Desenvolvimento técnico de processo para calibração de medidores de energia elétrica.pdf

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA POLITCNICA

    PROGRAMA DE EDUCAO CONTINUADA - PECE

    Marcos Jos Rodrigues dos Santos

    DESENVOLVIMENTO TCNICO DE PROCESSO PARA CALIBRAO DE

    MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA

    So Paulo 2010

  • MARCOS JOS RODRIGUES DOS SANTOS

    DESENVOLVIMENTO TCNICO DE PROCESSO PARA CALIBRAO DE

    MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA

    Monografia apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Certificado de Especialista em Gesto e Engenharia de Produtos MBA / USP

    Coordentador: Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski

    So Paulo 2010

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Antonio Marcos de Aguirra Massola e ao Prof. Dr. Joo Fernando Gomes de Oliveira, pela oportunidade de ingresso no PECE.

    Ao Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski pelo constante empenho para tornar a transferncia de conhecimento a cada aluno do curso cada vez mais eficaz.

    Aos professores do curso de Gesto e Engenharia de Produtos e Servios por, pacientemente, ajudarem a desenvolver o nosso conhecimento, de modo a podermos melhor colaborar com as nossas instituies e com a Sociedade como um todo.

  • Concentre-se nos pontos fortes, reconhea as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-

    se contra as ameaas. (Sun Tzu)

  • RESUMO

    O trabalho prope a estruturao bsica de um processo para calibrao de medidores de energia eltrica, tendo-se em vista o atendimento da demanda ora sinalizada pelo mercado. Com base em dados de Shibayama (2010) considera-se o mercado interessado no servio em questo, procurando avaliar a sua viabilidade enquanto negcio. Em seguida discute-se a evoluo dos medidores de energia eltrica e o desenvolvimento do processo tcnico de calibrao de interesse. Por ltimo, estima-se o desempenho financeiro do negcio, a partir do estudo de Shibayama (2010).

    Palavras-chave: Medidor de energia eltrica. Calibrao. Metrologia.

  • ABSTRACT

    The purpose of this study is to discuss the basic structure of a process for calibration of electric power meters, with a view to meet the demand now signaled by the market. Based on Shibayama (2010), this study examines the market interested in the service in question, seeking to assess its viability as a business. Then, discuss the evolution of electric power meters and the development of the technical calibration of interest. Finally, estimates the financial performance of the business, also based in the study done by Shibayama (2010).

    Keywords: Electrical energy meter. Calibration. Metrology

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 REPRESENTAO DE MEDIDOR DE ENERGIA ELETROMECNICO.................................13 FIGURA 2 PROTTIPO DE MEDIDOR INTELIGENTE CRIADO PELA INTEL.. ................................. ..15

    FIGURA 3 SISTEMA PTS 400.3 ........................................................................................... 28

    FIGURA 4 EXEMPLO DE MEDIDOR DE ENERGIA ELTRICA A SER CALIBRADO ............................ 29

    FIGURA 5 ESPIRAL DO PROJETO ......................................................................................... 37

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 PARTICIPAO PERCENTUAL NO CONSUMO DE ENERGIA ELTRICA TOTAL ................ 16

    TABELA 2 INDICADORES DA INDSTRIA DE MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA (ELETRNICOS) ..... 16

    TABELA 3 PBLICO ALVO PARA O SERVIO DE CALIBRAO DE MEDIDORES DE ENERGIA.......... 17

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 DETALHAMENTO DA ESPIRAL DO PROJETO .......................................................... 37

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica. CCEE Cmara de Comrcio de Energia Eltrica CSLL Contribuio Social sobre o Lucro Lquido GUM Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade

    Industrial ISO International Organization for Standardization MTE Meter Test Equipment NR Norma Regulamentadora P&D Pesquisa e Desenvolvimento. PECE Programa de Educao Continuada SIM Sistema Interamericano de Metrologia TIR Taxa Interna de Retorno VIM Vocabulrio Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de

    Metrologia USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................................................. 11 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................................ 11

    1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................... 11

    1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO....................................................................................................... 11

    2 EVOLUO DOS MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA .............................................................. 12 2.1 PRINCPIO DE FUNCIONAMENTO DE UM MEDIDOR DE ENERGIA ELTRICA ........................... 12

    2.2 PRIMEIROS MEDIDORES FABRICADOS .................................................................................... 14

    2.3 NOVAS TECNOLOGIAS ............................................................................................................. 14

    2.4 Consideraes sobre o mercado .............................................................................................. 15

    3 ESTUDO TCNICO DO PROCESSO DE CALIBRAO ................................................................. 17 3.1 A METROLOGIA E A SUA IMPORTNCIA .................................................................................. 17

    3.2 VOCABULRIO INTERNACIONAL DE METROLOGIA (VIM) ....................................................... 20 3.3 IMPLANTAO DO SERVIO DE CALIBRAO PROPRIAMENTE DITO ..................................... 24

    3.3.1 ETAPAS DO PROCESSO DE CALIBRAO .................................................................. 24

    3.3.2 PADRES A SEREM UTILIZADOS .............................................................................. 27

    3.3.3 ASPECTOS DA QUALIDADE ...................................................................................... 29

    3.3.4 ASPECTOS DE SEGURANA ..................................................................................... 30

    3.3.5 CLCULO DA INCERTEZA DE CALIBRAO ................................................................ 31

    3.3.6 ELABORAO DO CERTIFICADO DE CALIBRAO (PRODUTO FINAL) ............................ 35 3.3.7 ESPIRAL DE PROJETO .............................................................................................. 36

    4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................................. 39

    REFERNCIAS ...................................................................................................................................... 40

    ANEXOS................................................................................................................................................. 42

    ANEXO A SISTEMA DE CALIBRAO DE ENERGIA ELTRICA , MARCA MTE, MODELO PTS 400.3

  • 11

    1 INTRODUO

    1.1 OBJETIVO

    O objetivo do trabalho desenvolver a estrutura bsica de um processo para calibrao de medidores de energia eltrica que inspire credibilidade ao mercado, atenda s suas necessidades e, ao mesmo tempo, proporcione lucratividade entidade executora, enquanto servio prestado.

    1.2 JUSTIFICATIVA

    Com a privatizao da maioria das concessionrias de energia eltrica brasileiras, os questionamentos dos consumidores com relao energia medida e faturada se multiplicaram. Por outro lado, a avaliao de conformidade de medidores de energia eltrica passou a ser uma atividade compulsria no Brasil. Diante da escassez de entidades instaladas no Pas capacitadas a calibrar e a ensaiar medidores de energia eltrica, estima-se que o desenvolvimento do processo de calibrao, objeto deste projeto, seja uma competncia de interesse da comunidade em geral, alm de ser capaz de proporcionar lucro ao prestador de servio proponente.

