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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ENGENHARIA DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA DETECÇÃO DE PERDAS NÃO TÉCNICAS EM LINHAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Porto Alegre, 27 de Novembro de 2017. Autor: Nicholas Aldworth Möller Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Curso de Engenharia de Controle e Automação Av. Ipiranga 6681 - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil Email: [email protected] Orientador: Prof. Odilon Francisco Pavón Duarte Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Av. Ipiranga 6681 - Prédio 30 - Bloco F - Sala 204 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS- Brasil Email: [email protected] RESUMO Este trabalho tem como finalidade apresentar as etapas do desenvolvimento de um sistema para detecção automática de perdas não técnicas provenientes de furto ou fraude em linhas de distribuição. A solução visa auxiliar as concessionárias de energia elétrica a reverterem o prejuízo financeiro originado pelo fornecimento de energia que não é faturada devido a consumidores irregulares, propondo a medição no transformador de distribuição para a realização do cálculo de balanço energético. A automatização por meio de um sistema de monitoramento de medições permite à concessionária diminuir o tempo de investigação e localizar os segmentos de rede com perdas não técnicas. A utilização de uma plataforma única para visualização de todos os dados coletados na rede facilita o controle da distribuidora e possibilita aperfeiçoar o processo de identificação de falhas e perdas nos circuitos. O sistema atendeu aos requisitos com bom nível de precisão de dados e se mostrou capaz de auxiliar as empresas de energia elétrica.

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA … · A automatização por meio de um sistema de ... a Figura 1 (rede de subtransmissão, subestação de distribuição, rede primária, transformador

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ENGENHARIA

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA DETECÇÃO DE

PERDAS NÃO TÉCNICAS EM LINHAS DE DISTRIBUIÇÃO DE

ENERGIA ELÉTRICA

Porto Alegre, 27 de Novembro de 2017.

Autor: Nicholas Aldworth Möller

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Curso de Engenharia de Controle e Automação

Av. Ipiranga 6681 - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil

Email: [email protected]

Orientador: Prof. Odilon Francisco Pavón Duarte

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Av. Ipiranga 6681 - Prédio 30 - Bloco F - Sala 204 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS-

Brasil

Email: [email protected]

RESUMO

Este trabalho tem como finalidade apresentar as etapas do desenvolvimento de um sistema

para detecção automática de perdas não técnicas provenientes de furto ou fraude em linhas de

distribuição. A solução visa auxiliar as concessionárias de energia elétrica a reverterem o

prejuízo financeiro originado pelo fornecimento de energia que não é faturada devido a

consumidores irregulares, propondo a medição no transformador de distribuição para a

realização do cálculo de balanço energético. A automatização por meio de um sistema de

monitoramento de medições permite à concessionária diminuir o tempo de investigação e

localizar os segmentos de rede com perdas não técnicas. A utilização de uma plataforma única

para visualização de todos os dados coletados na rede facilita o controle da distribuidora e

possibilita aperfeiçoar o processo de identificação de falhas e perdas nos circuitos. O sistema

atendeu aos requisitos com bom nível de precisão de dados e se mostrou capaz de auxiliar as

empresas de energia elétrica.

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Palavras-chave: Energia. Perdas não técnicas. Rede de distribuição. Concessionárias de energia.

Sistema automatizado de medições

ABSTRACT

This paper has the main objective of presenting all the steps to develop a system for automatic

detection of non-technical losses as a consequence of energy theft or fraud in power

distribution grids. The solution aims to help utilities to recover the financial losses caused by

the supply of energy which is not charged due to irregular consumers by offering the

alternative of measuring the distribution transformer to calculate the energy balance in the

line. The automation through a measurement monitoring system allows the companies to

minimize the time spent to investigate fraud or theft and also indicate the grid lines with the

presence of non-technical losses. The use of a single platform to display all consumption data

helps the companies to control its grid and makes it possible to improve the process of

identifying faults in the distribution lines. The system met the requirements with a high level

of data accuracy and proved to be capable of helping the utilities.

Key-words: Energy. Non-technical losses. Electric power distribution. Utilities. Automated

measurements system.

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3

1. INTRODUÇÃO

Motivada pela recente crise política e econômica do país, a Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL) vêm trabalhando de forma árdua para reduzir as perdas na

distribuição de energia por meio da contextualização de medidas regulatórias e a criação de

procedimentos mais rígidos para o setor. Furtos têm aumentado de forma alarmante, gerando

déficit na receita das concessionárias, além de problemas de planejamento para todas as

empresas responsáveis pela geração, transmissão e distribuição de energia.

As perdas estão presentes em todo o processo de geração até a conexão aos

consumidores. O foco deste trabalho, no entanto, será apenas na eficiência da rede de

distribuição, a qual pode ser mensurada analisando as Perdas Técnicas (PTE) e Perdas Não

Técnicas (PNT). As PNT geram um impacto profundo em todas as esferas da sociedade, pois

as concessionárias deixam de faturar uma parte considerável de energia fornecida e, por

consequência, recolhem menos impostos. O déficit em alguns tributos faz com que o governo

invista menos em saúde, saneamento, educação, entre outros serviços públicos. Não obstante,

as concessionárias repassam este custo nos reajustes de tarifas, os quais são absorvidos pelos

consumidores que pagam corretamente pelo seu próprio consumo de energia elétrica.

1.1 TEMA DE PESQUISA

Este trabalho apresenta o conceito e a aplicação de um sistema de medição e

supervisão de redes de distribuição das concessionárias de energia elétrica para a detecção de

PNT derivadas de furto e fraude. Os objetos a serem tratados são o desenvolvimento de um

hardware para medição nos elementos que rebaixam a tensão para entrega aos consumidores

finais , chamados de transformadores de distribuição, e principalmente no desenvolvimento e

integração de um sistema de supervisão remota que compara os dados do hardware

desenvolvido com os medidores individuais do cliente da concessionária.

Este software permite aos usuários das concessionárias monitorarem, em tempo real, a

energia que é distribuída pelo transformador e comparar com os valores dos medidores de

tarifação alimentados por este equipamento de rede. Além disto, o sistema compara os dados

presentes com o histórico dos clientes para verificar quaisquer alterações fora do padrão de

consumo, apontando ao usuário possíveis irregularidades.

1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA

Tendo em vista a importância prática de melhorar a identificação e detecção das

perdas comerciais, diversas empresas de tecnologia vêm trabalhando em sistemas e soluções

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que permitam às concessionárias agir pontualmente nas unidades consumidoras irregulares,

por meio da medição da energia distribuída por cada transformador da rede para comparação

com as suas respectivas unidades consumidoras. Uma destas empresas é a IMS Soluções em

Energia, localizada na cidade de Porto Alegre e que atualmente trabalha com a Companhia

Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE) em um projeto de balanço

energético (CEEE, 2017). O foco é o desenvolvimento de um sistema de pesquisa visando

uma solução completa, envolvendo hardware e software.

1.3 OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é conceituar uma solução que permite auxiliar todas as

concessionárias de energia elétrica no Brasil a reduzirem suas perdas comerciais e se

adequarem aos Procedimentos de Distribuição (PRODIST) emitidos pela ANEEL. O

PRODIST é composto por oito documentos que padronizam as atividades técnicas

relacionadas ao sistema de distribuição de energia elétrica. O módulo 7 deste documento

normatiza os cálculo de perdas na distribuição, auxiliando as empresas do segmento a

controlarem adequadamente o seu balanço energético (ANEEL, 2015).

A atual conjuntura política e econômica do país agravou a situação financeira de

muitas concessionárias de energia, as quais são obrigadas a minimizar seus prejuízos

combatendo as perdas comerciais. Muitas dessas empresas sofrem devido ao incorreto

faturamento, tendo que repassar os seus prejuízos aos consumidores regulares. O objetivo do

sistema desenvolvido é identificar as unidades com consumo irregular.

