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Christiane Nunes dos Santos Diabetes Mellitus em felinos: relato de caso Porto Alegre/RS 2013

Diabetes Mellitus em felinos - Equalis · Diabetes Mellitus em felinos: relato de caso Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização

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Page 1: Diabetes Mellitus em felinos - Equalis · Diabetes Mellitus em felinos: relato de caso Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização

Christiane Nunes dos Santos

Diabetes Mellitus em felinos:

relato de caso

Porto Alegre/RS

2013

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Christiane Nunes dos Santos

Diabetes Mellitus em felinos:

relato de caso

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós-Graduação,

Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de

Pequenos Animais, do Centro de Estudos

Superiores de Maceió, Fundação Educacional

Jayme Altavila, orientada pelo Prof. M.Sc. Renê

Darela Blazius.

Porto Alegre/RS

2013

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Christiane Nunes dos Santos

Diabetes Mellitus em felinos:

relato de caso

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós-Graduação,

Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de

Pequenos Animais, do Centro de Estudos

Superiores de Maceió, Fundação Educacional

Jayme de Altavila, orientada pelo Prof. M.Sc.

Renê Darela Blazius.

Porto Alegre/RS, 10 de julho de 2013.

------------------------------------------------------------------

M.Sc. Renê Darela Blazius

Porto Alegre/RS

2013

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DEDICATÓRIA

Para Álvaro dos Santos Ulysséa,

meu filho, minha inspiração, razão do meu viver.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela coragem, fé e por estar presente em todos os momentos.

À minha família, pelo incentivo, apoio e amor.

Ao meu filho Álvaro, pelos sorrisos nas horas em que

eu pensava em desistir de tudo.

Ao professor M.Sc. Renê Darela Blazius, pela colaboração,

compreensão e orientações durante a realização deste estudo.

Aos professores do curso, pelos conhecimentos e experiências compartilhados.

Aos colegas de curso, pelas alegrias e preocupações vivenciadas.

Aos animais, que estão sempre contribuindo para o aprendizado e dando

lições de amizade a amor incondicional.

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RESUMO

Diabetes mellitus é uma desordem metabólica comum em gatos, sendo a obesidade um dos

principais fatores de risco. Apesar da elevada incidência desta doença na população felina, a

taxa de mortalidade diminuiu consideravelmente nas últimas décadas, graças ao emprego de

terapias mais eficazes. As recomendações gerais para a nutrição dos gatos diabéticos sofreram

modificações importantes nos últimos anos, estando o foco atual direcionado para as dietas ricas

em proteínas e pobres em carboidratos. Este novo regime alimentar aliado a uma adequada

insulinoterapia, melhora acentuadamente o controle glicêmico e a perda de peso, resultando na

remissão da doença na maioria dos gatos acometidos. Este trabalho teve por objetivo relatar um

caso de diabetes em um felino, macho, castrado, sem raça definida, com idade aproximada de

oito anos, que foi atendido em uma clínica veterinária na cidade de Tubarão- SC. Foram

descritos o diagnóstico clínico, seguido pela evolução do tratamento e resultados apresentados.

O tratamento instituído foi insulinoterapia e dieta com ração específica para a patologia. Os

resultados foram satisfatórios, levando a conclusão de que o auxílio do médico veterinário

nestas etapas, orientação aos proprietários sobre o correto manejo alimentar e terapia adequada

mostrou-se de elevada importância para a recuperação do paciente.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, felinos, insulinoterapia.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Insulina Glargina 100UI/mL (Lantus®)..................................................................20

Figura 2 – Felino apresentando postura plantígrada................................................................21

Figura 3 – Aparelho de glicemia utilizado para a realização das curvas glicêmicas................21

Figura 4 – Felino retornando ao peso inicial (sobrepeso).........................................................22

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultado do hemograma do primeiro atendimento do felino....................................18

Tabela 2 - Resultado da bioquímica sanguínea do primeiro atendimento do felino...................19

Tabela 3- Resultado do hemograma seis meses após o primeiro atendimento do felino............22

Tabela 4 - Resultado da bioquímica sanguínea seis meses após o primeiro atendimento do

felino...........................................................................................................................23

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LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

