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0 Universidade Federal de Campina Grande Centro de Ciências e Tecnologia Unidade Acadêmica de Engenharia Química Disciplina: Engenharia de Processos II Docente: José Nilton Silva Deborah Almeida Dos Anjos DESENVOLVIMENTO DE UM FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL

DESENVOLVIMENTO DE UM FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL

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DESENVOLVIMENTO DE UM FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL

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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Ciências e Tecnologia

Unidade Acadêmica de Engenharia Química

Disciplina: Engenharia de Processos II

Docente: José Nilton Silva

Deborah Almeida Dos Anjos

DESENVOLVIMENTO DE UM FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL

Campina Grande-PB

Junho de 2014

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RESUMO

O ganho ambiental com o uso dos biocombustíveis, principalmente derivados de óleos vegetais e animais, é evidente e desejável. Uma alternativa viável é a utilização de óleos residuais na obtenção de biocombustíveis, promovendo a reutilização de um material que apresenta grandes problemas quando indevidamente descartado, contaminando as águas dos rios e lençóis freáticos, obstruindo as tubulações de esgotos nas grandes cidades e dificultando o tratamento nas estações de tratamento de água. Na busca por novas fontes alternativas de energia, o biodiesel apresenta-se como proposta de menor impacto ambiental em relação ao diesel de petróleo. Ele é um produto resultante da reação química (transesterificação) entre óleos vegetais e álcool e seus modos de produção podem ser caracterizados como sendo por batelada ou contínuo. A partir do estudo mais detalhado do processo de produção do biodiesel foi possível desenvolver um fluxograma, com as etapas deste processo, o qual será utilizado em estágios futuros na disciplina Engenharia de Processos II.

Palavras chave: biocombustíveis, óleo residual, biodiesel.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 42.1 Óleos e Gorduras..................................................................................................... 42.2 Óleos e Gorduras Residuais.................................................................................... 42.3Biodiesel......................................................................................................................5 2.4 Matérias – Primas para Produção do Biodiesel ................................................... 62.5 Tecnologia para Produção do Biodiesel................................................................. 82.5.1Transesterificação.................................................................................................. 82.5.1 Catálise Homogênea Ácida.................................................................................. 82.5.1.2 Catálise Homogênea Básica.............................................................................. 92.5.1.3 Catálise Heterogênea......................................................................................... 112.5.1.4 Catálise Enzimática........................................................................................... 112.6 Modos de Produção do Biodiesel............................................................................ 123 OBJETIVOS............................................................................................................... 143.1 Objetivo geral.......................................................................................................... 143.2 Objetivos específicos............................................................................................... 144 METODOLOGIA...................................................................................................... 144.1 Material................................................................................................................... 144.2 Métodos.................................................................................................................... 145 RESULTADOS e discussão...................................................................................... 156 CONCLUSÃO............................................................................................................ 167 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 17

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1. INTRODUÇÃO

O consumo de combustíveis fósseis derivados do petróleo apresenta um impacto significativo na qualidade do meio ambiente. A poluição do ar, as mudanças climáticas, os derramamentos de óleo e a geração de resíduos tóxicos são resultados do uso e da produção desses combustíveis. A poluição do ar das grandes cidades é, provavelmente, o mais visível impacto da queima dos derivados de petróleo. Há anos vêm sendo realizadas experiências com combustíveis alternativos, comprovando a preocupação de pesquisadores, governos e sociedade em geral com o eventual esgotamento das reservas petrolíferas e com a questão ambiental.

Dentre os biocombustíveis destaca-se o etanol e também o biodiesel. Este é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido através dos processos de esterificação ou transesterificação de gorduras animais ou de óleos vegetais. No Brasil, há dezenas de espécies vegetais que podem ser utilizadas para a produção do biodiesel, como a mamona, o dendê (palma), o girassol, o babaçu, o amendoim, o pinhão manso, a soja, entre outros. O óleo e a gordura residual (OGR) de frituras, também pode ser utilizado como matéria-prima para a produção de biodiesel, apresentando, inclusive, consideráveis vantagens econômicas (possibilidade de produção de biocombustível a partir de uma matéria-prima de baixo custo) e sociais (fonte de geração de emprego e renda para catadores de materiais recicláveis, através de cooperativas) (CORREIA DE FREITAS, 2008).