1.4 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO

Apesar de descrever todos os elementos que compõem a solução para detecção de

PNT, o foco principal deste trabalho é abordar as questões técnicas e o desenvolvimento do

software de supervisão, integração de dados e identificação de perdas comerciais. Os

algoritmos nele aplicados, a comunicação com o equipamento de medição e a integração dos

dados fornecidos pela concessionária serão detalhados usando conceitos de automação de

sistemas.

Neste trabalho não serão abordadas as questões legais aplicáveis a consumidores

fraudulentos, assim como as regulamentações e as fundamentações jurídicas para recuperação

de receita por parte das concessionárias afetadas. A razão da elaboração deste trabalho é

descrever e conceituar a solução com a qual as empresas poderão identificar a origem das

fraudes. Ainda que possam ser citadas as quantias não recolhidas devido as PNT, as práticas e

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manobras jurídicas elaboradas pelas distribuidoras não serão relevantes para o

desenvolvimento deste trabalho.

A metodologia aplicada para cálculo de PTE também não será detalhada. Estas perdas

apresentam inúmeras formas de cálculo, para todos os setores de geração, transmissão e

distribuição de energia. Não obstante a isso, será citado brevemente o método para cálculo de

PTE escolhido para a solução desenvolvida, assim como a justificativa e o embasamento

técnico para tal.

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6

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Por apresentar uma crescente representatividade nas perdas totais em linhas de

distribuição, as PNT são o principal foco da ANEEL na atualidade. Enfrentando fortes crises,

as concessionárias de energia veem sua eficiência diminuir ano após ano, por mais que sejam

investidos recursos para minimizar a perda técnica de energia e para aumentar a qualidade da

energia elétrica distribuída (ANEEL, 2017).

A agência disponibilizou dados alarmantes sobre o percentual de PNT por

distribuidora no ano de 2016, conforme o Quadro 1. Em termos de faturamento, o percentual

de PNT para algumas distribuidoras tem uma alta representatividade financeira, conforme

ilustrado no Quadro 2.

Quadro 1 - Ranking de empresas com maior índice de PNT em 2016

Empresa Estado Perdas Não Técnicas

AME AM 38,34%

CEA AP 28,85%

CERON RO 18,64%

CELPA PA 18,15%

CEPISA PI 17,13%

CEAL AL 16,39%

LIGHT RJ 15,55%

ELETROACRE AC 14,42%

CEEE RS 13,38%

AMPLA RJ 11,61%

CEMAR MA 8,10%

CELPE PE 7,25%

CEMAT MT 5,33%

ESCELSA ES 5,28%

BOAVISTA RR 4,92%

SULGIPE SE 4,58%

CEB DF 4,49%

IENERGIA SC 4,32%

COELCE CE 3,70%

ELETROPAULO SP 3,66%

Fonte: ANEEL (2017)³

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Quadro 2 - Ranking de empresas com a maior perda comercial em 2016

Distribuidora Estado Perdas Não Técnicas

LIGHT RJ R$ 935.881.154,00

AMAZONAS AM R$ 638.076.488,00

CELPA PA R$ 343.991.930,00

ELETROPAULO SP R$ 317.895.783,00

CEMIG MG R$ 234.913.006,00

AMPLA RJ R$ 221.859.729,00

CELPE PE R$ 173.390.469,00

CEMAR MA R$ 113.840.912,00

COPEL PR R$ 112.753.876,00

CPFL PAULISTA SP R$ 112.229.041,00

COELBA BA R$ 99.001.080,00

CEA AP R$ 92.758.875,00

ESCELSA ES R$ 91.466.550,00

BANDEIRANTE SP R$ 85.679.456,00

CELESC SC R$ 68.243.582,00

EMT MT R$ 68.225.456,00

CEEE RS R$ 64.980.131,00

CEPISA PI R$ 57.031.350,00

CEAL AL R$ 50.003.042,00

CELG GO R$ 48.778.243,00

Fonte: ANEEL (2017)³

2.1 CLASSIFICAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO CÁLCULO DAS PERDAS EM REDES

DE DISTRIBUIÇÃO

Para contextualizar estes valores, devemos diferenciar os tipos e origens de perdas de

distribuição. Como já mencionado, estas são classificadas de acordo com a sua origem. As

PTE, segundo PENIN (2008), são inerentes ao próprio sistema e representam a parcela de

energia perdida durante o seu transporte, devido às características físicas dos componentes

presentes na infraestrutura do sistema elétrico. O exemplo mais comum é a perda por efeito

Joule.

Já as PNT, as quais serão o foco de identificação do sistema a ser abordado neste

trabalho, são obtidas a partir da diferença entre as perdas totais e as PTE. As PNT são

conhecidas também pelo nome de perdas comerciais e são originadas por problemas

relacionados à falta de faturamento da energia elétrica distribuída. As causas são dadas pela

inexistência de medidores, falha ou falta de aferição destes dispositivos, erros nas leituras ou

no faturamento das unidades consumidoras, fraude no fornecimento ou no sistema de medição

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de energia (comumente chamado de “rato”) ou também pelo furto (popularmente conhecido

como “gato”).

Conforme PENIN (2008), as PTE são constituídas em parte pelas PNT, devido à

própria natureza dos cálculos elétricos de perdas, os quais só podem ser feitos sobre cargas

conhecidas. Ele introduz o conceito de “perdas-fio”, as quais são definidas como PTE

oriundas do consumo irregular, maximizadas visto a presença das PNT.

A nova visão para as PTE foi primeiramente abordada segundo MEFFE (2000), cujo

objetivo foi afirmar a importância em dividir a linha em sete principais segmentos, conforme

a Figura 1 (rede de subtransmissão, subestação de distribuição, rede primária, transformador

de distribuição, rede secundária, ramal de ligação e medidor de energia). A concessionária

Eletropaulo foi a primeira a utilizar este método, o qual foi base de fundamentação para o

módulo 7 do PRODIST (2014)².

Figura 1 - Segmentos do sistema de distribuição

Fonte: MEFFE (2000)¹

De acordo com a regulamentação descrita no PRODIST (2014)², as formas de cálculo

corretas para as perdas de cada elemento em cada segmento da rede de distribuição de energia

Consumidor

Primário

Subestação de

Distribuição

Rede Primária

Rede Secundária

Ramal de Ligação

Medidor de Energia

Transformador

de Distribuição

Suprimento

Rede de Subtransmissão

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elétrica são normalizadas. As fórmulas são estimadas pela concessionária e calculadas no

sistema de análise.

2.2 HISTÓRICO DE INVESTIMENTOS EM PNT NO BRASIL

Segundo pesquisa levantada pela empresa IMS (2017) com base em dados fornecidos

pela ANEEL e individualmente pelas concessionárias do país, o Brasil possui mais de oitenta

milhões de consumidores atualmente. Em média, 14,62% da energia são considerados como

perda, e 6,5% do que é fornecido pelas concessionárias deixam de ser faturados.

Considerando o ranking das vinte distribuidoras com maior perda comercial apresentado

anteriormente e todas as outras distribuidoras em território nacional, as PNT excederam o

custo de quatro bilhões de reais no ano de 2016.

A pesquisa indica que a ocorrência de interferências no sistema de distribuição, como

as ilustradas na Figura 2, é comum no cenário brasileiro e consequentemente origina um

sistema de práticas ilegais. É possível encontrar serviços especializados para interferir a rede

com o intuito de furtar energia, conforme visto na Figura 3.

