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Considerações sobre usos da imagem da cultura nordestina no design Tiaggo Correia Cavalcanti de Morais 1 Resumo: este trabalho corresponde aos primeiros suspiros de um projeto de pesquisa que traz no cerne a questão da representação. Busca-se entender por que os designers gráficos ao procurarem uma representação do Nordeste, buscam representações tradicionais. Esta geração de significados pode acarretar três problemas fundamentais: o primeiro é o que tange à inadequação de tais idéias à dinâmica social atual; a segunda no que se refere a se pensar o presente como mero receptor do passado; e por fim a relação mítica do não envolvimento do profissional com o projeto desenvolvido. Este é inclusive um mito já derrubado em ciências como a História, Antropologia e Sociologia. Michel Foucault nos demonstra que a verdade não está desvinculada das relações sociais, mas é reflexo delas (FOUCAULT, 1988, 79-81), logo, a forma de se representar não ocorre de forma aleatória. O profissional/cientista/cidadão/designer não está separado da sociedade, mas está mergulhado em suas complexidades e relações, não apenas pelo viés de uma cultura dita popular, mas também em suas atitudes políticas. Palavras-chave: Nordeste; representação; design gráfico; identidade 1 Mestre em Design pela UFPE, realizou esta pesquisa quando era estudante de Design Gráfico pelo IFPE e História da UFPE e bolsista do PIBIC/CNPq/CEFET-PE com o projeto “Como Cacos de um Espelho, a Identidade cultural Nordestina e o Design Gráfico”, sob Orientação do Professor Msc. Eduardo Fernandes de Araújo.

DI ARTIGO Considerações Sobre a Imagem Da Cultura Nordestina No Design

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Artigo sobre a contribuição da cultura nordestina no design.

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  • Consideraes sobre usos da imagem da cultura nordestina no design

    Tiaggo Correia Cavalcanti de Morais1

    Resumo: este trabalho corresponde aos primeiros suspiros de um projeto de

    pesquisa que traz no cerne a questo da representao. Busca-se entender por

    que os designers grficos ao procurarem uma representao do Nordeste,

    buscam representaes tradicionais. Esta gerao de significados pode acarretar

    trs problemas fundamentais: o primeiro o que tange inadequao de tais

    idias dinmica social atual; a segunda no que se refere a se pensar o presente

    como mero receptor do passado; e por fim a relao mtica do no envolvimento

    do profissional com o projeto desenvolvido. Este inclusive um mito j derrubado

    em cincias como a Histria, Antropologia e Sociologia. Michel Foucault nos

    demonstra que a verdade no est desvinculada das relaes sociais, mas

    reflexo delas (FOUCAULT, 1988, 79-81), logo, a forma de se representar no

    ocorre de forma aleatria. O profissional/cientista/cidado/designer no est

    separado da sociedade, mas est mergulhado em suas complexidades e relaes,

    no apenas pelo vis de uma cultura dita popular, mas tambm em suas atitudes

    polticas.

    Palavras-chave: Nordeste; representao; design grfico; identidade

    1 Mestre em Design pela UFPE, realizou esta pesquisa quando era estudante de Design

    Grfico pelo IFPE e Histria da UFPE e bolsista do PIBIC/CNPq/CEFET-PE com o projeto Como Cacos de um Espelho, a Identidade cultural Nordestina e o Design Grfico, sob Orientao do Professor Msc. Eduardo Fernandes de Arajo.

  • Introduo

    Este projeto foi resultado das contribuies tericas que obtive no curso de

    Histria, e da pesquisa que realizei recentemente sobre a identidade cultural dos

    indgenas do Nordeste. Quando comecei a cursar Design Grfico, pude participar

    de diversos eventos, percebi que a utilizao de elementos da cultura popular,

    elementos tidos como tipicamente nordestinos, so a base de suas identidades

    visuais. No RDesign Bahia 2006, o elemento tipicamente nordestino foi o cordel,

    na Expo Design N.NE Pernambuco 2007, a cultura armorial emergiu nesta

    nordestinidade. Por fim o Design PE 2007 onde diversos elementos tradicionais

    como igrejas e o galo da madrugada se fundem com elementos do design

    formando o evento.

