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INTRODUÇÃO
Estas Notas sintetizam as discussões realizadas, em agosto de
2010, nos Encontros Municipais de Cultura da Região Noroeste,
reuniões públicas promovidas pela Secretaria de Estado de Cultura
(SEC) em parceria com os órgãos municipais de cultura, agentes
culturais e gestores públicos de cada um dos quinze municípios da
região, com vistas à elaboração do Plano Estadual de Cultura.
As questões aqui reunidas sob uma ótica regional abordam seis
diferentes temas, os quais configuram a estrutura básica deste
relatório. Apresentamos aqueles pontos considerados de interesse
comum aos municípios, e também pontos levantados em um ou
outro município, mas cuja relevância pode, a nosso ver, provocar
interesse de aprofundamento na Conferência Regional da Região
Noroeste, a se realizar em Miracema, no dia 11 de setembro de
2010 e nos desdobramentos futuros do processo em curso de
formulação de políticas públicas.
Deixamos de incluir nestas Notas para um Diagnóstico Preliminar –
A Cultura na Região Noroeste, informações contidas nos
questionários distribuídos pela SEC aos gestores de cultura dos
municípios da Região Noroeste, pois apenas uma pequena parte
destes questionários foi preenchida e devolvida à coordenação do
Plano Estadual de Cultura em tempo hábil para subsidiar este
documento.
3
Cabe assinalar ainda que boa parte do conteúdo aqui apresentado
se assemelha a um quadro de carências, tendência comum em
reuniões que reúnem governo e sociedade civil. Por outro lado,
mesmo reconhecendo a responsabilidade dos governos no fomento
à cultura, os Encontros Municipais de Cultura da Região Noroeste
também se ocuparam de ampliar as discussões sobre a cultura na
dimensão da sociedade civil, revelando um quadro de
potencialidades nas ações e iniciativas de seus agentes culturais,
que compõem um primeiro perfil das vocações culturais da região.
Nas próximas etapas do trabalho esperamos aprofundar este
diagnóstico inicial, tornando-o um referencial para a formulação
de propostas que venham contribuir efetivamente para o
desenvolvimento da cultura não só desta região, mas em todo o
território do estado do Rio de Janeiro.
Nesta fase inicial de construção do Plano Estadual de Cultura não
nos aprofundamos nas questões específicas das expressões e
linguagens da cultura e das artes: teatro, audiovisual, literatura,
dança, circo, música, etc. Reservamos as fases seguintes para
reuniões setoriais que irão aprofundar um diagnóstico e propostas
sobre cada um desses segmentos, tendo como passo seguinte a
elaboração e implementação de programas setoriais de âmbito
estadual.
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ENCONTROS MUNICIPAIS DE CULTURA DA REGIÃO NOROESTE
NATIVIDADE
Data: 09/08
Local: Auditório da Secretaria de Educação
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação, Cultura e
Desporto
Secretária: Maria Cristina de Figueiredo Vieira
Participação: 22 pessoas - Representantes do poder público tais
como Maria Cristina de Figueiredo Vieira (Secretária Municipal de
Educação, Cultura e Desporto), Marcelo Costa (Coordenador de
Cultura), Mateus da Costa (Sub-Secretário Municipal de Saúde),
Luiz Fernando Spalla (Diretor do Colégio Municipal Alvorada),
Silaine Terra Dutra (Assessora de Imprensa da Prefeitura) e de
segmentos da sociedade civil como capoeira, teatro, artesanato,
saúde, dentre os quais Cleber Andrade (Ator e Delegado Municipal
de Cultura), Joaquim Ramos (Mestre em Cultura Popular), Magaly
de Almeida Ferreira (Vice-Presidente da Associação de Artesãos),
Rogério Felizardo “Mestre Brechola” (Associação Grupo Bahia de
Capoeira), além da imprensa local: André de Araújo (Portal
Natividade).
PORCIÚNCULA
Data: 09/08
Local: Câmara Legislativa Municipal
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Cultura
Secretária: Eloiza Elena Morucci
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Participação: 42 pessoas - Representantes do poder público tais
como Eloiza Elena Morucci (Secretária Municipal de Cultura),
Antônio Jogaib (Prefeito), Saulo Calzolari (Presidente da Câmara
dos Vereadores), Magno Brazolino (Assessor do Gabinete do
Prefeito), Rosemar Santos Souza (Diretora da Escola Municipal
Infantil Carolina de Almeida), Rosimey Ferreira Ferreira (Assessora
de Imprensa da SMC) e de segmentos da sociedade civil como
educação, dança, música, poesia, dentre os quais Paulo Henrique
“kaskão” (Poeta), Joaquim Raimundo (Coordenador do Programa
Mocart e Mestre de Caxambú), Débora Coutinho (Coordenadora do
Grupo de Artesãos “Crochetando Vidas”), Thiago Mota (ator), Ana
Regina Ribeiro (Representante do Ponto de Cultura Talentos da
Roça), Soneli Rodrigues (Presidente da associação de Moradores de
Santo Antônio), Rogério Feijoli (Coordenador do Coral e Orquestra
Nossa Sra. Aparecida) e Neide Barbosa (ex-Secretária Municipal de
Cultura).
ITAPERUNA
Data: 11/08
Local: Auditório da Secretaria Municipal de Educação
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e
Lazer
Secretário: Eduardo Suisso de Novais
Participação: 55 pessoas - Representantes do poder público tais
como Elizabeth Vitória (Diretora de Cultura), Luis Marcelo de
Cerqueira Gomes (Assessor de Cultura), Alexandre Seródio (Sub-
Secretário de Governo), Valber Meirelles (Sub-Secretário de
Educação), Thiago Rodrigues (Assessor de Imprensa da Prefeitura)
6
e de segmentos da sociedade civil como educação, biblioteca,
literatura, cultura popular, artes plásticas e música, dentre os
quais Paulo Hernandes “Feitiço” (Representante da Folia de Reis
Nossa Sra. de Lourdes), Thiego Ladeira (Presidente do Conselho
Municipal de Cultura), jacy Pavan (Vice-Presidente da Academia
Itaperunense de Letras), Sônia Uchoa (Representante do Ponto de
Cultura Itaperuna de todos os Credos), Olga Acosta (Diretora
Cultural do Teatro do Sesi), Alexander de Souza (Maestro da
Musiarte), Edmo Abreu (Presidente da Sociedade Musical
Itaperunense), Elma Queiroz (Escritora), Tatiane Nunes Pinto
(Conselheira Municipal de Cultura), Vilma de Jesus (Presidente da
Associação de Moradores Cidade Nova), Mateus Merling
(Representante da Fundação São José), Cristianne F. Braga
(Animadora Cultural), além da imprensa local: Rosângela da Silva
Souza (TV Itaperuna), Renato Marinho de Almeida (Diretor da Rádio
Compaz) e Hugo Spinelli (O Diário do Noroeste).
BOM JESUS DO ITABAPOANA
Data: 11/08
Local: Tenda Cultural do Parque de Exposições
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Indústria, Comércio,
Turismo e Cultura
Secretário: Sávio Sábio da Fonseca
Participação: 15 pessoas - Representantes do poder público tais
como Sávio Sábio da Fonseca (Secretário Municipal de Indústria,
Comércio, Turismo e Cultura), Martha Salim (Diretora de Cultura),
Silvia Linhares (Secretária Municipal de Educação), Eraldo Rezende
(Vereador), Rafaella Cursio (Assessora de Imprensa da Prefeitura)
7
e de segmentos da sociedade civil como música, biblioteca,
educação e artes plásticas, dentre os quais Dona Nelly Carvalho
(Presidente da associação dos Artesãos Bonjesuense), Juliana
Motta (Bibliotecária), Roulien Boechat (Artista Plástico), Glauber
Silva (Músico da Lira O Bonjesuense), Pedro Salim Júnior (Animador
Cultural e Diretor da Cia. Musical Corre Coxia), além da imprensa
local: Leo Carlos (Rádio Bom Jesus).
LAJE DO MURIAÉ
Data: 12/08
Local: Câmara Municipal de Laje do Muriaé
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Cultura
Secretária: Dayane Aparecida Lima Romualdo
Participação: 32 pessoas - Representantes do poder público tais
como Dayane Aparecida Lima Romualdo (Secretária Municipal de
Cultura), Anísio Romualdo (Presidente da Câmara dos Vereadores),
Maria Lúcia Romualdo (Assessora de Cultura), Aracely Rezende
(Secretário Municipal de Educação), Elias Gomes de Oliveira
(Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos), Edson de
Andrade Silva (Assessor de Imprensa da Prefeitura) e de segmentos
da sociedade civil como artes plásticas, cultura popular, educação,
artesanato, música e literatura, dentre os quais Sebastião Marques
Silva (Presidente da Folia de Reis Estrela do Sul), Carlos Alberto
Falcão (Artesão e Presidente da ONG Vivale), Maria Antonieta da
Cunha (Animadora Cultural), Rita de Cássia Côre (Professora e
Diretora da ONG Vivale), Floriano Freitas (Mestre de Folia de Reis),
Gicelda Pereira (Artesã) e Rosely Macedo (Presidente da AFAGA).
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MIRACEMA
Data: 12/08
Local: Auditório do Centro Cultural Melchíades Cardoso
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação, Cultura,
Esporte e Lazer
Secretária: Luciana Moura
Participação: 22 pessoas - Representantes do poder público tais
como Mário Lúcio Lima da Costa (Diretor de Cultura e Presidente
da Academia de Letras de Miracema), Ana Lúcia Lima da Costa
(Diretora do Centro Cultural Melchíades Cardoso e do Museu
Antônio Ventura Coimbra Lopes), Fernanda de Moura Campos
(Assessora de Educação) e de segmentos da sociedade civil como
biblioteca, dança, educação, teatro, dentre os quais José Antônio
Xavier (Coordenador do Ponto de Cultura Cara na Cultura), Rogério
do Axossi (GRES Vila Alegre e Caxambú de Miracema), Roberta de
Souza (bailarina), Ademir Silva (Músico), Edson Felicíssimo
(Conselheiro Municipal de Cultura) e Adenilson Sousa Silva
(Presidente de Escola de Samba).
