47
Desenvolvimento socioeconômico: teoria e aplicações Desigualdade de renda e mobilidade intergeracional Aula 2 Valéria Pero

Desigualdade de renda e mobilidade intergeracional · O conceito de PIB é uma abstração, que procura somar o valor de ... mais do que oferta ... capital e força de trabalho. O

Embed Size (px)

Citation preview

Desenvolvimento socioeconômico: teoria e aplicações

Desigualdade de renda e mobilidade

intergeracional

Aula 2

Valéria Pero

Altas taxas de crescimento?

Até o início do século XVIII, praticamente não houve

crescimento.

Após: crescimento modesto tanto demográfico quanto da

renda. População mundial: cresce a taxas em torno de

0,4% ao ano e a renda um pouco mais, aumentando a

renda per capita.

Século XIX, a partir da Revolução Industrial: forte

crescimento. O crescimento demográfico sobe para 0,6%

ao ano e a economia para 1,5% ao ano, com a renda per

capita crescendo quase 1% ao ano.

Altas taxas de crescimento?

Sim, no século XX!

Taxas de crescimento demográfico de 1,4% ao ano e da

renda mundial de 3%. A renda per capita cresce a 1,6% ao

ano entre 1913 e 2012.

Apogeu nas três décadas que se seguiram ao fim da Segunda

Guerra Mundial.

A Europa e os EUA crescem a 3 e 4% ao ano. O crescimento

transformou o mundo.

A população mundial passou de menos de 500 milhões, para

mais de 7 bilhões de pessoas, num espaço de três séculos.

Altas taxas de crescimento?

Início de século XXI: taxas de crescimento econômico

inferiores a 2% ao ano são consideradas inaceitavelmente

baixas.

Parece questão de perspectiva: 1% por um ano pode parecer

pouco, mas se mantido por um longo tempo, é muito.

Efeito do processo de crescimento exponencial, das taxas

cumulativas compostas, durante um longo período de tempo.

O crescimento 1% ao ano, se mantido por 30 anos, o espaço

de uma geração, mais do que dobra a renda dos filhos em

relação a de seus pais.

Baixas taxas de crescimento populacional

Taxa de crescimento demográfico mundial de 0,8% ao

ano, dos últimos três séculos, é suficiente para mais do

que dobrar o número de pessoas no planeta a cada 100

anos.

O crescimento demográfico mundial dos últimos três

séculos já deu início a uma reversão.

A população mundial cresce hoje a taxas muito inferiores

Previsões de que a taxa deve voltar a se estabilizar, ou

até mesmo decrescer, a partir de algum momento da

segunda metade do século XXI.

Sem crescimento demográfico, renda vai

parar de crescer?

Parte do crescimento da renda é decorrente do crescimento

demográfico e seria esperado que, com a população estabilizada, o

aumento da renda ficasse limitado à renda per capita.

Esperado que a renda passe a patamares mais próximos de 2% do

que dos 4% ao ano observados no auge do século XX.

O crescimento da renda per capita dos países avançados já foi bem

menor nas duas últimas décadas. Os fatos apontam nesse caminho:

a Europa cresceu 1,6%, os Estados Unidos 1,4% e o Japão apenas

0,7%, ao ano, desde 1990 até hoje.

Na medida em que a população se estabiliza e é atingida a fronteira

tecnológica, o crescimento da renda e da produção vai precisar de

avanços da tecnologia.

Sem crescimento demográfico, renda vai

parar de crescer?

Modelo de Solow-Swan: até que se tenha atingido a fronteira

tecnológica, o crescimento depende da taxa de poupança e de

investimento. Mais poupa e investe, mais se cresce.

Porém, chegando a relação capital/produto de equilíbrio de longo

prazo, o crescimento passa a depender apenas do progresso

tecnológico.

Modelo original: crescimento atribuído ao progresso tecnológico é

estimado por resíduo, pela parcela do crescimento que não advém

nem do capital, nem do trabalho.

Estudos posteriores: fatores explicativos do progresso tecnológico,

como a educação - que aumenta o capital humano - e a pesquisa,

que permite a descoberta de novas tecnologias.

Como medir diante das mudanças no

desenvolvimento?

Medição do Produto Interno Bruto é recente: os conceitos e as

estatísticas das Contas Nacionais foram criados no final do anos 30

O conceito de PIB é uma abstração, que procura somar o valor de

tudo o que é produzido e todo serviço prestado comercialmente no

país.

Índice da atividade econômica num determinado período, concebido

para medir a produção de bens agrícolas e industriais

Porém, agricultura e a indústria perderam espaço para os serviços.

O dinamismo maior da economia nos serviços, não está mais na

produção, mas sim na concepção.