AAHA American Animal Hospital Association

ALT Alanina aminotransferase

BID Duas vezes ao dia

Et al. E outros

g/dia Gramas por dia

Kg Quilogramas

mm³ Milímetros cúbicos

mg/dL Miligramas por decilitro

mg/gato Miligramas por gato

NaCl Cloreto de sódio

NPH Neutral Protamine Hagedorm

p. ex. Por exemplo

pH Potencial de hidrogênio

PZI Protamine Zinc Insulin

SC Subcutâneo

SID Uma vez ao dia

UI Unidade internacional

UI/kg Unidades internacionais por quilograma

UI/mL Unidades internacionais por mililitro

µmol/L Micromoles por litro

> Maior que

% Por cento

® Marca registrada

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................. ..............9

1. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................10

1.1. Diabetes Mellitus ...............................................................................................................10

1.2. Etiologia.................................................................................................................. ........ 10

1.3. Fisiopatologia.................................................................................................................. 11

1.4. Sinais Clínicos ................................................................................................................ 12

1.5. Diagnóstico..................................................................................................................... 12

1.6. Tratamento...................................................................................................................... 13

1.6.1. Terapia com insulina exógena............................................................................... 13

1.6.2. Curva glicêmica..................................................................................................... 14

1.6.3. Tratamento com hipoglicemiantes orais ............................................................... 15

1.6.4. Manejo alimentar................................................................................................... 16

1.6.5. Tratamento da cetoacidose diabética..................................................................... 16

2. RELATO DE CASO...................................................................................................................................................................18

2.1. Discussão .......................................................................................................................... 23

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 25

REFERÊNCIAS ............................................................................... ........................................ 26

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INTRODUÇÃO

Diabetes mellitus é uma das doenças endócrinas mais comuns em pequenos animais,

caracterizada por altas concentrações de glicose no sangue e na urina, geralmente requer

tratamento com insulina por toda a vida. Quando não tratada, esta enfermidade pode trazer

sérios problemas para a saúde dos animais, como fraqueza nos membros em felinos, cegueira

em cães, além de má nutrição, cetoacidose diabética, desidratação e morte (RAND &

MARSHALL, 2005).

A doença atinge 1 em cada 400 gatos e sua prevalência vem aumentando (McCANN

et al, 2007). Por outro lado, a taxa de mortalidade caiu consideravelmente de 40% para menos

de 10%, indicando que o diagnóstico precoce e o tratamento estão sendo mais efetivos

(LUTZ, 2008). Acredita-se, que a maior incidência desta doença em felinos se deva à

ocorrência dos fatores considerados de risco como, obesidade, inatividade física e aumento da

longevidade (REUSCH, 2010).

O conhecimento da fisiopatogenia do diabetes mellitus pelo veterinário é crucial

para um diagnóstico preciso, escolha do melhor tratamento e esclarecimento ao proprietário

quanto à evolução da doença. Assim, o diagnóstico precoce, o tratamento, o manejo

alimentar correto e o comprometimento do proprietário, representam os requisitos básicos

para um prognóstico favorável.

O presente trabalho teve por objetivo relatar um caso clínico de diabetes mellitus em

um felino, salientando a importância da investigação correta através de anamnese, exame

clínico e exames laboratoriais para a instituição de medidas terapêuticas efetivas.

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1. REVISÃO DE LITERATURA

1.1. Diabetes Mellitus

Diabetes Mellitus é uma desordem hormonal caracterizada pela secreção insuficiente

ou ausente de insulina pelo pâncreas endócrino, causando um estado de hiperglicemia (>120

mg/dL), ou ainda por defeitos nos receptores de insulina bem como pela falta das enzimas

envolvidas no processo da entrada da insulina na célula (LORENZ, 1996., NELSON, 2001).

A hiperglicemia também pode estar relacionada a outras causas como: estresse de

coleta, hiperadrenocorticismo (levando a um diabetes secundário), diestro, insuficiência renal,

pancreatite, neoplasias do pâncreas exócrino e/ou endócrino, administração de

glicocorticóides ou progestágenos, soluções glicosadas, nutrição parenteral e acromegalia em

felinos (VENNZKE, 1986., NELSON, 1997).

