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Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação para obtenção do grau de mestre em Engenharia Mecânica Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Santos Silva Júri Presidente: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Santos Silva Vogal: Doutora Diana Pereira Neves Outubro de 2016

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Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias

Marcelo Simão Guedes dos Santos

Dissertação para obtenção do grau de mestre em

Engenharia Mecânica

Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Santos Silva

Júri Presidente: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa

Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Santos Silva

Vogal: Doutora Diana Pereira Neves

Outubro de 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço e felicito a Galp energia pela iniciativa do programa 20-20-20, e pelo apoio

demonstrado ao logo dos anos aos universitários recém-formados, na sua integração

no meio profissional, essencial para nos dotar de conhecimentos que não se adquirem

no meio académico e que nos ajudam a preparar o futuro. Em especial, agradeço ao

Eng. António Álvaro, pelo apoio na resolução de todas as questões ocorridas no

decurso deste estágio.

Ao banco BPI, na pessoa do Eng. Jorge Branco Neves, e em especial à Maria Eduarda

Ferreira, que me assistiu e apoiou todos os dias nas questões que foram surgindo, e

por me terem disponibilizado desde o primeiro dia, todos os meios e ferramentas

essenciais para o desenvolvimento deste trabalho.

À minha família por me ter apoiado desde sempre, em especial nesta etapa, e por me

terem transmitido a educação e valores, sem os quais não seria quem sou, hoje.

Por fim, um agradecimento ao Instituto Superior Técnico, e aos Professores António

Moreira e Carlos Silva, por terem aceite a minha candidatura e me terem dado a

oportunidade de participar neste programa, e por todo o apoio e conhecimento que

me transmitiram, não só ao longo deste estágio, mas também durante todo o meu

percurso académico.

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RESUMO

Nas últimas décadas tem-se assistido a um aumento significativo dos consumos

energéticos, sendo este, muito superior ao da população mundial. A

consciencialização de que as fontes primárias de energia não são inesgotáveis, bem

como dos problemas que advém das emissões de CO2, conduziram ao aparecimento

de planos de racionalização de energia, tendo em vista a inversão desta tendência e

ao mesmo tempo cumprir a regulamentação internacional sobre a utilização de

energia.

Os edifícios de serviços representam uma grande porção destes consumos

energéticos, e também uma das categorias de infraestruturas com maior potencial de

implementação destes planos.

O propósito desta dissertação assenta no desenvolvimento de uma metodologia

capaz de ser implementada nas organizações, para cumprimento da legislação em

vigor relativa à eficiência energética – Decreto Lei 68-A/2015. Foi desenvolvida

através da caracterização energética, ao nível dos consumos de electricidade, na rede

de agências do Banco BPI, tendo em vista a elaboração de planos de utilização

racional de energia, que conduzam não só a uma redução dos consumos energéticos,

mas também da emissão de gases com efeito de estufa.

Foi efectuada uma análise da facturação eléctrica de 2015, com vista a quantificação

anual destes consumos, ponto chave do cumprimento desta lei, a sua caracterização

e desenvolvido um programa de eficiência energética. A implementação desta

metodologia conduzirá a uma redução dos consumos energéticos anuais em mais de

3,9 GWh, sendo que a diminuição das emissões de dióxido de carbono associadas a

estes é de 634 toneladas.

Palavras-chave: Gestão de energia; Eficiência energética; Agências bancárias;

Edifícios de serviços; DL 68-A/2015

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ABSTRACT

On the last decades, we have seen a significantly growth of the use of energetic

resources, greater than that observed for global population. The consciousness that

fossil fuels will not last forever, as well as, the problems originated by greenhouse gas

emissions, lead to the development of plans to improve the use of energy and

measures of energy management, that besides the reduction of the consumption of

energy, will be responsible for the accomplishment of the international regulations

about the emissions of these gases.

The buildings, particularly, the buildings of services, represent a large portion of

consumption of energy, and because of that, the most suitable for the implementation

of these plans.

This thesis, will be established around the development of a methodology for the

accomplishment of the Portuguese law about the energy efficiency on companies (68-

A/2015), and it was done through the characterization of the energetic consumption of

bank branches, and the development of measures capable to reduce them, as well as,

the greenhouse gas emissions.

It was conducted an analysis of the electric bills of the buildings of BPI, to quantify the

annual consumption of energy, characterizing them according to some aspects, and

the development of a plan, to introduce on these buildings, capable to reduce its

consumptions. This methodology will conduct to a reduction of more than 3,9 GWh of

the annual energy consumption, as well as decrease of the annual CO2 emissions of

634 tons.

Keywords: Energy management; Energy efficiency; Bank branches; Buildings of

services; DL 68-A/2015

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS............................................................................................................iii

RESUMO.............................................................................................................................v

ABSTRACT........................................................................................................................vii

ÍNDICE...............................................................................................................................ix

LISTADEFIGURAS.............................................................................................................xi

LISTADETABELAS...........................................................................................................xiii

LISTADEGRÁFICOS..........................................................................................................xv

LISTADEEQUAÇÕES.........................................................................................................xv

LISTADEABREVIATURAS................................................................................................xvii1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................1

1.1 MotivaçãoeEnquadramento..............................................................................................11.2 ObjectivosdaTese...............................................................................................................61.3 EstruturadaTese.................................................................................................................6

2. ESTADODAARTE.................................................................................................................72.1 UtilizaçãodeEnergiaemEdifícios.................................................................................................72.2 EficiênciaEnergéticanasorganizações.........................................................................................8

2.2.1 Directivasinternacionaiscomomotordaeficiênciaenergética...............................................82.2.2 ISO50001..................................................................................................................................92.2.3 Alegislaçãoportuguesa..........................................................................................................102.2.4 Certificaçãoenergéticadeedifícios........................................................................................10

2.2.4.1 SCE...................................................................................................................................112.2.4.2 RECS.................................................................................................................................122.2.4.3 REH..................................................................................................................................12

2.2.5 Factoresqueinfluenciamaclassificaçãoenergéticadeedifícios...........................................122.3 DecretoLei68-A/2015................................................................................................................132.4 Aeficiênciaenergéticaemagênciasbancárias...........................................................................142.5 Estratégiasparaamelhoriadaeficiênciaenergética..................................................................152.6 AuditoriaEnergética...................................................................................................................162.7 Equipamentosdeclimatizaçãoeiluminação..............................................................................17

2.7.1 Sistemasdeiluminação..........................................................................................................172.7.1.1 Incandescentes................................................................................................................172.7.1.2 Fluorescentescompactas................................................................................................182.7.1.3 Fluorescentestubulares..................................................................................................192.7.1.4 LED...................................................................................................................................202.7.1.5 Balastros..........................................................................................................................21

2.7.2 SistemasdeAVAC...................................................................................................................212.7.2.1 Split/Multisplit.................................................................................................................212.7.2.2 Rooftop............................................................................................................................222.7.2.3 VRF...................................................................................................................................222.7.2.4 Chiller..............................................................................................................................22

2.8 Influênciadocomportamentohumanonosconsumosenergéticos..........................................232.9 Asempresaseocumprimentodalegislação..............................................................................23

3. CASODEESTUDO...............................................................................................................25

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3.1. OBancoBPI......................................................................................................................253.2. AeficiênciaenergéticanoBPI..........................................................................................263.3. OpanoramaactualdaenergianoBPI..............................................................................263.4. AagênciatipodoBPI........................................................................................................26

4. METODOLOGIAPARAAEFICIÊNCIAENERGÉTICA...............................................................294.1. ResumodametodologiaaplicadanoBPI.........................................................................304.2. Perfilenergético...............................................................................................................314.3. Organizaçãodainformação.............................................................................................324.4. Agrupamentodasagênciasdeacordocomassuascaraterísticas...................................344.5. Auditoriaàsinstalações...................................................................................................34

4.5.1. Contratosdefornecimentodeelectricidade............................................................344.5.2. Consumostotaisdeelectricidadenoanode2015...................................................354.5.3. Desagregaçãodosconsumos....................................................................................384.5.4. Resultadosdolevantamento....................................................................................38

4.5.4.1. Iluminação.........................................................................................................384.5.4.2. EquipamentosdeAVAC.....................................................................................394.5.4.3. Equipamentoinformáticoebancário................................................................40

4.6. Planodecertificaçãoenergéticadaredecomercial........................................................415. RESULTADOSEDISCUSSÃO................................................................................................43

5.1. Abasededadosenergéticoscomomotordaeliminaçãodedesperdícios.....................435.2. Alteraçõesdetarifário......................................................................................................435.3. Alteraçãopotênciacontratada.........................................................................................455.4. Iluminação........................................................................................................................495.5. SistemasdeAVAC............................................................................................................535.6. ComportamentoHumano................................................................................................54

5.6.1. Manualdeboaspráticas...........................................................................................555.6.2. Difusãodeetiquetasepostersinformativos............................................................555.6.3. Campanhadesensibilização/formação....................................................................555.6.4. Sistemadeincentivos...............................................................................................565.6.5. Auditoriasaoplanodealteraçãodecomportamento..............................................565.6.6. Estimativadaspoupanças.........................................................................................57

5.7. Resumoeanálisedosresultados/medidasobtidos.........................................................586. CONCLUSÕES.....................................................................................................................617. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................63

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução do consumo de energia mundial 1990-2015 [1] .......................... 1

Figura 2 Comparação entre as emissões de GEE, por sector, em 2014, na UE,

Portugal e no Mundo. [3] ...................................................................................... 2

Figura 3 Espectro de emissão de gases com efeito de estufa, por gás, em 2014 [3] . 3

Figura 4 Evolução da concentração de CO2 na atmosfera 1960-2010 [4] ................ 3

Figura 5 Produção de electricidade por fonte, em Portugal (1999-2015) [6] .............. 4

Figura 6 Exemplo de um certificado energético, na versão actual. ........................... 11

Figura 7 Quadro resumo DL 68-A/2015 .................................................................... 14

Figura 8 Identificação dos tipos de lâmpadas existentes [16] ................................... 18

Figura 9 Comparação entre as diferentes lâmpadas fluorescentes tubulares .......... 20

Figura 10 Exemplo de uma lâmpada LED tubular .................................................... 20

Figura 11 Organização do património imobiliário do BPI .......................................... 25

Figura 12 Metodologia para a eficiência energética .................................................. 29

Figura 13 Resumo do projecto de eficiência energética a aplicar no BPI ................. 31

Figura 14 Base de dados energéticos do BPI ........................................................... 33

Figura 15 Agrupamento de dados para apuramento da potência requerida para cada

instalação ........................................................................................................... 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1Distribuição do peso de consumos energéticos dos edifícios. Adaptado de[10]

............................................................................................................................. 7

Tabela 2 Distribuição da quota de utilização final de energia em edifícios. Adaptado

de[10] ................................................................................................................... 8

Tabela 3 Agrupamento das instalações da rede comercial do BPI ........................... 34

Tabela 4 Tarifário BTN para potência contratada inferior a 20,7 kVA ....................... 35

Tabela 5 Tarifário BTN para potência contratada entre 27,6 e 41,4 kVA ................. 35

Tabela 6 Exemplo de cálculo dos consumos anuais para um CPE .......................... 36

Tabela 7 Consumos total referente a 2015 para cada tipo de fornecimento ............ 36

Tabela 8 Custo total, por fornecimento, da electricidade em 2015 ........................... 37

Tabela 9 Distribuição do tipo de iluminação por agrupamento de agências, por

agência ............................................................................................................... 39

Tabela 10 Potência dos equipamentos de AVAC, por agrupamento de agências ... 40

Tabela 11 Facturação anual com ciclo horário ......................................................... 44

Tabela 12 Facturação anual sem ciclo horário ......................................................... 44

Tabela 13 Comparação do custo anual entre os dois tarifários analisados .............. 44

Tabela 14 Custo mensal da potência contratada ...................................................... 45

Tabela 15 Instalações elegíveis para alteração de potência contratada, por

agrupamento ...................................................................................................... 48

Tabela 16 Poupança anual, com a alteração de potência, por agrupamento ........... 49

Tabela 17 Número total e custo das lâmpadas a substituir ...................................... 50

Tabela 18 Análise de poupança de consumos na substituição da iluminação ......... 51

Tabela 19 Análise da poupança anual na facturação, pela substituição da iluminação

........................................................................................................................... 52

Tabela 20 Poupança vida útil com a substituição da iluminação por lâmpadas LED 53

Tabela 21 Impacto das medidas de alteração de comportamento humano ............. 58

Tabela 22 Quadro resumo das medidas a implementar ........................................... 59

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Consumo total de energia final por sector na UE em 2014. Adaptado de [8]

............................................................................................................................. 5

Gráfico 2 Desagregação dos consumos da agência tipo do BPI ............................. 27

Gráfico 3 Distribuição da quota de contratos de fornecimento de electricidade ...... 32

Gráfico 4 Distribuição do peso de cada tipo de fornecimento de electricidade no

consumo total de 2015 ....................................................................................... 37

Gráfico 5 Distribuição do peso de cada fornecimento na facturação eléctrica, anual,

de 2015 .............................................................................................................. 38

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 Método de cálculo da potência total instalada ........................................ 46

Equação 2 Método de Cálculo da potência contratada ............................................. 48

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADENE: Agência para a energia

AQS: Águas quentes sanitárias

AVAC: Aquecimento ventilação e ar condicionado

BPI: Banco Português de Investimento

BTE: Baixa tensão especial

BTN: Baixa tensão normal

CE: Centros de Empresas

CFC: Clorofluorcarbonetos

CI: Centros de Investimento

CIL: Código de identificação do local

CO2: Dióxido de carbono

CPE: Código do ponto de entrega

DGEG: Direcção Geral de Energia e Geologia

ERSE: Entidade reguladora dos serviços energéticos

GEE: Gases com efeito de estufa

kWh: Kilowatt hora

LED: Light emitting diode

MT: Média tensão

MTEP: Milhões de toneladas equivalentes de petróleo

n.a: Não Aplicável

OCDE: Organização para a cooperação e desenvolvimento económico

PIAE: Património imobiliário afecto à exploração

PINAE: Património imobiliário não afecto à exploração

PME: Pequenas e médias empresas

RCCTE: Regulamento das características de comportamento térmico dos edifícios

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RECS: Regulamento de desempenho energético dos edifícios de comercio e

serviços

REH: Regulamento de desempenho energético dos edifícios de habitação

RSECE: Regulamento dos sistemas energéticos e de climatização de edifícios

SCE: Sistema de certificação de edifícios

UE: União Europeia

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Motivação e Enquadramento

O desenvolvimento da ciência moderna aliado ao relevante desenvolvimento industrial que ocorreu no

século XIX, permitiram um acesso mais facilitado e menos moroso aos recursos naturais presentes no

planeta.

Como consequência deste progresso, o mundo empresarial passou a estar em constante mutação,

colocando as empresas em permanente evolução, para superar a concorrência e garantir a sua

liderança de mercado.