De acordo com Ramos et. al. (2006), existem basicamente quatro processos aplicados para a fabricação de biodiesel: Diluição, micro-emulsificação, pirólise e transesterificação que é o mais conhecido e utilizado em larga escala.

Por transesterificação entende-se ser o processo químico que consiste em misturar o óleo com o álcool, metanol ou etanol e, na presença de catalisador, hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio reage produzindo ésteres metílicos (quando da utilização de metanol) ou ésteres etílicos (quando da utilização de etanol) compondo o biodiesel e a glicerina.

Diante deste contexto objetivou-se neste trabalho o desenvolvimento de um fluxograma do processo de produção do biodiesel, o qual será utilizado na elaboração de trabalhos futuros para avaliação na disciplina Engenharia de Processos II.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O modelo energético utilizado nos últimos séculos se baseou na utilização de recursos fósseis e não renováveis, como o carvão mineral, o gás natural e, em especial, o petróleo. Por decorrência dos avanços tecnológicos e industriais, houve uma necessidade cada vez maior de utilizar tais combustíveis como força motriz para alimentar o crescimento do setor industrial, resultando assim no aumento da produção e, consequentemente, no aumento das receitas dos países.

Com o passar dos anos, a utilização deste modelo energético causou inúmeras mudanças no planeta, em especial no que diz respeito ao desaparecimento dos recursos minerais e a poluição ambiental causada pela utilização inconsequente destes. Os reflexos destas modificações recaem sobre violentas mudanças climáticas, como tempestades, furacões e enchentes, além do desaparecimento de espécies da fauna e da flora. Esses fenômenos fizeram com que a população mundial tomasse consciência em relação ao conceito da exploração predatória dos recursos minerais (CAZZONATTO e ROCANCOURT, 2011).

Nesse contexto surge o Protocolo de Kyoto que propôs aos países assinar um acordo de redução de emissão de gases do efeito estufa além de investir no desenvolvimento de fontes de energia alternativas, renováveis e menos poluentes. O desenvolvimento destas novas fontes de energia deu origem aos biocombustíveis, combustíveis provenientes de matéria orgânica renovável e limpa (biomassa), considerados, ecologicamente corretos.

Os biocombustíveis são fontes valiosas de energia sustentável e também levantam preocupações em relação a uma possível escassez de produtos agrícolas. Em contrapartida, pode-se dizer que os biocombustíveis têm como objetivo valorizar principalmente matérias-primas alimentares e recursos terrestres não utilizados.

O ganho ambiental com o uso dos biocombustíveis, principalmente derivados de óleos vegetais e animais, é evidente e desejável. Uma alternativa viável é a utilização de óleos residuais na obtenção de biocombustíveis, promovendo a reutilização de um material que apresenta grandes problemas quando indevidamente descartado, contaminando as águas dos rios e lençóis freáticos, obstruindo as tubulações de esgotos nas grandes cidades e dificultando o tratamento nas estações de tratamento de água. (COSTA, SANTOS e DULLIUS, 2010).

.2.1 Óleos e Gorduras

O termo óleos e gorduras referem-se a substâncias de origem animal ou vegetal insolúveis em água que são constituídas principalmente por triacilgliceróis (ésteres formados pela condensação entre glicerol e ácidos graxos). A diferença entre óleos e gorduras, segundo o Conselho Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), é o estado físico em

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que se apresentam a uma temperatura abaixo de 20ºC, ou seja, óleos são líquidos e gorduras são sólidos/semi-sólidos.

2.2 Óleos e Gorduras Residuais

No Brasil, o óleo de soja e o óleo de algodão são os principais óleos vegetais produzidos por serem subprodutos do processamento da farinha de soja destinada a alimentação e para exportação e do consumo da fibra de algodão pela indústria têxtil respectivamente.

O consumo humano em nosso país deste óleo gera o inconveniente de não reutilização para fins alimentares, pois o óleo vegetal ao entrar em contato com o alimento, deixa de ser puro e as reações químicas que ocorrem durante o processo de fritura modificam sua composição gerando o aumento da quantidade de ácidos graxos livres e subprodutos das reações de oxidação, prejudicando o seu reciclo. Surge, portanto, o problema para o descarte deste resíduo. A maior parte deste resíduo é descartada de forma inadequada na rede de esgoto (ralo da pia), os quais se acumulam nos encanamentos, causando entupimentos, refluxo de esgoto e até o rompimento das redes de coleta. Além disso, os óleos podem causar danos irreversíveis quando despejados nos córregos, rios e lagos, dificultando a entrada de luz e a oxigenação da água além de formar uma camada gordurosa nas margens dos lagos e rios agravando os quadros de enchentes.