1.2. Etiologia

Os felinos mais acometidos são machos castrados, com sobrepeso (peso médio de 5,6

kg) e idosos (cerca de 10 anos). As raças mais predispostas são o Maine Coon, o doméstico de

Pelo Comprido, o Azul da Rússia, o Siamês e o doméstico de Pelo Curto (LUND, 2011).

Diabetes Mellitus pode ser classificado em três tipos: Tipo 1 (insulina dependente),

Tipo 2 (não insulina dependente) e Tipo 3 (diabetes secundário) (GRECO, 1999.,

FELDMAN, 1997).

O diabetes tipo 1 caracteriza-se pela secreção muito reduzida ou ausente de insulina,

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que não sendo suficiente para impedir a formação de corpos cetônicos, acaba levando o

animal a cetoacidose diabética. Este evento é mais comum em cães, tendo incidência maior na

meia-idade (6-10 anos), pois estes produzem menos insulina que os gatos (HELSON, 1998.

GRECO, 1999).

No diabetes tipo 2, a secreção de insulina geralmente é suficiente para impedir cetose,

mas não para impedir hiperglicemia ou superar resistência à insulina. É mais comum em gatos

devido a um caráter hereditário que leva a deposição de substâncias amiloides no pâncreas

(FINGEROTH, 1996).

O diabetes tipo 3, é secundário à doença primária ou terapia que induza resistência à

insulina. Ocorre em gatos com hipertireoidismo, acromegalia e pancreatite. Sendo menos

frequente nos casos de hiperadrenocorticismo e na terapia com progestágenos. (LORENZ,

1996., NELSON, 2001). Se as causas primárias forem eliminadas, o quadro clínico se

restringe aos estágios iniciais e evolui para a cura (LURYE & BEHREND, 2004).

1.3. Fisiopatologia

Os distúrbios ou ausência de secreção de insulina não permitem uma boa utilização da

glicose pela célula, aumentando a gliconeogênese e, por conseguinte a glicogenólise, levando

a um quadro hiperglicêmico. A hiperglicemia leva à glicosúria e esta à diurese osmótica,

causando poliúria e polidipsia. De modo semelhante, o déficit glicêmico das células não

estimula o centro hipotalâmico de saciedade levando à polifagia (GRECO, 1999.,

FELDMAN, 1997).

A falta de insulina e a ativação do hormônio lípase-sensível induzem respectivamente,

ao aumento do catabolismo proteico e a uma atividade lipolítica descontrolada, causando

perda de peso, além de atrofia muscular (FINGEROTH, 1996).

Outro distúrbio metabólico importante é a alteração de metabolismo hepático dos

lipídios, o que faz com que os ácidos graxos sejam convertidos em acetilcoenzima A ao invés

de serem incorporados aos triglicerídeos. Desta forma, a acetilcoenzima A acumula-se no

fígado e é convertida em acetoacetilcoenzima A que é transformada em ácido acetoacético

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causando a cetoacidose metabólica (VENNZKE, 1986., NELSON, 1997). Esta, em conjunto

com a hiperglicemia, estimulam os receptores na zona “trigger” no hipotálamo, causando

náusea, vômito e anorexia. O estado de anorexia causa desidratação baixando a taxa de

filtração glomerular acumulando glicose e cetonas (HELSON, 1998. GRECO, 1999).

1.4. Sinais clínicos

Os sinais clínicos estão relacionados à hiperglicemia. Iniciam-se com poliúria,

polidipsia, perda de peso, polifagia, letargia, e raramente catarata diabética, pois os felinos

possuem diferenças no metabolismo da glicose no cristalino. Nos casos complicados, pode

evoluir para cetoacidose diabética, anorexia, depressão, taquipnéia, vômito, desidratação,

hálito cetônico e coma (GRECO, 1999, FELDMAN, 1997, SOUZA, 2003).

Podem ainda ser observados pelame em más condições, desidratação moderada,

nefromegalia, hepatopatia e icterícia. Um sinal clínico menos comum que ocorre somente nos

felinos é a posição plantígrada, na qual o animal anda com os jarretes tocando no chão. Este

quadro é causado por uma neuropatia periférica, também chamada neuropatia diabética

(SOUZA, 2003).

