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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - DDI Desenho Industrial - Projeto do Produto Trabalho de conclusão de curso realizado para a obtenção do Bacharelado em Desenho Industrial - Projeto de Produto, na Faculdade de Arquitetrura Artes e Comunicação, sob orientação do Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli. Bruna Panzieri - RA.: 533432 Bauru | 2009 PROPOSTA PARA DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - DDI

Desenho Industrial - Projeto do Produto

Trabalho de conclusão de curso realizado para a obtenção do Bacharelado em Desenho Industrial - Projeto de Produto, na Faculdade de Arquitetrura Artes e Comunicação, sob orientação do Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli.

Bruna Panzieri - RA.: 533432

Bauru | 2009

PROPOSTA PARA DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA

ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

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RESUMO

O banheiro público é um ambiente que recebe um grande fluxo de pessoas diariamente, porém não está preparado para atender às necessidades de todos os usuários. As louças existentes nos banheiros públicos são iguais às louças sanitárias residenciais, porém esses ambientes e suas peças sanitárias são utilizados de forma diferente por vários fatores como: medo de contágio de doenças, falta de higiene e de acessibilidade. O intuito desse projeto é pesquisar como as pessoas utilizam o banheiro público e a partir dessa informação, criar um conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior número de usuários possível por meio dos princípios do design universal. O principal objetivo do design universal é eliminar a dicotomia entre inclusão e exclusão, afim de permitir a criação de um produto que atenda a todas às pessoas, sem a necessidade de adaptação. Com a aplicação de questionários foi possível investigar a percepção de uso de banheiros públicos e domésticos, por usuários com e sem deficiências, e assim estabelecer uma análise comparativa em relação a usabilidade em cada ambiente. Após essas pesquisas foi gerado um conjunto de louças sanitárias que procurou atender aos requisitos dos usuários, utilizando os principios do design universal, para que seja acessivel fisica e financeiramente. Além disso com esse projeto é possivel gerar futuras discussões sobre o assunto e proposição de soluções para problemas envolvendo banheiros públicos e falta de acessibilidade, para comprovar que com o design é possivel desenvolver produtos que contribuem para a inclusão social e qualidade de vida.

Palavras chave: louça sanitária, banheiro público, design universal

ABSTRACT

The public toilet is a place that receives a large flow of people every day, but it’s not prepared to attend all users. The sanitary ware in the public toilets are the same as the residential ones, but these environments and its sanitary parts are used differently by several factors such as fear of contagious diseases, lack of hygiene and accessibility. The purpose of this project is researching how people use the public toilets and from that information, create a set of sanitary ware that can attend as many users as possible through the principles of universal design. The major intent of universal design is to eliminate the dichotomy between inclusion and exclusion in order to allow the creation of a product that meets all the people, without needs of adaptation. With the application of questionnaires it was possible to investigate the perception of use of public and domestic toilets by users with and without disabilities, and thereby establish a comparative analysis about the usability in each environment. After this research was generated a set of sanitary ware that meets the requirements of users, with the principles of universal design, to be accessible physically and financially. In addition to this project it is possible to generate further discussions on the issue and propose solutions to problems involving public toilets and lack of accessibility to prove that with the design studies is possible to develop products that contribute to social inclusion and quality of life.

Keywords: sanitary ware, public toilet, universal design

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Reprodução dos dutos de esgoto da cidade de Harappa

Figura 2 - Antigo banheiro público coletivo em Roma

Figura 3 - Réplica do vaso sanitário criado por sir. John Harrington

Figura 4 - Primeiro vaso sanitário a apresentar sifão, desenvolvido por Alexander Cummings

Figura 5 - Primeiro vaso sanitário feito em cerâmica com descarga hidraulica

Figura 6 - Um dos primeiros vasos sanitários fabricados em uma única peça de cerâmica

Figura 7 - Vaso sanitário japonês da marca “Toto” equipado com alta tecnologia

Figura 8 - Gráfico da forma de utilização dos banheiros públicos

Figura 9 - Gráfico da forma de utilização dos banheiros domésticos

Figura 10 - Gráfico da porcentagem de pessoas que utilizariam banheiro unissex

Figura 11 - partes do vaso sanitário e da caixa de descarga

Figura 12 - vaso com sistema de remoção de resíduos sifonado e por sistema de arraste

Figura 13 - Ciclo de funcionamento do vaso sanitário e da descarga

Figura 14 - Exemplo de pia com sifão aparente

Figura 15 - Componenetes básicos de uma torneira com acionamento manual

Figura 16 - Mictórios de um banheiro público

Figura 17 - Modelos de mictório feminino

Figura 18 - Armazenamento da matéria prima

Figura 19 - Vista lateral das instalações de moinhos

Figura 20 - Fundição em moldes de gesso

Figura 21 - Esquema explicativo da formação de peças através da fundição de baixa pressão

Figura 22 - Fundição em molde de resina

Figura 23 - Acabamento e verificação das peças ainda cruas

Figura 24 - Processo de esmaltação com revólver de ar comprimido

Figura 25 - Peças no forno para sinterização

Figura 26 - Processo de classificação das peças

Figura 27 - Interior e exterior de um banheiro químico

Figura 28 - Caminhão para transporte e limpeza dos banheiros químicos

Figura 29 - Vaso sanitário plástico compostável e esquema de um banheiro seco

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Figura 30 - Banheiro automático na Madison Square Park, em Nova York, Estados Unidos

Figura 31 - Banheiro automático em Seattle, Estados Unidos

Figura 32 - Louças do segmento popular da marca Logasa, modelo Parati

Figura 33 - Louças do segmento médio da marca Incepa, modelo Stylus Excellence

Figura 34 - Louças do segmento luxo da marca Roca, modelo Frontalis

Figura 35 - Louças especiais para pessoas com deficiencia da marca Celite

Figura 36 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Nelson Ayala e Ana maria Gordillo

Figura 37 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por San Eun Young

Figura 38 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Changduk Kim e Youngki Hong

Figura 39 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Chen-Karlsson

Figura 40 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento do lavatório

Figura 41 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento do lavatório

Figura 42 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento do vaso sanitário

Figura 43 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento do vaso sanitário

Figura 44 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento da bancada e da banqueta

Figura 45 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento da bancada e da banqueta

Figura 46 - Conjunto de louças sanitárias com propostas de variação de cores

Figura 47 - Detalhe do vaso sanitário e da banqueta

Figura 48 - Perspectivas ambientadas do conjunto de louças sanitárias

Figura 49 - Dimensões das louças sanitárias

Figura 50 - Proporção da louça sanitária em relação a um usuário com cadeira de rodas

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SUMÁRIO

1. Introdução

2. Objetivos

3. Revisão teórica

3.1 Inclusão e acessibilidade

3.2 Design Universal

3.3 Histórico do desenvolvimento dos banheiros

4. Abordagem de campo

4.1 Propósito

4.2 Materiais e métodos

4.2.1 Casuística

4.2.1.1 Pessoas com deficiência

4.2.1.2 Pessoas sem deficiência

4.2.2 Materiais

4.3 Procedimentos

4.4 Resultados

4.4.1 Pessoas com deficiência

4.4.2 Pessoas sem deficiência

4.5 Discussões

4.6 Considerações finais da abordagem de campo

5. Aparelhos Sanitários

5.1 Vaso sanitário

5.2 Lavatório

5.3 Mictório

5.4 Processo produtivo da louça sanitária

5.4.1 Preparação da matéria-prima

5.4.2 Preparação da massa

5.4.3 Formação das peças

5.4.4 Secagem

5.4.5 Esmaltação

5.4.6 Tratamento térmico

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5.4.7 Acabamento

5.4.8 Classificação e embalagem

5.5 Outros materiais

5.6 Mercado nacional de louças sanitárias

5.7 Projetos conceituais

6. Desenvolvimento projetual

6.1 Lavatório

6.2 Vaso sanitário

6.3 Bancada e banqueta

7. Resultados

8. Considerações finais

9. Referências bibliográficas

10. Apêndice

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O acesso à utilização de espaços públicos nas cidades demanda o aumento de

banheiros públicos. No Brasil é raro encontrar banheiros públicos nas ruas, e quando

existentes, são vandalizados tornando-se inoperantes e locais de atividades ilícitas,

deixando os cidadãos que precisam deles inseguros em utilizá-los. Com 11 milhões de

habitantes a prefeitura da cidade de São Paulo mantém apenas três banheiros públicos

fora de parques da cidade. (PAIXÃO, 2009). Devido a essa escassez e insegurança

as pessoas optam em utilizar banheiros que ficam dentro de estabelecimentos como

shoppings e bares, por haver vigilância e limpeza constantes.

De acordo com Greed (2003) a valorização do conceito de cidades sustentáveis,

através da redução do uso de carros e encorajamento dos cidadãos a utilizarem

transportes públicos, bicicletas e até mesmo caminharem, só pode ser realizada se

houver melhora na qualidade e quantidade de banheiros públicos, já que se pretende

mudar a forma das pessoas se locomoverem.

Culturalmente é mais aceitável para um homem se aliviar em público, sendo

indiferente com a legalidade da situação (GREED, 2003). Apesar de ser algo comum em

locais menos expostos da cidade, o mau cheiro causa desconforto para as pessoas que

passam pelo local, ou até mesmo constrangimento pela exposição da pessoa que está

urinando em público. Essa mesma autora afirma ainda que as mulheres sejam menos

favorecidas, já que há maior fornecimento de alternativas para os homens, porque

além de haver maior número de banheiros masculinos espalhados pelas cidades, dentro

deles possuem duas facilidades: as cabines e os mictórios. Mulheres utilizam com maior

freqüência banheiros, dentre os vários motivos devido a uma maior gama de funções

biológicas.

O aumento do número de banheiros públicos espalhados pelas cidades (com

limpeza e segurança) evitaria que pessoas urinem em ambientes públicos, e traria

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maior qualidade de vida às pessoas que trabalham e vivem nos centros das cidades.

A legislação que normatiza os banheiros públicos é muito fraca e a forma inadequada

com que são construídos vem de uma herança do passado. Para Greed, só será possível

implementar mudanças para se obter provisões adequadas se houver maior influência

do poder legislativo. Em 2004 foi regulamentada a lei 10.098 (pelo decreto-lei 5.296),

estabelecendo prazos para que os espaços, edifícios e transportes públicos se tornassem

acessíveis. Enquanto essas mudanças não acontecem os banheiros públicos continuam

a apresentar a disposição de seu ambiente inadequada, que é praticamente um padrão,

mas ainda causa desconforto aos usuários. “O problema com banheiros públicos é que

eles transgridem o espaço público e trazem para uma área pública funções privadas”

(GREED, 2003, p.79). O usuário gostaria de manter sua privacidade, o que é difícil em

um ambiente pequeno freqüentado por muitas pessoas.

