Desenvolvimento de formulações cosméticas com Ácido Hialurónico

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  • 8/14/2019 Desenvolvimento de formulaes cosmticas com cido Hialurnico

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    ngela Zlia Moreira de Oliveira

    DESENVOLVIMENTO DE FORMULAES COSMTICAS COMCIDO HIALURNICO

    Dissertao de Mestrado em Tecnologia Farmacutica

    Trabalho realizado sob a orientao daProfessora Doutora Maria Helena dos Anjos Rodrigues Amaral

    DEZEMBRO DE 2009

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    AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA DISSERTAO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO

    ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

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    Agradecimentos

    Aos meus pais, agradeo a confiana que depositaram em mim desde o incio eo apoio indispensvel que sempre disponibilizaram em todos os momentos.

    Aos meus trs irmos, retribuo o orgulho e a amizade e agradeo a ajudaprestada, sempre que foi necessria.

    Professora Doutora Maria Helena Amaral, no papel de Orientadora da presente

    dissertao, manifesto a minha mais sincera gratido pela excelente orientaocientfica, a infindvel disponibilidade que sempre demonstrou durante todo estetrabalho, a amizade e o apoio que sempre fez questo de demonstrar para que osobjectivos fossem alcanados.

    Professora Doutora Maria Fernanda Guedes Bahia, apresento os meusagradecimentos pela generosidade demonstrada, pelo apoio prestado e,

    essencialmente pela considerao que sempre dispensou relativamente aostrabalhos desenvolvidos.

    A todos os Professores e colaboradores do Servio de Tecnologia Farmacuticadesta Faculdade, quero tambm agradecer a amizade e o apoio dispensadosdurante a realizao deste trabalho.

    Dr. Cristina Maria Pereira da Costa, agradeo a amizade sempre presente, acompreenso manifestada e a tolerncia indispensvel, no que diz respeito possibilidade de conciliar o horrio de trabalho com a realizao deste projecto.

    Ao Joo Maria, agradeo o carinho infindvel que disponibilizou desde sempre, oapoio incondicional que prestou em todos os momentos e a compreensoindispensvel concretizao deste trabalho de dissertao.

    Agradeo, ainda, empresa AstraZeneca o apoio financeiro que meproporcionou, durante os dois anos previstos para a realizao deste Mestrado.

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    Resumo

    O cido hialurnico (AH) o componente maioritrio da matriz extracelular daderme. O envelhecimento extrnseco da pele ou fotoenvelhecimento estrelacionado com alteraes na expresso do AH e no seu metabolismoenzimtico. O AH uma das molculas mais higroscpicas da natureza, pelo que,quando hidratado, pode conter cerca de 1000 vezes o seu tamanho em molculasde gua. Assim, este efeito particularmente relevante ao nvel da pele, pela suacapacidade hidratante, o que contribui para a sua utilizao em produtos anti-envelhecimento.

    O trabalho desenvolvido teve como objectivo a preparao de duas formasfarmacuticas semi-slidas (creme O/A e gel hidrfilo de Aristoflex AVC)contendo cido hialurnico e a sua caracterizao fsica e mecnica.Por outro lado, pretendeu-se, ainda, avaliar a capacidade hidratante daspreparaes com cido hialurnico, mediante a realizao de ensaios debiometria cutnea. As formulaes desenvolvidas apresentaram qualidades adequadas para a

    aplicao tpica. No entanto, o gel de Aristoflex AVC apresentou melhorescaractersticas fsicas e mecnicas pelo que poder constituir uma basedermatolgica mais adequada para a incorporao do AH.

    Os resultados obtidos nos ensaios de biometria cutnea permitiram concluir queno houve uma influncia relevante do AH no efeito hidratante e na variao dopH da pele, aps uma nica aplicao dos produtos testados, pelo que serianecessria a aplicao dos mesmos, diversas vezes, para se poderem obter

    resultados mais conclusivos..

    Palavras chave: cido hialurnico, anti-envelhecimento, creme, gele, hidratante.

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    Abstract

    Hyaluronic acid (HA) is the major component of the cutaneous extracellular

    matrix. Extrinsic skin ageing or photoageing is associated with alterations in theexpression of HA and its metabolizing enzymes. HA is one of the mosthygroscopic molecules in nature and when hydrated, it can contain up to 1.000-fold more water than its own weight. Thus, this effect is particularly important in theskin for its moisturizing ability which contributes to its application in anti-ageingproducts.This work had as objective the preparation of two semi-solid pharmaceutical

    forms (oil-in-water cream and hydrophilic gel Aristoflex AVC) containinghyaluronic acid and its physical and mechanical characterization. Furthermore, weintended to also assess the ability moisturizing of formulations containing HA, bybiometric skin tests.

    The formulations developed showed suitable properties for topical application.However, the Aristoflex AVC gel showed better physical and mechanicalcharacteristics, so it could be used as a suitable dermatological base for HA

    incorporation.The results from tests biometric skin showed that there is no influence of HA on

    the moisturizing effect and the change in pH of the skin after a single application ofthe tested products, so it will be necessary several applications of this products inorder to obtain more relevant conclusions.

    Key words: hyaluronic acid, anti-ageing, cream, gel, moisturizer.

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    ndice

    1.INTRODUO ................................................................................................................ 10

    1.1. Envelhecimento cutneo ...................................................................... ............................................. 10 1.1.1. Hidratao ...................................................................................................................................... 17

    1.2. cido hialurnico (AH) ...................................................................................................................... 25

    1.3. Preparaes semi-slidas para aplicao cutnea .................................................................... 29 1.3.1. Cremes ........................................................................................................................................... 31 1.3.2. Geles ............................................................................................................................................... 36

    1.4. Objectivo ............................................................................................................................................... 39

    2. PARTE EXPERIMENTAL ........................................................................................................... ....... 40

    2.1. Materiais e equipamento ............................................................................................................. ...... 40 2.1.1. Matrias-primas e reagentes ....................................................................................................... 40 2.1.2. Equipamento ....................................................................... ....................................................... .... 40

    2.2. Mtodos ................................................................................................................................................. 41 2.2.1. Preparao da emulso semi-slida O/A e do gel hidrfilo .................................................... 41

    2.2.1.1. Preparao da emulso semi-slida O/A .......................................................................... 41 2.2.1.2. Preparao do gel hidrfilo .................................................................................................. 42

    2.2.2. Caracterizao das formulaes ................................................................................................ 44 2.2.2.1. Anlise organolptica ........................................................................................................... 45 2.2.2.2. Avaliao do pH .................................................................................................................... 45 2.2.2.3. Ensaios de estabilidade acelerada por Centrifugao .................................................... 46 2.2.2.4. Ensaios reolgicos ................................................................................................................ 47 2.2.2.5. Anlise da textura ................................................................................................................. 51 2.2.2.6. Avaliao do poder humectante do AH ............................................................ ................. 53 2.2.2.7. Ensaios de biometria cutnea ............................................................................................. 53

    2.3. Resultados e Discusso ........................................................................ ............................................ 55 2.3.1. Anlise organolptica ................................................................................................................... 55 2.3.2. Avaliao do pH ............................................................................................................................ 62 2.3.3. Ensaios de estabilidade acelerada por Centrifugao ............................................................ 63 2.3.4. Ensaios reolgicos ................................................................................................................... ..... 64 2.3.5. Anlise da textura .......................................................................... ................................................ 72 2.3.6. Avaliao do poder humectante do AH ..................................................................................... 81 2.3.7. Ensaios de biometria cutnea ..................................................................................................... 82

    3. CONCLUSES ..................................................................................................................................... 88

    4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................. 91

    5. ANEXOS ................................................................................ .............................................. .................... 93

    6. GLOSSRIO .......................................................................................................................................... 98

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    ndice de Figuras

    1. INTRODUO Figura 1. Representao esquemtica da pele. ................................................................................. 11 Figura 2. Representao esquemtica da composio da substncia intersticial. ....................... 12 Figura 3. Composio qumica do FHN. ..................................................................... ......................... 18 Figura 4. Representao esquemtica da estrutura do cido hialurnico. .............................. ...... 25 Figura 5. Representao esquemtica da estrutura do hialuronato de sdio. ....................... ....... 26 Figura 6. Representao esquemtica dos tipos de emulses descritos. 1. emulso O/A; 2.emulso A/O; 3. emulso A/O/A; 4. emulso O/A/O. ................................................................... ...... 33

    2. PARTE EXPERIMENTAL

    2.2. Caracterizao das formulaes Figura 7. Representao esquemtica do armazenamento em estufadas amostras preparadas. ...................................................................................................................... 44 Figura 8. Reograma - representao grfica tenso de corte ( ) vs velocidade de corte ( ) dealguns comportamentos reolgicos. .................................................................. .................................... 49 Figura 9. Reograma de um material com tixotropia. .......................................................................... 49 Figura 10. Viscosmetro Thermo Haake VT550. ............................................................... ................. 51 Figura 11. Representao de um grfico fora versus tempo. ......................................................... 52 Figura 12. Texturmetro Stable Micro Systems . ............................................................... ................. 52

    2.3. Resultados e discusso Figura 13. Registos fotogrficos dos cremes aps a preparao. ................................................... 58 Figura 14. Registos fotogrficos dos geles aps a preparao. ...................................................... 59 Figura 15. Registos fotogrficos dos cremes ao fim de 90 dias e armazenados a 40 C. ........... 60 Figura 16. Registos fotogrficos dos geles ao fim de 90 dias e armazenados a 40 C. .............. 61 Figura 17. Representao grfica da variao de pH das preparaes. ........................................ 62 Figura 18. Representao grfica dos resultados obtidos por centrifugao dos geles. ............. 63 Figura 19. Representao grfica dos resultados obtidos por centrifugao dos cremes. ......... 64 Figura 20. Reogramas do creme-base, armazenado a 20 C. ......................................................... 65 Figura 21. Reogramas do creme com 0,1% de AH, armazenado a 20 C. .................................... 66 Figura 22. Reogramas do creme com 0,5% de AH, armazenado a 20 C. .................................... 66 Figura 23. Reogramas do gel, armazenado a 20 C. ......................................... ............................... 67