Como medir diante das mudanças no

desenvolvimento?

Produzir bens é cada dia mais fácil e mais barato.

Contrapartida: aumentam os preços e a importância dos

serviços, especialmente daqueles onde a tecnologia

ainda não pode substituir o homem

Nesse caso ficam mais evidentes as deficiências

metodológicas do conceito de PIB

Mais difícil calcular valor dos serviços prestados...

Um reflexo de que caminhamos para

um problema de escassez relativa

A correlação entre PIB e bem-estar podia fazer sentido

no processo de industrialização.

Esta correlação deixa de ser válida a partir de um nível

de renda e outros fatores passam então a ser tão ou

mais relevantes do que o crescimento da renda.

A correlação perde força à medida que a renda cresce e

a escassez absoluta se reduz.

Aumenta importância da escassez relativa, da

desigualdade!

Atikinson: Que tipo de desigualdade?

Desigualdade de oportunidades e desigualdade de

resultados: analogia com a corrida da vida

A preparação para corrida

A corrida

Por que desigualdade de renda importa?

Desigualdade de resultados importa por 3 motivos:

1. Sorte e azar na vida – não dá para ignorar aqueles para

quem o resultado é um sofrimento

2. Igualdade de oportunidades competitiva e não competitiva

1. Todos temos a mesma chance de participar da corrida em que os

prêmios são desiguais

2. A distribuição altamente desigual de prêmios justifica a importância

para garantir uma corrida justa. O sistema social e econômico

determina esse sistema de prêmios.

3. Desigualdade de resultados afeta diretamente a

desigualdade de oportunidades da geração seguinte, sendo

uma fonte de vantagem injusta recebia por essa geração.

Preocupações instrumentais e

intrínsecas

The spirit level

Piora econômica explicada pelo aumento da

desigualdade (FMI)

Motivos intrínsecos para nível atual da desigualdade ser

excessivo, enquadrados em termos de uma teoria mais

ampla de justiça

Preocupações instrumentais e

intrínsecas

Utilitaristas: bem estar individual considerando nível de

utilidade atribuído a cada pessoa, então a desigualdade

excessiva reduz soma da utilidade total

Critica por não levar em conta a distribuição interpessoal

corrigida com pesos distributivos para medir a desigualdade,

sendo maior para quem tem pior situação

Pesos dependem dos valores sociais em relação à

redistribuição e representam uma base para as preocupações

quanto à desigualdade

Preocupações instrumentais e

intrínsecas

Se todo o peso fosse dados aos mais pobres, cai na

teoria de justiça do Rawls – radical, pois maximização do

bem estar dos mais pobres pode levar à distribuição

muito desigual

Acesso aos bens primários do Rawls foi criticado por

Sen por não levar em consideração a capacidade de

transformar esses bens em uma vida boa (capabilities)

Medida de renda

Comparação internacional

Vimos o aumento da desigualdade

depois da 2ª guerra mundial

Vimos o aumento da desigualdade

depois da 2ª guerra mundial

Vimos o aumento da desigualdade depois da

2ª guerra mundial

Anos 80: Mudança na direção da desigualdade

Vários fatores contribuíram para isso, incluindo

mudanças para as mulheres:

Após 2ª guerra mundial, quando a participação feminina

na força de trabalho cresceu rapidamente, os homens

ganhavam altos salários e se casavam com mulheres

que tinham baixos salários. Aumento do número de

mulheres que trabalham reduz da desigualdade

domiciliar.

A partir de 1980, por contraste, os homens e as mulheres

tendem a casar com pares de renda semelhante;

crescente participação feminina na força de trabalho

exacerbada desigualdade.

A economia da desigualdade

Fatores que contribuíram para o aumento da

desigualdade:

1. Globalização

2. Mudança tecnológica

3. Redução do papel dos sindicatos

4. Crescimento dos serviços financeiros

5. Mudança nas regras de remuneração

6. Diminuição da política de redistribuição de

impostos e transferências

Globalização e avanço tecnológico

Demanda muda em direção à trabalhadores

qualificados, aumentando o premio salarial

Modelo H-O: Quanto mais alto o premio salarial para

trabalhadores qualificados, maior o peço relativo dos

bens que dependem desse tipo de trabalho

Demanda por trabalhadores qualificados cresceu

mais do que oferta

Será que TIC gera aumento de demanda de

trabalhadores qualificados? Depende da elasticidade

substituição de trabalhadores não qualificados por

qualificados

Gap depende também da velocidade da resposta da

oferta

Mercado de trabalho e sindicatos

Oferta e demanda não determinam totalmente

salário, mas estabelecem limite e resultado depende

do grau de barganha sobre o excedente, que por

sua vez são influenciadas por normas sociais e

pelas instituições

O aumento da desigualdade na distribuição dos

salários coincidiu com a diminuição do papel dos

sindicatos e das barganhas coletivas

Capital e regras de remuneração

Queda da desigualdade associada ao aumento da

participação dos salários na renda. Em décadas

recentes, aumenta a participação dos lucros

Solow: economia cresce conforme estoque de

capital e força de trabalho. O que acontece se

aumenta capital e trabalho constante?

