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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI - ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS ADRIANA MARCIA GRABOSKI DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA NARIZ ELETRÔNICO APLICADOS NA DETECÇÃO DE AROMAS ARTIFICIAIS EM BALAS DE GOMAS ERECHIM, RS - BRASIL MARÇO DE 2016

DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA … · detecção de voláteis de aromas, porém apresentam limitações. Sistemas de narizes eletrônicos utilizando arranjo de sensores

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSES

URI - ERECHIM

DEPARTAMENTO DE CINCIAS AGRRIAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS

ADRIANA MARCIA GRABOSKI

DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA NARIZ

ELETRNICO APLICADOS NA DETECO DE AROMAS

ARTIFICIAIS EM BALAS DE GOMAS

ERECHIM, RS - BRASIL

MARO DE 2016

DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA NARIZ

ELETRNICO APLICADOS NA DETECO DE AROMAS

ARTIFICIAIS EM BALAS DE GOMAS

ADRIANA MARCIA GRABOSKI

Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-

Graduao em Engenharia de Alimentos da URI -

Erechim, como requisito parcial obteno do Grau de

Mestre em Engenharia de Alimentos, rea de

Concentrao: Engenharia de Alimentos, da Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses URI

Erechim.

Orientadoras: Dr. Clarice Steffens

Dr. Juliana Steffens

ERECHIM, RS - BRASIL

MARO DE 2016

DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA NARIZ ELETRNICO

APLICADOS NA DETECO DE AROMAS ARTIFICIAIS EM BALAS DE GOMAS

Adriana Marcia Graboski

Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de

Alimentos da URI - Erechim, como requisito parcial obteno do Grau de Mestre em

Engenharia de Alimentos, rea de Concentrao: Engenharia de Alimentos, da Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses URI Erechim.

Comisso Julgadora

__________________________________________

Profa. Dra. Clarice Steffens

Orientadora

URI - Erechim

____________________________________________

Profa. Dra. Juliana Steffens

Orientadora

URI - Erechim

____________________________________________

Dra. Alexandra Manzoli

URI - Erechim

____________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Luis Mignoni

URI - Erechim

____________________________________________

Prof. Dr. Daniel Souza Corra

Embrapa Instrumentao

Erechim, 09 de maro de 2016

NESTA PGINA DEVER SER INCLUDA A FICHA CATALOGRFICA DA

DISSERTAO DE MESTRADO. ESTA FICHA SER ELABORADA DE ACORDO

COM OS PADRES DEFINIDOS PELO SETOR DE PROCESSOS TCNICOS DA

BIBLIOTECA DA URI ERECHIM.

V

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a ele que dirijo minha maior gratido, Deus, mais do que me criar,

deu propsito minha vida. Vem dele tudo o que sou e o que tenho. Obrigado por ter me

direcionado ao caminho certo.

Aos meus pais Delcio e Clarisse que mais do que me proporcionar uma boa infncia,

formaram os fundamentos do meu carter e me apontaram os caminhos da vida. Obrigado por

serem a minha referncia de tantas maneiras e estarem sempre presentes na minha vida de

uma forma indispensvel. J agradecendo tambm ao meu irmo Anderson, que esteve

sempre ao meu lado me incentivando e apoiando.

Ao meu namorado Fabiano que representa minha segurana em todos os aspectos,

meu companheiro incondicional. Me desculpe se as vezes no estive to presente, mas meu

corao sempre esteve contigo e sempre estar.

Em especial as minhas professoras orientadoras Clarice e Juliana Steffens pela

orientao maravilhosa que prestaram, sempre tendo muita pacincia e esclarecendo todas as

dvidas que surgiram pelo caminho, sempre me incentivando nos momentos difceis.

A Alexandra Manzoli por todo o apoio, conselhos, momentos de descontrao e por

toda a pacincia e ajuda ofertada, me faltam palavras para agradecer. Aproveito tambm para

agradecer o pessoal da nanotecnologia por todo apoio e incentivo que me proporcionaram.

Aos meus bolsistas Sandra, Elisiane e Thiago pela tima ajuda nos trabalhos de

laboratrio, pelos momentos l vividos. Vocs fizeram parte disso tudo.

Ao Flvio Makoto, ao professor Claudio Augusto Zakrzevski, a Elisandra Fernandes

por toda ajuda e suporte oferecidos.

No poderia deixar de esquecer das minhas amigas Keli, Aline, Jessica e Vanessa que

sem dvida ficaram para sempre em minha memria. Agradeo a vocs pelo simples fato de

terem entrado em minha vida, sem dvida so e sero sempre especiais para mim.

todos os professores, colegas de laboratrio, o pessoal da Central de Materiais, a

Embrapa instrumentao So Carlos-SP, a Capes enfim, a todos que colaboraram diretamente

ou indiretamente com o aperfeioamento deste trabalho.

OBRIGADO A TODOS!

VI

O conhecimento torna a alma jovem e diminui a

amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena

suavidade para o amanh

Leonardo da Vinci

VII

Resumo da dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de

Alimentos como parte dos requisitos necessrios para obteno do Grau de Mestre em

Engenharia de Alimentos.

DESENVOLVIMENTO DE SENSORES DE GASES PARA NARIZ ELETRNICO

APLICADOS NA DETECO DE AROMAS ARTIFICIAIS EM BALAS DE GOMAS

Adriana Marcia Graboski

Maro/2016

Orientadores: Dr. Clarice. Steffens

Dr. Juliana Steffens

O aroma nos alimentos considerado um atributo essencial intimamente relacionado a

aceitao dos produtos alimentcios pelo consumidor. Neste contexto, a anlise da qualidade

destes aromas de essencial importncia para a indstria de alimentos. Anlises sensoriais

utilizando provadores treinados e mtodos cromatogrficos so os mais empregados na

deteco de volteis de aromas, porm apresentam limitaes. Sistemas de narizes eletrnicos

utilizando arranjo de sensores de gases tm emergido como uma alternativa promissora para o

reconhecimento de volteis presentes em aromas. Neste estudo, sensores qumicos com filme

de polianilina (Pani) foram produzidos e utilizados em um arranjo de sensores (nariz

eletrnico) para detectar os volteis em diferentes aromas artificiais: ma, morango e uva,

to bem como em bala de goma. Os sensores de Pani foram produzidos pela tcnica de

automontagem com poli(4-estirenossulfonato de sdio) (PSS) e por polimerizao in situ,

sobre eletrodos interdigitados de grafite (substrato de papel vegetal) e de ouro (substrato de

vidro). A Pani foi obtida por meio das snteses in situ e interfacial. O tipo de substrato teve

influncia na resposta eltrica dos sensores, sendo que os filmes de Pani sobre substrato de

papel vegetal exibiram os mais altos e mais rpidos nveis de resposta com melhores valores

de sensibilidade e limite de deteco aos volteis dos aromas. Estes aspectos so atribudos

morfologia fibrilar mais porosa do substrato de papel, a qual foi revelada com as tcnicas de

FEG-MEV e AFM. Foi demonstrado com o mtodo estatstico da Anlise de Componente

Principal (PCA) que os arranjos de sensores usados no sistema de nariz eletrnico foram

altamente eficientes na discriminao das concentraes do aroma individualmente e em bala

de goma, especialmente sobre o substrato de papel vegetal. O Loading plot indicou o filme

LbL interfacial como o que teve melhor desempenho na discriminao dos volteis nos

aromas e, o filme LbL in situ nas balas de gomas. Assim, o nariz eletrnico mostrou-se como

uma ferramenta promissora para anlise dos compostos volteis de aroma em diversos setores

da indstria alimentcia.

Palavras-chave: Nariz Eletrnico, Sensores de Gases, Polianilina, Compostos volteis,

Aromas Artificiais, Balas de Goma

VIII

Abstract of Dissertation presented to Food Engineering Program as a partial fulfillment of the

requirements for the Degree of Master in Food Engineering.

GAS SENSORS DEVELOPMENT FOR ELECTRONIC NOSES APPLIED ON THE

DETECTION OF ARTIFICIAL AROMAS IN GUM CANDY

Adriana Marcia Graboski

March/2016

Advirsors: Dr. Clarice Steffens

Dr. Juliana Steffens

Food aroma is considered a sensory attribute closely related to the acceptance of food

products by consumers. In this context, the quality analysis of aromas is essential to the food

industry. Sensory evaluation using trained sensory panels and chromatography methods are

the methods most commonly used for the detection of volatile aromas, but with limitations.

Electronic nose systems with gas sensors array have emerged as a promising alternative for

the recognition of volatiles in aromas. In this study, chemical sensors based on polyaniline

(Pani) films were produced and used in a sensors array (electronic nose) to detect the volatiles

in the different artificial aromas; apple, strawberry and grape as well as in gum candy. The

Pani sensors were produced by Layer by Layer (LbL) technique with poly(sodium 4-

styrenesulfonate) (PSS) and in situ polymerization onto interdigitated graphite (tracing paper

substrate) and gold (glass substrate) electrodes. The Pani was obtained by in situ and

interfacial synthesis. The type of substrate influenced the sensor's electrical response, where

the PAni films on tracing paper substrate presented the highest and fastest response levels and

better sensitivity and detection limits to volatile aromas. These features are attributed to

fibrillary morphology more porous of paper substrate, which has been revealed using FEG-

SEM and AFM techniques. It has been shown with the statistical method Principal

Component Analysis (PCA) that the sensors array used in electronic nose systems has been

highly effective in distinguishing aroma concentrations individually and in gum candy,

especially on tracing paper. The Loading plot indicated the interfacial LbL film had the best

performance discriminating volatiles in aromas and the in situ LbL film in gum candy.

Therefore, the electronic nose presents itself as a promising tool for the volatile compounds

analysis in various food industry sectors.