2.3 Biodiesel

Na busca por novas fontes alternativas de energia, o biodiesel derivado do óleo vegetal apresenta-se como proposta de menor impacto ambiental em relação ao diesel de petróleo, visto que contabiliza os benefícios associados aos biocombustíveis.

A maior barreira para a comercialização do biodiesel é o elevado preço de manufatura associado ao preço dos óleos vegetais. Os óleos e gorduras residuais são uma boa alternativa para a produção de biodiesel visto que apresentam menor custo que os óleos vegetais tradicionalmente utilizados (DIB, 2010).

O biodiesel é um produto resultante da reação química entre óleos vegetais e álcool. Esse produto pode ser usado como combustível em qualquer motor diesel sem a necessidade de alteração nesse motor. Quimicamente é conhecido como éster metílico ou etílico de ácido graxos, dependendo do álcool utilizado.

Mundialmente, adotou-se a nomenclatura “Biodiesel BXX” para identificar a presença de biodiesel ao óleo diesel convencional, na qual os caracteres “XX” representam a porcentagem de biodiesel adicionado, em volume, a essa mistura. No atual mercado de combustíveis, os seguintes níveis de concentração vêm sendo mais comumente utilizados (ANP, 2011):

- Puro: B100 - Misturas: B20 – B30 - Aditivo: B5

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- Aditivo de Lubrificantes: B2

A figura 01 nos permite observar que as misturas que envolvem um maior percentual de biodiesel resultam em reduções mais significativas nas emissões de poluentes. Um dos destaques destas reduções se dá aos hidrocarbonetos totais – HC, substâncias que apresentam uma diversidade de compostos tóxicos não controlados e que podem causar inúmeras complicações à saúde, como pneumonia e até mesmo câncer. A fuligem, ou material particulado – PM, assim como o monóxido de carbono – CO, também apresentam índices de redução proporcionais ao percentual de biodiesel adicionado a mistura. Todavia, estudos realizados na União Européia mostram que, num processo inverso a redução de poluentes, misturas que envolvam um maior percentual de biodiesel tendem a apresentar um aumento na emissão de óxidos nitrogenados – NOx. Apesar de este fato representar uma desvantagem em relação ao óleo diesel derivado do petróleo, a emissão de óxidos nitrogenados não compromete a utilização do biodiesel, em vista do maior percentual de redução de emissões dos outros poluentes citados (REVISTA BIODIESEL, 2007).

Figura 1 - Gráfico de emissões Biodiesel x Diesel Fonte: Revista Biodiesel, 2007

2.4 Matérias – Primas para Produção do Biodiesel

O biodiesel pode ser produzido a partir de várias oleaginosas. Destacam-se como principais fontes o dendê, o babaçu, a soja, o coco, o girassol, a colza e a mamona. É possível fazer misturas dos ésteres de várias origens na obtenção do biodiesel (COSTA e OLIVEIRA, 2008).

No caso do Brasil, têm-se dezenas de alternativas para matéria-prima como demonstram experiências realizadas em diversos Estados

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com mamona, dendê, soja, girassol, pinhão manso, babaçu, amendoim, pequi, etc. (COSTA e OLIVEIRA, 2008).

Cada cultura desenvolve-se melhor dependendo das condições de solo, clima, altitude e assim por diante. A mamona é importante para o Semi-Árido, por se tratar de uma oleaginosa com alto teor de óleo, adaptada às condições vigentes naquela região e para cujo cultivo já se detém conhecimento agronômico suficiente. O dendê será, muito provavelmente, a principal matéria-prima na região Norte (DIB, 2010).

Sendo assim, a produção de biodiesel deve respeitar a especificidade de cada região produzindo o que, de certa maneira, lhe proporcionará uma maior vantagem comparativa (HOLANDA, 2004).

As matérias primas para a produção de biodiesel podem ser divididas a partir de suas categorias como é mostrado na Figura 2.

Figura 2 - Cadeias produtivas do biodiesel. Fonte: DIB, 2010

Os álcoois utilizados são metanol ou etanol. A Tabela 1 mostra as vantagens de desvantagens de cada álcool.

