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E D I T O R I A L Reprodução Parece que o Natal chegou mais cedo este ano. Desde outubro, pela televisão ouvimos os chamados do Papai Noel oferecendo-nos facilidades para as compras de fim de ano. Esse personagem emblemático que chegou até nossos dias como sinônimo de Natal e associado ao consumo não foi sempre assim. Até o século 19, sua figura carismática de bom velhinho era descrita como a de São Nicolau, com fama de partilhar e presentear anonima- mente pessoas pobres. Até então, Papai Noel estava associado à celebração propriamente religiosa. Mas o desenvol- vimento do capitalismo fez com que ele fosse perdendo seus traços religiosos, passando a ter outro significado. Paralelamente aos chamados natali- nos, assistimos pela TV a uma enxurrada de notícias antagônicas ao espírito do Natal: corrupção de toda espécie, má versação e desvios de verbas públicas por nossos administradores. Em todo o país, nunca se roubou o erário com tanta desfaçatez como nos últimos tempos. Políticos inescrupulosos lutam, de maneira criminosa, pelo poder, a qual- quer preço. Desviam-se recursos que deveriam ser empregados na saúde, na educação e em saneamento básico. Quando próximo das eleições, para se manter no poder se vendem, fazendo os mais esdrúxulos acordos. Sem nenhuma visão de administração pública, lançam- se, de maneira irresponsável, na aven- tura de se elegerem vereador, prefeito, deputado... Mas nem sempre foi assim. No passado, tivemos homens públicos capacitados, íntegros, que, no dia-a-dia, estavam preocupados com o bem-estar da população, exerciam uma política norteada pelo espírito cristão do Natal. Estamos em dezembro. Chegamos a mais um final de ano. Esperemos pelo Natal... Mas aquele que existe no coração de todas as pessoas, aquele em que os valores cristãos de renascimento e de boas novas prevaleçam. Feliz Natal para todos! A cena é por todos conhecida: um casal angustiado busca hospedagem em pleno trabalho de parto da esposa. Pobres, encontram apenas um estábulo. Lá, José e Maria acompanham o nascimento de Jesus. Pastores acorrem à cena e, por fim, três homens sábios do Oriente trazem ouro, incenso e mirra. A importância do Natal e seu significado parecem muito óbvios para os cristãos de hoje. Talvez seja a festa religiosa mais notada de toda a tradição ocidental, atingindo o mês de dezembro inteiro. A partir dele, mesmo os menos crentes não aceitam compromissos alegando a “proximidade do Natal”. Uma semana depois se comemora a chegada do Ano Novo, feriado celebrado em referência a outro fato decorrente do Natal: a cir- cuncisão de Jesus oito dias após o seu nascimento, como manda a fé judaica. Nem sempre foi assim. O Evangelho cronologicamente mais antigo, de Marcos, nem cita a Natividade como um acon- tecimento. O texto se concentra na pregação de um Messias adulto e poderoso. Para Marcos, o mistério da paixão e ressurreição era imensamente maior. Mas isso mudou rapidamente. O evangelista Lucas redigiu detalhes fundamentais sobre o primeiro Natal. A data só cresceu desde então. Depois de atravessar os séculos incorporando novidades como o presépio franciscano ou a árvore decorada do norte da Europa, a festa do Deus Menino continuou sua trajetória de transformações, adaptando-se aos valores da sociedade, definindo-se como a conhecemos hoje. É sempre bom lembrar que o verdadeiro espírito de Natal é o da generosidade. Natal é festa de família, de reconciliação, em que não há espaço para o egoísmo e o desamor. Nada é mais avesso às tradições do Natal cristão do que a miséria e as desigualdades sociais. A simplicidade pacífica da man- jedoura contrasta com a violência e o desrespeito dos dias de hoje. Muitos culpam o declínio do Natal ao avanço desenfreado do lucro e do próprio capi- talismo. Na verdade, o Natal estará sempre presente no coração das pessoas. Sua vitória é inquestionável. Em dezembro, o espírito dos natais passados ecoa dentro de muitos. O espírito do Natal presente mostra que outro Natal é possível, que nossos valores talvez não estejam ade- quados ao conteúdo dessa festa. Em Belém, numa estrebaria, a Palavra se encarnou “Nada é mais avesso às tradições do Natal cristão do que a miséria e as desigualdades sociais. A simplicidade pacífica da manjedoura contrasta com a violência e o desrespeito dos dias de hoje.” ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2011 - ANO XIV - N o 179 O ESTAFETA

DEZEMBRO 2011

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ANO XIV - No. 179

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Page 1: DEZEMBRO 2011

E D I T O R I A L

Reprodução

Parece que o Natal chegou mais cedoeste ano. Desde outubro, pela televisãoouvimos os chamados do Papai Noeloferecendo-nos facilidades para ascompras de fim de ano.

Esse personagem emblemático quechegou até nossos dias como sinônimode Natal e associado ao consumo nãofoi sempre assim. Até o século 19, suafigura carismática de bom velhinho eradescrita como a de São Nicolau, comfama de partilhar e presentear anonima-mente pessoas pobres. Até então, PapaiNoel estava associado à celebraçãopropriamente religiosa. Mas o desenvol-vimento do capitalismo fez com que elefosse perdendo seus traços religiosos,passando a ter outro significado.

Paralelamente aos chamados natali-nos, assistimos pela TV a uma enxurradade notícias antagônicas ao espírito doNatal: corrupção de toda espécie, máversação e desvios de verbas públicaspor nossos administradores. Em todo opaís, nunca se roubou o erário com tantadesfaçatez como nos últimos tempos.Políticos inescrupulosos lutam, demaneira criminosa, pelo poder, a qual-quer preço. Desviam-se recursos quedeveriam ser empregados na saúde, naeducação e em saneamento básico.Quando próximo das eleições, para semanter no poder se vendem, fazendo osmais esdrúxulos acordos. Sem nenhumavisão de administração pública, lançam-se, de maneira irresponsável, na aven-tura de se elegerem vereador, prefeito,deputado... Mas nem sempre foi assim.No passado, tivemos homens públicoscapacitados, íntegros, que, no dia-a-dia,estavam preocupados com o bem-estarda população, exerciam uma políticanorteada pelo espírito cristão do Natal.

