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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA RAFAEL BACH GONÇALVES DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA PEIXES NATIVOS DA BACIA DO RIO URUGUAI FLORIANÓPOLIS - SC 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

RAFAEL BACH GONÇALVES

DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA PEIXES NATIVOS DA

BACIA DO RIO URUGUAI

FLORIANÓPOLIS - SC

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

RAFAEL BACH GONÇALVES

DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA PEIXES NATIVOS DA

BACIA DO RIO URUGUAI

Trabalho apresentado ao Curso de Graduação

em Agronomia da Universidade Federal de

Santa Catarina como parte dos requisitos para

a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Orientador: Professor Evoy Zaniboni Filho.

Supervisor: Marcos Weingartner

FLORIANÓPOLIS – SC

2010

2° semestre

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Trabalho de Conclusão de Curso aprovado

pela banca examinadora para a obtenção do

título de Engenheiro Agrônomo da

Universidade Federal de Santa Catarina.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Prof. Evoy Zaniboni Filho

Orientador

_____________________________________

Jhon Edison Jimenez Rojas

Zootecnista

_____________________________________

Luciano Augusto Weiss

Mestre em aquicultura

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que da sua maneira sempre me apoiou para que eu esteja aqui.

Aos meus amigos, que com sua amizade e ajuda tornaram a faculdade um local mais

prazeroso e tranquilo.

Aos bons professores, que colaboraram com a minha formação.

Ao professor Evoy, por me possibilitar a realização do estágio no LAPAD e pelo auxilio

na correção do relatório.

Ao Marcos, Jhon e Luciano, pelos ensinamentos durante o estágio e pelo auxilio na

correção do relatório.

E a todos que de alguma forma contribuíram para realização e andamento deste

estágio.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... I

LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... II

LISTA DE ABREVIATURAS ......................................................................................... III

RESUMO ....................................................................................................................... IV

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8

1.1 ESTÁGIO ............................................................................................................ 8

1.2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ............................................................ 9

1.3 PEIXES NATIVOS ............................................................................................ 11

2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 12

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 12

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................. 12

3. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 13

3.1 SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DA ÁGUA...................................................... 13

3.2 ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA .............................................................. 16

3.3 REPRODUÇÃO DE SURUVI (Steindachneridion scriptum) ............................. 18

3.3.1 Seleção de reprodutores ......................................................................... 18

3.3.2 Indução hormonal, desova e incubação ................................................ 19

3.3.4 Larvicultura .............................................................................................. 22

3.4 EXPERIMENTO DO USO DA BIOIMPEDÂNCIA COMO FERRAMENTA DE

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE SURUVI (Steindachneridion

scriptum) E DOURADO (Salminus brasiliensis)...................................................... 25

3.5 EXPERIMENTO DE DESENVOLVIMENTO GONADAL EM JUNDIÁS (Rhamdia

quelen) DIPLOIDES E TRIPLÓIDES ...................................................................... 27

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 29

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 31

BIBLIOGRAFIA ............................................................... Erro! Indicador não definido.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estagiário com um reprodutor de suruvi bocudo (Steindachneridion scriptum)

na Fazenda Princesa do Sertão.

Figura 2: Laboratório Oceano (A); saída de água (B); filtro de tela rotativo auto-limpante

(C) e painel de controle (D).

Figura 3: Verificação de maturidade dos ovócitos através da canulação.

Figura 4: Aplicação do extrato hipofisiário via intramuscular em suruvi.

Figura 5: Extrusão dos ovócitos de suruvi (Steindachneridion scriptum) (A); extrusão do

sêmen de suruvi (B); ovócitos de suruvi (C) e sêmen de suruvi (D).

Figura 6: Incubadoras do tipo cilíndro-cônica.

Figura 7: Incubadora para eclosão de artêmias (A) e caixas de larvicultura (B).

Figura 8: Canibalismo em larvas de suruvi.

Figura 9: Aparelho utilizado para leitura da BIA (A); Detalhe da leitura lateral da BIA em

suruvi (B); detalhe da leitura ventral da BIA em dourado (C) e detalhe da

leitura ventral da BIA em suruvi (D).

Figura 10: Medição de tamanho (A); medição de peso (B); coleta de sêmen (C) e órgão

reprodutivo da fêmea madura de jundiá 3n (D).

