Desenvolvimento Economico

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NALI DE JESUS SOUZA

DESENVOLVIMENTO ECONMICO

Captulos complementares ao livro Desenvolvimento Econmico

MATERIAL DE SITE

SO PAULO EDITORA ATLAS S.A. 2005

SUMRIO1 Indicadores de desenvolvimento econmico 2 Estrangulamento externo da economia brasileira 3 Modelos neoclssicos de crescimento econmico 4 Crescimento econmico da Rssia, Mxico e Brasil 5 Desenvolvimento de outros pases: Frana, Alemanha, Itlia, Portugal, Canad e Austrlia 6 Desenvolvimento segundo Stuart Mill e Alfred Marshall 7 Pensamento econmico brasileiro 8 Globalizao e liberalizao da economia mundial 9 Teoria dos plos de crescimento de Franois Perroux 10 Setores-chave da economia brasileira 11 Integrao regional e Mercosul 12 Inovaes tecnolgicas na agricultura

1

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO1SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econmico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005. Em meados dos anos de 1990, Hirschman constatou na Amrica Latina o surgimento de uma nova conscincia acerca do desenvolvimento. Entre 1950/1981, o PIB da regio foi multiplicado por cinco, em termos reais, e o crescimento da renda per capita acompanhou o crescimento demogrfico (2,7%), passando de US$ 420 para US$ 960, a preos de 1970. Os indicadores sociais da regio melhoraram no perodo: a vida mdia passou de 50 para 65 anos; a taxa de mortalidade infantil reduziu-se de 130 por mil para 50 por mil; a educao primria universalizou-se; a taxa de natalidade reduziu-se de 4,5% para 3%, em funo do uso generalizado de anticoncepcionais, sobretudo pelas classes mdia e rica. Ele concluiu que os indicadores sociais esto melhorando, apesar do crescimento da dvida externa e da inflao. A melhoria desses indicadores depende tanto da educao e da conscientizao social dos governantes, como do aumento da renda per capita (Hirschman, 1996, p. 881-890). Esse mesmo fenmeno parece estar ocorrendo em nvel mundial. Entre 1990/1999, o valor agregado pela indstria, como percentual do PIB, reduziu-se de 31% para 30% nas economias de baixa renda e de 39% para 36% nos pases de renda mdia. Ao mesmo tempo, entre 1980/1998, a taxa de mortalidade de menores de cinco anos reduziu-se nesses pases, respectivamente, de 177 por mil nascidos vivos para 107 por mil, e de 79 por mil para 38 por mil. Melhoria similar ocorreu no nmero de matrculas nas escolas primrias e secundrias (Banco Mundial, 2003).

1 Correlao entre indicadores de desenvolvimento O crescimento da renda, varivel fundamental do desenvolvimento, no se explica apenas pelo emprego de mais capital ou de mais trabalho. A educao geral e a educao feminina apresentam correlao positiva e significativa com o crescimento da renda (Tabela 1). No se observa correlao significativa entre crescimento da renda e nveis de liberdades polticas e individuais; no entanto, verifica-se correlao positiva de certa magnitude entre esta ltima varivel e o declnio da mortalidade infantil, nvel de educao em geral e educao feminina, tanto em termos absolutos1

Esta uma verso ampliada da seo 1.3 do livro Desenvolvimento Econmico (Souza, 2005).

como em termos de variao. Maior liberdade pessoal significa imprensa livre e debate pblico aberto, o que certamente tem influncia sobre indicadores de bem-estar. Indiretamente, no entanto, a varivel no econmica liberdades polticas e individuais influencia o crescimento da renda, pois as variveis educacionais, absolutas e relativas, correlacionam-se com o crescimento da renda. A varivel declnio da mortalidade infantil correlaciona-se positivamente, na ordem, com o nvel de educao feminina, nvel de educao em geral, liberdades polticas e individuais e variao na educao feminina. Outro estudo do Banco Mundial (1991), envolvendo pases selecionados no perodo de 1960/1987, concluiu que maior nvel de educao feminina (me, avs, tias, irms) reduz a taxa de mortalidade infantil. Se as mes passam a amamentar os recmnascidos no peito, a esterilizar a mamadeira e a aplicar soro caseiro, certamente muitas doenas podero ser evitadas.

Tabela 1 Matriz de correlao para medies do desenvolvimento mundial, 1973/1987. CresciDeclnio Variao Variao Variao da Nvel de mento da da mortada da defasagem entre educao Indicadores de renda lidade educaeducaeducao em geral desenvolvimento Infantil o em o masculina/ geral feminina feminina Crescimento da renda 1,00 0,30 0,23 0,31 0,42 0,12* Declnio da mortalidade infantil 1,00 0,27 0,41 0,29 0,67 Variao da educao geral 1,00 0,92 -0,18* 0,30 Variao da educao feminina 1,00 0,22 0,52 Var. defasagem entre educ. masc./feminina 1,00 0,55 Nvel da educao em geral 1,00 Nvel da educao feminina Liberdades polticas e individuais

Nvel de Liberdades educao polticas e feminina individuais 0,37 0,71 0,25 0,48 0,56 0,98 1,00 0,19* 0,59 0,32* 0,28 0,39 0,57 0,63 1,00

Fonte: Banco Mundial (1991, p. 57). Nota: Amostra de 68 economias. Os coeficientes de correlao so significativos pelo menos a 10%, salvo os com asterisco.

Tendo em vista que o desenvolvimento econmico definido pelo aumento contnuo dos nveis de vida, incluindo maior consumo de produtos e de servios bsicos para o conjunto da populao, apenas o valor da renda per capita insuficiente para refletir corretamente os diferenciais de desenvolvimento entre pases ou regies. Torna-se necessrio, portanto, considerar indicadores adicionais que possam refletir melhorias sociais e econmicas, como mais alimentao, melhor atendimento mdico e odontolgico, educao mais qualificada, mais segurana e melhor qualidade do meio ambiente. Medidas destinadas a reduzir a pobreza podem ser indispensveis quando forem grandes a concentrao da renda e o contingente de pessoas carentes. Nem sempre maior nvel de renda significa melhores ndices de desenvolvimento. Determinados indicadores, como mortalidade infantil, nmero de matrculas escolares, igualdade dos sexos na educao e liberdades polticas apresentam uma correlao imperfeita com a renda per capita. Contudo, a distribuio direta de renda atravs de programas de sade, educao e alimentao da populao mais pobre indispensvel para a melhoria dos indicadores de desenvolvimento.2 2 Indicadores econmicos globais do desenvolvimento mundial Nas ltimas dcadas, percebe-se uma melhoria dos indicadores econmicos e sociais em todo o mundo, com certa redistribuio de renda entre os pases. Entre 1980/1993, a taxa mdia de crescimento anual do PNB per capita foi de 3,7% em economias de baixa renda, de apenas 0,2% nas economias de renda mdia e de 2,2% nas economias de alta renda. Nesse perodo, o crescimento mdio anual do investimento interno bruto nessas economias foi, respectivamente, de 6,1%, 1,3% e 3,4%. O crescimento demogrfico nas economias mais pobres, no entanto, apresentou-se de modo mais acelerado no perodo (2%), sendo amplamente compensado pelo ritmo da formao de capital (Banco Mundial, 1991 e 1995). Da mesma forma, alguns indicadores mostram que o nvel de vida vem aumentaNdo em nvel mundial. Entre 1988 e 1993, a expectativa de vida elevou-se de 60 para 62 anos nos pases pobres, de 66 para 68 nas economias de renda mdia e de 76 para 77 nos pases ricos. No perodo de 1985 a 1990, o analfabetismo entre adultos reduziu-se de 44% para 41% nos pases pobres, de 26% para 17% nas economias de renda mdia e de 24% para 14% nas economias de renda mdia alta. Entre 1970 e 1998, a taxa de mortalidade infantil por mil nascidos vivos reduziu-se2

O Programa Nacional da Bolsa-Escola foi criado em 2001 para atender s famlias com renda per capita mensal de at R$ 90, com crianas de 6 a 15 anos que estiverem freqentando o Ensino Fundamental. O programa consiste em repassar a essas famlias R$ 15 por criana na escola, at o limite de R$ 45 por famlia. A cada trs meses, a freqncia das crianas na escola avaliada e o programa renovado ou suspenso. O Governo Lula lanou em janeiro de 2003 o Programa Fome-Zero, para as pessoas carentes, sendo financiado com recursos pblicos e por doaes da comunidade.

substancialmente. Assim, nos anos de 1970, 1980 e 1998, essas taxas caram, respectivamente, de 108 para 97 e 68 nos pases pobres, de 74 para 60 e 31 nas economias de renda mdia e de 19 para 12 e 6 nos pases ricos (Banco Mundial, 1990, 1995 e 2003).3 Tradicionalmente, a renda per capita tem sido usada como o principal indicador de desenvolvimento. um indicador importante; porm, como mdia, camufla a distribuio de renda, no refletindo o nvel de bem-estar da populao de baixa renda, que pode ser bastante numerosa. Economias com renda muito concentrada, como a dos pases exportadores de petrleo do Oriente Mdio, possuem altas rendas per capita. Existe nesses pases, porm, um nmero reduzido de pessoas ricas, com a maioria da populao vivendo na misria. Na Tabela 2 (coluna 1), observa-se que o PIB per capita (ponderado pela paridade do poder de compra de cada pas), correspondente a 2001, variava de US$ 470 em Serra Leoa, o pas mais pobre do mundo, a US$ 34.320 nos Estados Unidos, o pas mais rico e poderoso. Serra Leoa o pas com o menor ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), segundo o PNUD (0,275), apresentando a mais alta taxa de mortalidade infantil (182 mortes por mil nascidos vivos) e a menor mdia de vida (34,5 anos).4 Em 2001, o PIB per capita dos pases de baixa renda foi de US$ 2.230, grupo no qual se incluem a ndia (US$ 2.840) e o Paquisto (US$ 1.890), entre outros pases. No grupo das naes de renda mdia baixa (US$ 4.674), aparecem o Egito (US$ 3.520), o Paraguai (US$ 5.210) e a Turquia (US$ 5.890). O Brasil (US$ 7.360) encontra-se entre as economias com renda mdia alta (US$ 11.377), juntamente com o Mxico (US$ 8.430) e a Argentina (US$ 11.320). Entre os pases de alta renda (US$ 26.989), incluem-se Estados Unidos (US$ 34.320) e a maioria dos pases europeus. Em 2001, o PNB mdio mundial foi igual a US$ 7.376. Os pases com as maiores taxas de crescimento anual do PIB per capita, entre 1990/2001, foram China (8,8%) e Coria do Sul (4,7%). Nesse mesmo perodo, o PIB per capita se reduziu em alguns pases, como Serra Leoa (6,6%) e Federao Russa (3,5%). No Brasil, ele ainda aumentou 1,4% no perodo, sendo bastante baixo seu crescimento na frica do Sul (0,2%), pas que ainda tem graves problemas raciais, e na Sua (0,3%), provavelmente por ter chegado a alto nvel de desenvolvimento.3

Em 1993, a expectativa de vida ao nascer, no Brasil, chegava a 67 anos. Em 1970, esse valor era igual a 54 anos nas cidades e 53 anos no campo. No meio urbano, o ndice variava de 44 anos no Nordeste Central a 61 anos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No meio rural, a expectativa de vida era ligeiramente superior na maioria das regies. A vida mdia era crescente, tambm, com o nvel de renda em todas as regies. A mdia brasileira no meio urbano alcanava 46 anos nos estratos mais pobres, subindo a 53, 57 e a 62 anos nos estratos de renda mais elevada (Fava, 1984, p. 139). 4 Pas africano com 71.740 km2 e 4,8 milhes de habitantes em 2002. A extrao de diamantes a principal atividade econmica do pas. A guerra civil da dcada de 1990, cuja paz ocorreu em 2001, matou mais de 30 mil pessoas.

