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Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de Querência RELATÓRIO FINAL Denyse Mello Consultora/Contrato IPAM 78/2015 NOVEMBRO 2016

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Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado

No Município de Querência

RELATÓRIO FINAL

Denyse Mello

Consultora/Contrato IPAM 78/2015

NOVEMBRO 2016

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[email protected] - 2

Instituições e Supervisão da Pesquisa:

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM

Cecília Simões

Marcelo Stabile Andrea Azeevedo Thais Bannwart

Instituto Socioambiental - ISA

Heber Queiroz Galvão

Rodrigo Junqueira

Equipe de Trabalho:

Denyse Mello

Consultora e Coordenadora Responsável

Luciana Marcolino

Técnica Assistente

Equipe de Colaboração:

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Carlos Toniazzo Cecília Simões

Instituto Socioambiental – ISA:

Valter Hiron da Silva Junior Júnior Micolino

Heber Queiroz Galvão

Secretaria Municipal de Agricultura de Querência: Eleandro Mariani Ribeiro

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[email protected] - 3

Márcio Almeida Ivanete Delphin

Erivaldo

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[email protected] - 4

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

METODOLOGIA 9

I - Caracterização dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar de Acordo com o Diagnóstico 11

1. 12

2. 22

2.1 - Características Gerais do Grupos entrevistados 20

2.2 28

3. 34

4. 37

II - Viabilidade Econômica, Social, Produtiva e Ambiental das Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar 43

Apresentação 44

1. 48

1.1 48

1.2 50

2. 58

3. 64

4. 67

5. 72

2. 74

2.1 75

2.2 78

2.3 85

a) 85

b) 88

2.4 93

3. 99

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[email protected] - 5

3.1 99

3.2 99

3.3 101

a) 101

b) 104

3.4 104

a) 105

b) 106

c) 107

d) 108

e) 110

f) 113

4. 115

4.1 115

4.2 117

4.3 118

a) 118

b) 119

4.4 121

a) 121

b) 122

c) 124

4.5 126

III –Sugestões alternativas para as atividades que não possuem viabilidade econômica, social e/ou ambiental. 124

BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS 127

ANEXOS 130

1 – Relato das Oficinas do Contexto dos Assentamentos da Caracterização do PA Brasil Novo 130

2 – Caracterização do PA Coutinho União 133

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3 – Caracterização do PA São Manoel 137

4 – Caracterização do PA Pingo D’água 139

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TABELAS

Tabela 1 – Informações Gerais dos Assentamentos Obtidos no Diagnóstico Rápido Participativo. 16

Tabela 2- Distribuição dos Entrevistados por Grupos Produtivos 19

Tabela 3 - Informações Básicas dos Entrevistados por Grupo Produtivo 27

Tabela 4 - Resultado da Renda Bruta Referente Ano de 2015 por Atividade Produtivo por Grupos de Produtores 27

Tabela 5 - Síntese da Renda Bruta Agrícola e Renda Bruta Não-agrícola por Grupos de Produtores. 28

Tabela 6 - produtos comprados para merenda escolar SSE Querência 2015 37

Tabela 7 - Produto comprado de agricultores locais para merenda escolar 2015 Erro! Indicador

não definido.

Tabela 8 - Demanda Real dos produtos frutas e hortaliças da merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015 38

Tabela 9 - Demanda Real de produtos de lavoura branca e proteína animal para a merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015 39

Tabela 10- Cadeia Agroindustrial da Borracha Natural Erro! Indicador não definido.

Tabela 11 - Participação Percentual dos Itens Componentes do Custo de Produção para a Cultura da Seringueira, Sistema de Produção D4, Produção de 2.800kg de Coágulo, Hectare 68

Tabela 12- Análise da Rentabilidade para Diferentes Valores de Preços Recebidos. 68

Tabela 13- Municípios Representativos em Produção de Peixe do Estado de Mato Grosso. 78

Tabela 14 - Comparação da proporção na renda bruta (RB), das origens agrícola e não-agrícola nos PAs, no município de Querência/MT. 84

Tabela 15- Valor de Produção Bruto Total de Peixes Vendidos em 2015 pelos Entrevistados. Erro! Indicador não definido.

Tabela 16- Custo de produção por quilograma de peixe redondo produzido (R$/kg). 92

Tabela 17 - Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE) das regiões na produção de peixes redondos (R$). 93

Tabela 18 - Preço médio pago por kg de peixe por região: comparação em ter peixes redondos, bagres de couro e brycon. 94

Tabela 19 - Produção Bruta de Leite e Valor Bruto da Produção de Leite por Assentamento (2015) Erro! Indicador não definido.

Tabela 20 - Produção e produtividade dos produtores entrevistados dos assentamentos. 105

Tabela 21 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Leite 106

Tabela 22- Valor Bruto de Produção e Valor Agregado Bruto da Produção de Leite (2015) Erro!

Indicador não definido.

Tabela 23 - Produção e Valor Bruto da Produção de Palmito de Pupunha nos Assentamentos em 2015. Erro! Indicador não definido.

Tabela 24 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Palmito da Pupunha 120

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FIGURAS

Figura 1- Número de lotes por Assentamentos no Município de Querência. 12

Figura 2 - Quantidade de Documentos Homologados por Assentamento. 12

Figura 3 - Relação do Número de Lotes com Número de Moradores 13

Figura 4 - Relação do Número de Famílias Pioneiras nos Assentamentos 14

Figura 5 - Relação de Assentados com Rendas Não-agrícola por Assentamentos 14

Figura 6 - Relação de Aposentados por Assentamentos 15

Figura 7 - Classificação dos Produtores segundo Renda Bruta por tipo de Produção. 18

Figura 8 - Origem dos Produtores Entrevistados. 19

Figura 9 - Área Média da Propriedade dos Produtores Entrevistado por Grupo (ha) 20

Figura 10 - Tipo de Financiamentos Recebidos pelos Produtores Entrevistados 20

Figura 11 – Forma de Uso da Terra por Grupo Produtivo Erro! Indicador não definido.

Figura 12 - Rendas Agrícolas e Não-agrícolas por Grupo Produtivo 22

Figura 13 - Fornecedores dos Produtos Comprados para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. 35

Figura 14 - Categoria de Produtos para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. 35

Figura 15- Proporção de famílias pioneiras/residentes nos Assentamentos. 53

Figura 16 - Proporção de famílias prestadoras de serviço fora da Propriedade. 54

Figura 17 - Variação do preço de mercado do coagulo 2014/2015 – Gaúcha do Norte/MT. 55

Figura 18 - Variação do preço de mercado do coagulo 2013/2015 – Guarapari/ES. 55

Figura 19 -Tipificação dos grupos de produtores nos PAs, em Querência/MT. 58

Figura 20 - Composição da renda bruta (RB) dos produtores nos PAs, em Querência/MT. Erro!

Indicador não definido.

Figura 21- Composição das áreas de plantio dos seringais, em fazendas, no município de Querência/MT (2015). 60

Figura 22 - Distribuição das áreas de plantio dos seringais, no município de Querência/MT em hectare (2015). 60

Figura 23 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da borracha nos PAs, no Município de Querência em 2015. 63

Figura 24 – Fluxo da Cadeia Agroindustrial da borracha natural. Erro! Indicador não definido.

Figura 25- Evolução da aquicultura no Brasil. Erro! Indicador não definido.

Figura 26 - Comparativo entre a produção extrativa e aquicultura de pescado brasileira. 76

Figura 27 - Organizações Participantes da Pesquisa do IMEA/MT. Erro! Indicador não definido.

Figura 28 - Motivação para Desenvolver piscicultura no Estado do Mato Grosso. Erro!

Indicador não definido.

Figura 29 - Atividade agropecuária que era exercida pelos entrevistados antes de iniciar o empreendimento piscícola em Mato Grosso. 80

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Figura 30 -Atividade agropecuária exercida em paralelo à piscicultura pelos entrevistados pelo IMEA em Mato Grosso. 81

Figura 31 - Tipificação dos grupos de produtores nos PAs, em Querência/MT. 83

Figura 33 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da Piscicultura nos PAS do Município de Querência/MT em 2015. 86

Figura 34 - Capital Investido na produção de leite no Estado de Mato Grosso 2010/2011. 100

Figura 35- Participação na Composição Total do Rebanho por Categoria nos Assentamentos. 103

Figura 36 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência (2015). 108

Figura 37 - Área de Cultivo da Pupunha no Município de Querência/MT. Erro! Indicador não

definido.

Figura 38 - Área de Cultivo da Pupunha por Assentamento do Município de Querência/MT. Erro! Indicador não definido.

Figura 39 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de

Querência (2015). 122

QUADROS

Quadro 1- Principais Dificuldades Relacionadas à Produção nos Assentamentos 17

Quadro 2 - Principais Problemas Levantados pelos Entrevistados Erro! Indicador não definido.

Quadro 3- Indicadores da Atividade Produtiva do Látex 52

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INTRODUÇÃO

Este documento é produto do trabalho de consultoria para o Instituto de Pesquisa

Ambiental da Amazônia – IPAM (Contrato No 78/2015). O objetivo da consultoria foi realizar um

diagnóstico da produção familiar e as opções de mercado para a produção no município de

Querência-MT. O Diagnóstico consistiu em a) Classificar os grupos de produtores dos cincos

Projetos de Assentamento (PAs) do município: Brasil Novo, Coutinho união, Canaã, Pingo

D’água e São Manoel, que representam 5,6% da área municipal (IPAM 2015); b) Avaliar a

viabilidade econômica, social, produtiva e ambiental das cadeias de produção da agricultura

familiar, como foco nas cadeias do leite, pupunha, piscicultura e da borracha; e c) Propor

alternativas para as atividades que não tenham viabilidade econômica, social e/ou ambiental.

O trabalho foi realizado no período de janeiro a junho de 2015, com levantamento de

informações de campo realizado no período de fevereiro a março de 2016, com uma coleta

extra de dados realizada em outubro de 2016. Este estudo foi desenvolvido com a colaboração

técnica da equipe local do IPAM e do ISA, técnico da secretaria de agricultura, e da contratação

de uma profissional autônoma para suporte no levantamento de campo, a qual contribuiu para

a elaboração do relatório.

METODOLOGIA

A metodologia do trabalho é dividida em método para levantamento de informações e

para análise dos dados. O levantamento de dados foi baseado em organização das informações

existentes: levantamento do material já produzido (dados de livre acesso como internet,

referências bibliográficas, outras fontes), outras informações obtidas junto ao público alvo,

instituições governamentais e ONG’s no município de Querência. Também, utilizou-se a

metodologia de diagnóstico rápido participativa (DRP), por meio de entrevistas com

questionários semi estruturados. O DRP foi realizado através de oficinas nos assentamentos,

com o objetivo de realizar a caracterização produtiva e socioeconômica dos produtores. O

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diagnóstico compreendeu questões relacionadas com aspectos sociais, econômicos,

infraestrutura e ambiental. Foram realizadas 04 oficinas (Brasil Novo, Coutinho União, Pingo

D’água, São Manoel) e reunião com uma liderança (Canaã) para obtenção das informações. Os

questionários semi estruturados foram elaborados e aplicados de acordo com a especificidade

dos informantes: representantes de instituições\organizações governamentais, produtores

rurais selecionados de acordo com tipo de uso da terra e com os agentes mercantis das cadeias

produtivas estudadas. Vale ressaltar que houve inicialmente o nivelamento metodológico com

a equipe de campo, onde foram revisados os objetivos, metas e o planejamento.

As principais fontes de dados secundárias consultadas foram o banco de dados do IBGE,

dados do INCRA, dados do MDA e de informações municipais coletadas junto aos órgãos do

município. Foram realizadas 06 reuniões/oficinas em cada assentamento, envolvendo um total

de 47 pessoas dos assentamentos, onde se levantou as informações. Realizou-se 85 entrevistas,

incluindo 48 entrevistas individuais às famílias de assentados e as demais com agentes das

cadeias e instituições governamentais.

Para a análise dos dados, as informações dos questionários foram organizadas em Excel

de acordo com a especificidade das informações. A sistematização dos dados das 48 entrevistas

com produtores selecionados foi por tipo de agroecossistema existente no lote. A classificação

dos grupos de produtores da agricultura familiar dos assentamentos foi estabelecida em

atividade nos lotes, onde o critério de classificação foi o percentual de participação na

composição da renda bruta do lote ser pelo menos maior que 55% do valor bruto da receita

obtida com a venda do produto.

Para a análise da demanda real da produção agrícola no município foram entrevistados

como mercado institucional: os responsáveis pela compra da merenda escolar da secretaria

estadual de educação e secretaria municipal de educação, assim como entrevistas com

comerciantes do município para elaboração da lista dos produtos de demanda real para

abastecimento do município. Também, foram entrevistados os órgãos responsáveis pela

fiscalização da qualidade dos produtos: vigilância sanitária do município e instituto nacional de

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defesa animal e vegetal – INDEA. O trabalho está organizado da seguinte forma: a primeira

parte traz o contexto e diagnóstico local usando os dados secundários e das entrevistas; a

segunda parte apresenta a viabilidade das cadeias produtivas da agricultura familiar eleitas

para este estudo - borracha, leite, piscicultura e pupunha; finalmente, apresenta-se sugestões

para as atividades produtivas das cadeias estudadas que não tenham viabilidade econômica,

social e/ou ambiental.

I - Caracterização dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar de Acordo com o Diagnóstico

1. Caracterização dos Assentamentos do Município Querência - MT

O município de Querência possui 17.850,25 km2, localizado na microrregião de

Canarana, mesorregião do Nordeste Mato-grossense, a 912 km de Cuiabá. A população de

Querência é estimada em 15.997 habitantes (IBGE 2015). São cinco Projetos de Assentamento

(PAs) do INCRA existentes no município: Brasil Novo, Canaã, Coutinho União, Pingos D’Água e

São Manoel, que representam 5,6% da área municipal (IPAM 2015). A criação dos

assentamentos foi na década de 90, sendo os mais antigos o PA Coutinho união e PA Pingo

D’água que foram criados em 1994; Brasil Novo criado em 1998 e São Manoel e Canaã em

1999. Somam-se um total de 1.265 lotes considerando todos os assentamentos, sendo que o

PA Pingo D’água concentra 44% dos lotes, seguido pelo Brasil Novo com 25%, em discrepância

com o PA Canaã abrigando somente 3% dos lotes (Figura 1). Do total de lotes, 41% já foi

homologado, sendo que a maioria dos lotes dos PA’s Canaã, Coutinho União, Pingo D’água e

São Manoel não chegam a 50% dos lotes homologados, enquanto que o PA Brasil Novo atinge

91% lotes com documento de homologação (Figura 2).

A origem geográfica é predominante de migração do centro-oeste (72%), sendo 80% do

próprio Mato Grosso, 16% dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o restante do

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nordeste e sudeste. A maioria chegou na região no começo dos anos 2000. Hoje a população

dos assentamentos tem em média 09 anos na área, sendo menos de 10% os pioneiros da

década de noventa. Hoje, cerca de 40% não residem no lote, mas sim nas agrovilas ou na

cidade. O tamanho médio das famílias é de 3,2 pessoas, sendo parecido com o perfil das

famílias urbanas do Brasil e abaixo do tamanho médio das famílias em assentamentos no Brasil

da década de 2000 com média de 4,8 de pessoas. A característica de famílias pequenas e não

residente nos lotes restringe boa parte das possibilidades de inovação para sistemas

agroecológicos de base familiar, que demandam trabalho mais intenso por área e explica a

paisagem dos assentamentos conforme iremos abordar ao longo do relatório.

Figura 1- Número de lotes por Projeto de Assentamento no Município de Querência.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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Figura 2 - Documentos Homologados por Assentamento.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Considerando a relação do número de lotes pelo número de moradores por assentamento, 40% dos 1.265 lotes poderiam ser classificados como abandonados ou que foram comprados pelos próprios assentados (Figura 3). Os PAs Brasil Novo, Pingo D’água e São Manoel apresentam 68%, 49% e 40%, respectivamente, dos lotes desocupados ou agregados a outros assentados. Diferentemente, no PA Canaã todos lotes estão ocupados, enquanto no PA Coutinho União, o número de moradores é 34% maior do que a quantidade de lotes existentes. Nesse caso, muitos dos moradores não possuem lotes, mas moram na agrovila e prestam serviço na comunidade.

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Figura 3 - Relação entre Número de Lotes com Número de Moradores

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

O fluxo migratório é uma característica comum em todos os assentamentos. Somente

14% dos moradores dos assentamentos são pioneiros, ou seja, estão desde início dos PAs. Os

PAs Brasil Novo e Pingo D’água são os que possuem mais pioneiros com 25% e 21%,

respectivamente, os demais possuem menos de 6% de moradores pioneiros (Figura 4).

68% 49%

40%

34%

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Figura 4 - Relação entre Número de Famílias Pioneiras nos Assentamentos

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Outra característica aos moradores dos assentamentos é a existência de renda não

agrícola na composição da renda bruta da unidade familiar, onde 54% dos assentados realizam

atividades econômicas fora do lote. A aposentadoria é recebida por 19% do total dos

moradores e a maioria desses aposentados encontra-se nos PAs São Manoel, Brasil Novo e

Coutinho União, respectivamente1 (Figura 5 e 6).

1 Mais informações no Anexo 1.

5%

4%

21%

25%

5%

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Figura 5 - Relação de Assentados com Rendas Não-agrícola por Assentamentos

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Figura 6 - Relação de Aposentados por Assentamentos

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Todos os assentamentos, com exceção de Canaã, possuem agrovilas onde se encontram

60% 80%

64%

SI

35%

40%

51%

5%

19%

11%

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toda a infraestrutura: escola, posto de saúde, igrejas, subprefeitura, infocentro, restaurantes,

comércio, etc.; dispõem de transporte público (ônibus escolares), bem como transporte privado

(ônibus de linha). Mesmo assim, a maioria das pessoas possui carro, moto e/ou bicicleta para

sua locomoção. Há também, área de lazer e área para a associação local e de mini

agroindústrias existentes. Os PAs têm uma relativa proximidade com os centros urbanos de

Querência ou Canarana. O assentamento mais próximo, Pingo D’Água, está a 20 km e o mais

distante, Brasil Novo, está a 140 km. As estradas, apesar de não serem pavimentadas, são

acessíveis durante o ano todo. De modo geral, são assentamentos que receberam

investimentos públicos, diferentemente da dinâmica de assentamentos em outras regiões,

onde a infraestrutura foi construída depois do decreto de criação ou foi construída pelos

próprios assentados (Tabela 1). As principais dificuldades relacionadas à produção pelos

assentamentos estão descritas no quadro 1.

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Tabela 1 – Informações Gerais dos Assentamentos Obtidos no Diagnóstico Rápido Participativo.

DISCRIMINAÇÃO BRASIL NOVO COUTINHO

UNIÃO SÃO MANOEL PINGO D'ÁGUA CANAÃ

Início do assentamento 1998 1994 1999 1994 1997

Quantidade famílias

pioneiras 317 12 15 60 42

Número de lotes 317 172 183 551 42

Origem das famílias GO,MT,BA, CE, RS,

PA, TO, MA,SP,SC,

PR,MTS

GO,MT,RS,MA GO,MT,BA, CE,

RS, PA, TO,

MA,SP,SC,

PR,MTS

GO,MT,MA,CE,RS,MST,

PR

GO, MT,PR

Famílias pioneiras

residentes 25 12 4 60 2

N. de famílias que saíram

recentemente (5 anos) 20-30 20 99 SI SI

Número de famílias com

títulos 287 68 90 60 10

Número de moradores 100 230 110 280 42

Número de idosos 40 25 56 84 SI

Aposentados 40 25 56 14

Bolsa Família 50 SI 6 SI SI

Funcionários públicos 25 31 12 SI SI

Comerciantes 15 11 1 7 SI

Prestadores de serviço fora

do lote 60 80 88 180 SI

Carro 50% 138 55 50% 90%

Moto 100% 184 99 80% 80%

Transporte publico/privado 3 8 1 1 SI

Casa com internet 40-50 1 SI SI SI

Agroindustria 3 0 1 0 0

Mercearias 4 s SI 7 SI

Igrejas 9 6 1 7 SI

Escola 1 2 1 SI

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Posto Saúde 1 1 1 1 SI

Campo futebol 1 2 1 2 SI

Na Tabela 1 o SI – significa “sem informação”.

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Quadro 1- Principais dificuldades apontadas pelos assentados para a produção

BRASIL NOVO COUTINHO UNIÃO CANAÃ SÃO MANOEL PINGO D'ÁGUA

Licença-legalização do projeto;

Incentivo para produção

Financiamento Infraestrutura, transporte e logística

Comercialização

Falta de compradores companheirismo e união

Assistência técnica

Coragem para trabalhar Organização social

Logística Ferramentas - maquinário comunitário

Logística Capital de giro "Pessoas que já tem estabilidade não precisam do vizinho"

Organização da produção para garantir regularidade, qualidade e escala para comercialização;

Financiamento individual

Mão-de-obra União: incentivo interno; parceria; cooperativismo

Pouco compradores

Infraestrutura adequada para processamento

Crédito para maquinário

Garantia de compra Atravessador de gado de corte

Embalagem adequada para mercado

Documentação/Licença Preço baixo e pouco incentivo (leite)

Capacitação sobre boas práticas/higiene

Mão-de-obra Financiamento

Informação do mercado

Assistência técnica Legalizar produtos/selo sanitário

Conhecimento sobre outras experiências

Capacitação sobre selo sanitário

Grupo de produção

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2. Classificação dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar dos Assentamentos do Município Querência - MT

A principal característica dos assentamentos é a diversidade de portfólio e estratégias

produtivas. Utilizou-se a tipologia para minimizar a variância e indicar diferentes estratégias

produtivas que levam a delimitar a maneira de interação com o solo, água e floresta. Para a

classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos assentamentos, estabeleceu-

se como a atividade principal aquela de maior importância econômica no lote, considerando o

ano de 2015. O critério de classificação da atividade principal foi o percentual de participação

na composição da renda bruta do lote, quando até 60% do valor bruto da receita é oriunda da

mesma. Os resultados apontaram que todos os 48 produtores entrevistados trabalham com

produção diversificada (Figura 7). Encontrou-se 05 tipos de grupos produtivos nos

assentamentos: 1) Grupo da Agricultura; 2) Grupo da Pecuária de Corte; 3) Grupo da

Diversificação da produção; 4) Grupo da Pecuária Leiteira; 5) Grupo da Pecuária Mista; e 6)

Criação de Pequenos Animais.

Figura 7 - Classificação dos Produtores segundo Renda Bruta por tipo de Produção.

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Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

A tabela 2 abaixo apresenta a distribuição por assentamento dos 48 produtores entrevistados, segundo a classificação por grupo:

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Tabela 2- Distribuição dos Entrevistados por Grupos Produtivos

2.1 - Características Gerais do Grupos entrevistados

Dos 48 assentados entrevistados, a maioria é oriunda do próprio estado do Mato

Grosso, seguido pelo centro oeste (Goiás, Mato Grosso do sul) e Sudeste/Sul do país (São Paulo,

Santa Catarina, Rio Grande do Sul) (Figura 8). Cerca de 67% desses produtores desenvolviam

atividades na área rural (29% na agricultura, 23% na pecuária e 15% prestadores de serviços)

antes de chegarem ao assentamento. Enquanto 33% destes trabalhavam em atividades do

setor urbano (por exemplo: técnico em informática, açougueiro, etc.). O tempo médio de

permanência no lote dos entrevistados é de 13 anos, variando de 2 a 28 anos.

Figura 8 - Origem dos Produtores Entrevistados.

