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Desenvolvimento de uma Metodologia para a Adequação Ambiental de Centrais Hidrelétricas quanto ao Nível de Ruído Sonoro Universidade Federal de Engenharia de Itajubá - UNIFEI Av. Benedito Pereira dos Santos, 1303 Bairro: Pinheirinho CEP 37500-903 – Itajubá – Minas Gerais E-mails: [email protected] [email protected] RESUMO O parque energético brasileiro é constituído principalmente por Pequenas Centrais Hidrelétricas que aproveitam a energia da água dos rios para a geração de eletricidade. Desde a sua concepção, o licenciamento ambiental das mesmas representa o mais importante critério para garantir a implantação das mesmas. Todavia, após sua entrada em operação, podem aparecer problemas associados com a poluição sonora devido aos níveis de ruído produzidos pelos grupos turbina e geradores na casa de máquinas, que podem comprometer a qualidade de vida nos núcleos de ocupação humana no meio rural. Neste trabalho, mostra-se que existe a necessidade para efetuar estudos no que se refere à implantação de unidades de geração de energia quanto aos níveis de ruído gerados, avaliando-os segundo a legislação federal. Realiza-se medições de ruído no sítio da PCH Luiz Dias, pertencente ao campus da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI. ABSTRACT The Brazilian energetic park is constituted mainly by Small Power Plants that use the energy of water from the rivers for the electricity generation. Since your conception, the environmental licensing of the same represents the most important criterion to guarantee the implantation. However, after your input in operation, can appear problems with the sonorous pollution due to the noise levels produced by the turbine-generators groups in engine room, which can pledge life quality in the cores of human in the country occupation. In this work, it shows that there is the need to make studies with regard to the implantation of energy generation units in relation to the levels of generated noise, evaluating them according to the Federal Legislation. It accomplishes noise mensurations in the ranch of SHP Luiz Dias, belonging to the campus of the Federal University of Engineering of Itajubá - UNIFEI. INTRODUÇÃO De toda a energia elétrica consumida no Brasil, cerca de 68 GW de potência elétrica instalada, mais de 90 % é de origem Hidráulica, que corresponde a 8% de toda a água doce existente no planeta, concentrando-se nos rios e lagos, cujo potencial energético estimado é de 269 GW. Grande parte desta energia é transportada para todo o território nacional pelas linhas de transmissão de eletricidade, cuja extensão atual é, aproximadamente, de 70.000 km em tensões superiores a 230 kV. Todavia, no meio rural nem todas as regiões são atendidas pela rede elétrica com tensões até 13,8 kV, devido ao custo de sua implantação ser proibitivo para as pequenas comunidades rurais. Marco Aurelio Rodrígues de Paula Harley Souza Alencar Exdras Deivys Alves Moura

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Desenvolvimento de uma Metodologia para a Adequação Ambiental deCentrais Hidrelétricas quanto ao Nível de Ruído Sonoro

Universidade Federal de Engenharia de Itajubá - UNIFEIAv. Benedito Pereira dos Santos, 1303 Bairro: Pinheirinho

CEP 37500-903 – Itajubá – Minas GeraisE-mails: [email protected] [email protected]

RESUMO

O parque energético brasileiro é constituídoprincipalmente por Pequenas Centrais Hidrelétricasque aproveitam a energia da água dos rios para ageração de eletricidade. Desde a sua concepção, olicenciamento ambiental das mesmas representa omais importante critério para garantir a implantaçãodas mesmas. Todavia, após sua entrada em operação,podem aparecer problemas associados com a poluiçãosonora devido aos níveis de ruído produzidos pelosgrupos turbina e geradores na casa de máquinas, quepodem comprometer a qualidade de vida nos núcleosde ocupação humana no meio rural.

Neste trabalho, mostra-se que existe anecessidade para efetuar estudos no que se refere àimplantação de unidades de geração de energia quantoaos níveis de ruído gerados, avaliando-os segundo alegislação federal. Realiza-se medições de ruído nosítio da PCH Luiz Dias, pertencente ao campus daUniversidade Federal de Itajubá - UNIFEI.

