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Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos Número é resultado de cruzamento inédito de dados feito pelo Campus nos cinco estados de maior população indígena. Recorde foi registrado no Amazonas Vagas na UnB mais difíceis para alunos da rede pública Barulho excessivo nas ruas do DF CULTURA Com um sonho e uma câmera na mão, Sílvio Zamboni, professor do Instituto de Artes, sai pelo mundo para registrar o Patrimônio da Humanidade SAÚDE Gustavo Borges desabafa: Estados Unidos e Austrália têm uma produção de atletas muito intensa graças ao envolvimento das suas universidades 07 05 Ônibus mal regulados e trânsito causam poluição sonora acima do limite permitido pela legislação 04 Inclusão de música no primeiro vestibular deste ano favorece escolas particulares. Disciplina está presente em 80% das instituições privadas e em apenas 18% dos colégios públicos do Distrito Federal 04 Projeto Doce Desafio, que ajuda diabéticos há oito anos, vai apresentar seu trabalho em Congresso em Montreal, Canadá 07 CIÊNCIA E TECNOLOGIA Tratamento que vem do CERRADO Pesquisadores da Universidade descobrem usos diferentes para plantas do cerrado. Entre eles pode estar a cura para leishmaniose 06 03 SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 27 de Abril de 2009 WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE ANO 39, EDIÇÃO Nº334 Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília REYNNER RYCARDO, ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO: “ALUNOS DE ESCOLA PARTICULAR TÊM VANTAGEM” FOTO: FABIANOBOMFIM FOTO: MARINA BOSIO FOTO: ANA CAROLINA VILELA FOTO: MARINA BOSIO FOTO: BÁRBARA LOPES

Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

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Número é resultado de cruzamento inédito de dados feito pelo Campus nos cinco estados de maior população indígena. Recorde foi registrado no Amazonas

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Page 1: Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

Número é resultado de cruzamento inédito de dados feito pelo Campus nos cinco estados de maior população indígena. Recorde foi registrado no Amazonas

Vagas na UnB mais difíceis para alunos da rede pública

Barulho excessivo nas ruas do DF

CULTURA

Com um sonho e uma câmera na mão, Sílvio Zamboni, professor do Instituto de Artes, sai pelo mundo para registrar o Patrimônio da Humanidade

SAÚDE

Gustavo Borges desabafa:

“Estados Unidos e Austrália têm

uma produção de atletas muito intensa graças ao envolvimento das suas universidades 07

05

Ônibus mal regulados e trânsito causam poluição sonora acima do limite permitido pela legislação

04

Inclusão de música no primeiro vestibular deste ano favorece escolas particulares. Disciplina está presente em 80% das instituições privadas e em apenas 18% dos colégios públicos do Distrito Federal

04 Projeto Doce Desafio, que ajuda diabéticos há oito anos, vai apresentar seu trabalho em Congresso em Montreal, Canadá

07

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Tratamento quevem do CERRADO

Pesquisadores da Universidade descobrem usos diferentes para plantas do cerrado. Entre eles pode estar a cura para leishmaniose

06

03

SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 27 de Abril de 2009 WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE ANO 39, EDIÇÃO Nº334Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

REYNNER RYCARDO, ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO: “ALUNOS DE ESCOLA PARTICULAR TÊM VANTAGEM”

FOTO: FABIANOBOMFIM FOTO: MARINA BOSIO

FOTO: ANA CAROLINA VILELAFOTO: MARINA BOSIO

FOTO: BÁRBARA LOPES

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2 Opinião ))

EXPEDIENTEEditora-chefe: Juliana NogueiraSecretária de Redação: Marciele SantosDiretor de Arte: Leonardo MunizEditores: Mayara Reis (Opinião), Sacha Brasil (Por Aqui), Tchérena Guimarães (Cultura), Izabella Miranda (Ciência e Tecnologia), Fernanda Neves (Esporte e Saúde), Maria Scodeler (Comportamento), Bárbara Lopes (Especial), Fabiano Bomfim (Fotografia)Repórteres: Amanda Gonzaga, Ana Paula Paiva, Ana Cláudia Felizola, Anna Beatriz Lemos, Bruno Silva, Camila Guedes, Camilla Machuy, Gláucia Cristina, Juliana Leão, Luciana Albuquerque, Mayara Reis, Naira Gomes, Pedro Duprat e Taíssa DiasFotógrafos: Anna Carolina Vilela, Bárbara Lopes e Marina BosioProjeto Gráfico e Diagramação: Filipe Kafino, Leonardo Muniz, Lucas Doca e Naiara LeãoProfessores orientadores: José Luís Silva, Solano dos Santos e Loutenço Cardoso

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

ConjunturaBeatriz Salles, pianista e professora do Departamento de Música da UnBColaboração de Murilo Alves

[email protected]

Mudanças na Lei Rouanet

Novo jornal, novo contexto

EDITORIAL

A cada semestre o jornal Campus muda. Uma nova equipe projeta

o jornal, do conteúdo ao de-senho das páginas. Como os leitores poderão notar, as edi-torias estão diferentes. Agora temos um espaço privilegian-do as pesquisas da Universi-dade, assim como uma página sobre comportamento. Em Por Aqui você encontra notí-cias sobre a UnB e o DF.

A Universidade também entra em uma nova fase. Em novembro de 2008, após a série de crises que abalou a UnB, José Geraldo foi em-possado reitor por meio de um eleição paritária. O de-safio agora é cumprir com o seu discurso de campanha: sustentar uma gestão trans-parente e equilibrar as ne-cessidades dos três segmentos da Universidade.

Fato é que José Geraldo mostrou-se acessível à mídia e aos eleitores, sobretudo aos

estudantes – durante a cam-panha, não resistia a fazer cumprimentos pelo Instituto Central de Ciências (ICC), chegando a participar de uma roda de pagode na frente do Centro Acadêmico (CA) de Física. Ainda veremos como ele se sai na função de ad-ministrador.

E foram os estudantes que determinaram sua vitória na volta das eleições paritárias para reitor. Se essa maior aproximação com os discentes é positiva para o novo con-texto da Universidade, ainda é cedo para dizer.

José Geraldo também vai ter de lidar com a contenção de gastos resultante das “ma-rolas” financeiras que chega-rem até aqui. No mês que vem acontecem as eleições para o Diretório Central dos Estu-dantes (DCE). A gestão atual parece se entender bem com ele. Só o tempo dirá como se definirão essas relações.

Carta do leitor

Prestes a fazer 40 anos, o Campus sempre foi um espa-ço de discussão de ideias, de autocrítica e de aprendizado. Criado numa universidade de vanguarda, sua história está intimamente ligada à teia de fatores que conduziu a mu-dança da capital.

Juscelino Kubistchek, Dar-cy Ribeiro e Anísio Teixeira deixaram seus nomes inde- levelmente vinculados às duas grandes criações da década de 60. Do primeiro temos Brasí-lia. Dos dois últimos, a funda-ção de uma nova universidade para um novo Brasil.

O Campus só poderia ter

surgido na UnB. O jornal é uma instituição que reflete os debates, anseios e reflexões da comunidade acadêmica de uma das mais importantes universidades do país.

Encontramos em suas pá-ginas o relato da sucessão do ex-reitor José Carlos Azevedo (militar que esteve à frente da UnB por mais de 15 anos); a cobertura da visita de Tan-credo Neves à Universidade; a cobertura da Assembleia Na-cional Constituinte.

Aos alunos deste semestre, gostaria de sugerir a criação de uma coluna fixa que recu-perasse algumas das estórias da grande história que se der-rama nos quase 40 anos do jornal Campus.

JAQUELINE LIMAEstudante de Jornalismo

OMBUDSMAN

P ara aprendizes de uma profissão, saber fazer o

feijão com arroz é impres- cindível. No entanto, buscar a inovação ajuda a alcançar tra-balhos diferenciados.

