibid, p. 176). À construção de Leis Especiais, pre-

viu algumas hipóteses pertinentes a desconsideração da personalidade jurídica, a

qual brevemente conferimos nos próximos tópicos.

3.2.1 Direito do consumidor

Conforme Vido (2017, p. 177) Há duas hipóteses de cabimento que se pode

extrair da Lei 8.078/1990, a do caput do artigo 28 e a do parágrafo 5⁰ do CDC.

O artigo 28 caput, possui a seguinte previsão:

“o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da Lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração”. (Art. 28 CDC).

Elisabete Vido, relata que na maioria das hipóteses deste dispositivo, não há a

necessidade de entrar com ação de desconsideração, pois é possível a responsabili-

dade direta dos sócios (VIDO, 2017, p. 177). No caso da falência, o instituto do disre-

gard doctrine, pode ser resolvido no mesmo processo de falência. No caso da disso-

lução regular, para o STJ, por si só, não é motivo para ocorrer a desconsideração da

personalidade jurídica.

Na hipótese do par. 5⁰ do artigo 28 CDC, “também poderá ser desconsiderada

a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao

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ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (Art. 28 par. 5). De acordo

com Elisabete Vido, tal hipótese traz sua bagagem risco maior ao empreendedor, mas

que sua aplicação está correta pois se pactua com a chamada teoria menor, ou seja,

a tendência é optar pelo elo mais fraco (VIDO, 2017, p. 178). O autor Ramos (2017,

p. 471), ilustra com o acordão relatado pela Min. Nançy Andrighi:

A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica. A aplicação da te-oria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na exa-gese autônoma do par 5 do art 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no ca-put do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos con-sumidores (STJ, 2004, on-line)

Segue abaixo, decisão do STJ que se pactua com a teoria menor:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RE-CURSO ESPECIAL. DECISÃO RECORRIDA. PUBLICAÇÃO ANTERIOR À VIGÊNCIA DO CPC/2015. REAVALIAÇÃO DO CONJUNTO FÁTICO-PRO-BATÓRIO. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. DE-CISÃO MANTIDA. 1. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem incursão no contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula n. 7 do STJ. 2. No caso concreto, a análise das razões apresentadas pelos recorren-tes, quanto à ausência de requisitos para a desconsideração da personali-dade jurídica, demandaria o revolvimento de fatos e provas, o que é ve-dado em recurso especial. 3. Consoante jurisprudência desta Corte, tratando-se de relação de con-sumo, é possível a desconsideração da personalidade jurídica quando esta representar obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, nos termos do art. 28 do CDC. (STJ, 2016, on-line).

De entendimento diferente o autor Fabio Ulhoa Coelho (COELHO, 2000, p. 51) aponta

três razões para não prevalecer referida hipótese

Em primeiro lugar, seria desconstruir as basilares teóricas em relação a teoria da desconsideração. Segundo, o caput do artigo 28 não serviria para nada. Terceiro, a pessoa jurídica basicamente seria eliminada no âmbito do consu-midor (Ibid, p.51).

3.2.2 Direito Civil

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O Código Civil de 1916, foi usado em nosso ordenamento jurídico até a entrada

em vigor do Novo Código Civil de 2002, passando a vigorar em 11 de janeiro de 2003.

(FREITAS, 2004, p. 262). A autora Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas, men-

ciona alguns aspectos em que o Novo Código Civil avançou em relação a antiga pre-

visão de 1916, como a “adequação dos direitos de família, a equiparação de direitos

de homens e mulheres”. (FREITAS, 2004, p. 263). Em relação a desconsideração,

Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas menciona que está positivado no artigo

50 do Código Civil. (FREITAS, 2004, p. 263). Conforme explicação da autora, é obvio

que o texto do artigo acima não possui a intenção de extinguir a pessoa jurídica, ape-

nas momentaneamente retirar a autonomia da pessoa jurídica. (Ibid, 2004).

Conforme explicação de Vido (2017, p. 180), o Código Civil em seu artigo 50,

adota a teoria maior, que consiste em posicionar que a desconsideração só pode ocor-

rer, se houver abuso da personalidade jurídica, ocasionada pelo desvio de finalidade

ou pela confusão patrimonial. Previsão do dispositivo 50 CC:

em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”

De entendimento da Autora Elisabete Vido, o que importa para a teoria maior,

é a necessidade mínima de dois requisitos cumulativos para caracterizar pedido de

desconsideração da personalidade jurídica (VIDO, 2017, p. 180). Regra encontrada

no acordão Resp 279.273, relatado pela Ministra Nancy Andrighi:

A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração). (STJ, 2004, on-line).

Desvio de finalidade, como lembra a professora Elisabete Vido, a própria no-

menclatura já nos diz, a pessoa jurídica foi usada para fins diversos do seu objeto

social. (2017, p.180). A Confusão patrimonial, de acordo com Vido (2017, p. 180) se

caracteriza pela falta de clareza de se distinguir patrimônio da pessoa jurídica e o

pertencente aos sócios. Como bem menciona Elizabete Vido, é normal empresas usa-

rem patrimônio dos sócios para gestão das empresas, sem o intuito de prejudicar

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credores. Para a confusão patrimonial ser motivo para ocorrer a desconsideração, é

necessário o abuso de personalidade. (2017, p. 180)

Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas, reforça a característica de exce-

ção da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, mesmo possuindo

um artigo dentro do Código Civil, a regra de autonomia patrimonial deve prevalecer.