    1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

    O trabalho constitudo pela introduo, seguida pelo captulo dois, que por sua vez, apresenta uma breve reviso bibliogrfica sobre a evoluo dos medidores de energia eltrica, incluindo-se consideraes sobre o mercado baseadas num estudo de Shibayama (2010). O captulo trs discute os principais conceitos de Metrologia, alm de abordar o processo tcnico de calibrao propriamente dito. O captulo quatro apresenta as consideraes finais do trabalho.

  • 12

    2 EVOLUO DOS MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA

    2.1 PRINCPIO DE FUNCIONAMENTO DE UM MEDIDOR DE ENERGIA ELTRICA

    Segundo MEDEIROS FILHO (1980, p. 169):

    Um condutor percorrido por uma corrente i, na presena de um campo magntico B, fica submetido a uma fora F cujo sentido dado pela regra dos trs dedos da mo direita e cujo mdulo dado por:

    F = B.iL.sen

    onde L o comprimento do condutor sob a ao do campo magntico B e o ngulo entre B e a direo de iL no espao.

    No medidor de energia eletromecnico representado na figura 1, um disco de alumnio submetido a um campo magntico gerado por duas bobinas instaladas em srie com corrente consumida e por uma terceira bobina instalada em paralelo com a tenso simultaneamente disponibiliza ao consumidor. Tal campo magntico vai gerar correntes parasitas no disco, que vo reagir ao campo citado e provocar foras que tendem a fazer o disco girar com velocidade proporcional corrente e tenso entregues ao consumidor. fcil concluir que o disco est ligado ao mecanismo de contabilizao da energia consumida.

  • 13

    FIGURA 1 REPRESENTAO DE MEDIDOR DE ENERGIA ELETROMECNICO. FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELTRICA EEL7040 CIRCUITOS ELTRICOS I LABORATRIO.

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    2.2 PRIMEIROS MEDIDORES FABRICADOS

    At a dcada de 1870, a eletricidade tinha pouco uso alm do telefone e do telgrafo. O primeiro uso efetivo da eletricidade foi para energizar cordes de lmpadas ligadas em srie. Como a corrente era constante, a tenso necessria para cada lmpada era conhecida e todas as luzes eram controladas por um nico interruptor, a medio da corrente eltrica ao longo do tempo (luz-hora) era suficiente para se medir o consumo. Aps a inveno da lmpada incandescente por Edison em 1879 e a subdiviso dos circuitos de iluminao com controle individual, a medio da luz-hora deixou de ser prtica. Em 1889, Thomson apresentou o seu wattmetro registrador. Este foi o primeiro e verdadeiro medidor de watthora. Foi um sucesso comercial imediato e muitos usurios o adotaram como seu modelo preferido. Embora este medidor tenha sido projetado inicialmente para uso em circuitos de corrente alternada, tambm funcionou bem com os circuitos de corrente contnua - em uso na poca. Em 1892, Thomas Duncan desenvolve o primeiro medidor de watthora por induo a usar um nico disco. (DAHLE, 2010, traduo nossa). Ao longo do sculo 20, os medidores eletromecnicos se tornaram mais leves, confiveis, durveis e exatos e, no sculo 21, deu-se o surgimento efetivo do medidor eletrnico.

    2.3 NOVAS TECNOLOGIAS

    Alm das novidades incorporadas aos medidores eletrnicos (ou em fase de incorporao), j possvel perceber, nos pases mais desenvolvidos, o lanamento de medidores dotados de facilidades at ento no considerados seriamente no Brasil. Trata-se do chamado Smartmetering. Segundo CAPOVILLA (2010), a Intel est desenvolvendo um monitor de energia capaz de apresentar as informaes de consumo de energia enviadas pelos eletrodomsticos, bem como, lig-los e deslig-los por meio de conexo sem fio e sugerir como melhor utilizar a energia disponvel. Por outro lado, o equipamento possui uma cmera para envio de mensagens de vdeo e pode ser carregado com dezenas de programas aplicativos, assim como ocorre com os smartphones, de

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    modo a desempenhar funes como localizao de endereos, verificao das condies do trfego, etc. A Figura 2 apresenta um exemplo de medidor inteligente.

    Fonte: CAPOVILLA (2010)

    FIGURA 2 PROTTIPO DE MEDIDOR INTELIGENTE CRIADO PELA INTEL

    2.4 CONSIDERAES SOBRE O MERCADO

    Num estudo recente, Shibayama (2010) discute as oportunidades de mercado para a prestao de servios de calibrao e ensaios de medidores de energia eltrica. Como importncia estratgica, destaca a posio dos medidores na relao entre concessionrias de energia e cerca de 60 milhes de consumidores, bem como, as possibilidades de perdas da ordem de dezenas ou centenas de milhes de reais a cada ano, por conta dos erros de medio tolerveis para os medidores. Com relao ao mercado propriamente dito, apresenta o balano energtico nacional, conforme Tabela 1, os indicadores da indstria de medidores de energia eltrica, conforme a Tabela 2. bem como, 12 empresas que atendem

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    demanda brasileira pelos medidores em questo (considerando fabricao e importao), sendo elas: Dowertech, Ecil, Electrometer (El Sewed), Elo, Itron (comprou a Actaris), Elster, Fae, Genus, Lands & Gyr, Nansen, Schneider (focada em medidores de fronteira) e Cam Brasil.

    TABELA 1 PARTICIPAO PERCENTUAL NO CONSUMO DE ENERGIA ELTRICA TOTAL

    Consumidor 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Residencial 22,6% 22,3% 21,8% 22,2% 22,0% 22,1% 22,3% Comercial 14,3% 14,0% 13,9% 14,3% 14,2% 14,2% 14,6% Industrial 46,2% 47,0% 47,8% 46,7% 47,0% 46,7% 46,1%

    Outros 16,9% 16,7% 16,5% 16,8% 16,8% 17,0% 17,0% Fonte: BEM Balano Energtico Nacional/2009 Ministrio de Minas e Energia e CCEE

    TABELA 2 INDICADORES DA INDSTRIA DE MEDIDORES DE ENERGIA ELTRICA (ELETRNICOS)

    Indicadores 2005 2006 2007 2008 (Previso) Exportao (US$ milhes) 0,55 6,54 5,74 4,88 Importao (US$ milhes) 1,31 2,71 4,49 1,92 Balana comercial (US$ milhes) -0,76 3,83 1,25 4,40 Fluxo de comrcio (US$ milhes) 1,86 9,25 10,23 5,36

    Fonte: Medidores Eletrnicos Seminrio Aneel Roberto Barbiere (2008)

    Adicionalmente, Shibayama (2010) apresenta o pblico alvo para o servio de calibrao a ser oferecido (Tabela 3), que por sua vez, expressa um potencial brasileiro total de 9.854 calibraes de medidores de energia eltrica por ano, destacando-se as concessionrias de energia eltrica como principais clientes e no considerando os clientes do tipo pessoal fsica.

