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Despacho Hidrotérmico com Critério de Aversão ao Risco: Impacto na Expansão da Geração do Sistema Felipe Lucas Farias Gomes Nazaré PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA Orientador: Glauco Nery Taranto Co-orientador: Bernardo Vieira Bezerra RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL FEVEREIRO 2017

Despacho Hidrotérmico com Critério de Aversão ao Risco ...monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10019842.pdf · Ao professor Glauco Nery, por sua orientação durante o

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Despacho Hidrotérmico com Critério de Aversão ao Risco:

Impacto na Expansão da Geração do Sistema

Felipe Lucas Farias Gomes Nazaré

PROJETO SUBMETIDO AO CORPO

DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA

POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO

PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO

GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA

Orientador: Glauco Nery Taranto

Co-orientador: Bernardo Vieira Bezerra

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

FEVEREIRO 2017

Despacho Hidrotérmico com Critério de Aversão ao Risco:

Impacto na Expansão da Geração do Sistema

Felipe Lucas Farias Gomes Nazaré

PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.

Examinado por:

____________________________________________

Professor Glauco Nery Taranto Ph.D.

____________________________________________

Professor Antonio Carlos Siqueira de Lima, D.Sc.

____________________________________________

Professora Karen Caino de Oliveira Salim, D.Sc.

___________________________________________

Engenheiro Bernardo Vieira Bezerra D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

FEVEREIRO 2017

ii

Farias Gomes Nazaré, Felipe Lucas.

Despacho hidrotérmico com critério de CVaR-

Custo: Impacto na expansão do sistema / Felipe Lucas Farias

Gomes Nazaré - Rio de Janeiro: UFRJ/ESCOLA

POLITÉCNICA, 2017.

X, 68 p.: il,; 29,7 cm.

Orientadores: Glauco Nery Taranto, Bernardo

Vieira Bezerra.

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/ Curso de

Engenharia Elétrica, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 80-81

1. Planejamento da Expansão da Geração, 2.

Aversão ao Risco, 3. Conditional Value at Risk, 4. Despacho

Hidrotérmico. I. Nery Taranto, Glauco et al II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia

Elétrica. III. Despacho hidrotérmico com critério de CVaR-

Custo: Impacto na expansão do sistema

iii

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Luís Filipe e Gerusa, por todo carinho, compreensão, amor e educação,

os quais possibilitaram moldar-me como um cidadão de caráter, me aconselhando e

apoiando em situações de dúvida, medo ou fraqueza, além de sempre serem meus

exemplos de vida e meus suportes durante todos momentos.

À instituição de ensino UFRJ, por propiciar durante todos estes anos meu

desenvolvimento como profissional e permitir conhecer grandes amigos, os quais desejo

levar para muito além desta graduação.

Aos meus professores, que proporcionaram meu desenvolvimento como profissional com

ensinamentos tanto técnicos, como pessoais, cruciais na minha trajetória de vida.

Ao professor Glauco Nery, por sua orientação durante o curso e auxílio na realização

deste trabalho.

À PSR Consultoria, pelas ferramentas e profissionais os quais estiveram disponíveis para

auxiliar-me na execução deste projeto. Particularmente, agradeço ao meu co-orientador

Bernardo Bezerra, pela confiança, paciência e por ser meu grande exemplo de

profissional, a Ricardo Perez, Martha Carvalho, Celso Dall’orto e Gabriel Cunha pelos

incentivos, amizades e dedicação para construção deste trabalho.

A Deus.

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheira Eletricista

Despacho Hidrotérmico com Critério de Aversão ao Risco:

Impacto na Expansão da Geração do Sistema

Felipe Lucas Farias Gomes Nazaré

02/2017

Orientador: Glauco Nery Taranto

Co-orientador: Bernardo Vieira Bezerra

Curso: Engenharia Elétrica

Um desafio do planejamento do despacho energético de um sistema hidrotérmico é a

incerteza hidrológica. Dentre os inúmeros possíveis cenários, alguns podem resultar em

situações críticas para o sistema, levando-o a racionamentos. Com intuito de reduzir esse

risco, alguns mecanismos de aversão ao risco podem ser incorporados, pré-acionando

usinas térmicas. Contudo, durante o planejamento da expansão do sistema, tais

mecanismos de aversão não são considerados, de modo que durante esse cálculo não há

representação fiel do despacho realizado pelo operador, levando a um plano de

investimento com falhas. Este trabalho, por sua vez, busca analisar o impacto de

diferentes ações sobre o plano de expansão considerando CVaR como mecanismo de

aversão. A base para as análises é o sistema da Costa Rica, que se assemelha ao sistema

brasileiro em termos de fontes de energia. Em complemento, análises no âmbito de custos

de operação e expansão são realizadas a fim de avaliar as consequências do

desacoplamento entre planejamentos.

Palavras-chave: Planejamento da Expansão da Geração, Aversão ao Risco, Conditional

Value at Risk, Despacho Hidrotérmico.

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

Hydrothermal Dispatch with Risk Aversion Criteria:

Impact in System Generation Expansion

Felipe Lucas Farias Gomes Nazaré

02/2017

Advisor: Glauco Nery Taranto

Co-advisor: Bernardo Vieira Bezerra

Course: Electrical Engineering

A challenge of energy dispatch planning of a hydrothermal system is the hydrological

unpredictability. Among many possible inflow scenarios, some may result in critical

situations, inducing to energy rationing. Aiming to reduce this risk, some risk aversion

mechanisms are incorporated, pre-dispatching thermal plants. However, during the

system expansion planning, theses aversion mechanisms are not considered, so that the

calculation does not true represent the system dispatch made by the operator, resulting in

an investment plan with faults. This work, on the other hand, pursuits the analysis of the

impact of different risk aversion levels over the expansion plan considering the

Conditional Value at Risk as aversion mechanisms. The data base is based on the

configuration like the Costa Rica system, which has a mix suchlike Brazilian system.

Moreover, these analyses use the operation and expansion costs to evaluate the

decoupling of the both planning.

Keywords: Generation Expansion Planning, Risk Aversion, Conditional Value at Risk,

Hydrothermal Dispatch.

vi

Sumário

1 Introdução ............................................................................................................... 11

1.1 Motivação ........................................................................................................ 11

1.2 Objetivo ........................................................................................................... 12

1.3 Estruturação ..................................................................................................... 12

2 O Problema do Despacho Ótimo ............................................................................ 14

2.1 Descrição.......................................................................................................... 14

2.2 Sistemas Puramente Térmicos ......................................................................... 15

2.2.1 Formulação Matemática ........................................................................... 16

2.2.2 Custo Marginal de Operação .................................................................... 18

2.3 Sistemas Hidrotérmicos ................................................................................... 19

2.3.1 O Acoplamento Temporal e o Custo de Oportunidade ............................ 19

2.3.2 Funções de Custo Imediato, Custo Futuro e Custo Total ......................... 22

2.3.3 Formulação Matemática ........................................................................... 23

2.3.4 Formação da Função de Custo Futuro ...................................................... 25

2.3.5 A Aversão ao Risco no Problema de Planejamento ................................. 29

3 O Problema do Planejamento da Expansão ............................................................ 37

3.1 A Expansão Ótima da Oferta de Geração de Energia ...................................... 37

3.1.1 Metodologia de Minimização do Custo Total .......................................... 38

3.1.2 Igualdade entre CME e CMO ................................................................... 39

3.1.3 Formulação Matemática do Problema ...................................................... 41

3.1.4 Estratégia de solução do Problema de Expansão...................................... 42

3.1.5 Modelo OPTGEN ..................................................................................... 44

3.2 A Expansão do Sistema Interligado Nacional ................................................. 45

3.2.1 Histórico ................................................................................................... 45

3.2.2 Metodologia de Contratação Atual: Os Leilões de Energia ..................... 47

3.2.3 Cálculo da Garantia Física ........................................................................ 49

vii

3.2.4 Cálculo Atual do CME ............................................................................. 52

3.2.5 Principais Críticas à Metodologia Atual ................................................... 53

4 Aversão a risco no Planejamento da Expansão ...................................................... 56

4.1 O Desacoplamento entre a Expansão e o Planejamento da Operação ............. 56

4.2 O Impacto da Aversão ao Risco no Cálculo da Carga Crítica do Sistema ...... 58

4.2.1 Exemplo .................................................................................................... 59

4.3 O Impacto do CME no Cálculo da Carga Crítica do Sistema ......................... 60

4.3.1 Exemplo .................................................................................................... 61

5 Estudos de Caso ...................................................................................................... 64

5.1 Costa Rica ........................................................................................................ 64

5.1.1 Configuração ............................................................................................ 64

5.1.2 Análise de resultados ................................................................................ 66

5.1.3 Avaliação do Desacoplamento entre Planejamento da Expansão e Operação

74

6 Conclusão ............................................................................................................... 77

7 Trabalhos Futuros ................................................................................................... 79

8 Bibliografia ............................................................................................................. 80

viii

Lista de Figuras

Figura 1: Curva de Ordem de Mérito ............................................................................. 17

Figura 2: Dilema da operação de sistemas hidrotérmicos .............................................. 20

Figura 3: Funções de Custo Imediato, Custo Futuro e Custo Total ............................... 22

Figura 4: Esquema da discretização do estado do problema .......................................... 26

Figura 5: Esquema da solução do problema no estágio T-1 ........................................... 26

Figura 6: Formação da função de custo futuro por meio de Cortes de Benders............. 28

Figura 7: Detalhamento da metodologia de superfície de aversão ao risco (CPAMP, 2013)

........................................................................................................................................ 32

Figura 8: Representação gráfica da metodologia VaR ................................................... 33

Figura 9: Representação gráfica da metodologia do CVaR ........................................... 34

Figura 10: Implementação da metodologia do CVaR no cálculo da política operativa

(CPAMP, 2013) .............................................................................................................. 35

Figura 11: Exemplo gráfico do problema da expansão ótima ........................................ 39

Figura 12: Processo iterativo da metodologia do problema de expansão ótima ............ 43

Figura 13: Função de Custo de Investimento e aproximação da Função de Custo de

Operação ......................................................................................................................... 44

Figura 14: Esquema do acoplamento entre OPTGEN e SDDP ...................................... 45

Figura 15: Cronologia de leilões de energia nova e energia existente ........................... 49

Figura 16:Representação do planejamento do setor ....................................................... 57

Figura 17: Representação do planejamento do setor considerando CVaR na expansão 57

Figura 18: Esquema de aplicação de CVaR no problema de expansão .......................... 58

Figura 19: Impacto da aversão ao risco sobre a carga crítica do sistema ....................... 59

Figura 20: Risco implícito do sistema para diferentes critérios de aversão ao risco ...... 60

Figura 21: Alteração da carga crítica com relação ao CME ........................................... 61

Figura 22: Risco implícito do sistema para diferentes valores de CME ........................ 62

Figura 23: Capacidade instalada do parque gerador do caso em estudo ........................ 65

Figura 24: Curva de ordem de mérito do sistema ........................................................... 65

Figura 25 - Balanço de potência ..................................................................................... 66

Figura 26 - Custo total do sistema considerando diferentes níveis de aversão ao risco

somente na operação ....................................................................................................... 67

Figura 27: Caso I – Custos do sistema ........................................................................... 68

Figura 28: Caso I - Capacidade instalada ....................................................................... 69

ix

Figura 29: Caso I - CMO e Risco ................................................................................... 70

Figura 30: Caso II - Custos do sistema ........................................................................... 71

Figura 31: Caso II - Capacidade instalada ...................................................................... 72

Figura 32: Caso II - Mix da decisão de investimento ..................................................... 72

Figura 33: Caso II - CMO e Risco de Déficit ................................................................. 73

Figura 34: Metodologia para avaliação do impacto do desacoplamento entre operação e

expansão ......................................................................................................................... 74

Figura 35: Custos de expansão e operação para diferentes planejamentos .................... 75

Figura 36: Risco de déficit médio .................................................................................. 76

x

Lista de Tabelas

Tabela 1: Histórico de CME ........................................................................................... 53

Tabela 2: Resumo do impacto da aversão ao risco e CME sobre a carga crítica ........... 62

Tabela 3: Custo total do sistema para diferentes aversões ao risco na operação ............ 67

Tabela 4: Caso I - Custos das usinas térmicas ................................................................ 68

Tabela 5: Caso I – Custos do sistema ............................................................................. 69

Tabela 6: Caso II - Custos das usinas térmicas .............................................................. 71

Tabela 7: Caso II - Custos do sistema ............................................................................ 71

Tabela 8: Expansões utilizadas para análise de planejamentos ...................................... 75

Tabela 9: Custo total do sistema considerando diferentes planejamentos...................... 75

11

1 Introdução

1.1 Motivação

A determinação da geração de energia elétrica de usinas é um dilema recorrente do setor

elétrico. A predominância de usinas hidrelétricas no sistema resulta na maior

complexidade e dependência de variáveis probabilísticas, resultando em simulações

operativas para diversos possíveis cenários. Anteriormente, o cálculo do preço de energia

era feito utilizando como base o valor esperado do custo futuro dos cenários percorridos.

No entanto, alguns destes cenários amostrados percorriam regiões de muito estresse para

o setor, necessitando cortes de carga. Devido à aversão do operador a estes cenários

críticos, o planejamento da operação necessitava de incorporação de mecanismos que o

torna avesso às condições de corte de carga. Por este motivo, foram elaborados diferentes

alternativas e metodologias a fim de proteger o sistema contra racionamentos, como

modificação da taxa de desconto (CUNHA et al., 2014), função de custo de déficit

(COSTA, 2013), procedimento operativo de curto prazo (POCP) (COSTA, 2009), valor

esperado condicional (CVaR) (CPAMP, 2013), superfície de aversão ao risco (CORREA

CESAR, 2015), curva de aversão ao risco (CAR) (COSTA, 2009), entre outras mais.

Dentre as possibilidades apresentadas durante anos, o sistema brasileiro passou pela

CAR, POCP e CVaR, optando recentemente pela adoção da superfície de aversão ao

risco, que deverá ser incorporada ao planejamento da operação no início de 2018.

Além do problema de decisão de despacho de usinas, outro ponto importante para o

sistema é o planejamento de sua expansão. A decisão conflitante neste caso está

relacionada à decisão do operador em utilizar recursos do parque gerador existente ou

contar com nova oferta de suprimento. Uma possibilidade de solução para este problema

está relacionada à otimização, que neste caso tem por objetivo minimizar o custo total do

sistema considerando que este é composto pelo custo operativo e o custo de investimento.

Em linhas gerais a solução deste problema se encontra no plano de expansão, onde atender

um incremento operando os recursos existente tem o mesmo custo de atender por meio

de nova oferta. Em outras palavras, no ponto onde o valor esperado do custo marginal de

operação se iguala ao custo marginal de expansão, 𝔼(𝐶𝑀𝑂) = 𝐶𝑀𝐸.

12

No contexto brasileiro, o planejamento da expansão é apenas indicativo, tendo como

objetivo guiar os investidores e formuladores de política energética. Este plano de

expansão é construído de maneira a garantir a igualdade acima (PDE, 2015). A expansão

na vida real é incentivada por meio de regulação, que obriga que todo consumo esteja

100% contratado. Como os contratos são respaldados sempre por certificados de garantia

física, garante-se que sempre haverá maior quantidade de oferta que demanda

(BARROSO et al., 2011). O critério de igualdade entre custo marginal de expansão e

valor esperado do custo marginal de operação, por sua vez, é aplicado sobre o cálculo de

garantia física de empreendimentos (ÁVILA et al., 2013). Assim, se toda a demanda

estiver 100% contratada, espera-se que a igualdade seja respeitada, permitindo, em teoria,

a contratação de energia de maneira ótima para o sistema.

Contudo, a incorporação do CVaR sobre o planejamento da operação energética torna o

critério adotado incorreto, uma vez que ocorre também a modificação da função objetivo

do problema de otimização, sendo agora a otimização do custo global para o sistema,

composto por custo de investimento, e CVaR do custo operativo. Isto, no entanto, não é

aplicado no planejamento do sistema brasileiro, mantendo-se a formulação inicial do

problema. Uma consequência para este problema é a obtenção de uma solução não-ótima,

o que traz custos adicionais à sociedade.

1.2 Objetivo

Em alguns sistemas, como o sistema elétrico brasileiro, existem mecanismos de aversão

ao risco aplicados sobre o planejamento da operação, o que resulta em custos operativos

mais elevados pelo despacho antecipado de termelétricas. O presente trabalho estuda o

impacto da introdução da metodologia de aversão ao risco CVaR no planejamento da

operação sobre a expansão do sistema de geração, avaliando custos relacionados à

expansão e operação em diferentes condições de aversão ao risco. Ainda neste contexto,

são apresentados resultados relacionados à operação, como riscos de déficit de

suprimento e custos marginais.