A alteração de alguns itens poderia trazer maior conforto ao usuário. Elaborar

alternativas para que a maneira com que um usuário utiliza o banheiro não afete o

outro, e modificar o ambiente de forma a abafar ruídos e odores seriam estratégias para

preservar a privacidade de quem faz uso do banheiro público. Uma questão pode ser

formulada quando ao se analisar um banheiro público: se esse espaço não é utilizado

da mesma forma que o banheiro residencial, porque suas peças sanitárias são iguais?

Além disso, facilitar seu uso para pessoas com deficiência, idosos e crianças

faria com que o banheiro atendesse de forma adequada a todos os usuários. Segundo

o Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem

24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e 45% da população brasileira

convive diariamente com a questão da inclusão dessas pessoas. (FEBRABAN, 2006)

Atualmente, existem banheiros adaptados para atender a pessoas com deficiência,

porém as cabines adaptadas são a minoria e ainda há algumas que fornecem todas as

barras de apoio, porém ou a cabine é menor, impedindo a movimentação da cadeira

de rodas, ou a porta é estreita, ou há barreiras, como degraus, que mesmo pequenos

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INTRODUÇÃO01dificultam a passagem ao banheiro.

A proliferação de símbolos que indicam banheiros para uso por pessoas com deficiência sugere que existem agora três gêneros (masculino, feminino e deficientes). O símbolo de pessoas com deficiência é excludente e insinua que apenas (pessoas em) cadeiras de rodas (uma pequena proporção de todas as pessoas com deficiência) possam utilizar esse banheiro. (GREED, 2003, p. 74)

É discutível se a existência de um banheiro exclusivo para pessoas com deficiência

é uma atitude inclusiva ou excludente. Ao imaginar a situação hipotética de um banheiro,

onde todas as cabines estejam ocupadas e apenas a cabine para pessoas com deficiência

livre, a pessoa sem deficiência não hesitará em usar a cabine desocupada, mesmo

sabendo que é exclusiva para determinados usuários. Já a situação inversa, em que

todas as cabines estejam livres e somente a cabine de pessoas com deficiência ocupada

impede que uma pessoa em cadeira de rodas, por exemplo, utilize o banheiro.

A preocupação com as instalações para crianças também são freqüentes

quando se discute banheiros públicos, em respeito a design e a escala das instalações,

e culturalmente acerca da questão de se levar uma criança do gênero feminino ou

masculino ao banheiro oposto. Essa questão também é considerada em relação às

pessoas idosas, que precisam de instalações adequadas, como barras, e freqüentemente

vão ao banheiro com a ajuda de algum parente ou acompanhante. “Com o aumento da

idade da população e os idosos sendo cuidados por seus parentes, banheiros unissex

adaptados são essenciais.” (GREED, 2003, p. 99).

Através de uma aproximação universal pode ser possível eliminar as barreiras

que impedem que determinadas pessoas não utilizem esse espaço público. Em relação

à qualidade dos banheiros públicos existem vários fatores que podem determiná-la.

São três itens que podem ser apontados como essenciais por Onn (1996, apud GREED,

2003, p. 235):

1. Bom design e provisão

2. Boa gerência e manutenção

3. Educação dos usuários e uma mudança cultural nas atitudes da sociedade

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com relação a esse espaço público e treinamento dos funcionarios responsáveis pela

limpeza.

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02 OBJETIVOS

O objetivo desse projeto é pesquisar como as pessoas utilizam o banheiro público

e a partir dessa informação criar um conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior

número de usuários possível, por meio dos princípios do design universal.

Desde o momento em que os banheiros passaram a fazer parte das residências,

ocorreram muitas mudanças, mas nenhuma significativa em acessibilidade. A criação

de louças sanitárias que atendam às pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência,

idosos e crianças, pode aumentar a qualidade de vida da população, já que vai melhorar

o dia-a-dia das pessoas que precisam de acesso facilitado, e de quem as acompanha,

permitindo que saiam de casa mais seguras de que haverá provisões para que suas

necessidades sejam atendidas.

Trazer esse assunto para discussão é outro objetivo desse projeto. Apesar de

todos precisarem utilizar o banheiro público em algum momento, esse é um tema

pouco discutido. Um local que recebe muitas pessoas, muitas vezes ao mesmo tempo,

acaba causando constrangimentos para quem deseja utilizá-lo, por ser um local onde

sejam realizadas atividades consideradas, culturalmente, privadas. Assim como as

pessoas não se sentem à vontade em banheiros públicos, o assunto também parece ser

desconfortável. É importante trazer esse assunto para o meio acadêmico, pois se trata

de saúde pública, inclusão social e qualidade de vida. Somente gerando discussões é

que se pode resolver problemas e propor soluções.

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REVISÃO TEÓRICA

3.1 Inclusão e acessibilidade

Uma sociedade que garanta o acesso de todos, respeite a diversidade humana

e promova a equiparação de oportunidades baseia-se no conceito de inclusão. Esse

conceito tem como princípios a identidade pessoal e social, ou seja, a valorização do

indivíduo em sua singularidade e a construção da igualdade na diversidade, respeitando

as diferenças, assegurando oportunidades diferenciadas quando for necessário.

Além desses fatores, a necessidade da eliminação de barreiras físicas, atitudinais

e sociais, também fazem parte dos princípios da inclusão. Um ambiente com acesso a

todos atende a uma grande variedade de necessidades dos usuários, permitindo assim,

maior independência e autonomia em sua mobilidade. Segundo Guimarães (1999,

apud PRADO, 2005, p. 1) autonomia como a capacidade do indivíduo de desfrutar dos

espaços e elementos espontaneamente, segundo sua vontade. E independência como

a capacidade de usufruir os ambientes, sem precisar de ajuda.

A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais. (SASSAKI, 1997, p. 42)

Segundo Omote (2005), as sociedades humanas vêm se tornando progressi-

vamente inclusivas ao longo dos tempos, tornando o mundo cada vez mais adequado

para a satisfação de suas necessidades, e assim, melhorando a qualidade de vida das

pessoas em geral, e também das pessoas com características diferenciadas.

O direito de todos em participar da vida em sociedade teve seu marco histórico

com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 pela

Organização das Nações Unidas (ONU). Os direitos humanos, introduzidos por essa

declaração, se baseiam no reconhecimento da dignidade de todos, e na indivisibilidade

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e universalidade desses direitos. Aranha (2004), afirma que de início o enfoque dado

aos direitos humanos foi de protecionismo, e a partir dos anos 90 do século XX, esse

enfoque passou a ser no respeito à diversidade, tendo como conseqüência ações de

cidadania para a construção de contextos sociais inclusivos.

A Organização das Nações Unidas realizou em 1981 o Ano Internacional da

Pessoa com Deficiência, que defendeu o reconhecimento dos direitos das pessoas com

deficiência como membros integrantes da sociedade, sob o lema “Participação Plena e

Igualdade”. A partir daí, de acordo com Sassaki (1997), o conceito de sociedade inclusiva

foi se desenvolvendo através de tratados, conferências e documentos que divulgaram o

conceito pelo mundo e foi gradativamente sendo implantado como conseqüência natural

do processo de implementação dos princípios de inclusão na educação, no mercado de

trabalho, no lazer, recreação, esporte, turismo, cultura, religião, artes, família. (SASSAKI,

1997, p. 167)

“A política atual de deficiência, portanto, é o resultado de conquistas nos últimos 200 anos. Vem refletindo as condições sociais e econômicas de diferentes épocas. Os fatores perturbadores do processo que nos deve levar à inclusão ainda persistem. Segundo as Nações Unidas são eles a ignorância, a negligência, a superstição e o medo. Mas a ONU, hoje congregando 189 paises, não se intimida. Ambiciosa, tem como meta colaborar para que até o ano de 2010 estejamos vivendo numa sociedade inclusiva global. Para apoiá-la nesse projeto, conta com o Fundo Voluntário das Nações Unidas sobre Deficiência.” (WERNECK , 1997, p. 44)

No Brasil foram implementadas diversas leis sobre educação inclusiva. Já no

âmbito da inclusão social, foi criada em 2000 a Lei 10.098, que estabelece normas gerais

e critérios básicos que promovem a acessibilidade de pessoas com deficiência ou com

mobilidade reduzida, e foi regulamentada em 2004 pelo Decreto-Lei 5.296, dando prazos

para que os espaços, edifícios e transportes sejam acessíveis entre outras disposições.

Em 2004 também, foi editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas a norma

brasileira ABNT NBR 9050, que define as medidas e especificações técnicas para projeto,

construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos

urbanos às condições de acessibilidade. Essas determinações legais quando colocadas

em prática representam mudanças significativas nas relações sociais, favorecendo a

REVISÃO TEÓRICA 03

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revelação de dificuldades e necessidades, e impulsiona o debate, o estudo, a reflexão

e a pesquisa, que geram soluções criativas para promover as mudanças desejadas.

(ARANHA, 2004, p. 50)

3.2 Design Universal

Ao utilizar o termo inclusão tem-se, em contrapartida, o conceito de exclusão. Os

dois conceitos são intrínsecos, já que ao incluir algo ou alguém, exclui-se o restante. Um

dos objetivos do design universal é eliminar essa dicotomia entre inclusão e exclusão.

Segundo Steinfeild (1994, apud SASSAKI, 1997, p. 140), o desenho universal não

é direcionado apenas aos que dele necessitam, é para todas as pessoas. O conceito

de desenho universal é evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais ou

exclusivos para pessoas com deficiência, criando um objeto ou ambiente para ser

utilizado por todas as pessoas, das mais diversas faixas etárias, estaturas e capacidades,

independente do público-alvo ao qual o produto se destina, atendendo assim a maior

gama de usuários possível.

“Os produtos e ambientes feitos com desenho universal ou inclusivo não parecem ser especialmente destinados a pessoas com deficiência. Eles podem ser utilizados por qualquer pessoa, deficiente ou não. É até possível que pessoas não-deficientes nem percebam, nesses produtos ou ambientes, certas especificidades que atendam às necessidades de pessoas com deficiência”. (SASSAKI, 1997, p.141)

Um grupo de designers, engenheiros e arquitetos participantes de um projeto

coordenado pelo Center for Universal Design – College of Design da Universidade

Estadual da Carolina do Norte, desenvolveram os princípios do design universal e

suas orientações, que podem ser utilizados para avaliar projetos existentes, guiar a

criação de projetos e educar designers e usuários sobre as características de produtos

a ambientes acessíveis (CUD, 2002). São sete princípios:

1. Uso eqüitativo

1a. Prover os mesmos significados de uso para todos os usuários: idêntico quando

possível, equivalente quando não possível.