Tabela 2 Indicadores selecionados do desenvolvimento mundial (continua)AMOSTRA DE PASES POR NVEIS DE RENDA (Y) I BAIXA RENDA 1. Serra Leoa 2. Etipia 3. Moambique 4. Paquisto 5. Angola 6. Bolvia 7. ndia II Y MDIA BAIXA 8. Egito 9. Filipinas 10. China 11. Peru 12. Paraguai 13. Venezuela 14. Turquia III Y MDIA ALTA 15. Federao Russa 16. Brasil 17. Uruguai 18. Mxico 19. Chile 20. frica do Sul 21. Argentina 22. Coria do Sul 23. Grcia 24. Portugal 3) Taxa 4) Taxa 5) Taxa de 6) Expec7) Gasto 8) Despesas 9) Taxa de 10) A-cesso 11) Acesso a 2)Taxa 1) PIB per mdia de mdia de mor-talidade tativa de pblico com com sade alfabetizaa sanea- gua tratada mdia de capita vida ao educao (% (dlares PPC o (15 anos mento (%, 2000) (dlares crescimento crescimento crescimento infantil (por anual da mil nascidos nascer (anos do PNB, per capita, e mais, %, melhorado PPC 2001) anual do PIB anual do PNB (%, populao vivos, 2001) de vida, 1998/2000) 2001) (%, 2000) per capita 2000) (1990/ 2001) (%,1990/ 1998/1999) 1999) 2001) 1,36 63,0 44 76 2.230 1,6 4,4 2,0 127 59,1 3,35 470 2,4 182 34,5 1,0 24 36,0 66 57 6,6 8,1 810 2,4 7,4 2,8 116 45,7 4,8 14 40,3 12 24 1.140 4,3 8,6 2,2 125 39,2 2,4 30 45,2 43 57 1.890 1,2 3,6 2,5 84 60,4 1,8 76 44,0 62 90 2.040 1,1 35,5 3,2 154 40,2 2,7 52 42,0 44 38 2.300 1,4 2,2 2,4 60 63,3 5,5 145 86,0 70 83 2.840 4,0 6,9 1,8 67 63,3 4,1 71 58,0 28 84 1,6b 3,3 1,1 31b 69,2b 3,5e 3,0f 86,6b 60b 82b 4.674a 143 56,1 98 97 3.520 2,5 5,7 1,9 35 68,3 4,85 3.840 1,0 3,6 2,3 29 69,5 4,2 167 95,1 83 86 4.020 8,8 7,2 1,1 31 70,6 2,1 205 85,8 40 75 4.570 2,4 3,4 1,7 30 69,4 3,3 238 90,2 71 80 5.210 0,6 1,5 2,7 26 70,5 5,0 323 93,5 94 78 280 92,8 68 83 5.670 0,6 6,8 2,2 19 73,5 5,2e 5.890 1,7 6,4 1,5 36 70,1 3,5 315 85,5 90 82 1,6b 2,0 1,4 31b 69,2b 5,0e 3,3f 86,6b 60b 82b 11.377a 7.100 7.360 8.400 8.430 9.190 11.290 11.320 15.090 17.440 18.150 3,5 1,4 2,1 1,5 4,7 0,2 2,3 4,7 2,0 2,6 1,3 2,0 3,4 4,1 1,4 0,8 2,9 11,0 3,3 3,1 0,1 1,4 0,7 1,8 1,5 2,0 1,3 1,0 0,4 0,1 29 31 14 24 10 56 16 5 5 5 66,6 67,8 75,0 73,1 75,8 50,9 73,9 75,2 78,1 75,9 4,4 4,7 2,8 4,4 4,2 5,5 4,0 3,8 3,8 5,8 405 631 1.007 477 697 663 1.091 899 1.349 1.397 99,6 87,3 97,6 91,4 95,9 85,6 96,9 97,9 97,3 92,5 76 94 74 96 87 80c 63 100 100 99 87 98 88 93 86 65d 92 82d

AMOSTRA DE PASES POR NVEIS DE RENDA (Y) IV ALTA RENDA 25. Espanha 26. Frana 27. Reino Unido 28. Sucia 29. Itlia 30. Japo 31. Alemanha 32. Canad 33. Sua 34. Noruega 35. EUA MUNDO

3) Taxa 4) Taxa 5) Taxa de 6) Expec7) Gasto 8) Despesas 9) Taxa de 10) A-cesso 11) Acesso a 2) Taxa 1) PIB per mdia de mortalidade tativa de pblico com com sade alfabetizaa sanea- gua tratada mdia de mdia de capita vida ao educao (% (dlares PPC o (15 anos mento (%, 2000) (dlares crescimento crescimento crescimento infantil (por anual da mil nascidos nascer (anos do PNB, per capita, e mais, %, melhorado PPC 2001) anual do PIB anual do populao vivos, 2001) de vida, 1998/2000) 2001) (%, 2000) PNB (%, per capita 2000) (1990/ 2001) (%,1990/ 1998/1999) 1999) 2001) 26.989 2,1 2,6 0,6 5 78,1 5,4e 6,2f 99,0 100 100 20.150 2,2 3,7 0,2 4 79,1 4,5 1.547 97,7 100 100 23.990 1,5 2,4 0,5 4 78,7 5,8 2.380 99,0 100 100 24.160 2,5 1,7 0,3 6 77,9 4,5 1.804 99,0 100 100 24.180 1,7 3,9 0,4 3 79,9 7,8 2.101 99,0 100 100 24.670 1,4 1,0 0,2 4 78,6 4,5 2.028 98,5 100 100 25.130 1,0 1,0 0,3 3 81,3 3,5 2.009 99,0 100 100 25.350 1,2 1,2 0,4 4 78,0 4,6 2.768 99,0 100 100 27.130 2,1 3,8 1,1 5 79,2 5,5 2.534 99,0 100 100 28.100 0,3 1,4 0,7 5 79,0 5,5 3.161 99,0 100 100 29.620 2,9 0,6 0,5 4 78,7 6,8 2.769 99,0 100 100 34.320 2,1 4,1 1,0 7 76,9 4,8 4.499 99,0 100 100 2,5f 7.376 1,2 2,7 1,0 56 66,7 4,8e 61 82

Fontes: Banco Mundial. Relatrio do Desenvolvimento Mundial 2000/2001; PNUD. Relatrio do Desenvolvimento Humano 2003. Notas: a A mdia do PIB per capita de cada grupo de renda refere-se aos pases apresentados na tabela; b Essa taxa de crescimento refere-se aos pases de renda mdia, sem diferenciar entre mdia baixa e mdia alta; c Populao com acesso a saneamento em reas urbanas, 1990/96; d Os dados se referem a 1990/96; e Dados de 1997 (% do PNB); f Dados de 1990/98 (% do PNB);

Tabela 2 Indicadores selecionados do desenvolvimento mundial

(concluso)

12. Taxa 13. ndice da 14. Valor 15.Tratores 16. Taxa 17. Taxa 18. Taxa de 19. Con20. Pedidos 21. Variao 22. ndice de AMOSTRA DE mdia de produo de agregado por mil mdia de mdia de cresc. anual sumo de de patentes mdia anual Gini crescimento alimentos PASES p/trabatrabalha- crescimento crescimento do investi- eletricidade de desmap/resiPOR NVEIS anual do 1996/ lhador dores anual do anual das mento dentes tamento per capita DE RENDA valor 1998 agrcola agrcolas valor exportaes interno (1997) (%,1990/ em 2000 (Y) agregado (1989/ (dlares de (1995/ agregado (%, 1990/ bruto (%, 1995, %) (kwh) p/agricul1991 1995, 1996/ 1997) p/indstria 1999) 1990/ tura (%, = 100) 1998) (%, 1990/ 1999) 1990/1999) 1999) I BAIXA RENDA 2,5 124,3 1,1 5,3 352 3.978 0,7 1,4 1. Serra Leoa 1,6 99,5 411 0 3,0 62,9 7,1 12,2 10,3 2. Etipia 2,5 123,5 0 6,3 9,3 13,4 22 4 0,5 40,0 3. Moambique 5,2 130,9 127 1 9,9 13,4 13,1 53 0,7 39,6 4. Paquisto 4,3 136,2 626 13 4,9 2,7 2,1 352 16 2,9 31,2 5. Angola 130,0 123 3 4,2 8,2 12,9 88 1,0 .. 3,1 6. Bolvia 134,1 4 4,9 10,1 387 17 1,2 42,0 7. ndia 3,8 119,9 406 6 6,7 11,3 7,4 355 0,0 37,8 II Y MDIA BAIXA 2,0 151,1 5,2 6,7 3,5 1391 31.781 0,2 8. Egito 3,1 139,7 1.189 11 4,7 3,1 6,7 976 504 0,0 28,9 9. Filipinas 1,5 125,8 1.352 1 3,4 9,6 4,1 477 125 3,5 46,2 10. China 4,3 153,5 307 1 14,4 13,0 12,8 827 12.786 0,1 40,3 11. Peru 5,8 140,5 1.663 3 6,7 9,0 9,0 668 48 0,3 46,2 12. Paraguai 2,8 120,2 3.448 25 2,8 5,1 1,5 838 2,6 59,1 13. Venezuela 0,7 114,4 5.036 59 2,6 5,6 2,9 2.533 201 1,1 48,8 14. Turquia 1,6 111,3 1.858 58 4,8 11,9 4,6 1.468 233 0,0 41,5 III Y MDIA ALTA 1,9 118,5 3,9 10,8 4,4 1.391 114.155 0,5 15. Federao 106 Russa 6,3 64,4 2.476 9,8 2,3 13,3 4.181 15.277 0,0 48,7 16. Brasil 3,0 125,7 4.081 57 3,2 4,9 3,1 1.878 1.292 g 0,5 60,0 17. Uruguai 4,3 130,8 9.826 173 1,7 7,0 8,9 1.924 32 0,0 42,3 18. Mxico 1,3 120,2 2.164 20 3,6 14,3 3,9 1.655 429 0,9 53,7 19. Chile 1,3 129,6 5.039 49 6,3 9,7 11,4 2.406 189 0,4 56,5 20. frica do Sul 1,0 100,8 3.958 68 0,9 5,3 3,0 3.745 0,2 59,3 21. Argentina 3,1 125,9 9.597 190 4,8 8,7 9,1 2.038 824 0,3 22. Coria do Sul 2,1 122,2 11.657 41 6,2 15,6 1,6 5.607 92.798 0,2 31,6 23. Grcia 2,0 99,0 277 3,3 1,3 4.086 53 32,7 0,5 2,3 24. Portugal 97,0 208 0,7 5,6 3,5 3.834 92 35,6 0,4 0,9Notas:g

Dado do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, Ministrio da Cincia e Tecnologia do Brasil ().

AMOSTRA DE PASES POR NVEIS DE RENDA (Y)

IV ALTA RENDA 25. Espanha 26. Frana 27. Reino Unido 28. Sucia 29. Itlia 30. Japo 31. Alemanha 32. Canad 33. Sua 34. Noruega 35. EUA MUNDO

12. Taxa 13. ndice da 14. Valor 15.Tratores 16. Taxa 17. Taxa 18. Taxa de 19. Con20. Pedidos 21. Variao 22. ndice de mdia de produo de agregado por mil mdia de mdia de cresc. anual sumo de Gini de patentes mdia anual crescimento alimentos p/trabatrabalha- crescimento crescimento do investi- eletricidade p/reside desmaanual do 1996/ lhador dores anual do anual das mento dentes tamento per capita valor 1998 agrcola agrcolas valor exportaes interno (1997) (%,1990/ em 2000 agregado (1989/ (dlares de (1995/ agregado (%, 1990/ bruto (%, (kwh/hora) 1995, %) p/agricul1991 1995, 1996/ 1997) p/indstria 1999) 1990/ tura (%, = 100) 1998) (%, 1990/ 1999) 1990/1999) 1999) 0,8 107,5 906 2,6 6,5 2,6 8.651 648.093 0,2 110,1 13.499 546 10,9 4.653 2.856 0,0 32,5 2,5 0,5 0,5 105,4 36.889 1.236 0,6 4,9 6.539 18.669 32,7 1,6 1,1 99,7 883 6,0 1,8 5.601 26.591 36,1 0,5 96,8 627 2,2 14.471 5.814 0,0 33,1 0,4 1,1 101,2 20.031 913 0,9 7,2 4.732 2.574 27,3 1,0 0,1 95,2 31.094 637 1,1 5,1 1,1 7.628 351.487 0,1 24,9 1,3 0,5 92,3 22.759 991 4,1 0,5 5.963 62.052 0,0 30,0 1,1 117,7 1.642 2,2 8,8 2,6 15.620 4.192 31,5 0,1 100,8 958 8,3 7.294 7.893 0,0 25,0 2,2 4,1 100,9 32.600 1.276 5,5 6,1 5,1 24.422 1.518 25,8 0,2 2,5 117,9 39.001 1.484 4,9 9,3 7,0 12.331 125.808 40,8 0,3 1,6 130,3 20 3,0 6,9 2,9 2.156 798.007 0,3

Fontes: Banco Mundial. Relatrio do Desenvolvimento Mundial 2000/2001; PNUD. Relatrio do Desenvolvimento Humano 2003.

