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Desenvolvimento pré-natal do comportamento motor Duas visões do desenvolvimento motor durante o período fetal Planos de movimento e alinhamento postural Desenvolvimento motor durante a lactância Primeiro trimestre: alinhamento da cabeça Segundo trimestre: levantando e sentando Terceiro trimestre: movimentação constante Quarto trimestre: finalmente andando Comportamento motor durante a primeira infância Desenvolvimento das habilidades locomotoras Desenvolvimento Motor Normal Cindy Goldberg e Ann Van Sant Outras habilidades fundamentais da infância Mudanças no desempenho das habilidades adquiridas na lactância Desenvolvimento das habilidades motoras durante a segunda infância e a adolescência Resultados contemporâneos no desenvolvimento motor Seqüências do desenvolvimento Reflexos como componentes fundamentais do comportamento motor Nova teoria do desenvolvimento motor que é desenvolvimento motor? Por que o estudo do desenvolvimento motor é importante para os fisioterapeutas? Por que eu deveria estudar desenvolvi- mento motor se não espero trabalhar com crianças? Algu- mas dessas informações se relacionam à prática clínica fora do campo da pediatria? Tais questões são freqüentemente feitas por estudan- tes de fisioterapia quando eles começam a estudar o de- senvolvimento motor. São questões muito importantes, e cada uma será respondida posteriormente. O que é desenvolvimento motor? Desenvolvimento mo- tor é o processo de mudança no comportamento motor, o qual está relacionado com a idade do indivíduo. O foco na relação entre a idade e o comportamento motor torna o estudo do desenvolvimento motor único sob outros pon- tos de vista. O desenvolvimento motor inclui mudanças relacionadas à idade tanto na postura quanto no movi- mento, dois ingredientes básicos do comportamento mo- tor. Embora este capítulo se concentre no desenvolvimento motor de bebês e de crianças, o processo de desenvolvi- mento ocorre durante toda a vida. Adolescentes, adultos jovens e pessoas com 30, 40 anos ou mais também apresen- tam contínuas mudanças no comportamento motor. O que causa essas mudanças? Por muitos anos, os fi- sioterapeutas atribuíram muitas das mudanças que vemos no comportamento motor a mudanças que ocorrem no sistema nervoso central (SNC). Pensava-se que as mudan- ças do desenvolvimento nas habilidades motoras refle- tiam a maturação do SNC. Recentemente, entretanto, co- meçamos a perceber que o sistema nervoso não é a única estrutura que determina as mudanças do desenvolvimen- to. Mudanças em outros sistemas do corpo, como as do sistema musculoesquelético e cardiorrespiratório, também influenciam o desenvolvimento motor. Naturalmente, o ambiente no qual vivemos exerce uma influência muito forte e sistemática no desenvolvimento motor. Por conse- guinte, as causas do desenvolvimento motor são muitas. Cada sistema — tanto um sistema do corpo quanto um sistema ambiental específico — interage de um modo com- plexo e fascinante para realizar mudanças no comporta- mento motor conforme envelhecemos. Por que é importante que os fisioterapeutas entendam o desenvolvimento motor? As mudanças que ocorrem no de- senvolvimento motor dos bebês são realmente notáveis. Ao nascer, o bebê é totalmente dependente, mas no pri- meiro ano a criança adquire um impressionante grau de independência física. Ela muda da impotência para a com- petência em atividades motoras amplas, como sentar, en- gatinhar e levantar-se, e em habilidades motoras finas, que incluem a manipulação de vários tipos de objetos.

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Desenvolvimento pré-natal do comportamento motorDuas visões do desenvolvimento motor durante o

período fetal

Planos de movimento e alinhamento postural

Desenvolvimento motor durante a lactânciaPrimeiro trimestre: alinhamento da cabeçaSegundo trimestre: levantando e sentandoTerceiro trimestre: movimentação constanteQuarto trimestre: finalmente andando

Comportamento motor durante a primeira infânciaDesenvolvimento das habilidades locomotoras

Desenvolvimento Motor Normal

Cindy Goldberg e Ann Van Sant

Outras habilidades fundamentais da infânciaMudanças no desempenho das habilidades adquiridas

na lactância

Desenvolvimento das habilidades motoras durante asegunda infância e a adolescência

Resultados contemporâneos no desenvolvimentomotor

Seqüências do desenvolvimentoReflexos como componentes fundamentais do

comportamento motorNova teoria do desenvolvimento motor

que é desenvolvimento motor? Por que o estudodo desenvolvimento motor é importante para os

fisioterapeutas? Por que eu deveria estudar desenvolvi-mento motor se não espero trabalhar com crianças? Algu-mas dessas informações se relacionam à prática clínicafora do campo da pediatria?

Tais questões são freqüentemente feitas por estudan-tes de fisioterapia quando eles começam a estudar o de-senvolvimento motor. São questões muito importantes, ecada uma será respondida posteriormente.

O que é desenvolvimento motor? Desenvolvimento mo-tor é o processo de mudança no comportamento motor, oqual está relacionado com a idade do indivíduo. O foco narelação entre a idade e o comportamento motor torna oestudo do desenvolvimento motor único sob outros pon-tos de vista. O desenvolvimento motor inclui mudançasrelacionadas à idade tanto na postura quanto no movi-mento, dois ingredientes básicos do comportamento mo-tor. Embora este capítulo se concentre no desenvolvimentomotor de bebês e de crianças, o processo de desenvolvi-mento ocorre durante toda a vida. Adolescentes, adultosjovens e pessoas com 30, 40 anos ou mais também apresen-tam contínuas mudanças no comportamento motor.

O que causa essas mudanças? Por muitos anos, os fi-sioterapeutas atribuíram muitas das mudanças que vemos

no comportamento motor a mudanças que ocorrem nosistema nervoso central (SNC). Pensava-se que as mudan-ças do desenvolvimento nas habilidades motoras refle-tiam a maturação do SNC. Recentemente, entretanto, co-meçamos a perceber que o sistema nervoso não é a únicaestrutura que determina as mudanças do desenvolvimen-to. Mudanças em outros sistemas do corpo, como as dosistema musculoesquelético e cardiorrespiratório, tambéminfluenciam o desenvolvimento motor. Naturalmente, oambiente no qual vivemos exerce uma influência muitoforte e sistemática no desenvolvimento motor. Por conse-guinte, as causas do desenvolvimento motor são muitas.Cada sistema — tanto um sistema do corpo quanto umsistema ambiental específico — interage de um modo com-plexo e fascinante para realizar mudanças no comporta-mento motor conforme envelhecemos.

Por que é importante que os fisioterapeutas entendam odesenvolvimento motor? As mudanças que ocorrem no de-senvolvimento motor dos bebês são realmente notáveis.Ao nascer, o bebê é totalmente dependente, mas no pri-meiro ano a criança adquire um impressionante grau deindependência física. Ela muda da impotência para a com-petência em atividades motoras amplas, como sentar, en-gatinhar e levantar-se, e em habilidades motoras finas,que incluem a manipulação de vários tipos de objetos.

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Muitas crianças já andam em seu primeiro ano de vida. Opadrão natural de progressão em direção à independên-cia física pode ser um guia muito útil na preparação deum plano de tratamento para ajudar os indivíduos a supe-rarem suas limitações e a ganharem independência. O pla-nejamento do tratamento é facilitado pela compreensão doprocesso natural pelo qual a independência física é adquirida.

Por que devo estudar o desenvolvimento motor se nãopretendo trabalhar com crianças? Algumas dessas informa-ções se relacionam à prática clínica fora do campo da pedia-tria? Deficiências físicas resultantes de doença ou traumapodem afetar a independência funcional em qualquer ida-de. Quando a independência é alterada, o padrão naturalpelo qual os indivíduos ganham pela primeira vez a auto-suficiência é um guia muito útil para recuperar a inde-pendência física. O conhecimento sobre desenvolvimentomotor é tão importante para aqueles que trabalham comadultos jovens ou idosos quanto para aqueles que traba-lham com crianças ou adolescentes. Entender como seconsegue controlar a postura e os movimentos por meioda aquisição de habilidades que são parte da nossa vidadiária é uma informação útil para terapeutas em todos ostipos de prática. O que sabemos sobre as mudanças dodesenvolvimento em um período da vida pode ser usadopara ajudar indivíduos em todas as idades.

Este capítulo aborda o comportamento motor carac-terístico do período pré-natal e da primeira e da segundainfâncias. Começando com o período pré-natal, a discus-são dos variados e claramente bem-adaptados movimen-tos dos fetos estabelece a etapa para a compreensão dagrande mudança a que o indivíduo se submete, como aforça da gravidade imediatamente experimentada ao nas-cimento. O notável progresso da infância no alcance deum grande grau de independência física durante o pri-meiro ano pós-natal será descrito em linhas gerais. A dis-cussão irá explorar a extensão de fatores conhecidos porinfluenciar o comportamento motor durante os períodosiniciais do desenvolvimento. Os ganhos motores da infân-cia serão abordados e as realizações mais importantes se-rão resumidas. Finalmente, na conclusão do capítulo, dis-cutiremos brevemente algumas idéias contemporâneassobre o desenvolvimento motor, úteis para todos os tera-peutas que estão tentando entender os fatos que funda-mentam o comportamento motor, independentemente daidade dos indivíduos com os quais poderão vir a traba-lhar.

!DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATALDO COMPORTAMENTO MOTOR

Uma linguagem distinta tem sido desenvolvida para des-crever os períodos e as características do desenvolvimen-to motor antes do nascimento. O período pré-natal do de-senvolvimento é também conhecido como período gestacional.

Esse período dura tipicamente entre 38 e 40 semanas, oque significa aproximadamente nove meses de gravidez.A etapa pré-natal é um momento de rápidas mudanças dedesenvolvimento.

A idade do indivíduo em desenvolvimento antes donascimento é medida usando-se uma variedade de con-venções. Idade menstrual (IM) é o termo usado quando aidade do indivíduo é calculada a partir do primeiro dia doúltimo período menstrual da mãe. A idade menstrual étipicamente medida em semanas. O termo idade gestacio-nal (IG) tem sido mais usado recentemente e é quase equi-valente à idade menstrual. A fase pré-natal do desenvol-vimento pode ser dividida em três períodos: o períodogerminal, o período embrionário e o período fetal.

O período germinal começa no momento da fertiliza-ção e dura duas semanas. É durante essa fase que o ovofertilizado — denominado zigoto — submete-se a umarápida divisão celular. O zigoto viaja pela tuba uterina parao útero e, ao final do período germinal, liga-se à paredeuterina. O período embrionário começa duas semanas de-pois da concepção e dura cerca de seis semanas. Duranteessa fase, o indivíduo em desenvolvimento é conhecidocomo embrião. O período embrionário é caracterizado porrápidas mudanças morfológicas. Durante essa etapa, ascélulas dividem-se rapidamente, crescendo e diferencian-do-se para assumir funções especializadas. No final doperíodo embrionário, o indivíduo em desenvolvimento temcerca de 5 cm de comprimento e é reconhecido como serhumano. O período fetal começa na sétima semana da IMe termina ao nascimento. É nessa fase que o comporta-mento motor aparece pela primeira vez. Durante o perío-do fetal, o indivíduo em desenvolvimento é referido comofeto. A Tabela 1.1 mostra um panorama das característi-cas do desenvolvimento.