    Figura 24. Reogramas do gel com 0,1% de AH, armazenado a 20 C. .......................................... 67

    Figura 25. Reogramas do gel com 0,5% de AH, armazenado a 20 C. .......................................... 68 Figura 26. Reogramas do creme-base, armazenado a 40 C. ......................................................... 69 Figura 27. Reogramas do creme com 0,1% de AH, armazenado a 40 C. .................................... 69 Figura 28. Reogramas do creme com 0,5% de AH, armazenado a 40 C. .................................... 70 Figura 29. Reogramas do gel, armazenado a 40 C. ......................................... ............................... 71 Figura 30. Reograma do gel com 0,1% de AH, armazenado a 40 C. ............................................ 71 Figura 31. Reograma do gel com 0,5% de AH, armazenado a 40 C. ............................................ 72 Figura 32. Variao da Fmx do creme-base armazenado a 20C e a 40C. ............................... 73 Figura 33. Variao da Fmx do creme contendo 0,1% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 74 Figura 34. Variao da Fmx do creme contendo 0,5% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 74 Figura 35. Variao da Fmx do gel-base armazenado a 20C e a 40C. ..................................... 75 Figura 36. Variao da Fmx do gel contendo 0,1% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 76

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    Figura 37. Variao da Fmx do gel contendo 0,5% de AH, armazenado a 20C e a 40C. ...... 76 Figura 38. Variao da adesividade do creme-base armazenado a 20C e a 40C. .................... 77 Figura 39. Variao da adesividade do creme contendo 0,1% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 78 Figura 40. Variao da adesividade do creme contendo 0,5% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 78 Figura 41. Variao da adesividade do gel-base armazenado a 20C e a 40C. ......................... 79 Figura 42. Variao da adesividade do gel contendo 0,1% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 80 Figura 43. Variao da adesividade do gel contendo 0,5% de AH, armazenado a 20Ce a 40C. ................................................................................... ........................................... ...................... 80 Figura 44. Representaao grfica da perda de massa por evaporao de gua. ........................ 81 Figura 45. Variao dos valores de hidratao medidos 2 horas aps a aplicaodos produtos. ............................................................................................................................................ 82 Figura 46. Variao dos valores de pH medidos 2 horas aps a aplicao dos produtos. ......... 82 Figura 47. Grfico box-plot relativo aos valores de hidratao (UA) determinadosantes da aplicao de cada um dos produtos. ..................................................................... ............... 84

    Figura 48. Grfico box-plot relativo aos valores de pH determinados antes da aplicao decada um dos produtos. ............................................................................. ............................................... 84 Figura 49. Grfico box-plot relativo aos valores de hidratao (UA) determinados2 horas aps a aplicao de cada um dos produtos. ................................................................... ...... 86 Figura 50. Grfico box-plot relativo aos valores de pH determinados2 horas aps a aplicao de cada um dos produtos. ................................................................... ...... 86

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    ndice de Tabelas

    1. INTRODUO

    Tabela I. Caractersticas dos vrios tipos de pele. .................................................................................. 15

    Tabela II. Representao esquemtica dos procedimentos necessrios para manter ourestabelecer o equilbrio hdrico epidrmico. ............................................................................................ 22

    2. PARTE EXPERIMENTAL

    Tabela III. Frmula da emulso semi-slida O/A. ..................................................................... ............... 41

    Tabela IV. Composio das emulses semi-slidas O/A obtidas. ........................................................ 42

    Tabela V. Frmula do gele hidrfilo. .......................................................................................................... 43

    Tabela VI. Composio dos geles hidrfilos obtidos. ............................................................................. 43

    Tabela VII. Anlise organolptica aps preparao. ................................................ .............................. 55

    Tabela VIII. Anlise organolptica aps 30 dias. ...................................................................... ............... 56

    Tabela IX. Anlise organolptica das amostras armazenadas a 20 C, aps 90 dias. ..................... 56

    Tabela X. Anlise organolptica das amostras armazenadas a 40 C, aps 90 dias. ....................... 57

    Tabela XI. Anlise ANOVA da hidratao e do pH antes da aplicao dos produtos. ...................... 85

    Tabela XII. Anlise ANOVA da hidratao e do pH 2 horas aps a aplicao dos produtos. .......... 87

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    Lista de abreviaturas e Smbolos

    AH cido Hialurnico;EHL Equilbrio Hidrfilo-Lipfilo;Emulso A/O Emulso gua/leo;Emulso A/O/A Emulso gua/leo/gua;Emulso O/A Emulso leo/gua;Emulso O/A /O Emulso leo/gua/leo;FDA Food and Drug Administration ;FHN Factor Humectante Natural;

    FP VIII Farmacopeia Portuguesa VIII, 2005;GAGs Glucosaminoglicanos;HAS enzima sintetase do cido Hialurnico;HYAL hialuronidase, enzima que degrada o cido Hialurnico;NMF Natural Moisturizing Factor ;PVP Polivinilpirrolidona;TEWL Perda transepidrmica de gua;

    Radiao UV Radiao Ultravioleta;

    Aneg rea negativa;Fmx Fora mxima;T Tenso de corte; - Velocidade de corte.

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    1. INTRODUO

    1.1. Envelhecimento cutneo

    A pele reveste praticamente toda a superfcie do corpo, constituindo umabarreira eficaz de defesa e regulao, assegurando as relaes entre o meiointerior e exterior. o rgo de maior dimenso do organismo humano,representando cerca de 16% do peso corporal. 1 a pele que determina o aspectoou a aparncia, imprime carcter sexual e racial e protege o corpo, pelo facto dese tratar de uma barreira dotada de resistncia, semi-permeabilidade eplasticidade.Com o envelhecimento, o ser humano tende a tornar-se cada vez mais diverso eheterogneo, o que especialmente notrio ao nvel da pele, inmeros que soos fenmenos bioqumicos e metablicos que nela ocorrem, medida que a idadeavana. 5

    O envelhecimento da pele um processo complexo e multifactorial do qualresultam alteraes severas em termos estticos e funcionais. Com o tempo,estas alteraes levam ao declnio das funes biolgicas da pele que deixa deter capacidade para se adaptar s constantes agresses de que vai sendo alvo. 6

    Nos pases desenvolvidos, tem vindo a aumentar o interesse pelo estudo doenvelhecimento cutneo, o que est relacionado com o progressivo e dramticocrescimento em nmero absoluto e da proporo de populao envelhecida.Tanto os factores psicossociais associados, como os prprios efeitos fisiolgicos

    do envelhecimento da pele nestes indivduos, tm contribudo para a necessidadede melhor conhecer todo o processo e, muito particularmente as possveisintervenes efectivas.7,8 Estudos contnuos tm mostrado que o envelhecimento resulta, basicamente, daaco conjunta de dois processos diferentes: o envelhecimento cronolgico,tambm designado intrnseco, e o envelhecimento extrnseco, isto , causado porfactores ambientais, de entre os quais, o foto-envelhecimento o que apresenta

    maior importncia.5,6,9,10,11,12

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    O envelhecimento induzido pelos factores ambientais apresenta caractersticasmorfolgicas e fisiopatolgicas que podem ser diferentes daquelas que socausadas pelo envelhecimento biolgico ou intrnseco.5

    Os sinais clnicos associados ao fotoenvelhecimento so a hiperpigmentao, aperda de elasticidade, o amarelecimento e em casos mais agressivos, podemesmo conduzir a alteraes malignas da pele. Uma pele velha no exposta radiao pode apresentar perda de firmeza e acentuao da rugosidade, contudofaltam sinais de dano actnico. O envelhecimento intrnseco caracteriza-se, ainda,pelo aparecimento de rugas finas, sendo que a pele perde cada vez maisespessura tornando-se transparente; h perda de tecido adiposo subjacente,

    perda de firmeza e surgem sinais de desidratao excessiva. 5

    Em termos anatmicos, a pele constituda fundamentalmente por dois tecidos justapostos que so a epiderme e a derme. 2 Alm destas, comum verificar quealguns autores consideram a estratificao da pele em trs camadas distintas poisincluem a hipoderme.2 (Fig. 1)

    Figura 1. Representao esquemtica da pele.3

    De um modo geral, enquanto a epiderme se encontra organizada em diferentes

    camadas ou estratos de clulas epiteliais com caractersticas distintas, a derme formada maioritariamente por tecido conjuntivo denso. Este tecido conjuntivo

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    formado por clulas e elementos extracelulares, sendo que no que respeita sclulas, elas podem ser residentes, tais como os fibroblastos, os histicitos, osmacrfagos e os mastcitos, ou ento serem migratrias como os leuccitos e os

    plasmcitos. Quanto aos elementos extracelulares, estes so a substnciaintersticial e as fibras. Na substncia intersticial ou tambm designada defundamental, dispem-se clulas e fibras de natureza variada. (Fig. 2)

    Figura 2. Representao esquemtica da composio da substncia intersticial. 4

    A substncia fundamental amorfa, sendo maioritariamente formada porglicoprotenas, designadamente mucopolissacardeos cidos. Estas glicoprotenastm um elevado teor molecular em hidratos de carbono, tomando, por isso adesignao de proteoglicanos de mucopolissacardeos cidos, sendo que um dosmais abundantes na derme o cido hialurnico.

