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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA GABRIELA DE OLIVEIRA RODRIGUES Desenvolvimento de método para quantificação do teor de glicerol livre em amostras de biodiesel por cromatografia líquida de alta eficiência Lorena – SP 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

GABRIELA DE OLIVEIRA RODRIGUES

Desenvolvimento de método para quantificação do teor de glicerol livre em amostras de biodiesel por cromatografia líquida

de alta eficiência

Lorena – SP

2015

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GABRIELA DE OLIVEIRA RODRIGUES

Desenvolvimento de método para quantificação do teor de glicerol livre em amostras de biodiesel por cromatografia líquida

de alta eficiência

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo como requisito parcial para conclusão da graduação do curso de Engenharia Química.

Orientadora: Profa. Dra. Heizir Ferreira de Castro

Lorena - SP

2015

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Rodrigues, Gabriela de Oliveira Desenvolvimento de método para quantificação doteor de glicerol livre em amostras de biodiesel porcromatografia líquida de alta eficiência / Gabrielade Oliveira Rodrigues; orientadora Heizir Ferreirade Castro. - Lorena, 2015. 67 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2015Orientadora: Heizir Ferreira de Castro

1. Biodiesel. 2. Glicerol livre. 3. Quantificação.4. Clae-dad. 5. Otimização. I. Título. II. de Castro,Heizir Ferreira, orient.

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Dedico este trabalho aos meus pais por todo apoio e dedicação e principalmente

por colocarem a minha educação em primeiro lugar.

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AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus por iluminar o meu caminho e me abençoar. Agradeço aos meus pais, Raul e Rosa, por me amarem incondicionalmente, serem a minha fortaleza e meus maiores exemplos e em especial à minha mãe por todo o apoio para escrever esse trabalho. Agradeço aos meus familiares que mesmo de longe me incentivaram e sempre compreenderam a minha ausência. Agradeço as minhas amigas Natalia, Mariana, Giovanna e Naiara que estiverem ao meu lado desde o primeiro ano da faculdade. Agradeço ao meu orientador de estágio Antonio Noronha, que me proporcionou a maioria dos conhecimentos presentes neste trabalho e contribuiu de uma maneira significativa no meu desenvolvimento profissional. Agradeço ao meu futuro colega de profissão Mario Luiz da Silva Barroso que me transmitiu todo seu conhecimento e me ajudou com todas as análises desse trabalho, sem esse apoio nunca seria possível. Agradeço a minha orientadora Heizir Ferreira de Castro, por toda a colaboração e conselhos, que foram imprescindíveis para o sucesso. Agradeço a professora Marivone Nunho Sousa que me deu a chance de ser sua aluna de iniciação científica, onde os conhecimentos desse trabalho se iniciaram. Agradeço aos meus amigos do Laboratório de formulações pelos conhecimentos e bons momentos compartilhados. Agradeço a todos os professores e colegas que contribuíram de alguma forma para a execução deste trabalho.

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RESUMO

RODRIGUES, G. O. Desenvolvimento de método para quantificação do teor de glicerol livre em amostras de biodiesel por cromatografia líquida de alta eficiência. 2015. 67 p. Trabalho de conclusão de curso para graduação em Engenharia Química – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015.

Este projeto teve como objetivo desenvolver uma metodologia de quantificação de glicerol livre em amostras de biodiesel por cromatografia líquida de alta eficiência com detector de arranjo de diodos (CLAE-DAD) como método alternativo ao método atualmente empregado (cromatografia gasosa). O método por cromatografia líquida pode ser considerado mais eficiente devido aos menores tempos de análise e a possibilidade do uso de água como solvente. Para o desenvolvimento do método foram avaliados os parâmetros cromatográficos a fim de determinar as condições ideais para a análise de glicerol, que configura uma parte importante na etapa de controle de qualidade do produto final de biodiesel comercial.

Palavras-chave: Biodiesel. Glicerol Livre. Quantificação. CLAE-DAD. Otimização.

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ABSTRACT

RODRIGUES, G.O. Method development for determination of free glycerol content in biodiesel samples by high-performance liquid chromatography. 2015. 67 p. Monograph for Chemical Engineering (Degree) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015. This project aimed at developing a methodology for measuring free glycerol in biodiesel samples using high-performance liquid chromatography with diode array detector (HPLC-DAD) as an alternative method to the currently employed method (gas chromatography). Liquid chromatography can be considered more efficient due to less time of analysis and the possibility of the use of water as solvent. For the method development, chromatographic parameters were evaluated to determine the optimal conditions for glycerol analysis, which composes a important part in the final product quality control step of commercial biodiesel. Keywords: Biodiesel. Free glycerol. Quantification. HPLC-DAD. Optimization.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fontes de triglicerídeos mais usadas por região do Brasil ................... 17  

Figura 2 - Evolução da composição do biodiesel no Brasil ................................... 18  

Figura 3 - Esquema da reação em etapas de síntese de biodiesel ...................... 19  

Figura 4 - Esquema da reação global de síntese de biodiesel ............................. 20  

Figura 5 - Fórmula estrutural do glicerol ............................................................... 22  

Figura 6 - Sistema cromatográfico ........................................................................ 24  

Figura 7 - Esquema de funcionamento do DAD .................................................... 25  

Figura 8 - Cálculo de resolução do método .......................................................... 29  

Figura 9 - Cálculo de eficiência do método ........................................................... 31  

Figura 10 - Cálculos de simetria dos sinais ........................................................... 32  

Figura 11 - Cálculo de fator de capacidade .......................................................... 33  

Figura 12 - Cálculo de seletividade ....................................................................... 34  

Figura 13 - Cromatograma da amostra sem purificação - 144,31 mg ................... 45  

Figura 14 - Cromatograma da amostra sem purificação - 256,60 mg ................... 45  

Figura 15 - Cromatograma de amostra após purificação - 412,17 mg .................. 46  

Figura 16 - Cromatograma de amostra após purificação - 506,99 mg .................. 46  

Figura 17 - Cromatograma do padrão I ................................................................. 48  

Figura 18 - Cromatograma do padrão II ................................................................ 49  

Figura 19 - Cromatograma do padrão III ............................................................... 49  

Figura 20 - Curva de calibração ............................................................................ 50  

Figura 21 - Dados obtidos na construção da curva ............................................... 51  

Figura 22 - Quantificação da amostra sem purificação - 144,31 mg ..................... 53  

Figura 23 - Quantificação da amostra sem purificação - 256,60 mg ..................... 53  

Figura 24 - Gráfico da linearidade do glicerol ....................................................... 56  

Figura 25 - Cromatograma da amostra branco ..................................................... 57  

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Figura 26 - Cromatograma comparativo da amostra sem purificação e padrão ... 58  

Figura 27 - Cromatograma comparativo da amostra após purificação e padrão .. 59  

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Especificação do biodiesel ................................................................... 21  

Tabela 2 - Dados utilizados para construção da curva ......................................... 51  

Tabela 3 - Resultado da quantificação das amostras ........................................... 53  

Tabela 4 - Resultado de todas as quantificações ................................................. 54  

Tabela 5 - Valores calculados de LD e LQ ............................................................ 55  

Tabela 6 - Linearidade dos padrões de glicerol .................................................... 56  

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 - Fórmula para cálculo de resolução ................................................... 29  

Equação 2 - Fórmula completa da resolução ........................................................ 30  

Equação 3 - Cálculo do número de pratos teóricos .............................................. 31  

Equação 4 - Cálculo do limite de detecção ........................................................... 34  

Equação 5 - Cálculo do limite de quantificação .................................................... 35  

Equação 6 - Equação padrão de uma reta ........................................................... 35  

Equação 7 - Cálculo de massa da amostra .......................................................... 35  

Equação 8 - Cálculo de porcentagem mássica ..................................................... 36  

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

a Coeficiente Angular da Reta AM Amostra

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AOCS American Oil Chemists’ Society APROBIO Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil ASTM American Society for Testing and Materials b Coeficiente Linear da Reta CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência CRQ Conselho Regional de Química DAD Detector de Arranjo de Diodos