Inerente a esta mudança de comportamento, está um aumento significativo dos consumos energéticos

da população mundial, como se pode verificar na figura 1, tendo sido superados, em 2015, os 13000

MTEP.[1]

Figura 1 - Evolução do consumo de energia mundial 1990-2015 [1]

Acontece que, e como bem patente na figura supra, grande parte desse consumo de energia, implicou

uma maior procura dos recursos energéticos disponíveis na natureza, nomeadamente os combustíveis

fósseis, cujas reservas são finitas, o que imediatamente despoletou uma preocupação relativa ao seu

esgotamento num futuro próximo.

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2

Ainda devido à crescente utilização destes combustíveis, as emissões de poluentes, que resultam da

sua utilização, estão a provocar alterações climáticas perigosas no planeta, com destaque para o

aquecimento global, que poderão tornar-se catastróficas se nada for feito.

As emissões produzidas pela utilização excessiva de combustíveis fósseis de forma a satisfazer as

crescentes necessidades energéticas a nível global, estão a provocar alterações climáticas perigosas

no planeta que podem afetar gravemente a nossa continuidade. [2]

No entanto e contrariamente às soluções encontradas para solucionar o problema dos CFC, quando

este surgiu há uns anos atrás, os gases com efeito de estufa representam um problema bem mais

complexo de ultrapassar.

Figura 2 Comparação entre as emissões de GEE, por sector, em 2014, na UE, Portugal e no Mundo. [3]

Da análise da figura 2, verifica-se que, no que concerne às emissões de GEE, existe um padrão das

mesmas, em Portugal, na UE e no Mundo, verificando-se apenas ligeiras variações no espectro. O que

indica que as soluções encontradas para fazer frente ao constante crescimento destas emissões, serão

extensíveis a todos os países.

Page 21: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

3

Figura 3 Espectro de emissão de gases com efeito de estufa, por gás, em 2014 [3]

Atesta-se ainda da figura 3, que o componente maioritário das emissões de GEE, é o dióxido de

carbono.

O dióxido de carbono é um composto químico constituído por dois átomos de oxigénio e um átomo de

carbono. Foi descoberto pelo Escocês Joseph Black em 1754 e é um composto imprescindível para a

existência de vida no planeta. É essencial para a realização da fotossíntese – processo através do qual

os organismos fotossintetizantes obtêm energia química.

No entanto, é a este que se atribuem as responsabilidades das alterações climatéricas, e é no combate

à sua diminuição, que assentam as mais importantes estratégias de combate a estas alterações, e a

sua concentração na atmosfera não para de aumentar (figura 4).

Figura 4 Evolução da concentração de CO2 na atmosfera 1960-2010 [4]

Page 22: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

4

Apesar dos indicadores internacionais apontarem os Estados Unidos da América e a China como sendo

os maiores emissores deste gás, o esforço para a redução das suas emissões deverá ocorrer à escala

global. E é aqui que entra a eficiência energética em edifícios, como sendo um sector com bastante

peso no consumo anual energético dos países e, portanto, com um grande potencial para intervenção

a esse nível.[5]

A crescente preocupação referente às questões da emissão de poluentes assim como da extinção dos

combustíveis fósseis, e com o intuito de inverter a situação verificada até então, formou-se uma

cooperação internacional entre os países, de maneira a que fossem estabelecidas metas para a

emissão de gases com efeito de estufa, GEE, intimamente ligados a uma diminuição da utilização dos

combustíveis fósseis, uma aposta nos recursos energéticos renováveis, e também em programas de

eficiência energética.

Em Portugal, inicialmente o foco destas medidas incidiu sobretudo no que diz respeito à produção de

electricidade, uma vez que grande parte desta, era efectuada com recurso aos combustíveis fósseis. A

implementação de tecnologias de produção e utilização de energia renovável, implicaram um

investimento significativo por parte do estado português, tendo a quota de renováveis, na produção de

electricidade, aumentado significativamente, fruto desse mesmo investimento, e que está bem patente

na figura 5.

Figura 5 Produção de electricidade por fonte, em Portugal (1999-2015) [6]

Mas como referido anteriormente, não basta introduzir a produção de energia de origem renovável,

sendo também necessário adoptar programas de eficiência energética.

O conceito de eficiência energética é muito importante para o desenvolvimento das sociedades

modernas, e a sua acção, traduz-se num impacto directo no ambiente e na economia. Estes possuem

custos de implementação, em geral, bastante mais reduzidos, e com grande potencial na diminuição

Page 23: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

5

dos consumos energéticos, muitas vezes não necessitam de grandes mudanças a nível tecnológico e

estrutural, nem muito menos uma regressão no estilo de vida das populações, tendo como resultado

um melhor aproveitamento dos recursos energéticos, para o mesmo objectivo final.

Como podemos verificar na gráfico 1, a distribuição de consumos na UE em 2014, a maior fatia refere-

se aos consumos de edifícios – considerando a junção das porções residencial e serviços – a qual

representa um total de 38%, sendo de relevante interesse a aplicação destes planos de racionalização

de energia a estes sectores.[7]

Gráfico 1 Consumo total de energia final por sector na UE em 2014. Adaptado de [8]

Se considerarmos que uma grande porção da ineficiência dos edifícios se deve a um inadequado

comportamento humano, teremos um grande potencial de redução neste sector, incutindo uma

mudança de comportamento aos seus utilizadores, e com um investimento relativamente pequeno.

Adicionalmente, os edifícios ainda possuem uma elevada potencialidade de economia de energia,

através da implementação de medidas que visem uma melhor utilização dos sistemas de climatização,

iluminação, e ainda pela instalação de energias renováveis.[9]

Tendo em mente o exposto até aqui, esta dissertação surge da necessidade de analisar os consumos

energéticos dos edifícios, nomeadamente das agências bancárias, tendo para isso sido estudado o

caso da rede comercial do Banco BPI.

Como consequência dessa análise e mediante os resultados obtidos, será estudada a introdução de

medidas que incorporem economias para a empresa, nomeadamente através da elaboração de um

plano estruturado que apresente medidas de racionamento do consumo de energia eléctrica, a redução

de custos, e que contribua decisivamente para um modelo de gestão sustentável da mesma,

contribuindo para o cumprimento da legislação em vigor.

13%

2%

33%

26%

25%

1%

Serviços Agricultura Transportes Indústria Residências Outros

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6

1.2 Objectivos da Tese

Esta dissertação tem como finalidade o desenvolvimento de uma metodologia capaz de assegurar o

cumprimento da legislação relativa à eficiência energética nas empresas, tendo por base a realização

de um diagnostico energético ao parque imobiliário afecto à exploração do BPI, mais especificamente

na rede de agências bancárias desta instituição.

Como consequência dos resultados obtidos, e tendo em conta uma politica de desenvolvimento

sustentável para a empresa, deverão ser elaboradas propostas de medidas correctivas, no caso de

serem evidentes os benefícios da sua aplicação, na redução da factura energética e dos consumos

anuais, atendendo também ao cumprimento da imposição de implementação destas medidas através

da legislação do sector.

Deverá ainda ser averiguada a extensão da metodologia desenvolvida, a outras instalações de serviços

ou comércio, cuja estrutura de funcionamento seja idêntica.

1.3 Estrutura da Tese

O presente trabalho encontra-se estruturado em seis capítulos, a que se acrescentam as referências e

os anexos.

No capitulo 1 é efectuada uma introdução ao trabalho, em que se aborda a motivação e o

enquadramento do caso de estudo, os objectivos propostos e a estruturação deste documento.

No capitulo 2, é abordado o estado da arte, no que diz respeito à eficiência e gestão de energia, a

legislação em vigor e ainda os conceitos relativos à auditoria energética. São ainda mencionadas as

soluções tecnológicas que poderão ser implementadas para o alcance dos objectivos propostos.

No capitulo 3 é descrito o caso de estudo, assim como uma visão geral sobre a utilização de energia

no BPI.

O capítulo 4 apresenta a metodologia para a eficiência energética, elaborada neste caso no BPI, mas

facilmente extensível a outros bancos, assim como a descrição de todas as medidas referentes a este.

No capítulo 5 são apresentados os resultados e uma discussão das medidas que foram enumeradas

no capitulo 4.

Por fim, no capitulo 6, são exibidas as conclusões deste projecto.

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7

2. ESTADO DA ARTE

Este capitulo, descreve os conceitos utilizados na elaboração desta dissertação.

2.1 Utilização de Energia em Edifícios

Os edifícios, quer sejam de serviços ou residenciais, são responsáveis por grandes impactos no meio

urbanístico, e a eles estão associados cerca de 40% do consumo de electricidade – tabela 1 – em

grande parte dos países desenvolvidos.[10]

A Agência Internacional para a Energia, estima mesmo que, até 2030, as tendências actuais para a

procura de serviços de energia dos edifícios, vão impulsionar cerca de metade dos investimentos.

Consumo de energia final (%) Comercio Residencial Total

EUA 18 22 40

Reino Unido 11 28 39

EU 11 26 37

Espanha 8 15 23

Mundo 7 16 24

Tabela 1Distribuição do peso de consumos energéticos dos edifícios. Adaptado de[10]

São por isso, estruturas às quais se atribui uma grande responsabilidade no que à contribuição para o

esgotamento dos recursos energéticos diz respeito, uma vez que são parte essencial da sociedade

moderna.

Os sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado, assim como a iluminação, integrados

nestes edifícios, apresentam-se como os maiores responsáveis por esta elevada quota de consumos

energéticos que lhes é atribuída. Muitas vezes, só os sistemas de AVAC, hoje em dia considerados

essenciais para os padrões de conforto térmico das populações, representam 50% do consumo do

edifício e 1/5 do total da energia consumida globalmente, com as projecções a indicarem que a

utilização deste tipo de equipamentos irá apresentar um acentuado crescimento na União Europeia, o

que, dada a sua expressão no consumo total de energia, representa uma elevada preocupação. Já a

iluminação, é responsável por outros 30% desses consumos – tabela 2. [10]

Page 26: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

8

Uso final energia (%) Espanha UE EUA Reino Unido

AVAC 42 68 53 62

AQS 26 14 17 22

Iluminação 32 18 30 16

Tabela 2 Distribuição da quota de utilização final de energia em edifícios. Adaptado de[10]

2.2 Eficiência Energética nas organizações

O conceito de eficiência energética, reveste-se de particular importância, no que aos edifícios diz

respeito. Actualmente, várias organizações governamentais, desenvolvem mecanismos de legislação

e incentivos, no sentido de promover a eficiência energética dos edifícios e industria. Este tipo de

legislação, determina padrões mínimos de boas praticas energéticas a serem seguidos pela industria

e pelas pessoas, estando as mesmas sujeitas a penalizações, caso estes não sejam cumpridos. Desta

forma o investimento em novos equipamentos, energeticamente mais eficientes e a elaboração de

planos de racionamento de energia, está a tornar-se uma obrigação, e não uma opção, como ocorria

até aqui.

A introdução destes regulamentos, traduzir-se-á em impactos não só nas novas construções, mas

também em modificações das infraestruturas já existentes.

2.2.1 Directivas internacionais como motor da eficiência energética

De modo a inverter a tendência do consumo em grande escala dos combustíveis fósseis para a

obtenção de energia, foi estabelecido internacionalmente um compromisso, contendo um pacote de

medidas com vista à redução das emissões de CO2 e consequentemente do consumo dos referidos

combustíveis.

Este compromisso denominou-se protocolo de Kyoto, e tinha como meta a diminuição em 5,2% até

2012 de emissões de gases com efeito estufa, tendo por base o nível de emissões em 1990.

No caso particular da União Europeia, em Março de 2007 afirmou o compromisso de alcançar uma

redução de vinte porcento, antes do ano de 2020, nos seus Estados-membros, conhecido como “20-

20-20”, que se traduzia numa redução de 20% das emissões de dióxido de carbono, em melhorar 20%

os níveis de Eficiência Energética e em introduzir na sua rede eléctrica, uma da produção energia de

origem renovável de pelo menos 20%. [11]

Consequentemente cada país tem de implementar a legislação local e programas de incentivos com

impactos financeiros os quais não poderão, em situação alguma, ser ignorados.

Page 27: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

9

Ainda no âmbito da legislação emitida pela União Europeia, a directiva 2012/27/UE, como rectificação

de todas as directivas emitidas anteriormente na órbita desta temática, estabelece um conjunto de

medidas adicionais para a promoção da eficiência energética, a fim de assegurar o cumprimento dos

objectivos do programa “20-20-20”.

Esta menciona os mecanismos de monitorização de energia e os instrumentos de medição de

consumos, como essenciais neste processo, e estabelece ainda alguns objectivos gerais, como:

• Um regime de obrigatoriedade de implementação de medidas de eficiência energética para as

empresas de venda a retalho de energia;

• Obrigatoriedade de implementação de sistemas de gestão de energia e auditorias energéticas

para as grandes empresas, assim como assegurar a facilidade de acesso a estes serviços aos

utilizadores finais que os desejem implementar;

• O livre acesso aos consumos reais e facturação de energia aos utilizadores finais;

• A promoção por parte dos estados membros, de sistemas de eficiência no aquecimento e

arrefecimento, junto das populações.

Além desta síntese de algumas medidas indicadas pelas directivas comunitárias, Portugal, assim como

os outros estados membros, também implementou a sua própria legislação

Um pouco por todo o mundo foram implementados vários tipos de legislação, que obrigam as empresas

na adoção de comportamentos ambientais e de Eficiência Energética, tendo sempre como base a

introdução de incentivos fiscais e financeiros, como já referido anteriormente.

2.2.2 ISO 50001

A International Organization for Standardization – ISO – deu um contributo muito positivo, no combate

à ineficiência energética, ao publicar, em 2011, a norma ISO 50001 – «Energy Management Systems

– Requirements with guidance for use», adotada em Portugal, em 2012, pelo IPQ – Instituto Português

da Qualidade, como NP EN ISO 50001 – «Sistemas de Gestão de Energia. Requisitos e linhas de

orientação para a sua utilização.», prevendo-se que possa influenciar diretamente até 60% do consumo

mundial de energia.

A ISO 50001, surge como uma base para as organizações demonstrarem que implementam um

sistema eficaz de gestão da energia, não só para atingir melhorias no seu próprio desempenho

energético, como também para comprar produtos e serviços energeticamente eficientes e incorporar

desenvolvimentos para a melhoria do desempenho energético.

A ISO 50001 ao estabelecer os requisitos para um sistema de gestão de energia, tem como principal

objetivo permitir às organizações estabelecer os sistemas e processos necessários para melhorar o

seu desempenho energético global, incluindo a utilização, consumo e eficiência energética.[12]

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10

2.2.3 A legislação portuguesa

No seguimento da legislação europeia relativa às estratégias energéticas, Portugal desenvolveu a sua

própria legislação. Nesse sentido surgem dois documentos relevantes, a Estratégia Nacional para a

Energia 2020 (ENE) e o Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética (PNAEE).