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Fonte: Pesquisa de Campo 2016. A área média dos lotes é de 81 ha, onde algumas famílias possuem de 2 a 3 lotes,

distribuídos entre os membros da família. Os grupos pecuária de corte, pecuária leiteira e o de

agricultura foram os que apresentaram a maior área de terra. Dos entrevistados, 25% nunca

receberam nenhum tipo de financiamento para produzir por não possuírem documentação da

terra. Os financiamentos recebidos com mais frequência são o PRONAF A, D, custeio, mais

alimento e somente um produtor é beneficiário do programa balde cheio (Figuras 9 e 10).

Figura 9 - Área Média da Propriedade dos Produtores Entrevistado por Grupo (em ha)

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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Figura 10 - Tipo de Financiamento Recebido pelos Produtores Entrevistados

Fonte: Pesquisa de Campo 2016. De maneira geral, os grupos apresentam semelhanças em relação aos tipos de

agroecossistemas encontrados: áreas de florestas, pastagem, cultivos perenes e cultivos

permanentes. O grupo de produtores da Agricultura apresenta uma área média de 63 hectares,

quando comparado com os demais grupos possui menor área de floresta e de pastagem e

maior área de cultivo de perenes, onde o cultivo de soja representa 95% da área plantada neste

grupo. O grupo de pequenos animais apresenta um valor significativo de área de pastagem,

indicando uma transição da atividade econômica de animais de grande porte para pequeno

porte, onde a falta de capitalização para manutenção e recuperação do pasto é um fator

relevante na mudança da atividade. O grupo de pecuária mista foi o que apresentou maior área

de floresta, fato que pode estar relacionado ao menor tempo no lote (em média 9 anos), baixo

capital de investimento e rigidez da lei contra desmatamento nos últimos anos (Figura 11).

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Figura SEQ Figura \* ARABIC 11 – Forma de Uso da Terra por

Grupo Produtivo

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Figura 11 - Forma de Uso da Terra por Grupo Produtivo

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

O valor médio da renda agropecuária (produção agrícola e animal) e da renda não-

agrícola (benefícios sociais, salários, prestação de serviço, etc.) variaram entre os grupos de

entrevistados. De modo geral, as atividades produtivas nas propriedades corresponderam, em

média, a 68% da composição da renda bruta total dos entrevistados. Somente o grupo pecuária

de corte possui 100% da sua renda bruta gerada em 2015 oriunda da atividade produtiva.

Baseado nos dados de renda e nas informações obtidas na entrevista com o pecuarista,

podemos dizer que, de todos os entrevistados que trabalham com a pecuária, somente um vem

se especializando e possui capital imobilizado de quase 100 mil reais. Entretanto, foi o que

apresentou a menor renda. Esse produtor chegou ao limite da capacidade de suporte da

pastagem (1,6 cabeça/hectares atualmente), com o sistema de baixa intensificação e,

consequentemente, atingiu o limite de desmatamento da sua área. O seu sistema de produção

encontra-se em momento crítico, pois não sua capitalização não é suficiente para a

intensificação do sistema. Por essa razão, é a propriedade que se encontra em situação mais

crítica do ponto de vista de renda (Figura 12).

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Figura 12 - Rendas Agrícolas e Não-agrícolas por Grupo Produtivo

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

2.2 - Características de cada grupo

A caracterização de cada grupo, apresentada abaixo, foi realizada considerando origem

dos produtores, tempo de permanência no lote, percentual da atividade principal em relação à

renda bruta, capital empregado em equipamento, transporte e máquinas (imobilizado) e

origem do capital de investimento (Tabela 2 e 3).

a) Grupo de Produtores Agricultura

O grupo de produtores da agricultura foi composto por 19 entrevistados dos

assentamentos: Brasil Novo, Canaã, Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel. São oriundos

de Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O tempo de

permanência no lote varia de 2 anos a 28 anos. O agroecossistema desse grupo é constituído

por lavoura de commodities, criação de pequenos animais (suínos, aves e derivados, incluindo a

piscicultura) e pecuária leiteira e seus derivados.

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Em 2015, esse grupo obteve um valor médio de renda bruta de R$ 74.018, composto em

63% pela venda dos produtos agropecuários (especialmente pela lavoura de commodities, onde

soja representou 79% do total). A criação de pequenos animais e a pecuária de leite

contribuíram em percentuais menores, com 5% e 3% da venda de produtos agropecuários. A

renda não-agrícola advinda de outras atividades ou benefícios sociais, representou 27% do

valor total. Em relação ao capital de bens e serviços (máquinas, equipamentos, transporte),

cada produtor possui, em média, R$ 103,368,00 variando entre R$ 50.000,00 a 920.000,00.

Entre os assentados desse grupo, três nunca acessaram nenhum tipo de crédito para

investimento na atividade. Os demais acessaram créditos PRONAF A, D, custeio, mais alimento,

PRONAF mulher. A mão-de-obra é um fator limitante nesse grupo, onde somente 02 pessoas

são adultas e/ou 1-2 crianças.

b) Grupo Produtores de Pecuária de Corte

O grupo de pecuária de corte é composto por 01 produtor entrevistado, oriundo de

Mato Grosso e residente no PA Coutinho União. A atividade pecuária de corte ocupou 72% da

renda bruta da propriedade em 2015. O agroecossistema presente consiste na pecuária de

corte, criação de pequenos animais (26%) e derivados de leite (2%). O produtor possui uma

renda bruta total de R$ 20.136,00 e não possui renda não-agrícola. O capital de bens e serviços

(equipamentos e transporte) é em torno de R$100.000,00. Ele teve acesso aos créditos PRONAF

A, D, custeio e habitação. A mão-de-obra reduzida é fator limitante para o produtor.

c) Grupo de Produtores com Diversificação da Produção

Este grupo foi composto 09 produtores entrevistados dos PAs Coutinho União e Pingo

D’água. Os entrevistados são oriundos do próprio Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A renda

bruta desse grupo ficou, em média, em R$ 45.156,00. O agroecossistema constituiu-se por

agricultura, agricultura de commodities, pequenos animais (aves, suínos, incluindo piscicultura)

e derivados de aves, leite e seus derivados. A agricultura representa 43% da composição da

renda, onde 29% advém da agricultura diversificada (abóbora, melancia, etc) e 14% da renda da

lavoura é oriunda da produção de soja. A criação de pequenos animais e derivados representou

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17%, a produção de leite e derivados representou 39% e a pecuária de corte com 1% de

contribuição na composição da renda total do lote. Esse grupo traz características ligadas à

agricultura familiar quando comparado com demais tipos, como a maior quantidade de mão-

de-obra familiar no lote, e maior diversidade de produção em menor área. Possuem, em média,

11 anos de residência no lote, variando de 2 a 24 anos. A renda não-agrícola corresponde a 45%

do total da renda familiar. Possuem capital imobilizado menor que os demais grupos de

produtores, com um valor médio de R$ 38.350,00, variando entre R$ 3.000,00 a 71.400,00. A

maioria acessou crédito/financiamento como o PRONAF D, Mais Alimento e habitação, e

somente 01 não recebeu nenhum crédito ou financiamento para desenvolvimento da atividade

produtiva.

d) Grupo de Produtores de Pecuária Leiteira

Esse grupo foi composto por 09 assentados dos PAs Brasil Novo, Coutinho União, pingo

D’água e São Manoel, onde a atividade da pecuária leiteira gerou maior contribuição na

composição da renda familiar. A renda bruta média foi contabilizada em torno de R$ 65.293,00.

Verifica-se nesse grupo, assim como no grupo de produtores da agricultura, a especialização

dos produtores na pecuária de leite, responsável por 78% da renda gerada por esse setor

produtivo. O restante, é distribuído entre pecuária de corte, lavoura e criação de pequenos

animais e derivados com 10 %, 9% e 3%, respectivamente. Esses produtores são oriundos de

Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, estados com forte cultura pecuarista, fator que

provavelmente influenciou os assentados a se engajarem na produção animal. O tempo em

que os assentados estão nos PAs varia de 8 a 16 anos. Somente dois deles não acessaram

crédito para desenvolver a atividade, todos os demais receberam recursos do PRONAF A, D e

ou custeio. Finalizando, 03 desses produtores tem um valor significativo da renda não-agrícola

advinda de funcionalismo público e/ou serviço prestado por algum membro da família.

Também possuem menor quantidade de mão-de-obra familiar.

e) Grupo Pecuária Mista

Foram 03 produtores entrevistados residentes nos PAs Brasil Novo e São Manoel, que

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constituíram o grupo pecuária mista, pois grande parte de suas rendas brutas totais vieram da

pecuária pecuária de leite e de corte, respectivamente. Este grupo, ao contrário dos demais,

apresenta na renda não-agrícola a maior parte da composição, com 62% da renda bruta total,

estimada em torno de R$ 58.018,00. Sendo os 38% restantes advindos da produção no lote. A

renda não-agrícola é caracterizada pelo recebimento de aposentadoria, que pode explicar o

engajamento na pecuária, uma vez que a renda da aposentadoria possibilita a contratação de

mão-de-obra e investimento na atividade.

Na composição da renda agrícola destacam-se a pecuária leiteira contribuindo com 58%

e pecuária de corte com 38%, seguindo com pequenos animais e lavoura (3% e 1%

respectivamente). O tempo de permanência nos assentamentos varia de 4 a 15 anos. Somente

um deles acessou crédito PRONAF mais alimento para desenvolver a atividade.

f) Grupo Pequenos Animais

O grupo produtor é composto por 08 produtores de pequenos animais presentes em

todos os PAs. Os entrevistados são originários de Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul. A

renda bruta média foi estimada em torno de R$ 61.335,00. A criação de pequenos animais

representou 87% da renda familiar no ano de 2015, (onde a piscicultura correspondeu a 47%, a

venda de aves e suínos correspondeu a 39%, derivados de leite corresponderam a 11%, e a

lavoura correspondeu a 3%. A renda não-agrícola representou 13% da renda total, sendo a

maior parte advinda da prestação de serviço, funcionalismo público (86%) e aposentadoria

(14%). Somente 02 assentados receberam algum tipo de crédito PRONAF A, mais alimento e

participa do programa balde cheio. Para os demais, o investimento é oriundo do próprio

capital. O capital investido em equipamentos, transporte e maquinário é o menor entre todos

os grupos, em torno de R$ 20.487,50.

As tabelas 3, 4 e 5 apresentam de forma resumida os dados obtidos na sistematização

das informações geradas para essa análise.

Tabela 3 - Informações Básicas dos Entrevistados por Grupo Produtivo

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Tipos

Média de Indivíduos Origem % por região Tempo no PA (anos)

Area Média (hectare) Adultos Jovens Crianças MT CO SE S NO N

G. Agricultura 2.1 0.7 0.5 42 26 5 26 0 0 13 74.5

G. Pec. Corte 1 2 0 100 0 0 0 0 0 20 98.5

G.Div. Produção 2.9 0.6 0.9 44 33 0 22 0 0 14 89

G. Pec. Leiteira 2.6 0.7 0.6 33 33 11 11 11 0 13 79

G. Pec. Mista 2 0.7 2.3 67 33 0 0 0 0 9.7 65

G. Cr. Peq. Animais

2.7 0.3 0.7 57 29 0 14 0 0 9.1 85

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Tabela 4 - Resultado da Renda Bruta Referente Ano de 2015 por Atividade Produtivo por Grupos de Produtores

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Tabela 5 - Síntese da Renda Bruta Agrícola e Renda Bruta Não-agrícola2 por Grupos de Produtores.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

2 Inclui renda advinda de atividades fora do lote (salários, transferência renda, aposentadoria, etc.);

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3. Viabilidade Produtiva e Ambiental das Atividades Produtivas da Agricultura Familiar

O processo de colonização do município de Querência foi baseado na mesma dinâmica da

política de desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia que resultou em

desmatamento e degradação florestal. Os Projetos de Assentamentos foram criados na década

de 90 pelo INCRA, onde a principal atividade estava na produção agropecuária e na exploração

madeireira. Recentemente, a agricultura de commodities, sobretudo da soja, vem ganhando

espaço dentro dos assentamentos, cuja produção é totalmente orientada pelo e para o

mercado. Esse modelo torna os agricultores dependentes do mercado por insumos, serviços,

comercialização e ocasionando a exaustão dos recursos naturais rapidamente. Em

consequência, as unidades produtividades têm uma responsividade baixa, reflexo da pouca

diversidade do sistema e pela redução do banco de sementes, contribuindo para a insegurança

alimentar.

Com facilidade de acesso e boa infraestrutura, o público dos assentamentos imprime

diferentes identidades, objetivos, e relação com a terra, que se refletem no uso do solo e nas

atividades produtivas econômicas. Nesse contexto, há mudanças no padrão da agricultura

familiar camponesa, cuja a lógica produtiva é definida como aquela de reprodução da unidade

familiar a partir dos próprios recursos existente na propriedade, através da força-de-trabalho

familiar, para uma agricultura familiar especializada e altamente orientada e integrada ao

mercado.

Toda a política de investimento para setor produtivo foi alavancada fortemente para

agropecuária, especialmente para culturas temporárias e pecuária de corte. Essa dinâmica fez

Querência entrar para a lista negra dos municípios com altas taxa de desmatamento da

Amazônia. Para sair da lista, o município cumpriu com uma série de condicionantes, dentre elas

adotar políticas de contenção de desmatamento e queimadas orientada pelo Ministério do

Meio Ambiente, buscar outras alternativas produtivas, especialmente para agricultura familiar

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(plantio seringueira, pupunha), e cadastramento de 80% das propriedades rurais.

Paralelamente a essas ações, a expansão do cultivo da soja aumenta no município, pela

intensificação da produção avançando em áreas descobertas (IPAM 2015).

O uso do solo é um fator preocupante. A atividade pecuária extensiva é muito dispendiosa,

o que tem levado muitos produtores a realizarem parcerias com produtores de soja. Nesse

acordo, arrenda-se a área de pastagem para implantação de soja, tendo como retorno uma

parte da produção de soja a partir do quinto ano e, ao final da parceria, o arrendante receberia

a área recuperada para plantio de pasto e retomar a atividade pecuária. No caso da pecuária

leiteira, a sua viabilidade e lucratividade requer promover investimentos em toda a cadeia,

fornecendo condições para a melhoria da pastagem, genética, custeio, instalações e

equipamentos como ordena.

A agricultura baseada no monocultivo da soja com ou sem safrinha de milho, em expansão

nos assentamentos, pode estar vinculado à possibilidade de recuperação da pastagem

degradada existente no lote, além de outras vantagens como, por exemplo, acesso a

financiamento bem como o preço do produto.

Do ponto de vista organizacional, os assentados estão pouco organizados socialmente,

prevalecendo ações individuais ou a partir grupos partidários, religiosos, produtivos, e ou de

mesmo núcleo familiar, dos quais foram observados dentro dos assentamentos. Uma das

possíveis explicações para a fragilidade da base social pode estar vinculado a rotatividade dos

moradores no assentamento, o que gera a descontinuidade das relações sociais entre os

assentados, acarretando uma ausência de uma identidade coletiva ou a identidade apresenta-

se fragmentada. Deslumbrar qualquer iniciativa de ação coletiva requer pensar em um formato

considerando os elementos acima apresentados e buscar os elementos aglutinadores de grupos

produtivos. Qual seria o formato de organização mais atrativo e realista ao contexto local? Qual

tipo de relação poderia ser estabelecido?

Sob o ponto de vista ambiental, um aspecto a ser ressaltado é a grande concentração de

agrotóxicos utilizada para cultivo da soja no município e dentro dos assentamentos. Segundo as

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entrevistas, muitas pessoas dos assentamentos associam o aparecimento de doenças

respiratórias, pele e dor de cabeça, câncer com a contaminação do ar, água pelos fertilizantes

utilizados, principalmente aquele que são aspergidos por meio de aviões próximos nas

agrovilas. Provavelmente, a bacia hidrográfica nessa região está sendo afetada direta e

indiretamente pelo alto grau de uso do agrotóxico nas lavouras de soja. A maioria dos

assentados relata que a qualidade da água dos igarapés, vem sendo imprópria para o consumo

humano. A maior parte dos assentados possuem poço artesiano ou cacimba. É altamente

relevante realizar estudos na bacia hidrográfica para ver o grau de comprometimento da água

pelo uso incontrolável de agrotóxicos na lavoura de soja. A contaminação da água dos igarapés

e açudes, principais fontes de água para cultivo da pupunha e do gado, poderá trazer

implicações para o desenvolvimento e expansão produtiva da cadeia do leite e seus derivados

assim como da cadeia da pupunha. No quadro 1, estão esquematizados os principais problemas

enfrentados nos assentamentos, segundo os entrevistados, assim como as tentativas de

solucionar o problema e como a gestão municipal poderia contribuir para a solução, na

percepção dos entrevistados.

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Quadro 1- Principais Problemas Levantados pelos Entrevistados

Demanda do Mercado Local Por Produtos da Agricultura Familiar em Querência- MT

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O levantamento sobre a demanda do mercado local pelos produtos da agricultura

familiar foi feito no mercado institucional do município e no mercado varejista (grande, médios

e pequenos estabelecimentos). Os resultados apontam que demanda é maior que a oferta. Os

fatores que limitam o abastecimento do mercado local pelos produtos dos agricultores são a

falta de regularidade e ausência de inspeção da produção. O mercado local absorveria a

produção dos assentamentos, porém as estruturas produtivas ainda são frágeis, sem

organização e sem capacidade de atender ao mercado. Uma alternativa, seria o investimento

na COOPERQUER para ser um elo entre a produção dos assentamentos e a demanda do

município, tornando-a uma central de comercialização, com papel de organização da produção

nos assentamentos, sendo estruturada para tal.

1) Mercados institucionais: Programa de Merenda Escolar

Foram entrevistados representantes do setor de compras dos produtos para merenda

escolar da secretaria estadual e municipal de educação do município, usando um questionário

semiestruturado para obtenção das informações sobre o volume dos produtos agrícolas

adquiridos para merenda escolar no próprio município3.

O município possui 12 escolas municipais (06 escolas na área rural e 06 escolas na área

urbana) e 04 escolas estaduais (02 na área rural e 02 em área urbana). No ano de 2015 a rede

de ensino municipal atendeu um total de 4.362 alunos, onde 52% estão nas escolas estaduais e

48% escolas municipais. Do total de 53 produtos possíveis da agricultura familiar rural para

compor o cardápio da merenda escolar da rede estadual de ensino, somente 16 produtos

agrícolas foram comprados diretamente dos agricultores do município. Sendo que 05 dos

produtos comprados do agricultor também tiveram que ser comprados nas redes de

supermercados da cidade, pois os agricultores fornecedores não dispunham da quantidade

3 As quantidades de valores dos produtos adquiridos a partir do PAA aqui apresentados trabalhados são referentes

ao ano de 2015.

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total demanda (Figura 10 e 11).

Figura 13 - Fornecedores dos Produtos comprados para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Figura 14 - Categoria de Produtos para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

No ano de 2015, o valor total em reais que foi inserido na economia local com a compra

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desses produtos da agricultura familiar do município (Tabela 5) para abastecimento das escolas

estaduais do município foi em torno de R$ 46.503,00. Onde 67% desse montante foi destinado

aos produtores locais e outros 33% do volume transacionado ficou nos supermercados locais

com as compras de alimentos não fornecidos em quantidade suficiente ou sem fornecimento

pelos agricultores familiares. Isso implica que o município deixou de investir 33% do recurso

financeiro que poderia incrementar a economia local, uma vez que os produtos comprados em

supermercado vêm de outros municípios e/ou estados.

Na Secretaria Estadual de Educação (SEE) municipal, os valores foram praticamente os

mesmos. Em 2015, 09 produtos foram comprados correspondendo a um volume de 10.459

quilogramas, correspondendo a um valor de compra de R$ 36.117,00, que foram apropriados

por apenas 07 agricultores locais (Tabela 6). Por falta de produto local, a SEE municipal gastou

em torno de R$ 50.000, comprando produtos nos supermercados locais. A lista, abaixo,

apresenta a demanda real por ano dos produtos no mercado institucional, foi fornecida pelo

escritório local SEE municipal (Tabelas 7 e 8).

Tabela 6 - produtos comprados para merenda escolar SSE Querência 2015

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Tabela 7 - Produto comprado de agricultores locais para merenda escolar 2015

Fonte: Secretaria de Educação do município de Querência.

Fonte: Secretaria de Educação do município de Querência.

Tabela 8 - Demanda Real dos produtos frutas e hortaliças da merenda escolar da Secretaria

Estadual de Educação baseado no ano 2015

PRODUTO DE DEMANDA REAL UNIDADE QTE DEMANDADA

Frutas e derivados:

Abacaxi Kg 190

Banana nanica Kg 2700

Coco ralado Kg 86

Laranja Kg 2200

Limão Kg 120

Mamão Kg 240

Maracujá Kg 200

Melancia Kg 2800

Polpa abacaxi Kg 150

Polpa caju Kg 440

Polpa laranja Kg 150

Polpa maracujá Kg 360

SUBTOTAL 9636

Hortaliças:

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Abobora cabotiã Kg 360

Abrobrinha verde Kg 210

Açafrão Kg 15

Alface Kg 100

Beterraba Kg 430

Cebola Kg 900

Cenoura Kg 590

Cebolinha Kg 25

Chuchu Kg 30

Colorau Kg 100

Couve folha Kg 50

Pimenta de cheiro Kg 10

Repolho Kg 890

Salsa Kg 41

Tomate Kg 1220

SUBTOTAL 4971

Fonte: Secretaria Estadual de Educação no município de Querência.

Tabela 9 - Demanda Real de produtos de lavoura branca e proteína animal para a merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015

PRODUTO DE DEMANDA REAL UNIDADE QTE DEMANDADA

Lavoura:

Açucar Kg 1700

Açucar mascavo Kg 15

Amendoim Kg 160

Amido de milho Kg 310

Arroz Kg 4350

Canela Kg 9

Farinha mandioca Kg 470

Feijão carioca Kg 850

Fubá de milho Kg 350

Macaúba Kg 150

Mandioca Kg 1060

Milho p/canjica Kg 330

Polvilho azedo (goma) Kg 100

Proteína de soja Kg 10

SUBTOTAL 9864

Proteína animal:

Carne bovina Kg 4320

Carne suina Kg 310

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Frango Kg 3530

Doce leite Kg 125

Leite em pó Kg 1190

Linguiça Kg 680

Mel Kg 100

Ovos galinha Dúzia 880

Peixe Kg 400

Queijo mussarela Kg 400

SUBTOTAL 11055

Fonte: Secretaria Estadual de Educação no município de Querência.

a) Limitações Existentes para Fornecimento dos produtos da agricultura familiar para Merenda escolar

Dentre os fatores que limitam o fornecimento dos produtos oriundos da agricultura familiar

local, destacou-se os principais:

- Deficiência na organização da produção local nos assentamentos – os agricultores não

conseguem se organizar em cooperativas para fornecimento;

- Exigências sanitárias para fornecimento de produtos de origem animal estabelecidas

por legislação federal, estadual e municipal;

- Infraestrutura de estrada trafegável, transporte, armazenamento dos produtos

perecíveis na área rural;

- Processo burocrático administrativo para fornecimento como: licitação, DAP,

contratos, etc.;

- Forma de pagamento a curto, médio e longo prazo;

- Problemas de perda da produção por razões climáticas e de pragas doenças, etc.;

- Inflexibilidade dos contratos quanto a variação de preço durante o ano;

- Falta de fomento do município para aumento da produção, bem como suporte na

comercialização dos produtos;

- Dificuldade das organizações representativas buscarem alternativas para simplificar as

exigências burocráticas com órgãos municipais estaduais, exigiria mobilização;

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b) Sugestões para promoção da Agricultura na merenda escolar

Estabelecer política de abastecimento do setor urbano com produtos da agricultura familiar

local, elaborando projetos e programas com três frentes de trabalho:

1) promover adequação às normas de exigências de qualidade e higiene adaptada a

realidade do município;

2) dialogar com setores de defesa, fiscalização e vigilância para buscar alternativas;

3) viabilizar infraestrutura para produção e escoamento da produção, como por

exemplo, fomentar pequenos fundo (credito, financiamentos) que possam ser acessíveis a estes

agricultores;

4) melhoria das estradas, bem como colocar meio de transporte público nos ramais, que

os deslocamentos sejam pagos por produção;

2) Mercado Varejista local:

Já os varejistas do mercado local (grande, médios e pequenos estabelecimentos),

realizam compras diretas com os agricultores locais (chacareiros e assentados). Os produtos

são: hortaliças, peixes, leite e derivados (queijo). Principalmente no ano de 2015 reduziu-se as

compras desses produtos devido ao aumento de exigências sanitárias (embalagens, selos de

procedência e validade, etc.). Existem alguns fornecedores locais que possuem um certo grau

de organização e conseguem vender sua produção. No entanto, a produção é muito

insuficiente a demanda do mercado.

