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Despir um Corpo a Primeira
Vez
Despir um corpo a primeira vez é um conhecimento entre dois deusesNão se pode profanar o instante E os amantes devem manter o ritmo dos altares Porque, embora nesses rituais haja semprepanos e trajes para agradar o Olímpio, é pra nudez total que o céu nos quer quebrar
As mãos têm que ter um compasso certo Um andante ou laro de Bach nos gestos, compondo a alegria dos homens e mulheresAs mãos, sobretudo, não podem se apressarCom os olhos têm que aprender e, com a ponta dos dedos, contemplar os acordes que irão surgindo quando, peça por peça, o corpo for se desvestindo ao pé do altar...Antes de se tocar com as mãos e lábios, na verdade, já se tocou o corpo alheio com um distraído olhar sempre envolvente E ninguém toca um corpo impunimente...
Despir um corpo a primeira vez,não pode sercoisa de poeta desatentocolhendo futilmentea flor oferta num abundante canteiro de poesiaNem pode ser coisade um puro microscopistaque olha as coisas sabiamente
Se tem que ser ser de sábio olhar, que seja do botânico,
porque esse sabe aflorar em cada espécie tem de mais
secreto ou distante o que
cada espécie sabe dar...
Despir um corpo a primeira vezé conhecer, pela primeira vez uma cidadeE os corpos das cidades tem portas para abrir,jardins de pousar, torres e altitudes que excitam a visitaçãoQuando os corpos se tocam por acaso,como se estivesse indo em direções diferenteso que ocorre é desperdício. Não se pode tocarum corpo impunimente...
Para se tocar um corpo completa e profundamente,num dado instante, os corpos têm que se convergirE convergir com uma luz diferenteA descoberta do outro é isso, é convergência...Despir um corpo a primeira vezé como despir um presente, por isso não se podedesembrulhá-lo assim às pressas, embora a gulanos precipite afoitos sobre a pele ofertada
Não se pode com as mãos infantis,descompassadas, ir rasgando
invólucros,arrebentando cordões com gula
que às criançassó têm nas confeitarias antes da
indigestãoUm corpo é supresa sempre
É o que se vê nas praias,nessa pública ostentação, nesse
exercício coletivode nudez negaceada, em nada tira
a eufóricacontentação do ato, quando os
dedos vãodesatando botões e beijos,
e rompendo as presilhas das carícias...
Despir um corpo a primeira veznão é coisa de amadorSó se o amador for amador da arte de amar,porque o corpo do outro não pode tera sensação de perda, mas a certeza de quealgo nele se somou, que ele é um objetoluminoso que a outros deve iluminar...
Um corpo a primeira vez,no entanto, é frágil e pode trincarem alguma parte. E os menos resistentesse partem, quando aquele que os toca,os toca apenas com cobiça e nuncaa generosa mansidão de quem veiopela primeira vez, e sempre, para amar...
Desconheço o autor
Formatação: Ulysses FreitasTexto: retirado da internet
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