Duas visões do desenvolvimentomotor durante o período fetal

Antes dos anos 70, nosso conhecimento do desenvolvi-mento durante o período fetal estava limitado por nãopodermos visualizar o feto. Os métodos usados para re-gistrar a atividade fetal incluíam relatos maternos dosmovimentos fetais, escuta por meio da parede uterina comum estetoscópio ou, em algumas ocasiões, ecocardiogra-mas ou eletromiografias para detectar movimentos pormeio do abdômen da mãe.

Sem a possibilidade de visualizar o feto no útero,médicos e pesquisadores propuseram que o comportamen-to motor de bebês abortados poderia ser estudado paraentender o movimento fetal. Hooker (1944), um anato-mista e pesquisador, estudou fetos abortados que não eramcapazes de manter as funções vitais necessárias para avida extra-uterina. Sua pesquisa serviu como um embasa-mento clássico para a compreensão de como o comporta-mento motor humano evolui antes do nascimento. Teóri-

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TABELA 1.1Desenvolvimento embrionário*

Idade gestacional Características do desenvolvimento

Primeiro mês2 1/2 semanas A forma e o comprimento são determinados.

Início da placa neural para o cérebro.O coração começa como um único tubo; pode bater; ainda não há sangue circulando.

3 semanas As células diferenciam-se em três camadas:1. Ectoderme — camada externa: transforma-se em pele, pêlos, unhas, glândulas sensoriais e

de pele e todo tecido nervoso.2. Mesoderme — camada média: transforma-se em músculos, órgãos circulatórios ósseos e

algumas das glândulas endócrinas.3. Endoderme — camada interna: transforma-se em órgãos digestivos, fígado, trato

alimentar, revestimentos e na maioria das glândulas endócrinas.

28 dias A região da cabeça é diferenciada, tomando 1/3 do comprimento do corpo.Comprimento de O cérebro e a medula espinal primitiva são desenvolvidos.0,50 cm Olhos, ouvidos e nariz rudimentares aparecem.

O broto inicial dos membros aparece.

Segundo mês O embrião fica com uma aparência mais humana com as características tornando-se maisidentificáveis.

6 semanas Formação dos dentes decíduos.

8 semanas O embrião agora se torna um feto.Comprimento 2,54 cm Os órgãos tornam-se funcionais.Peso 18,9 g

Final do terceiro mês Começa maior atividade:Comprimento 7,6 cm O feto gira a cabeça, dobra o cotovelo, fecha o punho, mexe os dedos dos pés e move os

quadris.Peso 21,2 g Os movimentos não são detectados pela mãe, entretanto soluços serão sentidos.

Quarto mês Aparecem as impressões digitais.Comprimento 15,2 cm A mãe começa a sentir os movimentos.Peso 113,4 g

Quinto mês O feto move-se e gira facilmente.Comprimento 30,4 cm Padrões regulares de vigília e sono desenvolvem-se.Peso 500 g O reflexo de sucção está presente.

O batimento cardíaco torna-se regular.

Sexto mês O cabelo cresce mais espesso.Comprimento 35,5 cm Os olhos abrem e fecham-se.Peso 1 kg

Sétimo mêsComprimento 40,6 cmPeso 1,5 kg

Oitavo e nono meses Começa uma fase mais intensa de crescimento.Os movimentos fetais começam a ficar mais lentos.

*Adaptada de Kaluger G, Kaluger MF: Human Development: The Span of Life. St. Louis: CV Mosby, 1974.

cos pioneiros em fisioterapia, como Margaret Rood e Do-rothy Voss, estudaram os achados de Hooker para enten-der mais detalhadamente as formas primitivas do movi-mento humano. Elas aplicaram o que aprenderam deHooker às suas avaliações do comportamento motor, as-sim como à seqüência de habilidades motoras que incluí-ram em seus programas de tratamento.

Desenvolvimento das respostas motoras àestimulação

De acordo com Hooker (1944), o comportamento motorpode ser evocado na idade de aproximadamente oito se-manas de IM. Em seus estudos, o feto foi mantido em so-lução isotônica sob temperatura corpórea. Ele usou a ponta

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de um fio de cabelo para aplicar estimulação tátil à peledo feto. Ele filmou e registrou cuidadosamente qualquerresposta motora à estimulação tátil. As respostas maisprecoces foram obtidas apenas quando o toque era apli-cado em torno da boca, a área perioral. As respostas mo-toras foram caracterizadas por movimentos de retirada.O feto fletia lateralmente e rodava a cabeça de modo quea boca se movia em direção oposta ao local do estímulo.Hooker nomeou esses reflexos como reações de esqui-var-se. Na aplicação do estímulo em fetos mais velhos, eleachou que a área sensível à estimulação tátil se tinha es-palhado da boca para todas as direções: para cima emdireção ao nariz, para as laterais da face, para o queixo e,mesmo em indivíduos mais velhos, para o pescoço e partesuperior do tórax. A área expandida da sensibilidade cu-tânea foi acompanhada por um aumento cada vez maiorda variedade da amplitude de resposta de retirada. Emfetos mais velhos, foram vistas não apenas flexão e rota-ção de pescoço, mas também o tronco e a pelve fletiamlateralmente e rodavam para o lado oposto da estimula-ção. Essas respostas de variedade de amplitude foram cha-madas de “respostas corporais completas”. Em um feto de11 semanas, quando as palmas das mãos eram tocadas,ocorria um fechamento parcial dos dedos. Em fetos damesma idade ou ligeiramente mais velhos, o toque na solado pé resultava em flexão plantar dos dedos. Assim comoas primeiras respostas vistas na área perioral, as respos-tas dos membros superiores e inferiores eram de maiorvariedade de amplitude em fetos mais velhos, envolven-do flexão e retirada do estímulo aplicado na palma ou nasola. Em fetos mais velhos, as áreas de sensibilidade cutâ-nea eram encontradas em áreas mais proximais dos mem-bros, incluindo eventualmente todo o membro superiorou inferior.

As respostas de fetos mais velhos abrangeram um cres-cente número de regiões do corpo, e o caráter das respos-tas também mudou. Ao contrário da retirada da região doestímulo, houve um aumento na freqüência de respostasque moviam a face em direção ao estímulo. Essa mudan-ça gradual na direção — de movimentos contrários aoestímulo por volta da oitava semana, para o movimentoem direção ao estímulo na 12a semana — tem importan-tes conseqüências. O feto que se move para longe do estí-mulo está demonstrando o que pode ser interpretado comouma função de sobrevivência muito primitiva de proteçãocontra lesões. Mesmo depois do nascimento, o indivíduonão pode retirar-se de todos os toques recebidos na áreaperioral, pois a alimentação seria impossível. Em um pe-ríodo de tempo relativamente curto, na idade de 14 a 15semanas de IM, todos os movimentos de alimentação pre-liminares, incluindo abertura e fechamento de boca, ma-nutenção dos lábios fechados e movimentos da língua,estavam presentes. Em fetos de 29 semanas de IM, foiobservada sucção audível. O caráter de resposta de tron-co e membros em fetos mais velhos também foi diferente.

Em vez de continuar a se espalhar, como as respostas cor-porais completas, algumas ações ficaram restritas a áreaslocais e as respostas foram variadas. Em fetos de 14 a 15semanas de IM, Hooker descreveu as características dosmovimentos como graciosos e delicados. Nessa idade, asrespostas que envolviam a ação de todo o corpo poderiamincluir seqüências completas de ação. Por exemplo, movi-mentos como a extensão da cabeça e do tronco eram segui-das por rotação e flexão. As seqüências de ação foram des-critas como “antecipatórias” da vida pós-natal, uma vez queelas pareciam incluir padrões de ação tipicamente vistosdepois do nascimento como o ato de rolar ou de alcançar.

Os estudos de Hooker foram considerados pelos fisio-terapeutas uma importante fonte de informação em rela-ção ao desenvolvimento motor durante o período pré-na-tal. A suposição de que fetos abortados demonstram umcomportamento típico do comportamento fetal intra-ute-rino ainda tem sido questionada. Alguns argumentam queo ambiente de fetos abortados é drasticamente diferentedo ambiente intra-uterino e que o comportamento motorobservado fora do útero não é representativo do desen-volvimento motor normal que ocorre no ambiente intra-uterino. Uma segunda crítica a esses estudos é a de que osfetos estudados estavam morrendo durante o estudo. Fe-tos nascidos tão prematuros quanto os que Hooker estu-dou não poderiam respirar para manterem-se vivos. Mui-tas das reações observadas podem ter sido decorrentes dadiminuição de oxigênio no sangue. Além disso, os fetosabortados podem ter tido sérias anormalidades que pro-vocaram o nascimento prematuro. Se foi esse o caso, osmovimentos observados e descritos por Hooker podem nãoser típicos da população normal de bebês nascidos a ter-mo ou com 37 a 42 semanas de IG.

Desenvolvimento dos movimentosespontâneos

Os movimentos espontâneos representam uma classe di-ferente dos movimentos de respostas reflexas. Em vez deserem evocados, os movimentos espontâneos surgem semum estímulo aparente. Reflexos são respostas evocadas, eseu início depende de um estímulo. Os movimentos es-pontâneos surgem sem estímulos externos e podem serconsiderados como auto-iniciados, não sendo necessaria-mente “voluntários”. Na verdade, o termo “movimentovoluntário” pode ser problemático ao se discutir o desen-volvimento inicial. Vontade implica intenção e propósito,e não temos uma maneira confiável de determinar a in-tenção de um indivíduo muito jovem.

Até recentemente, os pesquisadores e os médicos con-centravam-se na descrição de reflexos ou respostas evo-cadas do feto e de bebês e ignoravam as ações espontâ-neas. Essa tendência em concentrar-se nos reflexos é pro-vavelmente um resultado de nossa cultura científica, quevaloriza experimentos bem-controlados. A preferência pela

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abordagem de experimentos controlados para documen-tar o comportamento humano pode ter levado à crençageral de que os bebês conseguem executar apenas “movi-mentos reflexos”. Em uma abordagem experimental aoestudo do movimento, os movimentos espontâneos foramconsiderados eventos aleatórios e sem propósito que in-terferiam no estudo.