GC Cromatografia a Gás HPLC Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

HTCG Cromatografia Gasosa de Alta Temperatura

k’ Fator de Capacidade

L Litro

LC Cromatografia Líquida

LD Limite de Detecção

LQ Limite de Quantificação

m Massa M Concentração Molar

mAu Um Milésimo de Unidade de Absorbância min Minuto mm Milimetro mM Milimol mg Miligrama

ml Mililitro

N Número de Pratos Teóricos

P Padrão

PNPB Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel

r Coeficiente de Correlação

R Resolução

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s Desvio S Simetria

t Tempo

tR Tempo de Retenção

UV-VIS Ultravioleta Visível

X Eixo das Abcissas

Y Eixo das Ordenadas

W Largura

LISTA DE SÍMBOLOS

α Seletividade

Δ Diferença

° C Graus Celsius

µm Micrometro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 2 OBJETIVO ......................................................................................................... 16 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 17 3.1 Biodiesel ........................................................................................................ 17 3.1.1 Definição ...................................................................................................... 17 3.1.2 Histórico ....................................................................................................... 18 3.1.3 Reação de transesterificação ....................................................................... 19 3.1.4 Separação do glicerol ................................................................................... 20 3.1.5 Normas técnicas ........................................................................................... 20 3.2 Glicerol ........................................................................................................... 22 3.2.1 Definição ...................................................................................................... 22 3.2.2 Métodos de quantificação utilizados ............................................................ 23 3.3 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE – DAD) ............................ 23 3.4 Desenvolvimento de método cromatográfico ............................................ 25 3.4.1 Parâmetros cromatográficos ........................................................................ 26 3.4.2 Conceitos essenciais de qualidade em cromatografia ................................. 29 3.5 Quantificação do glicerol ............................................................................. 35 4 MATERIAIS E METODOLOGIA ........................................................................ 37 4.1 Materiais ......................................................................................................... 38 4.1.1 Descrição das amostras ............................................................................... 38 4.1.2 Preparação primária da amostra .................................................................. 38 4.1.3 Preparação secundária da amostra ............................................................. 39 4.1.4 Desenvolvimento do método ........................................................................ 39 4.2 Equipamentos ................................................................................................ 39 4.2.1 Preparações das amostras .......................................................................... 39 4.2.2 Preparo de solventes ................................................................................... 40 4.2.3 Análise cromatográfica ................................................................................. 40 4.3 Metodologia ................................................................................................... 40 4.3.1 Preparação primária das amostras .............................................................. 40 4.3.2 Preparação secundária da amostra ............................................................. 41 4.3.3 Desenvolvimento da metodologia de análise ............................................... 42 4.3.4 Análise da amostra branco ........................................................................... 43 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 44 5.1 Cromatograma das amostras ....................................................................... 44 5.2 Padronização e quantificação ...................................................................... 47 5.3 Análise dos conceitos de qualidade em cromatografia ............................ 57 5.4 Análise dos parâmetros cromatográficos .................................................. 61 6 CONCLUSÃO .................................................................................................... 63 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 64 APÊNDICE ............................................................................................................ 67

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1 INTRODUÇÃO

Desde o lançamento do Programa Nacional de Produção e uso do

Biodiesel (PNPB) pelo governo federal em 2004 que teve como objetivo incentivar

a inserção deste combustível na matriz energética brasileira, a produção de

biodiesel é crescente. Como publicado pela ANP – Agência Nacional do Petróleo,

Gás Natural e Biocombustíveis no Boletim Mensal de Biodiesel de abril de 2015, o

país possui 58 plantas produtoras de biodiesel autorizadas para operação,

correspondendo a uma capacidade total de 20.853,51m³/dia (ANP, 2015). Esse

crescente desenvolvimento da indústria no país favorece também o crescimento

de pesquisas para obtenção de biodiesel de qualidade aceitável pela legislação,

visando maior economia e menor impacto ambiental. Além disso, para sua

comercialização o biodiesel deve atender padrões de qualidade regulamentados

também pela ANP, conforme descrito na Resolução ANP No 45, de 25.08.2014,

que estipula valores mínimo e máximo para os teores de qualidade tanto do

produto purificado (teores de ésteres, viscosidade, densidade), como dos

subprodutos e intermediários (glicerol, monoglicerídeos e diglicerídeos).

Deste modo, o monitoramento desses parâmetros de qualidade requer a

utilização de técnicas analíticas avançadas para quantificação precisa desses

componentes, principalmente aqueles que comprometem a qualidade do produto

para utilização como biocombustível. No caso especifico do glicerol, o teor

máximo permitido é da ordem de 0,02% em massa para o glicerol livre e de

0,25% de glicerol total. Valores superiores às especificações estipuladas pela

ANP podem causar baixo desempenho, causar danos aos motores, como

entupimento de injetores, aumentar a quantidade de emissão de substâncias

poluentes, como aldeídos, e também causar problemas durante o

armazenamento do biodiesel, devido à separação do glicerol nos tanques. A

queima do biodiesel não purificado a partir 180 ºC pode levar a formação de

acroleína, substância de alta toxicidade ao meio ambiente (MARQUES, 2011).

Desta forma, as unidades produtivas de biodiesel devem conter

laboratórios de controle de qualidade, com necessidade de métodos cada vez

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mais rápidos, econômicos e precisos para a caracterização e a análise contínua

da qualidade do produto acabado (KNOTHE et al, 2006).

Os métodos de análises indicados para a determinação de cada

parâmetro do biodiesel são estabelecidos pela Resolução No45 da ANP. Para a

quantificação de glicerol livre a norma recomenda a cromatografia gasosa, porém

a busca de melhoria contínua é sempre necessária.

Desta forma, o presente trabalho propõe o desenvolvimento de um

método de dosagem por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) em

substituição ao método tradicional por cromatografia gasosa (CG). Apesar de

pouca explorada em larga escala a cromatografia líquida apresenta vantagens

adicionais, devido ao menor tempo de análise e a possibilidade de utilização de

água como solvente (KNOTHE et al, 2006).

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16  

2 OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo desenvolver um método utilizando a

técnica de análise por cromatografia líquida de alta eficiência com detector de

arranjo de diodos, para a quantificação do glicerol livre residual em amostras de

biodiesel obtidas por transesterificação pela rota etanólica. Os objetivos

específicos são:

• Comprovar a eficiência, precisão e capacidade de resposta do método

desenvolvido na quantificação de glicerol livre presente em biodiesel por

CLAE-DAD com a qualidade necessária;

• Determinar os teores de glicerol livre presente no biodiesel acabado de

modo a atender às normas das agências regulamentadoras.

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17  

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Biodiesel

3.1.1 Definição

Biodiesel é um combustível biodegradável formado por ésteres mono

alquílicos que pode ser utilizado em motores automotivos ou motores

estacionários a diesel, obtido por reação de transesterificação de óleos vegetais,

gorduras animais ou óleos de descarte (óleos provenientes de resíduos de fritura),

com álcool de cadeia curta (metanol ou etanol) na presença de um catalisador.

Diversas variações nas matérias-primas podem ser realizadas, quanto às

espécies vegetais ou animais, utilizadas como fontes lipídicas, o álcool ou até

mesmo o catalisador (KNOTHE et al, 2006).

As espécies vegetais que podem ser utilizadas dependem da

disponibilidade geográfica, conforme ilustrado na Figura 1, geralmente as mais

utilizadas no Brasil são: soja, algodão, girassol, canola/colza, entre outras

(BIODIESELBR, 2015; ARAUJO, 2015).

Figura 1 - Fontes de triglicerídeos mais usadas por região do Brasil

Fonte: PNPB

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Quanto às fontes lipídicas de origem animal podem ser utilizadas sebo

bovino, banha de porco e outras gorduras residuais de outros animais como

frango, carneiro e peixe, ou mesmo óleo purificado de peixe, como óleo de fígado

de bacalhau (ARAUJO, 2015).

O agente acilante utilizado pode ser etanol ou metanol, normalmente o

metanol é predominantemente utilizado devido ao seu baixo custo, porém no

Brasil, é incentivado o uso de etanol devido a sua elevada disponibilidade em

função da tecnologia implementada no país. Álcoois de cadeia mais longas

também apresentam viabilidade técnica, entretanto não são viáveis

economicamente para uso comercial (KNOTHE et al, 2006).

3.1.2 Histórico

No Brasil o desenvolvimento do biodiesel foi acelerado pelo lançamento

do PNPB – Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel que consiste em

um programa de incentivo do Estado e implementou a adição do biodiesel à

matriz energética brasileira pela medida provisória 214/2004 (APROBIO, 2015),

sob a nomenclatura BX, onde X indica a porcentagem de biodiesel na mistura.

A mistura do biodiesel ao petrodiesel foi iniciada com o uso autorizativo

de 2% em volume de biodiesel, sendo modificado, em 2008, o caráter da adição

autorizada para uso obrigatório. Com essa nova caracterização houve projeções

para aumentar a porcentagem de adição, que ocorreram conforme ilustrado na

Figura 2 (ANP, 2015).