ABSTRACT

The Brazilian energetic park is constitutedmainly by Small Power Plants that use the energy ofwater from the rivers for the electricity generation.Since your conception, the environmental licensing ofthe same represents the most important criterion toguarantee the implantation. However, after your inputin operation, can appear problems with the sonorous

pollution due to the noise levels produced by theturbine-generators groups in engine room, which canpledge life quality in the cores of human in thecountry occupation.

In this work, it shows that there is the needto make studies with regard to the implantation ofenergy generation units in relation to the levels ofgenerated noise, evaluating them according to theFederal Legislation. It accomplishes noisemensurations in the ranch of SHP Luiz Dias,belonging to the campus of the Federal University ofEngineering of Itajubá - UNIFEI.

INTRODUÇÃO

De toda a energia elétrica consumida noBrasil, cerca de 68 GW de potência elétricainstalada, mais de 90 % é de origem Hidráulica, quecorresponde a 8% de toda a água doce existente noplaneta, concentrando-se nos rios e lagos, cujopotencial energético estimado é de 269 GW.

Grande parte desta energia é transportadapara todo o território nacional pelas linhas detransmissão de eletricidade, cuja extensão atual é,aproximadamente, de 70.000 km em tensõessuperiores a 230 kV. Todavia, no meio rural nemtodas as regiões são atendidas pela rede elétrica comtensões até 13,8 kV, devido ao custo de suaimplantação ser proibitivo para as pequenascomunidades rurais.

Marco Aurelio Rodrígues de Paula Harley Souza Alencar Exdras Deivys Alves Moura

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Após a captação, a água é transportadaatravés de canais e tubos até a Casa de Máquinas,onde se realiza a transformação da energia hidráulicaem energia elétrica. Este processo de transformação éefetuado por máquinas conhecidas por turbinas egeradores elétricos, os quais podem apresentarproblemas de poluição sonora devido aos níveis deruído e vibração mecânica consideráveis, contribuindopara o aumento da degradação ambiental e aconseqüente diminuição da qualidade de vida dapopulação local.

Outro aspecto igualmente importante é aassociação dos níveis de ruído como frutos dasmetamorfoses que o ambiente construído, seja nascidades, seja nos campos, vem sofrendo com oprogresso e a evolução das grandes cidades.

Diversas fontes de poluição consideradassubproduto do desenvolvimento tecnológico têmcontribuído para a degradação ambiental. Desta forma,os núcleos de ocupação humana são expostos, emmuitas circunstâncias, a condições de desconforto,baixa qualidade de vida com complicações inclusivena saúde humana.

Desta forma, obedecendo a resolução no. 6 doCONAMA, de 16 de setembro de 1987, queestabelece regras para o licenciamento ambiental paraobras de geração hidrelétrica e a resolução no. 1 doCONAMA, 1990, que estabelece os limites para aemissão de ruído, este trabalho objetiva estabeleceruma metodologia para o levantamento dos níveis deruído e vibração em centrais hidrelétricas compotências até 3 MW, bem como, conhecer a extensãode alcance dos efeitos da poluição sonora em relaçãoaos núcleos de ocupação humana, como por exemplo,residências e fábricas. Para isso, realiza-se umalocalização piloto dos níveis de ruído a partir domapeamento sonoro do ruído emitido nas imediaçõesdas casas de máquinas.

OS PEQUENOS APROVEITAMENTOSHIDRELÉTRICOS

Os pequenos aproveitamentos hidrelétricossão unidades de geração capazes de transformar aenergia hidráulica em energia elétrica. São formadasbasicamente de um sistema de captação e transportede água, bem como, de um sistema responsável pelaconversão energética.

O primeiro e o segundo sistema constituem-se pelo reservatório, barragem, canal ou tubo deadução, câmara de carga e conduto forçado. Aconversão energética é efetuada na Casa de Máquinas,onde existem máquinas capazes de transformar aenergia hidráulica em energia mecânica, as turbinashidráulicas, e transformar a energia mecânica emenergia elétrica, os geradores.

