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DIAGNÓSTICO DAS PRÁTICAS DE INOVAÇÃO ABERTA UTILIZADAS POR EMPRESAS GRADUADAS DE TECNOLOGIA Flavia Aparecida de Souza (UNIFEI ) [email protected] Carlos Henrique Pereira Mello (UNIFEI ) [email protected] Muitas empresas têm buscado novas estratégias de inovação, devido à competição acirrada no mercado. Hoje, o que se vê são muitas organizações realizando a transição entre “inovação fechada”, onde o conhecimento se restringe às fronteiras daa empresa, sem trocas e interações com o ambiente, para a “inovação aberta”, em que o fluxo da informação e conhecimento transita de forma mais acelerada, com interações com o ambiente externo. Nesse cenário, encontram-se as empresas graduadas de tecnologia, onde a proximidade com a inovação é mais frequente. Sendo assim, o intuito do trabalho é avaliar as empresas graduadas, residentes de uma incubadora de empresas, levantar o perfil dessas empresas e identificar as principais práticas de inovação aberta utilizadas, para melhor compreender seus processos de desenvolvimento de produtos e serviços. Para a análise das práticas de inovação aberta, um questionário foi enviado às empresas por e- mail. Os resultados apontam que as práticas mais utilizadas são envolvimento de colaboradores, capital de risco, envolvimento de clientes e redes externas. Por outro lado, as práticas de inovação comercialização e aquisição de propriedade intelectual não são utilizadas por nenhuma das empresas pesquisadas. O grau de satisfação das empresas em relação ao uso das práticas de inovação é, em grande parte, muito satisfatório. Palavras-chaves: Inovação; Inovação fechada; Inovação aberta; Incubadora de empresas, Empresa graduada. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

DIAGNÓSTICO DAS PRÁTICAS DE INOVAÇÃO ABERTA … · (inovação fechada), ... Não obstante, muitas empresas utilizam uma abordagem de inovação, denominada por Chesbrough (2003)

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DIAGNÓSTICO DAS PRÁTICAS DE

INOVAÇÃO ABERTA UTILIZADAS POR

EMPRESAS GRADUADAS DE

TECNOLOGIA

Flavia Aparecida de Souza (UNIFEI )

[email protected]

Carlos Henrique Pereira Mello (UNIFEI )

[email protected]

Muitas empresas têm buscado novas estratégias de inovação, devido à

competição acirrada no mercado. Hoje, o que se vê são muitas

organizações realizando a transição entre “inovação fechada”, onde o

conhecimento se restringe às fronteiras daa empresa, sem trocas e

interações com o ambiente, para a “inovação aberta”, em que o fluxo

da informação e conhecimento transita de forma mais acelerada, com

interações com o ambiente externo. Nesse cenário, encontram-se as

empresas graduadas de tecnologia, onde a proximidade com a

inovação é mais frequente. Sendo assim, o intuito do trabalho é avaliar

as empresas graduadas, residentes de uma incubadora de empresas,

levantar o perfil dessas empresas e identificar as principais práticas de

inovação aberta utilizadas, para melhor compreender seus processos

de desenvolvimento de produtos e serviços. Para a análise das práticas

de inovação aberta, um questionário foi enviado às empresas por e-

mail. Os resultados apontam que as práticas mais utilizadas são

envolvimento de colaboradores, capital de risco, envolvimento de

clientes e redes externas. Por outro lado, as práticas de inovação

comercialização e aquisição de propriedade intelectual não são

utilizadas por nenhuma das empresas pesquisadas. O grau de

satisfação das empresas em relação ao uso das práticas de inovação é,

em grande parte, muito satisfatório.

Palavras-chaves: Inovação; Inovação fechada; Inovação aberta;

Incubadora de empresas, Empresa graduada.

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1. Introdução

Para Badawy (2011), a velocidade com que a tecnologia tem se propagado é espantosa.

Atualmente, tudo caminha conforme a evolução dos processos, produtos, sem deixar de

atender as expectativas dos clientes.

A sociedade atual, de acordo com Saquetto e Carneiro (2011), tem experimentado o

desenvolvimento tecnológico desde a estruturação social. Este desenvolvimento contribui

para o bem-estar da população, diferenciação competitiva das organizações e o crescimento

econômico dos países.

Tecnologia e inovação desempenham um papel essencial na economia, frente à competição

mercadológica. A tecnologia, inclusive, segundo Badawy (2011), permeia todos os aspectos

de nossas vidas. Para ele, ciência, tecnologia e inovação são as hélices que movem o mundo.