Depende da elasticidade substituição entre capital e

trabalho. Se e>1: queda pequena na taxa de retorno e a

parcela de lucros aumenta conforme aumenta o capital

por trabalhador. Se e<1, parcela de lucros cai.

O aumento da desigualdade na distribuição dos

salários coincidiu com a diminuição do papel dos

sindicatos e das barganhas coletivas

Capital e regras de remuneração

Modelo Solow poderia ser aplicado e contado assim:

Aumento da proporção capital-trabalho leva ao aumento dos

salários e queda da taxa de retorno

A parcela do capital aumenta apenas se e>1

Porém, além de certo ponto, a relação salario-taxa de retorno

chega ao valor critico e robôs começam a substituir trabalho

humano

Crescimento da economia conforme aumenta proporção de

capital mas relação salario-taxa de retorno permanece

constante

Assim, modelo de crescimento modificado sem conclusões

sobre elasticidade, destacando o dilema: benefícios do

crescimento advém do aumento dos lucros

Automação leva ao aumento da desigualdade??

Medida de desigualdade de renda

Duas questões principais: a dimensão do bem-estar

sob investigação e o indicador de desigualdade

(incluindo o fonte dos dados).

Concentrar na renda familiar derivada do mercado

(MI) e não sobre riqueza, consumo ou outras

dimensões

Focamos rendimento disponível das famílias (DHI –

mercado= lucro líquido de impostos diretos e de

contribuições para segurança social, incluindo

transferências de renda do setor público)

Indicador usado é o indice de Gini

Situação da desigualdade nos países ricos

Situação da desigualdade nos países ricos

Situação da desigualdade nos países ricos

Limites da desigualdade ao desenvolvimento

Meritocracia x Herança:

Mobilidade intergerancional de renda e a questão da

igualdade de oportunidades

Mobilidade intergeracional de renda é menor em

países com alta desigualdade - como Itália, EUA e

Inglaterra - e maior nos países nórdicos, onde a

distribuição da renda é mais uniforme

Questão: o aumento da desigualdade de renda pode

limitar a mobilidade econômica das futuras gerações

de jovens adultos?

Mobilidade intergeracional

Na linha introduzida por Becker e Tomes [1979],Becker e

Tomes [1986], diversos autores têm analisado mobilidade

intergeracional a partir da elasticidade entre as rendas de

pais e de filhos, onde valores mais elevados expressam

uma sociedade com menor mobilidade.

Formalmente, o modelo econométrico a ser estimado pode

ser descrito como

ysi = a+ byfi + ei , (1)

onde Cov(e, yf)=0, e yfi é o logaritmo da renda permanente

do pai da família i e ysi o análogo para o filho.

Mobilidade intergeracional

Quanto maior o valor de b, maior a chance de conhecendo

a posição do pai na distribuição da renda saber a posição

esperada do filho

Quanto menor elasticidade renda intergeracional, a renda

relativa dos pais será um fraco preditor da renda das

próximas gerações

Mobilidade intergeracional

Resultados – comparação internacional

De uma maneira geral, a evidência reunida na Tabela parece apontar para uma associação positiva entre os dois tipos de desigualdades: os países nórdicos são os que apresentam maior grau de

mobilidade,

seguidos de países da Europa central e dos EUA,

enquanto os países em desenvolvimento - em especial os da América Latina - são os que possuem os menores graus de mobilidade.

As exceções ficam por conta do Canadá e da Alemanha, que apresentam alto grau de mobilidade e de desigualdade.