Figura 2 - Evolução da composição do biodiesel no Brasil

Fonte: BIODIESELBR  

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3.1.3 Reação de transesterificação

A reação de transesterificação é a forma mais utilizada para obtenção do

biodiesel. A reação consiste na formação de ésteres alquílicos derivados dos

ácidos graxos de óleos vegetais e gorduras animais na presença de um

catalisador e de álcool, formando além dos ésteres o glicerol (Figura 3). A

transesterificação é composta por três reações reversíveis em sequência, na qual

os triglicerídeos da fonte lipídica são reduzidos a diglicerídeos, consecutivamente

reduzidos a monoglicerídeos, então novamente reduzidos a ésteres de ácidos

graxos, conforme ilustrado na Figura 4 (MARQUES, 2011).

Normalmente o álcool é utilizado em excesso de modo a garantir o

deslocamento da reação no sentido de formação dos produtos, aumentando o

rendimento em ésteres e facilitando a separação do glicerol (MARQUES, 2011).

Figura 3 - Esquema da reação em etapas de síntese de biodiesel

Fonte: KNOTHE et al, 2006

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Figura 4 - Esquema da reação global de síntese de biodiesel

Fonte: KNOTHE et al, 2006

3.1.4 Separação do glicerol

O glicerol é insolúvel no biodiesel, o que facilita sua remoção por métodos

simples como decantação ou centrifugação. O glicerol deve ser removido durante

etapa de lavagem aquosa, geralmente efetuada com água quente (KNOTHE et al,

2006).

Ao final da reação de transesterificação é possível notar claramente uma

massa líquida composta por duas fases, formadas por ésteres e glicerol.

Dependendo da eficiência do processo de produção ainda podem estar presentes

em maior ou menor quantidade compostos como glicerídeos que reagiram

parcialmente ou que não reagiram, sabões formados e álcool residual, compostos

os quais são indesejados no produto final (MARQUES, 2011).

3.1.5 Normas técnicas

As especificações do biodiesel quanto ao controle de qualidade para

qualquer agente que disponibiliza o produto em todo o território nacional, seja o

biocombustível nacional ou importado, está descrito no regulamento técnico N°

3/2014 da ANP, presente na resolução ANP N° 45 de 25 de agosto de 2014.

Esta resolução também define os métodos que devem ser efetuados para

a análise de cada parâmetro de qualidade, bem como os valores para a aceitação

do padrão de qualidade adotado nacionalmente, conforme descrito na Tabela 1.

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Tabela 1 - Especificação do biodiesel

CARACTERÍSTICA UNIDADE LIMITE MÉTODO

ABNT NBR ASTM D EN/ISO Aspecto - LII (1) (2) - - -

Massa específica a 20º C kg/m³ 850 a 900 7148 14065

1298 4052

EN ISO 3675 EN ISO 12185

Viscosidade Cinemática a 40ºC

mm²/s 3,0 a 6,0 10441 445 EN ISO 3104

Teor de água, máx. mg/kg 200,0 (3) - 6304 EN ISO 12937

Contaminação Total, máx. mg/kg 24 15995 - EN 12662 (5)

Ponto de fulgor, mín. (4) ºC 100,0 14598 93 EN ISO 3679

Teor de éster, mín % massa 96,5 15764 - EN 14103 (5)

Cinzas sulfatadas, máx. (6) % massa 0,020 6294 874 EN ISO 3987

Enxofre total, máx. mg/kg 10 15867 5453 EN ISO 20846 EN ISO 20884

Sódio + Potássio, máx. mg/kg 5 15554 15555 15553 15556

- EN 14108 (5) EN 14109 (5) EN 14538 (5)

Cálcio + Magnésio, máx. mg/kg 5 15553 15556

- EN 14538 (5)

Fósforo, máx. (7) mg/kg 10 15553 4951 EN 14107 (5) EN 16294 (5)

Corrosividade ao cobre, 3h a 50 ºC, máx. (6)

- 1 14359 130 EN ISO 2160

Número Cetano (6) - Anotar - 613 6890 (8)

EN ISO 5165

Ponto de entupimento de filtro a frio, máx.

ºC (9) 14747 6371 EN 116

Índice de acidez, máx. mg KOH/g 0,50 14448 -

664 -

EN 14104 (5)

Glicerol livre, máx. % massa 0,02 15771 15908 (5) -

6584 (5) -

EN 14105 (5) EN 14106 (5)

Glicerol total, máx. (10) % massa 0,25 15344 15908 (5)

6584 (5) -

EN 14105 (5)

Monoacilglicerol, máx. % massa 0,7 15342 (5) 15344 15908 (5)

6584 (5) EN 14105 (5)

Diacilglicerol, máx. % massa 0,20 15342 (5) 15344 15908 (5)

6584 (5) EN 14105 (5)

Triacilglicerol, máx. % massa 0,20 15342 (5) 15344 15908 (5)

6584 (5) EN 14105 (5)

Metanol e/ou Etanol, máx. % massa 0,20 15343 - EN 14110 (5)

Índice de Iodo g/100g Anotar - - EN 14111 (5)

Estabilidade à oxidação a 110ºC, mín. (11)

h 6 (12) - - EN 14112 (5) EN 15751 (5)

Fonte: ANP Res N° 45

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22  

Dos dados fornecidos pela ANP apresentados na Tabela 1, no presente

trabalho somente o valor limite para o teor de glicerol livre, que corresponde a

0,02% em massa, será avaliado.

3.2 Glicerol

3.2.1 Definição

O glicerol é um álcool trihidroxilado (Figura 5), obtido como coproduto na

reação de transesterificação. A presença de um grupo OH ligado a cada carbono

torna o glicerol reativo, possibilitando a participação em diversas reações

químicas. O glicerol se apresenta na forma líquida, transparente, inodora, de

sabor doce, viscoso e de densidade levemente maior que a da água (UMPIERRE

et al, 2013).

Figura 5 - Fórmula estrutural do glicerol

 

Fonte: KNOTHE et al, 2006

O glicerol pode ser encontrado em fontes diversas tanto na forma livre ou

combinada, para formar os glicerídeos, mono, di e triglicerídeos. A quantificação

do glicerol total consiste na determinação do somatório dos teores de glicerol livre

e combinado, enquanto a quantificação do glicerol livre, só determina,

obviamente, o teor de glicerol livre.

O glicerol é atualmente usado em quase todas as áreas da indústria, mas

principalmente nas áreas de medicamentos, alimentos, cosméticos e produtos

para higiene (KNOTHE et al, 2006). Porém com a mudança na balança comercial

do glicerol, com o aumento de produção devido ao aumento da produção de

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23  

biodiesel, novos usos têm sido desenvolvidos para compensar o aumento de

estoque (RIVALDI, 2008).

3.2.2 Métodos de quantificação utilizados

A literatura apresenta vários métodos para a quantificação de glicerol livre

e combinado, porém o método que é largamente aplicado é a cromatografia a gás

em altas temperaturas (HTGC). Entretanto, outros métodos cromatográficos

também foram estudados, como cromatografia em camada delgada com detecção

por ionização de chama, cromatografia por exclusão molecular e cromatografia

líquida de alta eficiência, com diversos detectores. Outros tipos de métodos como

espectrofotometria no UV-VIS e métodos eletroanalíticos também já foram

propostos (MARQUES, 2011).

3.3 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE – DAD)

A cromatografia é um método de separação de componentes presentes

numa amostra por meio de interações desta com duas fases, uma estacionária,

que é a coluna, e outra móvel, os solventes, sendo as duas imiscíveis. As

polaridades da fase móvel e da fase estacionária são sempre opostas para

acentuar a separação dos compostos, no caso da análise por fase reversa a

coluna é apolar e os solventes polares. Todos os constituintes de um sistema

cromatográfico podem ser observados na Figura 6.

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24  

Figura 6 - Sistema cromatográfico

Fonte: COLLINS, 2009

O tempo de retenção dos compostos presentes na amostra varia

conforme maior ou menor interação com uma das fases, móvel ou estacionária,

pois o caminho que esses compostos fazem para atravessar a coluna é diferente

devido a essas interações. Por exemplo, um composto apolar terá uma interação

maior com a coluna, sendo esta apolar como no exemplo anterior, o composto

será mais retido que um outro composto polar que terá maior interação com a

fase móvel polar, saindo mais rápido da coluna.