  • 17

    TABELA 3 PBLICO ALVO PARA O SERVIO DE CALIBRAO DE MEDIDORES DE ENERGIA

    Pblico Alvo Demanda Estimada (por ano) Concessionrias de energia possuidoras de medidores de fronteira 6.000

    Postos de ensaio autorizado (PEA) 108

    Postos de auto verificao (PAV) 10

    Laboratrios avaliadores de modelos de medidores 6

    Cabines de medio de energia eltrica de indstrias e grandes estabelecimentos comercias 3.730

    Por ltimo, vale comentar que Shibayama (2010) sinaliza que as tendncias indicam um aumento do custo dos medidores eletromecnicos simultaneamente reduo do custo dos medidores eletrnicos, implicando substituio dos eletromecnicos pelos eletrnicos. Por outro lado, o mercado espera um aumento de funcionalidades dos medidores, tais como: maior exatido de medio em relao ao medidor eletromecnico; diminuio de possibilidades de fraude; possibilidade de cobrana de tarifa diferenciada; possibilidade de superviso da carga alimentada e outras. Quanto s oportunidades para a prestao de servios de calibrao, o cenrio positivo, pois, percebe-se um crescente interesse da comunidade pelos servios em questo, por conta de fatores como: o aperfeioamento das leis de defesas do consumidor, a privatizao da maioria das companhias de eletricidade no Brasil, o aumento de exigncias por parte do INMETRO e o aumento de exigncias por parte da ANEEL.

    3 ESTUDO TCNICO DO PROCESSO DE CALIBRAO

    3.1 A METROLOGIA E A SUA IMPORTNCIA

    Alm de serem fundamentais integrantes dos sistemas de controle da qualidade, medies so aes indispensveis pelas quais diversas pesquisas e descobertas cientficas se concretizam ao longo do tempo. Prospeces na fronteira do conhecimento, muitas vezes, exigem relevantes estudos

  • 18

    experimentais, haja vista as limitaes das teorias disponveis. Por meio de medies, possvel testar a validade de teorias sobre determinados fenmenos, bem como as suas possveis simplificaes. Da mesma forma, medies bem planejadas podem permitir o entendimento de processos empiricamente e a avaliao de materiais, componentes e sistemas.

    Segundo CERQUEIRA (1993), medies permitem descrever, predizer, comunicar, decidir e reagir aos problemas encontrados. E, a chance de sucesso na soluo destes problemas fica comprometida se as decises no forem baseadas em medies confiveis.

    A Metrologia deve ser desenvolvida com enfoque prprio (cincia da medio), assim como capacitao de apoio a atividades de controle da qualidade e de P&D em diversas reas, j que grande parte das experimentaes e capacitaes de impacto na sociedade (independentemente da rea), baseiam-se na interpretao e tratamento de valores medidos.

    A consolidao da nova ordem econmica mundial associada evoluo tecnolgica ao longo dos anos implicou alguns fatos relevantes, que sinalizam claramente a importncia dos laboratrios metrolgicos, a saber:

    a) A melhoria do grau de incerteza de medio dos prottipos de instrumentos e circuitos especiais desenvolvidos passou a exigir um proporcional aprimoramento das referncias disponveis, utilizadas durante as fases intermedirias e finais de ajuste e teste.

    b) A necessidade de apoio s exportaes brasileiras com valor agregado, o esforo para imposio de barreiras tcnicas aos produtos estrangeiros de m qualidade, a evoluo dos regulamentos tcnicos e as solicitaes ministeriais em reas como Sade e Meio Ambiente tm exigido uma rpida implantao ou adequao de laboratrios de ensaios, que por sua vez, tm a confiabilidade das medies executadas como um dos principais quesitos de credibilidade.

    c) A privatizao dos setores de telecomunicaes e de energia eltrica aumentou significativamente o poder de exigncia dos respectivos consumidores, principalmente, no que se refere medio do produto consumido e tarifao correspondente. Por outro lado, as consultas

  • 19

    recebidas pelos laboratrios metrolgicos j acusam a considervel efervescncia em torno do assunto, sinalizando necessidade de fortalecimento de instrumentao padro validada para dirimir dvidas de calibrao de medidores de grandezas eltricas. Tal situao requer permanente desenvolvimento tecnolgico por parte dos laboratrios acreditados pelo INMETRO que implique um compatvel aprimoramento de incertezas de medio.

    d) Nas reas de pesquisa, desenvolvimento, produo e assistncia tcnica, a rastreabilidade das medies executadas deve ser assegurada por meio de referncias confiveis. Como exemplo, pode ser citado o projeto de desenvolvimento de uma Unidade de Reconhecimento Audvel - URA, suportado por uma empresa que prefere no ser citada. Neste projeto, mesmo na fase de desenvolvimento, a rastreabilidade das medies era severamente exigida, j que a empresa se comprometeu a manter tal prtica, a fim de garantir a manuteno da sua Certificao da Qualidade para a fase de desenvolvimento do produto, em conformidade com a norma NBR ISO 9001:2008. Assim, evidencia-se que, medida que as empresas desenvolvem novos projetos de produtos e servios, as exigncias metrolgicas para a qualidade, at ento restritas ao setor de produo, passam a envolver, tambm, as reas de P&D.

    e) A Metrologia j um fator determinante para a aceitao de produtos no mercado globalizado e a superao de barreiras tcnicas. Portanto, imperativo que esforos sejam aplicados no sentido de se aprimorar os modelos educacionais, disponibilizando-se conceitos metrolgicos e competncia operacional. O governo brasileiro, sensvel necessidade de se consolidar um corpo tcnico nacional de slida formao acadmica, especificamente na rea de Metrologia, promoveu iniciativas como o Programa RH Metrologia e Rede Alfa (Amrica Latina Formao Acadmica) de Metrologia. Mais recentemente (dezembro de 2009), o

  • 20

    INMETRO promoveu a I Escola de Metrologia do Sistema Interamericano de Metrologia (SIM)1. Enquanto essa capacitao acadmica ainda incipiente, de se esperar que o corpo tcnico de alto nvel (mestres e doutores), capaz de promover o desenvolvimento da Metrologia, tenha formao em reas correlatas (no exatamente em Metrologia, porm com franco interesse pela mesma). Por outro lado, laboratrios metrolgicos podem prover suporte estratgico para o aprimoramento de recursos humanos, j que dispem de recursos materiais necessrios prtica de experimentos associados ao desenvolvimento de teses e dissertaes.