Sob esse prisma, enquanto muitas empresas trabalham focadas para si e seus limites internos

(inovação fechada), outras organizações têm buscado novos caminhos, quebrando barreiras,

através de um forte contato e interação com o ambiente externo (inovação aberta), seja com

universidades, clientes, fornecedores, etc.

Hoje, é possível encontrar novos arranjos organizacionais, inseridos num ambiente diferente

do tradicional, onde a inovação e a tecnologia são as chaves para o seu crescimento e

desenvolvimento.

Segundo Etzkowitz (2009), a criação de empresas tem se tornado um ponto crucial da

estratégia de inovação. A facilidade de acesso à informação e à ciência, como também, o

desenvolvimento dos modelos de ensino tem facilitado o aparecimento de empresas muito

ligadas às universidades e a centros acadêmicos que atuam fortemente nas áreas tecnológicas.

Nesse ambiente, encontram-se as incubadoras de empresas que funcionam como “alavanca”

para pequenas empresas nascentes (startups) de alta tecnologia, como as “empresas

incubadas”, que após um determinado período de incubação, passam a ser denominadas como

“empresas graduadas”. Neste tipo de empresa, o curso da informação é mais acelerado devido

às próprias características da empresa e do ambiente onde estão inseridas.

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Todavia, há poucos estudos de inovação aberta em pequenas e médias empresas, segundo Van

de Vandre et al. (2009), embora as publicações sobre inovação aberta tenham crescido nos

últimos anos, de acordo com Dahlander e Gann (2010).

Diante desse panorama, ao se realizar um levantamento na base de dados ISI Web of

Knowledge, utilizando-se a palavra-chave “Open Innovation”, pode-se notar que o tema

inovação aberta tem sido alvo de crescente debate entre os pesquisadores, como mostra a

Figura 1. Especialmente em relação às citações, o índice cresce até 2011 e, em 2012, ainda

possui cerca de 350 citações.

Figura 1 – Número de publicações e citações sobre inovação aberta

(a) Publicações (b) Citações

Fonte: ISI Web of Knowledge (2012)

Quando pesquisada na mesma base sobre as práticas de inovação aberta, utilizando a palavra

chave “Open Innovation Practices”, também é possível identificar um bom número de

publicações e citações sobre o tema, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Número de publicações e citações sobre práticas de inovação aberta

Fonte: ISI Web of Knowledge (2012)

Contudo, ao submeter o critério de busca inovação aberta em empresas nascentes de base

tecnológica, utilizando-se as palavras chave “Open Innovation” e “Startups”, apenas três

trabalhos aparecem, conforme ilustrado na Figura 3.

(a) Publicações (b) Citações

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Figura 3 – Número de publicações e citações sobre inovação aberta e startups

(a) Publicações (b) Citações

Fonte: ISI Web of Knowledge (2012)

Nessa busca realizada na base do ISI Web of Knowledge não foi encontrado nenhum trabalho

sobre a utilização das práticas da inovação aberta em empresas nascentes de base tecnológica,

especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

Sendo assim, diante desse cenário e desta lacuna identificada na literatura, o intuito desse

trabalho é realizar uma análise exploratória da abordagem de inovação aberta (IA) utilizada

por empresas graduadas, residentes de uma incubadora de base tecnológica, analisando o

perfil e a maturidade dessas organizações, bem como identificando as principais práticas de

IA utilizadas nos processos de inovação radical e incremental. Trata-se de um recorte a ser

apresentado neste artigo de um trabalho mais amplo.

Para isso, o presente trabalho traz um referencial teórico sobre inovação, inovação fechada,

inovação aberta, conceitos sobre incubadora e empresas graduadas. Mais adiante, é

apresentada a análise realizada com as empresas graduadas de uma incubadora de empresas

localizada no Estado de Minas Gerais e os resultados dessa avaliação. Por fim, seguem as

considerações finais e as referências bibliográficas do trabalho.

2. Fundamentação teórica

2.1. Inovação

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De acordo com Chesbrough (2003), as empresas que não inovam “morrem”. Desse modo, a

inovação assume um papel chave na sustentação e desenvolvimento das organizações.

Inovar é quebrar o passado para construir o novo. A inovação não necessariamente acontece

apenas no desenvolvimento de um produto. É possível inovar num processo e na forma como

se trabalha.

Estendendo-se esse conceito, no site do SEBRAE (2012) pode-se encontrar a seguinte

definição para o termo inovação: “exploração de novas ideias para melhorar os negócios,

criando vantagens competitivas e gerando sucesso no mercado”.