    A pele um rgo muito extenso que desempenha um papel fundamental na

    proteco do organismo na sua totalidade, tanto ao nvel das agressestraumticas como ao nvel das variaes climatricas. 47 As funes principais dapele incluem conteno de fluidos e tecidos, proteco em relao ao exterior,excreo, secreo, acumulao e absoro de substncias, termorregulao,sntese de melanina, percepo sensorial e regulao de processosimunolgicos.57 A pele tem um papel mecnico do maior interesse, pois permite, mediante as

    suas propriedades plsticas a realizao de todos os movimentos sem que hajanormalmente ruptura tecidual. A pele portanto resistente e flexvel, sendo essas

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    propriedades conferidas, principalmente, pelas protenas fibrosas como ocolagnio e a elastina, e auxiliadas tambm pelo facto das fibras se encontraremimersas em lquido de natureza mucopolissacardica (substncia fundamental da

    derme). Deste modo, ao dar-se a distenso cutnea ocorre deslocamento parcialsimultneo da substncia fundamental. O carcter elstico da pele permite, apsuma extenso, que os contornos iniciais se mantenham, sendo que estaextensibilidade atribui-se ao alinhamento rgido das fibras de colagnio que sobtenso tendem a orientar-se pela sua elasticidade paralelamente ao eixo da foraaplicada. Naturalmente que as fibras de elastina tm um papel muito importanteno fenmeno. A este nvel, o estrato crneo revela-se bastante interessante, uma

    vez que, sendo ainda mais resistente do que a derme suficientemente elsticopara permitir os movimentos do corpo. Contudo, a sua flexibilidade muitovarivel, facto que depende directamente de factores tais como as condiesatmosfricas (humidade do ar), o contacto com detergentes ou solventes etambm a existncia de doenas hiperqueratsicas. 2

    A pele no seu estado normal, funciona como uma excelente interface entre o meio

    interno e o ambiente, atravs mais uma vez da existncia crucial do estratocrneo, mas tambm dos apndices cutneos. Concretamente, o estrato crneoapresenta permeabilidade selectiva 58 em relao a materiais que pretendamatravessar a barreira da pele, pelo que s o conseguem aqueles cujas dimensesso moleculares. Assim, a pele constitui uma barreira muito eficaz contra ainvaso por microrganismos, dificultando, deste modo a proliferao de fungos ebactrias em tecidos viveis. O estrato crneo tambm constitui uma ptima

    barreira que impede ou dificulta a entrada de substncias qumicas,medicamentosas ou no e funciona, tambm como barreira trmica. A permeabilidade selectiva da pele constitui, como j foi referido uma das suasfunes protectoras, nomeadamente no que se refere tambm capacidade dedificultar ou at impedir a passagem de radiaes electromagnticas. 58 Asprotenas em geral e os pigmentos melnicos em particular, sobretudo asmelaninas, dispem de capacidade mxima na absoro das radiaes cujocomprimento de onda de 280 nm. No entanto, a aco protectora da pele emrelao s radiaes no se encontra circunscrita apenas camada basal. Na

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    realidade, a camada crnea constitui o primeiro filtro cutneo na penetrao dasradiaes ultravioleta (UV). As suas protenas, particularmente a queratina,desempenham tambm alguma aco foto-protectora, por disperso e absoro

    das radiaes ultravioleta (UV). Por outro lado, a exposio repetida radiaoUV provoca hiperplasia epitelial com espessamento da camada crnea e aumentoda tolerncia cutnea luz.

    A funo primordial da pele , como j foi referido, a de proteger o organismo deagresses ambientais, nomeadamente a radiao solar, as infeces, astemperaturas extremas, a desidratao, bem como os traumas mecnicos. A pele

    est, portanto, envolvida em mecanismos de imunizao, processos endcrinos efunes neurolgicas.6 Todas estas funes vo sofrendo deteriorao com aidade, de acordo com o que est geneticamente determinado, mas umfenmeno extensamente agravado por factores ambientais. 6,59

    A pele , normalmente, classificada em quatro tipos, de acordo com a produosebcea que apresenta: pele normal, seca, oleosa e mista. Um outro tipo que se

    pode acrescentar lista a pele sensvel, devido sua crescente popularidade,criada volta da grande variedade de produtos alvo. Esta classificao aplica-se,particularmente pele do rosto porque, sendo aquela que est mais exposta, paraalm das mos, a que melhor reflecte o seu estado tendo em conta a idade, asituao geogrfica e estado de sade. (Tabela I)

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    Tabela I. Caractersticas dos vrios tipos de pele.

    TIPOS DE PELE

    Pele normal Pele oleosa Pele seca Pele mista

    Aspecto mate,pele flexvel,firme e slida.

    Aspectoluminoso, pelecom muito

    brilho, devido aexcesso desebo cutneo.

    Pele alpica Pele desidratada A zona T(nariz e mento)apresenta

    caractersticasde pele oleosa,enquanto outraszonas sopobres emsubstnciaslipdicas comtendncia aficarem secas eirritadas.

    Aspecto baopor insuficinciadecomponentesgordos.

    Pele seca porfalta de gua,diminuio doslpidos cutneoshidrfilos.

    O envelhecimento cutneo intrnseco influenciado pela passagem do tempo erelaciona-se directamente com o processo de senescncia do prprio organismo,sendo por isso, praticamente um fenmeno inevitvel. Ao contrrio, oenvelhecimento extrnseco , por definio, susceptvel de interveno, uma vez

    que resulta da aco nefasta de factores externos. De entre estes factores, aradiao UV contribui em cerca de 80% para todo o processo, constituindo ofactor mais importante para o envelhecimento prematuro da pele. Desta forma, ostratamentos disponveis, actualmente, so direccionados para combater oenvelhecimento extrnseco.O conceito anti-envelhecimento concentra-se em duas estratgias: preveno e

    tratamento. A preveno implica um conjunto de aces que visam evitar e

    reduzir o aparecimento dos sinais de envelhecimento, enquanto o tratamento

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    pretende reverter determinadas manifestaes clnicas visveis de uma peleenvelhecida.

    O tratamento anti-envelhecimento pode considerar-se dividido nos seguintesgrupos:

    Aplicao de cosmticos; Agentes tpicos; Agentes sistmicos; Procedimentos cirrgicos;

    Enquanto a aplicao de cosmticos se refere aos gestos dirios de protecosolar e de hidratao, os agentes tpicos dizem respeito aplicao tpica decosmticos que contm na sua composio substncias antioxidantes, retinides,hidroxicidos, despigmentantes, factores de crescimento, citoquinas e outrospptidos, estrognios e agentes anti-inflamatrios.55

    Para o seu estado de equilbrio, a pele necessita da contribuio integrada detodos os seus organitos e respectivas secrees, cujas funes convergem,resultando na multiplicidade de propriedades que apresenta. A conservao dahomeostasia cutnea resulta, assim, da capacidade de sntese e metabolizao edas regulaes hemodinmicas e trmicas da pele. 58 Em termos concretos, manifesta-se de grande importncia o factor hidratao dapele, o qual ao nvel do estrato crneo fundamental, j que necessrio que

    exista sua superfcie um equilbrio adequado de lpidos, de substnciashidrossolveis, da quantidade de gua, bem como de queratinas para que aflexibilidade seja mxima. A gua mesmo considerada como principal agenteplastificante ou amolecedor da pele, pelo que para termos condies ideais demanuteno das suas boas funes, deve encontrar-se numa concentraocompreendida entre 10 a 20%. A capacidade em fixar a gua no estrato crneo apartir dos tecidos mais profundos depende dos compostos nela dissolvidos e doslpidos teciduais, sendo que quanto menor for a poro lipdica menor areteno.

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    1.1.1. Hidratao

    Hidratao um termo que engloba um vasto leque de significados e

    interpretaes, dependentes da forma como nos referimos pele em termos deaparncia macroscpica, textura ou suavidade ao toque. Contudo, o conceito-chave a existncia de gua na pele. A suavidade da pele ao toque ,efectivamente, obtida custa de gua. A maior parte dos investigadores postulaque necessrio um mnimo de 10% de gua no estrato crneo para produzirelasticidade/flexibilidade e suavidade, sendo que a taxa de hidratao certa achave da manuteno da integridade da pele humana. 39,47

    A gua , absolutamente, essencial para o normal funcionamento da pele,particularmente para a camada mais externa, o estrato crneo. A perda de guada pele regulada fisiologicamente e depende, de um conjunto de factoresrelacionados com a natureza complexa do estrato crneo. A reteno de gua a nvel do estrato crneo depende, essencialmente de doiscomponentes maioritrios:

    1. a presena de agentes higroscpicos naturais no interior dos cornecitos(colectivamente referidos comoFactor Humectante Natural );

    2. a existncia de lpidos intercelulares devidamente organizados para formaruma barreira contra a perda transepidrmica de gua ( TEWL ).

    Por outro lado, tambm parece contribuir para minimizar a perda de gua, o facto

    de a difuso das molculas de gua ser lenta, uma vez que tm de percorrer umtortuoso percurso criado pelo arranjo das camadas do estrato crneo e dosgrupos de cornecitos.48,49 O Factor Humectante Natural (NMF, do ingls Natural Moisturizing Factor )reporta-se a uma mistura complexa de compostos hidrossolveis e de baixo pesomolecular, formados primariamente, no interior dos cornecitos pela degradaode uma protena rica em histidina, designada por filagrina.48 Estas substnciasesto relacionadas com o aporte e fixao da gua no estrato crneo, sendo porisso agentes com propriedades hidratantes. O NMF constitudo por uma mistura

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    de aminocidos, cidos orgnicos e seus sais, ureia e ies inorgnicos. (Fig. 3) 55 De entre eles, o lactato de sdio e o sal sdico do cido 2- pirrolidona-5-carboxlico, parecem ser os componentes com a maior capacidade higroscpica.