Estamos em dezembro. Chegamos amais um final de ano. Esperemos peloNatal... Mas aquele que existe nocoração de todas as pessoas, aquele emque os valores cristãos de renascimentoe de boas novas prevaleçam. Feliz Natalpara todos!

A cena é por todos conhecida: um casal

angustiado busca hospedagem em pleno

trabalho de parto da esposa. Pobres,

encontram apenas um estábulo. Lá, José e

Maria acompanham o nascimento de Jesus.

Pastores acorrem à cena e, por fim, três

homens sábios do Oriente trazem ouro,

incenso e mirra.

A importância do Natal e seu significado

parecem muito óbvios para os cristãos de

hoje. Talvez seja a festa religiosa mais notada

de toda a tradição ocidental, atingindo o mês

de dezembro inteiro. A partir dele, mesmo os

menos crentes não aceitam compromissos

alegando a “proximidade do Natal”. Uma

semana depois se comemora a chegada do

Ano Novo, feriado celebrado em referência

a outro fato decorrente do Natal: a cir-

cuncisão de Jesus oito dias após o seu

nascimento, como manda a fé judaica.

Nem sempre foi assim. O Evangelho

cronologicamente mais antigo, de Marcos,

nem cita a Natividade como um acon-

tecimento. O texto se concentra na pregação

de um Messias adulto e poderoso. Para

Marcos, o mistério da paixão e ressurreição

era imensamente maior. Mas isso mudou

rapidamente. O evangelista Lucas redigiu

detalhes fundamentais sobre o primeiro

Natal. A data só cresceu desde então. Depois

de atravessar os séculos incorporando

novidades como o presépio franciscano ou

a árvore decorada do norte da Europa, a festa

do Deus Menino continuou sua trajetória

de transformações, adaptando-se aos

valores da sociedade, definindo-se como a

conhecemos hoje.

É sempre bom lembrar que o verdadeiro

espírito de Natal é o da generosidade. Natal

é festa de família, de reconciliação, em que

não há espaço para o egoísmo e o desamor.

Nada é mais avesso às tradições do Natal

cristão do que a miséria e as desigualdades

sociais. A simplicidade pacífica da man-

jedoura contrasta com a violência e o

desrespeito dos dias de hoje. Muitos

culpam o declínio do Natal ao avanço

desenfreado do lucro e do próprio capi-

talismo. Na verdade, o Natal estará sempre

presente no coração das pessoas. Sua

vitória é inquestionável. Em dezembro, o

espírito dos natais passados ecoa dentro

de muitos. O espírito do Natal presente

mostra que outro Natal é possível, que

nossos valores talvez não estejam ade-

quados ao conteúdo dessa festa.

Em Belém, numa estrebaria, a Palavra se encarnou

“Nada é mais avesso às tradições do Natal cristão do que a miséria e as desigualdades sociais. Asimplicidade pacífica da manjedoura contrasta com a violência e o desrespeito dos dias de hoje.”

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2011 - ANO XIV - No 179

O ESTAFETA

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Foto Arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:

Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Uma iniciativa sociocultural bem-sucedida em Piquete, voltada para os jovensda cidade, foi promovida pela Comunidadede Base da Paróquia de São Miguel, nadécada de 1970. Foi um movimento novo daIgreja Católica que empolgou e envolveu ospiquetenses. Visava a criar nos cristãosmaior conscientização sobre sua impor-tância e seu papel na solução de problemascomuns na sociedade. Entre as múltiplasfinalidades desse movimento havia duasimportantes, em função do alcance socialnelas encerrada, embora não fossem asprincipais. A primeira era a de proporcionarmaior relacionamento humano e espiritualentre as famílias por meio de visitasdomiciliares, contatos pessoais, recreaçõessadias, brincadeiras, palestras, demons-trações artísticas, campanhas humanitáriase tudo mais que visasse a uma melhorcompreensão entre as pessoas. A segunda,promover a integração dos jovens no meiosocial, oferecendo-lhes oportunidades dedesenvolver suas aptidões culturais, artís-ticas e morais, a fim de que pudessem tornar-se responsáveis pelos próprios atos,capazes e úteis para a sociedade.

Dentro dessas diretrizes, alguns mem-bros da comunidade de Piquete tiveram afeliz ideia de oferecer aos nossos jovens,gratuitamente, a possibilidade de se inicia-rem na arte musical e terem, no futuro, umaprofissão. Foi, então, constituída umacomissão para elaborar um projeto visandoà criação de uma banda de música mirim.

A ideia era esplêndida. Boa vontade não

faltava. Material humano havia de sobra. Foipensado em se aproveitar a totalidade – oua maioria – dos membros da Guarda-Mirimda cidade, mas o convite foi estendido atodos os piquetenses. Logo começaram ase apresentar os primeiros alunos para asaulas teóricas. A idade limite: 15 anos. Arazão: a partir de 16 anos o candidato poderiacontinuar praticando em qualquer banda demúsica; aos 18, quando fosse servir àsForças Armadas, já estaria iniciado numa boaprofissão, o que facilitaria sua vida militar.

No dia 9 de março, aconteceu umareunião promovida pelo coordenador dacomunidade de base, professor João VieiraSoares, e presidida pelo padre PedroVerdumen, pároco de Piquete, que contoucom a participação do Prefeito Municipal,Luiz Vieira Soares, além de grande númerode pessoas. Na ocasião, foi escolhido onome da banda mirim, por sugestão dodiretor da Corporação Musical Piquetense,maestro Júdice Colaneri: Lira da JuventudePiquetense. Na mesma reunião constituiu-se a seguinte diretoria: presidente de honra:padre Pedro Verdumen; Presidente: Dor-valina Meirelles; Vice-presidente: JoséArantes (Cotinha); Tesoureira: Eunice PradoNunes; Secretária: Mariinha Motta; DiretorArtístico e Regente: Carlos Vieira Soares.Do Conselho Fiscal fizeram parte: LourençoSilva, Oswaldo Cruz Coelho Nunes e EneidaLeite Dionísio Theodoro.