Após a geração, a eletricidade é conduzidaatravés de fios condutores até uma subestação, ondesairá em direção aos centros consumidores através daslinhas de transmissão.

Estes aproveitamentos representam aprincipal fonte energética no Brasil, fornecendo maisde 90 % da energia consumida no pais, como émostrado na tabela 1, comparando a participação dosetor hidrelétrico em relação às demais fontesenergéticas.

Tabela 1 – Capacidade instalada por tipo de geração, ANEEL(2001)

Observa-se da tabela 1 que mais de 95 % doparque gerador de eletricidade, com capacidade totalde 72208 MW, é formado por hidrelétricas, sendoaproximadamente de 2 % a contribuição dastermelétricas. Nota-se que a contribuição, devido àscentrais eólicas e nucleares, é muito pequena.

Além disso, de toda a energia elétrica geradaestá localizada em rios, os quais correspondem a 8%de toda a água doce existente no planeta, cujopotencial energético estimado é de 269 GW.

De acordo com os últimos levantamentosrealizados pela Agência Nacional de EnergiaElétrica – ANEEL, existem mais do que 1200pequenos aproveitamentos hidrelétricos, sendo quemais de 300 são Pequenas Centrais Hidrelétricas emoperação, totalizando mais de 650 MW de potênciaelétrica instalada.

Estas Pequenas Centrais Hidrelétricaspodem estar em sistemas isolados ou interligadosatravés de linhas de transmissão do Norte ao Sul doBrasil, ultrapassando a marca dos 70.000 km deextensão com tensão de 230 kV, segundo oOperador Nacional do Sistema – ONS.

Diz-se que um aproveitamento hidrelétricoé uma Pequena Central quando possue potênciaelétrica instalada entre 1 e 30 MW e um reservatóriocom área alagada até 3 km2, segundo a ResoluçãoANEEL Nº 394, de 4 de dezembro de 1998.

Em Souza (1992) e Eletrobrás (2000)efetua-se uma análise detalhada sobre osprocedimentos de planejamento, projeto eimplantação de pequenos aproveitamentoshidrelétricos. Alguns aspectos quanto as tecnologias

TipoCapacidade

MW %Eólica 19 0,03

Termelétrica 1485 2,06Hidrelétricas 68738 95,19

Nuclear 1966 2,72

TOTAL 72208 100

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relevantes e disponíveis no Brasil para os estudos,projetos e construção de PCHs são tambémapresentados de forma sintética por Aurélio et al.(2002).

Qualquer que seja a importância do projetodo empreendimento hidrelétrico é necessário levantartrês elementos fundamentais: (a) o recurso hidráulicodisponível; (b) a forma para o transporte de energiaelétrica; e (c) o destino da energia.

O primeiro elemento refere-se adeterminação do altura de queda e da quantidade deágua existentes no curso d´água no local. O segundoelemento relaciona-se ao custo para instalação delinhas de transmissão. E o terceiro elemento estaassociado ao tipo de consumidor de eletricidade.

Uma vez concebido o projeto da centralhidrelétrica, existem outros critérios relevantes para aautorização do funcionamento da mesma

Quanto aos aspectos do processo de outorgapara autorização e registro de Pequenas CentraisHidrelétricas junto a ANEEL, Lago e Nóbrega (2001)também realizam uma análise sucinta sobre osprincipais benefícios ofertados pelo Governo Federalde forma a melhorar a atratividade econômica dasmesmas, por exemplo, a criação do ProgramaNacional de Pequenas Hidrelétricas – PNCE.

Por outro lado, considerando os aspectos deimpacto ambiental dos pequenos empreendimentoshidrelétricos, pode-se destacar a resolução no. 6 doCONAMA, de 16 de setembro de 1987, queestabelece regras para o licenciamento ambiental paraobras de geração hidrelétrica e a resolução no. 1 doCONAMA, 1990, que estabelece os limites para aemissão de ruído.

Por estas resoluções, faz-se necessáriolevantar o nível e ruído sonoro periodicamente nasimediações da casa de máquinas da PCH construída, afim de verificar a extensão de alcance dos efeitos dapoluição sonora em relação aos núcleos de ocupaçãohumana, por exemplo, residências e fábricas.