VARRE-SAI
Data: 12/08
Local: CIEP 381 Primo José Sobreira
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Secretário: Carlos Alberto da Silva
Participação: 24 pessoas - Representantes do poder público tais
como Carlos Alberto (Secretário de Educação e Cultura), Elisete
Vargas (Diretora do Departamento de Cultura), Maristela Louvain
Fabri Moraes (Vereadora), Dayselane Pimenta Lopes Rezende
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(Secretária de Assistência Social), Roberto Flávio Nunes de
menezes (Secretário de Turismo), e de segmentos da sociedade
civil como capoeira, teatro, artesanato, saúde, dentre os quais
Neide Tiradentes (Diretora), Suzy Mary (Diretora), Eliane Santos
(Professora), Odair Ronaldo (Professor de Música), Ana Nunes
(Presidente da Associação de Moradores Nossa Senhora da
Aparecida), Cristiane Vióti (Presidente da Associação de Moradores
S. Terezinha), Antonio José de Oliveira (Presidente da Associação
de Moradores do Bairro Confiança), além da imprensa local: Thiago
Ramos (Jornal Noroeste Agora).
SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
Data: 13/08
Local: Teatro Municipal de Educação e Cultura
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Secretária: Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge
Participação: 66 pessoas - Representantes do poder público tais
como Vera Lúcia Kezen Camilo Jorge (Secretária Municipal de
Educação e Cultura), Half Kezen Leite (Vice-Prefeito), Antônio
Thomaz (Sub-Secretário de Educação), Nedma Thouri (Diretora da
Biblioteca Municipal), Ana Elvira Constâncio (Secretária do
Departamento de Cultura), Sheila Dias (Coordenadora de Eventos
da SMC) e de segmentos da sociedade civil como dança, educação,
cultura popular, teatro, dentre os quais Adão Araújo
(Representante da Folia de Reis), Julio César Peixoto (Professor de
Dança), João Dias (ator e produtor do Núcleo de Produção Cultural
Brasil), Joelcio Gama de Jesus e Terezinha Mansur (Conselheiros
Municipais de Cultura), Alexandre Pina (ator) e diversos alunos do
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Instituto de Educação Santo Antônio e do Ciep 469 Anaide Panado
Caldas.
SÃO JOSÉ DE UBÁ
Data: 13/08
Local: Centro Cultural Zacharias Rodrigues Neto
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Secretária: José Cosme Andrade Lima
Participação: 36 pessoas - Representantes do poder público tais
como José Cosme Andrade Lima (Secretário Municipal de Educação
e Cultura), Sandra Pavan (Vereadora), Nayara Vilanova (Assessora
do Departamento de Cultura), Maria Verônica Verdan (Diretora do
Departamento de Educação), Danio Melo (Representante da
Secretaria de Meio Ambiente), Danielle Estephaneli (Representante
da SMEC) e de segmentos da sociedade civil como, dança,
educação, teatro, dentre os quais Edilaine Curty (Delegada
Municipal de Cultura), Elaine Cristina Picanço (Professora), Luciano
Pavan (Presidente da Associação Comunitária Cantagalo/Ponto de
Cultura) e Dácio Vivas (Professor da UFF).
ITALVA
Data: 17/08
Local: Pedra Branca Social Clube
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo,
Esporte e Lazer
Secretária: Angela da Silva Gomes Poz
Participação: 45 pessoas - Representantes do poder público tais
como Angela da Silva Gomes Poz (Secretária Municipal de Cultura,
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Turismo, Esporte e Lazer), João Batista Nogueira (Secretário
Ambiente e Limpeza Pública), Nádia Maria Florido José Almeida
(Vereadora), Verônica Madureira (Secretária de Controle Interno),
Elizabeth Rangel (Secretária de Educação), Dirlandes Cozendey
Siqueira e Gabriela Tavares Cândido da Silva (Assessoras da
Secretaria de Cultura), Fágner Antônio Ramos Reis (Defesa Civil –
Ordem Pública), Fábio Pontes Robaine (Secretaria de Saúde),
Osmarina Rangel Dutra Campos (Secretaria Assistência Social),
Redervan Miranda (Assessor de Imprensa da Prefeitura) e de
segmentos da sociedade civil como música, artesanato e educação
dentre os quais Jorgel Luis Machado Soares (Animador Cultural),
Décio Vieira da Rocha (Conselheiro Municipal de Cultura), Alcenir
Azevedo Ribeiro (Presidente da Associação de Mulheres Italvense),
Suely Machado Cruz Oliveira (Diretora do Centro Educacional
Batista de Italva), Ester Freitas Ribeiro (Contadora de História),
Jary Glória das Chagas (Presidente do Grupo Idade Feliz de Italva)
Jesuína Nasser (Professora), Terezinha de Jesus Florido José Gama
(Professora da Escola de Música Do Ré Mi), Andréa Albuquerque
Caetano Cordeiro (Academia Corpo e Ação), Maicon Paes (DJ),
Rudiarde Ribeiro Gaby (Músico), Mary Gloria (Presidente da 3ª
Idade), Dilcilea Bento Arruda (Artesã) e Eliza Maria Silveira Moco
(Associação de Mulheres).
CAMBUCI
Data: 18/08
Local: Loja Maçônica de Cambuci
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Secretário: Edmilson Robaina de Souza
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Participação: 31 pessoas - Representantes do poder público tais
como Edmilson Robaina de Souza (secretário Municipal de Cultura),
Rogério Curvelo (Coordenador da SEMEC e Professor de Literatura),
Zoraia Valente (Secretaria Municipal de Educação), Paulo Ana
Lucia Boechen (Supervisora de Ensino da SEMEC), Mauro Teixeira
(Assessor de Imprensa da Prefeitura) e de segmentos da sociedade
civil como artesanato, educação e música, dentre os quais Rodrigo
dos Santos Paulino, Simone Velasco, Marcos de Souza e Maria
Aparecida Malafaia (Artesãos), Juarlei Muniz e Giuliano Lima
(Músicos) e Marianne Chaves (Pedagoga), além da imprensa local:
Evandro Salim.
APERIBÉ
Data: 18/08
Local: Centro de Convenções Ataíde Faria Leite
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Secretária: Cássia Rosane Amin Pontes
Participação: 45 pessoas - Representantes do poder público tais
como Cássia Rosane Amim Pontes (Secretária de Educação e
Cultura), Jairo Barbosa Pereira (Vereador), José Renato (Secretaria
de Educação), Luiz Rocha Carvalho (Secretaria de Assistência
Social), Roni Fialho e Adilson Fernandes (Assessoria de Imprensa da
Prefeitura) e de segmentos da sociedade civil como artesanato,
educação, cultura popular, literatura, dentre os quais Maria Lúcia
(Associação de Artesãos de Aperibé), Hamilton Messias (GRES
Unidos da Palmeira), Geraldo Aparecido da Silva (Agremiação
União Serrana), Fabiana Santana da Cunha (GRES Tradição
Popular), Maria da Graça Bairral Neves (Academia Aperibense de
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Letras), Rômulo Freitas (Delegado Estadual, Produtor Cultural e
Jornalista), Luiz Luz de Souza (Atelier de Pinturas), Maria Magali
de Oliveira (Ativista Cultural e Escritora), Iramar Meireles (Cultura
Popular), além da imprensa local: José Arthur (Rádio Educativa).
ITAOCARA
Data: 19/08
Local: Teatro Municipal Kiud
Coordenação Local: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo
Secretário: Henrique Resende
Participação: 35 pessoas - Representantes do poder público tais
como Henrique Eccard Resende (Secretário Municipal de Cultura e
Turismo), Dilnéia Carvalho Alves (Secretária do Secretário
Municipal de Cultura e Turismo), Roni Escobar (Secretário de
Esportes), Arnaldo Pereira Ventura (Secretário de Indústria,
Comércio e Trabalho), Luiz Carlos da Silva Câmara (Secretaria de
Educação), Manoel Moraes da Silva júnior (Assessor de Cultura e
Turismo, Artista Gráfico e Carnavalesco), Analete da Silva Resende
Viana (Diretora do Colégio Municipal Professor Nildo Caruso Nara) e
de segmentos da sociedade civil como educação, esporte,
capoeira, artes plásticas, música e dança, dentre os quais Kléber
Leite (Presidente da Academia Itaocarense de Letras), Edilson
Vieria Andrade (Presidente do Nacional Esporte Clube), Paulo
Figueira de Barros (Representante da Folia de Reis Bandeira Santa
Clara Linda Flor do Oriente), Luiz Cláudio Maia Jorge (União
Esportiva Itaocarense), Cláudia Chapim Rangel Dias de Abreu
(Presidente da Associação Itaocarense de Artistas), José Leonissa
Mendes Júnior (Presidente da Liga Carnavalesca de Itaocara e Líder
14
do Movimento Negro de Itaocara), Julio, Rodolfo Eccard Resende
(Fotógrafo), Anselmo José Merlin Corrêa (Diretor do Carnaval do
Clube União Esportiva Itaocarense), além da imprensa local: César
Gravano (Editor Chefe do Jornal Folha Regional).
15
TEMAS DISCUTIDOS NOS ENCONTROS MUNICIPAIS
Os temas abaixo foram discutidos, inicialmente, pelos gestores
públicos da Região Noroeste nas Visitas Técnicas realizadas pela
SEC, em 2009, e considerados como importantes para a elaboração
de uma política pública de cultura para a região. Em 2010, nos
Encontros Municipais de Cultura que reuniram, além de gestores
públicos, agentes culturais de cada município da região,
aprofundou-se a discussão desse temário, conforme apresenta este
relatório. Os temas são: Vocações e Identidades Culturais;
Configuração Regional; Integração Cultural; Gestão e
Institucionalidade; Capacitação de Gestores Públicos e Privados; e
Equipamentos Culturais.
16
1) VOCAÇÕES E IDENTIDADES CULTURAIS
SÍNTESE REGIONAL
As manifestações culturais mais importantes para a identidade
cultural de muitos dos municípios da Noroeste ainda são, segundo
o depoimento dos presentes aos encontros da região, aquelas
ligadas à Cultura Popular.
Dentre as inúmeras expressões de cunho popular existentes no
Noroeste, mais uma vez as Folias de Reis mereceram destaque pela
longevidade de alguns grupos e por estarem presentes em muitos
dos municípios. Apesar de terem reconhecida sua importância, as
folias do Noroeste sobrevivem com muita dificuldade, geralmente
por conta do empenho pessoal de alguns indivíduos, como Geraldo,
há 50 anos à frente da Folia em Santo Antônio de Pádua, Seu
Joaquim, uma destas figuras do saber popular que tem sua
importância reconhecida tanto em seu município, Natividade,
quanto em outros vizinhos e Seu Floriano, há quarenta anos à
frente de sua folia Estrela Azul do Grande Espaço, em Laje do
Muriaé. O cenário das Folias no Noroeste é o retrato de um
ambiente cultural carente de recursos, ações e atenção da parte
do poder público, marcado pela inexistência de ações permanentes
de valorização destas e outras expressões de cunho popular.