    Atualmente estou vinculado ao PIBIC/CNPq/CEFET-PE com o projeto

    Como cacos de um espelho: a identidade nordestina e o design grfico, sob a

    orientao do Prof. Mestre Eduardo Fernandes de Arajo. Este projeto tem como

    objetivo geral demonstrar o processo de construo de significados e

    representaes da imagem pblica do nordestino reiterada pelas representaes

    do design grfico pernambucano.

    Entre os objetivos especficos esto identificar os fundamentos epistmicos

    que autorizem uma reescrita historiogrfica do design pernambucano; propor

    outros caminhos de considerao projetual ao diagnosticar e desautomatizar os

    clichs representativos do Nordestino como forma de vida e entender a relao

    existente na forma que as empresas solicitam a representao do nordestino e a

    forma que o designer grfico executa.

    Verdade e conhecimento

    Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experincia cientfica. Digo experincia, porque no me atrevo a assegurar desde j minha idia; nem a cincia outra coisa, Sr. Soares, seno uma investigao constante. Trata-se, pois de uma experincia, mais uma experincia que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era at agora uma ilha perdida no oceano da razo; comeo a suspeitar que um continente. (ASSIS, 1972, 204)

  • O excerto acima retirado do conto de Machado de Assis um bom

    referente para iniciar a explanao que seguir. O conto O Alienista descreve a

    evoluo dos estudos sobre as doenas mentais em Itagua, uma vila do Brasil, e

    a histria se desenvolve no tempo dos vice-reinados. A personagem central do

    conto o Dr. Simo Bacamarte, depois apelidado de Alienista pelo povo. Mdico

    de origem nobre, ir se ater aos estudos sobre a loucura, chegando a construir um

    asilo para os mentecaptos. Ele vai ao longo do conto criar trs teorias, sempre em

    busca de uma verdade, chegando a tratar quatro quintos da populao de Itagua.

    Ao final conclui que ele prprio seria louco e termina morrendo, aps se recolher

    para tratamento.

    As questes postas neste conto ainda persistem nos meios acadmicos.

    Machado de Assis, no fim do sculo XIX, vai em um primeiro momento

    ridicularizando a busca pela verdade. Ela no uma realidade palpvel ou um

    ente a ser desenterrado por parte dos cientistas. Ela um elemento construdo a

    partir de relaes do presente, e constantemente so mudadas quando este se

    altera. Simo Bacamarte aps a revolta dos Canjicas e de recolher Casa Verde

    quatro quintos da cidade, chegou concluso de que o equilbrio enquanto

    verdade buscada na histria e grega no mais satisfazia as necessidades,

    invertendo o foco e passando a curar as pessoas bem equilibradas.

    Segundo Jos Carlos Reis no livro As identidades do Brasil: de Varnhagen

    a FHC a Histria reescrita constantemente, pois ela determinada pelo

    presente. Este quem incita o pensador a voltar, a ver novos fatos e a ter novas

    percepes; por outro lado tambm este quem vai fazer projees para o futuro.

    Segundo Reis, Koselleck cr que o mais importante na Histria ver como em

    cada momento o passado e o futuro so postos em ao. V-se que, por

    conseqncia, novas mentes viro e a cincia vai se reciclando constantemente.

    Nietzsche vai ainda mais longe na quebra epistemolgica, assim ele fala

    em um texto de 1873:

    Em algum ponto perdido deste universo, cujo claro se estende a inmeros sistemas solares, houve, uma vez, um astro sobre o qual animais inteligentes

  • inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogncia da histria universal (FOUCAULT, 2003, 13)

    Assim, segundo Foucault, Nietzsche distingue a palavra inveno

    (Erfindung) de origem

    (Ursprung). Para ele todo conhecimento tem Erfindung, mas no Ursprung,

    desta forma o Nordeste no poderia ter tido uma origem, mas antes de tudo uma

    inveno. Portanto, esta regio no existe como um ente dado como certo, mas

    antes uma construo que serviu a diversos interesses de seu perodo.