1.3 Estruturação

A estruturação deste trabalho foi determinada com o propósito de expor conceitos e

metodologias essenciais para entendimento dos resultados a serem apresentados.

13

Desta forma, o Capítulo 2 trata da problemática envolvida na tomada de decisão em

sistemas térmicos e hidrotérmicos. Também são introduzidas formulações matemáticas

que permitem a compreensão e análise do modelo de despacho hidrotérmico, assim como

são apresentados possíveis mecanismos de aversão ao risco a serem incorporados no

problema de despacho.

O Capítulo 3 descreve inicialmente a dificuldade de tomada de decisão sobre o

planejamento da expansão do setor. Para auxiliar nos estudos de decisão, é necessário

passar pela metodologia e formulação matemática, que também serão utilizados para

obtenção dos resultados deste trabalho. Por fim, é apresentado brevemente o histórico

brasileiro, introduzindo os mecanismos de leilões de energia atualmente empregados,

além do critério de garantia de suprimento de energia adotado.

No Capítulo 4, são definidos os problemas devido à incorporação da aversão ao risco no

planejamento do despacho hidrotérmico para o planejamento da expansão do sistema.

Além disso, apresenta-se uma análise qualitativa sobre o aumento da aversão ao risco no

cálculo da garantia física dos empreendimentos.

O Capítulo 5 analisa um estudo de caso, o sistema da Costa Rica. Os resultados das

simulações destes estudos de casos abordam o impacto da aversão ao risco sobre a

expansão do sistema, estudando também variáveis operativas e decisões de investimento

traçadas pelo modelo de expansão ótima. O estudo de caso foi desenvolvido utilizando o

modelo de expansão da geração OPTGEN (PSR, 2016), da consultoria PSR.

Ao final, o Capítulo 6 apresenta a conclusão dos estudos abordados no trabalho e o

Capítulo 7 os possíveis estudos futuros.

14

2 O Problema do Despacho Ótimo

2.1 Descrição

A principal proposta para operação de um sistema elétrico é o fornecimento de energia

através do menor custo possível. Esta proposta deverá servir como incentivo para o

planejamento da operação do sistema, que permitirá construir um cronograma de

acionamento das usinas dentro de um período específico, segmentado por estágios (que

podem ser minutos, horas, dias, semanas ou meses). Esses estágios são definidos com

base no objetivo do estudo, na capacidade de regularização do sistema, no detalhamento

da operação, para reprogramação a partir da atualização de condições iniciais decorrentes

da operação e realização dos últimos estágios, entre outros interesses. Buscando otimizar

a operação do sistema, o operador enfrenta diversas dificuldades, tanto operativas, as

quais pode-se citar as restrições de disponibilidade de usinas, limites de transmissão e

confiabilidade do sistema frente a contingências; quanto energéticas, como operação

incluindo fontes intermitentes (eólicas, solares e usinas a biomassa), e, principalmente,

impacto da incerteza hidrológica sobre o planejamento. Toda complexidade existente

dentro do sistema leva a diferentes ferramentas para apoiar a decisão do operador em

ocasiões distintas. Com o objetivo de estabelecer uma meta de geração para usinas a curto

e médio prazos, alguns programas de otimização estocástica são utilizados, permitindo

estimar o despacho de cada usina geradora (PEREIRA, 1991).

Em face de sistemas puramente térmicos, a decisão de operação é baseada no custo

operativo das usinas disponíveis no estágio atual, não havendo acoplamento temporal

(quando não são considerados dados de “unit commitment” ou usinas a Gás Natural

Liquefeito, que dependem de carregamento de combustível, por exemplo). Dentre as

informações explicitadas pelas usinas térmicas, um dos principais é o custo variável

unitário, CVU, o qual permite ranquear de acordo com o custo de operação da usina para

atendimento à demanda. Esta ordenação é a base utilizada pelo operador para definir quais

usinas deverão ser acionadas a fim de cumprir a restrição de demanda. Algumas

simplificações são aplicadas a este problema, tendo em vista que existem numerosas

variáveis probabilísticas. O problema proposto neste trabalho desconsidera parte destas

variáveis, incluindo contingências e alterações repentinas na carga do sistema, por

exemplo.

15

Como é de conhecimento geral, o sistema brasileiro não é puramente térmico. Com a

existência de grandes usinas hidrelétricas conectadas ao sistema, ocorre a inserção de

incertezas que dificultam ainda mais a decisão operativa, mas que podem auxiliar também

em decisões de tomada de carga e redução do custo total da operação.

Incertezas causadas por vazões afluentes em rios é um dos principais parâmetros que

causam variabilidade nas projeções de despacho. A grande inserção de usinas

hidrelétricas destes sistemas resulta em maior dependência da vazão afluente, que é uma

variável aleatória do problema. A partir do momento em que a programação das usinas

depende da previsão de hidrologia, existe a necessidade de projetar possíveis cenários de

vazão para estas usinas e, por consequência, possíveis cenários de geração, tanto de

hidrelétricas, quanto de térmicas. Este problema toma proporções ainda maiores quando

o sistema conta com reservatórios, uma vez que a vazão afluente em um mês interfere no

preço de energia de meses posteriores.

Já que não é possível conhecer a vazão afluente em cada usina hidrelétrica do sistema, o

problema de despacho torna-se estocástico. Com o intuito modelar o processo de decisão

sob incerteza, são realizados inúmeros cenários de afluência possibilitando o operador a

analisar uma árvore de possibilidades que poderão ser enfrentadas ao longo do período

de planejamento da operação. Esta metodologia para resolução do problema de despacho

é uma forma de correr todos os cenários de vazões possíveis, porém o desafio gerado pela

incerteza hidrológica torna-se rapidamente impraticável em termos computacionais

(PEREIRA, 1985)

Todos esses desafios incitaram a criação de metodologias que permitissem tornar o

dilema de operação em um problema matemático, o qual poderia ser resolvido através de

programação linear. Uma metodologia utilizada para programação do despacho do

sistema elétrico brasileiro é a Programação Dinâmica Dual Estocástica, também

conhecida como SDDP (PEREIRA, 1991).

2.2 Sistemas Puramente Térmicos

Alguns sistemas elétricos possuem geração elétrica realizada unicamente por usinas

termelétricas. Estes sistemas apresentam características próprias, como desacoplamento

temporal (de longo e médio prazo) e riscos de corte de carga dependente apenas de

capacidade instalada do parque gerador.

16

Esta seção fornece uma ideia geral do problema enfrentado por este tipo de sistema, além

de apresentar uma formulação matemática que possibilite sua resolução.

2.2.1 Formulação Matemática

Em busca de obter um despacho ótimo, ou seja, atender a demanda ao menor custo

possível, é necessário formular o problema descrito anteriormente por meio de equações

matemáticas. Por simplicidade, as redes de transmissão não são representadas, reduzindo

o nível de complexidade e restrições do problema.

Primeiramente, o objetivo de um operador é atender a demanda energética ao menor custo

possível, o que pode ser formulado da seguinte maneira:

𝑧 = 𝑀𝑖𝑛 ∑ 𝑐𝑗𝑔𝑗 + 𝛿𝑟

𝐽

𝑗=1

(1-1)

Sujeito a:

∑ 𝑔𝑗 + 𝑟 = 𝑑

𝐽

𝑗=1

(1-2)

𝑔𝑗 ≤ 𝑔𝑗 ∀𝑗 (1-3)

0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑑 (1-4)

Onde:

𝑧 é o custo total da operação, função cujo objetivo é minimizar ($);

𝑗 é o índice das termelétricas;

𝐽 é o número total de termelétricas;

𝑐𝑗 custo variável unitário da termelétrica 𝑗 (também conhecido como CVU) ($/MWh);

𝑔𝑗 é a geração da termelétrica 𝑗 (MWh);

𝑔𝑗 é a capacidade máxima de geração da termelétrica 𝑗 (MWh);

δ é o custo de déficit ou custo da energia não suprida ($/MWh);

𝑑 é a demanda energética (MWh);

𝑟 é o déficit energético ou energia não suprida (MWh).

17

Desta forma, a função objetivo do problema, (1-1), representa o custo total da operação,

resultado da soma do custo total de cada usina e do custo da energia não suprida. Junto a

este problema de minimização, existem as restrições operativas, as quais representam,

neste caso, (1-2) a restrição de atendimento a carga de energia, (1-3) a capacidade máxima

de geração de energia por meio da térmica 𝑗 e (1-4) o déficit energético, que é uma

restrição que limita ao valor da demanda de energia.

De acordo com a formulação, pode-se identificar que o custo de geração das usinas

termelétricas é proporcional a sua geração, resultado do consumo de combustível para

geração de energia elétrica, além de outros custos O&M variáveis.

De maneira intuitiva, a política de operação ótima nestes casos é feita de forma a acionar

as usinas em ordem crescente de custo (para atender a demanda energética, utiliza-se as

usinas mais baratas antes de acionar as usinas mais caras). Este conceito de ordenação

leva a criação de um ranking, chamado de curva de ordem de mérito, em que as usinas

são postas em escala de preço e a capacidade de geração é acumulada.

Figura 1: Curva de Ordem de Mérito

Desta forma, para sistemas puramente termelétricos, o ponto de cruzamento entre a curva

de ordem de mérito e a demanda energética do estágio de referência indicará o custo

marginal de operação, que será visto com maiores detalhes na seção seguinte. Neste caso,

o cruzamento entre a demanda e a curva fornece o custo marginal de operação do sistema,

que é aproximadamente igual a 125 $/MWh. Neste tipo de problema, existem variáveis

que são desconsideradas, tornando-o de mais fácil solução. Dentre as simplificações,

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

325

0 100 200 300 400 500 600 700

CV

U [

$/M

Wh

]

Potência Disponível [MW]

Curva de Ordem de Mérito

Potência Acumulada Demanda

18

pode-se citar o número de partidas permitidas por usinas geradoras dentro de um intervalo

de tempo e disponibilidade de combustíveis. Estes parâmetros também permitem

formular o problema sem a necessidade de acoplamento temporal.

Outra importante simplificação do modelo em estudo é a confiabilidade do sistema.

Nestes casos, contingências, manutenções entre outros fatores são representados como

médias sobre a geração máxima de usinas, reduzindo o esforço computacional.

Ainda, a geração de cada usina independe temporalmente das usinas restantes,

diferentemente do que será observado com sistemas hidrotérmicos. Conforme

comentado, as usinas térmicas são acionadas de maneira crescente com seus custos

operativos. Devido a não representação de contingências, para uma determinada demanda

energética, é de conhecimento prévio quais usinas deverão gerar por meio da interseção

da demanda energética com a curva de ordem de mérito (usinas presentes à esquerda da

curva de ordem de mérito deverão ser acionadas preferencialmente). Ressalta-se que, caso

parâmetros de confiabilidade fossem adotados, é possível que usinas mais caras pudessem

ser acionadas.

No problema proposto, a variável relacionada a energia não suprida depende apenas da

capacidade de geração do sistema. Em caso de uma demanda muito elevada, é possível

que a capacidade disponível para geração não seja suficiente para atendimento, o que

resulta em cortes diretos de carga do sistema.

Como pode ser observado, existe uma penalidade referente ao déficit. De forma

conceitual, esta penalidade representaria o valor que a energia não suprida representa à

economia, que possui grande complexidade em sua valoração. Ressalta-se que,

independentemente do valor da penalidade pelo corte de carga, sistemas puramente

térmicos não apresentam variações de sua operação (diferentemente de sistemas

hidrotérmicos), visto que todo parque gerador já estará sendo acionado para atendimento

à demanda.

2.2.2 Custo Marginal de Operação

Dentre as definições existentes na formulação, o custo marginal de operação, CMO, é

uma das variáveis mais fundamentais. A partir da solução do problema exposto, esta

variável representa o custo de atendimento de um incremento de 1 MWh na demanda por

meio das térmicas existentes, que pode ser visto, por consequência, como a derivada da

19

curva de custo em relação a demanda, 𝜕𝑧 𝜕𝑑⁄ . Com base na teoria de programação linear

(utilizada para resolução do problema de programação linear acima), a variável dual

obtida por meio do processo de relaxação lagrangeana da restrição de demanda, 𝜋𝑑,

representa esta derivada (CHVATAL, 1983).

Em um caso simplificado, com obtenção de todos os valores de geração, 𝜋𝑑 representaria

o custo associado ao último gerador em operação (ou gerador marginal), cujo CVU é 𝑐𝑗∗.

Em caso de um sistema deficitário, por não haver disponibilidade extra de operação de

nenhum dos geradores, o valor do CMO é o próprio custo do déficit.

2.3 Sistemas Hidrotérmicos

Sistemas elétricos, como o sistema brasileiro, podem contar com geração de tanto usinas

hidrelétricas quanto usinas termelétricas para atendimento à demanda energética.

Semelhantemente aos sistemas puramente térmicos, estes possuem como objetivo

programar o despacho de usinas de forma a obter os menores custos operativos.

Nota-se que, por contarem com usinas térmicas, todos problemas resultantes de sistemas

puramente térmicos também estão presentes. Todavia, novas características são

incorporadas, o que leva ao aumento da complexidade do problema. Uma das dificuldades

encontradas nestes sistemas é a estocasticidade do problema, acarretado pela dependência

hidrológica para programação de geração de usinas.

Outros problemas surgem por consequência da introdução de usinas hidrelétricas com

reservatórios. Diferentemente do despacho puramente térmico, no qual possui

independência entre despacho de usinas temporalmente, a possibilidade de

armazenamento de energia de um momento para outro leva ao acoplamento temporal do

problema de despacho, que será abordado mais detalhadamente nesta seção.

2.3.1 O Acoplamento Temporal e o Custo de Oportunidade

O problema do despacho hidrotérmico consiste em determinar uma política operativa

ótima para utilização da capacidade hidrelétrica do sistema, tendo como retorno o menor

custo operativo para todo horizonte de planejamento. Essa dificuldade ocorre com uma

condição: a possibilidade de armazenamento de energia em reservatórios (em forma de

energia potencial) para períodos seguintes, o que só é possível com a participação de

usinas hidrelétricas com reservatórios.

20

Dada essa condição, o operador de sistemas enfrenta o dilema de acionamento de usinas

térmicas a fim de armazenar água, que pode ser simplificado em forma de árvore de

decisões. A Figura 2 ilustra a ideia do dilema enfrentado.

Figura 2: Dilema da operação de sistemas hidrotérmicos

Inicialmente, a decisão de operação pode parecer simples. De maneira oposta à operação

de usinas térmicas, que possuem custos operativos proporcionais às suas gerações devido

ao consumo de combustível, usinas hidrelétricas não necessitam arcar com custos de sua

fonte de energia. Dado que o valor de turbinar a água para uma usina é zero, pode-se

determinar o turbinamento máximo de maneira a reduzir o custo operativo no estágio

atual, não acionando usinas térmicas neste estágio. Em contrapartida, a operação do

período seguinte estará sujeita plenamente às afluências de água sobre as usinas

hidrelétricas. Em caso de vazões favoráveis, a decisão operativa do estágio foi feita de

maneira correta, o que resultou em uma operação viável e econômica.

Por outro lado, dentre os cenários propostos para o exemplo, existe também a

possibilidade da ocorrência de uma hidrologia desfavorável. Caso o operador tenha

decidido utilizar todo recurso hídrico no estágio anterior, será necessário acionar grande

parte do parque gerador térmico. Esta decisão operativa, por sua vez, pode trazer custos

extremamente elevados para a sociedade e, dependendo da configuração do sistema,

eventualmente pode não ser possível cumprir a restrição de suprimento energético, não

possuindo capacidade disponível de geração suficiente, sendo necessário realizar cortes

de carga. Esta decisão operativa também é conhecida como Erro Tipo I.

Resultado da Operação

Possibilidades de Cenários

Decisão Operativa

O Problema da Operação

Acionar Usinas Térmicas?

Acionar

Altas Afluências

Vertimento

Baixas Afluências

Operação Econômica

Não Acionar

Altas Afluências

Operação Econômica

Baixas Afluências

Déficit Energético

21

Sendo assim, o operador pode então optar por armazenar parte da energia afluente na

usina hidrelétrica no estágio atual realizando o despacho de térmicas mais baratas. Neste

caso, o sistema estaria seguro em ocasiões de hidrologias desfavoráveis no estágio

seguinte, permitindo usufruir da energia armazenada para geração. Consequentemente,

evitar-se-ia o acionamento de usinas térmicas com custos muito elevados ou até déficits

energéticos. Por consequência, tem-se uma política operativa viável e econômica.

De forma análoga, se a decisão operativa seja de armazenar água para estágios futuros e

ocorra um cenário com hidrologia favorável, os reservatórios de usinas não possuirão

capacidade para armazenar a quantidade de energia afluente do estágio seguinte. Como

consequência, ocorrerá vertimento, ou seja, desperdício de energia. Percebe-se, portanto,

que parte das térmicas que foram acionadas no estágio inicial não eram estritamente

necessárias, gerando custo mais elevados para a sociedade, custos estes que poderiam ser

evitados caso a decisão fosse de turbinar água dos reservatórios. Por sua vez, este erro de

operação do sistema é conhecido como Erro Tipo II.