    3.2 VOCABULRIO INTERNACIONAL DE METROLOGIA (VIM)

    Diariamente, os mais diversos tipos de profissionais se utilizam de termos especficos para expressar observaes ou caractersticas de processos e de produtos de seus interesses. importante que tais termos tenham um significado inconfundvel, de modo que a troca de informaes, geralmente de natureza tcnica, possa ser desenvolvida com segurana e objetividade. Por outro lado, ponto pacifico que toda medio est sujeita a imperfeies, de modo que cada medida registrada est associada a uma incerteza de medio.

    Com o objetivo de homogeneizar a terminologia tcnica na rea de Metrologia e, assim, diminuir os riscos de acidentes e de prejuzos causados por erros de comunicao, um conjunto de seis organismos internacionais desenvolveu o Vocabulrio internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia, oficializado no Brasil por meio da Portaria INMETRO 029 (1995).

    1 O encontro pioneiro reuniu cerca de 60 novos talentos do meio, provenientes de 32 pases das Amricas

    sia e frica. A proposta auxiliar na formao da nova gerao de metrologistas, por meio de treinamento nas mais diversas reas da metrologia, alm de debater projetos que vm sendo desenvolvidos, os desafios e o futuro da profisso. Fonte: Inmetro Informaes Vol. 29 n. 01 Janeiro de 2010.

  • 21

    Tais organismos so:

    BIPM - Bureau International des Poids et Mesures.

    IEC - International Technical Commission.

    ISO - International Organization for Standardization.

    IUPAC - International Organization for Pure and Applied Chemistry.

    IUPAP - International Organization for Pure and Applied Physics. IFCC - International Federation for Clinical Chemistry and Laboratory Medicine. A seguir, so apresentados alguns dos termos do VIM. So aqueles mais provavelmente utilizados ao longo de discusses tcnicas relacionadas calibrao de medidores de energia e na elaborao de certificados de calibrao de tais instrumentos.

    Valor verdadeiro (de uma grandeza) Valor consistente com a definio de uma dada grandeza especfica. Observaes: a) um valor que seria obtido por uma medio perfeita; b) Valores verdadeiros so, por natureza, indeterminados.

    Valor verdadeiro convencional (de uma grandeza) Valor atribudo a uma grandeza especfica e aceito, s vezes por conveno, como tendo uma incerteza apropriada para uma dada finalidade.

    Mtodo de medio Seqncia lgica de operaes, descritas genericamente, usadas na execuo das medies. Observao: Os mtodos de medio podem ser qualificados de vrias maneiras: mtodo por substituio; mtodo diferencial; mtodo "de zero".

    Procedimento de medio Conjunto de operaes, descritas especificamente, usadas na execuo de medies particulares de acordo com um dado mtodo.

    Grandeza especfica submetida medio Exemplos: Presso de vapor de uma dada amostra de gua a 20C. Comprimento de uma barra de ao.

    Grandeza de influncia Grandeza que no o mensurando, mas que afeta o resultado da medio deste.

  • 22

    Exemplos: a) A temperatura de um micrmetro usado na medio de um comprimento. b) A frequncia na medio da amplitude de uma diferena de potencial em corrente alternada.

    Indicao de um instrumento de medio Valor de uma grandeza fornecido por um instrumento de medio.

    Exatido de medio Grau de concordncia entre o resultado de uma medio e um valor verdadeiro do mensurando. Observaes: 1) Exatido um conceito qualitativo; 2) O termo preciso no deve ser utilizado como exatido.

    Repetitividade (de resultados de medies) Grau de concordncia entre os resultados de medies sucessivas de um mesmo mensurando efetuadas sob as mesmas condies de medio.

    Reprodutibilidade (dos resultados de medio) Grau de concordncia entre os resultados das medies de um mesmo mensurando, efetuadas sob condies variadas de medio.

    Incerteza de medio Parmetro, associado ao resultado de uma medio, que caracteriza a disperso dos valores que podem ser fundamentalmente atribudos a um mensurando.

    Valor de uma diviso Diferena entre os valores da escala correspondentes a duas marcas sucessivas. Obs.: O valor de uma diviso expresso na unidade marcada sobre a escala, qualquer que seja a unidade do mensurando.

    Resoluo (de um dispositivo mostrador) Menor diferena entre indicaes de um dispositivo mostrador que pode ser significativamente percebida. Obs.: Para dispositivo mostrador digital, a variao na indicao quando o dgito menos significativo varia de uma unidade.

    Classe de exatido Classe de instrumentos de medio que satisfazem a certas exigncias metrolgicas destinadas a conservar os erros dentro de limites especificados. Obs.: Uma classe de exatido usualmente indicada por um nmero ou smbolo adotado por conveno e denominado ndice de classe.

  • 23

    Erro (de indicao) de um instrumento de medio Indicao de um instrumento de medio menos um valor verdadeiro de grandeza de entrada correspondente.

    Tendncia (de um instrumento de medio) Erro sistemtico da indicao de um instrumento de medio. Obs.: Tendncia de um instrumento de medio normalmente estimada pela mdia dos erros de indicao de um nmero apropriado de medies repetidas.

    Padro Medida materializada, instrumento de medio, material de referncia ou sistema de medio destinado a definir, realizar, conservar ou reproduzir uma unidade ou um ou mais valores de uma grandeza para servir como referncia.

    Padro primrio Padro que designado ou amplamente reconhecido como tendo as mais altas qualidades metrolgicas e cujo valor aceito sem referncia a outros padres da mesma grandeza.

    Padro secundrio Padro cujo valor estabelecido por comparao a um padro primrio da mesma grandeza.

    Padro de referncia Padro, geralmente tendo a mais alta qualidade metrolgica disponvel em um dado local ou em uma dada organizao, a partir do qual as medies l executadas so derivadas.

    Padro de trabalho Padro utilizado rotineiramente para calibrar ou controlar medidas materializadas, instrumentos de medio ou materiais de referncia.

    Rastreabilidade Propriedade do resultado de uma medio ou do valor de um padro estar relacionado a referncias estabelecidas, geralmente padres nacionais ou internacionais, atravs de uma cadeia contnua de comparaes, todas tendo incertezas estabelecidas.

  • 24

    Calibrao2 Conjunto de operaes que estabelece, sob condies especificadas, a relao entre os valores indicados por um instrumento de medio ou sistema de medio ou valores representados por uma medida materializada ou um material de referncia, e os valores correspondentes das grandezas estabelecidos por padres.

    3.3 IMPLANTAO DO SERVIO DE CALIBRAO PROPRIAMENTE DITO

    Com base no estudo promovido por Shibayama (2010), os servios de calibrao a serem oferecidos estaro concentrados em medidores de energia eletrnicos monofsicos, bifsicos e trifsicos com classe de exatido variando entre 0,2% e 2% e fontes de gerao de energia monofsica e trifsica, tambm com classe de exatido variando entre 0,2% e 2%. Para a efetiva implantao do servio, devem ser desenvolvidas e consolidadas cada uma das etapas apresentadas a seguir.

