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DESENVOLVIMENTO DE BANHEIRO PRÉ-FABRICADO VOLTADO PARA CONSTRUÇÕES EMERGENCIAIS Fernando Barth (1) Cláudia Vasconcelos (2) Jackson Bunn (3) Priscilla Becsi (4) (1) Engenheiro Civil, Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, e-mail: [email protected] (2) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas, e-mail: [email protected] (3) Acad. do curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSC, e-mail: [email protected] (4) Acad. do curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Bolsista de Iniciação Científica, CNPQ, e-mail: [email protected] Resumo Este trabalho apresenta o desenvolvimento do projeto de um protótipo de banheiro pré-fabricado voltado para construções emergenciais. O trabalho busca apresentar as principais condicionantes e requisitos de projeto de banheiros comumente utilizados nas habitações e na identificação de características e tipos mais adequados ao projeto, de modo a gerar algumas soluções construtivas capazes de contribuir para a melhoria das condições de habitabilidade. O banheiro costuma apresentar grande quantidade de requisitos projetuais e adversidades na construção, que frequentemente produzem atrasos na execução da obras. Nesta proposta desenvolveu-se o projeto de um banheiro, com estrutura mista de aço e concreto, cujas instalações elétricas e hidrossanitárias estão compatibilizadas em projeto integrado. Buscou-se a racionalização dos serviços, a industrialização dos componentes e de suas interfaces, criando condições para sua produção em larga escala. Abstract This paper presents the development of a prefabricated bathroom in a emergency buildings approach. This work aims to present the main design requirements of the toilets commonly used in homes and in identifying the characteristics and types most suitable for the design of a bathroom in order to generate some constructive solutions to help improve housing conditions. The bathroom use to show an elevate number of requirements for projects and adversities in its construction, which often lead to delay in execution of works. This proposal develops the design of a bathroom, with mixed structure of steel and concrete, whose plumbing and electrical systems are aligned in the integrated project. The aim is to rationalize services, to industrialize components and their interfaces, creating conditions for its large scale production. 1. Introdução Na região de Santa Catarina frequentemente são observados desastres naturais que geram conseqüências alarmantes em regiões rurais e centros urbanos, atingindo populações de diversas classes, entre elas, de modo

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DESENVOLVIMENTO DE BANHEIRO PRÉ-FABRICADO VOLTADO PARA CONSTRUÇÕES

EMERGENCIAIS

Fernando Barth (1) Cláudia Vasconcelos (2) Jackson Bunn (3) Priscilla Becsi (4)

(1) Engenheiro Civil, Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, e-mail:

[email protected]

(2) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Bolsista da Fundação de

Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas, e-mail: [email protected]

(3) Acad. do curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSC, e-mail: [email protected]

(4) Acad. do curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Bolsista de Iniciação Científica, CNPQ, e-mail:

[email protected]

Resumo

Este trabalho apresenta o desenvolvimento do projeto de um protótipo de banheiro pré-fabricado voltado

para construções emergenciais. O trabalho busca apresentar as principais condicionantes e requisitos de

projeto de banheiros comumente utilizados nas habitações e na identificação de características e tipos mais

adequados ao projeto, de modo a gerar algumas soluções construtivas capazes de contribuir para a melhoria

das condições de habitabilidade. O banheiro costuma apresentar grande quantidade de requisitos projetuais e

adversidades na construção, que frequentemente produzem atrasos na execução da obras. Nesta proposta

desenvolveu-se o projeto de um banheiro, com estrutura mista de aço e concreto, cujas instalações elétricas e

hidrossanitárias estão compatibilizadas em projeto integrado. Buscou-se a racionalização dos serviços, a

industrialização dos componentes e de suas interfaces, criando condições para sua produção em larga escala.

Abstract

This paper presents the development of a prefabricated bathroom in a emergency buildings approach. This

work aims to present the main design requirements of the toilets commonly used in homes and in identifying

the characteristics and types most suitable for the design of a bathroom in order to generate some

constructive solutions to help improve housing conditions. The bathroom use to show an elevate number of

requirements for projects and adversities in its construction, which often lead to delay in execution of works.