Este exemplo, mesmo que contendo muita simplificação, ilustra bem a ideia contida no

problema de despacho hidrotérmico. Percebe-se também que, por causa da possibilidade

de armazenamento de energia do estágio atual para o estágio seguinte, introduz-se o

acoplamento temporal ao problema. De maneira oposta ao que foi apresentado em

sistemas puramente térmicos, a geração de energia elétrica de uma usina afeta a geração

de outra em um estágio posterior.

Nota-se neste ponto que, mesmo que o armazenamento de água não reflita em custos

operativos para as usinas, o mesmo permite o deslocamento de geração de usinas térmicas

em estágios seguintes. Com isso, existe a definição de valor da água, que expressa a ideia

econômica de custo de oportunidade. Em outras palavras, quanto vale renunciar da

utilização de 1 m³ d’água hoje para sua utilização no próximo estágio.

Observa-se que o problema de despacho hidrotérmico possui duas decisões operativas

equivocadas. Uma delas, o Erro Tipo II, tem como consequência vertimento no sistema.

Aparentemente, o valor deste vertimento pode parecer simples de ser valorado.

Conhecendo a quantidade de energia desperdiçada por meio de vertimento, pode-se ter

ideia também da quantidade de energia térmica gerada no estágio anterior de maneira

equivocada. Valorando esta geração, há uma ideia do custo total pago pela sociedade

devido à decisão.

22

Em contrapartida, o Erro Tipo I, resultado de elevado turbinamento de água, o que resulta

em déficit energético, é um valor muito mais complexo de ser mensurado. Até o

momento, apresentou-se o conceito de custo de déficit, que é uma penalidade aplicada ao

modelo sobre a energia não suprida que possui viés muitas vezes matemático, não

representando de modo real o custo da energia não suprida para a sociedade.

A determinação de políticas de despacho não-ótimas e com riscos para a sociedade leva

necessidade de implementação de metodologias de aversão ao risco, que serão melhor

abordadas à frente.

2.3.2 Funções de Custo Imediato, Custo Futuro e Custo Total

Com o intuito de obter uma política de operação que resulte no menor custo total, as

metodologias atualmente empregadas neste tipo de problema realiza uma decomposição

do custo total operativo em duas parcelas distintas: i) uma função de custo imediato, 𝑐(𝑥),

e ii) uma função de custo futuro, 𝑤(𝑥). O somatório destas duas funções resulta em uma

função de custo total, 𝑧(𝑥).

Esta separação é ilustrada na Figura 3.

Figura 3: Funções de Custo Imediato, Custo Futuro e Custo Total

A partir do custo de geração termelétrica do estágio atual, 𝑡, monta-se a função de custo

imediato. Observa-se que quanto mais elevado for a decisão de armazenar energia em

reservatórios, maior também é o custo operativo deste estágio. Isto é uma consequência

direta da necessidade de acionar usinas termelétricas a fim de manter as usinas

hidrelétricas com menor turbinamento.

23

Em seguida, avalia-se a função de custo futuro. De acordo com a ideia geral de despacho

hidrotérmico apresentado na seção anterior, a função de custo futuro representaria o custo

de termelétrico da operação em estágios futuros. Ao contrário da função de custo

imediato, a função de custo futuro tem seu valor reduzido com o aumento do

armazenamento final no estágio 𝑡, pois quanto mais água armazenada para o período

seguinte, menor a necessidade de despacho termelétrico.

Por fim, a função de custo total representa a soma da função de custo imediato com a

função de custo futuro1.

𝑧(𝑥) = 𝑐(𝑥) + 𝑤(𝑥) (2)

Logo, para obter a resolução do problema exposto acima, faz-se necessário transcrever

estes conceitos em formulações matemáticas que representem o sistema físico.

2.3.3 Formulação Matemática

Analogamente à formulação apresentada para sistemas puramente termelétricos,

apresenta-se a seguir a formulação para sistemas hidrotérmicos:

𝑧 = ∑ 𝑐𝑗𝑔𝑗

𝐽

𝑗=1

+ 𝔼(𝑤𝑡+1(𝑉𝑡+1)) + 𝛿𝑟𝑡

Sujeito a: Multiplicadores:

(3-1)

𝑉𝑡+1,𝑖 = 𝑉𝑡,𝑖 + 𝐴𝑡,𝑖 + ∑ (𝑈𝑡,𝑚 + 𝑆𝑡,𝑚)

𝑚∈𝑀𝑖

− 𝑈𝑡𝑖 − 𝑆𝑡𝑖 𝜋ℎ (3-2)

∑ 𝜂𝑖𝑈𝑡𝑖

𝐼

𝑖=1+ ∑ 𝑔𝑗

𝐽

𝑗=1+ 𝑟 = 𝑑 𝜋𝑑 (3-3)

𝑉𝑡+1,𝑖 ≤ 𝑉�� 𝜋𝑣 (3-4)

𝑈𝑖 ≤ 𝑈�� 𝜋𝑢 (3-5)

Onde:

𝑖 é o índice das usinas hidrelétricas;

𝑉𝑡+1,𝑖 é o volume no reservatório da usina 𝑖 no estágio 𝑡 + 1;

1 Nota-se aqui que em sistemas puramente termelétricos a função de custo total é formada apenas pela

função de custo imediato.

24

𝑉𝑡,𝑖 é o volume no reservatório da usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝐴𝑡𝑖 é a vazão incremental (ou vazão lateral) que aflui na usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑈𝑡𝑚 é a vazão turbinada na pela usina 𝑚 a montante da usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑆𝑡𝑚 é a vazão vertida pela usina 𝑚 a montante da usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑈𝑡𝑖 é a vazão turbinada pela usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑆𝑡𝑖 é a vazão vertida pela usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑀𝑖 é o conjunto de usinas diretamente a montante da usina 𝑖;

𝑉�� é o volume máximo do reservatório da usina 𝑖;

𝑈�� é o turbinamento máximo da usina 𝑖;

𝜂𝑖 é o coeficiente de produção da usina hidrelétrica 𝑖 (MWh/hm³). Este coeficiente possui

dependência das variáveis físicas da usina, como a cota do reservatório e do canal de fuga.

Conforme comentado, o objetivo do despacho hidrotérmico mantém-se em minimizar o

custo operativo total do sistema dentro do horizonte de estudo. Para isso, a modelagem

deste problema leva em consideração o custo operativo do estágio atual, representado

pelo custo operativo térmico, ∑ 𝑐𝑗𝑔𝑗𝐽𝑗=1 , e o custo do déficit energético atual, 𝛿𝑟𝑡, e, agora,

um novo termo, 𝔼(𝑤𝑡+1(𝑉𝑡+1)), que representa o valor esperado do custo de operação

futuro em relação ao estado final do reservatório da usina 𝑖.

Adicionalmente, tem-se novas restrições ao problema. A restrição (3-2) equaciona o

balanço hídrico das usinas hidrelétricas. Este representa fisicamente a disponibilidade de

água sobre o reservatório da usina 𝑖 ao final do estágio 𝑡 (início do estágio 𝑡 + 1), que é

composto pelo volume inicial do estágio atual, 𝑉𝑡, a afluência de água diretamente sobre

esta usina, 𝐴𝑡,𝑖, o somatório das defluências das usinas a montante à usina em questão,

∑ (𝑈𝑡,𝑚 + 𝑆𝑡,𝑚)𝑚∈𝑀𝑖, além retirada da defluência da própria usina, 𝑈𝑡,𝑖 + 𝑆𝑡,𝑖.

Semelhantemente ao despacho puramente térmico, a restrição (3-3) apresenta a restrição

de atendimento à demanda energética. Observa-se que existe um novo termo neste

balanço energético, que define outra variável de decisão do problema, o turbinamento das

usinas hidrelétricas. Este é constituído de maneira simplificada pela multiplicação do

turbinamento da usina pelo seu coeficiente de produção, 𝜂𝑖.

25

Além disso, equivalentemente à representação da capacidade máxima das usinas

térmicas, algumas variáveis físicas devem ser representadas. A restrição (3-4) equivale a

máximo armazenamento de água no reservatório da hidrelétrica 𝑖, enquanto que a

restrição (3-5) representa o máximo turbinamento que esta hidrelétrica pode realizar.

Caso seja necessário adotar maior defluência, tanto por requisitos de defluência mínima,

quanto por níveis de armazenamento máximos, faz-se uso de vertimento de parte da água,

que será o resultado da defluência total menos a parcela de máximo turbinamento.

As restrições aqui apresentadas retratam bem as condições físicas das usinas assentado

no detalhamento necessário para modelagem do sistema. Todavia, algumas outras

restrições particulares também podem ser introduzidas a fim de enriquecer o

detalhamento do modelo e representar com maior fidelidade a operação física do sistema.

Dentre algumas destas restrições, tem-se como exemplos o despacho mínimo térmico de

algumas usinas, decorrente de um contrato de compra de combustível ou de cogeração de

energia (como usinas a biomassa), e a restrição de defluência mínima de hidrelétrica, que

permite a continuidade da vazão do rio independentemente da operação da mesma.

Desta forma, faz-se necessário adotar metodologias que possibilitem a determinação de

uma função que aproxime a função de custo futuro. Sendo assim, a seção seguinte aborda

diferentes metodologias adotadas durante os anos para a solução do problema em questão.

2.3.4 Formação da Função de Custo Futuro

2.3.4.1 Programação Dinâmica

A formulação apresentada na seção anterior serviu historicamente como ponto de partida

para a aplicação da programação dinâmica (BELLMAN et al., 2015) no modelo de

despacho hidrotérmico. Como apresentado, o problema em questão trata da solução de

um problema multi-estágio e a grande proposta da programação dinâmica é permitir a

fragmentação deste extenso problema em problemas menores de estágio único, fazendo

com que a função de custo futuro possa ser diretamente relacionada apenas com o estágio

seguinte.

Com o propósito de permitir o acesso do custo operativo do estágio seguinte, foi adotado

um procedimento recursivo, que, de forma simplificada, trata da inicialização do

problema a partir do estágio final, 𝑇, o qual não possui custo futuro. Sendo assim, o custo

26

associado a este estágio é inteiramente composto pelo custo operativo térmico da própria

etapa em razão de seu estado de armazenamento.

A fim de aproximar o custo futuro, necessita-se avaliar os inúmeros níveis de

armazenamento viáveis do sistema. Uma forma encontrada para tal é a discretização do

estado do reservatório, o que possibilita a obtenção de diferentes pontos e permite a

aproximação da função. Portanto, o procedimento descrito anteriormente deve ser

realizado para um dado número de discretizações dos estados do sistema, possibilitando

a interpolação.

Figura 4: Esquema da discretização do estado do problema

De maneira análoga, deve-se realizar o mesmo procedimento para o estágio

imediatamente anterior. Para isso, adota-se o seguinte equacionamento:

𝑤𝑇−1(𝑥) = 𝑀𝑖𝑛 𝑐(𝑥𝑇) + 𝑤(𝑥𝑇) (4)

Isto significa que o custo futuro acessado pelo problema de minimização é exatamente a

interpolação dos custos obtido no procedimento anterior (lembrando que 𝑤(𝑥𝑇) = 0).

Assim, tem-se o seguinte esquema:

Figura 5: Esquema da solução do problema no estágio T-1

Realizando este procedimento até o estágio inicial do problema proposto, a função de

custo operativo futuro torna-se uma função conhecida, permitindo que ocorra uma etapa

27

de simulação, que nada mais é que a determinação de uma afluência e, então, a operação

do sistema.

No entanto, é comum a sistemas hidrotérmicos a conexão de algumas usinas hidrelétricas.

Desta forma, cada reservatório do sistema possuirá um valor de água, que resulta na

necessidade de discretizar outros estados do sistema. Dentro deste contexto, pode-se notar

o aumento exponencial do número de discretizações que deverão ser realizadas no

problema. Um exemplo disto pode ser formulado da seguinte maneira: para um sistema

com apenas 5 usinas hidrelétricas com reservatórios e com a necessidade de discretização

em 10 pontos, o número de pontos do problema é 105 = 100.000, levando a possíveis

inviabilidades computacionais. Este problema também é conhecido como a maldição da

dimensionalidade.

2.3.4.2 Programação Dinâmica Dual

Como alternativa para solução do problema em questão, técnicas de programação linear

foram aplicadas, mais especificamente o teorema da dualidade. Este, por sua vez, permite

que o problema primal (que neste caso é o problema formulado acima) possa ser resolvido

através de seu dual. Além disto, um dos resultados deste teorema é a obtenção das

variáveis duais referentes às restrições do problema, também conhecidas como

Multiplicadores de Lagrange. De forma simplificada, estas variáveis apresentam a

sensibilidade da função objetivo em relação à variável pertencente ao lado direito da

restrição, ou seja, a derivada da função objetivo em relação às variáveis pertencentes ao

right hand side, RHS, das restrições2.

Esta abordagem, por sua vez, permite que, ao invés de discretizar e interpolar pontos

pertencentes a curva da função de custo futuro, obtenha-se derivadas em pontos distintos,

formando funções lineares, chamadas de Cortes de Benders (BENDERS, 1962). Por fim,

a função a ser descoberta pode ser aproximada pelo conjunto de derivadas obtida pela

técnica, transformando-se em uma função linear por partes. A Figura 6 apresenta o

esquema de montagem da função de custo futuro.

2 Nota-se aqui que, além do ponto pertencente à curva, também é obtida a taxa de crescimento da mesma,

permitindo uma análise de 1º grau da função.

28

Figura 6: Formação da função de custo futuro por meio de Cortes de Benders

Sendo assim, pode-se utilizar um número inferior de discretizações do espaço de estados

do sistema para obter soluções ainda razoáveis (é possível obter uma boa aproximação

com uso de poucos cortes).

A formulação do problema de despacho hidrotérmico também contou com a apresentação

de quatro multiplicadores. Estes multiplicadores são resultados da aplicação do teorema

da dualidade mencionado. Portanto, o multiplicador referente à restrição (3-2) representa

a derivada da função objetivo em relação ao nível operativo do reservatório, em outras

palavras, qual o incremento/redução da função objetivo ao armazenar/turbinar um

unitário de água do reservatório, ou seja, o próprio valor da água.

Em relação à restrição (3-3), tem-se que a variável dual, 𝜋𝑑, representa a derivada do

custo operativo total em relação à demanda, logo, o custo marginal da demanda.

Neste caso, o custo marginal da demanda deverá ser atendido por um incremental da

geração de térmicas, que, conforme descrito anteriormente, também é chamado de custo

marginal de operação. Consequentemente, os custos marginais de demanda e oferta são

iguais.

Contudo, vale ressaltar aqui que a solução do problema até instante foi feita por meio de

conhecimento prévio da afluência do estágio (dada essa afluência, determina-se o

despacho hidrotérmico, acessando o custo futuro para um dado armazenamento final).

Como é não é possível precisar a afluência do estágio seguinte, o problema ainda não está

totalmente resolvido. Para tal, faz-se uso de ferramentas estatísticas para obter diferentes

cenários de afluências para o problema, levando a uma nova forma de solução, a PDDE.

29

2.3.4.3 Programação Dinâmica Dual Estocástica

Conforme apresentado, necessita-se utilizar de diferentes possíveis cenários de vazão

para cobrir o maior número de decisões operativas. Com isso, são utilizadas simulações

de Monte-Carlo para obtenção de cenários de vazões.

De maneira geral, para cada ponto no qual foram calculados os custos operativos, e por

consequência os Cortes de Benders, são realizadas as simulações, obtendo cenários com

suas respectivas decisões operativas. Isto permite que o problema tenha o carácter

estocástico.

Na PDD, para cada discretização, existia um corte relacionado. No caso da PDDE, o corte

gerado na recursão agora é uma função de diversos cenários de vazão. Como cada cenário

fornecido pela simulação de Monte-Carlo possui a mesma probabilidade de ocorrência,

pode-se, então, aproximar os novos cortes pela média dos mesmos, resultando em um

corte médio para cada estado.

Portanto, através da metodologia da PDDE, é possível resolver o problema de

determinação de uma aproximação da função de custo futuro e permitir apoiar a decisão

de despacho.

Como são gerados inúmeros cenários para determinação da decisão operativa, nem todos

são cenários favoráveis, o que pode resultar em condições de estresse para o sistema,

podendo ocasionar também em necessidade de cortes de carga. Logo, casos em que as

condições operativas do sistema resultam em altos custos operativos e grandes riscos de

corte de carga devem ser pontos nos quais o operador deve ser avesso. Para isso, é preciso

utilizar mecanismos que leva a operação energética a condições confortáveis e

economicamente interessantes.

