Desempenho de Cultivares de Batata

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  • 7/25/2019 Desempenho de Cultivares de Batata

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    Desempenho de Cultivares de Batata(Solanum tuberosum L.), sob ManejoOrgnico, em Diferentes CondiesEdafoclimticas do Estado do Rio de

    JaneiroLeandro Azevedo Santos

    1

    Dejair Lopes de Almeida2

    Jos Antnio Azevedo Espindola2

    Raul de Lucena Duarte Ribeiro3

    Maria Luza de Arajo4

    1 Embrapa Agrobiologia/UFRuralRJ, Bolsista CNPq/PIBIC, BR 465, km 07, CEP 23851-970, Seropdica, RJ, e-mail: [email protected];2 Embrapa Agrobiologia, Pesquisador, Eng. Agr., Ph.D., BR 465, km 07, CEP 23851-970, Seropdica, RJ;3 UFRuralRJ, Prof. Adjunto, Eng. Agr., Ph.D., BR 465, km 07, CEP 23851-970, Seropdica, RJ;4 Pesagro-Rio, Pesquisadora, Eng. Agr., Ph.D., BR 465, km 07, CEP 23851-970, Seropdica, RJ.

    Introduo

    A cultura da batata (Solanum tuberosumL.) detm

    grande importncia na dieta alimentar dapopulao mundial, constituindo-se em excelentefonte de calorias e protenas (segundo Informativo

    ABAMIG, citado por Resende et al., 1999).Segundo Bittencourt et al. (1985), a batata,quando comparada a outros alimentos como trigo,feijo, arroz e mandioca, apresenta os maioresndices de produo de protena (1,4 kg) e deenergia (55 x 103kcal) por hectare dia-1.

    No Brasil, a batata destaca-se como a principal

    hortalia, superando outras espcies importantescomo tomateiro e cebola em termos de reaplantada. As regies Sul e Sudeste so asprincipais produtoras do pas (Fundao InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatstica, 2002).

    A cultura da batata exigente quanto ao clima,preferindo temperaturas mais amenas durante ociclo. As chuvas devem ser bem distribudas, nodevendo concentrar-se nas pocas de plantio ecolheita (Filgueira, 2002).

    O principal fator limitante produtividade dessacultura sua suscetibilidade a um grande nmerode pragas e doenas, algumas delas capazes deocasionar srios prejuzos (Lopes & Reifschneider,1999). Merece destaque a requeima, causadapelo fungo Phytophthora infestans, cujas

    epidemias so favorecidas pela combinao entretemperaturas em torno de 18 a 20C e altaumidade relativa do ar.

    Crescente ateno tem sido dada ao usoinadequado de agrotxicos em reas cultivadascom hortalias, o que muitas vezes poderepresentar alto risco de contaminao ambiental,humana e alimentar (Bezerra et al., 1999). Umaalternativa cada vez mais adotada consiste naintegrao de prticas de manejo menos nocivasao meio ambiente, que caracteriza a agriculturaorgnica. De acordo com Souza & Rezende(2003), o sucesso da produo orgnica de batataest diretamente relacionado utilizao demateriais genticos mais resistentes a doenascomo a requeima.

    Com o objetivo de avaliar o desempenho de duascultivares de batata sob manejo orgnico, foramconduzidos experimentos em condiesedafoclimticas distintas do Estado do Rio deJaneiro.

    Material e Mtodos

    O primeiro experimento foi realizado no SistemaIntegrado de Produo Agroecolgica (SIPA Fazendinha Agroecoelgica km 47),representando uma rea de 60 ha destinada aoexerccio da agroecologia, implementada atravsde cooperao tcnica entre a Embrapa

    ISSN 1517-8862Fevereiro/2004

    Ser opdi ca /RJ

    Comun i c a do63T cn i c o

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    Agrobiologia, a Universidade Federal Rural do Riode Janeiro e a Pesagro-Rio (Estao Experimentalde Seropdica). O SIPA localiza-se na BaixadaFluminense, a 33 m de altitude. O segundoexperimento foi montado no campo experimentalde Avelar, pertencente Pesagro-Rio e situado nomunicpio de Paty do Alferes, Regio do MdioParaba, a cerca de 600 m de altitude.