Em Itaperuna foi relatado o maior número de Folias de Reis da
região, cerca de 20 grupos, sendo que apenas doze encontram-se,
de fato, em atividade. Em Miracema também é expressivo o
17
número de Folias, doze grupos, presentes em todos os distritos do
município. A vitalidade dos grupos de Folias observada em
Itaperuna e Miracema, entretanto, é uma exceção. Em Cambuci,
por exemplo, foi relatado pelos locais o total desaparecimento das
Folias, motivado em parte por preconceito de cunho religioso e
pela rejeição e afastamento dos mais jovens. Cenário semelhante
encontra-se em São José do Ubá, onde há dois anos as Folias não
saem.
A evidente fragilidade da situação destes tradicionais grupos
também pôde ser observada em Aperibé, onde foi relatada a
presença de apenas um grupo, o Estrela Oriente, de apenas oito
anos. Interessante notar que se trata de um grupo relativamente
novo, indicativo de que a extinção dos grupos mais tradicionais não
acarreta necessariamente no desaparecimento irreversível da
manifestação. Esta retomada também é uma boa notícia em Laje
do Muriaé, onde, além das cinco folias adultas, um novo projeto, a
folia de reis mirim, visa à renovação a partir do envolvimento das
crianças.
Em Bom Jesus do Itabapoana existem cinco grupos de Folias de
Reis em atividade, e Italva ainda consegue manter duas folias,
sendo a mais tradicional a Estrela da Guia, com cerca de 20 anos.
No município de Itaocara existem cinco grupos de Folias de Reis,
incluindo um dos grupos mais antigos registrados durante os
encontros no Noroeste: a Branca Neve do Oriente, com cerca de 50
anos, localizada no distrito de Laranjais, é a mais tradicional.
18
Também mereceu destaque a Bandeira Santa Clara, que se
encontra na sede do município e está em atividade desde 1973.
Além das Folias de Reis, outras manifestações de Cultura Popular
foram relatadas nos encontros da região. Cambuci indicou o
Mineiro Pau, Caxambu e Boi Pintadinho como expressões locais
importantes. Em Aperibé há um grupo de Mineiro Pau e um de Boi
Pintadinho. O Caxambu local foi extinto e há dez anos foi criada no
município a Associação de Capoeira Novo Horizonte, hoje com 70
integrantes, e que inclui também capoeiristas de distritos de
Cambuci.
Em Cambuci os presentes destacaram a Capoeira, Mineiro Pau, Boi
Pintadinho, Quadrilha e as Festas Juninas como as expressões mais
representativas do universo da cultura popular local. As festas
juninas também foram mencionadas em Bom Jesus do Itabapoana e
Itaperuna. Neste último município foi relatada a existência de
grupos de quadrilha, com destaque para o grupo de Comendador
Venâncio, que alcançou prestígio em toda a região. Foi, ainda,
destacada a presença de um remanescente de Calango, no distrito
de Raposo.
Em Bom Jesus do Itabapoana também foram lembrados dois
remanescentes de Caxambu, ambos no distrito de Calheiros. Já em
outro distrito, Rosal, existe um grupo de dança típica italiana, e na
sede, um de dança infantil. Mencionaram também duas
cachaçarias artesanais tradicionais na cidade, sendo a culinária
muito influenciada pela culinária capixaba e mineira.
19
O cenário descrito em Santo Antônio de Pádua revela, apesar das
dificuldades, a longevidade de quatro expressões de cunho
popular: Mineiro Pau, Pastorinhas, Caxambu e Capoeira. Mestre
Nico, do Mineiro Pau, encontra-se à frente do seu grupo há muitos
anos, pois a tradição que vem sendo passada de pai para filho
desde seu bisavô. As Pastorinhas do distrito de Pitiguaçu e o
Caxambu também têm longa tradição, sendo que o Caxambu
encontra-se há cerca de 150 anos no município.
Em Itaperuna existem sete grupos de Capoeira, associados aos
capoeiristas de Macaé. A Capoeira foi considerada, pelos presentes
ao encontro, como a manifestação de maior tradição ligada à
descendência afro-brasileira no município. O Mestre Cabeça, do
grupo Sinhá Bahia de Natividade realiza trabalhos junto aos alunos
das escolas públicas no município, envolvendo unidades da sede e
da zona rural.
No município de Miracema foi mencionada a existência de
inúmeros centros de umbanda e candomblé. A presença afro foi
assunto em Natividade rm função do recente reconhecimento pela
Fundação Zumbi dos Palmares da localidade de Cruzeirinho de
Cima, que abriga população quilombola.
Os relatos colhidos nos treze encontros municipais de cultura
expuseram as fragilidades e os riscos que cercam as atividades de
grande parte dos grupos de cultura popular no Noroeste, um
cenário semelhante ao de outras regiões do estado.
20
O artesanato do Noroeste vive alguns dos mesmos desafios já
diagnosticados nas outras regiões fluminenses. Organizam-se em
torno de associações ou buscam formar cooperativas, mas
ressentem-se de espaço no âmbito da cultura para a discussão de
suas questões. São inúmeras as iniciativas que visam melhorar
este cenário. A Associação Bom-Jesuense de Artesãos (ABA) existe
desde 6 de setembro de 1986, e, embora a cidade tenha muitos
artesãos, poucos fazem parte da associação. Falta um espaço
referência na cidade para o artesanato.
Em Laje do Muriaé predomina o artesanato de tecelagem em fibra,
bambu, cestarias, tecelagem em couro, bordados. Não existe ainda
uma associação, mas a atividade no município movimenta
aproximadamente 40 artesãos que, majoritariamente, vivem no
perímetro urbano.
Quanto o poder público local apoia, os resultados são concretos.
Em Natividade, por exemplo, o artesanato local é considerado
pelos presentes como representativo da cultura local. Lá existe
uma associação fundada há cerca de 10 anos, com trinta e cinco
associados. A Prefeitura arca com as despesas de aluguel e luz do
espaço e do transporte para as feiras. A casa do artesão em
Porciúncula existe desde 1998. Mantida pela prefeitura - e com
cerca de 80 artesãos associados em atividade - que custeia
também a participação em feiras. As atividades ajudam a
complementar a renda de várias famílias. É possível identificar
figuras que servem de referência, como é o caso de Eponina
21
Sanches, artesã citada como ícone do segmento local, que utiliza
em seus trabalhos motivos iconográficos ligados ao projeto Tamar.
O Artesanato de Cambuci é rico pela quantidade e qualidade dos
trabalhos. Destaque para o Grupo Artesão Viva Arte – Gavivarte,
fundado em 13 de agosto de 2009, com quinze artesãos atuantes.
São vários os tipos de técnicas utilizadas nos trabalhos, tais como
sabão ecológico, decoupage, pintura em tecido, óleo sobre tela,
tapeçaria, ponto cruz, crochê, dentre outros. A base do grupo é o
projeto Arte Que Te Quero Viva na Cultura. Organiza a feira de
artesanato na praça em Cambuci e participa de outras exposições
e festividades.
O segmento de Artes Visuais foi muito pouco mencionado, mas foi
relatado um número considerável de pintores em Itaocara, alguns
de destaque no município tais como: Henrique Resende, Márcia
Malhano, Arivaldo Corrêa e Nilson Viegas. O Atelier Chácara da
Pedra é uma escola de artes plásticas que atrai inclusive alunos de
outros municípios. Já em Laje do Muriaé, entre os pintores foi
destacado o trabalho de Gilson Alberoni de Araújo, que retrata a
partir de fotos antigas a paisagem urbana e rural da cidade.
Em São José de Ubá existe uma associação chamada APROVISAN –
Associação dos Produtores da Vila Santa Maria, que é uma
associação ligada a produtores rurais, mas que também trabalha
com artesanato. Finalmente, o artesanato de Varre-Sai que
apresenta trabalhos em diversas técnicas como fuxico, abrolhos,
22
cestas, bordados, peneira, foi considerado desarticulado pelos
presentes ao encontro. Disseram não haver uma feira permanente,
mas salientaram que os artesãos locais foram os que mais
venderam na Feira da Providência. Afirmaram, ainda, que o fim da
Feirarte, feiras itinerantes promovidas pelo governo do estado em
parceria com os municípios, foi muito prejudicial para o
artesanato.
Além das festas dos padroeiros, alguns eventos foram citados pela
força da sua tradição e importância para a cultura local. A Festa
de Agosto, de conotação religiosa, ocorre há 62 anos em Bom Jesus
do Itabapoana. Abre espaço para o artista local, com
apresentação de trabalhos em vertentes carentes de visibilidade,
como artes plásticas, fotografia e literatura. No município também
acontece anualmente a Feira da Providência, sempre em outubro,
com comidas típicas e apresentações que mostram a diversificada
influência da cultura regional, como barracas da Itália, Portugal,
Minas e Espírito Santo, entre outras.
A ocupação do território e o desenvolvimento do município de
Italva encontram-se ligados à presença libanesa. Ainda hoje é
possível observar a presença de três troncos de colônias e famílias
libanesas, na cidade. Esta tradição é celebrada na Festa do Quibe,
evento que ocorre há 38 anos. A festa, de um dia, é movida a
espetáculos musicais com artistas de fora, com culinária libanesa e
a venda de canecos. Nos dois dias anteriores é realizado a Itareta,
carnaval fora de época.
23
Outra peculiaridade da cultura regional vem do município de
Varre-Sai. É do município o vinho de jabuticaba, fabricado
artesanalmente pelos italianos que ali se estabeleceram e que,
hoje, ainda representam cerca de 70% da população local. Em
torno desta tradição realizam há 35 anos o Festival do Vinho,
evento que desperta a atenção de toda a região e que ocorre
sempre no último domingo de julho. Além da degustação da
produção local, o festival apresenta grupos de dança embalados
pela música tradicional daquele país, tais como a tarantela. O
município também tem uma produção grande e variada de mel e
derivados, além de doces e pães caseiros.
Em Itaperuna, a Festa do Carro de Boi de Raposo acontece há
cerca de 50 anos todo o último domingo do mês de maio. É
considerada a única festa do gênero do país, pois também tem
forte conotação religiosa, com a realização, inclusive, de uma
procissão religiosa.
Já em Laje do Muriaé é realizada anualmente a Festa do Folclore.
Visa à valorização de tradições, incentivando o respeito das
crianças pela cultura local. O CIEP, onde ocorre o evento, tem um
Boi Pintadinho, o já famoso Boizolão.