2.3.5 A Aversão ao Risco no Problema de Planejamento

Uma corrente discussão dentro do setor energético está fundamentada na definição do

mecanismo de aversão ao risco que deve ser incorporado na política do despacho

hidrotérmico. Ainda que o custo de déficit, que é a função de pondera o valor da energia

não suprida no cálculo da função objetivo do problema, já represente uma forma de tornar

o planejamento avesso ao risco, diversos outros mecanismos foram testados e

implementados no setor com o objetivo de trazer mais segurança de suprimento.

30

No cenário brasileiro, após a ocorrência do racionamento energético em 2001, devido

tanto às condições conjunturais do sistema, quanto às estruturais, iniciaram-se estudos

mais aprofundados sobre metodologias e aplicações no setor.

2.3.5.1 Curva de Aversão ao Risco - CAR

Uma das metodologias abordadas é a Curva de Aversão ao Risco, CAR, mecanismo

adotado no sistema após o racionamento, que se baseia em um nível mínimo nos

reservatórios equivalentes em cada etapa do estudo. Este nível mínimo operativo é feito

por meio de uma curva de referência determinada por critérios de suprimento energético.

Havendo diferença positiva entre o volume mínimo operativo (determinado pela CAR) e

o volume da atual etapa, será aplicada uma penalidade sobre esta quantidade de energia.

Semelhantemente à penalidade por déficit de energia. A calibração deste parâmetro

permite a determinação do despacho térmico adicional acionado por segurança

energética, além da determinação do nível da curva de referência.

Fisicamente ainda era possível a violação dos níveis operativos determinados pela CAR.

Nesses casos, era definida a operação de todas usinas com intuito de recuperar o nível

operativo desejado, independentemente da ordem de mérito econômico definida pelo

modelo de despacho.

Algumas das críticas levantadas na época consideravam a falta da representação fiel dos

intercâmbios entre subsistemas (definidos por meio de valores determinísticos ex ante).

Algumas outras críticas, como as séries utilizadas na para definição dos volumes de

segurança e a dificuldade de prever e reproduzir o despacho hidrotérmico, foram

amplamente condenadas por diversos agentes. Além disso, surgiram críticas sobre a

atuação de todo parque gerador, defendendo que algumas térmicas mais baratas poderiam

ser acionadas com devidas antecedências, evitando geração com térmicas mais caras.

2.3.5.2 Nível Meta - NM

Então, em 2007, foi estabelecido que o operador do sistema poderia, de maneira

independente, acionar antecipadamente usinas termelétricas fora da ordem de mérito

econômico definido pelo modelo. A motivação para o operador era de permitir a

recuperação de níveis dos reservatórios equivalentes definidos pela CAR e garantir a

segurança de suprimento a partir de um nível mínimo operativo ao final de um

determinado estágio (novembro do ano operativo), mecanismos estes conhecidos como

31

Procedimentos Operativos de Curto Prazo, POCP, ou, mais informalmente, Nível Meta,

NM (COSTA, 2009).

Visto que foi determinado que o POCP, não estava sinalizando de forma almejada a

necessidade de despacho antecipado na política operativa, era claro que a operação não

estava sendo decidida de maneira ótima. Além disso, devido ao acoplamento temporal,

os efeitos destes procedimentos não sinalizam corretamente o estado energético atual do

sistema, isto porque o despacho fora da ordem de mérito desloca a geração na base do

sistema, levando com que usinas mais caras que não deveriam ser despachadas por ordem

de mérito econômico sejam acionadas, reduzindo a geração de usinas hidrelétricas. No

modelo setorial brasileiro, este despacho extra orientado pelo operador não possuía

reflexo direto nos preços de curto prazo (estas térmicas não contam no cálculo do CMO3).

Ainda, o despacho térmico na base permite a recuperação dos reservatórios de forma não

prevista na política operativa, o que resulta em redução nos preços para os estágios

seguintes.

Um outro fator significativo resultante deste tipo de procedimento é a redução da

capacidade de recuperação financeira dos geradores hidrelétricos. Os maiores níveis de

armazenamento de reservatórios de usinas acarretam em maior vertimento durante o

período úmido, levando ao erro tipo II, conforme discutido anteriormente. Visto que as

usinas hidrelétricas tiveram suas gerações limitadas no período seco, necessitando

liquidar energia ao preço spot razoavelmente mais elevado, e que parte dessa energia

armazenada que deveria ser utilizada a posteriori acaba sendo vertida, reduz-se a receita

destes geradores. Além do mais, em momentos em que as usinas estarão gerando o

máximo de sua capacidade (momentos de vertimento e durante o período úmido), o preço

da energia será relativamente baixo.

Todos estes problemas gerados por despacho fora da ordem de mérito resultam em

necessidade de integração do despacho por segurança energética na política. Além de

refletir o real preço da energia, previne desbalanços financeiros para agentes do setor,

garantindo um ambiente mais adequado para investimentos, além de permitir a

reprodutibilidade e previsibilidade.

3 Suas remunerações são dadas por meio de encargos de serviço do sistema por segurança energética (ESS-

SE)

32

Com a pressão para conter os despachos fora da ordem de mérito e adotar uma

metodologia que fosse incorporada a política energética, em 2013 a ANEEL realizou

estudos elaborando comparações entre duas diferentes metodologias, a Superfície de

Aversão ao Risco, SAR, e o Valor Condicionado a um dado Risco, CVaR.

2.3.5.3 Superfície de Aversão ao Risco

A primeira metodologia, SAR, assemelha-se fisicamente a ideia anteriormente

introduzida da CAR. Esta é feita com a introdução de restrições ao problema de despacho

hidrotérmico, baseadas em combinações entre os reservatórios equivalentes e níveis de

referência ao final de um determinado período em conjunto ao intercâmbio entre

subsistemas, e que sejam evitados eventuais cortes de carga durante a resolução de um

subproblema montado.

Diferentemente da CAR, que considera uma premissa de expectativa de transmissão entre

subsistemas, a SAR permite a incorporação das reais restrições operativas do sistema de

acordo com as necessidades do estágio t, possibilitando uma representação mais fiel da

operação sistêmica.

Sua implementação é baseada no vetor de armazenamentos ao final do estágio operativo

em questão. Com a informação obtida a partir da decisão de operação, resolve-se um

subproblema de otimização (com utilização de uma série determinística que pode ser

calibrada) que tem por objetivo reduzir a variável β, que é definida como a soma do

montante de déficit e diferença de energia do reservatório equivalente e o nível mínimo

operativo, este semelhante ao definido para a CAR.

Graficamente, a SAR pode ser definida da seguinte maneira:

Figura 7: Detalhamento da metodologia de superfície de aversão ao risco (CPAMP, 2013)

33

Tendo resolvido o subproblema da SAR, caso a restrição de segurança, β, seja violada,

há introdução de cortes para o problema principal, o que leva ao aumento do preço da

energia e, por consequência, maior armazenamento de energia nos reservatórios no

estágio atual, 𝑡.

2.3.5.4 Conditional Value at Risk - CVaR

Em contrapartida, o CVaR, metodologia adotada no sistema elétrico brasileiro desde

2013, é o valor esperado condicionado a um dado nível de risco (COSTA, 2013).

Diferentemente da CAR e SAR, que observam níveis mínimos operativos (gerando uma

análise física, que reflete a visão de operadores de sistemas), o CVaR, proveniente de

modelos financeiros, realiza uma análise econômica baseada na distribuição de

probabilidade de custos operativos totais (custo de geração mais custo de déficit).

Antes de analisar o formato da incorporação do CVaR na política energética, deve-se

entender o conceito matemático deste mecanismo.

2.3.5.4.1 Formulação Matemática

Primeiramente, para entendimento do Conditional Value-at-Risk, vale apresentar o

Value-at-Risk, VaR, que é uma outra medida de aversão ao risco amplamente utilizada

em mercados financeiros. Esta metodologia tem como foco medir o valor do risco

associado a um determinado quantil 𝛼%. Com isso, dada uma distribuição qualquer de

uma variável aleatória, o VaR representa graficamente o menor valor que pode ser

encontrado dentro deste quantil, o que pode ser visto na Figura 8:

Figura 8: Representação gráfica da metodologia VaR

Intuitivamente, quanto menor for a decisão do percentil 𝛼%, mais crítico é o valor

encontrado, tornando a decisão mais avessa ao risco.

34

Em termos matemáticos, pode-se representar o mecanismo VaR de uma variável aleatória

𝑌 qualquer como apresentado na Equação (4):

𝑉𝑎𝑅𝛼(𝑌) = inf {𝑦: 𝑃𝑦(𝑌 > 𝑦) ≤ 𝛼} (4)

Em que:

𝑌 é a variável aleatória do problema;

𝛼 é o percentil desejado.

Sendo assim, a ideia geral do mecanismo de Conditional Value-at-Risk se assemelha ao

Value-at-Risk. Contudo, conforme analisado dentro da Equação (4), VaR tem como

resultado o valor referente ao percentil 𝛼%, o que não acontece diretamente no CVaR.

Nessa metodologia, dentre todas as possibilidades obtidas por meio da variável aleatória

𝑌, o resultado referente ao CVaR desta variável representa valor esperado do intervalo

desejado. Graficamente, o CVaR pode ser observado como sendo a média da área da curva

contida dentro do quantil, conforme visto na Figura 9.

Figura 9: Representação gráfica da metodologia do CVaR

De maneira análoga, a Equação (5) apresenta o conceito matemático por trás da

metodologia.

𝑉𝑎𝑅𝛼(𝑌) = 𝔼 {𝑌: 𝑌 ≥ 𝑉𝑎𝑅𝛼(𝑌)} (5)

Por meio deste raciocínio matemático, foi empregado o CVaR como mecanismo de

aversão ao risco, permitindo calcular os custos relacionados aos cenários mais críticos e

pesá-los de maneira diferente ao problema.

35

2.3.5.4.2 Implementação do CVaR no Planejamento da Operação

De acordo com o que foi apresentado, durante a construção da função de custo futuro do

sistema (fase recursiva), são realizadas simulações de Monte-Carlo a fim de obter séries

de vazões e diferentes decisões de operação para cada estágio operativo. Dentre as

decisões operativas deste estágio, são tomadas as 𝛼% decisões mais caras e realiza-se o

cálculo do corte obtido utilizando um determinado peso a mais para estes cenários, peso

este definido por 𝜆%. Em consequência, o valor desta função de custo futuro torna-se

mais elevado, ou seja, o valor da água no futuro é maior, levando a níveis de

armazenamento mais elevados fornecendo maior segurança operativa. A Figura 10 ilustra

a ideia definida pelo CVaR.

Figura 10: Implementação da metodologia do CVaR no cálculo da política operativa (CPAMP, 2013)

Sendo assim, a formulação matemática deste mecanismo é equivalente a:

𝑀𝑖𝑛 ∑ 𝑐𝑗𝑔𝑗

𝐽

𝑗=1+ [(1 − 𝜆)𝐸(𝑐2𝑔2) + 𝜆𝐶𝑉𝑎𝑅𝛼(𝑐2𝑔2)]

(6)

Onde:

𝑐𝑡 é o custo unitário referente à usina térmica 𝑗;

𝑔𝑗 é a geração da usina térmica 𝑗;

𝜆 é o fator de ponderação do CVaR;

𝛼 é a variável que determina o percentual de cenários da amostra;

𝑐2𝑔2 é o custo operativo térmico no estágio seguinte.

36

É de fácil percepção que o valor futuro da água pode ser calibrado por meio de ajustes

nos parâmetros de aversão ao risco do CVaR, levando a diferentes políticas operativas

durante o horizonte de estudo com custos operativos diferentes. Por exemplo, dado que

os 𝛼% cenários mais caros possuem mais peso (𝜆%) o resultado do custo futuro da água

também será mais elevado, levando à necessidade de maior armazenamento de água no

estágio atual para utilização em estágios futuros, havendo geração de energia por meio de

termelétricas.

Dentre tantas outras discussões sobre a introdução deste parâmetro no cálculo da política

operativa, algumas mais relevantes são ressaltadas abaixo:

• O mecanismo do CVaR não leva em consideração volumes operativos, o que

dificulta a visualização física do modelo, tornando-o cada vez mais abstrato.

• Inviabiliza a observação da convergência do modelo.

Por fim, o despacho hidrelétrico conta com dificuldades computacionais, resolvidas por

meio da metodologia da PDDE, e de segurança, em que são empregados mecanismos de

aversão ao risco de maneira a proteger o sistema de cenários desfavoráveis e inseguros.

37

3 O Problema do Planejamento da Expansão

A determinação de um plano de expansão ótimo é outro dilema do planejamento da

expansão de sistemas elétricos. A oferta de geração deve ser ajustada com objetivo de

cobrir a projeção de demanda energética do estudo considerando diretrizes do planejador,

como indicadores de risco de déficit e custos totais.

Definir tanto a quantidade de oferta, quanto o tipo de sua fonte, é uma decisão que envolve

diversas premissas e que tem como principal objetivo obter o menor custo possível para

o sistema. Neste contexto, a composição do custo global pode ser representada por dois

principais componentes: o custo da operação, conforme visto no capítulo anterior, e o

custo de investimento, definido pelos custos de nova capacidade de geração.

A seguir, é apresentada uma metodologia fundamentada no planejamento centralizado da

expansão da oferta considerando o objetivo proposto. Estes resultados, por sua vez, serão

avaliados em questões de contratação de novos empreendimentos de geração no sistema

elétrico brasileiro, apresentando o vínculo entre o resultado da metodologia e o formato

de contratação atual.

3.1 A Expansão Ótima da Oferta de Geração de Energia

Com o propósito de garantir a oferta de suprimento de maneira econômica para a

sociedade, o planejamento centralizado de sistemas elétricos visa expandir e operar o

sistema minimizando a soma de todos os custos. De acordo com o que foi mencionado, o

custo total do sistema pode ser calculado como a soma do custo operativo e do custo de

investimento.

No entanto, além da dificuldade de decisão de operação descrita no capítulo anterior, o

plano ótimo de operação deve avaliar diversas alternativas provenientes de combinações

dos projetos candidatos a serem construídos, identificando as sinergias existentes na

operação das diferentes fontes de expansão com os recursos existentes.

Isto posto, faz-se necessário adotar uma metodologia matemática que permita o cálculo

do montante ótimo de oferta de geração a ser contratada dentro do horizonte de estudo

especificado. É possível, então, formular um novo problema de programação linear inteira

que tenha como função objetivo minimizar o custo global do sistema, semelhante ao que

38

foi desenvolvido para despacho hidrotérmico, porém com variáveis de decisão inteiras

para o investimento. Neste trabalho, por simplificação, será utiliza a formulação onde as

variáveis de decisão de investimento são contínuas.

3.1.1 Metodologia de Minimização do Custo Total

Inicialmente, a motivação de um planejador de sistemas elétricos é alcançar um custo

total mínimo para o sistema elétrico, que é constituído pelo custo total gasto na operação

do sistema somado com o custo total que foi investido para expansão do sistema. Desta

forma, é possível formular a seguinte expressão matemática:

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑀𝑖𝑛 𝑂𝑝𝑒𝑟 + 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡

(7)

Em que:

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 é a função de custo total do sistema;

𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡 é a função que fornece o custo de investimento total do sistema;

𝑂𝑝𝑒𝑟 é a função que fornece o custo de operação total do sistema.

A função que determina o custo de investimento do sistema geralmente é definida à priori.

Neste caso, o conhecimento da função é feito com auxílio das informações técnicas e

CAPEX dos projetos candidatos. Sendo assim, para uma dada alteração na capacidade

máxima de geração do projeto sabe-se especificamente qual o custo de investimento

decorrente, notando a simplicidade da formulação desta função.

Em contrapartida, é importante notar que o custo operativo do sistema é uma função

desconhecida, haja vista a dificuldade de estimar a variação no custo operativo do sistema

com a alteração da capacidade de geração máxima de uma determinada usina. Isto, por

consequência, levará a adoção de mecanismos para determinação do custo de operação

através da decomposição do problema geral em um problema de expansão e outro de

operação.

Ressalta-se também que, devido à imprevisibilidade hidrológica de sistemas

hidrotérmicos, existem diversos cenários possíveis para cronogramas de geração. Neste

caso o valor operativo total do sistema é tomado como o valor esperado (média) dos

diferentes cenários de fornecidos.

39

Desta forma, a Figura 11 ilustra graficamente o novo problema a ser resolvido.

Figura 11: Exemplo gráfico do problema da expansão ótima

Observa-se aqui que este problema se assemelha bastante ao problema de despacho

hidrotérmico, uma vez que o problema de programação linear é composto por uma função

conhecida (função de custo imediato/função de custo de investimento) e outra

desconhecida (função de custo futuro/função de custo de operação) de acordo com a

variável de estado (volume do reservatório/capacidade de geração).

Portanto, o propósito do planejamento da expansão é atingir o ponto de mínimo da curva

de custo total, que representa uma solução em que é indiferente operar o parque gerador

existente ou operar com nova oferta de geração.