A quantificação propriamente dita ocorre somente no detector, parte final

do equipamento de cromatografia, após a amostra passar pela etapa de

separação na coluna. Os detectores normalmente têm o funcionamento muito

parecido com outras técnicas de análise.

O detector mais utilizado é o ultravioleta, porém o detector de arranjo de

diodos (DAD), Figura 7, tem o mesmo tipo de funcionamento, que consiste na

capacidade da amostra de absorver energia emitida por uma fonte de luz. Além

disso, o DAD realiza varredura da amostra em diversos comprimentos de onda ao

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25  

mesmo tempo, o que o torna detector ideal para realizar desenvolvimento de uma

metodologia por CLAE (CIENFUEGOS, 2000).

Figura 7 - Esquema de funcionamento do DAD

Fonte: COLLINS, 2006

A vantagem da cromatografia líquida em relação à gasosa está no fato

das inúmeras configurações disponíveis na primeira, o que permite uma enorme

versatilidade de aplicações e assim possibilita a separação de misturas

complexas como isômeros, pois existe no mercado grande diversidade de colunas

cromatográficas com diferentes configurações de recheio e também diversos

detectores

3.4 Desenvolvimento de método cromatográfico

Os parâmetros descritos a seguir são alguns pontos importantes no

desenvolvimento de métodos analíticos de cromatografia líquida e a análise

minuciosa da influência destes permite chegar a uma otimização do método a ser

desenvolvido. Os fatores descritos são interdependentes, conforme as relações

descritas a seguir, presentes em Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010.

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26  

3.4.1 Parâmetros cromatográficos

• Composição da fase móvel (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A mistura de solventes deve produzir soluções homogêneas, caso

contrário podem prejudicam o desempenho da bomba, da coluna e induzem

ruídos no detector além de alterar os tempos de retenção e interferir nas análises

quantitativas.

A fase móvel deve dissolver completamente todos os componentes da

amostra facilitando o transporte através da coluna, sendo que a fase móvel

também deve apresentar inércia química com a fase estacionária e os

componentes da amostra, para evitar perda de amostra ou danos à coluna

durante a análise.

• Dimensões da coluna e interações químicas (Agilent Technologies, 2011 e

Katálysis, 2010)

A coluna é a parte do cromatógrafo onde, de fato, ocorre a separação da

amostra. A amostra, que está dissolvida em um solvente, é injetada na coluna

cromatográfica, cujo recheio é chamado de fase estacionária.

Um bombeamento com vazão constante leva a fase móvel para dentro da

coluna, de modo que a amostra percorra o comprimento da coluna, deslocando os

componentes da mistura através dela e fazendo com que estes se distribuam de

acordo com a afinidade de cada um.

Se um componente da mistura tem afinidade com a fase móvel, ele

continua percorrendo o comprimento da coluna dissolvido no solvente. Porém, se

possui afinidade com o recheio da coluna, ele fica retido por um determinado

tempo nesta posição, interagindo com a fase estacionária.

• Fluxo dos solventes (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

Os solventes são bombeados pelo sistema cromatográfico até a coluna,

sob pressão, a um fluxo constante. Esse fluxo é responsável por empurrar todos

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27  

os compostos presentes na coluna até o detector para que possam ser

detectados. O aumento do fluxo leva a uma eluição mais rápida de todos os

compostos independentemente de interações químicas.

Outro fator que cresce quando o fluxo é aumentado é a pressão do

sistema, pois ao aumentar a vazão de bombeamento da fase móvel a pressão de

retorno exercida pela fase estacionária no interior da coluna também aumenta.

Porém, ao reduzir o fluxo de solventes, a pressão na coluna é diminuída

preservando a qualidade do recheio e tempo de vida da coluna, porém aumenta-

se o tempo de eluição dos componentes da amostra e, consequentemente, o

tempo total da análise.

• Pressão do equipamento (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A variação da pressão da coluna depende de fatores tais como a vazão

da fase móvel, o comprimento da coluna, a viscosidade da fase móvel, o diâmetro

das partículas e o empacotamento do recheio da coluna. Quando a viscosidade

da fase móvel é elevada acarreta em dificuldades no bombeamento e em

aumento da pressão da coluna.

A pressão exercida deve ser controlada conforme o valor suportado pela

coluna. Essa informação está presente no encarte do fabricante que vem junto

com a coluna no momento da aquisição. Caso a pressão exceda o valor

suportado, a coluna terá sua vida útil reduzida.

O aumento de pressão também poderá causar a formação de caminhos

preferenciais da amostra por dentro do recheio da coluna, o que prejudica a

interação do analito com a fase estacionária e também a separação dos

componentes da amostra a ser analisada.

• Temperatura do forno da coluna (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis,

2010)

A temperatura influencia fortemente parâmetros como solubilidade,

difusividade, polaridade e viscosidade da fase móvel. Em temperaturas mais

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28  

elevadas, a viscosidade é reduzida e a velocidade de difusão aumenta, fazendo

com que a velocidade de transferência de massa entre a fase estacionária e a

fase móvel seja aumentada e com ela a eficiência, tornando possível diminuir

substancialmente o tempo de análise.

• Comprimento de onda do detector (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis,

2010)

Com o detector DAD pode-se selecionar o melhor comprimento de onda

para cada um dos picos analisados, dessa forma, otimizando a sensibilidade. Isso

é extremamente importante na determinação de impurezas em sínteses e no

controle de qualidade de princípios ativos.

• pH da fase móvel (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

Em cromatografia líquida, quando se faz a separação de compostos

ácidos ou básicos, o controle do pH é muito importante. Na grande maioria das

vezes, faz-se o uso da fase móvel constituída de uma solução tampão, enquanto,

em outras vezes, usa-se como fase móvel uma solução adicionada de um ácido

fraco ou base fraca, de maneira a não sofrer alterações significativas de pH.

• Volume de injeção (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

O volume de injeção consiste na quantidade de amostra a ser sugado

pela agulha do amostrador automático e injetada no looping do sistema

cromatográfico. Volumes maiores de amostras aumentam a intensidade de sinais,

mas podem causar uma sobrecarga na coluna, causando alargamento dos picos,

assim, deixando o cromatograma com menor qualidade.

Ao aumentar o volume de amostra injetado aumenta-se também o sinal

das impurezas nas amostras e padrões e pode aumentar muito a relação desses

interferentes com o analito, prejudicando a análise.

O volume de injeção máximo pode ser calculado em função do volume

interno da coluna, que é calculado pelo volume de um tubo, a partir do diâmetro e

comprimento da coluna. O volume ideal de injeção é determinado balanceando-se

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29  

a capacidade de detecção e o efeito de interferentes.

3.4.2 Conceitos essenciais de qualidade em cromatografia

• Resolução (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A medida de resolução (R) é tida como a capacidade de separar os picos

dos analitos na linha de base do cromatograma, conforme a figura 8. Uma boa

resolução é o objetivo primário da cromatografia, ou seja, o principal ponto é uma

boa separação dos picos dos compostos de interesse, no qual um método tido

como ótimo apresenta bandas estreitas completamente resolvidas umas das

outras.

Equação 1 - Fórmula para cálculo de resolução

R =  t!(!) − t!(!)W(!) +W(!)

2

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

Figura 8 - Cálculo de resolução do método

 

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

A resolução é afetada por outros parâmetros como eficiência, fator de

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30  

capacidade e seletividade, que serão descritos na sequência, de acordo com a

formula descrita abaixo.

Equação 2 - Fórmula completa da resolução

 

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

• Eficiência (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A eficiência do método é obtida através de um cálculo que permite medir

a capacidade de uma coluna em fazer a separação ideal de compostos. É feito

uma relação entre o número de pratos teóricos (N) com a eficiência, assim como

em uma torre de destilação.

A situação que define uma boa medida de eficiência é a que apresenta

picos mais estreitos, onde há distribuição mais discreta de dados, para o mesmo

tempo de retenção. É ideal evitar o alargamento das bandas cromatográficas, pois

evita-se a supressão de picos e possibilita uma melhor separação sem que haja

um afastamento notável dos picos.

A maior influência na eficiência do método se dá por parâmetros

relacionados às colunas utilizadas, como comprimento, diâmetro, tipo do recheio

e tamanho de poro, assim, é tido como um método para se medir a performance

da coluna.

Esse cálculo matemático leva em consideração o tempo de retenção de

um analito (tR) e a largura desse mesmo pico a meia altura (W1/2). Desta forma,

quanto maior o número de pratos teóricos, maior a eficiência do método e melhor

a performance da coluna.

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31  

Equação 3 - Cálculo do número de pratos teóricos

N = 5,54  t!W!/!