Figura 2 - Interferências no sistema de distribuição nacional

Fonte: BORTOLOTTI (2017)¹

Desvios UC’s

Ganchos na rede Desvios no trafo Derivações

Iluminação Pública

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Figura 3 - Anúncio de profissional que realiza "gato" na rede de distribuição de energia

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Nos dados levantados na pesquisa, apenas seis concessionárias de energia focaram

consideravelmente seus investimentos no combate a perdas comerciais desde 2010. São elas:

Light (RJ), Celpa (PA), Ampla (RJ), Celpe (PE), Coelba (BA) e Escelsa (ES). Até este ano,

não haviam investimentos substanciais nesta área. Somadas, as empresas procuraram investir

de forma crescente até 2015, mas tal ação não resultou em diminuição real das PNT, como

mostrado no Quadro 3 e ilustrado no gráfico 1.

Quadro 3 - Relação das seis concessionárias que mais investiram no combate as PNT desde 2010

Light, Celpa, Ampla, Celpe, Coelba, Escelsa

Ano Investimento Média de PNT

2010 R$ 145.714.285,00 9,35%

2011 R$ 202.649.006,00 9,47%

2012 R$ 139.090.909,00 11,02%

2013 R$ 355.813.953,00 9,84%

2014 R$ 746.341.463,00 9,45%

2015 R$ 976.841.994,00 9,20%

2016 R$ 493.548.387,00 9,26%

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

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Gráfico 1- Representação da relação entre investimento e diminuição de PNT desde 2010

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Segundo a ANEEL (2011)³ a maior parte destes investimentos situa-se na área de

infraestrutura para investigação manual de PNT. O dinheiro é investido na contratação de

recursos, ou seja, profissionais, veículos e ferramentas de trabalho para investigar

manualmente possíveis consumidores irregulares. No entanto, sem o auxílio de um sistema de

monitoramento não é possível direcionar corretamente estes recursos para atuação precisa.

Contudo, as distribuidoras estão iniciando investimentos em soluções inteligentes para

o combate a PNT, como visto na CEEE-D (2017). A concessionária do Rio Grande do Sul

está investindo em monitoramento centralizado para melhorar a precisão e a velocidade na

identificação de possíveis fraudes. Segundo GAUCHAZH (2017), a empresa tem como

objetivo a recuperação de trinta e seis milhões de reais deixados de ser faturados. Este projeto

visa auxiliar diretamente a companhia nesta ação.

2.3 DETECÇÃO DE PNT POR MEIO DE SISTEMAS INTELIGENTES

O desafio técnico se mostra na aplicação de um sistema de controle, monitoramento e

identificação de PNT. Sendo este um assunto mais relevante em países considerados pouco

desenvolvidos ou subdesenvolvidos, não há grande referência de artigos técnicos elaborados

por Universidades ou órgãos pesquisadores de nações desenvolvidas.

Entretanto, países com regulamentações diferentes das brasileiras, mas características

culturais semelhantes também sofrem com furtos e fraudes de energia e contam com

equipamentos de medição de baixa precisão. Segundo LUAN (2015) em seu artigo publicado

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

R$ 0,0

R$ 0,1

R$ 0,2

R$ 0,3

R$ 0,4

R$ 0,5

R$ 0,6

R$ 0,7

R$ 0,8

R$ 0,9

R$ 1,0

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Per

cen

tua

l d

e P

NT

Bil

es d

e re

ais

in

ves

tid

os

Investimento

Média PNT

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12

em parceria com outros dois co-autores em uma conferência internacional de reestruturação

de energia elétrica, uma solução é a adoção de um Sistemas de Supervisão e Aquisição de

Dados (SCADA) para análise inteligente e supervisão do transformadores e medidores dos

consumidores. Entretanto, por questão de infraestrutura instalada, o mesmo se limitava aos

consumidores em Média Tensão (MT).

No Brasil, a concessionária Eletropaulo implementou um sistema semi-automatizado

para cálculo de perdas usando a sua estrutura já instalada. A solução apresentada por MEFFE

(2009) calculava as PTE por segmentos e comparava os dados com curvas características de

consumo de energia nos transformadores de distribuição e com o comportamento da demanda

nos consumidores MT. Entretanto, o “iPertec”, como foi chamado, apresentava duas

restrições: a coleta de dados dos medidores e a posterior inserção de dados no sistema ainda

feitos de forma manual, podendo ocasionar erros na manipulação dos valores. Outra limitação

era que o software, por falta de dados confiáveis, apenas gerava curvas características

genéricas para o fornecimento de energia dos transformadores de distribuição, não levando

em consideração os dados históricos.

É devido a falta de automação dos medidores tarifadores instalados em grande parte

das redes brasileiras que ações rápidas não podem ser tomadas. Os medidores analógicos não

fornecem dados automaticamente, tornando difícil a integração de dados com um sistema de

supervisão. Segundo RAMOS (2014), a adesão de Smart Meters a rede de distribuição

permitirá o envio de dados para um sistema com um período pequeno e pré-determinado, ou

até mesmo o envio constante de dados. O próprio medidor não possui nenhuma inteligência

para reconhecimento de fraudes, mas permite o fornecimento rápido de informações para um

sistema de controle e identificação de perdas, baseado em redes com interligação de

medidores inteligentes (Smart Metering).

Diferentemente do conceito de Smart Grids, no qual há uma intercomunicação entre

os equipamentos instalados na rede para atuação sem a necessidade de comando local, o

Smart Metering tem um custo de implantação mais acessível e uma aplicação mais realista

frente ao cenário brasileiro. Segundo RAMOS (2014), o aumento da eficiência se dá

utilizando análises realizadas com redes neurais artificiais treinadas com padrões de fraude

existentes nas concessionárias.

2.4 IMPLEMENTAÇÃO DE REDES ALTERNATIVAS PARA O COMBATE AS PNT

Segundo o levantamento feito por BORTOLOTTI (2017)², há um parque instalado de

aproximadamente um milhão e oitocentos mil unidades consumidoras que integram algum

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tipo de rede inteligente. Concessionárias como Light (RJ), Coelce (CE), Coelba (BA), Cosern

(RN) e Escelsa (ES) optaram por instalar algum tipo de rede inteligente, como visto nas

Figuras 4 a 6.

Esse tipo de rede é classificado pela tarifação no consumidor final como Sistema de

Medição Centralizada (SMC) ou Sistema de Medição Individualizado (SMI). Em ambos os

casos, o medidor pode possuir um relé com função de corte, ativado remotamente no caso de

não identificação do pagamento da fatura de energia. Para tal, os medidores possuem um

Modulador e demodulador (Modem) de comunicação de curta distância (RF Mesh), formando

uma rede entre eles. Nesta rede há um concentrador que possui comunicação de longa

distância (GPRS/3G) para enviar e receber dados de um servidor da empresa.

Figura 4 - Agrupamento blindado predial (Coelce)

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

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Figura 5 - Rede SMC instalada pela Coelba

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Figura 6 - Instalação dos medidores na rede SMC pela Escelsa

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Outra opção descrita no estudo é a rede invertida, cuja implementação foi realizada em

alguns pontos no Rio de Janeiro constantemente usados por vendedores ambulantes que

alimentavam diretamente do sistema os seus equipamentos de refrigeração. Esta aplicação

inverteu a localização dos cabos de distribuição de MT e de Baixa Tensão (BT) com o intuito

de dificultar o acesso para furtos de energia, como visto na Figura 7.

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Figura 7 - Rede com posicionamento de alta tensão e baixa tensão invertidos

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Para tal solução, no entanto, era gasto um valor alto em projeto e implementação.

Outra opção para lidar com a mesma questão foi o desenvolvimento da rede trezentos volts

(300 V), ilustrada na Figura 8. O transformador de distribuição rebaixava a tensão para 300V,

e em cada unidade consumidora havia um novo rebaixamento para 220 V. Dessa forma os

equipamentos ligados diretamente na rede sofriam sobretensão na alimentação.