3.1.2 Igualdade entre CME e CMO

À princípio, o valor esperado do custo marginal de operação foi definido como sendo a

média do custo operativo da última usina térmica com capacidade de geração ociosa em

operação de todos os possíveis cenários. Desta forma, o custo para suprir 1 MWh de

demanda energética poderia ser visto como o custo desta térmica, já que esta é a usina

com menor custo apta a gerar mais energia.

Analogamente, o custo marginal de expansão, CME, é tratado como sendo o custo

unitário atender a demanda adicional por meio de nova capacidade da próxima usina

candidata mais barata com capacidade de geração em projeto.

40

O resultado da solução ótima, por sua vez, permite algumas análises um pouco mais

profundas. Conforme é de conhecimento geral, o ponto de mínimo desta função de custo

total é o ponto no qual sua derivada tem valor zero, ou seja:

𝜕𝐹𝐶𝑇

𝜕𝑔max= 0

(8)

De acordo com o que foi explicado, a função de custo total é a soma da função de custo

de operação e da função de custo de investimento, desta forma, no ponto ótimo:

𝜕𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡

𝜕𝑔𝑚𝑎𝑥+

𝜕𝑂𝑝𝑒𝑟

𝜕𝑔𝑚𝑎𝑥= 0

𝜕𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡

𝜕𝑔𝑚𝑎𝑥= −

𝜕𝑂𝑝𝑒𝑟

𝜕𝑔𝑚𝑎𝑥

(9)

Logo, em conformidade com o que foi definido, a variação do custo de investimento e

operação em relação à variação incremental da capacidade máxima de geração é o próprio

custo marginal de expansão. Da mesma forma, a variação do valor esperado do custo de

operação em relação ao incremento de demanda define o custo marginal de operação do

sistema. Consequentemente, pode-se tomar as seguintes notações:

𝐶𝑀𝐸 = 𝐸(𝐶𝑀𝑂) (10)

Por intermédio desta igualdade entre 𝐶𝑀𝐸 e 𝐸(𝐶𝑀𝑂) existem interpretações a serem

analisadas; no momento em que o custo marginal de expansão é igual ao custo marginal

de operação, é indiferente para o consumidor, em termos econômicos, a expansão da

capacidade máxima do parque gerador ou a operação com os recursos já existentes. Em

contrapartida, caso o custo marginal de expansão fosse superior ao custo marginal de

operação, seria mais vantajoso para o consumidor operar o sistema com os recursos

existentes, não necessitando de nova capacidade de geração. De maneira contrária, com

o 𝐶𝑀𝐸 inferior ao 𝐸(𝐶𝑀𝑂), expandir o sistema e operá-lo com novos recursos torna-se

benéfico. Sendo assim, igualdade apresenta o limiar deste pensamento.

Um outro tratamento dessa igualdade é feito por meio da teoria de microeconomia.

Adotando a premissa de um mercado com concorrência perfeita (supondo que nenhum

41

agente consiga efetivamente interferir nos preços de energia), o equilíbrio de CMO e

CME apresenta um limiar de lucro zero para o empreendedor, ou seja, caso este investidor

deseje reduzir qualquer quantia de investimentos em usinas visando aumentar o custo

marginal de expansão, outro agente idêntico teria interesse em ampliar seus

investimentos, e vice-versa).

3.1.3 Formulação Matemática do Problema

Em face do novo desafio, há necessidade de formular matematicamente o problema. De

acordo com o mencionado, a função objetivo do problema é formada por uma soma de

uma função de custo de investimento e uma função do custo de operação. Sendo assim:

ℎ = 𝑀𝑖𝑛 ∑ ∑ (𝑦𝑡,𝑖(𝑥𝑡,𝑖) + 𝑜𝑡,𝑖(𝑔𝑡,𝑖)

)𝐼

𝑖

𝑇

𝑡

(11)

Onde:

𝑇 é o número de estágios do estudo;

𝐼 é o número de projetos e usinas do estudo;

𝑦𝑡,𝑖 é a função custo de investimento da usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑥𝑡,𝑖 é a variável de investimento;

𝑜𝑡,𝑖 é a função de custo operativo da usina 𝑖 no estágio 𝑡;

𝑔𝑡,𝑖 é a geração máxima da usina 𝑖 no estágio 𝑡.

Esta formulação indica que a solução do problema é dada pela minimização do custo total

de operação de todas usinas pertencentes ao sistema somado ao custo de investimento de

todas usinas entrantes durante todo o período de estudo. Formulado o problema de

expansão, faz-se necessário também introduzir restrições com a finalidade de tornar o

problema matemático coerente a realidade.

Primeiramente, as restrições operativas não serão apresentadas novamente nesta seção,

posto que será necessário utilizar a o problema de despacho hidrotérmico formulado no

Capítulo 2, o qual possui a descrições das restrições do problema operacional.

Então, tem-se a seguinte restrição de geração das usinas candidatas:

𝑔𝑡,𝑖 − 𝑔𝑡,𝑖 . 𝑥𝑡,𝑖 ≤ 0 (a)

42

Onde:

𝑔𝑡,𝑖 é a geração máxima de projeto da usina 𝑖 no estágio 𝑡.

Fisicamente, a restrição acima indica que a geração da usina 𝑖 no estágio 𝑡 não poderá

ultrapassar um valor estabelecido de geração máxima, dado pelo produto da geração

máxima indicada no projeto e o percentual de construção da usina, ou seja, o quanto foi

decidido construir (esta restrição se assemelha a restrição de geração máxima do

problema de operação). Com isso, tem-se também:

∑ 𝑥𝑡,𝑖

𝑇

𝑡≤ 1

𝑥 ∈ [0,1] (b)

A restrição (b) é um resultado do máximo da contratação do projeto 𝑖. Na prática, esta

restrição induz ao pensamento de que durante todo horizonte de estudo, o máximo da

contratação de cada usina (soma de toda contratação durante o horizonte) é o máximo

apresentado por projeto (100%).

Ressalta-se aqui que a variável 𝑥𝑡,𝑖 está sendo representada como um número real, não

inteiro, o que não traduz em um problema fiel à realidade, uma vez que algumas usinas,

como hidrelétricas, devem ser construídas por completo.

3.1.4 Estratégia de solução do Problema de Expansão

Devido à estocasticidade do problema de despacho hidrotérmico, a decisão de expansão

para este tipo de sistema resulta em um problema de enorme complexidade. Uma solução

adotada é a discretização do problema em dois módulos, um de expansão (mestre) e outro

de operação (escravo).

Esse mecanismo é realizado por meio de um processo iterativo que, a partir de um plano

de investimento feito pelo módulo de expansão, é feito o planejamento da operação do

sistema com auxílio da metodologia da PDDE. Como resultado do módulo de operação,

obtém-se o custo de operação, conforme definida anteriormente.

Por outro lado, de acordo com o que é apresentado pela Figura 11, o módulo de expansão

necessita de uma função de custo de operação em função da capacidade máxima de

geração de uma dada térmica, permitindo fornecer uma sensibilidade para a variação do

em relação aos estados do problema. Por meio desta sensibilidade, por exemplo, faz-se

43

uma análise de trade-off da instalação de mais capacidade ou operação da capacidade

existente. Em outras palavras, o módulo de operação deverá fornecer o custo operativo

somado ao benefício marginal da capacidade máxima de geração.

Matematicamente, essa definição permite a seguinte formulação:

𝑜𝑖 = 𝑜𝑖∗ − 𝜋𝑔𝑖 . 𝑔�� (12)

Onde:

𝑜𝑖∗ é o custo aproximado de operação;

𝜋𝑔𝑖 é a variável dual da restrição de capacidade máxima de geração da usina i do problema

de operação.

Fisicamente, essa variável dual representa a variação da função de custo de operação com

relação à variação incremental da capacidade da usina 𝑖. Sendo assim, observa-se

novamente a aplicação de cortes de Benders no processo de solução do problema de

programação linear. Isto, portanto, demonstra que ao aumentar a capacidade máxima de

geração de uma usina (aumentando 𝑔��), o custo operativo reduz.

Após a aproximação da função de custo de operação4, o módulo de expansão poderá

tomar decisões mais factíveis, melhorando a solução do problema. Consequentemente,

será dado um novo plano de expansão, que permitirá retornar ao módulo de operação.

Este processo é repetido até que seja atendida uma tolerância.

Em suma, o processo pode ser ilustrado conforme a Figura 12:

Figura 12: Processo iterativo da metodologia do problema de expansão ótima

4 Devido à convexidade da função de custo de operação, os cortes gerados pelo módulo de operação

representam um limite inferior da curva.

44

Graficamente, as funções de custos podem ser representadas da seguinte forma:

Figura 13: Função de Custo de Investimento e aproximação da Função de Custo de Operação

3.1.5 Modelo OPTGEN

O modelo de otimização OPTGEN, desenvolvido pela PSR, tem por objetivo encontrar a

solução ótima apontada na Figura 11. No entanto, conforme mencionado, inicialmente a

função de custo de operação é desconhecida, o que leva a necessidade de utilização do

modelo de despacho hidrotérmico, SDDP, também desenvolvido pela PSR, em conjunto.

Sendo assim, a Figura 14 ilustra os passos para a realização da decisão de expansão ótima

desta metodologia.

45

Figura 14: Esquema do acoplamento entre OPTGEN e SDDP

Observa-se que o cronograma de investimento é passado para o SDDP e, então, dada a

nova configuração do sistema, serão obtidos custos operativos através da otimização

estocástica com a metodologia de PDDE. Estes custos são passados para o problema de

investimento por meio de cortes de Benders e, assim, novas decisões de investimento

podem ser tomadas (PSR, 2016).

3.2 A Expansão do Sistema Interligado Nacional

3.2.1 Histórico

O Sistema Interligado Nacional transacionou sobre diferentes tipos de organização. Até

1950, o sistema elétrico brasileiro era muito descentralizado e baseado em usinas

térmicas, as quais tinham como principal objetivo o atendimento energético de centros

urbanos por meio de reservas de carvão. Devido à escassez de seu insumo, da

possibilidade aproveitamento de enorme potencial hidrelétrico e crescente demanda

energética ocasionada pelo aumento da atividade industrial e urbanização, o sistema

elétrico brasileiro cresceu em tamanho e complexidade, alavancado principalmente por

capital público, tornando-se cada vez mais verticalizado.

Em meados da década de 1990, os governos federal e estadual possuíam monopólio sobre

os ativos do sistema elétrico. Dentre as empresas existentes na época, muitas ainda

possuem grandes influências sobre o setor, apresentando domínio sobre uma grande

quantidade de ativos e contratos vigentes.

46

Apesar do grande mercado e do monopólio destas empresas estatais sobre o setor

energético, muitas fraquezas desse esquema de planejamento incidiram sobre o sistema.

Medidas financeiras e políticas trouxeram alta debilidade para o setor, acarretando em

problemas estruturais de difícil inversão. Para exemplificar algumas dessas medidas, tem-

se o alto endividamento e precarização de empresas e redução significativa de tarifas de

energia, esta última sendo uma tentativa político-econômica para controle da

hiperinflação.

Em 1990, com a onda de liberalização de mercado, ocorreram grande quantidade de

privatizações, além da criação de empresas que pudessem operar, regular, liquidar

contratos e planejar o sistema de forma mais transparente e centralizada. A fim de trazer

maior transparência, confiabilidade e eficiência ao setor, foi criado o Programa de

Desestatização.

Com a liberalização do mercado de energia, empresas investidoras começaram a entrar

com mais peso sobre o setor, sendo as principais responsáveis para a expansão da geração

de energia elétrica no país. Este fato, no entanto, revelou sérias fraquezas na regulação da

época.

Neste momento, a contratação de novos empreendimentos era baseada em liquidação da

energia no mercado de curto prazo e, como é de conhecimento geral, a hidrologia

brasileira possui relevante papel na marcação de preços do setor, o que resulta em

significante volatilidade de preços, aumentando ainda mais o risco de empreendimentos.

A dificuldade em obtenção de capital por consequência do risco de investimento somado

com a insuficiente fiscalização do setor permitiu brechas para atrasos e abandono de

projetos de geração, levando a um cenário não mapeado pelo governo da época. Não

obstante, o Brasil sofreu com uma das piores condições conjunturais do setor, a hidrologia

seca de 2001, e para aumentar ainda mais a dificuldade de prever o risco de racionamento

da época, existiam incertezas sobre o cálculo de garantias físicas de empreendimentos.

Devido a tantos fatores, foi decretado racionamento, no qual o país sofreu em diversas

esferas econômicas, causando retração significativa no consumo e PIB.

Observando que o processo de contratação não estava estruturalmente seguro, em 2004,

foi proposto um novo modelo de contratação de energia (BARROSO, 2007), o qual era

estruturado em alguns alicerces; i) a criação de uma empresa com objetivo de planejar a

expansão do sistema energético, a Empresa de Planejamento Energético, conhecida como

47

EPE, ii) a formulação da Lei 10.848/2004, que fundamentava a contratação de energia

pelas distribuidoras por meio de leilões de energia, o que permitia maior modicidade

tarifária, além de impor que todo consumo esteja 100% coberto, e iii) a contratação

integral do consumo das distribuidoras.

Por meio de duas exigências regulatórias definidas na Lei 10.848/2004, contempla-se a

segurança do suprimento energético. Essas exigências definem duas obrigações: i) todo

consumo proveniente tanto do ambiente regulado, quanto do ambiente livre, deverá estar

100% coberto por contratos e ii) todo contrato de energia deverá ser respaldado por

certificados de garantia física. Com a aplicação destas regras na comercialização de

energia, tem-se obrigatoriamente que a soma de certificados de garantia física deverá ser

maior ou igual à demanda energética.

Este novo modelo fundamenta-se em contratação de garantia física (também conhecido

como energia assegurada), que, de maneira simplificada, é uma representação da

segurança que um gerador pode fornecer ao sistema. Um dos critérios adotados durante

o cálculo da garantia física de empreendimentos é a igualdade entre custo marginal de

expansão e o valor esperado do custo marginal de operação, calculado anualmente pela

EPE. Ressalta-se que essa definição difere da quantidade de energia efetivamente gerada

pelo mesmo, que deveria possuir um viés totalmente financeiro. Algumas metodologias

que abordam a segregação de garantia física e energia no formato de contratação de usinas

são discutidas em (BASTOS, 2016).

3.2.2 Metodologia de Contratação Atual: Os Leilões de Energia

O formato de contratação anterior possuía diversas imperfeições. Algumas das

justificativas para adoção de outro formato de contratação consideravam que grande parte

dos novos empreendimentos de geração tinham por objetivo a venda de energia no

mercado de curto prazo, liquidando sua geração ao Preço de Liquidação de Diferenças

(PLD). Contudo, devido à alta variabilidade dos preços de energia resultante da enorme

influência hidrológica, os riscos para novos geradores eram extremamente elevados, uma

vez que não haviam parcelas fixas que pudessem auxiliar na cobertura do investimento.

Outro fator influente era a contratação direta de distribuidoras. Tendo em conta a alta

verticalização do sistema elétrico brasileiro, diversas distribuidoras de energia elétrica

pertenciam a grupos que também tinham posses de ativos de geração. Por consequência,

48

geradores e distribuidoras de mesmo grupo firmavam contratos de compra e venda de

energia diretamente, resultando em preços elevados para consumidores do mercado

cativo, reduzindo a transparência e a eficiência do sistema.

Por meio da Lei 10.848/2004, o sistema elétrico brasileiro introduziu uma nova

metodologia para contratação de energia no Ambiente de Contratação Regulada, ACR5,

os leilões de energia elétrica.

Através dos resultados destes leilões, são estabelecidos contratos de compra e venda de

energia entre os empreendimentos de geração e as distribuidoras de energia para

atendimento da carga futura em um horizonte definido de acordo com o leilão e o tipo de

energia. Ressalta-se que a demanda a ser contratada é proveniente de projeções das

próprias distribuidoras para seus respectivos consumos e ainda é um fator desconhecido

pelos ofertantes durante os lances no leilão, evitando manipulações da oferta de preços e

dificultando estratégias. Todo este processo de contratação visa também extrair a máxima

eficiência para o sistema e expor com maior realidade possível os custos dos geradores,

tendo em vista que os ofertantes hão de sujeitar seus preços ao menor custo possível com

objetivo de obter um contrato de energia de longo prazo para viabilizar seus projetos. Este

mecanismo de contratação auxilia o sistema na obtenção de preços mais reduzidos, por

meio de concorrência direta entre os ofertantes, além de permitir maior transparência no

processo de contratação, evitando também a verticalização do sistema.

O mecanismo de contratação, já robusto e utilizado por anos no setor, em 2016, por meio

da Lei 13.360/2016, sofreu severas modificações em sua estrutura.