(FREITAS, 2004, p. 274). Segue abaixo decisão do STJ, para mostrar como fica a

aplicação na prática:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CI-VIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INVIABILI-DADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 50 DO CC/2002. APLICAÇÃO DA TEO-RIA MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DESVIO DE FINALIDADE OU DE CONFUSÃO PATRIMONIAL. PRECEDENTES. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Na hipótese em exame, aplica-se o Enunciado 2 do Plenário do STJ: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça." 2. A Corte de origem dirimiu a matéria submetida à sua apreciação, mani-festando-se expressamente acerca dos temas necessários à integral solução da lide. Dessa forma, não havendo omissão, contradição ou obscuridade no aresto recorrido, não se verifica a ofensa ao artigo 535 do Código de Processo Civil de 1973. 3. No caso, em que se trata de relações jurídicas de natureza civil-empresarial, o legislador pátrio, no art. 50 do CC de 2002, adotou a teoria maior da desconsideração, que exige a demonstração da ocorrência de ele-mento objetivo relativo a qualquer um dos requisitos previstos na norma, caracterizadores de abuso da personalidade jurídica, como excesso de mandato, demonstração do desvio de finalidade (ato intencional dos só-cios em fraudar terceiros com o uso abusivo da personalidade jurídica) ou a demonstração de confusão patrimonial (caracterizada pela inexistência, no campo dos fatos, de separação patrimonial entre o patrimô-nio da pessoa jurídica e dos sócios ou, ainda, dos haveres de diversas pes-soas jurídicas). 4. A mera demonstração de inexistência de patrimônio da pessoa jurídica ou de dissolução irregular da empresa sem a devida baixa na junta comercial, por si sós, não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica. Precedentes. 5. O Tribunal de origem, com base nos elementos fático-probatórios cons-tantes nos autos, concluiu que não foi demonstrada a ocorrência de fraude, abuso de poder ou confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seu sócio, afastando a desconsideração da personalidade jurídica requerida nos autos. 6. Desta feita, a convicção formada pelo Tribunal de origem acerca da au-sência dos requisitos necessários para ensejar a desconsideração da personalidade jurídica da empresa recorrida decorreu dos elementos existentes nos autos, de forma que rever o acórdão objurgado, nesse as-pecto, importaria necessariamente o reexame de provas, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7 do STJ.

7. Agravo interno não provido. (STJ, 2016, on-line).

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Para concluir, o Enunciado 51 do Conselho de Justiça Federal, “A teoria da

desconsideração da personalidade jurídica – disregard doctrine – fica positivada no

novo Código Civil, mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas legais e na

construção jurídica sobre o tema.” Conforme Ramos (2017, p.460) o Código Civil, não

revogou as regras especiais a respeito da desconsideração da personalidade jurídica.

Como consequência, para não deixar dúvidas, se extrai do Enunciado 51 do CJF, que

para ocorrer a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, é necessário

a demonstração de abuso da personalidade ou confusão patrimonial, salvo os casos

previstos nas leis especiais que adotam a teoria menor. (2017, p. 461)

3.2.3 Direito Tributário

No raciocínio da autora Edna Ribeiro Santiago, em relação a matéria de aplica-

ção da desconsideração da personalidade jurídica no âmbito tributário, há correntes

conflitantes (SANTIAGO, 2017, p. única).

“A primeira corrente defende a necessidade de previsão expressa da des-

consideração da personalidade jurídica em regra jurídica permissiva para sua efetivação no âmbito do direito tributário, sob a justificativa de que esse ramo do direito é regido pelo princípio da legalidade (art. 37, caput, da CF/88), o qual impõe que a conduta da Administração Pública esteja sempre em con-sonância com o disposto em Lei (ibid, p única).

De entendimento diferente, mas acreditando ser inviável a aplicação da disre-

gard doctrine em matéria tributária, Edmar Oliveira Andrade Filho:

Um limite material intransponível é o princípio da Legalidade. Portanto, a re-gra não pode, sem recepção por intermédio de outra, ser aplicada no campo do direito tributário. Nessa seara, as relações envolvem o emprego de poder heterônomo no que difere da natureza paritária das relações privadas. Não fosse por essa razão seria pelo fato de que, em face do art. 146 da Constitui-ção Federal, esta matéria só poderia ser veiculada por Lei Complementar (FI-LHO, 2005, apud, Santiago 2017).

A segunda corrente, de acordo com Edna Ribeiro Santiago, “defende que a

desconsideração da personalidade jurídica consiste em aplicação jurisprudencial, ou

seja, dispensa a necessidade de dispositivo legal específico”. Santiago também men-

ciona “que alguns autores se apegam com fundamento nos artigos 134 e 135 do CTN,

outros pelo 116 do mesmo código e por fim outros pela regra do art. 50 C.C.

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Redação do artigo 134 caput e inciso VII:

Art. 134. nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obri-gação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervirem ou pelas omissões de que forem responsáveis. Inc. VII – os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

Texto Legal do artigo 135 caput e inciso III:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: Inc. III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

No entendimento de Edna Ribeiro Santiago, para aqueles que se pactuam com

a desconsideração mediante redação do artigo 134 VII, e 135 III, se faz referente a

previsão de responsabilidade tributária de diretores, gerentes e representantes legais

da sociedade (2017, p. única). De acordo Elizabeth Cristina Campos Martins de Frei-

tas, há casos por serem de uma importância elevada, dispensa-se o elemento subje-

tivo (FREITAS, 2004, p. 66,67). Cabe ao legislador definir as hipóteses (COELHO,

1989, apud FREITAS, 2004). Para Freitas (2004, p. 67) o artigo 135 inciso III, é uma

das previsões em que a lei dispensa o elemento subjetivo.

Edna Ribeiro Santiago (2017, p. única), analisa que o art. 134, VII, do CTN, e

referente a prática ilícita, não se comunicando com os princípios da desconsideração

da personalidade jurídica. Em relação ao artigo 135, à responsabilidade tributária recai

diretamente aos diretores, gerentes ou representantes da pessoa jurídica, ou seja,

novamente não se depara com o instituto da desconsideração (SANTIAGO, 2017, p.

única). O autor Júlio César Covre segue mesmo raciocínio, “a responsabilidade tribu-

tária tratada pelo artigo 135 do CTN está intimamente ligada à analise do sujeito pas-

sivo tributário” (COVRE, 2015, p. única).