Em abril de 1970, o maestro Carlos Vieirainiciou campanha para organizar a “ban-dinha” e, de imediato, mais de cem alunos

de ambos os sexos se inscreveram. As aulasde iniciação musical começaram no dia 15de abril daquele ano e, no dia 1º de agosto,foram distribuídos os primeiros instru-mentos aos alunos mais adiantados. Omérito dessa empreitada coube ao idealistaCarlos Vieira Soares, que adaptou as peçasmusicais para a capacidade dos pequenos enovos alunos, de maneira que, após a missafestiva de São Miguel Arcanjo, padroeirode Piquete, no dia 29 de setembro de 1970,se apresentaram, pela primeira vez. A partirde então, mais confiantes, passaram adesfilar pela cidade nos eventos cívicos.Enquanto o maestro se desdobrava nasaulas, capacitando novos alunos, a comis-são trabalhava para aquisição de instru-mentos e uniformes. A Lira da JuventudePiquetense foi um acertado trabalhocomunitário a ser repetido nos dias de hoje.

Na foto de Dogmar Brasilino: Prefeito Luiz Vieira Soares, Pe. Pedro Verdumen, Oswaldo Coelho Nunes, Eunice Nunes, José Arantes (Cotinha), DorvalinaMeirelles. À direita, à frente, o maestro Carlos Vieira Soares, quando da primeira apresentação da Lira da Juventude Piquetense, no dia 29/09/1970.

Lira da Juventude Piquetense

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

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Luiz Leal

A Fundação Christiano Rosa entregouao Conselho Estadual de Recursos Hí-dricos (CRHi) o Plano Estadual de Re-cursos Hídricos – PERH 2012-2015, para acoordenação do qual foi contratada, em2010, após vencer uma licitação pública.

Plano Estadual de Recursos HídricosNo dia 10 de novembro de 2011 foi

realizada, na FUNDAP, a Oficina Estadualde Pactuação do Plano Estadual deRecursos Hídricos – PERH 2012-2015,etapa final de um processo iniciado em2010, cujos resultados se encontramconsubstanciados em uma minuta deProjeto de Lei a ser referendada pelo CRHie, posteriormente, enviada à AssembleiaLegislativa do Estado.

As diretrizes orientadoras do processode elaboração do PERH 2012-2015 foram aarticulação institucional e o estabele-cimento de metas compromissadas, visan-do a estabelecer um pacto institucional quepossibilite sua implementação. Nessesentido, mais do que definir as práticasnecessárias para garantir os recursoshídricos em quantidade e qualidade para oEstado de São Paulo, buscou-se o envolvi-mento e o comprometimento de todos ossetores da sociedade representados noSistema Integrado de Gerenciamento deRecursos Hídricos – SIGRH, sem os quaisentende-se que o PERH não se concre-tizará. A partir destas premissas, a articu-lação institucional, conduzida ao longo detoda a elaboração do PERH 2012-2015, foicapaz de mobilizar mais de 1.600 inte-grantes do SIGRH, representando as 22Unidades de Gerenciamento de RecursosHídricos – UGRHIs do Estado, 13 Secre-tarias, além de municípios e da sociedadecivil. O resultado desse esforço conjuntofoi a pactuação de mais de 340 compro-missos pelas instituições e colegiadosparticipantes, consolidados em 164 metase distribuídos em 5 áreas temáticas: (1)desenvolvimento institucional; (2) instru-mentos de gestão; (3) usos múltiplos egestão integrada; (4) conservação erecuperação; e (5) desenvolvimentotecnológico, educação e comunicação.

Os investimentos previstos no Planoperfazem um total de R$ 9,7 bilhões,concentrados, majoritariamente, em açõesde saneamento (60,8%) e conservação erecuperação de recursos hídricos (38,4%).A implementação do PERH será acompa-nhada a partir das metas, executores,recursos financeiros e indicadores deacompanhamento definidos para cada umadas ações pactuadas, observando-se,ainda, a inserção dessas ações nosorçamentos anuais das instituiçõesexecutoras, bem como as adequaçõesoperacionais e as articulações necessáriaspara sua execução, tendo em vista seucaráter multissetorial.

FCR finalizaPlano Estadual deRecursos HídicosConhecido por muitos pela alcunha de

Luiz Palmeiras, devido à sua paixão pelo“verdão”, Luiz Rodrigues Leal nasceu emPiquete, nas proximidades do Portão daLimeira, na Vila Operária da Usina, em 27 demaio de 1934.

Filho de Carlos Rodrigues Leal e Mariada Guia, é o caçula de dez irmãos. O paitrabalhava na Fábrica como feitor da mata.Luiz conhecia, como poucos, o vale doRibeirão Sertão, quintal de sua casa. Foramseus vizinhos as famílias de IldefonsoBotelho, Pedro Ferreira de Castro, JoãoLaurindo, José Brás, Arthur de Lima...

Aluno do Grupo da Fábrica, recorda-sedos diretores Murilo, Acácio e Melchíades,e das professoras Genésia Arruda, IvoneCipolli, Nina Cunha e Cenira Araújo. Contaque Juracy Faury, à época soldado convo-cado, era professor substituto. “Ia dar aulasfardado, pois eram os anos 40, da IIGuerra...”. Aos 14 anos, matriculou-se naEscola Agrícola “General Osório”, mantidapelo Serviço Social da Fábrica e instaladano local conhecido como “fazenda docafezal”, muito familiar para ele, pois foi láque nascera. A escola funcionava em doisturnos, com áreas para os diversos ramosagropecuários. Além do corpo docente edos funcionários, contava com mais de 150alunos, muitos em regime de internato.Quando iniciou os estudos nessa escola, odiretor era o professor Zito, que foi subs-tituído pelo professor Leopoldo. Foi alunoda professora Jandira Carvalho de Barros ede João Evangelista do Prado. No períododa tarde, após o almoço na Fábrica, as aulastécnicas eram ministradas por VicenteRamos, Sebastião Chagas, Geraldo Lemes,Jadyr Barbosa, Jamil Pinheiro...