No incio dos anos de 1990, o principal problema dos pases pobres era o processo inflacionrio crnico, alm da grande dimenso da dvida externa. Na quase totalidade desses pases, a inflao foi debelada, mas a dvida pblica interna e externa agravou-se. A poltica de juros altos, para vender ttulos pblicos e rolar as dvidas, aumentou o montante e o servio da dvida pblica. Para evitar o retorno da inflao e poder pagar o principal e os juros da dvida pblica, os governos tm reduzido os gastos e sacrificado investimentos, o que vem afetando o crescimento econmico. O PNB per capita dos pases mais pobres cresceu razoavelmente entre 1980/1993 (3,7%, Banco Mundial, 1995) e entre 1998/1999 o PNB desses pases cresceu mais do que o dos pases mais ricos (Tabela 2, coluna 3). Essas taxas foram capazes de cobrir o crescimento demogrfico mais acelerado deste ltimo perodo (2%), em relao aos pases mais ricos (coluna 4). Entre os pases de alta renda, a taxa de crescimento do PNB entre 1998/1999 foi inferior dos pases mais pobres (2,6%), no obstante o bom desempenho econmico de pases como EUA (4,1%), Sucia (3,9%) e outros. Os pases de renda mdia alta, por seu turno, cresceram menos em termos per capita (2%), porque a maioria deles esteve envolvida com sucessivos planos de estabilizao e elevada dvida externa, o que puxou a mdia para baixo. A melhoria do bem-estar ocorre tambm com a reduo do crescimento demogrfico, que em nvel mundial foi de 1,7% ao ano, entre 1980/1993 (Banco Mundial, 1995) e 1% entre 1990 e 1999 (Tabela 2, coluna 4). Nesse mesmo perodo, as maiores taxas de crescimento anual da populao ocorreram nas economias de baixa renda (2%) e de renda mdia alta (1,4%), contra 1,1% nas economias de renda mdia baixa e apenas 0,6% nas economias de alta renda. No Brasil, a populao cresceu 1,4% ao ano, taxa inferior do Mxico (1,8%) e Chile (1,5%), mas superior s taxas da China (1,1%) e Coria do Sul (1%). Quanto mais a populao cresce, maiores sero as dificuldades para atender a suas necessidades bsicas e melhorar os indicadores de desenvolvimento.

3 Nutrio e expectativa de vida Em 1970, a taxa de mortalidade infantil por mil nascidos vivos era relativamente alta mesmo nos pases ricos, sendo igual a 20 por mil nos EUA e a 18 por mil no Reino Unido e Frana. Em 1993, esse indicador reduziu-se para 9 nos EUA e para 7 nos dois ltimos pases (Banco Mundial, 1995). Entre 1980 e 1998, houve grande melhoria desse indicador, em razo da vacinao em massa das crianas. Em

2001, essa taxa era de 127 por mil em pases de baixa renda, 31 por mil em pases de renda mdia e de apenas 5 por mil nos pases de alta renda (Tabela 2, coluna 5). Nesse mesmo ano, a taxa de mortalidade infantil ainda se apresentava relativamente elevada em pases de renda mdia, como a frica do Sul (56 por mil), Brasil (31 por mil) e Mxico (24 por mil). Essa taxa ainda era muito alta nos pases mais pobres como Serra Leoa (182 por mil) e Angola (154 por mil). Na China, a taxa de mortalidade infantil (31 por mil) igual a do Brasil; porm, na ndia, apesar da melhoria significativa dos ltimos anos, ela ainda se mostra bastante elevada (67 por mil). Alm da vacinao em massa de crianas, gua tratada, saneamento bsico e melhorias no sistema de higiene, o combate fome tambm fundamental para se reduzir a mortalidade infantil. Alimentao mais adequada ajuda a melhorar a sade e o desempenho escolar das crianas. Maior consumo de carnes apontado como responsvel pela elevao da altura mdia dos adultos nos EUA, Europa e Japo. Maior consumo de protenas e vitaminas tambm eleva o ndice de massa corporal dos indivduos. A eliminao da desnutrio crnica no depende apenas de maior disponibilidade interna de alimentos, mas tambm da elevao do poder aquisitivo da populao mais pobre e de melhorias no sistema de distribuio de alimentos. Tornase fundamental a pesquisa agronmica para desenvolver variedades de alimentos mais produtivas e mais baratas. A manuteno de estoques reguladores de produtos agrcolas, por parte do Governo, evita crises de abastecimento e elevao dos preos de gneros de primeira necessidade, favorecendo as populaes mais pobres. Em decorrncia do aumento do nvel de renda, de melhor alimentao e do desenvolvimento da medicina, tem se elevado a expectativa de vida ao nascer, a qual oscilava em 2001 entre 34,5 anos em Serra Leoa a 81,3 anos no Japo (Tabela 2, coluna 6). Examinando atentamente essa tabela, observa-se que h correlao positiva entre nveis de renda e expectativa de vida ao nascer: nas economias de baixa renda, a vida mdia em 2001 era de 59,1 anos; nas economias de renda mdia, 69,2 anos e nas economias de alta renda, 78,1 anos. Entre 1880 e 1980, a expectativa de vida ao nascer nos pases industrializados aumentou de 45 para 75 anos. No Japo, ela passou de 60 anos, em 1950, para 81,3, em 2001, sendo a mais elevada do mundo. Grande salto desse indicador ocorreu tambm no Sri Lanka (Sul da sia), que subiu de 45 anos, em 1945, para 64, em 1971, e para 72, em 1993. Nos pases do Mercosul, em 2001, a expectativa de vida ao nascer variava de 67,8 anos no Brasil a 75,8 no Chile. No Paraguai, essa idade era de 70,5 anos, na Argentina 73,9 anos e no Uruguai 75 anos (Banco Mundial, 1991 e 1995). Os fatores do aumento to acentuado da vida mdia das pessoas foram a vacinao infantil (sarampo, poliomielite), a erradicao da malria, a difuso de

gua tratada e melhor alimentao, pela elevao geral do nvel de renda. O progresso tecnolgico da agroindstria alimentar provocou queda dos preos dos alimentos e colocou disposio das pessoas maiores quantidades e variedades de calorias e protenas.5 A mortalidade infantil tambm se reduz com o aumento dos nveis de educao. A coluna 7 da Tabela 2 mostra que os gastos pblicos com educao, em relao ao PNB, aumentam com o nvel de renda: pases de alta renda, 5,4%; pases de renda mdia alta, 5%; pases de renda mdia baixa, 3,5% e pases de baixa renda, 3,3%. Os gastos com sade em relao ao PNB agem no mesmo sentido da melhoria de indicadores sociais e em 2000 eles tambm foram crescentes com o nvel de renda dos pases: 6,2%, 3,3%, 3% e 1,3%. A Coria do Sul gastou 3,8% do PNB com educao, no perodo; j os seus gastos com sade em 2000 foram iguais a US$ 899 dlares per capita. No Brasil, os gastos pblicos com sade atingiram US$ 631 dlares per capita, no mesmo ano; esse valor foi superior s quantias gastas pelo Mxico (US$ 477) e Federao Russa (US$ 405) e um pouco inferior aos valores gastos pela frica do Sul (US$ 663) e Chile (US$ 697); j os gastos pblicos do governo brasileiro com educao foram de 4,7% do PNB, percentual superior ao de muitos pases de renda mdia. O Brasil gastou 4,7% do PNB com educao, entre 1998/2000. Esse percentual superior aos percentuais da Federao Russa e Mxico (4,4%), Argentina (4,%) e Coria do Sul (3,8%). Nesse nvel de renda, somente a frica do Sul (5,5%) gastou com educao percentualmente mais do que o Brasil. Esse percentual , contudo, bem mais alto na Sucia (7,8%) e na Noruega (6,8%), o que ajuda a explicar o extraordinrio nvel de desenvolvimento humano desses pases. Com relao sade, no entanto, entre os pases de renda mdia alta, os gastos per capita do Brasil (US$ 631) somente superam os do Mxico (US$ 477) e da Rssia (US$ 405). Entre os pases sul-americanos, os que mais gastam com sade so a Argentina (US$ 1.091) e o Uruguai (US$ 1.007). Entre os pases de alta renda, os maiores gastos per capita com sade so os dos EUA (US$ 4.499) e da Sua (3.161%). Da mesma forma, a taxa de alfabetizao de pessoas com 15 anos e mais tambm mostra correlao direta com os nveis de renda (coluna 9). Em 2001, a taxa de alfabetizao era de 63% nas economias de baixa renda, 86,6% nas economias de renda mdia e de 99% nos pases de alta renda. A reduo do ndice de analfabetismo, principalmente entre as mulheres, muito importante porque vai se5

Inovaes do lado da produo (gentica) reduziram o preo do frango. Em 1948, o frango era abatido aps 86 dias, com 1,36 kg de peso, sendo o consumo de rao igual a 3,41 kg/1 kg de frango. Em 1988, a idade do abate caiu para 49 dias, com 1,94 kg de peso, e o consumo de rao reduziu-se para 1,41 kg/1 kg de carne (Souza & Sanson, 1993, p. 75).

refletir em menores taxas de mortalidade infantil. Outro fator fundamental para a melhoria da sade da populao o acesso a saneamento melhorado e gua tratada (Tabela 2, colunas 10 e 11). Constata-se que em 2000 os pases de alta renda tinham 100% de acesso a gua tratada e saneamento melhorado. No Brasil, somente 87% da populao tinha acesso gua potvel e 76% a saneamento melhorado. Os menores ndices deste ltimo indicador nos pases de renda mdia alta eram os da Coria do Sul (63%) e Mxico (74%). O acesso a esses servios muito precrio nos pases pobres e em alguns pases de renda mdia. Apenas 12% da populao da Etipia tm acesso ao saneamento melhorado, percentuais que chegam to-somente a 28% na ndia e a 40% na China. Quanto ao acesso gua tratada, os ndices so um pouco melhores, mas ainda muito precrios, o que afeta a sade da populao.6

4 Indicadores econmicos e de infra-estrutura do desenvolvimento mundial Devido ao crescimento demogrfico mais acelerado, os pases pobres precisam aumentar a produo de alimentos. Em alguns desses pases houve crescimento expressivo do valor agregado pela agricultura, entre 1990/1999 (coluna 12), como Moambique (5,2%) e Peru (5,8%). Nesse perodo, essa taxa foi de fato maior nos pases mais pobres, decrescendo nos pases de mais alta renda. No Brasil, ela foi de 3,0%, chegando a 3,8% na ndia, sendo negativa em alguns pases, como na Rssia (6,3%) e Angola (3,1%). Os pases ricos, exportadores de produtos manufaturados, podem importar com facilidade os alimentos e matrias-primas de que necessitam. Porm, os pases pobres, com economia centrada no setor agrcola, um desempenho negativo desse setor afeta toda a sua estrutura produtiva. Com base em 1989/1991, o ndice da produo mundial de alimentos chegou a 130,3 em 1996/1998 (Tabela 2, coluna 13). Esse ndice cresceu para 151,1 no conjunto dos pases de renda mdia baixa e para 124,3 nos pases de baixa renda; em alguns pases, ele se reduziu, como Federao Russa (64,4), Alemanha (92,3) e Japo (95,2). Os maiores ndices de crescimento da produo de alimentos ocorreram na China (153,5) e Peru (140,5). No Brasil, o ndice chegou a 125,7, nvel similar ao da Argentina (125,9) e um pouco inferior ao do Uruguai (130,8). A produo de alimentos pouco cresceu nos pases ricos, com exceo dos Estados Unidos (117,9) e Canad (117,7). Os altos custos das terras e da mo-de-obra oneram a produo6

O acesso gua potvel desses pases eram: Etipia, 24%; Angola, 38%; Moambique e Serra Leoa, 57%. Em alguns pases, a adio de flor na gua potvel tem reduzido a incidncia de crie na populao.