Como alerta Edna Ribeiro Santiago (2017, p. única) , há divergências jurispru-

denciais em relação ao artigo 134 inciso VII e artigo 135 inciso III do CTN. Segue

abaixo alguns exemplos:

"[...] o redirecionamento da Execução Fiscal para o sócio-gerente da empresa é cabível apenas quando demonstrado que este agiu com excesso de poderes, infração à lei ou ao estatuto, ou no caso de dissolução irregular da empresa, não se incluindo o simples inadimplemento de obrigações tribu-tárias". "[...] a desconsideração da personalidade jurídica, com a consequente invasão no patrimônio dos sócios para fins de satisfação de débitos da em-presa, é medida de caráter excepcional, sendo apenas admitida nas

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hipóteses expressamente previstas no art. 135 do CTN ou nos casos de dissolução irregular da empresa, que nada mais é que infração à lei". (STJ, 2017, on-line).

Este caso, na leitura final expressamente admite a desconsideração pelo artigo

135 do CTN. Diferente deste abaixo:

"[...] no âmbito da Execução Fiscal, são observadas, em regra, quanto à responsabilidade, as disposições contidas no Código Tributário Nacional, o qual, em seus arts. 134 e 135, preconiza a possibilidade de responsabilização pessoal do sócio-gerente, quando demonstrada a prática de atos com infração à lei, o que se verifica, na hipótese de dissolução irregular da sociedade. A desconsideração da personalidade jurídica, de que cuida o art. 50 do Código Civil, tem aplicação nos demais casos, diversos da relação jurídico-tributária". (STJ, 2017, on-line).

Neste segundo caso, é necessário a adoção da teoria maior (art. 50 C.C), “a

demonstração do desvio de finalidade” ou “a demonstração da confusão patrimonial”,

o que conforme disposição final é aplicado em casos diversos de relação jurídica tri-

butária.

O art. 116 parágrafo único:

A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular ocorrência de fato gerador do tri-buto ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, ob-servados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.

Conforme leciona Santiago (2017, p. única), os que defendem a desconsidera-

ção pelo parágrafo único do 116 CTN, se valem que “a regra antielisiva contida no

dispositivo em destaque é demasiadamente ampla”, podendo a “autoridade adminis-

trativa a desconsiderar a personalidade jurídica de uma sociedade”. Deve levar em

conta a regra do artigo 50 do C.C, prevendo abuso da personalidade jurídica, “carac-

terizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial” (SANTIAGO, 2017, p.

única).

Santiago (2017, p única), defende o fato que não se pode ser aplicada o insti-

tuto do disregard doctrine pela análise do artigo 116 parágrafo único do CTN, “pois

trata-se somente de uma regra antielusiva”. Conforme entendimento de Ferreira

(2011, p única), seria aceitável a aplicação conjunta entre o parágrafo único do 116

do CTN com o artigo 50 do C.C, pois será analisado os requisitos basilares da des-

consideração da personalidade jurídica.” O autor Castro (2007, p única) segue mesmo

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raciocínio, acreditando que a aplicação da desconsideração em âmbito tributário seria

mais justa com a análise do artigo 50 do C.C (teoria maior).

3.2.4 Direito Ambiental

Nas aulas que temos logo no começo do curso de Direito, é defendido pela

nossa Constituição Federal, alguns direitos essenciais. No tocante ao tema, a leitura

do artigo 225 da nossa constituição:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Art. 225 CF).

O legislador ao redigir a Lei 9.605/1998, em seu Artigo 4 “poderá ser desconsi-

derada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarci-

mento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. (Art. 4, Lei 9605/98).

Seguindo raciocínio de Elizabete Vido, “se deparamos novamente com a adoção da

teoria menor.” Se a pessoa jurídica, for obstáculo, impedimento ao ressarcimento de

danos ambientais, os sócios responderão pessoalmente (VIDO, 2017, p. 178).

O autor Pedro Lenza confirma que a atividade econômica, deve ser orientada a pro-teção ambiental, mesmo que a sociedade produza circulação de riquezas. (LENZA, 2014, p. 1385). De acordo com o site mundo educação (http://mundoeduca-cao.bol.uol.com.br/biologia/principais-desastres-ambientais-causados-pelo-homem-.htm), segue abaixo alguns dos maiores desastres ambientais ocasionados por em-presas:

→ Vazamento de óleo na Bacia de Campos No dia 08 de novembro de 2011, a petroleira norte-americana Chevron foi responsável por um derramamento de óleo de grandes proporções na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. O vazamento foi intenso e matou diversas espécies de animais, tais como peixes, mamíferos e aves marinhas. Acredita-se que foram liberados no mar cerca de 3.700 barris de óleo.

→ Rompimento da barragem de Mariana O acidente de Mariana ocorreu em 05 de novembro de 2015 quando a barra-gem da mineradora Samarco rompeu e liberou uma grande quantidade de lama, que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, Minas Gerais. O corpo de 18 vítimas foram encontrados após o acidente, e uma pessoa ainda continua desaparecida. Além das perdas humanas, o aci-dente teve grande impacto ambiental, uma vez que grandes regiões ficaram cobertas de lama e rios foram atingidos pelos rejeitos. Nesse acidente, várias espécies morreram, tanto de plantas quanto de animais e micro-organismos. Além disso, a grande quantidade de resíduos afetou o solo e os rios. De

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acordo com especialistas, o rio Doce, o mais atingido, precisará de cerca de dez anos para se recuperar completamente do desastre.

Como descreve a autora Danielli Xavier Freitas, em seu artigo de Direito Ambi-

ental, há uma série de princípios relativos a proteção ambiental (FREITAS, 2014, p.

única). Um de seus princípios, conforme Maria de Fátima de Araújo Ferreira, é deno-

minado princípio do poluidor pagador, basicamente significa que ao ocasionar um

dano ambiental, o causador deverá arcar com o custo ambiental (produção, preven-

ção, reconstrução, repressão, reconstrução, repressão, reparação e responsabiliza-

ção (FERREIRA, p. 54 apud FREITAS, 2014, p. única).

3.2.5 Direito do trabalho

Ao consolidar as Leis do Trabalho, de forma nítida se presencia a preocupação

do legislador com o elo mais fraco da relação jurídica entre empregador e empregado.