Tabela 1 – Escolha das matérias – primas ( álcool).

Etanol Metanol

Origem renovável Menor custo

Produção nacional Separação imediata da

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glicerinaNão tóxico

Processo de separação daglicerina mais complexo

Maior investimento na unidade

Combustível para exportaçãoTóxico

O país é importador do produto

2.5 Tecnologia para Produção do Biodiesel

O biodiesel é produzido pelo processo de transesterificação, que consiste na reação entre um triglicerídeo e um álcool (metanol ou etanol) em presença de um catalisador alcalino (base forte), ácido ou enzimático. Na produção de ésteres de ácidos graxos (o biodiesel), obtém-se como subproduto a glicerina. Esta reação é reversível e seu rendimento depende essencialmente da razão molar entre o óleo e o álcool, da temperatura de reação, do álcool utilizado e da quantidade e do tipo de catalisador ( AVER, RITTER e FONTANA, 2011).

2.5.1Transesterificação

O biodiesel é obtido pela reação de transesterificação, que pode ser de natureza ácida, básica ou enzimática (CHRISTOFF, 2006).

Na transesterificação ou alcoólise, processo mais utilizado atualmente devido a seu alto rendimento, a matéria-prima (composta por triglicerídeos) reage com um monoálcool (etanol ou metanol) e, através da adição de um catalisador, produz éster e glicerol ( CAZZONATTO e ROCANCOURT, 2011).

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Figura 3 – Transesterificação de um triglicerídio. Fonte: Marciniuk,2007.

A estequiometria da reação requer um mol de triglicerídeo para três de álcool. No entanto, excesso de álcool é utilizado para aumentar a conversão em ésteres monoalquílicos. A reação de transesterificação pode ser catalisada tanto por catalisadores homogêneos quanto heterogêneos – os quais podem ser ácidos ou básicos.

2.5.1 Catálise Homogênea Ácida

Os ácidos de Brönsted são os mais utilizados na catálise ácida, dentre os quais incluem-se o HCl, H2SO4 (anidros) e ácidos sulfônicos.

O primeiro passo é a ativação da carbonila, o que a torna susceptível ao ataque nucleofílico do álcool. Após a adição do nucleófílo ocorre um prototropismo intermolecular, o que permite a eliminação do diglicerídeo (grupo abandonador). A última etapa é a desprotonação da carbonila do novo éster formado.

Diglicerídeo e monoglicerídeo são convertidos pelo mesmo mecanismo em uma mistura de ésteres monoalquílicos e glicerol.

Se houver água no meio reacional uma possível reação secundária que pode ocorrer durante a transesterificação catalisada por ácidos é a hidrólise dos triglicerídeos, ou do éster formado que, consequentemente, leva à formação de ácidos carboxílicos. Essa formação competitiva de ácidos carboxílicos reduz o rendimento em ésteres monoalquílicos.

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Figura 4 - Mecanismo de transesterificação catalisada por ácidos.Fonte: Garcia, 2006.

2.5.1.2 Catálise Homogênea Básica

A catálise básica é mais aplicada, entretanto a presença de impurezas como água e ácidos graxos livres em óleos residuais resulta na formação de sabão e consumo de catalisador.

A transesterificação básica de material oleoso residual sem pré-tratamento, apesar das limitações, é a forma mais simples e barata de produção de biodiesel.

Os catalisadores básicos mais utilizados são os hidróxidos e alcóxidos de sódio ou de potássio. Na Figura 5 é mostrado o mecanismo de transesterificação catalisada por bases.

Figura 5 - Mecanismo de transesterificação catalisada por bases.Fonte: Garcia, 2006.

A Tabela 2 apresenta as vantagens e desvantagens das catálises ácidas e básicas.

Tabela 2 – Comparação entre as catálises ácida e básica.

Catálise ácida Catálise básica

Matérias-primas mais baratas Reação é mais rápida

Óleos vegetais não refinadosutilizados em fritura

Condições reacionais mais brandas

Matérias-primas do Norte e Nordeste do Brasil

Menor custo energético

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Reações simultâneas detransesterificação e esterificação

Elevadas temperaturas

Plantas industriais maissofisticadas

Possibilidade de saponificação

Dificulta a utilização de óleos ou gorduras de alta acidez

Utilização de álcool anidro

2.5.1.3 Catálise Heterogênea

Na catálise homogénea, o catalisador e os reagentes estão dispersos na mesma fase, enquanto que na catálise heterogênea, o catalisador constitui uma fase separada. Neste caso a reação química ocorre na interface entre as duas fases, e a velocidade será em princípio, proporcional à área respectiva (SANTOS, 2007).