Na década de 1970, o avanço tecnológico da monito-rização ultra-sonográfica do feto trouxe uma revoluçãoem nosso entendimento do desenvolvimento do movimen-to durante o período fetal. Milani-Comparetti, um neu-ropsiquiatra infantil italiano, observou e interpretou osregistros ultra-sonográficos de mais de mil mulheres grá-vidas. Essas gestantes continuaram a esperar bebês nor-mais e saudáveis. Milani-Comparetti, até o período de seuestudo com o ultra-som, tinha sido um firme adepto dosreflexos como unidade fundamental do comportamentomotor humano. Entretanto, suas observações dos regis-tros ultra-sonográficos dos fetos em desenvolvimento nor-mal mudaram seus conceitos mais básicos do desenvolvi-mento motor. Milani-Comparetti ficou impressionado coma natureza espontânea e freqüente dos movimentos fetaisiniciais. Ele não achou estímulos que evocassem os movi-mentos naturais do indivíduo em desenvolvimento.

Ele descreveu o aparecimento seqüencial de açõesespontâneas durante o período fetal e contribuiu para umagrande compreensão do movimento humano pela descri-ção de padrões de movimentos primários (PMPs). De acor-do com Milani-Comparetti, os PMPs são dados fundamen-tais de ação a partir dos quais todos os movimentoshumanos se desenvolvem. Os padrões de ação surgem deforma espontânea e posteriormente se tornam ligados aestímulos sensoriais para formar automatismos primários.Um automatismo primário é similar a um reflexo. Seu con-ceito de que os movimentos espontâneos surgem antes dosautomatismos primários foi revolucionário, sobretudo paraaqueles que achavam que o reflexo era a unidade básicado comportamento motor a partir da qual todos outrosmovimentos se originariam.

A rica e vívida descrição de Milani-Comparetti dosmovimentos bem-adaptados do feto é um excelente exem-plo de como a tecnologia moderna pode ser aplicada paranos ajudar a compreender o movimento humano. Ele des-creveu os movimentos precoces como “saltitantes”, os quaisapareciam espontaneamente em fetos de aproximadamen-te 10 semanas de IG. Uma série de saltos continuava emsucessão até o feto atingir uma nova posição de descansono assoalho uterino. A forma mais precoce de salto envol-via a extensão dos membros inferiores e a flexão dos mem-bros superiores. Mais tarde, aparentemente devido ao cres-cimento fetal dentro do espaço intra-uterino restrito, osmembros superiores eram trazidos para a frente e esten-diam-se para baixo em frente ao corpo durante os saltos.

Os movimentos locomotores que capacitam o feto amovimentar-se dentro da placenta foram descritos como

uma parte do comportamento motor na 17a semana deIG. Milani-Comparetti descreveu uma grande variedadede movimentos fetais muito bem-adaptados, incluindo aexploração da face e do corpo com as mãos, agarrar emover o cordão umbilical e assim por diante. A sucçãoespontânea do polegar e a deglutição foram documenta-das. Respostas a estímulos visuais e auditivos apareciamantes do nascimento. Sons ou luzes foram aplicados naparede abdominal da mãe para examinar as respostas aosestímulos. Inicialmente, respostas de alarme foram obser-vadas, com ambas as mãos sendo levantadas para prote-ger a face aparentemente em um padrão de proteção.

Milani-Comparetti discutiu como as respostas maisprecoces eram usadas, em última instância, “para nascer”.A locomoção era usada a fim de mover-se para a posiçãode nascimento com a cabeça para baixo, encaixada na saídapélvica. Os movimentos de salto eram usados a fim deempurrar a parede uterina para iniciar ou cooperar noprocesso de nascimento. Os movimentos de respiração,sucção e deglutição eram preparatórios para a alimenta-ção depois do nascimento, e as respostas visuais e auditi-vas preparavam o bebê para receber informações sobre onovo ambiente pós-natal. Não se pode ler o trabalho deMilani-Comparetti sem a impressão geral de que o feto secomporta de modo a refletir a adaptação progressiva aoambiente uterino, assim como antecipa o processo de nas-cimento que ocorre ao final do período gestacional.

Resumo

Existem duas visões distintamente diferentes do períodofetal e, desse modo, das origens dos movimentos huma-nos. Um ponto de vista baseia-se na pesquisa conduzidaem fetos fora do ambiente uterino, e outro, na pesquisaconduzida acerca de como os fetos funcionam dentro doútero. Esta última, um estudo mais natural dos movimen-tos pré-natais, revela movimentos fetais muito ativos eespontâneos. A pesquisa conduzida em um ambiente ex-tra-uterino mostra os movimentos fetais como reflexos.Tais pontos de vista foram influenciados pela tecnologiadisponível aos pesquisadores na época em que eles con-duziam seus estudos, mas também foram influenciadospelas perspectivas predominantes na época em que foramdesenvolvidos. Recentemente, fisioterapeutas vêm-se in-teressando em movimentos autoproduzidos, depois de umlongo período de concentração nos reflexos e nas reaçõesdos pacientes. Pode-se perceber agora o quanto é impor-tante encorajar ações auto-iniciadas, uma vez que são umaparte integral do movimento humano desde o princípio.Como resultado, o trabalho de Milani-Comparetti na des-crição dos movimentos auto-iniciados mais precoces é degrande interesse para os terapeutas e é, por natureza, re-volucionário. A perspectiva única de Milani-Comparetticoloca em contraste direto a visão tradicional de que ofeto é um ser reflexo e passivo.

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!PLANOS DE MOVIMENTO EALINHAMENTO POSTURAL

Antes de discutir os padrões e as habilidades específicosassociados com o desenvolvimento motor normal, pareceútil apresentar o esquema pelo qual o movimento é fre-qüentemente descrito. O corpo humano tem uma grandevariedade de combinações de movimento disponíveis.Como resultado dessas combinações, uma pessoa podeescolher movimentos em segurança nos variados tipos deterrenos, em superfícies com pouco atrito e, nas situaçõesem que o equilíbrio é perdido, a pessoa pode tanto recu-perar uma posição ereta quanto usar as mãos para se pro-teger durante a queda. O desenvolvimento de força equi-valente ou balanceada na oposição de grupos muscularesé considerado por muitos como algo importante para seobter uma boa postura. A falha do desenvolvimento deforça equivalente pode distorcer o alinhamento apropria-do que, em última análise, leva a movimentos ineficientese à resistência reduzida. As estruturas do corpo precisamsuportar grandes esforços e uma carga mecânica aumen-tada quando os músculos não estão equilibrados e quan-do os ossos e as articulações estão impropriamente ali-nhados.

Em termos de movimento, o corpo é dividido em trêsplanos: frontal, sagital e transverso. O plano frontal divi-de o corpo em porções anterior e posterior, o plano sagitaldivide o corpo em porções direita e esquerda e o planotransverso divide o corpo em porções superior e inferior.O movimento dentro do plano sagital ocorre mediante fle-xões e extensões contra a gravidade. Os movimentos anti-gravitacionais também ocorrem durante a flexão lateraldentro do plano frontal. No plano transverso, os movi-mentos ocorrem com rotação sobre o eixo do corpo. Ospontos de referência mudam quando o movimento ocorrepor meio do plano de movimento. O movimento que cru-za o plano frontal torna-se anterior e posterior; movimen-tos que cruzam o plano sagital tornam-se paralelos ou la-terais. Em função de a movimentação normal raramenteser unidimensional, para se obter um alinhamento postu-ral apropriado, é essencial combinar e controlar todos osmovimentos dentro e por meio dos planos.

O tônus muscular postural normal também é impor-tante para suavizar os movimentos por meio dos planosde movimentos. O tônus muscular tem sido descrito pormuitos como a condição do músculo que, embora sem umacontração ativa, determina a postura do corpo, a amplitu-de de movimento das articulações e a sensação dos mús-culos. O tônus muscular normal é alto o suficiente parapermitir movimentos contra a gravidade, e baixo o sufici-ente para dar completa liberdade de movimento pelosvários planos e em resposta a vários estímulos.

!DESENVOLVIMENTO MOTORDURANTE A PRIMEIRAINFÂNCIA

A primeira infância é considerada o período do nascimentoaté a criança ser capaz de ficar em pé e andar. Tipicamente, aprimeira infância dura aproximadamente um ano. Esse pe-ríodo é muito instrutivo para os fisioterapeutas. O neonato,essencialmente incapaz de encarar a gravidade, desenvolvede forma gradual a habilidade de alinhar os segmentos docorpo, tanto um segmento em relação ao outro quanto emrelação ao ambiente, alcançando o que é chamado de “pos-tura normal” da posição ereta. O ambiente gravitacional noqual o bebê tem que viver é quase completamente conquista-do durante o primeiro ano. O bebê recém-nascido, capaz demanter a cabeça apenas por alguns instantes, ganha a habili-dade de segurar a cabeça em uma postura crescentementevertical. A postura fletida dos recém-nascidos dá lugar à pos-tura estendida da posição ereta. Com o passar do tempo, osbebês adquirem habilidades locomotoras: primeiro rolando,depois rastejando-se e engatinhando, então andando comapoio, até finalmente alcançar a importante marca da loco-moção independente, como mostra a Tabela 1.2.

Na discussão a seguir, os ganhos motores do primeiroano de vida serão discutidos em cada um dos quatro trimes-tres durante o primeiro ano pós-natal. Um trimestre abrangeum período de três meses. A divisão do primeiro ano emquatro períodos é útil para entender as rápidas aquisiçõesmotoras do bebê. Em cada trimestre, seu comportamentoserá discutido para cada uma das quatro posições: a posiçãosupina, a posição prona, sentada e em pé. Em vez de focali-zar uma seqüência mensal de marcos motores, os ganhosmotores do bebê serão resumidos por trimestre.

Primeiro trimestre: alinhamento dacabeça

O recém-nascido é chamado de neonato — período quedura duas semanas. A postura do neonato é caracterizadapela flexão, que, acredita-se, é derivada da postura fleti-da imposta dentro do útero durante o período pré-natal.Depois do sétimo mês de gestação, há um espaço limita-do para os movimentos do feto. A postura fletida tambémtem sido atribuída aos níveis de desenvolvimento do sis-tema nervoso. Especificamente, acredita-se que as re-giões do cérebro responsáveis pelas habilidades motorasenvolvidas na extensão do corpo contra a força da gravi-dade não estão completamente desenvolvidas nesse pe-ríodo. Como resultado da postura fletida, quando o bebêé colocado na posição prona, os braços e as pernas enro-lam-se sob o tronco, fazendo com que, desse modo, o pesodo bebê vá em direção à cintura escapular. Embora essa

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postura flexora inicial coloque a criança em uma posiçãoque dificulta seus movimentos, o bebê pode desenvolveruma das mais importantes e básicas habilidades — a delevantar e girar a cabeça de um lado para o outro. Esse é oprimeiro movimento ativo da criança contra a gravidadee é realizado usando uma combinação de músculos queestendem e giram o pescoço. Esse é o principal ganho doprimeiro trimestre.