Para os comerciantes, a compra de produtos locais seria melhor opção, caso fosse

oferecida continuamente e de acordo com exigências sanitárias. Principalmente para pequenos

comerciantes, que demandam quantidade menores, a compra no local torna-se mais barata do

que comprar de fornecedores de fora.

Na visão desses comerciantes, seria necessária uma estrutura local que aglutinasse e

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distribuísse a produção aos varejistas, como por exemplo um CEASA, estimulando a produção,

melhorando a qualidade e, também, reduzindo o preço do produto ao consumidor final.

3) Outras oportunidades:

Segundo responsável de compras de produtos para alimentação dos funcionários da

Fazenda Tanguro, Grupo AMAGGI4, poderia se pensar em obter produtos dos agricultores dos

assentamentos. Algumas tentativas já foram realizadas, no entanto, a qualidade e quantidade

dos produtos demandados, bem como a irregularidade de fornecimento, foram fatores que

impediram continuar a negociação com os agricultores locais. Apesar disso, estariam dispostos

à uma experiência de compra, caso houvesse uma organização por parte dos agricultores.

As tabelas 5 e 6, abaixo apresentadas, destacam os produtos comprados dos

agricultores para merenda escolar; e tabelas 7 a 8 apresentam os produtos da agricultura

familiar e respectivas quantidades demandadas pelas secretarias de educação estadual e

municipal para merenda escolar.

ENTREVISTAS COM ÓRGÃOS

ENTREVISTA VIGILÂNCIA SANITÁRIA – QUERÊNCIA Bruna Vieira Vitor – Coordenadora

1. Atribuições da Vigilância Sanitária

Inspecionar todas as ações que possam afetar a saúde da população. Neste caso, a Vigilância

atua nos estabelecimentos que comercializam alimentos, postos de combustível, unidades de

beneficiamento de alimentos, prestadores de serviços relacionados à estética e saúde e outros

que sejam solicitados e estejam dentro de sua atuação.

Em suas vistorias avaliam a situação de higiene, o funcionamento, a segurança do trabalho,

4 Não foi repassado a lista de produtos, apesar das solicitações feitas.

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equipamentos de combate ao incêndio, e alvará de funcionamento (uma vez que se o

estabelecimento possui o alvará, consequente está em dia com outros documentos exigidos

pelo município).

A equipe é composta por 3 pessoas.

2. Leis vigentes que orientam a ação da Vigilância Sanitária

Lei Federal 6437/77 – Infrações à legislação sanitária federal e sanções

Lei Estadual 7110/99 – Código Sanitário Estadual

Lei Municipal 029/2003 – Código Sanitário do Município

RDC 216 – Manipulação de Alimentos

SIM – atualmente está sendo atribuição da Secretaria de Agricultura

3. Como estão trabalhando com a Agricultura Familiar?

A atuação da Vigilância consiste basicamente em orientar, notificar (em caso de

descumprimento da legislação) e aplicar as sanções cabíveis em caso de reincidência.

No caso dos produtos da agricultura familiar, solicita a identificação do produto, através de

rótulos com a data de fabricação e validade, e dados do produtor (telefone e endereço do sítio

e/ou local de beneficiamento).

Nos estabelecimentos comerciais atuam mais no sentido de recolher produtos com prazo de

validade vencido.

Atuam no sentido de colaborar com a agricultura familiar, pois entendem a importância do

produto para o município e para a geração de renda das famílias, que não possuem recursos

para investir na estrutura adequada e/ou exigida.

Os empreendimentos da Agricultura Familiar visitados pela Vigilância são:

• Produtores de iogurte do P.A. Pingo D’Água – 2 produtores

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• Despolpadeira da Associação do P.A. Brasil Novo

• Hortas nos limites da cidade – 4 hortas

As visitas acontecem por demanda dos próprios produtores, que precisam se adequar para

comercializar nos mercados da cidade e na merenda escolar, mas quando identificam algum

produto novo no mercado, também realizam a visita para fiscalizar.

Além do supracitado, a equipe também possui um cronograma anual de tipos de

estabelecimentos para visitar e atua mais próximo à equipe da Vigilância Ambiental, também

pertencente à Secretaria de Saúde.

Em relação ao Selo de Inspeção Municipal (SIM), a equipe ainda não realizou nenhuma

intervenção baseada em sua regulamentação, ficando a cargo da Secretaria de Agricultura, mas

acredita que será necessária a homogeneização deste conteúdo junto a todos os órgãos que

atuam na fiscalização no município. A equipe não realiza fiscalização nas atividades de

vendedores ambulantes que comercializam alimentos e beneficiados (melancia, mandioca,

queijo, frango), embora acredite que seja necessário.

4. Apoio ao Desenvolvimento Rural

A equipe acredita que as famílias precisam de apoio, através de assistência técnica e recurso

financeiro, para as adequações e comercialização no município. Se sensibilizam com o temor

que as famílias apresentam em não poder comercializar seus produtos no município e com

práticas abusivas de fiscalização.

ENTREVISTA INDEA – QUERÊNCIA Daniel – Entrevistado

Órgão estadual de defesa animal e vegetal. Trabalham 04 pessoas (agrônomo, veterinário,

técnico administrativo) na fiscalização, com a legislação estadual que rege a defesa vegetal,

animal, inspeção de produtos, observando se tem registro estadual para comercializar.

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Trabalham na orientação, educação sanitária e fiscalização.

II - Viabilidade Econômica, Social, Produtiva e Ambiental das Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar

Apresentação

A segunda parte do trabalho consistiu em avaliar a viabilidade econômica, social,

produtiva e ambiental das cadeias de produção da agricultura familiar, sendo estudadas as

cadeias do leite, pupunha, piscicultura e da borracha.

1. Cadeia Produtiva da Borracha nos Assentamentos de Reforma Agrária do

município de Querência/MT

1.1 Introdução

Em 2015, a área total plantada com seringueiras ocupava 150 mil hectares,

representando apenas 1,50% da área nacional. Países expressivos nesta produção chegam a

índices de 33,10%, como é o caso da Indonésia, seguido pela Tailândia com 23,60%, Malásia

com 11,90%, China 7,60%, Índia 6,10% Vietnã 5,32% e Myammar 2,86%, segundo os dados do

Grupo Internacional de Estudos da Borracha (SERINGUEIRA, 2009).

Pode-se perceber que a produção do Brasil é insuficiente para atender sua própria

demanda. Pesquisas indicam que o país produz somente 30% da borracha que consome (LUPA,

2008), importando mais que dois terços do que é demandado pelo mercado. Segundo a

Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha, a demanda interna tende a

passar de 300.000 toneladas por ano para 1.000.000 de toneladas em 2030.

Neste recorte, será proposto o fortalecimento da cadeia produtiva do látex. Em parte

por se tratar de atividade demandada pelo mercado, de comprovada rentabilidade e

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possibilitando o incremento de sua renda, e em parte pela possibilidade de agregar outras

oportunidades por meio de ações de REDD, vindo de encontro ao Plano de Combate aos

Desmatamentos e Queimadas do Estado do Mato Grosso, onde, através do Fundo Amazônia –

FA, estes produtores poderão pleitear o CAR, promovendo sua regularização ambiental e

consequente acesso ao planejamento ambiental e econômico desses imóveis rurais e demais

facilidades de acesso a crédito.

A produção de látex é comercializada para um único comerciante (intermediário) que

revende ao mercado nacional. Outro aspecto percebido é que o produto carece de

investimento, tecnologias e/ou boas práticas que garantam sua qualidade, sendo este um dos

principais motivos para sua não comercialização no ano de 2015.

As variáveis necessárias para dimensionar a viabilidade social e econômica, bem como

dimensionar o mercado que está inserido o produto não foram detalhadas em pesquisa de

campo, como por exemplo: custos operacionais, rendimento do produto in natura, mão de

obra empregada, os agentes e as condições de comercialização (preço, custos, condições de

entrega, entre outros).

Assim, considerando que o Brasil é pioneiro neste tipo de produção, buscou-se estudos

de casos similares, observando as mesmas condições das existentes em Querência, para aferir a

viabilidade econômica, ponderar questões que são importantes para uma avaliação adequada

dessa cadeia produtiva e propor o fomento a esta produção em um cenário apto para o

estabelecimento do negócio.

Em coerência com o público alvo a que se destina as informações aqui organizadas,

adaptou-se a linguagem, principalmente nos itens relativos a orientação para implantação do

negócio, sendo inseridas notas explicativas nos trechos técnicos. Importante ressaltar que este

documento é exclusivamente orientador e instigador no que concerne a ideia da promoção da

produção de látex nos Projetos de Assentamento. Sendo necessários os aprofundamentos dos

dados específicos, de cada comunidade interessada, bem como o acompanhamento de

profissionais da área, como agrônomos e economistas. Recomenda-se também, a partir da

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decisão pelo estabelecimento do negócio, o intercâmbio junto a experiências bem-sucedidas,

na Amazônia.

1.2 - A Produção de Derivados do Látex no Brasil e Mato Grosso: um Negócio Comprovadamente Rentável

O mercado da borracha teve seu grande momento no Brasil entre a metade do século

XIX e a primeira década do século XX, quando o país detinha praticamente o monopólio da

produção mundial. Com a concorrência dos países do sudeste asiático, que começaram a

explorar o látex, a partir dos anos 80, de forma muito mais competitiva e produtiva, a produção

nacional sofreu um forte declínio. Somente a partir da década de 90, a seringueira voltou a ser

vista como uma oportunidade por instituições de pesquisa brasileiras, que passaram a aplicar

técnicas de cultivo na produção, ao invés de explorar a borracha pelo extrativismo.

Esta tendência incentivou pesquisadores a concluir que o Brasil teria um grande

potencial de se posicionar novamente no ranking mundial de produtores de seringueira,

principalmente devido alguns fatores como: clima favorável; novas técnicas de cultivo; grande

fronteira agrícola disponível no país para a exploração da cultura; o crescente interesse da

parte pública e privada pela seringueira; e ao positivo cenário do mercado heveicultor mundial.

A crescente demanda mundial por borracha natural e a diversidade da aplicação na

indústria conferem o elevado grau de importância econômica da heveicultura. Além disso, a

seringueira, cultura produtora da borracha natural, consolida-se como ótima alternativa para a

produção rural, por se tratar de uma atividade agrícola que, exceto pelo treinamento do

sangrador, é de fácil condução, além de fixar a mão de obra no campo. No Brasil, a seringueira

é cultivada em 12 estados: São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo,

Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Amazonas e Acre.

O setor que emprega uma pessoa por quatro hectares plantados (Portal Hevea Brasil,

03/03/16) é responsável pela geração de 80 mil postos de trabalho no país. A safra da

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seringueira é de 10 meses e, mantidas as técnicas adequadas de manejo do plantio, produzirá

látex por mais de 30 anos. Sua madeira também pode ser aproveitada, gerando renda para

renovação do seringal. Apesar de já haver no mercado a borracha sintética, obtida do petróleo,

as características de flexibilidade, resistência, impermeabilidade e capacidade de isolamento

elétrico são oferecidas apenas pela borracha natural (NETO & GUGLIELMETTI, 2012).

Mesmo com todas estas vantagens, de toda borracha comercializada,

aproximadamente, 50% é originária do continente asiático. Nacionalmente a heveicultura

possui histórica dependência da borracha importada que, atualmente, responde por 2/3 do

consumo no Brasil. Essa dependência é reflexo, principalmente, da crescente demanda das

indústrias automotivas e pneumáticas. Conforme informado pela Agência Nacional de

Transportes Terrestres - ANTT (2015), a frota de veículos de cargas aumentou de 1,3 milhão a

2,3 milhões de unidades, entre 2008 e 2014.

A balança comercial dos produtos florestais, apesar de positiva, com o saldo de US$ 7,4

bilhões em 2014 (SECEX/MDIC, 2014), sofre grande impacto da importação da borracha natural,

correspondendo a 24%, em média (2006-2014), da importação de todos os produtos florestais.

Em 2005, o Governo Federal incluiu na Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM a

borracha natural para os produtores rurais e cooperativas. O preço mínimo é estabelecido para

o coágulo, com 53% de DRC (dry rubber content), que representa o conteúdo de borracha seca.

Algumas regiões comercializam o coágulo com diferentes porcentagens de borracha seca,

sendo necessária à sua conversão para comparativo. Naquela época, o preço mínimo da

borracha seca foi estipulado em R$ 1,00. Desde então, houve evolução gradativa e atualmente

está em R$ 2,00 (maio/2015).

Quando o preço de mercado do produto está abaixo do valor de referência, o Governo

Federal concede subvenção econômica denominada Prêmio Equalizador Pago ao Produtor –

PEPRO. Essa política consiste na venda do produto pela diferença entre o valor de referência e

o valor do PEPRO, arrematado em leilão, obedecida a legislação do ICMS vigente em cada

Estado (CONAB, 2015). Apesar da tentativa do Governo Federal em garantir uma renda mínima

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para os heveicultores, o preço mínimo de R$ 2,00/kg não é suficiente para a manutenção da

cultura, em diversas regiões produtoras no país.

Sem uma organização social estabelecida, os pequenos produtores rurais, nos projetos

de assentamento se tornam meros coadjuvantes do processo produtivo. Empresários deste

setor contratam estes produtores para a atividade de sangria e coleta do látex. Ao empresário

proprietário cabe a comercialização e a manutenção do seringal. Na maioria das regiões

produtoras os sangradores recebem de 30% a 40% da produção, respondendo pelos tratos

culturais, sangria, coleta e transporte. Ao proprietário cabe o fornecimento de moradia e

insumos, administração e a comercialização. Ou seja, mais de dois séculos de luta pela

autonomia financeira dos seringueiros (mesmo que de floresta plantada), melhoria da

qualidade de vida nos Projetos de Assentamento e concentração da renda com o produtor,

temos de volta a Figura histórica dos “donos dos seringais”, por simples desinteresse e ausência

de políticas públicas que se ajustem a essa realidade.

Sabe-se que nem todo “sangrador é um “seringueiro5” e aqui não se trata de se opor

processo do capitalismo e devidas regras de mercado, no que concerne a estruturação de um

negócio rentável, seja ele público, privado ou comunitário. O que pode incentivar é a visão dos

arranjos comerciais e supor que o cenário nacional e mundial, para heveicultura, é propício

para Parcerias Público/Privada, Público/Privada/Comunitária, privada/Comunitária e que as

políticas públicas vigentes no país precisam alcançar esses grupos de interesses e vice e versa.

Nas regiões mais afetadas, muitos heveicultores estão desestimulados a permanecer na

atividade, suspendendo a sangria das árvores, ou como relatado por produtores do estado do

Mato Grosso, substituindo a seringueira por outras culturas agrícolas mais rentáveis. A médio e

longo prazo, essa situação agravará ainda mais a dependência brasileira na borracha importada.

Para conhecimento do custo de produção e entendimento dos fatores que afetam a

rentabilidade do seringal nas principais regiões produtoras do país, a Confederação da

5 Comunidade tradicional que explora o látex como fonte de subsistência.

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Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA incluiu, em 2013, a heveicultura no Projeto Campo

Futuro. Esse projeto conta com a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR,

da Universidade Federal de Viçosa – UFV e do apoio das Federações de Agricultura e dos

Sindicatos Rurais. A metodologia utilizada no Projeto Campo Futuro, denominada Painel,

consiste na definição da propriedade típica de produção da região estudada e levantamento

dos indicadores para o cálculo do Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total

(COT) e Custo Total (CT); Receita (RBT), Margem Bruta (MB), Margem Líquida (ML) e Lucro (L)

(Quadro 3).

Quadro 3- Indicadores da Atividade Produtiva do Látex

Fonte: Canal do Produtor, 07/08/2015

Os Painéis foram realizados em Guarapari (ES), Igrapiúna (BA), Monte Aprazível (SP),

Gaúcha do Norte (MT) e São Mateus (ES). Em 2015, Ituberá (BA) também foi incluído no

projeto. Após a realização dos Painéis in loco, a CNA acompanha mensalmente o preço dos

insumos utilizados na cultura e atualiza os custos de produção

Segundo o estudo do Projeto Campo Futuro, “Os produtores são os principais

prejudicados, pois, de maneira geral, como o sangrador recebe parte da produção, seu lucro é

sempre positivo, enquanto o lucro do produtor, dependendo do preço do coágulo e do custo de

produção, pode ser negativo, ou seja, ter prejuízo na produção. Apesar disso, a remuneração

que os sangradores têm tido não é suficiente para mantê-los na cultura, resultando em uma

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exigência no reajuste do percentual de parceria para até 55% da produção, agravando ainda

mais a situação econômica dos produtores, conforme relatado durante a realização dos

Painéis”. Esta situação relatada pela pesquisa se aplica a realidade dos heveicultores

empresários. Porém, estendendo esta realidade para os projetos de assentamento, com base

nos resultados do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de

Querência, (2016), olhando o fluxo migratório e a proporção de ocupação com atividades fora

dos PAs, conforme Figuras 15 e 16, respectivamente, entende-se que a intervenção das

políticas públicas vigentes, que asseguram o modelo da reforma agrária, deveria tornar viável

que o produtor investisse em seu próprio lote, em seu próprio negócio, apropriadamente por

meio de associação em sua comunidade.

Figura 15- Proporção de famílias pioneiras/residentes nos Assentamentos.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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Somente 14% dos moradores dos assentamentos são pioneiros, ou seja, estão desde

início da criação dos assentamentos; PA Brasil Novo e Pingo D’água são os que possuem mais

pioneiros, 25% e 21% respectivamente. Os demais possuem menos 6% de moradores pioneiros.

Figura 16 - Proporção de famílias prestadoras de serviço fora da Propriedade.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Do total de 762 moradores dos assentamentos, cerca 54% realizam outras atividades

econômicas fora do lote. Ainda segundo o estudo do Projeto Campo Futuro, independente do

modelo de produção, a heveicultura vem sendo prejudicada pela redução nos preços do

coágulo. Os resultados coletados mostram essa redução de preço, que em média foi de 27%

nas regiões avaliadas: São Mateus (-31%), Monte Aprazível (-30%), Igrapiúna (-28%), Gaúcha do

Norte (-22%) e Guarapari (-20%).

Os resultados mostram que as piores situações se encontram na região de Gaúcha do

Norte/MT, onde em nenhum mês durante o período avaliado, o preço de mercado do coágulo

esteve acima do COE (Figura1 7), e na região de Guarapari, onde somente durante os três

primeiros meses de avaliação (set-dez/2013), o preço do coágulo foi superior ao COE (Figura

18).

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Figura 17 - Variação do preço de mercado do coagulo 2014/2015 – Gaúcha do Norte/MT.

Fonte: UFV/CNA 2015

Figura 18 - Variação do preço de mercado do coagulo 2013/2015 – Guarapari/ES.

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Observa-se que a queda de preço de mercado do coágulo (Figura 18) é o principal fator

de impacto, pois o Custo Operacional Efetivo manteve-se com pouca variação, no período

avaliado. Os dados apresentados evidenciam que o país deverá estabelecer uma política de

fomento e incentivos fiscais à produção nacional para a heveicultura se tornar competitiva com

os principais produtores mundiais.

O cenário atual indica o desmantelamento de toda cadeia produtiva, formada por

produtores, sangradores, usinas de beneficiamento, viveiristas e produtores de insumos

específicos para a cultura. A dificuldade de competição com os principais produtores asiáticos é

a principal explicação para o cenário apresentado, seguida da ausência de estratégias para

posicionamento do produto no mercado interno nacional, uma vez que a demanda é bem

maior que a oferta, e o Brasil precisa importar para conseguir suprir sua necessidade.

Essa políticas precisam atuar na facilitação do acesso a tecnologias e assistência técnica.

A cultura da seringueira é perene, produz por até 30 anos, e inicia a sangria após o sétimo ano

do plantio. No entanto, o “payback”, que corresponde ao período necessário para a

recuperação do capital investido, é dado entre doze e quinze anos, com valor presente líquido

(VPL) positivo após 12 anos (FERREIRA et al, 2014). É imprescindível a elaboração de um plano

nacional para estímulo à reforma de seringais que possuem clones antigos e de baixa

produtividade, muitos deles recomendados pelo governo federal nas três edições do Programa

de Incentivo à Produção de Borracha Natural – PROBOR I (1972), PROBOR II (1977) e PROBOR III

(1982). Pretende-se com essas medidas melhorar a remuneração da cadeia produtiva da

borracha natural, como forma de atrair maiores investidores para a cultura e elevar a produção

de borracha natural no País. Essas medidas em conjunto contribuirão para, além da melhoria da

remuneração do produtor, a fixação do homem no campo, gerando empregos e

desenvolvimento rural, redução da dependência externa pelo produto e o impacto negativo na

balança comercial brasileira.

Impressiona o reduzido número de políticas públicas que poderiam incentivar terceiros

a investir neste setor. Principalmente para um país essencialmente agrícola e com várias

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iniciativas de assentar o homem no campo por meio da diversificação da produção. Sabendo

que o preço da borracha só tende a valorizar, comprovando-se por diversos motivos, tais como

os plantios não acompanham o crescimento do consumo; os países exportadores de borracha

não querem mais exportá-la in natura, preferindo vendê-la industrializada; a borracha sintética

é feita do petróleo, que além de ser um produto com reservas restritas, está numa crescente

valorização, que afeta diretamente o preço da borracha natural, empurrando-o para cima, estes

e tantos outros. Mesmo assim, o Brasil insiste em ignorar a tendência do mercado, deixando

sua produção cair e suas políticas agrícolas de maior vulto, representarem também as de maior

impacto ambiental.

2. Produção de Borracha no Município de Querência: Análise da Produção e Alternativas Viabilidade Econômica, Social e Ambiental

Do ponto de vista ambiental e econômico, a seringueira é importante para composição

da renda de pequenos produtores rurais e extrativistas, do ponto de vista social, para a fixação

do homem no campo, tanto em seringal nativo quanto em cultivado, dado que é um tipo de

produto que se encontra em produção durante todo ano. Em contrapartida, o extrativismo do

látex na região Amazônica tem pouca expressão, quando se considera o volume total de

borracha natural produzido no país e no exterior. Do seringal nativo, nessa região, um homem

obtém, por ano, de 500 a 600 kg de látex, e do seringal cultivado, mais de 20 toneladas/ano.

Como se vê, a preferência dos produtores por seringais cultivados pode ser visivelmente

justificada pelo volume do total produzido por ano.

O resultado do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de

Querência (2016) apontou como principal característica dos assentamentos, foco do estudo

(Brasil Novo, Coutinho União, Pingo D’água, São Manoel e Canaã), a diversidade de portfólio e

estratégias produtivas. Para a classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos

assentamentos, foi estabelecido pela atividade principal importância econômica no lote no ano

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de 2015. O Estudo identificou que todos os produtores entrevistados trabalham com base à

produção diversificada, no entanto, a importância da produção de uma determinada atividade

produtiva na composição da renda familiar, indica o direcionamento da especialização para

uma ou mais produção.