!

 

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

Figura 9 - Cálculo de eficiência do método

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

• Simetria (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A simetria do pico é um fator que analisa o formato do pico, um pico ideal

deve apresentar um formato de uma distribuição gaussiana, o qual assume que o

formato do pico deve ter uma leve assimetria. Uma boa simetria consiste num

pico levemente assimétrico, sem ombros e caudas.

Deve-se analisar a assimetria do pico e o fator de cauda. Os fatores que

influenciam em uma assimetria muito grande são a interação excessiva do

composto com a coluna ou quando um volume de amostra muito grande é

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32  

injetado, podendo deformar o pico, o que é percebido durante a análise de

simetria.

Os valores de assimetria e fator de cauda podem ser calculados conforme

figura abaixo.

Figura 10 - Cálculos de simetria dos sinais

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

• Fator de capacidade (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

O fator de capacidade ou fator de retenção (k’) calcula o grau de retenção

de um composto, ou seja, o tempo que esse componente permanece na fase

estacionária em relação ao tempo de permanência deste na fase móvel. No

cálculo deste fator leva-se em consideração o tempo necessário para que um

composto que não é retido leva do local da injeção até chegar no detector,

chamado de t0.

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33  

Figura 11 - Cálculo de fator de capacidade

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

Os fatores que mais influenciam a retenção dos compostos são

mudanças nas fases móvel e estacionária, uma vez que esse parâmetro relaciona

a interação das fases com os analitos.

• Seletividade (Agilent Technologies, 2011 e Katálysis, 2010)

A seletividade de um método permite relacionar a capacidade do método

em apresentar os picos resolvidos um dos outros. O cálculo da seletividade (α) é

possível através do cálculo da separação relativa de dois picos a partir da

retenção destes, ou seja, o fator de capacidade relativo destes picos.

Como a seletividade é somente uma comparação de fatores de

capacidade, os fatores que influenciam a retenção dos picos, também influenciam

a seletividade do método de análise.

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34  

Figura 12 - Cálculo de seletividade

Fonte: KATÁLYSIS, 2010

• Limite de Detecção e Quantificação (Agilent Technologies, 2011 e

Katálysis, 2010)

O limite de detecção (LD) equivale a mínima concentração de analito

analisada que pode ser detectado, porém não necessariamente quantificada.

Enquanto, o limite de quantificação (LQ) indica a menor concentração do analito

que pode ser mensurada utilizando um determinado procedimento experimental.

Segundo Ribani, 2004 um dos tipos de cálculo dos limites de detecção e

quantificação adotados mais confiável estatisticamente consiste no método de

parâmetros da curva analítica, no qual os limites podem ser expressos em função

do desvio padrão da resposta, que corresponde ao desvio padrão do coeficiente

linear da equação (sL), e da inclinação da curva de analítica que corresponde ao

coeficiente angular da curva (a), segundo as equações 4 e 5.

Equação 4 - Cálculo do limite de detecção

𝐿𝐷 = 3,3  ×  𝑠!𝑎    

Fonte: Adaptada de RIBANI, 2004

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35  

Equação 5 - Cálculo do limite de quantificação

𝐿𝑄 = 10  ×  𝑠!𝑎

Fonte: Adaptada de RIBANI, 2004.

3.5 Quantificação do glicerol

A quantificação do glicerol pode ser feita a partir da utilização de uma

curva de calibração com padronização de massa e concentração conhecida.

O primeiro passo é o cálculo da reta padrão, na qual deve-se calcular as

áreas encontradas na integração dos picos resultantes da injeção de cada padrão

e com suas respectivas massas proceder uma regressão linear, tendo-se a área

(Y) e a massa (X) conhecidas, a equação da reta será obtida segundo a equação

6.

Equação 6 - Equação padrão de uma reta

Y = aX+ b  Fonte: Própria

O cálculo da massa da amostra é feito utilizando a equação obtida (Y= aX

+ b) e a área resultante da análise para calcular a massa (mg) real presente na

amostra analisada. A massa real de glicerol presente na amostra é calculada pela

equação 7, substituindo as incógnitas pelos dados utilizados nos experimentos

(massa e área) e também os resultando da equação 6.

Equação 7 - Cálculo de massa da amostra

m!"#$"%&'(' =  Area− b

a  

Fonte: Própria

Porém a massa real obtida é dada em miligramas, para encontrar a

porcentagem de glicerol na amostra é necessário fazer o cálculo em % (m/m),

segundo a equação 8, somente substituindo os dados utilizados nos

experimentos.

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36  

Equação 8 - Cálculo de porcentagem mássica

%  m m =  m!"#$"%&'('

m!"#$%$  ×  100    

Fonte: Própria

A integração da área do pico obtido na análise é feita automaticamente

pelo software do equipamento, assim como o cálculo de massa real encontrada,

conforme foi descrito acima, uma vez que as informações de massa das amostras

pesadas e padrões e valores de pureza sejam inseridos no software.

Um ponto importante na análise da qualidade na quantificação do ativo é

a linearidade da curva de calibração, essa informação é mostrada pela correlação

linear da reta obtida na curva de calibração.

A correlação linear é frequentemente utilizada para indicar o quanto a reta

pode ser considerada adequada como modelo para o estudo de caso. O valor

esperado para o coeficiente de correlação (r) deve ser ≥ 0,99, provando desta

forma a linearidade do modelo, ou seja, mostrando que a área encontrada na

integração dos picos dos cromatogramas têm uma relação linear com a massa da

amostra.

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37  

4 MATERIAIS E METODOLOGIA

O presente trabalho foi encaminhado para a resolução de três desafios:

desenvolvimento do método analítico, verificação da confiabilidade e da faixa de

trabalho do método desenvolvido para determinar um padrão de qualidade para

as análises dos dados, além da verificação da efetiva concentração de glicerol

livre em amostras de biodiesel.

Os objetivos do trabalho foram direcionados segundo da Resolução RE no

899, de 29 de maio de 2003 da ANVISA e CRQ-IV/SP,2010, somente alguns

parâmetros foram considerados, uma vez que dentre os objetivos deste trabalho

não constava a validação da metodologia desenvolvida, devido à falta de

disponibilidade necessária de amostras e do equipamento e suficientes para uma

validação completa.

O principal objetivo do trabalho foi o desenvolvimento de um método

analítico por cromatografia líquida capaz de quantificar glicerol livre em amostras

de biodiesel, sendo fator preponderante a determinação de parâmetros

cromatográficos ideais para a análise, deste modo foram avaliados os fatores

isoladamente visando a otimização do método.

No desenvolvimento desse projeto também foram avaliadas as influências

dos seguintes parâmetros cromatográficos pertinentes ao equipamento:

composição da fase móvel, química da coluna, volume de injeção da amostra,

fluxo dos solventes, pressão interna da coluna, temperatura do forno da coluna,

comprimento de onda do detector, pH da fase móvel e interação do analito com o

solvente.

Além de estabelecer os parâmetros do equipamento foram avaliados

fatores que determinam a qualidade dos cromatogramas, tais como resolução e

simetria dos picos, eficiência, fator de capacidade e seletividade do método.

Esses parâmetros são fatores de caráter informativo quanto à qualidade, porém

não são usados para rejeição da metodologia.

As análises cromatográficas foram realizadas no laboratório de Garantia

da Qualidade da BASF SA em Guaratinguetá, localizado no prédio C25.

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38  

4.1 Materiais

4.1.1 Descrição das amostras

Neste trabalho foram utilizadas amostras de biodiesel preparadas por

mestrandos do Programa de Pós-graduação em Engenharia Química da Escola

de Engenharia de Lorena (EEL-USP). Estas amostras foram obtidas por

transesterificação de óleo palmiste com etanol via catálise heterogênea básica

com óxido de nióbio (SANTOS, 2015).

Foram utilizados dois tipos de amostras. No primeiro, a amostra foi

referente ao final da reação de transesterificação, sem nenhum tipo de tratamento

ou purificação (denominadas amostras sem purificação). Enquanto o segundo tipo

de amostra foi separado após a etapa de purificação (denominadas amostras

após purificação).

Para a purificação das amostras foram utilizados variados métodos de

purificação, um dos métodos de purificação utilizados foi descrito por Carvalho,

2011, porém o objetivo desse trabalho é analisar a quantidade de glicerol nas

amostras antes e após a etapa de purificação, independente da metodologia

utilizada na purificação. Deste modo, o método desenvolvido pode ser utilizado

para quantificar o glicerol livre presente em qualquer tipo de amostra de biodiesel.

