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Desempenho da Pesca e da Aquicultura
em 2011
Fernando Soares Silveira, Oceanógrafo - Epagri/Cedap
Fabiano Müller Silva, Eng. Agrônomo - Epagri/Cedap
Álvaro Graeff, Med. Veterinário - Epagri/Unipis
Produção mundial e brasileira da pesca e da aquicultura
Conforme dados da FAO de 2010, a produção mundial de pescados (peixes, crustáceos e
moluscos) no conjunto pesca e aquicultura vem aumentando e alcançou um total de 148,5
milhões de toneladas naquele ano, contra 145,1 milhões de toneladas em 2009. A FAO fez
também uma previsão para 2011, estimando a produção em 154 milhões de toneladas. Como
são dados preliminares e que podem variar até o final do levantamento, este texto irá utilizar
apenas os números que já estão confirmados (2010).
Ainda que a produção da pesca de captura (extrativismo) tenha se mantido em torno de 90
milhões de toneladas desde 2001, a produção da aquicultura (cultivos) tem mostrado forte
crescimento, aumentando a uma taxa média anual de 6,3%, passando de 34,6 milhões de
toneladas em 2001 para 59,9 milhões de toneladas em 2010 (55,1 milhões de toneladas em
2009). E no somatório da pesca (88.603.826 milhões de toneladas) e da produção de cultivo
(59.872.600 milhões de toneladas), a aquicultura já estava representando 47% do total
produzido no mundo. Em termos de valor financeiro foi estimado que a produção da
aquicultura tenha atingido 119.400 milhões de dólares em 2010.
Ainda conforme a FAO 2010, os maiores produtores mundiais de pescado (englobando a pesca
extrativa e a aquicultura) são a China (52.153.182 milhões de toneladas), a Índia (9.343.819
milhões de toneladas) e a Indonésia (7.685.094 milhões de toneladas). Na América do Sul, o
principal produtor é o Peru (4.350.112 milhões de toneladas), ficando em 7º lugar mundial,
seguido pelo Chile (3.380.798 milhões de toneladas), com o 11º lugar mundial, e o Brasil que
ocupa a 3ª posição sul americana (1.264.768 milhões de toneladas) e a 18º posição no ranking
mundial. No quadro 1, a produção da pesca e da aquicultura aparecem isoladas, mostrando
exatamente o que cada país exemplificado produz, além de sua posição no contexto global e
no da América do Sul.
PAÍS POSIÇÃO (2010) PRODUÇÃO (milhões de toneladas)
MUNDO AMÉRICA DO SUL
PESCA AQUICULTURA TOTAL
China Índia Indonésia
1º 2º 3º
15.418.967 4.694.968 5.380.266
36.734.215 4.648.851 2.304.828
52.153.182 9.343.819 7.685.094
Peru Chile Brasil
7º 11º 18º
1º 2º 3º
4.261.091 2.679.736
785.369
89.021 701.062 479.399
4.350.112 3.380.798 1.264.768
Quadro 1 - Produção de pescados no mundo e na América do Sul, ressaltado a posição de cada
País no ranking mundial e sul americano (modificado da FAO 2010 - www.fao.org).
A FAO estimava em 2010 que o consumo de pescado passaria de 18,4 kg per capita em 2009
para 18,6 kg per capta naquele ano. Embora aparentemente pouco, no contexto é um
acréscimo importante para a saúde humana, pois este valor representa 16,5% de toda a
proteína animal utilizada pela humanidade e 6,4% de todos os tipos de proteínas consumidas.
A seguir serão apresentadas em separado a produção das áreas da pesca e da aquicultura em
Santa Catarina.