A atualmente a divisão dos leilões é baseada no seguinte esquema:

a. Leilão de Energia Existente: Contratação de usinas para entrada em operação de

0 até 5 anos à frente da data do leilão, firmando contratos de 1 a 15 anos de

duração, participando apenas usinas já construídas;

b. Leilão de Ajuste: Contratação de usinas para entrada em operação em até 4 meses

à frente, firmando contratos de até 2 anos;

c. Leilão de Energia Nova: Contratação de usinas para entrada em operação de 3 a

7 anos à frente da data do leilão, firmando contratos de 15 até 35 anos de duração

e permitindo inscrições de usinas que ainda serão construídas;

5 Definido como um mercado no qual o seu suprimento energético é feito por meio de distribuidoras de

energia

49

d. Leilão de Energia de Reserva: Leilões imprevisíveis em que têm por objetivo

contratação de energia para fornecer maior segurança de suprimento ao sistema,

considerando um complemento ao cálculo equivocado da garantia física de

algumas usinas já em operação;

e. Leilão de Fontes Alternativas: Leilões imprevisíveis, os quais permitem maior

competitividade para fontes distintas e tem por objetivo diversificar a matriz

energética;

f. Leilão de Projetos Estruturantes: Leilões imprevisíveis para compra de energia

provenientes de projetos de carácter estratégico, permitindo modicidade tarifária

e fornecendo maior confiabilidade ao sistema.

A Figura 15 apresenta um resumo ilustrativo dos leilões de energia nova e energia

existente e dos leilões de ajuste atualmente empregados no Brasil.

Figura 15: Cronologia de leilões de energia nova e energia existente

3.2.3 Cálculo da Garantia Física

A garantia física de empreendimentos, que atualmente é também a quantidade máxima

de energia que um empreendimento de geração pode comercializar, pode ser interpretada

como a capacidade daquele gerador em fornecer segurança de suprimento para o sistema.

O Conselho Nacional de Política Energética, CNPE, por meio da Resolução nº 7/2008,

estabeleceu critérios para o cálculo da garantia física, definindo que o planejamento da

expansão seja balizado através da igualdade do custo marginal de expansão e a

expectativa do custo marginal de operação, atendendo, ainda, a um critério de risco de

50

suprimento determinado anteriormente de risco de déficit menor ou igual a 5% dos

cenários hidrológicos. Como justificativa à adoção desta metodologia, o MME indica que

este critério é o resultado matemático de um planejamento centralizado do setor

apresentado no início desta seção.

Em relação a novos empreendimentos, o cálculo de suas garantias físicas deverá ser

integrado a esta metodologia de planejamento da expansão. Todo o processo para

obtenção do menor custo total do sistema, contando expansão e operação, é incorporado

no procedimento do cálculo de garantia física dos empreendimentos de geração.

Com a finalidade de realizar a simulação operativa para o cálculo da garantia física de

novos empreendimentos, é proposta uma rodada estática.

3.2.3.1 Rodada Estática

Esta rodada é realizada para um determinado horizonte de estudo, com as respectivas

características estruturais, sem considerar a entrada de novas usinas.

Neste tipo de estudo também é de interesse a eliminação de condições iniciais dos

reservatórios que possam interferir nos valores esperados de geração. Neste sentido, caso

a garantia física de um empreendimento de geração a combustível fóssil fosse ser

calculada a partir de um nível de armazenamento muito baixo, sua expectativa de geração

apresentaria valores mais elevados decorrentes da tentativa de recuperação do sistema

neste ano, refletindo assim aspectos conjunturais do sistema em detrimento da sua

característica estrutural.

Outra característica deste tipo de estudo é a eliminação das condições iniciais de

hidrologia. A projeção de vazões é realizada através do modelo auto-regressivo periódico,

PARp. Simplificadamente, este modelo possui uma ponderação dos 𝑝 meses anteriores

de forma tal que se mantenha a correlação temporal das séries projetadas. Em outras

palavras, caso tenha ocorrido 6 meses bem secos, o próximo mês será possivelmente

projetado a fim de seguir essa tendência hidrológica6. As simulações realizadas para o

cálculo da garantia física desconsideram o efeito das condições inicias de hidrologia para

capturar apenas os aspectos estruturais.

6 Um exemplo de influência de parâmetros conjunturais é que projeções mais secas levariam ao maior

despacho termelétrico, aumentando o E(CMO) e reduzindo a carga crítica a ser atendida pelo sistema.

51

Ainda, o cálculo do valor futuro da água é resultado do acoplamento temporal dos

estágios, relacionado com a capacidade de regularização do sistema. Imaginando que o

último ano do estudo contabilizasse para este cálculo, o custo de oportunidade da água

reduziria progressivamente, dado que nos últimos meses de estudo, não há demanda

futura – o chamado “fim do mundo”. Desta forma, o modelo computacional não observa

necessidade no armazenamento da água para períodos posteriores, incentivando o maior

turbinamento de água dos reservatórios no fim do horizonte. Por este motivo, existe a

necessidade de inserção de outros 5 anos no fim do horizonte (valor variável para cada

tipo de sistema, dependente principalmente da capacidade de regularização).

Em suma, este tipo de simulação decorre de 20 anos; 10 anos para eliminação de

condições conjunturais, 5 anos para obtenção dos resultados necessários e mais 5 anos

para estabilização da política operativa.

Um primeiro passo para determinação do montante total de garantia física é a obtenção

da carga crítica do sistema. Mediante de premissas definidas na Metodologia de Cálculo

de Garantia Física (ÁVILA, 2011), é realizada a operação do sistema de maneira estática

através do programa NEWAVE, ou seja, incorporando todos os pontos relevantes descritos

acima. Por meio deste procedimento, a demanda energética é ajustada de tal forma que o

valor esperado do custo marginal de operação médio se aproxime do custo marginal de

expansão definido à priori, considerando uma determinada tolerância, ou até que o critério

de suprimento seja atingido.7

O ajuste da demanda do sistema até a igualdade de CME e E(CMO) permite a definição

do montante máximo de geração o parque gerador pode suprir dada aquelas condições

estruturais, informações técnicas das usinas, entre outros fatores. O valor resultante deste

processo é o chamado carga crítica do sistema.

De forma simplificada, pode-se formular este problema da seguinte maneira:

𝐺𝐹 = 𝑀𝑎𝑥 𝐷 (13-1)

Sujeito a:

𝐸(𝐶𝑀𝑂) = 𝐶𝑀𝐸 (13-2)

𝑅(𝐷) ≤ 5% (13-3)

7 Existem algumas críticas sobre este procedimento, principalmente devido aos Procedimentos Operativos

de Curto Prazo – POCP, impossibilitando a representação realista da operação do sistema.

52

Em que:

𝐺𝐹 é a garantia física do sistema, também conhecida como carga crítica do sistema;

𝐷 é a demanda energética que atende os critérios estabelecidos;

𝑅(𝐷) é o risco de déficit para a demanda calculada.

Essa carga crítica é calculada em termos de energia, o que difere da quantidade de

potência que está sendo instalada no sistema. Percebe-se que, para os mesmos critérios e

condições, para aumentar a garantia física do sistema, deve-se aumentar a carga crítica,

necessitando ampliar o parque gerador também em termos de potência.

Deste montante de geração máxima, há repartição em blocos térmico e hidráulico que são

introduzidos em novos programas para individualização de usinas e definição da garantia

física individual referente a cada usina do sistema.

3.2.4 Cálculo Atual do CME

Ao final do processo de contratação de energia são firmados contratos de energia

baseados nos montantes de garantia física contratados com seus respectivos preços de

energia. Estes valores, então, levam ao processo de cálculo do custo marginal de

expansão, semelhante ao definido na metodologia acima.

Atualmente, a metodologia para o cálculo do CME tem como base os valores resultantes

de leilões passados, bem como possíveis premissas e tendências de variação. Ainda, com

auxílio do Plano Decenal de Expansão, PDE, também é ajustado um montante de entrada

de cada tipo de fonte no sistema elétrico no ano de referência8. Além disso, integra-se um

fator de ponderação para cada ano, reduzindo sua relevância com a distância temporal9.

Há, então, um cálculo com base em uma média ponderada das gerações com os custos,

resultando no CME atual.

𝐶𝑀𝐸 =

∑ 𝐸𝑔𝑓𝑖 ∗ 𝐶𝑖𝑖

∑ 𝐸𝑔𝑓𝑖

(14)

Onde:

8 Com exceção de usinas hidrelétricas, tendo em vista que seus custos são muito relacionados aos seus

respectivos projetos. 9 Leilões mais recentes recebem pesos maiores que leilões antigos em uma tentativa de obter uma tendência

de evolução.

53

𝐸𝑔𝑓𝑖 é o montante estimado de oferta de geração referente à fonte 𝑖;

𝐶𝑖 é o custo estimado para a fonte 𝑖, que é dependente do preço da fonte no ano de

referência e um fator de ponderação;

𝐸𝑔𝑓 é o montante estimado total de oferta de geração.

Conforme divulgado pela EPE, a variação do custo marginal de expansão pode ser

observada na Tabela 1.

Tabela 1: Histórico de CME

PDE de Referência CME [R$/MWh]

PDE 2006-2015 118

PDE 2007-2016 138

PDE 2008-2017 146

PDE 2019 113

PDE 2020 113

PDE 2021 102

PDE 2022 108

PDE 2023 112

PDE 2023 139

PDE 2024 154

PDE 202510 193

De acordo com o que fora exposto acima, é plausível existir diferenças significativas entre

custos marginais de expansão, principalmente devido às premissas adotadas,

manifestando possíveis deficiências no atual modelo de cálculo.

3.2.5 Principais Críticas à Metodologia Atual

Intrinsicamente, o resultado de 𝐶𝑀𝐸 = 𝐸(𝐶𝑀𝑂) é proveniente de uma análise

matemática de planejamento centralizado em que o custo marginal para expandir o

sistema se torna igual à expectativa de custo de operação do sistema. Este problema

matemático é válido somente em determinadas condições, que não são fiéis no problema

prático a ser solucionado.

Em primeiro lugar, durante a formulação do problema, é pressuposto que a função de

custo de investimento seja uma variável contínua o que é pouco provável na prática, uma

10 O PDE 2025 não foi realizado, no entanto, este valor foi utilizado para realização dos cálculos de garantia

física de novos empreendimentos

54

vez que dificilmente serão incorporados investimentos parciais, ou seja, construção de

parte de usinas de geração. Além disso, a metodologia não introduz efeito de economia

de escala, que representa um barateamento do custo das usinas por unidade de potência

(R$/MWh) com o aumento de suas potências.

Outro fator que gera críticas é a representação determinística da demanda energética.

Havendo variação no cenário de carga, certamente existirá modificação no despacho de

usinas, o que acarreta em variações do custo marginal e consequentemente desequilíbrio

entre custos marginais de expansão e operação.

Ainda, com necessidade de construir a função de custo de investimento, faz-se necessário

introduzir custos reais dos projetos de usinas. Contudo, a definição dos custos de projetos

é dependente de diversas variáveis, como por exemplo custo de construção de usinas,

aversão ao risco de investidores e condições de competição do mercado. Todos estes

fatores impossibilitam a definição de uma curva de custo de investimento fiel à realidade.

Em relação à metodologia em si, vale ressaltar a dependência de parâmetros de calibração

do custo de déficit do modelo de operação. Dado que o planejamento de operação do

sistema possui influência direta com o custo de déficit, nota-se que o valor obtido de seu

cálculo pode alterar significativamente os resultados de custos operativos e, por

consequência, de decisões de investimento.

Tendo em vista que o CME apresentado pelo governo não é derivado do resultado desta

metodologia, mas sim de um cálculo baseado em algumas premissas, outros argumentos

são levantados contra este mecanismo.

Segundo o que foi exposto, o CME calculado pela EPE leva em consideração resultados

passados de leilões de energia. Mesmo com a atribuição de pesos para ponderação dos

preços dos leilões, este mecanismo não possibilita avaliar corretamente as tendências de

custos dos diferentes tipos de fontes, resultando em preços irreais.

Outro ponto importante para a análise é que os preços utilizados nos cálculos contemplam

apenas os preços do ACR, desconsiderando a expansão de usinas para o mercado livre.

Alguns empreendimentos de geração podem, por exemplo, vender parcelas de suas

garantias físicas no mercado cativo, garantindo o retorno do custo de investimento do

empreendimento, enquanto que o restante pode ser vendido em preços distinto no

mercado livre, permitindo que investidores tracem estratégias de compra e venda de

55

energia. Este é o caso, por exemplo, da usina hidrelétrica de Belo Monte, que, até o

momento, vendeu cerca de 70% de seu certificado de garantia física para o mercado

regulado, enquanto o restante seria destinado ao mercado livre.

Fora os preços estimados para as fontes, a tendência de mix da oferta de geração também

é outro fator determinado pela EPE. Com um custo marginal de expansão passado, é

determinado um mix de expansão para o sistema. Este mix, junto ao novo resultado do

leilão são os pilares para o cálculo do novo CME. Consequentemente, o novo valor de

CME será diferente do que foi utilizado para o cálculo do mix, levando a resultados

distorcidos da expansão do sistema.

Um outro ponto da metodologia é o risco de déficit do sistema. Diferentemente da

metodologia anterior, que possuía como dado de entrada o risco de déficit máximo

admissível (no caso, 5%), ao adotar a igualdade entre valor esperado do CMO e CME, o

risco de déficit do sistema torna-se um resultado de cálculo, também conhecido como

risco de déficit implícito.

Toda metodologia para expansão da oferta de geração e contratação de energia por meio

de certificados de garantia física, no entanto, estão atrelados às simulações que

desconsideram a aversão ao risco presente no despacho hidrotérmico discutidos no

Capítulo 2. Como resultado, estes cálculos não representam exatamente o nível de

segurança do sistema, muito menos os custos associados. Assim sendo, o Capítulo 4 faz

uma abordagem da adoção dos mecanismos de aversão ao risco associado ao

planejamento da expansão do sistema, permitindo alinhar de forma mais adequada a

operação e a expansão.

56

4 Aversão a risco no Planejamento da Expansão

Até o momento, o desafio da expansão do sistema foi tratado de forma separada à aversão

ao risco incorporada na operação do sistema, utilizando apenas o valor esperado do custo

marginal de operação para montagem da função de custo de operação utilizada na

metodologia. Contudo, sabe-se que isto não é condizente com a realidade da operação do

sistema elétrico brasileiro, pois a operação é condicionada ao mecanismo de aversão ao

risco CVaR. Consequentemente, o resultado da solução do problema não é ótimo, pois a

otimização da expansão é realizada sem considerar os verdadeiros custos de operação do

sistema.

Por este motivo, uma necessidade atual do setor elétrico brasileiro é compatibilizar as

metodologias de planejamento da operação e expansão.

4.1 O Desacoplamento entre a Expansão e o Planejamento da Operação

Em suma, no Brasil a expansão é dada através do cálculo da carga crítica do sistema. Este

cálculo é realizado por meio de rodadas estáticas, conforme comentado, até que o limite

do critério estabelecido pelo MME de igualdade entre CME e o valor esperado de CMO,

ou, alternativamente, até que o risco de déficit seja igual a 5%, não infringindo nenhum

destes critérios.

Em contrapartida, foi observado que o planejamento da operação do sistema é feito

apoiado sobre mecanismos de aversão ao risco, que permitem a antecipação de despacho

termelétricos com o propósito de reduzir riscos de falhas no suprimento energético do

sistema, o que não era agregado no problema exposto. Até 2013 este fato não era

introduzido no cálculo da garantia física, pois a carga crítica era calculada considerando

despacho hidrotérmico sem o CVaR.

Como resultado, a operação do sistema não representa de maneira fiel a realidade do

planejamento da operação, acarretando em custos superiores ao apresentado nesta

metodologia de cálculo de carga crítica. Em outras palavras, pode-se dizer que o risco de

déficit do planejamento da expansão, 𝑅(𝐷), estava superestimado. Equivalentemente, as

gerações de usinas térmicas estarão também subestimadas, já que as mesmas tenderão a

atuar com mais frequência ao aplicar CVaR no planejamento da operação.

57

Em 2014 o cálculo da garantia física passou a ser realizado considerando despacho

hidrotérmico com o CVaR. Com isso a aversão ao risco passou a ser considerada

parcialmente na expansão do sistema. Isto ocorre porque, apesar da garantia física ser

calculada considerando a operação do despacho hidrotérmico com CVaR, o critério para

o cálculo da carga crítica é a igualdade entre o valor esperado do CMO e o CME, o que

não é coerente com a função objetivo do problema de expansão. Em outras palavras, o

ponto ótimo definido matematicamente por meio da igualdade também não é mais

atendido11, uma vez que a operação é realizada com o 𝐶𝑉𝑎𝑅(𝐶𝑀𝑂).

De forma a clarificar a ideia de desacoplamento entre a expansão e a operação, tem-se a

Figura 16, que ilustra o problema atual.