    3.3.1 Etapas do processo de calibrao

    O processo de calibrao pode ser dividido nas seguintes etapas: oramento do servio; confirmao do pedido; recebimento do instrumento; limpeza da carcaa e dos contatos eltricos; calibrao propriamente dita; correo e emisso do certificado de calibrao; embalagem e despacho do instrumento calibrado e faturamento do servio.

    Normalmente, para obteno de um oramento, o cliente far um contato com o laboratrio, informando suas necessidades especficas de calibrao e solicitando, basicamente, informaes sobre preo e prazo do servio em questo. O laboratrio deve desenvolver um modelo de oramento que contemple os dados solicitados pelo cliente, alm de informaes complementares que procurem fortalecer o interesse do mesmo e, ao mesmo tempo, exima o laboratrio de responsabilidades indesejveis.

    2 At meados de 1990 era utilizado o termo aferio. A partir dos anos 90, o termo aferio

    entra em desuso na Metrologia e o INMETRO recomenda que, em seu lugar, seja adotado o termo calibrao, em consonncia com a terminologia internacional (calibration).

  • 25

    Admitindo-se a confirmao do interesse, o cliente deve emitir um documento (confirmao do pedido) que d garantias ao laboratrio que o servio ser devidamente pago. Normalmente, tais garantias podem ser expressas por um contrato, um pedido de compra ou at mesmo uma correspondncia de aceite.

    Uma vez em poder do laboratrio, o instrumento a ser calibrado deve ser devidamente desembalado, avaliado e registrado, de modo que sejam documentadas as suas condies de recebimento (aparncia e funcionamento), bem como os acessrios que o acompanhe.

    A fim de no contaminar o ambiente do laboratrio e de evitar mau-contato das conexes eltrica, a carcaa do instrumento, bem como os seus terminais de conexo eltrica devem ser devidamente limpos antes de serem levados bancada de calibrao.

    Para a execuo da calibrao propriamente dita, o medidor sob calibrao deve ser conectado ao padro a ser utilizado, conforme procedimento especfico que deve considerar as instrues dos manuais de operao dos instrumentos envolvidos e as exigncias de normas e regulamentos pertinentes. Naturalmente, detalhes contidos na solicitao formal do cliente tambm devem ser observados. Neste momento, cabe citar que a definio dos pontos das escalas de medio a serem calibradas constitui uma exigncia que merece destaque. Cada ponto definido pela condio de energizao do medidor durante a calibrao. Segundo o Regulamento tcnico metrolgico a que se refere a portaria INMETRO N 431 de 04 de dezembro de 2007, p. 18 (quando considerando-se medidores monofsicos e polifsicos em cargas equilibradas), deve-se manter fixos o tempo de integrao da energia em um minuto (quando no especificado pelo fabricante) e a tenso nominal (ex.: 120V); porm, variando-se a condio de energizao por meio da corrente e do fator de potncia, da seguinte forma:

  • 26

    1 ponto: corrente regulada em 10% do valor nominal (ex: 15A), com FP=1.3 2 ponto: corrente regulada em 100% do valor nominal (ex: 15A), com FP=1. 3 ponto: corrente regulada em 100% do valor nominal (ex: 15A), com FP=0,5 ind.4

    4 ponto: corrente regulada em 100% do valor nominal (ex: 15A), com FP=0,8 cap.5

    As condies ambientais devem estar estveis e de acordo com os limites de operao dos instrumentos. Por outro lado, o tempo mnimo para aquecimento de cada instrumento deve ser respeitado.

    Quando o instrumento entregue pelo cliente for uma fonte geradora de energia eltrica, a calibrao deve ser executada aplicando-se os sinais pertinentes (tenso, corrente e fator de potncia) por um dado perodo, registrando-se a diferena (erro) entre o valor indicado pela fonte e o valor obtido pelo medidor padro.

    Quando o instrumento entregue pelo cliente for um medidor, a calibrao deve ser executa de forma semelhante, atentando-se para o fato de que o padro passa a ser a fonte de energia eltrica.

    importante que todas as informaes relevantes estejam claramente anotadas nos formulrios de registro de medio, de modo que as etapas seguintes, bem como futuras consultas estejam bem embasadas. Quando em posse dos resultados obtidos, o laboratrio deve emitir um certificado de calibrao (melhor discutido no item 3.3.6 - Elaborao do Certificado de Calibrao). Entretanto, deve-se dispensar um cuidado especial no processo de correo e emisso do certificado, j que tal documento deve ser a principal referncia para a tomada de decises com relao liberao (ou no) do instrumento calibrado para uso regular.

    3 FP significa fator de potncia (ou cos), ou seja, o resultado do co-seno do ngulo de defasagem entre a

    tenso e a corrente circulante no medidor sob calibrao. 4 FP=0,5 ind.(indutivo), indica que a corrente do circuito est atrasada de aproximadamente 60 em relao

    tenso. 5 FP=0,8 cap.(capacitivo), indica que a corrente do circuito est adiantada de aproximadamente 30 em

    relao tenso.

  • 27

    Para a fase de embalagem e despacho, o instrumento deve ser reunido aos seus acessrios, cuidadosamente embalado e liberado para devoluo ao cliente. Conforme a data do transporte, a nota fiscal de simples remessa deve ser emitida.

    Finalmente, uma vez encerrado o servio, o faturamento pertinente deve ser providenciado.

    3.3.2 Padres a serem utilizados

    Na maioria dos casos, os padres a serem utilizados durante os processos de calibrao so definidos com base na faixa de medio e exatido nominal dos instrumentos a serem calibrados. Segundo a Norma NBR ISO 10012-1 (1993), recomendvel que a relao entre a exatido nominal do padro e a exatido nominal do instrumento sob calibrao situe-se no intervalo entre trs e dez vezes, de modo que a contribuio da exatido do padro no processo seja desprezvel, em comparao com a contribuio da exatido do instrumento a ser calibrado.

    A partir de uma busca a possveis fornecedores de padres, chegou-se a um sistema denominado PTS 400.3 Modulare Portable Test System, fabricado por uma empresa sua denominada Meter Test Equipment AG (MTE). Tal sistema capaz de medir e gerar sinais de energia eltrica com exatido de 0,02%, ou seja, exatido dez vezes melhor do que os melhores instrumentos a serem calibrados. A Figura 3 apresenta uma imagem do sistema PTS 400.3 citado, enquanto que o Anexo A apresenta os dados completos deste sistema. Adicionalmente, a Figura 4 apresenta uma imagem de um possvel medidor a ser calibrado.