    Figura 3. Composio qumica do FHN.47

    O contedo de gua do estrato crneo necessrio para o seu prprio processode maturao e tambm essencial no fenmeno de descamao da pele. Assim, um aumento da perda transepidrmica de gua (TEWL) conduz a danosfuncionais nas enzimas envolvidas no processo de descamao normal da pele,do que resulta a formao de pequenos flocos visveis superfcie da pele, oque constitui o aspecto de uma pele desidratada. 49,50 Para alm do problemaesttico, dado o seu aspecto bao e spero, a pele desidratada apresenta perdas

    acentuadas das propriedades biomecnicas e biolgicas.

    Para assegurar um papel fisiolgico de proteco, o estrato crneo deveapresentar flexibilidade e elasticidade adequadas. A percentagem de guacontida nesta camada celular funciona como plastificante que associa asmolculas solveis do NMF s protenas da epiderme. Pode considerar-se duasorigens para esta gua:

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    origem endgena : a gua encaminhada desde a derme at superfciecutnea atravs de uma difuso molecular, dando origem chamadaperspirao insensvel e uma perda sensvel constituda pelo suor

    (transpirao);

    origem exgena : a gua fornecida por contacto com o meio ambiente,quando a atmosfera est com humidade elevada ou quando so aplicadoscosmticos hidratantes que vo fornecer gua s clulas que contenhamNMF, corpsculos com alto poder higroscpico; no entanto, a sua eficciaest dependente, igualmente das perdas por evaporao que tero de ser

    reduzidas (o que se consegue com a aplicao de cremes-barreira); 47

    A pelcula hidrolipdica que existe superfcie da epiderme e que recobre toda acamada crnea corresponde a uma emulso formada pelos produtos de secreodas glndulas sebceas (sebo) e sudorparas (suor). A elasticidade da pele definida pela capacidade que esta tem de voltar aoestado inicial, assim que cessam as foras que provocam essa extenso. Esta

    propriedade depende da actividade das fibras elsticas e de colagneo, masigualmente do estado de hidratao da substncia fundamental, pelo que deextrema importncia a manuteno do contedo hdrico da pele. A elasticidadevaria de acordo com alguns estados fisiolgicos, mas tambm com a idade, peloque essencial promover um bom estado de hidratao da pele, para actuar napreveno do envelhecimento cutneo. No decorrer da senescncia cutnea, apelcula hidrolipdica reduz-se e o teor em gua na pele vai diminuindo, passando

    de 13% para cerca de 7%, assim como a concentrao em glucosaminoglicanos(GAGs - factores de elasticidade do tecido conjuntivo) e dos electrlitos do tecidodrmico, o que d origem a um aumento da velocidade de desidratao dacamada crnea. Pe-se, assim, em evidncia a importncia da presena emquantidades adequadas de glicosaminoglicanos como um dos factoresresponsveis pela manuteno da hidratao drmica e epidrmica da pele. 39,47

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    A desidratao pode ser favorecida por vrios factores, dos quais se destacam osseguintes:

    o vento, as mudanas bruscas de temperatura, a exposio excessiva aosol e ao ar seco favorecem a evaporao da gua de superfcie e, portanto,levam a uma diminuio do grau de hidratao da camada crnea;

    substncias qumicas: tensioactivos detergentes (laurilsulfatos, laurilter-sulfatos, alquilarilsulfatos e outros), assim como os solventes orgnicos(lcool, ter de petrleo), eliminam os lpidos cutneos e, na sequncia,

    so arrastados os compostos hidrossolveis, suprimindo toda apossibilidade de fixao ou reteno de gua pela camada crnea;

    certas doenas (ictioses, dermatoses, psorase, eczemas) provocamalterao na camada crnea e perturbam a hidratao, tornando-a incapazde fixar e reter a gua;

    o processo de envelhecimento intrnseco da pele. 47,53

    Na maioria dos casos, a pele desidratada pode ser tratada, adequadamente, coma aplicao diria de produtos hidratantes, o que faz desta classe de cosmticos amais comummente utilizada a nvel tpico.51,52 Os cosmticos hidratantes so capazes de restabelecer o contedo hdrico dapele desidratada, proteg-la e proporcionar as condies necessrias

    recuperao das suas propriedades naturais. So exemplos de substncias compropriedades hidratantes:

    compostos higroscpicos constituintes do NMF, como a ureia, o cido 2-pirrolidona-5-carboxlico, a alantona, os hidrolisados de protenas;

    humectantes, tais como a glicerina, o proprilenoglicol, o sorbitol, os sais de

    cidos fracos e em particular, o lactato de sdio;

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    substncias com caractersticas oclusivas: vaselinas, parafinas. 47,53,56

    Em termos qumicos, as substncias hidratantes podem ser de natureza hidrfilaou lipfila. Um estudo recente (Bouwstraet al , 2009) demonstrou que 3 horasaps a aplicao, os hidratantes de natureza hidroflica penetram maisrapidamente do que os lipfilos, sendo que estes ltimos ficam abundantementeretidos nas regies mais externas do estrato crneo. Pde verificar-se, ainda, queno se obteve aumento do contedo hdrico no estrato crneo com os compostoslipfilos, enquanto os hidratantes de natureza hidroflica conduzem ao aumento dareteno de gua nas camadas da pele para onde se deslocam. 54 Num produto cosmtico hidratante so utilizadas, por vezes, outras substnciasespecficas com carcter emoliente para auxiliar o efeito hidratante e, aindaextractos com caractersticas suavizantes e refrescantes (alo vera, camomila,arnica, calndula, centelha asitica, malva, tussilagem).

    Para evitar a desidratao (ou ressecamento) da pele deve impedir-se,essencialmente, a evaporao da gua, de acordo com dois princpios

    fundamentais:

    evitando ou diminuindo o efeito das agresses externas; utilizando produtos cosmticos adequados para corrigir e restabelecer o

    equilbrio biolgico.47 (Tabela II)

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    Tabela II. Representao esquemtica dos procedimentos necessrios para manter ourestabelecer o equilbrio hdrico epidrmico.

    MECANISMO DE CORRECO EXEMPLOS DE COMPOSTOS

    Mecanismo passivo Creme oclusivo (vaselina)

    Mecanismo activo Substncias higroscpicas e humectantes(glicerina, sorbitol, propilenoglicol, cidohialurnico);Substncias filmognicas (hidrolizados de protenas e derivados aminoglicdicos)

    Incorporao nos produtos cosmticosde lpidos hidrfilos

    Efeito protector e emoliente: triglicridosde origem vegetal, cera animal como alanolina e seus derivados, colesterol e seussteres.

    Fornecimento de cidos gordos

    essenciais

    Vitamina F, cidos araquidnico,

    linolnico, linoleico.

    Incorporao de substncias especficassemelhantes composio do NMF

    Ureia, lactato de sdio, pirrolidonacarboxilato de sdio)

    Incorporao de substncias sobre ometabolismo celular, providenciando oequilbrio hdrico profundo

    Extractos biolgicos animais, vegetais emarinhos

    Recurso a substncias com aco naestrutura dermo-epidrmica

    cido retinico, alfa-hidroxicidos)

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    Actualmente, os cosmticos hidratantes disponveis exercem a sua actividademediante dois mecanismos de hidratao diferentes:

    Hidratao por fixao de gua endgena

    As preparaes hidratantes procuram suplantar as insuficincias dabarreira epidrmica repondo a funcionalidade da pelcula hidrolipdica comprodutos que se opem evaporao excessiva da gua recorrendo a:

    hidrocarbonetos diversos: vaselina, leo de vaselina, peridroesqualeno;

    ceras: cera de abelhas, branco de baleia ou seus derivados sintticos,

    lanolina; leos vegetais hidrfilos: leo de amndoas doces, grmen de trigo,

    abacate, argan, leos animais especficos ou seus derivados: leo devison, de tartaruga, lcoois gordos cetlicos e estearlicos.

    Hidratao por fixao de gua exgena

    A preparao de hidratantes deste tipo recorre a produtos higroscpicos ehumectantes:

    poliis hidrossolveis (glicerol, sorbitol, propilenoglicol, poliglicis);

    cido pirrolidona carboxlico, lactato de sdio e ureia; Alguns destes elementos so veiculados recorrendo a novas tecnologias

    (lipossomas, niossomas, ciclodextrinas microesferas, nanosferas).Outras substncias com papel na hidratao e no anti-envelhecimento:

    vitaminas: vitamina E, vitamina A, vitamina PP, vitamina C.47

    A manuteno de uma pele devidamente hidratada constitui um passo essencialpara promover a conservao do seu aspecto jovem, prevenindo o processo deenvelhecimento cutneo. Assim, de referir os cuidados a ter em conta parapreservar a pele das agresses externas, em particular da desidratao:

    evitar a exposio solar excessiva e sem proteco eficaz; para evitar oenvelhecimento precoce da pele com o aparecimento da xerose,

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    fundamental a utilizao de produtos protectores solares de forma a evitaro aparecimento de fotoalergias, sensibilidade exagerada e roscea;

    desaconselhvel a utilizao de detergentes formulados com teoresexcessivos de tensioactivos como o laurilsulfato de sdio e seus derivados,ou simplesmente o uso de produtos de higiene demasiadamentedesengordurantes;

    so, igualmente, desaconselhadas as loes tnicas com elevado graualcolico, tanto pela sua aco desengordurante como pelo possvel efeito

    irritante;

    as substncias humectantes, como a glicerina, no devem ser utilizadasisoladas sobre a pele, pois o seu grande poder higroscpico tanto poderetirar gua da atmosfera como da prpria epiderme, dependendo doestado higromtrico do ar (humidade relativa);

    os hidrocarbonetos como a vaselina, quando utilizados diariamente, podem

    irritar a pele, tornando-a mais descamativa e ainda aumentar a espessurada camada de Malpighi;

    para a limpeza do rosto devero ser utilizadas emulses fluidas (leites) comemulsionantes no inicos, anfotricos ou derivados naturais, evitandotanto quanto possvel os produtos alcalinos obtidos por saponificao dematerial gordo com bases fortes (pH>8);

    aplicao diria e frequente de cosmticos hidratantes adequados.

