5
MOOC Inclusão e Acesso às Tecnologias 2014 Módulo 3 Desenho Universal de Aprendizagem Inteligências Múltiplas e Estilos de Aprendizagem A essência do conceito de inteligência entende-se, muitas vezes, como a capacidade de adquirir e aplicar conhecimentos, uma faculdade do pensamento e da razão. Ao longo da história evolucionista da inteligência, Gardner assumiu um papel de relevância uma vez que elevou o conceito de inteligência, tornando-o mais abrangente e amplo. Gardner expandiu os parâmetros do comportamento inteligente por forma a incluir diversas competências humanas. Gardner, ao invés de procurar apenas um indicador quantificável de inteligência valoriza a forma como cada cultura particular, valoriza os indivíduos e a forma como os mesmos criam diferentes produtos ou servem a sua cultura (Silver, Strong e Perini, 2010: pág. 11). Gardner desenvolveu uma teoria tendo como princípio básico a sua intuição de que diferentes tipos de mentes se enquadram em estados cognitivos finais, criando desta forma um modelo que nos auxilia a explicar a forma como as diferentes competências se desenvolvem. Foi em 1983, com a sua obra “Frames od Mind”, que Gardner pluraliza este conceito rompendo com dois constructos fundamentais que caracterizavam a teoria do Quociente da Inteligência: i) a cognição humana é unitária; ii) os indivíduos podem ser adequadamente descritos como possuindo uma inteligência única e quantificável. Deste modo, e segundo Gardner, a inteligência é: i) a capacidade de resolver problemas da vida real; ii) a capacidade de gerar novos problemas a resolver; iii) a capacidade de fazer algo ou oferecer um serviço que é valorizado no contexto da cultura de cada um. A teoria de Gardner traz à luz dos conhecimentos um novo paradigma que não pode ser negligenciado pelos profissionais da educação, pais e outros agentes envolvidos no processo do ensino: a) a inteligência pode ser desenvolvida b) a inteligência não é numericamente quantificável e evidencia-se no contexto de um desempenho ou num processo de resolução de problemas c)a inteligência é múltipla: manifesta-se de diferentes formas d) a inteligência é medida em contexto /situações da vida real e) a inteligência é usada para compreender as capacidades humanas e as muitas e variadas formas sob as quais os alunos podem ser bem sucedidos Gardner fracionou a inteligência em sete categorias distintas acrescentando uma oitava, posteriormente, de acordo com Silver, Strong e Perini (2010; pág. 11) : Inteligência verbo-linguística (VL) que se manifesta na capacidade de utilizar as palavras com vista a uma variedade de fins, como argumentar, persuadir, contar histórias, ensinar, etc. os indivíduos com uma inteligência verbo-linguista aprendem melhor quando podem falar, ouvir, ler ou escrever.

Desenho universal de aprendizagem

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Desenho universal de aprendizagem

MOOC – Inclusão e Acesso às Tecnologias 2014 Módulo 3 – Desenho Universal de Aprendizagem

Inteligências Múltiplas e Estilos de Aprendizagem

A essência do conceito de inteligência entende-se, muitas vezes, como a capacidade

de adquirir e aplicar conhecimentos, uma faculdade do pensamento e da razão. Ao longo

da história evolucionista da inteligência, Gardner assumiu um papel de relevância uma

vez que elevou o conceito de inteligência, tornando-o mais abrangente e amplo. Gardner

expandiu os parâmetros do comportamento inteligente por forma a incluir diversas

competências humanas. Gardner, ao invés de procurar apenas um indicador quantificável

de inteligência valoriza a forma como cada cultura particular, valoriza os indivíduos e a

forma como os mesmos criam diferentes produtos ou servem a sua cultura (Silver, Strong

e Perini, 2010: pág. 11).

Gardner desenvolveu uma teoria tendo como princípio básico a sua intuição de que

diferentes tipos de mentes se enquadram em estados cognitivos finais, criando desta

forma um modelo que nos auxilia a explicar a forma como as diferentes competências se

desenvolvem.