Assim, Elizabete Vido explica, “a aplicação da disregard doctrine em matéria traba-

lhista é ausente de previsão legal, o que não impediu de ser adotada a teoria menor

nas relações de trabalho” (VIDO, 2017, p. 179). Segue abaixo decisão do TRT:

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. COMPROVAÇÃO DE FRAUDE DISPENSÁVEL. PROTEÇÃO DE CRÉDITO ALIMENTAR. A desconsideração da personalidade jurídica tem como finalidade proteger o crédito alimentar do trabalhador, hipossuficiente que é na relação de em-prego. Logo, em casos de satisfação de crédito de natureza trabalhista não se exige a comprovação de fraude, pois parte-se do pressuposto de que a sociedade e, por conseguinte seus sócios, se beneficiaram da força de traba-lho do empregado, trazendo benefícios ao seu patrimônio. Não podem, por-tanto, lhe transferir os riscos do empreendimento. Assim, o redirecionamento da execução em face dos sócios não exige a comprovação do abuso da per-sonalidade jurídica ou desvio de finalidade, nos moldes declinados no artigo 50 do Código Civil. (TRT, 2015, on-line)

Thereza Christina Nahas, conclui pelo fato de que o legislador presumiu que os

empregadores desfrutam do trabalho prestados pelos seus funcionários, o que seria

cruel privar os mesmos de seus salários (NAHAS, 2004, p. 199). Já Homero Batista

Mateus da Silva, “se apega ao fato de os responsáveis normalmente ao final não pos-

suírem mais nada de valor pecuniário no nome da empresa, sendo a desconsideração

a última tentativa de se conseguir resolver tal litigio”. (SILVA, 2010, p.42 apud VIDO,

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2017, p. 179). Há autores como Mauro Schiavi, “que defendem que o mundo jurídico

trabalhista se apega a teoria objetiva, em que os sócios não precisam ser citados”.

(SCHIAVI. 2011, p.904 apud VIDO, 2017, p. 179).

Baseado nos autores mencionados acima, a preocupação que o legislador pos-

sui em relação a uma dívida trabalhista é por tratar-se de uma prestação de caráter

alimentar. Há casos em que realmente é necessário um cuidado especial, em que o

descuido pode acarretar na perda da prestação material do processo. Foi correto a

adoção da teoria menor, porém, é justo que haja a aplicação do devido processo legal.

4 INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica se encontra nos ar-

tigos 133 ao 137, no capítulo referente a intervenção de terceiros. Nada mais justo e

necessário, a criação de regras procedimentais, para amenizar o uso cada vez mais

desenfreado de tal instituto, segundo análise de Vieira (2017, p. 47) que menciona a

“cogitação da responsabilidade limitada ser extinta do nosso ordenamento jurídico

brasileiro, consistente quase em uma inversão de valores, trocando característica de

exceção por regra” (VIEIRA, 2017, p.47). Para o Autor Cândido Rangel Dinamarco,

por não ter regras especificas para a desconsideração da personalidade jurídica se

confundia com uma generalidade. (DINAMARCO, 2006, Apud Vieira, 2017).

Para Cássio Scarpinella Bueno, “referido incidente tem por objetivo redirecionar

determinada execução, criando condições ao longo do processo, podendo alcançar

bens pessoais de pessoas naturais por atos praticados por pessoas jurídicas”. (BU-

ENO, 2017, p. 184). Também menciona o fato de ser ao longo do processo, por isso

a nomeação de incidente. (2017, p. 184). Para Vieira, o CPC/2015 deixou obvio que

o incidente de desconsideração da personalidade jurídica se trata de uma demanda:

afigura-se como demanda incidental voltada a reconhecer a inoponibilidade da personalidade jurídica da sociedade, que uma vez declarada, permite es-tender a responsabilidade patrimonial para um terceiro (sócio ou sociedade na hipótese inversa). (VIEIRA, 2017, p. 111).

Conforme Bueno, o incidente trouxe em sua bagagem a previsão expressa da

desconsideração inversa, consistindo em responsabilizar a pessoa jurídica por atos

praticados por pessoas naturais integrantes de seu quadro social. (BUENO, 2017,

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p.184). Como lembra Elisabete Vido, tal prática já era de uso a algum tempo, geral-

mente em casos de direito de família (partilha de bens, separação, divórcio, prestação

de alimentos), desde que fique claro a confusão patrimonial. (VIDO, 2017, p. 182). A

seguir decisão do TRF2:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ME-DIDA EXCEPCIONAL. CONFUSÃO PATRIMONIAL CONFIGURADA. RE-QUISITO DO ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL PREENCHIDO. PLEITO DE DES-CONSIDERAÇÃO FORMULADO ANTES DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO. 1. O Código Civil autoriza a desconsideração da personalidade jurídica de empresas, para atingir a figura de seus sócios, nas hipóteses de desvio de finalidade e confusão patrimonial. 2. Com base no referido dispositivo, a jurisprudência pátria admite o movi-mento inverso, ou seja, o emprego do patrimônio da pessoa jurídica, para quitação de débitos pessoais do sócio. Tal medida, contudo, tem caráter ex-cepcional e somente tem cabimento quando efetivamente comprovada a con-figuração dos requisitos legais que a autorizam (STJ, RESP: 200700452625; TRF-4ª Região, AG: 200904000073778; TRF-4ª Região, AG: 50250884920134040000). 3. Os sócios da pessoa jurídica M.V. Desenvolvi-mento Ltda são os senhores Marlon Poloni Menezes, ora Executado, e Va-nuza Poloni Menezes, com residência declarada no mesmo endereço: Tra-vessa Jerônimo Monteiro, nº 37, Bairro Glória, Vila Velha, Espírito Santo (fl. 136). 4. Além do patente vínculo familiar entre os sócios, o Executado Marlon Poloni Menezes detém 98% das cotas societárias, exerce isoladamente a ge-rência da pessoa jurídica (fl. 135) e não possui bem algum em seu nome, conforme resultado negativo das diligências em busca de (i) aplicações finan-ceiras (fls. 99/101), (ii) veículos automotores (fl. 109) e (iii) imóveis (fls. 112/113). 5. Há inequívoca confusão entre o patrimônio da pessoa física exe-cutada e o da empresa cuja desconsideração inversa da personalidade jurí-dica foi requerida, pois, na prática, o Senhor Marlon Polini Menezes é o pro-prietário de M.V. Desenvolvimento Ltda. 6. Está configurado, então, abuso da personalidade de M.V. Desenvolvimento Ltda, por confusão patrimonial (art. 50 do Código Civil), o que basta para chancelar a desconsideração de perso-nalidade jurídica postulada pela Agravante. 7. A União formulou o pedido de desconsideração inversa de personalidade jurídica, antes da vigência do Novo Código de Processo Civil (17.06.2013 – fls. 124/134). Assim, são ina-plicáveis a este caso as disposições dos artigos 133 a 137 do NCPC, que exigem a instauração de incidente próprio, para suscitar o exame de tal ma-téria. 8. Recurso provido. (TRF2, 2017, on-line).