This proposal develops the design of a bathroom, with mixed structure of steel and concrete, whose

plumbing and electrical systems are aligned in the integrated project. The aim is to rationalize services, to

industrialize components and their interfaces, creating conditions for its large scale production.

1. Introdução

Na região de Santa Catarina frequentemente são observados desastres naturais que geram conseqüências

alarmantes em regiões rurais e centros urbanos, atingindo populações de diversas classes, entre elas, de modo

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acentuado, populações de baixa renda que costumam estar localizadas em áreas de risco. Para Kuhnen

(2010), a psicologia ambiental oferece uma maneira nova de olhar situações catastróficas, como sendo um

advento da interação entre o contexto ambiental e as pessoas, integrando conhecimentos psicológicos, sociais

e físicos acerca da sustentabilidade, vulnerabilidade e riscos. O conjunto de características do meio ambiente,

das pessoas e grupos em termos da capacidade de antecipar, lidar, resistir e recuperar-se dos impactos

sofridos devem ser considerados no contexto de gênero, tempo, espaço e escala.

Segundo Calheiros (2007), o conceito de vulnerabilidade está relacionado a probabilidade de uma

determinada comunidade ou área geográfica a ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre. A

incerteza dos acontecimentos e o grau de complexidade e de urgência impõem maior agilidade na tomada de

decisões para o equacionamento dos problemas resultantes, requerendo, desta forma, maior agilidade na

resposta das instituições responsáveis nas esferas municipal, estadual e federal.

As construções emergenciais configuram-se como soluções potenciais para resolver situações de pós-

desastres. Estruturas desmontáveis, portáteis, de fácil transporte são exigidas para responder prontamente as

necessidades das populações atingidas, entre elas os abrigos, habitações emergenciais, unidades de pronto

atendimento, creches e escolas provisórias. No projeto e execução destas construções devem ser

considerados alem das exigências normativas, aspectos econômicos, logísticos e sócio-culturais, que possam

prover a adequação às particularidades locais e atender as expectativas da população atingida.

Neste contexto, esta pesquisa busca caracterizar e desenvolver uma proposta modular que possam atender as

necessidades básicas de uma habitação emergencial. O banheiro pré-fabricado coloca-se como uma maneira

de acelerar as obras das moradias que atenderão de forma emergencial e também com a perspectiva de sua

transformação e ampliação futura.

A construção de um banheiro convencional pode segundo Lopes (2005), recorrer no uso de 150 a 250 itens

que devem ser comprados, instalados e verificados na obra. Esta quantidade de produtos e serviços costuma

acarretar desperdícios, atrasos e elevação dos custos da construção. Os ganhos globais que podem ser obtidos

pela industrialização de banheiros relacionam-se com a racionalização dos projetos e a padronização dos

produtos e serviços, a escala de produção destes elementos pode conduzir a uma construção enxuta e

sistematizada.

Segundo Covelo (2001), os sistemas industrializados ganharam relevância devido à demanda por

empreendimentos que exigem retorno rápido e principalmente resposta emergencial quando adotadas como

solução a população que tenham sido vítimas ou estejam vulneráveis a desastres naturais. Entretanto estes

sistemas exigem conhecimento técnico e integração dos projetos de arquitetura, estrutura, esquadrias e

instalações.

Os banheiros pré-fabricados vêm sendo desenvolvidos na Europa desde a década de 80 e aplicado em

construções com elevada exigência de desempenho e durabilidade. Esses tipos de banheiros aportam

inovações tecnológicas no processo de fabricação dos painéis constituintes e monoblocos, na utilização de

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shafts para tubulações e caixas embutidas e no uso de tubulações flexíveis de água quente e fria. Estas

inovações facilitam a produção, o controle, as inspeções e as manutenções necessárias sem grandes

transtornos no uso destes equipamentos.

Deste modo, a pré-fabricação de banheiros pode simplificar consideravelmente a gestão da obra

possibilitando o controle de custos e dos prazos de entrega. Segundo Sabbatini (1989), o banheiro pré-

fabricado pode ser fornecido com todo o revestimento, louças, elementos de metais, sanitários e demais

acessórios assemelhando-se aos banheiros construídos in loco de maneira convencional.