Foi em 1983, com a sua obra “Frames od Mind”, que Gardner pluraliza este conceito

rompendo com dois constructos fundamentais que caracterizavam a teoria do Quociente

da Inteligência: i) a cognição humana é unitária; ii) os indivíduos podem ser

adequadamente descritos como possuindo uma inteligência única e quantificável. Deste

modo, e segundo Gardner, a inteligência é: i) a capacidade de resolver problemas da vida

real; ii) a capacidade de gerar novos problemas a resolver; iii) a capacidade de fazer algo

ou oferecer um serviço que é valorizado no contexto da cultura de cada um.

A teoria de Gardner traz à luz dos conhecimentos um novo paradigma que não pode

ser negligenciado pelos profissionais da educação, pais e outros agentes envolvidos no

processo do ensino:

a) a inteligência pode ser desenvolvida

b) a inteligência não é numericamente quantificável e evidencia-se no contexto de

um desempenho ou num processo de resolução de problemas

c)a inteligência é múltipla: manifesta-se de diferentes formas

d) a inteligência é medida em contexto /situações da vida real

e) a inteligência é usada para compreender as capacidades humanas e as muitas e

variadas formas sob as quais os alunos podem ser bem sucedidos

Gardner fracionou a inteligência em sete categorias distintas acrescentando uma

oitava, posteriormente, de acordo com Silver, Strong e Perini (2010; pág. 11) :

Inteligência verbo-linguística (VL) que se manifesta na capacidade de utilizar as

palavras com vista a uma variedade de fins, como argumentar, persuadir, contar

histórias, ensinar, etc. os indivíduos com uma inteligência verbo-linguista aprendem

melhor quando podem falar, ouvir, ler ou escrever.

Page 2: Desenho universal de aprendizagem

Inteligência lógica-matemática (LM) que caracteriza os indivíduos possuidores de

um pensamento lógico-matemático, que enfatiza a realidade. São bons a detetar

padrões, estabelecer relações de causa efeito e estabelecer sequências.

Inteligência espacial (E) que se traduz na capacidade superior de percecionar, criar

e recriar imagens. Os indivíduos têm um aprofunda perceção de detalhes visuais e

conseguem, com frequência, converter palavras ou impressões em imagens,

possuindo um apurado sentido de orientação.

Inteligência musical (M) permite que o indivíduo produza melodia e ritmo e o

compreenda, aprecie e forme opiniões sobre a música. São pessoas capazes de cantar

de forma afinada, de manter o ritmo e analisar e criar composições musicais.

Inteligência corporal/cinestésica (C) está relacionada com o corpo e a capacidade

de o usar nas diferentes formas. Os indivíduos manuseiam objetos e realizam

movimentos corporais precisos com facilidade. Aprendem melhor executando,

movendo e agindo sobre as coisas.

Inteligência Interpessoal (IP) está patente nas pessoas sociáveis. Estabelecem boas

relações com os outros, são sensíveis às ligeiras variações nos estados de espírito,

atitudes e desejos dos outros. Apresentam um bom desempenho nos trabalhos de

equipa e aprendem melhor quando estão em interação com os outros.

Naturalista (N) está presente nos indivíduos que estabelecem uma superior sintonia

com o mundo natural das plantas e dos animais, com a geografia natural, os objetos

naturais, como o sistema solar. Os indivíduos com uma inteligência dominante

naturalista apreciam o ar livre e reparam em padrões e características ecológicas.

Para Gardner as inteligências múltiplas não correspondem a categorias fixas. Todos

os indivíduos apresentam as mesmas e todos as usam em diferentes situações e contextos,

muito embora, seja frequente, haver uma competência superior numa ou duas destas

inteligências. Deste modo, todos nascem com as oito inteligências e todas elas são

modificáveis e ensináveis, apresentando pontos fortes e fracos.

O modelo de Garner tem muitas implicações para a educação. A teoria das

inteligências múltiplas veio chamar a atenção para o facto de que um ensino igual para

todos não vai ao encontro das especificidades de cada aluno, apelando à diferenciação

pedagógica.