Para este trabalho, o glicerol das amostras analisadas já havia sido

isolado previamente, portanto a preparação primária não foi realizada neste

trabalho. Porém como consiste em uma etapa indispensável à metodologia

desenvolvida, esta etapa encontra-se descrita neste método.

4.1.2 Preparação primária da amostra

Para o isolamento do glicerol das amostras de biodiesel foi utilizado

hexano PA e um solvente de trabalho que consiste em uma solução de

etanol/água destilada na proporção 1:1. Além destes, foram utilizadas soluções 10

mM de metaperiodato de sódio e 0,2 M de acetilacetona.

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39  

Outros materiais utilizados para separação das fases foram pipetas de

Pasteur e tubos de vidro.

4.1.3 Preparação secundária da amostra

Para o preparo secundário da amostra foi necessária a preparação de

uma solução diluente de acetonitrila grau HPLC da marca J.T. Baker e água

deionizada na proporção volumétrica de 70% de acetonitrila e 30% de água.

Outros materiais necessários foram balões volumétricos de 10 ml de Vidro

Boro-Silicato certificados da marca Pyrex e filtro de membrana RC hidrofílico para

filtração de solventes orgânicos e aquosos de 0,2 µm, da marca Sartorius.

4.1.4 Desenvolvimento do método

Glicerol PA 85% (Merck) foi usado como padrão para implementação do

método de análise. As amostras de biodiesel foram preparadas no Laboratório de

Biocatálise da Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP) e foram obtidas por

transesterificação de óleo palmiste com etanol via catálise heterogênea.

Outros materiais que foram utilizados, além dos já descritos acima, são:

proveta graduada, pipeta volumétrica, vials de 2 ml.

4.2 Equipamentos

4.2.1 Preparações das amostras

Para a preparação primária da amostra foi utilizada uma centrífuga,

agitador e um banho de água termostizado.

Para a pesagem das amostras para o preparo de soluções para análise

foi utilizada uma balança analítica com resolução de 0,1 mg, modelo XS205 dual

range da Mettler-Toledo.

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40  

4.2.2 Preparo de solventes

Para o preparo da água ultrapura a ser usada na fase móvel

cromatográfica foi utilizado um sistema de purificação de água modelo Milli‑Q

Reference Ultrapure Water Purification System Type 1, da Merck Millipore, USA.

Para a homogeneização da fase móvel usada no preparo da amostra de

análise e da própria amostra de análise foi utilizado um banho ultrassônico de

modelo USC3300, da Eco Sonics, BR.

4.2.3 Análise cromatográfica

Para análise de cromatografia líquida foi utilizado o sistema

cromatográfico modelo Agilent 1200 series com bomba quaternária, injetor

automático de amostras, forno de coluna e detector de arranjo de diodos, Diode

Array Detector – DAD, com uma coluna modelo ZORBAX NH2 de dimensões 4.6

x 250 mm com 5 mm de diâmetro de poro, todos da marca Agilent Technologies,

USA. Somente a lâmpada de ultravioleta do detector foi utilizada neste método.

4.3 Metodologia

A partir do objetivo de desenvolver um método de quantificação de

glicerol livre por cromatografia líquida de alta eficiência, foram tomadas por base

metodologias descritas em LOZANO, 1996; LOURENÇO, 2009; HOL, 1999;

BONDIOLI, 2005 e DRUZIAN, 2005, efetuando as modificações necessárias ao

longo do desenvolvimento.

4.3.1 Preparação primária das amostras

As amostras foram submetidas a uma primeira etapa de preparação de

amostras, que consistiu no isolamento do glicerol da amostra de biodiesel. Essa

etapa é necessária para proteger a coluna do cromatógrafo e facilitar a separação

dos compostos, pois quanto menos compostos presentes na amostra, mais fácil é

a separação.

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41  

A metodologia utilizada para isolamento de glicerol já estava sendo

utilizada por alunos do laboratório de biocatálise quando a quantificação de

glicerol livre é feita via espectrofotometria, segundo metodologia descrita em

BONDIOLI, 2005.

Essa etapa de preparo de amostra consistiu na extração do glicerol do

biodiesel e foi feita pela pesagem de 1 grama de biodiesel e adição de 4 mL de

hexano e 4 mL de solvente de trabalho.

Após essa adição, as amostras foram submetidas a agitação em vortex

durante 5 minutos para garantir uma extração eficiente. Em sequência, as

amostras foram centrifugadas a 2000 rpm por 15 min e o sobrenadante foi

removido com pipeta Pasteur e descartado.

Uma alíquota de 0,5 ml da fase inferior contendo o glicerol foi transferido

para um tudo de vidro, no qual foram adicionados 1,5 ml de solvente de trabalho

(Etanol: água, 1:1), 1,2 ml de solução 10 mM de meta periodato de sódio e 1,2 ml

de solução 0,2 M de acetilacetona. Posteriormente as amostras foram levadas a

um banho de água termoestatisado a 70°C por cerca de 1 min e em seguida

resfriadas por imersão em água a 20°C por 2 min.

4.3.2 Preparação secundária da amostra

A segunda etapa da preparação das amostras iniciou com o preparo da

solução diluente, de concentração 70% acetonitrila e 30% água deionizada e

consistiu em misturar em um frasco de 1 L as quantidades exatas medidas em

proveta graduada e deixar a solução em banho ultrassom por 10 minutos, para

homogeneizar a amostra e retirar as bolhas de ar que são prejudiciais ao

cromatógrafo.

O segundo passo foi a da preparação da solução de análise para a

injeção no cromatógrafo. Da amostra obtida após a primeira etapa foram pesados

250 mg da amostra sem purificação ou 500 mg após purificação separadamente

em balões volumétricos de 10 ml e completados até pouco antes do menisco com

a solução diluente preparada.

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42  

Após completar o balão com a solução diluente, os balões são levados a

um banho ultrassom por 5 minutos, de modo que a solução fique homogênea.

Logo após a retirada do banho o menisco foi aferido com o diluente e o balão foi

agitado manualmente para homogeneização final.

A última etapa é filtrar a amostra com filtro de membrana para completa

retirada de precipitados e ar. Após esta etapa, transferir uma pequena porção da

amostra para o vial de análise usado no amostrador automático do cromatógrafo.

4.3.3 Desenvolvimento da metodologia de análise

A metodologia foi desenvolvida utilizando padrão de glicerol PA 85% em 3

concentrações utilizando curva de calibração por padronização externa. Foram

pesados padrões com 3,30 mg, 7,00 mg e 10,30 mg para criar a curva de

calibração e os padrões foram preparados com a mesma metodologia usada na

preparação das amostras, como descrito no item 4.3.2.

O método foi desenvolvido com corridas consecutivas da amostra até

otimizar cada um dos parâmetros descritos no item 3.4.1, para garantir que o

método teve condições ideais de análise. O método final resultou dos testes de

cada parâmetro, seguido pela otimização de cada um deles.

Os parâmetros de equipamento obtidos como ideais para esse método

são: temperatura do forno de coluna de 25° C, fluxo de fase móvel de 1,5 ml/min,

volume de injeção de 80,0 µl e comprimento de onda do detector de 195 nm.

A fase móvel utilizada no método consistia em 80% acetonitrila e 20%

água deionizada em proporção volumétrica e os componentes foram levados ao

equipamento em frascos separados, a mistura foi feita pelo sistema de bomba

quaternária do cromatógrafo. A fase móvel foi bombeada para a coluna de forma

isocrática.

A pressão do equipamento foi ajustada para estar entre 0 e 400 bar, caso

a pressão supere 400 bar o equipamento foi programado para interromper o fluxo

de solventes para a coluna e parar a análise, deste modo foi evitado o desgaste

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43  

da coluna. Esses valores de pressão foram retirados do encarte que acompanha

a coluna e são dados que dependem da coluna utilizada.

O pH da água deionizada foi controlado para estar sempre na faixa entre

5 e 8 para não danificar a coluna, durante o preparo da solução o pH da água foi

medido e anotado para conhecimento, porém não foi determinado um pH fixo

para este método, apesar de notado que o pH sempre esteve na faixa ideal.

4.3.4 Análise da amostra branco

Para a confirmação de que nenhum outro composto tem o mesmo tempo

de retenção do glicerol e assim atrapalhar o desempenho da quantificação, foi

realizado um teste com uma amostra branco, que consistiu em uma amostra de

análise preparada da mesma forma que as outras porém sem a adição de glicerol

na amostra, sendo assim no balão somente foi adicionada a fase móvel.