    Como sabido, uma pele seca e/ou desidratada apresenta mais precocementesinais de envelhecimento do que uma pele normal ou mista/oleosa. Por outrolado, sabe-se tambm que as caractersticas de hidratao da pele sodeterminantes para a gravidade dos sinais clnicos tpicos do envelhecimento,pelo que uma pele seca ou desidratada, quando envelhece apresenta rdulas e

    rugas mais profundas e mais difceis de reverter, maior perda de firmeza eelasticidade do que uma pele normalmente hidratada. Assim, hidratao e anti-

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    envelhecimento so dois conceitos dependentes e intimamente ligados, pelo quemuitos produtos cosmticos com aco anti-rugas possuem na sua composiosubstncias como o colagnio e outros constituintes do tecido conjuntivo, como o

    cido hialurnico, reinvindicando efeito revitalizante, mas a sua aco principalmente hidratante.

    1.2. cido hialurnico

    O cido hialurnico (AH) um polmero carbohidratado linear e natural quepertence classe dos glicosaminoglicanos no-sulfatados. 13 Em 1934, foi isolado, pela primeira vez, a partir do humor vtreo de bovino, porMeyer et al., que prosseguiram os seus estudos do que resultou, cerca de 20anos mais tarde, o conhecimento da estrutura do AH. 13,14,18 O AH um polissacardeo composto por unidades dissacardicas repetidas decido D-glucurnico e N-acetilglucosamina. (Fig.4) Normalmente, o grupocarboxlico (-COOH) do cido D-glucornico forma um sal sdico, pelo que aforma mais comum do AH o hialuronato de sdio. (Fig.5) Os monmeros

    dissacardicos formam a cadeia atravs de ligaes -1,4 glicosdicas. Cadadissacardeo apresenta um peso molecular de cerca de 400 Da, o que leva a quea cadeia polimrica de AH possa atingir os 10 MDa.13,14,15,25

    Figura 4 . Representao esquemtica da estrutura do cido hialurnico. 35

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    Figura 5 . Representao esquemtica da estrutura do hialuronato de sdio. 36

    O AH o nico biopolmero cuja estrutura se encontra altamente conservada eidntica em todas as espcies. 13 O AH encontra-se disperso por todo o organismohumano, sendo especialmente abundante no tecido conjuntivo. Atingeconcentraes mais elevadas no tecido cartilagneo, no humor vtreo, no lquidosinovial das articulaes e no cordo umbilical, sendo responsvel pelamanuteno da homeostasia tecidular. 37 Estima-se que a quantidade total de AHno organismo ronda os 12 gramas, mas na pele que se encontra a maiorquantidade (aproximadamente 7 g).13,14,21,29

    O AH o componente maioritrio da matriz extracelular da derme; sintetizadona membrana plasmtica dos fibroblastos e outras clulas (sinoviais, endoteliais,musculares) e libertado, imediatamente no espao extracelular. 17,21,26,34 Umestudo feito por Bont et al. (2007) veio demonstrar que tambm existe cidohialurnico na epiderme, o que se revela interessante na manuteno da estruturanormal do estrato crneo e na funo de barreira epidrmica. 49 Nos mamferos, esto identificadas trs sintetases homlogas responsveis pela

    segregao do AH, so elas: a AHS1, AHS2 e AHS3.20,32 O catabolismo do AH extremamente rpido, pelo que ao nvel da pele, o seutempo de semi-vida inferior a 24 horas.14 A degradao do AH pelas enzimashialuronidases influenciada por factores trmicos, enzimticos e interacesoxidativas (interferncia de radicais livres).14,32

    Apesar da sua estrutura simples, o AH detm funes de grande importncia emnumerosos fenmenos do organismo. As suas funes biolgicas dependem do

    seu peso molecular e resultam da sua interaco com determinadas protenas deligao (hialaderinas) e receptores de superfcie, pelo que o AH apresenta

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    excelentes caractersticas de sinalizao celular. 17,28,29,31,40 Este polmero estdirectamente envolvido em processos tais como a embriognese, a inflamao, ofenmeno metastsico ou de progresso tumoral, a renovao tecidular, a

    angiognese, bem como o processo de cicatrizao. 17,18,19,21,30 No processoinflamatrio, est demonstrado que fragmentos oligossacardicos derivados do AHdesempenham um papel importante na estimulao da secreo de citoquinas ena proliferao de clulas endoteliais.17,18 A cicatrizao um processo dinmico e envolve diferentes fasesinterrelacionadas que visam a reparao da integridade tecidular. Este fenmenoreflecte a existncia de uma resposta orgnica complexa que resulta da

    interaco entre diferentes tipos de clulas e os componentes da matrizextracelular. A este nvel, o AH desempenha um papel-chave em cada fase decicatrizao porque estimula a migrao, a diferenciao e a proliferaocelulares e, por outro lado, regula a organizao e o metabolismo da matrizextracelular.17,18

    Desde 1980 que as vrias propriedades e funes do AH vm sendo

    demonstradas em contnuos estudos de forma que, actualmente, este biopolmeroseja reconhecido como um composto de elevado valor, no que respeita snumerosas aplicaes, nomeadamente nas reas biomdica e tecnolgica. 13 AFDA (Food and Drug Administration) tem aprovado inmeros produtos derivadosdo AH que tm sido empregues, designadamente em oftalmologia comosubstitutos do humor vtreo no olho; em reumatologia, no tratamento daosteoartrite; na reparao tecidular de feridas cirrgicas e outras e como matriz

    para a libertao de determinados frmacos.24,40

    O AH desempenha um papelfundamental na manuteno da integridade mecnica dos tecidos.Devido ao seu comportamento polianinico, o AH no favorece a adeso celularnem proteica. 37 A vasta aplicabilidade do AH deve-se s suas excelentes caractersticas

    higroscpicas, ao seu ptimo comportamento reolgico e s suas propriedadesvisco-elsticas.23,37,40

    O nmero de produtos cosmticos que incluem o AH na sua formulao temvindo a aumentar, devido natureza viscoelstica nica desta substncia, bem

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    como ao facto de ser extremamente bem tolerada, o que significa um risco muitoreduzido ou quase inexistente de efeitos adversos. A molcula de AH no imunognica, sendo que esta biocompatibilidade est relacionada com o facto da

    sua estrutura molecular ser semelhante entre espcies distintas, do que resultamtambm as suas caractersticas biodegradveis. 14,15,37,38,40,42

    O AH tem sido, amplamente, utilizado na rea da Dermocosmtica, sendoincorporado em produtos cosmticos de aplicao tpica, essencialmente comoagente hidratante e anti-envelhecimento.13,14,27,41 O AH uma das molculas maishigroscpicas da natureza, pelo que, quando hidratado, pode conter cerca de

    1000 vezes o seu tamanho em molculas de gua. Assim, este efeito particularmente relevante ao nvel da pele, pela sua capacidade hidratante, o quecontribui para manter ou recuperar a sua elasticidade. 13 O AH apresenta, portantouma elevada solubilidade em gua, que devida a diversos factores, mas est,especialmente, relacionada com a presena de 4 grupos hidroxilo (-OH) e umgrupo salino COO- Na+ por cada unidade dissacardica. Deste modo, os gruposhidroxilo estabelecem ligaes por pontes de hidrognio com as molculas de

    gua, o que estabiliza o seu estado solvatado. Por outro lado, o grupo salinodissocia-se na gua segundo uma reaco qumica energeticamente favorvel. 15

    O AH exibe tambm efeito antioxidante, porque funciona como agentesequestrante de radicais livres, o que aumenta a proteco da pele em relao radiao UV e contribui para aumentar a capacidade de reparao tecidular. 13

    O envelhecimento cutneo , como j foi referido, um processo natural que

    conduz a alteraes fisiolgicas nas funes da pele. A exposio radiao UVafecta os processos biolgicos, acelerando o processo de envelhecimento. A pelevelha , tipicamente, seca e irregular e apresenta rugas e rdulas, bem comoelasticidade reduzida.13 O envelhecimento extrnseco (aquele que resulta dainfluncia da exposio a factores externos/ambientais) est associado ainmeras alteraes, entre elas a expresso do AH e as suas enzimas demetabolizao. O que se verifica que, com o envelhecimento, ocorre umaumento acentuado na expresso de AH de baixo peso molecular, o que estrelacionado com a diminuio significativa das enzimas de sntese

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    (particularmente HAS1) e um aumento da expresso das hialuronidases (HYAL1-3). Por outro lado, pode verificar-se tambm que a expresso de receptorescelulares para o AH (CD44 e RHAMM) se encontra diminuda numa pele

    fotoexposta, quando comparada com a pele fotoprotegida. 22,33,43

    A secura cutnea uma das desordens mais evidentes da pele envelhecida, daque um dos gestos dirios essenciais o uso de produtos hidratantes. Umhidratante um produto cosmtico capaz de restabelecer e/ou contribuir para amanuteno das caractersticas de hidratao do estrato crneo. 13 Estudos tmdemonstrado que a aplicao tpica de um hidratante contendo AH constitui um

    tratamento eficaz no combate desidratao cutnea e, por conseguinte, napreveno do envelhecimento da pele, o que est directamente relacionado coma sua capacidade de reteno da gua e propriedades hidratantes. 13,30

    Embora a utilizao de AH se encontre predominantemente associada injecode agentes de preenchimento drmico (dermal fillers), tambm tem sido prticacomum a sua aplicao tpica, mediante o uso de cremes e geles. 14,16 O AH comeou por ser extrado a partir de tecidos de origem animal, tais como a

    crista de galo e o cordo umbilical humano. Contudo, a sua produo porprocessos biotecnolgicos constitui, actualmente, uma tcnica utilizada em largaescala, recorrendo fermentao microbiolgica, essencialmente de duasespcies de bactrias: Streptococcus e Bacillus .13,14,42,44 O AH produzido pormtodos que visam limitar ou eliminar a presena de agentes infecciosos. Quandoa produo efectuada por fermentao por meio de bactrias Gram-positivas, demonstrado que o processo utilizado permite limitar ou eliminar os constituintes

    da parede celular com caractersticas pirognicas ou inflamatrias.O AH apresenta-se como um p branco ou quase branco, muito higroscpico oucomo um agregado fibroso (Farmacopeia Portuguesa VIII, 2005).