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LISTA DE ABREVIATURAS

ºC – graus Celsius

AE – alta energia

NE – energia normal

BIA – Bioelectrical Impedance Analysis

CCA – Centro de Ciências Agrárias

EPC – extrato pituitário de carpa

g – grama

h – horas

Kg – quilograma

LAPAD – laboratório de biologia e cultivo de peixes de água doce

L – litro

m2 – metro quadrado

mg – miligrama

mg/Kg – miligrama por quilograma

mL – mililitro

mm – milímetro

mL/Kg – mililitro por quilograma

NaCl – cloreto de sódio

SC – Santa Catarina

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UHE – Usina Hidrelétrica

2n – diplóides

3n – triplóides

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RESUMO

O estágio foi realizado no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água

Doce (LAPAD), de agosto a outubro de 2010. Neste período foram acompanhadas

diversas atividades no laboratório referentes ao desenvolvimento de tecnologia de

cultivo para peixes nativos da bacia do rio Uruguai. Entre elas, a recirculação da água

do sistema, análises da qualidade da água, reprodução de suruvi (Steindachneridion

scriptum), além dos experimentos de bioimpedância e de desenvolvimento gonadal de

jundiás (Rhamdia quelen) diplóides e triplóides. O acompanhamento do conjunto de

atividades, bem como toda a rotina do laboratório, contribuiu muito para o

enriquecimento teórico e prático do acadêmico na área.

Palavras-chave: LAPAD, peixes nativos, tecnologia de cultivo, reprodução de peixes,

recirculação da água.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 ESTÁGIO

O estágio foi realizado no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água

Doce (LAPAD), de agosto a outubro de 2010, com um total de 360 horas. Tais áreas

são pertencentes ao Departamento de Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da

Universidade Federal de Santa Catarina.

Durante o período de realização do estágio, foi possível participar da rotina do

laboratório, bem como auxiliar no andamento dos experimentos em atividade no

momento e na reprodução.

O laboratório utiliza grandes volumes de água, pois os tanques possuem alta

densidade de peixes, gerando uma grande quantidade de resíduos que comprometem

a qualidade da água. Além disto, são realizados experimentos onde se avalia, por

exemplo, o comportamento reprodutivo sob diferentes temperaturas e salinidades da

água. Com isto se faz necessário a utilização de um sistema de recirculação de toda

água utilizada nos tanques.

O sistema de recirculação, bem como outros sistemas, necessita de um controle

periódico com análises da qualidade da água, para que se mantenham os parâmetros

adequados. Pois a falta de manutenção, bem como a densidade acima da capacidade

de filtragem, acabam por gerar a redução da qualidade da água.

Outro item importante estudado durante o estágio foi à reprodução de suruvi

(Steindachneridion scriptum), também conhecido como bocudo. Foram acompanhadas

as diversas etapas do processo, desde a seleção de reprodutores na fazenda Princesa

do Sertão, até a larvicultura no LAPAD.

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Figura 1: Estagiário com um reprodutor de suruvi (Steindachneridion scriptum) na

Fazenda Princesa do Sertão.

No LAPAD também foi acompanhado o experimento de bioimpedância, onde se

estudava a eficácia de aparelhos eletrônicos para análise da composição corporal de

peixes sem a necessidade de submeter a testes bromatológicos, onde existe a

necessidade de matar o peixe.

Durante o período também acompanhou-se o experimento de desenvolvimento

gonadal em Jundiás (Rhamdia quelen) diplóides e triplóides. Este experimento visava

avaliar a esterilidade funcional dos peixes triplóides.

1.2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

O Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), da

Universidade Federal de Santa Catarina, localiza-se em Florianópolis-SC no bairro da

Armação, dentro do Parque Municipal da Lagoa do Peri. Desenvolve diversos estudos

voltados para o manejo, para a conservação e para o cultivo da ictiofauna da região do

alto rio Uruguai, localizado entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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Entre as linhas de pesquisa desenvolvidas no LAPAD atualmente (LAPAD,

2010), as principais são:

• Monitoramento da ictiofauna do alto rio Uruguai;

• Distribuição de ovos e larvas de peixes;

• Manejo de operação das turbinas e vertedouros da UHE Itá;

• Produção pesqueira dos reservatórios das UHE de Itá e Machadinho;

• Conservação da diversidade de peixes migradores;

• Avaliação da diversidade genética;

• Desenvolvimento de tecnologia de cultivo;

• Cultivo de peixes em tanques-rede;

• Caracterização de ambientes e estudos de impacto ambiental;

• Nutrição de organismos aquáticos;

O LAPAD atualmente conta com quatro professores responsáveis, Evoy

Zaniboni Filho, Alex Pires de Oliveira Nuñer, Débora Machado Fracalossi e Anita

Rademacker. Além de toda uma equipe de projetos, de apoio, alunos e estagiários, que

juntos desenvolvem as pesquisas realizadas no laboratório.