1b. Impedir segregação ou estigmatização dos usuários.

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1c. Prover privacidade, segurança e proteção de forma igual a todos os usuários.

1d. Tornar o desenho atraente para todos os usuários.

2. Uso flexível

2a. Prover escolhas na forma de utilização.

2b. Acomodar acesso e utilização para destros e canhotos.

2c. Facilitar a precisão e acuidade do usuário.

2d. Prover adaptabilidade para a velocidade (compasso, ritmo) do usuário.

3. Uso simples e intuitivo

3a. Eliminar a complexidade desnecessária.

3b. Ser coerente com as expectativas e intenções do usuário.

3c. Acomodar uma faixa larga de habilidades de linguagem e capacidades em ler e

escrever.

3d. Organizar as informações de forma compatível com sua importância.

3e. Providenciar respostas efetivas e sem demora durante e após o término

de uma tarefa (feedback).

4. Informação de fácil percepção

4a. Usar diferentes maneiras (pictórico, verbal, táctil) para apresentação redundante de

uma informação essencial.

4c. Maximizar a legibilidade da informação essencial.

4d. Diferenciar elementos de forma a poderem ser descritos (isto é, tornar mais fácil

dar informações ou direções).

4e. Prever compatibilidade com uma variedade de técnicas ou procedimentos usados

por pessoas com limitações sensoriais.

5. Tolerância ao erro

5a. Organizar os elementos para minimizar riscos e erros: os elementos mais usados

ficam mais acessíveis; elementos de risco ou perigosos são eliminados, isolados ou

protegidos.

REVISÃO TEÓRICA03

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5b. Providenciar avisos de riscos e de erro.

5c. Providenciar ao produto características de segurança na falha humana.

5d. Desencorajar ações inconscientes em tarefas que exijam vigilância.

6. Baixo esforço físico

Permitir ao usuário:

6a. Manter uma posição corporal neutra.

6b. Usar forças moderadas na operação.

6c. Minimizar ações repetitivas.

6d. Minimizar a sustentação de um esforço físico.

7. Dimensão e espaço para aproximação de uso

7a. Colocar os elementos importantes no campo visual de qualquer usuário, sentado

ou em pé.

7b. Fazer com que o alcance de todos os componentes seja confortável para qualquer

usuário, sentado ou em pé.

7c. Acomodar variações da dimensão da mão ou da empunhadura.

7d. Prover espaço adequado para o uso de dispositivos assistivos ou assistência

pessoal.

Esses princípios e suas orientações apenas indicam uma forma de projetar tendo

em mente a interação do usuário com o produto. Ao utilizar esses princípios devem-

se acrescentar ainda outras considerações como: aspectos econômicos, estruturais,

culturais, de gêneros e ambientais no processo de criação. (CUD, 2002)

O design universal não é uma tendência de projeto, mas uma postura fundamental

para promover a acessibilidade de todos os usuários, e deve estar presente em todo

o processo projetual, desde a análise da situação, os primeiros desenhos, até as

propostas de soluções, para assim, criar um produto realmente acessível, desde a sua

concepção.

Com o aumento da consciência social em torno da acessibilidade, a cobrança por

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ambientes públicos acessíveis também cresceu. Porém apesar da obrigatoriedade de se

haver acesso a todos os lugares, na prática isso não ocorre. Um bom exemplo desse

fato é a ausência de banheiros públicos acessíveis, que quando existentes não passam

de uma cabine por banheiro, muitas vezes adaptada. Um dos problemas encontrados

para a existência de banheiros acessíveis é a falta de louças sanitárias que atendam as

necessidades das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, sendo necessária a

adaptação das existentes no mercado. As louças sanitárias foram criadas há séculos,

mas poucas modificações ocorreram desde então. Para que o problema de acessibilidade

a banheiros públicos seja efetivamente solucionado é necessário que se faça mudanças,

a começar pelas louças sanitárias.

3.3 Histórico do desenvolvimento dos banheiros

O desenvolvimento da higiene sanitária foi um aspecto cultural determinante

para o surgimento das grandes cidades e civilizações. Uma cidade bem desenvolvida é

marcada por sua boa condição sanitária. Apesar de muitas cidades ainda não possuírem

boas condições de higiene pública, houve uma grande evolução até os dias atuais.

Segundo Dannemann (2008), através de fatos históricos e escavações arqueológicas

pôde-se estabelecer uma linha cronológica para o desenvolvimento dos hábitos de higiene

humana, onde se podem perceber os avanços e retrocessos das civilizações nessa área.

Quando o homem ainda não havia se estabelecido em uma moradia fixa, ele satisfazia

suas necessidades fisiológicas em qualquer lugar em que se sentisse à vontade. Assim

que aprendeu a conviver em sociedade, ele teve que determinar um lugar para excretar

suas fezes. De início um buraco no quintal era suficiente, mas quando o mau cheiro e

insetos começavam a surgir era necessário tomar providências.

Através de escavações arqueológicas descobriu-se que no vale do rio Indo no

noroeste da Índia (atual Paquistão) haviam avançadas construções de latrinas no

exterior das casas, feitas de tijolos com assentos em madeira. Ainda no vale do rio Indo,

porém em outra região, Harappa, por volta 2500 a.C. foram encontrados banheiros com

descarga d’água em cada casa e drenos cobertos com tijolos ligando uma casa a outra

REVISÃO TEÓRICA03

Page 20: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

20

(fig. 1). Apesar de possuir tampos de madeira, os usuários dessas latrinas satisfaziam

suas necessidades fisiológicas na posição de cócoras (agachado sobre os calcanhares).

Foi no Egito, por volta de 2100 a.C. que surgiram os primeiros vasos sanitários utilizados

por pessoas sentadas, como é utilizado hoje em dia.

No Ocidente a evolução do banheiro foi diferente. Os gregos do século 5 a.C não

possuíam sanitários em suas casas e satisfaziam suas necessidades fisiológicas ao ar

livre. O que acontecia também em Roma no início da era Cristã quando era comum o

uso de penicos. Mas foi na Roma Antiga que surgiram os banheiros públicos coletivos,

associados às casas de banho, e lá promoviam debates, banquetes e encontros cívicos

em bancadas de pedra, com vários furos que eram utilizados como latrinas coletivas,

onde passavam canais de água corrente sob as mesmas, que levavam os dejetos para

rios distantes (fig. 2). A expansão do Império Romano levou a outras partes do mundo

esse tipo de construção, popularizando o banheiro público, porém com o enfraquecimento

do império, caiu em desuso.

Nos períodos entre 500 d.C e 1500 d.C. foi a idade das trevas para a higiene

sanitária. Devido a essa falta de higiene da população, epidemias assolaram a Europa do

Velho Mundo. As pessoas utilizavam penicos, e para se livrar de seu conteúdo, jogavam

os dejetos pela janela. Nos castelos os banheiros eram quartos com um buraco e um

assento de madeira, onde as fezes caíam em fossas (que eram limpas por escravos),

ou nos rios.

Em 1596, na Inglaterra, o escritor e poeta Sir. John Harrington criou um modelo

de vaso sanitário semelhante ao atual, e convenceu a rainha Elisabeth I a colocá-lo

no palácio real (fig. 3). Apesar da aprovação da rainha, o invento de Harrington só se

popularizou anos mais tarde. Na França, no ano de 1668, o Comissariado da Polícia de

Paris, emitiu um decreto determinando que a partir dali todas as casas deveriam ter um

banheiro em seu interior. Em 1775, em Londres, Alexander Cummings desenvolveu um

sifão para os vasos sanitários, como o que é utilizado até hoje, um cano em formato de

Page 21: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

21

Fig. 1 - Reprodução dos

dutos de esgoto da cidade de

Harappa.

Fig.2 - Antigo banheiro

público coletivo em Roma.

Fig. 3 - Réplica do vaso sanitário criado

por sir. John Harrington.

REVISÃO TEÓRICA03

Page 22: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

22

“S”, que forma um lacre hídrico e mantém o nível de água do vaso constante, reduzindo

assim os odores (fig. 4). Dessa forma o vaso sanitário foi mais bem aceito substituindo

o penico medieval (ZHURIN, 2008).

As pias não existiam nos banheiros no inicio, e só passaram a ser utilizadas no

século XX, quando os banheiros começaram a fazer parte das residências e a população

começava a tomar conhecimento dos fungos e bactérias existentes nos banheiros que

causavam doenças, e podiam ser evitadas lavando-se as mãos.

Segundo a World Toilet Organisation, organização não governamental que tem

como objetivo melhorar a condição sanitária ao redor do mundo, após a popularização

do vaso sanitário ocorreram diversas mudanças que determinaram sua evolução, como:

a fabricação do vaso em cerâmica (1777) (fig. 5 e 6), a criação da descarga hidráulica

(1778) (fig. 5), criação do assento sanitário (1936), assim como o desenvolvimento

das criações já citadas anteriormente, evoluindo o vaso sanitário para o que se conhece

hoje. Atualmente, alguns vasos sanitários possuem alta tecnologia (fig.7), como

dispositivos que aquecem o assento, água e ar quente, e até sanitários que permitem

monitorar a saúde do usuário através de exames de urina, pressão arterial e verificação

das gorduras corporais. Apesar das diversas mudanças feitas em relação ao vaso nos

tempos atuais, pouco foi feito em relação a sua forma, que continua muito parecida às

primeiras criações.

Page 23: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

23

Fig. 4 - Primeiro vaso sanitário a

apresentar sifão, desenvolvido por

Alexander Cummings

Fig. 5 - Primeiro vaso sanitário

feito em cerâmica, com descarga

hidráulica.

Fig. 6 - Um dos primeiros vasos

sanitários fabricados em uma única

peça de cerâmica.

Fig. 7 - Vaso sanitário japonês da marca

“Toto” equipado com dispositivos de alta

tecnologia. (No detalhe: painel de controle

do vaso sanitário)

REVISÃO TEÓRICA03

Page 24: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

24

4.1 Propósito

O propósito desta abordagem foi investigar a percepção de uso de banheiros

públicos e domésticos, por usuários com e sem deficiências, possibilitando estabelecer

uma análise comparativa em relação a usabilidade em cada ambiente.