desses pases, o que tem levado os governos a conceder grandes subsdios para viabilizar a produo agrcola e enfrentar a concorrncia das importaes provenientes dos pases subdesenvolvidos, em geral mais competitivos. O desempenho da agricultura depende do uso de insumos modernos, como fertilizantes, tratores e colheitadeiras, que elevam a produtividade da terra e do trabalho. Na maioria dos pases pobres, o valor agregado por trabalhador agrcola ainda muito baixo (coluna 14), atingindo em 1996/1998 menos de mil dlares. Nos pases de renda mdia baixa, a produtividade do trabalho agrcola chega a menos de US$ 4.000, incluindo-se nessa faixa o Mxico (US$ 2.164) e Rssia (US$ 2.476). No Brasil, esse valor chegou a US$ 4.081 e na Coria do Sul ele montou a US$ 11.657. Nos pases ricos, o rendimento do trabalho agrcola elevou-se a US$ 36.889 na Frana e a US$ 39.001 nos EUA. O baixo crescimento agrcola se deve a problemas de mercado, polticas econmicas viesadas contra a agricultura e escassez de terras, como no Japo e na maioria dos pases da Europa. No Canad e EUA, a escassez de mo-deobra compensada pelo grande nmero de tratores por mil trabalhadores agrcolas: 1.642 e 1.484, respectivamente (coluna 15). O uso de tratores tambm intenso na Noruega (1.276) e Frana (1.236). No Brasil, empregavam-se apenas 57 tratores por mil trabalhadores rurais, em 1995/1997. Exceto Rssia (106) e Turquia (58), esse nmero ainda menor nos pases mais pobres, chegando a ser nulo na Etipia e em Serra Leoa. No conjunto dos pases de baixa renda, o valor agregado pela indstria cresceu apenas 1,1%, entre 1990/1999 (coluna 16); essa varivel, no entanto, exceto no caso de Serra Leoa,7 cresceu a taxas razoavelmente altas, principalmente em Moambique (9,9%) e ndia (6,7%). Nos pases de renda mdia baixa, essa taxa foi de 5,2%, com destaque para a China (14,4%) e Peru (6,7%). A China tem apresentado extraordinrio dinamismo nas ltimas dcadas, fruto de uma poltica deliberada de desenvolvimento econmico. No Brasil, o valor agregado pela indstria cresceu 3,2% no perodo, taxa inferior do conjunto dos pases de renda mdia alta (3,9%) e de pases como Argentina (4,8%) e Mxico (3,6%). Outro importante indicador do desempenho econmico global a taxa de expanso das exportaes (coluna 17). Entre 1990/1999, ela foi negativa em Serra Leoa (12,2%), pas que esteve em guerra nos anos de 1990, e de pequena amplitude na Sucia (2,2%) e Federao Russa (2,3%); ela atingiu valores altos em economias como Coria do Sul (15,6%) e Mxico (14,3%). Muitos pases acabaram percebendo a importncia das exportaes na dinamizao do setor de mercado interno, o que expande a renda e o emprego. Nesse perodo, as exportaes brasileiras cresceram7

Serra Leoa, com crescimento negativo (7,1%), foi um caso parte por estar em guerra nos anos de 1990.

4,9% ao ano, em mdia, o que pode ser considerado satisfatrio, tendo em vista que a moeda manteve-se valorizada na maior parte do perodo. A taxa de crescimento do investimento interno bruto foi negativa no conjunto dos pases de baixa renda (1,4%), sendo negativa em Serra Leoa (10,3%), embora com crescimento expressivo na Etipia (13,4%) e Moambique (13,1%). Os investimentos tambm cresceram rapidamente na China (12,8%) e no Chile (11,4%), sendo negativos na Rssia (13,3%). No Brasil, os investimentos cresceram apenas 3,1%, em decorrncia da reduo dos gastos pblicos para manter a inflao sob controle. As altas taxas de juros, as restries ao crdito, o lento crescimento da demanda interna e as dificuldades para exportar foram os principais inibidores dos investimentos privados e do crescimento do PIB do perodo. O nvel de bem-estar da populao tambm pode ser inferido pelo consumo de eletricidade per capita (coluna 19). Esse indicador cresce com nvel de renda: 22 kW/hora na Etipia, 53 kW/h em Moambique, 477 kW/h nas Filipinas, 827 kW/h na China, 1.878 kW/h no Brasil, 2.406 kW/h no Chile, 6.539 kW/h na Frana, 12.331 kW/h nos Estados Unidos e 24.422 kW/h na Noruega. O nvel de industrializao influencia o consumo de eletricidade, assim como o percentual da populao atendida por redes de eletricidade. Maior demanda de energia explicada tambm pelo clima muito frio ou muito quente, devido ao uso generalizado de calefao ou ar condicionado. Nos pases mais pobres, as reas mais distantes das fontes de gerao de energia nem sempre so atendidas por esses servios, sobretudo nas reas rurais. Mesmo nas periferias das zonas urbanas desses pases h um contingente aprecivel de pessoas que no possuem eletricidade em suas casas. Em 2003, o governo brasileiro lanou um programa de atendimento de 100% da populao urbana em todo o pas. A eletrificao rural constitui um importante fator de desenvolvimento da agricultura, pois possibilita o funcionamento de motores eltricos, facilita a circulao das informaes atravs dos meios de comunicao e permite populao rural o acesso a eletrodomsticos, como televiso, geladeira e freezer. Outro importante indicador de desenvolvimento a capacidade de determinado pas gerar tecnologia prpria. Isso pode ser aferido pelos pedidos de registro de patentes feitos por residentes, como mostra a coluna 20 da Tabela 2. Em 1997, os pases de baixa renda efetuaram 3.978 pedidos de registro de patentes, contra 31.781 pelos pases de renda mdia baixa, 114.155 pelos pases de renda mdia alta e 648.093 pelos pases de alta renda. O registro da patente de um novo produto assegura o direito de sua produo com exclusividade, durante algum tempo, at que surjam imitadores produzindo produtos similares. Os preos relativamente mais altos para o produto, assegurados pela exclusividade de sua produo, proporcionam lucro puro e maior taxa de crescimento para a empresa e o pas. Entre

os pases de renda mdia, destaca-se a Coria do Sul, com o maior nmero de pedidos de patentes (92.788), seguida pela Federao Russa (15.277) e pela China (12.786). O Brasil registrou 1.292 pedidos de patentes por residentes, em 1997, valor que chegou a 5.150 em 2003 (). Entre os pases de alta renda, a liderana incontestvel a do Japo, com 351.487 pedidos de patentes, seguido pelos EUA (125.808). Em relao qualidade de vida, cabe destaque a preservao do meio ambiente. Essa questo inferida na coluna 21 pela variao mdia anual do desmatamento entre 1990/1995. Enquanto as florestas foram ampliadas nos pases de alta renda (desmatamento igual a 0,2% no perodo), elas se reduziram nos pases de renda mdia alta (0,5% de desmatamento), chegando a 0,7% nos pases de baixa renda. O Brasil se mantm na mdia de seu grupo de renda (0,5%), sendo o desmatamento mais intenso nas Filipinas (3,5%), Serra Leoa (3%) e Paraguai (2,6%), pases exportadores de madeiras de lei. O ndice de Gini, importante indicador de desigualdade, mede a distribuio de renda entre as classes sociais (coluna 22).8 Serra Leoa possui a pior distribuio de renda do mundo (Gini igual a 62,9), seguido pelo Brasil (60,0) e frica do Sul (59,3). O Paquisto (31,2) e a ndia (37,8%) possuem a melhor distribuio de renda entre os pases pobres. As melhores distribuies de renda so do Japo (24,9), Sua (25) e Noruega (25,8). Entre os pases de renda mdia, cabe destaque ao Egito (28,9) e Coria do Sul (31,6). Os EUA possuem o maior ndice de Gini entre os pases de alta renda (40,8).

5 ndices de desenvolvimento humano mundial Todos os indicadores anteriores podem ser sintetizados pelos ndices de desenvolvimento humano (IDH), elaborados pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esse ndice mede o nvel do desenvolvimento dos pases, regies e municpios, neste ltimo caso com algumas adaptaes. O IDH calculado pela mdia simples de trs componentes: longevidade, educao (taxa de alfabetizao, peso 2/3, e taxa de matrcula nos trs nveis de ensino, peso 1/3) e nvel de renda (PIB real per capita em dlares PPC). O IDH varia de 0 a 1: desenvolvimento humano baixo (IDH 0,499); desenvolvimento humano mdio (0,5 IDH 0,799); desenvolvimento humano alto (IDH 0,800).8

O ndice de Gini varia de zero (perfeita igualdade) a 1 (perfeita desigualdade). Quanto maior o ndice, pior ser a desigualdade da distribuio de renda entre as classes sociais de determinado pas. Kuznets (1955) percebeu que esse ndice aumenta com o crescimento econmico, atinge um ponto de mximo e depois declina no longo prazo, como conseqncia do desenvolvimento econmico.

Em 1999, o PNUD modificou a metodologia de clculo do PIB per capita, antes medido em dlares norte-americanos, introduzindo o conceito de paridade do poder de compra de cada pas. Isso elevou a renda mdia dos pases pobres. No caso do Brasil, a renda mdia se reduziu por esse critrio, porque a valorizao cambial havia colocado o pas no grupo das naes de elevado desenvolvimento humano. Assim, em 1997, o IDH do Brasil era igual a 0,809 pela metodologia antiga (60a posio) e a 0,739 pela metodologia nova (79a posio). Contudo, observa-se em qualquer uma das metodologias o aumento persistente do desenvolvimento humano no Brasil (). O IDH analisado para uma amostra de pases (Tabela 3). Em 2001, os pases com os maiores ndices de desenvolvimento humano foram a Noruega (IDH = 0,944), Islndia (0,942)9 e Sucia (0,941). Os EUA aparecem em 7o lugar (0,944) e o Japo em 9o (0,932). Os pases com os menores IDH localizam-se na frica: Serra Leoa (0,275), Niger (0,292) e Burkina Faso (0,330). Observa-se que o IDH cresce com o nvel de renda (2001): pases de baixa renda (0,447); renda mdia baixa (0,733); renda mdia alta (0,822); pases ricos (0,930). Maiores ndices de educao e de longevidade dependem do crescimento econmico, embora este tambm seja altamente influenciado pelos nveis educacionais e de sade.

9

A Islndia uma ilha situada na proximidade do Crculo Polar rtico. Com vulces ativos, ela sofre constantes tremores de terra; 12% de seu territrio (102.819 km2) so cobertos por gelo; a principal base econmica gira em torno da exportao de produtos da pesca. Em 2001, seu PIB per capita atingiu 29.990 dlares PPC, com vida mdia de 79,6 anos.

Tabela 3 Evoluo do ndice de Desenvolvimento Humano, 1975-2001.Amostra de pases por nveis de renda I BAIXA RENDAa 1. Serra Leoa 2. Moambique 3. Etipia 4. Angola 5. Paquisto 6. ndia 7. Bolvia II Y MDIA BAIXAa 8. Egito 9. China 10. Turquia 11. Filipinas 12. Paraguai 13. Peru 14. Venezuela III Y MDIA ALTAa 15. frica do Sul 16. Brasil 17. Federao Russa 18. Mxico 19. Chile 20. Uruguai 21. Argentina 22. Coria do Sul 23. Grcia 24. Portugal IV ALTA RENDAa 25. Itlia 26. Espanha 27. Alemanha 28. Frana 1975 0,424 0,344 0,416 0,511 0,603 0,433 0,521 0,589 0,647 0,674 0,639 0,715 0,737 0,66 0,643 0,684 0,7 0,756 0,784 0,701 0,831 0,875 0,853 0,838 0,834 0,846 1980 0,417 0,309 0,37 0,443 0,546 0,633 0,48 0,554 0,612 0,68 0,708 0,668 0,729 0,757 0,676 0,678 0,796 0,729 0,735 0,775 0,797 0,736 0,847 0,799 0,868 0,854 0,851 0,859 0,862 1985 0,407 0,295 0,281 0,403 0,481 0,573 0,657 0,53 0,591 0,649 0,684 0,714 0,691 0,737 0,774 0,702 0,691 0,811 0,748 0,752 0,779 0,804 0,774 0,859 0,821 0,880 0,862 0,865 0,868 0,874 1990 0,436 0,317 0,305 0,44 0,519 0,598 0,682 0,572 0,624 0,681 0,713 0,726 0,702 0,755 0,793 0,734 0,712 0,809 0,757 0,78 0,799 0,807 0,814 0,869 0,847 0,897 0,884 0,883 0,885 0,896 1995 0,461 0,325 0,322 0,472 0,553 0,631 0,709 0,605 0,679 0,712 0,731 0,744 0,729 0,765 0,807 0,741 0,738 0,766 0,771 0,811 0,814 0,829 0,848 0,875 0,876 0,915 0,9 0,901 0,908 0,912 2001 0,447 0,275 0,356 0,359 0,377 0,499 0,59 0,672 0,733 0,648 0,721 0,734 0,751 0,751 0,752 0,775 0,822 0,684 0,777 0,779 0,8 0,831 0,834 0,849 0,879 0,892 0,896 0,930 0,916 0,918 0,921 0,925 Classificao pelo IDH de 2001 Variao 1975/2001 5,5 175 170 15,2 169 27,8 164 144 45,1 127 41,8 114 31,5 21,7 120 49,7 104 38,4 96 24,6 85 16,1 84 11,4 82 17,7 69 8,4 11,5 111 3,6 65 20,8 63 2,1 55 17,0 43 18,7 40 10,3 34 8,3 30 25,4 24 7,3 23 2,4 9,0 21 9,3 19 10,1 18 7,2 17 9,3

29. Reino Unido 30. Sua 31 Japo 32. Canad 33. EUA 34. Sucia 35. Noruega Mdia mundiala

0,84 0,872 0,851 0,866 0,864 0,862 0,858 0,802

0,847 0,884 0,875 0,881 0,883 0,871 0,876 0,809

0,857 0,891 0,89 0,904 0,896 0,882 0,887 0,811

0,877 0,904 0,906 0,924 0,911 0,893 0,9 0,835

0,916 0,912 0,92 0,929 0,923 0,924 0,924 0,858

0,93 0,932 0,932 0,937 0,937 0,941 0,944 0,847

13 10 9 8 5 3 1

10,7 6,9 9,5 8,2 8,4 9,2 10,0 5,6

Fonte: PNUD. Relatrio do Desenvolvimento Humano, 2003. Nota: a Mdia calculada para os pases que se encontram nesta tabela.