Além da sede do laboratório na Lagoa do Peri, o LAPAD aluga uma a fazenda

que se localizada em Palhoça, a fazenda Princesa do Sertão. Nessa fazenda existem

diversos tanques de terra onde são mantidos os reprodutores e também os alevinos

produzidos no laboratório.

Atualmente o LAPAD visa mais fortemente o estudo de espécies nativas, com

destaque para o suruvi (Steindachneridion scriptum), surubim pintado

(Pseudoplatystoma corruscans), jundiá (Rhamdia quelen), piracanjuba (Brycon

orbignyanus), curimba (Prochilodus lineatus), piava (Leporinus obtusidens) e dourado

(Salminus brasiliensis).

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1.3 PEIXES NATIVOS

A piscicultura de espécies nativas vem ganhando importância no Brasil nas

últimas décadas com o desenvolvimento de tecnologias de cultivo. O motivo que leva

um grupo a estudar sobre uma determinada espécie são diversos, podendo ser pela

presença de características zootécnicas desejáveis até pelo perigo de extinção da

espécie. O aumento da oferta de peixes nativos oriundo da piscicultura, reduz a

pressão sobre as populações selvagens. E quando os estoques naturais estão baixos,

também é possível realizar a reposição de formas juvenis, repovoando ambientes e

reduzindo o risco de extinção de espécies (WEINGARTNER et al., 2008).

Segundo Zaniboni-Filho (2004), existe uma grande diversidade de espécies

nativas, algumas delas com excelentes características para piscicultura. Mas o grande

problema ainda é a falta de informações que possibilitem a implantação de um

processo de cultivo. Por isso ainda hoje a piscicultura de espécies exóticas domina o

mercado brasileiro.

Muitos trabalhos foram e continuam sendo realizado com finalidade de

gerar técnicas para facilitar os processos de cultivo e a reprodução de espécies

nativas. Segundo Castagnolli (2004 apud WEINGARTNER et al., 2008), com o

aumento dos conhecimentos sobre reprodução induzida de diversas espécies em 1970,

ocorreu um grande aumento das piscicultura de peixes nativos. Mas ainda hoje, um dos

grandes entraves ainda é a pequena produção de alevinos.

O LAPAD vem concentrando seus estudos nos últimos anos em espécies

nativas da região do alto rio Uruguai. Entre elas: o jundiá (Rhamdia quelen), o suruvi

bocudo (Steindachneridion scriptum), o dourado (Salminus brasiliensis), o surubim

pintado (Pseudoplatystoma corruscans), piava (Leporinus obtusidens) e a piracanjuba

(Brycon orbignyanus).

O potencial das espécies nativas para a piscicultura ainda é discutido, no

entando com o aumento dos estudos, novas técnicas produtivas poderão surgir,

incrementando a produção destes peixes e, conseqüentemente, gerando crescimento

da piscicultura de espécies nativas no país.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

- Entrar em contato com a piscicultura de espécies nativas da bacia do rio Uruguai.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Compreender o funcionamento do sistema de recirculação de água dos laboratórios

do LAPAD;

- Acompanhar a seleção de reprodutores, indução hormonal, desova, incubação e

larvicultura;

- Realizar a análise e controle da qualidade de água dos tanques de cultivo;

- Auxílio no experimento de bioimpedância;

- Auxílio no experimento de desenvolvimento gonadal de jundiá diplóide e triplóide;

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DA ÁGUA

O Brasil é um país privilegiado em relação aos seus recursos hídricos. No

entanto a produção aquícola tradicional utiliza grandes volumes de água que podem

contribuir para redução da qualidade desta água. A recirculação da água se propõe

como uma excelente alternativa, pois possibilita a redução da entrada e saída de água

do sistema, minimizando os impactos ambientais, gerando um maior controle do

ambiente de produção e uma menor dependência de água de meios externos

(LOSORDO; MASSER; RAKOCY, 1998).

As leis ambientais vem se tornado cada vez mais rígidas, gerando uma pressão

muito forte para que ocorra a diminuição do lançamento de efluentes e racionamento

de utilização de água potável. A recirculação da água utilizada é uma excelente

alternativa, visto que gera uma redução do consumo de água e de efluentes de 90 a

99% em relação ao sistema aberto (BENDHACK, 2010).

A recirculação possibilita ainda, uma instalação mais próxima ao consumidor,

uma maior facilidade na obtenção de certificados do produto, entre outros. Mas devem-

se ter cuidados para que não haja insucesso. Já que existe um alto custo para sua

instalação e muitas espécies possuem preço de mercado que não conseguem

remunerar nem o custo operacional, não sendo capaz de retornar nem o capital

investido. Além disso, deve-se utilizar um projeto adequado para cada sistema,

realizando um dimensionamento correto, utilizando todos componentes necessários e

capacitando os funcionários para lidar com o sistema (KUBITZA, 2006).