4.2 Materiais e Métodos

4.2.1 Casuística

Participaram deste estudo dois tipos de sujeitos: pessoas com deficiência (física

e sensorial), totalizando 30 sujeitos distribuídos igualmente entre os gêneros masculino

e feminino; e pessoas sem deficiência, também 30 sujeitos, distribuídos igualmente

entre os gêneros masculino e feminino.

4.2.1.1 Pessoas com deficiência

Das trinta pessoas entrevistadas, 27 possuíam alguma deficiência física, e as

demais deficiência visual. Dentre as pessoas com deficiência física a maioria possuía

limitação física nos membros inferiores (paraplegia) e utilizavam cadeira de rodas para

sua locomoção. Foram entrevistadas também, pessoas com comprometimento nos

quatro membros (tetraplegia), pessoas com má formação congênita que faziam uso de

próteses e uma pessoa ostomizada que necessitava do uso de bolsa de colostomia.

4.2.1.2 Pessoas sem deficiência

A amostra de pessoas sem deficiência buscou ser o mais variada possível. Todos

os entrevistados afirmaram utilizar banheiros públicos.

4.2.2 Materiais

Para a realização do estudo foram utilizados questionários (apêndice A) indiretos

qualitativos contendo seis questões abertas de ação e opinião (que se referem às atitudes

do individuo e tentam averiguar a opinião do entrevistado) e três de fato (referentes a

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 25: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

25

dados objetivos como idade, gênero e se possui algum tipo de deficiência).

4.3 Procedimentos

As entrevistas foram aplicadas por meio de questionários individuais e indiretos

(através de um entrevistador), entrevista esta semi-estruturada, baseada em um roteiro

pré-estabelecido, com perguntas abertas, procurando saber dos sujeitos aspectos

referentes ao uso dos sanitários público e doméstico.

Por serem perguntas pessoais, as entrevistas tiveram um caráter informal a fim

de deixar o entrevistado mais a vontade para falar sobre o assunto. As interações

verbais durante as entrevistas eram anotadas no questionário pelo entrevistador. As

abordagens ocorreram aleatoriamente, de preferência longe de banheiros públicos

para que se conseguisse conversar com sujeitos usuários e não-usuários de banheiros

públicos.

Para a aplicação de questionários com pessoas com deficiência, o local escolhido

foi a feira de tecnologia em reabilitação, inclusão e acessibilidade (REATECH) que reuniu

pessoas com deficiências e profissionais da área.

4.4 Resultados

Os resultados da pesquisa foram divididos de acordo com a divisão das amostras

(pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência), para facilitar a análise e discussão

dos dados.

4.4.1 Pessoas com deficiência

Dos sujeitos com deficiência, oito indivíduos não costumam utilizar banheiro

público, cuja principal justificativa é que não saem muito de casa. Outros motivos foram:

a inadequação dos banheiros públicos, utilização de fralda geriátrica, utilização de sonda

vesical, e o medo de contágio por alguma doença infecto-contagiosa.

Daquelas que responderam positivamente ao uso do banheiro público, (fig. 8)

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 26: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

26

43,4% sentam-se diretamente sobre o vaso sanitário; 36,6% evitam sentar diretamente

no vaso, e usam as seguintes estratégias: cobrem a superfície do vaso sanitário com

papel ou sentam-se na beirada do vaso sanitário, outros ficam em pé, com o tronco

semiflexionado; e 20% não se sentam no vaso, devido à utilização de sonda vesical e

realizam o procedimento de esvaziamento na própria cadeira de rodas.

No banheiro doméstico (fig. 9), 64% sentam-se diretamente sobre o vaso e

desses, 23,33% possuem banheiro adaptado. Utilizam cadeira de banho 25% da

amostra e 11% não utiliza o vaso sanitário, devido o uso de fralda geriátrica, “penico”

ou sonda vesical.

Quanto à questão do uso de banheiro unissex (fig. 10), 73,33% responderam

afirmativamente e 26,66% não utilizariam. Dentre os favoráveis ao uso do banheiro

unissex 43,33% eram homens e justificam sua opção por não sentirem nenhum tipo

de constrangimento. Apenas 6,66% dos homens foram contrários por se sentirem

envergonhados em dividir o banheiro com mulheres.

Dentre as mulheres, 20% das pesquisadas responderam que não usariam por

sentirem medo, ou porque acham que ao dividir banheiro com homens este seria

menos limpo. O restante que afirmou utilizar um banheiro unissex só o faria em caso de

extrema necessidade, e se estivesse em perfeitas condições de higiene e segurança.

Page 27: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

27

30,00%20,00%

43,33%

6,66%

sim não

Utilizariam banheiro unissex?

usuários do gênero feminino

usuários do gênero masculino

43%

37%

20%

forma de utilização de banheiros públicos por pessoas

com deficiência

sentam-se diretamente sobre o vaso

evitam sentar diretamente sobre o vaso

não se sentam sobre o vaso

40,67%

11%25,00%

23,33%

sentam-se diretamente sobre o vaso

não utiliza o vaso sanitário

utiliza cadeira de banho

Forma de utilização de banheiros domésticos por pessoas com deficiência

usuários que possuem banheiro adaptado

Fig. 8 - Gráfico da forma de utilização

dos banheiros públicos.

Fig. 9 - Gráfico da forma

de utilização dos banheiros

domésticos.

Fig. 10 - Gráfico da porcentagem

de pessoas que utilizariam e não

utilizariam banheiro unissex.

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 28: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

28

As dificuldades citadas pelos usuários foram:

Cabines

- falta de espaço para movimentar a cadeira de rodas

- falta de adaptação

- dificuldade em aproximar a cadeira do vaso

- falta de padrão na disposição dos boxes e mictórios

- dificuldade de acesso

- porta que abre para dentro

- porta estreita

Piso

- piso liso (escorregadio)

- piso molhado

Vaso sanitário

- buraco (rebaixo) no vaso sanitário de banheiros adaptados

- tampa do vaso que não levanta

- altura do vaso inadequada (ou muito alto, ou muito baixo)

- vaso sanitário molhado

- posição do vaso inadequada

- assento desconfortável

Pia

- não haver pia dentro da cabine

- pia inadequada

Outros

- não haver chuveirinho na cabine

- falta de papel higiênico

Page 29: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

29

- desconforto / posição desconfortável

- depender de outra pessoa

- falta de fiscalização

- descarga difícil de apertar

4.4.2 Pessoas sem deficiência

Quanto à forma de utilização dos banheiros públicos, os indivíduos sem deficiência

afirmaram, em sua totalidade, evitar contato com a louça sanitária, por falta de higiene

e medo do contágio de doenças infecto-contagiosas.

As pessoas evitam esse contato forrando o vaso com papel ou urinando de pé,

no caso das mulheres, sem encostar-se ao vaso sanitário. Em banheiro doméstico, os

entrevistados afirmaram não terem receio de entrar em contato com as louças sanitárias,

por saberem quem as utiliza e ficarem seguros quanto à limpeza do local.

Quanto à questão da utilização do banheiro unissex 34,78% não utilizariam,

contra 65,21% que utilizariam. A maioria dos que não utilizariam é do gênero feminino

e os motivos expressos são medo de agressão, perda de privacidade e questões de

higiene.

As mulheres que responderam afirmativamente em relação ao uso de um

banheiro unissex só o fariam em condições de higiene apropriadas e ambiente seguro.

Os entrevistados do gênero masculino não vêem problemas em dividir o banheiro com

as mulheres. Os que responderam negativamente alegaram que o ambiente seria menos

limpo se o banheiro fosse utilizado tanto por homens como por mulheres.

As dificuldades citadas pelos usuários foram:

Cabines

- falta de espaço

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 30: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

30

- falta de privacidade

- espaço sob as divisórias das cabines

- falta de gancho para pendurar bolsas e sacolas

- fechaduras que travam ou inexistem

Piso

- piso molhado

- piso liso (escorregadio)

- piso espelhado

Pia

- ter de entrar em contato com a torneira

- desperdício de água

- balcão da pia molhado

Vaso sanitário / mictórios

- vaso muito alto ou muito baixo

- má instalação dos mictórios (acumula urina)

- posição desconfortável para utilizar o vaso sanitário

- roupa pode entrar em contato com o vaso (calça)

Outros

- banheiros muito escuros

- vandalismo

- falta de manutenção e fiscalização

- cesto de lixo sem tampa (odor)

- falta de higiene

4.5 Discussões

A partir destes resultados, pode-se constatar, que a maioria dos usuários de

Page 31: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

31

banheiros públicos, evitam o contato com o vaso sanitário, mesmo as pessoas que utilizam

cadeira de rodas. Algumas pessoas com deficiência afirmaram sentar-se diretamente

sobre o vaso porque devido a suas limitações físicas não há maneira de se evitar o

contato direto, mas se tivessem condições evitariam. Quanto às pessoas que utilizam

sonda vesical, a preocupação é em relação à higiene do procedimento de esterilização

que deve ser feito com todo o cuidado para evitar qualquer contaminação.

As diferenças de utilização entre um banheiro público e um banheiro doméstico

torna-se evidente nas respostas que enfatizam a certeza das boas condições do banheiro

doméstico o que faz com que o usuário se sinta seguro em entrar em contato com o

vaso sanitário, e nenhuma das pessoas entrevistadas afirmou sentir medo de contrair

alguma doença no banheiro de sua casa.

A divisão dos banheiros por gênero vai além de uma questão cultural, passando

a ser uma questão de segurança para as mulheres.

As dificuldades citadas pelos dois grupos demonstram que os banheiros públicos

não satisfazem a grande maioria dos usuários, os quais encontram problemas para

utilizá-los, como por exemplo: cabines muito pequenas, falta de privacidade devido

ao reflexo causado pelo piso espelhado que pode ser visualizado pelo espaço entre a

divisória da cabine e o chão, portas estreitas, ou com abertura para dentro da cabine,

falta de um padrão de localização e distribuição das cabines, o que confunde o deficiente

visual.

Pode-se notar que às vezes mesmo as adaptações não favorecem a alguns

usuários, como é o caso do rebaixo existente na bacia sanitária que permite a entrada

e o movimento da mão para realizar a higiene da pessoa com deficiência e manuseio da

sonda. Para os usuários que não utilizam sonda, esse rebaixo do vaso pode atrapalhar,

porque muitos não têm controle sobre o jato de urina e podem acabar se sujando.

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 32: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

32

A altura do vaso em banheiros adaptados é maior do que em banheiros comuns,

para se adequar à cadeira de rodas que normalmente é mais alta. Por outro lado, para

pessoas de menor estatura as cadeiras de rodas são mais baixas, e o vaso sanitário

mais alto dificulta seu uso.