1.5. Diagnóstico

O diagnóstico dá-se pelo histórico, sinais clínicos e achados laboratoriais

(hiperglicemia, glicosúria, hipercolesterolemia, aumento nos níveis séricos da fosfatase

alcalina e alanina aminotransferase, hemoconcentração, azotemia, hiponatremia, cetonemia e

cetonúria) (HELSON, 1998., GRECO, 1999., LURYE & BEHREND, 2004).

O exame diagnóstico mais indicado é a dosagem das proteínas glicosiladas

(frutosamina e/ou hemoglobina glicosilada) (VENNZKE, 1986., NELSON, 1997). Essas

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proteínas são indicadores das variações glicêmicas ocorridas nos últimos 21 dias. São também

ferramentas importantes para avaliar a evolução do tratamento. Após a instituição do

tratamento, a evolução do quadro pode ser avaliada da seguinte forma: resultados de

frutosamina entre 350-450 µmol/L são geralmente sugestivos de controle satisfatório, entre

450-550 µmol/L, controle moderado, e superiores a 550-600 µmol/L, controle metabólico

insatisfatório (REUSCH, 2011).

1.6. Tratamento

O objetivo principal da terapia é alcançar um controle adequado da glicemia, para

eliminar a poliúria e polidipsia causadas pela hiperglicemia. Alcançar euglicemia seria o ideal,

mas é preciso atenção para não provocar hipoglicemia, por isso evita-se um controle

glicêmico perfeito (RAND & MARSHALL, 2005).

O tratamento inicial deve compor-se de controle dietético, e incorporação de atividade

física em gatos sedentários. Posteriormente, deve ser instituída a terapia com hipoglicemiantes

orais ou insulina exógena.

1.6.1 – Insulinoterapia exógena

A insulinoterapia deve ser instituída de acordo com as características do quadro clínico

e os mecanismos de ação das insulinas disponíveis no mercado.

As insulinas de acordo com a fonte podem ser classificadas em: insulina recombinante

humana (similar à canina, aceitável para cães e gatos), insulina suína (idêntica à canina) e

insulina bovina (mais similar à felina, porém mais difícil de ser encontrada). Ou ainda de

acordo com a duração de ação, tendo a insulina regular, de curta duração (5 – 6 horas) com o

pico em 30 minutos, utilizada no tratamento da cetoacidose diabética, insulina intermediária

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(NPH – Neutral Protamine Hagedorm), de ação lenta (8 – 14 horas), com pico em 1 – 2 horas

e insulina de longa duração (PZI – Protamine Zinc Insulin), ultralenta (8 – 24 horas) e

glargina, sendo mais interessante sua utilização para gatos devido à possibilidade de ser

somente uma aplicação diária.

As insulinas com ação intermediária, como a NPH e a lenta, não proporcionam um

bom controle glicêmico e aumentam o risco de hipoglicemia em gatos (RAND &

MARSHALL, 2005; MARSHALL, et al., 2008). Apesar da formulação veterinária da insulina

lenta (Caninsulin®; Intervet) mostrar-se efetiva no controle glicêmico, apresenta curta ação e

pouco controle dos sinais clínicos para a maioria dos gatos diabéticos (APTEKMANN et al.,

2011).

Recentemente, o guia de tratamento de felinos diabéticos da American Animal

Hospital Association (AAHA) recomenda a utilização de insulinas de longa ação, como a

glargina e a PZI (RUCINSKY et al., 2010). Sendo a glargina a única insulina de longa ação

disponível no Brasil. A dose é de 1 UI/kg a cada 12 horas. Caso o valor da glicemia se

verifique inferior a 150 mg/dL, deve-se reduzir a dose para 0,5 UI/kg a cada 12 ou 24 horas.

Para ajuste de dose deve-se aguardar de 2–3 dias. Caso um paciente necessite receber mais de

2 UI/kg, deve-se pensar em resistência a insulina ou outra causa secundária, e neste caso

pesquisa-se fazendo uma curva glicêmica (APTEKMANN et al., 2011). A glargina demonstra

melhor controle glicêmico quando administrada duas vezes ao dia (BID) ao invés de uma vez

ao dia (SID). Postula-se que a taxa de remissão seja mais alta em gatos tratados com esta

insulina do que com outros tipos (REUSCH, 2011).