Os banheiros tipo célula são constituídos por pisos, paredes e painéis de teto cujas variantes construtivas

possibilitam adaptação às características de cada obra, dos elementos de encestes para elevação e transporte e

dos recursos disponíveis.

No Brasil iniciou-se a fabricação de banheiro pré-fabricado, na década de 90, por meio da empresa italiana

Rivoli, que produzia os banheiros voltados para as construções de hotéis. O sistema de produção adotado

fundamentava-se na produção de painéis de pisos e de paredes que soldados formavam as células

tridimensionais. Este tipo de banheiro utiliza shaft que pode ser acessado externamente no corredor do hotel,

possibilitando a manutenção simultânea a cada dois banheiros justapostos.

2. Condicionantes e requisitos do projeto de um banheiro pré-fabricado

Os requisitos de habitabilidade que podem estar associados aos banheiros são os mesmos que tocam a

habitação como um todo, porém alguns destes são acentuados por estar concentrados neste ambiente diversas

funções. O controle de temperatura pode ser feito pela abertura de janelas e portas, porém como é o caso dos

banheiros, que possuam chuveiro e banheira costumam fornecer altos índices de calor, tais temperaturas

elevadas produzem no usuário sensações de desconforto, no entanto na situação de banho esta característica

não é apresenta-se tão desfarovável ao usuário.

2.1. Calor e umidade

O grau de umidade encontrada no interior dos banheiros é bastante elevado, em função da utilização da água

e do vapor de água produzido quando a água é aquecida. Isto faz com que seja indispensável a remoção das

águas utilizadas e a condução da água resultante da condensação do vapor de água nas superficies internas do

banheiro. Estas medidas evitam que a proliferação de fungos e outros micro-organismos no banheiro

prejudiciais à saude, principalmente quando o usuário possui algum tipo de deficiência imunológica.

Em regiões de clima frio é necessário verificar também os riscos de condensações interstíciais nas paredes

dos banheiros. A norma NBE-CT-79 (1979) apresenta o cálculo simplificado de verificação de condensação

intersticial, onde é assumido uma temperatura interna de 18º C com umidade relativa de 85%.

2.2. Ruídos

No interior do banheiro os ruídos são frequentes no decorrer do desenvolvimento da atividades e nem sempre

são percebidos ou causam desconforto. No entanto, tais ruídos podem provocar situações desagradáveis,

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desconfotáveis, de insegurança e até de medo tanto ambiente interno quanto em ambientes do entorno. Tal

situação pode gerar em alguns usuários sensação de desconforto, constrangimento e sentimento de inibição,

quando realiza suas funções fisiológicas, em função da possibilidade de outros perceberem e identificarem

tais atividades.

2.3. Ventilação e odores

Os ambientes de uma habitação devem, preferecialmente oferecer condições para que a ventilação ocorra de

forma natural e permanente. Banheiros, cozinhas e lavanderias costumam produzir muita umidade. Os

banheiros produzem grande quantidade de vapor de água, que na ausência de ventilação podem condensar

nas superficies das paredes e tetos, resultando em instalação de microorganismos. Além disso, os banheiros e

lavabos são usados não somente para se lavar as mãos e o corpo, mas para evacuar, quando são expelidos

também os gases intestinais.

Os odores, ricos em metano, produzidos no interior do ambiente podem causar sensações desagradáveis e de

riscos à saude, principalmente quando se manifestam comitantemente as atividades de alimentação e

cozimento. Estas considerações, um tanto óbvias, são frequentemente observadas em auto-construções e até

mesmo em alguns projetos institucionais, em função de não ser respeitadas áreas minimas para as atividades

dos usuários.

A locação do banheiro na habitação deve prever não apenas a sua ventilação com o ambiente exterior, por

meio de janelas que possam ser facilmente acessadas e controladas pelos usuários, mas também o

fluxograma entre os demais ambientes que não deve criar conflito com atividades de cozimento,

armazenamento de alimentos, alimentação e lazer.