A posição do vaso sanitário dentro da cabine também é discutível, devido à

necessidade do usuário de cadeira de rodas manobrar a cadeira para realizar a

transferência para o vaso.

A maioria das mulheres não senta sobre o vaso sanitário e fica de pé em posição

semiflexionada, o que causa desconforto e acidentes.

A pia dentro da cabine em altura adequada e com vão livre para encaixe da

cadeira de rodas seria o ideal para pessoas ostomizadas que precisam fazer a higiene

da bolsa de colostomia. Torneiras que precisam ser manipuladas deixam o usuário

inseguro em relação ao contágio de doenças infecciosas.

A válvula de descarga que exige força para ser acionada impede que pessoas

com problemas de coordenação motora ou fraqueza muscular a utilizem.

De modo geral, pode-se considerar que o vandalismo é um grande problema

em banheiros públicos que são danificados e tornam-se inutilizáveis. A manutenção e

fiscalização regulares poderiam amenizar este problema. Já a falta de higiene é muitas

vezes causada pelos próprios usuários que fazem uso indevido dos banheiros sem

respeito pelos próximos que precisarão utilizá-los. A manutenção diária também seria

um meio de resolver parte desse problema.

4.6 Considerações finais da abordagem de campo

Com os dados obtidos pode-se verificar que independente de idade, gênero e das

condições de deficiência, as pessoas evitam entrar em contato com as louças sanitárias

Page 33: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

33

de um banheiro público.

Em relação ao banheiro domiciliar as pessoas utilizam normalmente, sem medo

de contrair doenças ou infecções. O banheiro público é utilizado de forma diferente do

doméstico, no entanto as louças sanitárias são iguais.

Esse ambiente recebe pessoas tão diferentes umas das outras e o melhor seria

se esse banheiro acomodasse a todas elas de forma adequada, segura e higiênica.

Este estudo demonstrou que cada usuário tem uma necessidade diferente, porém o

banheiro público não pode atender a todas essas necessidades, pois não foi planejado

para isso. Com isso nota-se a relevância de se projetar um ambiente para receber a

todos os usuários, eliminando barreiras e possíveis problemas em relação à estrutura do

banheiro, que ainda é a mesma de séculos atrás.

ABORDAGEM DE CAMPO04

Page 34: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

34

APARELHOS SANITÁRIOS05 O conjunto de peças sanitárias que compõe o banheiro público é formado

basicamente por vaso sanitário, lavatório e em banheiros masculinos há ainda o

mictório. Os vasos sanitários ficam em cabines individuais, enquanto os lavatórios

formam um conjunto em uma bancada. Os mictórios ficam fora das cabines, podendo

ser separados por divisórias.

Essas peças fazem parte do sistema hidráulico de qualquer imóvel, residencial

ou não. Devem estar em harmonia com o sistema de esgoto para que funcione

perfeitamente. Para isto existem normas de padronização do sistema de esgoto e das

peças sanitárias. Todas as dimensões dos aparelhos sanitários de material cerâmico e

de suas entradas e saídas de esgoto são padronizadas de acordo com a Norma Brasileira

NBR 15099, e os requisitos e métodos de ensaio são definidos pela NBR 15097. Através

desses ensaios de controle de qualidade é possível avaliar o desempenho e durabilidade

das peças.

Para a criação de novos aparelhos sanitários, é preciso entender como funcionam

e a sua ligação com o sistema de esgoto.

5.1 Vaso sanitário

Essa é a peça mais complexa de um banheiro, pois sua tecnologia hidráulica

envolve três sistemas que trabalham juntos em um único aparelho: sistema de

sifonagem, de descarga e de reenchimento.

O sistema de sifonagem é formado por um cano com duas curvas, uma para cima

e outra para baixo no próprio vaso sanitário, ligado à bacia, chamado de sifão. O nível

de água da bacia sanitária é constante devido a essas curvas. Quando a quantidade de

água aumenta, o excesso ultrapassa essas curvas caindo na tubulação de esgoto. Essa

água que fica na bacia e sifão é chamada “selo hídrico”, pois sela a tubulação evitando

Page 35: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

35

Fig. 11 - partes do vaso sanitário e da caixa de descarga.

Fig. 12 - vaso com sistema de remoção de resíduos sifonado (à

esquerda) e por sistema de arraste (à direita).

APARELHOS SANITÁRIOS05que gases mal cheirosos subam do esgoto ao banheiro (fig. 11).

Page 36: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

36

Além do sistema de sifonagem existem outros para a remoção de resíduos como

o sistema de arraste (fig. 12) e o sistema a vácuo. Enquanto o sistema de sifonagem

leva o esgoto para baixo por meio de sucção, o sistema de arraste tem a saída na

horizontal, permitindo que o vaso seja instalado na parede, suspenso ou não, e a

remoção dos resíduos é feita pela força da água. A tubulação desse tipo de vaso pode

ser instalada em paredes “dry wall” (chapas de gesso, aparafusadas em estruturas

metálicas) acima do nível do piso. Os vasos sanitários com remoção de resíduos por

arraste são utilizados com sistemas de descarga racionais, que economizam água. O

sistema à vácuo, encontrado em aviões e trens, está sendo recentemente utilizado para

instalações residenciais. O funcionamento é da seguinte maneira: quando é acionada a

descarga, uma válvula é aberta no cano coletor e o sistema a vácuo suga o conteúdo

do vaso para dentro de um tanque. Esse dispositivo de sucção é eficaz e requer pouca

água para limpar o vaso, entre 2 a 0,8 litros por descarga.

O sistema de descarga é responsável por liberar grande volume de água

rapidamente para a limpeza da bacia e eliminação dos resíduos. Para isso existe a caixa

de descarga.

“Ela [a caixa de descarga] segura vários litros de água, que levam de 30 a 60 segundos para se acumular. Quando você dá a descarga, toda a água da caixa é despejada no vaso em três segundos, o equivalente a jogar um balde de água.” (BRAIN, 2000, HowStuffWorks - Como funcionam os vasos sanitários”.)

Ao acionar o botão da descarga é ativado um sistema de alavancas que puxa uma

tampa no fundo da caixa d’água do vaso sanitário (caixa de descarga), abrindo o orifício

de um dreno de aproximadamente 5 a 8 cm de diâmetro. Ao destampar esse dreno a

água escorre em direção ao vaso rapidamente (fig. 13 - 2).

A bacia com válvula de descarga não possui uma caixa acoplada que acumula

a água especificamente para a descarga, a água utilizada vem direto da caixa d’água

da residência ou local onde está instalada, e seu tempo de uso e consumo de água é

determinado pelo período que o usuário aciona a válvula.

Page 37: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

37

APARELHOS SANITÁRIOS05 A água liberada pela descarga percorre um cano na borda do vaso sanitário que é

construído na própria cerâmica da bacia sanitária e é repleto de furos, para que a água

seja despejada igualmente, limpando as paredes internas do vaso sanitário (fig. 13 -

2).

Com a força da descarga é criado um redemoinho no interior da bacia, levando

os 6,8 litros de água e os resíduos para o cano do sifão. Isso tudo acontece em apenas

três segundos, o que ativa o efeito sifão, fazendo com que toda água e dejetos que

haviam no vaso sejam sugados para o encanamento de esgoto (fig. 13 - 2). À medida

que o sifão esvazia, o ar entra (fig. 13 - 3) causando o rompimento do selo hídrico e

interrompendo o efeito de sucção (fig. 13 - 4), o que produz o ruído característico da

descarga.

Terminado esse processo inicia-se o reenchimento. Após ser esvaziada a caixa

de descarga, o tampão que abriu o dreno é reposicionado no fundo da caixa tampando

novamente a abertura (fig. 13 - 3), para que o tanque possa ser reenchido.

O mecanismo de reenchimento possui uma válvula que controla o fluxo de água, ligando

e desligando. Há uma bóia dentro da caixa d’água do vaso sanitário que regula o nível

de água dentro dela. A válvula aciona a água quando o nível de água da caixa diminui

e a bóia cai (fig. 13 - 2). Essa válvula envia a água para dois lugares: para reencher

a caixa e para reencher o vaso. À medida que o nível de água na caixa sobe a bóia

também sobe até atingir determinada altura que desliga a válvula (fig. 13 - 1).

Page 38: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

38

1

2

3

4

Fig. 13 - Ciclo de funcionamento do vaso sanitário e da descarga

Page 39: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

39

5.2 Lavatório

O lavatório, ou pia, dos banheiros é uma bacia para recolher a água da torneira

para que não molhe todo o banheiro. Assim como o vaso, mas de uma maneira mais

simples, possui saída para o esgoto e um sifão. Esse sifão também forma um selo

hídrico, mas não fica visível. O selo hídrico fica em um reservatório no cano abaixo da

pia (fig. 14).

A torneira é a válvula que regula a entrada e o fluxo de água no lavatório. É ligada

ao encanamento de água do local onde é instalada, por onde se efetua a alimentação.

É acionada através de um manípulo que regula um mecanismo de obturação no

interior da torneira. Esse dispositivo é um eixo roscado que permite o afastamento ou

aproximação de um disco de borracha ou cerâmica, chamado de arruela de vedação,

que faz com que a saída de água se abra ou feche (fig. 15).

Existem vários tipos de acionamento de torneiras. Desde acionamentos manuais,

como manípulos de rosca e de alavanca à acionamentos por toque, que possuem uma

mola que determina um tempo para a vazão da água, e acionamento por sensores

de presença, que são acionados somente sob a presença das mãos do usuário sob o

sensor infravermelho.

A saída de água para o esgoto é feita através de um ralo na bacia do lavatório.

Esse ralo é a extremidade de um encanamento que é ligado à saída de esgoto.

Nesse encanamento há um sifão do tipo copo. A diferença desse sifão para o do vaso

sanitário é seu formato. Ele possui um reservatório que permite acesso para limpeza e

desobstrução, e o selo hídrico fica dentro desse compartimento.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 40: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

40

Fig. 14 - Exemplo de pia com sifão aparente.

Fig. 15 - Componenetes básicos de uma

torneira com acionamento manual.

Page 41: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

41

Fig. 16 - Mictórios de um banheiro

público.

5.3 Mictório

O mictório é um aparelho sanitário exclusivo para urinar. Seu desenho é

desenvolvido para que o usuário o utilize na posição em pé. Assim como o vaso sanitário,

ele possui descarga e sifão, mas em alguns modelos o início da saída de esgoto é

um ralo como o de um lavatório. Pode ser feito em aço inoxidável, mais comum nos

modelos para vários usuários, ou louça, em modelos individuais (fig. 16).