1.6.2 – Curva glicêmica

Em geral, as mensurações isoladas de glicose, por si só, não são suficientes para

avaliar o controle metabólico, sendo recomendável a elaboração de curvas glicêmicas, que

permitem mensurar a glicemia de 2 em 2 horas, durante cerca de 12 horas. Os parâmetros

mais importantes a serem avaliados através da curva glicêmica são a concentração mais baixa

de glicose (Nadir) e a duração do efeito (REUSCH, 2011).

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A concentração mais baixa de glicose (Nadir) deve ficar preferencialmente entre 90-

144 mg/dL. Um nadir inferior pode ser observado em casos de hiperdosagem de insulina,

sobreposição excessiva dos tempos de ação desse hormônio, ausência de ingestão alimentar e

exercício físico intenso. Se a concentração (Nadir) for superior a 144 mg/dL, devem ser

considerados os seguintes fatores: subdosagem de insulina, estresse, fase contrarreguladora do

fenômeno de Somogyi (efeito rebote de hiperglicemia um tempo após a administração da

insulina) e problemas técnicos. Se o animal já estiver sob doses elevadas de insulina, a

resistência a esse hormônio também é uma possibilidade. É muito importante identificar a

causa exata, pois as decisões terapêuticas variam em função da causa (REUSCH, 2011).

A duração do efeito da insulina é definida como o tempo transcorrido desde a

administração da droga até a glicemia exceder os 216-270 mg/dL, depois de ocorrer o nadir.

Se a duração do efeito for inferior a 8-10 horas, os animais costumam exibir sinais clínicos de

diabetes. Se for superior a 14 horas, o risco de desenvolvimento de hipoglicemia ou o

fenômeno de Somogyi aumenta. A duração do efeito pode melhorar através do manejo

alimentar, mas, caso esta medida não seja bem sucedida, fica indicada a transição para uma

insulina com modo de ação diferente (REUSCH, 2011).

1.6.3 – Tratamento com hipoglicemiantes orais

Os hipoglicemiantes orais compreendem diversas categorias de drogas usadas no

tratamento do diabetes mellitus tipo 2 em seres humanos. Essas categorias incluem as

sulfoniluréias (glipizida, glimepirida), as biguanidas (metformina), as tiazolidimedionas, entre

outras. As sulfoniluréias são mais utilizadas na medicina veterinária, aumentam a secreção de

insulina baixando a resistência à mesma e aumentam a gliconeogênese.

A glipizida é utilizada na dose de 2,5–5 mg/gato, a cada 12 horas, por via oral com

alimento e a glimepirida, 1 mg/gato, a cada 24 horas, por via oral. As sulfoniluréias podem ser

indicadas para gatos diabéticos com peso normal ou obesos, na condição de ausência de

corpos cetônicos, ausência de outra doença e habilidade do proprietário na administração. No

entanto, em função dos efeitos colaterais (hepatotoxicidade, vômito e hipoglicemia

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esporádica), e por não apresentarem vantagens terapêuticas sobre a insulina, só devem ser

utilizadas nos casos em que a insulinoterapia não seja possível (REUSCH, 2011).

1.6.4 – Manejo alimentar

O gato é um carnívoro estrito, o que o distingue claramente do cão, que é onívoro. A

dieta de felídeos selvagens é composta por menos de 10% de carboidratos, diferindo bastante

das rações comerciais para gatos, onde o teor de carboidratos é elevado (REUSCH, 2011).

Segundo REUSCH (2011), uma dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas

permite melhor controle clínico e elevadas taxas de remissão da doença. O teor proteico

recomendado é mais de 45% de proteína/energia metabolizável e níveis reduzidos de

carboidratos. Como a resistência à insulina induzida pela obesidade é quase sempre reversível

e até mesmo uma leve a moderada perda de peso melhora o controle metabólico, a redução de

peso deve ser fortemente incentivada em felinos com sobrepeso. O alimento deve estar

disponível durante todo o dia, porém faz-se necessário um controle do volume de ração

administrada para que o paciente não recupere todo o peso anterior.

As reavaliações são essenciais durante o manejo a longo prazo. Nos felinos, a

supervisão rigorosa é muito importante durante os primeiros meses, em virtude da

possibilidade da remissão diabética. Se esse fato passar despercebido, e a administração de

insulina for mantida, pode ocorrer hipoglicemia grave. A maioria dos felinos entra em

remissão durante os três primeiros meses de terapia, no entanto, este período pode estender-se

por um ano ou mais (REUSCH, 2011).