A CENTRAL HIDRELÉTRICA LUIZ DIAS

A Central Luis Dias foi concebida em 1908,pelo o então Capitão Luis Dias, diretor da CompanhiaIndustrial Sul Mineira e vice-presidente da Câmara deVereadores de Itajubá, no rio São Lourenço Velho,para atender a demanda de indústria têxtil domunicípio e das cidades circunvizinhas. Os primeirosequipamentos -- geradores, turbinas -- foramadquiridos na Alemanha.

Em 11 de Setembro de 1914, inaugurou-se aprimeira etapa da Usina Lourenço Velho. Eram duasunidades de 900 kVA, que abasteciam as cidades deDelfim Moreira, Itajubá, Maria da Fé, Pedralva e odistrito de Piranguinho. Estava inaugurada aCompanhia Industrial Força e Luz. Em 1927 entrouem operação o terceiro grupo gerador, também de 900kVA.

Em 1942, a Central do Lourenço Velho foiadquirida pela Companhia Sul Mineira deEletricidade (CSME), que passou a denominá-la deUsina Luis Dias. Em 1969, a Central Luis Diaspassou a ser administrada pela CompanhiaEnergética de Minas Gerais (CEMIG), que amanteve em operação até 12 de março de 1993.Nesse mesmo ano, iniciou-se negociações entre aEFEI, a CEMIG e a Prefeitura Municipal de Itajubá,para a celebração de um convênio entre CEMIG ePrefeitura, que abriu possibilidades para a EFEIaproveitar as potencialidades hidro-energéticasoferecidas pelo sítio hidrológico da Central LuisDias.

Em 21 de junho de 1994, através de umconvênio a central luiz dias passa formalmente àcompetência administrativa da efei.

A Central Luiz Dias está localizada no rioLourenço Velho, na sub-bacia hidrográfica do rioSapucaí, bacia do Rio Grande, no município deItajubá, a 18 km do Campus Universitário daUNIFEI. O acesso a ela se dá no quilômetro 8 daRodovia Itajubá-Maria da Fé, num trajeto de 4 kmem estrada de terra.

A central é classificada de desvio: tem 2,43MW de potência instalada e um pequenoreservatório de pedras argamassadas, dotado de duascomportas ao fundo, com 5 m de altura e 43 m decomprimento e um vertedouro com 36 m decomprimento. O canal de adução em concretoarmado tem 360 m de extensão.

As duas tubulações forçadas possuemdiâmetro de 1,40 m, feitas em aço carbono rebitado,com 23 m de comprimento, dotadas, cada uma, deválvulas borboletas e grades na câmara de carga.

Na figura 1 é apresentado um mapadigitalizado do local do empreendimentohidrelétrico, destacando a estrutura civil da barragem(ponto vermelho), o acesso por estrada de terra ealgumas residências. As linhas de nível apresentamalturas variando de 20 m.

A casa de máquinas é constituída emalvenaria, abriga três grupos geradores, compotência de 810 kW cada. As turbinas são do tipoFrancis dupla, com eixo horizontal, fabricadas pelaAMME Giesecke, operam a uma vazão de 3,75 m3/s,28 m de queda e 720 rpm.

Os geradores com 900 kVA de potêncianominal são dotados de excitatrizes e foramfabricados pela ESD para trabalhar a uma freqüênciade 50 Hz, 600 rpm, 4000 V e fatores de potência 0,9.Em 1969, a freqüência e a rotação foram alteradaspara 60 Hz e 720 rpm, respectivamente. Além destesequipamentos, a casa de máquinas abriga os quadrosde comando e controle, a subestação, uma ponterolante manual e um trole para movimentação dostransformadores.

A figura 2 apresenta uma visão geral dacasa de máquinas dentro do empreendimentohidrelétrico e a figura 3 mostra uma visão interna da

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casa de máquinas, destacando o posicionamento dosgrupos hidrogeradores.