No Brasil os mictórios são encontrados apenas em banheiros masculinos, mas

em alguns países da Europa e nos Estados Unidos existem modelos desenvolvidos

especialmente para mulheres (fig. 17), mas não tiveram grande aceitação.

Apesar da praticidade do mictório, ele pode acumular urina se não for bem

projetado ou instalado, causando mau cheiro no banheiro. Em alguns banheiros

públicos são colocadas pastilhas que exalam odor agradável para tentar disfarçar o

mau cheiro.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 42: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

42

Fig. 17 - Modelos de mictório feminino.

Page 43: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

43

5.4 Processo produtivo da louça sanitária

O termo “cerâmica” vem do grego “keramos” e significa “terra queimada”. Esse

termo é utilizado para designar materiais inorgânicos, obtidos a partir de compostos não

metálicos e que são solidificados com tratamento térmico a temperaturas elevadas.

A argila, principal componente da cerâmica, é um material natural constituinte do

solo, terroso e fino, que ao ser misturado com água adquire plasticidade, permitindo que

se molde a argila de acordo com o produto a ser criado. Para se criar a pasta cerâmica é

preciso acrescentar, além da argila, quartzo, feldspato, caulim, talco, dolomita, carbonato

de cálcio e bentonita, que também são matérias-primas naturais utilizadas como foram

extraídas da natureza, apenas passando por um processo de limpeza para a retirada de

impurezas, mas sem alterações em sua composição química e mineralógica.

“Quimicamente, a argila é constituída por argilominerais, que são aluminossilicatos. (...) Quando aquecida a altas temperaturas, processo denominado de “cozimento”, os argilominerais presentes, por exemplo, a caulinita, sofrem uma mudança de fase e ocorre perda de água. Este é um processo irreversível que dá origem ao material cerâmico, que pode ser bastante resistente, dependendo de sua composição. Dessa forma são fabricadas as telhas, os tijolos e as louças.” (ARAUJO, 2006 - A produção de cerâmica é uma atividade química?)

O setor cerâmico é muito amplo e diversificado, o que faz com que apresente

vários segmentos em função de fatores como matérias-primas, propriedades e áreas

de utilização que são: cerâmica vermelha, cerâmica branca, materiais de revestimento,

materiais refratários, isolantes térmicos, fritas e corantes, abrasivos, vidro, cimento e

cal e cerâmica de alta tecnologia.

Segundo André Zechmeister, gerente de marketing da Roca, a louça sanitária

é produzida em cerâmica “base branca”, devido à absorção de água ser quase nula,

quando produzida com matéria prima de qualidade e queimada na temperatura ideal

(aprox. 1200 graus), por um período de aproximadamente 13 horas. Isso torna a louça

muito mais higiênica e resistente a quebras. Porém a louça não é necessariamente

branca na sua aparência, Já que é possível colori-la com pigmentos de variadas cores.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 44: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

44

Para a fabricação de louça sanitária, assim como para os demais segmentos

cerâmicos, existem quatro etapas principais dentro do processo produtivo, que são:

• Preparação da matéria-prima e da massa

• Formação das peças

• Tratamento térmico

• Acabamento

Para a criação de louças sanitárias é necessário entender as características e o

funcionamento do processo de produção desses produtos. Portanto, para se conhecer

os detalhes de cada etapa desse processo foi realizada uma visita técnica à fábrica de

louças sanitárias da Roca, que detém as marcas Roca, Incepa, Celite e Logasa, sendo a

principal produtora de louças sanitárias no Brasil e no mundo. A descrição do processo

produtivo foi baseada também no Guia técnico ambiental da indústria de cerâmicas

branca e de revestimentos da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)

.

5.4.1 Preparação da matéria-prima

As matérias-primas utilizadas na indústria cerâmica são naturais e obtidas por

mineração. A homogeinização dessas matérias-primas, que é a primeira etapa da

redução de partículas, é realizada na própria mineração. Após essa fase, a matéria-

prima já armazenada na fábrica (fig. 18), ainda precisa ser moída, classificada de

acordo com a granulometria e purificada.

5.4.2 Preparação da massa

As pastas cerâmicas são constituidas de duas ou mais matérias-primas, aditivos

e água. Por isso, a dosagem das matérias-primas e aditivos deve seguir rigorosamente

a formulação de massas previamente estabelecida, fazendo com que a massa tenha

as proporções controladas de cada material e seja bem misturada e homogeneizada,

para que a uniformidade física e química seja ideal. Após 20 horas de moagem das

matérias-primas, aditivos e água, obtém-se a barbotina, ou suspensão, que é uma

Page 45: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

45

mistura liquida de argila e outros materiais para produção de peças em moldes de gesso

ou resinas porosas (fig. 19).

5.4.3 Formação das peças

O processo para a formação de peças de louças sanitárias chama-se colagem ou

fundição em molde e pode ser de baixa ou alta pressão. Na fundição por baixa pressão

a barbotina é despejada num molde de gesso, onde permanece durante uma hora e

meia, para que a água contida na suspensão seja absorvida pelo gesso e as particulas

sólidas se acomodem em sua superficie para formar a parede da peça (figs. 20 e 21).

Assim, o produto formado terá a configuração externa reproduzindo a forma interna do

molde, resultando na peça crua. Para a fabricação de certas peças o molde é composto

de aproximadamente 8 partes, no caso do vaso sanitário são feitos separadamente cada

componente (sifão, bacia e chapéu) e depois são colados para formarem uma peça.

Feita a fundição, é aplicada uma injeção de ar comprimido nos moldes para que seja

eliminado o excesso de água em seu interior, permitindo que possam ser reutilizados (o

molde de gesso permite 80 reutilizações). O material utilizado no molde da fundição por

alta pressão é a resina. Quando a massa é injetada em alta pressão faz a separação da

água, facilitando a secagem (em média, um molde pode ser utilizado até 25000 vezes)

(fig. 22). Após a retirada das peças da forma, elas passam por um acabamento que

retira as rebarbas e torneia as peças para que elas fiquem com um formato regular (fig.

23).

5.4.4 Secagem

As peças ainda cruas possuem uma grande quantidade de água, que deve ser

retirada de forma lenta e gradual para que não ocorram defeitos nas peças como

trincas, bolhas, empenos entre outros. Essas cerâmicas são então encaminhadas para

queimadores a gás natural (estufas) a uma temperatura de 170°C por seis horas, até

que seu teor de umidade residual fique suficientemente baixo, perdendo 95% dessa

umidade.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 46: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

46

fig. 18 - Armazenamento da

matéria prima (argilas e caulins)

fig. 19 - Vista lateral das

instalações de moinhos, onde é

obtida a barbotina.

fig. 20 - Fundição em moldes de

gesso.

Page 47: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

47

fig. 21 - Esquema explicativo da

formação de peças através da

fundição de baixa pressão.

fig. 22 - Fundição em molde de resina.

fig. 23 - Acabamento e verificação das

peças ainda cruas.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 48: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

48

5.4.5 Esmaltação

Após esse período de secagem as peças são submetidas a esmaltação, e recebem

três camadas de esmalte com um revólver de ar comprimido. Este processo causa a

melhora de alguns aspectos físicos como aumento da resistência mecânica, além de

contribuir nos aspectos estético e higiênico.

Existe uma grande variação na composição dos esmaltes e sua formulação

depende das características do corpo cerâmico, da temperatura de queima e das

características finais do esmalte. Os esmaltes, ou vidrados, podem ser do tipo cru, de

fritas, ou mistura de ambos. Para as louças sanitárias é utilizado o esmalte cru, que

é indicado para peças com queima superior a 1200°C. Esse vidrado é uma mistura

de matérias-primas com granulometria fina e é aplicado na forma de suspensão na

superficie da cerâmica. Durante o processo da queima esse esmalte se funde, aderindo

ao corpo da peça, que adquire um aspecto vítreo durante o resfriamento.

5.4.6 Tratamento térmico

Também conhecida como sinterização, a queima dá ao produto as suas

propridades finais como brilho, cor, porosidade, estabilidade dimensional, resistência à

flexão, à altas temperaturas, ao gretamento, à água, ao ataque de agentes químicos,

e outros. As peças são submetidas a tratamento térmico em fornos do tipo túnel de

aproximadamente oitenta metros, a temperaturas entre 1200°C a 1400°C durante

doze horas.

5.4.7 Acabamento

É o processo de pós-queima que pode incluir polimento, corte, furação, entre

outros.

5.4.8 Classificação e embalagem

Os produtos são rigorosamente testados pelo controle de qualidade para a

Page 49: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

49

verificação de sua regularidade dimensional, aspecto superficial e características

mecânicas e químicas. A análise dos aspectos dimensionais da peça é feita por meio de

sistemas automáticos. Já a análise dos aspectos superficiais e mecanicos é realizada

visualmente por um técnico, que separa as peças em boas condições das que possuem

algum defeito como trincas, empenemento, diferenças de cor, entre outros. Além disso,

são realizados testes funcionais com volume normal de água para verificar se o produto

atende às normas definidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e

aos padrões exigidos pelo mercado internacional. As peças em boas condições são

encaminhadas para um sistema automatizado de embalagem, enquanto as outras são

codificadas e organizadas numa linha pelos embaladores, e são reaproveitadas no processo

produtivo. Elas passam por um processo moderno de quebra e moagem e retornam à

massa (barbotina), matéria-prima das louças. Esse é o projeto chamado “Resíduo Zero”

instalado na fábrica da Roca em Jundiaí - SP. Após passarem pelo controle de qualidade

as peças são armazenadas em pallets de madeira para serem comercializadas.

O tempo total de fabricação de uma peça de louça sanitária, entre a preparação

da matéria prima, até o controle de qualidade é de aproximadamente 4 dias.

Uma peça de louça sanitária pode suportar até 500 kg de compressão e uma

carga de 2,2 kN, desde que esteja em perfeitas condições, sem qualquer trinco ou

rachadura.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 50: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

50

fig. 24 - Processo de esmaltação

com revólver de ar comprimido.

fig. 25 - Peças no forno para

sinterização.

fig. 26 - Processo de classificação

das peças.

Page 51: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

51

5.5 Outros materiais

Apesar das peças fabricadas em louça serem as mais utilizadas também podem

ser fabricadas em outros materiais, como plásticos e aço inoxidável.