O PNAEE 2016 - Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética até 2016 – é um instrumento de

planeamento energético que estabelece as diferentes etapas imprescindíveis para alcançar as metas

e compromissos internacionais assumidos por Portugal em matéria de eficiência energética. Para além

da densificação das metas a atingir, o referido plano, apresenta as barreiras existentes, bem como o

potencial de melhoria em matéria de eficiência energética e de incorporação de energia proveniente de

fontes renováveis nos vários setores de atividade, como os Transportes, Estado, Agricultura, Edificios

de Serviços e Residencial.[13]

A estimativa da poupança induzida pelo PNAEE até 2016 é de 1501 KTep (em energia final),

correspondente a uma redução do consumo energético de cerca de 8,2% relativamente à média

verificada no período entre 2001 e 2005, a qual se aproxima da meta indicativa definida pela União

Europeia de 9% de poupança de energia até 2016.

2.2.4 Certificação energética de edifícios

A entrada em vigor do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos

Edifícios (SCE) decorrente das directivas emitidas pelo Parlamento Europeu, relativas ao desempenho

energético dos edifícios, verificou-se a implementação nos Estados-Membros de um sistema de

certificação que permite informar os cidadãos sobre a qualidade térmica dos edifícios, aquando da sua

construção, reabilitação, venda ou arrendamento. O mesmo deverá acontecer em relação aos grandes

edifícios de serviços.

Uma das mais importantes alterações impostas por esta directiva é o facto de ser obrigatória a

apresentação de um Certificado Energético do Edifício, semelhante ao da figura 9, onde é descrita toda

a informação relativa ao desempenho energético do mesmo devendo este ser exposto de forma clara,

para efeitos de divulgação.

Este é emitido após auditoria energética dos técnicos devidamente acreditados, onde procuram

descrever o desempenho energético do edifício quer seja habitacional ou de serviços. E a sua

classificação energética, será obtida através do cálculo do consumo global de energia do edifício sob

condições nominais, a lhe é atribuída em função do seu desempenho numa escala predefinida de 9

classes, desde A+

(elevada eficiência) a G (baixa eficiência).

Este documento também identifica, caso haja potencialidade para tal, medidas de melhoria de

desempenho energético. Estas medidas são devidamente estudadas pelo perito especificamente para

o edifício em questão, sendo sempre o objectivo final, o de reduzir da fatura energética e as emissões

de dióxido de carbono. A implementação de tem sido facilitada pelos programas desenvolvidos no

Page 29: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

11

âmbito do PNAEE, referido anteriormente.

Este é obrigatório, para os casos de obtenção de licenças de utilização em edifícios novos, assim como

para realização de obras de reabilitação de valor superior a 25% do valor do edifício. No caso de venda

ou aluguer o proprietário tem de apresentar o certificado emitido no âmbito do SCE.

O certificado energético emitido pela Agência para a energia (ADENE), possui um prazo de validade

máximo de 10 anos, exceto para os edifícios de serviços com mais de 1000m2, cujo prazo de

revalidação é mais curto.

Figura 6 Exemplo de um certificado energético, na versão actual.

2.2.4.1 SCE

Ainda no âmbito da legislação para a eficiência energética, foi introduzido o Sistema Nacional de

Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior (SCE), que entrou em vigor a 1 de Julho de 2007.

Este tem como objectivo primordial, a aplicação dos regulamentos energéticos em edifícios, de certificar

o seu desempenho nesse campo, assim como no da qualidade do ar interior, e ainda identificar

eventuais medidas de melhoria do seu desempenho, que poderão conduzir a ganhos energéticos para

Page 30: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

12

o mesmo. Esta certificação é efectuada por peritos devidamente acreditados e é supervisionada pela

ADENE e pela DGEG.

2.2.4.2 RECS

O RECS– Regulamento de desempenho energético dos edifícios de comercio e serviços – que veio

substituir o antigo RSECE, implementou a regulamentação relativa à eficiência energética dos edifícios

dotados de sistemas de climatização, o qual se torna de especial relevância, dado que, como

apresentado anteriormente, estes sistemas são responsáveis por cerca de 50% do consumo global dos

edifícios.

Este, para além de se focar na qualidade da envolvente dos edifícios (paredes, envidraçados,

pavimentos e coberturas) e na limitação dos consumos energéticos, aborda a eficiência e manutenção

dos sistemas de climatização, determinando que sejam efectuadas auditorias periódicas a estes

sistemas. Neste regulamento, a qualidade do ar interior, surge também como um dos aspectos

essenciais para os edifícios, e estabelece requisitos relativos às taxas de renovação do ar nos espaços

e a concentração máxima dos principais poluentes.

2.2.4.3 REH

O REH – Regulamento de desempenho energético dos edifícios de habitação – substituto do RCCTE,

destina-se a regulamentar a qualidade térmica dos edifícios de habitação e de serviços sem sistemas

de climatização centralizados. Os edifícios abrangidos por este regulamento têm que possuir potências

térmicas inferiores a 25kW, sendo que, quando o edifício é de serviços, deverá ter uma área inferior a

1000 m2. No que concerne ao cálculo das necessidades de aquecimento e arrefecimento e na

verificação efetiva e sistemática dos requisitos regulamentares, este diploma é mais exigente que a

versão anterior. Apresenta ainda uma estratégia para a definição de um valor limite das necessidades

energéticas do edifício, onde é contemplado o aquecimento, o arrefecimento e a preparação das Águas

Quentes Sanitárias (AQS), em função da tipologia dos edifícios e da zona climática. A obrigatoriedade

de painéis solares térmicos, está contemplada neste diploma, somente para os casos em que os

mesmos se aplicam.

2.2.5 Factores que influenciam a classificação energética de edifícios

A eficiência energética dos edifícios, tem tendência a diminuir, à medida que o tempo passa, após a

sua construção ou renovação. Deste modo, torna-se essencial a redução dos consumos energéticos,

o que pode ser conseguido através de vários meios, como a melhoria das suas características

construtivas, levando assim à diminuição das perdas de energia que por sua vez reduz as carências

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13

energéticas em aquecimento e arrefecimento, na utilização dos equipamentos energeticamente mais

eficientes e em medidas de gestão da energia.

Como referido anteriormente neste documento, os sistemas de AVAC e iluminação são os principais

responsáveis pela fatura energética de um edifício. Como tal, torna-se necessário que os sistemas de

AVAC estejam devidamente dimensionados para o controlo das condições ambientais no interior dos

edifícios e que o desempenhem da forma mais eficiente possível.

No que respeita aos sistemas de aquecimento é recomendável que se utilize, quando possível um

sistema centralizado para a climatização e produção de águas quentes sanitárias. O aproveitamento

da radiação solar para este fim, é outro recurso que pode ser utilizado, através da conversão desta

mesma radiação em energia térmica através da utilização de coletores solares para AQS.

A iluminação dos edifícios constitui uma outra parte importante dos seus consumos globais, o que a

torna objecto de análise, no que toca à introdução de tecnologias mais evoluídas neste campo, que

conduzam a consideráveis ganhos na faturação mensal, mas mantendo o nível de conforto visual

desejado. Estas tecnologias poderão assentar na substituição de lâmpadas incandescentes por

lâmpadas fluorescentes compactas ou tubulares, ou ainda, e elevando mais o nível de eficiência

energética, por lâmpadas LED. Também a substituição de balastros ineficientes por balastros

eletrónicos, poderá ser uma medida a considerar.

A utilização de sensores de presença nos espaços que não são permanentemente ocupados, como

corredores e casas de banho e a regularidade da limpeza das lâmpadas, refletores e difusores, conduz

a uma redução da fatura energética bem como a duração da luminária.

2.3 Decreto Lei 68-A/2015

Paralelo ao sistema de certificação energética dos edifícios, surge o decreto lei 68-A/2015 relativo à

eficiência energética, o qual estabelece que todas as empresas não PME, estão obrigadas a auditar os

consumos energéticos do seu parque imobiliário, e à elaboração de relatórios decorrentes dessas

auditorias, que deverão ser posteriormente comunicados à DGEG.

A empresa, deverá ainda registar anualmente os seus consumos energéticos junto desta entidade,

para monitorização da evolução dos mesmos.

De forma resumida, será necessário que as seguintes obrigações sejam cumpridas (figura 7).

Page 32: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

14

Figura 7 Quadro resumo DL 68-A/2015

Como forma de monitorizar e melhorar os gastos energéticos, a empresa deverá, posteriormente à

realização das auditorias, elaborar planos de racionalização dos mesmos, com vista à sua diminuição.

2.4 A eficiência energética em agências bancárias

As agências bancárias, dada a sua relevância, em termos numéricos, e igualmente em termos de

consumo energético, revestem-se de particular interesse, no que à eficiência energética diz respeito,

tendo sido já efectuados anteriormente vários estudos referentes à introdução de melhorias energéticas

nestas instituições. [21]

O consumo de energia nos sectores comercial e de serviços é fortemente influenciado pela quantidade

de calor gerado no interior do edifício. Pode ser observado que a iluminação artificial e os sistemas de

ar condicionado são os principais destinos finais de energia nestes sectores.

Tradicionalmente, as agências bancárias são grandes consumidoras de energia, chegando a gastar

mais do que outros edifícios de serviços, pois além da iluminação interior e dos sistemas de AVAC,

estas instituições estão sempre envoltas em grandes campanhas de publicidade, e que muitas das

vezes envolvem a utilização adicional de iluminação. Também o intenso uso de equipamentos,

principalmente informáticos, existentes no interior das agências e os sistemas de disponibilização de

dinheiro, contribuem para estes avultados consumos energéticos.

Nestes edifícios, é também comum haver uma grande preocupação com segurança bancária, o que

acaba afetando a distribuição e a quantidade de luz natural nos ambientes internos.

Page 33: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

15

Além desses fatores, há ainda a destacar o facto de que muitas agências nem sempre se encontram

numa numa orientação solar favorável, ou ainda em muitos dos casos em que o aproveitamento seria

possível, a sua utilidade acaba por ser bastante diminuta devido aos dispositivos de marketing

colocados junto das janelas, o que acaba por influenciar o desempenho térmico do edifício e a

necessidade de existência de mais iluminação artificial, contribuindo igualmente para o aumento do

consumo de energia.

Posto isto, este tipo de edifícios, que se apresenta geralmente com bastantes ineficiências energéticas,

poderá ter um elevado no alcance das metas regulamentadas internacionalmente, mediante a

aplicação de programas de racionamento dos seus consumos.

2.5 Estratégias para a melhoria da eficiência energética

No momento de se proceder à identificação de um plano de eficiência energética para um edifício ou

instalação, deverão ser seguidos determinados passos essenciais e necessários, para uma boa

implementação do mesmo.

Nesta secção do documento será feita uma análise da abordagem a tomar na implementação de um

sistema de gestão de energia a um edifício. Assim, será descrito um conjunto de possíveis medidas

que visam otimizar a eficiência energética.

As propostas de melhoria para os sistemas consumidores de energia de um edifício deverão focar-se

sempre na configuração da infraestrutura de estudo. �Como já referido em pontos anteriores deste

documento, uma das fases mais relevantes no planeamento de um programa de eficiência energética,

é a que se refere ao processo de avaliação e monitorização. �Dependendo da especificidade da

instalação, deverão ser definidos indicadores de eficiência, assim como métodos para o ajuste dos

consumos de referência em função das variáveis independentes e fatores estáticos com influência

nestes. Neste processo de avaliação e monitorização, existem algumas medidas standard, as quais se

apresentam de seguida: �

• Torna-se necessária a medição e verificação do desempenho energético da instalação e a

monitorização da evolução deste, ao longo do tempo, ou no caso de introdução de medidas

correctivas, logo após a sua aplicação;

• Definição de indicadores energéticos, tais como, o registo de cada um dos tipos de energia

consumida e a potência instalada;

• Identificação e apontamento dos fatores que alteram a eficiência energética dos processos

sistemas e/ou unidades correspondentes:

• Executar regularmente uma comparação com valores de referência setoriais, nacionais ou

regionais, sempre que existam dados;

Deverão ainda ser efectuadas auditorias energéticas capazes de identificar aspetos relevantes como

Page 34: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

16

os consumos globais associados às diferentes formas de energia utilizadas no edifício, as condições

do seu fornecimento e de utilização,�balanços dos principais equipamentos e sistemas consumidores

de energia, e ainda a desagregação dos consumos de energia por principais equipamentos e sistemas

consumidores de energia.

2.6 Auditoria Energética

A gestão de energia nos edifícios e indústria é fundamental para uma utilização racional dos

combustíveis e da energia elétrica. No entanto, para que seja eficaz, tem de se basear em dados

concretos. De facto, para se poderem implementar as medidas adequadas a uma determinada

instalação, é indispensável o controlo rigoroso dos seus consumos de energia. Ora, este facto, implica

que se tenha por base, uma avaliação energética que permita conhecer no tempo os consumos de

todas as formas de energia utilizadas e a sua relação com o funcionamento da instalação. Desta forma,

poderão estabelecer-se os consumos específicos de energia, assim como, os custos energéticos da

atividade.

Ainda assim, a contabilização dos consumos energéticos não é suficiente. Estes apenas permitem uma

visão macroscópica da utilização da energia da instalação, sem, no entanto, considerar o estado de

utilização dos diversos equipamentos, os respectivos rendimentos, e as várias perdas que cada um

apresenta.

Assim, para se poderem elaborar soluções que permitam reduzir energia em todas as utilizações, é

necessário proceder à quantificação desta, recolhendo os dados necessários para os cálculos das

várias perdas energéticas dos principais equipamentos consumidores de energia. É aqui que as

auditorias energéticas se constituem como uma ferramenta estratégica para que se possa elaborar um

planeamento energético de uma instalação.

Para que se possa implementar um plano gestão de energia capaz de introduzir melhorias significativas

na instalação para a qual foi desenvolvido, este deverá estar alicerçado em objetivos numéricos,

fornecidos pela auditoria, além de especificar em detalhe como alcançar esses objetivos. É também

através do recurso a auditorias periódicas que o cumprimento desse mesmo programa deve ser

verificado, de forma a que, caso seja necessário, haja uma reformulação ou elaboração de novos

programas face a possíveis alterações introduzidas por novos equipamentos, processos ou

produtos/serviços.

Uma Auditoria Energética é, essencialmente, um exame detalhado das condições de utilização de

energia numa instalação, e nesse sentido constitui um instrumento fundamental para qualquer gestor

de energia.

O faseamento de uma auditoria depende naturalmente do seu âmbito, assim como da dimensão e do

tipo das instalações a auditar. No entanto, podem considerar-se como fases essenciais deste processo,

o planeamento, o trabalho de campo, o tratamento da informação recolhida e a elaboração do relatório

final.