Concluída a Escola Agrícola, ingressouno Contingente da FPV, cujo comandanteera o capitão Bartolomeu. Recorda-se deque da Vila Operária, onde morava, além dele,ingressaram João Vicente Coelho e CecílioAparecido Silva. Após o período do quartel,trabalhou nas administrações de JoséGeraldo Alves (1952-1955) e Juracy Faury(1956-1959). Cita duas obras desses pre-feitos, das quais participou: a Caixa D’Água,quando trabalhou com o senhor Antônio

Pereira, ajudando no manejo das tropas du-rante o “corte” do barranco; e a construçãodo Mercado Municipal. Enquanto estavatrabalhando nesta última obra, em 1958, foichamado para trabalhar na FPV, na 4ªDivisão, a Divisão de Obras. Foram seusMestres Antônio Diniz, Benedito Chaves,Luiz Motta e Juca Claudino. Ressalta tambémduas obras das quais se orgulha de terparticipado: as construções da “Capela doHospital”, para as Irmãs Salesianas, e aPadaria da FPV. “O projeto da Capela foi domajor Pita Xavier e o mestre de obras,Benedito Chaves. A Capela tinha um dese-nho arrojado para a época... Chamava a aten-ção de todos pela sua beleza... As duas obrasforam completadas em pouco tempo”, diz.

Tranquilo e bom de prosa, Luiz Leal falacom entusiasmo de sua infância e adoles-cência, das festas da Igreja de São BomJesus, no Bairro das Posses, dos finais desemana no Parque Zoológico, dos encon-tros na Praça Duque, dos bailes, carnavaise festas juninas no Elefante Branco... Conta,ainda, que foi um dos fundadores da FestaJunina no Portão da Limeira, local que nosmeses de junho era conhecido como “Arraiá

do Sapo”.Luiz Leal casou-se,

em 1958, com BeneditaMaria dos Santos Leal.Tiveram nove filhos. Em1982, aposentou-se daFábrica e mudou-secom a família para Ca-choeira Paulista. Viúvo,reencontrou-se, em Pi-quete, com Nair Souzade Andrade, tambémviúva, que havia sidosua primeira namo-rada, no período deQuartel . Casou-se,então, novamente...“Estamos juntos hádez anos...”.

Mestres e operários na construção da Capela do Hospital - 1966

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O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2011Página 4

Mais um Natal que chega. Mais um anoque se completa. A vida segue, se reinventa,flui, deixa marcas, propõe propostas. Avivae amortece sensações, plenifica-se dememória, acumula acontecimentos, e, nalinha do tempo, registra a história. Apaisagem local se modifica pela dinâmica doprocesso de ocupação. O global se energizanos efeitos gerados pela economia e pelapolítica. Os embates guerreiros se registram.Na busca da paz, a guerra se materializa. Noespaço cibernético, as tecnologias avançampara tornar tudo mais rápido, pois a velo-cidade é o apanágio da contemporaneidade.As ambiguidades e os jogos dos interessesse interpõem para justificar as ansiedadesnas buscas das eficiências. Explica-se tudoou envolve-se tudo nos véus das apa-rências?

As luzes natalinas se acendem, e naprofusão das linhas elétricas, as pequenaslâmpadas coloridas anunciam – e atétonteiam – a festa.

O consumismo exacerbado domina aclasse média, fique claro. Nas máquinasregistradoras de valores o ritmo aceleradochega à exaustão, mas não param.

As mesas natalinas se competem emiguarias, arranjos, fórmulas.

A tradição da leitoa, esperada pelotrabalho no forno para o couro crocante eos acompanhamentos, registra a tradição eo costume valeparaibano, senão mineiro-paulista, mas além de tudo, brasileiro.

Por que o porco e os frangos? Porqueesses eram os produtos dos mais velhosocupantes desse espaço de tropas e demineração, e também de abastecimento

O peru de Natalgerado por uma economia que se rotulavaautossustentável. Secular, o tempo se amplia.Os horizontes se expandem. A imigraçãoespontânea ou forçada (dos escravos)contribui com outros componentes.

Entre esses, entra o chamado peru-de-natal. Incorporado às ceias, pontifica nolugar de honra na mesa ao lado da velhaleitoa ou do tenro leitãozinho, para gáudiodos apreciadores que já se antecipam comos vinhos e a decoração.

O costume implantado de ter o peru àmesa vem da influência norte-americana, queconsagrou a ave como prato representativoda ceia familiar comemorativa do Dia deAção de Graças, no final de novembro.

E por que a celebração? Ela é represen-tativa do reconhecimento pelos puritanosque, instalados no norte-nordeste do país,emigraram conpulsoriamente da Inglaterraanglicana.

Embarcados no “Mayflower” (séculoXVII) a partir de 1620, acostaram no lestedos Estados Unidos após uma viagemtrágica e difícil. As costas atlânticas donordeste, ásperas, de dias nebulosos e in-vernos extremamente rigorosos receberam-nos como exilados para ocuparem terras elutarem para sobreviver com o trabalhorústico. Foi o que se fez. Dividiram as terrasem porções familiares, e baseados numa féinque-brantável, confiantes em Deus,lutaram para sobreviver com o trabalho daspróprias mãos. Eram os “Pilgrims”, calvi-nistas e severos, que não faziam festas. Oclima e o solo não eram favoráveis e, pontonegativo, mais tarde, na expansão territorial,perseguiram e exterminaram os índios. Ato

registrado como epopeia nos velhos filmesde cowboy, como os protagonizados porJohn Wayne, por exemplo. Mas contestadosdepois e, historicamente, deixados de lado.Mas e o peru, de que falávamos?

Pois bem, a luta e o trabalho eramárduos. Entretanto, com a ajuda de Deus eo pragmatismo necessário, foram supe-rando os obstáculos e se desenvolverampara construir uma parte regional norte-americana rica, mas contrastante, – a NovaInglaterra, cujo ponto urbano emblemáticoé a cidade de Filadélfia. Formaram-secolônias de empreendedores indepen-dentes, isto é, sem ajuda da Coroa Britânica,que mantinha colônias ao sul, latifundiáriase escravocratas.