Existem inúmeras definições sobre inovação, segundo o Wallin e Krogh (2010). Entretanto,

uma forma de pensar sobre isso é tratar a inovação como um processo de criação, que utiliza

conhecimentos para o desenvolvimento e introdução de algo novo e útil.

Seguindo esse parâmetro, há alguns aspectos a respeito da definição de inovação, de acordo

com esses autores:

- Inovação é um processo que envolve a criação de conhecimento relevante, como:

conhecer o cliente, seus requisitos, as tendências de mercado, as novas tecnologias

etc.;

- O conhecimento criado é utilizado para desenvolver algo novo e útil, ou seja, novas

ideias podem ser transformadas em novos produtos, processos e serviços.

Usualmente, a inovação em produtos, processos e serviços, envolve a colaboração de pessoas

e equipes heterogêneas, com expertise diferente (WALLIN e KROGH, 2010).

Não obstante, muitas empresas utilizam uma abordagem de inovação, denominada por

Chesbrough (2003) de fechada, onde há pouca ou nenhuma sinergia com o ambiente externo.

Em outras palavras, muitas empresas acreditam que o seu potencial de desenvolvimento está

restrito apenas aos limites da própria organização.

2.2. Inovação fechada e aberta

De acordo com Badawy (2011), existem dois caminhos a serem seguidos pelas empresas que

desejam melhorar a sua vantagem competitiva no mercado: (1) através do processo de

inovação fechada, ou (2) através da inovação aberta.

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A inovação fechada é um tipo de inovação em que a empresa acredita que todo o seu

potencial, possibilidade de desenvolvimento e criação de tecnologia reside dentro das

fronteiras da própria organização, conforme evidenciado na Figura 4.

Figura 4 – Modelo de inovação fechada.

Fonte: Chesbrough (2003)

O processo de inovação fechada limita o conhecimento ao uso interno da empresa

(CHESBROUGH, 2003). O modelo de inovação fechada sugere que as empresas foquem na

“inovação de dentro”, sustentada pelos laboratórios e centros de P&D internos (BADAWY,

2011).

Muitas empresas, de acordo com Van de Vandre et al. (2009), utilizam desses departamentos

internos de pesquisas para a criação de novos produtos, serviços e processos. Em muitos

setores, os laboratórios de P&D representavam até então, um ativo estratégico, com barreiras

que impediam a entrada de potenciais rivais no mercado.

Quer dizer, a grande maioria das empresas, segundo Dewes e Padula (2012), estava habituada

a tomar decisões dentro dos seus limites organizacionais, considerando o ambiente externo

simplesmente como uma variável exógena ou um lócus onde cada empresa compete entre si.

Contudo, alguns fatores têm levado a erosão da inovação fechada como a disponibilidade e

mobilidade de capital humano e de recursos (CHESBROUGH, 2003).

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Diante desse novo contexto, surge o conceito de “Inovação Aberta”, em que as empresas não

mais dependentes dos recursos internos e às fronteiras da organização, acabam adotando

práticas que possibilitam a interação com o ambiente externo (FU, 2012).

Inovação aberta é um fluxo de conhecimento entre os limites internos e externos das

organizações que acelera os processos de inovação dentro das empresas (CHESBROUGH,

2003).

Quer dizer, é um processo que combina ideias internas e externas, tornando mais flexíveis e

“porosos” os limites entre organização e o ambiente, derrubando barreiras para o

desenvolvimento de novos produtos e melhoria de processos, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5 – Modelo de inovação aberta

Fonte: Chesbrough (2003)

A inovação aberta, para Chiaroni et al. (2011), implica no uso extensivo de relações e

interações com o ambiente, através do uso de inúmeros recursos de inovação e uma variedade

de canais externos.

Em resumo, a inovação aberta é caracterizada pela colaboração de diversos stakeholders

(parceiros), como clientes, fornecedores, universidades e, até mesmo, concorrentes (FU,

2012).

Em seu trabalho seminal, Chesbrough (2003) discute e apresenta as principais diferenças entre

inovação aberta e fechada. O Quadro 1 traz os princípios que distinguem cada uma dessas

duas abordagens.

Quadro 1 – Princípios da inovação fechada e aberta

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INOVAÇÃO FECHADA INOVAÇÃO ABERTA

As pessoas competentes trabalham para

nós .             

Nem todas as pessoas competentes trabalham

para nós. Precisamos trabalhar com pessoas

competentes dentro e fora da empresa.

Para ter lucro através de P&D,

precisamos fazer descobertas,

desenvolvê-las e comercializá-las nós

mesmos.