 

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44  

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados mostrados a seguir foram obtidos pelas análises

cromatográficas das amostras descritas utilizando o método desenvolvido e

descrito no presente trabalho. Foram realizadas análises de duas amostras

utilizando-se duas massas diferentes para cada uma delas e do padrão de glicerol

em três diferentes concentrações.

5.1 Cromatograma das amostras

As amostras foram preparadas com massas diferentes, 150 e 250 mg

para a amostra sem purificação e 400 e 500 mg para a amostra após purificação,

segundo a metodologia descrita neste método, esta alteração foi feita visando

avaliar a influência do aumento da massa da amostra na área do sinal detectado

e mantendo o resultado dentro dos valores determinados pela curva de

calibração.

O resultado esperado é que a resposta da relação massa/área para todas

as análises realizadas seja constante, de modo que o modelo de linearização

adotado realmente seja o mais adequado e possa ser utilizado. Além disso, pouco

desvio dessa relação indica que o método desenvolvido apresenta boa precisão

para quantificar o ativo da amostra.

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45  

Figura 13 - Cromatograma da amostra sem purificação - 144,31 mg

Fonte: Própria

 

Figura 14 - Cromatograma da amostra sem purificação - 256,60 mg

Fonte: Própria

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46  

Figura 15 - Cromatograma de amostra após purificação - 412,17 mg

Fonte: Própria

 

Figura 16 - Cromatograma de amostra após purificação - 506,99 mg

Fonte: Própria

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47  

Para a amostra após purificação, a preparação foi feita pesando massas

maiores, pois a concentração esperada de glicerol para essas amostras é menor

do que nas amostras sem purificação. Essa modificação foi necessária para

manter a concentração dentro da curva de calibração elaborada para esse

método.

Outro fator decisivo para realizar esse aumento da massa das amostras

foi devido a concentração esperada ser muito baixa, assim o aumento da massa

pesada facilitaria a detecção do pico. Para todas as amostras analisadas o valor

de massa pesada corrigida pela pureza encontrava-se na faixa de concentração

analisada na curva de calibração.

Com base na análise dos cromatogramas obtidos foi possível perceber

que nas amostras após purificação, mesmo preparadas com o dobro do peso da

massa das amostras sem purificação, não houve detecção do pico do glicerol.

5.2 Padronização e quantificação

A padronização foi feita utilizando-se um método absoluto, pois dispensa

a identificação de todos os compostos presentes na amostra, visto que o objetivo

era somente quantificar o composto de interesse, ou seja, o glicerol. Também foi

levado em conta que a padronização absoluta é excelente para quantificar

amostras que apresentam baixa concentração de componentes.

O método de padronização absoluta utilizado foi a padronização externa,

que consiste na criação de uma curva de calibração a partir das análises dos

padrões feitas separadamente das amostras, sendo ambos injetados no

equipamento sob a mesmas condições de preparo e parâmetros de análise.

No método de padronização externa não é feita a fortificação das

amostras com padrões, os padrões são analisados separadamente para a

construção de uma curva de calibração que será utilizada para a quantificação

das amostras.

A curva de calibração foi elaborada a partir da construção de uma reta,

onde no eixo das abcissas (X) foram adicionados os valores de massas corrigidas

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48  

dos padrões, ou seja, a massa pesada corrigida pela pureza do padrão utilizado.

No eixo das ordenadas (Y) foram adicionados os valores de área encontrados na

integração dos picos cromatográficos.

Os pontos da curva adotados foram executados pela análise de três

padrões de concentrações diferentes. Foram pesados 3,30; 7,00 e 10,30 mg de

glicerol PA 85% de pureza para um balão de mesmo volume, ou seja, de 10 mL,

segundo a metodologia descrita anteriormente.

Porém, a massa real utilizada para cálculos foi a massa pesada

considerando a pureza do padrão de glicerol de 85%, assim as massas reais de

glicerol utilizadas para a elaboração da curva de calibração são I - 2,81; II - 5,97 e

III - 8,83 mg.

Figura 17 - Cromatograma do padrão I

Fonte: Própria

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49  

Figura 18 - Cromatograma do padrão II

Fonte: Própria

Figura 19 - Cromatograma do padrão III

Fonte: Própria

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50  

Figura 20 - Curva de calibração

Fonte: Própria

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51  

Os dados de massas reais das amostras e áreas obtidas nas integrações

dos sinais das análises dos padrões I, II e III utilizados para a construção da curva

de calibração estão descritos na tabela 2, enquanto que os dados resultantes da

curva de calibração, encontram-se na figura 21.

Tabela 2 - Dados utilizados para construção da curva

Fonte: Própria

Figura 21 - Dados obtidos na construção da curva

Fonte: Própria

O coeficiente de correlação obtido através da curva de calibração

elaborada com os padrões para o presente trabalho foi de 0,99992. Essa

correlação indica uma relação direta entre X (massa) e Y (área) com um grau de

ajuste perfeito pela linearização utilizada, pois apresenta valor maior que 0,99.

Esse tipo de padronização foi escolhido devido ao fato do padrão ter uma

pureza não muito alta para ser utilizado em análise por HPLC, ou seja, devido ao

fato do teor de impurezas do padrão ser elevado, o que poderia interferir na

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52  

análise das amostras caso fosse usada a padronização interna, na qual o padrão

seria adicionado ao balão volumétrico em conjunto com as amostras.

Após a curva de calibração ser elaborada, a quantificação do glicerol livre

foi feita pela regressão linear das áreas dos picos encontradas nas análises com

base na curva de calibração montada para o experimento, assim criando uma

relação entre a área dos sinais cromatográficos das amostras e as áreas e

massas dos três padrões utilizados, permitindo, portanto, a determinação do teor

de glicerol livre, conforme a figura 21.

Portanto, o primeiro passo para a quantificação é a integração dos sinais

cromatográficos para a obtenção da área equivalente utilizada na fórmula de

cálculo de massa descrita para a quantificação do glicerol. A integração utilizada

foi obtida de modo automático pelo equipamento e os dados que o equipamento

utilizou estão mostrados no apêndice.

Após a integração dos sinais cromatográficos, as concentrações do

glicerol nas amostras foram obtidas a partir da substituição dos dados das

massas encontradas pela regressão linear da curva de calibração (Figura 22 e 23)

na equação 7. Para o cálculo efetivo da concentração das amostras analisadas, a

massa encontrada de ativo foi inserida na equação 8, juntamente com a massa

pesada de amostra, deste modo foi possível encontrar a porcentagem mássica de

glicerol presente nas amostras sem purificação, os dados encontram-se na tabela

4.

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53  

Figura 22 - Quantificação da amostra sem purificação - 144,31 mg

Fonte:Própria

Figura 23 - Quantificação da amostra sem purificação - 256,60 mg

Fonte: Própria

Tabela 3 - Resultado da quantificação das amostras

Fonte: Própria

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54  

Na análise dos resultados das amostras sem purificação foram

encontrados valores muito pequenos de coeficiente de variação e de desvio

padrão para tempo de retenção, relação área/massa e concentração de ativos.

Tabela 4 - Resultado de todas as quantificações

Fonte: Própria

Em todas as análises realizadas, nas quais o glicerol foi detectável, a

eluição do glicerol ocorreu em torno do tempo de 4 minutos e 50 segundos, tanto

nas análises das amostras quanto nas análises dos padrões, com um coeficiente

de variação e um desvio padrão muito pequeno, conforme indicado na tabela 5.

O pequeno valor do desvio padrão obtido nas medições da relação linear

de área/massa das análises e também do tempo de retenção do glicerol indica

que a metodologia apresenta boa precisão, com resposta consistente e com boa

performance na separação e quantificação do glicerol, além de indicar que

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55  

variações da massa não alteram a capacidade de detecção e quantificação do

analito.

Para os cromatogramas obtidos com as amostras após purificação, o

glicerol não foi detectável, portanto, a concentração pode ser interpretada como

menor que o limite de detecção do método, pois a impossibilidade de detecção e

integração da área do pico indica que a quantidade de glicerol na amostra possui

a mesma grandeza que o ruído do equipamento impossibilitando assim sua

detecção.

Porém, calculando-se o limite de detecção, possibilita-se a determinação

de uma grandeza para a concentração de glicerol das amostras após purificação.

Além de verificar se a qualidade das análises e as especificações das amostras

atendem as normas da ANP quanto à concentração de glicerol livre permitida na

amostra final de biodiesel.