Com essa pequena introdução, os títulos seguintes irão tratar da criação do

NCPC/2015, o funcionamento prático da desconsideração e a atenção especial ao

princípio do contraditório e ampla defesa.

4.1 CRIAÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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A espera foi longa até a sonhada reforma do Código de processo civil, cerca de

42 anos até sua entrada em vigor em 2015. O NCPC/2015 está dividido em parte geral

que engloba seis livros dos respectivos títulos, Livro I (das normas processuais civis),

Livro II (da função jurisdicional), Livro III (dos sujeitos do processo), Livro IV (dos atos

processuais), Livro V (da tutela provisória), Livro VI (da formação, da suspensão e da

extinção do processo), e Parte Especial, possuindo Livro I (do processo de conheci-

mento e do cumprimento de sentença), Livro II (do processo de execução, Livro III

(dos processos nos tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais), e

Livro Complementar (disposições finais e transitórias).

Conforme entendimento do autor André Luiz Santa Cruz Ramos, o direito em-

presarial é distinto em relação ao ramo civil, não obsta que em matéria processual,

os dois ramos andem juntos, pois não existe um código processual empresarial (RA-

MOS, 2017, p. 36). De forma exauriente, a criação do CPC/2015 (Lei 13.105/2015),

resultará em algumas mudanças em relação ao direito empresarial (ibid, 2017).

O Novo Código se atenta a uma série de princípios. Relacionado com a des-

consideração, podemos extrair o princípio da eficiência (VIEIRA, 2017, p. 65). Vieira,

“retrata o fato de que para ser eficiente, é necessário exprimir o máximo de cada ato

processual, respeitando os demais princípios, para atingir o melhor resultado. (2017,

p.65). Outro princípio que anda de mãos dadas com a desconsideração, é o contradi-

tório. Conforme Bueno (2017, p. 51), “deste princípio se espera a cooperação de todos

os envolvidos no processo, para chegar ao melhor resultado (prestação da tutela ju-

risdicional)”. O autor Vieira (2017, p. 68), segue mesmo raciocínio, “destacando a mu-

dança do contraditório estático do CPC/73, para o contraditório dinâmico e participa-

tivo”

4.2 FUNCIONAMENTO

A demanda de desconsideração conforme Vieira (2017, p. 149), se inicia com

a petição inicial, observando os requisitos formais do artigo 319 e incisos. Também

alerta pela redação do artigo 320, “a qual deverá ser instruída com os documentos

indispensáveis a sua propositura”. (VIEIRA, 2017). Exclui-se a Necessidade de indicar

o valor da causa. (VIEIRA, 2017).

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O autor Cássio Scarpinella Bueno, destaca os artigos 133 par. 1 e 134 par.4,

explicando que o pedido de desconsideração deve estar fundamentada na lei material.

(BUENO, 2017, p. 184).

Por exemplo na regra genérica do art.50 do CC, no art. 28 do Código do Con-sumidor, no art. 4 da Lei n. 9605/1998 em relação os ressarcimento por danos ao meio ambiente, no art. 34 da Lei n. 12.259/2011 em relação às infrações de ordem econômica ou, ainda, no art. 14 da Lei n. 12.846/2013 em relação à prática de atos ilícitos. Até mesmo a ocorrência de hipóteses como a do art. 2 par 2, da CLT ou dos arts. 134 e 135 do CTN merece ser constatada pelo incidente aqui analisado. (BUENO, 2017, p. 184).

Os legitimados ativos que podem requerer a desconsideração da personali-

dade jurídica de acordo com Christian Garcia Vieira, estão positivados no art 133

NCPC, “será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber

intervir no processo”. Também, conclui pelo fato de quem portar um crédito, (tanto

autor como réu) na demanda principal, poderá propor a desconsideração. (VIEIRA,

2017, p.116).

A desconsideração recai segundo artigo 135 NCPC, “sobre o sócio ou a pessoa

jurídica ao qual ocorrerá sua citação”. Necessária também a citação pois, como alerta

Elisabete Vido, o importante é que seja respeitado o devido processo legal, permitindo

um contraditório amplo, deixando as partes em relação de igualdade e consistente na

busca pelo melhor resultado. (VIDO, 2017, p. 183).

De forma que Vieira em seu livro desconsideração da personalidade juridica no

novo CPC, deixa uma lição, “que o rol de legitimados passivos poderá ser ampliado,

e o que definirá será a análise do caso concreto”. (VIEIRA, 2017, p. 121).