O sistema de recirculação deve possuir diversas etapas de filtragem, e são

todas estas etapas em conjunto que tornam um sistema eficiente. No LAPAD a água

sai dos tanques de cultivo e começa sua filtragem no filtro de tela rotativo auto-limpante

(Figura 2 C), que realiza a filtragem mecânica com a retirada das maiores partículas, o

que facilita o processo de oxidação da amônia a nitrato pelas bactérias nitrificadoras

presentes no biofiltro, reduzindo assim, a frequência em que é necessário parar o

sistema para limpeza.

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Após a retirada das partículas maiores, a água ainda com amônia cai sobre

sacos de conchas com a finalidade corrigir o pH, seguindo então para primeira câmara

do biofiltro, onde existem diversos sacos repletos de material plástico (bobs de cabelo),

com finalidade de aumentar a área para fixação das bactérias nitrificadoras. Após

passar por duas câmaras de filtragem biológica, a água segue para outra câmara onde

é realizado o recalque para caixa de reposição com capacidade de 5.000 litros,

passando antes por uma nova filtragem mecânica principalmente para retirada do

excesso de bactérias em suspensão, que formam grumos no biofitro e se soltam. O

controle de temperatura é realizado nesta última caixa por termorreguladores. A

oxigenação da água é realizada desde o biofiltro até a caixa de reposição.

Esquema 1: Resumo dos processos envolvidos no sistema de recirculação utilizado no

LAPAD.

1o Saida da água dos tanques de piscicultura

2o Filtragem mecânica para retirada de partículas maiores

3o Elevação do pH por conchas de ostras

4o Filtragem biológica para que bactérias autotróficas por processos de nitrificação e denitrificação retirem a amônia.

5o Filtragem mecânica em filtro de areia para retirada do excesso de

bactérias

6o Regulação da temperatura e retorno para os tanques de

piscicultura

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No LAPAD existem três sistemas completos (Esquema 1) e independentes,

onde é possível alterar a temperatura (Figura 2 D), salinidade e oxigenação de cada

sistema independentemente, ou ainda parar um sistema para limpeza e manter a

recirculação com os demais sistemas. A identificação de cada sistema é feita pelas

cores azul, amarelo e vermelho (Figura 2 A,B e D). A utilização de mais de um sistema

tem caráter experimental, visto que se pode analisar uma grande quantidade de fatores

simultaneamente no mesmo local.

Figura 2: Laboratório Oceano (A); saída de água (B); filtro de tela rotativo auto-limpante

(C) e painel de controle (D).

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3.2 ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA

Para que se obtenha qualidade de água na aquicultura de forma sustentável, é

necessário que se tenha um equilíbrio dinâmico de todas as variáveis do ambiente

(ARANA, 2004). Como em ambientes de cultivo a renovação da água não fica muito

longe do limite para a quantidade de peixes, são feitas análises da água

constantemente para que não desencadeiem diversos problemas.

Normalmente são realizadas análises físicas e químicas para manter o equilíbrio

do sistema produtivo, entre as mais comumente analisadas podemos citar:

temperatura; pH; salinidade; oxigênio dissolvido; condutividade; amônia total (NH3 +

NH4+); nitrito(NO2

-); nitrato (NO3-); alcalinidade e dureza.

Cada análise tem a sua importância, como podemos ver na tabela a seguir:

Tabela 1: Importância da medição de alguns parâmetros para determinação da

qualidade da água.

PARÂMETROS IMPORTÂNCIA

Temperatura Interfere na absorção de oxigênio,

precipitação de compostos, na aceleração

ou retardamento da atividade biológica,

etc. Sendo que variações drásticas podem

causar a morte de peixes.

pH Cada peixe possui o seu pH ideal, e

quanto mais fora da sua faixa de

aceitação, maior as chances do peixe

morrer.

Salinidade É a quantidade de sal presente na água. A

tolerância a salinidade varia de espécie

para espécie, sendo que salinidades

maiores muitas vezes contribuem para

melhor sanidade do local.

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Oxigênio dissolvido Provoca problemas diretos na respiração,

e indiretamente participa de todas as

reações de oxidação e redução do

ambiente.

Condutividade Quanto maior a dissolução de eletrólitos

na água, maior a condutividade.