Ah! O peru, ave criada nas tradicionaiscomunidades imigrantes, era prato principalno dia escolhido como de Ação de Graçaspelo favorecimento divino. O chamadoThanksgiving é um feriado na quinta-feirada quarta semana de novembro, come-morativo da primeira colheita realizada nomundo novo para onde migraram os cha-mados “Pilgrims”. E os brasileiros, pelomenos, os do Centro-Sul, incorporaram-no,como o peru para o Natal. Daí ele não podefaltar à mesa. Aqui, em nosso local de raiz,nem tanto. Talvez só pelo modismo consu-mista, mas há quem diga que gosta.Inventam-se “mil maneiras” de apresentá-lo. Mas não o sacrifiquem pela morte, nosquintais domésticos, frente a outros daespécie. É uma experiência terrível. Depoiseu conto. Por ora, Feliz Natal!

Dóli de Castro Ferreira

O Natal é uma das principais festascristãs e, sem dúvida, a mais popular. Estáenraizada na vida de nosso povo. É ummomento mágico que impulsiona nossocoração a salientar os mais caros valoresmorais e espirituais, que acreditamos seremingredientes indispensáveis para a felici-dade de qualquer pessoa.

Ao longo dos tempos, o Natal parece termudado, mas, em essência, continua omesmo. A celebração do nascimento deCristo se transformou na festa que co-nhecemos hoje. Popularizou-se.

Conforme o relato dos evangelistasMatheus e Lucas, o Natal de Jesus Cristo érico de fatos extraordinários, que facilmenteforam visualizados na arte, e que, com

criatividade, ao longo dos séculos formaramrico patrimônio da humanidade em pinturas,esculturas, vitrais, músicas, teatro, cinema...Ao redor do fato central do nascimento deJesus, os relatos bíblicos nos apresentam: aanunciação a Maria, a visita de Maria à suaprima Isabel, o nascimento de Jesus numagruta em Belém, a presença da estrela, aadoração dos pastores e dos sábios doOriente, a apresentação de Jesus no Templo,a perseguição de Herodes e a fuga para oEgito...

Mais tarde, à tradição cristã, por influ-ências várias, outros elementos foramacrescentados à comemoração e à festa deNatal, dando-lhe identidade única. Entreesses elementos estão o Papai Noel, a vela,

as bolas coloridas, o pinheirinho, a troca depresentes, de mensagens e, principalmente,a montagem de presépios. Deturpados ounão pela sociedade secularizada e dominadapelo mercado, eles constituem o eco domaior evento da história: a encarnação doFilho de Deus.

Cabe aos cristãos relembrar, continua-mente, que essa festa e os ingredientesque a identificam nasceram da fé, apontampara a fé, se concretizam em demons-trações de amor traduzidas em intimidadefamiliar, solidariedade para os mais pobrese luta pela vida, vida digna para todos, eluta pela paz.

A essência do Natal

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O ESTAFETA Página 5Piquete, dezembro de 2011

Chegamos a mais um final de ano. Daquia poucos dias viraremos o calendário... Queseja bem-vindo 2012!

Nesses dias de dezembro tomados pelasfestividades natalinas, observamos, mundoa fora, as cidades se colorirem e se ilumina-rem, decoradas com bom gosto, preparando-se para saudar o Ano Novo. Pelas ruas, osmoradores se confraternizam, fazem votospara que o ano vindouro traga bons augurose planejam trabalhar para que suas cidadessejam cada vez mais sustentáveis,proporcionando-lhes qualidade de vida.Aliás, a palavra “sustentabilidade” caiu namídia. Citada por muitos e entendida pormuitos poucos, já vem sendo usada nodiscurso de alguns gestores. O fato é queviver de modo sustentável envolve muitomais do que banir sacolas plásticas e reciclarlixo, como pensam muitos. Envolve mudançade estilo de vida, conhecimento, avançotecnológico, evolução espiritual e uma novaeconomia... A sustentabilidade é como a linhado horizonte... Serve para nos orientar para

caminharmos em direção a ela.Quanto às cidades, são feitas por

pessoas e para pessoas. Somente mudamquando as pessoas mudam. Portanto,quando observamos nas cidades brasileirasum crescente movimento de pessoas searticulando para ocupar o cargo do Execu-tivo Municipal nas eleições do próximo ano,pensamos: será que esses postulantes estãopreparados para administrá-las? É precisoque estejam informados, conectados epreparados tecnicamente para propor edesenvolver soluções para os espaçosurbanos. É preciso que cada pré-candidatotenha capacidade técnica para solucionarantigos problemas de suas cidades comofalta de empregos, ausência de saneamentobásico, degradação do solo, crescimentodesordenado em áreas de risco, lazer, tráficoe consumo de drogas... Ao olharmos tantaspequenas cidades preocupadas com ofuturo e avançando, já como referências degestão pública, avaliamos: será que já nãopassou da hora de deixarem de brincar de

administrar e passar a fazê-lo com seriedade?Qualquer cidadão bem-intencionado ehonesto sabe que muitas cidades estão háanos luz daquelas em que seus adminis-tradores são preparados.

O desenvolvimento das cidades con-temporâneas impõe os desafios e oportu-nidades do desenvolvimento sustentávele da gestão inteligente. Como tanta coisano Brasil, há carência de posturas éticaspautadas na seriedade e no planejamento.Os adminis-tradores, em sua quase totali-dade, são despreparados tecnicamente e,de modo geral, temem avaliações. Enquantonos países mais desenvolvidos prima-sepela meritocracia – condição indispensávelpara o postulante ocupar cargo público –,no Brasil falta capacitação – base para omérito.

Que neste final de ano, cada um reflitasobre as diferenças e semelhanças entre acidade que temos e a cidade que desejamos.O futuro está em nossas mãos!

Por uma cidade sustentável

Que significa salvação? Que quer dizertomar posse de uma das muitas moradasdo Reino dos Céus?

Significa atravessar o Portal daSabedoria.

De Natanael, também chamado Bartolo-meu, foi dito: É um verdadeiro israelita.

Dos escribas e fariseus, refestelados naCadeira de Moisés, que repetiam à exaustãoa Lei, se afirmou: Não fazem o que dizem.