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17

No referido relatório deverá constar, toda a informação obtida, assim como a análise sobre a situação

energética da instalação em causa; as situações encontradas / observações e medições efetuadas

durante a fase de trabalho de campo; a determinação de consumos específicos de energia por

instalação global e operações e equipamentos maiores consumidores de energia incluindo a sua

comparação com valores de referência; a identificação das anomalias e propostas das medidas de

conservação de energia consideradas mais convenientes para anular ou diminuir as anomalias, com a

indicação dos respetivos valores de investimentos associados à sua implementação.

2.7 Equipamentos de climatização e iluminação

Já foi mencionado por várias vezes, que os sistemas de iluminação e AVAC, são os maiores

consumidores de energia de um edifício, sendo o peso destes, nos consumos globais do mesmo, de

cerca de 70%. Como tal, torna-se evidente, que estes serão um alvo perfeito para a introdução de

melhorias na sua utilização.[10]

2.7.1 Sistemas de iluminação

Os sistemas de iluminação dos edifícios são responsáveis em média por um consumo entre 20 a 50%.

Estima-se que, para alguns edifícios de escritórios cerca de 90% da energia consumida pelos sistemas

de iluminação é considerada desaproveitada, devido à iluminação excessiva dos espaços.[14]

A iluminação é uma componente muito importante para o conforto dos seres vivos, e por isso representa

uma grande importância no consumo de energia elétrica, especialmente em grandes edifícios de

escritórios, pelo que se torna pertinente uma análise das alternativas e estratégias actualmente

disponíveis no mercado, para que se possa minimizar o seu impacto na facturação energética, sem

nunca comprometer os níveis recomendados de iluminação e conforto requeridos.

Existem quatro grandes grupos de lâmpadas: as de incandescência, de descarga, de indução e as LED

(figura 8).

2.7.1.1 Incandescentes

As lâmpadas incandescentes foram as primeiras utilizadas pelas sociedades. O seu principio de

funcionamento simples, tornou-as de fácil acesso a qualquer um. Este baseia-se no efeito de Joule,

que relata o efeito de dissipação de calor que ocorre por um material condutor, quando este é

atravessado por uma corrente elétrica. As lâmpadas incandescentes que se basearam neste principio,

eram constituídas por um filamento de tungsténio no interior de uma cápsula de vidro com um gás

inerte, por norma árgon ou azoto.

Page 36: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

18

Caracterizavam-se por uma eficiência energética extremamente baixa, assim como a sua durabilidade

e por isso foram banidas da Europa no final de 2012 de acordo com a directiva 2005/32/EC.

Também incluídas no grupo das lâmpadas incandescentes, encontram-se as lâmpadas de halogéneo,

que também utilizam um filamento de tungsténio, e o efeito de Joule. As diferenças em relação às suas

antecessoras é que estas já não utilizam um gás inerte dentro da cápsula de vidro, mas sim um gás do

grupo dos halogéneos, e o filamento de tungsténio encontra-se dentro de uma cápsula de quartzo, mais

pequena. Contudo, e tal como as anteriores, a sua eficiência é ainda muito baixa. Por essa razão,

também estas deixarão de estar à venda na Europa, sendo que em Portugal, a sua venda foi

descontinuada em Setembro de 2016. [15]

Figura 8 Identificação dos tipos de lâmpadas existentes [16]

2.7.1.2 Fluorescentes compactas

As lâmpadas fluorescentes compactas, funcionam com base num mecanismo de excitação de vapor

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19

de mercúrio, quando sujeito a uma passagem de corrente. Quando comparada com as incandescentes,

esta é uma lâmpada com um consumo muito inferior e de baixa emissão térmica. A descarga elétrica

que ocorre no interior do tubo, imite quase na totalidade radiação ultravioleta gerada pelo vapor de

mercúrio, que posteriormente é convertida em luz através do pó fluorescente que reveste a superfície

interna do tubo.

No entanto, o processo de fabrico das lâmpadas fluorescentes é mais moroso e dispendioso quando

comparado com o das lâmpadas incandescentes, e por isso também o preço final de venda ao

consumidor que é superior nestas.

Um dos principais inconvenientes deste tipo de lâmpadas relaciona-se com o efeito Flicker, que afecta

a consistência luminosa e, por conseguinte, o fluxo luminoso emitido, causando desconforto visual a

pessoas mais sensíveis. Existem, porém, modelos de lâmpadas fluorescentes de alta-frequência que

corrigem esta característica, sendo, no entanto, mais caras do que as primeiras.

2.7.1.3 Fluorescentes tubulares

O princípio de funcionamento das lâmpadas fluorescentes tubulares é semelhante ao das compactas.

A diferença relaciona-se com do tubo de descarga ser alongado e com um elétrodo em cada

extremidade.

Desde a sua introdução no mercado, este tipo de lâmpadas sofreu uma grande evolução, sobretudo

ao nível do formato físico e da qualidade de luz produzida. As primeiras lâmpadas fluorescentes eram

designadas por T10 ou T12, e apresentavam um tubo de descarga de 38mm. Estas eram revestidas

internamente por um pó fluorescente comum. Com o aperfeiçoar da tecnologia, surgiu a lâmpada T8,

que se carateriza por ter um diâmetro de 26mm e o seu revestimento interno é composto por um

composto tri-fosfórico, contendo apenas 3mg de mercúrio. Em relação ao modelo T12, o modelo T8 é

cerca de 40% mais eficiente.

As lâmpadas fluorescentes de última geração são designadas por T5 e caraterizam-se por possuírem

um diâmetro de 16mm. A melhoria de rendimento deste modelo em relação aos anteriores prende-se

com a aplicação de um composto melhorado tri-fosfórico para revestimento interno, garantindo uma

maior eficiência e melhor restituição de cores. Outra característica que a diferencia das anteriores

prende-se com a temperatura de funcionamento, pois as lâmpadas T8 proporcionam o seu fluxo

nominal para temperaturas ambiente a rondar os 25 oC, enquanto para as T5 essas temperaturas

aproximam-se dos 35oC. As lâmpadas T5 apenas funcionam com balastros eletrónicos e quando

comparadas com as T12, as lâmpadas T5 são 51% mais eficientes.

Ainda que a lâmpada T5 apresente um melhor rendimento quando comparada com a T8, os seus custos

de fabrico são ainda elevados, e muitas vezes o facto de apresentar um melhor rendimento, não

consegue fazer face ao seu maior custo inicial, sendo que algumas aplicações, o investimento em

substituição de lâmpadas T8 por T5, em que o período de retorno se requer de curto-médio prazo,

assume-se como uma aposta pouco atrativa.

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20

Figura 9 Comparação entre as diferentes lâmpadas fluorescentes tubulares

2.7.1.4 LED

Um LED – Light-Emitting Diode –, caracteriza-se por ser um díodo semicondutor, cujo princípio de

funcionamento se baseia na eletroluminescência, em que, ao ser-lhe aplicada uma tensão, gera luz

devido ao movimento dos eletrões em materiais semicondutores. Quando se juntam dois materiais com

esta característica, um do tipo n (excesso de electrões livres) e um do tipo p (carência de electrões), a

corrente passa do semicondutor p para o n, e há a emissão de luz devido à libertação de fotões pelos

electrões que se moveram para as lacunas existentes no semicondutor p.

Quando comparado com as lâmpadas incandescentes, a potência consumida pelo LED poderá atingir

poupanças na ordem dos 80%.[17]

Figura 10 Exemplo de uma lâmpada LED tubular

Page 39: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

21

2.7.1.5 Balastros

Para que funcionem correctamente, as lâmpadas de descarga necessitam de equipamento auxiliar,

capaz de controlar a corrente de descarga a um valor específico, existindo por isso a necessidade de

utilizar balastros.

Por esse motivo, este equipamento também é responsável por parte do consumo do sistema energético

de iluminação. Estes têm como funcionalidade pré-aquecer os elétrodos para provocar a emissão de

eletrões, a produção da tensão de arranque para iniciar a descarga e como mencionado

anteriormente�limitam a corrente de funcionamento a um valor correto.

Os primeiros balastros que surgiram eram os ferromagnéticos. Com a evolução da tecnologia, surgiram

os balastros eletrónicos, os quais permitem melhorar o rendimento das lâmpadas, convertendo a

frequência standard de 50Hz em alta frequência (25kHz a 40kHz), que permite uma poupança

energética entre 12% a 25%, para a mesma quantidade de luz. �

2.7.2 Sistemas de AVAC

O desenvolvimento das civilizações, trouxe consigo uma procura crescente das melhores condições de

conforto térmico, em edifícios, e de modo a cumprir essas necessidades e também garantir a renovação

adequado do ar e a remoção de poluentes, surgem os equipamentos de AVAC. As soluções existentes

no mercado são variadas, cada uma apresentando vantagens e desvantagens em relação à outra,

apresentando-se de seguida, as mais utilizadas.

2.7.2.1 Split/Multisplit

Os Split, são sistemas apresentam-se como os mais simples que existem, uma vez que possuem

apenas uma unidade interior, o evaporador, e uma exterior, o condensador, utilizando um fluido

frigorigénio para climatizar o espaço onde se encontra instalado. Poderão ser reversíveis, e neste caso

estas duas unidades invertem a sua função, passando a exterior a funcionar como evaporador, e a

interior como condensador, neste caso para aquecer o espaço interior.

Diferenciam-se dos sistemas compactos, por estarem divididos em duas unidades. Estes sistemas são

localizados dado que a sua utilização só pode ocorrer numa parte do edifício. São de fácil instalação e

acessíveis monetariamente.

Os sistemas Multisplit, funcionam sob o mesmo principio que os anteriores, no entanto a unidade

exterior serve de suporte a várias unidades interiores, sendo que, por norma, não se ultrapassam os

10 evaporadores interiores, para um único condensador exterior.

Têm a desvantagem de não se poder controlar individualmente cada unidade interior, sendo por isso

de utilização aconselhável para espaços com características e requisitos térmicos semelhantes. São,

tal como os split, e de acordo com a regulamentação RSECE, considerados sistemas localizados.

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22

2.7.2.2 Rooftop

Estes equipamentos de condicionamento de ar são do tipo compacto, ou seja, o condensador e o

evaporador encontram-se na mesma unidade, e são instalados nas coberturas dos edifícios. Requerem

uma unidade de tratamento de ar – UTA – que depois de devidamente acondicionado, faz a distribuição

do ar pelas diversas zonas do edifício, por meio de condutas.

2.7.2.3 VRF

Os sistemas VRF – Variable Refrigerant Fluid – são sistemas que utilizam igualmente um fluido

frigorigénio, mas no seu ciclo de compressão, conseguindo deste modo a produção de frio, ou calor.

São unidades centralizadas de condicionamento de ar, que permitem a sua utilização na totalidade do

edifício, recorrendo a múltiplas unidades interiores, ligadas a uma única unidade exterior, como

acontece com os sistemas multisplit. No entanto, e ao contrário destes últimos, com este equipamento,

é possível controlar a carga de cada unidade interior, individualmente, de acordo com as necessidades

dos espaços em questão, sendo possível em alguns casos, o aquecimento de umas zonas, ao mesmo

tempo que se arrefecem outras.

Esta situação torna-se possível, uma vez que estes sistemas conseguem controlar a o fluxo de fluido

refrigerante que é enviado para cada unidade interior, de acordo com as necessidades destes,

consumindo por isso menos electricidade para a mesma carga térmica, podendo atingir poupanças

anuais de cerca de 40% nos consumos energéticos.

No entanto, estes sistemas requerem um investimento inicial superior, e de manutenção, quando

comparado com os outros mencionados ate aqui, sendo especialmente adequados a edifícios que

necessitem de várias unidades interiores.

2.7.2.4 Chiller

Ao contrario dos equipamentos descritos até aqui, os chiller, não utilizam fluidos frigorigénios como

fluido de transporte de energia térmica, mas sim água. São sistemas centralizados de condicionamento

de ar, que funcionam tendo por base o ciclo de compressão a vapor, sendo muitas vezes utilizados

para produzir água refrigerada, que será distribuída por ventiloconvectores, para aquecer ou arrefecer

o ar que circula nas condutas de distribuição.

O facto de requerer um sistema de condutas, faz com que este tipo de equipamentos ocupe um maior

espaço, quando comparado com os anteriores. Os sistemas são de elevadas dimensões, e só é

justificável em edifícios de grandes dimensões. O seu ciclo de vida poderá ser o dobro do VRF, por

exemplo, e a sua manutenção também é menos complicada.

O arrefecimento do condensador pode ser efectuado por ar ou por água, sendo que o primeiro requer

um maior espaço, e o segundo, uma torre de arrefecimento.

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23

2.8 Influência do comportamento humano nos consumos energéticos

A sociedade e as empresas um pouco por todo o mundo, tem vindo a demonstrar um grande interesse

em perceber como o comportamento humano afecta os consumos de energia. De facto, tanto os

utilizadores domésticos, como os colaboradores de uma empresa, são responsáveis por uma boa parte

da ineficiência energética que se verifica nas instalações, sendo por isso de bastante interesse, a

implementação de planos capazes de corrigir essa ineficiência.[18]

A decisão de uma empresa implementar um programa para a promoção da sustentabilidade e eficiência

energética, é uma ferramenta disponível pelos órgãos de gestão para aumentarem a competitividade

das instituições, tendo sempre como consequência inevitável, a geração de mudanças. Mas, o ser

humano é avesso a mudanças, e um dos principais obstáculos a ultrapassar, para que este tipo de

programas seja bem-sucedido, é a resistência das pessoas à mudança.

Várias metas normalmente incluídas num plano de sustentabilidade, como o combate ao desperdício

e utilização eficiente dos recursos energéticos ou naturais, a redução e gestão de resíduos, a

desmaterialização de processos ou serviços, têm um ponto em comum, as pessoas.

Todas as pessoas têm percursos de vida distintos, uma perceção diferente da sua envolvente,

desenvolvendo-se entre elas comportamentos distintos, com sensibilidades muito diferentes sobre as

várias áreas de actuação do plano. A vantagem de uma acção conjunta, que é conseguida através da

implementação de um plano para sustentabilidade, em oposição a uma estratégia de implementação

individual das diferentes áreas abrangidas pelo plano, é de conseguir captar a atenção das pessoas

em pelo menos uma das áreas da sua intervenção, aumentando assim o universo das pessoas nele

incluídas. Sobre o pretexto da sustentabilidade, podem ser desenvolvidos vários planos de acção, um

para cada área de intervenção, mas que implementados em conjunto, desenvolverão sinergias,

conseguindo assim contornar um dos seus principais obstáculos, a resistência das pessoas à mudança.

2.9 As empresas e o cumprimento da legislação

Muitas empresas, especialmente as de prestação de serviços e comércio, não estão ainda cientes da

legislação em vigor relativa aos consumos energéticos das empresas não PME, nem tão pouco, das

questões para a introdução de melhorias a nível da eficiência energética das mesmas.