Durante o processo de tipificação dos grupos, não foi identificada atividade produtiva

do látex contribuindo com a composição da renda das cinco famílias entrevistadas que

possuíam cultivo de seringa, de forma a definir como atividade principal, nem tampouco como

atividade complementar, conforme Figura 20 da composição da renda bruta (RB), a seguir:

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Figura 20 - Composição da renda bruta (RB) dos produtores nos PAs, em Querência/MT.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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Esse aspecto se justifica pela distribuição das áreas com cultivo de seringa, no município

de Querência, bem como o baixo preço do produto no ano de 2015 que levou a não colheita do

látex.. A partir de levantamento de dados secundários, o Diagnóstico da Produção Familiar e

Opções de Mercado No Município de Querência (2016), detectou que o município possui 1966

hectares de plantio de seringueira, onde 64% estão no ciclo de produção, 35% estão em fase de

implementação (crescimento e plantio), e somente 1% estão abandonadas e que desse plantio,

79% encontram-se na área de 05 fazendas do município (Figura 21). Este fato leva a baixa

produção nos assentamentos, onde somente 180 hectares, 9% do plantio, se encontram em

áreas de pequenos produtores, nos PAs (Figura 22)

Figura 21- Composição das áreas de plantio dos seringais, em fazendas, no município de

Querência/MT (2015).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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Figura 22 - Distribuição das áreas de plantio dos seringais, no município de Querência/MT em hectare (2015).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Ainda segundo o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município

de Querência (2016), o município reage com uma série de ações estratégias, dentre elas adotar

políticas de contenção de desmatamento e queima orientada pelo Ministério do Meio

Ambiente, buscar alternativas produtivas, especialmente para agricultura familiar (plantio de

seringueira e pupunha) e adoção do Cadastro Ambiental Rural, por exemplo. Paralelo a essas

ações, a expansão do cultivo da soja aumenta no município, pela tecnologia, e intensifica a uso

das áreas já abertas (IPAM 2015).

Segundo Machado (et al., 2014), com o objetivo de quebrar a sazonalidade e minimizar

a carência inerente a heveicultura, foi proposto o consorciamento com banana maçã nos

corredores do seringal até o quarto ano e seguida seria plantado cacau até o sétimo ano.

Estudos apontam ainda que a este cultivo pode-se somar o milho, o abacaxi e leguminosas.

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Assim, chegaram-se as seguintes considerações, para reflexão:

1. Considerando as diretrizes apontadas no Plano de Combate ao Desmatamento e

Queimadas do Estado do Mato Grosso – PPCDMT, no Eixo III - Fomento às atividades

sustentáveis, Componente 4. Cadeias Produtivas Sustentáveis, Alternativas Tecnológicas e de

Negócios (gestão de ações para negócios sustentáveis de cunho agrícola, florestal e extrativista,

focados em ganhos de produtividade produção/área) que facilitem a manutenção de sistemas

de controle de origem e certificação, onde se destaca a produção extrativista e, em um futuro

investimento no cultivo da seringueira voltado ao sequestro de carbono.

2. Considerando o potencial de consorciar espécies em um cultivo de seringueira,

diversificando a produção;

3. Considerando a identificação pelo Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de

Mercado No Município de Querência (2016), da tipificação dos grupos de produtores existentes

nos Projetos de Assentamentos, onde temos o Grupo da Agricultura Familiar e o Grupo da

Diversificação da produção;

4. Considerando que, ainda segundo o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções

de Mercado No Município de Querência (2016), nos Projeto de Assentamento (PAs), foi

identificada atividade pecuária extensiva e o alto custo de insumos e mão-de-obra para

atividade de recuperação da pastagem, das quais se encontram na sua grande maioria

degradada com muita presença de sapé e cupins, indicando alto grau de degradação, e com

presença de erosão;

5. Considerando que a diversificação da produção consegue minimizar laços de

dependência de agentes externos, reduzindo as relações mercantilizadas, criando um

agroecossistema com uma diversidade econômico-ecológica e social que lhe garante uma

estabilidade e flexibilidade, aproveitando as oportunidades que surgem no mercado local.

Conclui-se que, a partir da análise de considerações citadas acima e da aptidão agrícola

e de diversificação da produção apontada no Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de

Mercado No Município de Querência (2016), e embasados nos demais autores já citados neste

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documento, deve-se fortalecer o cultivo da seringueira, com a consequente ampliação da área

plantada e a organização da atividade nas áreas de cultivo já existentes e produtivas, dos cinco

assentamentos do INCRA no município de Querência/MT, a saber: Brasil Novo, Canaã, Coutinho

União, Pingos D’Água e São Manoel, dos quais representam 5,6% da área municipal (IPAM

2015).

3. Característica da Cadeia de Produtiva do Látex no Município de Querência/MT

Elos da cadeia de valor (Figura 21), por Machado (et al., 2014):

1 – T1: Os fornecedores de insumos e serviços, que manufaturam máquinas e

equipamentos para todo o sistema, além de prestar serviços de assistência técnica.

T1.1 para o produtor, produz canecas, arames, ferramentas de sangria, ácidos

coagulantes, adubos, fertilizantes, hormônios e mudas de seringueira.

T1.2 para as usinas de beneficiamento de borracha, produz máquinas, fornos,

esteiras e prensas;

2 - T2: O viveirista que fornece a muda da espécie para o heveicultor/investidor que

quer expandir seu seringal.

3 - T3: O heveicultor/produtor, que realiza todo o investimento na plantação e cultivo

dos seringuais visando extrair o látex virgem.

4 - T4: A indústria de beneficiamento de borracha, que possui a função de coletar a

borracha in natura nas propriedades rurais, lavar, moer, esquentar, prensar, pesar e embalar a

borracha, para assim formar o GEB, que é a referência de preço para o setor (HEVEATEC, 2010).

5 – T5: A indústria que se divide em dois tipos:

T5.1: indústria leve (setores hospitalar, brinquedos, vestuário, calçados,

construção civil, maquinário agrícola e industrial e autopeça).

T5.2: indústria pesada (pneumáticas).

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Durante o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de

Querência (2016), foi identificada (Figura 23) a seguinte cadeia produtiva do látex:

Figura 23 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da borracha nos PAs, no Município de Querência em 2015.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

De acordo com Machado (et al., 2014), podemos afirmar que o elo da cadeia T4,

representa uma parte do trabalho a ser desenvolvido, justamente no que se refere ao

estabelecimento da relação de compra e venda, precificação do produto e retirada desse

produto do campo. Porém na Figura 24, temos no “comprador da produção” uma pessoa física,

em um papel de intermediário entre o heveicultor /produtor e a agroindústria em São Paulo.

O diagnóstico apontou esse personagem atuando somente nos Projetos de

Assentamento. Na cadeia de produção estabelecida nos negócios da borracha natural, nas

fazendas produtoras, a relação se dá diretamente com as agroindústrias, conforme descreve

Machado (et al., 2014), em situação ideal da relação entre os elos dessa cadeia.

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Figura SEQ Figura \* ARABIC 24 – Fluxo da Cadeia Agroindustrial da borracha natural.

Fonte: Machado et al., 2014

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Impulsionando toda essa cadeia, existem órgãos e associações que regulam suas

atividades, preços mínimos, incentivos fiscais e custos, entre eles, a título de exemplo, o

Ministério da Agricultura, que tem como objetivo de atender o consumo interno e ainda formar

excedentes para exportação, executando políticas integrando aspectos mercadológicos,

tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais e a Associação Paulista de Borracha

(APABOR) que tem como objetivo auxiliar os produtores e beneficiadores de borracha natural

associados em todos os seus interesses comuns. Possibilitando maior proteção e valorização

técnica de seus produtos, além de colaborar com os órgãos do governo, na elaboração,

implantação, proteção e execução de programas relacionados com o desenvolvimento agrícola,

industrial e tecnológico do país.

4. Cenário da Produção de Borracha

Em uma análise da pesquisa “Custos e Rentabilidade da Seringueira em Diferentes

Cenários de Preço e Produtividade” (Mapa/Ceplac/Cepec, 2014), das orientações do SENAR e da

pesquisa “Custo de Produção e Rentabilidade da Cultura da Seringueira”, do Instituto de

Economia Agrícola - Comissão Especial para Estudos de Custos e Preços Reais da Borracha

Natural, propõe -se um cenário para o negócio da borracha natural em Projetos de

Assentamento, no município de Querência/MT.

Buscou-se proporcionar elementos decisórios por meio de estimativa de custos

operacionais e análise de indicadores de rentabilidade de um sistema de produção de

seringueira considerado sistemas que geram maior lucro e sejam condizentes com a realidade.

Porém, uma certeza proeminente é de que sem investimento, os 180 hectares existentes, nos

PAs, em Querência, não irão produzir de forma adequada, bem como aponta-se a necessidade

de ampliação dessas áreas.

Nesta projeção, estabelecemos que o seringal estava em seu 10º ano em 2016. Porém,

no ano de 2015 não houve exploração da produção. Dessa forma, vamos calcular como se o

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Tabela 10- Cadeia Agroindustrial da Borracha Natural

heveicutor/produtor fosse realizar o investimento da segunda colheita após 7 anos de carência,

uma vez que os insumos, como os painéis e demais investimentos, se perderam no ano de

2015.

Segundo Machado (et al., 2014), em relação ao nível de capital necessário para ingressar

na cultura, o investimento se resume em: custo da muda; o custo inicial para preparação do

solo; custo de adubação; o custo dos painéis; custo de manutenção do mato em volta do

seringal; custo da terra durante a carência de 7 anos. E os custos pós-seringal são: de mão-de-

obra, adubos e da terra.

Para conhecimento e posterior aprofundamento, temos a Tabela 10, ilustrando os

custos dos anos de implementação com custo total de implementação por hectare,

representando todo o investimento realizado até o fim da carência econômica oriunda da

cultura (7 anos). No caso dos 180 hectares nos projetos de assentamento, supõe-se que já

estejam compostos e que passaram por este período de instalação (carência) e que,

atualizando os valores, o investimento teria sido semelhante ao que se apresenta na Tabela 10.

Fonte: Machado et al., 2014.

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Importante considerar em relação ao sistema de sangria:

1 - Em relação ao RRIM 600, que é o clone mais plantado em São Paulo e demais regiões

produtoras, o melhor sistema de sangria adotado foi o D3, com estimulação a 2,5%. Ele deu um

ganho líquido de 47% sobre a testemunha, que é o sistema D2;

2 - Em relação ao GP1, que é um clone da Malásia, o melhor sistema adotado foi o D7,

também com uso de estimulantes a 2,5%, dando uma rentabilidade 61% superior em relação ao

sistema D3, utilizado normalmente;

3 – Em relação ao PR 255, o melhor sistema adotado foi o D3, a 2,5%, que rendeu 43% a

mais do que a testemunha, que é o sistema D2;

4 – Em relação ao PB235, o mais eficiente foi o sistema D7, a 2,5%, que gerou um ganho

de 14% em relação à testemunha, que é o D2;

5 – Em relação ao IA873, este rendeu 39% em relação à testemunha com o uso do

sistema D7;

6 – Em relação ao PR 261, o melhor rendimento foi obtido no sistema D4, com

estimulação a 2,5%, gerando um ganho 92% superior à testemunha.

A Metodologia de custo de produção foi baseada em Martin et al. 1998. A Concepção de

curto prazo, remuneração do capital, terra e empresário não são computadas, supondo-se que

isso se fará pela renda líquida.

Estrutura:

a) custo operacional efetivo (COE): despesas efetuadas com mão de obra, encargos

sociais (40% sobre o valor da despesa com mão de obra), operações de

máquinas/equipamentos, veículos e materiais consumidos ao longo do ciclo da cultura;

b) custo operacional total (COT): o COE acrescido da Contribuição à Seguridade Social

Rural - CSSR (2,3% do valor da renda bruta), depreciação de máquinas e do seringal, encargos

financeiros que se refere aos juros de custeio à taxa de 8,00% a.a. sobre o COE, despesas com

mão de obra de fiscal e serviços de assistência técnica.

Tomando como base um seringal onde foi investido 630 mudas RIM 600 por hectare

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com 10% de perda para replantio e espaçamento lateral entre as árvores de 8 metros, e 2,5

metros entre a árvore da mesma linha a frente, em 100m x 100m, cada hectare comporta

aproximadamente 500 árvores/ha. Com sistema de sangria D46, 6d/77, ET 2,5%8, em meia

espiral, ½S9. Produtividade de 7kg Cg/árvore10 = 2.800 Kg Cg/hectare e DRC 53%. BSV = 1484 kg

BSV. Na tabela 2 temos os componentes do custo de produção (Tabela 11).

Tabela 11 - Participação Percentual dos Itens Componentes do Custo de Produção para a Cultura da Seringueira, Sistema de Produção D4, Produção de 2.800kg de Coágulo, Hectare

Fonte: Instituto de Economia Agrícola 2015

Na tabela 12, temos diferentes projeções relacionadas a diferentes precificações do

6 A frequência de sangria mais utilizada hoje é a que apresenta um intervalo de sangria de 4 dias ou d/4. D4, com a sangria a cada quatro dias,

num total de oito hectares 7 Seis dias da semana, seguido por um dia de descanso

8 Com o objetivo de se obter um fluxo (escoamento) de látex por um maior período, visando aumentar o intervalo entre duas sangrias,

diminuindo, assim, o consumo de casca e a quantidade de mão-de-obra, sem prejuízo da produção, adotou-se a prática de aplicação de produtos

químicos na árvore. Estimulação por ET=Eterfon. 9 Meia espiral - representado por ½S ou S/2. É o sistema, normalmente, mais utilizado, pois divide o perímetro ou circunferência da árvore em

dois painéis de sangria exatamente do mesmo tamanho ou comprimento, permitindo-se obter uma boa produção sem comprometer a vida útil da

árvore. 10

Alguns pesquisadores afirmam que a produtividade do sistema D4 chega a 8kg/arvore.

http://www.heveabrasil.com/?page=simulacao_receita_despesa.asp

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produto.

Tabela 12- Análise da Rentabilidade para Diferentes Valores de Preços Recebidos.

Fonte: Instituto de Economia Agrícola 2015

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5. Recomendações

A análise de viabilidade visa obter indicadores que recomendem ou não o investimento

no projeto de exploração de látex. No caso dos PAs, onde já se tem o investimento com 180

hectares implantados. Nesse sentido, segundo as análises apresentadas recomenda-se:

1- A continuidade do negócio, que se siga investindo, diagnosticando a situação dos

180 hectares de seringais, atualizando as técnicas para uma maior produtividade e

buscando estabelecer os elos da cadeia de valor corretamente;

2- Investir em novas formas de organizar-se para o mercado, tais como a organização

em cooperativa para o estabelecimento das relações produtivas e comerciais,

principalmente o fechamento de contratos visando a comercialização da produção,

em preços acima de R$2,45/kg e a superação da pessoa física identificada na cadeia

de valor, ora adotada; também se sugere um trabalho relacionado à busca de

investidores e compradores;

3- A ampliação dos seringais, já prevendo seu consorciamento com milho, abacaxi e

leguminosas e com banana maçã nos corredores do seringal até o quarto ano e, em

seguida, plantar cacau até o sétimo ano, proporcionando a geração de renda nos 7

anos de carência;

4- Contratação de consultoria especializada e/ou a parceria junto a instituições, sobre a

possibilidade da instalação de sistemas agroflorestais visando o consorciamento de

espécies madeireiras e não madeireiras, nas áreas dos seringais em produção;

também se sugere que sejam identificadas e recuperadas as áreas dos seringais

abandonados;

5- Que os produtores interessados busquem, antes de tudo, conhecer o negócio da

produção de borracha natural e que lancem mão do recurso de intercâmbio em

casos de sucesso em realidade semelhante;

6- Que o governo promova fomento com financiamento/crédito a baixos juros para

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implementação do cultivo, principalmente em área que necessitam serem

recuperadas;

7- Que governo municipal discuta e desenvolva um plano de desenvolvimento para o

setor, levando em consideração toda a cadeia produtiva e os órgãos envolvidos na

cadeia, por exemplo, a melhora do serviço de ATER, infraestrutura para escoamento,

buscar estabelecer uma política de subsídio à borracha, com exemplo do estado do

Acre com a produção de borracha natural;

Por fim, recomenda-se que junto às áreas de cultivo se associe o processo de redução

de emissões de carbono11, recomposição de áreas de reserva legal e utilização como madeira12,

após seu ciclo de vida de 30 anos, ou antes disso em reaproveitamento (se for o caso).

Apesar do grande o número de despesas, os custos do negócio são relativamente

baixos. O que mais encarece a plantação de um seringal é a carência, que traz os custos de

oportunidade da terra, ou seja, nesse período o produtor deixa de explorar economicamente a

terra e não possui nenhum tipo de renda (Machado et al., 2014). A solução mais rentável é o

consorciamento, como foi citado anteriormente.

Portanto conclui-se que as barreiras de entradas são baixas, mesmo sendo necessária

certa curva de experiência para ingressar no setor, ao se colocar na balança todos esses pontos

como: custos moderados e o incentivo governamental para fomentar a economia. Assim,

buscando a autossuficiência em produção de borracha natural, o governo brasileiro possui

interesse no crescimento da produção brasileira, oferecendo através do BNDES (Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social) empréstimos a juros baixos e prazos longos para essa

cultura, entre outras fontes de apoio, como por exemplo o próprio Fundo Amazônia/BNDES.

11

Em 100 ha de seringueira, para um ciclo de 30 anos, estima-se a produção de 6 mil toneladas de carbono orgânico na biomassa, ou seja,

22.020 toneladas de CO2. Se convertida em títulos certificados de emissões reduzidas, esta produção pode render US$ 67.000 com a venda de

créditos de carbono, sem considerar o carbono fixado na borracha e o CO2 potencial de emissões evitadas (HEVEA BRASIL, 2010). 12

No Vietnã, a meta de exportação de móveis produzidos com madeira de seringueira chegou a US$ 4 bilhões. Já realizado com sucesso em

países como Tailândia, Malásia e Indonésia, no Sudeste Asiático (KRONKA, 2010).

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2. Cadeia Produtiva da Piscicultura nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT

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2.1 - Introdução

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, o

mundo produziu 148,3 milhões de toneladas de pescado em 2010, sendo que 128 milhões de

toneladas para o consumo humano – uma média de 18,4 kg per capita. Considerando o

aumento populacional, a FAO projeta que serão necessários no mínimo 100 milhões de

toneladas adicionais para se manter a média de consumo per capita atual em 2030, aumento

este que deverá ser suprido essencialmente pela aquicultura, o que contribuirá para a inserção

do Brasil no mercado internacional.

A previsão é de que até 2015 o consumo anual brasileiro de pescado passará dos atuais

9 kg para 13,8 kg por habitante/ano. Como a população brasileira está por volta de 200 milhões

de habitantes, a cada quilo de incremento de consumo precisamos produzir mais 200 mil

toneladas de pescado, ou o país será ainda mais dependentes da importação do que é hoje. A

fim de atender a essa demanda, o ritmo da produção deverá aumentar em torno de 19% ao

ano. Deve-se levar em conta que o crescimento do consumo em outros países também

aumenta anualmente e de forma cada vez mais acelerada (BRASIL, 2012).

O Estado de Mato Grosso produziu em 2011, aproximadamente, 49 mil toneladas de

peixes cultivados em água doce, se tornando o terceiro maior produtor nacional e o maior

produtor na região Centro-Oeste (MAPA, 201113). Dentre os grupos de peixes mais cultivados,

destacam-se os peixes redondos (formados pelas espécies nativas pacu e tambaqui e seus

híbridos tambacu e tambatinga), bagres de couro (pintado) e os brycons (piraputanga e

matrinxã).

Mesmo que no Brasil exista uma grande concorrência com peixes importados, como o

salmão e panga, e os exóticos produzidos internamente, como tilápia e carpa, espécies que já

têm uma cadeia produtiva desenvolvida, o mercado ainda comporta o pequeno produtor,

organizado por meio de cooperativas e atendendo a uma cadeia pré-estabelecida, orientada

13

Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura. MAPA, 2011.

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por pesquisadores da área e principalmente voltada a espécie do tambaqui e pintado.

A produção de tambaqui na Região Norte do Brasil é, certamente, um caso de sucesso

na piscicultura brasileira, que vem apresentando as maiores taxas de crescimento no país,

acima de 17% ao ano na última década, sendo o tambaqui a principal espécie produzida,

respondendo por mais de 90% do volume total. De pouco menos de 5.000 toneladas anuais, há

dez anos atrás, sua produção atual superou as 65.000 toneladas distribuídas nos estados do

Norte (Nova Aqua, 2015).

Assim, entende-se que o estado de Mato Grosso possui as características da Amazônia

Brasileira, propícias para atividade da piscicultura, bem como dispõe de facilidades para o

estabelecimento desta atividade produtiva que são a alta disponibilidade de produtos para a

indústria de ração, abundância de água doce, clima favorável e experiências bem-sucedidas

nesta cadeia de valor, estando posicionado como um dos maiores produtores da Região Centro

Oeste.

Neste recorte, propõe-se o fortalecimento da cadeia produtiva da piscicultura, em

particular as espécies mais produzidas (tambaqui e pintado) e comercializadas pelos

produtores, nos Projetos de Assentamento. Citamos também que esta cadeia de valor contribui

para o alcance da meta de refreamento do desmatamento, assumida pelo estado de Mato

Grosso em seu Plano de Combate aos Desmatamentos e Queimadas, sendo comprovadamente

uma atividade de baixo impacto ambiental, a partir de sua implementação por tanques. Atua

ainda, no fortalecimento das ações de REDD, promovendo a regularização ambiental dos lotes

nos Projetos de Assentamento (PAs) e o consequente acesso ao planejamento ambiental e

econômico desses imóveis rurais e demais facilidades de acesso a crédito.

O processo de análise e proposição teve como ponto de partida a constatação da cadeia

produtiva da piscicultura (espécies regionais), existente nos PAs do município de Querência.

Percebe-se a ausência de processamento do produto no elo assumido pela cooperativa,

fazendo com que o ganho pela agregação de valor não retorne aos produtores/cooperados.

Outro ponto forte, percebido no Diagnóstico da Produção Familiar nos assentamentos do

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município de Querência, foi a desagregação dos produtores em relação a orientação para

organização da produção e foco na comercialização, principalmente no alcance do volume

necessário à aquisição e manutenção de contratos, negociação de melhores preços e etc. As

variáveis necessárias para dimensionar a viabilidade social e econômica, bem como

dimensionar o mercado em que está inserida a cadeia de valor não foram, quando

identificadas, possíveis de serem aprofundadas na pesquisa de Pesquisa de Campo, a saber:

custos operacionais, rendimento do produto in natura, mão de obra empregada, os agentes e

as condições de comercialização (preço, custos, condições de entrega, entre outros).

Assim, considerando que o Brasil, nos últimos anos, investiu e segue investindo na

piscicultura, buscaram-se estudos de casos similares, observando as mesmas condições das

existentes em Querência, para aferir a viabilidade econômica, ponderar questões que são

importantes para uma avaliação adequada dessa cadeia produtiva e propor o fomento a esta

produção em um cenário apto para o estabelecimento do negócio. Portanto, além da

bibliografia descrita, foi tomado como base a publicação “A cadeia da produção e o preço do

tambaqui” (Panorama da aquicultura, 2015), a pesquisa “Caracterização e prospecção da

cadeia produtiva da piscicultura no Estado de Rondônia” (Universidade Federal de Rondônia,

2013) e a pesquisa “Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso” (Instituto Mato-Grossense de

Economia Agropecuária /Cuiabá, 2014).