Keywords: Electronic Nose, Gas Sensors, Polyaniline, Volatile Compounds, Artificial

Aromas, Gum Candy

IX

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................................... 16

2 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 19

2.1 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................................. 19

3 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................................... 20

3.1 BALA DE GOMA .............................................................................................................. 20

3.2 AROMAS ........................................................................................................................... 21

3.2.1 Liberao/perda dos aromas ........................................................................................ 22

3.3 MONITORAMENTO DOS AROMAS ............................................................................. 24

3.4 NARIZES ELETRNICOS ............................................................................................... 25

3.4.1 Unidade de deteco - Sensores de gases ..................................................................... 28

3.4.1.1 Polmeros condutores .................................................................................................. 31

3.4.1.1.1 Sntese e deposio da Pani ...................................................................................... 33

3.4.1.2 Mecanismo de resposta dos sensores de gases ........................................................... 37

3.4.2 Unidade de processamento de sinal e sistema de reconhecimento padro ............... 39

3.5 CONSIDERAOES SOBRE O ESTADO DA ARTE ................................................... 40

4 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................ 41

4.1 DESENVOLVIMENTO DO NARIZ ELETRNICO ...................................................... 42

4.1.1 Sistema de deteco ....................................................................................................... 42

4.1.1.1 Confeco dos eletrodos interdigitados de grafite e ouro .......................................... 42

4.1.1.1.1 Desenvolvimento dos eletrodos interdigitados de grafite (substrato de papel vegetal)

.................................................................................................................................................. 42

4.1.1.1.2 Desenvolvimento dos eletrodos litografados de ouro (substrato de vidro)............... 44

4.1.1.2 Mtodos de sntese qumica da Pani ........................................................................... 45

4.1.1.2.1 Sntese in situ da Pani ............................................................................................... 46

4.1.1.2.2 Sntese interfacial da Pani ......................................................................................... 47

4.1.1.3 Mtodos de deposio de filme da Pani ...................................................................... 48

4.1.1.3.1. Tcnica de deposio in situ ..................................................................................... 48

4.1.1.3.2. Tcnica de deposio LbL ........................................................................................ 49

4.1.2 Sistema de monitoramento e coleta de dados .............................................................. 50

4.1.3 Nariz eletrnico .............................................................................................................. 52

X

4.2. CARACTERIZAO DA RESPOSTA DOS SENSORES ............................................. 54

4.2.1 Resposta dos sensores de gases com filme de Pani ..................................................... 54

4.2.1.1 Respostas dos sensores de gases expostos em diferentes concentraes de aromas

artificiais .................................................................................................................................. 54

4.2.1.2 Respostas dos sensores de gases expostos a balas de goma ....................................... 56

4.2.2 Sensibilidade .................................................................................................................. 57

4.2.3 Limite de deteco ........................................................................................................ 57

4.2.4 Reversibilidade .............................................................................................................. 58

4.2.5 Anlise de componentes principais (PCA) .................................................................. 58

4.2.6 Anlise estatstica .........................................................................................................59

4.5. CARACTERIZAO DOS ELETRODOS E DOS FILMES DE PANI SOBRE OS

SENSORES COM DIFERENTES SUBSTRATOS (PAPEL VEGETAL E VIDRO) ............ 59

4.5.1 Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier com medida de

reflectncia total atenuada (FTIR-ATR) .............................................................................. 59

4.5.2 Caracterizao por espectroscopia no ultravioleta Visvel (UV-Vis) das

bicamadas dos filmes de Pani/PSS ........................................................................................ 60

4.5.3. Microscopia eletrnica de varredura com fonte de emisso de campo (FEG-MEV)

.................................................................................................................................................. 60

4.5.4. Microscopia de fora atmica (AFM) ......................................................................... 60

5 RESULTADOS E DISCUSSES ...................................................................................... 62

5.1 CARACTERIZAO DOS ELETRODOS E DOS FILMES DE PANI SOBRE OS

SENSORES COM DIFERENTES SUBSTRATOS (PAPEL VEGETAL E VIDRO) ............ 62

5.1.1 Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier com medida de

reflectncia total atenuada (FTIR-ATR) .............................................................................. 62

5.1.2 Caracterizao por espectroscopia no ultravioleta Visvel (UV-Vis) das

bicamadas dos filmes de Pani/PSS ........................................................................................ 65

5.1.3 Microscopia eletrnica de varredura com fonte de emisso de campo (FEG - MEV)

.................................................................................................................................................. 67

5.1.4 Microscopia de fora atmica (AFM) .......................................................................... 69

5.2 CARACTERIZAO DA RESPOSTA DOS SENSORES .............................................. 73

5.2.1 Resposta dos sensores de gases com filme de Pani ..................................................... 73

5.2.1.1 Respostas dos sensores de gases diferentes concentraes de aromas artificiais

puros ......................................................................................................................................... 73

5.2.1.2 Respostas dos sensores de gases expostos balas de goma aromatizadas

artificialmente com diferentes concentraes de aroma ........................................................ 76

XI

5.2.2 Sensibilidade e limite de deteco ............................................................................... 80

5.2.3 Reversibilidade .............................................................................................................. 86

5.2.4 Anlise de componentes principais (PCA) .................................................................. 90

6 CONCLUSO ...................................................................................................................... 95

7 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 96

8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 97

XII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Comparativo dos componentes envolvidos na deteco e identificao dos aromas

pelo: nariz humano e nariz eletrnico....................................................................................... 28

Figura 2: Representao da estrutura qumica dos diferentes graus de oxidao da Pani. ..... 32

Figura 3: Representao esquemtica do processo de deposio do filme utilizando a tcnica

LbL. Os passos 1 e 3 representam a adsoro de um polinion e poliction, respectivamente, e

os passos 2 e 4 so as solues de lavagem. ............................................................................. 36

Figura 4: Resposta do sensor em resposta a um determinado aroma. ..................................... 38

Figura 5: Fluxograma da viso geral do estudo. ..................................................................... 41

Figura 6: Representao esquemtica para obteno dos eletrodos interdigitados, utilizando a

tcnica de formao de trilhas com grafite: (a) imagem positiva (substrato de papel com o

desenho das trilhas), (b) imagem negativa (substrato de papel com o desenho das trilhas), (c)

grafite depositado sobre o tonner e sobre o substrato, (d) eletrodo interdigitado de grafite. ... 43

Figura 7: Representao esquemtica para obteno dos eletrodos de ouro sobre o substrato

de vidro utilizando a tcnica de fotolitografia (a) fotoresiste positivo, (b) mscara do padro,

(c) substrato de vidro com partes cobertas pelo fotoresiste, (d) substrato de vidro metalizado,

(e) sensor. ................................................................................................................................. 45

Figura 8: Representao esquemtica das etapas da sntese in situ. ....................................... 46

Figura 9: Representao esquemtica das etapas da sntese interfacial. ................................. 47

Figura 10: Sntese e deposio do filme de Pani in situ sobre o eletrodo interdigitado.......... 49

Figura 11: Representao esquemtica da deposio das bicamadas Pani/PSS, por meio da

tcnica de LbL. ......................................................................................................................... 50

Figura 12: Esquema da placa de monitoramento e o mdulo de aquisio de dados o qual era

composto por: (V1) fonte de alimentao, (R1, R2) resistores, (D1), diodo, (C1, C2)

capacitores, (RG1 LM 317) regulador de tenso, (VR1, VR2, VR3) resistor varivel, (SPAP1,

SVID2) conectores. .................................................................................................................. 51

Figura 13: Representao esquemtica do sistema de nariz eletrnico composto por: (a)

cmara de vidro, (b) sensor de temperatura e umidade, (c) ventilador, (d) agitador mecnico,

(e) suporte para bala ou aroma, (f) sensor de gs com filme de Pani, (g) placa de circuito, (h)

sistema de aquisio de dados, (i) computador. ....................................................................... 53

Figura 14: Espectros de infravermelho do filme de Pani obtidos com as tcnicas: () LbL in

situ, () LbL interfacial e polimerizao () (in situ) sobre substrato de papel vegetal. ...... 62

Figura 15: Espectros de infravermelho dos filmes de Pani obtidos com as tcnicas: () LbL

in situ, () LbL interfacial e polimerizao () (in situ) sobre substrato de vidro................ 64

XIII

Figura 16: Espectros de absoro no UV-Vis do crescimento dos filmes LbL de Pani/PSS

sobre o substrato de quartzo, sendo a Pani sintetizada pelas tcnicas in situ (a) e interfacial

(b). Os grficos inseridos mostram a absoro (considerando o pico a 227 nm para a sntese da

Pani in situ e o pico a 274 nm para a sntese interfacial) como uma funo do nmero de

bicamadas depositadas, mostrando a dependncia linear. ........................................................ 66

Figura 17: Micrografias da superfcie do filme de Pani obtida por: LbL in situ (a), LbL

interfacial (b), in situ (c) sobre substrato de papel e LbL in situ (d), LbL interfacial (e), in situ

(f) sobre substratos de vidro, utilizando uma magnificao de 30000 vezes. .......................... 68

Figura 18: Imagens de AFM em 3D dos eletrodos de (a) grafite e (e) ouro, dos filmes de

Pani/PSS obtidos com as tcnicas LbL in situ (b, f), LbL interfacial (c, g) e do filme de

Pani/HCl obtido por polimerizao in situ (d, h). As imagens do lado esquerdo so sobre

substrato de papel vegetal e do lado direito sobre substrato de vidro (rea 25 ). ................. 70

Figura 19: Resposta dos sensores de gases com filme de Pani/PSS, LbL in situ (a, d), LbL

interfacial (b, e) e filme de Pani/HCl in situ (c, f) com substratos de papel e vidro expostos a

diferentes concentraes de aromas comerciais de ma, morango e uva. Foi utilizado o valor

mdio da triplicada, () desvio padro positivo e () desvio padro negativo. ...................... 74

Figura 20: Resposta dos sensores de gases com filme de Pani/PSS, LbL in situ (a, d), LbL

interfacial (b, e) e filme de Pani obtido por polimerizao in situ (c, f)com substratos de papel

vegetal e vidro expostos aos compostos volteis das balas aromatizadas com diferentes

concentraes de aromas artificiais de ma, morango e uva. Foi utilizado o valor mdio da

triplicata, () desvio padro positivo e () desvio padro negativo. ....................................... 77

Figura 21: Resposta dos sensores de gases com filme de Pani (in situ), sobre substratos de

papel vegetal e vidro, frente a determinadas concentraes de aromas (ma, morango e uva)

em balas de goma armazenadas por um perodo de 1 e 20 dias. Foi utilizado o valor mdio da

triplicada, () desvio padro positivo e () desvio padro negativo. ...................................... 78

Figura 22: Reversibilidade dos sensores de gs (LbL in situ, LbL interfacial e in situ)

expostos aos compostos volteis dos aromas de () ma, () morango e () uva, utilizando

substrato de papel (a) e vidro (b). Foi utilizado o valor mdio da triplicata , () desvio padro

positivo e () desvio padro negativo ...................................................................................... 87