Em 2001, o IDH do Brasil foi igual a 0,777, um pouco abaixo do IDH da Federao Russa (0,779) e acima do da Venezuela (0,775) e Filipinas (0,751). Apesar do lento crescimento do PIB per capita do Brasil nas ltimas dcadas, principalmente entre 1990/2001 (1,4%), o seu IDH cresceu 20,8% entre 1975/2001 (ltima coluna). Essa taxa foi superior verificada no mesmo perodo nos pases de renda mdia alta (11,5%), renda alta (9%) e baixa renda (5,5%), sendo ligeiramente inferior quela dos pases de renda mdia baixa (21,7%). Isso mostra que os maiores nveis de desenvolvimento obtido pelo Brasil depois de 1975 resultaram do progresso obtido nas reas de sade e educao. A vacinao reduziu a mortalidade infantil e a taxa de mortalidade de adultos; houve progresso tambm na reduo do analfabetismo, maior nvel de acesso gua potvel e ao ensino fundamental e superior. Em termos mundiais, os maiores nveis de desenvolvimento alcanados foram os do Egito (49,7%), Paquisto (45,1%) e ndia (41,8%). Pases do Mercosul apresentaram melhorias menos significativas: Paraguai, 11,4%; Uruguai, 10,3% e Argentina, 8,3%.

6 ndices de desenvolvimento humano do Brasil O desenvolvimento econmico no surge de maneira uniforme no espao. Algumas regies crescem rapidamente, gerando maior nvel de bem-estar para a sua populao, enquanto outras permanecem estagnadas e pobres. No Brasil o desenvolvimento tem sido muito desigual. As regies Sudeste e Sul tm obtido rpido crescimento econmico, enquanto as regies Norte e Nordeste permanecem com os piores indicadores de desenvolvimento. O Estado de So Paulo (SP), o maior plo industrial do Brasil, gera a maior parte do PIB nacional; porm, Santa Catarina quem lidera o ranking do desenvolvimento humano no Brasil (0,822, Tabela 4). So Paulo vem a seguir (0,820), seguido pelo Rio Grande do Sul (0,814), Rio de Janeiro (0,807) e o Paran (0,787).10 Constata-se que os Estados das Regies Sul e Sudeste possuem os maiores IDH, seguindo-se os Estados do Centro-Oeste, com forte base agroindustrial, Norte e Nordeste.

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O Distrito Federal possua um IDH de 0,799 em 1991, passando para 0,844 em 2000, o que corresponde a uma variao de 5,6%.

Tabela 4 ndice de desenvolvimento humano dos Estados Brasileiros, 1991 e 2000.Ordem 1o 2o 3o 4o 5o 6o 7o 8o 9o 10o 11o 12o 13o 14o 15o 16o 17o 18o 19o 20o 21o 22o 23o 24o 25o 26o Estados Santa Catarina So Paulo Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Paran Mato Grosso do Sul Gois Minas Gerais Mato Grosso Esprito Santo Amap Roraima Rondnia Par Amazonas Tocantins Pernambuco Rio Grande do Norte Cear Acre Bahia Sergipe Paraba Piau Alagoas Maranho Regio Sul Sudeste Sul Sudeste Sul Centro-Oeste Centro-Oeste Sudeste Centro-Oeste Sudeste Norte Norte Norte Norte Norte Norte Nordeste Nordeste Nordeste Norte Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste 1991 0,748 0,778 0,753 0,753 0,711 0,716 0,700 0,697 0,685 0,690 0,691 0,692 0,660 0,650 0,664 0,611 0,620 0,604 0,593 0,624 0,590 0,597 0,561 0,566 0,548 0,543 2000 0,822 0,820 0,814 0,807 0,787 0,778 0,776 0,773 0,773 0,765 0,753 0,746 0,735 0,723 0,713 0,710 0,705 0,705 0,700 0,697 0,688 0,682 0,661 0,656 0,649 0,636 Variao 1991/00 (%) 9,9 5,4 8,1 7,2 10,7 8,7 10,9 10,9 12,8 10,9 9,0 7,8 11,4 11,2 7,4 16,2 13,7 16,7 18,0 11,7 16,6 14,2 17,8 15,9 18,4 17,1

Fonte: www.rankbrasil.com.br (PNUD/IPEA/IBGE/Fundao Joo Pinheiro).

O melhor desempenho no perodo foi o de Santa Catarina, que, com suas belas praias, vem atraindo milhares de turistas; em 1991, esse Estado classificava-se em 5o lugar, atrs do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro; em 2000, ele passou para a 2a posio. Sua capital, Florianpolis, a capital de Estado com a melhor qualidade de vida, seguida por Porto Alegre na 9a posio. Santa Catarina possui 16 cidades entre as 50 cidades brasileiras com a melhor qualidade de vida, ficando frente dos Estados de So Paulo (14 cidades) e do Rio Grande do Sul (11 cidades).11 Contudo, os Estados com as maiores taxas de variao do IDH no perodo foram os do Nordeste, com destaque para Alagoas (18,4) e Cear (18%). A variao do IDH de Santa Catarina foi de 9,9%. As menores variaes ocorreram nos Estados mais ricos: So Paulo (5,4%), Distrito Federal (5,6%) e Rio de Janeiro (7,2%). Isso reflete um esforo relativamente maior no desenvolvimento das reas mais pobres do Brasil, em termos de gerao de renda e de gastos com sade e educao. So Caetano do Sul, uma cidade industrial da periferia de So Paulo, a cidade brasileira com o maior IDH (0,919). A seguir, as cidades com a melhor qualidade de vida so: guas de So Pedro (SP, 0,908), Niteri (RJ, 0,886), Florianpolis (SC,11

A seguir, vem o Paran, com cinco cidades; aps, com apenas uma cidade, encontram-se o Distrito Federal e os Estados do Rio de Janeiro, Esprito Santo e Pernambuco (ilha de Fernando de Noronha, 10o lugar no ranking nacional).

0,875), Santos (SP, 0,871), Bento Gonalves (RS, 0,870) etc. Entre as 50 cidades com o maior IDH, encontram-se apenas mais quatro capitais: Porto Alegre (9a ; RS, 0,865), Curitiba (16a ; PR, 0,856), Vitria (18a; ES, 0,856) e Braslia (48a; DF, 0,844). As duas ltimas cidades da lista, ambas do Rio Grande do Sul, so Farroupilha (49a; 0,844) e Nova Bassano (50a ; 0,844). Alguns autores ampliaram o ndice de desenvolvimento humano, incluindo variveis mais suscetveis de captar tanto as condies econmicas, como a situao social do conjunto da populao mais pobre. Assim, alm da expectativa de vida ao nascer, da taxa de alfabetizao e da renda per capita, Romo (1993) utilizou tambm a incidncia de pobreza e o coeficiente de Gini para calcular os ndices de desenvolvimento humano ampliado (IDHA). Os Estados mais desenvolvidos, classificados por esses ndices, tendem a apresentar IDHA mais altos e, portanto, ndices mais baixos de desigualdade-pobreza. Desse modo, quanto melhor distribuda estiver a renda, tanto maior ser o nvel de vida do conjunto da populao (Romo, 1993, p. 108). Seguindo a linha de Romo (1993), Oliveira (2001) examinou a evoluo do desenvolvimento humano, da desigualdade de renda e do nvel de pobreza dos municpios e regies do Rio Grande do Sul (Conselhos Regionais de Desenvolvimento), entre 1970 e 1991. Para tanto, ele elaborou o ndice de Desenvolvimento Humano Municipal Modificado, utilizando parte da metodologia do IDH da ONU e do ndice de Condies de Vida do IPEA. O estudo indicou uma melhoria sensvel dos indicadores de desenvolvimento humano e de pobreza, tanto do conjunto do Rio Grande do Sul, como da maior parte de suas regies. Entretanto, eles apontaram o aumento da concentrao de renda regional e estadual, sobretudo entre 1980 e 1991. No mesmo sentido, a Fundao de Economia e Estatstica (RS), elaborou o ndice de Desenvolvimento Socioeconmico para os municpios do Rio Grande do Sul. Esse ndice leva em conta quatro blocos de variveis, cada um pesando 25%: (a) Domiclio e Saneamento: proporo de domiclios abastecidos com gua tratada (peso 0,5), domiclios com rede geral de esgoto ou pluvial (peso 0,4) e mdia de moradores por domiclio (peso 0,1); (b) Educao: taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais de idade (peso 0,35), taxa de evaso no ensino fundamental (peso 0,25), taxa de reprovao no ensino fundamental (peso 0,20) e taxa de atendimento no ensino mdio (peso 0,20); (c) Sade: percentual de crianas nascidas com baixo peso, taxa de mortalidade de menores de cinco anos e expectativa de vida ao nascer (peso 1/3 cada); (d) Renda: PIB per capita e Valor Adicionado Bruto per capita do Comrcio, Alojamento e Alimentao (peso 0,5 cada). Oito municpios do Rio Grande do Sul apresentaram, em 2000, os mais altos

ndices de desenvolvimento (ndice 0,8): Caxias do Sul, Canoas, Esteio, Porto Alegre, Bento Gonalves, Campo Bom, Ivoti e Vacaria. No outro extremo, o Municpio de Benjamin Constant do Sul foi o nico considerado com baixo nvel de desenvolvimento (ndice = 0,496). Os 458 municpios restantes, com o ndice variando entre 0,5 e 0,799, foram considerados como de desenvolvimento mdio (). Esses ndices tm o mrito de considerar um conjunto mais amplo de variveis; porm, eles levaram a uma concentrao excessiva de municpios no nvel mdio, com apenas um como sendo de baixo nvel. Os ndices do PNUD (IDH) tm o maior mrito na sua simplicidade ao se concentrarem em trs indicadores relevantes.

QUESTES PARA REFLEXO E DISCUSSO 1. Comente acerca da evoluo dos ndices mundiais de desenvolvimento humano (Tabela 3), por nveis de renda dos diferentes pases. 2. Comente acerca da evoluo dos ndices de desenvolvimento humano (Tabela 4), segundo os diferentes Estados do Brasil. 3. Explique os aperfeioamentos efetuados aos ndices de desenvolvimento humano e compare com aquele da ONU (IDH).

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BANCO MUNDIAL. Relatrio sobre o desenvolvimento mundial 1990. Washington: Banco Mundial, 1990. ________________. Relatrio sobre o desenvolvimento mundial 1991. Washington: Banco Mundial, 1991. ________________. Relatrio sobre o desenvolvimento mundial 1995. Washington: Banco Mundial, 1995. ________________. Relatrio sobre o desenvolvimento mundial 2000/2001. Washington: Banco Mundial, 2003. (). FAVA, Vera Lcia. Urbanizao, custo de vida e pobreza no Brasil. So Paulo: IPE/USP, 1984. HIRSCHMAN, Albert O. La economia poltica del desarrollo latino americano. Siete ejercicios en retrospectiva. El Trimestre Econmico, Mxico, v. LXIII (2), no 250, abr./jun. 1996. KUZNETS, S. Economic growth and income inequality. American Economic Review, v. 45, p. 1-28, 1955. OLIVEIRA, Jlio Cezar de. Desenvolvimento humano, desigualdade de renda e pobreza nos conselhos regionais e municpios do Rio Grande do Sul entre 1970 e 1991. Tese (Doutorado em Economia) UFRGS, Porto Alegre. PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento). Relatrio do Desenvolvimento Humano 2003. (). ROMO, Maurcio C. Uma proposta de extenso do ndice de desenvolvimento humano das Naes Unidas. Revista de Economia Poltica, v. 13, no 4 (52), out./dez. 1993. SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econmico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005. _______; SANSON, Joo R. A agroindstria brasileira do milho. Porto Alegre: Curso de Ps-Graduao em Economia/UFRGS, 1993. 103 p. (mimeo) (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, Projeto IPEA/PNUD-BRA/91/014).