2.4 Luz natural e artificial

Cada tipo de atividade exige certo nível de iluminação, que pode ser obtido naturalmente por meio da

radiação solar direta e indireta ou por meio de fontes artificiais, que induzem a um aumento no consumo de

energia e aquecimento naquele ambiente. Os lavabos e banheiros não exigem grande nível de iluminação, no

entanto, a radiação solar direta contribui para a higienização destes ambientes.

Os raios ultravioleta contido na radiação solar têm um poder germicida e ajudam na profilaxia, deste modo, a

radiação solar quando incide diretamente nos lavabos e banheiros elimina grande parte dos microorganismos

existentes. De outra parte, lavabos e banheiros mal iluminados criam condições favoráveis a proliferação de

fungos, bactérias e outros microorganismos.

2.5 Privacidade

Privacidade é a capacidade ou o poder de revelar-se seletivamente ao mundo. Está relacionada com a

capacidade ou habilidade de uma pessoa em controlar sua exposição ou em disponibilizar informações

acerca de si. Cada ambiente exige certo grau de privacidade, de acordo com o tipo de atividade a ser

desenvolvida.

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Os lavabos e os banheiros costumam ser ambientes de uma habitação com grau máximo de exigência quanto

ao requisito de privacidade. Este requisito diz respeito não somente a possibilidade de vizualização do seu

interior, bem como a identificação de odores e ruídos que possam revelar informações e criar situações

constrangedoras no âmbito familiar e com visitantes da habitação.

Figura 1: a) banheiro integrado; b) banheiro compartimentado com lavatório e banho; e c) proposta da empresa Rivoli

de ambiente compartimentado para o vaso, lavatório e ducha.

Neste aspecto, a compartimentação do banheiro que separa as diversas funções realizadas possibilita o uso

simultâneo dos equipamentos, porém requer maior atenção a respeito do tratamento acústico nas vedações.

Observa-se que ao possibilitar esta flexibilização de uso do equipamento, as vedações devem garantir a

privacidade, sem, no entanto reduzir ou impedir a ventilação e a iluminação deste ambientes. Segundo

Gifford (1987), para muitas pessoas existem dois tipos de privacidade: a de estar à parte dos demais e a

certeza de que outros indivíduos não têm acesso a determinadas informações, a qual somente o usuário tem o

controle seletivo de acesso. Deste modo, a privacidade no banheiro abrange os dois conceitos a capacidade

do isolamento e a segurança para realização das atividades e o controle das informações correlatas.

2.6 Acessibilidade

A NBR 9050 (2005) que trata da acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos,

estabelecem dimensões mínimas para a abertura de portas e espaços mínimos para garantir o acesso e

movimentações aos equipamentos e mobiliários das edificações.

O Projeto de Norma da ABNT (2006) que trata do Desempenho de Edifícios Habitacionais de até cinco

pavimentos, estabelece dimensões mínimas e áreas mínimas para os cômodos da habitação. Este Projeto de

Norma também estabelece requisitos mínimos quanto à integridade estrutural das vedações internas/externas

e procedimentos de ensaios para verificar a estanqueidade das vedações, e em sua sexta parte estabelece os

requisitos para o projeto e construção das instalações hidrossanitárias.

A partir destes requisitos e critérios elaboraram-se duas propostas de banheiro pré-fabricado, apresentadas na

Figura 2. Na primeira buscou-se equacionar as dimensões mínimas para o uso dos equipamentos

convencionalmente utilizado na construção e nos mobiliários comercializados no varejo, buscando garantir o

acesso dos usuários de baixa renda ao comércio de moveis usados.

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Figura 2: a) banheiro com dimensionado com mobiliário e equipamento usual; e b) banheiro com acessibilidade

atendendo a NBR5090 ( 2005)

Pode-se observar na Figura 2 que o banheiro convencional apresenta dimensões internas 1,20x2,20m com

área útil de 2,64 m². Para atender a NBR9050 as dimensões do banheiro passam para 1,40x2.80m,

totalizando uma área útil de 3,92 m². A porta de acesso usual com abertura de 0.60x2.1m passa para

0.80x2.10 m, medida mínima proposta pela NBR9050. Além disto, é necessário prever áreas de manobra

para o cadeirante no interior do ambiente, assim como barras laterais e equipamentos para auxiliar o usuário

com mobilidade restrita na execução de diversas atividades, de modo a garantir autonomia do usuário.