Este facto reveste-as de especial interesse no que toca à implementação da metodologia para a

eficiência energética que se estuda nesta dissertação, para que as empresas possam dar seguimento

ao cumprimento do decreto lei 68-A/2015, e na consequência deste, a elaboração de planos de

melhoria dos seus consumos energéticos.

O cumprimento do referido decreto lei e a comunicação, à entidade responsável pelo mesmo, dos

consumos de energia e das medidas a implementar a sua redução são obrigatórios, e por isso, essas

mesmas empresas, necessitam de uma metodologia capaz de ser facilmente aplicada, e que evite que

estas fiquem sujeitas ao pagamento de coimas por não cumprimento da lei. [19]

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24

Neste sentido surge a metodologia apresentada no ponto 4, que apesar de ter sido estudada para o

caso das agências bancárias do banco BPI, é facilmente estendida, não só a outras instituições

bancárias, mas também a outros casos, como empresas de retalho (supermercados, cadeias de

restauração).

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25

3. CASO DE ESTUDO

3.1. O Banco BPI

O banco BPI, o terceiro maior em Portugal, é um banco com bastante influência quer nacionalmente

quer internacionalmente. Possui, como património imobiliário afecto à exploração, uma rede de balcões

e edifícios – PIAE’S – assim como edifícios não afectos à exploração – PINAE’s – (não considerados

neste estudo), que se distribuem por todo o território continental, insular e também no estrangeiro. Ao

todo, este património é constituído por 550 instalações da rede comercial e 50 edifícios, que por força

da crise financeira que afecta Portugal, tem sido reduzido ao longo dos últimos anos.

A estrutura imobiliária do BPI, está esquematizada na figura 11.

Figura 11 Organização do património imobiliário do BPI

BancoBPIPatrimónioimobiliário

EdifíciosCentrais RedeComercial

Balcões

CentrosdeInvestimento(CI)

CentrosdeEmpresas(CE)

PINAE'S(Patrimonioimobiliárionãoafectoàexploração)

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3.2. A eficiência energética no BPI

Foi precisamente a crise financeira mencionada no ponto anterior, aliada à necessidade de

cumprimento da legislação em vigor, que levou o grupo BPI a melhorar a eficiência do seu volume de

negócios, tendo em vista uma redução dos custos, principalmente do património imobiliário afecto à

exploração do Banco, sob alçada da Direcção de Aprovisionamento Outsourcing e Património – DAOP.

Esta área, que até ao inicio deste estudo, não tinha sido alvo de qualquer introdução de melhorias de

eficiência energética, vê-se agora sujeita a uma análise detalhada do seu perfil energético, havendo

uma grande potencialidade de introdução de ganhos de facturação.

Fora deste estudo, ficam os consumos de gás natural, que embora existam em alguns locais do BPI,

são insignificantes quando comparados com os de energia eléctrica.

Para isso, será necessário:

• Avaliar os consumos energéticos do grupo BPI

• Quantificar o seu impacto ambiental

• Elaborar um plano de eficiência energética

Este programa terá como objectivo final o cumprimento da legislação relativa à eficiência energética e

a redução dos consumos energéticos do BPI, consequentemente traduzido numa diminuição dos

encargos com a faturação, incluindo a mudança de comportamento humano, e a identificação de outras

medidas obtidas por auditorias energéticas realizadas ao parque imobiliário do mesmo.

3.3. O panorama actual da energia no BPI

Como referido anteriormente, até à data do inicio deste estudo, nenhum não existia qualquer controlo

dos gastos energéticos da instituição financeira, e, portanto, a informação relativa a todos os pontos de

consumo também se encontrava bastante dispersa.

Aos mais de 670 CPEs existentes, era difícil fazer corresponder prontamente qual a instalação

correspondente. Além deste facto, verificou-se que muitos contratos de balcões encerrados, se

encontravam ainda ativos, correspondendo a um custo desnecessário para o banco.

Notória era também a falta de consciencialização dos colaboradores, incluindo os cargos de chefia,

para a consciencialização ambiental, e a adopção de comportamentos mais eficientes e amigos do

ambiente, sendo por isso, necessário intervir neste campo.

3.4. A agência tipo do BPI

A desagregação do consumo de energia elétrica por tipo de equipamento, permite identificar qual a

finalidade da utilização da energia na instalação.

As auditorias que foram realizadas a algumas instalações da rede comercial do BPI, características de

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27

cada um dos agrupamentos identificados no ponto 4.3, permitiram obtenção desses dados, tendo-se

encontrado uma sinergia de valores, que caracterizam a agencia tipo desta instituição financeira, e que

se pode atestar no gráfico 2.

Gráfico 2 Desagregação dos consumos da agência tipo do BPI

A análise deste gráfico, permite identificar que 66% do consumo total da agência tipo do BPI, é devido

à iluminação (geral e publicitária) e aos sistemas de AVAC, o que se aproxima dos dados que são

comuns a este tipo de instalações, como expresso no ponto 2 desta dissertação.

Estes 66%, representam na facturação total anual, 29,3 milhões de kWh, revestindo-se por esse

mesmo motivo, de grande interesse para a implementação de planos de racionalização dos mesmos.

Os restantes 44% dos consumos de uma agência, distribuem-se pelos equipamentos informáticos e

bancários, equipamentos necessários para o assegurar das funções dos colaboradores, e

equipamentos de segurança (incluídos no parâmetro Outros).

36%

20%

16%

10%

6% 2%

10%

Climatização Iluminação EquipamentosInformáticos

IluminaçãoPublicitária EquipamentosBancários EquipamentosGerais

Outros

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28

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4. METODOLOGIA PARA A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Este capítulo será dedicado à apresentação do estudo de eficiência energética capaz de assegurar às

empresas, o cumprimento do decreto lei em vigor. Foi desenvolvido tendo em conta o parque imobiliário

que compõe a rede comercial do Banco BPI, mas poderá ser aplicável a todas as instalações cujo

funcionamento e estrutura sejam semelhantes a estas. De um modo geral, para que a referida lei possa

ser satisfeita, dever-se-á seguir a metodologia que é apresentada na figura 12.

Figura 12 Metodologia para a eficiência energética

Deverão ser tomados todos estes passos, para que se possam identificar medidas que produzam uma

diminuição dos consumos energéticos, bem como para o cumprimento da legislação em vigor, referente

à quantificação dos consumos anuais das empresas e à laboração de medidas para os melhorar.

Metodologia para a eficiencia

energética

Traçar o perfil energético

Organização da informação

energética

Auditoria às instalações

Elaboração de planos e programas para a eficiência

de energia

Comunicação à DGEG desses planos, no âmbito do cumprimento

da legislação

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4.1. Resumo da metodologia aplicada no BPI

A elaboração de planos de racionalização dos consumos energéticos, é um assunto da ordem do dia

para qualquer entidade, decorrente do cumprimento da legislação em vigor. No entanto, e para que

estes surtam o efeito desejado, é necessário que seja efectuada uma análise profunda aos consumos

energéticos da mesma.

De modo a se poder assegurar o cumprimento do Decreto Lei 68-A/2015 no Banco BPI, foi

implementada a metodologia para a eficiência energética, apresentada no ponto anterior.

O BPI, como já referido, possui um parque imobiliário com uma dimensão bastante significativa, cujas

instalações apresentam características físicas e de utilização bastante distintas entre si. Estas

instalações são identificadas internamente por um código de quatro dígitos – o código de órgão.

Torna-se por isso necessário, que se organizem as informações energéticas de cada um desses locais

(O CPE, a potência contratada, o ciclo horário, o fornecedor de serviços, código de órgão e tipo de

fornecimento) de modo a que esta esteja acessível de forma simples e rápida a qualquer momento.

Posto isto, o primeiro passo deste estudo, passa pela elaboração de uma base de dados energéticos,

para toda a rede comercial e edifícios, recorrendo à análise da facturação de electricidade.

Uma vez organizada a informação, será necessário conhecer um pouco melhor a situação actual do

BPI, em termos de consumos eléctricos e facturação anual. Para isso efectuou-se uma análise à

facturação mensal, por CPE, para quantificação dos consumos por cada ponto de exploração, tendo-

se procedido posteriormente à contabilização total desses mesmos, por instalação, e no global,

referentes ao ano de 2015.

Devido ao elevado número de instalações, decidiu-se proceder à construção de uma outra base de

dados, desta vez, de forma a agrupar as instalações, de acordo com um intervalo de área útil das

mesmas, tendo-se para isso, efectuado a sua divisão em 5 grupos.

Posteriormente, e para uma melhor caracterização de cada um dos grupos mencionados no parágrafo

anterior, tornou-se necessária a realização de auditorias energéticas de agências representativas de

cada um desses grupos, de modo a se poder desagregar os consumos energéticos por equipamento,

identificação do tipo de iluminação, equipamentos de AVAC, informático e número de ATM.

Não existe qualquer sistema de monitorização e gestão dos consumos energéticos do BPI,

impossibilitando por isso a averiguação da potencialidade de redução da potência contratada nas

instalações da rede comercial. Perante esta situação e como forma de essas irregularidades na

potência contratada, foram adicionados à base de dados de agrupamento de balcões por área, e para

cada um destes, outros campos como o número de colaboradores, de lâmpadas, ATM e potência de

AVAC, para poder estudar tal situação.

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31

Após conclusão dos passos anteriores, é essencial o estabelecimento de planos de racionalização dos

consumos, a sua implementação e comunicação à DGEG, para cumprimento da legislação em vigor.

Na figura 13, encontram-se descritos de forma abreviada, os vários processos que compõe o modelo

para a eficiência energética a desenvolver e implementar no BPI, mas que, uma vez mais, poderá ser

aplicada a outras empresas cujo modo de operação seja semelhante ao desta instituição financeira.

Figura 13 Resumo do projecto de eficiência energética a aplicar no BPI

4.2. Perfil energético

O banco BPI, utiliza a electricidade como forma quase exclusiva de fornecimento de energia para as

suas instalações. A grande maioria desses fornecimentos são efetuados em baixa tensão normal –

BTN – onde se incluem a grande maioria das agências bancárias, dos CE e CI; em baixa tensão

especial – BTE – referente a algumas grandes agências que agregam também os CE e CI e alguns

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pequenos edifícios centrais; e em média tensão – MT – exclusiva para fornecimentos dos grandes

edifícios centrais. (gráfico 3).

Gráfico 3 Distribuição da quota de contratos de fornecimento de electricidade

4.3. Organização da informação

Dada a dimensão considerável da rede comercial do BPI, por vezes, quando necessário aceder à

informação referente a cada um desses locais, era um processo complicado e moroso, até porque em

muitos casos a morada correspondente ao CPE, não coincidia exactamente com aquela que consta

dos registos da instalação no BPI.

Nesse sentido, numa primeira fase, foi necessário organizar toda a informação relativa a cada um dos

pontos de fornecimento de energia, referentes aos locais de exploração, proceder à sua identificação

mediante o CPE e CIL, e associação com o código de órgão (Designação interna do banco, para cada

local de exploração), dos diversos contratos de energia do continente e ilhas, dando origem a uma folha

Excel, com o agrupamento de todos estes dados para que, de futuro, se possa aceder a estes dados

energéticos de cada local, com maior brevidade e mais facilmente.

Esta base (figura 14) está organizada consoante o tipo de contrato, BTN, BTE ou MT, e ainda com

distinção entre os locais de Portugal continental, Açores e Madeira, sendo ainda apresentado qual o

fornecedor de serviços energéticos para os 673 CPE pertencentes ao BPI.

80%

19%

1%

BTN BTE MT

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33

Figura 14 Base de dados energéticos do BPI

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34

4.4. Agrupamento das agências de acordo com as suas caraterísticas

Dado o elevado numero de instalações que compreendem a rede comercial do banco BPI (inclui

agências bancárias CE e CI), torna-se necessária a elaboração de uma lista capaz de efectuar um

agrupamento das mesmas, tendo em conta as semelhanças que existem entre estas.

Neste caso, e uma vez que a melhor forma de executar esta caracterização seria através da área útil

de cada instalação, e tendo em atenção essa caraterística, foram desenvolvidos 5 grupos de

instalações com a seguinte distribuição:

Intervalo de áreas, A [m2] Tipologia Distribuição [%]

A<100 Pequeno 8,2

100<A<150 Pequeno/médio 25,1

150<A<200 Médio 25,1

200<A<300 Médio/grande 30,5

A>300 Grande 11,1

Tabela 3 Agrupamento das instalações da rede comercial do BPI

Além de inseridas num mesmo grupo com áreas semelhantes, as instalações partilham ainda sinergias

no que diz respeito ao número de colaboradores, tipologia de iluminação e AVAC, bem como de

equipamentos informáticos e bancários.

4.5. Auditoria às instalações

Como mencionado no ponto 2.5 deste documento, para que a gestão de energia conduza à elaboração

de planos de eficiência energética capazes de produzir resultados satisfatórios, tem que se basear em

dados concretos, os quais deverão ser fornecidos através de uma auditoria às instalações em análise.

4.5.1. Contratos de fornecimento de electricidade

O fornecimento de energia ao imobiliário do banco BPI, é efectuado por dois comercializadores

distintos, um relativo aos fornecimentos BTN, e o outro responsável pelos fornecimentos BTE e MT.

Dado que é de interesse deste estudo quantificar os gastos com a electricidade das instalações

referentes à rede comercial, e visto que estas são na sua quase totalidade abastecidas com BTN,

apresenta-se nas tabelas 2 e 3, o tarifário actual, acordado entre o BPI e o respectivo fornecedor.

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Escalão de potência [kVA]

Energia Activa [€/kWh]

Acesso às redes [€/kWh]

Total [€/kWh]

1,15<kVA<20,7 0,0602 0,0976 0,1578

Tabela 4 Tarifário BTN para potência contratada inferior a 20,7 kVA

Escalão de potência [kVA]

Ponta [€/kWh] Cheias [€/kWh] Vazio [€/kWh]

27,6 <kVA< 41,4 0,0696 0,0634 0,0514

Acesso às redes Vazio [€/kWh]

0,2238 0,0736 0,0183

Total [€/kWh]

0,2934 0,1370 0,0697 Tabela 5 Tarifário BTN para potência contratada entre 27,6 e 41,4 kVA

4.5.2. Consumos totais de electricidade no ano de 2015

O período de referência para quantificação dos consumos energéticos do BPI, foi o compreendido entre

01 de Janeiro de 2015 e 31 de Dezembro desse mesmo ano, a qual se socorreu de uma análise da

facturação, por cada CPE, referente a cada uma das instalações, que é disponibilizada mensalmente

pelo comercializador de energia.

Não existe nas instalações qualquer outra forma de energia além da electricidade. Apresenta-se na

tabela 6, o exemplo de cálculo dos consumos referentes a um CPE, através da soma de cada um dos

seus valores da facturação mensal.