A edição 333 do jornal Campus abordou temas re- levantes para a comunidade

universitária. Em relação à apuração das informações e ao esforço em fazer um jornal de qualidade, os estudantes estão de parabéns.

Na reportagem de capa, o excesso de números so-bre o orçamento milionário da UnB poderia confundir o leitor. Mas a transmissão da notícia foi bem sucedida. O tema da falta de professores é

batido, mas para esse tipo de cobrança deve sempre haver espaço na imprensa, até que algo seja feito. Estranho é o desconhecimento do pro- blema pela decana de Ensino e Graduação. No texto ela afirma que não sabe se a fal-ta de professores realmente acontece na UnB, pois “o as-sunto não chegou a mim até agora”, disse ao Campus.

A matéria sobre a venda ilegal de um remédio abortivo apresenta boa apuração e per-

sonagens que ilustram o obje-tivo da reportagem. A denún-cia é grave e o governo deve ser cobrado para inibir esse tipo de ação.

No jornal-laboratório está a chance de aproveitar a in-dependência para formar um senso crítico que supere as expectativas de mercado. Boa sorte nesta empreitada à turma do primeiro semestre deste ano.

Não só experimentação,é preciso ousadiaAerton Guimarães, repórter doCorreio Braziliense e ex-aluno da UnB

*O ombudsman é a pessoa que analisa o jornal do ponto de vista do leitor

Atualmente, a Lei Rouanet estabelece três mecanismos de fomento à cultura: o Fundo Nacional (FNC), o Ficarte e

o chamado Mecenato. O primeiro destina-se a projetos de ins- tituições sem fins lucrativos. O segundo, a projetos com fins comerciais. Já o Mecenato parte de projetos de pessoas jurídicas e físicas de natureza cultural e capta patrocínios no mercado, revertidos em deduções tributárias.

As maiores limitações desses mecanismos são a burocracia dos incentivos tributários; as dificuldades em reunir patrocina-dores pela novidade do investimento cultural e pelo histórico de corrupção; além de que, ao invés de ajustar a estrutura do Ministério da Cultura (MinC) à demanda, o ministério passou a formular exigências que inibem a proposição de projetos.

A criação da renúncia dos 100% para alguns segmentos cul-turais foi outra medida nefasta, destacando-se que muitas em-presas deixaram de se preocupar com a qualidade do projeto, priorizando o valor da renúncia. A lei ganhou viés tributário.

A proposta do MinCDiferentemente da Lei 8313/91, a proposta do MinC não

declara os critérios e a quem cumpre aprovar os projetos desti-nados ao FNC. Além disso, estabelece participação econômica no resultado da associação entre empresas e projetos culturais, deixando a dúvida se o dinheiro do FNC será aplicado em em-preendimentos comerciais.

A lei também não cita mais a forma de indicação dos compo-nentes da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC). Fica claro que a proposta de “democratização” é um cheque em branco para que os “eleitos” de plantão façam o que quiserem.

Sobre o que seria parecido com o atual Mecenato, a proposta é omissa. Fica evidente que os projetos não serão aprovados por se enquadrarem nos objetivos da lei, eles serão selecionados. O artigo 22 da lei atual é suprimido e o texto da proposta, em ter-mos como “alta relevância”, “prioritários”, deixa claro tratar-se de censura e dirigismo cultural.

Comparada à lei 8313/91, a proposta é fascista e cria um programa de corrupção na cultura, com privilegiados selecio-nando projetos, níveis de renúncia e aplicação de recursos do FNC em projetos comerciais. O simpático discurso não tem rebatimento no que está escrito na proposta para a nova lei.

RU é inaugurado em 1972

Matéria publicada na edição nº 14 do Campus, em 1972, aborda a inauguração do prédio do Restaurante Universitário (RU). Segundo a então chefe do Serviço de Alimentação, Nancy de Pilla Montebello, as condições de trabalho do novo restaurante poderiam “propiciar a melhoria da comida, principalmente no que diz respeito à apresenta-ção da refeição”. Já àquela época, o discurso bem intencionado não foi suficiente para quebrar o ceticismo dos estudantes.

Escreva para o [email protected] !

EDIÇÃO 334 – JORNAL CAMPUS

HÁ QUASE QUARENTA ANOS

Leia o Campus Online www.fac.unb.br/campusonline!

*A estudante desenvolve uma pesquisa sobre a história do Campus como trabalho de conclusão de curso. A pedido do jornal, escreveu a primeira carta do leitor.

ILUSTRAÇÃO: LEONARDO MUNIZ

ILUSTRAÇÃO: PAULO GARCIA

Enquanto isso, no CA de economia...

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3ESPECIAL((

Resultado da falta de alimentação adequa-da, a desnutrição pro-

voca infecções que enfraque-cem o organismo. As crianças se tornam apáticas, perdem a vontade de brincar e, em casos mais graves, chegam a morrer. Porém, nem todos são atingidos pela desnutrição de uma mesma maneira. Levan-tamento inédito feito pelo Campus mostra que o índice de mortes entre índios chega a ser 79 vezes maior do que na população branca.

A pesquisa foi realizada com o filtro de óbitos por raça no portal do Datasus, do Ministério da Saúde, no pe-ríodo de 2000 a 2006, que são os dados mais recentes. Os números encontrados foram então cruzados com índices populacionais do Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2005. Isso permitiu a realização dos cálculos proporcionais, de acordo com as etnias, nos cinco estados que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), têm mais indígenas. Os valores médios obtidos equivalem aos óbitos por des-nutrição a cada grupo de 100

As tribos da fomemil pessoas, método utilizado por epidemiologistas.

O recorde de desigualdade nas taxas de óbitos entre índios e brancos é no Amazonas, es-tado com a maior po-pulação indígena do país. Os índios e amarelos representam 0,2% dos amazonenses. Lá, o índice de mortes por desnutrição a cada 100 mil pessoas chega a 1.900 entre os índios. Na po-pulação branca, o índice é 24. A disparidade se repete aqui no Centro-Oeste. O segundo maior grupo indígena está no Mato Grosso do Sul, onde a taxa é de 758 nos índios e 46 nos brancos. A seguir, vem Roraima, com 335 contra 9. O Mato Grosso, terra dos xavantes, aparece com a quar-ta maior população. São 262 mortes de indígenas e amare-los, e 16 na população branca. E o quinto estado é Pernam-buco, quase sem desigualdade: 49 óbitos por desnutrição de índios e 46 de brancos (veja infográfico).

“A minha mãe trabalhou como doméstica em troca de comida, e meu pai coletava coisas na rua”, recorda Olavo Batista, 40 anos. O índio wa-pichana, de Roraima, mora em Brasília há dois anos e cursa o segundo semestre de Enge-

nharia Florestal na Univer-sidade de Brasília. Um con-vênio entre a UnB e a Funai trouxe para a capital o indíge-na, que passou sua infância na aldeia Truaru, onde enfrentou de perto as dificuldades.

Para ele, a desnutrição está relacionada ao bem mais precioso dos indígenas: a ter-ra. “O problema de saúde é muito grande. As fazendas estão diminuindo o espaço das aldeias, nos deixando sem lugar para plantar e coletar alimentos”, relata Batista. “A população foi aumentando, e as terras, diminuindo. E aí a gente ia plantar, colher, caçar e pescar onde? Não tinha um lugar. Então a comida vai di-minuindo”. O wapichana con-ta que os índios migram para a cidade em busca de recursos e precisam encarar a margina-lização e os baixos salários.

Em Brasília há três anos, Luiz Carlos Penha, 23, é aluno do sexto semestre de Biologia na UnB. Segundo o índio tukano, do Amazonas, o município em que morava, São Gabriel da Cachoeira, tem a população composta praticamente só por indíge-nas. Para Penha, os casos de desnutrição se devem, so-bretudo, ao difícil acesso aos

serviços de saúde. “Os mora-dores de alguns lugares levam até 15 dias de viagem de bar-co para chegar à assistência. Na temporada de seca, não tem como chegar, aí a ajuda é só do Exército. Isso se houver uma base nessas regiões.”