Amônia total (NH3 + NH4+) A forma não ionizada (NH3) é altamente

tóxica aos peixes, e sua concentração em

relação ao NH4+ varia de acordo com o

pH. Quanto mais alcalino, mais NH3.

Nitrito(NO2-) É tóxico aos peixes, pois induz a formação

de metahemoglobina, na qual o ferro está

na forma férrica (Fe+3), incapaz de

transportar oxigênio, causando morte do

peixes por asfixia.

Nitrato (NO3-) Quando em alta quantidade torna-se

tóxico causando problemas sobre a

osmorregulação. Em sistemas de

recirculação pode causar problemas

devido nitrificação da amônia.

Alcalinidade É a capacidade da água para neutralizar

ácidos devido a presença principalmente

de íons bicarbonato, íons carbonato e

hidroxilas.

Dureza É a medição de sais totalmente solúveis

na água. Sendo importante para o

crescimento dos peixes.

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3.3 REPRODUÇÃO DE SURUVI (Steindachneridion scriptum)

3.3.1 Seleção de reprodutores

A seleção de reprodutores foi realizada na fazenda Princesa do Sertão, em

Palhoça. Os peixes permanecem na fazenda o ano inteiro, já que o LAPAD possui uma

área restrita, e a utilização dos peixes é feita apenas durante a reprodução. Além do

que, em tanques de terra os peixes possuem maior espaço, estão sob um menor

estresse e necessitam de uma menor mão de obra para mantê-los.

Para seleção, todos os peixes foram capturados com o auxílio de uma rede de

arrastão e se avaliou todos os peixes visualmente, já que segundo WOYNAROVICH &

HORVATH (1983) as fêmeas maduras ficam com seu abdômen dilatado e macio, e a

papila genital intumescida e avermelhada. Mas o problema é que este método de

análise nem sempre é preciso, visto que para algumas espécies, às vezes a fêmea não

apresenta tais características e está com gônadas madura. Por isto, também se utilizou

uma seringa com uma cânula para remoção e análise de uma pequena parte dos

ovócitos, quando presentes. Se analisando além da quantidade, o tamanho,

regularidade no tamanho e a coloração (Figura 3).

Nos machos a seleção foi realizada de acordo com ZANIBONI-FILHO & NUÑER

(2004) que propõe que se realize uma pequena pressão abdominal, de modo que

quando os machos estão maduros, eliminam pequenas quantidades de sêmen.

Cada reprodutor selecionado foi avaliado de acordo com a sua maturidade

reprodutiva, e os dados foram marcados de acordo com o número do transponder.

Cada reprodutor está marcado com um transponder que possibilita identificá-los

indivivualmente. Após a seleção, os peixes foram transferidos para o LAPAD para se

dar prosseguimento a reprodução.

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Figura 3: Verificação de maturidade dos ovócitos através da canulação.

3.3.2 Indução hormonal, desova e incubação

No LAPAD, os peixes foram separados por sexo e distribuídos em quatro caixas.

Onde pouco depois as fêmeas receberam a primeira dose de hormônio de extrato

pituitário de carpa (EPC) de acordo com a sua maturidade e peso, no total de duas

doses com intervalos de 12 horas. As fêmeas mais maduras receberam 0,5 mg/Kg na

primeira dose e 5 mg/Kg na segunda. As fêmeas que possuíam uma maior

irregularidade nos ovócitos receberam uma dose prévia de 0,25 mg/Kg 24 horas antes

da primeira dose. Os machos receberam apenas uma dose de hormônio equivalente a

4,0 mg/kg, aplicado por ocasião da segunda dose das fêmeas. As aplicações foram

intramusculares na região próxima a nadadeira dorsal (Figura 4).

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Figura 4: Aplicação do extrato hipofisiário via intramuscular em suruvi.

As fêmeas iniciaram a desova cerca de 9 horas após a aplicação da segunda

dose de hormônio, com a desova da primeira fêmea. E a partir deste período foram

acompanhadas até a última desova, que ocorreu cerca de 12 horas após a aplicação

da segunda dose de hormônio. Durante a desova, periodicamente as fêmeas foram

retiradas dos tanques para observação do momento ideal para desova, onde o coletor

realizava pressões no abdômen da fêmea, iniciando na parte anterior e finalizando na

parte posterior do peixe com a finalidade de retirar os ovócitos (Figura 5 A).