Figura 8 - Cabos da rede 300 V e um medidor Elster Dracon instalado no consumidor

Fonte: BORTOLOTTI (2017)²

Entretanto, nenhuma das opções realmente diminuiu o problema de PNT no Brasil,

como comprovado no Gráfico 1. Isso porque as alternativas inibem apenas o furto na rede ou

na unidade consumidora, mas nunca nos dois pontos da rede. Além disso, há a fraude em

medidores, mesmo os inteligentes controlados remotamente. A realidade encontrada pelas

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concessionárias evidencia que existem profissionais trabalhando em novos métodos de

fraudes em medidores. Outro ponto é o alto custo de implementação de cada projeto, pois a

concessionária deve investir em medidores caros ou em uma nova rede de distribuição.

Ao analisar a topologia de rede, os únicos pontos que não apresentavam opção no

mercado para medição pela concessionária são os transformadores de distribuição. Na

subestação há um medidor preciso para verificar a energia fornecida e no ponto de consumo

os medidores individuais de cada cliente. Ambos seguem as especificações da norma segundo

ABNT (2000). No entanto, os transformadores de rede não são medidos pelas distribuidoras

atualmente. Segundo BORTOLOTTI (2017)², no Brasil há uma média de cento e cinquenta

consumidores sendo alimentados por apenas um destes equipamentos. Isso evidencia que a

medição neste ponto pode ser vantajosa por oferecer dados mais precisos para efetuar o

balanço energético e por representar para a concessionária um custo menor por consumidor

para ser investido no combate a PNT. Vale ressaltar que tal alternativa independe do uso de

medidores inteligentes ou SMC para o cliente final.

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3. METODOLOGIA

Frente às soluções estabelecidas e comumente testadas por empresas do setor elétrico,

os objetivos do sistema a ser desenvolvido são a indicação com maior precisão e agilidade dos

pontos de fraude e furto e a diminuição dos custos relativos à infraestrutura de combate as

PNT. Para atingir tais objetivos a solução deve ser baseada em uma plataforma de

monitoramento automatizado do transformador de distribuição.

A concessionária dispõe dos dados de energia da subestação e do consumo de cada

cliente. Opções como redes inteligentes são extremamente caras e solucionam apenas parte

dos tipos de fraudes no sistema, e ainda assim enviam apenas as medições dos consumidores

no final da linha de distribuição de energia. No meio deste caminho estão os transformadores,

os quais hoje não são controlados ou medidos, representando o ponto frágil desta linha.

O sistema proposto pode ser dividido em quatro elementos, os quais compõem uma

solução prática e completa. Na parte mais próxima ao consumidor deve estar localizado o

hardware de medição. É necessário um serviço de comunicação remota para o envio das

grandezas medidas ao servidor, o qual processa esses dados e manipula as variáveis para a

geração de relatórios e para serem mostradas ao usuário da distribuidora, guardando tudo em

um banco de dados.

O processo se inicia com a medição da energia distribuída pelo transformador por

meio de um medidor de grandezas elétricas, o qual envia os dados pelo modem GPRS para um

servidor localizado na concessionária de energia. Neste servidor está instalado o programa de

análise de medições, composto por quatro módulos principais: coletor de dados, serviço de

processamento de dados, banco de dados e interface web. O fluxo de processamento de dados

pode ser visualizado na Figura 9.

Page 18: DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA … · A automatização por meio de um sistema de ... a Figura 1 (rede de subtransmissão, subestação de distribuição, rede primária, transformador

18

Figura 9 - Fluxograma do processamento dos dados medidos na rede de distribuição

Fonte: O autor (2017)

3.1 HARDWARE DE MEDIÇÃO

Esta seção irá descrever os passos necessários para o desenvolvimento do

equipamento de medição. A ordem seguirá conforme indicado no fluxograma de

processamento de dados.

3.1.1 Dados

As grandezas a serem medidas pelo equipamento são a frequência, as correntes e as

tensões de fase e de linha da rede de distribuição. Com estes valores instantâneos é possível

calcular as médias trifásicas e gravar em memória os valores estatísticos de média, máximos e

mínimos por fase. Isso possibilita o cálculo do consumo de energia ativa, essencial para

realizar a comparação com as unidades consumidoras alimentadas pelo transformador de

distribuição.

3.1.2 Medição de Grandezas Elétricas

Para garantir a aquisição das grandezas elétricas é necessário um medidor para

instalação em poste e que disponha de sensores de corrente e de tensão para conectar nas três

fases do secundário do transformador de distribuição. Visto que um consumidor ilegal

conectado a um transformador possa representar um percentual baixíssimo de carga, é

Dados Medição de

grandezas elétrica

Comunicação via GPRS

Coletor de Dados

Serviço de Integração de Dados Banco de Dados

Interface Web Cadastro de

Consumidores

Interface do usuário

Envio de dados

3.1

3.2 3.3

Page 19: DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA … · A automatização por meio de um sistema de ... a Figura 1 (rede de subtransmissão, subestação de distribuição, rede primária, transformador

19

imprescindível que o medidor garanta níveis ótimos de exatidão e precisão, com erros abaixo

de uma unidade percentual para medições de tensão, corrente, potência, consumo, demanda,

energia ativa, reativa e aparente.

Por se tratar de uma rede de distribuição, o método de medição é baseado na descrição

do módulo 5 conforme PRODIST (2016)¹ e indica que as integrações dos dados são feitas a

cada quinze minutos, ou seja, é necessário um valor médio, máximo e mínimo de cada

grandeza a cada quarto de hora. Entretanto, como medida excepcional e sujeita a aprovação

da ANEEL, cada concessionária de energia pode adotar um intervalo de integração de dados

menor ou maior do que o tempo estipulado como padrão na norma.

Para garantir valores mais exatos, o medidor realiza o agrupamento de cálculos de

valor eficaz por ciclo em intervalos de duzentos milissegundos (200 ms), o que representa

doze ciclos na frequência fundamental de sessenta Hertz (60 Hz). Isto especifica que o

equipamento deve agrupar as medições a cada doze ciclos de onda para gerar um valor de

cada grandeza medida a cada duzentos milissegundos. Ao final do ciclo de quinze minutos, só

é guardado em memória e enviado ao servidor o valor máximo e mínimo de todas as

medições realizadas, assim como o valor médio considerando todas as medições dentro deste

intervalo.

A corrente de neutro deve ser calculada por soma vetorial em função das correntes

das fases do sistema. O ângulo das defasagens é obtido a partir do fator de potência. A

frequência deve ser calculada com referência nos ciclos de onda, ou seja, o equipamento deve

medir o tempo de cada ciclo para calcular a frequência, sendo que ela é inicialmente

referenciada no canal A de tensão. Caso ocorra uma interrupção neste, a frequência será

calculada sobre a tensão do canal da fase B e, na falta desta, sobre a tensão do canal C.

Para efeito do cálculo de balanço energético, os consumos de energia ativa, reativa e

aparente são calculados com base nas medições de potência. Estas por sua vez devem ser

baseadas na IEC61557-12 (2007), sendo esta a norma específica para equipamentos de

medição e monitoramento em linhas de até mil volts (1000 Vac). A especificação exigida pela

norma é de que estes equipamentos realizem as medições nos quatro quadrantes

(bidirecional), possibilitando medir tanto em pontos com fluxos de geração ou com consumo

de energia. Para possibilitar a integração da potência no tempo, o equipamento deve contar

com um relógio interno a fim de realizar o cálculo de energia ativa corretamente.

Para a medição de corrente devem ser usados transdutores flexíveis, pois são sensores

não invasivos. Desta forma não é preciso interromper a linha para obter o valor da corrente. A

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20

alimentação do equipamento e o registro da tensão podem ser feitas pela mesma entrada,

podendo receber até trezentos volts (300 V) como nível aceitável em regime permanente.