Figura 16:Representação do planejamento do setor

Sendo assim, uma forma de representar de maneira fiel o real despacho hidrotérmico seria

aplicando o mecanismo de aversão ao risco, CVaR, também na expansão do sistema.

Analogamente, o esquema apresentado na Figura 16 seria modificado para o seguinte

formato:

Figura 17: Representação do planejamento do setor considerando CVaR na expansão

11 Um exemplo qualitativo é: utilizando 𝔼(CMO) = CME, é indiferente operar com recurso existente ou

expandir e operar com recurso novo; ao aplicar CVaR(CMO), recursos mais caros estarão dentro da ordem

de mérito econômico (analogamente, o despacho da usina ocorrerá com mais frequência), logo 1 MW de

potência instalada resultaria em reduções mais significativas de custos operativos.

Módulo de Operação

(sem CVaR)

Módulo de Expansão

Módulo de Operação

(com CVaR)

Planejamento da Expansão Planejamento da Operação

Módulo de Operação

(com CVaR)

Módulo de Expansão

Módulo de Operação

(com CVaR)

Planejamento da Expansão Planejamento da Operação

58

Recordando a metodologia do planejamento da expansão, as informações provenientes

do módulo de operação para o módulo de expansão são baseadas em cortes. Estes cortes

representam uma aproximação do custo operativo térmico em relação à capacidade

máxima de geração de uma determinada usina. Anteriormente, este custo era calculado

sem aplicação de CVaR. Deste modo, o novo acoplamento deverá ser dado por meio de

cortes derivados da operação considerando CVaR. Assim, o processo de troca de

informações entre os módulos é dado como o esquema da Figura 18:

Figura 18: Esquema de aplicação de CVaR no problema de expansão

Ou seja, o módulo de operação realiza o cálculo dos custos de operação do sistema

utilizando a metodologia CVaR, que, por consequência, resulta em valores mais elevados

dos custos operativos. Após o resultado do módulo de operação, o cálculo dos cortes da

função de custo de operação é feito com base na média dos cortes obtidos para cada série

de simulação do módulo de operação. Este resultado permite a tomada de decisão do

módulo expansão, fornecendo um novo plano de expansão.

4.2 O Impacto da Aversão ao Risco no Cálculo da Carga Crítica do Sistema

Conforme mencionado nas seções anteriores, o resultado do cálculo do custo de operação

torna-se superior ao introduzir mecanismos de aversão ao risco no cálculo da política

operativa. Este resultado impacta diretamente o custo marginal de operação do sistema,

elevando-o de tal forma que permita o pré-despacho de usinas térmicas a com intuito de

armazenar água para períodos posteriores.

59

Portanto, devido aumento do custo marginal de operação com a aplicação do CVaR na

política, a carga crítica do sistema deverá reduzir graças ao critério definido pela EPE de

igualdade entre valor esperado do custo marginal de operação e o custo marginal de

expansão (a rodada estática com CVaR atende menor quantidade de demanda para igualar

o custo operativo médio ao CME). Isto, por sua vez, levará a menor quantidade de

garantia física dos empreendimentos para a mesma configuração de sistema.

4.2.1 Exemplo

Toda análise até este ponto esteve balizada no impacto da mudança de parâmetros de

aversão ao risco sobre a carga crítica do sistema (consequentemente sobre a garantia física

de empreendimentos). Com o propósito de ilustrar, foi criado um caso estático igual ao

explicado na seção de Rodada Estática considerando a configuração do sistema elétrico

brasileiro para janeiro de 2017. Neste caso, também foi utilizada a premissa de 𝐶𝑀𝐸 =

193 𝑅$/𝑀𝑊ℎ, que é o último valor divulgado pela EPE.

As simulações desta configuração adotam diferentes premissas para o cálculo da carga

crítica do sistema. Neste exemplo, será apresentado o efeito da aversão ao risco,

considerando a operação do sistema com i) Valor Esperado, ii) CVaR com 𝛼 = 50% e

𝜆 = 25% e iii) CVaR com 𝛼 = 50% e 𝜆 = 40%.

A Figura 19 apresenta o resultado das simulações.

Figura 19: Impacto da aversão ao risco sobre a carga crítica do sistema

Desta maneira, nota-se que a garantia física calculada para o mesmo sistema é menor

quanto maior for a aversão ao risco da operação.

60

Uma forma para avaliar esta questão em termos de contratação de usinas é: supondo que

a demanda a ser contratada em um leilão é 200 MW médios, a soma de garantia física de

novos empreendimentos contratados deverá cobrir este montante total. Durante o

processo de cálculo de garantia física de novos empreendimentos pela EPE, uma mesma

usina possuirá menor garantia física com a aplicação da aversão ao risco. Por

consequência, mais empreendimentos deverão ser contratados para cumprir o montante

de 200 MW médios.

Outro fator relevante ao final do processo é o risco implícito de déficit. Este é outro

resultado da simulação da carga crítica do sistema, que indica qual o percentual de risco

que o sistema está exposto caso o mesmo esteja em condição de equilíbrio (oferta e

demanda 100% cobertas por contratos).

A Figura 20 apresenta-se o risco implícito de cada caso apresentado.

Figura 20: Risco implícito do sistema para diferentes critérios de aversão ao risco

Relembrando que um dos critérios de parada para o cálculo da carga crítica do sistema é

o risco de déficit menor ou igual a 5%, é esperado que o risco implícito calculado neste

exemplo forneça valores iguais ou inferiores aos 5%, principalmente devido à parada

ocorrer devido à igualdade.

É notável que a introdução de aversão ao risco mais severa, a probabilidade de ocorrerem

cortes de carga são reduzidas, indicando maior segurança operativa sobre o sistema.

4.3 O Impacto do CME no Cálculo da Carga Crítica do Sistema

Outro importante ponto a ser levado em consideração é o impacto do custo marginal de

expansão sobre a carga crítica do sistema. A incerteza no cálculo do CME é uma das

0.0%

0.5%

1.0%

1.5%

2.0%

2.5%

CME 193

[%]

Dem

an

da

Risco Implícito

Valor Esperado CVaR 50-25 CVaR 50-40

61

principais críticas à metodologia atual e esta incerteza, por sua vez, pode resultar em

valores bem discrepantes de garantia física do sistema/usinas, principalmente porque uma

das restrições (e a principal) é a igualdade de 𝐸(𝐶𝑀𝑂) = 𝐶𝑀𝐸.

4.3.1 Exemplo

Novamente com base na configuração de janeiro de 2017 do SIN, são realizadas novas

simulações estáticas. No exemplo anterior, o balanço estrutural utilizava o critério de

igualdade levando em consideração 𝐶𝑀𝐸 = 193 𝑅$/𝑀𝑊ℎ, fazendo com que a garantia

física do sistema fosse calculada até tanger o critério de igualdade com uma certa

tolerância.

Neste caso, são apresentados impactos da mudança do valor do CME, desta vez igual a

220 𝑅$/𝑀𝑊ℎ.

A Figura 21 ilustra o novo valor de carga crítica do sistema.

Figura 21: Alteração da carga crítica com relação ao CME

Percebe-se que com o aumento do valor de CME, também ocorre o crescimento da carga

crítica do sistema. Esse resultado é uma consequência direta da restrição de igualdade

entre 𝐸(𝐶𝑀𝑂) = 𝐶𝑀𝐸, já que a expectativa de preços poderá atingir patamares mais

elevados, dessa vez igual a 220 R$/MWh. Com isso, o ajuste de carga crítica tenderá a

possuir valores superiores.

A Tabela 2 resume o impacto do custo marginal de expansão e da introdução da aversão

ao risco no planejamento da expansão sobre a carga crítica do sistema.

62

Tabela 2: Resumo do impacto da aversão ao risco e CME sobre a carga crítica

Sendo assim, pode-se interpretar a Tabela 2 da seguinte forma: considerando a

configuração atual do sistema (como capacidade instalada) e utilizando o valor esperado

durante o processo de rodada estática considerando 𝐶𝑀𝐸 = 193 𝑅$/𝑀𝑊ℎ, a carga

crítica do sistema é 72.9 𝐺𝑊𝑚é𝑑𝑖𝑜𝑠 (procedimentos atuais). No entanto, caso seja

requerido um novo CME, neste caso de 220 𝑅$/𝑀𝑊ℎ, ainda considerando o sistema sem

aversão ao risco, a carga crítica cresce para 73.3 𝐺𝑊𝑚é𝑑𝑖𝑜𝑠. Finalmente, levando em

consideração os parâmetros do CVaR de 𝛼 = 50% e 𝜆 = 40% e 𝐶𝑀𝐸 = 220 𝑅$/𝑀𝑊ℎ,

a nova carga crítica é de 72.6 𝐺𝑊𝑚é𝑑𝑖𝑜𝑠. Lembra-se também que todos estes valores

consideram a mesma capacidade instalada.

Analogamente, a Figura 22 ilustra o impacto da modificação do CME sobre o risco

implícito do sistema.

Figura 22: Risco implícito do sistema para diferentes valores de CME

Visto que o mesmo sistema poderá atender uma demanda energética superior (observada

pela maior carga crítica), existem riscos maiores de ocorrerem falhas sobre o suprimento

energético do sistema.

Nota-se, portanto, a importância do cálculo do CME para determinar a garantia física de

empreendimentos (que hoje é pré-estabelecido pela EPE). Ainda, a relevância de

193 220

Valor Esperado 72.9 73.3

CVaR 50-25 72.6 73.2

CVaR 50-40 72.1 72.6 Ave

rsão

ao

Ris

co

CME [R$/MWh]

GW

méd

io

0.0%

0.5%

1.0%

1.5%

2.0%

2.5%

3.0%

3.5%

CME 193 CME 220

[%]

Dem

an

da

Risco Implícito

Valor Esperado CVaR 50-25 CVaR 50-40

63

representar de maneira fiel o planejamento do sistema, considerando os mecanismos de

aversão ao risco utilizados.

Além disso, é notável que através de determinações de parâmetros do planejamento

centralizado, é possível introduzir determinados os critérios de segurança de suprimento

do planejador, contratando mais ou menos capacidade instalada por meio de garantia

física.

64

5 Estudos de Caso

Com o intuito de analisar o impacto da aversão ao risco sobre o planejamento da expansão

do sistema, foram elaboradas algumas simulações com auxílio do modelo OPTGEN,

conforme comentado anteriormente. Para isso, foi necessário adotar uma configuração de

sistema que permitisse a avaliação da contratação de empreendimentos e resultados

operativos.

Sendo assim, o estudo de caso apresentado neste capítulo é proveniente da configuração

do sistema elétrico da Costa Rica, o que também é considerado hidrotérmico com maior

parte do parque gerador hidrelétrico, no entanto bem inferior ao sistema brasileiro.

5.1 Costa Rica

5.1.1 Configuração

Devido ao grande número de detalhes existentes na base de dados utilizada da Costa Rica,

algumas premissas foram introduzidas com a finalidade de simplificar as simulações e

facilitar análises conclusivas sobre os planos de expansão e operação. Dentre elas, as

principais são:

i) Simplificação da demanda para um único bloco (um único patamar de

1250 MW);

ii) Não representação da rede de transmissão.

Sendo assim, a partir dos dados originais, foi montado um caso similar12 ao balanço

estático comentado neste trabalho e exemplificado no Capítulo 4.

De forma a ilustrar o sistema elétrico que será utilizado, são apresentados gráficos com a

configuração de oferta. A Figura 23 ilustra a capacidade instalada total e as respectivas

fontes de energia, enquanto que a Figura 24 apresenta a curva de ordem de mérito do

sistema. Note, entretanto, que a capacidade hidrelétrica é apresentada como CVU igual a

zero, no entanto o valor de geração de energia por meio destas usinas é igual ao próprio

valor da água do reservatório da usina.

12 Algumas alterações foram feitas de maneira a adequar o caso estático ao sistema em estudo (como por

exemplo a introdução de apenas 1 ano adicional ao final do horizonte devido à menor capacidade e

regularização).

65

Figura 23: Capacidade instalada do parque gerador do caso em estudo

Figura 24: Curva de ordem de mérito do sistema

Ressalta-se que a decisão pela utilização da Costa Rica como caso de estudo ocorre

devido à similaridade do parque gerador como pode ser visto pela Figura 23.

Em relação aos projetos candidatos à entrada em operação, foram modeladas duas

unidades termelétricas, as quais possuem capacidade muito superior à necessária para

expansão, permitindo avaliar o plano de expansão sem limitações. Ainda, os custos (tanto

de instalação, quanto de operação) são alterados ao longo dos casos com a finalidade de

avaliar o impacto de cada variável sobre a expansão, tanto do montante total, quanto da

própria. Além disso, a principal característica que distingue as plantas é a inflexibilidade,

1503

194

173

19831

Capacidade Instalada [MW]

Hidrelétricas

Óleo Combustível

Geotérmico

Óleo Diesel

Biomassa

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

325

1500 1600 1700 1800 1900 2000 2100

CV

U [

$/M

Wh

]

Potência Disponível [MW]

Curva de Ordem de Mérito

66

sendo uma delas 80% inflexível (despacho obrigatório), enquanto que a outra planta 100%

flexível.

A Figura 25 compara a potência instalada por fonte do parque existente com a demanda

considerada no estudo.

Figura 25 - Balanço de potência

5.1.2 Análise de Resultados

Entendido o caso em estudo, necessita-se então aplicar a metodologia adotada neste

trabalho para definir o planejamento da expansão do sistema.

5.1.2.1 Impacto da Aversão ao Risco sobre a Operação

Primeiramente, o caso apresentado nesta seção ilustra a influência da introdução da

aversão ao risco na operação (Op-CVAR) sobre o custo total do sistema. Dessa maneira,

a sistemática adotada para avaliar os custos do sistema envolve realizar o planejamento

de expansão sem considerar a aversão ao risco (Exp-VE), conforme descrito no Capítulo

3.

Dado o plano de expansão sem aversão a risco (Exp-VE), o sistema é novamente simulado

levando em consideração diferentes níveis de aversão ao risco (Op-CVAR). Com o intuito

de fornecer diferentes pesos para a aversão do operador, o parâmetro 𝜆% foi alterado para

cada simulação. Para todos os casos aqui analisados, os parâmetros de aversão ao risco

são: i) Valor Esperado (equivale a 𝛼 = 20% e 𝜆 = 0%, não fornecendo peso para a

ponderação), ii) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 20%, iii) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 30%,

67

e iv) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 45%, organizando-os de maneira crescente em termos

de aversão. A Figura 26 apresenta os resultados desta simulação.

Figura 26 - Custo total do sistema considerando diferentes níveis de aversão ao risco somente na operação

A partir dos resultados obtidos, é notável o aumento do custo global do sistema quando

se aumenta aversão ao risco na operação (devido ao maior despacho térmico). A Tabela

3 apresenta os custos relativos à operação, à expansão e ao custo global de cada

simulação.

Tabela 3: Custo total do sistema para diferentes aversões ao risco na operação

Tendo em vista que a solução ótima do problema de expansão está relacionada ao caso

“Exp-VE:OP-VE”, ao modificar a aversão ao risco, o sistema não necessariamente estará

expandindo e operando de maneira ótima (analogamente, o custo total do sistema não

será necessariamente o menor possível). Isto, por sua vez, leva ao pensando já introduzido

de que pode ser menos custoso para a sociedade expandir mais o sistema ao invés de

operar com recursos existentes.

5.1.2.2 Impacto da Aversão ao Risco sobre o Investimento

Primeiro, avalia-se o impacto sobre a decisão de investimento em diversos cenários de

aversão ao risco. Cada um dos casos incorpora diferentes parâmetros no mecanismo de

aversão ao risco CVaR (mais especificamente diferentes valores de 𝜆%). Assim, espera-

se observar que para um sistema mais avesso ao risco, será contratada maior capacidade

Custo de Investimento [M$] Custo de Operação [M$] Custo Total [M$]

Exp-VE:Op-VE 170.6 1,441.4 1,611.9

Exp-VE:Op-CVaR(20,15) 170.6 1,455.0 1,625.6

Exp-VE:Op-CVaR(20,30) 170.6 1,489.0 1,659.6

Exp-VE:Op-CVaR(20,45) 170.6 1,527.3 1,697.8

Custo Total

68

de empreendimentos (ao invés de operar de maneira mais cara, pode-se contar com mais

oferta, reduzindo os riscos da mesma forma, porém de maneira mais barata).

Novamente, os parâmetros de aversão ao risco são: i) Valor Esperado (equivale a 𝛼 =

20% e 𝜆 = 0%, ii) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 20%, iii) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 =

30%, e iv) CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 45%, organizando-os de maneira crescente em

termos de aversão.

5.1.2.2.1 Caso I

Sendo assim, os custos variáveis unitários de ambas térmicas (flexível e inflexível) são

mantidos iguais em 130.84 $/MWh, bem como o custo de implantação (CAPEX, iguais

a 1250 $/MW). Consequentemente, a única diferença entre os projetos candidatos é a

geração mínima.