A posição supina

Quando o bebê está em posição supina, a cabeça e a partesuperior do tronco descansam em uma superfície de apoiocom a cabeça virada para um lado (Figura 1.1). A parteinferior do tronco em geral está fletida, de modo que asnádegas não tocam completamente a cama. Tanto os mem-bros superiores quanto os inferiores são mantidos em umapostura relativamente simétrica de flexão durante os pri-meiros dias depois do nascimento. Os pés podem estarposicionados perto das nádegas, e as mãos com freqüên-cia estão em contato com o tronco. Os quadris são tipica-mente mantidos em flexão e continuamente impedidosde se aproximar da superfície de apoio pela ação dosmúsculos adutores do quadril. Os joelhos estão fletidos eos tornozelos são mantidos em um ângulo agudo de dor-siflexão. Os braços são mantidos em flexão junto ao cor-po. Os cotovelos e as mãos estão fletidos.

Por causa da predominância da flexão, é encontradaalguma resistência quando os membros do bebê são mo-vidos passivamente em extensão. Os cotovelos, os joelhose os quadris voltam à flexão depois de serem estendidospassivamente. A tendência a manter uma postura fletidae a voltar a ela quando liberado de uma posição estendidaé chamada de “tônus flexor”. Os mecanismos fisiológicos

responsáveis por esse fenômeno não são claramente com-preendidos. Acredita-se que a postura reflete a elasticida-de dos tecidos moles que ficaram confinados em uma pos-tura flexora no final do período fetal e a atividade dosistema nervoso central (SNC) nesse ponto inicial do de-senvolvimento pós-natal.

A postura fletida do recém-nascido é normal, masdecresce gradualmente. Ao final do primeiro trimestre, ograu de flexão dos membros diminui. Os pés e os braçosdeixam de manter distância da superfície de apoio. Acre-dita-se que essa mudança resulte de movimentos exten-sores ativos do bebê e da ação da gravidade.

A postura dos membros superiores do bebê muda du-rante o primeiro trimestre. Depois de cerca de um mês, quan-do a cabeça está na posição relativamente central ou na linhamédia, a flexão dos membros superiores começa a dar lugara uma postura de abdução e de extensão de braços. Inicial-mente, essa postura é vista quando o bebê está dormindo

TABELA 1.2Marcos do desenvolvimento motor para o primeiro ano de vida*

Idade média de aquisição Variação normal de idadeConquistas funcionais (em meses) (em meses)

Mantém a cabeça ereta e firme 0,8 0,7-4,Vira-se da posição lateral para a posição supina 1,8 0,7-5,Senta-se com apoio 2,3 1-5Vira-se da posição supina para a posição lateral 4,4 2-7Senta-se sozinho (momentaneamente) 5,3 4-8Rola da posição supina para a posição prona 6,4 4-10Senta-se sozinho (firmemente) 6,6 5-9Primeiros movimentos de passos (com apoio) 7,4 5-11Puxa-se para a posição em pé 8,1 5-12Anda com auxílio 9,6 7-12Em pé sozinho 11,0 9-16Anda sozinho 11,7 9-17

*De Bayley N. Bayley Scales of Infant Development, New York: Psychological Corp.: 1969

FIGURA 1.1 Primeiro trimestre, posição supina.

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ou quando todo seu corpo se move em expressão de prazerou felicidade. Quando o bebê chora, uma postura flexoraaguda reaparecerá. Quando a cabeça é virada completamen-te para a direita ou para a esquerda, uma postura assimétri-ca de membros superiores e inferiores pode ser vista. Omembro superior para o qual a face é virada é freqüente-mente abduzido para o lado, com o cotovelo estendido. Omembro inferior no lado da face é estendido. O outro mem-bro superior é abduzido e rodado lateralmente, de modoque ele fica sobre a cama com o cotovelo fletido. Essa pos-tura de membros superiores é comumente chamada de pos-tura reflexa tônico-cervical assimétrica.

Os movimentos do primeiro trimestre envolvem pe-ríodos de extensão, chutes e empurrões das extremidadese rotações e inclinações da cabeça e do tronco. A freqüên-cia e o grau de movimentos estão relacionados com o “es-tado do bebê”. Antes da alimentação, os bebês tendem aser mais ativos. Eles ficam mais quietos e sonolentos de-pois das refeições. O bebê consegue focalizar objetos man-tidos a uma curta distância de sua face e seguirá o objeto,levando a cabeça para a posição da linha média, porémnão além dela. Os bebês não conseguem seguir objetosalém da linha média até o final do primeiro trimestre.

Não é incomum para um bebê rolar de uma posiçãosupina para uma posição deitada de lado durante o pri-meiro trimestre. O rolar geralmente resulta da combina-ção da rotação de cabeça com a extensão da cabeça e dotronco. Um rolar da posição supina para prona é geral-mente um evento acidental no começo do segundo tri-mestre. Um rolar consistente não aparecerá até o final dosegundo trimestre ou durante o terceiro trimestre.

Ao ficar na posição supina, o bebê ocupa-se muitobrincando com as mãos e com os pés e começa a explorarseu corpo. O esquema corporal do bebê melhora confor-me ele brinca com as suas mãos, dá estímulo sensorial aospés e explora seu corpo na preparação de atividades pos-teriores. O bebê envolve-se nessas atividades mais comu-mente com a cabeça na linha média do que se movendode um lado a outro. A orientação da linha média permitea convergência dos olhos e das mãos, que se unem para aexploração corporal.

A posição prona

Na posição prona, o recém-nascido permanece em flexãocom a cabeça virada para um lado. O neonato tem a capa-cidade de levantar e de virar a cabeça de um lado a outro.Um recém-nascido colocado em posição prona conseguemanter o nariz e a boca desobstruídos e livres para a res-piração. No início do primeiro trimestre, os membros su-periores são mantidos relativamente perto do corpo emuma posição fletida. Os membros inferiores curvam-se sobo bebê, mantendo o abdômen inferior afastado da cama.Os quadris e os joelhos ficam fletidos em ângulo agudo eos pés, em dorsiflexão.

Quando acordado e em posição prona, o bebê passabastante tempo estendendo ativamente a cabeça e o tron-co contra a força da gravidade. O bebê levanta a cabeçarepetidamente. Ele parece estar procurando uma orienta-ção da linha média, mas a cabeça está em geral fora docentro e oscila para cima e para baixo. Ocasionalmente,os esforços são tão grandes que a parte superior do troncoé levantada também, de modo que o bebê suporta seupeso nos antebraços, que estão em rotação medial e do-brados sob o tronco (Figura 1.2). A habilidade do bebêem levantar a parte superior do tórax da superfície de apoiodepende da ação balanceada de flexores e extensores tra-balhando juntos. Essa postura “nos cotovelos” torna-se cadavez mais freqüente durante o primeiro trimestre. Com afreqüência aumentada da extensão ativa da cabeça e dotronco surge a tentativa de arrumar os cotovelos sob ocorpo e de apoiar o peso da parte superior do tronco nasmãos. O bebê freqüentemente empurra para cima e entãocai, balançando para frente o tronco com os braços fleti-dos e para trás em retração. Essa seqüência de empurrarpara cima e então cair em posição prona torna-se pro-gressivamente comum ao redor do fim do primeiro tri-mestre.

Sentar e ficar em pé

Durante o primeiro trimestre, o bebê não pode sentar ouficar em pé sozinho. Isso não é um problema de força,uma vez que o bebê consegue desenvolver tensão sufi-ciente nos músculos para sustentar completamente o pesodo corpo em pé. É necessário ajudar o bebê, pois ele nãopossui habilidade e reações de balance*. O controle e acoordenação sofisticados dos músculos que mantêm obalance ainda não estão desenvolvidos.

Ao ser mantido na posição sentada, o bebê tem ascostas curvas (Figura 1.3). A cabeça é tipicamente manti-

FIGURA 1.2 Primeiro trimestre, posição de apoionos cotovelos.

*N. de T. Reações de balance: nome que se dá so conjunto das rea-ções de retificação, reação de proteção e reação de equilíbrio.

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da em uma posição fletida adiante da vertical. Entretan-to, a menos que o bebê esteja muito sonolento, o queixonão se inclina; ao contrário, ele é mantido afastado dotórax pela contração ativa dos extensores do pescoço. Acabeça balança, com intermitente perda de sua posição.O balançar da cabeça visto na posição sentada é similarao intermitente levantar de cabeça observado na posiçãoprona.

Durante o curso do primeiro trimestre, a estabilidadeda cabeça aumenta. No final desse período, a maioria dosbebês segura sua cabeça estavelmente e em alinhamentocom o tronco. A habilidade de manter o alinhamento dacabeça é chamada de “controle da cabeça”. Primeiro, osbebês endireitam a cabeça em relação ao tronco; mais tar-de, eles desenvolvem a habilidade de manter a cabeça ali-nhada em relação à gravidade. Isto é, o bebê pode mantera cabeça em posição normal.

Embora incapaz de levantar-se sozinho, quando dadoapoio para o equilíbrio, o recém-nascido consegue man-ter-se em pé. Essa habilidade é referida como posição ver-tical primária (Figura 1.4). Tipicamente, o padrão da po-sição vertical é caracterizado pelos pés cruzados e pelaassimetria nos membros inferiores. O bebê pode ficar naponta dos dedos. Ao redor do fim do primeiro trimestre, opadrão de posição vertical primária começa a diminuir eé cada vez mais difícil de ser demonstrado. Nessa ocasião,o bebê progride para um período de astasia. Astasia signi-fica, literalmente, “sem postura”. Quando alguém tentalevantá-lo, as pernas cedem e o bebê cai gradativamenteem flexão, não agüentando ou mantendo o peso nos mem-bros inferiores. A astasia pode aparecer no fim do primei-ro trimestre e durar até o segundo trimestre.

Em resumo, sentar e ficar em pé não são posturasindependentes no primeiro trimestre. Mas o bebê mostrasinais do que está para acontecer. Lutando contra a gravi-dade, ele adquire controle da cabeça e dá um grande pas-so para vencer a força da gravidade que o havia deixadotão fisicamente dependente no momento do nascimento.

Segundo trimestre: empurrando esentando

O segundo trimestre é marcado por grandes progressosno combate à força da gravidade. O bebê começa essetrimestre com a capacidade de manter a cabeça alinhadaem relação ao corpo e avança até a habilidade de sentarsozinho por curtos períodos de tempo e de empurrar asmãos e os joelhos. Essas posturas são a base de realiza-ções posteriores, mas, independentemente disso, permi-tem uma grande série de interações com o mundo em suavolta. Sentar e levantar-se com as mãos e com os joelhossão importantes marcos no caminho da independência fí-sica. As realizações nas posições supina, prona, sentada eem pé serão esboçadas nos itens a seguir.

A posição supina

Quando o bebê está em posição supina, uma grande quan-tidade de atividades pode ser observada. O bebê freqüen-temente levanta as pernas da superfície de apoio, levan-do-as para as mãos e para o rosto. Ele alcança os pés comas mãos e tenta levá-los até a boca para explorá-los (Figu-ra 1.5, p. 22).