Em casos de enfermidades de maior complexidade, os pacientes são encaminhados pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para hospi-tais nas capitais brasileiras. O Hospital Universitário de Brasília (HUB) é um deles, que recebe principalmente os xavantes, de Mato Grosso. Quando passam muito tempo sendo acompanhados pelos médicos, os índios frequen-temente aparecem com bolsas de palha e colares de semen-tes para presenteá-los. Costu-mam pedir ajuda e doações.

De acordo com Dioclé-cio Campos Júnior, chefe do Centro de Clínicas Pediá-tricas do HUB, os indígenas mais jovens são as maiores vítimas. “Nas populações pobres, sempre quem paga o preço mais caro pela carência de alimentos são as crian-ças”, aponta. É observado nos atendimentos, relata o médi-co, que as crianças vivem em condições insalubres, expos-

ANA CLÁUDIA FELIZOLA

Cruzamento de dados de mortes, raças e população mostra que a desnutrição mata até 79 vezes mais índios que brancos no Brasil

ÍNDIOS DO MATO GROSSO QUE VIERAM À BRASÍLIA COM AS FAMÍLIAS

tas a variadas infecções, que “acabam também consumin-do o estado nutricional delas ou levando-as até a falecer”. Ele conta que praticamente todos os pequenos indígenas que chegam ao hospital têm a nutrição comprometida e com frequência apresentam tuber-culose, diarréia e pneumonia.

Foi a pneumonia que trou-xe para a cidade a família de Urissapá Kuikuro. O pequeno índio, de apenas sete meses, saiu de sua aldeia no Mato Grosso para ser atendido aqui. Após sofrer desmaios, foi in-ternado no hospital da região por seis dias. Como não me-lhorou, foi encaminhado para o HUB. Para o pai do meni-no, Sakuá Kuikuro, que está em Brasília pela primeira vez, a maior dificuldade enfrenta-da é com os serviços de saúde. “Lá na aldeia eles não aten-dem direito e falta medica-

mento”, relata Kuikuro. Segundo ele, a defici-

ência acontece porque não há médicos em todas as aldeias, que são separadas por cerca de 60 km. Ele acredita que agora a situação vai melhorar,

pois desde o ano passa-do alguns índios estão sen-

do treinados pela Funasa, com cursos de enfermagem.

Distante no tempoAs infecções agravam o

estado de desnutrição que, por sua vez, abre brechas para novas contaminações. “É um círculo vicioso que precisa ser quebrado. Entre as popula-ções indígenas isso ainda não foi possível”, comenta Cam-pos Júnior. Quase metade das crianças hospitalizadas no HUB é indígena. “A des-nutrição, na forma grave, pra-ticamente desapareceu das outras populações do Brasil. Os indígenas ficaram como um povo distante no tempo”, aponta.

Como resolver tantas questões? Para Campos Jú-

nior, que também é presiden-te da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os serviços médicos deveriam encurtar a distância até as aldeias, além de garantir um acompanha-mento das crianças após a in-ternação nos hospitais.

“Quando elas voltam para suas reservas, falta assistên-cia e, com certa frequência, medicamento. Então acabam sofrendo recaídas”. O médico acredita que programas como o Bolsa Família não têm “a menor possibilidade de resol-ver o problema”. Para ele, fal-tam terras e imunização nas aldeias. “Ou se consegue um modelo que modifique tudo isso, ou eu não vejo perspec-tiva favorável à reversão desse quadro”, lamenta. Para Cam-pos Júnior, o cenário caminha para a extinção das etnias.

Dados da Funasa mostram que 45% da população indí-gena - estimada em 530 mil índios - está localizada no Amazonas, 30% no Nordeste e 25% no Centro-Oeste. “São regiões que historicamente registram menos assistência e são marcadas por uma vul-nerabilidade maior”, descre-ve Flávio Nunes, médico da Funasa e coordenador-geral do subsistema de Atenção à Saúde Indígena.

O coordenador afirma que a desnutrição é “efeito de ques-tões sociais” que extrapolam a saúde. “No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a população indígena está sendo sufocada por práticas agrícolas”, relata. Segundo ele, áreas que antes eram destinadas à agricultura, caça e pesca, agora possuem hidrelétricas e garimpos. Em sua opinião, o governo de-veria investir recursos para amenizar o impacto ambien-tal. “Programas como o Bolsa Família são complementa-res, mas não os entendemos como medidas impactantes”, afirma Nunes. “São necessá-rias políticas integradas com o desenvolvimento de atividades sustentáveis”.

FOTO: MARINA BOSIO

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4 Por Aqui ))

Descaso medido em decibéis

Mudança na primeira seleção deste ano inseriu questões sobre Música. Disciplina é dada em 80% das escolas privadas e em apenas 18% das públicas

Exclusão no vestibular da UnB

ANA PAULA PAIvACAMILA GUEDES

As deficiências do sistema de transporte público no

DF afetam a saúde de tra-balhadores do setor. Levan-tamento preliminar feito pelo Laboratório de Monitora-mento e Controle Ambiental

em Transportes (Lamcat), da Universidade de Brasília, in-dica níveis de poluição sonora muito acima dos recomenda-dos pela Organização Mun-dial da Saúde (OMS).

Utilizando um decibelíme-decibelíme-tro, aparelho que mede a in- aparelho que mede a in-tensidade sonora em decibéis, o Lamcat vem estudando a

Apesar da política de in-clusão da Universidade de Brasília (UnB), que

envolve cotas raciais e cons-trução de novos campi, a in-serção de Música no primeiro vestibular de 2009 acabou por favorecer os alunos de escolas particulares em detrimento dos de escolas públicas. Le-vantamento feito pelo jornal Campus mostra que apenas 18% dos Centros de Ensi-no Médio (CEMs), da rede pública do Distrito Federal, têm efetivamente aulas des-tinadas ao aprendizado desta disciplina. Nas escolas particu-lares, o índice chega a 80%.

Foram procurados todos os 32 CEMs listados no site da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Somente

quatro não puderam ser con-tatados. A apuração também buscou, com o auxílio do Sindicato dos Estabelecimen-tos Particulares de Ensino (Sinepe), as dez maiores es-colas privadas de ensino mé-dio do DF. “Os alunos de es-cola particular têm vantagem. Como a gente vai fazer um vestibular sem ter tido a maté-ria no ensino médio?”, afirma Reynner Rycardo Machado, 17, estudante do terceiro ano do Centro Educacional Asa Norte (Cean). “Eu vou ter que estudar esta matéria por conta própria. Vou ter que me virar.”

A decana de Ensino e Graduação da UnB, Márcia Abrahão Moura, uma das res-res-ponsáveis pelas mudanças no vestibular, diz que a disciplina de Música é cobrada no pro-cesso seletivo apenas de forma lúdica. “Incluímos questões

que envolviam essa disciplina para incentivar o estudo de Arte. A UnB sempre sai na fr-ente. Além disso, não acredito que os poucos itens cobrados influenciem no resultado final do aluno”, explica a decana. Márcia acrescenta que as mudanças foram feitas de forma gradual.

Ricardo Gouche, gerente de Interação Educacional do Centro de Seleção e Pro-moção de Eventos (Cespe/UnB) – unidade responsável pela elaboração das provas - explica que a mudança no conteúdo do último processo seletivo foi resultado da incor-poração de alterações ocorri-das no Programa de Avaliação Seriada (PAS) desde 2006. Para Gouche, a mudança é “natural, previsível e até elo-giada por candidatos, profes-sores e escolas”.