1.6.5 – Tratamento da cetoacidose diabética

O tratamento da cetoacidose diabética exige a reposição de fluidos, a redução da

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hiperglicemia e a restauração do equilíbrio eletrolítico e ácido-básico. Fluidoterapia e

insulinoterapia são essenciais para alcançar esses objetivos, bem como o tratamento de

qualquer causa subjacente.

Deve-se primeiramente instituir fluidoterapia intravenosa. A concentração da solução

salina utilizada na fluidoterapia varia de acordo com os níveis glicêmicos. Glicemia maior que

250 mg/dL, utiliza-se somente solução salina 0,9%, entre 100 e 250 mg/dL, utiliza-se solução

com metade da concentração anterior (0,45%) acrescida de 2,5% de glicose, e finalmente,

nível glicêmico abaixo de 100 mg/dL utiliza-se a mesma concentração anterior, porém com o

dobro da concentração de glicose (5%) (LURYE & BEHREND, 2004).

O segundo passo é iniciar a terapia insulínica. Deve-se proceder da seguinte forma:

diluir 1,1 UI/kg de insulina regular em 250 ml de NaCl 0,9% e administrar o fluido a uma

velocidade de 10ml/hora. Quando a glicemia estiver menor que 250 mg/dL, a velocidade é

reduzida e após cessado o vômito e o felino tiver começado a se alimentar, deve ser instituído

o tratamento com insulina de ação prolongada (LURYE & BEHREND, 2004., SOUZA,

2003).

Quando disponível, a gasometria deve ser realizada e com base nos resultados obtidos,

faz-se a reposição dos íons potássio, fósforo e magnésio, conforme a necessidade. Calcula-se

a dose necessária de bicarbonato de sódio de acordo com o pH da gasometria e administra-se

por via intravenosa. Geralmente não é necessária reposição de bicarbonato, a menos que o pH

arterial esteja < 7,1. Já potássio e fósforo geralmente necessitam de reposição (LURYE &

BEHREND, 2004).

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2. RELATO DE CASO

Em maio de 2012, um felino doméstico, macho, castrado, sem raça definida, com

idade aproximada de oito anos, foi atendido em uma clínica veterinária na cidade de Tubarão-

SC.

Durante a anamnese f o i co n s t a t a d o , d e a co r d o c o m o r e l a t o d a

proprietária, que o animal apresentava poliúria, polidipsia e polifagia. Que teve nos últimos

meses redução de peso repentina mesmo comendo normalmente ração premium especial para

gatos castrados. O paciente não estava recebendo nenhum tipo de tratamento até o momento

da consulta.

Ao exame clínico, o felino apresentava-se apático e com desidratação

moderada, perda de peso (verificada nos registros da clínica, onde o peso médio 3 anos antes

era de 8,900 kg e o peso no momento da consulta foi de 6,400 kg).

Foram solicitados exames laboratoriais, como hemograma completo e perfil

bioquímico (uréia, creatinina, fosfatase alcalina, ALT e glicose). Baseado no resultado dos

exames (Tabelas 1 e 2), no exame clínico e na anamnese do paciente, a suspeita diagnóstica

foi de Diabetes Mellitus.

Tabela 1 - Resultado do hemograma do primeiro atendimento do felino

Hemácias 5,4 milhões/mm³

Hemoglobina 13,6 g/dL

Hematócrito 40,0 %

VCM 74,070 u³

HCM 25,180 pg

Continua...

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CHCM 34,0 %

Plaquetas 237.000 /mm³

Leucócitos totais 13.200 /mm³

Segmentados 61,0 % 8.052/mm³

Eosinófilos 6,0 % 792/mm³

Basófilos 0% 0/mm³

Linfócitos 30,0 % 3.960/mm³

Monócitos 3,0 % 396/mm³

Tabela 2 - Resultado da bioquímica sanguínea do primeiro atendimento do felino

ALT 60,0 UI/L

Fosfatase Alcalina 24,0 UI/L

Uréia 45,0 mg/dL

Creatinina 2,1 mg/dL

Glicose 461,0 mg/dL

As principais alterações nos exames foram uréia e creatinina levemente aumentadas e

hiperglicemia (461,0 mg/dL). Mediante o alto valor de glicemia, solicitou-se posteriormente a

dosagem de frutosamina, na qual teve um resultado elevado, de 683 µmol/L.