O Carnaval mereceu certo destaque nas discussões ocorridas nos
encontros de alguns municípios, em parte pelo envolvimento direto
do poder público local, que repassa recursos para as festas, que
mobilizam os moradores locais e promovem turisticamente o
município. Em Aperibé a festa é embalada pela escola de samba
24
Tradição, em atividade há 40 anos, e pela Unidos da Palmeira, que
existe desde 1979. Apesar da rivalidade cordial, os desfiles são de
exibição e não de competição, ensinaram os presentes ao encontro
municipal. Como de praxe em muitos carnavais do interior, as
agremiações recebem subvenção da prefeitura, mas ressaltam que
a maior parte dos recursos são doações recebidas dos patronos.
Alertam que, apesar de toda a história que cerca o carnaval local e
suas duas escolas, dificuldades de ordem financeira impediram por
14 anos o desfile. Reconheceram que hoje prevalecem os Blocos de
Empolgação.
As dificuldades atuais levaram os agentes culturais de Itaperuna a
avaliarem que o Carnaval, hoje, passa por um processo paulatino
de enfraquecimento. Afirmam que as instituições perderam um
pouco da identidade com suas comunidades e este afastamento
seria a razão maior para a decadência do carnaval local. Ainda
existem seis escolas de samba, mas sem a sua antiga força de
mobilização e efetiva capacidade de se apresentar. A situação se
deteriorou a ponto de não haver mais desfiles, de fato, destas
agremiações. Para se dar uma idéia da situação, este ano uma
escola de Porciúncula desfilou com a presença simbólica de seis
porta-bandeiras e mestres-sala das escolas locais. Até blocos,
outrora importantes, como o Arco-Íris e o dos Piratas, também já
não saem às ruas. Enquanto isso, o Carnaval local está resgatando
bailes tradicionais em espaços abertos, com marchas e bandinhas
tradicionais.
25
O Carnaval de Laje do Muriaé busca sobreviver e manter a
empolgação com o desfile de escolas e blocos locais. Ao todo são
cinco escolas de samba. A mais tradicional, a Unidos do Rosário,
existe há cerca de 60 anos. Apesar da tradição, alertam que o
carnaval local vem se enfraquecendo, principalmente em
conseqüência da “invasão” da música baiana, que estaria
afastando os mais jovens da festa local.
Em Miracema o carnaval é também embalado por blocos e escolas.
Algumas das escolas já são consideradas tradicionais, com
destaque para a Sociedade Independente do Alto do Cruzeiro, com
25 anos, e a Unidos no Samba e na Cor, esta com cerca de 40 anos.
Desfilam em média com 200 integrantes por agremiação, sendo a
subvenção da prefeitura considerada crucial para a sobrevivência
da festa e organização dos desfiles. Os blocos e o Boi Pintadinho
também desfilam, competindo e animando a festa que atrai
moradores e visitantes. Outro exemplo de tradição vem de
Itaocara, município que viu surgir em 1978 sua primeira escola de
samba, a Grêmio Recreativo Escola de Samba Eu Também Vou. A
festa na cidade é animada por outras duas escolas e alguns Blocos
de Enredo, que desfilam junto com aproximadamente 18 blocos de
animação.
O Carnaval em Italva esteve desarticulado por muito tempo, e
retornou em 2010. Apresentaram-se 8 Blocos de Rua, e o plano é
transformá-los em Blocos de Enredo. O bloco Unidos da Caixa
D’Água é o bloco mais antigo e o que foi responsável pela
26
sobrevivência do carnaval durante os cerca de 30 anos sem apoio
do poder público local.
Uma história interessante marca o carnaval de Natividade. Dois
blocos, Somos do Amor e Independentes foram rivais durante
muito tempo. Foi então criado o Vem Quem Quer para amenizar
tal clima e para “unir o amor com a independência”, os dois blocos
tradicionais, como afirmou uma das pessoas presentes ao
encontro.
Em Porciúncula, o carnaval de rua foi animado pelo bloco de Dona
Nenzinha e os cordões da Dona Bela, até a década de 70. Hoje a
força vem do Bloco do Boi Pintadinho, que sai com três bonecos e
desfilou pela primeira vez há cerca de 40 anos. As novidades não
param de aparecer no carnaval da cidade. O ano de 2010 marcou
a estréia do Bloco do Bairro Cristo Rei. No sábado de aleluia
também é tradição a saída do Boi no Rolete, que ocorre no Baliu’s
Bar.
O carnaval de clube também marcou época em Porciúncula. O
clube Caça e Pesca, inaugurado no final da década de 40, tinha a
maior pista de dança na região. Rivalizava com outro clube, o
União Recreativa Esportiva dos Operários de Porciúncula (UREOP),
que era o clube mais popular, sendo o Caça e Pesca mais ligado à
elite local. Foi revelado no encontro que existia no passado, até a
década de 70, uma forte discriminação racial no município. Hoje
afirmam que o poder público local busca formas de valorizar
tradições afro-brasileiras dentro do ambiente cultural local,
27
inclusive envolvendo as unidades escolares, enaltecendo algumas
expressões ligadas à tradição afro-brasileira que foram
importantes para a identidade cultural local, tais como a Capoeira,
o Caxambu e as Benzedeiras. Apesar deste trabalho, para alguns
dos presentes ainda existiria preconceito racial por parte dos
moradores da cidade.
A música, dentre as diversas formas de expressão cultural de
cunho popular, talvez seja o segmento de maior tradição no
Noroeste fluminense. No entanto, apesar da força de algumas
instituições centenárias e dos ares de renovação que vêm dos
festivais e ações de formação musical, ficou claro após os
encontros que a cena musical regional atual não permite que o
músico local sobreviva de suas atividades, impondo sérios
obstáculos à sua própria qualificação e profissionalização. Os
músicos bem sucedidos, via de regra, deixam a região em busca de
oportunidades em outras cidades.
A história de um dos municípios mais ricos musicalmente no
Noroeste, Itaocara, nos remete ao século XIX. Era comum nesta
época que os barbeiros da cidade, grupo formado
majoritariamente por afro-brasileiros, ex-escravos ou
descendentes destes, se ocupassem de estudar e tocar
instrumentos de origem européia. Trata-se de uma tradição que
também envolveu barbeiros nas cidades do Rio de Janeiro e
Salvador, e que já mereceu a atenção de etnomusicólogos por sua
importância para o desenvolvimento da música brasileira. O pai do
28
famoso flautista Patápio Silva foi um desses músicos, que na
Itaocara do século XIX movimentava a cena musical local.
Na localidade de Estrada Nova, hoje distrito de Itaocara, foi criada
em 1959 a Sociedade Musical Patápio Silva, em sua homenagem,
que ficou em atividade até os anos 90. A falta de apoio do poder
público local e a mudança de valores que contribuiu para a
desmotivação dos jovens com a banda foram fatores fundamentais
para a paralisação das atividades. Recentemente foi criada a
escola de música Patápio Silva, dentro da estrutura da Secretaria
Municipal de Cultura e Turismo com o objetivo de resgatar esta
tradição.
Outro nome de destaque na música nacional e que tem sua história
ligada ao Noroeste é o do violinista e compositor Baden Powell,
nascido na cidade de Varre-Sai. O município mantém até hoje o
acervo da Lira Santa Cecília – surgida em 1917, cujo pai de Baden
Powell foi um dos fundadores. Hoje a cena musical local ainda
respira os ares da tradição com os corais religiosos, um coral
municipal, grupos musicais diversos e uma presença marcante de
sanfoneiros.
É impossível falar de música no Noroeste Fluminense sem
reconhecer o trabalho do maestro José Carlos Ligiero, em
atividade há 51 anos. Além de seu importante trabalho realizado
em Itaperuna, Ligiero serve de referência para músicos de várias
idades e localidades. Muito da tradição das bandas de música
deve-se ao seu trabalho e esforço pessoal. Algumas das mais
29
tradicionais bandas da região são: a Sociedade Musical Lira de
Arion, fundada em 1888, em Santo Antônio de Pádua, a Sociedade
Musical 7 de Setembro, de Miracema, que hoje tem mais de cem
anos, a Lira Porciunculense, chamada no passado de Vinte Quatro
de Dezembro, sendo, segundo os presentes, quase centenária, e a
Lira 14 de Julho de Bom Jesus do Itabapoana, hoje com 85 anos,
além da Lira Operária, com sede no mesmo município.
Em Laje do Muriaé, a Lira da Esperança, existente há cerca de 40
anos, mantém inclusive atividades educacionais. A banda conta
hoje com 40 músicos, a maioria de jovens e crianças. No encontro
municipal foi relatado que no passado as grandes fazendas da
região mantinham bandas, o que também contribuiu para a
valorização da música no município.
Tradição e contemporaneidade se misturam. Em Miracema, da
banda 7 de Setembro, a cena musical atual também apresenta
grupos de Pagode, Forró e Rock. Entretanto, segundo os músicos
locais, não existem, oportunidades de trabalho suficientes para os
profissionais que ali residem.
Algumas destas instituições musicais recebem subvenção ou algum
apoio das prefeituras, o que tem permitido a revitalização de
destes grupos. Em Italva, a Banda Musical Doze de Junho, criada
em 1989, por lei municipal, encontra-se inativa, mas a secretaria
local busca, no momento, contratar um mestre de bandas para
reativar o grupo. Outra ação ligada ao poder público vem de
Natividade. No distrito de Ourânia existiu a Lira Santa Rita de
30
Cássia, que, por uma série de dificuldades, viu suas atividades
pouco a pouco serem paralisadas. Para retomá-las, a secretaria
local contratou, recentemente, um maestro. Estão também
montando uma banda marcial municipal. Existem alguns grupos
musicais da cidade, que se apresentam, eventualmente, no projeto
Música na Praça. Álibi e Pakerê são duas bandas locais que
ganharam certa notoriedade até em outros municípios do estado.
Já existiu um coral de pantomima, que apesar do ineditismo foi
descontinuado.
Outra ação que sofreu descontinuidade foi o Festival Aperibense de
Música Popular – FAMP, cuja primeira edição ocorreu em 1981.
Houve uma interrupção por 15 anos e a volta ocorreu em 2005/
2006, mas desde então não tem sido realizado. O FAMP era um
festival nos moldes clássicos, premiando composições inéditas e
intérpretes. Movimentava músicos da região, atraindo profissionais
até de centros maiores, como Campos dos Goytacazes e Região
Metropolitana.