Figura 23: Reversibilidade dos sensores de gs (LbL in situ, LbL interfacial e in situ) na

deteco dos aromas nas balas de: () ma, () morango e () uva, utilizando substrato de

papel (a) e vidro (b). Foi utilizado o valor mdio da triplicata , () desvio padro positivo e

() desvio padro negativo. ...................................................................................................... 89

Figura 24: Grficos de PCA dos sensores de gs com filme de Pani e substratos de (a) de

papel (c) vidro, para os aromas de ma, morango e uva em diferentes concentraes. Os

filmes que contribuem para a discriminao dos aromas so determinados pelos grficos de

Loading Plot dos eletrodos (b) de papel e (d) de vidro. ........................................................... 91

Figura 25: Grficos de PCA dos eletrodos (a) de papel e (c) vidro, para as balas de ma,

morango e uva com diferentes concentraes de aroma. Os filmes que contribuem para a

discriminao das balas so determinados pelos grficos de Loading Plot dos eletrodos (c) de

papel e (d) de vidro ................................................................................................................... 93

XIV

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Exemplos de algumas aplicaes utilizando narizes eletrnicos. ........................... 26

Tabela 2: Comparao entre o sistema de deteco de aromas do nariz humano e do nariz

eletrnico. ................................................................................................................................. 27

Tabela 3: A raiz quadrada da mdia da rugosidade (Rrms) dos eletrodos de papel vegetal e de

vidro e dos filmes de Pani/PSS obtidos com as tcnicas LbL in situ, LbL interfacial e do filme

de Pani/HCl obtido por polimerizao in situ, sobre ambos os eletrodos substrato de papel

vegetal e de vidro. ..................................................................................................................... 71

Tabela 4: Valores das redues da resposta eltrica dos sensores em relao aos compostos

volteis das balas de ma, morango e uva. ............................................................................. 79

Tabela 5: Valores de tenso mxima, sensibilidade (S) e limite de deteco (LD) obtidos da

resposta dos sensores de gases com substrato de papel e vidro a diferentes concentraes de

compostos volteis dos aromas de ma, morango e uva......................................................... 81

Tabela 6: Valores de tenso mxima, sensibilidade (S) e limite de deteco (LD), obtidos da

resposta dos sensores de gases com substrato de papel e vidro aos compostos volteis das

balas de goma aromatizadas com os aromas de ma, morango e uva. ................................... 83

Tabela 7: Equaes das retas e os valores de R2 para os sensores de gases com filme de

Pani/PSS (LbL in situ, LbL interfacial) e filme de Pani/HCl (in situ), utilizando como

substrato papel vegetal e vidro aplicados na deteco dos compostos volteis de diferentes

aromas (ma, morango e uva) e destes aplicados em balas de goma. ................................... 84

XV

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFM - Microscopia de fora atmica

ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

DBSA - cido dodecilbenzenossulfnico

DMAc - N,N-dimetil acetamida

ESAM - Extrao por solvente assistida por micro-ondas

FEG-MEV - Microscopia eletrnica de varredura com fonte de emisso de campo

FTIR-ATR - Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier com medida de

reflectncia total atenuada

GC Cromatografia gasosa

GC/O - Cromatografia gasosa-olfatomtrica

GC-MS - Cromatografia gasosa acoplada ao espectrmetro de massa

GC-MS - Cromatografia gasosa com espectrometria de massa

HCl - cido Clordrico

HPLC - Cromatografia lquida de alta eficincia

H2SO4 - cido sulfrico

HNO3 - cido ntrico

LbL Layer by Layer

LC Cromatografia lquida

LD - Limite de deteco

MDGC - Cromatografia gasosa multidimensional

Pani Polianilina

PCA - Anlise de Componentes Principais

PET - Poli(tereftalato de etileno)

ppm Partes por milho

PSS - Poli(estireno sulfonato de sdio)

PVC - Policloreto de polivinila

S - Sensibilidade

SFC - Cromatografia em fluido supercrtico

SPE - Extrao em fase slida

SPME - Microextrao em fase slida

UV-Vis - Espectroscopia no ultravioleta Visvel

16

1 INTRODUO

Pressionada pela crescente competitividade no mercado globalizado, a indstria

alimentcia necessita aperfeioar continuamente os seus produtos visando produtividade e

qualidade. A formulao de uma bala, ou at mesmo qualquer outro produto alimentcio deve

ser bem estudado a fim de que as interaes que ocorrem entre os ingredientes no afetem na

liberao dos compostos odorferos, nem mesmo em sua aceitao, percepo e qualidade

sensorial como um todo. No setor de balas, a avaliao do perfil, monitoramento do aroma e a

sua qualidade so fatores essenciais que levam o consumidor a aceitao ou no do produto

(PIZZONI et al., 2015; DLRIS et al., 2011; YANG et al., 2011).

As balas de goma usam como ingredientes agentes geleificantes, adoantes, corantes e

aromas. Sendo que os aromas so ingredientes essenciais em sua formulao(GARCIA;

PENTEADO, 2005; PERICHE et al., 2014). So definidos como substncias ou misturas de

substncias que possuem propriedades odorferas ou spidas capazes de conferir ou

intensificar o sabor dos alimentos (ANVISA, 2007). Resultam de um processo dinmico de

uma srie de eventos, conhecido como um fator importante na determinao da qualidade do

gosto e do sabor de um alimento (MESTRES; BUSTO; GUASCH, 2000).

A avaliao dos aromas alimentcios normalmente realizada por meio da anlise

sensorial feita por um grupo de pessoas devidamente treinadas (TEIXEIRA, 2009). No

entanto, vrios fatores humanos como variabilidade individual, diminuio da sensibilidade

devido prolongada exposio, fadiga e estados mentais variveis, tornam o mtodo

subjetivo, incoerente e imprevisvel (BANERJEE et al., 2012).

Devido as deficincias nos mtodos de anlise sensorial o uso de instrumentos

analticos laboratoriais para a identificao e determinao da autenticidade dos compostos

volteis dos aromas se fazem importantes. Mtodos utilizando cromatografia lquida de alta

eficincia (HPLC) e cromatografia gasosa com espectrometria de massa (GC-MS),

normalmente so utilizados como uma alternativa para a identificao dos aromas

(REINECCIUS, 2005). Estes mtodos permitem a caracterizao qumica das amostras

quanto qualificao e quantificao dos compostos odorantes presentes (LISBOA; PAGE;

GUY, 2009). Porm, possuem desvantagens de serem de alto custo, requerem demanda de

tempo, equipamentos complexos e pessoal altamente qualificado (DI FRANCESCO et al.,

2001; PIZZONI et al., 2015).

17

Em contrapartida, novos estudos utilizando nariz eletrnico vem sendo utilizados para

reconhecer compostos ou combinaes de compostos. Os mesmos se baseiam em um

conjunto de sensores qumicos (sensveis a gases e vapores) que detectam os produtos volteis

e em seguida utilizam procedimentos matemticos avanados para o processamento de sinal

com base no reconhecimento de padres e / ou anlise de dados multivariados (CHENG et al.,

2015; RODRIGUEZ-MENDEZ et al., 2014).

Diversos sensores tm sido desenvolvidos para utilizao em narizes eletrnicos,

sendo que a escolha correta do sensor de fundamental importncia para uma bom

desempenho (LOUTFI et al., 2015; ZOHORA; HUNDEWALE, 2013). Dentre estes

dispositivos os sensores de gases baseados em polmeros condutores so normalmente os mais

utilizados em narizes eletrnicos devido a vantagens como: operao a temperatura ambiente,

baixo consumo de energia, utilizao de materiais baratos, respostas rpidas e seletivas,

estrutura qumica flexvel e alta sensibilidade (ESTEVES et al., 2014; FRATODDI et al.,

2015).

A polianilina (Pani) um dos polmeros condutores que vm sendo amplamente

estudado e merece ateno, pois apresenta facilidade de polimerizao e dopagem, boa

estabilidade qumica ambiental, mecanismos estveis de conduo eltrica e baixo custo

(FRATODDI et al., 2015; LI et al., 2013).

O tipo de sntese, a forma de deposio da Pani, assim como o material (substrato) que

ser confeccionado o sensor so cruciais e determinantes na resposta deste sensor. Diferentes

substratos vm sendo estudados, tais como o papel vegetal, o Poli (tereftalato de etileno)

(PET) e o vidro, por apresentarem boa resposta na deteco de volteis. O papel vegetal

apresenta-se como uma interessante alternativa devido a sua morfologia porosa, baixo custo e

boa biodegradabilidade (SARFRAZ et al., 2013). J o PET considerado um material de

baixo custo e apresenta vrias caractersticas como resistncia gordura e fungos, boa

maleabilidade, dentre outras (ROMO; SPINAC; PAOLI, 2009; STEFFENS et al., 2013).

J o vidro um substrato que possui a vantagem de apresentar alta rigidez ao ataque qumico,

baixa porosidade e absortividade ( BAI; SHI, 2007; SMITH; HASHEMI, 2012; CORDEIRO;

MONTEL, 2015).

Para melhorar a qualidade dos sensores em termos de resposta necessrio que a

camada sensora tenha uma superfcie homognea e uniforme, por isso faz-se necessrio

estudos das tcnicas de obteno e de deposio da mesma. Dentre as tcnicas de obteno da

camada sensora, a polimerizao in situ utilizada devido a facilidade de formar filmes finos

18

diretamente sobre o substrato e utilizar temperaturas baixas de aproximadamente 0C

(TAKAHASHI; ANZAI, 2013). J a sntese interfacial destaca-se por produzir nanofibras e

por ser realizada em temperatura ambiente (25 C) (RAKI; TRIFUNOVI; IRI-

MARJANOVIC, 2014).

Neste sentido, o desenvolvimento de um sensor com uma tcnica que permita a

obteno de um filme polimrico uniforme resultar em um aumento das caractersticas

desejveis (boa reversibilidade, tempo de resposta, sensibilidade, limite de deteco, etc) as

quais so desejveis na atuao de qualquer sensor. Por isso o estudo de diferentes formas de

sntese do material polimrico (Pani), formas de deposio, assim como o substrato sobre o

qual ser depositado este filme so de crucial importncia, pois interferem na morfologia da

camada sensora, sendo que quanto maior a uniformidade e condutividade deste filme, melhor

resposta e desempenho o sensor ter. Sendo assim, se o sensor for fabricado de maneira que

apresente boas caractersticas morfolgicas o mesmo ter boas respostas na deteco dos

aromas.