“Um exemplo de ampliação de pessoas potencialmente responsáveis pode ser extraído do art. 28, da Lei n 9708/95 (CDC). Esse dispositivo indica que a desconsideração poderá alcançar outras sociedades do grupo econômico (de fato ou de direito); sociedades controladas (par.2), sociedades consorciadas (3) e coligadas (4*). (Ibid, 2017)

O autor Vieira, menciona o “fato de que a demanda ou a simples petição deve

ser distribuída por dependência, autuada em autos apartados à principal”. (VIEIRA,

2017, p. 150). Seguindo regra do artigo 321 NCPC, se a petição não conter os requi-

sitos do artigo 319 e 320 ou possua defeitos irregulares que dificulte o julgamento do

mérito, o autor terá 15 dias para emendar ou completa-la (Artigo 321 NCPC). Se por

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ventura, o autor não retifique, a petição será indeferida, (Art. 321 NCP, parágrafo

único)

Em sequência, o artigo 134 NCPC, deixa claro a regra “o incidente de descon-

sideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento

de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial”. O artigo 134

par. 1 NCPC, “a instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distri-

buidor para as anotações devida”. Vieira alerta pela preocupação do legislador ao re-

digir mencionado dispositivo, a fim de coibir a transferência de bens”. (VIEIRA, 2017,

p. 154).

De forma que a instauração do incidente suspenderá o processo principal (art

134, par.3). O processo seguirá normalmente no caso de a desconsideração houver

sido requerida na própria petição do processo principal, em que o sócio ou a pessoa

juridica será citado. (art 134, par 2).

O artigo 135 NCPC determina, “instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa

jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15

(quinze) dias”. Como bem define o autor Bueno (2017, p.185), se o tempo necessário

para ocorrer a citação de alguma forma, comprometer a satisfação do direito material,

poderá em consequência ser deferida a tutela provisória de urgência. Mesma preocu-

pação o autor Vieira (2017, p. 152) destaca, qualquer fato que justifique o comprome-

timento do direito pretendido pelo autor, poderá ocorrer a tutela provisória de urgência,

buscando bloqueio de bens.

Conforme explicação do Professor Cássio Scarpinella Bueno, depois de verifi-

cado se há cabimento ou não da desconsideração, levando-se em conta o contraditó-

rio, o magistrado preferirá a decisão. (2017, p. 185). De certa forma, o autor deixa a

lição em que se tratando de desconsideração incidental e o incidente transcorrer na 1

instância, o recurso cabível seria agravo de instrumento (art.1015, IV). (BUENO, 2017,

p.185). Mesmo entendimento do autor Vieira (2017, p.185), que pactua que cabe

agravo de instrumento nas decisões que versarem sobre o incidente de desconside-

ração. Outra lição destacada por Vieira,

Tratando-se de decisão de mérito, o cabimento do agravo de instrumento também se adequa ao inc. II do mesmo art. 1015, que também prevê o cabi-mento do recurso para as decisões interlocutórias que tiverem por objeto “mé-rito do processo”. (VIERA, 2017, p. 185).

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De acordo com Bueno (2017, p.185), há a hipótese de o recurso ser agravo

interno do art 1021 NCPC. É o caso de ser decisão monocrática e de mesma forma

interlocutória, proferida por relator(a), se o incidente instaurar-se perante o Tribunal

(art. 932, VI). Tudo isso está expresso de acordo com o artigo 136 NCPC, “concluída

a instrução, se necessário, o incidente será resolvido por decisão interlocutória”. Pa-

rágrafo único “se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

A redação do artigo 134 par. 2⁰, “dispensa-se a instauração do incidente se a

desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese

em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica”. Cassio Scarpinella Bueno, ensina

que nestes casos, ou ainda quando for apresentado na fase de conhecimento antes

da análise do mérito pelo magistrado, segundo orientação do artigo 1009, caberá o

recurso de apelação.

4.3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O contraditório e ampla defesa estão positivados na CF/88 em seu artigo 5,

inciso LV, “-aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes”. O autor Cassio distingue, baseando o contraditório na possibilidade de to-

dos os sujeitos do processo participarem e colaborarem ao longo do processo, de

modo que possam ter alguma influência na decisão do magistrado. A ampla defesa

deve ser entendida como uma garantia, a criação de meios, para que possa ampla-

mente

Como não havia regra procedimental em relação a aplicação do instituto da

disregard doctrine sob a égide do CPC/73, ficou pacificado entendimento em que pri-

meiro se desconsiderava a pessoa jurídica, para depois, se dar ciência aos sócios

envolvidos. (VIEIRA, 2017, p. 151). Conforme entendimento do mesmo autor, virou

uma verdadeira crise no contraditório, ocasionando um desrespeito total com as pre-

missas do devido processo legal.

Uma das dificuldades enfrentadas é o fato de que havia sob a égide do CPC/73, na doutrina e na jurisprudência, de forma indesejável, critérios dís-pares quanto aos procedimentos a serem adotados, que nem sempre respei-tam as garantias de ampla defesa e contraditório à sociedade que poderá ter sua personalidade momentaneamente desconsiderada. (VIERA, 2017, p. 50)

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Para ilustrar e comprovar, segue abaixo julgado no STJ:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. PRÉVIA CITAÇÃO DOS SÓCIOS. DESNECESSIDADE.

1. A questão relativa à prévia citação do sócio ou da pessoa jurídica atingida pela aplicação da disregard doctrine, anteriormente à vigência do novo Código de Processo Civil, encontra precedentes no âmbito do Supe-rior Tribunal de Justiça, no sentido de que: “A superação da pessoa jurídica afirma-se como um incidente

processual, razão pela qual pode ser deferida nos próprios autos, dispen-sando-se também a citação dos sócios, em desfavor de quem foi superada a pessoa jurídica, bastando a defesa apresentada a posteriori, mediante embargos, impugnação ao cumprimento de sentençaou exceção de pré-executividade” (STJ, 2017, on-line).

De acordo com Christian Garcia Vieira, o principal motivo para a criação do

incidente, está motivado em compreender um procedimento que garanta de forma

ampla o princípio do contraditório. (VIEIRA, 2017, p. 25)

A Exposição de Motivos do CPC/15 enfatiza esse aspecto quando reafirma a harmonia e a “concreção” que o novo sistema confere aos princípios cons-titucionais: “um procedimento, com contraditório e produção de provas, prévio à decisão que desconsidera a pessoa jurídica, em sua versão tradicional ou “às avessas”. (2017, p.25).