Além da casa de máquinas, a Usina Luiz Diastem uma vila de operadores com sete edificações:cinco residências, uma escola e um pequeno depósitode ferramentas próximo à barragem.

Figura 1 – Mapa digital do local da PCH Luis Dias. O ponto vermelho assinala a posição da barragem. CartaIBGE – Itajubá; Folha SF 23 – Y – B – III – 3; MI 271 – 143. Escala 1 : 5000

Figura 2 – Casa de máquinas da Central Luiz Dias

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(a) Vista superior dos grupos hidrogeradores (b) Vista da turbina Francis do grupo gerador 3Figura 3 – Disposição dos grupos hidrogeradores

ASPECTOS DA POLUIÇÃO SONORA

A poluição sonora é um problema de grandeimportância econômica na sociedade moderna. Assim,quando o nível de ruído em instituições de ensino ouambientes de trabalho é alto o suficiente para interferirna comunicação, perdas econômicas são computadas.Indenizações envolvendo grandes valores, nos casosde perda permanente da audição são pedidas portrabalhadores na justiça, Harris (1991).

Outro aspecto da importância econômica doruído está relacionado com o valor de propriedades.Por exemplo, o ruído de operação de um espaço aéreoou de uma indústria pode influenciar o valor da terrana região lindeira. Por razões econômicas, umconsiderável esforço tem sido feito pela industria paradesenvolver produtos silenciosos e, no mundo dosnegócios, para atingir condições de silêncio emescritórios e fábricas, Pimentel (2002).

Infelizmente, a maioria das máquinasdesenvolvidas com propósito industrial, paratransporte, ou para fazer a vida mais agradávelfornecendo conforto adicional, reduzindo o trabalho, eaumentando a velocidade na realização de nossastarefas diárias para providenciar horas adicionais delazer, são acompanhadas de ruído, Lago (2001).

Visto que o ruído pode afetar o ser humanode diversas maneiras; audição, habilidade decomunicação e comportamento, o controle torna-setremendamente importante dos pontos de vistaseconômico e de saúde. O controle de ruído éigualmente significante porque pode fazer do mundoum lugar mais agradável para se viver, Lago (2001).

Além disso, nos núcleos de ocupaçãohumana, sobretudo para quem trabalha e/ou habita nascidades, vive-se o dia-a-dia agitado, exposto a altosníveis de ruído, na maior parte dos casos muitosuperiores ao recomendado. Estas fontes de ruídoestão ligadas tanto ao progresso tecnológico como aoshábitos de vida e lazer modernos, Valadares (1998).

Aliás, este problema parece tornar-se cadavez mais abrangente, visto que lugares outrorasossegados, tornaram-se zonas de altos níveis de ruído

e cada vez se torna mais difícil encontrar um localrealmente silencioso. Embora o grau desensibilidade varie com as características individuaise dependa do tipo de sociedade em que cada cidadãoesta inserido, o certo é que o agravamento dasituação começa a suscitar preocupaçõesgeneralizadas.

Mas, afinal, porque é que o ruído pode serprejudicial à saúde?

No que tange ao sistema nervoso, sonsacima dos 65 dB podem contribuir para aumentar oscasos de insônia, comportamento agressivo eirritabilidade, entre outros. Níveis superiores a 75 dBpodem gerar problemas de surdez e provocarhipertensão arterial.

As tabelas 1 e 2 mostram alguns níveis deruído e suas conseqüências na saúde humana. Atabela 2, em particular, mostra o nível de pressãosonora em um espectro largo de freqüência, ABNTNBR 10151 (1989) e ABNT NBR 10152 (1989).

Tabela 1- Alguns níveis de ruído comuns

Descrição Nível Sonoro(dBA)

Limiar de dor 120Discoteca, volume alto, 110Broca pneumática a dois metros 105Ambiente industrial ruidoso 90Piano a um metro 80Carro quieto que passa a dois metros 70Conversação normal 60Ruído de centros urbanos (noturno) 50Dentro de quarto (dia) 40Dentro de quarto (noite) 30Estúdio gravação 20Quarto com bom isolamento sonoro 10Limiar ouvindo a um kHz 0

Tabela 2 – Níveis de ruído e efeitos na saúde

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Pressãosonora

Descrição

150 dB Causa perda de audiçãoinstantaneamente.