O festival MUSICAP fez parte da cena musical de Porciúncula
durante uma década (1992-2002), reunindo os melhores
intérpretes e instrumentistas de Porciúncula. Era organizado pela
secretaria de turismo e recebeu o Prêmio Cultura Nota10. Existe,
também, no município uma orquestra e o coral Nossa Senhora da
Aparecida, parceria da igreja com a secretaria de promoção social
local. A ação é direcionada aos bairros mais pobres. Reconhecem
que o cenário musical local sofre com a carência de espaço
31
adequado. Planeja-se a itinerância de atividades culturais com
uma tenda que será adquirida com os recursos do PADEC.
Foram citadas algumas ações de formação musical, muitas voltadas
para projetos de inclusão social, envolvendo secretarias que
trabalham na área de ação social e educação. O projeto de oficina
de percussão Bate Lata é direcionado para as crianças de
Cachoeira Alegre, em Natividade, mas hoje já acolhe outras
crianças do bairro de Cantinho do Fiorello, periferia da cidade.
Ação similar existe em São José do Ubá, onde outro Projeto Bate
Lata, deu origem ao Grupo de Percussão Cultura do Morro,
inicialmente um projeto do SESI, mas que hoje é desenvolvido pela
secretaria municipal de educação e cultura. Em Italva, a escola de
música Dó Ré Mi tem 25 anos. O carro-chefe é piano (erudito e
popular), e oferece atividades de musicalização, além de cursos
teóricos de harmonia funcional e tradicional. Existe, ainda, a
Escola de Música Cebi, há 4 anos em atividade, e uma terceira, a
Centro de Estudos Musicais.
Em Bom Jesus do Itabapoana, foi relatada a presença de corais e
de algumas outras iniciativas musicais, bem como a existência de
instituições de formação musical, como o Conservatório Levy de
Aquino Xavier, a Escola de Música Cristo Rei e a Escola de Música
Jemaji. No município de Santo Antônio de Pádua, algumas ações
buscam contribuir com a formação e aperfeiçoamento de seus
músicos. É o caso da Academia Arte Música de Santo Antônio de
Pádua, conveniada com a Academia Lorenzo Fernandez. Existe há
28 anos, e atende a cerca de 60 alunos. A cena musical local já
32
produz grupos que são reconhecidos por seus trabalhos. O SN 6 e o
TR 115 são dois exemplos. Produzem composições originais,
voltadas para o Pop Rock. Junior e Gustavo, Melhor de Três, são
grupos de Forró Universitário. Que Sacada, Grupo de Pagode,
Sambaré - o mais antigo, em atividade há cerca de 40 anos -, e o
Cacalo, de MPB, são outros grupos formados no município. O
comércio local, em parceria com o poder público, consegue
dinamizar um pouco a atividade musical local, mas não a ponto de
possibilitar oportunidades de profissionalização dos músicos locais.
Já a cena teatral do Noroeste, segundo relatado nos encontros,
enfrenta desafios relacionados à falta de tradição, ao contrário da
música regional, além da inexistência de uma política pública para
o setor. Apesar das dificuldades, algumas atividades pontuais
foram identificadas e apontam para possíveis ações de fomento
envolvendo poder público e sociedade civil, capazes de mudar esta
realidade.
Um bom exemplo vem de Itaocara. A Associação Itaocarense de
Artistas foi fundada em 1995. Neste período, realizou atividades
ligadas às artes cênicas, com oficinas de teatro, circo e dança. A
parceria desta associação com a secretaria municipal de cultura e
turismo foi fundamental para a reabertura do Teatro Municipal
Kiud, espaço referência no município, e que é hoje Ponto de
Cultura.
A história recente mostra que tais iniciativas necessitam da
atenção contínua e de incentivo para se tornarem bem sucedidas.
33
Em Aperibé, foi relatada experiência semelhante à de Itaocara, a
do Grupo de Incentivo Artístico e Cultural de Aperibé, que existiu
durante cinco anos na década de 80, período em que realizou
festivais de poesia e mantinha um grupo de teatro. Hoje, no
município, o grupo de Teatro e Dança Magno Artes, que iniciou
suas atividades no ano de 2009, se apresenta em eventos
organizados pela secretaria local.
Outra iniciativa na região é a do grupo de teatro Incena, que se
apresenta, eventualmente, nos auditórios locais, nas festas em
Bom Jesus do Itabapoana, e em outros municípios. Em Itaperuna,
existe a Companhia de Teatro de Itaperuna (CTI), dentre outros
grupos. Em Miracema, o grupo Reviver realiza oficinas de teatro
com pessoas da terceira idade. Os atores de Porciúncula buscam
trabalhar em três frentes: direcionam esforços para resultados de
cunho social, religioso e profissionalizante, mas são unânimes em
reclamar da falta de um espaço físico adequado, o que tem
limitado seu avanço.
Pouco se falou em Dança na região, mas mereceram menção duas
iniciativas aparentemente já consolidadas. Em Santo Antônio de
Pádua, a academia de dança Le Bec Fin foca suas atividades no
balé clássico e sapateado. Existe desde 1995, formando jovens da
cidade que prosseguem suas trajetórias profissionais, geralmente,
fora do município. Em Italva, a academia de dança local tem 20
anos, com aproximadamente 70 alunos. O potencial do segmento
no município levou a secretaria local a decidir usar parte dos
recursos do PADEC em cursos de Dança de Salão e Teatro. Já em
34
Miracema, o Grupo “S” de Cultura, associado ao centro social da
Igreja Católica, trabalha a dança. Finalmente, em São José de
Ubá, o grupo Passo de Arte desenvolve trabalhos com jovens,
pessoas da terceira idade e portadores de deficiência, ensaiando
no Centro Cultural local e realizando também atividades nas
escolas municipais.
Muito pouco se falou em relação a projetos e iniciativas ligadas ao
Audiovisual ou a Fotografia nos encontros municipais do Noroeste,
mas algumas ações pontuais mereceram destaque. É o caso da
fotografia em Bom Jesus do Itabapoana, que tem tradição de
registros documental e artístico. A Exposição Foto Real, por
exemplo, ocorre há 39 anos. Na Festa de Agosto, acontece há 17
anos a Exposição Fotográfica Ed Estúdio, com trabalhos de
profissionais locais. O município também realiza uma mostra de
Curtas-Metragens, já na segunda edição, reunindo trabalhos
produzidos na cidade e no Espírito Santo.
O Núcleo de Produção Cultural – NPC Brasil, de Santo Antônio de
Pádua é outro exemplo. O NPC trabalha com foco no cinema e no
teatro. O movimento tem suas origens ligadas ao audiovisual,
quando em 1986 foram produzidos os filmes “O Enfermeiro” e “Um
amor para Juliar”. Este é um marco na história do grupo, que se
constituiu legalmente em 2006 e busca, além da produção, atrair
patrocínios para seus projetos.
A Literatura foi citada com algum destaque nos encontros de Bom
Jesus do Itabapoana, Itaperuna, Porciúncula, Itaocara e Cambuci.
35
O Instituto de Letras e Artes e a Academia Bomjesuense de Letras,
por exemplo, são instituições criadas pelo conselho municipal de
cultura nas décadas de 70 e 80. Existe uma produção literária
local, cujos lançamentos anuais são feitos na Festa de Agosto.
Já a Academia Itaperunense de Letras existe desde 9 de setembro
de 1991, com quarenta membros, e, pelo menos 1/3 destes tem
livros publicados, normalmente custeados pelos próprios
escritores. Faltam mecanismos de apoio que possibilitem a
visibilidade destes escritores. A Poesia e o Cordel foram atividades
literárias citadas em Porciúncula, mas foi comentada a dificuldade
dos autores locais em publicar seus trabalhos. Luiz Delgado,
escritor local, foi mencionado como o único da cidade que
conseguiu, por iniciativa e recursos próprios, publicar três livros.
A Academia de Letras de Itaocara existe desde 1976, criada por
decreto. Publica há 21 anos o Boletim Acadêmico de Letras
Itaocarense (BALI) que é enviado para Associação Internacional de
Escritores e Artistas, atingindo 132 países e recebe o
reconhecimento como uma das melhores publicações do gênero.
No passado, recebia os escritos acadêmicos, realizava
conferências, lançamentos de livros, revistas e jornais, e palestras.
Igualmente importante, o trabalho realizado pela Academia de
Letras e Artes de Cambuci tem como missão resgatar e perpetuar a
tradição e a memória do município. São 32 membros efetivos, com
40 vagas. Realizam anualmente os Jogos Florais, quando se
apresentam poetas do Brasil inteiro e até de Portugal. O evento
36
ganhou maior visibilidade com o apoio da União Brasileira de
trovadores – UBT. O sustentáculo dos jogos e da academia é a
colaboração dos membros efetivos. Trata-se de uma iniciativa
privada, registrada, com estatuto e regimento interno, e que
conta, ainda, com subvenção da Prefeitura.
Algumas ações para incentivar Leitura também foram relatadas no
encontro em Italva. Há cerca de10 anos, a secretaria de educação
local desenvolve nas escolas um programa de leitura voltado para
a formação de público. Desde o ano passado, o Projeto Semana do
Livro, da secretaria de cultura, passou a colher resultados
concretos, como o aumento das visitas à biblioteca pública, que,
de 5 pessoas por dia, passou para mais de 50, entre estudantes e
adultos.
A maior parte dos escritores de Laje do Muriaé também não
consegue publicar seus trabalhos. Maria Beatriz Silva, conhecida
como Flor de Esperança, conseguiu divulgar seus trabalhos, via
internet, em outros países, como Portugal. Dilma de Athayde,
Marcelo Carreiro e Maria Antonieta, foram outros autores locais
que conseguiram publicar seus trabalhos.
Finalmente, um grande exemplo de cidadania e amor à cultura
vem de Cambuci. Dona Penha, idealizadora da biblioteca Momento
de Leitura, que começou na garagem de sua residência e hoje
avança pelos outros cômodos da casa. Atende crianças de
diferentes idades, normalmente após o horário escolar, ajudando
com atividades complementares e formando os leitores do futuro.
37
2) CONFIGURAÇÃO REGIONAL
INTRODUÇÃO
A divisão geopolítica administrativa observada pelo Governo do
Estado do Rio de Janeiro tem sido sistematicamente adaptada a
interesses e especificidades de algumas Secretarias de Estado, tais
como as de Educação, Turismo e Desenvolvimento Econômico, que
dividem, de formas distintas, as regiões do território fluminense.
No caso da Secretaria de Estado de Cultura, é possível notar a
existência de diferentes composições regionais, utilizadas por
algumas superintendências do órgão.