FIGURA 1.3 Primeiro trimestre, sentado com apoio.

FIGURA 1.4 Primeiro trimestre, posição verticalprimária com apoio.

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Embora o bebê não role consistentemente da posiçãosupina, as posições extremas envolvendo o levantamentodos membros inferiores e a extensão com rotação da cabe-ça e do pescoço são precursores para a capacidade de rolar.

Essa luta pode levar à perda da posição supina. O pesodas pernas, quando transferido para a direita ou para aesquerda, pode virar o bebê para a posição deitada delado. Essa aparente perda do controle dos membros infe-riores durante o levantamento pode ser um dos fatoresque levam à capacidade de rolar a partir da posição supi-na. A maioria dos bebês tenta rolar ativamente duranteesse período e alguns podem vir a adquirir essa habilida-de durante o segundo trimestre, mas eles a adquirem, emgeral, no terceiro trimestre.

O bebê também coloca os pés na superfície de apoiocom os quadris e com os joelhos flexionados. Essa posturaserve como posição inicial para grandes arrancadas deextensão que levantam as nádegas e o tronco da superfí-cie. Esse movimento é chamado de “ponte” (Figura 1.6).Alguns bebês empurram-se para longe em seus berços pormeio de uma série de movimentos em ponte. Outras ve-zes, o bebê demonstra forte rotação de cabeça e de pesco-

ço para um lado, juntamente com extensão, como se olhas-se por cima do ombro. A ação de virar e olhar tambémpode levar ao rolamento da posição supina para a posturadeitada de lado durante o segundo trimestre. Embora obebê não role consistentemente da posição supina, as pos-turas extremas envolvendo o levantamento de membrosinferiores e extensão com rotação de cabeça da cabeça edo pescoço são precursores da capacidade de rolar.

A posição prona

O levantamento e o balanceio intermitentes da cabeçaassociados ao esforço em ganhar uma postura ereta naposição prona durante o primeiro trimestre começam gra-dualmente a envolver a musculatura do tronco. No iníciodesse trimestre, o bebê luta na posição prona para elevaro tronco da superfície de apoio, levantando primeiro oscotovelos e, em seguida, empurrando-se com as mãos. Obebê passa bastante tempo empurrando-se (Figura 1.7) ecaindo de volta à posição prona, girando em torno do eixodo estômago com os braços e as pernas elevados da su-perfície de apoio. Essa postura-pivô é chamada de “pivo-tear” ou posição de avião (Figura 1.8).

O bebê aprende a aproveitar a extensão dos braçosao tentar alcançar brinquedos e tenta transferir o pesomediante uma série de direções laterais. Essa transferên-cia de peso está mais madura em qualidade e é caracteri-zada pelo alongamento no lado que suporta o peso. Nofinal desse período, quando o bebê se aproveita da posi-ção de extensão dos braços, há menos perda de controleda posição anterior (cefálica), uma vez que o centro degravidade do bebê se move caudalmente, dando à criançamaior controle nessa posição. O bebê pode transferir opeso naturalmente enquanto está com os braços estendi-dos; entretanto, em função de essa tarefa ser difícil, o bebêpode voltar a apoiar-se nos cotovelos a fim de alcançar

FIGURA 1.5 Segundo trimestre, posição supina,alcançando os pés.

FIGURA 1.6 Segundo trimestre, posição de ponte.FIGURA 1.7 Segundo trimestre, empurrando-secom as mãos.

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um objeto. Quando o centro da gravidade se transfere la-teralmente, não é incomum a criança sair da postura ali-nhada das mãos e dos joelhos. Uma tendência ao balan-ceio parece ser um exercício de equilíbrio auto-iniciado eeventualmente leva a uma postura bastante fixa e estávelde mãos e joelhos.

Não é incomum para o bebê empurrar-se com as mãos,dando um impulso na superfície de apoio enquanto estáem posição prona. Isso é chamado de rastejamento, defi-nido como o padrão locomotor de movimentos para a fren-te ou para trás, puxando e empurrando com as extremi-dades enquanto o abdômen está em contato com asuperfície de apoio. O rastejamento começa durante o se-gundo trimestre. O engatinhar é um padrão locomotor ca-racterizado pela elevação do abdômen da superfície deapoio. Tipicamente, os bebês rastejam antes de engati-nhar. O rastejamento é uma aquisição do segundo trimes-tre, ao passo que o engatinhar geralmente aparece no ter-ceiro ou no quarto trimestres.

Quando rastejam, os bebês tendem primeiro a empur-rar-se para trás, desenvolvendo mais tarde a capacidade demover-se para a frente. As tentativas iniciais de rastejamentosão caracterizadas pela falta de coordenação dos movimen-tos das extremidades. Logo, desenvolve-se um padrão con-sistente, muito efetivo para movimentar-se no chão.

Os bebês norte-americanos tendem a gastar muitotempo na posição prona, sobretudo quando comparadasàs crianças britânicas, que são colocadas mais freqüente-mente na posição supina para brincar. Experiências emuma posição comum ou preferida são importantes deter-minantes da seqüência da aquisição de habilidades moto-ras. Com freqüência, crianças que passam mais tempo emuma postura predileta demonstram avanços no alcancedos ganhos motores realizados naquela postura, enquan-to as habilidades em outras posturas podem ser ligeira-mente tardias. É importante lembrar que alguns bebêspreferem a posição supina, ao passo que outros preferemficar sentados. Nessas ocasiões, as habilidades na posturapredileta freqüentemente superam as habilidades de ou-tras posturas. As diferenças nas aquisições motoras entreas posturas em geral refletem as preferências das crian-

ças. Acredita-se que tais diferenças sejam uma expressãoda individualidade dos bebês e são parte do desenvolvi-mento normal.

O bebê também começará a empurrar-se com as mãose com os joelhos durante o segundo trimestre. Geralmen-te, esse movimento é realizado primeiro empurrando-secom as mãos e, então, flexionando a espinha lombar e osquadris, levantando (aproximando) os joelhos sob o tó-rax. Inicialmente, a posição de joelhos e mãos está emuma postura instável, mas, com o tempo, a criança torna-se bastante competente em empurrar-se para trás na pos-tura mãos e joelhos e passa a ocupar-se em seqüência debalanceio: transferindo o peso repetidamente para trás epara frente, das mãos para os joelhos. Em função de acriança não ter um bom controle dos quadris, se o pesofor transferido de um lado para o outro, não será inco-mum que a criança caia da postura mãos e joelhos. A açãode balanceio parece ser um exercício auto-iniciado de equi-líbrio e eventualmente leva a uma postura mãos e joelhosbastante fixa e estável.

A posição sentada

O segundo trimestre é o período no qual o bebê desen-volve uma postura sentada estável e ereta. A crescentehabilidade do bebê em controlar o tronco superior é fre-qüentemente ilustrada pelo posicionamento da mão damãe enquanto ela apóia o bebê na posição sentada. Écomo se a mãe soubesse intuitivamente quanta liberda-de deve permitir para que a criança trabalhe contra aforça da gravidade. A experiência de movimentar-se comcerta dificuldade em uma posição sentada protegida, masdesafiadora, ajuda a criança a desenvolver competênciapara sentar.

Primeiro, o bebê senta sozinho enquanto se apóia àfrente com as mãos (Figura 1.9). A postura do tronco edas extremidades superiores é muito similar à postura al-cançada quando ele se empurra nas mãos na posição pro-na (compare as Figuras 1.7 e 1.9). Tanto na posição pronaempurrando-se para cima quanto na posição sentada comapoio, a cabeça está posicionada verticalmente em rela-ção à gravidade. O tronco superior está inclinado adianteda vertical e o peso fica nas mãos. Na posição sentadacom apoio, as pernas em geral são mantidas em posiçãocircular, com os quadris abduzidos e em rotação lateral ecom os pés em oposição um ao outro. Em um ambientecom apoio e proteção, o bebê estenderá o tronco, retrain-do a cintura escapular e flexionando os cotovelos paratrazer os braços na chamada postura de “proteção supe-rior” por breves instantes de independência na posiçãosentada (Figura 1.10). Durante o segundo trimestre osbebês desenvolvem a capacidade de sentar com apoio poraté 15 a 20 minutos. Períodos de independência na posi-ção sentada são vistos até o terceiro trimestre. A capaci-dade de estender os braços para a superfície de apoio a

FIGURA 1.8 Segundo trimestre, posição pivô-prona.

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fim de segurar e proteger o corpo contra quedas desen-volve-se simultaneamente à habilidade de manter o tron-co estável na posição vertical. Essa é a chamada reação“pára-quedas” ou “extensão protetora”, caracterizada porbraços abduzidos com extensão dos cotovelos, punhos emãos. As reações protetoras são fundamentais para umaposição sentada segura e independente (Figura 1.11).

A posição em pé

Durante o segundo trimestre, o bebê começa novamentea suportar o peso nos membros inferiores e é capaz de

ficar em pé com apoio. A postura em pé que se segue aoperíodo de astasia é denominada “em pé secundária”. Apostura em pé secundária é caracterizada por pernas ab-duzidas, joelhos estendidos e postura plantígrada dos pés(Figura 1.12). Na postura plantígrada, as solas dos pésestão em total contato com a superfície de apoio. A postu-

FIGURA 1.9 Segundo trimestre, sentado sozinhocom apoio à frente nas mãos.

FIGURA 1.10 Segundo trimestre, posição sentadaindependente de “proteção superior” por breves instantes.

FIGURA 1.11 Segundo trimestre, posição “pára-quedas” ou “extensão protetora”, vista de cima.

FIGURA 1.12 Segundo trimestre, em pé comapoio.

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ra em pé secundária difere da postura em pé primáriaobservada durante o primeiro trimestre. Durante a postu-ra em pé primária, os pés estão freqüentemente cruzadose em geral ficam na ponta dos pés, com os tornozelos emflexão plantar. Em contraste, a postura em pé secundáriaé caracterizada por membros inferiores abduzidos e poruma postura plantígrada dos pés.

As atividades na posição em pé aumentam durante osegundo trimestre. Quando apoiada sob os braços, a crian-ça primeiro pula para cima e para baixo ao ficar em pé;no fim do trimestre, a criança começa a transferir o pesode um lado para o outro, levantando e pisando primeiroem uma perna e, então, com a outra.

Resumo

As aquisições do segundo trimestre são impressionantes: obebê move-se na superfície de apoio pela posição de ponteou por rastejamento, senta-se com apoio, levanta-se com asmãos e com os joelhos e fica em pé com apoio. O bebê estáganhando o controle do corpo em posturas fundamentaisque levarão a uma maior amplitude de mobilidade. O am-biente de apoio oferece oportunidades para o bebê explo-rar o corpo e vencer a força da gravidade evidenciada peloaumento de posturas elevadas e verticais.