19

2 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho foi o desenvolvimento de sensores de gs com filme de

Pani para utilizao em nariz eletrnico aplicado na deteco dos compostos volteis em

aromas artificiais e destes aplicados em balas de goma.

2.1 OBJETIVOS ESPECFICOS

Avaliar diferentes formas de polimerizao (in situ e interfacial), e deposio

(polimerizao in situ e layer by layer (LbL)) da Pani como camada ativa sobre os

substratos de papel vegetal e vidro.

Caracterizar os eletrodos, antes e aps deposio da Pani, por meio de espectroscopia

no infravermelho por transformada de Fourier com medida de reflectncia total

atenuada (FTIR-ATR), microscopia eletrnica de varredura com fonte de emisso de

campo (FEG-MEV), microscopia de fora atmica (AFM) e espectroscopia no

ultravioleta visvel (UV-Vis).

Desenvolver um nariz eletrnico (software e prottipo) para obteno das respostas do

arranjo de sensores de gases com filme de Pani.

Obteno da resposta dos sensores de gases na deteco dos compostos volteis de

aromas artificiais de ma, morango e uva e destes aplicados em balas de goma, para

posterior caracterizao da resposta destes sensores quanto ao tempo de resposta,

sensibilidade, limite de deteco e reversibilidade.

Avaliar a liberao dos compostos volteis em balas de goma aromatizadas

artificialmente com aromas de ma morango e uva no tempo de 1 e 20 dias de

armazenamento, utilizando nariz eletrnico composto por sensores de gases com filme

de Pani in situ sobre substrato de papel vegetal e vidro.

Avaliar a discriminao da resposta dos sensores aos aromas e das balas aromatizadas

artificialmente por meio da anlise de componentes principais.

20

3 REVISO BIBLIOGRFICA

Neste item ser apresentado uma breve reviso da literatura sobre balas de goma, a

importncia dos aromas na formulao destas balas, mtodos de deteco dos mesmos, dando

nfase ao mtodo de deteco que utiliza narizes eletrnicos com arranjo de sensores de gases

com filme polimrico. Tambm ser feita uma breve descrio da Pani, tipos de sntese da

mesma, formas de deposio sobre o eletrodo, tipos de substratos para confeco dos sensores

e seus mecanismos de deteco.

3.1 BALA DE GOMA

Globalmente, produtos de confeitaria respondem por cerca de 39 % do consumo de

doces (GODSHALL, 2016). Segundo a Associao Brasileira da Indstria de Chocolates,

Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB), (2015), o volume de vendas de confeitos

de acar no varejo no Brasil, em 2014, atingiu 307 mil toneladas. As pastilhas, balas de

gomas e balas mastigveis foram responsveis por 34% do volume total (104,7 mil

toneladas), seguido de pirulitos (45,3 mil toneladas) e confeitos nutracuticos (45,2 mil

toneladas). O consumo per capita de confeitos de acar no Brasil registrou em 2014 um

volume de 1,5 Kg por ano contra 2,9 kg dos Estados Unidos e 5,0 kg da Finlndia (ABICAB,

2015).

Segundo, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, na Resoluo no 12 de 1978,

denominam-se balas e caramelos as preparaes base de pasta de acar fundido, de

formatos variados e de consistncia dura ou semidura, com ou sem adio de outras

substncias permitidas (ANVISA, 1978). Estas so processadas com diferentes matrias

primas e passam por diferentes processos a fim de caracterizar o produto final.

As balas de goma ou gelatina caracterizam-se por serem gomas de corte e consistncia

firme, com textura elstica, aspecto transparente e brilhante e sabor acentuadamente cido.

So obtidas sob baixa coco e possuem cerca de 20 % de contedo de gua. A textura

caracterstica das balas de gomas conseguida devido aos agentes geleificantes adicionados,

podendo ser goma arbica, gar, gelatina, pectina e amidos especiais (PIZZONI et al., 2015;

LAZZAROTTO, 2008; GARCIA; PENTEADO, 2005).

As etapas do processamento das balas de goma podem ser resumidas em: preparo da

soluo de gelatina, mistura dessa soluo com xarope de glucose e sacarose antes ou aps o

21

cozimento, retirada do ar pela aplicao de vcuo, adio do cido ctrico, aroma e corante. A

massa colocada em moldes, permanecendo o tempo necessrio nestes para que a umidade e

textura sejam atendidas. Aps a remoo das balas dos moldes, faz-se uma limpeza das

mesmas e ento so embaladas (GARCIA; PENTEADO, 2005).

Com potencial de crescimento no mercado, as balas de goma devem atender aos

requisitos sensoriais para que se tornem atrativas ao consumidor obtendo assim sucesso de

mercado. Os fatores determinantes para a aceitao e preferncia dos consumidores em

relao s balas de goma so sua textura, boa claridade e brilho, ausncia de turbidez e com

sabor e aroma atrativos (GARCIA; PENTEADO, 2005; PERICHE et al., 2014; PIZZONI et

al., 2015). Alimentos processados, que no mais apresentam o aroma e o gosto original do

produto, so rejeitados pelo consumidor (FRANCO; JANZANTTI, 2003). Sendo assim a

qualidade das balas de gelatina crucial para que as mesmas tenham uma boa aceitao no

mercado.

3.2 AROMAS

O aroma, assim como o sabor, est intimamente ligado a aceitao e qualidade do

alimento. O sabor de um alimento fortemente influenciado pelo seu aroma. A sensao

qumica provocada com o sabor do alimento devido a presena de odores de molculas

pequenas e suficientemente volteis para chegar aos receptores sensoriais durante a

alimentao, uma camada de muco dissolve as molculas assim que elas chegam a estes

receptores as quais so percebidas pelo epitlio olfativo do nariz, reconhecendo, assim o

alimento caracterstico (FIRESTEIN, 2001; PLUTOWSKA; WARDENCKI, 2007;

SANTONICO et al., 2008).

De acordo com a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa), na Resoluo n

2, de 15 janeiro de 2007, os aromas so substncias ou misturas de substncias com

propriedades odorferas e ou spidas, capazes de conferir ou intensificar o aroma e ou sabor

dos alimentos (ANVISA, 2007). Tambm possuem a funo de caracterizar, melhorar,

padronizar e/ou reconstituir o aroma/sabor, assim como mascarar aromas e sabores

indesejveis dos produtos e acima de tudo melhorar a qualidade sensorial dos mesmos (FANI,

2015).

Ainda de acordo com a ANVISA (2007), os aromas podem ser classificados em

naturais e sintticos. Os aromatizantes naturais so obtidos exclusivamente por mtodos

22

fsicos, microbiolgicos ou enzimticos, a partir de matrias primas naturais, sendo includos

neste grupo os leos essenciais, extratos (lquidos e secos), blsamos e substncias

aromatizantes naturais isoladas. J os aromatizantes sintticos so os obtidos por processos

qumicos e compreendem os aromatizantes idnticos ao natural e aromatizantes artificiais.

Existem ainda as misturas de aromatizantes, aromatizantes de reao/ transformao e os

aromatizantes de fumaa.

Molculas com a mesma funcionalidade qumica bsica podem apresentar

caractersticas organolpticas diferentes. Pequenas mudanas na estrutura qumica dos aromas

implicam em alterao nas propriedades organolpticas, em termos de intensidade, qualidade

e limiar de deteco (CHEETHAM, 1993).

Os aromas dos alimentos so resultado de um equilbrio entre as concentraes dos

compostos de aromas que tm natureza qumica diferente na fase de vapor. Poder ocorrer

uma distoro do perfil do aroma de acordo com a modificao da composio dos alimentos

favorecendo ou dificultando a liberao de alguns compostos volteis (SEUVRE et al., 2007).

3.2.1 Liberao/perda dos aromas

A natureza qumica dos compostos aromticos, a composio e a estrutura dos

alimentos so as principais caractersticas que influenciam a transferncia dos aromas dentro

dos alimentos assim como em sua liberao. Geralmente os alimentos contm fase lquida

(aquosa ou lipdica), fase slida e de vapor. A afinidade destas fases com o aroma que

determinar como ser a distribuio e liberao destes compostos dentro do alimento na fase

de vapor. A natureza dos diferentes componentes no volteis, tais como protenas, lipdeos,

dentre outros, tem grande influncia sobre a reteno dos compostos de aroma por parte das

matrizes alimentares (SEUVRE et al., 2006).

Os mono e dissacardeos podem induzir um aumento na liberao de alguns

compostos de aroma especialmente os mais polares (acetato de etilo, acetato de butanoato de

etilo, etc), sendo que um efeito oposto observado para os compostos apolares (2-heptanona,

etlicos hexanoato, 2-heptanal, octanal). A liberao dos compostos do aroma tambm pode

ser influenciada por polissacridos tais como produtos base de amido. Os sacardeos no

geral afetam no s as propriedades sensoriais do produto, mas tambm as propriedades de

textura da matriz de hidrocolides, a viscosidade e a atividade de gua. Estas propriedades

fsicas e fsico-qumicas podem influenciar a liberao e o particionamento dos compostos de

23

aroma. A disponibilidade dos compostos de aroma diminui na presena de agentes

espessantes ou gelificantes. Muitos estudos tm demonstrado que os hidrocolides alteram

alm da viscosidade e consistncia a intensidade do odor, sabor e aroma, reduzindo-os. A

textura dos gis pode afetar diretamente a liberao dos compostos de sabor, pode-se dizer

que a difuso de um soluto inversamente proporcional viscosidade. Os lipdeos so

excelentes solventes para os compostos de aroma, pois diminuem a presso de vapor dos

compostos volteis e podem influenciar o perfil aromtico percebido (GONZLEZ-TOMS

et al., 2007; LUBBERS; BUTLER, 2010; SEUVRE; TURCI; VOILLEY, 2008; SEUVRE et

al., 2007).