    Para Foucault a sociedade no pode ter um poder que emerge de um nico

    ponto. Ele uma multiplicidade de correlaes de fora imanentes ao domnio

    onde se exercem (...) sua organizao; o jogo que, atravs de lutas e

    afrontamentos incessantes as transforma (FOUCAULT, 1988, 88). Assim no se

    pode imaginar para Foucault que o poder adquirido, pois ele exercido em

    diversos pontos. Tambm no seria correto imaginar a realidade em uma oposio

    binria entre opressores e oprimidos. As resistncias no so locais onde se foge

    do poder, pois elas mesmas so outro termo de relaes de poder.

    Assim, o processo de formao do Nordeste no ocorreu de um nico

    ponto. Antes de ser construto de mentes independentes, foi marcado por diversos

    discursos que se originavam de propostas distintas. Redes que inventavam e

    recriavam o espao Nordeste, sempre como um espao distinto dos demais, com

    uma cultura prpria e com influncia do meio marcante.

    Identidades: choques constantes

    A antropologia clssica via as culturas como sendo bolas de bilhar, como

    lugares estanques que no poderiam sofrer os efeitos do tempo. Os indgenas, por

    exemplo, teriam sofrido o chamado processo de aculturao, pois durante o

    contato com a civilizao ocidental teriam perdido a sua cultura. Conceito hoje

    combatido por antroplogos como o Joo Pacheco de Oliveira.

    Fredrik Barth se contrape a esta viso, pois v a identidade cultural como

    sendo um complexo de relaes centradas no contato e no como algo puro. no

    processo da construo destes significados que encontramos a cultura (BARTH,

  • 1998, 250-251). O sentido bsico da construo identitria existe quando um

    determinado grupo se v como diferente dos demais, e estes tambm o vem

    como diferente. Foi o que ocorreu no Nordeste, que ao longo dos anos, aps a

    emergncia de diversos discursos, as pessoas que habitavam os estados da

    poro leste do antigo norte passaram a se ver diferentes do restante do pas,

    bem como as pessoas das demais regies tambm os vem como diferentes.

    Eric Hobsbawn entende Tradio como cristalizaes de uma cultura.

    Muitas vezes estas tradies so consideradas muito antigas, mas so bastante

    recentes (HOBSBAWN, 1984, 9). A prpria idia de nordestino, possui um perodo

    de nascimento e esta construo bastante recente, no sendo o nordeste um

    elemento dado, ou possuindo uma determinada essncia (ALBUQUERQUE

    JNIOR, 2003, 149-150). Antes a idia bsica era a de Norte, regio que

    contrastava em relao ao sul do pas.

    A construo do Nordeste

    O Nordeste no existe. Esta afirmao parece em um primeiro momento

    uma afirmao sem lgica alguma, e por que no absurda. Recentemente em uma

    conversa informal com alguns amigos recebi uma crtica, onde foi falado que ser

    pernambucano tem uma essncia sim, algo que nos faz diferentes dos demais. A

    palavra essncia requer que todos a possuam, caso contrrio, por definio, j

    no . Um pernambucano que por exemplo no goste de escutar maracatu, que

    no goste de brincar carnaval em Olinda ou que no dance frevo, por definio,

    no teria a essncia de pernambucano.

    Desta forma a essncia nordestina tem perodo de criao especfico, que

    remonta ao ano de 1919. At este momento o nordeste era simplesmente um

    elemento que estava fortemente ligado ao norte. Se a diferenciao surge na

    dcada de 10, nos anos vinte que se configura melhor e nos trinta que se firma

    (ALBUQUERQUE JNIOR, 2003, 149-150). Um fenmeno natural foi o grande

    momento inicial da separao estabelecida entre o norte e o nordeste: a seca.

    Esta foi percebida pelas elites como um diferencial a ser explorado, pois com a

    seca poderiam ser obtidos mais recursos do governo central. Ao longo do tempo

  • os demais setores da sociedade passaram a tambm se verem como diferentes.