Conforme redação do artigo 135 NCPC/2015, “instaurado o incidente, o sócio

ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no

prazo de 15(quinze) dias. “A citação é o ato pelo qual o réu, o executado ou, mais

amplamente o interessado, é convocado para integrar o processo”. (art. 238 NCPC).

Elisabete Vido destaca a importância da citação, para que os sócios ou a pes-

soa jurídica faça parte do polo passivo, o que consequentemente permitirá a ampla

defesa (2017, p. 184). Conforme explicação do Professor Cassio Scarpinella Bueno,

a ampla defesa deve ser entendida como uma garantia de qualquer réu se defender,

de maneira efetiva sobre imputações recaídas sobre si. (2017, p. 51).

Para Cássio Scarpinella Bueno (2017, p.51), “o contraditório compreende uma

cooperação de todos envolvidos no processo”. Oque se busca é que partes, terceiros

intervenientes, os auxiliares de justiça, magistrado cooperem para atingir a finalidade

de prestação da tutela jurisdicional. (BUENO, 2017, p. 51). Mesmo raciocínio de Vi-

eira, que se apega ao fato de o contraditório sob a égide do CPC/73 ser considerado

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estático e ter sido corrigido para um contraditório dinâmico, participativo. (VIERA,

2017, p. 68).

O autor Vieira, conclui pela preocupação nítida do NCPC/2015, de forma a es-

tabelecer regras procedimentais para que a desconsideração da personalidade jurí-

dica não implique em ferimento do modelo constitucional estabelecido pelo processo

civil (VIEIRA, 2017, p. 55).

A sistemática do Novo Código de Processo Civil, prevê em seu artigo 7,

É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deve-res e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efe-tivo contraditório. (LEI 13105/15 art. 7 NCPC).

Em seu art. 9, “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela

seja previamente ouvida” (LEI 13105/15 art. 9 NCPC). Para concluir, o art 10:

O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em funda-mento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (LEI 13105/15 art. 10 NCPC).

O autor Dierle José Coelho Nunes, retira ensinamentos de tais artigos, que ga-

rante um contraditório participativo, influente, não sendo possível decisões surpresas.

(NUNES, 2008, p. 171-176 apud, CÂMARA, 2015 p. única). Uma enorme lição, Hum-

berto Theodoro Júnior:

O princípio fundamental da comparticipação é o contraditório como garantia de influência e não surpresa. ... Nesse sentido, o princípio do contraditório receberia uma nova significação, passando a ser intendido como direito de participação na construção do provimento, sob a forma de uma garantia pro-cessual de influência e não surpresa para decisões. ... Assim, diferentemente de mera condição para a produção de sentença pelo juiz ou de aspecto formal do processo, a garantia do contraditório, como veremos a seguir, é condição institucional de realização de uma argumentação jurídica consistente e ade-quada e, com isso, liga-se internamente à fundamentação da jurisdicional par-ticipada – exercício de poder participado ...(JUNIOR, 2015 p. 63-64 apud, VASCONCELOS, 2016, p. única).

Mesmo entendimento possuía Carlos Oliveira, que antes mesmo da entrada do

Novo Código de Processo Civil, já defendia a inadmissibilidade de surpreender os

sujeitos litigantes no processo, com decisões sem aviso prévio. (OLIVEIRA, 1999)

Para finalizar, Barbosa Moreira se posiciona em que o processo não pode passar por

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cima de princípios a qualquer custo em favor da celeridade. (MOREIRA, 2004 apud

VIEIRA, 2017, p. 77). O uso desenfreado da desconsideração ocasiona um constran-

gimento a essência da disregard doctrine (VIEIRA 2017, p. 47). Conforme Fabio Ulhoa

Coelho, seria de certa forma um constrangimento a preservação da empresa (COE-

LHO, 2008 apud VIEIRA, 2017 p. 77).

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5 CONCLUSÕES

Nada mais que necessário a criação de regras procedimentais para o trata-

mento (até o momento via jurisprudencial) da aplicabilidade da desconsideração da

personalidade jurídica, pois se trata de um instituto que consiste em ferir um dos ba-

silares mais forte da personalidade jurídica (autonomia patrimonial). Tudo que possui

um procedimento próprio, um caminho específico para seguir se torna mais fácil sua

aplicação prática.

O que se nota é que a doutrina criou um conflito entorno da desconsideração

da personalidade jurídica, basicamente colocando como opostos o requisito da cele-

ridade e o requisito do contraditório. Concordo com a análise de vieira, que em nada

a previsão do contraditório irá prejudicar o autor da ação. Pelo contrário, consistirá em

uma decisão com fundamentos mais força, sem contar o fato de uma equidade belís-

sima entres as partes. Cassio segue mesmo raciocínio, em que a normatização do

incidente de desconsideração da personalidade jurídica, busca um melhor resultado

tanto na esfera material quanto processual. Conclusão excelentíssima de Christian

Garcia Vieira e Fabio Ulhoa Coelho, em que o uso desenfreado e desrespeitoso da

essência da desconsideração em ser uma medida excepcional para uma aplicação

quase como regra, é uma afronta a proteção da empresa.

Outra lição importante é em relação a preocupação em ser comprometido o

resultado útil do processo (resultado material), pois pode haver a transferência de

bens antes ou durante o ato de citação. Seguindo raciocínio de Christian Garcia Vieira,

o melhor caminho a seguir se refere a aplicação da tutela provisória de urgência (po-

dendo ser pedido junto com a desconsideração o pedido de tutela provisória envol-

vendo bloqueio de bens pessoais dos sócios como um exemplo). Claro, que tudo de-

penderá da demonstração da urgência em si.

Conforme ficou bem frisado tanto pelo autor Cassio Scarpinella e pelo Autor

Christian Garcia, o CPC/73, previa o chamado contraditório estático (o contraditório

que encontramos no Novo CPC é um modelo dinâmico, envolvendo uma cooperação

de todos os envolvidos, com o intuito de no final obter o resultado mais justo de acordo

com o caso.