A liberao dos compostos de aroma dos alimentos determinado pelo coeficiente de

partio entre a fase de ar e a matriz alimentar, enquanto que no retro nasal, entre a fase de

gua (saliva) e a matriz alimentar (NAKNEAN; MEENUNE, 2010). A taxa de liberao dos

aromas controlada por dois principais fatores: o fator termodinmico que governa a

volatilidade dos compostos de aroma do produto at que atinja o equilbrio e por fator cintico

que descreve a resistncia transferncia de massa do produto para o ar. Estes dois fatores

tambm influenciam como que a taxa de equilbrio ser alcanada (GUICHARD, 2015;

PIZZONI et al., 2015). Propriedades intrnsecas da matriz alimentar e fatores extrnsecos

como temperatura e presso tambm esto envolvidos na taxa de liberao de aroma e no

equilbrio da concentrao (PIZZONI et al., 2015).

Uma mistura de equilbrio dos compostos de aroma faz com que haja a liberao dos

mesmos. Todos os compostos dos aromas so relativamente pequenos (

24

al., 2013; PICCONE; RASTELLI; PITTIA, 2011; WILSON; BAIETTO, 2009; YANG et al.,

2011).

3.3 MONITORAMENTO DOS AROMAS

A identificao, deteco, monitoramento dos odores podem ser realizadas por meio

de anlises sensoriais, que empregam o nariz humano para medir e observar os efeitos do

aroma, no entanto apresentam muitas limitaes tais como: o painel de provadores subjetivo

e sofre incoerncia e imprevisibilidade devido a variabilidade individual, diminuio da

sensibilidade devido prolongada exposio, fadiga e estados mentais variveis, alm de ser

demorado e limitado a compostos que no sejam txicos (BANERJEE et al., 2012).

Devido s deficincias dos mtodos de anlise sensorial, utilizam-se mtodos

instrumentais como um complemento na avaliao dos alimentos os quais permitem uma

anlise qualitativa detalhada (WYLLIE, 2008).

Para avaliao das substncias de aroma necessrio inicialmente a

extrao/isolamento dos analitos da matriz (PLUTOWSKA; WARDENCKI, 2008). Existem

muitas tcnicas de extrao para a anlise de compostos de aroma em produtos alimentares,

dentre elas podem-se citar a microextrao em fase slida (SPME), a qual amplamente

utilizada por ser de fcil manuseio; a tcnica de extrao por solvente assistida por micro-

ondas (ESAM) proporciona um extrato do aroma mais representativo do todo e a extrao em

fase slida (SPE), que utilizada em todos os aspectos da qumica analtica para a limpeza de

analitos e para a anlise de compostos de aroma que sejam mais polares ou que tenham baixo

teor de gordura (ELMORE, 2015a)

Aps os compostos serem isolados, utilizam-se tcnicas instrumentais para a

identificao, as mais utilizadas atualmente so as cromatogrficas (ELMORE, 2015b). A

cromatografia um mtodo fsicoqumico de separao baseada na compartimentao ou na

distribuio de uma amostra (soluto) entre duas fases (mvel e estacionria), que esto em

contato ntimo. A fase mvel pode ser um gs (GC) ou lquido (LC) ou um fluido supercrtico

(SFC). Ocorre ento a volatilizao do soluto a altas temperaturas no injetor, durante a

passagem da fase mvel sobre a fase estacionria, os componentes da mistura so retidos

seletivamente pela fase estacionria, resultando em migraes diferenciais destes

componentes. A interao relativa gerada entre as duas fases descrita pelo coeficiente de

partio (K) ou coeficiente de distribuio (D) (ISMAIL; NIELSEN, 2010). Sendo que as

25

cromatografias mais utilizadas so: a cromatografia gasosa multidimensional (MDGC),

cromatografia gasosa acoplada ao espectrmetro de massa (GC-MS), cromatografia gasosa-

olfatomtrica (GC/O).

Outra tcnica que vem sendo investigada atualmente so os narizes eletrnicos que

utilizam um conjunto de sensores qumicos (sensveis a gases e vapores) e um algoritmo de

reconhecimento de padres. Normalmente so utilizados na deteco dos aromas, por serem

considerados rpidos e no destrutivos na identificao (WEI; WANG; ZHANG, 2015).

3.4 NARIZES ELETRNICOS

A utilizao dos narizes eletrnicos proposto tanto para o controle de qualidade

como para o controle da perda, liberao e deteco de aromas em alimentos e outras vrias

aplicaes (LOUTFI et al., 2015). uma tcnica que se assemelha ao sentido de cheiro

biolgico (BOEKER, 2014).

O primeiro modelo de nariz eletrnico foi desenvolvido por PERSAUD; DODD,

(1982) por volta do ano de 1980. O mesmo foi definido como "um instrumento que

compreende uma matriz de sensores qumicos eletrnicos com especificidade parcial e um

sistema de reconhecimento de padres adequados, capazes de reconhecer odores simples ou

complexos" (GARDNER; BARTLETT, 1994).

A integrao eletrnica de diversos sensores dentro de um conjunto constitui, portanto,

uma matriz de sensores, ou assim chamado de nariz eletrnico. Este dispositivo eletrnico

utilizado pois possui as vantagens de ser de: baixo custo, simples manuseio, possuir boa

portabilidade, tamanho pequeno, resposta rpida, alm de no necessitarem reagentes para as

anlises e possurem uma vasta aplicao (ESCUDEROS et al., 2013).

O nariz eletrnico pode ser aplicado nas mais diversas reas desde os campos da

produo industrial e atividades humanas, at diagnsticos mdicos, monitoramento do meio

ambiente, controle da qualidade de produtos alimentcios, sistemas de segurana, dentre

outras. Algumas das aplicaes usuais so citadas por Lisboa; Pag; Guy (2009); Wilson;

Baietto (2009); Gney; Atasoy (2015); Schnabel et al. (2015); Zou et al. (2015); Kiani;

Minaei; Ghasemi-Varnamkhasti (2016); Lippolis et al. (2016); Sanaeifar et al. (2016); Yang

et al. (2016) e podem ser visualizadas na Tabela 1.

26

Tabela 1: Exemplos de algumas aplicaes utilizando narizes eletrnicos.

Setor rea de aplicao Tipos de usos e exemplos

Agricultura

Proteo das culturas. Segurana da terra, fornecimento de

alimentos seguros.

Colheita e armazenamento. Maturao da colheita, tratamentos de

preservao.

Carnes, frutos do mar e

produtos da pesca. Frescor, contaminao, deteriorao.

Produo vegetal. Seleo de cultivares, caractersticas das

variedades.

Doenas pr e ps-colheita.

Diagnsticos de doenas de plantas,

identificao de pragas, deteco de

pragas.

Transporte areo

Segurana e bem-estar dos

passageiros e do pessoal como

um geral.

Deteco de materiais explosivos e

inflamveis.

Cosmticos Produtos de cuidado pessoal Desenvolvimento de perfumes e colnias

Aditivos, fragrncias. Aperfeioamento do produto.

Meio Ambiente

Monitoramento da qualidade

da gua e do ar.

Deteco de poluio, efluentes,

derramamentos txicos.

Controle de qualidade do ar

interior.

Emisses de mau odor, gases txicos /

perigosos.

Regulamentos de combate

poluio.

Controle de emisses de poluentes de

fontes pontuais.

Alimentos e bebidas

Preveno de fraude contra o

consumidor.

Confirmao de determinado ingrediente,

padro de contedo.

Avaliaes de controle de

qualidade.

Reconhecimento da marca, a

consistncia do produto, ou seja,

caractersticas do produto.

Maturao, contaminao de

alimentos.

Condies de comercializao,

deteriorao, vida de prateleira.

Caractersticas de sabor/odor.

Off-flavors, avaliaes de produtos.

Processo de

fabricao de

alimentos e bebidas

Controles de processo.

Caractersticas peculiares do produto

como consistncia, tempo de cozimento,

etc.

Uniformidade do produto. Caractersticas de aroma e sabor.

Segurana das condies de

trabalho.

Alarmes contra incndio, gases txicos

deteco de vazamentos.

Militar Segurana pessoal, da

populao militar e civil.

Deteco de materiais explosivos, armas

biolgicas ou qumicas.

Farmacutico

Contaminao do produto. Controle de qualidade da pureza.

Variaes nas misturas dos

produtos.

Homogeneidade na consistncia e

uniformidade.

Regulamentao Proteo do consumidor. Segurana do produto.

Proteo ambiental. Testes de ar, gua, solo e contaminaes

Pesquisa cientfica

Botnica, estudos ecolgicos. Funes do ecossistema.

Engenharia, propriedades dos materiais.

Projetos de mquinas, equipamentos, processos qumicos.

Fonte: (LISBOA; PAG; GUY,2009; WILSON; BAIETTO, 2009).

27

Alm de sua vasta aplicabilidade o nariz eletrnico apresenta outras caractersticas

relevantes. Algumas caractersticas do nariz eletrnico frente ao sistema humano de deteco

de odores so apresentados na Tabela 2 (PATEL et al., 2010).

Tabela 2: Comparao entre o sistema de deteco de aromas do nariz humano e do nariz

eletrnico.

Nariz Humano Nariz Eletrnico

10 milhes de receptores 5 - 100 Sensores qumicos

Saturado Persistente

Identifica um grande nmero de odores Treinado para cada aplicao

Detecta muitas molculas especficas No consegue detectar molculas

especficas em baixa concentrao

Associado ao som, viso experincia Sistema multissensorial

Pode ser infectado

Limite de deteco (10-12 10-9 g.mL-1)

Pode ser envenenado

Limite de deteco (10-7 10-6 g.mL-1)

Fonte: (PATEL et al., 2010; YINON, 2003)

O nariz eletrnico tenta imitar o processo biolgico humano de interpretao dos

aromas. Os receptores do nariz humano so substitudos pelos sensores, os quais ao entrarem

em contato com o aroma interagem com a camada ativa, ou seja, o material de deteco

(polmero condutor por exemplo) o qual ir sofrer uma mudana fsica e/ou qumica

reversvel, fazendo com que ocorra alteraes nas propriedades eltricas, tais como tenso.

Estas alteraes so transduzidas em sinais eltricos, que so pr-processados e condicionados

por um software que aps busca de dados, so identificadas por um sistema de

reconhecimento de padres. No caso do nariz humano este processamento neural e

interpretao ser realizado no crebro e ento ocorrer o reconhecimento do aroma, uma

ilustrao comparativa das relaes fundamentais do processo de reconhecimento dos aromas

pelo nariz humano e eletrnico so apresentados na Figura 1. Vale ressaltar que no nariz

eletrnico o padro de resposta global nico para uma determinada matriz de aroma, sendo

que outra matriz ter um novo padro global de resposta diferenciado, ou seja, cada matriz

ter uma resposta global caracterstica, tudo isto realizado por meio do treinamento do nariz

eletrnico (ARSHAK et al., 2004; DESHMUKH et al., 2015; LISBOA; PAGE; GUY, 2009).