3. Aspectos construtivos no desenvolvimento de um banheiro pré-fabricado

Os banheiros pré-fabricados caracterizam-se por transferir para a fábrica os processos de produção dos

componentes e elementos construtivos, que formam uma célula monolítica, também denominado de

monobloco, onde todos os equipamentos e acabamentos estão finalizados, deixando apenas para ser

executado no local, as conexões com a rede de energia e de água e esgoto, bem como a expansão do sistema

elétrico da habitação.

Os requisitos deste projeto pré-fabricado são todos aqueles que devem ser observados para os banheiros

construídos no local, acrescidos dos requisitos da produção industrializada. Estes banheiros devem ser

compactos, leves e resistentes de modo a facilitar à fabricação, manipulação, transporte e montagem no local

da obra. A produção dos componentes deve ser em série para obtenção de ganhos de produtividade na

repetição de operações ou em atividades simultâneas, na qual é possível reduzir o tempo de produção de cada

unidade.

Os componentes podem ser totalmente finalizados num só processo de produção, como o exemplo de painéis

que já tem o revestimento cerâmico incorporado, ou ainda realizar a sua colocação após a finalização do

monobloco. Neste último caso, o processo de assentamento é convencional, mas a produção é seriada,

podendo ser realizado o controle de tempo de execução e de qualidade final de acabamento do produto.

O projeto de um monobloco pré-fabricado é constituído dos seguintes elementos: banheiro com os

equipamentos mínimos necessários ao seu funcionamento, buscando também agregar à parede hidráulica

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sistema elétrico com as tomadas para fogão e geladeira, bem como a torneira da pia da cozinha e instalação

de espera para uma área de serviço com tanque de lavar roupa, como observado na Figura 3. Esta iniciativa

visa suprir também outra demanda básica da habitação, que são os equipamentos mínimos da cozinha e área

de serviço.

Figura 3: a) planta baixa do banheiro; b) modelo tri-dimensional do banheiro pré-fabricado; e c) vista aérea do banheiro.

A Figura 4 mostra o processo construtivo das vedações laterais do banheiro, onde os painéis sanduíches são

constituídos por camadas de argamassa e tela metálica, uma segunda com reforço de barra de aço, uma

terceira camada de poliestireno expandido que propicia leveza ao conjunto, e uma última camada de

argamassa para solidarização de todo monobloco.

Figura 4: modelo tri-dimensional ilustrativo do processo de construção do banheiro.

Na figura 5 pode-se observar a fixação dos fechamentos da porta, da janela e dos painéis das paredes, que

são realizadas por meio de parafusos nos montantes estruturais. Os painéis apresentam reforços verticais e

horizontais para conferir rigidez e leveza ao conjunto. Esta técnica construtiva é frequentemente utilizada,

segundo Barth (2007) em painéis de concreto arquitetônico, para se obter maior precisão dimensional e

qualidade no acabamento. Os reforços verticais também são utilizados para reforçar o banheiro pré-

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fabricado, possibilitando seu içamento, transporte, bem como suportar o reservatório de água da futura

habitação.

Figura 5: a) colocação das placas na estrutura de aço galvanizada; e b) colocação dos azulejos no box do banheiro.

3.1 Instalações sanitárias do banheiro pré-fabricado

Os banheiros costumam apresentar grande diversidade de materiais e equipamentos, tipo revestimentos,

louças e registros, assim como devem ter acabamentos que facilitam a limpeza e a conservação. A bacia

sanitária é o elemento mais vulnerável à sujidade e que necessita maiores cuidados na limpeza, deve ter

formato anatômico dotado de um conteúdo de água destinado a receber os resíduos e de um dispositivo

interno capaz de removê-los mediante um fluxo de água, que rompe momentaneamente o fecho hídrico, sem

permitir, no entanto que os gases das tubulações invadam o ambiente.

A energia hidrodinâmica utilizada neste processo é, segundo o fabricante Montana, provida por um

dispositivo de descarga que supre a bacia sanitária com água em volume e velocidade adequados não apenas

para a remoção dos resíduos depositados na bacia, mas também para conduzi-los pela tubulação de esgoto.