As peças sanitárias fabricadas em plásticos mais encontradas são os chamados

“banheiros químicos”. Comumente utilizados em eventos ao ar livre que reúnem muitas

pessoas, esses banheiros são cabines portáteis desmontáveis de 1,2 metros de largura

e comprimento e 2,3 metros de altura, feitas em polietileno, um material reciclável e

higiênico. Dentro de cada cabine há uma caixa sanitária que pode armazenar cerca

de 220 litros de detritos. Dentro da caixa de detritos há uma solução desodorizante,

que evita a proliferação de bactérias. Na cabine há um tubo de ventilação, que liga o

interior da cabine e da caixa de detritos com o meio externo, oxigenando o ar da caixa,

e também evita a proliferação de bactérias que se reproduzem na falta de oxigênio e

causam mau cheiro (fig. 27).

Para a limpeza dessas cabines um caminhão com uma bomba de sucção aspira

todo o conteúdo e o despeja em uma estação de tratamento de esgoto (fig 28). Então,

as cabines são lavadas com água e sabão e podem ser reutilizadas.

Outro tipo de banheiro que pode ser feito em plástico é o banheiro seco ou “dry

toilet”. Esse banheiro que também pode ser feito em alvenaria e ter seus componentes

em louça, tem o diferencial de não utilizar água para limpeza do vaso e descarte

dos dejetos, sendo uma alternativa ecológica aos banheiros comuns. Os detritos são

armazenados em uma caixa por seis meses e são transformados em adubo num sistema

chamado compostagem (fig. 29). Há diversos modelos de banheiro compostável, e

cada um apresenta um funcionamento diferente, porém todos transformam os detritos

humanos em composto orgânico seguro, sem formação de odores e sem contaminar o

solo e a água.

As peças sanitárias feitas em aço inoxidável dificilmente são encontradas no

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 52: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

52

fig. 27 - Interior (esquerda) e exterior (direita) de um banheiro

químico.

fig. 29 - À esquerda, vaso sanitário plástico compostável

à direita, esquema de um banheiro seco feito em alvenaria.

fig. 28 - Caminhão para

transporte e limpeza dos

banheiros químicos.

Page 53: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

53

Brasil sendo mais comuns em banheiros de presídios e banheiros públicos dos Estados

Unidos e Europa. Mais resistentes do que outros materiais como o plástico e a louça,

essa foi a alternativa utilizada nos banheiros automáticos. Esses banheiros são cabines

que ficam nas ruas e efetuando-se o pagamento pode-se utilizá-los por cerca de quinze

minutos (em alguns lugares esse serviço é gratuito). Após esse tempo a porta se abre

para que o usuário deixe a cabine, e tranca-se novamente por alguns minutos para que

seja realizada a limpeza automática. O usuário não encosta-se a nenhum botão, pois a

cabine é equipada com diversos sensores, desde um sensor de peso, para identificar se

há alguém o utilizando a sensores para acionar a válvula de descarga e liberar sabão e

água. Quando o usuário deixa o banheiro, a porta se fecha e inicia a limpeza automática

com vapor e desinfetante. Essa limpeza dura cerca de cinco minutos, e quando finalizada

a porta é liberada para o banheiro ser utilizado novamente.

fig. 30 - Banheiro

automático na Madison

Square Park, em Nova

York, Estados Unidos.

fig. 31 - Banheiro automático em Seattle,

Estados Unidos.

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 54: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

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5.6 Mercado nacional de louças sanitárias

A capacidade nacional de produção de louças sanitárias é de 19.000.000 de

peças grandes ao ano, alcançando um faturamento de US$ 186 milhões em 2003.

Essa capacidade é gerada por 19 indústrias divididas entre 12 empresas de louças

sanitárias. Além do mercado nacional, são produzidas também louças para exportação,

principalmente para América do Sul e Central e Estados Unidos, aproximadamente

2.500.000 peças/ano, o que gerou, também no ano de 2003, um faturamento de US$

30 milhões.

O mercado de louças sanitárias pode ser dividido basicamente em três segmentos:

popular (fig. 32), médio (fig. 33) e luxo (fig.34). Dentre as peças fabricadas em cerâmica

o segmento popular é o mais produzido no Brasil, seguido por médio e luxo. As louças

mais utilizadas em banheiros públicos são dos segmentos popular, médio e especial

para pessoas com deficiência. Atualmente há uma grande preocupação com o consumo

de água exagerado das bacias sanitárias. A maioria dos modelos foi modificada para se

adequar à ABNT que determina que as bacias sanitárias devam consumir até 6,8 litros

de água, contra os aproximadamente 15 litros que eram consumidos.

Os segmentos popular e médio são formados pelas louças mais simples tanto

no design quanto no funcionamento e são as mais acessíveis financeiramente. As

peças especiais para pessoas com deficiência (fig. 35) são feitas especialmente para

aquelas que utilizam cadeiras de rodas, portanto os vasos sanitários são mais altos

que os convencionais e possuem uma abertura frontal para facilitar a movimentação.

O lavatório pode ser instalado em altura adequada e possui um vão livre para permitir

a aproximação da cadeira de rodas.

Segundo a Associação Brasileira de Cerâmica (ABCeram), o setor cerâmico

brasileiro apresenta um déficit referente a dados estatísticos do setor e indicadores de

desempenho, que são fatores indispensáveis para se analisar o seu desenvolvimento

e melhorar a competitividade, dificultando a obtenção de um panorama mais amplo

desse importante setor industrial.

Page 55: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

55

fig. 32 - Louças do segmento

popular da marca Logasa,

modelo Parati.

fig. 33 - Louças do segmento

médio da marca Incepa, modelo

Stylus Excellence.

fig. 34 - Louças do segmento

luxo da marca Roca, modelo

Frontalis.

fig. 35 - Louças especiais para

pessoas com deficiência da

marca Celite, modelo Stylus

Excellence

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 56: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

56

5.7 Projetos conceituais

As louças sanitárias do mercado nacional são em sua maioria do segmento

popular e médio, que são compostas dos produtos com design mais acessível. Os

modelos do segmento luxo possuem design mais atraente e seu funcionamento mais

eficiente, mas pouco se diferenciam dos outros segmentos.

Além das louças existentes no mercado e comercializados no Brasil e no

mundo, existem produtos, que ainda são projetos, mas pretendem mudar o conceito

de banheiro. Utilizando alta tecnologia ou apenas um design bem elaborado esses

produtos se diferenciam dos convencionais por apresentarem diferentes formas de uso

e funções.

O designer Nelson Ayala, com a colaboração de Ana Maria Gordillo desenvolveu o

projeto de um vaso sanitário que pode ser utilizado de forma diferente da convencional.

O usuário fica numa posição como se estivesse sobre uma moto, apoiando os joelhos

na peça, sem precisar encostar sobre o assento. Para tornar seu uso mais confortável,

o local onde se apóia os joelhos é almofadado. Esse vaso pode ser utilizado também da

maneira convencional, sentando-se sobre ele (fig. 36).

Uma peça que une vaso sanitário e mictório e ainda é auto-limpante é o conceito

desenvolvido por Sang Eun Young. De um lado é um mictório, mas ao ser acionado um

fig. 36 - Projeto de louça sanitária desenvolvido

por Nelson Ayala e Ana maria Gordillo.

Page 57: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

57

botão a peça gira e se desdobra tornado-se um vaso sanitário. Além disso, possui um

sistema de luz ultravioleta e vapor quente que esteriliza o vaso.

O Universal Toilet é um banheiro desenvolvido com design universal por Changduk

Kim e Youngki Hong. Essa peça pode ser utilizada por qualquer pessoa, e facilita o uso

por pessoas com deficiência que utilizem cadeiras de rodas, através das barras de apoio

na base da pia que servem para a pessoa realizar a transferência da cadeira de rodas e

sentar-se de frente para a pia.

fig. 37 - Projeto de louça sanitária

desenvolvido por San Eun Young.

fig. 38 - Projeto de louça sanitária

desenvolvido por Changduk Kim e

Youngki Hong

APARELHOS SANITÁRIOS05

Page 58: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

58

fig. 39 - Projeto de louça sanitária

desenvolvido por Chen-Karlsson.

Desenvolvido por Chen Hung Min e Johan Karlsson do escritório de design

Chen-Karlsson, o Peeandgo é um mictório feminino que teve seu design inspirado nos

banheiros turcos, em que a pessoa fica na posição de cócoras para utilizá-lo. Feito para

quebrar os paradigmas culturais, seu interior foi pintado de dourado para dar maior

status à peça.

Page 59: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

59

Após pesquisas bibliográficas e a abordagem de campo, pôde-se constatar e

analisar os problemas que todas as pessoas enfrentam no uso de banheiros públicos, tais

como: falta de espaço nas cabines, altura do vaso sanitário e pia inadequada, desconforto

do usuário e falta de privacidade. O passo seguinte foi a geração de alternativas para

peças sanitárias, criando solução ou amenização dos problemas apontados. Com a

criação de um novo conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior número de

usuários possível, o desconforto do uso de um banheiro público é menor, facilitando o

acesso e uso por todos que freqüentam esse ambiente.

Durante o processo de criação do conjunto de peças sanitárias várias alternativas

foram desenvolvidas e aprimoradas para alcançar o modelo idealizado. A criação do

produto teve como base os dados obtidos na pesquisa de abordagem de campo e

fundamentado nos princípios do design universal. As peças foram criadas separadamente

de acordo com o princípio da flexibilidade de uso, em que cada usuário pode escolher a

forma mais conveniente na utilização do produto, sem causar interferência ou afetar a

maneira que outra pessoa possa utilizar.

Além da utilização dos principios do design universal na criação do produto, que

propicia atender pessoas com deficiencia e sem deficiencia, pessoas com mobilidade

reduzida, idosos e crianças, optou-se também por utilizar baixa tecnologia para que

o produto fosse simples de se utilizar e de baixo custo, sendo acessível a todas as

camadas sociais.

O material escolhido para a fabricação das peças sanitárias foi a louça feita de

cerâmica branca, por ter mínima absorção de água, sendo um material muito higiênico,

ideal para banheiros.

Para melhor compreensão do desenvolvimento do produto, a seguir será

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06

Page 60: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

60

apresentado como foi criado cada componente do conjunto de louças até o produto

final, feitos através de sketches e estudos 3D com maquete feita em papel.

6.1 Lavatório (fig. 40 e 41):

Os problemas apontados pelos usuários em relação aos lavatórios foram a falta

deles dentro da cabine e sua altura inadequada. Em relação à falta de pia dentro das

cabines foi planejado um conjunto que se interligasse através do encanamento. Assim,

a água que sai da pia é reutilizada na caixa de descarga, fazendo com que a pia fique

próxima ao vaso, sendo também uma solução ecológica. Esse sistema funcionará da

seguinte maneira: a água escoada pelo ralo da pia seguirá para um cano que é ligado à

caixa de descarga. Caso a caixa já esteja cheia, a sua entrada ficará tampada e a água

escoará para a saída de esgoto ao lado dessa caixa.