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ESTRANGULAMENTO EXTERNO DA ECONOMIA BRASILEIRA12SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econmico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005. O estrangulamento externo continua sendo um dos grandes problemas da economia brasileira em 2004. Com a valorizao cambial nos primeiros anos de implantao do Plano Real (1994/1998), o Brasil acumulou um dficit crescente no balano de pagamentos.13 A dvida externa total elevou-se de US$ 148,3 bilhes, em 1994, para US$ 218,8 bilhes, em setembro de 2003. Mesmo com supervit comercial, o Brasil precisa anualmente de um considervel afluxo de capitais externos para fechar as suas contas, tendo em vista a grande sada de divisas nas rubricas de servios (US$ 10,1 bilhes em 1998 e US$ 5 bilhes em 2002),14 renda lquida enviada ao exterior (em torno de US$ 18 bilhes anuais), remessa de lucros e dividendos (US$ 12,5 bilhes em 1998 e US$ 10,9 bilhes em 2002), pagamento de juros (US$ 15,3 bilhes anuais, ou mais) (Boletins do Banco Central). O ingresso de capitais na forma de investimentos diretos tem contribudo tanto para o equilbrio do balano de capitais como para o crescimento econmico. Esses capitais, praticamente inexistentes em 1990 e 1992, subiram a partir de 1993, chegando a US$ 20,8 bilhes em 1998 e a US$ 32,8 bilhes em 2000. Em 2002, esses investimentos caram para US$ 16,6 bilhes, e de janeiro a novembro de 2003 eles atingiram apenas US$ 8,7 bilhes. Por conseguinte, cresce a necessidade de emprstimos de organismos internacionais, incluindo o Fundo Monetrio Internacional, o que eleva a conta dos juros (Boletins do Banco Central). O estrangulamento interno to grave quanto o desequilbrio externo, porque implica recesso (o PIB elevou-se apenas 0,3% em 2003). As exportaes brasileiras vm crescendo rapidamente nos ltimos anos tanto pela recesso interna, como pela desvalorizao cambial. No podendo vender no mercado interno, as empresas se voltam para o exterior. A recesso e o desemprego resultam do arrocho imposto pelo

12

Este texto integra, como anexo, a seo 1.5 do livro Desenvolvimento Econmico (Souza, 2005). O dficit da balana comercial subiu de US$ 15,3 bilhes em 1990 para US$ 28,8 bilhes em 1998. Com a desvalorizao cambial de 1999 e de 2002, as exportaes cresceram de US$ 55,1 bilhes em 2000 para US$ 73,1 bilhes em 2003, gerando neste ltimo ano um supervit na balana comercial de US$ 24,8 bilhes (Boletins do Banco Central). 14 As despesas com viagens internacionais de brasileiros se reduziram de US$ 5,7 bilhes em 1998, para US$ 2,4 bilhes em 2002 (Boletins do Banco Central). Isso se explica pela alta do dlar e pelo crescimento do terrorismo internacional.13

Governo Federal, que necessita comprimir os seus gastos, sacrificando investimentos. Os salrios do funcionalismo federal esto congelados desde 1994 e investimentos governamentais em infra-estrutura foram praticamente interrompidos. Em 2003, o supervit primrio montou a R$ 66,2 bilhes de reais (4,32% do PIB), o que pagou apenas 45,6% dos juros da dvida pblica interna e externa (R$ 145,2 bilhes). Desse modo, o dficit operacional ficou em R$ 79 bilhes (5,16% do PIB) e a dvida pblica interna aumentou R$ 32 bilhes. Os dficits operacionais elevaram a dvida pblica lquida de R$ 222,9 bilhes em 1994 (43,1% do PIB), para R$ 483 bilhes em maio de 1999 (52,4% do PIB).15 A participao da dvida lquida do Governo Federal e do Banco Central no total da dvida lquida total do pas passou de 43,5% em 1994 para 61,7% no final do perodo. Esse aumento de participao explica-se tambm porque o Governo Federal acaba absorvendo parte das dvidas dos Estados e Municpios. Em novembro de 2003, a dvida lquida total do Brasil estava em R$ 905,2 bilhes (57,2% do PIB), sendo de R$ 570,6 bilhes a dvida do Governo Federal e Banco Central (63% do total da dvida do pas). Em janeiro de 2004, os principais Estados brasileiros estavam pressionando o Governo Federal para rolar suas dvidas, o que acabar aumentando ainda mais o dficit operacional do Tesouro Nacional. Como se observa, este um estrangulamento muito grave do desenvolvimento econmico. O pas somente vencer esse impasse com uma ampla renegociao da dvida pblica interna, o que exigir sacrifcios e muita criatividade dos responsveis pela poltica econmica do pas, que no desejam, com muita razo, a volta do processo inflacionrio.

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Valores a preos de maio de 1999 (Boletins do Banco Central do Brasil).

QUESTES PARA REFLEXO E DISCUSSO 1. Disserte sobre os desequilbrios externo e interno da economia brasileira em 2003.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. Boletim Mensal, Braslia: Departamento Econmico, vrios nmeros. SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econmico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005.

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MODELOS NEOCLSSICOS DE CRESCIMENTO ECONMICO16SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econmico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005. Aps a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos pases procurou acelerar o crescimento econmico, visando aumentar a renda e reduzir a pobreza. Os economistas passaram a formular teorias e modelos para identificar os fatores de crescimento das economias. O modelo neoclssico fundamenta-se em algumas equaes simples e adota um conjunto de pressupostos: (a) concorrncia perfeita e pleno emprego em todos os mercados; (b) economia fechada e sem governo; (c) funo de produo com rendimentos constantes escala (quando variam simultaneamente todos os fatores) e rendimentos decrescentes quando se altera apenas um dos fatores; (d) economia produzindo um nico bem com apenas trs fatores: capital fixo (K), trabalho (L) e terra (N); e (e) os fatores de produo so homogneos, divisveis e imperfeitamente substituveis entre si (Paz e Rodrigues, 1972, p. 107).

1 Modelo de Meade Na verso de Meade, o nvel do produto (Y) aparece como funo do emprego de capital, trabalho, terra e das inovaes tecnolgicas, includas na varivel temporal (t): Y = f (K, L, N, t) (1) A variao do produto (Y) ser igual soma das variaes do estoque de capital (K) e do emprego de trabalho (L), multiplicadas pelas produtividades marginais respectivas (Pmg), alm do crescimento residual do produto (Y), atribudo ao progresso tcnico, T (toda terra estando ocupada, sua variao seria nula), ou seja: Y = PmgK K + PmgL L + Y (2) No equilbrio concorrencial, as produtividades marginais do capital e do trabalho sero iguais a suas remuneraes respectivas (PmgK = Y/K = r; PmgL = Y/L = w). Dividindo-se toda a equao (2) por Y e acrescentando-se K no numera16

Esta uma verso ampliada da seo 11.3 do livro Desenvolvimento econmico (Souza, 2005).

dor e no denominador da parcela relativa ao capital e L na parcela do trabalho, tem-se que: Y/Y = (rK/Y) (K/K) + (wL/Y) (L/L) + (Y/Y) (3) A taxa de crescimento do produto (Y/Y) depende das taxas de crescimento do estoque de capital (K/K), do crescimento demogrfico (L/L) e do progresso tecnolgico (Y/Y = T/T), bem como da participao da renda do capital e do trabalho no produto total (rK/Y = Ky e wL/Y = Ly). Desse modo, a equao (3) pode ser representada de uma forma mais simples (Paz e Rodrigues, 1972, p. 115): Y/Y = Ky (K/K) + Ly (L/L) + (Y /Y) (4) O ritmo do crescimento econmico de uma economia depender das hipteses que se fizer acerca das variveis envolvidas. Considerando-se nulos o crescimento demogrfico e o progresso tcnico e os mesmos valores para Ky e Ly, o crescimento econmico passar a depender da produtividade marginal do capital e do ritmo de seu crescimento, bem como da propenso a poupar (s = S/Y). No equilbrio, o investimento torna-se igual poupana (K = S = sY). Substituindo-se Ky em (4) por rK/Y, tem-se que Y/Y = (rK/Y) (K/K). Sabendo-se que K/Y = s, ento: Y/Y = rs (5) A relao (5) diz que, sem progresso tcnico e crescimento demogrfico nulo, o crescimento equilibrado exige que o produto cresa a uma taxa igual ao produto entre a propenso a poupar e a produtividade marginal do capital (PmgK = Y/K = r). Quanto maiores a propenso a poupar e a produtividade do capital, tanto mais crescer a economia. Com propenso a poupar constante, o crescimento depender apenas da produtividade marginal do capital; porm, com um nico fator varivel (rendimentos decrescentes), a economia tender ao estado estacionrio; isso ocorrer mais rapidamente se a propenso a poupar for decrescente. Entretanto, os rendimentos decrescentes da produtividade do capital podero ser compensados por propenses a poupar crescentes (Paz e Rodrigues, 1972, p. 117). Com a hiptese de crescimento demogrfico positivo e progresso tcnico nulo, a economia precisa crescer no mesmo ritmo do crescimento demogrfico e da acumulao de capital, para manter o crescimento equilibrado, isto , sem desemprego ou hiperemprego. Isso pode ser demonstrado a partir da equao (4), sabendo-se que toda a renda se distribui entre capitalistas e trabalhadores, isto , que (wL + rK) = Y, ento (wL/Y + rK/Y) = 1, ou (Ky + Ly) = 1. Supondo-se Y/Y = L/L, e sabendo-se que Ky = (1 Ly), a equao (4) torna-se igual a Y/Y = (1 Ly) (K/K) + Ly Y/Y, ou: (Y/Y)(1 Ly) = (1 Ly) (K/K) (6) Segue-se que, com T/T = 0, ento Y/Y = K/K = L/L. Sem progresso

tcnico, taxas de crescimento diferentes para o capital e a populao conduzem a variaes tanto nas remuneraes dos fatores capital e trabalho, como nas participaes desses fatores na renda nacional. Logo, o crescimento equilibrado depende da igualdade entre essas taxas. Maior crescimento demogrfico requer acumulao de capital na mesma proporo, para manter no longo prazo o crescimento de Y, K e L em equilbrio estvel. Crescimento demogrfico menor aumenta os salrios e o crescimento econmico se reduz. Nesse caso, necessrio que o progresso tcnico e o capital aumentem sua contribuio no crescimento econmico.

2 Modelo de Solow O modelo de Solow chega a concluses semelhantes s do modelo de Meade, usando relaes per capita. Relacionando poupana, acumulao de capital e crescimento demogrfico, ele procura explicar a variao do produto per capita. A funo de produo Y = T f(K,L), transformada em termos per capita, Y/L = T f(K/L,L/L), ou seja: y = T f(k), (1)

onde y a produo per capita, k o capital per capita (a relao capital/trabalho) e T o nvel tecnolgico, que afeta as produtividades marginais do capital e do trabalho (Sachs e Larrain, 1995, p. 624). No equilbrio, I = S = sY; porm, uma parcela do investimento bruto, I, destina-se depreciao do capital fixo (dK), sendo d a taxa de depreciao, de sorte que K = I dK: K = sY dK (2)

Como Solow trabalha em termos per capita, a equao (2) precisa ser dividida por L:

K/L = sy dk

(3)

A suposio bsica de Solow a de que, no equilbrio estvel, existe uma relao k = K/L constante, de sorte que Y/Y = K/K = L/L = n. A taxa natural de crescimento demogrfico, n, como em Harrod, apresenta-se como uma varivel exgena, que depende de fatores biolgicos e culturais e no das variveis do modelo. Considerando o progresso tcnico nulo, o equilbrio estvel exige que uma variao positiva da relao k = K/L (maior quantidade de capital por trabalhador) seja acompanhada por uma variao superior do estoque de capital, em relao ao crescimento demogrfico, n, ou seja:

k/k = K/K n

(4)

Dividindo-se (4) por L, obtm-se que K/L = k + nk ; substituindo-se o segundo membro desta equao em (3), chega-se equao fundamental de Solow: k = sy (n + d)k (5)

Esta equao fundamental afirma que o aumento do capital por trabalhador (k), o aprofundamento do capital, precisa ser igual poupana per capita (sy), menos a ampliao do capital, (n + d)k. A proporo nk da poupana serve para equipar os novos trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho, com a mesma relao K/L dos que j se encontram empregados; a parcela dk precisa ser usada para depreciar o capital per capita adicional (Sachs e Larrain, 1995, p. 633). No estado estvel de longo prazo (logo, o aprofundamento do capital k nulo), a poupana per capita sy torna-se igual ampliao do capital (n + d)k, sendo a relao K/L constante: sy = (n + d)k (6)

Neste caso, a poupana agregada suficiente para fornecer capital populao que cresce a uma taxa n = Y/Y e para a depreciao do capital existente. A Figura 11.1 mostra o equilbrio da economia no ponto E, o estado estvel. O formato da curva y indica que a funo de produo apresenta rendimentos decrescentes. A curva sy possui a mesma declividade da funo de produo, y. A reta da ampliao do capital, que passa por E, mostrando a igualdade entre sy e (n + d)k, tem como declividade o termo constante (n + d), a taxa de crescimento natural, n, mais a taxa de depreciao, d. Pontos a esquerda de E (sy > (n + d)k) mostram o aprofundamento do capital (k > 0) e crescimento econmico superior ao crescimento demogrfico (Y/Y > L/L).