Uma nova leiA lei nº 9.394 de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, prevê no cur-rículo das escolas de educação básica – que inclui os níveis fundamental e médio - o ensi-no de Artes. Em 2008, a lei nº 11.769 , que mudou a LDB, tornou obrigatório o ensino de Música na educação básica, mas deu um prazo de três anos para que as escolas pudessem se adaptar à alteração. Ou seja, de acordo com a lei, os estabeleci-mentos educacionais têm até 2011 para incluir formalmente a disciplina nos currículos.

Procurado, o Ministério da Educação explicou que não pode se pronunciar sobre o vestibular da UnB porque as universidades têm autonomia na elaboração dos processos seletivos. Para o diretor do CEM 02 de Ceilândia, Wilson Venâncio, a inclusão de Músi-ca no currículo é interessante, porém não há professores nem estrutura para suprir essa ne-cessidade nas escolas públicas. “Eu acho que a UnB está fora da realidade”, critica Venâncio, que tem sido procurado por alunos do terceiro ano preocu-pados com a falta de aulas de Música. O diretor já enfrenta dificuldades porque tem ape-nas um professor para dar aulas de Artes para 1.900 alunos.

Dentre os conteúdos incluí-dos no processo seletivo deste ano, não é apenas em Música que alunos de escolas públi-cas ficam atrás dos da rede privada. Quadro semelhante ocorre com Artes Cênicas. O levantamento do Campus

mostra que 57% dos CEMs contatados não têm aulas da disciplina. Já nas escolas par-ticulares, o índice é de 20%.

Há chances de 2009 ser o primeiro e último ano do novo modelo de vestibular da UnB. O Ministério da Educação marcou para o início de outu-bro a realização de uma prova, com 200 questões, dentro do que foi chamado de Sistema de Seleção Unificada. A ideia do governo é que o maior

número de instituições adote este vestibular nacional para o preenchimento de vagas, mas as universidades têm autonomia para decidir se aceitam ou não a propos-ta. Até o fechamento desta edição do Campus, a UnB ainda dependia da decisão do Conselho Universitário (Con-suni) - que reúne represen-tantes de alunos, professores e servidores – sobre o vestibular unificado.

82% DOS CENTROS DE ENSINO MÉDIO DO DISTRITO FEDERAL NÃO TÊM AULA DE MÚSICA

FELIPE AzEVEDO MEDE A INTENSIDADE DO SOM NAS VIAS DE BRASÍLIA

CAMILLA MACHUy MAyARA REIS

TRANSPORTES

poluição sonora desde 2007 nas vias L2 Norte e W3 Sul. Os resultados mostram valores em torno de 73 a 75 decibéis, muito acima dos 55 indica-dos pela Norma Brasileira 10.151/00 para áreas mistas, com comércio e residências.

“Ônibus novos são colo-cados nas ruas, mas os velhos continuam a circular”, explica o coordenador do Lamcat, Felipe Azevedo. Segundo ele, grande parte da poluição sonora no DF se refere ao sistema de transportes. “As condições do veículo e do tráfego, a forma de dirigir, a manutenção do catalisador e o tipo de combustível são fa-tores que interferem direta-mente tanto na poluição so-nora quanto na poluição por emissão de gases.”

Um nível de ruído entre 65 e 80 decibéis pode causar, entre outras disfunções, alterações gástricas, irritação, problemas

REYNNER RYCARDO, 17, ESTUDANTE DO CEAN: “VOU TER QUE ME VIRAR”

Nos dias 5 e 6 de maio, os alunos da Universidade de Brasília vão escolher os novos membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A votação será re�alizada durante o período de aulas, das 8h às 22h. Para votar, o estudante deve apresentar, nos locais a serem definidos pela Comissão Eleitoral, a carteira estudantil ou um documento de identificação com foto. Nas eleições, também serão decididas as cadeiras de Representantes Discentes (RD) nos conselhos superiores da UnB (Consuni, CAD e Cepe). São cinco chapas na disputa. Des�tas, uma concorre somente às cadeiras dos conselhos. Na cédula, o aluno terá de fazer duas escolhas: a da chapa que deseja para a direção do DCE e a da chapa que acha que deve compor os conselhos. A disputa é entre as chapas um (Apenas Começamos), dois (Unidade da Diversidade), três (Para Fazer Dife�Dife�rente), quatro (Aliança pela Liberdade, que concorre apenas para RD) e cinco (Oposição à Burocracia Estudantil).

Eleições do DCE

do sono e estresse. Segundo Anadergh Branco, coordena-dora do Laboratório de Saúde do Trabalhador da UnB, “o aumento do ruído aumenta a irritabilidade”. Ela explica que, para um trabalhador já exposto ao estresse do trânsito e à rotina de lidar com pessoas desconhecidas, a tensão faz a musculatura se contrair, o que pode favorecer, por exemplo, a hipertensão.

O laboratório pesquisou o bem-estar dos trabalhadores brasileiros analisando os auxí-lios-doença concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2007, com afastamentos superiores a 15 dias. Naquele ano, entre os 10.924 servidores do transporte registrados no DF, o INSS contabilizou 299 licenças.

Os quatro maiores grupos de causas, que incluem fratu-ras, lesões, doenças mentais e doenças do sistema digestivo,

representam cerca de 94% de-les. São problemas nas articu-lações, depressão, reação aguda ao estresse, perda auditiva e hipertensão. Nenhum dos sete casos de perda auditiva regis-trados em 2007 foi caracteriza-do como acidente de trabalho.

A coordenadora explica, ainda, que essas doenças são difíceis de serem mensuradas pelo sistema previdenciário, pois são patologias que vão se agravando e, comumente, não geram incapacidade para o trabalho. “Os motoristas e cobradores não param de tra-

balhar, apenas passam a ex-ercer outra atividade”, explica Anadergh Branco.

Lúcio Lima, diretor do Sindicato dos Rodoviários, afirma que não existe uma compilação de dados das doenças causadas pelas más condições dos ônibus, embora as queixas sejam comuns. “Nós sabemos que existem muitos motoristas com vários pro-pro-blemas de saúde decorrentes da falta de manutenção dos ônibus, como surdez, dores de cabeça intensas e problemas na coluna”, revela.

FOTO: FABIANOBOMFIM

FOTO: MARINA BOSIO

FOTO: MARINA BOSIO

Page 5: Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

5Cultura((

PARA O FOTóGRAFO, A FOTO ARTÍSTICA NÃO PRECISA OBRIGATORIAMENTE REFLETIR A REALIDADE: “PODE SER UM MOMENTO FOTOGRáFICO TÃO ESPECIAL QUE A TORNA UMA OBRA DE ARTE”

Indique!Por Pedro DupratFotografando

o mundo

Na Quadrada das Águas Perdidas (Elomar, 1978, Padrão)O álbum é

a mescla entre o repente nordestino e a cantiga medieval ibérica que faz o sertão virar uma terra mágica, onde tropeiros se transformam em cavaleiros e casarões, em castelos. As 18 músicas são escritas em “sertanês” e compostas apenas com violão, voz e uma flauta ocasional.

Iluminados pelo Fogo é uma poderosa m e n s a g e m a n t i g u e r r a feita pela Ar-

gentina, país que perdeu a Guerra das Malvinas. O filme aborda a história de um repórter que, ao receber a notícia da ten-tativa de suicídio de um companheiro, começa a recordar as tristezas da guerra. Ganhou o Prêmio Goya de melhor filme.

Filme

O Complexo de Portnoy, de Phillip Roth, é um monólogo em que Ale-Ale-xander Port- Port-

noy narra ao seu psicanalista os seus problemas com o sexo, com a figura da mãe e o judaísmo. É uma obra imperdível para os fãs de Woody Allen ou Seinfeld.