Terceiro trimestre: movimentoconstante

Durante o terceiro trimestre, o bebê torna-se móvel e de-senvolve a habilidade de movimentar-se pelo ambiente. Aexploração torna-se uma atividade dominante. O impulsopara mover-se contra a força da gravidade parece fortale-cer-se, de modo que, no final do terceiro trimestre, os be-bês são capazes de puxar-se para levantar. O mundo estáà sua espera para ser descoberto.

A posição supina

A preferência pela posição supina diminui, sobretudo quan-do o bebê desenvolve a capacidade de rolar da posiçãosupina para a prona. O primeiro rolar é freqüentementerealizado com um forte padrão de extensão de cabeça eda parte superior do tronco e de rotação com os braçoslevantados acima e sobre os ombros (Figura 1.13), ou comum padrão de flexão bilateral dos membros inferiores, le-vando as pernas para cima e para o lado (Figura 1.14).Alguns bebês param na posição deitada de lado antes decompletar o rolar para prona. Alguns passam grande tem-po deitados de lado, com a parte superior das pernas mo-vendo-se de trás do corpo para uma posição em frente aocorpo. Acredita-se que o bebê esteja aprendendo a equili-brar-se na posição deitada de lado. Alguns bebês usarão orolar como meio de locomoção, mas o engatinhar é vistocom mais freqüência.

A posição prona

O terceiro trimestre começa com a criança em posiçãoprona, pivoteando em círculos sob o estômago. A posiçãoprona torna-se muito estável para o bebê. Como resulta-do dessa estabilidade aumentada, o bebê pode usar pa-drões de movimento de extremidades superiores e infe-riores mais dissociados ao brincar na posição prona. A fle-xão lateral do tronco é um forte componente do movi-mento e o bebê pode brincar na posição deitada de lado.

A posição sentada

A manutenção de uma posição sentada sem suporte é agorarealizada com facilidade. A postura é estável e ereta (Fi-gura 1.15), com o bebê sentando-se ereto por mais de meiahora. A criança ocasionalmente se inclina para a frentesobre as mãos para apoiar-se. É mais típico que as mãosestejam empenhadas em uma variedade de atividades re-creativas: alcançando e agarrando objetos, batendo pal-mas e sendo levadas à boca para exploração.

FIGURA 1.13 Terceiro trimestre, rolando comextensão da cabeça e da parte superior do tronco.

FIGURA 1.14 Terceiro trimestre, iniciando o rolarusando as pernas fletidas.

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O bebê brinca na posição sentada, usando ambas asmãos para manipular um brinquedo. Se o brinquedo nãoestiver ao alcance, o bebê irá transferir seu peso lateral-mente na tentativa de recuperá-lo. Pode estar faltando umamobilidade adequada dos quadris; entretanto, isso previ-ne que o bebê se mova para uma posição sentada de lado.As extremidades inferiores ainda podem ser usadas paraestabilidade, como é mostrada pelo bebê ao usar a basealargada na posição de sentar em “círculo”.

Algumas crianças escorregam ou “fogem” na posiçãosentada. A criança apóia-se em uma mão e gira lateralmen-te a perna daquele lado para a superfície de apoio enquan-to a outra perna está elevada com os pés em postura plan-tígrada. Em seguida, a criança move-se rapidamente com aperna elevada, fixa o pé e, simultaneamente empurra-secom a outra perna, deslizando as nádegas pelo chão.

Posição quadrúpede

No final do terceiro trimestre, o movimento da posiçãosentada para posição quadrúpede (de gatas) também éadquirido com facilidade. Fazendo uso dos padrões de mo-vimento das extremidades superiores, que também ser-vem como extensão protetora ou reação pára-quedas, acriança vira-se para o lado com os braços e transfere opeso das nádegas para as mãos (Figura 1.16). A parte in-ferior do tronco e as nádegas são levantadas da superfíciede apoio e rodadas para o lado em uma postura simétricaem quatro apoios.

A criança assumirá a posição quadrúpede (de gatas)durante o terceiro trimestre e provavelmente irá envol-ver-se, em grande parte do tempo, em um comportamen-

to de balanceio. O balanceio fornece intensos estímulossensoriais para as extremidades superiores e inferiores etambém ao aparelho vestibular. Algumas crianças assu-mem uma posição que lembra um urso andando (pés emãos), o que requer grande controle da musculatura doquadril. Uma criança nessa posição pode usar sua cabeçacomo um estabilizador enquanto alcança um brinquedocom uma mão.

Posição em pé

A posição em pé é a favorita dos bebês durante o terceirotrimestre. Eles ficam tão fascinados por essa postura quepassam grande parte do tempo e direcionam seus esfor-ços movendo-se da posição ajoelhada para a posição empé (Figura 1.17). Inicialmente, a postura em pé é caracte-rizada por uma posição fletida e instável do quadril. Pos-teriormente, os quadris são tracionados para frente, nalinha dos ombros, e a posição em pé torna-se cada vezmais estável. Inicialmente, a criança não tem habilidadepara voltar a sentar-se quando está na postura em pé. Épossível encontrar a criança em um dilema sobre como sesentar após estar em pé. Com o tempo a criança descobrecomo cair, empurrando as nádegas para trás e sentando.

O bebê também pratica a movimentação da posiçãoajoelhada para a posição vertical. Em função de a exten-são dos quadris não estar com o seu componente muscu-lar fortemente desenvolvido, a força nas extremidadessuperiores torna-se importante quando a criança tentaelevar-se. As atividades de mover-se para ajoelhar ou fi-

FIGURA 1.15 Terceiro trimestre, sentado semapoio.

FIGURA 1.16 Terceiro trimestre, transferindo opeso das nádegas para as mãos.

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car em pé e brincar com os movimentos dentro e fora daposição sentada fornecem grande quantidade de estímu-los sensoriais para as extremidades superiores e para acintura escapular. O bebê usa a força das extremidadessuperiores para impulsionar e proteger seu corpo, enquan-to continua a desenvolver mais mobilidade e controle dapelve e dos quadris.

Depois de levantar, a criança gasta grande energiaperturbando ativamente o equilíbrio. Esse balanceio gra-dualmente dá lugar à transferência de peso de um ladopara o outro seguido do andar lateral segurando-se namobília. Esse é o chamado cruzamento e é a primeira for-ma de locomoção independente (Figura 1.18). Ao finaldesse trimestre, a criança pode começar a subir degrausbaixos, aproveitando-se, desse modo, da maior habilida-de em fletir os quadris e de liberar uma extremidade infe-rior do peso.

Quando apoiado em uma posição vertical, o bebê podesegurar seu peso com os pés fixos; entretanto, quando empé apoiando na mobília e quando percorrendo, o centrode gravidade é freqüentemente jogado para frente, levan-do o bebê a segurar o peso na ponta dos pés. O bebê usade modo alternado os pés fixos e uma postura de flexãoplantar dos pés ao movimentar-se.

Quarto trimestre: finalmenteandando

As posições supina e prona

Quando o bebê está acordado, as posições prona e supinatornaram-se posturas principalmente transitórias. A crian-ça fica pouco tempo nessas posturas, as quais são vistasprincipalmente transmitindo pontos de estabilidade emdireção a posturas mais altas.

A postura de “gatas” é a base para engatinhar. Essepadrão locomotor abrange a ação alternada de braços epernas opostas na mobilidade anterior. Alguns bebês tor-nam-se engatinhadores muito habilidosos e preferem essaforma de locomoção por meses. Mesmo o início da mar-cha não evitará a preferência de algumas crianças peloengatinhar.

O engatinhar plantígrado torna-se parte do repertó-rio da criança. Essa forma de locomoção envolve o engati-nhar com braços e pernas estendidas, com os pés em pos-tura plantígrada (Figura 1.19). O engatinhar plantígradoé o próximo passo na gradual elevação do tronco contra aforça da gravidade. A extensão completa dos membrossuperiores conduzida pela postura de “gatas” e agora a

FIGURA 1.17 Terceiro trimestre, movendo-se paraficar em pé.

FIGURA 1.18 Terceiro trimestre, percorrendo umacerca.

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extensão dos membros inferiores levam a uma posição deengatinhar plantígrado.

A posição sentada

A posição sentada é uma posição muito funcional nesseperíodo. A facilidade com a qual a criança se move daposição sentada e de volta para essa posição é bastantenotável tanto ao mover-se da posição sentada para a pos-tura de “gatas” quanto ao mover-se da posição sentadapara ajoelhada e, então, em pé. As habilidades de equilí-brio tornam-se muito bem desenvolvidas na posição sen-tada. A criança com freqüência gira em círculos enquantosentada, usando as mãos e os pés para propulsão. Ela sen-ta fácil e confortavelmente em uma cadeira alta com aspernas fletidas e os pés apoiados. Pode mover-se para aposição prona a partir da posição sentada quando brin-ca ou como parte dos movimentos usados para levantar-se do chão. Além disso, o aumento da mobilidade e doequilíbrio oferecem a ela a oportunidade de usar váriasposições sentadas, como a sentada de lado e a sentada“em W”.

A posição em pé

A posição em pé é a postura preferida pela maioria dascrianças durante o quarto trimestre. Mover-se para a po-sição em pé apoiando-se nos móveis leva a percorrer aborda dos móveis enquanto segura-se. A sua habilidadeem recuar para sentar-se a partir da posição em pé é de-senvolvida no começo desse trimestre, e, no final do tri-mestre, surge a habilidade de mover-se para uma posturaagachada a partir da posição em pé (Figura 1.20). Ascrianças sobem pelos móveis a partir da posição em pé.

Elas em geral conseguem levantar-se em cadeiras ou me-sas baixas sem dificuldades no final do quarto trimestre.

Os passos iniciam-se na direção diagonal para frenteou na direção lateral. Esse padrão inicial de passos podeser visto nos primeiros passos que a criança dá com asmãos sendo seguradas (Figura 1.21). Os pais, ao anda-rem atrás delas segurando suas mãos, estão na melhorposição para observar o padrão diagonal de passos, queleva a criança primeiro para um lado e depois para o ou-tro. Apenas com o tempo a criança faz os movimentoscorretos de perna para uma direção mais dianteira. Elaprogride da locomoção com as duas mãos apoiadas paraa locomoção com apenas uma das mãos para apoio. Comencorajamento, eventualmente se solta e dá passos sozi-nha. Os primeiros passos independentes naturalmentetambém são na diagonal, levando a uma base de apoioalargada.

Durante as primeiras tentativas de locomover-se, acriança pode estar na ponta dos pés, com pouco ou ne-nhum contato dos calcanhares com o chão. O bebê andaem uma postura de pés mais aplainados enquanto usa pas-sos exageradamente posteriores na tentativa de manter oequilíbrio. O padrão de marcha ainda é imaturo, com atendência à flexão lateral de tronco para avançar a pernaem vez de usar um padrão maduro de transferência depeso. Os braços são mantidos em “proteção superior” (Fi-gura 1.22), o que ajuda a manter a estabilidade e o con-trole. A criança tem grande dificuldade com o equilíbrioao tentar carregar um brinquedo em uma mão. Uma

FIGURA 1.19 Quarto trimestre, “engatinhando”com braços e pernas estendidas.