Mediante a confirmação da suspeita clínica foi prescrita a insulina glargina (Lantus®)

(Figura 1), 6UI, SC, BID e orientada dieta com ração específica para gatos diabéticos (alta

proteína e baixo carboidrato).

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Figura 1- Insulina Glargina 100UI/mL (Lantus®) Fonte: http://www.felinediabetes.com/FDMB/viewtopic.php?f=9&t=151

Após uma semana de tratamento, a glicemia mensurada 1 hora e meia após a

medicação foi de 232 mg/dL. Na ocasião, os proprietários levaram a ração “Diabetic” de

gatos para começar a dieta, pois ainda não a haviam iniciado, e a medicação estava sendo

administrada apenas uma vez ao dia, por opção dos proprietários.

Três meses após o primeiro atendimento, foi telefonado para a proprietária e

questionado sobre como estava sendo o tratamento, pois esta não havia mais retornado a

clínica. Ela relatou que não estava mais fornecendo a ração para gatos diabéticos e estava

pensando em parar com a administração de insulina, pois o animal não estava mais

melhorando com o tratamento. Além disso, o animal estava com dificuldades para se

locomover com os membros pélvicos, apoiando-os totalmente no chão. Verificou-se que os

proprietários continuavam usando a insulina somente uma vez ao dia, e que poderia ser esta a

causa do descontrole dos níveis de glicose.

Após a ligação, concluiu-se que o paciente estava iniciando com neuropatia diabética

(Figura 2) e a proprietária foi orientada a retomar o tratamento, sendo que agora a insulina

deveria ser administrada BID e deveriam voltar a fornecer a ração “Diabetic”. No mês

seguinte eles trariam o animal para fazer uma curva glicêmica.

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Figura 2- Felino apresentando postura plantígrada Fonte: a autora (2013)

Ao retorno do animal a clínica, uma curva glicêmica foi realizada com o auxílio do

aparelho Biocheck para determinação de glicemia (Figura 3). A curva demonstrou que a dose

de insulina administrada já estava além da necessária. A glicemia estava entre 43 e 48 mg/dL

após a administração de 6UI de insulina. Baixou-se a dose para 3 UI e a glicemia variou de 97

a 101 mg/dL. Ficou definida a dose de 3UI, SC, BID, de insulina glargina (Lantus®). O

paciente estava utilizando ração Royal Canin® para gatos diabéticos, 120g/dia.

Figura 3- Aparelho de glicemia utilizado nos testes e

para a realização da curva glicêmica Fonte: a autora (2013)

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Seis meses após a primeira consulta o paciente voltou para reavaliação e nova curva

glicêmica. O peso do animal havia aumentado para 8,500 kg (Figura 4). A orientação foi

reduzir também a dose de ração. A nova dose foi de 75g/dia, dividido em três doses diárias. A

glicemia após administração da insulina variava entre 48mg/dL e 103mg/dL. Baseado na

curva glicêmica e resultado dos exames laboratoriais (Tabelas 3 e 4) optou-se pela suspensão

da administração de insulina, devido à remissão do quadro clínico. A dieta foi mantida por

tempo indeterminado. Cinco dias após, a glicemia mensurada na clínica sem tratamento com

insulina estava 68 mg/dL em jejum.

Figura 4- Felino retornando ao peso inicial (sobrepeso) Fonte: a autora (2013)

Tabela 3 - Resultado do hemograma seis meses após o primeiro atendimento do felino

Hemácias 5,0 milhões/mm³

Hemoglobina 12,0 g/dL

Hematócrito 38,0 %

VCM 76,00 u³

HCM 24,00 pg

CHCM 31,57 %

Continua...