País β Gini a

Equador b

1.13 0.437

Peru b

0.67 0.498

Brasil 0.66 0.589

Chile b

0.55 0.571

Malásia b

0.54 0.492

Inglaterra 0.5 0.36

Itália 0.47 -

EUA 0.47 0.408

Paquistão b

0.46 0.33

Africa do Sul b

0.44 0.578

Nepal b

0.43 0.367

França 0.39 0.327

Portugal 0.38 -

Bélgica 0.37 -

Espanha 0.34 -

Alemanha 0.32 0.283

Grécia 0.32 0.36

Singapura b

0.28 0.425

Suécia 0.26 0.25

Canadá 0.19 0.331

Noruega 0.18 0.258

Finlândia 0.18 0.269

Austrália 0.15 -

Dinamarca 0.14 0.247

Estimativas da Persistência de Status

Três problemas são encontrados ao se tentar estimar a

equação (1):

Um primeiro problema, originalmente notado por

Friedman [1957], vem do fato de que o pesquisador com

posse de dados em cross-section observa apenas

proxies de yf contaminadas tanto por flutuações

transitórias de renda como por erros aleatórios de

medida. Conseqüentemente, há um viés atenuador, o

que significa que para valores positivos de b espera-se

um viés negativo nas estimativas de MQO.

Estimativas da Persistência de Status

A solução clássica para o problema de erros-nas-variáveis é o uso

de variáveis instrumentais (VI), e aqui encontra-se o segundo

problema com (1).

A dificuldade em se encontrar um instrumento não-correlacionado

com ys introduz vieses no estimador de VI. Solon [1992] e

Zimmerman [1992] mostram que para um instrumento I, correlações

positivas entre ys e I e entre yf e I garantem que o viés em seja

positivo.

Por isso, Solon utiliza a educação do pai como instrumento,

propondo assim o uso dos estimadores de MQO e de VI para que se

obtenham, respectivamente, limites inferiores e superiores de b.

Alternativamente, Solon (1992) e Zimmerman (1992) sugeriram o

uso da média de várias observações de yfi ao longo do tempo, caso

o pesquisador disponha de tais dados. Apesar de não eliminar

totalmente o viés decorrente de erros-nas-variáveis, este

procedimento possui a vantagem de não basear-se nas hipóteses

necessárias para a validade de variáveis instrumentais.

Estimativas da Persistência de Status

No entanto - e aqui se encontra o terceiro problema -, os

estimadores de MQO e de VI requerem dados longitudinais com

uma janela longa o suficiente para que se observem pais e filhos em

estágios comparáveis dos seus ciclos de vida. Dados deste tipo são

obtidos apenas a custos muito altos, o que torna a sua

disponibilidade rara. De fato, para a maioria dos países, inclusive o

Brasil, tais dados são inexistentes.

Comparação EUA e Canadá

Mobilidade intergeracional e

desigualdade de oportunidades

A elasticidade renda intergeracional pode ser considerada uma

medida que sintetiza o grau em que a desigualdade é transmitida

entre gerações

Mas não significa necessariamente uma medida de desigualdade de

oportunidade

Roemer (2004, 2012): distinguir entre diferenças nas circunstâncias

– em que os indivíduos devem ser de alguma maneira compensados

– e escolhas pessoais, que será responsável pelas consequencias.

Circunstancias: escolaridade da mãe e do pai, raça, região de nascimento,

ocupação do pai, entre outros

Estudos empíricos mostram que indices de desigualdade de oportunidades

estão altamente correlacionados com indicadores de mobilidade

intergeracional, tanto de renda quanto educacional

Mobilidade intergeracional e

desigualdade de oportunidades

Desenvolvimento da criança para desempenho social e

no mercado de trabalho dos adultos através de um

processo recursivo

Status socioeconomico influencia a saúde e aptidões das

crianças nos primeiros anos, que por sua vez influencia a

desenvolvimento cognitivo e social, e prepração para leitura

Esses resultados e o sucesso da influencia da familia na

educação básica, que nutre o sucesso no ensino medio e

universitario.

Recursos e conexões familiares afetam acesso aos bens

escolares e empregos, e o grau de desigualdade no mercado

de trabalho determinam tanto os recursos dos pais quanto o

retorno a escolaridade dos filhos

Esse processo inteiro forma os salarios na fase adulta

Mobilidade intergeracional e

desigualdade de oportunidades

Razões para diferenças nas elasticidades de renda

intergeracionais entre os países tem a ver com o balanço

da influencia da

Da familia

Do mercado de trabalho

Da política pública

Na determinação das oportunidades de vida das

crianças

Mobilidade intergeracional e

desigualdade de oportunidades

Papel do retorno à escolaridade

Quanto maior retorno maior desigualdade no mercado de

trabalho e menos mobilidade geracional

Crescimento do retorno salarial com ensino superior foi

acompanhado de um aumento da elasticidade renda

intergeracional

Renda dos trabalhadores no topo da distribuição salarial tem

se tornado mais desigual depois dos anos 70 nos EUA (BR?)

Políticas progressivas para os menos favorecidos, mais

recursos para ensino fundamental e médio e menos para

ensino superior

Mobilidade intergeracional e retorno à

escolaridade

Mobilidade intergeracional e retorno à

escolaridade