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Factura Cheias[kWh] Ponta [kWh] Vazio [kWh] Total [kWh]

1 3210 910 982 5102 2 1106 614 1072 2792 3 3064 1186 1856 6106 4 5222 2098 1710 9030 5 2462 952 1492 4906 6 2504 968 1518 4990 7 2676 1036 1620 5332 8 2530 978 1532 5040 9 2730 1056 1654 5440

10 2622 1014 1588 5224 11 2314 896 1402 4612 12 3376 1306 2046 6728

Total [kWh] 65302 Tabela 6 Exemplo de cálculo dos consumos anuais para um CPE

Tendo em conta o procedimento anterior, foi elaborada uma folha Excel (4 colunas x 5120 linhas), para

a quantificação de todos os consumos da rede de edifícios do BPI, donde que aferiu os consumos de

electricidade totais de 2015 (tabela 7).

Tipo de fornecimento Consumos [kWh]

BTN 27 771 942

BTE 7 284 645

MT 9 392 257

Total 44 448 844

Tabela 7 Consumos total referente a 2015 para cada tipo de fornecimento

Como se pode averiguar pela análise da tabela anterior, o consumo correspondente à rede comercial

do BPI ronda os 28 milhões de kWh, sendo o total, para todo o património imobiliário afecto à

exploração de 44 448 844 kWh. Em termos de peso na facturação anual, a rede comercial, representa

cerca de 63%, e os restantes edifícios 37% (gráfico 4).

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37

Este consumo total de electricidade corresponde a 3822,6 tep, e em termos de emissões de dióxido de

carbono, 7173,6 toneladas emitidas em 2015, tendo em consideração um factor de conversão de

0,16139 kgCO2/kWh, estabelecido pela EDP.

Gráfico 4 Distribuição do peso de cada tipo de fornecimento de electricidade no consumo total de 2015

A estes consumos corresponde uma factura energética global para 2015 de 5 051 737 milhões de

euros, sendo que o seu peso por fornecimento é de 56% para BTN, e 22% para cada um dos

fornecimentos restantes, BTE e MT (Tabela 8 e gráfico 5).

Tipo de fornecimento Custo [€]

BTN 2 809 937

BTE 1 134 738

MT 1 107 062

Total 5 051 737

Tabela 8 Custo total, por fornecimento, da electricidade em 2015

63% 16%

21%

BTN BTE MT

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38

Gráfico 5 Distribuição do peso de cada fornecimento na facturação eléctrica, anual, de 2015

4.5.3. Desagregação dos consumos.

Um dos pilares de uma auditoria energética, passa pela análise da desagregação de consumos de um

edifício, permitindo identificar as fontes de consumo deste, e ainda quantificar esses consumos.

Ao fazer essa desagregação em parâmetros como pisos, serviços, horários de funcionamento, entre

outros, é possível identificar quais as circunstâncias em que uma intervenção do ponto de vista da

eficiência energética poderá originar resultados mais satisfatórios e, portanto, uma maior redução da

facturação energética.

Os resultados da desagregação dos consumos para a agência tipo do BPI, já foram apresentados no

ponto 3.4 deste documento.

4.5.4. Resultados do levantamento

Os resultados do levantamento dos equipamentos e iluminação, resultantes das auditorias, e que

compõe as agencias do BPI, são listados neste ponto.

4.5.4.1. Iluminação

A iluminação é um parâmetro muito importante numa agência bancária, e por essa mesma razão, estes

sistemas estão, muitas vezes, sobredimensionados.

Na rede comercial do BPI, o tipo de iluminação presente, na grande maioria das instalações, é

composto por:

• Lâmpadas fluorescentes tubulares T8

56%

22%

22%

BTN BTE MT

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39

• Lâmpadas fluorescentes compactas

As lâmpadas fluorescentes T8, encontram-se instaladas em armaduras que comportam duas

lâmpadas, com balastros ferromagnéticos, as quais estão aprovisionadas com reflectores e difusores.

Este tipo de luminárias, é responsável pela iluminação dos espaços de atendimento ao público, alguns

gabinetes, espaços comuns aos colaboradores e espaços que funcionam 24h por dia, onde se

encontram instalados os ATM e máquinas de depósitos. Em termos de expressão, na quantificação da

iluminação de uma agência, este tipo de iluminação é o mais abundante.

Existem ainda algumas lâmpadas fluorescentes compactas, que quando utilizadas, são instaladas nos

espaços de utilização comum dos colaboradores.

Para além da iluminação dos espaços interiores, existe também uma quota referente à iluminação

publicitária de 10%. Para a iluminação dos painéis publicitários do BPI, são utilizadas, também, as

lâmpadas fluorescentes tubulares T8.

Este tipo de iluminação é semelhante em toda a rede comercial, sendo que o número de lâmpadas por

agência varia conforme o agrupamento onde se insere a instalação, mas que, de maneira geral, pode

ser representado pelos valores encontrados na tabela 9.

Agrupamento T8 36W Fluorescente compacta 15W

A<100 60 10

100<A<150 80 16

150<A<200 100 20

200<A<300 130 26

A>300 150 30

Tabela 9 Distribuição do tipo de iluminação por agrupamento de agências, por agência

4.5.4.2. Equipamentos de AVAC

Como espaço de atendimento ao público, impõe-se que as instalações da rede comercial do BPI,

estejam dotadas de sistemas de condicionamento de ar, capazes de dotar estes espaços, com as

melhores características térmicas e que não causem desconforto aos colaboradores e utentes, levando

a que muitas vezes, estes equipamentos, que em condições nominais se caracterizam por serem os

maiores consumidores de electricidade de uma instalação, estejam a funcionar com parâmetros

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40

desadequados para as condições climatéricas do espaço em questão, fazendo com que esse gasto

energético seja ainda mais significativo.

Os equipamentos de AVAC que se encontram instalados nas diversas agências, são bastante distintos

entre si, tornando-se difícil identificar todos eles. No entanto, verifica-se que a potência dos mesmos,

se encontra normalizada, dentro de determinados valores, novamente, consoante o agrupamento a

que pertencem as instalações (Tabela 10), podendo, no entanto, haver algumas excepções.

Agrupamento Potência Absorvida AVAC [kW]

A<100 4

100<A<150 6

150<A<200 7,5

200<A<300 9

A>300 12

Tabela 10 Potência dos equipamentos de AVAC, por agrupamento de agências

4.5.4.3. Equipamento informático e bancário

Os equipamentos que se podem identificar em cada uma das agências do BPI são:

• Computadores desktop

• Impressoras multifunções

• Máquinas de ATM

• Equipamentos bancários

• Equipamentos de segurança

No que diz respeito aos computadores de secretária, estabeleceu-se que cada fonte de alimentação

de todos os computadores apresentava um valor de potência nominal de 300W, uma vez que não se

verifica grande variação neste equipamento, entre as diversas instalações, sendo este o valor de

potência máximo que a fonte consegue fornecer para alimentação do computador.

Na verdade, cada computador não requer um valor de potência tão alto, sendo que o consumo de

energia real varia de acordo com o tipo de aplicação dependendo anda do número de periféricos em

uso. O procedimento de cálculo para a potência instalada em computadores pode ser decomposto na

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41

multiplicação do número de computadores pela potência da fonte.

A quantificação total dos computadores por instalação, foi efectuada tendo em conta o número de

colaboradores da mesma.

Para as máquinas fotocopiadoras, que, tal como os computadores, os modelos instalados não variam

muito na rede comercial, foi estabelecido, como valor de potência das mesmas, o valor máximo possível

de ser requerido por estas, e que foi determinado nas auditorias efetuadas.

Esse mesmo valor máximo de potência consumida é de 1230W, tendo sido este o valor de potência

admitido na elaboração dos planos de eficiência energética.

As máquinas de ATM, não são mais do que simples computadores e por isso a contabilização da sua

potência nominal, passa apenas pela utilização da que foi estabelecida para os computadores de

secretária. Foi efectuado, no entanto, um levantamento do número total de máquinas deste tipo,

existentes em cada instalação.

Existem ainda nas instalações equipamentos bancários, como equipamentos de contagem de notas,

que são utilizados diariamente, mas que o seu peso no consumo total da instalação é pouco

significativo, e os equipamentos de segurança.

De fora deste estudo ficaram os equipamentos presentes nas copas das instalações, como micro-

ondas, dada a sua utilização esporádica, e a pouca relevância na elaboração de planos de eficiência

energética.

4.6. Plano de certificação energética da rede comercial

Como mencionado no ponto 2 desta dissertação, o sistema nacional de certificação energética e da

qualidade do ar interior de edifícios, reveste-se de particular importância quando se pretende avaliar a

potencialidade de implementação de planos de eficiência energética.

A par deste, o DL 68-A/2015, surge como uma medida adicional para que as grandes empresas avaliem

essa potencialidade.

Sendo o BPI uma empresa não PME, encontra-se sujeita ao cumprimento do DL 68-A/2015 e a todas

as suas consequências. Uma vez que os consumos totais anuais das suas instalações ultrapassam os

250 tep, este só se encontra obrigado a auditar 90% destas instalações. A adequação deste decreto à

realidade desta instituição financeira leva a que:

• Seja necessário auditar os consumos energéticos que representem, pelo menos, 90% do seu

consumo global;

• No referido percentual dos consumos a auditar, deverão ser incluídos, obrigatoriamente, os

edifícios que apresentem, individualmente, um consumo superior a 250 tep;

• A responsabilidade pelos registos e pela a realização da auditoria será do Banco BPI, como

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42

responsável pelos consumos de energia, independentemente da propriedade dos edifícios e balcões;

• Nos termos do citado Decreto-Lei, todos os edifícios e balcões que disponham de um certificado

energético SCE (Sistema de Certificação Energética) válido estão dispensados de apresentar nova

auditoria até ao termo do prazo de validade do mesmo;

• Os imóveis não certificados pelo Sistema de Certificação Energética – SCE deverão apresentar a

auditoria energética, considerando o percentual, acima referido, relativo ao consumo global dos

edifícios.

• Como resultado das auditorias efetuadas, o BPI deverá elaborar planos de eficiência energética e

de monitorização dos consumos, de modo a que se verifique uma redução dos mesmos.

• Para registo dos consumos energéticos deverá ser efectuado um único registo para o mesmo

NIPC, com a discriminação de todos os edifícios e balcões pertencentes à mesma entidade jurídica,

junto da DGEG;

• Será atribuído um código de identificação ao qual será associada toda a informação relativa aos

consumos totais de energia;

• De 4 em 4 anos, será necessária a introdução dos consumos energéticos no Portal SCE – Sistema

de Certificação Energética, relativos aos anos anteriores.

A certificação energética do parque imobiliário do BPI, situa-se nos 28,6%, e, portanto, muito aquém

do desejável. Nesse sentido, torna-se relevante que seja implementado um programa de certificação

das instalações do BPI, de modo a que seja possível o cumprimento do referido decreto lei, e à

elaboração de planos fiáveis de redução dos consumos energéticos. Foram elaborados guias com os

procedimentos standard, para que findo o processo de certificação/auditorias, se possam comunicar

os consumos e registo das instalações na DGEG.

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43

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. A base de dados energéticos como motor da eliminação de

desperdícios

A inexistência de qualquer organização da informação energética de um património tão expressivo

como a rede comercial de um banco, permite que ocorram muitas vezes situações que acabam por

representar uma perda para o mesmo.

No caso analisado por esta dissertação, esta falta de organização, permitiu que em muitos casos de

encerramento de instalações da rede comercial do BPI, continuassem a ser facturados consumos de

energia eléctrica, quando muitas vezes a instalação já se encontrava encerrada há mais de meio ano.

A base de dados energéticos que foi executada, permitiu um melhor conhecimento dessa informação,

por cada instalação existente, nomeadamente no CPE correspondente a cada uma delas, sendo por

isso mais fácil de identificar, através deste código na facturação mensal enviada pelo fornecedor de

energia, se o fornecimento de electricidade de determinada instalação ainda continua activo.

A par desta base, foi ainda preparado um sistema de envio de comunicações para o comercializador

de serviços, contendo a informação presente na base de dados referente à instalação pretendida, para

facilitação dos processos de alteração/cessação de contratos.

Desta forma, mantendo a informação essencial dos contratos de fornecimento de energia agrupada

num documento, e fazendo uma análise frequente entre a facturação mensal e esta mesma base, é

possível evitar gastos desnecessários para a empresa, como acontecia até ao momento, com os casos

de balcões encerrados, com serviços ainda activos.

5.2. Alterações de tarifário

Os contratos de fornecimento de electricidade cuja potência contratada seja superior a 20,7 kVA, estão

obrigados, por imposição da entidade reguladora da energia – ERSE –, a serem tarifados de acordo

com um ciclo horário.

No entanto, o mesmo não acontece para os contratos cuja potência contratada seja inferior ao valor

mencionado no parágrafo anterior, onde o utilizador poderá escolher uma tarifa simples, sem considerar

os períodos horários, ou se porventura os seus consumos energéticos justifiquem a aplicação de um

ciclo horário, poderá igualmente fazê-lo.

Sendo a rede comercial do BPI, considerada como um prestador de serviços, o seu horário de

funcionamento rege-se pelos horários estabelecidos para este sector, o que significa que a maioria dos

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44

seus consumos de electricidade ocorre nos períodos de maior consumo da rede, correspondendo por

isso a um custo mais elevado deste bem.

Por esta razão, todos os contratos de fornecimento de electricidade em instalações da rede comercial

do BPI, com potência contratada inferior a 20,7 kVA, deverão ser tarifados sem ciclo, o que actualmente

se verifica na totalidade dos contratos de Portugal continental e da Madeira.

Acontece que, após análise da facturação das instalações do aquipélago dos Açores, se verificou que

cinco instalações elegíveis de utilização de um tarifário sem ciclo, estavam a ser facturadas com ciclo

horário, causando por isso prejuízo à empresa.

Apresenta-se nas duas tabelas seguintes (11 e 12), o exemplo de comparação do custo anual com um

tarifário com ciclo e outro sem ciclo, de uma dessas cinco agências.

Consumo [kWh] Custo [€]

Cheias 33816 5488

Ponta 13014 4192

Vazio 18472 1694

Total 65302 11374

Tabela 11 Facturação anual com ciclo horário

Consumo [kWh] Custo [€]

Sem ciclo 65302 10304

Tabela 12 Facturação anual sem ciclo horário

Custo[€]

Com ciclo 11374

Sem ciclo 10304

Diferença -1070

Tabela 13 Comparação do custo anual entre os dois tarifários analisados

Page 63: Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em ... · Desenvolvimento de metodologia para gestão de energia em agências bancárias Marcelo Simão Guedes dos Santos Dissertação

45

Como se pode averiguar na tabela 13, a alteração de tarifário para esta agência, irá permitir uma

poupança de 1070€ na facturação energética anual.