Produção Pesqueira Industrial em Santa Catarina (UNIVALI CTTMar) No ano de 2010, a pesca extrativa industrial no estado de Santa Catarina foi responsável por uma produção total desembarcada igual a 113.925 t, representando um decréscimo de 16,3% em relação a 2009, quando foram registradas 136.189 t. A produção em cada um dos municípios analisados seguiu o padrão já observado nos anos anteriores, quando Itajaí e Navegantes apresentaram os maiores volumes desembarcados, seguidos por Laguna, Porto Belo e Florianópolis. Em 2010, as duas primeiras cidades responderam, juntas, por 81,8% da produção industrial, com totais de 63.473 t e 29.794 t, respectivamente. Dos municípios monitorados, apenas Porto Belo apresentou incremento na produção quando comparada com o ano anterior (2,7%), sendo observados declínios em Florianópolis (53,3%), Navegantes (24,1%), Itajaí (14,8%) e Laguna (menos de 1%). A frota de “cerco” foi a responsável, como nos últimos anos, por grande parte dos desembarques da frota industrial catarinense. Com um total de 35.105 t, respondeu por 30,8% da produção no período. Entretanto, mostrou uma queda de 32,3% em relação ao ano de 2009, quando foram registradas 51.873 t para essa modalidade. As frotas de emalhe de fundo (22.215 t), arrasto duplo (21.373 t) e vara e isca-viva (13.041 t) também merecem destaque devido aos valores expressivos de produção. As demais modalidades de pesca foram responsáveis por apenas 19,5% do total produzido, sendo que a modalidade potes para polvo foi a que apresentou o menor volume, com 61 t. O grupo dos ”peixes” contribuiu com 15.286 t desembarcadas, atingindo 72% do volume total de pescado produzido pela modalidade arrasto duplo, e declinando 17% na comparação com o ano anterior. Assim como ocorreu em 2009, os peixes que mais se destacaram foram a abrótea-de-fundo (3.848 t), a cabra (1.282 t) e a merluza (1.513 t) que, em conjunto, responderam por 31% de toda a produção desembarcada pela frota. Porém, comparando-se com o ano anterior, as três espécies mostraram quedas de 19%, 9% e 33%, respectivamente. Os “moluscos” totalizaram 441 t, contribuindo assim com 2% de toda a produção da frota e demonstrando um incremento de 47% em relação a 2009. A lula, com 370 t e 84% de todo o volume desembarcado, registrou um incremento de 225% tornando-se, consequentemente, a espécie mais importante do grupo. De forma inversa o polvo (29 t) registrou novamente o padrão de queda apresentado no ano anterior reduzindo em 80% a sua produção.
OBS: No caso da pesca artesanal, atualmente não existe em Santa Catarina nenhuma entidade
fazendo o levantamento anual da produção (Epagri/Cedap 2012).
Este item foi extraído da seguinte fonte: UNIVALI/CTTMar, 2010. Boletim Estatístico da Pesca
Industrial de Santa Catarina - Ano 2010 e Panorama 2000 - 2010. Universidade do Vale do
Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Itajaí, SC. 97 p.
(http://siaiacad04.univali.br).
Quadro representativo das atividades da Aquicultura e da Pesca
É muito comum as pessoas não saberem a diferença entre Aquicultura e Pesca. Normalmente,
tudo o que acontece na água é chamado de “pesca”. Por isso, o quadro 2 foi incluído neste
texto para mostrar bem a separação entre os dois segmentos: assim, a Pesca é uma ação de
extração, ou seja, apenas retira o pescado (peixes, crustáceos e moluscos) do meio aquático
usando apetrechos como redes, anzóis, armadilhas etc, próprios para cada caso. Na Pesca
existem os “Grupos de Pescaria”, forma de classificação dos pescadores conforme sua
especialização na captura de determinados organismos. Alguns atuam em mais de um Grupo.
Na Aquicultura, se “planta para colher depois”, isto é, se cultiva os organismos aquáticos
marinhos ou de água doce a partir de um tamanho pequeno até atingir o peso de mercado
(aquele aceito ou exigido pelo mercado conforme a espécie). Um bom exemplo são as ostras.
Elas são colocadas em estruturas próprias para crescer quando ainda tem “o tamanho de um
grão de areia” e ali permanecem até atingir o peso de mercado. Da mesma forma, as vieiras,
os mexilhões (mariscos) e as algas. Outro bom exemplo é a piscicultura, que coloca os peixes
bem pequenos (alevinos) nos viveiros e os retira quando atingem o peso de mercado.
O interessante disso é que, ao contrário da pesca, a aquicultura é uma atividade sustentável
(não se esgota) e vem crescendo ano a ano. Em Santa Catarina, a aquicultura foi responsável
em 2011 pela produção de 50.694 toneladas de pescados, um salto de 13,8% sobre o ano de
2010 (44.528 toneladas). Conforme o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) 2010, na Pesca,
a produção de 2010 (125.586,0 t) caiu 15,9% em relação a 2009 (149.445,5 t).