FIGURA 1.20 Quarto trimestre, movendo-se paratrás a partir da posição em pé para sentar.

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criança nessa idade achará impossível usar as duas mãospara carregar um objeto por causa da necessidade do usodas extremidades superiores para estabilização. Quandoa criança tenta carregar um objeto, freqüentemente há oretorno à locomoção na ponta dos pés na tentativa deaumentar o apoio e a estabilidade. O padrão de locomo-ção na ponta dos pés desloca o peso do corpo anterior-mente, o que a impossibilita de usar um padrão mais ima-turo e rígido, que dá a ela maior estabilidade. Uma vezque as extremidades superiores estejam livres novamen-te, a criança retorna à posição de pés aplainados. A posi-ção em pé independente torna-se uma característica con-sistente no repertório motor da criança, causando, dessemodo, mais quedas — porém, ela aprende a recuperar-serápida e habilidosamente para terminar a atividade ante-rior.

Um notável aumento na estabilidade e no controleocorre no final do primeiro ano. As posições de proteçãosuperior e apoio externo são menos necessárias. A criançaconsegue carregar brinquedos mais facilmente enquantoanda, consegue abaixar-se para recuperar um brinquedo

do chão sem apoio externo e pode tentar levantar-se naponta dos pés para alcançar um objeto no alto. Quandoempurrada para trás, é mais provável a manutenção doequilíbrio sem dar um passo para trás, como costumavafazer. Além de levantar-se na ponta dos pés e agachar-se,ela consegue levantar uma perna como se fosse subir umdegrau. Esse ato envolve flexão excessiva dos quadris euma transferência lateral do peso que, combinadas, po-dem causar uma perda do equilíbrio e fazer a criança pro-curar por apoio.

Considerando-se que as tentativas iniciais de loco-moção do bebê mostram um equilíbrio precário, os gan-hos no primeiro ano pós-natal são bastante notáveis. Empouco tempo, o bebê progride da incapacidade para amobilidade independente e a exploração ativa do mun-do. A locomoção tornar-se-á progressivamente suave ecoordenada. Podem ser observados um progressivo es-treitamento da base de suporte e passos na direção dian-teira, com um padrão calcanhar-ponta de contato dospés. Os braços movem-se da proteção superior para amediana e finalmente para a proteção inferior, com um

FIGURA 1.21 Quarto trimestre, padrão de passosanteriores e laterais.

FIGURA 1.22 Quarto trimestre, passosindependentes com mãos em posição de proteção superior.

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natural balanceio alternado de braços aparecendo even-tualmente. Com o início de melhores habilidades na loco-moção e na escalada, mais descobertas estarão ao alcan-ce da criança.

Dentro de poucos meses depois do início da locomo-ção, a criança ganhará a habilidade de levantar-se inde-pendentemente, rolando da posição prona, subindo comas mãos e com os joelhos, assumindo a posição plantígra-da e então empurrando-se com os braços para alcançarum posição em pé independente. Subir e descer dos obje-tos e engatinhar para cima e para baixo de degraus tor-nam-se uma rotina.

Resumo

A transição da incapacidade e da dependência física paraa independência durante o primeiro ano depois do nasci-mento é muito importante para a criança e para a família.Uma vez que a criança ganha controle sobre seu corpo e écapaz de resistir à força da gravidade, novos mundos es-tarão abertos para exploração e o bebê estará menos de-pendente dos pais para ser segurado e carregado. O con-trole antigravitacional começa com o levantamento ealinhamento da cabeça durante o primeiro trimestre. Essecontrole prossegue a partir da cabeça abaixada sobre aregião superior do tórax, com os braços estendidos contraa força da gravidade e com a sustentação do peso da par-te superior do tronco no segundo trimestre. O tronco infe-rior estende e a criança procura a postura vertical sentadadurante o terceiro trimestre. Os membros inferiores sãogradualmente estendidos assim que a criança alcança apostura plantígrada de engatinhar e empurra-se para le-vantar. Com o crescente gasto de tempo na posição empé, ela desenvolve a habilidade de equilibrar-se nessa pos-tura e abandona o apoio para sair e andar. A progressãocefalocaudal da extensão antigravitacional a fim de mo-ver-se para a postura vertical e o concomitante desenvol-vimento do equilíbrio na série progressiva de posturasrepresentam um importante padrão de aquisições que le-vam à independência física.

!COMPORTAMENTO MOTORDURANTE A INFÂNCIA

A primeira infância é período dos 2 aos 6 anos. Até esteponto do capítulo, a maioria das discussões centralizou-se na aquisição de novas habilidades motoras. O desen-volvimento motor durante a primeira infância leva ao al-cance de novas habilidades, mas não necessariamente anovos padrões de movimento. Acredita-se que a criançatenha adquirido todos os padrões de movimento funda-mentais e que, a partir de então, esteja aprendendo a co-locá-los em uso em atividades significativas.

Desenvolvimento das habilidadeslocomotoras

A criança continua a praticar e a refinar muitas das habi-lidades motoras adquiridas durante o primeiro ano de vida.A posição em pé torna-se mais ereta. O agachar pode serfeito por períodos mais longos, embora uma larga base deapoio possa ser usada. Subir escadas com as mãos e comos joelhos torna-se uma tarefa mais fácil, e muitas crian-ças divertem-se pulando. Na primeira infância, o padrãolocomotor do caminhar é refinado e novas habilidadeslocomotoras são adicionadas, incluindo correr, pular, sal-tar e andar saltitando. Tais habilidades requerem crescen-tes graus de equilíbrio e controle de força para um desem-penho bem-sucedido. O desenvolvimento de destreza paracada habilidade parece depender da combinação entre prá-tica, crescimento do corpo e maturação do SNC. Quantomais refinada uma habilidade, maior deve ser a prática parao desenvolvimento do controle necessário.

As crianças precisam de oportunidades para exerci-tar suas habilidades em desenvolvimento dentro das ha-bilidades motoras fundamentais. O correr é geralmenteadquirido entre os 2 e os 4 anos. O correr difere do andar,especialmente por causa da “fase de vôo”, durante a qualnão há apoio do corpo. A fase de vôo acontece pela forteporém cuidadosa aplicação de força propulsiva durante afase de apoio do padrão de marcha. Entretanto, o grau decontrole na corrida, como a habilidade de começar e pa-rar e mudar de direção com facilidade, não é alcançadoaté a idade de 5 ou 6 anos. O pular desenvolve-se primei-ro como a habilidade de descer pulando de lugares maisaltos. A criança pulará pela primeira vez de uma caixa deaproximadamente 30 cm de altura por volta dos 22 mesesde idade. Essa habilidade é mais característica de um pa-drão de descida do que de um pulo verdadeiro com osdois pés saindo do chão simultaneamente. Com o tempo,surge a habilidade de pular para alcançar um objeto aci-ma da cabeça e, mais tarde, a habilidade de pular a dis-tância. Durante a infância, a altura e a distância do puloaumentam. Além disso, a forma dos movimentos usadospara pular torna-se mais eficiente. Os saltadores inician-tes demonstram um agachamento preparatório muito su-perficial, enquanto os saltadores mais avançados demons-tram agachamentos mais profundos. Inicialmente, osbraços parecem mover-se para a posição de proteção su-perior nas crianças mais novas, ao passo que, nas maisvelhas e experientes, os braços tendem a ser usados paradar impulso, sendo estendidos para o alto e acima da cabe-ça durante o pulo. Saltadores novos e inexperientes demons-tram cabeça e tronco flexionados durante o pulo. Em con-traste, crianças mais velhas e experientes utilizam a extensãode cabeça e de tronco durante ações que incluam o pular.

O saltar com uma só perna parece ser uma extensãoda habilidade de equilibrar-se enquanto de pé em uma só

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perna. O saltar com uma perna só é definido como a ele-vação do corpo do chão com a subseqüente aterrissagemusando um único pé. O saltar com uma perna só aparecepor volta dos 30 meses, mas não é bem-desempenhadoaté a criança ter aproximadamente 6 anos de idade, quan-do cerca de 10 saltos podem ser realizados em seqüência.Depois de poder realizar uma série de saltos, a criançatende a incorporá-los em jogos, como a amarelinha, ouem passos de dança.

O andar saltitante é um padrão complexo de locomo-ção que envolve um passo e um salto em uma perna, se-guido de um passo e um salto da outra perna. O andarsaltitante não é realizado pela maioria das crianças até os6 anos de idade. Assim como muitas outras habilidadeslocomotoras, a prática parece ser um fator importante naaquisição dessa habilidade. Indivíduos mais velhos quenão tiveram a oportunidade de praticar essa habilidadefreqüentemente não conseguem demonstrar alguns pa-drões mais sofisticados de locomoção.

Outras habilidades fundamentais dainfância

Arremessar e bater são duas habilidades adicionais que sesubmetem às mudanças do desenvolvimento durante aprimeira infância. Embora o arremessar seja uma habili-dade tipicamente adquirida durante o primeiro ano devida, o arremessar com habilidade ainda está em desen-volvimento durante a primeira infância. Seqüências demudanças nos padrões de movimento usados para reali-zar as tarefas de arremessar e de bater têm sido esboça-das para o tronco e para os membros inferiores. Diferen-tes passos no desenvolvimento do padrão de movimentosão descritos para a ação dos braços no arremesso e nobater. Ao decorrer da infância, a distância do arremessotorna-se maior. O aumento na distância é atribuível pro-vavelmente à emergência de padrões de movimento queaplicam força com mais eficiência no objeto a ser arre-messado ou golpeado. O agarrar e o chutar são duas habi-lidades adicionais que vêm sendo estudadas sob uma pers-pectiva de desenvolvimento.

O agarrar começa a se desenvolver por volta dos 3anos de idade. A criança inicialmente mantém os braçosestendidos na frente do corpo sem ajustá-los à direção ouà velocidade do objeto a ser pego. Eventualmente, os bra-ços são usados para levar o objeto ao corpo e, gradual-mente, a criança pode ser vista movendo e ajustando aposição do corpo a fim de interceptar o objeto que estásendo arremessado. Com idade e experiência, a criançaantecipa o vôo do objeto, movendo-se para chegar a tem-po de interceptá-lo, e usa as mãos para agarrar com uma“elasticidade” que absorve a força do objeto.

Chutar requer equilíbrio em um pé enquanto a força étransferida a um objeto, como uma bola de futebol. No iní-

cio do desenvolvimento dessa habilidade, há pouco balan-ço posterior ou desvio (finalização) preparatório na pernaque chuta. Com o tempo, aparece o balanço posterior, pri-meiro no joelho e, mais tarde, envolvendo o quadril. Gra-dualmente, o desvio e a inclinação anterior do tronco tor-nam-se parte da ação de chutar. Essas características sãotipicamente vistas em crianças por volta dos seis anos.