O banheiro pré-fabricado, em função das características de produção e transporte, geralmente é composto de

dispositivos de arraste horizontal do esgoto do vaso sanitário. Isto possibilita uma redução significativa da

espessura da laje de piso. Na Figura 06 são apresentados modelos de bacias sanitárias adequadas a este tipo

de banheiro, pois podem ser fixadas tanto no piso como nas paredes tipo Dry Wall nos montantes da parede.

Figura 6: a bacia sanitária por arraste horizontal apoiada no piso e bacia horizontal fixada na parede. Catálogo Bacia

Sanitária Montana.

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A água necessária ao funcionamento da bacia sanitária pode ser provida por meio de um reservatório de água

embutido na parede, otimizando o espaço interno do banheiro, como mostrado na Figura 6. Outra opção é a

utilização das caixas acopladas à bacia sanitária possibilitando uma redução significativa do uso de água

quando comparada com as válvulas fluxíveis e que apresenta maior facilidade na sua manutenção.

As instalações de água fria e água quente podem ser flexíveis através de tubulações de polietileno reticulado

facilitando a instalação e evitando riscos de vazamento ao dispensarem as conexões no interior das paredes.

A manutenção pode ser feita através dos shafts inspecionáveis desde o interior dos banheiros ou de ambiente

externo.

4. Finalização e transporte do banheiro

Após a colocação dos revestimentos e aparelhos, mostrados na Figura 7b, o banheiro pré-fabricado que pesa

cerca de duas toneladas, pode ser facilmente transportado por caminhão guindaste até o local da obra. Na

Figura 7a é mostrado o içamento do banheiro por meio de seus quatros insertes superiores.

Figura 7: a) içamento transporte do banheiro com caminhão guindaste; e b) perspectiva interna do banheiro após

colocação de revestimentos e aparelhos.

5. Considerações finais

O desafio de aplicar técnicas de pré-fabricação num sistema construtivo esbarra em algumas práticas

construtivas, que apesar de aceitas e difundidas, necessitam de maior racionalidade. Entre outros aspectos

destacam-se a coordenação e a padronização dos componentes formados por painéis, janelas, portas,

elementos de revestimento, equipamentos e instalações. Esta sistematização e padronização é que permite

alcançar o desejado aumento na produtividade e na qualidade de nossas construções. Neste contexto, os

banheiros apresentam-se como um ponto crítico nas construções, em função da diversidade de produtos, de

serviços, da exigência de mão de obra qualificada para sua execução e da complexidade da montagem e

funcionamento das instalações.

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Neste trabalho, buscou-se analisar os principais requisitos projetuais de um banheiro capaz de adapatar-se a

distintas construções emergenciais, desde a sua incorporação a um abrigo provisório ou até mesmo servir de

núcleo embrionário da habitação definitiva. Os principais requisitos e critérios a serem atendidos como

variáveis de projeto de um banheiro pré-fabricado foram agregados ao atendimento das funções da cozinha,

da área de serviço e da colocação do reservatório de água, de modo a atender as necessidades básicas das

populações afetadas.

O estudo abordou algumas soluções construtivas que podem apresentar uma viabilidade técnica e econômica,

no sentido de colocar-se como opção alternativa para a execução de produtos pré-fabricados, na qual

atendam a perspectiva da expansão futura da habitação a critério da logística construtiva, peculiaridade local

e possibilidade de ampliação da habitação. A execução do protótipo possibilitou também uma avaliação das

soluções construtivas adotadas e uma interação com a comunidade sobre as características formais e

funcionais durante o período em que esteve em exposição durante a Semana de Pesquisa e Extensão da

UFSC, em outubro de 2009.

6. Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS – ABNT - NBR 9050 – Acessibilidade a

edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. ABNT. 2005.

______. NBR 17575 – Desempenho de Edifícios Habitacionais de até cinco pavimentos – Parte 6:

sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.

______. ABNT. Projeto de Norma 02:136.01.0001/6 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.

Desempenho parte 6: sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.

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1979.

SABBATINI, F.H. Desenvolvimento de materiais e processos construtivos. Formulação e aplicação de

uma metodologia. Tese – Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1989.