Em acordo com o público alvo a que se destina as informações aqui organizadas,

adaptou-se a linguagem, principalmente nos itens relativos a orientação para implantação do

negócio, sendo inseridas notas explicativas nos trechos técnicos. Importante ressaltar que este

documento é exclusivamente orientador e instigador no que concerne a ideia da promoção da

produção de peixe nos Projetos de Assentamento, sendo necessários os aprofundamentos dos

dados específicos, de cada comunidade interessada, bem como o acompanhamento de

profissionais da área, como agrônomos e economistas. Recomenda-se também, a partir da

decisão pelos ajustes e ampliação do negócio, o intercâmbio junto a experiências bem-

sucedidas, com referência em Parcerias Público-Privada-Comunitária – PPC e direcionada a

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Figura SEQ Figura \* ARABIC 25- Evolução da aquicultura no Brasil.

Fonte: UFMS, 2008.

organização da produção e a indústria de processamento de peixes.

2.2 - A Piscicultura no Brasil e Mato Grosso: Crescimento rumo à sustentabilidade e ao combate à fome

Desde 1970, a aquicultura mundial vem apresentando índices médios anuais de

crescimento de 9,2 %, comparados com apenas 1,4 % na pesca extrativista e 2,8% na produção

de animais terrestres (SEAP, 2007).

Em 1998, o Brasil tinha 96.657 aquiculturas, que cultivavam 78.552 hectares de espelho

d’água. Em 2001, estima-se que este número era de aproximadamente 128.000 produtores e

que o aumento na área cultivada tenha sido da ordem de 40 % em relação a 1998 (SEAP, 2007).

A Figura 25, abaixo, nos mostra a produção de pescado no Brasil no período de 1995 a 2005.

Na última década a produção de pesca no Brasil, como podemos notar na Figura 22 era

cerca de 650 milhões de toneladas, em 10 anos a produção quase dobrou, um crescimento de

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aproximadamente 44.000 toneladas ao ano. Neste mesmo período, no país, houve a

disseminação da prática de piscicultura, o que colaborou claramente para este crescimento,

como pode ser percebido na Figura 26.

Figura 26 - Comparativo entre a produção extrativa e aquicultura de pescado brasileira.

Fonte: UFMS, 2008.

A Figura 26, mostra que no Brasil, no período compreendido entre 1995 e 2001, a

atividade da piscicultura experimentou significativo crescimento, afirmando-se como

importante atividade para o país no setor do agronegócio.

A piscicultura comercial brasileira firmou-se como uma atividade econômica no cenário

nacional da produção de alimentos a partir dos anos 80, isso se tornou possível devido à

existência de tecnologia compatível com uma criação racional, viabilizando diferentes

processos de produção que permitem o escoamento da produção, tanto em larga como em

pequena escala (Martin et al., 1995). Sendo que nos anos de 1990, a produção de pescado

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cultivado era de 25.000 toneladas/ano (SEAP, 2005). O valor da produção aquícola brasileira em

2001 chegou a um total de US$ 256.800.000,00, sendo US$ 80.000.000,00 decorrentes

piscicultura tropical (Agência Nacional de Águas, 2005).

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a

aquicultura é a mais rápida das atividades agropecuárias em termos de resultados produtivos e

uma das poucas capazes de responder com folga ao crescimento populacional, o que pode

contribuir para o combate à fome em todo o mundo. No Brasil, em 2009, a produção total da

aquicultura, foi de 415.649 t sendo 337.353t da piscicultura, das quais 81,2% foram oriundas da

produção de organismos aquáticos continentais (MPA, 2010).

A pesca baseia-se na retirada de recursos pesqueiros do ambiente natural. Já a

aquicultura é baseada no cultivo de organismos aquáticos geralmente em um espaço confinado

e controlado. A grande diferença entre as duas atividades é que a primeira, por ser extrativista,

não atende às premissas de um mercado competitivo. Já a aquicultura possibilita produtos mais

homogêneos, rastreabilidade durante toda a cadeia e outras vantagens que contribuem para a

segurança alimentar, no sentido de gerar alimento de qualidade, com planejamento e

regularidade.

De acordo com cadastro cedido pelo IMEA-MT, existiam 994 produtores de peixe em

Mato Grosso até janeiro de 2014, distribuídos por todo o Estado. Assim, após o conhecimento

da população, foi feita a seleção das regiões mais representativas em despesca de 2013. Foram

encontrados 28 municípios que representavam mais de 90% da despesca realizada em 2013.

Esses municípios foram divididos em seis núcleos de acordo com a localização e logística

intermunicipal (Tabela 13).

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Tabela 13- Municípios Representativos em Produção de Peixe do Estado de Mato Grosso.

Como se percebe na tabela 13, o município de Querência/MT ainda não se encontra

inserido dentre as localidades com produção de peixe mais expressiva. Com relação ao local

onde residem os piscicultores de Mato Grosso foi constatada uma predominância da área rural,

atingindo o valor de 74,12% da amostra estadual, e o restante da amostra (25,88%) afirmou

residir na área urbana de seus respectivos municípios (IMEA, 2014).

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[email protected] - 83 Figura SEQ Figura \* ARABIC 27 - Organizações Participantes

da Pesquisa do IMEA/MT.

Fonte: IMEA 2014

Em relação às entidades representativas de classe, foram identificadas no Estado de

Mato Grosso, a Associação dos Criadores de Bovinos (ACRIMAT), Associação dos Produtores de

Soja e Milho de Mato Grosso (APROSOJA), Associação dos Aquicultores do Estado de

Mato Grosso (AQUAMAT) e a própria Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato

Grosso (FAMATO). Porém, a pesquisa realizada pelo IMEA encontrou resultados que apontam a

necessidade de um trabalho mais assíduo com os piscicultores para que exista conscientização

deles sobre uma melhor organização, seja por vínculo a sindicatos, cooperativas ou associações.

A Figura 27 apresenta os resultados encontrados pela pesquisa. Percebe-se que 54,98%

afirmaram não serem associados ou participarem de alguma entidade para a representação da

classe; 22,51% afirmaram que participam de associações de produtores de peixes; 11,69%

relataram que participam dos sindicatos rurais de suas respectivas regiões; outros 9,52%

afirmaram que participam de cooperativas; e 1,30% não responderam à questão. Sobre os

principais motivos para se iniciar a atividade da piscicultura no Estado de Mato Grosso, em

acordo com a Figura 28, abaixo, 30,07% da amostra estadual afirmou que o gosto pessoal pela

atividade foi o motivo que mais pesou na escolha de entrar; em segundo lugar, a

disponibilidade de água foi o fator mais importante para se iniciar a piscicultura no Estado. A

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Figura SEQ Figura \* ARABIC 28 - Motivação para Desenvolver piscicultura no

Estado do Mato Grosso.

necessidade de diversificação na propriedade rural e alto retorno do investimento

representaram 15,85% e 11,66%, respectivamente.

Fonte: IMEA 2014

No que se refere às atividades que eram exercidas antes da piscicultura pelos

entrevistados, percebe-se que os resultados para a amostra estadual foram de 34,59% de

participação da bovinocultura de corte; o mesmo valor, isto é, 17,67% de participação para as

atividades de agricultura e outra atividade; 16,54% de participação para a bovinocultura de

leite; 12,41% de participação para os que não exerciam nenhuma atividade; e 1,13% de

participação da atividade florestal (Figura 29).

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Figura 29 - Atividade agropecuária que era exercida pelos entrevistados antes de iniciar o empreendimento piscícola em Mato Grosso.

Fonte: IMEA, 2014

A bovinocultura de corte ainda é presente, com 33,85% da amostra estadual afirmando

que essa é a atividade desenvolvida em paralelo ao empreendimento piscícola. Porém, em

segundo lugar na participação de respostas afirmativas, 26,54% afirmaram não exercer

nenhuma atividade em paralelo, mostrando o ganho de importância da piscicultura (Figura 30).

Figura 30 -Atividade agropecuária exercida em paralelo à piscicultura pelos entrevistados pelo IMEA em Mato Grosso.

Fonte: IMEA 2014

A pesquisa do IMEA chegou a conclusão, sobre a piscicultura no estado do Mato Grosso,

para o produtor que possui vontade de empreender, essa cultura tem um fácil manejo diário,

alta produtividade, diversos sistemas de produção compatíveis a cada situação do produtor,

além de um amplo número de espécies nativas com potencial econômico para a exploração. O

estado possui uma grande produção de grãos para a ração e uma geografia favorável, com

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grande disponibilidade hídrica e clima estável, adequados ao crescimento animal.

Por outro lado, faltam pesquisas para explorar todo esse potencial zootécnico, há

poucas informações mercadológicas, carência de quantidade e qualidade da mão de obra

especializada e, a falta de estratégia pública para o desenvolvimento da cadeia gera leis

complexas e burocráticas em relação ao meio ambiente e um crescimento desalinhado entre os

elos da cadeia. Ao mesmo tempo, gera risco à sanidade animal, uma vez que não existe um

protocolo padrão para evitar e controlar possíveis doenças, bem como inexistência de fármacos

específicos para a piscicultura.

O importante é se buscar a excelência na produção, os investimentos necessários e um

produto de baixo custo, de fácil acesso e preparo para o consumidor final, com o propósito de

competir diretamente com os filés de peixes congelados importados e outras carnes presentes

no mercado.

2.3 – Análise da Cadeia da Piscicultura no Município de Querência/MT

a) Análise da produção e alternativas para viabilidade econômica, social e ambiental

O resultado do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de

Querência, apontou como principal característica dos assentamentos, a diversidade de portfólio

e estratégias produtivas. A classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos

assentamentos foi estabelecida pela atividade principal importância econômica no lote no ano

de 2015. O Estudo identificou que todos os produtores entrevistados trabalham com produção

diversificada, no entanto, a importância da produção de uma determinada atividade produtiva

na composição da renda familiar, indica o direcionamento da especialização para uma ou mais

produção.

Durante o processo de tipificação dos grupos, foi identificada atividade produtiva da

piscicultura na proporção de 53%, de forma a definir como atividade principal do Grupo Criação

de Pequenos Animais, onde além da atividade de piscicultura dominante nesse grupo (53%),

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foram identificadas também criação de aves, suínos e ovinos. A piscicultura também foi

apontada como atividade complementar (1%) no Grupo Agricultura, onde a produção de soja

alcança 69% da composição da renda bruta.

A partir de levantamento de dados secundários, o Diagnóstico da Produção Familiar e

Opções de Mercado No Município de Querência (2016), detectou ainda que as atividades

produtivas das propriedades correspondem em média com 75% do valor bruto total da

produção dos entrevistados. A renda não-agrícola é uma realidade na composição da renda

bruta total de quase todos os grupos, com exceção somente do grupo de pecuária de corte que

não a possuem.

Porém, em relação à atividade produtiva da piscicultura, no Grupo Criação de Pequenos

Animais, chama atenção a proporção da renda agrícola (69%) em comparação a renda não-

agrícola (31%), na tabela 14, gerada com o restante da aptidão do Grupo, a criação de

pequenos animais, entre eles, o peixe, sendo que, em proporção para este último, temos 53%

da RB, encerrando então somente 21,39% da Renda Bruta Total (RBT= renda agrícola + não-

agrícola). Assim, conclui-se que, mesmo com os investimentos para o estabelecimento da

cadeia da piscicultura, por parte dos produtores, ainda se faz necessário conhecer a realidade

da piscicultura familiar e de suas relações com as demais atividades existentes na propriedade;

priorizar as demandas tecnológicas e não tecnológicas; promover avaliações de impacto da

piscicultura e fortalecer o associativismo/cooperativismo entre os piscicultores de cada PA

promovendo a união e ação conjunta entre produtores de diferentes Projetos de

Assentamentos (PAs).

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Tabela 14 - Comparação da proporção na renda bruta (RB), das origens agrícola e não-agrícola nos PAs, no município de Querência/MT.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

As propriedades visitadas durante o Diagnóstico foram observadas com o objetivo de

avaliar como a piscicultura se comunica com os sistemas de produção agropecuários existentes

na propriedade. Esta abordagem relaciona os aspectos econômicos, sociais e ambientais,

contribuindo para o direcionamento de políticas públicas. Em relação às estruturas dos

tanques, notou-se a ausência de um padrão advindo de assistência técnica especializada.

Percebeu-se tamanhos diferentes e instalações em locais não adequados, contribuindo para

baixa produtividade. A mesma precariedade nota-se também em relação ao uso da ração e a

criação dos alevinos, no que concerne às técnicas de recria, engorda, contagem do povoamento

para fase de transferência e etc.

Há pouco domínio sobre o sistema de produção, ou seja, o manejo da piscicultura.

Ostrenskyet al. (2008) afirmam que o principal problema enfrentado pela piscicultura

continental brasileira nos últimos anos é a lenta, mas contínua transição de uma fase artesanal

e com baixos índices econômicos e zootécnicos, para uma atividade desenvolvida em escala

verdadeiramente comercial. Estes autores também relacionam como problemas da piscicultura

continental a falta de linhas de crédito, dificuldades de acesso ao crédito para o custeio da

produção, de treinamento e de qualificação técnica, dificuldade de acesso aos mercados, baixo

consumo de pescado per capita na sua região, problemas de logística (vias de transporte,

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conservação do pescado), competição por produtos oriundos da pesca e a necessidade de

abertura de novos mercados consumidores. Sidônio et al. (2012) apontam outros problemas

como a dificuldade na obtenção de licenças, carência de assistência técnica, manejo

inadequado, falta de padronização, insuficiência de pacotes tecnológicos e grande necessidade

de capital de giro.

b) Característica da Cadeia de Produtiva da Piscicultura no Município de Querência/MT

Para Resende (2009) a cadeia produtiva da aquicultura necessita do desenvolvimento de

projetos que contemple aspectos como melhoramento genético, nutrição, sanidade, manejo e

gestão ambiental e aproveitamento agroindustrial e a eleição de espécies prioritárias

(Xavier,2013). Scorvo Filho (2004), acrescenta que para o alcance de maior produtividade é

necessário o apoio das atividades de pesquisa e desenvolvimento.

Durante o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de

Querência, foi identificada a seguinte cadeia de comercialização da piscicultura (Figura 30). O

mercado local (município de Querência), inclui uma feira de produtores livres onde o piscicultor

tem acesso ao consumidor final, aos varejistas (mercearias, supermercados de porte médio) e

ao distribuidor local. De acordo com a Figura 33, foi identificado um produtor com prática

diferenciada e que consegue posicionar 20% de sua produção no mercado regional, alcançando

assim um melhor preço para seu produto (R$15,00/kg), entregando 65% ao distribuidor local,

no município de Querência/MT ou, dependendo da oportunidade, repassando, em quantidades

iguais como 7,5% varejista e 7,5% ao consumidor final. O restante dos produtores envolvidos

com estas atividades produtivas, repassam sua produção (peixe fresco in natura e sem

beneficiamento) a um distribuidor local que repassa a um varejista e este ao consumidor local.

O peixe é vendido inteiro e eviscerado e o preço médio praticado pelos piscicultores na venda é

de R$ 10,00/kg, verificando-se que os preços variam do distribuidor para o varejista

(R$12,00/kg) e deste para o consumidor final (R$18,00/kg).

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Figura 32 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da Piscicultura nos PAS do Município de Querência/MT em 2015.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

A renda bruta total encontrada pelo levantamento realizado com agentes mercantis da

cadeia de comercialização do peixe no município de Querência foi de mais R$ 2 milhões. O

Valor Agregado Bruto gerado foi de R$ 2.309.020,00, correspondendo a mark-up de 104%. O

varejista local foi o que obteve a maior margem bruta 506%, pois cerca de 74% foi

transacionado pelo varejo urbano local, 11% pela distribuidora local e 15% pelos produtores. A

distribuidora local que é a COOPERQUER, facilita a venda dos produtores emitindo nota fiscal

para a comercialização. O resultado dessa margem está relacionado ao preço de compra e

venda do peixe pelo varejista local. (Tabela 15).

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Tabela 15- Valor de Produção Bruto Total de Peixes Vendidos em 2015 pelos Entrevistados.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Percebe-se que a variação dos ganhos para cada sujeito elo da cadeia é inexpressivo. A

partir da estruturação de uma cadeia viável, podemos ter a agroindústria e consequente

agregação de valor retornando ao produtor, dependendo do modelo comercial a ser adotado.

Nesse caso sugere-se um modelo de parceria público Privada Comunitária (PPC), já adotada

com sucesso em alguns estados no Brasil, como é o caso do estado do Acre. Também foi

identificado que varejistas do mercado local (grandes, médios e pequenos), realizam compras

diretas com os agricultores, porém as quantidades, principalmente no ano de 2015, reduziram

devido ao aumento de exigências sanitárias (embalagens, selos de procedência e validade, etc.).

Poucos produtores possuem certo grau de organização e conseguem vender sua produção,

entretanto, não conseguem atender à demanda do mercado local.

Para os comerciantes em Querência, há um maior ganho em se comprar o produto local,

uma vez que a demanda por este produto possui uma escala reduzida e os preços operados

pelos produtores locais são mais atraentes. Porém, o produto ofertado deve ter fornecimento

contínuo e estar de acordo com exigências sanitárias.

Na visão desses comerciantes, seria necessária uma estrutura local que aglutinasse a

produção e distribuísse aos varejistas como, por exemplo, o modelo de atuação da CEASA. Isso

estimularia a produção e a compra e, consequentemente, o preço do produto ao consumidor

final sairia mais competitivo (baixo), além de ser ter um produto com melhor qualidade (IPAM,

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2015).

Como apresentado anteriormente, uma possível alternativa seria investimento na

COOPERQUER para ser o elo entre a produção dos assentamentos e a demanda do município,

tornando-a uma central de comercialização, com papel de organização da produção nos

assentamentos. Merece destaque o fato de que não há registro de comercialização feita

através de programas oficiais de compra direta de alimentos. Essa comercialização ainda não é

explorada devido à impossibilidade de atender às exigências relativas ao beneficiamento do

pescado. Estas exigências dizem respeito principalmente a um processamento mínimo em um

entreposto, possuidor de certificação de um órgão de inspeção sanitária municipal, estadual ou

federal. Outro ponto de atenção ainda não resolvido para esta atividade produtiva nos PAs,

trata-se do licenciamento ambiental.

Nenhum dos piscicultores entrevistados afirmou ter previsão de investimentos na

piscicultura, mesmo no grupo de tipificação de criação de pequenos animais. Um dos

moradores, durante o processo das entrevistas para o levantamento do diagnóstico, propôs a

possibilidade da criação de uma colônia de pescadores na comunidade que possa exercer o

papel de fiscalização além da geração de renda através da pesca e a organização para receber o

conjunto de turistas.

De uma forma geral, os motivos que levam a esta desmotivação, ou a este estágio inicial

de desenvolvimento da piscicultura dentro do sistema produtivo no município de

Querência/MT, são, entre outros:

1 - Baixa produtividade decorrente de deficiências tecnológicas;

2 - Custo de produção elevado, devido ao elevado custo de ração e baixa produtividade;

3 - Investimento de implantação elevado devido ao alto custo de hora/máquina

necessária para a implantação dos viveiros escavados;

4 – Dificuldade nos processos de licenciamento junto aos órgãos competentes;

5 – Dificuldade de acesso a crédito;

6 – Cadeia de produção operando para uma desvalorização do produto e ausência de

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agregação de valor;

7 – Ausência de comunicação entre os produtores dos PAs para organização e busca por

melhores condições de produção, arranjos institucionais, preço, entre outros aspectos.

Segundo Scorvo Filho (2004) pode-se definir, basicamente, três tipos de sistemas de

criação em aqüicultura:

1. Extensivo: É muito utilizado por pequenos produtores em pequenas áreas de espelho

d’água, no qual não se utiliza ração comercial e os organismos aquáticos são alimentados,

tradicionalmente, com subprodutos agrícolas, obtendo-se baixa produtividade. Tratando-se de

piscicultura, deve-se ressaltar que este sistema também é empregado em grandes represas,

onde o repovoamento é feito com alevinos, e do qual o peixe é retirado através da pesca

tradicional de pequena escala. Neste caso, a produtividade ainda é pequena e varia com a

capacidade de suporte do corpo d’água.

2. Semi-intensivo: É o mais utilizado no Brasil e já emprega alguma tecnologia de

criação, como: viveiros-berçário, ração comercial e controle (básico) da qualidade da água.

Neste sistema, a produtividade pode chegar a até 16 toneladas por hectare/ano.

3. Intensivo: Há poucos anos atrás, este sistema se restringia às regiões serranas, onde

se pratica a triticultura. Atualmente, já é utilizado na criação de espécies de peixes tropicais

(pacu e piauçu) e exóticos (tilápia), como também de outros animais aquáticos. Esse sistema

tem como característica principal a utilização de: a) em terra - pequenos tanques com alta

densidade de estocagem e alta renovação de água; b) em lagos, açudes e reservatórios de

hidrelétricas – tanques-rede e gaiolas. Com o sistema intensivo pode-se obter alta

produtividade, algumas vezes acima de 30 toneladas por hectare/ano. A prática da piscicultura

identificada junto aos produtores nos Projetos de Assentamento em Querência, encontra-se em

um processo de transição entre o sistema semi-intensivo para o intensivo, mas carece de

investimentos para dar celeridade ao processo de mudança.

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2.4 - Possíveis Alternativas para Cadeia Produtiva da Piscicultura nos Assentamentos no Município de Querência/MT

a. Custos na criação de peixes redondos14: uma proposta para melhoria da atividade de

piscicultura nas Projetos de Assentamento, no município de Querência/MT:

O documento apresenta agora uma análise de custos na produção de Tambaqui

(espécie já comercializada pelos produtores dos PAs em Querência/MT), com o objetivo de

sugerir melhorias na atividade de piscicultura identificada por meio do Diagnóstico da Produção

Familiar e Opções de Mercado No Município de Querência, sendo que existe a necessidade, em

um momento posterior, de se aprofundar no mapeamento do COT e COE estruturados de

forma precária para a atividade da piscicultura como ora se apresenta, somente como forma de

entender melhor o contexto e dimensionar/mensurar os gargalos já identificados, agindo como

fase preparatória para implementação de um negócio rentável aos produtores, que consiga

alavancar o orçamento familiar e gerar lucro real.

Se faz importante saber até onde essa atividade pode influenciar na renda final do

produtor, verificando o quanto a atividade é significativa a ponto de contribuir para o

fortalecimento e fixação dos produtores familiares, evitando a evasão (êxodo rural) dessas

famílias. De acordo com pesquisa da EMATER/RO realizada em 2006, a espécie aqui

caracterizada têm hábito alimentar onívoro, aceitando muito bem ração balanceada, além de

se alimentar do plâncton, alimento natural em viveiros bem fertilizados. Sua adaptação em

cativeiro está comprovada; o tambaqui pode alcançar em média 2 kg em um período de 12

(doze) meses, e dependendo do sistema e manejo utilizado, poderá alcançar maior peso.

Em relação aos custos de produção, estes são formados pela aquisição de alevinos,

preparo dos tanques para receber os peixes, ração, e depreciação dos tanques, máquinas e

equipamentos, redes de arrasto, tarrafas, motores elétricos, bombas d’água, cercas elétricas, e

em alguns casos há também um custo com câmeras de segurança para monitoramento dos

14

Espécies nativas pacu e tambaqui e seus híbridos tambacu e tambatinga.

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tanques. Além de custos com combustíveis, energia elétrica e mão de obra.

Para a construção dos tanques escavados utilizados na criação de peixes, é necessário

um investimento considerável, que varia não só com o tamanho da área a ser escavada, mas

também oscila de acordo com as condições do terreno. Para o cálculo da depreciação do

período foi utilizado um tempo de vida útil para os tanques de 50 (cinquenta) anos com base

em estudo de (IZEL; MELO 2004).