Figura 11.1 Equilbrio da economia no estado estvel.1717

Adaptado de Sachs e Larrain, 1995, p. 634.

A tendncia ao aprofundamento do capital pode ser explicada do seguinte modo. Suponha que o capital per capita da economia seja k1, inferior ao capital requerido de pleno emprego (ke). A quantidade de capital necessria para equipar os trabalhadores adicionais com a mesma relao K/L existente e substituir o capital gasto no processo produtivo k1R, o que inferior poupana per capita disponvel k1S. O excesso de poupana por trabalhador, igual a SR, tender a expandir o capital per capita at o ponto E; isso ocorrer enquanto SR for positivo. direita do ponto E, a poupana disponvel seria insuficiente para equipar os trabalhadores adicionais com a mesma relao K/L dos trabalhadores j empregados e realizar a depreciao do capital existente. Percebe-se que as naes em desenvolvimento, com desemprego de trabalhadores, encontrando-se em pontos esquerda de E, tendem a crescer a taxas superiores s das naes mais ricas, situadas proximidade de E, o equilbrio estvel. A concluso do modelo a de que a elevao da taxa de poupana, s, expande a relao capital/trabalho, k, e a renda per capita, y, at a economia atingir o equilbrio estvel de longo prazo, quando a taxa de crescimento y manter-se- constante e igual a n. Porm, uma vez atingido o equilbrio estvel, o aumento da poupana no influenciar mais a taxa de crescimento do produto, a ponto de elev-la acima da taxa do crescimento demogrfico. Desconsiderando-se a depreciao dK, no ponto de equilbrio estvel E, com nk = sy, ter-se-ia que n = sy/k = s(Y/L)/(K/L) = sY/K = s/v, isto , a taxa natural de crescimento demogrfico (sem progresso tcnico) igual propenso a poupar (s), dividida pela relao capital/produto (v). Essa concluso idntica a que se chega por meio dos modelos de Harrod e Domar, como foi visto no Captulo 5. Em outras palavras, no equilbrio de pleno emprego a taxa de crescimento demogrfico, n, quem determina a taxa de crescimento do emprego de trabalho, do capital e do produto. Valores diferentes para s e v no modificam a taxa requerida de pleno emprego n, dada de forma independente das variveis do modelo.18 Esse modelo descreve perfeitamente o ritmo de crescimento do fluxo circular schumpeteriano, como foi visto no Captulo 6 de Souza (2005). Na ausncia de inovaes tecnolgicas nesse fluxo circular, ser o crescimento demogrfico quem determinar o ritmo do crescimento econmico. Um aumento da taxa de crescimento demogrfico, n, eleva as taxas de crescimento de Y, K e L, mas diminui a produo per capita. Na Figura 11.1, a reta (n + d)k deslocar-se-ia para cima e para a esquerda. Como se observa, a igualdade entre sy = (n + d)k ocorreria em um ponto esquerda

18

Solow usou a suposio de Harrod de que o crescimento da populao exgeno e de que a fora de trabalho, L(t), cresce no tempo t a uma taxa constante n, isto , L(t) = Lo ent (Solow, 1956, p. 67).

de E, como em S, reduzindo a produo per capita de ye para y1.19 A produo per capita se reduz porque a funo de produo y mantm-se a mesma (tecnologia constante). Inversamente, quando o crescimento demogrfico se reduz, a reta deslocase para a direita. As necessidades de ampliao de capital para atender aos novos trabalhadores se reduzem, sobrando mais poupana (sy) para o aprofundamento do capital (k). Embora Y/Y diminua, a produo per capita aumenta (Sachs e Larrain, 1995, p. 640). A introduo do progresso tecnolgico no modelo de Solow (T/T > 0), deslocando a funo de produo per capita y para cima, implica que o mesmo nmero de trabalhadores e idntico estoque de capital exercem um impacto maior sobre o nvel de produo, do que na situao anterior. Em outras palavras, na prtica, para uma dada taxa de crescimento demogrfico, n, precisa-se acrescentar a taxa do progresso tcnico T/T = t, para se obter a taxa efetiva de crescimento do produto real, ou seja: Y/Y = (n + t) (7)

As produtividades do trabalho e do capital aumentam com maiores conhecimentos, mais educao e melhor sade para os trabalhadores, assim como pelo uso de processos e mquinas mais eficientes, o que eleva o ritmo do crescimento econmico. Tendo em vista que K/K = Y/Y = (n + t) e L/L = n, constata-se que o capital por trabalhador (K/L) e a produtividade do trabalho (Y/L) crescem no ritmo do progresso tcnico t, e que a relao K/Y permanece constante. Quanto maior o crescimento do progresso tcnico em relao ao nmero de trabalhadores, maior ser a produtividade do trabalho e tanto mais altas sero as taxas da acumulao de capital e do crescimento econmico. Finalmente, a importante concluso do modelo neoclssico, tanto na verso de Meade, como na de Solow, a de que o ritmo do progresso tcnico determina o crescimento da renda per capita no equilbrio estvel de longo prazo. Isso pode ser visto ao se subtrair a taxa de crescimento demogrfico da taxa efetiva de crescimento da renda, conforme a equao (7), ou seja, Y/Y n = t, tal que: y/y = t (8)

Conclui-se que a contribuio neoclssica teoria do crescimento econmico inegvel e continua muito atual. O modelo de Solow mostra a dinmica de longo prazo de uma economia capitalista desenvolvida, que se dirige a um estado de equilbrio estvel. Nesse ponto, o crescimento demogrfico e a tecnologia determinam o ritmo de crescimento equilibrado. As crticas afirmam, contudo, que o modelo19

Imagine que a nova reta (n + d)k, partindo da origem, passe pelo ponto S.

neoclssico, pressupondo perfeita flexibilidade de preos dos fatores, muito mecanicista e harmonioso; que ele no considera as expectativas empresariais, ao excluir a funo investimento, fator que pode afetar o crescimento equilibrado. Pelas hipteses de flexibilidade de salrios e preos, mercados concorrenciais, perfeita informao e capital malevel, as expectativas nunca poderiam frustrar-se (Jones, 1979, p. 109).20 Alm disso, o progresso tcnico aparece como elemento exgeno e formado de modo independente dos parmetros do modelo.

3 Teoria de crescimento com progresso tcnico endgeno A nova teoria que trata o progresso tcnico como elemento ativo no processo de crescimento, afirma que ele exerce efeitos expansivos sobre o produto ao elevar a produtividade dos fatores e ao retransmitir esses efeitos entre as unidades produtivas. A teoria do crescimento com progresso tcnico endgeno tomou impulso nos anos de 1980, por no haver uma tendncia convergncia dos produtos per capita entre reas com diferentes nveis de desenvolvimento iniciais. Pelo contrrio, as desigualdades entre regies ou pases ricos e pobres tendem a aumentar. Na ausncia de perfeita mobilidade dos fatores de produo K e L entre pases ou regies, as desigualdades aumentam. O crescimento do produto no se explica apenas por K e L, permanecendo uma parte importante no explicada, atribuda no modelo neoclssico tecnologia, A(t), a qual varia lentamente no tempo. A teoria do crescimento endgeno no procura medir a parte no explicada A(t), mas encontrar as fontes desse crescimento, as quais se encontram no interior do sistema produtivo. Embora essa teoria tenha sido popularizada por Romer (1986), sua origem mais antiga, podendo ser encontrada nos artigos pioneiros: Investimento em capital humano, de Schultz (1961); Implicaes econmicas do aprender fazendo, de Arrow (1962); Investimento humano, difuso tecnolgica e crescimento econmico, de Nelson e Phelps (1966); A taxa de retorno do investimento alocado na educao, de Schultz (1967); Uma teoria econmica da mudana tecnolgica, de Nordhaus (1969) etc. Estudando outras fontes de crescimento, alm de K e L, Langoni (1976) mostrou que a contribuio lquida da educao para o crescimento do produto foi de 15,7% no Brasil (1960/1970), 23% nos EUA (1950/1962) e de 10% na Frana (1950/1962). Com relao ao Brasil, a contribuio do capital fsico, entre20

Esses pontos foram discutidos no Captulo 5, atravs dos modelos de Domar, Harrod e de Kaldor.

1960/1970, foi de 32%, contra 47% do trabalho (includo os 15,7% da educao), sendo de 21% a parcela do crescimento do produto no explicada por K nem por L, sendo atribuda ao progresso tcnico [A(t)] (Langoni, 1976, p. 27). Essa parcela no explicada por K, nem por L, muito importante para ser ignorada. Outras fontes explicativas do crescimento econmico seriam investimentos em capacitao tecnolgica e gerao de conhecimento. Os pases subdesenvolvidos podem importar tecnologias, alm de investir em pesquisa tecnolgica, gerando maior crescimento do produto. Outras fontes de crescimento so: (a) economias de escala, derivadas do aumento do tamanho do mercado e do nvel da produo; (b) elevao da produtividade, decorrente da transferncia de trabalhadores e atividades de setores menos eficientes, como a agricultura, para os mais produtivos, como a indstria de transformao; (c) economias externas, geradas pelas infra-estruturas criadas pelo Estado e pela difuso do conhecimento entre os agentes produtivos. Melhorias dos portos e das comunicaes, reduzindo os custos das empresas, so economias externas por no dependerem diretamente da ao da empresa, mas de outras unidades produtivas, ou rgos do governo. Privatizaes e reformas institucionais so outros exemplos de economias externas, podendo aumentar a oferta de produtos, melhorar a eficincia dos servios e reduzir seus custos. Deseconomias externas tambm podem ocorrer, como uma desvalorizao cambial, que aumenta os preos dos insumos importados e os custos das empresas, gerando impactos depreciativos sobre o nvel do produto.21

3.1 Convergncia espacial da renda per capita Seja Y = A(t) K L o produto de uma economia, a elasticidade do produto em relao ao trabalho e (1 ) a elasticidade do produto em relao ao capital. Divi1 1 dindo-se esta funo por L, obtm-se Y/L = A(t) K L L1 = A(t) (K/L) , ou y = A(t) k , conforme definio da seo anterior. Derivando-se esta ltima relao, chega-se a: dy/y = (1 ) dk/k + A (1)1 1

A taxa de crescimento do produto per capita (dy/y) depende da taxa de crescimento do capital per capita (dk/k) e de um crescimento residual (A), atribudo ao progresso tecnolgico. Substituindo-se k por K/L na equao (1), e depois dK por sY e Y pela funo de Cobb-Douglas, chega-se ao seguinte resultado (Romer, 1994, p.21

H, contudo, um efeito oposto ao estimular as exportaes e o crescimento do produto total.