P&D externo pode criar valor significativo e P&D

interno pode reivindicar uma porção desse valor.

Se nós mesmos fazemos as

descobertas, teremos condições de

sermos os primeiros a introduzirmos no

Mercado.

Não temos que necessariamente criarmos a

pesquisa para lucrarmos com ela.

Ganha aquela empresa que coloca

primeiro uma inovação no mercado.

Construir um modelo de negócio é melhor do que

chegar primeiro ao mercado.     

Ganharemos, se criarmos as melhores

idéias na empresa.

Ganharemos, se fizermos o melhor uso das idéias

internas e externas.

Devemos controlar nossa PI

(Propriedade Intelectual), de modo que

nossos competidores não lucrem com

nossas idéias.

Devemos lucrar com outros usos de nossas PI e

devemos adquirir outras PI desde que contribuam

para avançar nossos modelos de negócio.

Fonte: Chesbrough (2003)

Para Huizingh (2011), o processo de inovação é bastante relevante: (1) porque o processo leva

à inovação aberta, a partir de uma inovação fechada (transição); (2) porque o processo precisa

saber como promover a abertura da inovação.

Há dois tipos de inovação aberta, conforme estudo de Van de Vandre et al. (2009): (1)

aproveitamento da tecnologia e (2) exploração da tecnologia.

As saídas intencionais do conhecimento ou aproveitamento da tecnologia, de acordo com

Chesbrough e Crowther (2006) implicam em atividades do processo de inovação para

alavancar as capacidades tecnológicas existentes para fora dos limites organizacionais. As

entradas intencionais, ou exploração da tecnologia, se referem às atividades da inovação para

capturar e se beneficiar das fontes externas de conhecimento para aumentar os

desenvolvimentos tecnológicos atuais.

O aproveitamento da tecnologia leva a inovação de dentro para fora e se refere à utilização

externa do conhecimento gerado dentro do ambiente da empresa. A exploração da tecnologia,

no entanto, é conhecida por trazer a inovação de fora para dentro e se refere à utilização

interna dos conhecimentos gerados fora do ambiente da empresa (HUIZINGH, 2011).

No primeiro tipo (aproveitamento da tecnologia), existem três práticas de inovação aberta e

no segundo (exploração da tecnologia), cinco práticas de inovação, conforme definidas no

Quadro 2.

Quadro 2 – Práticas da inovação aberta

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TIPOLOGIA PRÁTICA DESCRIÇÃO

CAPITAL DE RISCO (VENTURING)Conhecimento interno, recursos financeiros,

capital humano e serviços de apoio.

COMERCIALIZAÇÃO DE LICENCIAMENTO

DE PI (OUTWARD IP LICENSING)

Venda e oferta de licenças para que outras

empresas lucrem com sua PI.

ENVOLVIMENTO DO EMPREGADO

Alavancar conhecimento e iniciativas dos

empregados: sugestões, ideias, equipes de

inovação.

ENVOLVIMENTO DO CLIENTECliente envolvido no processo de inovação:

necessidades, requisitos, etc.

REDES EXTERNAS Parceiros para apoiar o processo de inovação.

PARTICIPAÇÃO EXTERNA Investidores externos: conhecimento e sinergia.

P&D TERCEIRIZADO (OUTSOURCING P&D)Compra de serviços de P&D de outras empresas:

universidades, organizações públicas, etc.

AQUISIÇÃO DE LICENCIAMENTO DE PI

(INWARD IP LICENSING)

Compra ou uso de propriedade intelectual:

patentes.

APROVEITAMENTO

DA TECNOLOGIA

(EXPLOITATION)

EXPLORAÇÃO DA

TECNOLOGIA

(EXPLORATION)

Fonte: Van de Vrande et al. (2009)

2.3. Incubadora e empresas graduadas

A incubadora de empresas funciona como uma alavanca e gestora de empresas nascentes. É

uma estrutura de apoio para criação de empresas, segundo Etzkowitz (2009).

Incubadora é um ambiente multifacetado que engloba inovação, educação empreendedora,

cuja finalidade é o desenvolvimento de startups a partir de pesquisas acadêmicas.

Nas incubadoras, grande parte das empresas é de base tecnológica e, entre as empresas

residentes e as que passam pelo processo de incubação, estão as empresas incubadas e

graduadas.

Empresas graduadas, seguindo definições do Glossário Anprotec (2002), são organizações

que passam pelo processo de incubação e que alcançam desenvolvimento e maturidade

suficiente para atuarem no mercado, podendo ou não manter vínculo com a incubadora.