Em catálise heterogénea são possíveis diversas combinações de fases, mas em geral o catalisador é um sólido, enquanto que os reagentes e produtos se distribuem por uma ou mais fases fluidas (SANTOS, 2007).

A catálise heterogênea apresenta várias vantagens, tais como: utiliza reatores mais simples, catalisadores heterogêneos apresentam maior resistência mecânica, permite uma separação mais simples dos produtos e do catalisador, minimizando etapas de purificação. Além disso, catalisadores heterogêneos apresentam maior estabilidade e fácil regeneração (BEVILAQUA,2011).

As reações com catalisadores heterogêneos se processam a uma velocidade relativamente baixa, tendo em vista os problemas difusivos associados ao fato da mistura reacional ser constituída por três fases (óleo/álcool/catalisador). Contudo, a catálise heterogênea apresenta potencial para promover métodos de síntese mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e com redução nos custos de produção (BEVILAQUA,2011).

Na produção de biodiesel, a catálise heterogênea tende a minimizar a formação de sabão e dispensa a etapa de lavagem, além da possibilidade de tornar o processo contínuo. Os catalisadores heterogêneos são principalmente ácidos, básicos e enzimáticos, estes também denominados biocatalisadores. Como subgrupos, podem-se definir os catalisadores heterogêneos como sendo óxidos metálicos, metais complexos, metais ativos suportados, zeólitas, resinas, membranas e lipases. (MA & HANNA, 1999).

2.5.1.4 Catálise Enzimática

A catálise enzimática permite a recuperação simples do glicerol, a transesterificação de glicerídeos com alto conteúdo de ácidos graxos, a transesterificação total dos ácidos graxos livres, e o uso de condições brandas no processo, com rendimentos de no mínimo 90%, tornando-se uma alternativa comercialmente rentável. Ela faz com que não ocorram reações

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colaterais de formações de subprodutos (como o sabão), o que ameniza os gastos com posterior purificação. Algumas enzimas necessitam de co-fatores, como íons metálicos ou compostos orgânicos (coenzimas) para realizarem suas tarefas.

As lipases são as enzimas que catalisam a hidrólise de acilgliceróis em ácidos graxos, diacil gliceróis, monoacil gliceróis e glicerol (transesterificação ou alcoólise).

As lipases são geralmente encontradas na natureza, podendo ser obtidas a partir de fontes animais, vegetais e microbianas. Antigamente, eram utilizadas a partir do pâncreas de animais e usadas como auxiliar digestivo para consumo humano. Atualmente as lipases são produzidas preferencialmente a partir de microrganismos, devido às facilidades de controlo e de aumento da capacidade produtiva dos processos fermentativos, para além do baixo custo na sua obtenção.

Em geral, os microrganismos mais utilizáveis são fungos do género Rhiziopus, Aspergilus, Geotrichum e Mucos.

2.6 Modos de Produção do Biodiesel

Os modos de produção do biodiesel podem ser caracterizados como sendo por batelada ou contínuo.

As plantas menores usam frequentemente reatores em batelada, mas uma parte das plantas de grande escala usa os processos de fluxo contínuos que envolvem os reatores contínuos de tanques agitados (CSTR). A reação é feita às vezes em duas etapas. Nesse sistema, aproximadamente 80% do álcool e o catalisador é adicionado ao óleo em um primeiro estágio CSTR. Então o produto reagido deste reator atravessa uma etapa de remoção do glicerol antes de incorporar em um segundo CSTR. Os 20% restantes do álcool e do catalisador são adicionados neste reator. Este sistema fornece uma reação muito completa com o potencial de usar menos álcool do que sistemas de uma etapa (FILHO e PACHECO, 2008).

O processo mais simples de produção de biodiesel é através do sistema em batelada. Os catalisadores mais utilizados neste tipo de processo são o hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. O tempo de reação é de cerca de 20 minutos, podendo se estender por até uma hora. Primeiramente, o reator é carregado com óleo e posteriormente com o álcool e o catalisador. O sistema permanece sob agitação durante o tempo requerido de reação. Terminada a reação, a agitação é cessada e a mistura reacional é bombeada para um decantador ou para uma centrífuga. O excesso de álcool é eliminado, tanto dos ésteres quanto do glicerol, mais comumente por evaporação. As etapas seguintes do processo são a neutralização do catalisador, lavagem e estocagem do produto (GARCIA, 2006).