Quadro 2 - Demonstrativo das áreas da Aquicultura e da Pesca com as diversas atividades
incluídas em cada uma. Fonte: Epagri/Cedap 2012
Ostreicultura (ostras)
Mitilicultura (mexilhões ou mariscos)
Pectinicultura (vieiras)
Água Salgada Carcinicultura (camarões, lagostas, etc)
(ou maricultura) Piscicultura (peixes)
Algicultura (algas)
AQUICULTURA Outros (berbigões, polvos, etc)
(cultivos)
Ranicultura (rãs)
Carcinicultura (camarões-de-água doce)
Água Doce Águas frias (trutas)
(ou águas PISCICULTURA continentais) (peixes) Águas mornas (carpas, tilápias, etc)
Pesca de camarões c/ redes de arrasto c/ portas
Pesca de peixes demersais c/ redes de arrasto de
porta e parelha (dois barcos)
Pesca de peixes pelágicos c/ redes de cerco
PESCA Grupos de Pesca de atuns e afins c/ varas de isca-viva
(extrativismo) Pescaria Pesca de peixes diversos c/ espinheis e linha de mão
(industrial ou Pesca de peixes e crustáceos diversos c/ armadilhas
artesanal) Pesca de lulas com redes de arrasto
Pesca de lulas com zangarilho (tipo de gancho)Epagri/Cedap
Produção da piscicultura catarinense
A piscicultura continental é praticada em todo o território catarinense, independente da sua
topografia irregular que gera diferentes níveis de temperatura. Nas maiores altitudes são
adotadas espécies mais adaptadas a climas frios, como as carpas, os jundiás e as trutas. Nas
baixas altitudes são cultivadas espécies que normalmente são utilizadas em todo o Brasil,
como as tilápias, os pacus, os pintados, etc, além das próprias carpas e jundiás.
Os dois sistemas de produção utilizados no Estado são o “policultivo integrado” (várias
espécies juntas no mesmo viveiro e integradas, basicamente, com suínos) e o “arraçoado” (só
ração), ambos com modelos variados. Estes sistemas/modelos são decorrentes, dentre outros,
de fatores estruturais, sendo que para o sistema de policultivo integrado prevalecer numa
região é preciso que exista a cadeia produtiva da suinocultura estabelecida, enquanto que em
regiões onde não exista a suinocultura o sistema mais adotado é o arraçoado. No entanto, um
não exclui o outro. Somando todos os resultados obtidos por cada sistema/modelo, é
apresentado no quadro 1 os dados da produção total de peixes de água doce obtida no Estado.
Aproveitou-se o quadro 1 para apresentar também os dados de 2010 visando sua comparação
com 2011. No quadro, os dados de produção de algumas espécies foram aglutinados para
simplificar a apresentação e, para maiores detalhes sobre cada espécie em particular, entrar
em www.epagri.sc.gov.br > aquicultura e pesca > estatísticas da aquicultura > 2012 - Planilhas
com dados estatísticos da piscicultura por espécie.
Tipo de
piscicultura
Ano Nº de
produ-
tores
Área
alagada
(ha)
Tilápias
(variedades
da nilótica)
Carpas
(quatro
espécies)
Trutas Jundiá Bagres
(catfish,
e
africano)
Outros
(pacu,
cascudo,
traíra,
etc)
TOTAL
Amadora
2010
21.623 9.514 5.412 6.804 39 196 602 607 13.660
Comercial 2.351 3.184 9.945 3.099 550 345 871 391 15.201
TOTAL 23.974 12.698 15.357 9.903 589 541 1.473 998 28.861
Amadora
2011
23.098 10.981 6.981 6.434 12 419 177 212 14.464
Comercial 2.323 2.961 12.783 3.144 740 338 311 118 17.661
TOTAL 25.421 13.950 19.765 9.578 752 757 488 330 32.125
Quadro 1 - Comparação entre 2010 e 2011 na produção de peixes cultivados em Santa
Catarina (toneladas) - Fonte: Epagri/Cedap 2012
OBS: Os dados de produção são levantados por cada Escritório Municipal da Epagri localizados
nos 293 municípios do Estado e remetidos posteriormente para sistematização no Centro de
Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca - Cedap, em Florianópolis, contando, ainda, com a
colaboração de alguns técnicos lotados no interior para fazer a crítica inicial e final dos
resultados.
Uma diferenciação adotada já há algum tempo para o levantamento dos dados de produção
foi à separação dos tipos de piscicultura: um tipo é a chamada piscicultura amadora e, o outro,
a piscicultura comercial (a comercial apresenta regularidade de produção e altas
produtividades em função do uso de tecnologias avançadas, enquanto a amadora
normalmente cria peixes de forma extensiva com produções/produtividades baixas e
irregulares). O objetivo da separação foi melhorar a informação, pois a cadeia produtiva
trabalha, principalmente, em função da produção comercial e essa cadeia precisa saber
exatamente de quanto dispõe de matéria prima para aumentar ou não os investimentos.