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    Fonte: http://maxicont.hu/doc/termekek/PTS_400_3.pdf

    FIGURA 3 SISTEMA PTS 400.3

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    Fonte: http://www.landisgyr.com.br/default.asp?opcao=29&subopcao=95

    FIGURA 4 EXEMPLO DE MEDIDOR DE ENERGIA ELTRICA A SER CALIBRADO

    3.3.3 Aspectos da qualidade

    medida que os laboratrios de calibrao e ensaios foram se estabelecendo, a comunidade interessada no assunto percebeu a necessidade da criao de uma norma capaz de definir requisitos gerenciais e tcnicos para laboratrios deste tipo. Assim, surgiu a NBR ISO/IEC 17025:2005, dividida basicamente em duas partes. Na primeira parte (aspectos gerenciais), so tratados os seguintes assuntos: Organizao (confidencialidade e proteo contra influncia indevida); Sistema da Qualidade (expresso no manual da qualidade); Controle de Documentos; Anlise de Solicitaes; Subcontrataes; Aquisio de Suprimentos; Atendimento ao Cliente; Reclamaes; Controle de Trabalhos no Conformes; Ao Corretiva; Ao Preventiva; Registros (legveis e recuperveis); Auditorias Internas e, por ltimo, Anlise Critica pela Gerncia. Na segunda parte (aspectos tcnicos), so tratados: Pessoal, Acomodaes e Condies Ambientais; Mtodos de Ensaio e Calibrao e suas Validaes; Equipamentos; Rastreabilidade das Medies; Amostragem; Manuseio de itens de Ensaios e Calibraes; Garantia da Qualidade de Resultados e Ensaios e calibraes e, finalmente, Apresentao de Resultados.

  • 30

    fcil perceber que a capacitao para calibrao de medidores de energia proposta neste trabalho deve estar inserida em um laboratrio devidamente alinhado com os requisitos a NBR ISO/IEC 17025:2005 e preferencialmente acreditado pelo INMETRO, em conformidade com tais requisitos.

    3.3.4 Aspectos de segurana

    As atividades desenvolvidas em laboratrio podem expor o tcnico a agentes de riscos, associados aos materiais empregados, aos mtodos para a realizao das tarefas e aos equipamentos empregados.

    O acidente em laboratrio ocorre na realizao de atividades tcnicas ou no. De qualquer maneira, deve-se tomar as devidas precaues de modo a prevenir a ocorrncia do acidente.

    Se o acidente ocorrer durante a realizao de um servio, os resultados obtidos no mesmo se tornam suspeitos devido aos efeitos psicolgicos associados ao evento.

    Especificamente na rea de eletricidade, importante que o pessoal envolvido com o servio em andamento seja formalmente treinado, no que se refere ao contedo da Norma Regulamentadora nmero 10 (NR 10) - Instalaes e Servios em Eletricidade (110.000-9), que por sua vez, fixa as condies mnimas exigveis para garantir a segurana dos empregados que trabalham em instalaes eltricas, em suas diversas etapas, incluindo projeto, execuo, operao, manuteno, reforma e ampliao e, ainda, a segurana de usurios e terceiros.

  • 31

    3.3.5 Clculo da incerteza de calibrao

    Segundo YEHIA (2010): Um resultado de medio est incompleto se no for apresentado com a sua respectiva incerteza. A incerteza uma indicao quantitativa da qualidade do resultado. Sem a incerteza no se pode decidir, de forma confivel, se o resultado adequado ao propsito da medio e consistente com outros resultados similares. Portanto, o processo de obteno de um resultado experimental requer conhecimento tcnico sobre os fenmenos fsicos envolvidos na medio e sobre os mtodos para quantificar a incerteza da medio.

    Mtodos estatsticos para estimar as incertezas de medio tm sido aplicados de modo crescente no ltimos 60 anos. No entanto, um guia em especial, publicado pela ISO (International Organization for Standardization) em 1993, denominado "Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement", destacou-se dos demais e desfruta de grande aceitao pela comunidade metrolgica. Popularmente tornou-se ser conhecido como "ISO GUM". Com o passar do tempo, os organismos de acreditao de laboratrios de calibrao e ensaio passaram a exigir a aplicao do mtodo descrito pelo ISO GUM na estimativa da incerteza de medio.

    No Brasil, o ISO GUM foi traduzido sob o ttulo de "Guia para a Expresso da Incerteza de Medio". Da 3 edio brasileira do ISO GUM (ABNT/INMETRO, 2003) vale destacar a importncia dada estimativa da incerteza de medio:

    O conceito de incerteza como um atributo quantificvel relativamente novo na histria da medio, embora erro e anlise de erro tenham sido, h muito, uma parte da prtica da cincia da medio ou metrologia. agora amplamente reconhecido que, quando todas as componentes de erro conhecidos ou suspeitos tenham sido avaliadas e as correes adequadas tenham sido aplicadas, ainda permanece uma incerteza sobre quo correto o resultado declarado, isto , uma dvida acerca de quo corretamente o resultado da medio representa o valor da grandeza que est sendo medida (mensurando).

    Em princpio, seria interessante discorrer neste trabalho sobre assuntos que embasam o clculo de incerteza da calibrao de interesse, tais como, algarismos

  • 32

    significativos, notao cientfica, arredondamento, TUR6, distribuies estatsticas e propagao de erros. Entretanto, tais assuntos so facilmente encontrados na literatura, e.g., YEHIA (2010) e ISO GUM (1993). Um resumo do roteiro para o clculo da incerteza de medio, conforme o ISO GUM (ABNT/INMETRO, 2003), apresentado a seguir.

    a) Expresse, matematicamente, a relao entre o mensurando Y e as grandezas de entrada Xi das quais Y depende: Y = f(X1, X2, ..., Xn). A funo dever conter cada grandeza, incluindo todas as correes e fatores de correo, que podem contribuir com um componente de incerteza significativo para o resultado da medio.

    b) Determine xi, o valor estimado da grandeza de entrada Xi, seja com base em anlise estatstica de uma srie de observaes ou por outros meios.

    c) Avalie a incerteza padro u(xi) de cada estimativa de entrada xi. d) Calcule o resultado da medio, isto , estimativa y do mensurando Y, a

    partir da relao funcional f, utilizando como grandezas de entrada Xi as estimativas de xi.

    e) Determine a incerteza padro combinada uc (y) do resultado da medio y, a partir das incertezas padro associadas com as estimativas de entrada.

    f) Calcule a incerteza expandida U: U = k.uc (y), utilizando fator de abrangncia (k) para um nvel da confiana de, aproximadamente, 95%.

    g) Relate o resultado da medio y com a incerteza expandida U, informando tambm, o fator de abrangncia (k) utilizado.