28

Figura 1: Comparativo dos componentes envolvidos na deteco e identificao dos aromas

pelo: nariz humano e nariz eletrnico.

Fonte: (SANTOS, 2012).

De acordo com Vagin; Winquist (2015) e Ramgir (2013), os sistemas de narizes

eletrnicos consistem em trs partes integradas:

a) A unidade de deteco (sensores) que recolhem informaes qumicas e/ou fsicas

e transformam em uma unidade mensurvel.

b) A unidade de processamento de sinal, a qual integra respostas durante as

medies e, por sua vez proporcionam uma mdia de sinais.

c) Sistema de reconhecimento de padres: os sinais obtidos pelas respostas das

medies so recebidos por este sistema que compara a reposta processada com a

biblioteca de perfis de substncias conhecidas.

3.4.1 Unidade de deteco - sensores de gases

A unidade de deteco ou arranjo mltiplo de sensores uma matriz de elementos

sensores capazes de transduzir alteraes qumicas ou interaes em sinais mensurveis e so

considerados a parte mais importante do sistema (KALANTAR-ZADEH; FRY, 2008;

RAMGIR, 2013).

Os sensores de gs podem ser divididos em sensores seletivos e no-seletivos. A

seletividade de um sensor caracterizada como sendo a capacidade do sensor em distinguir

uma determinada grandeza de entrada, de outra pertencente a uma classe diferente. J,

sensores no-seletivos podem responder a diversos odores e classes ao mesmo tempo

(BRATTOLI et al., 2011; DESHMUKH et al., 2015). Os sensores no-seletivos so

geralmente organizados em matrizes nos narizes eletrnicos. No tratam da determinao dos

compostos individuais, mas sim de um efeito e/ou seletividade global proporcionado pela

29

interao das substncias individuais com os elementos sensores (DEISINGH; STONE;

THOMPSON, 2004).

O emprego de sensores que sejam de baixo custo e que apresentem uma resposta

rpida e confivel para a deteco de compostos volteis presentes nos alimentos so cada vez

mais estudados e utilizados, por isso a definio dos parmetros do sensor so essenciais para

que se obtenham bons resultados (BRATTOLI et al., 2011). J em 1994, Gardner; Bartlett,

relatavam que os sensores no precisariam ser especficos, deveriam apresentar elevada

estabilidade, sensibilidade, reprodutibilidade, reversibilidade, portabilidade e menor tempo de

resposta e limite de deteco para que pudessem ser utilizados em narizes eletrnicos. Estes

parmetros so muito influenciados pela forma como estes sensores so confeccionados,

portanto, alguns aspectos devem ser levados em considerao na confeco dos mesmos como

por exemplo, o tipo de design do eletrodo, o material do substrato, a camada ativa, sua sntese

e forma de deposio sobre o eletrodo (MAMISHEV et al., 2004).

A tcnica de formao de trilhas (interdigitadas) um excelente mtodo para o

desenvolvimento e design de eletrodos estruturados em substratos como tecido, papel e

plstico. Esta tcnica est relacionada na diferena entre as propriedades fsicas e/ou qumicas

entre: (i) o substrato e as linhas impressas por um processo convencional ou (ii) entre os

substratos e/ou linhas e um fluido (ou vapor). O substrato e as linhas impressas reagem de

formas diferentes de acordo com o fluido, que forem expostos. Estas linhas impressas podem

ser facilmente removidas, se necessrio, em poucos segundos por tratamento ultrassnico,

deixando um padro de material depositado sobre o substrato, cuja forma foi originalmente

descrita pelas linhas impressas (HOHNHOLZ; MACDIARMID, 2001).

Os sensores podem ser confeccionados em diversos substratos como por exemplo

papel, vidro, PET, dentre outros, por apresentarem boas propriedades.

O papel vegetal tem surgido como uma alternativa bastante interessante e verstil para

utilizao como substrato devido suas propriedades de: estabilidade dimensional, resistncia a

gordura e estabilidade a baixas e altas temperaturas (STEFFENS et al., 2013).

O PET tambm tem sido usado como substrato em sensores interdigitados de grafite.

A flexibilidade e baixo custo do substrato permitem com que os sensores possam ser

projetados nas mais diversas formas. Outras vantagens so sua grande estabilidade qumica,

facilidade de processamento, resistncia qumica e propriedades mecnicas atrativas a altas

temperaturas (ROMO; SPINAC; PAOLI, 2009).

30

O vidro tambm vem sendo utilizado como substrato em sensores pois possui as

caractersticas de ser um substrato inorgnico, homogneo, obtido atravs do resfriamento

de uma massa em fuso. Porm considerado de maior custo, mas apresenta caractersticas

importantes como: alta transparncia, dureza, inalterabilidade, resistncia, baixa porosidade e

absortividade (BAI; SHI, 2007; SMITH; HASHEMI, 2012; CORDEIRO; MONTEL, 2015;

MANZOLI et al., 2015).

Escolhido o substrato adequado para a confeco do sensor, so ento realizadas as

trilhas, as quais utilizam algum material condutor para sua formao. Na tcnica de formao

de trilhas, os materiais orgnicos condutores mais empregados so o grafite e o carbono

negro (STEFFENS et al., 2009a). A disperso aquosa de grafite composta de partculas de

carbono eletricamente condutoras, sendo que o agente ligante constitudo de baixas

concentraes de metal lcali silicatos como o sdio ou potssio (CARANO; POLAKOVIC,

2000). O grafite quando utilizado no eletrodo como material condutivo apresenta vantagens

por possuir alta condutividade eltrica e trmica, excelente resistncia mecnica, elevada rea

superficial especfica, propriedades fsico-qumicas contendo uma estrutura cristalina e alto

nvel de pureza, pois um material composto apenas por tomos de carbono ligados entre si

por ligaes covalentes simples e duplas, alternadas (VELOSO; RANGEL, 2009; KIM et al.,

2015). O ouro outro material que pode ser utilizado como material condutor em eletrodos

interdigitados, pois apresenta uma tima condutividade. O processo de construo dos

eletrodos interdigitados de ouro usualmente so confeccionados por mtodos litogrficos,

sendo que mtodos alternativos como os que usam feixes de laser so considerados de

construo mais rpida e com menor custo se comparado aos mtodos usuais (MANZOLI et

al., 2015).

Aps a elaborao das trilhas interdigitadas, ento realizada a deposio da camada

sensora, camada ativa. Esta camada depositada sobre as linhas interdigitadas de grafite ou

ouro e interagem com as molculas de gs do analito, fazendo com que as mudanas causadas

no material ativo sejam transformadas em sinais fsicos detectveis como corrente,

absorbncia, variveis acsticas ou de massa, dentre outras. (BAI; SHI, 2007).

A resposta dos sensores de gases controlada basicamente por dois fatores, os quais

so responsveis pela interao analito/gs. Um o processo de transporte de molculas de

gs para dentro da camada sensitiva do sensor, ou seja, o gs se adsorve fisicamente no

polmero condutor. J o outro fator de interao que ocorre com a camada sensitiva, por

31

uma interao fsica ou por uma reao qumica que leva modificao da estrutura qumica

do polmero (FRATODDI et al., 2015; LI et al., 2013).

Sensores de gases que utilizam polmeros condutores como camada ativa vem sendo

bastante utilizados, pois apresentam alta sensibilidade, baixo custo, boa reversibilidade dentre

outras vantagens (BAI; SHI, 2007).

3.4.1.1 Polmeros condutores

Polmeros condutores so compostos orgnicos que possuem como caracterstica

estrutural a conjugao de unidades monomricas, que podem sofrer reduo ou oxidao.

Eles podem conduzir carga, devido a facilidade com que os eltrons podem ganhar

mobilidade entre as cadeias do polmero e so formados por uma srie de ligaes simples e

duplas alternadas. As ligaes simples (ligao ) so consideradas quimicamente mais fortes,

enquanto as ligaes duplas (ligaes ) so consideradas mais fracas. Os orbitais p na srie

de ligaes se sobrepem uns aos outros, permitindo com que os eltrons possam se mover

mais livremente entre os tomos. Estes eltrons podem ser facilmente removidos ou

adicionados (BALINT; CASSIDY; CARTMELL, 2014).

Os polmeros condutores caracterizam-se ainda por possurem propriedades eltricas,

magnticas e pticas tpicas de comportamento metlico. Por isso, ao contrrio dos polmeros

comuns, estes materiais so condutores eltricos e no isolantes (BANICA, 2012; PEREIRA

et al., 2012; STEFFENS et al., 2010).

Os polmeros podem ser altamente condutores, graas ao processo de dopagem (BAI;

SHI, 2007). O polmero sintetizado na sua forma oxidada, forma condutora, e apenas na

presena da molcula de dopante (uma carga / nion negativa na maioria dos casos) que a

estrutura estabilizada e a carga neutralizada. O dopante apresenta um portador de carga que

remove ou adiciona eltrons da cadeia de polmero e reorganiza-os como polaron ou

bipolarons. Quando um potencial eltrico aplicado, o dopante comea a mover-se para

dentro e para fora do polmero (dependendo da polaridade), interrompendo a estabilidade da

estrutura do polmero e permitindo a passagem de carga sob a forma de polarons e bipolarons

(LANGE; ROZNYATOVSKAYA; MIRSKY, 2008).

A opo de utilizao de polmeros condutores como camada sensitiva em sensores de

gases se deve aos inmeros fenmenos fsicos e eletrnicos que podem sofrer quando

expostos ao analito. Estes fenmenos causam mudanas na matriz polimrica tais como

32

modificaes na conformao das cadeias, efeitos de solvatao tanto das cadeias polimricas

como dos contra-ons dos dopantes, atrao ou insero de eltrons, alterao da mobilidade

dos portadores de carga e inchamento da matriz polimrica. Estes fenmenos provocam

mudanas na resistncia as quais so convertidas em sinais eltricos e/ou mecnicos

detectveis (BAI; SHI, 2007; PATERNO; MATTOSO, 1998).