Livro

álbum

Confira a a agenda cultural diariamente no site: fac.unb.br/campus2009@

ENTREVISTA

Campus - Brasília é um tema recorrente nos seus desenhos. Por quê? Como é a sua rela-ção com a cidade?Luigi Pedoni - É altamente frustrável. A minha relação com Brasília é a maneira como eu a trabalho. É uma relação muito lúdica e única, tento trazer isso para o público de uma maneira leve, sempre co-co-lorida, porque a cidade é ex-, porque a cidade é ex-

tremamente colorida.Campus - Como você vê o seu trabalho?LP - Eu vejo o meu trabalho meio contestador, meio rebel-de, meio irônico, às vezes até meio boçal. Mas é forte e eu faço com muito prazer de de-senhar, passar a mensagem, já que o cartum não passa de uma mensagem gráfica. Quando se faz um cartum, tem que colo-car todos os elementos para transmitir a informação com

o máximo de sentimento.Campus - Como você entrou no mundo do cartum?LP - A minha história como cartunista começou em meados de 95 no Espaço Cul-tural da 508 sul, onde eu pro-duzia alguns desenhos com o pessoal de lá e fazia aula com o professor Marel.Campus - Quais são as suas influências?LP - As minhas maiores in-fluências são cartuns ameri-canos, como o Popeye, Per-

nalonga e Looney Tunes; e cartunistas como Will Eisner e Robert Crumb. E no Brasil tem vários cartunistas que já influenciam apenas por existir, como o Millôr. Gosto também de humoristas como Jô Soares e Chico Anysio.Campus - Desenhar é um trabalho ou um hobby?LP - É um trabalho, um hob-by, uma paixão, uma necessi-dade, é tudo.Campus - Para quem você desenha? LP - Eu desenho para mim e para o meu público. Desenho o que o meu público gosta e precisa. Campus - Você publica os seus desenhos em alguma mídia?LP - Eu nunca fui contratado de nenhuma revista ou jor-nal. Faço cartuns contratados quando precisam de um de-

senho aleatório ali e aqui. Eu também trabalho para uma revista chamada Elite Arte. Claro que é remunerado, mas eu penso mais em publicar do que na parte financeira. Campus - Como você con-segue financiamento para o seu trabalho ?LP - Em 2006, com a ajuda

Luig

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on

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do Fundo de Arte e Cultura (FAC), consegui produzir a minha primeira revista, a Cartum Show, e já estou com 5000 exemplares vendidos. E, juro, o caminho é buscar pa-trocínio, ter apoio dos amigos e do comércio, porque não dá para o artista ficar contando apenas com FAC.

Mente flexível,traços firmesÉ pelo desenho que Luigi Pedoni, 31, trabalha a cidade onde nasceu: Brasília. Além de cartunista, é chargista e produz a própria revista. Em entrevista ao Campus, ele define sua arte como rebelde e boçal

A RELAÇÃO LÚDICA COM BRASÍLIA TOMA FORMA DE DESENhO

PEDRO DUPRAT

para viajar pelo mundo foto-grafando os monumentos de cidades escolhidas por meio de levantamentos e pesquisas. Com uma vida inteira de ex-periência em artes plásticas, o flerte com as lentes da câmera fotográfica começou um pou-co mais tarde. “Assim que as máquinas fotográficas fica-ram mais acessíveis, comprei uma e, para a minha surpresa, as fotos saíram muito boas”, relembra.

Tudo começou há oito anos, na cidade de Pirenópolis, Goiás. “Comecei a fotografar porque eu tenho casa lá”, ex-plica. Da experiência surgiu o livro Pirenópolis, pedras jane-las quintais, lançado em 2002. A satisfação com o resultado das fotos foi tanta que a ci-dade acabou ficando pequena

GLÁUCIA CHAvES

Fotografar características históricas, artísticas e arquitetônicas de todas

as cidades tombadas do mun-do, catalogando-as em um banco de imagens. Essa é a proposta do projeto Patrimô-nio Mundial da Humanida-de. Segundo Sílvio Zamboni, 61, idealizador do projeto, a intenção é captar imagens que sejam mais que meros re-gistros de viagem, mas obras de arte. Para ele, a emprei-tada vai além de um projeto de pesquisa: é um projeto de vida.

Professor do Instituto de Artes da Universidade desde 1993, o pesquisador aproveita licenças e períodos de férias

alternativa para as viagens não pesarem tanto no bolso são os incentivos fiscais do governo, como o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e a Lei Roua-net, ou buscar ajuda junto a or-ganismos internacionais mais acessíveis que os “herméticos órgãos de pesquisa” brasileiros.

Próximos trabalhosNo dia cinco de maio,

acontece no Espaço Cultu-ral da Caixa Econômica a exposição “Quem tem medo de olhar para cima?”, com 30 fotos grandes, tiradas sempre de baixo para cima, além de 20 backlights (a fotografia, ampliada, é colocada em uma tela e iluminada por trás). Também em maio, o artista lança o livro-álbum Reflexo transparência.

para a ambição do mais novo fotógrafo brasiliense. Surgia, então, o subprojeto Patrimô-nio Brasil, que ampliava o itinerário para incluir todas as cidades tombadas do Bra-sil. De norte a sul do país, o artista-fotógrafo já conseguiu registrar 17 cidades.

Mas a terra do futebol também ficou pequena, e o jeito foi partir para o resto do mundo, com os subprojetos América Latina e Europa. No primeiro, foram fotografadas nove cidades do Peru e 16 do México, enquanto na Euro-pa Ocidental seis cidades de Portugal, nove da Espanha e 30 da Itália receberam a visita do fotógrafo. “Tive a oportu-nidade de viajar para o Peru e fotografar toda a riqueza em bens culturais de lá, que vai

muito além de Machu Pic-chu”, conta Zamboni.

Uma vez pronto, o banco de imagens servirá como fonte de consulta para pesquisadores e professores da UnB. “Em áreas como a arquitetura, por exemplo, ter imagens de di-versas cidades pode ser muito útil”, exemplifica o artista, que faz questão de esclarecer que , embora o objetivo seja con-cedê-las gratuitamente, isso precisa ser feito com cautela. “Não quero minhas fotogra-fias sendo usadas comercial-mente, a menos que haja algu-ma cláusula que me favoreça”, pondera.

Sílvio Zamboni tira os gas-tos da viagem de seu salário de professor. “Nunca tentei o apoio da UnB, porque achei que não teria espaço”, diz. A

Câmera, disposição e amor à fotografia: o artista plástico e pesquisador da UnB Sílvio Zamboni põe o pé na estrada para registrar cidades do mundo

Eleições do DCE

FOTO: ANNA CAROLINA VILELA

Page 6: Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

6 Ciência e Tecnologia ))

Um laboratório chamado CERRADO

Passando à próxima fase

Pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas pela Universidade de Bra-

sília encontraram benefícios nas plantas do segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado. Herbicidas naturais, medica-mentos e drogas antiestresse são focos de algumas das li-li-nhas de estudos de equipes de professores e alunos. Essas descobertas podem influenciar a economia e a vida das pessoas.

Apesar de seco e hostil, o ambiente do Cerrado instiga a produção de uma ampla varie-dade de compostos químicos. Para sobreviver em um meio com escassez de água e nutri-entes, as plantas da região aca-bam produzindo substâncias que viram matéria-prima para pesquisadores.

A professora Laila Espin-dola, do Laboratório de Far-macognosia da UnB, estuda as propriedades medicinais de plantas do Cerrado. Usando extratos vegetais, a equipe de Laila trabalha em projetos para obter a cura - ou pelo menos o tratamento - de enfermidades como câncer, leishmaniose, malária e doença de chagas.

A pesquisa que se encontra em fase mais avançada é a que tenta tratar a leishmaniose cutânea. Laila encontrou na planta do Cerrado conhecida

como jitó resultados positivos na destruição do protozo-ário que causa essa doença, o Leishmania.