O invólucro do medidor deve ser preparado para instalação em postes e oferecer grau

de proteção contra a entrada de poeira e contra jatos de água, visto que o mesmo estará sujeito

a condições climáticas adversas. Não é necessária a visualização de dados pelo frontal do

aparelho, pois os dados obtidos serão analisados apenas remotamente.

3.1.3 Comunicação via GPRS

Por segurança, a comunicação deve ser redundante. Ou seja, além da comunicação

remota, via GPRS ou 3G, o equipamento deve dispor de interface para comunicação local. A

memória interna também é considerada, uma vez que uma interrupção na comunicação

remota possa causar a perda de dados no sistema. Dessa forma, a memória interna grava os

dados e, por meio de uma lógica de verificação de status, o equipamento envia as medições

assim que o acesso ao servidor é reestabelecido.

Os dados obtidos da rede devem ser processados pelo medidor e gravados na memória

interna do equipamento. A partir deste ponto, todas as grandezas estão disponíveis para serem

descarregadas localmente via comunicação USB Mini tipo B, ou serem enviadas para o

coletor de dados da concessionária via GSM/GPRS classe B. Como padrão das placas no

mercado nacional para atender todas as operadoras telefônicas, a frequência de operação deve

permitir os serviços em quatro bandas diferentes (quadri-band) em 850 MHz, 900 MHz, 1800

MHz e 1900 MHz.

O protocolo Modbus RTU é ideal para aplicações com modelo mestre/escravo. Para

comunicação entre o software e o hardware, os pacotes Modbus devem ser encapsulados em

uma conexão TCP entre o modem do medidor e o servidor do sistema. Por padrão são

executadas sete funções para leitura. Para cada byte de dados, são enviados 10 bits (8 de

leitura, 1 de início e 1 de encerramento de leitura) e a comunicação serial pode ser

parametrizada com o envio de 9.600, 19.200 ou 38.400 bits por segundo.

3.2 SISTEMA DE COLETA, PROCESSAMENTO E VISUALIZAÇÃO DE DADOS

Esta seção irá descrever os passos necessários para o desenvolvimento do sistema de

coleta, processamento e visualização das medições. A ordem seguirá conforme indicado no

fluxograma de processamento de dados.

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21

3.2.1 Coletor de dados

A infraestrutura de rede na qual o servidor é instalado pertence à distribuidora de

energia, e por questões de privacidade e segurança o coletor de dados deve ser projetado em

dois módulos. Um deles é o principal coletor do sistema e o outro é o módulo de comunicação

TCP, o qual deve trabalhar com o número de portas correspondentes ao número de medidores

instalados em campo para comunicar com os mesmos, não necessitando assim a abertura de

múltiplas portas no firewall da infraestrutura de rede da concessionária. Conforme ilustrado

na Figura 10, o módulo de comunicação TCP fica localizado na zona desmilitarizada (DMZ).

Figura 10 - Topologia do coletor de dados do sistema

Fonte: O autor (2017)

3.2.2 Serviço de integração e processamento de dados

O serviço de integração de dados representa a inteligência central da solução. Nele

deve ser gerenciada a comunicação entre o coletor, o banco de dados e a interface com o

usuário, além de gerenciar os cadastros de novos equipamentos. Para a implementação desse

componente é utilizado como facilitador o ambiente WCF (Windows Communication

Foundation) para a criação de um serviço de comunicação que realiza a interface entre todos

os componentes virtuais do sistema de forma bidirecional.

Isto significa que a interface web pode enviar e receber comandos para o coletor de

dados via o serviço de integração, e ambos podem enviar informações para serem gravadas no

banco de dados. Em suma, todos os comandos do coletor, do banco e da interface web são

gerenciados por este serviço. A sua implementação é simples, pois a própria Microsoft

oferece a ferramenta pronta para integração deste tipo de sistema.

Sistema Coletor de Dados

Servidor do Coletor de Dados

Módulo de comunicação TCP

(DMZ)

Infraestrutura interna

da concessionária

DMZ

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22

3.2.3 Banco de dados

O banco de dados do sistema é o responsável por armazenar todas as variáveis

medidas e calculadas, a data e hora de cada medição, o status do equipamento, as condições

dos pontos de medição e as parametrizações de cada equipamento. O emprego de plataformas

gratuitas, como o MySQL, garante a estabilidade e a total integração com o sistema.

3.2.4 Interface Web

A interface com o usuário é representada por um aplicativo web instalado no servidor

da concessionária e que pode ser acessado remotamente por meio do navegador. Como uma

ferramenta de consulta de supervisão web, a mesma é dividida em dois módulos de

programação. A parte gráfica, de visualização ao usuário, é programada em linguagem

HTML.

O outro módulo de programação é desenvolvido em linguagem C Sharp (C#) e é o

ambiente no qual os dados medidos e enviados pelo equipamento instalado na rede de

distribuição são validados, assim como é realizado o cálculo de balanço energético para a

verificação de PNT. Para especificação do cálculo é necessário antes validar o algoritmo por

meio da simulação de uma rede de distribuição como exemplo, ilustrada na Figura 11.

Figura 11 - Nós de medição em uma simulação de uma rede de distribuição

C N

a

b

Transformador de

Distribuição

Fonte: O autor (2017)

Consumidor

Primário 2

Consumidor

Primário n

Consumidor

Secundário 2

Consumidor

Secundário 1

A

B

d c

Dado obtido por meio de um sistema terceiro da concessionária de energia

Dado medido

Transformador

Alimentador

Consumidor

Primário 1

Consumidor

Secundário n

n

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23

Essa rede simula a aplicação real e classifica os nós de acordo com a tensão de

distribuição (BT ou MT). Todos serão visualizados e considerados no cálculo de balanço

energético. Entretanto, os nós da MT são medidos usando equipamentos e sistemas próprios

da concessionária, e as grandezas de consumo de energia ativa, reativa e aparente são

enviadas ao sistema em desenvolvimento. Os nós da BT dos consumidores finais são obtidos

pelos medidores residenciais, os seus dados são inseridos em um sistema próprio da

concessionária e, assim como as medições da MT, enviados ao banco de dados do sistema em

desenvolvimento. O hardware descrito na seção anterior é o responsável por medir um

determinado segmento da rede e da energia injetada pelo transformador de distribuição.

A cada nó foi atribuído uma nomenclatura para fins de exemplificação do cálculo. É

imprescindível que todos os equipamentos de medição tenham seus relógios sincronizados. O

sistema tolera uma diferença de até trinta segundos (30 s) entre os medidores. Por meio da

interface web, o usuário dispara uma mensagem de radiodifusão (broadcast) para os

analisadores iniciarem os registros. Quando iniciada a comunicação com o sistema, é testada

por meio de um algoritmo a validação dos valores. Isso indica que as medições somente serão

registradas no intervalo de quinze minutos, conforme PRODIST (2016)¹, após o sistema

estabelecer a comunicação com todos os equipamentos. Este intervalo pode sofrer alterações

de acordo com a política da concessionária.

Uma vez validadas todas as leituras, o sistema deve aceitar a falha de comunicação

com um medidor sem interromper o cálculo de balanço energético. Por meio de um algoritmo

de alarme, deve ser indicada a falha de comunicação na interface ao usuário. A partir da

validação dos dados de entrada, é iniciado o algoritmo do cálculo de balanço energético. Esse

cálculo indica a diferença entre a energia alimentada em um segmento e a soma das energias

fornecidas a todos os pontos intermediários desse segmento, descontando as PTE do

transformador e das unidades consumidoras.