5): dy/y = (1 ) [s A(t)1/(1)

y

( )/(1)

n] + A

(2)

Observa-se que a taxa de crescimento do produto per capita depender da elasticidade do produto em relao ao trabalho (), da propenso a poupar, do nvel tecnolgico inicial [A(t)], do nvel do produto per capita, do crescimento demogrfico e do progresso tcnico residual (A). O parmetro fundamental, porque vai influenciar o tempo em que ocorrer a convergncia dos produtos per capita entre um pas desenvolvido e um pas subdesenvolvido. Considerando-se dois pases com os mesmos parmetros [A(t)], , n e A = 0 e conhecendo-se os produtos per capita, pode-se calcular a propenso a poupar de cada pas para que eles cresam mesma taxa. Neste caso, preciso que o pas com maior produto per capita tenha maior propenso a poupar. Sendo = 0,6, o expoente ()/(1 ) do produto per capita y da equao (2) ser igual a 1,5. Considerando-se as suposies acima, um pas com produto per capita dez vezes menor, como as Filipinas em relao aos EUA (1960), deveria crescer de modo mais acelerado.22 Para que os EUA cresam no ritmo das Filipinas seria preciso que sua taxa de poupana (e a taxa dos investimentos) fosse 31,62 vezes maior.23 Como os pases desenvolvidos no possuem propenso a poupar dessa magnitude, a concluso do modelo neoclssico a de que o pas mais pobre ter taxas de crescimento mais altas, levando convergncia do produto per capita no longo prazo.24 Porm, os pases desenvolvidos sero mais produtivos se o estoque inicial de conhecimento for maior. Desse modo, eles crescero mais do que os pases pobres, porque cada unidade do capital investido aumenta tanto o estoque de capital fsico, como o nvel da tecnologia de todas as firmas da economia, atravs da difuso do conhecimento (Romer, 1994, p. 7). Isso contribuir para o aumento das desigualdades econmicas. Pela equao (1), verifica-se que, se = 0,6 e considerando-se A = 0, a contribuio do crescimento do capital per capita no produto per capita ser de 0,4 vezes dk/k. Se a contribuio do trabalho no produto cair para 0,3, uma variao do capital per capita (dk/k) expandir 0,7 vezes o produto per capita. A presena deSupondo, para ambos os pases, que: s = 0,15; n = 0,02; A(t) = 2, = 0,6, A = 0. Ento, para as Filipinas dy/y = 0,4 (0,15. 22,5.0,11,5 0,02) = 10,7%; para os EUA, dy/y = 0,4 (0,15. 22,5.11,5 0,02) = 0,32. 23 Sendo y/1 = 0,10,6/10,6 = 0,11,5 = 31,62. Multiplicando-se a taxa de poupana dos EUA (0,15) por 31,62 na frmula da nota anterior, chega-se a uma taxa de crescimento para a renda per capita desse pas de 10,7%, a mesma das Filipinas. Se = 2/3, ento /1 = 2 e a taxa de poupana dos EUA precisaria ser 100 vezes maior: 0,12 = 100. 24 Em 1990, a relao investimento interno bruto/PIB foi de 17% nos EUA e 24% nas Filipinas. Entre 1990/1999, o investimento interno bruto cresceu 7% nos EUA e 4,1% nas Filipinas, expandindo o PIB em 3,4% no primeiro pas e em 3,2% no segundo. Nos anos de 1980, o PIB dos EUA cresceu 3%, contra apenas 1% para as Filipinas. Como se observa, esses dados no favorecem a hiptese da convergncia do PIB per capita dos dois pases entre 1980/1999.22

retornos decrescentes mais fracos, decorrentes da acumulao de capital, pode ser o resultado de economias externas, fruto da difuso de conhecimentos na economia. Barro e Martin estudaram dois conjuntos de Estados dos EUA; o conjunto mais pobre (Carolina do Norte, Carolina do Sul, Virgnia e Gergia) possua renda per capita igual a 1/3 daquela do conjunto mais rico (Nova Iorque, Massachusetts e Rhode Island). Seu trabalho considerou = 0,6, /(1 ) = 1,5 e (1/3) 1,5 = 5,2; isso significa haver uma diferena de cinco vezes na produtividade marginal do capital, em favor dos Estados mais pobres (Sul). Entretanto, os Estados mais ricos (Norte) vm crescendo de modo mais acelerado h dcadas, o que explica o aumento da divergncia do produto per capita no longo prazo. A explicao encontra-se na dotao desigual do estoque de conhecimentos inicial, em favor do Norte, que tende a se ampliar no longo prazo. Essas diferenas de tecnologia tendem a gerar importantes economias externas no Norte e fatores desfavorveis no Sul, que ampliam as desigualdades regionais (Romer, 1994, p. 9). H 1/3 L , o coeficiente /(1 ) se reduz para 0,5 e a taxa de retorno dos capitais fsico e humano se reduzem para (1/3)0,5 = 1,73 vezes maior no Sul em comparao ao Norte, o que no seria substancialmente muito elevado ao ponto de atrair o capital do Norte e levar convergncia das rendas regionais per capita. Desse modo, no longo prazo as desigualdades entre pases e regies tendem a aumentar. A concluso a de que o modelo neoclssico de crescimento no consegue captar os efeitos externos, endgenos, sobre o crescimento da produtividade. Para captar esses efeitos externos, Romer (1994, p. 7) sups que cada unidade de capital aumenta tanto o estoque do capital fsico, como o nvel tecnolgico das firmas, por meio da difuso do conhecimento tcnico. O progresso tcnico aparece como funo do capital e do trabalho, isto , A(K, L). Desse modo, a funo de 1 produo da firma j ser: Yj = A(K, L) Kj Lj . O parmetro representa o efeito privado e indica que a produo da firma j aumentar a %, quando ela aumentar 1% o emprego de trabalho. O estoque de conhecimentos A, como funo do capital e do trabalho, foi colocado por Romer na forma A(K, L) = K L . O parmetro > 0 representa o efeito externo. A elasticidade negativa para o trabalho indica que o emprego de mais mode-obra diminui o incentivo a adotar inovaes, o que se traduz em menor difuso do conhecimento na economia. Os efeitos privados que os diferentes s do conjunto de firmas exercem na economia ficam captados pelo parmetro da funo de produo agregada Y, ao qual devem ser acrescidos os efeitos externos, isto , = , sendo o efeito agregado no conjunto das firmas. Desse modo, no modelo neoclssico, os Introduzindo-se o capital humano (H) na funo de produo Y = A(t) K1/3 1/3

efeitos do capital sobre a expanso do produto (1 ) ficam subestimados ao no se considerar a contribuio do progresso tcnico e dos efeitos externos. As empresas difundem externalidades sobre as demais, ao realizarem gastos em treinamento de trabalhadores e na pesquisa tecnolgica. Esses efeitos repercutem-se em toda a economia, aumentando as produtividades marginais de K e L e elevando a contribuio do progresso tcnico A no produto Y. Outros estudos mostraram que a convergncia do produto per capita ocorre muito lentamente, pela existncia de externalidades mais importantes nos pases ou regies mais ricas. No longo prazo, a difuso do conhecimento de regies ou pases com mais altos A(K, L) dever ocorrer em direo de pases ou regies com mais baixos A(K, L), principalmente pelo surgimento de efeitos externos mais importantes nas reas mais pobres.

3.2 Abandonando a hiptese de concorrncia perfeita Na hiptese de concorrncia perfeita, existe um nmero muito grande de firmas, produzindo um bem homogneo com um custo mnimo. Os preos pm so

dados pelo mercado e os lucros so normais. A funo de produo Y = A(t) f(K, H, L) homognea de grau um (rendimentos constantes escala), significando que, para dobrar a produo, necessita-se duplicar todos os insumos K, H, L. A tecnologia A(t) uma varivel temporal e determinada independentemente das variveis do modelo. No entanto, o conhecimento pode ser usado por muitas pessoas ao mesmo tempo, isto , a informao um bem no rival. Nesse caso, para dobrar a produo, no necessrio duplicar a tecnologia A(t). Um mesmo processo conhecido, Ai, pode ser usado simultaneamente por um conjunto de firmas. Enquanto cada fator remunerado segundo suas produtividades marginais, o conhecimento que uma firma assimila tende a produzir um retorno maior do que os gastos efetuados para a sua apreenso. Porm, quanto mais a firma investir na produo de conhecimento, tanto maior ele ser e mais importantes sero os efeitos desencadeados no conjunto da economia. Desse modo, no agregado, a tecnologia aparece como um fator endgeno, dependente da aplicao de trabalho, capital fsico e capital humano, isto , A = A (K, L, H). Alm disso, como as descobertas so protegidas por direito autoral, durante algum tempo, a informao no pode ser considerada como um bem pblico tpico. Firmas e indivduos adquirem poder de mercado e auferem rendas de monoplio decorrentes de descobertas. Essa imperfeio de mercado, inserida no esprito do modelo schumpeteriano, reduz a peculiaridade de bem no rival da informao (Romer, 1994, p. 13).

Para considerar todos esses fatores, Romer (1986) estabeleceu uma funo de produo Y = A(R) f(Rj, Kj, Lj), em que Rj so os gastos em pesquisa e desenvolvimento realizados pela firma j. Os conhecimentos que eles geram acabam sendo difundidos no conjunto da economia. Ao serem internalizados pelas firmas i, eles contribuem para aumentar sua produo e seus lucros, sem realizarem os gastos correspondentes. Desse modo, como Rj um bem no rival, ele melhora a produtividade dos fatores K, L e H, gerando, portanto, rendimentos crescentes escala. Em concluso, as contribuies do capital fsico e do capital humano sobre o produto ficam subestimadas quando se consideram apenas seus efeitos sobre a empresa que o aplicou. Contudo, esses investimentos beneficiam direta e indiretamente outras unidades produtivas. Tais efeitos indiretos podem elevar substancialmente a contribuio do capital no crescimento do produto, o que explicaria grande parte do fator residual de crescimento (A) do modelo neoclssico. Desse modo, o conhecimento aparece como um fator de produo, como o capital fsico, o capital humano e a mo-de-obra. Conclui-se que a sociedade precisa investir na gerao de conhecimento, como investe em capital fixo e na educao dos trabalhadores. Investimentos em novos conhecimentos geram externalidades, como explicou Romer: A criao de novos conhecimentos por uma firma produz efeitos externos positivos sobre as possibilidades de produo de outras firmas, porque o conhecimento no pode ser perfeitamente patenteado ou mantido secreto. E o que mais importante: a produo de bens de consumo como uma funo do estoque de conhecimento e outros insumos exibe retornos crescentes; mais precisamente, o conhecimento pode ter um produto marginal crescente (Romer, 1986, p. 1003). Em outras palavras, determinado percentual aplicado na expanso do estoque de conhecimentos gera um aumento mais do que proporcional no nvel do produto, pelas interdependncias entre os produtores. Dessa forma, os fatores externos dos investimentos em cincia e tecnologia produzem retornos crescentes de escala, implicando crescimento econmico superior ao crescimento demogrfico e variao tecnolgica inicial. O capital humano, H, o capital fsico, K, e a fora de trabalho, L, esto intimamente associados pelo conhecimento tcnico, gerado internamente, ou importado, e que se difunde entre os agentes produtivos, produzindo externalidades positivas e que so captadas pelas empresas. Desse modo, o conhecimento surge como um insumo na funo de produo como o capital fsico, o capital humano e a fora de trabalho. Para aumentar o produto per capita, alm de aumentar o capital fsico, a

sociedade precisa investir tambm em sade, educao e treinamento dos trabalhadores, assim como na gerao de novos conhecimentos tcnicos. Estes produzem externalidades positivas, que so apropriadas pelos agentes produtivos e elevam o nvel da produo agregada. Isso se explica porque o saber gerado pelas novas tecnologias no pode ser totalmente patenteado, podendo ser internalizado e aperfeioado por empresas rivais da comunidade. As regies ou pases que mantiverem investimentos crescentes na cincia bsica e aplicada, na descoberta de novos produtos e processos de trabalho, bem como em educao e sade de sua populao, devero crescer mais rapidamente. Os rendimentos crescentes da produo de conhecimentos devero neutralizar os rendimentos decrescentes em alguns setores de atividade, principalmente na agricultura. Os pases no inovadores podero beneficiar-se da difuso internacional do conhecimento tcnico, se conseguirem importar tecnologia e, sobretudo, se forem capazes de adapt-las e produzir conhecimento prprio. Desse modo, eles tambm podero crescer a taxas mais elevadas, com melhoria dos indicadores de desenvolvimento.

4 Concluso Partindo-se das anlises de Meade e de Solow, constatou-se que o modelo neoclssico um instrumento simples e eficiente para mostrar a trajetria de crescimento de uma economia no longo prazo. Constatou-se que as produtividades do capital e do trabalho aumentam com maiores conhecimentos e que a renda per capita cresce com o progresso tcnico no equilbrio estvel de longo prazo. Porm, considerando-se duas regies ou pases com desigual nvel inicial de renda per capita e conhecimento tcnico, as desigualdades entre eles devero aumentar pela imperfeita mobilidade espacial de fatores. A rea com estoque inicial superior de conhecimentos dever crescer de modo mais acelerado pela existncia de importantes economias externas e pela adoo mais intensa de novas tecnologias. A concluso a de que a convergncia somente comear quando surgirem novos conhecimentos e economias externas importantes nas regies ou pases mais pobres. Isso poder acelerar-se pela adoo de medidas favorveis, que estimulem a difuso espacial do capital e do progresso tcnico. A introduo do capital humano (H) na funo de produo, reduzindo a elasticidade do produto em relao ao trabalho, torna o modelo neoclssico mais prximo da realidade. Contudo, o progresso tcnico, considerado exgeno no modelo neoclssico, na verdade depende dos prprios fatores K, L e H. Assim, quanto maior a

acumulao de capital fsico e o investimento em capital humano, tanto maior ser a gerao de conhecimentos, o que repercutir em maiores taxas de crescimento econmico. A criao de novos conhecimentos pelas firmas produz efeitos externos positivos sobre as demais firmas, que elevam sua produo sem a realizao de gastos adicionais. Isso se explica porque as novas tecnologias no podem ser perfeitamente patenteadas. O surgimento de imitadores aumenta a produo total, gera novos lucros e novos investimentos.