As boas práticas de ensino terão de recorrer a métodos variados, uma vez que os

alunos não são todos iguais. Têm habilidades cognitivas diferentes e modos diferentes de

aprender. O ensino centrado no professor é um profundo erro! Deve-se centrar a educação

na criança. O professor deve tentar compreender quais os principais tipos de inteligência

dos seus alunos para mais facilmente possibilitar-lhes o acesso ao conhecimento, sem

contudo descurarem o resto das habilidades. As escolas deveriam, ao invés de oferecer

uma educação padronizada, devem tentar garantir que cada um receba a educação que

favoreça o seu potencial individual”.

O professor, à luz desta teoria, deverá ter em atenção o que é preconizado pelos

Princípios do Desenho Universal na Aprendizagem:

- oferecer múltiplos meios de representação;

-apresentar os conteúdos e informação através de diferentes e múltiplos media;

Page 3: Desenho universal de aprendizagem

- permitir aos alunos uma abordagem pessoal às atividades de aprendizagem e demonstrar

o que sabem de diferentes maneiras;

- criar condições para os alunos se envolverem e manterem o interesse.

A teoria das inteligências múltiplas veio iluminar a pedagogia e mudar a nossa

forma de encarar o ensino. O professor tem de nortear o seu trabalho pelos princípios do

desenho universal da aprendizagem. O aluno é o centro do processo ensino-aprendizagem

e é nele que deveriam convergir as nossas atenções. Partindo do aluno, pelo aluno e para

o aluno, “maximizando as suas capacidades”. Ele deve saber quais são as habilidades de

cada aluno e identificar o estilo de aprendizagem e as inteligências múltiplas de cada um.

Os alunos com deficiência intelectual (o perfil de alunos com que lido na minha

atividade letiva) apresentam perfis cognitivos tão diferentes uns dos outros, pelo que o

nosso papel de educadores é tentar garantir que cada um receba a educação que favoreça

o seu potencial individual - otimizar o perfil cognitivo do aluno no seu todo. Não existem

características iguais em todos os indivíduos com deficiência intelectual.

Da aplicação do anteriormente exposto pretende-se que o ensino especial nesta

população prepare os alunos para a vida, privilegiando um currículo alternativo, com

menos exigência de raciocínios verbais e lógicos. São valorizadas outras áreas básicas

que encorajam os alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e efetuar

tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem e que

favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais.

Todos os alunos estudam fazendo uso de suas melhores inteligências tanto na sala

de aula como fora dela. Os professores exercem o seu papel em conformidade com os

pressupostos da educação inclusiva.

Para tal é necessário que o professor efetue uma avaliação inicial do potencial de

cada um para conhecer quais das 8 inteligências são as mais desenvolvidas em cada um,

procurar constantemente favorecer o desenvolvimento de combinações intelectuais

individuais. Os alunos com deficiência intelectual vão, aos poucos, desenvolvendo todas

as inteligências e uma reavaliação regular, permite ao professor aferir e refletir, bem como

planear melhor atividades que o ajudarão a melhor desenvolver determinadas

inteligências. Como princípio, nunca comparamos os alunos entre si mas com os

respetivos desempenhos anteriores de cada um.

A educação especial deve partir das áreas fortes do aluno, desenvolvendo um

ensino individualizado que põe o enfoque nos seus centros de interesse, sendo portanto

um ensino holístico e ecológico que potencia de forma mais eficaz as suas habilidades. O

perfil cognitivo destes alunos é único e cabe ao professor descobrir o seu estio de

aprendizagem (modo como um aluno processa a informação e se comporta em situações

de aprendizagem,). Partindo das suas áreas fortes, desenvolver-se-ão as outras áreas ou

inteligências.

O Currículo desta população, para além de alternativo (áreas diferenciadas) deve

ser específico (o mais adequado possível a cada um dos alunos) e funcional (acontecer

em diferentes contextos educativos e naturalistas e não só na sala de aula). As atividades

educativas e as estratégias utilizadas para implementar o mesmo, devem visar o

Page 4: Desenho universal de aprendizagem

desenvolvimento de competências importantes para que estes alunos sejam mais

autónomos e mais independentes, capazes de interagir na comunidade escolar, familiar e

social onde estão inseridos. Este tipo de currículos contribui exponencialmente para

autoestima e realização pessoal dos alunos.