Outras frutas, como a mangaba, têm também gerado resultados interessantes. “O objetivo é conhecer a com-posição química da mangaba”, conta a professora Dâmaris Silveira, da Faculdade de Ciên-cias da Saúde, que trabalha em parceria com a pesquisadora Ivelone Barros. Na fruta, elas encontraram o flavonóide, substância que funciona como antioxidante e ajuda a com-bater os radicais livres, causa-dores de câncer e envelheci-mento. Por enquanto, sabe-se que a mangaba também atua como um anti-inflamatório.

Maracujás Quem nunca ouviu “toma

um suco de maracujá para acalmar”? A verdade é que isso é um mito. Não é a fruta do maracujá que tem efeito calmante, e sim suas folhas. No Brasil, existem 150 espé-cies dessa fruta, das quais a mais conhecida é o maracujá comercial, que não tem efeito tranquilizante. Em parceria, a Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (Embra-pa) e a UnB estão estudando os efeitos contra a ansiedade e o sono de duas novas espé-cies dessa fruta, melhoradas

geneticamente por meio de cruzamentos.

Os autores do projeto são Ana Maria Costa, da Embrapa, e Raimundo Nonato Delgado, professor adjunto da UnB. Os efeitos do maracujá do Cer-rado contra a ansiedade foram testados em 22 voluntários. Desses, 21 apresentaram re-sultados positivos, ocorrendo diminuição do nível de tensão. “Se o nível de estresse pudesse ser colocado em três catego-rias - grande, moderado e leve - poderia se dizer que a maio-ria passou do moderado para o leve”, explica Ana Maria.

A segunda etapa do estudo, iniciado em 2007 com previsão de término até o ano de 2011, busca provar se o maracujá do Cerrado também leva à indução do sono. Serão avali-ados cerca de 40 voluntários com idades entre 30 a 65 anos. Os interessados devem se ca-dastrar na Embrapa pelo e-mail [email protected].

AgriculturaO percentual de perdas na

agricultura no Brasil causadas por plantas invasoras varia en-tre 20% e 30%. As plantas in-vasoras competem com as es-pécies de interesse econômico ou nativas por espaço e nutri-entes. Fabian Borghetti, co-ordenador da pós-graduação em Botânica da UnB, estuda o

potencial de plantas do Cerra-do como herbicidas naturais.

Pequi, cagaita, pau-terra e barbatimão estão sendo estu-dados porque possuem pro-priedades alelopáticas, ou seja, inibem naturalmente o cresci-mento de outras plantas. O potencial dessas espécies como bioherbicidas nunca havia sido estudado, afirma Borghetti.

O objetivo da pesquisa é encontrar a substância espe-cífica dessas plantas que pode combater as ervas-daninhas. “Primeiro temos que identi-ficar a molécula, para depois entrar na segunda fase, de modificação da molécula, para potencializar seu uso como herbicida”, conta o profes-sor. Apesar de transformadas, as moléculas manterão suas propriedades biodegradáveis, principal característica do bio-herbicida.

A grande diferença entre herbicidas encontrados em laboratórios e aqueles encon-trados na natureza é o ciclo de vida. “O bio-herbicida tem um ciclo curto de vida. Ele inibe o crescimento de ervas-daninhas ou plantas indesejáveis e, em alguns dias, o ma-terial vai ser degrada-do, não contaminando a água, o solo e toda a cadeia alimentar”, ex-plica Borghetti.

O estudante de Ciência da Computação Saulo

Camarotti é fã de videoga-mes, mas não apenas de jogá-los. Desde os sete anos tinha vontade de modificá-los. Jo-vens como ele, motivados a transformar sua diversão em trabalho, são o fomento do desenvolvimento de jogos ele-trônicos, área conhecida como gamedev, que em 2008 gerou

um faturamento de R$ 87,5 milhões de acordo com estu-do da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames).

Juntamente com o colega de curso Pedro Guerra, Ca-marotti fundou no ano pas-sado sua própria empresa, a Behold Studios, após criarem o Magnetoware, jogo que re-cebeu em 2008 o prêmio do principal evento de gamedev da América Latina, o Simpó-

sio Brasileiro de Jogos e Entre-tenimento Digital (SBGames).

Camarotti e Guerra tam-bém são, respectivamente, presidente e vice-presidente do UnBGameDev (Núcleo de Desenvolvimento de Jogos da Universidade de Brasília). Ini-ciado em 2007, o grupo tem um time de 14 bolsistas, dos quais 11 cuidam do desen-volvimento de jogos e três são artistas gráficos. Os projetos du-ram de dois a três meses, com foco em competições (veja o box).

Mudar de fase – de jogador a produtor de jogos – requer mais do que gostar de video-games. “Já li muitos artigos a respeito do assunto e todos afirmaram que o perfil de um jogador é diferente do de um criador de jogos”, explica Camarotti. Para ele, é como a diferença entre um cinéfilo (aficionado por filmes) e um cineasta. “Por mais que o ciné-filo conheça os filmes a fundo, não quer dizer que ele vai ser um bom cineasta. O mesmo vale para o desenvolvedor ver-

sus jogador”, explica.Na história do grupo está a

primeira lição para os aspiran-tes a desenvolvedores. Como a maioria dos iniciantes na área, eles começaram tentando construir algo que estava fora de seu alcance: um jogo de mundo aberto, nos moldes do conhecido Second Life. Ba-tizado de Atairu, o jogo teria fins educativos, podendo ser utilizado até em salas de aula.

O grupo, que não tinha ex-periência em gamedev, aban-donou o projeto. Para Saulo Camarotti, o jogo era grande demais para ser desenvolvido pelo time. “Nenhum membro da equipe tinha trabalhado com jogos. Como não havia nenhum professor especiali-zado na área para nos acom-panhar, tivemos de ir atrás de tudo por conta própria”, revela. Para Guerra, produzir um jogo é mais difícil do que ele espe-rava. “Tivemos o preconceito de achar que a produção seria fácil”, admite.

Foi aí que eles descobriram

JULIANA LEÃO

BRUNO SILvA

PEDRO (D) E SAULO (AO FUNDO) GANhARAM PRÊMIO COM O MAGNETOWARE

as limitações que os levaram a pensar em fazer projetos pequenos e rápidos, mas que pudessem ser concluídos. Com esse pensamento surgiu o Magnetoware, de estilo clás-sico como Super Mario Bros, em que são utilizados blocos

magnéticos para se desviar de obstáculos. Após o duro tra-balho, veio a recompensa com o prêmio do SBGames, na cate-goria XNA (plataforma de cria-ção de jogos desenvolvida pela Microsoft, para PC e o console da empresa, o Xbox 360).

Terceira etapa: Produção online (1 semana)Os criadores se encontram apenas via internet para corrigir falhas de progra�mação e finalizar detalhes.

Quarta etapa: Reunião de aprovação (1 semana)O jogo é distribuído para os membros do grupo e al�guns beta�testers (pessoas que avaliam a dificuldade e procuram falhas). É apro�vado o produto final.

Primeira etapa: Definir conceitos e equipe ( 1 a 2 semanas)

Reuniões para definir o conceito primordial do jogo e quem será respon�sável pela criação. São discutidos a história e os personagens.

Segunda etapa: Reuni�ões de trabalho (2 meses)

Os integrantes se reúnem e desenvolvem tudo rela�cionado ao funcionamento do jogo e à mecânica do game, os níveis de dificul�dade, os mapas. Os artistas gráficos fazem os quadros de animação, os menus e os personagens.

Confira o processo de produção de um jogo de desenvolvimento rápido:

VIDEOGAMES

Novos estudos da UnB e da Embrapa transformam plantas da região em remédios, tranquilizantes e herbicidas

FOTO: MARINA BOSIO

Page 7: Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

7Esporte e Saúde((

O ex-nadador defende o modelo universitário norte-americano de incentivo à competição no esporte O esquema poderia ser seguido pelo Brasil, o que aumentaria a produção de atletas de elite

Novo desafio

física e a orientação correta aos diabéticos.