    Em ambas as reas experimentais (Seropdica ePaty do Alferes), os solos so classificados como

    Argissolo Vermelho-Amarelo, apresentando,respectivamente, as seguintes caractersticasqumicas: pH em gua = 6,2 e 6,2; Al+3= 0,0 e 0,0cmolc dm

    -3; Ca+2= 3,0 e 1,2cmolc dm-3; Mg+2= 1,6

    e 1,2cmolc dm-3; P = 57 e 75 mg dm-3e K+= 93 e

    75mg dm-3.

    O preparo do solo usado consistiu de arao egradagem, seguidas do preparo das leiras. A partirdos valores da anlise de solo, foi realizada aadubao conforme indicado na Tabela 1. Ocomposto orgnico e a cama de avirioapresentaram as seguintes caractersticas fsicase qumicas, respectivamente: Umidade = 51 e16,3%;N = 11,07 e 35,30 g kg-1; P = 3,29 e 4,49 gkg-1; K+= 5,01 e 1,27 g kg-1; Ca+2= 16,04 e 60,20g kg-1; Mg+2= 4,81 e 7,30 g kg-1.

    Tabela 1. Adubaes referentes s duas reasexperimentais para avaliao do desempenho decultivares de batata (Solanum tuberosum) sobmanejo orgnico.

    Adubao

    Mineral

    P2O5(1) K2O(2)Experimento

    ---kg ha-1---

    Orgnica

    ----t ha-1----

    Seropdica 30 200 5 (3)

    Paty do Alferes 40 200 16 (4)

    (1) P2O5 na forma de farinha de ossos; (2) K2O na forma de sulfato depotssio; (3)Cama de avirio; (4)Composto orgnico.

    O delineamento experimental constituiu-se deblocos ao acaso com cinco repeties, emesquema fatorial 2 x 2 (cultivares x regio). Foramcomparadas as cultivares Asterix e Monalisa(Figura 1), indicadas como tolerantes ao agenteda requeima.

    cultivar Monalisa cultivar Asterix

    Figura 1.Cultivares de batata comparadas, sob manejo orgnico, em

    Seropdica, estado do Rio de Janeiro.

    O plantio foi realizado em leiras de 30 cm dealtura, no espaamento de 0,80 m entre leiras com0,30 m entre plantas.

    Os tratos culturais incluram amontoa, capinascom o uso de enxada e irrigaes por asperso. Aamontoa foi efetuada 30 dias aps o plantio,simultaneamente primeira capina. A segunda

    capina foi feita procurando-se preservar asespcies menos agressivas da vegetaoespontnea entre as leiras.

    O controle da requeima foi realizado atravs daaplicao de calda bordalesa a 1% empulverizaes nas pocas com parmetrosclimticos mais propcios ao aparecimento dadoena, isto , temperaturas ao redor de 20C eumidade relativa do ar acima de 90 % (Tokeshi &Bergamin,1980).

    Por ocasio da colheita, foi avaliada aprodutividade, alm do dimetro dos tubrculos eincidncia de leses ocasionadas por insetos-praga e pelo agente causal da sarna comum(Figura 2). Para classificao quanto ao dimetro,foram utilizadas trs categorias: grado (> 45mm), mdio (33 a 45 mm) e mido (21 a 33 mm).

    Resultados e Discusso

    As condies climticas prevalentes no perodoexperimental so apresentadas na Tabela 2. Emrelao temperatura, constataram-se valoresadequados para a cultura da batata. A batatarequer uma termoperiodicidade diria (diferenaentre temperatura diurna e noturna) em torno de10C (Filgueira, 2002), o que ocorreu durante ociclo da cultura. Por outro lado, ambas as regiesapresentaram ndices pluviomtricos insuficientespara o bom desenvolvimento da cultura, tornandoimprescindvel o uso da irrigao.

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    Tabela 2. Temperaturas do ar e pluviosidade em Seropdica e Paty do Alferes, durante o ciclo de cultivaresde batata avaliadas sob manejo orgnico (ano de 2003).