Perante esta situação, foram alterados os tarifários das 5 instalações que se encontravam na mesma

situação, o que resultou numa poupança anual para a empresa de cerca de 5300€.

5.3. Alteração potência contratada

A potência contratada nos contratos de fornecimento de electricidade, apresenta-se, muitas vezes,

como um factor relevante na análise de planos de poupança da facturação energética de uma

instalação. Este factor, cujo custo é incluído mensalmente na factura (tabela 14), encontra-se muitas

vezes contratado com um valor muito superior ao que realmente é necessário para suprir as

necessidades da instalação, tornando-se por isso num custo adicional desnecessário para a empresa.

Potência contratada [kVA] Custo [€/mês]

1,15 1,35

2,3 2,70

3,45 4,04

4,6 5,39

5,75 6,74

6,9 8,09

10,35 12,13

13,8 16,17

17,25 20,22

20,7 24,26

27,6 32,35

34,5 40,42

41,4 48,52

Tabela 14 Custo mensal da potência contratada

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46

As instalações da rede comercial do BPI, não possuem qualquer sistema de gestão de energia, pelo

se torna difícil aplicar uma monitorização mais precisa sobre os consumos reais, e sobre a potência

contratada realmente necessária para a instalação em questão, de modo a melhor identificar e

caracterizar os seus consumos, e identificação de eventuais anomalias, para se proceder a uma

elaboração mais precisa de planos de melhorias de eficiência energética. No entanto, e por decisão da

Direccção de Aprovisionamento Outsourcing e Património – DAOP – que assegura a manutenção do

património imobiliário do BPI, qualquer medida de eficiência energética que resultasse do estudo sobre

o qual esta dissertação incide, não poderia envolver qualquer tipo de investimento financeiro por parte

daquela instituição financeira.

Perante esta situação, e como forma de averiguar potenciais irregularidades na potência contratada na

rede comercial, foram adicionados à base de dados de agrupamento de balcões por área, e para cada

um destes, e para se poder estudar tal situação, outros parâmetros, que são:

• Número de colaboradores

• Número de máquinas ATM

• Potência do sistema de AVAC instalado

• Número multifunções

• Potência Iluminação

• Potência contratada actual

O número de colaboradores foi adicionado a esta base, como medida da estimativa do número de

computadores existente em cada instalação.

As máquinas de ATM, foram igualmente consideradas como sendo um computador, e por isso a sua

potência será igual à atribuída a estes.

O número de multifunções, verificou-se muito similar entre os agrupamentos de balcões, sendo que os

modelos existentes são semelhantes para toda a rede de agências, cujo valor da potência é aquele

mencionado no anterior capitulo deste documento.

Ás colunas da iluminação e AVAC, foram adicionados os valores característicos de cada agrupamento

de instalações.Desta forma, será possível obter uma estimativa da potência requerida em cada uma

das instalações da referida rede comercial, e a sua comparação com a actualmente contratada.

O cálculo da potência efectivamente necessária será efectuado através do somatório dos dados

introduzidos para cada um dos casos, através do seguinte método:

!"#ê%&'(#"#(*'%+#(*(,([./]

= %º&"*(3"4(,"45+ ∗ 7"#ê%&'(&"879#(,"45+ + %º,5;<=

∗ 7"#ê%&'(&"879#(,"4 + 7"#ê%&'(;>;? + %º<8 ∗ 7"#ê%&'(<8 + %ºA. ?"87(&#(+∗ 7"#ê%&'(A. ?"87(&#(+ + %º'8745++"4(+ ∗ 7"#ê%&'(8áD'8('8745++"4(+

Equação 1 Método de cálculo da potência total instalada

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47

Figura 15 Agrupamento de dados para apuramento da potência requerida para cada instalação

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48

Após o cálculo da potência total instalada na equação 1, será feita a sua conversão para kVA – equação

2 –, para que se possa então determinar o valor de potência contratada necessário para a instalação.

!"#ê%&'(&"%#*(#(+( ,-. = !"#ê%&'(#"#(0[,2]4(&#"*+56"#ê%&'(

Equação 2 Método de Cálculo da potência contratada

O agrupamento de todos estes dados deu então origem a várias tabelas (figura 15), uma para cada um

dos agrupamentos de instalações, capaz de prever quais as necessidades de potência de casa uma

destas.

Uma análise mais profunda às tabelas que foram elaboradas, permitiu identificar 138 casos com

possibilidade de alteração da potência contratada (tabela 15).

Agrupamento Instalações elegíveis de alteração de Potência

A<100 3

100<A<150 22

150<A<200 38

200<A<300 59

A>300 16

138

Tabela 15 Instalações elegíveis para alteração de potência contratada, por agrupamento

As alterações de potência identificadas, permitirão obter uma redução da facturação anual em 23 927€,

a que corresponde aproximadamente 1% do custo total dos consumos BTN verificados no ano de 2015

(tabela 16).

Estes dados corroboram o pressuposto de que existe, nas empresas, o vicio de sobre-contratar as

potências contratadas das instalações do seu parque imobiliário, facto esse que contribui

negativamente para a sua facturação energética anual.

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49

Agrupamento Poupança anual [€]

A<100 291,24

100<A<150 3299,52

150<A<200 4754,04

200<A<300 12477,48

A>300 3104,88

23 927,16

Tabela 16 Poupança anual, com a alteração de potência, por agrupamento

5.4. Iluminação

Como referido anteriormente, a iluminação é o segundo maior consumidor de energia das instalações

dos edifícios. A tecnologia de iluminação instalada nas instalações da rede comercial do BPI, é antiga,

o que se verifica também em muitas agências bancárias de outras instituições, sendo por isso possível

efectuar a sua alteração por soluções mais modernas e com impactos significativos na redução dos

consumos energéticos.[20]

A solução a implementar passa pela substituição de todas as lâmpadas T8 de 36W, por tubos de LED

de 16W, e das lâmpadas fluorescentes compactas de 15W por lâmpadas LED de 5W. As lâmpadas

LED T8 tem um custo unitário de 9,6€ enquanto que as LED comuns, para substituição das

fluorescentes compactas apresentam um custo de 3,99€.

Quando comparadas com as lâmpadas actualmente instaladas, estas últimas apresentam as seguintes

características diferenciadoras:

• Redução dos consumos energéticos em mais de 50%;

• Apresentam um ciclo de vida que é o dobro das lâmpadas actuais

A análise desta proposta tem por base o funcionamento de 10h por dia, por balcão, em 5 dias uteis por

semana e 52 semanas por ano.

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50

Agrupamento T8 36W

Fluorescente compacta

15W

Número balcões

Número lâmpadas

T8

Lâmpadas Compactas

Custo Lâmpadas LED T8 [€]

Custo LED

Comum [€]

A<100 60 10 37 2220 370 21312 1476,3

100<A<150 80 16 113 9040 1808 86784 7213,9

150<A<200 100 20 113 11300 2260 108480 9017,4

200<A<300 130 26 137 17810 3562 170976 14212,4

A>300 150 30 50 7500 1500 72000 5985

Total 450 47870 9500 459 552 37 905

Tabela 17 Número total e custo das lâmpadas a substituir

O custo total do investimento na substituição da totalidade das lâmpadas existentes, pelas LED,

apresentadas na tabela 15, será de 497 457 €.

Do estudo da substituição desta tecnologia de iluminação, apresentado nas tabelas 16 e 17, pode

verificar-se que a poupança nos consumos totais da rede de agências do BPI, será de 2 736 240 kWh,

sendo o ganho na facturação anual de 431 778,7€, o que, em termos de retorno do investimento, origina

um período de 1,15 anos.

Tendo ainda em consideração que as lâmpadas LED terão uma duração duas vezes superior às

actualmente instaladas, e sabendo que em média cada lâmpada T8 representa um custo de 1,31€ e

cada fluorescente compacta 4,20€, ter-se-á ainda uma poupança relativa ao tempo de vida útil de cada

lâmpada (tabela 20).

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51

Agrupamento T8 36W Fluorescente

compacta

15W

Número

balcões

Número

lâmpadas

T8

Lâmpadas

Compactas

Consumo

anual T8

[kWh]

Consumo

Anual

Compactas

[kWh]

Consumo

LED T8

[kWh]

Consumo

LED

normal

[kWh]

Poupança

Anual [kWh]

A<100 60 10 37 2220 370 207 792,0 14 430,0 92 352,0 4 810,0 125 060,0

100<A<150 80 16 113 9040 1808 846 144,0 70 512,0 376 064,0 23 504,0 517 088,0

150<A<200 100 20 113 11300 2260 1 057 680,0 88 140,0 470 080,0 29 380,0 646 360,0

200<A<300 130 26 137 17810 3562 1 667 016,0 138 918,0 740 896,0 46 306,0 1 018 732,00

A>300 150 30 50 7500 1500 702 000,0 58 500,0 312 000,0 19 500,0 429 000,0

Total 450 47870 9500 4 480 632,0 370 500,0 1 991 392,0 123 500,0 2 736 240,0

Tabela 18 Análise de poupança de consumos na substituição da iluminação

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Agrupamento Número

lâmpadas T8

Lâmpadas

Compactas

Custo consumo

T8

Custo consumo

Compactas

Custo consumo

LED T8

Custo

consumo LED

comuns

Poupança

anual [€]

A<100 2220 370 32 789,6 2 277,1 14 573,1 759,0 19 734,5

100<A<150 9040 1808 133 521,5 11 126,8 59 342,9 3 708,9 81 596,5

150<A<200 11300 2260 166 901,9 13 908,5 74 178,6 4 636,2 101 995,61

200<A<300 17810 3562 263 055,1 21 921,3 116 913,4 7 307,1 160 755,9

A>300 7500 1500 110 775,6 9 231,3 49 233,6 3 077,1 67 696,2

Total 47870 9500 707 043,7 58 464,9 314 241,7 19 488,3 431 778,7

Tabela 19 Análise da poupança anual na facturação, pela substituição da iluminação

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53

Tipo lâmpada Poupança vida útil [€]

T8 39 900

Fluorescente compacta 62 709,7

102609,7

Tabela 20 Poupança vida útil com a substituição da iluminação por lâmpadas LED

Posto isto, com um investimento total de 497 457 €, e um ganho global nos consumos e na vida útil das

lâmpadas de 534 388,4 €, este projecto dará um retorno do investimento à empresa em 0,93 anos, ou

seja 11 meses e cinco dias aproximadamente, sendo por isso uma medida muito positiva, e com

bastante impacto na eficiência energética da empresa.

Ainda no campo da iluminação, foi possível verificar que o funcionamento da iluminação publicitária se

encontra a ser gerido de acordo com um relógio crepuscular, o que permite a eliminação de

desperdícios, não havendo por isso melhorias a introduzir neste campo.

5.5. Sistemas de AVAC

Os sistemas de AVAC, como os maiores consumidores de energia de uma instalação, são por isso

aqueles que mais cuidado suscitam a quem gere o património de uma empresa, e nesse aspecto, estes

sistemas instalados na rede comercial do BPI, encontram-se permanentemente em monitorização por

parte de empresas externas, havendo o cuidado de que estejam sempre a funcionar nas melhores

condições.

Verifica-se, no entanto, que em alguns casos, é possível a introdução de algumas melhorias nestes

equipamentos.

Nas instalações cujo tarifário, por imposição do regulador de energia, seja com ciclo horário, é possível

aproveitar os períodos de vazio, em que a energia é consideravelmente mais barata, para pré-climatizar

as agências, eliminando assim o pico de arranque que acontece na hora de abertura da mesma, e

reduzindo também a carga térmica acumulada durante o período noturno, melhorando assim o conforto

térmico do espaço e evitando assim a necessidade dos colaboradores quando cheguem de manhã à

agência, liguem o equipamento de AVAC.

É possível ainda, em agências com circuitos de ventilação separados dos da climatização, implementar

a medida de free cooling, que consiste em utilizar o ar exterior para arrefecer os espaços interiores

durante a noite, permitindo libertar cargas térmicas acumuladas durante o dia, sendo que esta

ventilação iria funcionar no período de vazio.

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54

Verifica-se também que o estabelecimento das temperaturas destes equipamentos se encontra sujeito

ao controlo dos colaboradores dos espaços, e por isso, na grande maioria dos casos conduz a que

estes se encontrem a funcionar fora dos parâmetros de funcionamento óptimo. No entanto, e como

esta questão se encontra enquadrada no comportamento humano, será abordada no próximo ponto.

5.6. Comportamento Humano

Já foi referido que a decisão de uma empresa implementar um programa para a promoção da

sustentabilidade e eficiência energética tem sempre como consequência inevitável, a geração de

mudanças.

Mas, muitas vezes, os colaboradores das empresas, são um dos principais obstáculos a ultrapassar,

para que este tipo de programas seja bem-sucedido, sendo a resistência dessas pessoas à mudança,

um factor que deve ser combatido.

Várias metas normalmente incluídas num plano de sustentabilidade, como o combate ao desperdício e

utilização eficiente dos recursos energéticos ou naturais, a redução e gestão de resíduos, a

desmaterialização de processos ou serviços, têm um ponto em comum, as pessoas.

Também nas instalações do BPI, se pode verificar a existência de desperdícios energéticos decorrentes

do comportamento humano. A permanência de iluminação ligada onde não se encontra ninguém a

trabalhar, assim como do equipamento informático que permanece ligado quando o colaborador

termina o seu dia de trabalho, ou a mudança dos set-points dos sistemas de AVAC para temperaturas

afastadas da gama de funcionamento óptimo destes sistemas, são comportamentos bastante comuns

observados um pouco por toda a rede comercial do banco.

A necessidade de sensibilizar os utilizadores para as questões da eficiência energética, deve ser

promovida no âmbito na sociedade, através da educação, mas também pelas empresas.

Neste sentido, será favorável à empresa, implementar um programa de sensibilização dos seus

colaboradores através da distribuição de manuais com boas práticas energéticas, a realização de

acções de formação, ou até mesmo passando pela criação de um sistema de incentivos à eficiência

energética.

De uma maneira geral, a empresa deverá tomar os seguintes passos:

• Implementação de um manual de boas práticas energéticas;

• Devem ser difundidas por todas as instalações, etiquetas informativas, junto dos interruptores

de iluminação, dos computadores e dos programadores dos sistemas de AVAC;

• Implementação de um programa de acções de formação para as temáticas da eficiência

energética;

• Realizar auditorias para monitorização da eficácia da implementação do projecto, e se

necessário voltar a redesenhar o mesmo;

Aconselha-se, no entanto, que a empresa siga uma estratégia para que possam ser quantificados os

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55

impactos de cada medida de alteração de comportamento. Nesse sentido, a empresa deverá, por

exemplo, fornecer a toda a comunidade de colaboradores o manual de boas praticas, mas dar

formações presenciais só apenas a um grupo de colaboradores. Após este processo, deverão ser

quantificados os impactos em cada um dos grupos, para se poder avaliar cada uma das medidas.