Uma grande variedade de sensores tem sido desenvolvidos usando polmeros

condutores como camadas ativas em sensores de gs (BAI; SHI, 2007). Sendo que a Pani vem

se destacando entre os polmeros condutores por sua facilidade de polimerizao, mecanismos

de conduo eltrica estveis, alta estabilidade qumica em condies ambiente, baixo custo e

dopagem qumica reversvel (FRATODDI et al., 2015; MATTOSO, 1996).

A estrutura da Pani formada pelo arranjo de unidades repetitivas de anilina, as quais

contm quatro anis separados por tomos de nitrognio. Uma frmula geral da estrutura da

Pani demonstrada Figura 2 (MATTOSO, 1996).

Figura 2: Representao da estrutura qumica dos diferentes graus de oxidao da Pani.

Fonte: (MATTOSO, 1996).

A Pani composta por unidades repetidas de espcies y as quais so reduzidas e

espcies y-1 as quais so oxidadas, sendo que o valor de y pode variar de 0 quando

completamente oxidado a 1 quando completamente reduzido. A estrutura da Pani pode sofrer

diferentes graus de oxidao e podem ser assim designados: pernigranilina (y = 0), nigranilina

(y = 0,25), esmeraldina (y = 0,5), protoesmeraldina (y = 0,75), leucoesmeraldina (y = 1)

(MATTOSO, 1996).

Apesar da existncia de cinco estados de oxidao da Pani, somente o estado

parcialmente oxidado ou como conhecido sal de esmeraldina aps processo de dopagem

passa a se tornar condutora (condutividade >1 S.cm-1), pois quando a mesma no passa pelo

processo de dopagem sua condutividade bem menor ( < 1x10-10 S.cm-1), ou seja o sal de

esmeraldina o estado de oxidao em que a Pani, aps dopagem, alcana os mais altos

valores de condutividade eltrica (FRATODDI et al., 2015).

33

Os dois fatores mais importantes na determinao da estrutura qumica da Pani so o

estado redox e o nvel de dopagem (SONG; CHOI, 2013). A dopagem da Pani ocorre por

meio da protonao dos nitrognios imina na base esmeraldina, onde o nion do cido

dopante, como por exemplo, o cido clordrico (HCl), age como contra-on, neutralizando as

cargas positivas dos prtons, formando um poliction estvel, o sal de esmeraldina

(STEJSKAL; GILBERT, 2002). A dopagem destes materiais polimricos gera portadores de

carga e tambm altera a estrutura de banda, que pode induzir ao aumento de mobilidade dos

orifcios ou eltrons no polmero dependendo do tipo de dopagem utilizado (ARSHAK et al.,

2004).

Os polmeros condutores podem ser sintetizados por oxidao qumica ou

eletroqumica. A sntese qumica convencional pode ser realizada usando uma variedade de

diferentes agentes oxidantes e dopantes, no caso da Pani a dopagem feita em meio cido. As

condies de sntese podem influenciar as propriedades da camada ativa, as quais so

fortemente dependentes da sua microestrutura e morfologia. Estas propriedades esto

relacionadas tambm com a presena de defeitos, onde podem ser obtidos melhorias, tanto na

forma de sntese fazendo com que a Pani apresente maior uniformidade, como na estabilidade

e condutividade, sendo que cadeias mais organizadas apresentam melhor reprodutibilidade.

Estas caractersticas implicam diretamente em alteraes no desempenho do sensor

(PASCHOALIN et al., 2012).

O desenvolvimento de um sensor com tcnicas que permitam a obteno de um filme

polimrico uniforme com propriedades especficas e melhoradas motiva o desenvolvimento

de novos mtodos de snteses, processamentos e deposies destes polmeros, para que assim

permita-se o controle das propriedades de respostas dos sensores (STEFFENS et al., 2009a;

TEPPER; LEVIT, 2000).

3.4.1.1.1 Sntese e deposio da Pani

a) Sntese da Pani

A escolha da sntese e o estado de oxidao da Pani so fundamentais para que se

obtenham bons sensores, uma vez que este polmero pode apresentar alteraes em suas

propriedades fsicas e estruturais devido a presena de determinadas substncias. A sntese

qumica o mtodo mais comum de polimerizao da anilina, pois apresenta o melhor

34

rendimento (HEEGER, 2001). A polimerizao envolve a oxidao direta dos monmeros de

anilina por oxidao qumica. As snteses mais utilizadas so a polimerizao in situ e a

interfacial (RAKI; TRIFUNOVI; IRI-MARJANOVIC, 2014).

A sntese qumica convencional (in situ) da Pani pode ser conduzida utilizando-se uma

soluo aquosa de anilina dissolvida em uma soluo cida forte (por exemplo, HCl 1M,

cido sulfrico, cido fosfrico, cido perclrico, cido fluorofosfrico, cidos

funcionalizados como canforsulfnico e dodecilbenzenosulfnico) e uma soluo de oxidante

(persulfato de amnio, cloreto de ferro, perxido de hidrognio, dicromato de potssio, sulfato

de crio, entre outros). A partir do momento que o oxidante colocado sobre o monmero

inicia-se o processo de polimerizao (PASCHOALIN et al., 2012).

O controle da temperatura durante a sntese considerado muito importante, visto que

este um fator determinante no tamanho das estruturas da Pani formadas na sntese.

Temperaturas mais baixas (aproximadamente 0 C) de sntese diminuem a taxa de

polimerizao favorecendo, desse modo, a formao de agregados polimricos maiores,

contudo, com o aumento de temperatura (10 C - 20 C, aproximadamente) h uma reduo

na condutividade. A rugosidade do filme polimrico tambm influenciada pela temperatura

de sntese do polmero sendo que em temperaturas mais elevadas a rugosidade maior. Para

que haja uma maior homogeneidade e ordenao do filme Pani sobre o substrato, a sntese

deve ser conduzida em temperaturas baixas (PASCHOALIN et al., 2012).

Outra tcnica que vem se destacando na sntese de polmeros condutores a sntese

interfacial (DALLAS; GEORGAKILAS, 2015). O seu mecanismo de polimerizao oxidativa

ocorre na interface de duas fases imiscveis (entre um solvente orgnico e uma fase aquosa),

sem a necessidade de agitao, o pH cido e pode ser realizada a temperatura ambiente. No

caso da polimerizao da anilina (monmero), a mesma solubilizada em solvente orgnico

(tolueno, diclorometano, clorofrmio, etc) e o agente oxidante (persulfato de amnio por

exemplo), solubilizado numa soluo cida aquosa (NAJIM; SALIM, 2014; VIRJI et al.,

2004).

Quando um on transferido na interface entre a gua e um lquido orgnico, uma

corrente flui atravs da interface e a diferena de potencial entre as duas solues

proporcional ao nmero dos eltrons carregados que so transferidos atravs da barreira.

Portanto uma vez que o monmero (anilina) e o iniciador (oxidante) so separados pela

fronteira entre a fase aquosa (cido/oxidante) e a fase orgnica (monmero/solvente

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orgnico), a polimerizao ocorre nesta interface, formando as nanoestruturas (nanoagulhas

nanofibras ou nanobastes) (DALLAS; GEORGAKILAS, 2015).

Em comparao com a sntese em fase aquosa convencional (in situ), a polimerizao

interfacial possui menos locais de nucleao para permitir a iniciao e propagao da reao

de polimerizao. Na sntese de fase nica (in situ), as molculas do agente oxidante e/ou

cido so misturados em um espao tridimensional com as molculas de monmero em

soluo em massa, sob agitao constante. Cada monmero oxidado, em seguida, pode,

potencialmente, criar um centro de nucleao para o crescimento da cadeia polimrica. No

entanto, na polimerizao interfacial, a interao entre as molculas de oxidante/e ou cido e

monmeros esto essencialmente limitadas ao espao da interface aquosa/orgnica, sem

qualquer agitao, e a nucleao e propagao de cadeia ocorrem no meio reacional

(DALLAS; GEORGAKILAS, 2015).

Resumidamente a polimerizao in situ apresenta vantagem de produzir um polmero

de alta massa molecular e de elevada pureza, que pode ser obtido em grande quantidade

diretamente no estado dopado (ROTH; GRAUPNER, 1993). J a sntese interfacial surgiu

como uma rota fcil para fabricao de nanofibras de Pani, no dependendo de nenhum

dopante especfico ou solvente (HUANG; KANER, 2004).

b) Tcnicas de deposio dos filmes de Pani

Diversas tcnicas de deposio da camada ativa tm sido desenvolvidas a fim de obter

filmes polimricos para os mais diferentes substratos e nos mais diferentes tipos de

configuraes de sensores (BAI; SHI, 2007).

A deposio responsvel por transferir a disperso ou material compsito no seu

estado inicial lquido sobre um substrato desejado. A qualidade dos filmes obtidos depende do

material do substrato, do pr-tratamento da superfcie e das propriedades da prpria tcnica de

deposio, a qual influencia a adeso. Vrias tcnicas de deposio de filmes tais como drop

casting, deposio camada por camada ou LbL, inkjet printing, spin coating, spray coating,

dentre outros podem ser utilizados (KANOUN et al., 2014).

A deposio responsvel por construir uma camada fina do filme polimrico sobre o

eletrodo, a qual ir interagir com a substncia a ser detectada. Muitos mtodos de fabricao

destes filmes finos tem sido propostos, entre eles destacam-se a polimerizao in situ na qual

a camada sensora depositada na superfcie do eletrodo simultaneamente sua polimerizao

36

e a tcnica de LbL devido a simplicidade experimental e baixo custo (MANZOLI et al.,

2014).

A tcnica de deposio in situ consiste no recobrimento superficial de um substrato

com uma camada fina e homognea de Pani atravs da imerso do eletrodo no meio reacional

de polimerizao do monmero, formando assim um filme polimrico sobre a superfcie do

substrato. Nesta tcnica no se tem um controle da quantidade de polmero a ser depositado

(MATTOSO, 1996).

Outra forma de deposio bastante utilizada a tcnica LbL, devido sua

simplicidade e baixo custo experimental (DETSRI; DUBAS, 2013; MANZOLI et al., 2014),

ela capaz de produzir filmes ultrafinos, alm de obter estruturas organizadas em nvel

nanomtrico (PATERNO; MATTOSO; OLIVEIRA JR., 2001). Na Figura 3 pode ser vista a

representao esquemtica do processo de deposio com a tcnica LbL.