    Cabe salientar que a seca existia como fenmeno de vida, e no como uma

    construo, que diferencia uma regio em relao as outras ou como um fator que

    gerava inclusive um modo particular de ser.

    Ao longo do sculo outras diversas formaes discursivas puderam ser

    acopladas ao jeito nordestino de ser. O romance de 30 foi um bom exemplo, onde

    os seus personagens revelavam o martrio de vida do nordestino. Ascenso

    Ferrreira, Jos Lins do Rego e Rachel de Queiroz, exemplos que com suas

    particularidades puderam conferir o aspecto nordestino tambm. Ariano Suassuna

    com o movimento armorial busca as razes da cultura pernambucana em contra-

    posio cultura pop. uma reinveno a partir de bases tidas como populares.

    Seguindo diversos caminhos e discursos, no apenas a literatura e a classe

    poltica estiveram envolvidas na criao de percepes do nordeste como um ente

    diferente. Gilberto Freyre, grande mito da histria das cincias humanas tambm

    participou ativamente. Ele mostrou a famlia patriarcal, tambm viu a mistura racial

    como positiva para a formao brasileira. O patriarca era primordial no apenas

    em termos familiares, mas tambm socialmente. Ele, em suas relaes pessoais

    conseguiria neutralizar os conflitos existentes. Casa Grande & Senzala, negros e

    brancos e perfeita comunho, negras mes de leite, daqueles que mais tarde se

    iniciavam na vida sexual com outras negras.

    Na viso de Barth as identidade se formam em contraposio a outras. No

    foi diferente com o Nordeste, pois ele foi contraposto ao Sudeste. Recife e So

    Paulo, cidades situadas em plos diferentes de colonizao, plos

    economicamente distintos, com interesses divergentes que reinventaram suas

    histrias tambm por necessidades do presente.

    So Paulo emerge como a cidade arlequinal, pois o arleQuinal a mistura

    de tudo em um s lugar. Pout pourri de cores, crenas, culturas, etnias, vises,

    texturas. tudo num lugar s. Tudo so as pessoas. O lugar So Paulo. E o

    palco para essa convergncia o encontro. Papo histrico: arleQuinal um

    neologismo criado por Mario de Andrade, no seu livro Paulicia Desvairada, para

    definir So Paulo (www.arlequinal.com). A citao vinda do blog do RDesign

  • Sampa 2007 foi realizada no intuito de demonstrar como, mais uma vez, uma

    forma discursiva tradicional reiterada em eventos de design. No incio do

    sculo XX, durante a formao desta identidade, a figura do bandeirante passa a

    incorporar o estilo desbravador e de elemento mpar da histria do Brasil.

    O Recife emerge como uma cidade da decadncia econmica, local da

    tradio e do meio rural, local estanque de valores, do atraso e que barra a

    modernidade. Local dos engenhos, dos senhores, do passado de riqueza,

    contrastando com a pobreza do presente e a misria da seca. Espao do cactus,

    do cangaceiro, do cabra macho, dos beatos e de Canudos.

    Conforme pode se observar os grupos sociais se construram como

    diferentes a partir de bases distintas, com temporalidades que serviram a

    determinados interesses e que trouxeram conseqncias. O nordeste, local da

    tradio no poderia abrigar a modernidade. Fecham-se os olhos para o Recife,

    ncleo de urbanizao antigo, e que j se figurava entre as maiores cidades do

    pas. Esta sendo tambm uma cidade cosmopolita, que abrigou em seu seio por

    exemplo, no perodo holands, pessoas de diversos locais.

    Cada discurso emergia de um ponto distinto do pas. O fenmeno climtico

    da seca foi generalizado para uma regio e toda as mazelas provenientes.

    Nordeste: lugar da tradio, atraso e da no modernidade.