Durante as Visitas Técnicas, em 2009, a grande maioria dos
gestores públicos das oito regiões do estado do Rio de Janeiro
manifestou-se a favor da criação de um novo zoneamento, em que
as regiões seriam redefinidas de acordo com tradições, identidades
e laços culturais. Na ocasião, foram sugeridos alguns critérios para
orientar a configuração destas “Regiões ou Territórios Culturais”,
dentre os quais podemos destacar: fatos históricos e
características geográficas que influenciaram a ocupação
e formação territorial dessas regiões; elementos materiais e
imateriais essenciais a sua identidade cultural tradicional; e,
também, fenômenos mais recentes, como aqueles relacionados às
atividades econômicas voltadas para o desenvolvimento do
ambiente cultural municipal; o turismo, por exemplo.
38
SÍNTESE REGIONAL
A Região Noroeste compreende 13 municípios, conforme ilustra o
mapa abaixo.
A região tem parte da sua história associada à ocupação por parte
de grupos indígenas, cuja influência se faz notar nos próprios
nomes de alguns municípios da região, conforme salientado no
encontro de Aperibé. Além deste município, cujo vocábulo
significa Calmo e Tranquilo, outros, como Itaocara (Aldeia de
Pedra), Itaperuna (Pedra Bonita), Miracema (Pau que Brota) e
Italva (Pedra Branca), atestam os laços históricos que unem estas
39
localidades, antes mesmo de consolidada a presença do
colonizador.
A parte mais ao norte da região, que corresponde a cerca da
metade dos municípios da Noroeste, foi, no passado, território de
Itaperuna, e Bom Jesus de Itabapoana, Porciúncula, Laje do
Muriaé, Natividade e Varre-Sai eram distritos deste município. O
fato destes seis municípios estarem geografica e historicamente
próximos não determina, segundo a opinião da maioria dos
participantes, a possível subdivisão da Região Noroeste em duas
microrregiões. A exceção ficou por conta da opinião externada no
encontro em Varre-Sai, que apontou para a possibilidade da
subdivisão da região em dois polos distintos, um dos quais reuniria
os mesmos seis municípios acima citados. Em Aperibé, os presentes
afirmaram que a proximidade geográfica intensifica as relações
com Itaocara, Santo Antônio de Pádua e Cambuci. Salientaram
também que estes municípios encontram em suas respectivas
histórias outro elo importante: as datas próximas de fundação e o
envolvimento de religiosos no povoamento destas localidades.
Já Italva é o único município que tem sua história recente
asssociada à região Norte. Italva foi distrito de Campos dos
Goytacazes, mas na época da divisão da antiga região norte em
Norte e Noroeste o prefeito de Italva, Eliel Almeida Ribeiro, lutou
para que o município ficasse na Noroeste. Acreditava que nesta
região seu município teria mais condições de lutar em pé de
igualdade por oportunidades para seu desenvolvimento.
40
De acordo com a opinião da maioria, a não subdivisão da Noroeste
em Polos ou Microrregiões é em parte também decorrente da
inexistência de outro município, além de Itaperuna, que possa
exercer a função de centro em torno do qual os outros se
agregariam. A coesão da região, opinou Aracéli Rezende –
Secretário de Educação de Laje do Muriaé, se deve também pela
colonização a partir de Minas Gerais. A ocupação do território do
Noroeste Fluminense trouxe a herança cultural de homens e
mulheres vindos de Minas Gerais em busca de terras e
oportunidades de trabalho.É notória a influência mineira na
região, em sua gastronomia, até no modo de falar de seus
moradores, dentre outros aspectos relacionados à cultura local.
Apesar das dificuldades de comunicação e acesso notadas no
Noroeste Fluminense, a opinião predominante, após a realização
dos 13 encontros municipais, é a de que na região sobrevivem
elementos históricos e culturais suficientes para dar a ela a coesão
necessária à elaboração e execução de ações conjuntas no âmbito
da política.
41
3) INTEGRAÇÃO CULTURAL
INTRODUÇÃO
A elaboração de uma política de cultura que leve em conta
elementos regionais tem como objetivo dinamizar a cultura,
através de ações intermunicipais que potencializem as
singularidades e vocações das diversas regiões do estado do Rio de
Janeiro. Estas ações integradas já ocorrem de maneira pontual,
principalmente por iniciativas de agentes culturais atuantes em
alguns segmentos da cultura. O envolvimento dos gestores públicos
é considerado fundamental para que se possa implantar políticas
integradas de médio e longo prazos, com objetivos definidos e
sujeitas a avaliações periódicas.
SÍNTESE REGIONAL
A história recente não registra articulação alguma que tenha
reunido todos (ou parte significativa) dos gestores públicos na área
da cultura, em torno da construção de uma agenda comum de
trabalho no Noroeste Fluminense. Em alguns encontros foram
relatadas ações pontuais e isoladas, mas longe de se assemelharem
ao movimento existente em outras regiões do estado, onde fóruns
e consórcios estão sendo criados. Em Italva, apenas para citar um
exemplo, foi relatada a existência de uma articulação informal
com os gestores de Bom Jesus de Itabapoana, Porciúncula, Aperibé
e Cardoso Moreira, este último parte da região Norte. Outro
exemplo relatado foi em Miracema. Além dos laços
42
históricos(Miracema foi distrito de Santo Antônio de Pádua), as
atuais gestões dos dois municípios compartilham uma similaridade
na área da cultura: ambas possuem um departamento de cultura
em uma Secretaria de Educação e Cultura. Esta afinidade tem
possibilitado uma cooperação pontual entre ambas as
administrações, mas sem a formalização que sacramente esta
parceria em torno de projeto comuns e a médio ou longo prazo.
A Região Noroeste é reconhecida no estado como a menos
desenvolvida economicamente. Faz parte, inclusive, do programa
Territórios da Cidadania, do Governo Federal, que investe nas
áreas de baixo IDH com programas estruturantes em diversas
áreas, cultura e educação, inclusive. A necessidade de obras de
infraestrutura é percebida, por exemplo, pela falta de uma boa
malha rodoviária, apontada nos encontros como relevante para a
discussão da integração na região. Esta questão fica clara se
analisamos as vias expressas que ligam os municípios da região.
Proximidade territorial não determina acessibilidade, uma vez que
municípios vizinhos nem sempre são interligados por estradas de
rodagem pavimentadas.
Neste cenário, apesar dos laços culturais comuns, são difíceis
ações concretas conjuntas, uma vez que gestores públicos
enfrentam obstáculos, cujas soluções não são de curto e médio
prazos. Durante os encontros municipais, a maioria dos gestores
públicos afirmou que a grande extensão territorial e as
dificuldades de acesso e comunicação entre os municípios estão
43
entre as razões que impedem a definição de um programa efetivo
de cooperação conjunta.
Uma iniciativa que já acontece há cerca de 10 anos tem aberto,
gradativamene, espaço para a cultura. É a da Feira Merco
Noroeste, citada na maioria dos encontros como a única ação que
lida com a questão da integração na região. Hoje, segundo
afirmaram em Aperibé, a Merco Noroeste é um evento que reúne
os municípios em torno de suas potencialidades econômicas e
vocações e identidades culturais. Na feira existe um espaço
reservado para a cultura regional, a Tenda da Cultura. O evento,
criado para ser itinerante, mas cujas primeiras 11 edições foram
em Itaperuna, aconteceu pela primeira vez em Santo Antônio de
Pádua, em 2010. Segundo levantado durante os encontros
municipais, este ano estiveram presentes atrações típicas da
cultura de Santo Antônio de Pádua, Miracema, Itaocara, Bom Jesus
de Itabapoana, Itaperuna, São José de Ubá, Porciúncula,
Natividade, Varre-Sai, Italva e Aperibé.
A questão da integração intra-municipal foi mais uma vez debatida
e, como nas outras regiões, considerada um grande desafio à
implementação efetiva de uma política cultural abrangente. No
encontro de Porciúncula a questão apontou para alguns entraves
que ajudam a entender o distanciamento com os outros distritos
que não a sede. Faltam recursos financeiros e humanos; e
instrumentos de divulgação, como jornais que circulem em todo o
município, e até um sinal de rádio com este alcance. A recém-
44
asfaltada estrada em Porciúncula promete dias melhores,
facilitando o acesso da Sede aos distritos mais distantes.
A falta de acesso rodoviário afeta vários municípios na região,
isolando alguns distritos. Cambuci, por exemplo, tem grande
extensão territorial, mas sofre problemas de acesso, face à
inexistência de estradas. Monte Verde, que já foi sede do
município, hoje é praticamente inacessível, afirmaram no
encontro. Outro exemplo da gravidade do problema vem de São
José do Ubá, onde falta um sistema de transporte público. Em
Varre-Sai, onde cerca da metade da população vive na zona rural,
inexistem ações que visem integrar este contigente às ações
culturais, que ficam concentradas na sede do município.
Os problemas de acessibilidade e recursos para ações mais
abrangentes são cuidadas com algumas poucas ações pontuais,
meros paliativos. Os presentes ao encontro em Bom Jesus do
Itabapoana também reconhecem a ausencia de ações nos distritos.
Esclarecem que faltam recursos financeiros para implementar
ações em todas as localidades. Como em Rosal, cuja escola de
música para choro e sanfona só está sendo viabilizado porque
ganhou o edital do Ponto de Cultura. Uma ação que visa lidar com
a questão vem de São José de Ubá: a Comunitária Cultural e de
Comunicação, que existe desde 2002, realiza eventos culturais
itinerantes, inclusive na zona rural, sendo o projeto voltado para o
resgate histórico cultural. Já em Itaperuna os artistas locais
buscam integrar os agentes culturais do município através do
45
CULTURITA – Movimento de Integração de Artistas de Itaperuna,
que funciona há cinco anos.
Em Miracema, as oportunidades de ensino na escola de música
estão chegando aos outros distritos, graças ao uso do transporte
escolar. Em Natividade, a primeira edição do Caipirão, concurso de
quadrilhas reunindo grupos dos três distritos, Sede, Ourânia e Bom
Jesus do Querendo, foi um sucesso e deve ser reeditado. Em Santo
Antônio de Pádua, as ações culturais ficam também muito
concentradas na sede. Ressaltou-se, entretanto, que todos os
distritos têm suas respectivas festas, como a Festa do Cavalo
(Santa Cruz), a Festa da Mandioca (Boa Nova) e a Festa do Tomate
(Monte Alegre). Afirmou-se que quem dinamiza as atividades
culturais nos distritos é a escola.