Quanto se deve pagar para atravessaro Portal da Sabedoria?

Só atravessará quem se fizer humildecomo uma criança. Humilde no aprender;humilde no agir.

João Batista tem predisposição – oupredestinação para a Sabedoria. Estáperscrutando a sua vinda e se preparalivrando-se de todos os apelos quedistraem o ser humano.

No momento do batismo, se inquieta:

Portal da SabedoriaQuem batiza quem?

Nas agruras do cárcere, é assaltado pordúvida: A Sabedoria está entre nós ou aindadevemos esperar por ela?

André de Betsaid não tem o aparatoespiritual do Batista, mas se agita nacuriosidade sobre o que se enquadra no beme na verdade.

Vai escutar João e comenta com o irmãoPedro e o conterrâneo Filipe – Está ali alguémque pode abrir caminhos para nós.

Por apelos diversos, a cananeia, ocenturião, a samaritana, o cobrador deimpostos, Nicodemos e José de Arimatéiase encontram diante do Portal.

Qual a predileção da Sabedoria? Oespírito privilegiado de João, a curiosidadequase infantil de André, a argumentaçãodesesperada da cananeia, a confiançaexacerbada do centurião, a disponibilidadeafetiva da samaritana, o impacto surpreen-

dente da escolha no cobrador de impostosou o senso de justiça e compaixão brotadoda Lei no fariseu Nicodemos e no membrodo Conselho José de Arimateia. Ou será asimples e disciplinada obediência à Leidemonstrada por Natanael?

O trajeto não é decisivo. A chave podeter várias formas e tamanhos; e materiaisde muitas procedências.

O importante é acercar-se do Portal eestar disposto a entrar.

Estamos diante de uma oportunidadeímpar.

A Sabedoria está a caminho. Aproxima-se devagarinho, sem fazer barulho.

Logo estará esperando por nós, entrepalhas, em uma manjedoura.

O Portal vai estar aberto de par em par.Não é preciso escolher hora. A luz da

Sabedoria brilha ininterruptamente.Abigayl Lea da Silva

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Foto arquivo Pro-Memória

Page 6: DEZEMBRO 2011

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, dezembro de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Precógnito

Coisas do Natal

Acesse na internet, leia e

divulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

Dezembro. O comércio agita-se à espera

do Natal. As lojas arranjam-se, as promoções

tomam conta das vitrines. Papai Noel retira

do baú sua tradicional farda para desfilar

pelas ruas da cidade ou então plantar-se

num magazine.

Numa das lojas do shopping center, a

promoção é inédita. A criança menor de três

anos que tirar a foto mais sugestiva nos

braços do Papai Noel ganhará um prêmio

surpresa no final do ano.

Com esse evento, a loja passou a receber

as crianças acompanhadas dos respectivos

pais. As fotos foram se sucedendo. Crianças

chorando, sorrindo, puxando o bigode,

apertando o nariz, tirando o gorro... Teve

uma que arrancou a barba postiça do Papai

Noel.

O patrocinador legendava as fotos e as

ia exibindo em vídeo, num telão, enquanto

os fregueses se aglomeravam para votar nas

mais atraentes e insinuantes.

Quando chegou ao último dia do ano,

houve a apuração. A imagem da criança que

apertou o nariz do Papai Noel, legendada

com a frase “Que narigão!”, ganhou em

terceiro lugar. O segundo ficou com aquela

que lhe tirou o gorro; a legenda: “Que

homem feio!”. O prêmio surpresa coube à

criança que puxou a barba postiça do Papai

Noel... A legenda: “Papai!!!”. O garoto havia

descoberto sob a falsa barba o próprio pai..

Por tratar-se de um garoto, o prêmio

surpresa fora uma camisa da S.C. Corinthians

Paulista...

Num obscuro cantão encravado na

serrania da Mantiqueira, com a tarde que se

ia escurecida, opaca, o quintalejo que

abrigava a pequena choupana de taipa,

coberta de sapé, foi palco de anúncios

iniciais. Há tempos que se reduziam...

Deixavam de anunciar... Eram... Viraram

gemidos que adentravam a casa.

Passos apressados deixaram o casebre,

de encontro à noite, pisando descalços

caneluras serpejantes através de bo-

queirões escuros...

Sussurros sozinhos viviam à noite, já

caída... Pios ao longe, vento maldoso

gemendo galhos mais raquíticos naquela

tebaida simplória. Com a simplicidade, algum

cicio mais alto suplantava o lá fora. O lampião

dançava sombras nas paredes.

Na brumal Mantiqueira serpeava o

rústico, o silvestre, a estria encarpada,

coleante a pirambeiras negras de fundo,

pisada por pés calejados cada vez mais

rápidos, nervosos...

A noite anoitecia mais e mais... O vento

entusiasmava-se... Ao longe, clarões

tonalizavam nuvens disformes. O espaço

trazia zangados sons.

Num quintal perdido da Mantiqueira, pés

descalços corriam trilha. Em suas entranhas,

numa pequena casinha erma, uma cantata

dolorida. Natureza terrena aguardando

desabafo aguado com carinho. Final de

trilha, dedos-nervos produzindo batidas que

despertavam gente dormida noutra casinha

tão pequena, de taipa...

Supérfluas explicações... Repassando ao

inverso, dois pares de pés descalços

subiam, em silêncio apressado, o sulco na

serra. A floresta gritava ao vento, que trazia

surpresas, barulhos-sustos...

Passos corridos... Vento-vento de uma

tempestade que chegava.. . Mataria

contorcendo-se...

Maria contorcia-se...

Ingressão de passos no casebre...

Gemidos confiantes... Fora, o tempo

vivendo tempo de temporal desabrido,

estrondeante... No silêncio interior,

sombras movimentam paredes que trazem

expectaesperanças... A procela impertur-

bável não perturba. Momentos rezados...

Um leve vagido... Um choro passante

enleva a mãe, que sorriu. E sorriu o pai, e

sorriu a parteira...