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O NCPC/2015 eliminou as chamadas decisões surpresas, o que resulta na

aplicação do devido processo legal. De modo que concordo com Vieira, em que o

Estado deve sempre agir de forma suficiente, para obter melhor resultado levando em

conta a necessidade e a adequação. Em sequência, o estabelecimento de regras pro-

cedimentais para o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, sem es-

paço para dúvidas, foi importante avanço para combater a crise no contraditório.

.

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44

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49

ANEXO

ANEXO A – Modelo de contrato social

CONTRATO SOCIAL POR TRANSFORMAÇÃO DE EMPRESÁRIO

Nome Empresarial (da Sociedade) ________________________

(Nome civil por extenso, do empresário), nacionalidade, estado civil, data de

nascimento (se solteiro), profissão, identidade (nº, órgão expedidor e UF), CPF nº

_________________, residente e domiciliado (a) na ______________________, Em-

presário(a), com sede na ____________________, inscrito na Junta Comer-

cial_______________________________ sob NIRE ________________________ e

no CNPJ sob nº _______________________, fazendo uso do que permite o § 3º do

art. 968 da Lei nº 10.406/2002, com a redação alterada pelo art. 10 da Lei Comple-

mentar nº 128/08, ora transforma seu registro de EMPRESÁRIO(A) em SOCIEDADE

EMPRESÁRIA, uma vez que admitiu o(a) sócio(a) (nome civil por extenso), naciona-

lidade, estado civil, data de nascimento (se solteiro), profissão, identidade (nº órgão

expedidor e UF), CPF nº _____________________, residente e domiciliado(a) na -

__________________, passando a constituir o tipo jurídico SOCIEDADE LIMITADA,

a qual se regerá, doravante, pelo presente CONTRATO SOCIAL ao qual se obrigam

mutuamente todos os sócios:

PRIMEIRA – A sociedade girará sob o nome empresarial (denominação social ou firma)

e terá sede e domicílio (endereço completo).

SEGUNDA – O objeto da sociedade será (informar o objeto em gênero e espé-

cie).

TERCEIRA - O capital social será de (valor do capital expresso em moeda na-

cional), divididos em (nº de quotas) no valor nominal de (valor da quota) cada uma,

integralizadas (forma e prazo), distribuindo–se entre os sócios da seguinte forma:

Sócio A ..................... nº de quotas ................... valor da participação, esclare-

cer forma e prazo de integralização, se for o sócio que está ingressando na sociedade

Sócio B ..................... nº de quotas ................... valor da participação, se for o

próprio empresário, não será necessário esclarecer forma e prazo de integralização

uma vez que usará o capital social do empresário anteriormente constituído.

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50

TOTAL valor total do capital social

OBS: Na cláusula do capital social deverá ser informado a forma e o prazo de

integralização do sócio que ingressa na sociedade.

A forma de integralização poderá ocorrer através do pagamento em moeda cor-

rente nacional, bens móveis ou imóveis.

No caso de bens imóveis, o bem deverá ser identificado com sua área, dados

relativos a sua titulação e número de sua matrícula no Registro Imobiliário.

QUARTA - Que a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas

quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social,

conforme art. 1.052 CC/2002.

QUINTA - Que a administração da sociedade será exercida pelos sócios (infor-

mar os sócios que farão parte da administração ou o nome e qualificação do adminis-

trador não sócio), respondendo pela empresa, judicial e extrajudicialmente, em juízo

ou fora dele, em conjunto ou individual, podendo praticar todos os atos compreendidos

no objeto social, sempre no interesse da sociedade, ficando vedado o uso da denomi-

nação social em negócios estranhos aos fins sociais, bem como onerar bens imóveis

da sociedade, sem autorização do outro sócio.

SEXTA - O início das atividades será (data).

SÉTIMA - O prazo de duração da sociedade será por tempo indeterminado.

OITAVA - As quotas são indivisíveis e não poderão ser cedidas ou transferidas

no todo ou em parte a terceiros, sem expresso consentimento do outro sócio, a quem

fica assegurado, em igualdade de condições e preço, direito de preferência para a sua

aquisição, formalizando, se realizada a cessão delas, a alteração contratual perti-

nente.

NONA - Que a empresa poderá a qualquer tempo, abrir ou fechar filiais, em

qualquer parte do país, se assim, em conjunto, decidirem os sócios em conjunto, me-

diante alteração contratual assinada por todos os sócios.

DÉCIMA - Que o exercício social coincidirá com o ano civil. Ao término de cada

exercício, o administrador prestará contas justificadas de sua administração,

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51

procedendo à elaboração das demonstrações financeiras, cabendo aos sócios, na

proporção de suas quotas, os lucros ou perdas apurados.

DÉCIMA PRIMEIRA - Em caso de morte de um dos sócios, a sociedade não

será dissolvida e continuará sendo gerida pelo sócio remanescente ou pelos herdei-

ros. Não sendo possível ou inexistindo interesse destes ou do sócio remanescente,

os valores de seus haveres serão apurados e liquidados com base na situação patri-

monial da empresa. O mesmo procedimento será adotado em qualquer dos casos em

que a sociedade se resolva em relação a um dos sócios.

DÉCIMA SEGUNDA - Pode o sócio ser excluído, quando a maioria dos sócios,

representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios

estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos graves e que

configurem justa causa segundo artigo 1.085 do CC/2002.

DÉCIMA TERCEIRA - Que os administradores declaram, sob as penas da lei,

que não estão incursos em quaisquer crimes previstos em lei ou restrições legais, que

possam impedi–los de exercer atividade empresarial conforme artigo 1.011, 1º do

CC/2002.

DÉCIMA QUARTA - As partes elegem o foro de Porto Alegre para dirimir quais-

quer dúvidas decorrentes do presente instrumento contratual, bem como para o exer-

cício e cumprimento dos direitos e obrigações resultantes deste contrato, sendo que

os administradores renunciam a qualquer outro, por mais privilegiado que possa ser.

E, por estarem justos e contratados, assinam o presente instrumento particular em

três vias de igual teor e forma.

Data (dia, mês e ano)

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Assinaturas de todos os sócios