Um alerta recorrente na Noreste foi o da falta de um espaço para a
discussão das questões regionais relacionadas à cultura. Em Italva
foi lembrado que a gestora local é representante da região no
fórum organizado pelo Comcultura, e que iniciativas como estas
podem dinamizar esta articulação, de âmbito regional.
Finalmente, tanto os gestores públicos como os agentes culturais
expressaram o desejo de que no futuro próximo mecanismos
mecanismos de integração que possibilitem a discussão,
elaboração e execução de uma agenda comum para a cultura de
toda a Região Noroeste Fluminense.
46
4) GESTÃO E INSTITUCIONALIDADE
INTRODUÇÃO
A efetividade da gestão municipal para a cultura foi considerada
fator estratégico para o desenvolvimento da cultura nos municípios
e no estado do Rio de Janeiro. Ainda que a potência da cultura
esteja, principalmente, na sociedade, onde se faz a cultura, o
poder público tem papel importante no desenvolvimento cultural.
A estruturação dos sistemas nacional e estadual de cultura tem
exigido que os municípios também busquem formas de fortalecer
institucionalmente suas respectivas gestões no âmbito da cultura.
Administrações eficientes, garantias de participação da sociedade
civil, além de recursos públicos que possibilitem a implementação
de programas a médio e longo prazos, estão entre os principais
desafios hoje enfrentados pelos gestores municipais.
SÍNTESE REGIONAL
Os avanços relacionados à gestão e à institucionalidade no
Noroeste se mostraram mais tímidos e cercados de dificuldades do
que nas outras regiões do estado. Em Aperibé, Santo Antônio de
Pádua e São José do Ubá as Secretarias combinam Educação e
Cultura. Em Pádua, buscam integrar as ações da cultura voltadas
para o seu público-alvo, os alunos da rede municipal de ensino. Em
Ubá, os eventos dominam a política cultural no município. Já em
Aperibé houve uma secretaria exclusiva para a Cultura, durante
47
2009, mas o avanço não resisitiu à necessária contenção de
despesas e aos cortes no orçamento da Prefeitura. A formulação
de política pública hoje fica a cargo do Departamento de Cultura e
da Casa de Cultura. Os recursos, entretanto, dependem da
disponibilidade de caixa da secretaria de educação. Na Casa de
Cultura de Aperibé, cerca da metade dos funcionários é de
comissionados. Situação semelhante ocorre em Laje do Muriaé.
Apesar do inegável avanço, com a recente criação da Secretaria
Municipal de Cultura, no final do ano de 2009, o órgão ainda não
tem dotação orçamentária e todos os funcionários são
comissionados.
Em Bom Jesus do Itabapoana tem uma Secretaria de Indústria,
Comércio, Turismo e Cultura. Nesta composição o Turismo cuida
mais de eventos, com espaços para a promoção da cultura local. O
problema é que as bases da ação do Poder Público acabam sendo o
evento, que consome a maior parte dos recursos da cultura. O
fomento e outras ações de longo prazo ficam comprometidos.
Para se minimizar este problema, buscam parcerias com outras
secretarias, como Promoção Social e Educação.
Em Cambuci, agentes culturais e servidores públicos pleiteam a
criação de uma secretaria exclusiva para a cultura, mas insistem
que este avanço seja acompanhado de comprometimento da parte
do executivo e dos devidos recursos humanos e financeiros. Apesar
de momentos de valorização da cultura nas gestões passadas, a
estrutura que também combina Educação e Cultura no município
foi incapaz de consolidar um política de cultura para Cambuci. A
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situação hoje é ainda preocupante. O gestor atual afirma que está
há pouco tempo no cargo. A estrutura, segundo sua avaliação, é
frágil, e a própria coordenadoria de cultura não existe,
oficialmente. Ou seja, a secretaria local é de Educação e Cultura,
mas a cultura não está contemplada na própria estrutura
administrativa do órgão, com cargos, funcionários e espaço físico
necessários ao seu bom funcionamento. A inadimplência do
município agrava a situação, pois limita o acesso aos recursos
existentes nas esferas estadual e federal.
Em Italva, a Secretaria é de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer foi
criada em março de 2009. Teve dotação orçamentária para 2010
de aproximadamente 2%, que foram destinados quase que em sua
totalidade para a Festa Agropecuária. O orçamento, de fato, em
2010 foi menor que em 2009, apesar do avanço institucional. Na
Conferência Municipal de Cultura foram pedidos 10% do orçamento
municipal para a cultura, mas trabalha-se com a possibilidade de
5% para 2011. Outro avanço que por enquanto está no papel é o
Fundo Municipal de Cultura, já aprovado. Ainda existem entraves
burocráticos e administrativos internos para efetivar, de maneira
concreta, o fundo. Falta cumprir as exigências legais, como um
gestor qualificado para a gestão e administração contábil do
fundo.
Apesar dos desafios, em Italva há um sentimento de que foram
conquistados alguns avanços importantes. Na estrutura anterior, a
Cultura estava com a Educação e contava com mais recursos
financeiros do que na atual. Mas no passado não havia equipe
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suficiente para as atividades culturais. A equipe, hoje, apesar de
menor do que na divisão cultural da secretaria de educação, está
totalmente focada nas atividades da cultura.
Em Itaocara, a Secretaria de Cultura e Turismo existe há um ano.
Antes, fazia parte da Educação e Cultura. Era departamento de
Cultura e Turismo, ligado à Educação, até o ano passado. Como em
Italva e em tantos outros municípios, o orçamento local é
destinado a eventos, como o Fogueirão e Carnaval, que consomem
95 % da verba de R$ 600 mil anuais. Entende-se, entretanto, que a
atual gestão municipal valoriza a cultura, e que a realização dos
projetos pela secretaria tem sido passível de realização mediante
o pedido de verbas. A gestão hoje, por exemplo, tem a
possibilidade de gerir os espaços culturais, o que não acontecia no
passado.
O Departamento de Cultura em Miracema foi criado em julho de
2009. Faz parte da estrutura da Secretaria de Educação, Cultura,
Esporte e Lazer. A criação do departamento representou, segundo
os gestores locais, maior autonomia, mas sem aumento na dotação
orçamentária.
A verba da educação é crucial para os eventos culturais. Criar a
secretaria de cultura sem a verba seria enfraquecer a ação pública
no setor, alertam os gestores. A Educação, por exemplo, hoje
financia a escola de música, que é gratuita e atende cerca de 300
alunos, além do concurso literário das escolas municipais, a tenda
50
da leitura, as exposições do centro cultural, os lançamentos de
livros e a Primavera de Museus.
Natividade tem uma Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. O
PPA do ano passado reservou, R$80 mil para a coordenadoria da
cultura,o que, segundo a gestora local, significa um avanço, já que
marca o primeiro ano em que há uma destinação específica para a
coordenadoria de cultura. No município não existe um conselho,
nem plano, nem fundo municipal de cultura, ações tidas como
fundamentais para consolidar os avanços desejados, tanto por
agentes da sociedade civil, como pelos gestores públicos locais.
Porciúncula, que desde 1993 tem uma Secretaria Municipal de
Cultura, construiu uma estrutura que inclui Biblioteca, Jornal,
Centro de Inclusão Digital, a Casa do Artesão, o Ponto de Cultura –
Movimento Cultural Artístico raízes da Terra – MONCART e o Cine
Clube, que pertence oficialmente à associação de artesãos, e o
Centro de Memória. A estrutura acaba norteando o trabalho,
apesar da inexistência de um Plano Municipal de Cultura, segundo
a opinião dos gestores locais. Na Conferência Municipal, realizada
ano passado, foi elaborado um plano de ação, mas falta um plano
de execução e recursos. Os cargos comissionados são minoria na
estrutura: 20 funcionários, sendo 15 estatutários.
Na maioria dos municípios visitados no Noroeste não existe a
cultura de se buscar o legislativo para os avanços institucionais
desejados. A implementação de programas de médio e longo
prazos fica praticamente inviabilizada, pois não existem garantias
51
legais de continuidade. Finalmente, uma curiosidade apontou para
a existência de conselhos municipais de cultura há cerca de 40
anos. Estes Conselhos Municipais de Cultura foram constituídos
durante a década de 70, em pleno Regime Militar. Como os casos
de Bom Jesus do Itabapaoana e Santo Antônio de Pádua, criados
em 1970, e o de Miracema, de 1971, que hoje, após
reformulações, é paritário.
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5) CAPACITAÇÃO DE GESTORES PÚBLICOS E PRIVADOS
INTRODUÇÃO
A necessidade de capacitação para os profissionais da área da
cultura talvez seja a reivindicação mais antiga e frequente dos
próprios gestores públicos e privados da área. Apesar da
existência, hoje, de alguns cursos de formação, e de uma série de
iniciativas que buscam proporcionar oportunidades de formação
em gestão, ainda é evidente o pouco preparo dos gestores da área
cultural para enfrentar os desafios cada vez maiores da área.
Por conta do processo deflagrado recentemente, por iniciativa do
MinC e da SEC, para a construção dos sistemas nacional e estadual
de cultura, os gestores púbicos, especialmente os da esfera
municipal, buscam agora alinhar-se ao novo processo de
construção e gestão de políticas públicas. Dentre as novas tarefas,
os gestores públicos devem melhorar a gestão dos órgãos
municipais de cultura, elaborar os planos municipais de cultura,
construir sistemas municipais de cultura, criar leis municipais de
incentivo à cultura, conselhos municipais e fundos de
financiamento.
Já os agentes culturais da sociedade civil procuraram cursos e
formação em elaboração e gestão de projetos, gestão de espaços
culturais, além de manterem-se atualizados em relação aos editais
públicos e privados e às inúmeras regulamentações das leis de
incentivo fiscal.
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SÍNTESE REGIONAL
Os Encontros Municipais de Cultura do Noroeste reafirmaram a
necessidade urgente de qualificação e capacitação dos gestores
públicos e privados que trabalham com cultura.
Ficou evidente nos debates que faltam profissionais capacitados
principalmente para a elaboração e o gerenciamento de projetos.
A gestão dos poucos espaços públicos também carece de mão-de-
obra especializada, tanto para a administração como para os
serviços técnicos, como operadores de som e luz.