    Neste momento, parece oportuno simular a aplicao do roteiro apresentado acima. Neste sentido, admite-se um medidor de energia classe de exatido 0,2% a ser calibrado por um padro classe 0,02%. Toma-se, como exemplo, o ponto (condio de calibrao):

    a) tempo de integrao da energia de um minuto (1/60 h); b) tenso nominal de 120V; c) corrente regulada em 100% do valor nominal (15A), com FP=1.

    6 TUR Test Uncertainty Ratio - definido como sendo a relao entre classe de exatido do instrumento sob

    calibrao e a incerteza da calibrao deste instrumento.

  • 33

    Tal condio de energizao implica a um valor indicado (V.I.) de energia eltrica de:

    V.I. = Tenso x Corrente x FP x Tempo de integrao = 120V.15A.1.(1/60) = 30 Wh

    Assim sendo, espera-se que o valor lido pelo padro ou V.V.C. (Valor Verdadeiro Convencional) durante a calibrao esteja prximo de 30Wh. Dando prosseguimento simulao, admite-se que foram realizadas trs leituras (no mesmo ponto) por comparao direta entre o medidor de energia (V.I) e a fonte padro (V.V.C). Equao da medio: V.I. = V.V.C. + Erro

    Dados obtidos:

    N V.V.C. (Wh) V.I. (Wh) 1 30,000 30,02

    2 30,000 30,03

    3 30,000 30,01

    Mdia aritmtica de V.I.: 30,02 Wh

    Desvio padro experimental: s(x) = 0,01Wh

    Incerteza padro: u(x)n

    s(x)=

    3s(x)

    = u(x) = 0,005773 Wh

    Resoluo do Medidor sob calibrao (1 pulso): uResx = 0,01 Wh Exatido nominal do Padro: (0,02% da leitura): 0,006 Wh Incerteza da ltima calibrao do Padro (dados do certificado): U = 0,002 Wh e k = 2

    Resoluo do Padro (1 dgito): uResPad 21 0,00

    = uResPad = 0,0005 Wh

  • 34

    Planilha de incertezas

    Incerteza Estimativa Distribuio Incerteza padro Coef.

    Sensib. Contribuio para a

    incerteza

    Tipo Descrio (Wh) Tipo Divisor u(xi) ci ci.u(xi) ui(y)2 A Variabilidade 0,005773 Normal 1 0,005773 1 0,005773 3,333 x10-5

    B Resoluo do Medidor sob calibrao

    0,01 Retan. 3 0,005773 1 0,005773 3,333 x10-5

    B Classe de Exatido do Padro

    0,006 Retan. 3 0,003464 1 0,003464 1,200 x10-5

    B

    Incerteza da calibrao do Padro (certificado mais recente)

    0,002 Normal k = 2 0,001 1 0,001 1 x10-6

    B Resoluo do Padro 0,0005 Retan. 3 2,887x10-4 1 2,887x10-4

    8,335 x10-8

    uc = 0,00893

    i

    4i

    N

    1i

    4c

    eff (y)u(y)u

    =

    = =

    +

    +

    +

    +44444

    4

    0,000288770,0010,0034640,0057731)-(3

    0,0057730,00893

    = 11,4

    Pela relao abaixo, k 2,2

    eff 10 11 12

    K 2,28 2,25 2,23

    Incerteza expandida = U = k.uc = 0,00893 x 2,2 U = 0,020 Wh

    importante mencionar que a incerteza expendida (final) pode ser apresentada na mesma unidade da grandeza medida ou em valor relativo (exemplo: porcentagem, ppm etc.). Por outro lado, o valor numrico da incerteza deve ser fornecido com 1 ou 2 algarismos significativos. Por ltimo, pode-se apresentar o resultado como sendo: (30,02 0,02) Wh

  • 35

    3.3.6 Elaborao do Certificado de Calibrao (produto final)

    O item 5.10 da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 estabelece que a apresentao de resultados fornecida por um laboratrio deve relatar resultados com exatido, clareza e objetividade, alm de Incluir informaes necessrias para a interpretao dos mesmos.

    O item 5.10.2 da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 estabelece que cada certificado de calibrao deve incluir, a menos que o laboratrio tenha razes vlidas para no faz-lo, pelo menos, as seguintes informaes:

    a) um ttulo (por exemplo: Certificado de Calibrao); b) o nome e o endereo do laboratrio e o local onde as calibraes foram realizadas, se diferentes do endereo do laboratrio;

    c) identificao unvoca; d) o nome e o endereo do cliente; e) identificao do mtodo utilizado; f) uma descrio, a condio e identificao no ambgua, do item calibrado; g) a data do recebimento do item, quando necessrio, e a data da realizao da calibrao;

    h) os resultados da calibrao com as unidades de medida, onde apropriado; i) o(s) nome(s), funo(es) e assinatura(s) ou identificao equivalente da(s) pessoa(s) autorizada(s) para emisso do certificado de calibrao; j) onde pertinente, uma declarao de que os resultados se referem somente aos itens calibrados.

    Em adio aos requisitos listados em 5.10.2 da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005, o item 5.10.4.1 prev ainda que os certificados de calibrao, onde necessrio para a interpretao dos resultados da calibrao, devem incluir o seguinte:

    a) as condies (por exemplo: ambientais) sob as quais as calibraes foram feitas, que tenham influncia sobre os resultados da medio;

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    b) a incerteza de medio e/ou uma declarao de conformidade a uma especificao metrolgica identificada;

    c) evidncia de que as medies so rastreveis.

    3.3.7 Espiral de projeto

    Segundo KAMINSKI (2008): Todos os projetos tm uma caracterstica bsica: no se desenvolverem linearmente, com cada etapa sendo completamente detalhada antes de se passar pela seguinte. O desenvolvimento de um projeto interativo, pois cada item depende de outros para que o sistema com um todo funcione harmonicamente. Assim, uma imagem que define bem o processo de projeto a de uma espiral (a chamada espiral de projeto), em que na primeira volta os itens so definidos de forma grosseira, aproximada; essa definio vai ficando mais precisa nas voltas seguintes, at convergir para a configurao final do sistema (projeto).

    Inicialmente, pode-se imaginar que o raciocnio acima aplicvel somente ao desenvolvimento de algum produto, mas logo se percebe que pode, tambm, ser aplicado ao desenvolvimento de um servio, conforme prope este trabalho.

    Neste contexto, parece oportuno identificar os principais itens que tendem a ser detalhados de maneira no linear ao longo do desenvolvimento do projeto proposto, lembrando que alguns deles esto sendo discutidos, com maior ou menor grau de aprofundamento ao longo do trabalho.

    A Figura 5 apresenta a espiral que contempla os itens considerados mais relevantes para este projeto, visando apenas a operacionalizao do servio de interesse (ainda sem um olhar voltado para fora da empresa), enquanto que o Quadro 1 apresenta o detalhamento da Espiral do Projeto.