Para o cálculo de consumo de cada nó, a potência medida por meio do equipamento

instalado é integrada no tempo, conforme a Equação (1). Essa medida é a base para

determinar a energia fornecida pelo transformador de distribuição (no exemplo é representada

pelo ponto ‘a’), a energia em um determinado ponto estratégico na linha de distribuição

(ponto ‘b’) e também verificar quaisquer usuários ilegais que possam estar furtando energia

passante em um segmento ou que não estejam cadastrados pela concessionária (no exemplo é

representado pelo segmento que vai do ponto ‘a’ ao nó ‘b’). Ao verificar uma divergência

maior do que a PTE indicada pela distribuidora neste segmento, o sistema deve calcular a

PNT, (descrita na sequencia) e gerar um alarme na interface web.

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24

(1)

Onde:

E = energia elétrica [kWh];

= potência instantânea [kW];

= intervalo de tempo em horas [h].

Baseando-se no PRODIST (2014)², é definido que o percentual de perdas na

distribuição (PPD) é o resultado da diferença entre um valor unitário e a relação entre a

energia injetada (no exemplo é igual a soma dos consumidores finais ‘c’ até ‘n’) e a fornecida,

como descrito na Equação (2).

(2)

Onde:

PPD = percentual de perdas na distribuição [%];

i = índice da unidade consumidora;

c = unidade consumidora c;

n = unidade consumidora n;

= energia na unidade consumidora i [kWh];

E = energia elétrica total do segmento [kWh].

As PTE de cada segmento e de cada consumidor são determinadas ou estimadas pela

distribuidora conforme o PRODIST (2014)², e são cadastradas no sistema manualmente pelo

corpo técnico da concessionária. Sendo assim, o percentual de PTE (PPTE) é calculado como

indicado na Equação (3).

(3)

Onde:

PPTE = percentual de perdas técnicas [%];

i = índice do ponto de medição;

b = unidade consumidora b;

n = unidade consumidora n;

= perdas técnicas no ponto i [kWh];

E = energia elétrica total do segmento [kWh].

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25

Logo, o percentual de PNT (PPNT) é calculado conforme a Equação (4). O valor real

de PNT ( ) é calculado e verificado conforme a Equação (5).

(4)

Onde:

PPNT = percentual de perdas não técnicas [%];

PPD = percentual de perdas na distribuição [%];

PPTE = percentual de perdas técnicas [%].

(5)

Onde:

= perdas não técnicas de energia [kWh];

E = energia elétrica total do segmento [kWh];

i = índice do ponto de medição;

c = unidade consumidora c;

n = unidade consumidora n;

= energia elétrica no ponto i [kWh];

= percentual de perdas técnicas no ponto i [kWh];

Após a aquisição dos dados por parte do sistema, validação das medições e cálculo do

balanço energético, é realizado o armazenamento dos valores. Cada registro deve conter o

instante de tempo da medição, a energia fornecida e a injetada (considerando as PTE). Estes

registros podem ser acessados por meio do aplicativo web e servem para compor a curva

característica de cada consumidor e de cada transformador de distribuição.

3.3 CADASTRO DE CONSUMIDORES

A área de inspeção da concessionária necessita do correto cadastramento das unidades

consumidoras vinculadas a cada transformador de distribuição. Por meio da interface web do

sistema, o técnico deve cadastrar manualmente cada unidade consumidora atrelando-a ao seu

transformador de distribuição.

Visando a rápida instalação em poste, os sensores do equipamento não são invasivos e

o técnico pode testar a comunicação com o servidor do sistema no momento que o medidor é

alimentado. Na própria interface web, por meio de programação HTML, é feita uma área para

cadastro de transformadores de distribuição e de unidades consumidoras, permitindo ao

técnico cadastrar corretamente de acordo com a topologia real da rede de distribuição. A

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26

Figura 12 ilustra de forma lúdica o cenário da rede de distribuição com a instalação do

medidor em poste.

Figura 12 - Conceito da interface web para cadastramento de unidades consumidoras

Fonte: O autor (2017)

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27

4. APLICAÇÃO

Como já mencionado, este projeto é fruto de um desenvolvimento entre as empresas

IMS Soluções em Energia e a CEEE-D. Para atender os requisitos propostos no projeto, foi

desenvolvido um analisador de grandezas elétricas chamado de P-600B e um sistema de

aquisição e processamento de dados chamado Power MANAGER WEB (PMWEB). A

aplicação da metodologia e os resultados encontrados em um ambiente real serão descritos

seguindo o fluxograma da Figura 9.

Para certificar a metodologia proposta, foi elaborada uma estrutura de testes para a

validação da solução. Antes da aplicação em campo por parte do cliente, a empresa deve

comprovar a homologação do sistema. Dessa forma, uma topologia de rede foi criada,

conforme a Figura 13, com a presença de um transformador cujo secundário fornece tensão a

220 V, três consumidores iniciais representados cada um por um medidor e um consumidor

que simulará um furto de energia diretamente da rede de distribuição representado por outro

medidor.

Figura 13 - Topologia de rede para teste e homologação do sistema

Fonte: IMS (2017)

Foram realizados 353 registros no total do teste com intervalos de 5 minutos. O tempo

total foi de 1.765 minutos ininterruptos. Para avaliar a entrada de um consumidor irregular, o

teste foi dividido em dois momentos. No primeiro momento (intervalo ), apenas estavam

presentes os três consumidores registrados, com o consumo representado no Quadro 4, sendo

a chave da rede para o quarto consumidor aberta. Tal situação foi repetida por 87 registros.

No segundo momento (intervalo ) a chave para o quarto consumidor foi fechada

para conectá-lo a rede e simular um furto de energia. Os valores configurados para os

medidores e o cálculo de PPNT para a rede são representados no Quadro 5.

Transformador de Distribuição

Consumidor 1 Consumidor 2 Consumidor 3

Consumidor 4 (furto de energia)

P-600B

Medidor 1

Medidor 2 Medidor 3

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Quadro 4 - Relação de medidores no intervalo

Intervalo

(266 medições) Medidor 1 Medidor 2 Medidor 3

Medidor 4

(não

registrado)

Medição no

Transformador

(P-600B)

Corrente de

consumo 30 A 20 A 30 A 0 A 82 A

PPTE 0,454 % 0,909 % 0,454 % 0 % 0,568 %

(calculado)

PTE 30 W 40 W 30 W 0 W 100 W

(calculado)

Tensão de

alimentação 219 V 218 V 219 V 0 V 220 V

Potência

instantânea 6.570 W 4.360 W 6.570 W 0 W 18.040 W

PPNT -- -- -- -- 2,439 %

(calculado)

PNT -- -- -- -- 440 W

(calculado)

Fonte: IMS (2017)

Quadro 5 - Relação de medidores no intervalo

Intervalo

(87 medições) Medidor 1 Medidor 2 Medidor 3

Medidor 4

(não

registrado)

Medição no

Transformador

(P-600B)

Corrente de

consumo 30 A 20 A 30 A 18 A 100 A

PPTE 0,454 % 0,909 % 0,454 % -- 0,568 %

(calculado)

PTE 30 W 40 W 30 W -- 100 W

(calculado)

Tensão de

alimentação 219 V 218 V 219 V -- 220 V

Potência

instantânea 6.570 W 4.360 W 6.570 W -- 22.000 W

PPNT -- -- -- -- 20,00 %

(calculado)

PNT -- -- -- -- 4.400 W

(calculado)

Fonte: IMS (2017)

4.1 HARDWARE DE MEDIÇÃO

Esta seção irá descrever a aplicação no desenvolvimento do equipamento de medição.

A ordem seguirá conforme indicado no fluxograma de processamento de dados.

4.1.1 Dados

Com o intuito de atender a metodologia proposta, o equipamento mede frequência,

tensão (de linha e de fase) e corrente eficaz real (valor True RMS). Estas grandezas permitem

o cálculo de fator de potência, demanda, consumo de energia e potência nos quatro

quadrantes, possibilitando obter estas grandezas em valores reativos e indutivos.