    Temperatura (C)

    Mxima MnimaPluviosidade (mm)

    Ms

    Seropdica P. Alferes Seropdica P. Alferes Seropdica P. Alferes

    Maio 27,3 26,0 17,3 12,4 70,6 18,1

    Junho 28,7 27,3 17,9 11,3 5,5 0,2

    Julho 27,7 25,2 16,3 9,5 10,2 8,7

    Houve diferenas significativas de produtividadeentre as duas localidades onde foram realizadasas avaliaes (Tabela 3). Valores mais altosocorreram em Seropdica, ultrapassando asmdias referentes ao Estado do Rio de Janeiro(9,6 e 9,9 t.ha-1 para 1997 e 1998,respectivamente) (Fundao Instituto Brasileiro deGeografia e Estatstica, 2002).

    O fato do cultivo da batata, de maio a setembro,ter apresentado melhor resultado em Seropdica,pode ser explicado pela ocorrncia detemperaturas diurnas mais elevadas do que emPaty do Alferes e pelo atendimento termoperiodicidade diria, necessria paratuberizao. Essas temperaturas diurnas maiselevadas proporcionaram maior taxa metablica e,portanto, um desenvolvimento vegetativo maisacelerado, encurtando o ciclo da cultura.

    O perodo de tempo decorrido do plantio colheitafoi mais longo em Paty do Alferes (104 dias) doque em Seropdica (80 dias). Essa precocidadeverificada em Seropdica pode ter favorecido umamenor exposio dos tubrculos no campo,acarretando menor percentual de lesionamentodos tubrculos por fitoparasitas e,conseqentemente, produtividade superior

    (Tabela 3).Em Paty do Alferes, a cultivar Asterix mostrou-semais produtiva, enquanto em Seropdica noforam constatadas diferenas significativas entreas duas cultivares. Ainda assim, em Seropdica acultivar Asterix revelou baixo percentual detubrculos lesionados.

    A cultivar Monalisa apresentou incidncia maiselevada de tubrculos lesionados em ambos oslocais de avaliao, com valores at 16%

    superiores aos da cultivar Asterix (Tabela 3).

    Tabela 3. Produtividade e percentual de tubrculos lesionados de cultivares de batata, submetidas a manejoorgnico, nos municpios de Seropdica e Paty do Alferes, estado do Rio de Janeiro (ano de 2003).

    Produtividade

    ------(t ha-1)------

    Tubrculos lesionados (1)

    ------(%)------Cultivar

    Seropdica P. Alferes Seropdica P. Alferes

    Asterix 17,02 Aa ( 2) 11,80 Ab 24,67 Ba 15,33 Bb

    Monalisa 13,08 Aa 7,32 Bb 34,60 Aa 31,33 Aa

    C.V. (%) ----------------21,4---------------- ----------------23,3----------------(1)Ocasionados pelo ataque de insetos e de sarna comum; (2) Os valores representam mdias de cinco repeties; mdias seguidas de mesma letra maiscula

    nas colunas e minscula nas linhas, no diferem entre si pelo teste de Tukey (p< 0,05).

    Como esse lesionamento compromete o padrocomercial dos tubrculos, os resultados indicarammaior adaptao da cultivar Asterix ao manejoorgnico empregado. importante destacar que,mesmo no sendo esse o objetivo principal dosexperimentos, constatou-se um processodiferenciado entre as variedades avaliadas quanto ocorrncia de leses causadas por insetos-praga e pelo agente causal da sarna comum. De

    acordo com Bedendo (1995), o aparecimento edesenvolvimento de uma doena resulta dainterao entre uma planta suscetvel, um agentepatognico e fatores ambientais favorveis. Dessaforma, a cultivar Monalisa aparentementemostrou-se mais suscetvel ao ataque deorganismos formadores de leses em tubrculosnas condies edafoclimticas de Seropdica ePaty do Alferes.

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    Com relao ao dimetro dos tubrculos,verificou-se que, para ambas as cultivarestestadas, o que mais contribuiu para o totalproduzido foram os tubrculos de tamanho mdio(31 a 45 mm) (Tabela 4).

    Tabela 4. Produtividade por classe de dimetro dotubrculo de cultivares de batata submetidas a

    manejo orgnico, nos municpios de Seropdica ePaty do Alferes, Estado do Rio de Janeiro (ano2003).