Figura 3: Representao esquemtica do processo de deposio do filme utilizando a tcnica

LbL. Os passos 1 e 3 representam a adsoro de um polinion e poliction, respectivamente, e

os passos 2 e 4 so as solues de lavagem.

Fonte: (DECHER, 1997)

Como pode ser visto na Figura 3 o processo de formao de um filme pela tcnica LbL

consiste alternadamente submergir o substrato em um bquer contendo a soluo do

poliction e do polinion, onde a carga do primeiro material a ser depositado deve ser

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preferencialmente contrria do substrato para que ocorra adsoro por atrao eletrosttica,

por um determinado perodo de tempo (geralmente alguns min), formando a 1 bicamada. O

conjunto substrato/monocamada lavado, entre cada monocamada, em soluo aquosa, com

intuito de eliminar o excesso de material no adsorvido, seguido de uma etapa de secagem

com um fluxo leve de gs inerte, normalmente nitrognio. Estruturas de multicamadas podem

ser construdas repetindo-se as etapas acima, de modo a se obter o nmero desejado de

bicamadas, uma vez que, aparentemente, no h limitaes na quantidade de camadas que

podem ser depositadas (TRIVINHO-STRIXINO; PEREIRA; LOPES, 2004).

O controle dos parmetros como o tempo de imerso, pH, e fora inica da soluo,

podem ser confirmadas por tcnicas como a espectroscopia eletrnica na regio do UV-Vis,

onde deve ser observado um aumento da absorbncia do material com o aumento do nmero

de bicamadas (DECHER, 1997).

Dependendo das condies de crescimento, da sntese qumica e da forma de

deposio, tipos de nanoestruturas tais como aglomerados de forma irregular, partculas

granulares e nanofibras alongadas podem ser formadas (SONG; CHOI, 2013). Estas estruturas

geradas no filmes polimricos permitem assim obter ou no um maior grau de

reprodutibilidade, sensibilidade dentre outros fatores determinantes na resposta do sensor

(MATTOSO, 1996).

3.4.1.2 Mecanismo de resposta dos sensores de gases

O processo de deteco do aroma pelo sensor normalmente realizado em duas

etapas. Na primeira etapa o sensor exposto a um gs de referncia para a construo de uma

linha de base. Posteriormente, o mesmo exposto ao aroma, sendo que se houverem

interaes entre o filme (material ativo) e o aroma, ocorrero alteraes no seu sinal de sada,

ou seja, o vapor do aroma permear no polmero fazendo com que o mesmo se expanda,

ocasionando alteraes fsicas e/ou qumicas no sinal, at que o sensor atinja um estado

estacionrio. Estas alteraes sero transformadas em um sinal eltrico (tenso por exemplo)

que armazenado como um padro de resposta. Na segunda etapa, o sensor exposto

novamente ao gs de referncia, que far com que o aroma seja finalmente liberado para fora

do sensor e o mesmo retornar para sua linha de base. Cada aroma possui seu padro prprio

de mudana de sinal. Assim, quando o sensor for exposto a outro aroma outro padro ser

38

obtido e, assim, sucessivamente. Este comportamento pode ser melhor visualizado na Figura

4 (ARSHAK et al., 2004).

Primeiramente realizado uma linha de base com o gs de referncia. Aps, o sensor

ento exposto ao aroma, obtendo uma resposta padro caracterstica, sendo que aps um

certo tempo de exposio comea a ocorrer saturao do sensor, o mesmo ento retirado da

cmara de anlise e exposto ao gs de referncia para que volte a sua linha de base.

(GUTIERREZ-OSUNA et al., 2002).

Figura 4: Resposta do sensor em resposta a um determinado aroma.

Fonte: (ARSHAK et al., 2004)

Segundo Skoog et al., 2008 e Liu et al., 2012, para avaliar o desempenho de mtodos

de deteco com os sensores de gs, vrios parmetros devem ser considerados:

a) Sensibilidade: a razo entre a inclinao da curva de calibrao e o desvio padro

do sinal analtico a uma dada concentrao do analito.

b) Seletividade: a capacidade de o sensor identificar um gs especfico numa mistura

de gases.

c) Tempo de resposta: o perodo compreendido entre o momento em que a

concentrao de gs atinge um valor especfico necessrio para que o sensor gerasse

um sinal de reposta.

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d) Reversibilidade: tempo que o sensor leva para retornar ao seu estado original aps a

deteco.

e) Reprodutibilidade: os sensores devem apresentar um sinal estvel e reprodutvel

durante um perodo de tempo.

f) Limite de deteco: a menor concentrao que pode ser distinguida com um certo

nvel de confiana.

3.4.2 Unidade de processamento de sinal e sistema de reconhecimento padro

A aquisio e coleta dos sinais gerados durante o processo de deteco dos compostos

volteis dos aromas pelo nariz eletrnico realizado por um sistema de aquisio de dados.

Este sistema responsvel por capturar os sinais fornecidos pela matriz de sensores e envi-

los para um software adequado que far o processamento das informaes. A aquisio e

sistema de controle dos dados podem ser integrados em um nico dispositivo, que pode ser

um carto de aquisio de dados, um microcontrolador, um processador de sinal digital, um

data logger e um computador (RAMGIR, 2013).

Os mdulos de leitura e registro de variveis (data loggers), associado a um software

de aquisio e registro de dados vem sendo bastante utilizado devido sua facilidade de

manuseio. O mdulo de leitura e registro de variveis (analgicas, digitais e outras), registram

com grande resoluo e velocidade. Trata-se de um equipamento de alto desempenho, alta

conectividade, facilidade de se configurar e operar. Possui 8 entradas analgicas configurveis

por software para sinais de tenso, corrente, termopares. Dispe ainda de 2 sadas a rel e 8

portas digitais individualmente configurveis como entrada ou sada. de fcil uso, no

requer treinamento prvio por parte do usurio. Seu prtico mdulo configurador permite a

rpida programao dos parmetros, bem como a verificao do status. Os softwares de

aquisio e registro de dados so mdulos associados aos data loggers que permitem a coleta

das aquisies no computador, podendo realizar o registro do grfico "on line" ou em

bateladas gerando grficos histricos.

J, o algoritmo de reconhecimento de padres tem por objetivo classificar, identificar e

quantificar os analitos de interesse com base em dados armazenados no banco de dados. So

usados padres conhecidos do analito para construir um banco de dados e, ento, poder treinar

o sistema de reconhecimento de padres a fim de que os analitos desconhecidos possam ser

subsequentemente identificados e classificados (RAMGIR, 2013).

40

3.5 CONSIDERAES SOBRE O ESTADO DA ARTE

Ao se tratar do crescente interesse voltado ao desenvolvimento de sensores de gases

capazes de detectar uma variada gama de compostos volteis de maneira seletiva, precisa e

reprodutvel, a leitura do estado da arte revelou que a aplicao de nariz eletrnico utilizando

sensores de gases com polmeros condutores para deteco dos compostos volteis de aromas

artificiais alimentcios ainda um assunto incipiente. A situao torna-se ainda mais evidente

quando se trata da aplicao do sistema de nariz eletrnico na deteco no s de aromas

artificiais alimentcios, mas tambm destes aplicados em balas de goma.

Muitos setores da indstria manipulam as propriedades do aroma de seus produtos

utilizando a anlise de volteis como um elemento chave no desenvolvimento de seus

produtos, a fim de melhorar o apelo, a qualidade e a valorizao da marca. Anlises sensoriais

utilizando provadores treinados e mtodos cromatogrficos so as mais empregadas, porm

estas tcnicas apresentam limitaes. Sendo assim o desenvolvimento de narizes eletrnicos

utilizando sensores de gases com camada sensora de polmeros condutores vem sendo

investigado, devido a apresentarem uma resposta rpida e confivel para a deteco de

compostos volteis presentes em aromas artificiais e em alimentos. O estado da arte revelou

que diferentes tipos de parmetros dos sensores podem ser ainda explorados: snteses,

mtodos de deposio do polmero, substratos para a confeco dos sensores, dentre outros

parmetros, sempre tendo em vista a busca por sensores que sejam precisos, reprodutveis,

sensitivos, que tenham um bom limite de deteco, reversibilidade, baixo custo e reposta

rpida.

Cabe ento ressaltar que h um vasto campo a ser explorado em relao aos sistemas

de narizes eletrnicos que utilizam sensores de gases com filme de polmero condutor,

principalmente em relao s diferentes snteses e deposies do polmero e substratos dos

sensores, sendo estes aplicados na deteco de compostos volteis de aromas artificiais em

matrizes alimentares, conferindo assim relevncia e caractersticas de ineditismo a presente

investigao.

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4 MATERIAL E MTODOS

Neste item sero apresentados o material e mtodos utilizados no desenvolvimento do

nariz eletrnico (sensores e sistema de monitoramento e coleta de dados), assim como a

resposta dos sensores na deteco dos compostos volteis dos aromas artificiais e destes

aplicados em balas de goma. Mtodos utilizados na caracterizao da reposta dos sensores

(tempo de resposta, sensibilidade, limite de deteco e reversibilidade) e na caracterizao dos

eletrodos (AFM) e dos filmes de Pani dos sensores de gases (UV-Vis, FTIR-ATR, FEG-MEV

e AFM). Um esquema das etapas envolvidas neste estudo est ilustrado na Figura 5.

Figura 5: Fluxograma da viso geral do estudo.

Fonte: O autor

42

4.1 DESENVOLVIMENTO DO NARIZ ELETRNICO

Para melhor entendimento dos mtodos envolvidos no desenvolvimento do nariz

eletrnico dividiu-se os procedimentos em duas etapas: sistema de deteco e sistema de

monitoramento e coleta de dados.

4.1.1 Sistema de deteco

Para a confeco dos sensores foram utilizados dois diferentes substratos (papel

vegetal e vidro), sendo depositados sobre eles o material condutor para a formao das trilhas,

grafite no eletrodo de papel e ouro no eletrodo de vidro, sendo que este ltimo foi cedido pelo

Instituto de Fsica da USP-So Carlos. Posteriormente foi depositada a camada sensora sobre

os eletrodos, utilizando duas tcnicas (LbL e polimerizao in situ), a qual foi obtida por duas

diferentes snteses (in situ e interfacial).

4.1.1.1 Confeco dos eletrodos interdigitados de grafite e ouro

4.1.1.1.1 Desenvolvimento dos eletrodos interdigitados de grafite (substrato de papel