A retirada do sêmen funcionou da mesma maneira (Figura 5 B), mas foi

realizada apenas quando houve desova das fêmeas. Visando aumentar as chances de

fecundação do maior número de ovócito, no geral, misturou-se o sêmen de dois

machos para posterior homogeneização com os ovócitos. Posteriormente, para

ativação dos gametas, foi adicionado água a temperatura ambiente num volume

equivalente a cerca de cinco vezes o volume de óvulos, proporcionando a fertilização

dos óvulos (Zaniboni Filho e Weingartner, 2007). A quantidade de água adicionada

quando em uma quantidade pequena, pode causar a obstrução da micrópila, enquanto

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muita água reduz as chances dos espermatozóides encontrarem a micrópila dos óvulos

para a fertilização (Woynarovich e Horváth, 1983).

Figura 5: Extrusão dos ovócitos de suruvi (Steindachneridion scriptum) (A); extrusão do

sêmen de suruvi (B); ovócitos de suruvi (C) e sêmen de suruvi (D).

Após a homogeneização dos ovócitos com o sêmen e a inclusão da água, foram

lavados os gametas para retirada do excesso de espermatozóides. O sangue que foi

extraído juntamente com os ovócitos, após contato com a água o sangue coagula mais

rapidamente e forma agregados que podem ser facilmente retirados. Antes de distribuir

os ovos nas incubadoras, os grumos de sangue foram retirados (Figura 5 C). A

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presença do sangue pode contribuir para o aparecimento de patógenos, servindo como

um meio de cultura, já que o sangue é muito rico em nutrientes.

Feita a limpeza, os ovos foram colocados na incubadora (Figura 6) para seu

desenvolvimento embrionário até a eclosão. A incubadora possui entrada de água no

fundo e escape na parte superior, desta maneira os ovos ficam em constante

movimento e não se acumulam. A temperatura da água do sistema ficou ao redor dos

26ºC.

Figura 6: Incubadoras do tipo cilíndro-cônica.

3.3.4 Larvicultura

A larvicultura inicia-se nas incubadoras com a eclosão dos ovos entre o terceiro

e quinto dia, sendo realizada uma limpeza após este momento para evitar a

contaminação e mortalidade de larvas, retirando-se os ovos que não eclodiram e as

membranas dos ovos eclodidos.

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A partir da eclosão das larvas, inicia-se a alimentação exclusivamente com

náuplius de artêmia durante a primeira semana, com um consumo diário de cerca de

500 náuplius/larva/dia. A artêmina salina é um microcrustáceo amplamente utilizado em

todo mundo por possuir um alto valor biológico na alimentação de larvas, além de

possuir boa capacidade de armazenamento e uma fácil eclosão dos cistos.

Para eclosão dos cistos de artêmia utilizou-se um sistema de certo modo

simples, mas eficiente, com a utilização de garrafas pet dispostas com o fundo para

cima e aeração pela tampa (Figura 7 A). Em cada garrafa adicionou-se 6 gramas de

cistos de artêmia e 50 gramas (g) de sal (NaCl), preenchendo o resto do volume com

água limpa. Após cerca de 24 horas, tampa-se a garrafa com plástico escuro e corta-se

a aeração, restando luz apenas na parte de baixo da garrafa. Devido aos náuplius

possuirem fototropismo positivo, se concentravam na parte infeiror e podiam ser

facilmente removidos pelo fundo, enquanto que os cistos que não eclodiram ficavam

flutuando e puderam ser facilmente descartados.

Figura 7: Incubadora para eclosão de artêmias (A) e caixas de larvicultura (B).

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Após cerca de 5 dias as larvas foram transferidas para caixas (Figura 7 B).

Nesse momento se dá início ao processo de separação das larvas por tamanho, com a

finalidade de evitar o canibalismo (Figura 8).

A artêmia continua sendo utilizada na alimentação das larvas até a terceira

semana, embora entre a segunda e a quarta semana se introduz adicionalmente

coração bovino triturado na dieta das larvas. A partir da terceira semana é eliminado o

fornecimento de artêmia na alimentação, sendo substituída por ração misturada ao

coração. Na quarta semana, a alimentação é composta apenas de ração seca.

Figura 8: Canibalismo em larvas de suruvi.

A sifonagem do fundo das caixas era feita constantemente com a finalidade de

evitar a deterioração da qualidade da água, mas por se tratar de um pequeno e recente

sistema de recirculação sem colônias de bactérias autotróficas formadas, o índice de

amônia na água não demorava muito para se elevar, sendo necessária a troca parcial

da água.

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3.4 EXPERIMENTO DO USO DA BIOIMPEDÂNCIA COMO FERRAMENTA DE

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE SURUVI (Steindachneridion

scriptum) E DOURADO (Salminus brasiliensis)

A bioimpedância (BIA) como ferramenta de análise da composição corporal

consiste na medição da resistência ao fluxo de uma corrente elétrica entre dois pontos

no tecido do peixe, e vem sendo testada como alternativa as análises químicas. Visto

que possui uma grande praticidade, podendo gerar resultados rápidos, de baixo custo e

sem a necessidade do sacrifício do peixe analisado (BOSWORTH, 2001).