    Hipteses

    De acordo com a linha de pensamento acima descrita, levantamos algumas

    hipteses sobre os projetos realizados pelos designers grficos utilizando a

    imagem do Nordeste. Os designers pernambucanos traduziriam o imaginrio

    nordestino como repertrio estanque e valores dados, desencadeando resgates

    sem interpretao crtica, bem como podem negligenciar a importncia diferencial

    da pesquisa de pblico-alvo.

    O cotidiano de todos os cidados pernambucanos no reflete as

    orientaes institudas pela nossa tradio, e utilizados pelo design grfico; bem

    como a produo do design grfico local mostraria indiferena diversidade de

    valores e atitudes emergentes no Nordeste contemporneo.

  • E por fim, a relao cliente/designer grfico no costumaria ser norteada

    por um esprito crtico, mas por uma relao de mera troca econmica acrtica.

    Estratgia metodolgica

    A pesquisa est dividida em 5 (cinco) momentos principais, mais o relatrio

    parcial de qualificao e a elaborao do artigo final.

    O primeiro ser o das leituras bibliogrficas da pesquisa e seleo do

    corpus de projetos grficos. Esta seleo ser elabora nas agncias de design e

    publicidade de Pernambuco, dando-se preferncia aos que tiveram um bom

    alcance de pblico e foram elaborados por designers pernambucanos ou com

    formao local.

    Depois ocorrer uma pesquisa de campo com a elaborao de um

    questionrio que ser aplicado aos designers grficos, para entender como a

    sua relao com o cliente, e de que forma eles entendem o nordeste, alm de

    procurar elucidar o porqu das solues grficas e representaes encontradas.

    A terceira etapa ser a da anlise semitica dos projetos, levando-se em

    considerao as entrevistas e anlises de briefings, que desenbocar na quarta

    fase que da descrio das significaes constatadas.

    A quinta fase ser a de elaborar um painel histrico para que se possa

    entender como o design grfico atua na facilitao de cristalizao de tradies.

    E para que fazer isso?

    Os designers parecem buscar sua tradio histrica como um bem imaterial

    de divulgao cultural, de forma que no expressam em seus trabalhos grficos a

    diversidade cultural que a marca de nosso tempo.

    necessrio reconhecer que os smbolos tradicionais no so suficientes

    para se representar o Nordeste. Hoje as influncias da cultura de massa e do

    prprio capitalismo modificaram a cultura. O passado visto como algo imvel,

    como se fosse um ente a ser desterrado e dissecado por ns. O presente no , e

    nunca foi um receptculo do passado, mas antes o transforma, alterando suas

    percepes e vises.

  • Outro problema, e mais grave, se disseminar juzos de valor que no so

    compatveis com a realidade cotidiana, que antes de tudo dinmica e se

    reconfigura quase que imperceptivelmente. Em suma, a prtica destoante do

    discurso sustentado como integrante civil de uma comunidade e no apenas de

    profissional, que o designer-cidado mostra que na atitude do dia a dia outro o

    seu sistema ambiente de valores vigentes e tenses dominantes, reservando as

    tais tradies para momentos que ele julga importante.

    A diversidade cultural pode ter a relao alegrica de um espelho quebrado,

    onde saltam diversos pedaos. Estes longe de serem os restos quebrados do

    espelho surgem como pequenas partes de um todo. A moldura pode simbolizar os

    limites geogrficos da regio, que contempla diversas unidades que no esto

    isoladas mas sempre em contato. E a busca por uma identidade nica no

    possvel, porque dentro do espelho o reflexo da pessoa no pode ser uniforme.

    Se o Nordeste foi inventado para ser este espao de barragem da

    mudana, da modernidade, preciso destru-lo para poder dar lugar a novas

    espacialidades de poder e de saber (ALBUQUERQUE JNIOR, 1999, 17). O

    nordeste, assim como vrios locais do mundo, um local de tradio, de culturas

    diversas e tambm de modernidade. Assim como falado por Albuquerque Jnior,

    esta regio no pode, e no deve ser o local de barragem da modernidade e da

    mudana, e para isto, devemos destruir os lugares-comuns e vises no

    compatveis com nossa realidade.

    Referncias bibliogrficas

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