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Figura 6 – Processo de produção o biodiesel em bateladas.Fonte: Biodiesel production technology, Agosto 2002 – Janeiro 2004

Os reatores contínuos podem ser de tanque de agitado (CSTR) ou de escoamento empistonado (PFR). Nesse sistema, em vez da mistura reacional permanecer no tanque de agitação durante toda a reação, ela é mandada continuamente para um reator tubular. Como resultado, tem-se um sistema contínuo que requer um tempo de residência reduzido (6 a 10 minutos) e que frequentemente opera em elevadas temperaturas e sob pressão para aumentar a velocidade da reação.

A produção de biodiesel por processo contínuo pode ser realizada tanto com catalisadores heterogêneos quanto com catalisadores homogêneos. Porém, nos sistemas contínuos com reator de leito fixo é necessário que o catalisador seja heterogêneo.

As considerações mais importantes em um reator são a extensão de conversão dos reagentes, e a seletividade da reação para os produtos desejados. As variáveis chaves do reator que ditam a conversão e a seletividade são a temperatura, pressão, tempo de reação (tempo de residência), e o grau da mistura. Em geral o aumento da temperatura da reação aumenta a taxa da reação daí, a conversão para dado tempo de reação. Entretanto, se mais que uma reação ocorre simultaneamente, a seletividade para produtos desejados pode ser impactada pela mudança na temperatura da reação. Na reação de transesterificação, a seletividade da reação não é impactada negativamente pelo aumento da temperatura. O aumento na temperatura na reação de transesterificação impacta na pressão de operação. A reação é de fase líquida, então a pressão no reator deve ser mantida num nível que mantenha o etanol na fase liquida. Consequentemente, com a temperatura da reação aumentada a pressão deve também aumentar (FILHO e PACHECO, 2008).

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Desenvolver um fluxograma do processo de produção do biodiesel a partir do óleo residual , para ser utilizado em trabalhos futuros.

3.2 Objetivos Específicos

Entender o processo de produção do biodiesel; Analisar os tipos de álcoois que podem ser usados como matéria-prima e definir o mais

adequado para o processo; Analisar os tipos de catalisadores e definir o mais adequado para o processo; A partir do estudo, elaborar um fluxograma de processo.

4. METODOLOGIA

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4.1 Material

Como o trabalho em questão refere-se a um estudo teórico do processo de produção de biodiesel a ferramenta utilizada consiste na realização de pesquisas sobre o assunto.

4.2 Métodos

O trabalho será dividido em duas etapas. A primeira constitui o estudo da produção do biodiesel e elaboração de um fluxograma do processo. A segunda, consiste na aplicação deste fluxograma.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base no estudo acima, elaborou-se o fluxograma apresentado na figura 6 com o uso do metanol e da catálise básica.

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Figura 6 – Fluxograma da produção do biodiesel.

Etapas do Processo

1. O óleo residual passa por um processo de tratamento e então, em um reator, reage com o metilato (metanol + soda cáustica) formando duas fases denominadas de fase leve e fase pesada;

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2. A fase leve, constituída de biodiesel, álcool e impurezas, passa por um processo de separação para a retirada do álcool;

3. A fase pesada, constituída de glicerina, álcool, água e impurezas, passa previamente por uma fase de acidulação na qual são separados os AGL ( ácidos graxos livres ), e só então passa pela separação do álcool obtendo o produto glicerina;

4. Após o álcool ser separado de ambas as fases, ele é liquefeito e desidratado podendo retornar ao processo;

5. Conseguinte a separação do álcool, o biodiesel passa por uma lavagem, na qual são retirados os sabões formados, e por último, é realizada uma secagem obtendo-se, ao final, o biodiesel.

6. CONCLUSÕES

A partir da pesquisa realizada foi possível compreender de forma mais detalhada o processo de produção do biodiesel tornando possível o desenvolvimento de um fluxograma que será utilizado como modelo para realização de trabalhos futuros na disciplina já mencionada anteriormente.

7. REFERÊNCIAS

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