Figura 9: Aparelho utilizado para leitura da BIA (A); Detalhe da leitura lateral da BIA em

suruvi (B); detalhe da leitura ventral da BIA em dourado (C) e detalhe da leitura ventral

da BIA em suruvi (D).

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Devido à BIA ser um método de análise não letal, ainda sem a necessidade de

equipamentos e instalações laboratoriais é possível acompanhar as mudanças na

composição corporal do peixe ao longo do seu crescimento (DUNCAN et. al, 2007). E

este acompanhamento é fundamental para estabelecer estratégias que permitam

atender o objetivo do cultivo. Já que as propriedades físico-químicas, composição e o

valor nutricional da carne dos peixes são influenciados por uma ampla variedade de

fatores bióticos e abióticos (KESTIN, 2001 apud DUNCAN, 2007).

O mercado consumidor vem exigindo cada vez mais a padronização dos

produtos (DUNCAN et. al., 2007). No caso dos peixes nativos ainda não existe uma

padronização, sendo a comercialização normalmente realizada com peixes inteiros

e/ou apenas eviscerados (BOMBARDELLI; SANCHES, 2008). Com a utilização da BIA,

é possível melhorar a eficiência na seleção de determinadas características dos peixes,

visto que os peixes analisados podem continuar no plantel. Desta maneira é possível

aumentar o valor nutritivo, rendimento de carne e padronização para um posterior

processamento na indústria (BOSWORTH, 2001).

No experimento realizado no LAPAD foram utilizadas duas caixas de 1000 litros

para cada espécie, uma onde os peixes recebiam ração comercial peletizada para

peixes de cultivo sem acréscimo de lipídeo, sendo esta considerada de energia normal

(NE), enquanto para outra caixa a ração recebeu uma camada de óleo de soja

externamente, de modo a aumentar o teor de lipídeo, sendo uma dieta de alta energia

(AE).

As quatro caixas foram mantidas no mesmo sistema de recirculação, onde os

parâmetros oxigênio dissolvido, pH, temperatura e condutividade eram analisados duas

vezes ao dia, as 8 e 16 horas, enquanto na sexta feira eram avaliados os parâmetros

amônia, nitrito, alcalinidade e dureza.

Mensalmente os peixes eram pesados e medidos (comprimento total) com

auxilio de balança eletrônica e ictiômetro respectivamente. Após quatro meses a

alimentação foi interrompida e foram iniciadas as analises de BIA. O processo foi

realizado em cinco momentos, com intervalo médio de 15 dias. Em cada destes

momentos três peixes foram retirados de cada tratamento para realização de uma

ultima biometria e posterior leituras de BIA. Após as leituras no aparelho, os peixes

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foram enviados para análise química de composição corporal, com a finalidade de uma

posterior comparação entre os métodos de análise da composição corporal, BIA e

química.

3.5 EXPERIMENTO DE DESENVOLVIMENTO GONADAL EM JUNDIÁS

(Rhamdia quelen) DIPLÓIDES E TRIPLÓIDES

“O jundiá Rhamdia quelen é uma espécie nativa adaptada a diferentes

ambientes e que vem apresentando bons resultados em viveiros de piscicultura,

principalmente nas regiões mais frias. Além disso, é um peixe que apresenta excelente

aceitação pelo mercado consumidor, tanto para a pesca esportiva quanto para a

alimentação direta, sendo uma espécie com excelentes características para fins de

processamento.” (CARNEIRO, 2004)

Devido as suas qualidades já citadas, a sua rusticidade e ao seu rápido

crescimento até chegar à fase reprodutiva, muitos estudos se voltaram para a espécie.

O trabalho realizado em conjunto por Cláudia R. Maia, Ana Carolina V. Zanandrea,

Jhon E. Jimenez, Marcos Weingartner e Evoy Zaniboni-Filho, com o auxilio bolsistas e

estagiários, procurou descobrir se a triploidia causa esterilidade e se pode ser utilizada

como uma ferramenta para manter o rápido crescimento sem o desvio de energia para

reprodução.

O processo de indução a triploidia realizado através de pressão hidrostática de

ovos recém fertilizados e confirmada pela contagem do número de nucléolos nas

células de tecido de todos os peixes. O experimento foi conduzido em seis caixas de

1000L com 50 peixes em cada caixa, sendo 3 caixas utilizadas para peixes diplóides e

3 caixas para peixes triplóides.