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29

4.1.2 Medição de Grandezas Elétricas

O projeto do hardware de medição usou como base um analisador de grandezas

elétricas da empresa IMS, apresentando uma placa de medição projetada para atendimento à

precisão nas medições de tensão, corrente e frequência e, por consequência, nos cálculos de

potência e fator de potência conforme Quadro 6:

Quadro 6 - Relação de precisão do equipamento de medição

Grandeza Precisão

Frequência

Tensão

Corrente

Potência

Fator de Potência

Fonte: IMS (2017)

Os quatro cabos de tensão servem para medição e alimentação do aparelho nas três

fases e no neutro. Ao conectar um dos cabos em uma fase com tensão mínima de alimentação

(70 Vca) o equipamento é ligado. Os sensores apresentam faixa de medição de tensão de fase

entre 50 V e 289 V (ou 500 V tensão de linha). Para assegurar o contato ao ponto de medição

na rede são usadas garras do tipo jacaré, específicas para conexão na rede e, por isso, não

ilustradas na Figura 14, a qual mostra a ligação do equipamento na rede de teste.

Figura 14 - Ligação através dos sensores para alimentação e medição de tensão

Fonte: IMS (2017)

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30

Os sensores de corrente flexíveis não invasivos são baseados no princípio de Bobina

de Rogowski e medem até 500 Ampères (de 0,1 A até 500 A), sendo ilustrados na Figura 15.

A escolha em desenvolver estes transdutores é devida a sua característica de fácil instalação,

linearidade em toda a faixa de medição e por fornecerem um sinal de saída em tensão, o que

aumenta a segurança do operador no caso de uma conexão malsucedida na instalação deste

dispositivo.

Ao passar um fio condutor pela bobina, a corrente elétrica a ser medida no condutor

produz um campo magnético que induz uma diferença de potencial entre os seus terminais.

Logo, o circuito de medição do equipamento é responsável pela amplificação deste valor,

filtro do sinal e por converter no valor correspondente em corrente.

Figura 15 - Sensores não invasivos para medição de corrente

Fonte: IMS (2017)

O equipamento é capaz de medir e processar 128 amostras por ciclo de onda, gerando

128 valores de frequência, corrente e tensão a cada duzentos milissegundos (200 ms) à

frequência de sessenta Hertz (60 Hz). No entanto, o registro destes valores é parametrizável

até trinta minutos (30 min). Ou seja, o aparelho mede constantemente 128 vezes a cada ciclo

de onda, mas apenas registra em sua memória os valores a cada intervalo de tempo

configurado (200 ms; 1 s; 30 s; 1 min; 5 min; 10 min; 15 min; 30 min;). O padrão usado pela

concessionária nas medições de consumo é de quinze minutos (15 min). Para amostragem no

tempo conforme especificada, é usado um conversor de 24 bits.

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O medidor apresentou todos os registros em testes de calibração, obedecendo aos

limites de precisão projetados. O máximo erro percentual em relação aos valores padrões de

potência foi de 0,13%. No anexo 1 é ilustrado o certificado de calibração com todos os

valores encontrados durantes os testes.

4.1.3 Comunicação via GPRS

A placa de comunicação desenvolvida adota o protocolo Modbus RTU e permite a

troca de dados simultânea entre as interfaces USB mini tipo B e via GPRS. Os pacotes de

dados foram enviados do equipamento até o servidor de teste com sucesso, e não houve

nenhuma perda nos 353 registros do teste.

4.2 SISTEMA DE COLETA, PROCESSAMENTO E VISUALIZAÇÃO DE DADOS

Esta seção irá descrever a aplicação no desenvolvimento do sistema de coleta,

processamento e visualização das medições. A ordem seguirá conforme indicado no

fluxograma de processamento de dados.

4.2.1 Coletor de dados

O sistema desenvolvido foi instalado em um servidor da empresa IMS. Para validação,

a comunicação via GPRS foi testada, apesar de a estrutura montada para o teste de validação e

o servidor estarem geograficamente próximos. Assim como na aplicação em uma

concessionária de energia, apenas o coletor de dados teve sua comunicação aberta na rede.

Mesmo sendo testada a comunicação com apenas um medidor, o servidor do coletor de dados

foi instalado de forma a permanecer protegido na infraestrutura de rede interna da empresa,

com o intuito de simular a aplicação real do sistema em distribuidoras de energia. Não houve

atrasos no recebimento e coleta das informações, assim como não foi perdido nenhum pacote

de dados no teste.

4.2.2 Serviço de integração e processamento de dados

O Framework utilizado foi desenvolvido pela Microsoft e é próprio para aplicações

deste tipo. Por se tratar de uma ferramenta de integração, o ambiente WCF foi usado para a

comunicação entre o coletor, o banco de dados e a interface web. Não houve perdas de dados

entre os serviços durante o teste.

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4.2.3 Banco de dados

O sistema de gerenciamento de banco de dados utilizado foi o MyS QL, utilizando para

programação a interface de linguagem unificada para bancos de dados SQL. As tabelas

criadas são responsáveis por armazenar todas as informações de medições, parametrizações

do equipamento, status de comunicação, status do medidor e pontos cadastrados.

Para teste da ferramenta, foram incluídos manualmente dados do transformador de

distribuição que representaram dez meses de medição contínua. Com estes dados registrados,

foi possível testar as consultas de medições passadas no sistema. Estas retornaram todos os

dados solicitados, conforme exemplo de consulta de histórico do medidor na Figura 16.

Figura 16 - Consulta do histórico de medições do medidor utilizado no teste via Interface web

Fonte: IMS (2017)

4.2.4 Interface Web

A criação da interface com o usuário foi programada na linguagem HTML, como

exemplo na Figura 17, e teve como objetivo ser clara e intuitiva ao usuário da concessionária

que irá operá-la. A tela inicial do programa chamado de PMWEB é ilustrada na Figura 18 e

foi desenvolvida com o intuito de resumir as informações ao usuário.

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Figura 17 - Programação HTML para criação da interface web

Fonte: IMS (2017)

Figura 18 - Página inicial do PMWEB

Fonte: IMS (2017)

Para realização dos algoritmos de cálculo de balanço energético foi usado o ambiente

de programação próprio da IMS em liguagem C#. A validação dos dados pode ser feita com o

cruzamento dos valores de PPNT reais do sistema simulado e os apresentados pelo software.

O Quadro 7 apresenta as diferenças entre o consumo total de cada ponto e o Quadro 8

apresenta as diferenças entre os valores de PNT.

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Quadro 7 - Diferença entre os valores de consumo calculados e os apresentados pelo sistema

Consumo de energia Medidor 1 Medidor 2 Medidor 3

Medição no

transformador

(P-600B)

(calculado manualmente) 142,90 kWh 94,83 kWh 142,90 kWh 392,28 kWh

(sistema PMWEB) 143,24 kWh 95,06 kWh 143,24 kWh 393,32 kWh

(calculado manualmente) 436,91 kWh 289,94 kWh 436,91 kWh 1463,00 kWh

(sistema PMWEB) 437,98 kWh 290,65 kWh 437,98 kWh 1466,59 kWh

Fonte: IMS (2017)

Quadro 8 - Diferença entre os valores de PNT e PPNT calculados e os apresentados pelo sistema

PPNT e PNT Intervalo Intervalo

(calculado manualmente) 9,50 kWh 292,65 kWh

(sistema PMWEB) 9,61 kWh 293,36 kWh

(calculado manualmente) 2,42 % 20,00 %

(sistema PMWEB) 2,44 % 20,00 %

Fonte: IMS (2017)

O sistema PMWEB permitiu ao usuário a identificação de irregularidades na rede

através do cálculo de PNT no ponto que alimenta o segmento de distribuição. Como validação

da interface, a Figura 19 ilustra os valores medidos e calculados pelo equipamento presente no

secundário do transformador de distribuição nos intervalos e .