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    FIGURA 5 ESPIRAL DO PROJETO

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    LINHAS DE ATIVIDADES

    INTERSECO NA ESPIRAL DESDOBRAMENTO DA ATIVIDADE

    Infraestrutura

    1 Estimativa do espao necessrio.

    9 Estimativa dos equipamentos de apoio.

    17 Definio de espao, leiaute e especificao detalhada dos equipamentos de apoio.

    22 Aquisies e montagens.

    Instrumentos padro

    2 Estimativa dos padres necessrios.

    10 Estudo dos padres disponveis no mercado.

    18 Definio dos padres necessrios.

    23 Aquisies e montagens.

    Rastreabilidade Metrolgica

    3 Identificao das possveis instituies capazes de calibras os padres a serem adquiridos.

    11 Definio da instituio a ser contratada.

    19 Contratao.

    Mo-de-obra 4 Recrutamento de pessoal.

    12 Treinamento especfico.

    Normas e Regulamentos

    5 Levantamento de normas e regulamentos aplicveis ao servio.

    13 Estudo de documentao e estimativa de possveis riscos e oportunidades.

    Organismos Certificadores

    6 Identificao de possveis organismos certificadores.

    14 Contratao da certificao.

    Software e Hardware

    7 Estimativa do hardware e software necessrios.

    15 Estudo dos recursos disponveis no mercado.

    20 Definio dos recursos a serem contratados.

    24 Aquisies e instalaes.

    Sistema de manuteno e suporte

    8 Estimativa da manuteno e suporte necessrios operao do laboratrio.

    16 Estudo dos servios disponveis no mercado.

    21 Definio dos servios a serem contratados.

    25 Contrataes.

    QUADRO 1 DETALHAMENTO DA ESPIRAL DO PROJETO

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    4 CONSIDERAES FINAIS

    Segundo Shibayama (2010), os aspectos positivos levantados por meio de anlise SWOT7, tais como, a importncia crescente dos medidores de energia, a baixa concorrncia, o conhecimento do mercado e a infraestrutura necessria j disponvel aparentam possuir mais fora do que os aspectos negativos levantados, tais como, as possibilidades de novos concorrentes e a diminuio da margem de lucro dos fabricantes. Sob o aspecto financeiro, o estudo realizado indica viabilidade econmica, haja vista que a taxa de retorno para um investimento de aproximadamente R$ 490 mil de 11% e prazo de payback de 26 meses. Nestas condies, conclumos que o negcio calibrao de instrumentos de medidores de energia eltrica pode ser implantado como mais uma linha de servio de um laboratrio j especializado em calibrao de instrumentos de grandezas eltrica e situado na cidade de So Paulo ou arredores.

    Ao longo do trabalho, foram identificados algum assuntos interessantes que ainda podem ser melhor estudados e discutidos em trabalhos futuros, dentre eles:

    Incorporao de inteligncia s redes de energia eltrica (Smart Grid) para fins de monitorao das grandezas de influncia em tempo real e da otimizao dos condutores de energia e demais equipamentos do sistema.

    Detalhes de funcionamento da Cmara de Comrcio de Energia (CCEE), no que se refere ao processo de medio da energia comercializada e da contabilizao dos dados.

    Detalhes construtivos dos medidores eletrnicos.

    Prximos passos das regulamentaes elaboradas e aplicada pelo INMETRO na rea de medidores de energia.

    7 O termo SWOT uma sigla inglesa para foras ou pontos fortes (Strengths), fraquezas ou

    pontos fracos (Weaknesses), oportunidades (Opportunities) e ameaas (Threats).

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    REFERNCIAS

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS - ABNT. NBR ISO 9001:2008. Sistemas de gesto da qualidade Requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2008. 28p.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS - ABNT. NBR ISO 10012-1:1993 Requisitos de garantia da qualidade para equipamento de medio; Parte 1: Sistema de comprovao metrolgica para equipamento de medio. Rio de Janeiro: ABNT, 1993. 14p.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS - ABNT. NBR ISO/IEC 17025:2005. Requisitos gerais para a competncia de laboratrios de ensaio e calibrao. Rio de Janeiro, ABNT, 2005. 31p.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS - ABNT / INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAO E QUALIDADE INDUSTRIAL - INMETRO . Guia para a Expresso da Incerteza de Medio. Terceira edio brasileira. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. 120p.

    CMARA DE COMERCIALIZAO DE ENERGIA ELTRICA - CCEE. So Paulo. Histrico de Preo Mdio de Comercializao de Energia Eltrica. Disponvel em . Acesso em: 05 abr. 2010.

    CMARA DE COMERCIALIZAO DE ENERGIA ELTRICA - CCEE. So Paulo. Relatrio de Informao ao Pblico. Disponvel em . Acesso em: 05 abr. 2010.

    CAPOVILLA, A. M. Gasto de energia sob monitoramento nos EUA. O Estado de So Paulo, 26 mar. 2000. Negcios, Caderno B, p. B14.

    CERQUEIRA NETO, E. P. Gerenciando a qualidade metrolgica. Rio de Janeiro: Imagem, 1993. 194p.

    DAHLE, D. A Brief History Of Meter Companies And Meter Evolution. Disponvel em: . Acesso em: 22 mar., 2010.

    INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAO E QUALIDADE INDUSTRIAL-INMETRO. Vocabulrio Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia - VIM. Portaria INMETRO 029 de 1995. 4 ed. Rio de Janeiro, 2005. 75p.

    KAMINSKI, P. C. Desenvolvendo produtos com planejamento criatividade e qualidade. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 132p.

  • 41

    LANDIS+GYR. Curitiba. Catlogo do medidor SAGA 1000. Disponvel em . Acesso em: 30 mar. 2010.

    MEDEIROS FILHO, S. Medio de energia eltrica. 2 ed. Recife: Universitria, 1980. 483p.

    MTE METER TEST EQUIPMENT AG. Sua. Catlogo do Sistema PTS 400.3. Disponvel em: < http://www.mte.ch >. Acesso em 30 mar. 2010. ORSOLON, M. Confiabilidade e Inteligncia. Disponvel em: . Acesso em: 21 mar., 2010.

    SHIBAYAMA, H. Estudo econmico-financeiro de negcio baseado na prestao de servios de calibrao de medidores de energia eltrica. So Paulo, 2010. 45 p. Monografia apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Certificado de Especialista em Gesto e Engenharia de Produtos MBA / USP.

    YEHIA, R. Clculo da Incerteza de Medio em Calibraes Eltricas. 2 ed. Apostila de treinamento: IPT, 2010. 57p.

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    ANEXOS

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    ANEXO A - SISTEMA DE CALIBRAO DE ENERGIA ELTRICA , MARCA MTE, MODELO PTS 400.3

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