Observando os dados de produção ao longo do tempo chama a atenção o fato de que até
quatro anos atrás a produção da piscicultura amadora superava a comercial devido ao maior
número de participantes. Nestes três últimos anos, no entanto, a comercial ultrapassou a
amadora mesmo tendo o número de produtores comerciais se mantido relativamente
estabilizado e bem inferior aos amadores (ver quadro).
A quantidade de peixes produzida pela amadora pouco cresceu sobre o valor do ano anterior
(6%), enquanto a produção da comercial aumentou de 2010 para 2011 acima de 16%, sendo
que o valor estabelecido como meta pelo Programa de Aquicultura e Pesca da Epagri para o
aumento da piscicultura comercial era de 10%. Comparando a produção total dos dois anos
apresentados (2010 e 2011), o crescimento geral foi de 11, 31%.
Comentários sobre as principais espécies produzidas em Santa Catarina
No Estado são mais ou menos vinte espécies de peixes sendo criadas em cativeiro, umas com
maior intensidade do que outras. Entre as mais criadas estão às tilápias e as quatro espécies de
carpas (comum, cabeça-grande, capim e prateada, nesta ordem), seguidas pelas trutas e os
jundiás. Ainda pelo quadro 1 é possível perceber a diferença de produção das tilápias em
relação aos outros peixes que, em termos percentuais, equivale a 61,5% sobre todas as outras
espécies somadas em 2011 (visualizar na figura 1 abaixo)! É a espécie de maior incremento
desde 2007 quando ultrapassaram as carpas que eram tradicionalmente os peixes mais
produzidos no Estado (segundo a FAO 2010, as carpas são os peixes mais produzidos no
mundo, principalmente na Ásia). A explicação primária para o crescente aumento da produção
das tilápias pelos produtores comerciais é a enorme aceitação do público consumidor. Suas
excelentes qualidades podem ser resumidas em sabor suave, filé branco, baixos níveis de
gordura, sem espinhos no filé, etc, o que, além da “facilidade” de cultivo pelos produtores, fez
aumentar a procura e a oferta de forma acentuada.
Outro peixe que desponta pelo crescimento acelerado da produção é o nativo jundiá (Rhamdia
quelen). Pela sua importância não foi incluído no grupo dos bagres (catfish e africano) do
quadro 1 para que se percebesse melhor seu crescimento. Vem se destacando em relação a
muitos peixes tradicionais e passou de uma representação percentual de 1,8% em 2010 para
uma representação de 2,4% no ano de 2011, o que em termos numéricos equivale a 215
toneladas a mais sobre o ano anterior. O impressionante é que sua produção com base
tecnológica avançada iniciou em 2007! Até então era criado/reproduzido de forma empírica. É
um peixe que também apresenta excelentes qualidades nutricionais e sensoriais e vem
conquistando aos poucos a preferência dos consumidores, substituindo o catfish e o bagre
africano.
A truta continua em franco crescimento na produção, isso pelas suas já consagradas
qualidades que englobam fatores nutricionais (bons índices de ômega 3, baixos níveis de
gordura, etc.), quanto de sabor (suave e delicado), tornando-a um dos preferidos em
restaurantes que servem pescados de qualidade. Quanto à produção, deu um salto de mais de
211 toneladas em relação ao ano de 2010, o que demonstra a aptidão dos produtores
catarinenses (em torno de 60) e a boa receptividade do mercado consumidor.
Figura 1 - Importância percentual das espécies cultivadas em Santa Catarina em 2011. Fonte
Epagri/Cedap 2012
Histórico da produção de peixes de água doce
Na figura 2, abaixo, pode-se observar o crescimento da produção de peixes a partir de 1983
quando se iniciaram os levantamentos estatísticos. A produção de 2011 superou a proporção
média de crescimento dos últimos anos (em torno de duas mil toneladas), para um
crescimento superior a três mil toneladas neste ano, o que repassa segurança para
investimentos na cadeia produtiva. Alguns motivos vêm contribuindo para isso, sendo
considerados os principais a assistência técnica disponibilizada pelo Estado, a organização do
produtor em associações de classe (66 atualmente) e o início do Programa de
Profissionalização de Produtores Rurais, em 1989. Este conjunto de ações levaram Santa
Catarina, mesmo com apenas 1,2% do território nacional, a estar entre os principais
produtores de peixes de água doce do País.
Figura 2 - Evolução da produção da piscicultura entre 1983 e 2011 (em mil toneladas). Fonte:
Epagri/Cedap 2012