120 dB Fisicamente doloroso e deve ser evitado.100 dB Curtos períodos de exposição causam um

deslocamento temporário do limiar deaudição, e a exposição mais prolongadapode causar danos irreparáveis nosórgãos auditivos.

90 dB Longos períodos de exposição a estenível normalmente causam perdapermanente de audição.

65 dB Longos períodos de exposição causamcansaço mental e físico.

O que pode-se fazer para melhorar asituação?

Enquanto medidas mais efetivas não foremtomadas ao nível do tráfego, da construção, doplanejamento urbano e do ruído ambiente em geral,caberá à sociedade fazer o possível para minimizar talproblema.

Com o objetivo de regulamentar quais asações que devem ser tomadas por parte do governo eda população para que o artigo 225 da Constituiçãoseja respeitada o Conselho Nacional do MeioAmbiente – CONAMA estabeleceu as resoluçõesnúmeros 1 e 2, na área de poluição sonora. Uma partedessas resoluções foi publicada no Diário Oficial daUnião em abril de 1990 e definem as seguintesquestões. A resolução nº1 de 8 de março de 1990estabelece normas a serem obedecidas, no interesse dasaúde, no tocante a emissão de ruídos em decorrênciade quaisquer atividades.

A resolução determina critérios, padrões ediretrizes a serem seguidos no interesse da saúde e dointeresse público. As normas da Associação Brasileirade Normas Técnicas – ABNT, NBR 10151 –Avaliação do ruído em áreas habitadas visando oconforto da comunidade e 10152 – Níveis de ruídopara conforto acústico são citadas para que sejamutilizadas como referência quanto aos níveis de ruídoque devem ser utilizados como limites e como devemser feitas as medições desses ruídos. A resoluçãoestabelece, também, dentre outras coisas, que asentidades e órgãos públicos são os responsáveis pelapreservação da saúde e do sossego público.

A NBR 10151 – Avaliação do conforto emáreas habitadas visando o conforto da comunidade –tem dentre seus objetivos determinar condições limitesde ruído em comunidades, estabelecendo métodosmedição dos ruídos, além de apresentar as correçõesque devem ser feitas aos níveis medidos em condiçõesespeciais ambientais. Todas as medições apresentadaspor esta norma serão feitas utilizando a escala decompensação A.

De acordo com a NBR 10151, os níveis deruído não devem ser superiores 40 dB(A) no períododiurno e a 35 dB(A) no período noturno para áreas de

sítios e fazendas, ou superiores 50 dB(A) no períododiurno e a 45 dB(A) no período noturno para áreasestritamente residencial urbana.

Quanto ao tempo de exposição ao ruído noambiente de trabalho temos a NR-15 que estabelecepara uma jornada de 8h o nível máximo de 85 dB(A)sendo o tempo diminuído à metade cada vez que onível de ruído aumenta de 5 dB(A), por exemplo 4 hpara 90 dB(A).

METODOLOGIA DE MEDIÇÃO

Com o objetivo de se avaliar as condiçõesoperacionais quanto aos níveis de ruído gerados etambém fazer o levantamento da área de impacto dapoluição sonora provenientes de uma PCH em umaregião com características predominantementerurais, figuras 4 e 5, foram realizadas medições de

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ruído no interior da sala de máquinas, na sala dosoperadores e na região lindeira da usina para avaliaçãoda poluição sonora no local.

É avaliado neste trabalho a condição para ooperador bem como o ruído ambiente proveniente dasatividades de geração de energia das turbinas egeradores da PCH, figura 6.

Foi utilizado um medidor de nível de pressãosonora para obtenção dos valores dos níveis depressão sonora, com os quais foram calculados osníveis de ruído equivalente contínuo, LAeq, de formagerar o mapa sonoro da Figura 7 que apresenta a áreade maior impacto do ruído proveniente da PCH LuisDias.