Num recôndito agreste da Mantiqueira,

numa perdida casinha de pau-a-pique,

prostrada em pequena plataforma vencida

por trilha magricela, um menino nascia

recebido com sorrisos ao final da espera.

E isto me fez lembrar que há muitos e

muitos anos, Alguém muito importante,

precógnito, chegou quase assim.

Sorriu a Mãe...

Sorriu o Pai...

Sorriu o mundo pelo fim da espera...

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Natal.O sino longe toca fino.Não tem neves, não tem gelos.Natal.Já nasceu o deus menino.As beatas foram ver,encontraram o coitadinho(Natal)mais o boi mais o burrinhoe lá em cimaa estrelinha alumiandoNatal.

As beatas ajoelharame adoraram o deus nuzinhomas as filhas das beatase os namorados das filhas,mas as filhas das beatasforam dançar black bottomnos clubes sem presépio.

O que fizeram do Natal

Ilustração: “Sagrada Família”, de Portinari.Poema: “O que fizeram do Natal”, de CarlosDrummond de Andrade, in “Receita de Ano Novo”

Page 7: DEZEMBRO 2011

O ESTAFETAPiquete, dezembro de 2011 Página 7

Foi na Idade Média que a comemoraçãodo Natal se consolidou, conforme descritono Evangelho de Lucas, firmando-se nocalendário das celebrações da Igreja com arepresentação da cena do nascimento deCristo.

Foi Francisco de Assis quem uniu amissa natalina com a representação dopresépio na forma que conhecemos hoje.Tomás de Celano, autor da primeira Vida deSão Francisco (1228), afirma que o santo,em 1223, havia decidido comemorar o Nataldaquele ano de forma inusitada. Hospedadono vilarejo de Greccio, Francisco pediu queum certo João preparasse para a noite doNatal um cenário que imitasse a descriçãobíblica, com boi, burro, feno e palha. Para afesta, foram convidados os frades da regiãoe os moradores da vila. À noite, acorreramtodos, com tochas e velas, ao local pre-parado, para assistir à “Liturgia Natalina”que Francisco havia imaginado.

Naquele cenário bucólico, os fradescelebraram a missa do Natal. Na recons-tituição franciscana do nascimento de

Cristo, não havia personagem represen-tando Maria, José, os pastores e nem mesmoum Menino Jesus deitado em berço im-provisado. Apenas boi, burro e palhas. Oautor da Vida de São Francisco, porém,registrou que um homem, presente naocasião, teve uma visão extraordinária naqual via o Menino Jesus deitado sobre ofeno, dormindo, e Francisco, aproximando-se, o acordava de um sono profundo. ParaTomás de Celano, a visão era eloquente:Francisco de Assis, com seu gesto, traziade volta à memória do povo cristão alembrança de Cristo Menino, esquecido pelamaioria dos fiéis. Ele elaborou uma festa decunho comunitário e de enorme plasticidade,o que sensibilizou os presentes. Suaintenção era incutir nos espectadores o sen-timento de compaixão diante da simplicidadee da pobreza de Cristo. Embora São Fran-cisco não tenha propriamente inventado opresépio, não há como negar que osespíritos de piedade e solidariedade que seespera encontrar na noite natalina se devamao santo de Assis muito de sua influência.

O presépio de São Francisco

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Interessante a condição de colabo-rador, digitador e diagramador de umInformativo...

Leio antes de todos os artigos quesairão publicados uma semana depois datrabalhosa produção de “O ESTAFETA”.Parece simples, mas não é fácil amealhartextos de qualidade, garantir sua correçãogramatical (leia-se Chico Máximo...),organizá-los no espaço disponível, esco-lher fotos pertinentes ao assunto e, aomesmo tempo, interessantes para osleitores... Não é fácil, mas é prazeroso... Asensação de alcançar mais um dezembroconsciente de ter colaborado nas onze edi-ções anteriores é por demais gratificante.Sou suspeito para falar, mas a excelênciado ESTAFETA é indiscutível. E “parir”filhos bonitos é sempre bom...

Neste mês de textos ainda mais ela-borados, esperei para ser o último apreencher uma coluna... Dessa forma,pude capturar a mensagem natalina dosdemais colaboradores para tentar resumiro que li. Encantei-me com os textos...Concluí estarem todos os autores com asensibilidade à flor da pele, tamanhas abeleza e a serenidade apaixonada (por maisantagônico que pareça...) que depreendi.O Natal bafejou seu espírito e inspirousimplicidade, clareza e poesia que – estoucerto – os emocionarão. A mim, muito meemocionaram... Isso sem falar no conhe-cimento adquirido... Perene e inalienável...

A chegada do Natal e a passagem deano remetem-nos, sempre, à retrospectiva.Fazemos um balanço de nossas atividadesao longo dos doze meses decorridos,avaliamos os resultados e planejamosnovas ações... É como uma “reunião defechamento” em uma empresa. Importantelembrar que é saudável fazermos essasavaliações com maior frequência. Ao redu-zirmos o período avaliado, aumentamos apossibilidade de alterar rumos, descar-tando medidas inócuas ou ‘erradas’,mitigamos os resultados ruins e aumen-tamos a probabilidade de “lucro”. Temosque administrar nossa vida de forma agarantir bons resultados: amizades, amo-res, paixões, alegrias maiores que tristezas(aquelas que dependem de nossos atos),boas saudades, fortes emoções (“oimportante é que emoções eu vivi!”,conhecem?)...

Neste dezembro, amparado na “litera-tura disponível”, acredito ter sido aprovadoe, portanto, promovido a um estágioseguinte... É claro que houve algumas“notas baixas”, mas a média me aprovou...Espero e desejo que o mesmo tenhaocorrido com todos os leitores doESTAFETA, meus amigos e aqueles “nemtanto”... Enfim, a todos, indiscrimina-damente. Que 2012 chegue com novosprofessores, provas desafiadoras e exce-lentes resultados. Um beijo carinhoso deNatal e Ano Novo!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Balancete 2011

Page 8: DEZEMBRO 2011

O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2011Página 8

Há dez anos, Piquete ganhou de presenteda IMBEL/FPV uma antiga locomotiva e umvagão de trem que, restaurados, foramestacionados junto à Estação Ferroviária“Estrella do Norte”, compondo um harmo-nioso conjunto que se tornou cartão-postalda cidade.