Penso que os Currículos Funcionais vão ao encontro do que defende Gardner em

relação ao ambiente educacional destes alunos, uma vez que ele chama a atenção para o

facto de que, as escolas devem preparar os seus alunos para a vida.

Algumas estratégias para a Deficiência Intelectual:

Designar tarefas que solicitem o uso das melhores inteligências;

Organizar interações e atividades de modo a que cada aluno seja

constantemente, ou o mais frequentemente possível, confrontado com as

situações didáticas significativas e adequadas às suas características;

Usar modelos com forte componente visual e modelos;

Construir Currículos Específicos Individuais, alternativos e funcionais

abrangentes para ir ao encontro de diferentes áreas ou inteligências, mas

permitir que o aluno encontre a sua “vocação”. Mais tarde restringir a

variedade de conteúdos, e que “essa limitação deveria ser da escolha de cada

um, favorecendo o perfil intelectual individual”;

Concretizar (uma vez que a sua representação mental do mundo e dos objetos

nem sempre coincide com a nossa, a criança aprende melhor se partirmos de

situações concretas, suas conhecidas, estimulando o sentido quinestesico,

tanto quanto possível, por exemplo em atividades de psicomotricidade;

Usar um suporte comunicacional – gestual, tónico, mimico, ocular e

outros (associar a linguagem, a imagem e a ação);

Estruturar (a criança precisa de avançar em pequenas etapas, para que a

informação seguinte seja suportada pela anterior e assim possa estruturar a

informação total em conhecimento);

Repetir (como esquece com facilidade aquilo que aprende, para que a

aprendizagem seja concretizada com qualidade aceitável é preciso praticar

muito, comunicando também, por exemplo, aos pais o que foi abordado para

que haja uma consolidação de estratégias e um continuum);

Dar mais tempo para a aprendizagem (já que apresenta um ritmo mais lento

na aprendizagem, é preciso que tenha tempo suficiente para processar a

informação);

Generalizar (é preciso treinar a transferência de aprendizagens, possibilitando

o funcionamento do aluno em ambientes diversificados, por exemplo, ensinar

o aluno a deslocar-se para o local onde vai fazer a sua atividade profissional

ou para a estação de comboios ou de camionagem onde deve apanhar o

transporte para casa, ensinar-lhe o percurso e acompanhá-lo no meio de

transporte para fazer o treino, duas ou três vezes; até ele conseguir fazê-lo

sozinho sem supervisão, verificando-se então a transferência da aprendizagem

em contexto real);

Apresentar os materiais de formas variadas e criativas;

Page 5: Desenho universal de aprendizagem

Recorrer a materiais e implementar atividades que estejam de acordo com os

interesses dos alunos, incluindo simulações e apelando a fantasia e/ ou

criatividade;

Despertar o interesse, a curiosidade e a atenção, introduzindo características

lúdicas.

Com esta população é imprescindível valorizarmos a nossa crença de que “Todos

poderão aprender se acolhermos os diferentes estilos de aprendizagem e as inteligências

múltiplas de cada aluno”. Os estilos de aprendizagem são o modo como cada um de nós

aprende melhor e as inteligências múltiplas constituem as habilidades que podemos

utilizar para aprender qualquer coisa e realizar nossos objetivos.

Exemplos:

PELO ESTILO A PESSOA APRENDE

Visual vendo, olhando, observando

Auditivo ouvindo

Cinestésico com estímulos táteis e movimentos corporais

Artístico por meio de pintura, desenho, pintura,

música, teatro etc.

Visual-auditivo 1 + 2

Ao utilizar todas as inteligências de cada aluno e possibilitar a reorganização

cerebral derivada das diferentes possibilidades de combinações dos vários tipos de

inteligências, o professor está ampliando ao mesmo tempo o seu repertório de estratégias

de ensino e o leque de participação positiva do aluno com deficiência intelectual no

processo de aprendizagem.

Bibliografia utilizada:

Silver, H; Strong, R ; Perini, M; (2010). Inteligências múltiplas e estilos de

aprendizagem: para que todos possam aprender. Porto: Porto Editora.