São realizadas análises do solo para indicar procedimentos de correção por meio do uso

de produtos como, cal, adubos químicos e orgânicos que venham dar condições apropriadas de

criação, e isso resultam em custos variados em cada propriedade conforme as características do

terreno onde estão os tanques. Após o procedimento de correção dos tanques se faz o

povoamento dos mesmos com alevinos que são adquiridos de produtores especializados, pois

sua produção exige altos investimentos e especialização técnica. A quantidade de alevinos

adquiridos por cada produtor varia de acordo com o tamanho da lâmina d’água disponível em

cada propriedade.

O Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso, realizado pelo IMEA em 2014, propõe a

construção de indicadores para formação do COT (Tabela 16) e COE (Tabela 17), a partir da

pesquisa de caracterização das atividades nas regiões do estado, junto a produtores típicos de

cada região.

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Tabela 16- Custo de produção por quilograma de peixe redondo produzido (R$/kg).

Fonte: IMEA, 2014

Dentre as regiões que cultivam peixes redondos, a região centro-sul, além de obter a

maior margem líquida do Estado, 22,23%, obteve o maior lucro líquido, no valor de R$

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159.624,18, seguida pela região sudeste, com uma margem de 16,67% e um lucro líquido de R$

14.653,99. A região norte apresentou uma margem líquida negativa de -14,00%, com um

prejuízo de R$ 16.404,78 (tabela 15).

Tabela 17 - Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE) das regiões na produção de peixes redondos (R$).

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Fonte: IMEA, 2014

Segundo o Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso, realizado pelo IMEA em 2014, a

única fonte de receita da atividade piscícola modal do Estado foram as vendas de peixe

redondo, sendo o maior preço de venda praticado na região sudeste, no valor de R$ 4,30/kg do

peixe vivo, seguida pelo centro-sul, valor de R$ 4,20/kg, e a região norte, com o menor valor de

venda, de R$ 4,00/kg. Considerando o ponto de equilíbrio, momento em que o custo

operacional de produção é igual ao preço de venda, o preço de venda para remunerar todos os

custos na região centro-sul seria de R$ 2,82/kg, no Sudeste, R$ 3,04/kg e R$ 4,29/kg na região

norte (Tabela 18).

Tabela 18 - Preço médio pago por kg de peixe por região: comparação em ter peixes redondos, bagres de couro15 e brycon16.

15

Pintado 16

Tilápia

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Fonte: IMEA 2014

Apesar do número de despesas e custos do negócio serem expressivos, seu retorno,

quando implantado corretamente, é garantido, em um mercado que cresce continuamente, no

Brasil e no mundo. Uma das alternativas aos pequenos produtores, para sua inserção na

atividade da piscicultura de forma a gerar lucro real e gerenciar um empreendimento

competitivo, passaria pelo estabelecimento de consórcio de empresários, cooperativas e

governo do Estado num modelo de Parceria Público-Privada – Comunitária (PPC), garantindo a

participação mais efetiva do setor privado e do pequeno produtor familiar nesse processo e

chegando a indústria, de propriedade de uma futura Sociedade Anônima (S.A), encerrando

todos estes atores.

A FAO (2012) relata que muitos governos têm reconhecido atualmente a

sustentabilidade como objetivo principal da gestão da aquicultura, o que permite a este setor

que se estabeleça durante muito tempo. A prosperidade a longo prazo baseia - se no

cumprimento de quatro quesitos para o desenvolvimento sustentável da aquicultura: o

desenvolvimento tecnológico, a viabilidade econômica, a integridade ambiental e o consenso

social, compatível com o bem-estar ecológico e humano. Na visão de Castro et al. (2005), a

aquicultura moderna está embasada em três pilares: a produção lucrativa, a preservação do

meio ambiente e o desenvolvimento social. Os três componentes são essenciais e indissociáveis

para uma atividade perene.

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3. Cadeia Produtiva do Leite nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT

3.1 - Introdução

A Bovinocultura Leiteira tem um papel significativo no desenvolvimento econômico de

países em desenvolvimento, principalmente nas regiões predominantemente agropecuárias.

Isso tem ocorrido devido à crescente inserção do agronegócio na “economia globalizada”. Por

outro lado, para atingir resultados satisfatórios, as atividades agropecuárias têm enfrentado

desafios para manter um elevado nível de competitividade em termos de custos, preços,

qualidade, condizentes com os padrões do mercado moderno. A cadeia produtiva é um sistema

formado por um conjunto de setores econômicos que estabelecem entre si significativas

relações de compra e venda. Tais setores, articulados de forma sequencial no processo

produtivo, envolvem toda a atividade de produção e comercialização de um produto de forma

que, no decorrer da cadeia, os produtos são crescentemente elaborados, obtendo-se agregação

de valor (Pacheco 2012).

Além da sua importância nutritiva, o leite desempenha um relevante papel social,

principalmente na geração de empregos. O País tem, hoje, acima de um milhão e cem mil

propriedades que exploram leite, ocupando diretamente 3,6 milhões de pessoas (Pacheco

2012).

3.2 - Metodologia Utilizada

Os dados da análise foram provenientes dos assentamentos Brasil Novo, Canaã,

Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel. O levantamento de informações secundárias foi

realizado através de bibliografias sobre a cadeia do leite a nível local, estadual e nacional.

Foram realizadas reuniões com equipe técnica local da Secretaria Municipal de Agricultura, ISA

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e IPAM para mapeamento dos produtores dos assentamentos por categoria, considerando a

principal produção. Em seguida foi realizado um Diagnóstico Rural Participativo – DRP,

contendo duas etapas: uma etapa de levantamento através de uma oficina/reuniões nos

assentamentos, reunindo o máximo de pessoas informantes para quantificar a produção (ano

de 2015) do assentamento; outra etapa com realização de entrevista utilizando questionário

semiestruturado com grupo de produtores indicados pela equipe técnica. O questionário

semiestruturado continha informações sobre o aspecto social, produção, valor dos

equipamentos, benfeitorias, custo da produção, preço de venda, insumos e serviços. A coleta

de dados deu-se no período de fevereiro a março de 2016. Foram entrevistados 33 produtores

dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, a COOPERQUER, secretarias de educação

estadual e municipal, Vigilância Sanitária, INDEA, SAGRI e STTR.

O trabalho de viabilidade foi realizado com os dados levantados nas entrevistas dos 33

produtores dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, Secretaria de Agricultura Municipal

e a COOPERQUER. Foi utilizado o preço da terra baseado na tabela oficial do INCRA que

estabelece que 01 hectare de terra nua no município de Querência tem o valor de R$ 2.254,00

(INCRA 2015). Por ser difícil coletar informações dos produtores sobre depreciação e mão-de-

obra familiar, resolveu-se estabelecer como referência os valores de depreciação de máquinas,

equipamentos e benfeitorias (R$ 1.146,38/ano) assim como valor de mão-de-obra (R$

2.871,04/ano), e os valores médios para produtores que produzem até 50 litros/dia,

estabelecido no estudo da bovinocultura do Estado do Mato Grosso realizado pela FAMATO

(2012).

A Renda Bruta (RB) da atividade foi estimada utilizando-se os valores correspondentes à

venda da produção total do leite, utilizando o preço de mercado de R$ 0,65 por litro (variando

de R$ 0.63 a 1,00/litro de leite in natura), correspondendo ao valor local para que o leite seja

recebido na propriedade sem custos adicionais com fretes e transportes. Os custos

considerados foram os gastos com alimentação, mão-de-obra, medicamentos, aluguel de pasto,

manutenção de cerca, prática de correção de solo, entre outros. Os custos com insumos e

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serviços foram obtidos pelo total efetivamente utilizado, multiplicado pelos respectivos preços

unitários.

Considerando que na atividade de bovinocultura leiteira não se deve comparar preço do

leite com os custos da atividade leiteira, por se produzir tanto o leite como a carne, foi

necessário estabelecer uma metodologia de cálculo para transformar os custos desta atividade

em custos do leite. Sendo assim, o valor total dos custos foi multiplicado por 80%, a fim de se

obter, somente, o valor de custo da produção de leite.

3.3 - Contexto da Cadeia do Leite nos Assentamentos do Município de Querência/MT

a) Breve contexto sobre a Produção do Leite no Brasil e Mato Grosso

O Brasil ocupa a 5ª posição do ranking de grande produtor mundial de leite, ficando à

frente de países destacados no mercado internacional, como Alemanha, França, Nova Zelândia,

Argentina e outros. Os estados com maior participação nacional, em ordem de importância, são

Minas Gerais, com 27% de toda produção, Rio grande do Sul e Paraná, com 12% e Goiás, com

10%. No entanto, a produção de leite do país é proveniente, em sua maior parte, de sistemas

extensivos de produção, ou seja, o aumento da produção tem como principal fonte a

incorporação de vacas ao rebanho. Em 2010 a produção foi de 31,7 bilhões de litros, sendo a

produtividade do rebanho pequena, correspondendo em média a 1.381 litros por vaca

ordenhada/ano. Nesse período, de 1980 a 2010, houve crescimento da produção de leite em

3,41% ao ano. No entanto, as taxas de crescimento da produtividade foram de 2,27% ao ano,

ou seja, inferiores às da produção (FAMATO 2012).

No 2º trimestre de 2015, a aquisição de leite cru feita pelos estabelecimentos que

atuam sob algum tipo de inspeção - seja ela Federal, Estadual e/ou Municipal - foi de 5,64

bilhões de litros. Este número indica queda de 2,6% sobre o volume do produto captado no 2º

trimestre de 2014 e de 7,9% sobre o registrado no 1º trimestre de 2015. Da aquisição de leite

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cru, 41,3% foi localizada no Sudeste do país, tendo Minas Gerais 26,7% de participação, a maior

nacional. São Paulo apresentou 11,0% de participação na aquisição nacional do produto. O Sul

adquiriu 35,2% de todo o leite, tendo no Rio Grande do Sul seu principal representante nesta

região (14,4%). O Centro-Oeste ficou com 13,5%, sendo Goiás o estado com a maior

participação na Região (10,3%). O Nordeste representou 5,5% de participação, seguido pelo

Norte, 4,5%. No 2º trimestre de 2015, comparado ao mesmo período de 2014, houve queda na

aquisição de leite em todas as Regiões Geográficas, exceto a Sul (1,3%). Nesta, somente o

Paraná registrou queda de aquisição (-6,2%), enquanto que aumentos significativos foram

registrados nos demais estados que a compõem. Quedas absolutas importantes foram

registradas no Sudeste do país, sobretudo em Minas Gerais (-5,1%). No Centro-Oeste houve

queda de 8,7%, influenciada por Goiás (-7,8%), Mato Grosso (-13,0%) e Mato Grosso do Sul (-

7,4%). No Norte, a queda foi de 13,0%, sendo registrada, sobretudo em Rondônia (-10,8%) e no

Pará (-18,2%), estados que tem o maior peso regional. No Nordeste, a queda na aquisição de

leite foi de 6,0% e só não ocorreu na Paraíba, em Pernambuco e em Sergipe (IBGE 2015).

O Estado de Mato Grosso ocupou em 2010, a 10ª posição no ranking brasileiro

correspondendo por 2,3% da produção nacional de leite, tendo como os 05 principais

municípios produtores do Estado: Pontes e Lacerda, Guarantã do Norte, Araputanga, Terra

Nova e Cárceres. A produção de leite tem pequena expressão em termos de mercado nacional,

quando comparado às produções de soja, algodão e pecuária de corte, que ocupam locais

destacados no cenário nacional. Apesar desta tímida participação no cenário nacional, a

pecuária leiteira é caracterizada por grande número de pequenos produtores, principalmente

de pequenas propriedades, com diversos tipos de sistema de produção e variados níveis

tecnológicos.

O diagnóstico feito pelo FAMATO em 2012 sobre a cadeia produtiva do leite no estado

do Mato Grosso apontou que o sistema de produção é predominantemente extensivo, tendo a

área de pastagem ocupando até 91% do total da propriedade. A composição do capital

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investido na pecuária é em média R$ 306.517,00 (variando entre 190.240,00 a 1.428.523,00). O

valor da terra para o gado representou 50% desse capital investido, o que confirma a tendência

de sistema de produção extensivo à base de formação de pastagem (Figura 34).

Figura 33 - Capital Investido na produção de leite no Estado de Mato Grosso 2010/2011.

Fonte: Adaptado de FAMATO 2012

De modo geral, os produtores possuem um baixo nível tecnológico e com pouca adoção

de práticas agronômicas como calagem, correção da fertilidade, adubação de cobertura e uso

de defensivo, adoção de químicos para controle de plantas invasoras, bem como tratamento de

pragas, além da suplementação volumosa que é feita com pequenas quantidades de

forrageiras. Práticas como estas são mais adotados por produtores com maior volume de

produção e mais especializados. Outra característica importante da pecuária leiteira

desenvolvida no Estado de Mato Grosso é quanto o número de vacas em lactação em relação

ao total do rebanho na propriedade (24%). Tal número é menor do que recomendado (40%),

tanto em relação ao total de vacas quanto ao total do rebanho de produção.

Consequentemente, isso reduz o valor da renda bruta da atividade leiteira. Enfim, os rebanhos

são pouco especializados, com baixa produtividade. Enquanto no Estado de Goiás a produção é

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de 2.103 litros/ha/ano, em Mato Grosso a produção fica em torno de 1.143litros/ha/ano, ou

seja, Goiás produz 84% a mais. (FAMATO 2012).

Dentre as características dos produtores de leite em Mato Grosso destacam-se: a mão-

de-obra para atividades é basicamente familiar. Apenas os produtores que ordenham mais de

200 litros/dia tem mais de 34% da mão-de-obra contratada; Mais de 80% ainda usam ordenha

manual e 11% somente realizam inseminação artificial. Praticamente todos (99%) os

produtores moram na propriedade e desenvolvem esta atividade entre 14 a 15 anos (FAMATO

2012).

b) Bovinocultura Leiteira no Município de Querência

A base econômica do município de Querência é essencialmente a agricultura, com

destaque para a soja, milho, arroz e diversas lavouras de subsistência. A pecuária está em fase

de retração. Segundo o INDEA (2015), em 2014 o rebanho bovino foi estimado em

aproximadamente 97.140 animais no município, dentre os quais o gado de corte é mais

expressivo. A produção de leite no município de Querência, em 2014, chegou a 739 mil litros,

correspondendo a uma renda bruta de 555 mil reais para o período (IBGE 2016).

No município de Querência, a atividade leiteira é desenvolvida na sua grande maioria

em propriedades onde a mão-de-obra predominante é a familiar. A atividade leiteira é

consorciada com outras atividades na propriedade, não existindo produtores especializados

que tem a produção de leite como sua única e exclusiva fonte de renda. A pecuária leiteira está

associada tanto com a pecuária de corte como à produção de soja e milho, de culturas

permanentes (pupunha, seringa, SAF’s), de hortifrutigranjeiros e criação de pequenos animais

como suínos, aves.

3.4 - Análise de Viabilidade Socioeconômica da Cadeia Produtiva do Leite nos Assentamentos do Município de Querência/MT

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a) Caracterização dos Produtores de Leite dos Assentamentos Estudados

Caracterizando produtores dos 5 assentamentos Brasil Novo, Canaã, Coutinho União,

Pingo D’água e São Manoel, os produtores da bovinocultura leiteira no município são oriundos

de Goiás e do próprio estado de Mato Grosso, desenvolvendo a atividade na propriedade em

média há 13 anos (variando de 2 a 24 anos). Possuem um tamanho de área da propriedade em

média de 75 ha e participam de organizações sociais como sindicato, associação e cooperativa.

A grande maioria já obteve crédito como PRONAF A, D e custeio, Mais Alimento e, atualmente,

alguns estão inseridos no Programa Balde Cheio.

A pouca mão-de-obra existente nos lotes em todos os assentamentos é um elemento

limitante e que, apesar de seguir a tendência atual do contexto rural, deve ser objeto de

atenção no desenvolvimento de uma atividade econômica nos assentamentos. Em média

moram na propriedade somente duas pessoas (homem e mulher).

Quanto ao agroecossistema existente, ou seja, o uso da terra, a área de pastagem

corresponde em média 41,5 ha, representando 55% da área total de uso da terra da

propriedade, tendo-se em média 25 vacas leiteiras por propriedade (variando de 6 a 45 vacas

leiteiras). Possuem um sistema de produção extensivo com baixo nível tecnológico e

infraestrutura rudimentar. Utiliza-se pouca suplementação volumosa com pequenas

quantidades de cana-de-açúcar, milho e outros como frutas e macaxeira.

De modo geral e assemelhando ao restante do Estado de Mato Grosso, a infraestrutura

existente para desenvolvimento adequado da cadeia produtiva do leite em Querência ainda é

precária. Segundo Jank e Galan (1999), os produtores não são especializados e trabalham com

tecnologia extremamente rudimentar. Para tais produtores, o leite ainda é considerado um

subproduto do bezerro de corte. Trata-se, em sua maioria, de produtores que encontram no

leite uma atividade típica de subsistência e de complementação da renda. Normalmente não

tem um acompanhamento efetivo dos órgãos de vigilância sanitária e, em alguns casos,

desenvolvem a comercialização na informalidade, distribuindo leite na forma in natura no

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município (para mercado varejista de pequeno porte ou no sistema de distribuição porta a

porta). Há alguns poucos casos daqueles que já conseguiram implantar algum tipo de

tecnologia como, por exemplo, a ordenha mecânica.

Para o escoamento da produção, a prefeitura dispôs recentemente de um caminhão de

refrigerador que viabiliza o armazenamento e transporte do leite dos produtores que fornecem

para a queijeira (agroindústria de queijo). A queijeira instalada no assentamento São Manoel é

uma iniciativa da prefeitura, especialmente da Secretaria Municipal de Agricultura em parceria

com INCRA para dinamização da atividade leiteira. A capacidade de produção da mini-

agroindústria é de 400 kg/dia de mussarela.

Para o resfriamento do leite nos assentamentos são utilizados 05 tanques de

resfriamento de leite comunitário: 1 no Brasil Novo, 1 em Coutinho União, 1 no São Manoel e

no Pingo D’água, além de um comunitário. Dois produtores possuem seus próprios tanques de

resfriamento do leite.

b) Quantidade do Rebanho

Dos 33 produtores entrevistados nos assentamentos, somente 45% do total de

produtores entrevistados desenvolvem atividade bovinocultura leiteira. O total do rebanho

(contabilizando animais de todos os entrevistados) foi de 2.071 animais. Deste total, somente

18% são de vacas leiteiras. Isso demonstra que a pecuária de corte ainda é mais expressiva do

que a pecuária leiteira (Figura 35). Basicamente, o rebanho total é composto por 596 novilhas

mestiças, 453 vacas para corte, 306 vacas leiteiras, 25 garrotes, 428 bezerros e 47 touros.

Alguns dos produtores já utilizam técnica de inseminação artificial para melhoria do rebanho.

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Tabela 19 - Produção Bruta de Leite e Valor Bruto da Produção de Leite por Assentamento (2015)

Figura 34- Participação na Composição Total do Rebanho por Categoria nos Assentamentos.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

c) Produção de leite nos assentamentos

Com base nas informações dos assentados, foram contabilizados nos assentamentos

durante o ano de 2015 uma produção bruta total de aproximadamente 509.250 mil litros,

contabilizando uma renda bruta da atividade de R$ 331.012,50. A produção dos entrevistados

correspondeu a 24% da produção declarada nas oficinas realizadas nos assentamentos, ou seja,

uma produção bruta total de 121.942 litros, correspondendo a uma renda bruta de R$

79.262,30 oriundos da comercialização do leite in natura (Tabela 19).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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A produção diária de leite computada foi baseada na produção média de 580 litros para

um total dos 241 animais lactantes por dia em uma área total de pastagem de 439 hectares,

com uma quantidade média de vacas leiteiras para cada entrevistado de 22 animais (variando

de 05 a 45 animais). Os resultados obtidos demonstram que a atividade é pouco expressiva

quando comparada à média estadual (tabela 20). A produção média de leite por lactação foi

inferior à média estadual. Os resultados apresentam que a produção média é de 31 litros/dia

por produtor nos assentamentos, sendo 3 vezes menor do que a média estadual (93 litros/dia),

consequente reflexo da baixa produtividade (1.4 litros/animal), representando uma

produção/hectare/ano de 278 litros, enquanto a média estadual é de 1.143litros/hectare/ano.

A baixa produtividade encontrada deve estar intrinsecamente ligada à interação de fatores

como a pouca utilização de volumoso de qualidade, baixo uso da suplementação e baixo

potencial genético dos animais, pelo alto preço dos insumos.

Tabela 20 - Produção e produtividade dos produtores entrevistados dos assentamentos.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016 e FAMATO 2015.

d) Custo de Produção

O valor do custo de produção para cada litro de leite foi R$ 0.33/litro (Tabela 21),

estando na média do custo de produção estadual para produtores que produzem até 50 litros

de leite/dia. De acordo com os dados, pode-se observar que insumos e mão-de-obra foram os

itens que mais trouxeram gastos para atividade, tendo o insumo representado 53% e a mão-de-

obra 21% do custo operacional efetivo da produção de leite no ano 2015 dos produtores

entrevistados. Um dos fatores que podem explicar é a pequena produção de grãos, obrigando o

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produtor a pagar valores altos para aquisição de insumos vindos de regiões de grande

produção. Além disso, a pastagem é utilizada apenas no período das chuvas, sendo necessária a

produção de cana-de-açúcar para servir de forragem para alimentação dos animais durante o

período seco (06 meses do ano). No entanto, são poucos os que cultivam a cana-de-açúcar para

suplemento alimentar do animal. O sistema de produção rudimentar exige maior quantidade

de mão-de-obra. Esse resultado demonstra que uma mudança significativa tanto de ordem

produtiva, tecnológica e gerencial é essencial para aumentar a produtividade da produção do

leite, aumentando as médias diárias de leite sem, contudo, aumentar o custo operacional

efetivo. Uma alternativa, segundo Lopes et al. (2004), é aumentar a eficiência produtiva, ou

seja, a produtividade por matriz, otimizando as despesas com mão-de-obra, alimentação com

volumoso, medicamentos, assistência técnica e energia.

A Tabela 21 apresenta os valores de renda bruta, renda líquida e resultado econômico e

a rentabilidade obtida. A renda bruta total da bovinocultura leiteira foi de R$ 97.162,30,

correspondendo a 82% da venda do leite. A produção leiteira total foi contabilizada em R$

79.262,30. Tanto a margem bruta quanto a margem líquida foram positivas, evidenciando que o

resultado da venda do leite produzido foi suficiente para cobrir as despesas operacionais

efetivas, ou seja, não houve prejuízo. É importante ressaltar que o leite é recolhido na

propriedade, portanto não embutiu custo de transporte.

De modo geral, os custos operacionais apresentam-se muito elevados,

consequentemente apresentando uma baixa margem líquida da atividade. No entanto, o preço

médio pago pelo litro de leite foi de R$ 0.65, maior que o custo operacional efetivo de R$0.33,

podendo-se dizer que no curto prazo, os produtores não precisam parar a atividade leiteira.

A taxa de remuneração do capital investido expressa a lucratividade da atividade e,

normalmente, utiliza-se a taxa de juros real como parâmetro de lucratividade da atividade

(Pacheco 2012). De acordo com a Tabela 21, a taxa de remuneração foi inferior a 6% ao ano, o

que significa dizer que, segundo os dados encontrados, no ano de 2015 não houve lucratividade

na atividade de bovinocultura leiteira. Isso está associado com alto capital investido e com

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baixo retorno pela pouca quantidade produzida.