    1.3. Preparaes semi-slidas cutneas

    As preparaes semi-slidas cutneas so formuladas de modo a promoverem alibertao local ou transdrmica das substncias activas; so igualmenteutilizadas devido sua aco emoliente ou protectora. Apresentam aspecto

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    homogneo e so constitudas por um excipiente, simples ou composto, no qualso dissolvidas ou dispersas uma ou vrias substncias activas, sendo que acomposio do excipiente pode ter influncia na actividade da preparao. Os

    excipientes que se utilizam podem ser substncias de origem natural ou sintticae podem ser monofsicos ou multifsicos. Deste modo, conforme a natureza doexcipiente, a preparao pode ter propriedades hidrfilas ou hidrfobas. Por outrolado, a preparao pode conter outros excipientes apropriados, como agentesantimicrobianos, antioxidantes, estabilizantes, emulsionantes, espessantes epromotores da absoro. (Farmacopeia Portuguesa VIII, 2005) A administrao cutnea uma via especialmente destinada obteno de uma

    aco tpica, mais ou menos profunda, e s em casos particulares se recorre aela para se obter uma absoro sistmica do frmaco. 45

    Podem distinguir-se vrios tipos de preparaes semi-slidas cutneas:

    pomadas; cremes;

    geles; pastas; cataplasmas; emplastros medicamentosos.

    Consoante a sua estrutura, as pomadas, os cremes e os geles apresentamgeralmente, um comportamento viscoelstico e as propriedades dos fluidos no-

    Newtonianos (por exemplo, de tipo plstico, pseudoplstico ou com tixotropia)quando submetidos a velocidades de corte elevadas. Ao contrrio, as pastasapresentam, muitas vezes, comportamento dilatante. (Farmacopeia PortuguesaVIII, 2005)Devido s suas caractersticas, os cremes e os geles constituem os sistemassemi-slidos mais utilizados na produo de produtos cosmticos.

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    1.3.1. Cremes

    Os cremes so emulses semi-slidas que contm substncias medicamentosas

    ou ingredientes cosmticos dissolvidos ou suspensos nas suas fases aquosa ouoleosa. As emulses ou tambm designadas bases emulsionadas so,actualmente, um dos veculos mais utilizados na elaborao de produtoscosmticos, principalmente porque apresentam uma srie de vantagens entre asquais se destacam:

    a grande afinidade para o revestimento cutneo que reveste toda asuperfcie da pele;

    a possibilidade de incorporar, simultaneamente na mesmapreparao, substncias de natureza hidrfila e lipfila, capazes dese integrarem no filme hidrolipdico do estrato crneo;

    a possibilidade de se obterem veculos de diferentes texturas,consistncia e capacidade de penetrao;

    como veculos, as bases emulsionadas apresentam tambm elas,propriedades emolientes e hidratantes;

    podem actuar como agentes de limpeza bastante eficazes.39

    As emulses so definidas como sistemas heterogneos de duas ou mais fases,constitudos por um lquido disperso noutro lquido dispersante, no qual imiscvel.39 Esta disperso produzida pela formao de gotculas de dimetroscompreendidos entre 0,5-100nm. De acordo com a viscosidade da fase externa,as emulses podem classificar-se como fluidas (ex.: leite corporal) ou mais ou

    menos consistentes (ex.: creme hidratante).Basicamente, existem dois tipos de emulses:

    leo-gua (O/A): em que a fase interna constituda por substnciaslipfilas imiscveis com a fase externa, formada por sua vez, por gua esubstncias polares.

    gua-leo (A/O): em que a fase interna constituda por gua ecomponentes polares e a fase externa formada por compostosapolares.

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    Estes dois tipos de emulses (O/A e A/O) so sistemas emulsionados simples.Contudo, quando temos gotculas de outra fase no interior das gotculas da fase

    interna, estamos perante sistemas de emulso mltipla que podem denominar-se A/O/A ou O/A/O. (Fig. 6)

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    Figura 6. Representao esquemtica dos tipos de emulses descritos. 1. emulso O/A;2.

    emulso A/O;3. emulso A/O/A;4. emulso O/A/O.

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    As emulses so, por definio, sistemas termodinamicamente instveis, peloque rapidamente tendem a separar as fases quando so mantidas em repouso,sem agitao. Esta instabilidade consequncia da existncia de foras que

    tendem a reunir, novamente, as gotculas dispersas para formar uma fasecontnua, o que leva ruptura da emulso, algumas vezes reversvel, mas muitasvezes impossvel de reverter para o estado anterior. As formas de instabilidade fsica mais frequentemente observadas nas emulsesso:

    coalescncia : corresponde unio de gotculas entre si para formar outras

    de maiores dimenses, sendo que este constitui um fenmeno irreversvel; formao de creme : ocorre como consequncia de um agrupamento das

    gotculas oleosas da fase interna, devido s diferenas de densidade entreas fases que constituem o sistema, sendo, porm um processo reversvel,mediante agitao;

    sedimentao : produz-se quando uma parte da emulso se separa nosentido descendente, formando um sedimento mais ou menos compacto; a

    formao de creme e a sedimentao podem evitar-se aumentando aviscosidade do sistema;

    floculao : corresponde ao agrupamento de partculas em agregados ouflculos de carcter reversvel, pelo que facilmente se redispersa osistema por agitao.

    Com o objectivo de desenvolver sistemas fisicamente estveis, nos quais no se

    produzam os estados atrs referidos, podem utilizar-se mtodos que permitamfacilitar os fenmenos de repulso entre as partculas e/ou o fortalecimento dacamada interfacial do sistema.

    As emulses so constitudas por uma fase aquosa, uma fase oleosa e umagente emulsionante ou uma mistura de emulsionantes.

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    I. Fase aquosaConstituda, basicamente, por gua purificada, na qual se dissolvem oudispersam os seguintes constituintes:

    humectantes (glicerina, propilenoglicol, sorbitol), cuja funo a dereduzir ou impedir a perda de gua por evaporao nas emulsesdo tipo O/A;

    estabilizantes ou viscosificantes (cido poliacrlico, metilcelulose)para incrementar a consistncia das emulses O/A, de forma amelhorara estabilidade destas preparaes;

    conservantes: antimicrobianos e antioxidantes;

    substncias activas, que pela sua natureza, se podem incorporar nafase aquosa (extractos vegetais, sais minerais).

    II. Fase oleosaFormada por substncias de natureza apolar cuja funo principal aumentar a flexibilidade e suavidade da pele (emolincia), pelo que oscomponentes desta fase podem ser os seguintes:

    hidrocarbonetos; lcoois gordos;

    cidos gordos e seus steres;

    ceras;

    silicones.

    III. Sistema emulsionanteConstitudo por molculas com caractersticas anfiflicas, isto com umaparte polar, atrada pela gua ou outros lquidos polares, e uma parteapolar, preferencialmente atrada por componentes apolares ou oleosos.Estes compostos reduzem a tenso interfacial, dando lugar a emulses A/O ou O/A, consoante as suas tendncias lipfila ou hidrfila. Estatendncia dada pelo valor do Equilbrio Hidrfilo-Lipfilo (EHL).

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    Muitas vezes, opta-se por utilizar uma mistura de emulgentes para garantira estabilidade da emulso. Os emulgentes utilizados podem ser aninicos,catinicos, anfotricos ou no-inicos.

    As emulses podem actuar por si s como um produto cosmtico (cremesemolientes, protectores ou leites de limpeza) ou funcionar como veiculo demolculas activas que podem ser hidrfilas ou lipfilas (cremes ou leites solaresque incorporam filtros solares, cremes desodorizantes ou antitranspirantes ecremes anti-rugas).39

    Uma emulso cosmtica deve apresentar as seguintes caractersticas: textura agradvel; aspecto atractivo; estabilidade; facilidade em espalhar; adsoro nas camadas superiores da epiderme (o que permite um

    rpido desaparecimento do produto aplicado por enxaguamento).

    A maioria dos cremes cosmticos so emulses de leo em gua, embora sepreparem numerosos cremes A/O. Os cremes O/A apresentam, geralmente,elevado poder de penetrao a pele e tm propriedades molhantes, as quais lhespermitem atravessar a barreira lipdica cutnea que emulsionam. 45 Alm de seremgeralmente bem tolerados pela pele, os cremes O/A so facilmente removidos porsimples lavagem com gua.

    1.3.2. Geles

    Os geles so um tipo de preparao semi-slida cutnea que corresponde a umestado particular de soluo coloidal. Os geles so formados por uma redetridimensional constituda por macromolculas (agentes gelificantes), entre asquais se distribui o lquido.