Para todas as caixas foi utilizado o mesmo sistema de recirculação, sendo que

os parâmetros oxigênio dissolvido, pH, temperatura e condutividade eram analisados

duas vezes ao dia, as 8 e 16 horas, enquanto na sexta feira eram avaliados os

parâmetros amônia, nitrito, alcalinidade e dureza. Periodicamente os peixes passavam

pelo processo de biometria, onde era analisado o peso e comprimento total de todos os

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peixes (Figura 10 A, B). Também foram realizadas análises qualitativas e quantitativas

do sêmen dos jundiás.

Figura 10: Medição de tamanho (A); medição de peso (B); coleta de sêmen (C) e órgão

reprodutivo da fêmea madura de jundiá 3n (D).

Para alimentação utilizou-se ração comercial peletizada para peixes de cultivo

que foi oferecida duas vezes ao dia, sendo distribuída a vontade de acordo com o

consumo e sempre após a medição dos parâmetros de qualidade de água. A ração foi

estocada em potes individuais para cada tanque, sendo pesados ao término de cada

alimentação para monitorar o consumo alimentar de cada tanque.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A recirculação da água é uma excelente alternativa ao sistema tradicional, mas

infelizmente quem utiliza este sistema hoje no Brasil não possui nenhuma vantagem

financeira em relação a quem utiliza o método tradicional. E devido aos custos

elevados para sua implantação e manutenção, a recirculação em geral é utilizada

apenas por laboratórios de pesquisa, tais como o LAPAD e aquários públicos, não

sendo utilizada pelo setor produtivo, alguns dos quais tem contribuído com a

degradação da água.

Seja qual for o sistema utilizado e a área, quando se mantém organismos vivos

na água, o ideal é que se realize a avaliação de parâmetros da água, de modo a

mantê-la o mais próximo possível do ideal para o organismo que se encontra nela.

A reprodução do suruvi (Steindachneridion scriptum) foi um sucesso, onde

mesmo com perdas ocasionais de algumas larvas, o resultado foi uma grande

quantidade de alevinos saudáveis, que podem vir a servir para pesquisas sobre o

cultivo ou auxiliar em algum eventual programa de repovoamento dos estoques

naturais na região do alto rio Uruguai.

Todas as fases da reprodução foram importantes, desde a seleção dos

reprodutores aptos no momento da reprodução, passando pela indução, que se faz

necessário para que obtenha bons resultados na reprodução de espécies nativas.

Várias dessas espécies não reproduzem em viveiros. Do mesmo modo, a larvicultura

apresenta melhores resultados quando realizada em laboratório, sendo necessárias

diversas separações de larvas por tamanhos para evitar o canibalismo e o treinamento

alimentar das larvas para o consumo de ração pura.

A finalização do experimento do uso da bioimpedância como ferramenta de

análise da composição corporal de suruvi (Steindachneridion scriptum) e dourado

(Salminus brasiliensis) aguardava o resultado da análise bromatológica. Mas estudos

sobre a utilização da BIA como forma de análise da composição corporal de peixes

vem sendo realizados ao redor do mundo, sendo possível que daqui a alguns anos

com o aperfeiçoamento da técnica, a BIA esteja servindo como ferramenta também

para piscicultores brasileiros.

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Ao término do estágio, os resultados do experimento de desenvolvimento

gonadal em jundiás (Rhamdia quelen) diplóides e triplóides ainda não haviam sido

analisados. Desta maneira, para que se tenham as devidas conclusões sobre o

trabalho, é necessário aguardar que ocorram as análises de todos os dados e a devida

finalização do experimento. Mas pôde-se notar que não houve unanimidade entre os

peixes triplóides, onde alguns desenvolveram aparelho reprodutivo enquanto outros

não o desenvolveram.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acadêmico do curso de agronomia da UFSC possui um currículo muito amplo,

de modo que se pode atuar em diversas áreas, inclusive a aquicultura. Mas visto que a

concentração de matérias na área da aquicultura, e em especial a piscicultura, é baixa,

às 360 horas de estágio foram de grande enriquecimento teórico e prático para o

acadêmico. Onde foi possível entrar em contato com a piscicultura de espécies nativas,

a reprodução do suruvi, a recirculação da água, o monitoramento da qualidade da água

e estudos voltados ao aperfeiçoamento das técnicas hoje utilizadas na piscicultura.

Todas estas tarefas foram de grande importância para determinação da área

profissional que pretendo seguir futuramente, tendo grande contribuição para minha

formação profissional.

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