Tabela 21 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Leite

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

e) Característica da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência

Os agentes envolvidos na cadeia produtiva do leite foram divididos em 03 categorias:

operadores, prestadores de serviço e os reguladores. Os operadores da etapa de produção são

representados pelos fornecedores de insumo e produtores; na etapa de transformação são a

mini-indústria e produtores; e na etapa de comercialização são a COOPERQUER, os produtores

e os pequenos varejistas urbanos; e, finalmente, os consumidores finais. A Secretaria Municipal

de Agricultura, enquanto prestadora de serviços, tem atuado de modo marcante em todas as

etapas da cadeia, de modo a alavancar a atividade no município, principalmente na assistência

técnica aos produtores que estão vinculados ao Programa Balde Cheio, além de oferecer o

transporte e a logística para a venda do leite. E os reguladores da cadeia identificados são o

INDEA, Vigilância Sanitária Municipal, Secretaria Municipal de Agricultura, SEMA e MAPA.

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A cadeia de comercialização do leite identificada no município (Figura 36) se caracteriza

por canal tradicional simples, pois apresenta dois agentes intermediários entre o produtor e o

consumidor. Observou-se que a produção comercializada no município é pouco especializada.

No entanto, existe infraestrutura básica para a realização do processamento para atender à

demanda.

Os produtores vendem sua produção diretamente para a mini-indústria de transformação local

(queijeira), além de vender diretamente para o consumidor final. A venda direta para

consumidor final está cada vez mais reduzida devido à fiscalização mais rígida no município. Os

produtores de Canaã vendem sua produção no mercado do município de Canarana pela

proximidade com o município. Entre os agentes mercantis identificados nas cadeias de

comercialização do leite:

1. Indústria de Transformação local: essa categoria está representada pela mini-indústria

(queijeira) localizada no assentamento São Manoel que compra a produção de leite in

natura diretamente dos produtores e entrega na unidade;

2. Distribuidor local: representado pela cooperativa COOPERQUER. A cooperativa, além de

exercer o papel de distribuidor no mercado local do queijo produzido na unidade de

transformação, facilita a comercialização da produção emitindo nota fiscal para os

produtores. É subsidiada pela prefeitura, com logística de transporte, assistência técnica

e administrativa;

3. Varejo Urbano Local: abrange comerciantes diversos (pequenos comerciantes,

restaurantes, supermercados,) que compram tanto direto de produtores como da

COOPERQUER, dos quais arcam com as despesas de transporte e vendem direto para

consumidor final local.

4. Varejo Urbano Estadual: representado por varejista do Estado de Goiás que comprou

queijo da COOPERQUER em 2015, mas em quantidade muito pequena.

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Figura 35 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência (2015).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

O mercado do leite in natura no município de Querência possui poucos compradores.

Existe somente a mini-indústria de queijo (queijeira) e alguns varejistas de pequeno porte

localizados em bairros periféricos da cidade, mas que compram muito pouco diretamente de 1

ou 2 produtores de chácaras localizadas no entorno da cidade. No mercado do leite in natura,

em Querência, houve um decréscimo na produção local. Segundo os entrevistados, isso se deu

por conta das inadequadas condições de produção e comercialização, não atendendo às

normas vigentes, bem como uma atuante fiscalização pela INDEA e vigilância sanitária nos

estabelecimentos comerciais.

A formação de preço do leite passa a ser predominantemente influenciada pelos

compradores, já que são estes que estabelecem o preço pago aos produtores rurais, além de

que os produtos in natura oriundos da agricultura familiar com baixa ou sem nenhuma

agregação de valor (beneficiamento, transformação, dentre outros) tendem a reduzir ainda

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Tabela 22 - Valor Bruto de Produção e Valor Agregado Bruto da Produção de Leite (2015)

mais de preços. Outro fator importante na formação de preços é o resultado direto das

condições de oferta e demanda, além da concorrência existente com leites industrializados

comercializados com menor preço, devido a escala de produção, para o abastecimento do

mercado local pelos varejistas.

f) Valor Bruto e Renda Bruta da Produção de Leite Comercialização

A renda bruta total encontrada pelo levantamento realizado com agentes mercantis da

cadeia de comercialização do leite no município de Querência foi de mais R$ 1 milhão. Ao setor

do varejo urbano local é a quem pertence o maior VBP (42%), comprando direto do produtor e

da COOPERQUER. O Valor Agregado Bruto gerado foi de R$ 643 mil, correspondendo a mark-up

de 101%. A Indústria de Transformação local e o Varejo Urbano local são aqueles com margem

bruta maior de 66% e 63% respectivamente, onde cerca de 42% é transacionado pelo varejo

urbano local, 25% pela COOPERQUER e 29% pelos produtores. O resultado dessa margem está

relacionado, principalmente, ao rendimento obtido pela transformação do leite nos derivados

queijo, iogurte, doce de leite, ricota, requeijão e da venda direta aos consumidores finais

(Tabela 22).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

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VI - Considerações

Não há como conjecturar uma expansão desse mercado, sem antes definir ajustes em

todas as etapas da cadeia. A possibilidade de os produtores absorverem possíveis custos

adicionais, considerado que o preço é definido pelo comprador, implicaria em uma provável

redução da margem bruta e líquida desses produtos. Portanto, algumas melhorias precisam ser

implementadas para funcionamento correto da instalação da unidade de beneficiamento: local

de instalação, despejo dos resíduos, tecnologia utilizadas, dentre outros.

O fomento da atividade leiteira com o programa Balde Cheio é umas das alternativas

que deveriam ser expandidas e intensificadas para trazer melhorias que podem refletir na

qualidade do produto oferecido para à maioria desses produtores que possuem uma baixa

especialização da prática de manejo do rebanho.

A criação da COOPERQUER e da mini-indústria de processamento de queijo é uma

alternativa na qual os produtores estão apostando para expansão da atividade, pois está

desempenhando o papel de centralizadora da produção do leite in natura dos assentamentos

para produção de queijo, proporcionando um valor agregado ao produto. No entanto, a

cooperativa, que trabalha com preço de compra acima da média de preço trabalhado no Estado

do Mato Grosso, pela ausência de capital de giro para compra da produção, realiza a compra do

leite dos produtores a prazo (variando em até 30 dias para efetuar o pagamento). Outro serviço

que a COOPERQUER realiza é emitir nota fiscal para aqueles produtores que vendem

diretamente para os varejistas locais e/ou para merenda escolar.

Por fim, dentre o leque de melhorias desejadas, a possibilidade de adequar a queijeira

dentro de padrões de qualidade e níveis técnicos necessários para a oferta de produtos que

atendam às exigências legais e o mercado provavelmente é a alternativa mais viável para o

desenvolvimento da cadeia produtiva do leite. Nesse sentido, a definição da estrutura

organizacional e legal tanto da mini-agroindústria como da Cooperativa é um passo

fundamental desse processo.

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4. Cadeia Produtiva da Pupunha nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT

4.1 - Introdução

A pupunha é uma palmeira originária da América Central e da Amazônia, sendo

domesticada e disseminada nessas regiões. O cultivo da pupunha para produção de palmito

vem despertando, desde a década de 1970, o interesse de agricultores de todo o país, devido à

alta demanda, tanto interna quanto externa, por palmito de boa qualidade e à alta

lucratividade da atividade. Além da pupunha ser uma ótima alternativa para a produção de

palmito, pode ser explorada em plantios organizados e possui características desejáveis como

precocidade, perfilhamento, rendimento e qualidade de seu palmito, que demora para

escurecer após o corte. A busca por novas opções de cultivo faz também que empresários de

outros setores invistam no negócio do palmito de pupunha (Soares 2011). O aumento do

mercado de palmito de pupunha está relacionado com a RIO-92, após a qual ficou determinado

que a partir do ano 2000 a importação de palmito no mundo só seria realizada a partir de

cultivos ou de planos de manejo sustentáveis. Relaciona-se, também, com a redução da

produção do palmito de açaí, pela diminuição dos estoques naturais da espécie juçara como

consequência da exploração predatória, e pela atual demanda dos frutos de açaí para produção

da polpa, que apresenta maior rentabilidade e menor risco ambiental para os extratores que o

mercado de palmito (Costa 2011).

O Brasil é o maior produtor e consumidor de palmito do mundo. Porém, já não possui

mais o título de maior exportador, o que ocorria na época em que exportava menos de 10% de

sua produção. A perda desse mercado deve-se ao fato de que o palmito brasileiro apresentar

baixa qualidade, por ser ainda resultante do processo de extrativismo, e de ser um produto

considerado não ecológico, devido ao corte de palmeiras nativas (Soares 2011); Além desse

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esgotamento da oferta de matéria-prima proveniente da coleta extrativa no Centro Sul, a

intensificação da fiscalização de órgãos oficiais impedindo a devastação predatória, o baixo

custo da taxa de reflorestamento e o alto preço do produto no mercado nacional e

internacional são fatores que vêm estimulando o investimento e a produção racional do

palmito industrializado (Verruma-Bernardi, 2007).

Devido ao potencial comercial do palmito de pupunha, muitos países latino-americanos

estão investindo no seu cultivo e industrialização. Dois fatores estão facilitando o aumento

deste investimento: a existência de mercado em nível mundial e a disponibilidade de tecnologia

para o cultivo e industrialização da pupunha para palmito (Soares 2011). Os países da América

do Sul e Central como o Equador, Venezuela, Peru e Colômbia também entraram no mercado

externo com palmito de pupunha cultivado e competem com o palmito brasileiro, nos

mercados importadores como França, Argentina e Estados Unidos. O Brasil é o maior

consumidor do mundo, concentrando-se em São Paulo o maior mercado mundial, levando o

mercado nacional a absorver quase a totalidade da produção de palmito do Brasil (Costa 2011).

A produção brasileira, segundo dados do IBGE em 2008, foi de 5.874 toneladas, sendo

que a região Norte responde por 97% desse total. Os principais estados produtores de palmito

são Pará (95%), Mato Grosso (1,3%) e Rondônia (1,2%). O consumo interno estimado é de 100 a

120 mil toneladas/ano. Nesse contexto, o palmito ainda é considerado “artigo de luxo” para a

maioria dos brasileiros e as regiões Sul e Sudeste lideram o consumo do produto em conserva.

O Brasil responde por 85% da produção mundial de palmitos, mas não domina as exportações.

As exportações anuais brasileiras de palmito já alcançaram US$ 40 milhões e hoje giram em

torno dos US$ 7 milhões. Segundo os dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior

(MDIC), em 2013 o volume exportado foi de 5.102 toneladas. O mercado brasileiro de palmito,

oriundo de diversas espécies de palmáceas, é estimado em US$ 350 milhões anuais e gera 8 mil

empregos diretos e 25 mil empregos indiretos. Já o mercado mundial é de R$ 500 milhões. Em

2010, a produção de palmito no Brasil alcançou 116.495 toneladas, sendo que o consumo

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interno de pupunha cultivada aumentou de 19,5% em 2009 para 24% em 2010 (SNA 2015).

4.2 – Metodologia Utilizada

Os dados da análise foram provenientes dos assentamentos Brasil Novo, Canaã,

Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel no município de Querência. O levantamento de

informações secundárias foi realizado através de bibliografias sobre a produção de palmito de

pupunha a nível local, estadual e nacional. Realizou-se reunião com a equipe técnica local da

Secretaria Municipal de Agricultura, ISA e IPAM, para mapeamento dos produtores dos

assentamentos por categoria de acordo com a principal produção. Seguido de um Diagnóstico

Rural Participativo contendo duas etapas: uma etapa de levantamento através de uma

oficina/reuniões nos assentamentos, reunindo o máximo de pessoas para quantificar a

produção (ano de 2015) do assentamento; outra etapa, realizando entrevistas utilizando um

questionário semiestruturado, com grupo de produtores indicados pela equipe técnica. O

questionário semi estruturado continha informações sobre aspecto social, produção, valor dos

equipamentos, benfeitorias, custo da produção, preço de venda, insumos e serviços. A coleta

de dados ocorreu no período de fevereiro a março 2016. Foram entrevistados 33 produtores

dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, a COOPERQUER, Secretarias de Educação

Estadual e Municipal, Vigilância Sanitária, INDEA, SAGRI e STTR.

O trabalho de viabilidade foi realizado a partir dos dados levantados nas entrevistas dos

33 produtores dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, Secretaria de Municipal de

Agricultura e a COOPERQUER. O preço da terra utilizado foi baseado na tabela oficial do INCRA,

que estabelece que 1 hectare de terra nua no município de Querência tem o valor de R$

2.254,00 (INCRA 2015).

De modo geral, o rendimento nos primeiros cortes (1º ano) gira em torno de 750 kg a

900 kg/ha/ano de palmitos inteiros (5000 touceiras = 5000 palmitos) e 1,5 t/ha de palmito tipo

rodelas e picadinho, oriundos da base caulinar e da parte apical. Da segunda colheita em

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diante, com o corte dos perfilhos, essa produtividade poderá variar de 975 kg à 1,2 ton de

palmitos inteiros. Este rendimento é para o adensamento de 5.000 plantas/ha. A produtividade

será maior se o adensamento aumentar (Silva, 1999). Considerando que o adensamento seja,

realmente, maior, a produtividade aumentará, na mesma proporção. No adensamento de

7.200 plantas/ha, por exemplo, a produtividade será de 8.500 hastes/hectare, podendo superar

10.000 hastas/ha/ano a depender do manejo (Aboboreira Neto, 2004). Para o presente

trabalho, o rendimento considerado foi de 5.000 haste/hectare, de acordo com o declarado

pelos produtores entrevistados.

A renda bruta (RB) da atividade foi estimada utilizando-se dos valores correspondentes

à venda da produção total do palmito, utilizando preço de mercado de R$ 5,35 por kg (variando

de R$ 3,4 a 6,6/haste in natura), o que corresponde ao valor local, para que a haste seja

recolhida na propriedade, sem custos adicionais com frete e transporte. Os custos considerados

foram os gastos com mão-de-obra para plantio, manutenção, irrigação, colheita, prática de

correção de solo, entre outros. Os custos com insumo e serviços foram obtidos pelo total

efetivamente utilizado, multiplicado pelos respectivos preços unitários.

4.3 – Contexto da Cadeia da Pupunha nos Assentamentos do Município de Querência/MT

a) Produção de Palmito de Pupunha no Município de Querência

O cultivo da pupunha para produção de palmito é uma atividade econômica recente

incentivada pela prefeitura e EMPAER no município. Em 2013, o município tinha um cultivo de

50 hectares de pupunha, com perspectiva de ampliação da área para 150 hectares. A prefeitura

em parceria com a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural

(EMPAER) incentivaram o cultivo da pupunha para produção de palmito com distribuição de

200 mil mudas para aproximadamente 70 agricultores familiares. Segundo dados da EMPAER,

que já havia trabalhado em 12 projetos para o cultivo da palmeira pupunha, em um hectare, o

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Figura 36 – Área(em ha) de Cultivo da Pupunha no Município de

Querência/MT.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Figura SEQ Figura \* ARABIC 37 - Área de Cultivo da Pupunha por Assentamento do

Município de Querência/MT.

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

produtor investe R$ 14 mil e o rendimento líquido por hectare pode chegar a R$ 600,00 ao mês,

após o terceiro ano de cultivo. A haste do palmito é comercializada por R$ 4,00 a unidade

(2013). Segundo informação da secretaria de agricultura do município, atualmente existem 101

hectares com plantio de pupunha, onde 10% do total da área foi plantado no ano de 2011, 58%

dessa área foi plantada antes de 2014 e já está em produção (59 hectares em produção); e

restante 32% da área foi plantando em 2015. As áreas cultivadas estão, na sua grande maioria,

nos assentamentos (65%), com destaque ao assentamento Pingo D’água que representa 68%

da área total dos assentamentos. E os 35% restantes das áreas cultivadas encontram-se nas

fazendas e chácaras (Figura 37 e 38).

b) Caracterização dos Produtores de Palmito de Pupunha dos Assentamentos

Dos entrevistados, 05 produtores de palmito pupunha no município são oriundos do

próprio estado do Mato Grosso, enquanto que outros são oriundos de Goiás e Santa Catarina,

habitam a propriedade em média há 12 anos (variando de 2 a 28 anos) com tamanho de área

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em média de 67 ha. Participam de organizações sociais como sindicatos, associações e

cooperativas. A grande maioria já obteve créditos como o PRONAF A, D e custeio, Mais

Alimento, enquanto que somente 01 deles investe por conta própria.

Todos os produtores possuem renda não agrícola, o que permite investimento na

propriedade e contratação de mão-de-obra, principalmente, no período da limpeza da área de

cultivo de pupunha e da colheita do palmito. Como foi observado, a mão-de-obra é um fator

limitante nos assentamentos. Os investimentos no plantio da pupunha foram, basicamente, no

sistema de irrigação, correção e adubação do solo.

A maioria dos produtores que cultivam a pupunha possui sistema diversificado,

apresentando um agroecossistema constituído de mata (reservas e APPs,), pastagens, área

agrícola e quintal. A área destinada ao cultivo da pupunha possui em média 3 hectares,

variando de 1 a 8 hectares.

Como a cadeia do palmito pupunha no município de Querência é recente, ainda não

estruturada e com produtores não especializados, o sistema de irrigação é a infraestrutura

essencial para o cultivo da pupunha no município, sendo o primeiro investimento realizado pelo

produtor para a implementação da cultura. Para melhor estruturação, a cadeia carece de

infraestrutura básica na cadeia produtiva, como: local de acondicionamento e armazenamento

adequado até o transporte recolher a produção, mão-de-obra especializada para colheita.

Nesse sentido a mão-de-obra está se especializando com a prática de corte. A prefeitura e

EMPAER investem com doação de mudas e assistência técnica para os produtores. A

COOPERQUER atua na intermediação da comercialização do produto para mercados externos.

No entanto, por ser uma cadeia recente para os produtores, a relação com o mercado ainda se

dá de forma deficiente, tanto no mercado formal como informal, à medida que ainda buscam

adequação às normas de qualidade exigida pelos órgãos de vigilância sanitária. Em alguns casos

é vendido no município o produto na forma in natura (para restaurantes, pizzarias, etc.) e para

compradores de fora.

O escoamento dessa produção para o mercado local é feito pelos próprios produtores

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Tabela 23 - Produção e Valor Bruto da Produção de Palmito de Pupunha nos Assentamentos em

2015.

através de transporte próprio e resulta em um acondicionamento inapropriado do produto no

ato do transporte. Com o aumento da fiscalização do INDEA muitos produtores têm perdido sua

produção. Quando realizada para fábricas de palmito fora do município, a entrega é na

propriedade, sendo esta negociação intermediada pela cooperativa. O transporte fretado tem

enfrentado problemas legais na fiscalização das cargas, pela falta de conhecimento do processo

burocrático para comercialização do palmito. Tais barreiras estão relacionadas à origem do

palmito, espécie, etc. A cooperativa não possui nenhum tipo de infraestrutura e falta

conhecimento mercadológico para trabalhar com o palmito.

4.4 - Análise de Viabilidade Socioeconômica da Cadeia Produtiva do Pupunha nos Assentamentos do Município de Querência/MT

a) Produção e Valor Bruto de Palmito de Pupunha nos Assentamentos

Com base as informações dos assentados obtidas nas oficinas realizadas, a

produtividade no assentamento é de 3 mil hastes por hectare. Em 2015, foi contabilizada nos

assentamentos uma produção bruta total de aproximadamente 126.700 kg de palmito, gerando

uma renda bruta da atividade de R$ 513.450,00. A produção dos produtores entrevistados

correspondeu a 64% da produção declarada nas oficinas realizadas nos assentamentos, ou seja,

uma produção bruta total de 121.942 kg por ano, correspondendo a uma renda bruta de R$

326.569,00 oriundos da comercialização do palmito in natura (Tabela 23).

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Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

Considerando as informações do representante da COOPERQUER, cooperativa que

intermedia a comercialização do palmito com os três principais compradores de fora do

município, é realizada a comercialização de 03 cargas por semana, o que corresponde 45 mil

hastes de palmito (1 carga = 15mil hastes de palmito). No ano de 2015, baseados nesses valores

foi negociado pela COOPERQUER um total de 315.000 hastes, ou 220.500 kg de palmito (1

haste é equivalente a 0.70kg).

b) Custo de Produção

O valor do custo de produção para cada kg de palmito foi R$ 0,49/kg (Tabela 24),

estando na média do custo de produção estadual para produtores que produzem até 5 mil/ha.

De acordo com os dados, pode-se observar que insumos e mão-de-obra foram os itens que

mais trouxeram gastos para atividade, o insumo representou 66% e mão-de-obra 34% do custo

operacional efetivo da produção de palmito no ano 2015 desses produtores entrevistados. Os

custos em insumos podem estar relacionados mais especificamente a correção de solo por

terem implantados o cultivo em áreas degradadas, enquanto que a pupunha demanda alto

nível de adubação para uma boa produção.

A Tabela 24 apresenta os valores da renda bruta média, renda líquida média, resultado

econômico e a rentabilidade média para o total de 31 produtores de palmito que estão

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negociando com a cooperativa. A renda bruta média total da foi de R$ 38.054,08. Tanto a

margem bruta e quanto a margem líquida foram positivas, evidenciando que o apurado com a

venda do palmito produzido deu para cobrir as despesas operacionais efetivas. É importante

ressaltar que o preço do transporte já se encontra deduzido no preço pago pelo produto.

De modo geral, os custos operacionais apresentam-se muito elevados,

consequentemente, percebe-se uma baixa margem líquida da atividade. No entanto, o preço

médio pago pelo kg de palmito foi de R$ 5,35, maior que o custo operacional efetivo de R$0,49,

o que significa dizer que, mesmo vendendo produto in natura, os produtores não obtiveram

prejuízos, gerando renda considerável para contribuir na composição da renda total na

propriedade.

Quanto à taxa de remuneração do capital investido, considera-se a mesma definição de

Pacheco (2012), onde para identificar a lucratividade da atividade normalmente utiliza-se a taxa

de juros real para fazer parâmetro de lucratividade da atividade. De acordo com a tabela 24, a

taxa de remuneração foi inferior a 6% ao ano. O que significa dizer, que segundo dados

encontrados, a atividade no ano de 2015 não houve lucratividade na atividade de pupunha.

Assim como no leite, isso pode estar associado com alto capital investido no sistema de

irrigação na implantação do cultivo, e como é uma atividade relativamente recente, eles

possuem uma produção com baixa escala e com um custo considerável de mão-de-obra

utilizada para a colheita do palmito. Porém, um fator decisivo é o preço médio praticado e a

forma de pagamento do palmito in natura que tem uma influência considerável nesta atividade

produtiva.

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Tabela 24 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Palmito da Pupunha

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

c) Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de Querência/MT

A cadeia de comercialização do palmito de pupunha no município possui canal

tradicional simples, com pouca intermediação e sem agregação de valor pelo produto a ser

vendido in natura, além de praticamente toda produção ser destinada para fora do município

(Figura 39). A COOPERQUER é uma intermediária estratégica também nessa cadeia, prestando

serviço de negociação com mercado externo para compra do produto e organizando o

transporte para escoamento da produção até a agroindústria. A COOPERQUER iniciou em 2016

a venda da produção para o mercado de Goiás, onde no processo de negociação a cooperativa

teve que associar-se à agroindústria Casa Verde como garantia da agroindústria de ter

regularidade e segurança na entrega da produção dos produtores dos assentamentos para eles,

já que a grande compradora em 2015 foi agroindústria Luana no município de Água Boa/MT. A

agroindústria Casa verde passou assim prestar serviço de beneficiamento, embalagem e venda

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da produção dos assentados, enquanto a COOPERQUER contrata o transporte para coleta do

palmito na propriedade dos produtores. Como a cooperativa não possui capital de giro para a

compra à vista da produção, isso se reflete na forma de pagamento aos produtores pela

produção, sendo a prazo, variando de 30 a 60 dias para o recebimento desse pagamento. A

agroindústria Luana realiza o pagamento em 60 dias, os produtores encaminham a haste do

palmito que é beneficiado e, segundo a COOPERQUER, são pagos, em kg de palmito adquirido,

descontado as perdas ocorridas no beneficiamento e no transporte realizado. Segundo a

COOPERQUER, o preço médio vendido foi de R$ 6,66 por kg. A COOPERQUER estima que o

preço pago ao produtor é de R$ 5,35.