A iniciativa de restaurar a estação comseu jardim e trazer a locomotiva para Piquetefoi do coronel Alfredo Araújo, morador daCasa 2 da Vila da Estrela, o qual contou como apoio incondicional do então presidenteda IMBEL, general Armando Luiz Malan dePaiva Chaves. Atendiam a um desejo dospiquetenses... O apoio financeiro da FHE-POUPEX foi fundamental para a concre-tização do trabalho, tendo sido obtido graçasao seu diretor à época, general Burmann,ciente do valor histórico e do pioneirismodas obras do Exército em Piquete, no iníciodo século 20.

É inquestionável a importância dasferrovias para o desenvolvimento eco-nômico brasileiro. Desde o final do século19, os piquetenses acalentavam o sonhode ter um ramal ferroviário. Graças aoExército, o Ramal Férreo Lorena-Bemficafoi construído para atender a Fábrica dePólvoras sem Fumaça. Inaugurado em 15de setembro de 1906, o trem circulou pelaúltima vez em 31 de dezembro de 1977. Coma desativação do ramal e a retirada dostrilhos, restaram as estações RodriguesAlves, Estrela do Norte e Limeira, todaspreservadas. A exemplo do que aconteceem outros lugares, o crescimento e atransformação das cidades fazem com queparte de seu patrimônio de valor histórico-cultural seja perdido. Hoje, neste mundoglobalizado, mais do que nunca a preocu-pação com esse patrimônio deve constarda pauta de todos os governantes. Os

bens de valor cultural da sociedadeexpressam aspectos das tradições dopovo; são testemunhos das experiênciashistóricas, em sua diversidade. O patri-mônio cultural traz à tona aspectostangíveis e intangíveis, materiais eimateriais, da história e da memória denosso povo. Revela, ainda, elementosrepresentativos de nossas raízes sócio-culturais.

A valorização das referências culturaisde Piquete pela IMBEL/FPV serve dereferência na busca do conhecimento deuma história aberta às diversidades e naabertura de caminhos para a constituiçãoda cidadania. A principal razão da pre-servação se associa à melhoria da quali-dade de vida da comunidade, o que implicaem bem-estar material, espiritual e garantiado exercício da memória e da cidadania.

Arejando a memória...

Na noite de 25 de dezembro, uma grandeporção da humanidade – sobretudo noocidente, em que esta data foi fixada nocalendário –, irá, como acontece a cada ano,fazer memória de um fato que marcouprofundamente nossa história e continuaa  nos afetar. O evangelista Lucas registraessa tradição com estas encantadoraspalavras: “Um anjo do Senhor apareceuaos pastores; a glória do Senhor osenvolveu em luz e eles ficaram com muitomedo. Mas o anjo disse aos pastores: nãotenham medo! Eu anuncio para vocês aBoa Notícia, que será uma grande alegria:hoje na cidade de Davi nasceu para vocêsum salvador, que é o Messias, o Senhor.Isto lhes servirá de sinal: vocês encon-trarão um recém-nascido envolto em faixase deitado numa manjedoura”.

Quando leio essas palavras nasescrituras, sinto que me falam mais do queao intelecto; não cabem apenas na cabeça.Essas palavras têm a magia de trazer umsentimento de paz também ao corpo.Talvez nosso corpo compreenda mais quea razão o mistério da encarnação.

A palavra de Deus está na carne, não éetérea, não faz mais parte do plano espi-ritual; está em Jesus menino, deitado namanjedoura. Um recém-nascido não sabedoutrinas, não possui projetos, não almejaposições sociais, não tem nada das coisasque o mundo costuma valorizar. Um recém-nascido tem apenas suas necessidades

O Natal quebra o queixo dos orgulhososcorpóreas: fome, sede, frio, calor, sono eamparo materno. Na manjedoura, a palavrade Deus não é coisa de livro, é da vida.

Como podemos compreender isso?Aprendemos que Deus é o Todo Poderoso,Onipotente, Onisciente, Onipresente, Cria-dor incriado, Motor Imóvel. Ouvimos que

Deus possui atributos tão grandiosos quedevemos sempre adjetivá-lo usando super-lativos: Perfeitíssimo, Belíssimo, Boníssimo,Santíssimo e assim por diante. Tudo isso,porém, parece não ter muita consonânciacom o menino encontrado repousando namanjedoura, sustentado na existência peloscuidados de Maria, sua mãe, e de José. Éfrágil e vulnerável como os bebezinhos queconhecemos. Esse Menino torna simples oque era complicado, acessível o que nãoestava ao alcance de nossas mãos, terno oque parecia ameaçador... Ele revoluciona

nossa compreensão sobre Deus, abala osalicerces da fé.

O Natal quebra nossos queixos, sub-verte nossos padrões, aponta-nos cami-nhos novos para a existência. Agora serimagem e semelhança de Deus tornou-semais fácil, sobretudo para os pequenosdeste mundo. Ser imagem de Deus não maissignifica ser autossuficiente, poderoso,perfeito, importante, sábio, amado erespeitado por todos. Deus não é assim...Ao menos não se revelou assim no Natal.Ele é apenas um pobre menino que não tevelugar na hospedaria, nasceu num curral e ládorme em paz, num grande silêncio, amadoe cuidado por sua mãe. Quantas vezes oscristãos se esqueceram disso, preferiram ocaminho da grandeza, da conquista dopoder temporal, da erudição, distanciando-se do que ensina o Natal.

Hoje estive visitando o Miguel, ummenino com apenas dez dias de vida.Ofereci alguns presentes e o contempleicomo os magos do Oriente fizeram comJesus menino no passado. O pequenoMiguel apenas dormia com a cabecinhaapoiada em seu travesseirinho. Ali em seuquarto havia uma grande paz, a paz que asnações tanto buscam sem jamais encontrar.Os bebezinhos são os portadores da paz...Não os grandes do mundo, mas os bebe-zinhos, nos ensina o Natal.

Pe. Fabrício Beckmann

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Fotos arquivo Pro-Memória