Figura 19 - Agregação de energia fornecida pelo transformador no (a) intervalo e (b) intervalo

(a) (b)

Fonte: IMS (2017)

4.3 CADASTRO DE CONSUMIDORES

A interface para cadastro de consumidores e a tela para acompanhamento do nível de

PNT são ilustradas por meio das Figuras 20 e 21, respectivamente. Ao usuário da

concessionária de energia é permitido o cadastro de novas unidades consumidoras atrelando-

as ao transformador de distribuição correspondente. A nomenclatura deve seguir o padrão da

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concessionária, pois os dados de consumo são obtidos por meio de um sistema próprio da

distribuidora e enviados ao PMWEB. Logo, o cadastro com nome incorreto de um medidor

impossibilita que o banco de dados identifique a sua medição proveniente do sistema terceiro.

Figura 20 - Tela para cadastro de unidades consumidoras no PMWEB

Fonte: IMS (2017)

Figura 21 - Tela para acompanhamento das medições do segmento de distribuição no PMWEB

Fonte: IMS (2017)

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5. CONCLUSÃO

Este artigo apresentou o desenvolvimento do PMWEB, um sistema de combate a PNT

na rede de distribuição. Como observado na aplicação da metodologia, a solução facilita a

identificação de segmentos de rede com perdas provenientes de fraude ou furto de energia.

Ao analisar os valores totais de PNT obtidos no software são encontradas diferenças

de 0,001% nos intervalos e . Como não houve falhas na comunicação ou interrupção de

medições no teste, a diferença percentual é possivelmente consequência da forma de

arredondamento no algoritmo do software ou variação nos valores medidos e nos reais. Por se

tratar de uma diferença mínima e bem abaixo dos limites de precisão do medidor, pode-se

desconsiderar este erro.

A solução permite à concessionária diminuir o tempo para identificação de furtos ou

fraudes, além de minimizar o tempo da logística de inspeção para investigar e testar o local

suspeito. Não obstante, permite a distribuidora analisar todos os seus transformadores de

distribuição simultaneamente e ininterruptamente, possibilitando o cálculo de balanço

energético ao integrar os dados de consumo em um só sistema.

A metodologia propõe à distribuidora a regularização de consumidores, maior

faturamento sobre a energia fornecida, diminuição ou eliminação do reajuste de tarifas para

compensar as PNT. As concessionárias também podem utilizar este sistema para aperfeiçoar o

seu processo, aumentar a sua receita e se adequarem ao módulo 7 do PRODIST (2014)².

Por meio da pesquisa conduzida pelo autor em conjunto com BORTOLOTTI (2017)²,

a solução proposta oferece um baixo custo de investimento por unidade consumidora. Em

média no Brasil, há 150 consumidores para cada transformador de distribuição. Ao investir

em uma solução para medição inteligente ou remota no cliente final, é gasto em média (com

base nos valores de mercado) cerca de R$ 1.500,00 por unidade consumidora. Ao investir em

um sistema como o desenvolvido neste trabalho, este custo diminui para cerca de R$ 20,00.

Com a validação da solução, o PMWEB está sendo implementado em uma

distribuidora do Rio Grande do Sul, a CEEE-D, para auxiliá-la a diminuir seu nível de PNT.

No total estão sendo fornecidos 3.800 analisadores para medição dos transformadores de

distribuição para permitir integrar a rede da região metropolitana de Porto Alegre. O sistema

já está em funcionamento e auxiliará a empresa a reverter o prejuízo causado pelas PNT,

conforme CEEE-D (2017) e GAÚCHAZH (2017).

Como ilustrado na Figura 22, já estão sendo instalados medidores em pontos

escolhidos pela empresa desde Outubro de 2017. A expectativa é de colher resultados

financeiros significativos a partir segundo semestre de 2018. O uso dos resultados

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apresentados pelo sistema em funcionamento não foi autorizado para divulgação neste artigo

pela CEEE.

Figura 22 - Instalação de um P-600B em um transformador de distribuição no bairro Cidade Baixa

Fonte: IMS (2017)

5.1 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Visando a melhoria e o desenvolvimento contínuo do sistema, os próximos desafios

consistem na inserção de novas variáveis para aprimoramento do cálculo de balanço

energético, validação para o uso conjunto com redes inteligentes ao comunicar-se diretamente

com as unidades consumidoras e a implementação da lógica para classificação de energia

consumida pela iluminação pública. Além disso, é objetivo futuro desenvolver uma lógica que

permita analisar o perfil de carga de cada unidade consumidora, ou seja, sua curva

característica, para identificar de forma automática quaisquer alterações no perfil de consumo

deste cliente.

Por se basear em um analisador de energia elétrica, o hardware permitirá, em um

terceiro momento, a evolução do sistema para medir distorções harmônicas da rede e

fenômenos da qualidade de energia como interrupções, afundamentos, elevações e flutuação

de tensão. Tais dados possibilitarão a concessionária se adequar ao módulo 8 do PRODIST

(2015)³ agindo preditivamente e minimizando ações judiciais de clientes alimentados com

baixa qualidade da energia.

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REFERÊNCIAS

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ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Perdas regulatórias estabelecidas para as

distribuidoras, 2017. Disponível em:< http://www.aneel.gov.br/metodologia-distribuicao/-

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BORTOLOTTI, Franco. Perdas Comerciais de energia no Brasil. IMS. Porto Alegre. 2017.²

CEEE-D (CEEE Distribuição). CEEE investe em tecnologia para reduzir perdas no sistema,

2017. Disponível em:< http://www.ceee.com.br/pportal/ceee/Component/

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Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE). Curitiba. 2017.

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energia. Disponível em:< https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/

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energia-9791802.html > Último acesso em 09 de Outubro de 2017. LUAN, Wenpeng. Energy Theft Detection via Integrated Distribution State Estimation

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Deregulation and Restructuring and Power Technologies. Changsha, China. 2015.

MEFFE, Alexandre. Cálculo das Perdas Técnicas de Energia e Demanda por Segmento do

Sistema de Distribuição. XIV Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica. Foz

do Iguaçu. 2000.¹

MEFFE, Alexandre. Pertec – Cálculo de Perdas Técnicas por Segmento do Sistema de

Distribuição com Inclusão das Perdas não Técnicas a partir de Medições nas Subestações.

Seminário Internacional Sobre Gestão de Perdas, Eficiência Energética e Proteção da

Receita no Setor Elétrico. Rio de Janeiro. 2009.²

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PENIN, Carlos Alexandre de Sousa. Combate, Prevenção e Otimização das Perdas

Comerciais de Energia Elétrica. Tese de Doutorado da Escola Politécnica da Universidade

de São Paulo. São Paulo. 2008.

PRODIST - Módulo 5 – Sistemas de Medição. Procedimentos de Distribuição de Energia

Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – Módulo 5. Agência Nacional de Energia Elétrica,

2016. Disponível em:< http://www.aneel.gov.br/modulo-5 > Último acesso em 08 de

Novembro de 2017.¹

PRODIST - Módulo 7 – Cálculo de Perdas na Distribuição. Procedimentos de Distribuição

de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – Módulo 7. Agência Nacional de Energia

Elétrica, 2014. Disponível em:< http://www.aneel.gov.br/modulo-7 > Último acesso em 07

de Novembro de 2017.²

PRODIST - Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica. Procedimentos de Distribuição de

Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – Módulo 8. Agência Nacional de Energia

Elétrica, 2015. Disponível em:< http://www.aneel.gov.br/modulo-8 > Último acesso em 07

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RAMOS, Caio César Oba. Caracterização de Perdas Comerciais em Sistemas de Energia

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VIDINICH, Ricardo. Pesquisa e desenvolvimento contra o furto de energia. Revista

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ANEXOS

Anexo 1 - Certificado de calibração do medidor utilizando Omicron CMC 256 PLUS

Fonte: IMS (2017)