De acordo com a coordena-dora, “o diabético precisa ter um conhecimento da doença e desenvolver habilidades para se tratar, pois precisa de cuidados contínuos”. A ênfase principal do projeto é levar a seus alunos a educação em diabetes. Den-tro dessa proposta, o Progra-ma Doce Desafio é dividido em cinco áreas: alimentação saudável; exercício físico ori-entado; medicamentos quan-do necessário; autocuidados e aspectos psicossociais.

As reuniões acontecem no Centro Olímpico da UnB de manhã e à tarde, duas vezes

por semana. No mês passado, o programa se estendeu a Sa-mambaia e Sobradinho. Nestes locais, os encontros acontecem em postos de saúde e espaços para prática de esporte. Se-gundo Jane, só não são aten-didas mais cidades-satélites por falta de pessoal. Crianças a partir de quatro anos de idade já podem participar do programa, mas para elas e para os adolescentes até 15 anos os encontros são mensais, em grupos separados.

No início das aulas, os alu-nos (em sua maioria acima de 50 anos de idade) colo-cam numa pasta individual seus dados relacionados à

alimentação e medições de glicemia e pressão. Depois do preenchimento das fichas, são feitas as atividades físicas su-pervisionadas pelos monitores. Por último, os alunos partici-pam de debates ou palestras, assistem a vídeos e jogam. E assim aprendem mais sobre a doença e sobre si próprios.

O programa ajudou a aluna Eli Cunha França, 65 anos. “Aprendi a não cometer exa-geros na alimentação e na vida”, avalia. Luzemir Lamim, 52 anos, diabética há oito, já sa-bia da existência do Doce Desafio há quatro anos, mas só procurou o projeto agora. “Vi panfletos do programa no posto de saúde perto de onde eu moro, na Vila Planalto, mas só comecei a vir nas reuniões agora, quando meu filho con-firmou pela internet que ainda existiam”.

Luzemir diz que sentiu ne-cessidade de fazer exercícios físicos para fortalecer a mus-culatura e os ossos, por isso foi até o Centro Olímpico pro-curar o Doce Desafio. “Não é qualquer academia que pode ajudar nesse caso”, afirma.

estrutura. Obviamente, uma olimpíada necessita de inves-timento de bilhões de dólares. E, baseado nos jogos Pan-

Medalhista olímpico, ex-nadador, palestrante, comentarista es-portivo e autor de livros infantis, o ídolo nacional Gustavo Borges conta, em entrevista exclusiva ao Campus, que a universidade brasileira não tem cultura de incentivo ao esporte competitivo. O recordista mundial defende a concessão de bolsas pela universidade como uma forma de incentivo à pratica de esportes. Atualmente, Gustavo ministra palestras motivacionais pelo Brasil, nas quais utiliza a sua experiência de campeão como um meio para ensinar as pessoas a atingir objetivos e suportar as pressões do dia-a-dia.

Campus - Nos Estados Uni-dos você passou pelo esque-ma universitário em que, além de estudar e trabalhar, a parte atlética é integra-da à rotina universitária. Você acha que as universi-dades brasileiras têm cultu-ra de incentivo ao esporte?Gustavo Borges – Têm sim. Inclusive temos o Jubs, que são as Olimpíadas Universitárias. Temos também as Atléticas das universidades, que são as-sociações que promovem ati-vidades esportivas e integra-ção entre os alunos. O que o Brasil não tem é uma cultura de esporte competitivo para concorrer com os clubes for-madores de atletas, porque há uma grande distância entre

você trabalhar o esporte e você trabalhar o esporte competiti-vo. Quando você trabalha o es-porte competitivo, você precisa de organização e investimento um pouco maior. E isso de-manda tempo e um pouquinho mais do aspecto financeiro. Pa-íses como os Estados Unidos e a Austrália têm uma produ-ção de atletas muito intensa e toda uma estrutura universitá-ria envolvida. O ritmo é bem diferente do que temos aqui.

Campus – Qual é o me-lhor caminho para a uni-versidade brasileira incen-tivar a pratica de esportes?GB - O modelo americano é um modelo que pode ser muito utilizado em qualquer situação

em termos de universidade. Os Estados Unidos concedem um número X de bolsas que são designadas para cada esporte. Além disso, eles têm direto-rias esportivas que têm verba para a concessão de bolsas, bancadas pela universidade, como uma verba competiti-va para que o estudante possa representar a sua universidade em determinadas situações. Esse seria o melhor formato.

Campus - O que você acha de situações como a da gi-nasta Jade Barbosa, que so-fre com a falta de patrocínio, tendo que vender camisetas pra tratar uma lesão no pulso?GB - Triste. O atleta passa por situações como essa e, ainda assim, é obrigado a manter o desempenho, treinando em alto nível em todos os momen-tos. A dificuldade de patrocí-nio acontece principalmente nos anos pós-olímpicos. Existe um ciclo: o primeiro ano após as Olimpíadas é o mais difícil. Depois temos o ano de Copa do Mundo, quando a aten-ção fica voltada pro futebol. Depois temos os jogos Pan-

Americanos, onde começamos a ter um nível de investimento muito alto nos atletas amado-res. E depois temos a olimpí-ada, que é o grande auge. E não se trata de algo bom ou ruim, mas é assim que funciona. Como tudo na vida é formado por ciclos, esse é o ciclo de investi-mento financeiro no esporte. Ago-ra, a Jade merecia um pouco mais de atenção das empresas pra fazer o seu treino e re-presentar o Brasil.

Campus - Você acha que o Brasil teria condições de sediar uma olimpíada em 2016 com tantos problemas sociais?GB - Lógico que sim. É só in-vestir. Eu acho que, na verdade, a pergunta é a seguinte: será que vale a pena investir num lado e não investir no outro? Eu acho que ter uma olimpí-ada no Brasil seria ótimo. O Pan-Americano foi um belo exemplo de organização e de

LUCIANA ALBUQUERQUE

É preciso investir no esporte competitivoO medalhista afirma:

Ir além do ensino. Por em prática a pesquisa e a ex-tensão. Unir os três pilares

de uma universidade num só projeto. Esses são os resulta-dos do programa de educação em diabetes Doce Desafio, criado em 2001 na Faculdade de Educação Física da UnB. De 18 a 22 de outubro deste ano, o projeto vai participar do 20° Congresso Mundial de Diabetes, que será realizado em Montreal, no Canadá. Até hoje, o Doce Desafio já contou com a participação de mais de 500 diabéticos e levou pesqui-sas de estudantes e professores a outros congressos nacionais e internacionais.

Segundo a coordenadora do programa, Jane Dullius, ex-istem poucos projetos de edu-cação em diabetes no DF para atender as 125 mil pessoas com a doença (6% da população). Nesses programas, uma parte importante do tratamento do diabetes, que é o exercício físi-co, não estava tendo sua devida atenção. Mais uma motivação para a criação do Doce De-safio. Jane, como professora de educação física, também tinha o objetivo de levar a atividade

SAÚDE

Pedra, papel e tesoura. Seja por falta do que fazer ou na pura inocência lúdica de passar o tempo, você já jogou

isso um dia. Se você não conhece, eis a versão resumida: decida entre um dos três. Pedra vence tesoura, que vence papel, que vence pedra. No futebol, o joquempô serviria no máximo como método “justo” para decidir o time em que jogará o perna-de-pau que sempre sobra na partida da sua quadra.

No entanto, a brincadeira japonesa encontra o esporte bretão da melhor forma na teoria criada pelo o estudante da UnB Guilherme Oliveira, que propago nesta coluna Ela relaciona de maneira igual três elementos do ludopé-dio: jogador (ou técnico), clube e o futebol em si.