5.6.1. Manual de boas práticas

Para que se inicie uma abordagem inicial junto dos colaboradores da empresa, deverá ser difundido,

por todos eles, um manual com a indicação de comportamentos desadequados, e boas práticas a

serem tomadas para que a empresa consiga reduzir os seus consumos energéticos.

Para tal, foi produzido um manual, simples e não exaustivo, sob pena de não surtir qualquer efeito junto

do publico alvo, por forma a que a empresa o possa distribuir pelos mesmos.

Este é composto por uma abordagem inicial à temática da eficiência energética, introduz de seguida

medidas que os mesmos deverão adoptar para uma melhor utilização da iluminação das instalações,

seguindo-se os sistemas de condicionamento de ar, a utilização eficiente dos equipamentos

informáticos, e termina com um incentivo a essa mudança.

5.6.2. Difusão de etiquetas e posters informativos

Paralelamente à difusão do manual do ponto anterior, a colocação de etiquetas autocolantes e posters

junto dos equipamentos responsáveis pelo maior desperdício de energia, por intervenção do

comportamento humano, deve ser implementada.

Informações como as que se apresentam de seguida, deverão ser colocadas nestas etiquetas.

• Cada ºC adicional nos aparelhos de climatização corresponde a um aumento entre 7% a 10% no

consumo energético;

• Os aparelhos informáticos deixados em standby contribuem para um gasto desnecessário na

factura eléctrica;

• Desligue a iluminação quando já não precisar de utilizar este espaço;

Este tipo de comunicação, terá como principal objectivo, recordar o colaborador para a tomada de

consciência para a adopção de comportamentos eficientes, sempre que utilizar aqueles equipamentos.

5.6.3. Campanha de sensibilização/formação

As acções de sensibilização devem ser baseadas em princípios de gestão modernos e técnicas de

aprendizagem activa. Os tópicos devem ser seleccionados de acordo com as necessidades, e serem

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concebidos para colmatar os conhecimentos na utilização da de energia que foram identificados como

débeis.

À medida que as competências em utilização eficiente da energia se difundem na organização, as

acções de formação e sensibilização devem ser reexaminadas e adaptadas no sentido de responder a

necessidades de formação mais avançadas. O desenvolvimento das acções de sensibilização deve ser

um processo cíclico.

Uma auditoria à sensibilização faculta uma avaliação detalhada do contexto dos colaboradores da

empresa, e as necessidades e expectativas necessárias para o desenvolvimento curricular desejado

para os diferentes tipos de colaboradores identificados.

Com base na informação recolhida no plano comportamental, podem ser identificados qual o nível de

profundidade e conhecimento dos colaboradores a sensibilizar, quais as suas necessidades, e de que

tipo de informação necessitam para alterarem a sua atitude.

Devem também ser recolhidas informações sobre os conhecimentos relevantes dos mesmos, por

exemplo sobre o sector energético, medidas para a poupança energética, interesses e opiniões

relevantes para a gestão da energia.

O método de sensibilização dos colaboradores para esta temática dos consumos

energéticos�responsáveis na empresa, deverá ser baseado em acções de formação presencial, uma

vez que este método tradicional, tem um impacto maior e permite aos utilizadores expressarem as suas

reacções e demonstrarem o seu entusiasmo perante tal temática.

5.6.4. Sistema de incentivos

De forma a induzir algum entusiasmo na mudança de comportamento perante os colaboradores, a

empresa poderá também implementar um sistema de incentivos, por exemplo, aos funcionários das

instalações que tenham atingido as maiores reduções na facturação energética. Estes incentivos não

necessitam de ser monetários, podendo passar pela atribuição de um dia de férias extra, ou algum

tipo de brindes.

5.6.5. Auditorias ao plano de alteração de comportamento

Por forma a verificar a utilidade dos métodos de alteração de comportamento dos colaboradores, e o

seu impacto nos consumos da empresa, deverão ser efetuadas auditorias periódicas ao programa

implementado.

De acordo com os resultados, deverão ser analisados, novamente, o manual de boas práticas, assim

como os conteúdos das acções de formação e o sistema de incentivos, por forma a que os

colaboradores se sintam continuamente apoiados na adopção de comportamentos de racionalização

dos consumos energéticos.

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Após a implementação das mudanças resultantes das auditorias, o ciclo deverá ser reiniciado,

colmatando com uma nova auditoria, tempos mais tarde.

5.6.6. Estimativa das poupanças

A previsão de poupanças resultante deste tipo de programas, dota-se de especial dificuldade, uma vez

que a medição da alteração do comportamento humano é bastante complexa.

Apresentam-se, no entanto, na tabela 21, as estimativas, ainda que conservadoras, previstas para a

introdução destes planos na rede de balcões do banco BPI.

Considerou-se que as medidas com maior impacto seriam a introdução do manual de boas práticas, a

correcta definição das temperaturas dos sistemas de AVAC (dado o seu elevado peso nos consumos

energéticos das instalações) e o sistema de incentivos, aos quais foi atribuído um ponto percentual de

redução (1%). Às restantes medidas foram atribuídos valores menores de redução, dado que se prevê

que não tenham o mesmo impacto que as anteriores, tendo sido atribuído às acções de formação uma

percentagem de redução 0,5, e à colocação das etiquetas nos interruptores de iluminação e nos

equipamentos informáticos, uma percentagem de 0,4 para cada uma delas.

A análise destes dados, permite concluir que o impacto previsto devido só à mudança de

comportamento dos colaboradores, é significativo, sendo a poupança prevista de cerca de 1,2 milhões

de kWh, o que corresponde a cerca de 121 mil euros.

De referir que este elevado impacto na redução dos consumos energéticos e na facturação final, é

devido apenas à custa da mudança de comportamento dos colaboradores, sem haver necessidade de

grandes investimentos na instalação de novos equipamentos ou sistemas que sejam mais eficientes

do que os actuais.

Medida Impacto [%] Poupança anual [kWh]

Poupança anual [€]

Manual de boas práticas

1 277 719,4 28 099,4

Ações de Formação 0,5 138 859,7 14 049,7

Etiquetas de definição das

temperaturas de

1 277 719,4 28 099,4

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inverno e verão do AVAC

Etiquetas sistemas iluminação

0,4 111 087,8 11 239,7

Etiquetas equipamentos informaticos

0,4 111 087,8 11 239,7

Sistema incentivos 1 277 719,4 28 099,4

Total 4,3 1 194 193,5 120 827,2

Tabela 21 Impacto das medidas de alteração de comportamento humano

5.7. Resumo e análise dos resultados/medidas obtidos

A tabela 22 apresenta um quadro síntese das medidas apresentadas no capítulo 5 deste documento.

A sua análise permite averiguar que este modelo de implementação de poupança nos consumos

energéticos na rede de agências do BPI, irá conduzir a uma diminuição dos mesmos em pelo menos

14,15%, o que corresponde a 3 930 433 kWh, e a consequente diminuição da facturação dos contratos

BTN em 24,36%, ou seja 684 442 euros. Os valores alcançados na redução dos consumos, estão em

linha com outros obtidos anteriormente, para outra instituição bancária [21], sendo por isso de esperar

que a sua implementação em qualquer outro banco produza semelhantes resultados.

Em termos de toneladas equivalentes de petróleo, esta diminuição totaliza 338 tep, sendo no caso da

emissão de gases poluentes, nomeadamente o dióxido de carbono, totalizada uma diminuição de 634,3

toneladas por ano.

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Medida Investimento [€] Poupança anual [kWh]

Poupança anual [€]

Poupança Emissões CO2[ton]

Base dados energéticos

0 n.a n.a n.a

Alteração ciclo tarifário

0 n.a 5300 n.a

Alteração potência contratada

0 n.a 23 927,16 n.a

Substituição iluminação

497 457 2 736 240

431 778,7

(Lâmpadas) + 102

609,7 (vida útil

lâmpadas)

441,6

Comportamento humano

0 1 194 193,5 120 827,2 192,7

Total 497 457 3 930 433,5 684 442,76 634,3

Tabela 22 Quadro resumo das medidas a implementar

As três primeiras medidas, estando relacionadas apenas com a gestão dos contratos de fornecimento

de energia, não produzirão qualquer redução de consumos, tendo, no entanto, um impacto na

facturação anual de 1%.

A substituição da iluminação das instalações, atinge uma redução dos consumos de 9,85%, o que em

termos de custos se traduz em menos 19%.

A implementação de métodos que promovam a alteração do comportamento dos colaboradores da

empresa, permite atingir, num cenário mais pessimista, 4,3% de redução de consumos a que

corresponde uma igual percentagem de diminuição da factura energética, sendo a redução de

consumos prevista pela introdução desta medida, semelhante à que se verificou, para outra instituição

bancária (1194193 vs. 1191127) [21] .

Os valores alcançados por estas duas medidas, são facilmente extrapoláveis para outras instituições

bancárias, uma vez que os resultados obtidos por esta metodologia, estão em linha com os obtidos em

[21].

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No entanto, para além das agências bancárias, esta metodologia poderá também ser aplicada em

outras empresas, que também se encontrem sujeitas ao cumprimento da legislação em vigor, como

por exemplo, cadeias de supermercados ou de restauração, cujo modo de funcionamento seja idêntico

ao destas instalações. Será de esperar que, a implementação desta metodologia, conduza a um

intervalo de percentagens de redução dos consumos e custos com a facturação energética anual,

semelhante aos obtidos para as agências bancárias.

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6. CONCLUSÕES

Este projecto tinha como objectivo o estudo da implementação de métodos de gestão de energia e

eficiência energética em agências bancárias, tendo como base, os objectivos traçados no programa

20-20-20, traçado pela comunidade europeia. Foi desenvolvido através da análise dos dados

energéticos da rede de balcões do Banco BPI, sendo, no entanto, aplicável a qualquer outra instituição

bancária, ou até mesmo outro sector, cujo funcionamento das instalações seja semelhante a estas.

Para cumprimento dos objectivos propostos, foi iniciada uma análise dos consumos globais, e por

instalação, de toda a rede, para averiguação dos mesmos, e ainda algumas vistorias a agências, de

forma a identificar os perfis de consumos, bem como possíveis fontes de ineficiências energéticas. Só

assim, foi possível iniciar o estudo de planos de racionalização do uso de energia, para as instalações

relacionadas com a actividade comercial do banco.

Este estudo, compreendeu a análise e implementação de seis medidas relacionadas com os consumos

energéticos desta instituição. As duas primeiras, tendo em vista a gestão dos dados energéticos das

numerosas instalações que compõe o património imobiliário, as três seguintes tendo em vista a

implementação de medidas de melhoria da eficiência energética e dos gastos com a energia, e a última

que aborda o cumprimento da legislação do sector da energia aplicada às empresas não PME.

A implementação de uma base de dados capaz de agrupar num único ficheiro todos os dados

energéticos de cada instalação, foi o ponto inicial deste estudo, e a primeira medida a ser

implementada. Desta forma, e devido à constante alteração no património imobiliário das instituições

bancárias, é possível tornar o processo de alteração ou rescisão de contratos mais ágil, sendo que, no

BPI, esta medida permitiu a eliminação de gastos com alguns contratos de instalações encerradas,

mas que permaneciam activos.

No decorrer da medida anterior, surgiu então a segunda, que conduziu a alteração de tarifários de

alguns contratos de fornecimento de energia, tendo esta medida, revelado ser a com menor impacto

económico, mas que ainda assim permitiu uma poupança anual de 5300€.

A implementação de um sistema de cálculo da potência contratada necessária para cada instalação,

através da identificação da quantidade de equipamentos presentes em cada uma delas, e posterior

introdução na ferramenta de cálculo construída, revelou-se de bastante impacto na facturação anual

do banco, sem necessidade de qualquer investimento em sistemas de gestão de consumos/energia.

Este sistema, identificou 138 casos de potência contratada desadequada, o que conduziu a uma

poupança anual de 23 927€.

De seguida, o presente método, focou-se na substituição da iluminação das agências, apresentando-

se como uma medida com bastantes benefícios em termos de eficiência energética, sendo, no entanto,

de baixa complexidade, e exigindo poucos recursos. Deste modo, esta medida, contempla a

substituição das lâmpadas T8 e fluorescentes compactas por lâmpadas LED. É uma medida cujo

investimento inicial é um pouco elevado, mas dada a poupança atingida, quer em termos de consumos

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quer na vida útil das lâmpadas, permite um retorno do investimento, em cerca de um ano. Esta medida

irá permitir uma poupança anual de 2 736 240 kWh, o que em custos de facturação significa 431 778€,

aos quais se juntam ainda 102 609 relativos à poupança com o aumento da vida útil das lâmpadas.

A terceira medida relacionada com a implementação de medidas de redução dos consumos, foi

elaborada tendo em conta o comportamento humano. Este revela-se como um dos parâmetros mais

influentes no consumo de energia, sendo por isso de interesse relevante. Os planos que foram

elaborados neste campo, que incluem a distribuição de manuais de boas práticas energéticas e acções

de formação junto dos colaboradores, revestem-se de grande importância, uma vez que o seu impacto

é significativo, sendo o investimento efectuado para tal, quase nulo. Estas medidas permitirão uma

poupança anual de 120 827€.

Por último, e tendo por base a metodologia desenvolvida para a eficiência energética, foi ainda

preparada, toda a documentação necessária, para que se proceda ao cumprimento da legislação em

vigor (DL 68-A/2015), relativa à gestão dos consumos energéticos nas empresas não PME, e à

implementação de medidas de eficiência energética, com vista à sua redução.

No seu conjunto, as medidas apresentadas nesta dissertação, irão permitir uma redução total na

facturação energética de 684 442€.

Em termos energéticos, estas ascendem a 3 930 433 kWh, sendo a redução da emissão anual de

dióxido de carbono, associados a estes consumos, de 634,3 toneladas.

Sugere-se que, caso não haja predisposição financeira para as empresas investirem em projectos de

eficiência energética, se estude a possibilidade de serem implementados contratos de performance

cujo modelo financeiro assenta num investimento inicial realizado por um investidor ou prestador de

serviços, consistindo a sua remuneração na diferença positiva entre a poupança garantida e a

poupança efetivamente verificada.

Por tudo isto, pode considerar-se que os objectivos pretendidos com este estudo, serão cumpridos, e

a sua aplicação em agências bancárias, ou qualquer outro tipo de instalação cujo modo de

funcionamento seja similar a estas, originará resultados muito positivos, necessários para o

cumprimento da legislação energética em vigor.

Dando continuidade aos temas discutidos ao longo desta dissertação, espera-se no futuro a aplicação,

por parte da empresa, das medidas que ainda não foram implementadas, como a alteração da

iluminação, o programa de alteração do comportamento humano e a alteração de potência contratada,

sendo ainda de considerar, o alargamento deste estudo aos edifícios dos serviços centrais, por forma

a que a redução da factura energética anual seja ainda mais significativa.

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