Mudanças no desempenho dashabilidades adquiridas na lactância

As mudanças relacionadas à idade nos padrões de movi-mento usados para desempenhar habilidades primeira-mente adquiridas durante a lactância continuam durantea primeira e a segunda infâncias e a adolescência. Umasérie de estudos tem documentado os padrões de movi-mento esperados nas tarefas, como rolar de supino paraprono, mover-se da posição sentada em uma cadeira paraposição em pé e levantar de supino para ficar em pé.

Rolando de supino para prono

Durante a primeira infância, os padrões de movimentosusados para rolar de supino para prono estão relaciona-dos com a idade. Se a criança rolava de supino para pronopara o lado esquerdo, o rolamento seria caracterizado poralguns padrões. A criança empurra-se com o membro in-ferior direito, conduzindo-se com o lado direito da pelvee levantando e estendendo o membro superior direito aci-ma do nível do ombro esquerdo.

Levantando de uma cadeira

Ao levantar-se de uma cadeira, a criança mais nova pri-meiro levanta as pernas do assento e então as coloca nochão. O tronco é fletido anteriormente até que as nádegasse levantem da cadeira ao mesmo tempo em que a exten-são de cabeça e tronco começa a levar a criança para apostura em pé. Em crianças com menos de 6 anos de ida-de, pode-se esperar que se empurrem do assento da ca-deira, mas crianças mais velhas usam normalmente seusbraços para empurrar as pernas enquanto se levantam.

Levantando de uma posição supina

As crianças mais novas levantam para posição em pé indopara a frente a partir da posição supina, usando um pa-drão de flexão com rotação da cabeça e do tronco. Umbraço estende-se para a frente enquanto o outro empurraa superfície de apoio, e os membros inferiores assumemuma posição de agachamento rodada medialmente com abase alargada. A partir do agachamento, a criança esten-de-se para vertical. Esse padrão de levantamento alcançaum pico de freqüência por volta dos 7 anos de idade e,

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então, declina gradualmente em freqüência durante a se-gunda infância.

Desenvolvimento de habilidadesmotoras durante a segunda infânciae adolescência

A segunda infância é tipicamente o período entre 7 e 10ou 12 anos de idade. Durante a segunda infância, adoles-cência e durante o resto da vida humana, as mudanças naforma do movimento estão relacionadas com a idade. Pa-rece que o indivíduo está constantemente procurando aforma mais eficiente de movimento dentro das habilida-des que ele já alcançou, uma vez que o seu crescimento eo seu estilo de vida mudam.

As crianças têm forte tendência em desenvolver a auto-estima, a serem aceitas socialmente, a tornarem-se habi-lidosas e a explorarem os limites de seu ser físico. Na es-cola e em várias atividades recreativas, a criançaencontra-se em situações nas quais a competição e a coo-peração são fortes componentes da atividade física. A se-gunda infância é um período de lento porém estável cres-cimento físico que permite uma maturação gradual dashabilidades motoras. As habilidades são aperfeiçoadas eestabilizadas antes da adolescência. Surgem as preferên-cias por vários esportes e atividades atléticas.

Meninos e meninas tendem a socializar-se diferente-mente nas atividades físicas. Apesar das mudanças docurrículo escolar nas últimas duas ou três décadas, queoferecem mais oportunidades para as meninas participa-rem de atividades físicas, os meninos ainda têm mais opor-tunidades disponíveis para adquirir um estilo de vida ati-vo. Entretanto, ambos serão mais ativos se seus pais lhesproporcionarem ocasiões para exercitarem-se fisicamen-te. Meninos e meninas demonstram desempenho melhordentro de todas as habilidades fundamentais na primeirainfância. Entretanto, os meninos demonstram velocidadee força tipicamente maiores em todas as idades quandocomparados com as meninas.

A adolescência começa com mudanças físicas quemarcam a puberdade e termina quando o crescimento fí-sico cessa. A idade do começo da adolescência é aproxi-madamente 11 para 12 anos em meninas e 12 para 13anos em meninos. O estirão de crescimento provavelmen-te leva ao surgimento de novos padrões de movimentodentro das habilidades já adquiridas. Mesmo que o pro-cesso de mudanças do comportamento motor relaciona-do com a idade continue durante a adolescência e a idadeadulta, as habilidades motoras que permitem a indepen-dência física são adquiridas principalmente durante o pri-meiro ano depois do nascimento. Os períodos posterioresde desenvolvimento parecem dar oportunidade para ummaior refinamento e para o desenvolvimento do controlee da coordenação, levando a um melhor desempenho dashabilidades.

!IDÉIAS CONTEMPORÂNEASSOBRE O DESENVOLVIMENTOMOTOR

Os conceitos dos fisioterapeutas sobre o desenvolvimentoforam submetidos a grandes mudanças nos últimos 10 a15 anos. As seqüências de desenvolvimento são vistas deforma bastante diferente nos dias atuais. Não mais consi-deramos os reflexos como componentes fundamentais docomportamento motor e vemos pacientes assumirem pa-péis cada vez mais ativos na determinação dos objetivos edos resultados da fisioterapia. Estão surgindo novas teo-rias que oferecem diferentes explicações para o processode desenvolvimento.

Seqüências do desenvolvimento

Por alguns anos, os fisioterapeutas entendiam o processode desenvolvimento motor como um simples reflexo damaturação do sistema nervoso. Acreditava-se que a or-dem do desenvolvimento das habilidades durante o pri-meiro ano de vida fosse determinada hereditariamente eque não poderia ser mudada. Isso afetou a maneira pelaqual os terapeutas avaliavam e tratavam os indivíduos comdeficiência no desenvolvimento. Mediante um exame, onível de desenvolvimento do indivíduo era determinado eo tratamento era planejado de maneira que replicasse aordem de desenvolvimento das habilidades, levando à ca-pacidade de andar independentemente. A seqüência dedesenvolvimento era usada como uma prescrição para pro-mover a independência dos pacientes. Acreditava-se quecada habilidade na seqüência era um precursor necessá-rio para a próxima habilidade e que nenhuma etapa po-deria ser pulada até que a independência fosse alcança-da. Essa visão um tanto restritiva da seqüência dodesenvolvimento está sendo substituída por uma inter-pretação menos rigorosa.

Atualmente, os terapeutas vêem a seqüência do de-senvolvimento como um guia para a compreensão do pro-cesso global pelo qual se atinge a habilidade de controlaro corpo contra a força da gravidade. As habilidades apro-priadas à idade são mais importantes que a reproduçãoda seqüência de realizações durante a infância. Por exem-plo, o engatinhar é um padrão locomotor bastante comumdurante a infância e a primeira infância. No passado, oengatinhar era visto como um precursor do caminhar, eindivíduos de todas as idades que não conseguiam andareram ensinados a engatinhar, como uma etapa natural naprogressão para andar. Atualmente, os terapeutas estãocada vez mais preocupados com as habilidades apropria-das à idade. Passado o período da infância e da primeirainfância, em nossa cultura, o engatinhar dificilmente éusado como forma de locomoção. Como resultado, os te-rapeutas atualmente requerem cada vez menos, aos indi-

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víduos mais velhos que engatinhem como pré-requisitopara andar do que os terapeutas da geração passada.

Reflexos como componentesfundamentais do comportamentomotor

A discussão do comportamento motor emergente do fetoé um excelente exemplo da mudança no pensamento emrelação aos reflexos. Até recentemente, os reflexos eramvistos como unidades fundamentais do comportamentomotor, das quais evoluíam movimentos voluntários e açõesespecializadas. O trabalho de Milani-Comparetti sobre ainterpretação dos movimentos fetais dentro do útero re-presenta uma crescente tendência a rejeitar modelos dedesenvolvimento humano que não reconhecem a capaci-dade fundamental e primária do indivíduo de gerar com-portamentos. Esse reconhecimento da autocriação de mo-vimentos é denominado conceito de organismo ativo. Issosubstitui a visão tradicional de que o feto e o bebê sãoincapazes de gerar movimentos e rejeita a teoria de queum indivíduo novo seja um ser reflexo, dependente deestímulos externos para ativar o sistema motor — um or-ganismo passivo.

O conceito de organismo passivo tem permeado mui-tas teorias de tratamento na fisioterapia, com facilitaçãoe inibição de reflexos como resultado desse conceito. Pormuitos anos, os procedimentos de facilitação eram as prin-cipais ferramentas que os terapeutas usavam para reme-diar incapacidades de movimento. Recentemente, entre-tanto, os terapeutas têm dado crescente importância aosmovimentos gerados pelos pacientes. Uma ênfase no en-sinamento e no aprendizado de habilidades motoras estásubstituindo as tradicionais abordagens de facilitação. Oaprendizado requer do indivíduo uma participação ativa,recebendo e interpretando respostas e gerando ações cor-retivas.

Em associação ao reconhecimento do papel dos pa-cientes na geração de atividades, tem havido um crescen-te reconhecimento do papel do paciente na determinaçãodos objetivos e dos resultados da fisioterapia. Para crian-ças mais novas, isso significa que os familiares devem as-sumir um maior papel na determinação dos objetivos dotratamento e na continuação dos procedimentos do trata-mento para suas crianças. Essas pessoas em tratamentosão menos passivas e mais ativas agora do que se espera-va que fossem no passado.

Nova teoria do desenvolvimentomotor

As teorias contemporâneas não se fundamentam tanto noSNC como a causa do desenvolvimento motor. Outros sis-temas do corpo, como o sistema musculoesquelético e osistema cardiorrespiratório, também são supostos a de-

sempenhar papéis no processo de desenvolvimento mo-tor. Além disso, o ambiente representa uma significativafonte de mudanças sistemáticas que influenciam o desen-volvimento motor. Ao contrário de uma simples e únicacausa de mudança, a teoria dos sistemas reconhece cau-sas múltiplas e complexas do desenvolvimento. Emboraum fator possa ser identificado como um catalisador paramudanças, reconhece-se agora que nenhum agente sozi-nho seja “a causa” do desenvolvimento motor. Todos ossistemas parecem submeterem-se constantemente a mu-danças, sendo, portanto, dinâmicos. É a interação dessessistemas dinâmicos que promovem o desenvolvimento dashabilidades motoras.

Os terapeutas que olhavam formalmente para o siste-ma nervoso como um controlador do desenvolvimento dashabilidades motoras estão agora reconhecendo as in-fluências de outros fatores, como o tamanho do corpo, amotivação e o contexto ambiental no qual as habilidadesocorrem, como importantes agentes de mudanças do de-senvolvimento. As teorias dos sistemas estão tornando-secada vez mais conhecidas e estão começando a guiar pes-quisas de fisioterapeutas. Esta mudança para novas teo-rias promete levar a uma maior compreensão de como ashabilidades motoras evoluem, não apenas durante a pri-meira infância, mas também durante a infância e a ado-lescência.

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