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    Quanto composio, os geles so formados por: agente gelificante; gua ou solvente orgnico;

    humectante: glicerina, propilenoglicol ou sorbitol, que impede a evaporaorpida, uma vez que se aplicam sobre a pele;

    substncias activas.

    Os agentes gelificantes so classificados em funo da sua origem e da naturezados polmeros:

    polmeros naturais

    origem animal (casena, gelatina); origem vegetal:

    - exsudados vegetais (goma arbica, goma adraganta)- extractos de sementes (goma guar, amido e derivados)- extractos de algas (carragenina, alginatos)

    origem mineral:- silicatos alcalinoterrosos (bentonite)

    - silcio anidro (slica) polmeros sintticos

    derivados de teres de celulose:- metilcelulose- hidroxietilcelulose- carboximetilcelulose sdica

    polmeros vinlicos:

    - alcois polivinlicos- polivinilpirrolidona (PVP)

    polmeros carboxivinlicos:- carbmeros (Carbopol)

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    1.4. Objectivo

    O trabalho desenvolvido teve como objectivo a preparao de duas

    formulaes semi-slidas (gele e creme) contendo AH e a suacaracterizao fsica e mecnica. Por outro lado, pretendeu-se, ainda, avaliara capacidade hidratante do AH, mediante a realizao de ensaios debiometria cutnea.

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    2. PARTE EXPERIMENTAL

    2.1. Materiais e equipamento

    No desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas as seguintes matrias-primas e equipamento:

    2.1.1. Matrias-primas e reagentes

    Glicerina Farmacutica, J.M. Vaz Pereira, S.A., lote 032/08

    cido Esterico, Acofarma, lote 080719 B-9Trietanolamina Pura 99%. J.M.Vaz Pereira, S.A. lote 96873124 UO Aristoflex Gel, Clariant, lote GBG0003931 cido Hialurnico Sal Sdico, Acofarma, lote 090742 C-4Metilparabeno (cido metil-p-hidroxibenzico), Sigma, lote 70K0026Glicerina 85%, Fluka, lote 1318977

    2.1.2. Equipamento

    Agitador em hliceHeidolph RZR , Alemanha Agitador magnticoHeidolph , AlemanhaCentrfuga Eppendorf 5804 , AlemanhaViscosmetro Thermo Haake VT550 , AlemanhaTexturmetro Stable Micro Systems TA-XT2i , Reino UnidoEstufa Heraeus , AlemanhaEstufa Astell , Reino UnidoBalana Acculab , Alemanha AgitadorUnguator , AlemanhaSonda de hidratao Corneometer CM 825 (MPA 9, Courage-Khasaka), AlemanhaPotencimetro Skin-pH-Meter PH 905 (MPA 9, Courage-Khasaka), Alemanha Potencimetro pHmeter 691 Metrohm , Sua

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    2.2. Mtodos

    2.2.1. Preparao da emulso semi-slida O/A e do gele hidrfilo

    2.2.1.1. Preparao da emulso semi-slida O/A

    O creme do tipo O/A preparado neste trabalho corresponde a uma diadermina. Asdiaderminas so um tipo de creme leo-aquoso, que pela sua frmula semanifestam altamente penetrantes. 45 Embora este tipo de creme merea reservasem relao ao seu poder hidratante, uma vez que, como contm muita gua, asua evaporao parece arrastar consigo tambm a gua da superfcie,

    insuficientemente protegida pela quantidade reduzida de fase lipdica, no ,porm desadequado porque ir servir de veculo a uma substncia activa comelevado poder humectante (AH) e pretende-se que ocorra uma penetraosignificativa para que o AH atinja o local de aco. Por outro lado, os cremesevanescentes que contm cido esterico no deixam um resduomacroscopicamente detectvel e no so pegajosos nem gordurosos, pelo queesto relacionados com uma sensao agradvel para o consumidor. 47,60

    A emulso semi-slida O/A, cuja frmula se apresenta de seguida (Tabela III), foipreparada por adio da fase aquosa fase oleosa, mediante agitao manualat formao de creme e, posterior agitao automtica (agitador Unguator )durante 2 minutos para homogeneizao completa.

    Tabela III. Frmula da emulso semi-slida O/A.

    cido esterico .................................................................................. 24,0 gTrietanolamina ................................................................................... 1,2 gGlicerina.............................................................................................. 13,5 g gua destilada.................................................................................... 61,3 gMetilparabeno (p-hidroxibenzoato de metilo)..................................... 0,1 g

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    Partindo da formulao-base, foram preparadas emulses contendo AH naspercentagens de 0,1 e 0,5%, por incorporao em agitador Unguator durante 2minutos. (Tabela IV)

    Tabela IV. Composio das emulses semi-slidas O/A obtidas.

    Composio Creme-base(g)

    Creme com0,1% AH

    (g)

    Creme com0,5% AH

    (g) cido esterico 24,0 24,0 24,0

    Trietanolamina 1,2 1,2 1,2

    Glicerina 13,5 13,5 13,5 gua destilada 61,3 61,3 61,3

    Metilparabeno (p-hidroxibenzoatode metilo)

    0,1 0,1 0,1

    cido hialurnico 0 0,1 0,5

    2.2.1.2. Preparao do gel hidrfilo

    Neste trabalho foi preparado um gele hidrfilo a partir de uma base dermo-cosmtica de preparao instantnea, designada Aristoflex AVC. O Aristoflex AVC corresponde a um co-polmero do cido sulfnico acriloildimetiltaurato evinilpirrolidona neutralizado, tratando-se, assim de um polmero sinttico formadorde gel em sistemas aquosos. Os geles de Aristoflex AVC so transparentes eincolores, tm carga aninica e apresentam excelentes caractersticas deestabilidade para uma gama alargada de pH que pode variar entre 4 e 9 e parauma ampla variedade de substncias activas. Em termos sensoriais, este geleconfere uma agradvel sensao pele, sem o toque pegajoso dos polmerostradicionais.

    O gele, cuja composio se descreve na Tabela V, foi preparado por disperso do Aristoflex AVC em gua temperatura ambiente, mediante agitao a 400 rpm

    (agitador Heidolph RZR ), durante alguns minutos at gelificao completa.

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    Tabela V. Frmula do gele hidrfilo.

    Aristoflex gel ....................................................................... 1,0 gMetilparabeno (p-hidroxibenzoato de metilo) ....................... 0,1 g gua destilada ..................................................................... q.b.p 100,0 g

    A partir desta formulao, foram preparados geles contendo AH, igualmente nasconcentraes de 0,1 e 0,5%, por incorporao em agitador Unguator , durante 2

    minutos. (Tabela VI)

    Tabela VI. Composio dos geles hidrfilos obtidos.

    Composio Gel-base(g)

    Gel com0,1% AH

    (g)

    Gel com0,5% AH

    (g) Aristoflex gel 1,0 1,0 1,0

    Metilparabeno (p-hidroxibenzoatode metilo)

    0,1 0,1 0,1

    gua destilada q.b.p.100 q.b.p.100 q.b.p.100

    cido hialurnico 0 0,1 0,5

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    2.2.2. Caracterizao das formulaes

    Aps a preparao de lotes de 100 g da cada uma das formulaes (sem AH e

    com 0,1% e 0,5% de AH), estas foram acondicionados em recipientes de plsticoe armazenadas em estufa a 20C e a 40 C, durante 90 dias, como elucida oesquema da Fig. 7.

    Figura 7. Representao esquemtica do armazenamento em estufa das amostras preparadas.

    CremeCreme

    0,1%AHCreme

    0,5%AH

    GelGel

    0,1%AHGel

    0,5%AH

    CremeCreme

    0,1%AHCreme

    0,5%AH

    GelGel

    0,1%AHGel

    0,5%AH

    20 C

    40 C

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    So vrios os ensaios que podem executar-se sobre estas preparaes e queabrangem o emprego de diversas tcnicas. 45

    Neste trabalho, para alm da anlise das caractersticas organolpticas, asamostras foram submetidas a ensaios de estabilidade acelerada porcentrifugao, a ensaios reolgicos e anlise da textura.

    2.2.2.1. Anlise organolptica

    Os caracteres organolpticos constituem o indicativo mais acessvel para seavaliar a qualidade de uma preparao semi-slida e para detectar alteraes. Osimples exame visual pode funcionar como um indicativo, por vezes perfeito, dahomogeneidade da preparao. 45

    Qualquer indivduo, aps a aplicao de um creme na pele, submete-o,involuntariamente a uma anlise visual, olfactiva e tctil.46

    A cor e o aroma so dois ndices seguros para elucidar quanto ao estado deconservao da preparao, pelo que uma mudana da cor ou um cheirodiferente, mais ou menos pronunciado, so indcios de que houve alterao. 45

    2.2.2.2. Avaliao do pH

    A determinao do pH de uma preparao para aplicao cutnea constitui umparmetro extremamente importante, uma vez que cada produto deve apresentarpH compatvel com a regio do corpo onde se aplica. A pele tem normalmente umpH mdio de 5,5, embora este valor possa variar ligeiramente consoante asdiferentes zonas do corpo. O pH natural da pele provm das secrees dasglndulas apcrinas e endcrinas que conduzem formao de uma pelcula deproteco sobre toda a superfcie cutnea, designada de filme hidrolipdico.

    Em termos tecnolgicos, por vezes, torna-se til a incluso de sais tampes paraajuste de pH a valores menos sujeitos a variaes acidentais. Esta prtica desejvel especialmente em cremes O/A, cujo aumento de acidez (por hidrlise

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    enzimtica, por exemplo), pode levar ruptura da emulso.