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Plaquetas 151.000 /mm³

Leucócitos totais 11.000 /mm³

Segmentados 50,0 % 5.500/mm³

Eosinófilos 5,0 % 550/mm³

Basófilos 0% 0/mm³

Linfócitos 44,0 % 4.484/mm³

Monócitos 1,0 % 110/mm³

Tabela 4 - Resultado da bioquímica sanguínea seis meses após o primeiro atendimento do felino

ALT 51,0 UI/L

Frutosamina 175,0 µmol/L

Uréia 62,0 mg/dL

Creatinina 2,24 mg/dL

Glicose 100,0 mg/dL

Proteínas totais 7,89 g/dL

Albumina 2,86 g/dL

Globulina 5,03 g/dL

Colesterol total 113,0 mg/dL

Triglicerídeos 52,0 mg/dL

2.1. Discussão

O diabetes mellitus é uma doença endócrina comum em gatos e os sinais clínicos mais

frequentes são polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso. O diabetes tipo 2 representa 80%

a 95% dos casos em gatos diabéticos e está relacionado com o processo de resistência à

insulina, caracterizado por uma habilidade prejudicada na secreção e/ou ação deste hormônio

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(RAND & MARSHALL, 2005). O felino estudado neste relato tinha todos os principais

sintomas clínicos mencionados. Além disso, teve neuropatia diabética, que persistiu por

alguns dias e que não é tão comum de ser observada.

Os objetivos do tratamento do diabetes incluem diminuir a hiperglicemia pós-prandial,

controlar o peso corporal, melhorar a sensibilidade insulínica periférica, evitar as

complicações da terapia, manter suporte de nutrientes e coordenar o pico da utilização de

nutrientes com a atividade insulínica (MARTIN, 2000). Após o diagnóstico correto e o

tratamento medicamentoso e dietético, foi possível reduzir os níveis de glicose e frutosamina.

De acordo com o resultado dos últimos exames laboratoriais, a glicemia estava 100 mg/dL e a

frutosamina 375 µmol/L, demonstrando um controle adequado da glicemia.

A remissão do diabetes pode ocorrer por um retorno na função das células β

pancreáticas, decorrente de uma reversão da toxicidade ocasionada pela hiperglicemia e/ou

uma melhora na resistência insulínica periférica (RUCINSKY et al., 2010). Entre cinquenta a

setenta por cento dos gatos diabéticos tratados adequadamente podem apresentar remissão do

diabetes (BENNETT, et al., 2006; MARSHALL, et al., 2009). Após seis meses de tratamento

insulínico do felino em questão, o tratamento medicamentoso foi interrompido, devido à

remissão da doença, confirmando o que foi descrito por vários autores.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Diabetes mellitus é uma enfermidade que acomete, na maioria dos casos, pacientes de

meia idade. Pode estar associada à hereditariedade ou aos hábitos alimentares do indivíduo.

Na maioria dos felinos, o diagnóstico imediato de diabetes deve possibilitar a realização

de tratamento satisfatório. No entanto, a avaliação inicial não deve apenas esclarecer a

gravidade da doença (p. ex., cetoacidose), mas também pesquisar por quaisquer doenças

concomitantes ou fatores predisponentes (p. ex., obesidade, medicamentos diabetogênicos). É

recomendável a instituição imediata do tratamento após o diagnóstico, sendo possível a

estabilização adequada de grande parte dos gatos nos 3 primeiros meses de terapia. Entretanto, é

importante mencionar que a remissão ocorre em até 50% dos gatos.

As reavaliações periódicas são essenciais, devendo incluir a determinação dos sinais

clínicos e do peso corporal, a elaboração de curva glicêmica e a mensuração da frutosamina.

O indivíduo diabético deve ser monitorado ao longo de sua vida com visitas periódicas a

clínica veterinária, para certificação de que os níveis séricos de glicose encontram-se dentro do

esperado. O ideal é que dieta e exercícios físicos perdurem por toda a vida do animal, mesmo

que os níveis de glicemia estejam normalizados e o tratamento insulínico tenha sido suspenso

pelo veterinário.

No presente estudo, a limitação econômica e dificuldade dos proprietários na adesão ao

tratamento foi uma barreira a ser enfrentada. Houve uma falha em não ser solicitado o exame de

urinálise, sendo ele muito importante no primeiro diagnóstico. As principais alterações de

exames que levam o clínico a confirmar a suspeita de Diabetes mellitus é a hiperglicemia e a

glicosúria. Praticamente 100% dos felinos diabéticos têm essas duas alterações.

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