O produtor também vende direto para consumidor final, mas, em função da rigidez da

fiscalização realizada pelos órgãos de vigilância no município, a venda direta está sendo

reduzida. Abaixo se encontram as características dos agentes mercantis identificados nas

cadeias de comercialização do palmito da pupunha.

1. Produtores: os produtores de pupunha encontram-se tanto nos assentamentos e nas

chácaras no entorno da cidade como em algumas fazendas do município. Todos vendem

a produção in natura. A maioria dos produtores realiza a venda para agroindústria

através da COOPERQUER;

2. Atacado local: representado pela cooperativa COOPERQUER. A cooperativa é o elo

intermediário na venda da grande maioria da produção do município. Ela busca o

produto no mercado, negocia a produção e preço, bem como facilita a comercialização

da produção emitindo nota fiscal para venda direta ao consumidor final.

3. Agroindústria Estadual: abrange a agroindústria Luana localizada no município de Água

Boa/MT e é a maior compradora da produção de palmito de Querência. Realiza compra

com produtores individuais ou através da COOPERQUER. Fornece transporte que busca

a produção na propriedade, sendo descontado o valor no preço do produto.

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Figura 38 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de Querência (2015).

Fonte: Pesquisa de Campo 2016.

4.5 – Considerações

Uma das inúmeras vantagens observadas para o cultivo do palmito de pupunha, além da

sua sustentabilidade econômica e ambiental, é a adaptabilidade de sua espécie à agricultura

familiar, o que facilita a diversificação deste produto na cadeia de comercialização.

Enfatizando as vantagens da comercialização da pupunha, o pesquisador da Embrapa

Florestas, Álvaro Figueiredo dos Santos destaca que “A comercialização do palmito in natura

pode virar uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o

processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto

para mercados locais (feiras de produtores) ou para grandes centros” (EMBRAPA 2004).

Observa-se que no município de Querência o comércio é realizado principalmente no mercado

local e com ainda pouco grau de beneficiamento.

Além disto, há a possibilidade de criar diferenciais competitivos que impactam no

mercado, como por exemplo, a certificação concedida pela Fundação Banco do Brasil através

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do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, criado em 2001. Realizado a cada

dois anos, tem por objetivo identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já

aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, que sejam efetivas na solução

de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos

hídricos, renda e saúde.

Novas perspectivas de consumo se apresentam como alternativas produtivas que

podem inserir o palmito nestes mercados, sem que resulte em grandes investimentos

tecnológicos e produtivos, como afirma a pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas

(IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Valéria Aparecida

Modolo: “Com o aumento da produção, o consumidor poderá desatrelar o consumo de palmito

ao produto processado (em conserva), podendo consumi-lo in natura como parte de saladas

cruas”. Suas características são diferenciadas em relação às demais espécies e podem promover

uma mudança nos padrões de conceito do sabor do produto assim como na forma de consumo.

Evidentemente que, por ser inovador, este novo nicho de mercado deverá passar por um

processo de marketing, uma vez que o hábito mais recorrente do consumidor é a demanda

pelo produto em conserva.

Apesar de atualmente a indústria de palmitos estar voltada para a produção de palmito

em salmoura, é importante avaliar a possibilidade do produto pronto para o consumo in

natura, sendo minimamente processado. Esta alternativa, sem tratamento térmico, é viável,

com pouca agregação de tecnologia, riscos no processamento, menores recursos investidos na

produção e com potencial de crescimento no mercado consumidor.

Assim, conforme afirma o pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, “O uso desta

tecnologia resulta em um palmito de qualidade, com alto valor comercial, permitindo que o

produto in natura possa ser comercializado em locais distantes da produção agroindustrial e até

mesmo exportado por via aérea, uma vez que o valor agregado é alto”.

A busca por alternativas viáveis e adequadas às condições dos PAs, tanto considerando

as características referentes à organização social dos Assentamentos como de possibilidades de

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beneficiamento com um mínimo de complexidade tecnológica, perpassa por estabelecer

parcerias com Instituições Governamentais que já desenvolvem pesquisas que seguem esta

linha de investigação, como é o caso da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Há de se

considerar que qualquer investimento mínimo no processamento de produtos alimentícios,

pressupõe uma adequação à legislação rigorosa vigente no país através da ANVISA/MS.

Portanto, quanto maior a agregação de parceiros com conhecimentos específicos neste ramo

da indústria, maior as chances de êxitos.

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III –Sugestões alternativas para as atividades que não possuem viabilidade econômica, social e/ou ambiental.

A partir da caracterização dos produtores dos assentamentos estudados: Brasil Novo,

Canaã, Coutinho União, São Manoel e Pingo D’água fica evidente que a diversificação da

produção é a melhor estratégica para a agricultura familiar nos assentamentos. Pode-se dizer

que as cadeias produtivas estudadas (borracha, piscicultura, leite e pupunha) ainda estão se

estruturando, com fluxo de comercialização simples e não especializados.

De modo geral, partindo do princípio de diversificação da produção, não se pode

considerar que essas cadeias não tenham viabilidade econômica, social e/ou ambiental. No

entanto, o setor produtivo da agricultura familiar necessita de organização produtiva interna

que passa pela melhoria de desenvolvimento dentro dos assentamentos e de responsabilidade

dos próprios agricultores, como melhor estruturar suas organizações sociais (associações), que

possam buscar melhorias na assistência técnica, bem como negociar com setores do governo

políticas de promoção da agricultura familiar. Por outro lado, seria importante que o governo

municipal junto com ONG’s e representantes dos setores produtivo do município estabelecesse

um plano de desenvolvimento levando em consideração às políticas de fomento, como crédito,

ATER, legalização e de regularização do produto e das atividades em todos os níveis baseadas

na realidade local, e incentivos fiscais para tornar os setores produtivos competitivos no

mercado local, regional e nacional. Como as recomendações já foram descritas em cada cadeia

produtiva, aqui se apresenta uma síntese das sugestões para melhoria das cadeias produtivas:

- Apresentar os resultados do trabalho e o potencial para a criação e realização de

políticas pública de crédito voltadas ao produtor como forma de cobrir os custos de adequação;

- Buscar, facilitar e promover acesso à tecnologias e assistência técnica;

- Promover e garantir preços mínimos, buscando viabilizar junto às políticas nacionais de

subsídios do setor, como por exemplo, o PROBOR – incentivo à produção da borracha natural;

- Fomentar a expansão do cultivo da seringueira consorciada as outras culturas (SAF’s);

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- Fomentar o plantio de seringueira para recuperação de área degradadas;

-Incentivar arranjos comerciais público x privado x comunitário ou privado x

comunitário;

- Promover parcerias para programas de capacitação/treinamentos, intercâmbio dos

produtores à experiência de sucesso semelhante a realidade dos assentados;

- Estudo adicional para adequação da piscicultura com as demais atividades existentes

na propriedade;

- Fomentar e estimular o acesso a práticas de manejo como por exemplo produção de

ração alternativas com intuito de reduzir custo com insumos para atividade;

- Necessidade de um estudo sobre impacto das instalações de tanques em relação a

disponibilidade de água e o percurso natural dos recursos hídricos nas áreas dos

assentamentos;

- Capacitar os produtores às possibilidades de consórcio da piscicultura com outras

atividades como SAF’s, criação de pequenos animais;

- Realizar intercâmbio com propriedade modelo de piscicultura no estado do Mato

Grosso;

- Realizar pesquisa sobre melhores espécies de peixe para criação;

- Readequação da mini agroindústria de queijo para melhorar o produto, acessar novos

mercados e assim conseguir absorver a produção local;

- Identificar potenciais empreendedores para cada cadeia produtiva para promover um

plano de desenvolvimento local com base nessas recomendações seria uma forma mais

fácil de organização, visto que os espaços formais de discussão estão enfraquecidos

(STTR, STR, Associação...)

-Reestruturação da organização comercial da COOPERQUER para reduzir a dependência

ao poder público municipal. Ela tem grande potencial para funcionar como uma central

de comercialização do município, no entanto por estar atrelada e ser subsidiada pelo

governo municipal, corre um risco eminente de não desenvolver seu papel de forma

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autônoma. Pensar em um plano de em médio prazo torna-la mais eficiente na

organização comercial dos produtos da agricultura familiar seria uma alternativa para

promoção dos produtos da agricultura familiar local;

- Formar uma comissão técnica (fórum) que discuta as exigências legais para

beneficiamento e comercialização, tendo em base outras experiências de outros estados

que possam contribuir para a adequação às exigências legais para a realidade local,

dinamizando assim a agricultura familiar.

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ANEXOS

1 – Relato das Oficinas do Contexto dos Assentamentos da Caracterização do PA Brasil Novo

Data Realização: 27/02/2016

Número de participantes: 26 (18 do assentamento)

1) Apresentação do Projeto

Apresentação do Projeto Querência Mais

Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário

de Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).

2) Caracterização Geral do Assentamento

(Fotografia)

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O Assentamento possui 318 lotes, mas o conjunto de presentes considera que atualmente 100

famílias moram no lote.

O benefício social mais presente entre as (os) beneficiárias (os) é a aposentadoria.

A maioria das (os) jovens está fora do assentamento.

3) Divisão em grupos - Linha do Tempo

ANO AÇÃO

1998

Posto de saúde inicia suas atividades em uma casa alugada pela prefeitura com uma enfermeira e

uma Toyota para o deslocamento das (os) pacientes.

A escola desenvolve suas atividades através de uma parceria entre o INCRA e a comunidade na

Sede da Fazenda e no ano de 2000 é transferida para o barracão com apoio de transporte escolar

e maior número de professores e merendeira.

No início do assentamento 40% da área era de pastagens e 60% de mata.

Era permitido 3 hectares de desmatamento, mas a condição do Banco, para liberar o

financiamento para investimento na produção (PRONAF A) exigia um pacote/projeto produtivo de

9 vacas, 1 touro e uma área de 15 a 20 hectares de pastagem.

2002

A Associação Estrela da Paz inicia suas atividades no Assentamento. Sua ação se concentrou na

organização da produção e comercialização dos itens produzidos coletivamente em um lote

comprado pela Associação. Esta ação durou até 2008/2009, quando começou a declinar por falta

de tempo das (os) associadas (os), problemas financeiros e falta de união. A estrutura também era

aquém às necessidades da Associação.

Neste ano iniciavam no assentamento as atividades da Pastoral da Criança

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Neste mesmo período (1998 a 2003) o Sindicato dos Trabalhadores Rurais desenvolvia um

trabalho efetivo de apoio às famílias assentadas. Em 2003 a atuação cessou, retornando em 2006.

2002 a 2004 As culturas de mamona e gergelim foram implantadas pelas famílias através do Programa

Biodiesel, mas o valor acordado pelo produto não era pago às famílias desestimulando-as.

2004

Mudou a gestão municipal e o assentamento vivenciou uma mudança considerável em sua

estrutura.

A escola e o posto de saúde mudam de local (para o local atual), de onde passam por

modificações até a estrutura encontrada atualmente.

2005 - 2010

O Assentamento recebeu várias intervenções, em forma de apoio através de financiamento,

doação de insumos e assistência técnica, para implantação de projetos produtivos:

2005 – Pupunha

2008 – Heveicultura

2008/2009 – Piscicultura

2010 – Resfriador de leite

2011

A Associação de Mulheres iniciou suas atividades, mas, nesta trajetória, passou por muitas

dificuldades como a falta de estrutura e participação das mulheres. O projeto da despolpadeira de

frutas passa por dificuldades pela falta de estrutura para armazenamento das frutas e outras

necessidades de adequação.

2015 O Grupo da Terceira Idade Alegria de Viver inicia suas atividades com apoio do CRAS.

Intervenções:

Eleandro: se a família tivesse condições próprias de estabelecer seus projetos produtivos, teria

maior rendimento do que arrendar para soja.

Paulistinha: contra arrendar o lote inteiro para soja, ir morar na cidade e não desenvolver

nenhuma atividade produtiva. Deveria continuar na propriedade gerando renda.

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Guiomar: o custo de produção é alto, mesmo para a própria família tocar a soja. Falta um

armazém.

Aldo: Não acha justo quem arrendou todo lote, mora e trabalha na cidade e considera que no

futuro será melhor ter produção diversificada do que soja, pois em longo prazo é melhor ser

dono de seu próprio projeto produtivo do que arrendar.

“Quem está no lote produz algum alimento para subsistência”.

“As pastagens estão degradadas por causa de 40 anos de uso, arrendar para a soja não vai

resolver. Queimar renova a pastagem”.

“Os contratos de arrendamento (parceria segundo as famílias assentadas) para soja ganham

força no assentamento. As famílias afirmam que a parceria traz renda, emprego e ao final do

contrato e terra está recuperada”.

4. Produção: Agricultura e Produção Animal

Intervenções:

João: o turismo predatório está causando prejuízos ambientais no Rio Suiá (assoreamento,

abate de animais silvestres, pesca predatória de peixes nativos). Questiona sobre a

possibilidade da criação de uma colônia de pescadores na comunidade que possa exercer o

papel de fiscalização além da geração de renda através da pesca e a organização para receber o

conjunto de turistas.

Jane: apresentam dificuldade em comercializar pela distância e ausência de transporte.

Guiomar: a dificuldade está na falta de licença para comercializar. Precisa legalizar os produtos.

Aldo: falta organização para produzir. Sazonalidade da produção.

Dona Preta: Falta escala de produção. Reforça a preocupação com as barreiras e os produtos de

origem animal.

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Jane: reafirma a importância da despolpadeira para a geração de renda das famílias que

vendem as frutas.

Demandas em comum apontadas pelo grupo: informações sobre organização da produção,

mercado e comercialização, apoio para a produção: crédito e assistência técnica.

2 – Caracterização do PA Coutinho União Data de realização: 28/02/2016

Número de participantes: 14 (7 do assentamento)

1) Apresentação do Projeto

Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário de

Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).

2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)

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3) Linha do Tempo

ANO AÇÃO

1994

O assentamento contava com aproximadamente 50 famílias, sendo que primeiramente chegaram 11

famílias e toda a área era de mata. Segundo as (os) presentes quem chegava ao assentamento nesta

época já ganhava um lote de produção e um terreno na Agrovila.

Neste mesmo ano é implantada uma escola no assentamento.

No início foi feito um barraco de lona para todas as famílias e em seguida o INCRA foi iniciando a

estrutura para as famílias. Pelas características da área, distância da cidade e dificuldade de

deslocamento, uma Figura pública da época chamava o assentamento Coutinho União de

“penitenciária agrícola”.

Dividiram o lote, mas inicialmente as famílias implantaram lavouras coletivas de milho e arroz, que

foram comercializadas em Querência e outras localidades.

Fomento habitação.

Neste mesmo ano é criada a Associação.

1996

INCRA abriu 5 hectares por família e estas já moravam em seus lotes.

As famílias acessam o PROCERA.

Posto de Saúde.

1997 A Agrovila já havia sido instalada e ganhava expressão no assentamento.

1998

O preço do arroz caiu e a produção foi baixa, muitas famílias quebraram e iniciaram a atividade da

pecuária com agricultura de subsistência. Neste período muitas famílias saíram do assentamento.

Serraria no assentamento.

1998 –2000 Novas famílias chegam ao Assentamento, comprando os lotes/pagando as benfeitorias.

2000 As famílias acessam o PRONAF.

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2002 - 2003 Mandioca e farinheira

2003 Arroz associado à soja

2004 Soja e safrinha

2006

Projetos seringueira chegam ao Assentamento.

Fecharam as madeireiras.

As áreas de seringueira aumentam.

2008

Período de maior desmatamento no Assentamento.

Práticas de limpar o pasto com fogo e incêndios acidentais.

Um Grupo de Mulheres inicia atividades de artesanato, mas não conseguia vender seus produtos,

cessando suas atividades.

2009 Energia elétrica

2010

Iniciam os projetos de pecuária leiteira

Fomento habitação – reforma.

Inicia em 2010 e segue até 2012 a produção de soja e gergelim para o Programa Biodiesel.

2012

Iniciam os projetos de piscicultura.

Asfalto na Agrovila.

Expressivo aumento da soja e das parcerias no Assentamento.

Neste mesmo período inicia um declínio da pecuária de corte, pois as pastagens cedem espaço para a

cultura da soja, como uma alternativa, para a recuperação das mesmas, que se encontravam

degradadas.

2013 Telecentro

2014/2015 Escola nova

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Chega um médico de Cuba para a Unidade de Saúde

2011 Financiamento e plantio de pupunha

4. Produção: Agricultura e Produção Animal

Intervenções:

Vanderlei: O Pequi é um mau negócio porque fornece renda apenas uma vez por ano, precisa

ter outras fontes de renda para compensar.

O custo de produção é muito alto para ovos e frango, a ração está muito cara e tem

muita gente vendendo ovo e frango na cidade.

Odair: Falta apoio de máquinas agrícolas. O trator da Associação não dá conta da demanda.

Os financiamentos realizados em grupo com aval cruzado prejudicam quem paga se um

do grupo não pagar.

Deveria ter uma linha de crédito para comprar trator usado ou seminovo.

“Falta incentivo: assistência técnica, união e troca de experiências”.

OUTRAS ANOTAÇÕES

Frete saca soja: R$ 2,50/saca

Preço da farinha de mandioca: R$ 5,00/kg

Se a mandioca for boa, renderá 60% em farinha

Seringueira: coletam aproximadamente 700 gramas/árvore

Vanderlei está iniciando um plantel com 50 matrizes de suíno

Pegar dados de piscicultura com Eleandro

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Adimplência satisfatória no Assentamento

O solo é fraco e não responde

Em nível de produção é possível ultrapassar as divergências para produzir e comercializar coletivamente

3 – Caracterização do PA São Manoel Data Realização:28/02/2016

Número de participantes: 26 (18 do assentamento)

1) Apresentação do Projeto

Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário de

Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).

2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)

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3) Linha do Tempo

4. Produção: Agricultura e Produção Animal

Intervenções:

“Precisa melhorar a produção. Falta infraestrutura, mercado, transporte para a comercialização

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e capital para investimento”.

“Falta união e parceria das famílias assentadas”.

“Falta documentação para proteger a comercialização. Contrato para resguardar a compra e o

valor acordado entre fornecedor e comprador”.

“Falta mão de obra”.

“Precisa de assistência técnica e adequar para a fiscalização”.

“Os técnicos podiam ficar uma semana em cada localidade para facilitar a assistência técnica”.

“A Associação precisa ser mais forte e ativa”.

“Algumas famílias ainda precisam de energia”.

“As mulheres começaram a se reunir, mas não conseguiram levar o trabalho adiante. O grupo

ainda tem vontade de se reunir e precisa de capacitação e assistência técnica”.

4 – Caracterização do PA Pingo D’água

Data de realização:02/03/2016

Número de participantes: 10 (6 do assentamento)

1) Apresentação do Projeto

Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Cecília (IPAM)

2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)

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O Assentamento possui 541 lotes, mas o conjunto

de presentes na atividade considera que

atualmente 280 famílias moram nos lotes e

Agrovila.

No início do Assentamento o mesmo possuía

aproximadamente 450 famílias, sendo que

atualmente apenas 60 famílias persistem na

localidade desde sua criação e, apesar de sempre

ter um fluxo de entrada e saída de famílias, nos

últimos cinco anos diminuiu a quantidade de

famílias que foram embora do Assentamento.

O Assentamento possui cerca de 30% de idosos e

destes aproximadamente 95% são aposentados.

Consideram que, por falta de apoio do INCRA, 180 famílias têm que exercer algum tipo de

atividade fora do assentamento.

Atualmente o Assentamento possui: 1 Unidade Básica de Saúde, 1 escola, 2 campos de futebol,

7 igrejas, 7 comércios, 1 ônibus escolar, 50% das famílias do Assentamento possuem carro e

20% bicicleta como meio de transporte (Denyse não anotei a porcentagem de moto).

3) Linha do Tempo

ANO AÇÃO

1997 As famílias começam a chegar ao Assentamento.

Toda a área era de mata e tinha apenas uma estrada precária.

1999 INCRA homologa o Assentamento.

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Chegam ao Assentamento aproximadamente 400 famílias com o apoio da igreja e do Sindicato.

No início só produzia abacaxi e mandioca e algumas famílias venderam madeira.

A agricultura inicial era de subsistência e o excedente era vendido em Querência.

Abriram aproximadamente 3 hectares de pasto e assim iniciaram a atividade da pecuária.

2001 - 2002 Acesso ao PRONAF A e Custeio com apoio da EMPAER – Projetos Produtivos de Pecuária.

O Assentamento conta com uma sala de aula em cada Setor.

2002 Começam os projetos de heveicultura no Assentamento, mas não ocorre a implantação da cultura.

2003 - 2004 Pequi – aproximadamente 30 hectares no Assentamento (depois o plantio cedeu espaço à soja).

2004 Começam os projetos de pupunha no Assentamento, mas não ocorre a implantação da cultura.

2005 - 2006 Máxima expressão da pecuária de corte.

2005

A escola construída na Agrovila reúne todos os estudantes do Assentamento.

Ônibus escolar.

A partir de 2005 começou a substituição de áreas de pastagem por soja. Este processo foi

aumentando com a degradação gradativa das pastagens.

As culturas de arroz e milho acompanham o crescimento da soja.

2008 Iniciam os plantios de seringueira no Assentamento.

2009 Auge da Associação (resfriador, patrulha agrícola)

2010 Posto de Saúde

2012 Associação encerra as atividades

Início de projetos de piscicultura

2014 Iniciam o plantio da pupunha

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2015

Seca

Uma mulher fomentou a organização de mulheres. Realizou algumas reuniões, mas foi embora do

Assentamento e o grupo, composto por aproximadamente 10 mulheres, cessou suas atividades.

4. Produção: Agricultura e Produção Animal

Intervenções:

“Falta organização/associação”.

“As pessoas que possuem melhores condições não se importam com os problemas”.

“O preço pago pelo litro de leite desestimula a atividade”.

“Deveria existir um entreposto ou central para a comercialização”.

“Falta legalização dos produtos”.

“Falta capacitação”.

OUTRAS ANOTAÇÕES

Nos anos de 2000 e 2001 o Assentamento registrou muitos casos de Malária e de 2012 para cá aumentaram

os focos de dengue nos lotes.

Em 2005 a Associação teve um importante papel na conquista da escola na Agrovila.

Nascente e córregos estão mais poluídos.

Relatos de que quando desmatou apareceram nascentes e córregos.

Apenas 5% das famílias acessaram o PRONAF Mais Alimentos, pois as famílias não satisfazem as condições do

banco.

As famílias contratam assistência técnica para a elaboração dos projetos e demais trâmites.

Existe expressiva produção de melancia por uma família que comercializa na cidade e para o CEASA de

Goiânia.

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Existe expressiva produção de abóbora por uma família que comercializa para o CEASA de São Paulo.

Deve existir uns 20 hectares de pequi em todo Assentamento.

A pecuária leiteira teve um auge, quando produzia até 4000 litros/dia, mas o preço baixo diminuiu

drasticamente a produção.

Tem uma família que produz aproximadamente 300 litros/dia e possui resfriador.

O Assentamento possui uma família que produz aproximadamente 600 frangos/mês e vende na cidade.

Duas famílias que possuem avicultura de corte comercializam para as famílias que trabalham no Seringal da

Maggi.

2 famílias produzem mel no Assentamento.

Falta incentivo para a atividade.

1 família vende aproximadamente 30 dúzias de ovos por semana e afirma que se tivesse mais ovos venderia

todos, pois existe grande demanda.