Quanto a altura dos lavatórios, o problema é mais complexo, pois cada usuário

possui uma altura diferente, e alterar a posição do lavatório envolveria sua estrutura

hidráulica. A primeira alternativa era fazer uma pia com duas cubas, uma mais alta e

outra mais baixa, e conseqüentemente a água desceria da primeira pia para a segunda,

e não seria higiênico.

A outra alternativa era uma pia que pudesse ter sua altura alterada de acordo

com a altura do usuário. Desse modo o lavatório foi projetado de forma que o usuário

adequasse a pia a sua altura. Para que isso fosse possível foi desenhada uma cuba

no formato cônico, como um funil, e sua base fixa com pinos que possibilitam sua

movimentação para frente, fazendo com que sua borda superior fique em uma altura

que se adéqüe a quem for utilizá-la. Há também um cano maleável que liga o ralo da

pia ao sifão. O suporte da pia, além de permitir sua movimentação também esconde

o encanamento do sifão e da torneira por motivos estéticos e preventivos quanto a

possíveis atos de vandalismo.

A torneira fica fixa na lateral do lavatório, com possibilidade de ser alcançada por

todas as pessoas que a utilizem, podendo ser de modelo com sensor de presença ou de

acionamento manual.

Page 61: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

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fig. 40 - Estudos bidimensionais para

o desenvolvimento do lavatório.

fig. 41 - Estudos tridimensionais para

o desenvolvimento do lavatório.

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06

Page 62: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

62

6.2 Vaso sanitário (fig. 42 e 43):

Para resolver os problemas quanto a altura do vaso foi criada a alternativa de se

instalar um motor com um fuso para elevar e abaixar sua altura. Foram estudados vários

métodos para realizar essa elevação, como os sistemas hidráulicos e pneumáticos,

que foram descartados devido ao seu custo elevado e complexidade de instalação e

manutenção. O sistema escolhido foi o elétrico que é uma tecnologia mais barata e

limpa, além de ser de fácil manutenção. Além disso, há um cano maleável que liga

o vaso sanitário à saída de esgoto, para que o vaso possa ser movimentado sem

comprometer seu funcionamento. Dessa forma o vaso atinge três alturas: 34,5 cm é

sua altura convencional, se for pressionado o botão para elevá-lo, o vaso sobe para 45

cm de altura e se pressionado o botão para descer, atinge 29 cm de altura.

Para ser instalado esse sistema de elevação o modelo do vaso sanitário deveria

ser do tipo suspenso, o que resolveria outro problema: a dificuldade de se aproximar

a cadeira de rodas ao vaso sanitário. Este problema ocorre, porque a frente da cadeira

encosta-se na base do vaso, impedindo o usuário de se aproximar o suficiente para

realizar a transferência frontal da cadeira para o vaso sanitário.

Quanto à forma do vaso sanitário, a modificação foi realizada levando em conta

as reclamações das mulheres sobre a posição desconfortável que a usuária tem de

ficar (não podendo encostar-se no vaso), e de algumas pessoas com deficiência que

reclamaram do buraco frontal no vaso sanitário especifico para pessoas com deficiência.

A solução para esses problemas foi afinar a parte frontal do vaso, formando um “V”,

para que as mulheres pudessem urinar de pé, sem encostar-se no vaso e para que as

pessoas com deficiência tenham um espaço entre os membros inferiores para realizar

sua higienização. Ainda assim, é possível utilizar na posição sentado, sem receio de se

sujar ou de contaminações, pois as pessoas que o utilizarem na posição de pé não vão

mais sujar a borda, fazendo assim com que cada usuário faça uso do vaso da maneira

que lhe for mais confortável, sem afetar a maneira do próximo a utilizar, atingindo

o objetivo inicial do projeto. Além disso o vaso sanitário possui barras nas laterais,

próximas a borda, para que as pessoas que utilizam cadeira de rodas possam realizar

Page 63: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

63

a transferência ao vaso sem precisar se apoiar na borda do vaso.

Anteriormente, havia sido estudada uma maneira de o vaso sanitário mudar seu

ângulo para que pudesse ser utilizado também como mictório, porém essa hipótese foi

descartada, pois ao inclinar o vaso sanitário haveria o deslocamento da água em seu

interior, desfazendo o selo hídrico, o que permitiria que gases malcheirosos do esgoto

invadissem o banheiro.

O método de descarga é por caixa acoplada, que é fixa ao vaso sanitário.

Logo abaixo da caixa de descarga fica o motor de elevação do vaso sanitário oculto

sob uma cobertura que protege tanto o motor quanto a caixa de descarga de serem

vandalizados.

A remoção de resíduos do vaso sanitário é feita pelo sistema de arraste, porque

dessa forma é possível a utilização de descarga econômica sem alterar o desempenho.

Além disso, esse sistema fica oculto, com a possibilidade de se criar uma bacia sanitária

com um design mais clean, de menor complexidade, sem preocupações de como integrar

o sifão ao desenho da peça. A manutenção desse tipo de vaso sanitário também é mais

simples, por não possuir reentrâncias, é mais fácil de realizar a sua higienização.

fig. 42 - Estudos tridimensionais

para o desenvolvimento do vaso

sanitário.

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06

Page 64: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

64

fig. 43 - Estudos bidimensionais para o

desenvolvimento do vaso sanitário.

Page 65: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

65

6.3 Bancada e banqueta (fig. 44 e 45)

Essas duas peças foram incorporadas ao conjunto porque os usuários que utilizam

sonda vesical afirmaram não ter um local adequado para deixarem os produtos que

utilizam para limpeza, e as pessoas ostomizadas sentem dificuldade em abaixar para

esvaziar a bolsa de colostomia no vaso sanitário.

Então foi criada uma bancada, que a principio seria uma terceira peça, mas com

o desenvolvimento do projeto foi feita a partir de uma extensão da tampa da caixa de

descarga, economizando espaço e material. Com essa bancada há maior espaço dentro

do banheiro, para que pessoas com cadeira de rodas possam se movimentar melhor

dentro das cabines.

A banqueta, que fica ao lado do vaso sanitário, é dobrável para não atrapalhar o

usuário que não fará uso dela. Para economizar espaço a banqueta fica do lado esquerdo

do vaso sanitário, e quando dobrada fica embaixo da bancada. A pessoa que possui

bolsa de colostomia poderá se sentar para esvaziá-la, sem ter que se abaixar, e para

limpeza poderá utilizar a ducha higiênica que ficará ao lado do banco.

fig. 44 - Estudos bidimensionais para o

desenvolvimento da bancada e da banqueta.

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06

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66

fig. 45 - Estudos tridimensionais para o

desenvolvimento da bancada e da banqueta.

Page 67: DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL

67

RESULTADOS

fig. 46 - Conjunto de louças sanitárias

com propostas de variação de cores.

07

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fig. 47 - Detalhe do vaso sanitário e

da banqueta.

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fig. 48 - Perspectivas ambientadas do conjunto de louças sanitárias.

RESULTADOS07

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30 cm 85 cm 40 cm80

cm

70 c

m

34,5 cm fig. 49 - Dimensões das louças

sanitárias.

155 cm

50 cm

30 c

m

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fig. 50 - Proporção da louça sanitária em

relação a um usuário com cadeira de rodas

RESULTADOS07

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07

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Banheiros públicos são ambientes utilizados por muitas pessoas, por isso precisam

estar preparados para recebê-las de forma adequada. Atualmente poucos banheiros

públicos são encontrados nas ruas, e quando encontrados não estão em condições

de uso. Mesmo os banheiros de ambientes como shoppings, bares e restaurantes não

estão preparados para receber pessoas que necessitem de acesso facilitado e provisões

como barras e ambientes mais espaçosos. A falta desses itens é impeditiva para que as

pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida ou até mesmo idosos utilizem esses

banheiros.

Com o uso dos princípios do design universal pôde-se analisar os problemas

encontrados nos banheiros públicos e definir a melhor solução, com uma proposta

que atenda ao maior número de usuários possível. O projeto procurou se adequar

ao nível social brasileiro, utilizando baixa tecnologia para tornar o produto acessível

financeiramente, possibilitando assim a implantação desse conjunto de louças sanitárias

em qualquer banheiro público.

A forma de utilização dos banheiros é cultural, e isso determinou o formato das

louças sanitárias ao longo de seu desenvolvimento. Mesmo sendo feitas mudanças, elas

não poderiam ser radicais, pois causaria estranhamento entre os usuários do banheiro

e conseqüentemente a repulsa em utilizá-las. O novo design de um conjunto de louças

sanitárias propõe diversas formas de uso de uma mesma peça, sendo possível ao

usuário utilizar da forma que achar mais confortável. Através de estudos constatou-

se que a forma de utilização do vaso sanitário de um banheiro público é diferente da

forma de utilização do banheiro doméstico, por vários fatores como: medo de contágio

de doenças, inadequação dos banheiros e falta de higiene.

A nova louça sanitária pode ainda atender a requisitos inexistentes nos banheiros

públicos atuais como a introdução de um balcão, uma banqueta e uma pia nas cabines.

08

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08Esses requisitos foram solicitados por pessoas com deficiência que precisam desses

itens para facilitar sua higienização e o uso dos banheiros.

O novo conjunto de louças sanitárias atende às expectativas para esse ambiente,

mas para que seja completa a mudança dos banheiros públicos seria necessário, além

de alterar suas louças sanitárias, alterar também a sua construção e seu acesso fazendo

portas mais largas, pisos tácteis, utilização de metais sanitários que sejam ativados

de forma simples ou por sensores, colocação de barras, alteração do posicionamento

de itens como suporte do rolo de papel higiênico e saboneteiras, entre outros. Além

disso, a manutenção e vigilância contínuas impediriam que o banheiro público ficasse

inutilizável, tanto em relação a sua higiene e limpeza, quanto a vandalismo e desrespeito

aos usuários.

Este projeto propõe soluções para os problemas dos banheiros públicos e procura

desestigmatizar a visão que o usuário tem desse ambiente. A metodologia de projeto

com base no design universal passou a ser mais utilizada e discutida recentemente,

assim como a importância de sua aplicação em produtos industrializados tem sido mais

valorizada. Trazer esse assunto para o meio acadêmico possibilita a geração de novas

propostas que beneficiarão a todos, melhorando a saúde pública, inclusão social e

qualidade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS09

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