O clube é maior que jogador/técnico. Quando eles ousam não honrar a camisa, os torcedores são os primeiros a vociferar esta parte da teoria. Um clube tem a história de sua fundação, seu lugar, seus símbolos, que lhe dão identi-dade. Por mais que a história dos times seja construída por aqueles que conquistam títulos dentro de campo, eles são apenas parte desse todo, dessa “cara” do clube.

Por sua vez, o futebol é maior do que o clube. A história de clubes como América-RJ são prova disso: foram vence-dores no passado, tornaram-se tradicionais, e amargam no limbo hoje em dia. O Santa Cruz, um exemplo moderno, sofreu quatro rebaixamentos seguidos. Por mais triste que seja, é assim. O futebol se renova.

Para fechar o ciclo, o jogador é maior do que o fute-bol. Esta se aplica aos monstros sagrados. De Leônidas da Silva a Messi, os craques, ao passarem pelos gramados, deixam a sua marca e revolucionam o futebol e deixam este espetáculo secular sempre atrativo para nós, espectadores.

Chute do Campus

Por Bruno Silva

Esporte, palpites e filosofias de boteco

O joquempô do futebol

Programa para diabéticos terá pesquisas de estudantes e professores da UnB apresentadas em congresso mundial

AMANDA GONZAGA

ALUNA DO PROJETO FAz EXERCÍCIO FÍSICO COM MONITORES

Americanos do Brasil que eu vivenciei, seria uma olimpíada excepcional. Agora, o controle disso, ou seja, para onde vai o dinheiro, onde vai ser aplicado,

como vai ser utilizado, se é melhor investir nisso ou

no social, são outras questões. Mas que

têm condições, têm sim.

“Estados

Unidos e Austrália têm

uma produção de atletas muito

intensa graças ao envolvimento das suas universidades

Informações: 33072252 www.proafidi.com.br

Como a lógica do jogo japonês se aplica ao futebol

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ILUSTRAÇÃO: ANIGER DE OLIVEIRA

Page 8: Desnutrição mata 79 vezes mais índios que brancos

8 Comportamento ))

O que eles querem é DANÇAR

Salto alto para as mulhe-res, sapato para os ho-mens. Perfume e uma

roupa confortável. É dia de salsa! Mas também pode ser de zouk, forró, bolero, samba. O que importa é que é noite de encontro. Os amantes da dança se conhecem muito bem. Frequentam as mesmas festas, os mesmos bailes. E não são poucos. A capital federal tem um número considerável de adeptos da modalidade, são mais de 30 locais para prática só no Plano Piloto. Jovens, adultos, idosos, alunos, exe-cutivos, professores. Não im-porta a idade nem a profissão, o que eles querem é dançar... bem juntinhos!

“Dois dias por semana eu saio para dançar. Quinta e sexta são os dias de balada”, conta Gilson Sobral, 62, pro-fessor da UnB há 10 anos, que herdou no sangue nordestino o gosto pelo forró. Dançador desde os 14 anos, ele diz que “dança se aprende dançando”. Às segundas e quartas, Gilson aprende salsa, e nas terças e quintas pratica o samba.

Gilson é frequentador as-síduo de boates que tocam sal-sa e zouk, os ritmos mais “cali-

entes” da dança de salão. Os locais são pontos de encontro dos apaixonados pela dança. Quem também gosta de dan-çar é a contadora Maria de la Encarnación Ponce, a Mariê, como é mais conhecida.

Mariê é uma espanhola de 57 anos que há 40 mora no Brasil. Quando chegou a Brasília havia poucos luga-res dedicados aos amantes da dança de salão. Moradora da 113 norte na época, ela atra-vessava a Asa Norte todos os sábados e ia com os amigos a pé até a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), no Setor de Clubes Sul. “Quando vou aos bailes hoje, os homens demoram a me chamar para dançar, preferem as novinhas. Mas quando me chamam, não largam mais. Eu danço bem mesmo”, conta Mariê, rindo.

A maioria dos praticantes faz aulas em academias espe-cializadas, outros apenas fre-quentam as festas do gênero. Segundo eles, a escolha pelo tipo de dança está relacionada principalmente aos benefícios à saúde física e mental e à beleza dos movimentos e dos passos da modalidade. Embo-ra negado por alguns, um fa-tor decisivo para a escolha da dança a dois é, sem dúvida, o contato social que ela propor-

ciona. Conhecer pessoas no-vas, interagir e quem sabe namorar.

“Quando uma pessoa prati-ca dança de salão, as partes sentimental, social e afetiva dela não podem ser desconsi-deradas, porque muitas vezes isso é o que a motiva a dançar”, explica o professor de Educa-ção Física Eduardo Landivar, de 29 anos, que há dez ensina dança de salão. Ele diz que a dança proporciona uma ele-vação da autoestima ligada à própria sensualidade dos mo-vimentos, o que permite um aumento da autoconfiança e uma consequente abertura ao relacionamento com outras pessoas.

No balanço do amorEduardo Ramos, 43, as-

sessor de imprensa, e Iêda Dias, 38, funcionária da Caixa Econômica Federal se co-nheceram numa academia de dança de salão. Era o segundo sábado de fevereiro de 2006, dia de baile na academia. Du-rante a tarde, Iêda resolveu passar por lá para talvez rea-lizar seu antigo desejo de aprender a dançar. Ao entrar na turma para uma aula ex-perimental, conheceu Eduar-do, que a convidou para a festa à noite. “A turma tinha mais

NAIRA GOMES TAÍSSA DIAS

ENTRE UM PASSO E OUTRO, IÊDA DIAS E EDUARDO RAMOS FAzEM DA DANÇA UM MOMENTO DE CUMPLICIDADE

homens que mulheres, eu não tinha ninguém para ir comigo ao baile, por isso a convidei e insisti para ela ficar na turma”, confessa Eduardo.

Depois da festa, foram três meses saindo para dançar to-dos os fins de semana. Em uma dessas saídas, em meio ao ritmo da música latina aconte-ceu o primeiro beijo. Daí para o casamento foi um passo. Na

cerimônia, nada de valsa. Ao invés disso, salsa. Na lua de mel na Venezuela, descobriram que no alto da América do Sul se dança salsa no meio da rua. “Era uma variedade diferente de salsa, uma espécie de ser-tanejo da Venezuela. Eduardo me convenceu a dançar bem no meio da rua”, conta Iêda.

Para o casal, a dança de sa-lão é um elemento de união

entre os dois. Uma forma de fortalecer o relacionamento a cada dia. “Nós temos que di-vidir nosso dia a dia entre tra-balho, família, casa. Quando dançamos, temos um momen-to só nosso, um momento de cumplicidade. Inclusive, mes-mo quando tivermos filhos, pretendemos manter sempre um tempo reservado para a dança”, afirma Iêda.

Bem mais do que um benefício à saúde e uma diversão, salsa, zouk e forró podem ser uma importante forma de interação social

JOGOS E HUMOR

FOTO: ANNA CAROLINA VILELA

ILUSTRAÇÃO: PAULO GARCIA

Dançar faz bem, mas é preciso estar atento aos detalhes. O Campus, infelizmente, não pode lhe ensinar os passos, mas pode treinar a sua capacidade de observação!

RESPOSTA

:1- copo de baxo, 2 pé direito da m

esa, 3- furo do vinil da esquerda, 4- serpentina azul a esquerda, 5 - pulseira da m

ulher, 6- lampada do lustre da luz, 7- grade de som

a esquerda

Sete Erros

Nesta edição apresentamos um novo personagem: o Mano Presunto. Apesar de não se mover, não falar e sempre permanecer em estado vegetativo, o batuta Mano Presunto sempre tem uma carta na manga.Quadrinhos

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Ilustração: Aniger de Oliveira

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Confira as respostas na próxima edição do Campus!

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