    Produtividade por classe (%)

    Grado

    (> 45 mm)

    Mdio

    (33 a 45 mm)

    Mido

    (21 a 33 mm)Cultivar

    Seropdica P. Alferes Seropdica P. Alferes Seropdica P. Alferes

    Asterix 9,5 Ba(1) 6,9 Aa 78,8 Aa 77,9 Aa 11,7 Aa 16,1 Aa

    Monalisa 45,6 Aa 18,0 Ab 48,3 Ba 59,9 Ba 6,0 Bb 22,1 Aa

    C.V. (%) ---------53,16-------- ---------15,69-------- ---------24,73--------(1)Os valores representam mdias de cinco repeties; mdias seguidas da

    mesma letra maiscula nas colunas e minscula nas linhas, no diferementre si pelo teste de Tukey (p< 0,05).

    Levando-se em conta os resultados obtidos nosdois experimentos, a cultivar Asterix mostrou-semais adaptada ao sistema orgnico de produo,podendo ser recomendada para o cultivo naBaixada Metropolitana e na Regio Serrana doEstado do Rio de Janeiro.

    Figura 2. Tubrculo da cultivar Monalisa com sintomas de sarna comum(causada por Streptomyces scabies).

    Referncias Bibliogrficas

    BEDENDO, I. P. Ambiente e doena. In:BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.,(Ed.). Manual de Fitopatologia. 3. ed. So Paulo:Editora Agronmica Ceres, 1995, v. 1, p. 331-341.

    BEZERRA, A. R.; NOGUEIRA, N. D.; PAULA, S.V. de P. Agrotxicos: legislao e fiscalizao em

    Minas Gerais. Informe Agropecurio, BeloHorizonte, v. 20, n. 197, p. 97-104, 1999.

    BITTENCOURT, C.; REIFSCHNEIDER, F. J. B.;MAGALHES, J. R. de; FURUMOTO, O.;FEDALTO, A. A.; MAROUELLI, W. A.; SILVA, H.R. da; FRANA, F. H.; VILA, A. C. de;GIORDANO, L. de B. Cultivo da batata(Solanum tuberosum L.).Braslia: EMBRAPA CNPH, 1985. 20 p. (EMBRAPA CNPH.Instrues Tcnicas, 8).

    FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual deolericultura: agrotecnologia moderna na

    produo e comercializao de hortalias. Viosa:UFV, 2002. 402 p.

    FUNDAO INSTITUTO BRASILEIRO DEGEOGRAFIA E ESTATSTICA (IBGE). ProduoVegetal. Anurio estatstico do Brasil. Rio deJaneiro, v. 60, Seo 3, p. 37, 2002.

    LOPES, C. A.; REIFSCHNEIDER, F. J. B. Manejointegrado das doenas da batata. InformeAgropecurio, Belo Horizonte, v. 20, n. 197,p. 56-71, 1999.

    RESENDE, L. M. de A.; MASCARENHAS, M. H.T.; PAIVA, B. M. de. Aspectos econmicos daproduo e comercializao de batata. InformeAgropecurio, Belo Horizonte, v. 20, n. 197, p. 9-19, 1999.

    SOUZA, J. L. de; RESENDE, P. Manual dehorticultura orgnica. Viosa: Editora AprendaFcil, 2003. 564 p.

    TOKESHI, H.; BERGAMIN, F. A. Doenas daBatata Solanum tuberosum L. In: GALLI, F.,(Coord.). Manual de Fitopatologia. 3. ed., SoPaulo: Editora Agronmica Ceres, 1980, v. 2,p. 102-120.

    ComunicadoTcnico, 63

    Exemplares desta publicao podemser adquiridos na:

    Embrapa Agrobiologia

    BR465 km 47

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    23851-970 Seropdica/RJ, Brasil

    Telefone: (0xx21) 2682-1500

    Fax: (0xx21) 2682-1230Home page: www.cnpab.embrapa.br

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    1 impresso (2004): 50 exemplares

    Comit depublicaes

    Expediente

    Eduardo F. C. Campello (Presidente)Jos Guilherme Marinho GuerraMaria Cristina Prata NevesVernica Massena ReisRobert Michael BoddeyMaria Elizabeth Fernandes CorreiaDorimar dos Santos Felix (Bibliotecria)

    Revisor e/ou ad hoc: Segundo UrquiagaNormalizao Bibliogrfica: Dorimar dosSantos FlixEditorao eletrnica: Marta MariaGonalves Bahia

    Sarna