Os cálculos do limite de detecção (LD) e limite de quantificação (LQ) foram

realizados segundo a equação 4 e 5, respectivamente, e resultaram em valores

descritos na tabela 6.

Tabela 5 - Valores calculados de LD e LQ

Fonte: Própria

Outro fator importante analisado foi a linearidade de todos os padrões

utilizados no desenvolvimento do método, a partir destes dados foi construída

uma reta com sete pontos para analisar a relação entre massa e área dos

padrões na faixa de trabalho.

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56  

Tabela 6 - Linearidade dos padrões de glicerol

 Fonte: Própria Figura 24 - Gráfico da linearidade do glicerol

 Fonte: Própria

A partir do resultado da plotagem do gráfico da linearização de 7 pontos

com um coeficiente de correlação de 0,9999 percebe-se que a faixa de trabalho

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57  

da curva de calibração apresenta um perfil linear na porção analisada, o que

indica boa capacidade de resposta do método desenvolvido e uma curva de

calibração com boa qualidade.

5.3 Análise dos conceitos de qualidade em cromatografia

Abaixo estão mostradas as figuras em que foram feitas comparações dos

perfis cromatográficos das amostras com o do padrão intermediário (P II). Foram

comparadas tanto as amostras antes e quanto as amostras depois da purificação,

além do perfil da amostra branco sem glicerol.

De todos cromatogramas obtidos foram analisados todos os parâmetros

relativos aos conceitos de qualidade em cromatografia, como por exemplo,

simetria, eficiência, resolução, fator de capacidade e seletividade.

Estes parâmetros não tem poder de invalidar o desenvolvimento do

método, somente indicam características específicas e servem para analisar e

avaliar a qualidade do método desenvolvido e possibilitar comparações

necessárias para a otimização dos parâmetros do equipamento durante o

processo de desenvolvimento.

Figura 25 - Cromatograma da amostra branco

Fonte: Própria

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58  

Figura 26 - Cromatograma comparativo da amostra sem purificação e padrão

Fonte: Própria

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59  

Figura 27 - Cromatograma comparativo da amostra após purificação e padrão

Fonte: Própria

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60  

A partir dos perfis analisados, com as comparações das amostras e dos

padrões apresentados nas figuras acima foi possível perceber que não há

nenhum interferente junto ou próximo do pico do glicerol que possa atrapalhar no

desempenho da quantificação do analito.

Com base nos cromatogramas analisados foi possível perceber que o

sinal apresenta boa simetria, pois o pico não apresenta caudas ou ombros. Os

sinais analisados não apresentam assimetria notável e são satisfatórios quanto à

simetria.

Além disso, os picos analisados apresentam formato fino e alongado,

picos com formato afilado e não arredondados indicam que o método tem boa

eficiência de separação do ativo. Devido ao formato percebido, a eficiência do

método em separar o glicerol dos outros componentes da amostra foi ideal.

Quanto à resolução, os picos apresentaram boa separação um dos outros

quando analisados pela linha de base dos cromatogramas. Como não há outros

picos próximos ao glicerol, isso indica que o método tem ótima resolução, pois

forneceu completo isolamento do ativo do resto dos compostos, esse fato é

resultado da otimização de todos os outros parâmetros.

O fator de capacidade do método se mostrou alto, pois o pico do composto

de interesse está bem afastado dos picos dos compostos não retidos, que não

tem nenhum tipo de interação com a coluna. Isto ocorre devido ao fato do glicerol

apresentar boa interação com a coluna e permanecer retido tempo suficiente para

ser bem separado.

A seletividade do método foi notada como satisfatória, como não há dois

compostos de interesse para calcular o tempo de retenção relativo entre pico de

componentes, então foi analisada pelo fator do alto isolamento dos outros

compostos, sendo que este é superior a 2 minutos.

Essa boa seletividade do método indica que fatores como composição da

fase móvel, quantidade de solvente orgânico, pH da fase móvel, temperatura da

coluna e fase estacionária foram bem otimizados, pois esses fatores influenciam

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61  

diretamente na seletividade de um método. Por este motivo, a otimização de cada

um dos parâmetros do método foi analisada.

5.4 Análise dos parâmetros cromatográficos

• Massa da amostra

A massa pesada da amostra deve ser 250 g para amostras sem

purificação e 500 mg após purificação. A decisão pela quantidade de massa na

preparação na amostra foi tomada levando em consideração a faixa linear de

trabalho da curva de calibração, além do limite de detecção do método. Com as

quantidades descritas acima ambos os parâmetros estão atendendo a norma

vigente.

• Composição da fase móvel

A fase móvel composta de acetonitrila (80%) e água deionizada (20%) foi

a melhor mistura encontrada para interagir com a amostra o suficiente para

ocorrer a separação necessária do composto na coluna.

• Dimensões da coluna e interações químicas

A coluna escolhida Zorbax NH2 possui essencialmente uma camada

monomolecular de aminopropilsilanos ligados quimicamente a um suporte

totalmente poroso de sílica gel com dimensões de 4,6 x 250 mm e 5 µm de

tamanho de partícula. A escolha da coluna foi baseada em DRUZIAN, 2005 e

após testes iniciais apresentou resultados satisfatórios e, portanto, foi mantida.

• Volume de injeção da amostra

O volume de injeção utilizado foi aumentado ao máximo suportado pela

coluna até 80 µl para que desse modo a intensidade do sinal cromatográfico fosse

maximizada.

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62  

• Fluxo dos solventes

O fluxo da fase móvel foi mantido em 1,5 ml por dois motivos, primeiro a

manutenção da pressão do equipamento dentro dos limites ideais e também para

garantir a separação bem resolvida do glicerol em um tempo de análise curto.

• Pressão do equipamento

A pressão do equipamento foi controlada em até 400 bar, importante para

a preservação da vida útil da coluna e dos selos do equipamento, além do fato de

não prejudicar a conformação espacial do recheio da coluna.

• Temperatura do forno da coluna

A temperatura do forno da coluna foi mantida na temperatura inicial de 25o

C, pois não mostrou ter grande influência na análise. Então a temperatura foi

mantida no menor grau possível, uma vez que a separação nesta temperatura era

boa.

• Comprimento de onda do detector

O comprimento de onda do detector foi mantido em 195 nm de modo a

minimizar o sinal dos interferentes e ainda possibilitando quantificar o glicerol, e

visto que ainda se encontra fora da região do UV Cutoff dos solventes utilizados.

• pH da fase móvel

O pH da fase móvel não foi um fator importante, pois tanto a fase móvel

quanto a fase estacionária apresentam força química intermediária e foi

simplesmente controlado dentro de uma faixa que não cause danos à coluna ou

ao detector.

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63  

6 CONCLUSÃO

A análise dos parâmetros de qualidade apresentados e analisados mostra

que o método desenvolvido apresentou resultados consistentes para a

concentração de glicerol nas amostras analisadas, independentemente do tipo da

amostra e do tipo de purificação.

Com o presente trabalho foi possível concluir que a metodologia

desenvolvida por HPLC atende as necessidades descritas nos objetivos, pois

apresenta uma resposta rápida de análise de 6 minutos e não necessita de

nenhuma derivatização para a realização da leitura do composto. A análise pode

ser feita em baixas temperaturas com gasto de pouco volume de solvente,

aproximadamente 25 ml por amostra. Este método é capaz de quantificar glicerol

livre em pequenas concentrações com alta precisão, resolução, eficiência e

sensibilidade.

Para atender as especificações regulamentadas nas normas existentes

na resolução No 45 da ANP, o biodiesel para sem comercializado necessita

apresentar uma porcentagem mássica de glicerol inferior a 0,02%. Deste modo,

conclui-se que o método é capaz de detectar a concentração mínima necessária,

porém as análises das amostras sem purificação indicam que é necessária uma

etapa de purificação para atender as normas em vigor e que a purificação

utilizada atender as especificações necessárias.

Assim, foi possível concluir que o método desenvolvido é capaz de

separar e quantificar glicerol livre em amostras de biodiesel feito a partir de óleo

palmiste com etanol por catálise heterogênea de óxido de nióbio, com a qualidade

exigida pelas especificações exigidas pela ANP.

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REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RE no 899, de 29 de maio de 2003 - Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/4983b0004745975da005f43fbc4c6735/RE_899_2003_Determina+a+publicação+do+Guia+para+validação+de+métodos+anal%C3%ADticos+e+bioanal%C3%ADticos.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em: 10 Out 2015.

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APÊNDICE

Dados de integração dos sinais cromatográficos

Fonte: Própria