Figura 4 – Região próxima ao sítio da PCH Luiz Dias

Figura 5 – Região ao redor da PCH Luiz Dias

Figura 6 – Dependências da sala do operador na PCH Luis Dias.

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

LA e q

Figura 7 - Mapa sonoro da região lindeira da PCH Luis Dias.

RESULTADOS OBTIDOS

Pode-se observar que os níveis de ruídoapresentam valores superiores aos limitesestabelecidos pela legislação Federal na região daPCH. Observa-se que a área de impacto abrange umavasta área ultrapassando a área de avaliação. Se forobservado a lei do inverso quadrado estima-se que aárea de impacto esteja dentro de um raio de 500 mpara se chegar à um nível abaixo de 35 dB(A).

Na área de avaliação, boa parte do ruído dasala de máquinas da PCH, onde o nível é de 95 dB(A),é transmitido através de janelas e portas quepermanecem constantemente abertas e mesmo quando

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fechadas provêem baixo isolamento sonoro. O projetoadequado de janelas e portas ou ainda o uso debarreiras acústicas deve ser então observado para amitigação do ruído visando reduzir os níveis de ruídoaos limites da legislação.

O nível de ruído na sala de operadores, 68dB(A), está de acordo com a legislação trabalhista queestabelece o nível de 85 dB(A) para uma jornada de 8horas. Pode-se observar pela Figura 8 que para atingireste nível foi necessário dentre outros procedimentos ouso de porta dupla para isolar o ruído da casa demáquinas.

Figura 8 – Porta dupla entre a sala de máquinas e a sala dosoperadores

A área de medição de ruído ficou limitada àdistância de aproximadamente 150 m quando o nívelde ruído proveniente da sala de máquinas atingevalores próximos ao ruído ambiente de50 dB(A). Nas condições ambientes, observou-se queo nível de ruído é caracterizado pela existência dequedas d´água pertencentes ao Rio Lourenço Velho,como mostra a figura 9.

Figura 9 – Queda d´água nas imediações da barragem

CONCLUSÕES

O trabalho mostra a necessidade de maioratenção no que se refere à implantação de unidades degeração de energia no que se refere aos níveis de ruídogerados nas mesmas.

Normalmente pequenas centrais hidrelétricassão implantadas em regiões de sítios e fazendas ondeos limites para os níveis de ruído estabelecidos nalegislação federal são mais rigorosos, necessitando umestudo quanto ao controle do ruído no local.

PALAVRAS CHAVE

Mapeamento Sonoro, Microcentrais Hidrelétricas,Meio Ambiente e Qualidade de Vida.

AGRADECIMENTOS

Aos engenheiros e técnicos responsáveispela operação da Pequena Central Hidrelétrica LuizDias, com especial menção ao Prof. Dr. Geraldo L.Tiago Filho, coordenador-geral do Centro Nacionalde Referência em Pequenos AproveitamentosHidrelétricos.

REFERÊNCIAS

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[5] MME/DNAEE/ELETROBRÁS. Manual dePequenas Centrais Hidrelétricas. Brasília, DF,1982;

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[8] ABNT – Associação Brasileira de NormasTécnicas, 1989. Avaliação do ruído em áreashabitadas visando o conforto da comunidade.NBR 10151. Rio de Janeiro.

[9] ABNT – Associação Brasileira de NormasTécnicas, 1989. Níveis de ruído para confortoacústico. NBR 10152. Rio de Janeiro.

[10] VALADARES, Victor Mourthé, BARBOSA,Heloísa Maria, 1998. Adequação ambiental decorredores de transporte urbano quanto àpoluição sonora através de técnicas de moderaçãode tráfego, III Encontro Ibero-Americano deUnidades Ambientais do Setor Transportes.

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[11] PIMENTEL, Fernando Souza, ALVARES, PedroAlcântara de Souza. A poluição sonora em BeloHorizonte. www.icb.ufmg.br/lpf/2-2.html.

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[13] HARRIS, Cyril M., 1991. Handbook ofAcoustical Measurements and Noise Control.

[14] SOUNDPLAN. Users Manual, Cap. 6 pag. 64-74