    2.2.2.3. Ensaio de estabilidade acelerada por centrifugao

    A estabilidade de uma preparao farmacutica est relacionada com a suacapacidade de resistir a alteraes fsicas e/ou qumicas. Deste modo, aqualidade de uma preparao deve permanecer constante at expirao doprazo de validade. A preparao pode, no entanto, sofrer ligeiras alteraes quetm de ser aceitveis, em conformidade com os limites legais impostos.

    Os produtos de aplicao cutnea manifestam, muitas vezes, problemas deestabilidade especficos, pelo que no seu desenvolvimento, necessria umaavaliao prvia deste parmetro, de forma a prever o seu comportamento fsicoe qumico, ao longo do tempo. As tcnicas de envelhecimento utilizadas para avaliar a estabilidade dos produtoscosmticos tm de ser, muitas vezes, adaptadas ao tipo de amostra para que sejapossvel detectar quaisquer alteraes nas caractersticas da preparao.Interessa, por isso, realizar ensaios de estabilidade num curto espao de tempo,pelo que se efectuam ensaios de estabilidade acelerada. Estes ensaios permitemaumentar a velocidade das alteraes fsicas e/ou qumicas do produto e podemrecorrer a diferentes mtodos, tais como os testes mecnicos ou os que utilizamcondies de temperatura e humidade exageradas.No mtodo de centrifugao, a fora gravtica actua sobre o produto, promovendoo movimento das suas partculas. A centrifugao gera stresse na preparaoporque so criadas condies que simulam um aumento da fora da gravidade, oque permite antecipar possveis alteraes de estabilidade. Estas alteraespodem ser observadas sob a forma de precipitados, ocorrncia de separao defases, formao de sedimentos compactos ( caking ), coalescncia, entre outros. As amostras so centrifugadas a temperatura, tempo e velocidade padronizados edepois so verificadas, visualmente.

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    2.2.2.4. Ensaios reolgicos

    A Reologia compreende o ramo da Fsica que estuda as condies de fluidez e de

    deformao da matria, as quais se encontram condicionadas por numerososfactores. Por outras palavras, os ensaios reolgicos pretendem investigar aspropriedades e o comportamento mecnico de corpos que sofrem umadeformao (slidos elsticos) ou um escoamento (fluido), devido aco de umatenso de corte ou shear stress . Nenhuma outra forma farmacutica reflecte tointensamente os efeitos da importncia da consistncia como as preparaespara aplicao cutnea. De facto, a consistncia destas formas est intimamente

    relacionada com as suas propriedades cosmticas e, afecta directamente afacilidade com que a preparao se remove do tubo ou boio em que seacondiciona, bem como a facilidade com que se espalha e com que adere zonade aplicao. A consistncia no uma propriedade fcil de definir, na medida em que dependede vrios factores, pelo que pode ser apreciada pela determinao daviscosidade. A viscosidade de um fluido traduz a sua resistncia ao fluxo ou

    movimento, sendo que, quanto maior a viscosidade, menor a velocidade com queo fluido se movimenta. A viscosidade pode ser determinada, segundo a equao:

    = Equao 1

    em que corresponde viscosidade, tenso de corte ou de cisalhamento e velocidade de corte.

    O comportamento mecnico dos materiais pode ser do tipo Newtoniano ou no-Newtoniano, dependendo das suas propriedades de fluxo. O fluxo Newtonianoapresenta uma viscosidade constante, independente da fora aplicada para umadada temperatura. O fluxo no-Newtoniano caracterizado pela alterao daviscosidade com o aumento de fora de corte aplicada.Os materiais que apresentam um fluxo do tipo no-Newtoniano podem classificar-se, quanto s suas propriedades reolgicas em trs grupos fundamentais,estabelecidos de acordo com o tipo de escoamento que apresentem quandosubmetidos a uma determinada fora externa: plsticos , pseudo-plsticos

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    (reofluidificantes) e dilatantes (reoespessantes), fenmenos estes, que soindependentes do tempo. Alguns fluidos apresentam mudanas na viscosidadeem funo do tempo, sob condies constantes de tenso de corte, pelo que se

    consideram duas categorias: os fluidos com tixotropia e os fluidos com reopexia .

    No fluxo pseudoplstico ou reofluidificante, a viscosidade no constante paravalores de temperatura constantes, sendo que diminui com o aumento da tensode corte ( o caso das emulses, disperses e suspenses).Os materiais plsticos no fluem quando lhes aplicada uma baixa tenso decorte, podendo, nestas circunstncias apresentar propriedades elsticas.

    Contudo, estes materiais necessitam de um valor mnimo de tenso de corte(valor de cedncia), a partir do qual iniciam o escoamento ( o que acontece comdeterminados cremes).Os materiais dilatantes ou reoespessantes apresentam um aumento daviscosidade aparente, com o aumento da tenso de corte. Estes materiaiscomportam-se como um fluido, pelo que escoam, a baixas tenses de corte, maspodem tornar-se bastante rgidos (aparentando um corpo slido) quando so

    submetidos a tenses de corte elevadas. Este tipo de comportamento verifica-seno caso de disperses concentradas de partculas que no tm tendncia paraagregarem, nomeadamente as pastas e composies com elevada concentraode pigmentos.46

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    A Fig. 8 apresenta uma representao grfica dos vrios tipos de comportamentodescritos.

    Figura 8. Reograma - representao grfica tenso de corte ( ) vs velocidade de corte ( ) de

    alguns comportamentos reolgicos.

    Um fluido tixotrpico apresenta uma diminuio da viscosidade aparente com otempo de tenso, a uma velocidade/taxa de tenso constante. No caso dos fluidosreopticos, estes apresentam um aumento da viscosidade aparente com o tempode tenso de corte. Num reograma, a tixotropia pode ser avaliada pela reaexistente entre as curvas ascendente e descendente, obtidas para velocidades deescoamento em funo da presso exercida. (Fig. 9)

    Figura 9. Reograma de um material com tixotropia.

    &

    Newtoniano

    Reofluidificante

    Reoespessante

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    A avaliao da tixotropia constitui um parmetro importante, na medida em quefornece informaes acerca da capacidade e do tempo necessrios para que aformulao readquira a sua estrutura aps a retirada da tenso a que

    submetida. Uma formulao com comportamento tixotrpico tende a ser maisestvel fisicamente, porque durante o armazenamento, dificilmente os seusconstituintes se separam. De uma forma geral, pretende-se o desenvolvimento deuma formulao que apresente tixotropia, porque se pretende um produto que sedeforme durante a aplicao, isto que se torne mais fluido, facilitando oespalhamento e que recupere a viscosidade inicial no momento em que setermina a aplicao, para evitar que o produto escorra. Contudo, convm que o

    valor da tixotropia no seja demasiado elevado para que o produto no escorrasobre a pele aps a aplicao devido a uma recuperao muito lenta da suaestrutura.

    Os cremes apresentam valores de viscosidade variveis. Por este motivo, deveser estabelecido um certo nmero de condies quando se avalia a viscosidade, oque implica que os valores obtidos correspondam a uma viscosidade aparente. 46

    Para a determinao da viscosidade aparente, a temperatura da amostra deve sercontrolada, pois pequenas variaes neste parmetro podem originar alteraesconsiderveis nos valores da viscosidade.

    H vrios mtodos para se determinar a viscosidade. Os mais frequentesutilizam viscosmetros rotativos, de orifcio e capilares. A determinao porviscosmetro rotativo consiste na medio do torque requerido para rodar umaagulha imersa numa amostra. Dependendo da faixa de viscosidade da amostra,selecciona-se a agulha ( spindle ) adequada.

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    Figura 11. Representao de um grfico fora versus distncia.

    Figura 12. Texturmetro Stable Micro Systems .

    Fmx

    DistnciaA negativa

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    2.2.2.6. Avaliao do poder humectante do AH

    Quando aplicado sobre a pele, seja sob a forma de creme ou qualquer outra

    forma, o AH tende a formar uma pelcula visco-elstica. Esta pelcula tem acapacidade de se ligar gua, retendo-a sua superfcie, propriedade essa quecresce com o aumento do peso molecular do AH. O AH de maior peso molecularpermite uma melhor proteco da pelcula hidrolipdica, reforando, assim, acapacidade protectora da barreira epidrmica. No entanto, foi demonstrado que ocido hialurnico de baixo peso molecular (100, 200 ou at 400 kDa), tinha umacerta penetrao nas camadas superficiais da epiderme, o que iria conferir-lhe

    propriedades hidratantes por reteno directa da gua. A combinao de AH depeso molecular elevado com AH de peso molecular mais baixo apresentainteresse particular nas formulaes destinadas a retardar o envelhecimentocutneo.47 Deste modo, conveniente avaliar o poder de reteno da gua apresentadopelas formulaes e relacion-lo com a presena de AH. Uma das formas para ofazer atravs da determinao da perda de massa, atribuda evaporao de

    gua da frmula.

    2.2.2.7. Ensaios de biometria cutnea

    A Biometrologia Cutnea a cincia que estuda as caractersticas biolgicas,mecnicas e funcionais da pele, atravs de meios de medida, e permite avaliar osefeitos dos cosmticos mediante dados objectivos e mensurveis.

    Diferentes mtodos in vivo e in vitro tm sido propostos para a determinao deuma das variveis mais importantes - a hidratao. Para efeitos prticos, oprocesso in vivo aquele que melhor responde s perspectivas do consumidor.Entre os vrios mtodos aplicveis, os electromtricos so os mais utilizados.Baseiam-se na determinao das alteraes de natureza elctrica impedncia,resistncia e capacitncia, detectveis superfcie da pele por utilizao decorrentes elctricas de diferentes frequncias. Atravs de vrios artifcios deengenharia, foi possvel ultrapassar certas dificuldades tcnicas, pelo que,

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