O cenário evolui com muita dificuldade. Os avanços institucionais
dos órgãos públicos esbarram na falta de equipe qualificada para
conduzir processos de certa complexidade jurídica. A criação de
legislação própria para a cultura é um exemplo. Raros são os casos
de avanços neste sentido, em parte pela falta de conhecimento do
gestor e de sua equipe. Quando se consegue sensibilizar o
executivo e o legislativo locais, como no caso de Italva, que criou
seu Fundo Municipal de Cultura, esbarra-se na falta de mão-de-
obra qualificada para gerir o fundo. A ausência de profissional
como exige a legislação fez com que este avanço ficasse, até o
momento, apenas no papel.
O fato do grande articulador e produtor cultural do Noroeste ser o
Poder Público, sendo poucos os espaços privados, e quase
inexistente a figura do produtor cultural, torna ainda mais urgente
a qualificação deste gestor público. As iniciativas e ações culturais
54
existentes na sociedade civil carecem de orientação para acessar
os diversos mecanismos de fomento disponíveis nas esferas
estadual e federal. Os órgãos públicos e seus gestores, que
poderiam desempenhar o papel de multiplicadores das informações
sobre os diversos editais, por exemplo, não estão preparados para
tal, condenando as ações e projetos da região à disputa dos parcos
recursos municipais. Não existem grandes empresas na região que
invistam em cultura e estes agentes enfrentam os processos de
seleção dos editais públicos e privados com reduzidas chances de
serem contemplados.
Os Pontos de Cultura da região foram enfáticos em relatar que o
apoio de consultorias, como o do Escritório de Apoio à Produção
Cultural da SEC, foram fundamentais para que eles fossem
selecionados. O mesmo foi relatado pelos gestores públicos, que
esclareceram que a consultoria montada pela própria SEC para o
PADEC foi importante para que os municípios que buscaram a
inscrição pudessem apresentar seus projetos com o nível exigido.
Finalmente, ficou claro, com os depoimentos colhidos, que a
região também sofre com a falta de oportunidades de capacitação.
Não existe um centro universitário que ofereça cursos na área. A
dificuldade é a mesma em relação a cursos de nível técnico nas
áreas de elaboração e gestão cultural. Em Italva, dois funcionários
da equipe da secretaria fazem o curso do Comcultura. Nas outras
cidades, a reclamação da inexistência de ações que possam
responder aos desafios que se apresentam foi unânime. Ações
pontuais realizadas pelo SESC, que ofereceu cursos em Miracema e
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em outros municípios são raras e nunca se dirigiriam à gestão
cultural e, sim, ao aperfeiçoamento de outras áreas da cultura.
O quadro de carência é grande. As equipes que hoje estão à
frente da gestão pública da cultura no Noroeste são compostas, na
sua esmagadora maioria, de profissionais sem formação na área de
gestão cultural.
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6) EQUIPAMENTOS CULTURAIS
INTRODUÇÃO
A falta de infraestrutura adequada para a cultura é um problema
nacional. Os dados e números relatados nos censos, do IBGE e do
MINC não deixam margem a dúvidas.
Como era de se esperar, no estado do Rio de Janeiro o quadro,
apesar de não tão precário quanto em outros estados, está bem
longe do ideal. É um déficit histórico, que impõe grandes desafios
à formulação e execução de uma política de cultura que pretende
ser ampla na oferta e no acesso, com programas de fomento e
produção de bens culturais para beneficiar todas as regiões do
estado.
A inadequação da infraestrutura para a cultura no estado Rio de
Janeiro é sentida, inclusive, por projetos da Secretaria de Estado
de Cultura, como o Cinema Para Todos e o Circuito das Artes, que
deixam de atender à grande maioria das cidades fluminenses por
falta de salas de cinema e teatros.
SÍNTESE REGIONAL
O cenário na Região Noroeste, no que se refere a sua
infraestrutura para a cultura, é, de longe, a mais precária em todo
o estado do Rio de Janeiro. São poucos os espaços pertencentes ao
Poder Público e igualmente raros os particulares.
57
Neste cenário de carências, Santo Antônio de Pádua pode ser
considerado uma exceção. A cidade tem um Teatro Municipal com
130 lugares, tido como o principal espaço cultural do município e
um dos melhores da região. Relatou-se que a ociosidade é baixa,
sendo o espaço ocupado tanto por trabalhos de artistas locais
como de fora. Os custos operacionais são pagos pela Prefeitura e o
teatro é cedido gratuitamente e com liberação para a cobrança de
ingressos, oferecendo condições acessíveis às produções locais.
Em Itaocara existe um espaço cultural de menor porte, mas em
boas condições: o Teatro Municipal Kiud, uma referência no
município. O teatro foi municipalizado após um tempo fechado,
depois do falecimento prematuro de Kiud, ator e líder cultural que
estava à frente das atividades do teatro. OS gestores locais lidam
com as limitações de espaços adicionais realizando três exposições
anuais com o projeto Calçada das Artes, que utiliza estrutura
metálicas para expor reproduções ao ar livre.
Em Aperibé, a Casa de Cultura, pequeno espaço de 44 metros
quadrados, é “palco pra toda obra”. Lá são realizadas exposições,
saraus, lançamento de livros, e encontros de contadores de
história. Está localizado na antiga estação, mas gestores públicos e
artistas locais entendem que é necessário um espaço maior e mais
adequado para acolher as atividades culturais.
Ao lado da Casa de Cultura existe uma Tenda Cultural, na Praça
Francisco Blanc. É um espaço similar às Lonas Culturais. Não conta,
entretanto, com estrutura de som e luz, mas lá acontecem shows
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de cantores locais, festas folclóricas e modas de viola. A tenda
recebeu o apoio dos comerciantes das redondezas, interessados em
movimentar o ambiente próximo às suas lojas. O fechamento de
parte da rua enfraqueceu o comércio local, o que acabou
repercutindo no apoio aos eventos culturais. Faltaria um espaço na
cidade para o fomento de grupos artísticos. O novo Centro de
Convenções tem um pequeno palco que pode receber alguns tipos
de espetáculos, como música e teatro, mas com restrições (não
tem urdimento, camarins, e coxia).
Nos outros municípios a situação é pior. Em Bom Jesus do
Itabapoana apenas uma sala de cinema, o Cine Mais, encontra-se
em atividade. O município não tem teatro e existem apenas dois
auditórios em escolas – estadual e federal. Na Usina Santa Maria
existe um teatro desativado, chamado de Conchita de Moraes. Em
Cambuci falta um espaço cultural, mas não basta a construção de
um equipamento. Segundo os presentes há necessidade de recursos
para movimentar a programação, além de equipe capacitada para
o bom funcionamento do mesmo.
Enquanto isso, a sociedade civil busca soluções que amenizem o
problema. Na mesma Cambuci, a Biblioteca Comunitária,
Momentos de Leitura, cujo patrono, Sebastião Baptista Maia, é um
bom exemplo. A iniciativa teve como motivação a formação de
leitores, atendendo crianças que estavam se alfabetizando. Lá,
crianças pequenas de 2 a 4 anos usufruem da contação de história,
realizam trabalhos, como pesquisas, e muitos adultos vão ler
59
livros. A biblioteca, que começou na garagem, hoje toma vários
cômodos da casa da Dona Penha, que virou referência na cidade.
Em Italva, apesar do empenho da gestão atual e dos avanços, o
município continua sofrendo pela falta de espaços culturais. Não
existem equipamentos. Recuperou-se a posse de um prédio da
estação ferroviária para se fazer ali um Centro de Memória. Os
principais espaços culturais são a Praça da Matriz, o Pedra Branca
Social Clube e a Emater. Um prédio histórico estaria sendo alugado
para a formação de um centro cultural e um antigo cinema
também comporia os planos de revitalização do município.
Caso emblemático é o de Itaperuna. Apesar da importância
histórica, cultural e econômica deste município para a Região
Noroeste, Itaperuna não tem um espaço público adequado e em
boas condições para desenvolver atividades culturais. O Teatro
SESI é seu único espaço cultural. A instituição, entretanto, tem
limitações orçamentárias, que fazem com que o espaço
eventualmente fique ocioso. Presente ao encontro municipal, a
gestora do teatro do SESI sinalizou com possíveis ações em parceria
com os municípios e com o estado, que poderiam potencializar o
uso do espaço.
Tanto em Laje do Muriaé quanto em Miracema, a falta de espaços
culturais tem levado a cultura para as praças, que funcionam como
o grande equipamento cultural destes municípios. A necessidade
de se alugar equipamentos de som e luz, a impossibilidade de se
cobrar ingressos e a incerteza em relação às condições
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metereológicas, entretanto, limitam o desenvolvimento de
trabalhos de artistas locais. Apenas os grandes eventos, bancados
por patrocinadores e com a presença de artistas de grande
visibilidade, ou as festas bancadas pelo Poder Público acabam
sendo viabilizadas, o que inibe o desenvolvimento da cena cultural
local, com pouco ou nenhum acesso do artista local ao calendário
cultural do município. Apesar das dificuldades descritas, em
Miracema, na Praça do Alto do Cruzeiro, todos os fins de semana
acontecem atividades culturais, por conta da iniciativa da
sociedade civil.
Em Porciúncula e Natividade também não existem espaços
culturais construídos com as condições mínimas de estrutura e
equipamentos para apresentações de teatro, dança, música ou
cinema. O Anfiteatro do Colégio Municipal Alvorada, em
Natividade, é o único espaço, não existindo, segundo relatado no
encontro, legislação que proíba a cobrança de ingressos. Sonha-se
com dias melhores, com a construção, já em andamento, de uma
mini concha acústica. Já em Porciúncula a boa notícia é que a
cidade foi contemplada no edital do MinC para a criação do
Cineclube no antigo cinema da cidade, o Cine Metrópolis. O
município também concorre ao Cine Mais Cultura.
Em São José de Ubá os recursos do PADEC serão utilizados na
construção de um espaço cultural, direcionado para atividades de
formação artístico-cultural. O espaço cultural da cidade é o Centro
Cultural, mas suas instalações estão longe de atender às condições
mínimas para o desenvolvimento de atividades culturais de
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formação e para a realização de apresentações artísticas de
qualquer natureza. O município também foi contemplado no Cine
Mais Cultura. Já em Varre-Sai existe um centro cultural, uma sala
de exposições e um centro de memória, mas o único espaço
público é o coreto municipal.
A falta de equipamentos impõe uma série de obstáculos ao
desenvolvimento cultural da região. Falta espaço para a formação
artística e para o desenvolvimento de grupos locais, das mais
diversas linguagens e segmentos. Também ficam os municípios da
região com acesso limitado a uma série de iniciativas já em curso,
promovidas tanto pela esfera estadual como federal, pelo simples
fato de não terem espaços para receber grupos e artistas que
participam de projetos no interior do estado.