Tabela 4: Caso I - Custos das usinas térmicas

Em termos de custos, os resultados são apresentados na Figura 27:

Figura 27: Caso I – Custos do sistema

Alternativamente, os valores também podem ser comparados por meio da Tabela 5:

Térmica CAPEX [$/MW] CVU [$/MWh]

Flexível 1250 130.84

Inflexível 1250 130.84

69

Tabela 5: Caso I – Custos do sistema

Conforme esperado, os custos totais do sistema crescem com o aumento da aversão ao

risco. Nota-se também que, tanto os custos de investimento, representados pelas barras

lisas, quanto os custos de operação, representados pelas barras hachuradas, são

superiores, indicando que o impacto da aversão é aplicado sobre a contratação e despacho

de empreendimentos.

Uma outra avaliação que deve ser considerada é a contratação de empreendimentos. A

Figura 28 apresenta a quantidade de capacidade instalada definida no plano de expansão.

Figura 28: Caso I - Capacidade instalada

É notável que a decisão de investimento é superior com o aumento da aversão. Dessa

forma, o sistema conta com capacidade extra de geração, para cenários mais críticos, não

necessitando acionar usinas muito mais caras durante a operação.

Ao observar o mix de oferta entrante no sistema, todos os casos tiveram decisões de

adicionar apenas usina flexíveis, o que é esperado. Já que a usina inflexível necessitaria

de ser acionada por meio de um despacho mínimo, o que não seria necessário em todas

ocasiões, acarretaria em custos mais elevados.

Caso Custo de Investimento [M$] Custo de Operação [M$] Custo Total [M$]

Valor Esperado 202.18 1,354.60 1,556.78

CVaR: 20-20 204.06 1,369.30 1,573.36

CVaR: 20-30 208.94 1,374.60 1,583.54

CVaR: 20-45 229.34 1,375.70 1,605.04

70

Um outro ponto a ser levado em consideração é o custo marginal de operação e o risco de

déficit destes casos.

Assim, a Figura 29 apresenta o valor esperado estas duas variáveis operativas.

Figura 29: Caso I - CMO e Risco

Com a aplicação da aversão ao risco na expansão do sistema, nota-se a tendência de

redução de preços de energia, o que é esperado, já que é resultado do trade-off entre

investir em nova capacidade ou operar com os recursos existentes.

A redução do custo marginal de operação ocorre devido a diversos fatos; visto que o risco

de ocorrer déficit energético é reduzido (tanto devido à maior capacidade, quanto ao

maior armazenamento), também há redução da penalidade destes cenários, o que resulta

em menores preços. Ainda, como o CVU destas usinas é inferior ao CMO do sistema,

elas são introduzidas não apenas para garantir segurança de suprimento, mas também para

gerar energia na base do sistema. Ainda, com a inserção de maior aversão ao risco, o nível

de armazenamento de energia em reservatórios é mais elevado, o que resulta em maior

possibilidade de vertimento em períodos de chuva.

5.1.2.2.2 Caso II

Em um novo caso, foram introduzidos valores referentes aos custos variáveis unitários

das térmicas de maneira a analisar a decisão do trade-off entre contratar energia mais

barata por meio de térmicas inflexíveis (realizando maior despacho térmico) ou mais cara

por meio de térmicas flexíveis (custos de operação mais elevados). Assim, a Tabela 6

resume os custos destas usinas:

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

140

142

144

146

148

150

152

154

156

158

160

Valor Esperado CVaR: 20-20 CVaR: 20-30 CVaR: 20-45

Ris

co d

e D

éfi

cit [

% C

arga

]

CM

O [

$/M

Wh

]

Custo Marginal de Operação -CMO Risco

71

Tabela 6: Caso II - Custos das usinas térmicas

Portanto, novamente por meio da simulação, obtém-se os seguintes resultados:

Figura 30: Caso II - Custos do sistema

Tabela 7: Caso II - Custos do sistema

Novamente, é possível notar que o custo operativo é crescente com relação à aversão ao

risco. Neste caso, o montante instalado definido no plano de expansão é:

Térmica CAPEX [$/MW] CVU [$/MWh]

Flexível 1250 154.01

Inflexível 1250 130.84

Caso Custo de Investimento [M$] Custo de Operação [M$] Custo Total [M$]

Valor Esperado 170.55 1,441.04 1,611.59

CVaR: 20-20 204.47 1,424.70 1,629.17

CVaR: 20-30 208.16 1,434.40 1,642.56

CVaR: 20-45 242.49 1,436.83 1,679.32

72

Figura 31: Caso II - Capacidade instalada

Além de confirmar o que foi definido anteriormente sobre o aumento da decisão de

investimento com o aumento da aversão ao risco, este caso permite avaliar também a

decisão de mix de oferta. Sendo assim, tem-se a Figura 32, a qual apresenta a decisão de

investimento:

Figura 32: Caso II - Mix da decisão de investimento

Observa-se, portanto, que a decisão por usinas inflexíveis é possui menor relação com a

aversão ao risco do que usinas flexíveis. De acordo com o que foi dito no Caso I, parte

das usinas flexíveis estavam atendendo questões energéticas, gerando energia na base do

sistema, principalmente porque o custo marginal era superior ao custo variável unitário

0

50

100

150

200

250

300

Inflexível Flexível Inflexível Flexível Inflexível Flexível Inflexível Flexível

Valor Esperado CVaR: 20-20 CVaR: 20-30 CVaR: 20-45

De

cisã

o [M

W]

73

da térmica. Neste caso, a térmica inflexível é mais barata, parte da decisão do

planejamento visa definir uma quantidade para atendimento a demanda energética.

Em contrapartida, a contratação de térmicas flexíveis possui alta relação com a aversão

ao risco. Conforme discutido em capítulos anteriores, o aumento da aversão resulta em

contratação de maior capacidade instalada para uma mesma necessidade energética, o que

ocasiona em capacidade instalada ociosa parte do tempo da operação, no entanto útil em

hidrologias críticas. Isto está totalmente relacionado ao aumento da contratação das usinas

térmicas flexíveis observadas neste caso.

As variáveis de operação relacionadas ao custo da energia e risco são apresentadas pela

Figura 33:

Figura 33: Caso II - CMO e Risco de Déficit

Observa-se novamente a redução do custo marginal de operação com o aumento da

aversão ao risco, muito devido a utilização de nova oferta de geração e redução dos riscos,

reduzindo a penalidade sobre a operação, conforme analisado no caso anterior.

Portanto, ao final da análise da contratação em relação à aversão ao risco, é entendido que

a contratação de oferta de geração aumenta de acordo com o aumento da aversão ao risco

do operador, permitindo operar o sistema de maneira mais eficiente em termos

econômicos e com menores riscos.

Ainda, é notável a implicância da aversão ao risco em diferentes tipos de projeto. As

usinas inflexíveis são contratadas, de maneira geral, para atendimento de demanda

energética, já que suas operações dificilmente serviriam para atendimento a ponta de

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

140

145

150

155

160

165

170

175

180

Valor Esperado CVaR: 20-20 CVaR: 20-30 CVaR: 20-45R

isco

de

fici

t [%

Car

ga]

CM

O [

$/M

Wh

]

Custo Marginal de Operação -CMO Risco

74

carga. Diferentemente, usinas flexíveis tem suas operações focadas em geração de energia

na ponta ou em momentos de estresse do sistema, como períodos de baixas hidrologias.

5.1.3 Avaliação do Desacoplamento entre Planejamento da Expansão e Operação

Conforme visto, o sistema brasileiro possui divergências entre os diferentes

planejamentos do setor. Isto implica em decisões de expansão e operação não-ótimas,

resultado em custos extras para a sociedade e redução da eficiência do setor elétrico.

Com intuito de avaliar o impacto deste desacoplamento entre planejamentos, foram

realizadas simulações com os seguintes critérios:

a) Realiza-se a expansão do sistema com a operação sem considerar a aversão ao

risco (conforme realizado atualmente). Este plano de expansão é utilizado na

operação do sistema SEM e COM aversão ao risco, permitindo avaliar o custo

total e o risco de déficit;

b) Realiza-se a expansão do sistema com a operação considerando aversão ao risco

na operação. O novo plano de expansão é, então, aplicado na operação do sistema

SEM e COM aversão ao risco, avaliando novamente o custo total e o risco de

déficit.

Desta forma, pode-se ter uma sensibilidade do impacto para a sociedade devido ao

desacoplamento. A Figura 34 ilustra esta análise:

Figura 34: Metodologia para avaliação do impacto do desacoplamento entre operação e expansão

Portanto, a simulação tomou como base novamente a configuração da Costa Rica, em que

existem ainda duas usinas térmicas diferentes candidatas a integrar ao sistema (flexível e

inflexível), sendo que com preços de operação distintos. Por simplicidade, as análises

foram realizadas com base em apenas duas formas de operação: a) Sem considerar

aversão ao risco e b) Considerando CVaR com 𝛼 = 20% e 𝜆 = 45%.

EXPANSÃO SEM

CONSIDERAR CVaR

NA OPERAÇÃO

EXPANSÃO

CONSIDERANDO

CVaR NA OPERAÇÃO

OPERAÇÃO

SEM CVaR

OPERAÇÃO

COM CVaR

OPERAÇÃO

SEM CVaR

OPERAÇÃO

COM CVaR

PLANO DE

EXPANSÃO

PLANO DE

EXPANSÃO

75

Primeiramente, deve-se definir o plano e expansão ótimo para os dois casos. A Tabela 8

apresenta a instalação e custo de cada um dos planos (são semelhantes ao que foi visto na

análise do Caso II).

Tabela 8: Expansões utilizadas para análise de planejamentos

Com a expansão do sistema em mãos, introduz-se o plano na operação do sistema. Para

cada plano de expansão, foram utilizados dois casos de operação, conforme explícito na

Figura 34. Logo a Figura 35 mostra o resultado em termos de custo total para o sistema

com relação aos diferentes casos simulados.

Figura 35: Custos de expansão e operação para diferentes planejamentos

Tabela 9: Custo total do sistema considerando diferentes planejamentos

De forma a elucidar a Figura 35, tem-se que as duas primeiras barras consideram a

expansão realizadas sem aversão ao risco (por isso possuem o mesmo preço), indicando

com o marcador “Exp-VE” (ou, expansão com valor esperado). Entretanto, ao operar o

sistema, a primeira continua sem considerar CVaR, o que levaria a grandes riscos de corte

de carga. Por outro lado, a segunda barra realiza a operação considerando CVaR no

Investimento [M$]Capacidade

Instalada [MW]

Valor Esperado 170.55 245.97

CVaR 242.49 349.71Expansão

1,441

1,527

1,3881,437

171

171

242

242

1,300

1,350

1,400

1,450

1,500

1,550

1,600

1,650

1,700

1,750

1,800

Exp-VE:Op-VE Exp-VE:Op-CVaR Exp-CVaR:Op-VE Exp-CVaR:Op-CVaR

Cu

sto

To

tal [

M$

]

Custo de Operação Custo de Investimento

Atualmente usado no Brasil

Valor Esperado CVaR

Valor Esperado 1,611.92 1,697.83

CVaR 1,630.50 1,679.32

Expansão

considerando:

Operação considerando:Custo Total do Sistema [M$]

76

cálculo da política operativa. O efeito da aplicação de CVaR na operação resultou em

aumento de quase 6% na operação do sistema.

Com isso, a antiga análise de trade-off apontada nos capítulos anteriores pode ser julgada

(ao invés de gastar mais na operação, é mais válido investir em mais capacidade). Sendo

assim, ao considerar o plano de expansão calculado considerando a aversão ao risco,

obtém-se um plano com mais capacidade instalada e custos mais elevados. Em

contrapartida, o retorno destes custos é obtido por meio da operação menos custosa do

sistema. A terceira barra apresenta apenas uma análise para completar o diagrama

proposto. Nela é aplicado o plano de expansão considerando CVaR, porém operando sem

considerar (o que é pouco provável de acontecer, além de manter o desacoplamento entre

planejamentos). No entanto, a quarta barra representa o caso considerando CVaR tanto

na expansão, quanto na operação. Essa metodologia, por sua vez, apresentou custos

inferiores quando comparado ao segundo caso (expansão com VE e operação com

CVaR). Todavia, vale apresentar também o risco de déficit médio de cada uma das

simulações:

Figura 36: Risco de déficit médio

Dessa forma, é notável que realizando ambos planejamentos considerando aversão ao

risco, além de implicar em custos inferiores, há o aumento significativo da segurança

energética para o sistema.

4%

2% 2%

0%0%

1%

2%

3%

4%

5%

Exp-VE:Op-VE Exp-VE:Op-CVaR Exp-CVaR:Op-VE Exp-CVaR:Op-CVaR

Ris

co [%

da

Car

ga]

Atualmenteusadono Brasil

77

6 Conclusões

6.1 Conclusão

O formato de expansão do sistema elétrico brasileiro é baseado em regulações que

garantem a contratação integral de qualquer consumo. Por trás de contratos de energia,

necessariamente existem certificados de garantia física, fornecidos a empreendimentos

de geração, os quais contam com premissas para o planejamento do setor elétrico

brasileiro durante a realização de seu cálculo, como a igualdade entre valor esperado do

CMO e CME e o risco de déficit menor ou igual a 5%.

Ainda, o formato atual para realização do cálculo da garantia física de novos

empreendimentos é feito por meio da obtenção da carga crítica do sistema, que depende

de simulação da operação do mesmo. Durante esta etapa, não há introdução de

mecanismos de aversão ao risco, o que a torna infiel à realidade de planejamento da

operação, pois o mesmo conta com despacho antecipado de usinas térmicas a fim de

fornecer maior segurança energética. Consequentemente, conforme discutido, a

introdução de mecanismos de aversão ao risco na operação acarreta em custos operativos

mais elevados, levando a não “otimalidade” do sistema de modo geral, pois é possível

que seja mais vantajoso contar com nova capacidade instalada para geração de energia do

que operar com recursos mais caros.

Portanto, este trabalho forneceu sensibilidades sobre o cálculo da carga crítica do sistema

(equivalente à garantia física total do sistema) ao considerar diferentes parâmetros e

premissas. Dentre os resultados, observou-se a redução da carga crítica com o aumento

da aversão ao risco para o mesmo sistema. Isto, portanto, é uma indicação da possível

necessidade de contratação de maior capacidade de geração para uma mesma demanda

energética.

Além disso, com auxílio de um caso simplificado, porém similar ao sistema elétrico

brasileiro, foi possível avaliar o aumento do custo total ao introduzir diferentes níveis de

aversão ao risco na operação mantendo a mesma expansão. Esse resultado é um dos

pilares para a discussão da alternativa de possível contratação de mais capacidade

instalada ao invés de operação com recursos existentes.

78

Desta forma, a expansão do sistema foi novamente calculada de acordo com a

metodologia abordada e considerando aversão ao risco no planejamento, obtendo novo

plano de expansão, com capacidade superior ao anterior. De acordo com o pensamento,

a decisão de optar por maior capacidade do parque gerador forneceu custos de expansão

mais elevados, contudo, considerando a operação o custo total do sistema (custo de

expansão + custo de operação), essa opção forneceu custos equiparáveis ao adotado

atualmente pelo setor, no entanto, o risco de déficit energético encontrado nas simulações

foi muito inferior.

Em complemento, algumas análises sobre o tipo de oferta de geração puderam ser feitas.

Por meio da utilização de usinas candidatas com inflexibilidade distintas, foi observado

que o aumento da aversão ao risco trouxe maiores consequências sobre as usinas flexíveis

(principalmente pelo fato da sazonalização e aumentar a capacidade da térmica marginal).

Em contrapartida, foi observado também que as usinas térmicas inflexíveis são, em sua

maioria, inseridas a fim de operar na base.

Por fim, este trabalho apresentou resultados de forma a fornecer subsídios para a

harmonia entre operação e expansão do sistema, permitindo adoção do critério de

expansão ótima durante a formação do plano de expansão.

79

6.2 Trabalhos Futuros

Dentre o leque de assuntos abordados dentro deste trabalho, levantam-se temas e

exercícios que possibilitam contribuir ainda mais para esse assunto. Um destes, que foi

avaliado durante a construção deste trabalho, é a aplicação desta metodologia

contemplando o sistema elétrico brasileiro. Neste caso, a importância deste estudo é, além

de analisar a possível expansão do sistema e o mix de oferta entrante, considerar um

recálculo da garantia física de empreendimentos, de forma similar ao que foi apresentado

no Capítulo 4 deste trabalho.

Em sequência, é esperada a inserção da Superfície de Aversão ao Risco para planejamento

da operação do SIN. Dessa forma, um estudo análogo a este pode ser realizado com a

finalidade de avaliar o impacto sobre a expansão considerando este novo mecanismo de

aversão ao risco.

80

7 Bibliografia

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