3. Planejamento da pesquisa

A pesquisa se propõe a realizar uma análise das práticas de inovação aberta nas empresas

graduadas, residentes da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (INCIT).

Localizada no campus da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), a INCIT é uma estrutura

de apoio à geração e consolidação de empresas de excelência na área tecnológica, oferecendo

suporte de gestão administrativa e operacional às novas empresas e seus empreendedores,

para que os produtos e processos possam ser comercializados.

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A INCIT foi selecionada por possuir especialidades análogas a de outras incubadoras de

empresas de base tecnológica existentes no Brasil, além de ser uma das mais premiadas

incubadoras mineiras.

O método de pesquisa adotado foi o estudo de casos múltiplos. O roteiro da pesquisa foi

encaminhado por e-mail, aos diretores e sócios das empresas. A ferramenta utilizada para a

elaboração e disponibilização das questões aos empreendedores foi o “Google Docs”. O

modelo do questionário é apresentado no Anexo 1.

O roteiro da pesquisa para análise das empresas foi dividido em três partes: (1) dados gerais,

para identificar o perfil das empresas; (2) avaliação da maturidade, seguindo os cinco eixos de

grau de maturidade utilizados pela incubadora; (3) levantamento das práticas de inovação

aberta, tendo como base, as oito práticas de inovação, conforme descritas no Quadro 2.

4. Análise dos resultados

Participaram da pesquisa cinco empresas graduadas, todas residentes da incubadora de

empresas INCIT. Todas as empresas estão graduadas há mais de 24 meses. Dessas, 80%

pertencem ao segmento de tecnologia da informação e dentre os principais produtos e serviços

comercializados estão: sistemas de rastreabilidade de alimentos, softwares em geral e jogos

educacionais. As restantes, 20%, pertencem a outro segmento e dentre os principais serviços e

produtos estão: equipamentos para balanceamento de máquinas, serviços de engenharia e

calderaria.

O número médio de sócios dessas empresas é de três e o número médio de colaboradores,

entre bolsistas, estagiários e efetivos, é de 15. Dos sócios, 60% possuem pós-graduação e 80%

dos colaboradores possuem graduação.

Em relação ao número de patentes, apenas 40% disseram possuir, variando de uma a três

patentes.

A pesquisa também analisou o grau de maturidade das empresas, de forma que elas se auto-

avaliassem quanto aos eixos: empreendedor, financeiro, P&D, mercado e gestão.

Para o grau de maturidade empreendedor, 100% das empresas classificam como muito bom.

Em relação à maturidade financeira, 40% acreditam que está muito bom, e 60% regular.

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Tomando-se como base o eixo P&D, 60% das empresas avaliadas acreditam ter maturidade

muito boa; o restante, regular.

Para os eixos de maturidade mercado e gestão, 60% e 80% respectivamente, se auto-avaliam

como regular, uma vez que estão em processo de ajuste e adequação do negócio ao mercado.

Na última parte da pesquisa, levantou-se as práticas de inovação aberta (vide Quadro 2)

utilizadas pelas empresas no desenvolvimento de produtos, serviços e melhoria de processos.

Das cinco empresas avaliadas, uma única empresa respondeu que não utiliza quaisquer das

práticas de inovação aberta. Dessa avaliação, fica evidente que as outras quatro empresas

utilizam, no mínimo, duas práticas no seu processo de inovação, conforme Quadro 3.

Quadro 3 – Práticas de inovação utilizadas pelas empresas graduadas

A B C D E F G H

EMPRESAS SEGMENTO

1 Outro

2 TI X X X X X

3 TI X X X X X

4 TI X X X X X

5 TI X X

PRÁTICAS DE INOVAÇÃO ABERTA

CA

PIT

AL D

E R

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ÃO

DE

PI

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I

A Figura 6 apresenta, de forma geral, as porcentagens de cada prática de inovação aberta

utilizadas pelas empresas.

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Figura 6 – Porcentagem de utilização das práticas de inovação

0,00%

25,00%

50,00%

75,00%

100,00%

PRÁTICAS DE INOVAÇÃO ABERTA

Nota-se que 100% das empresas graduadas utilizam a prática C (envolvimento de

colaboradores) e a prática A (capital de risco) no seu processo de inovação. 75% utilizam a

prática D (envolvimento de clientes) e E (redes externas); 50%, a prática F (participação

externa) e 25% das empresas utilizam a prática G (P&D terceirizado). As práticas B e H não

foram apontadas pelas empresas pesquisadas.

Em relação ao grau de satisfação das empresas quanto ao uso e aplicação de tais práticas em

seus processos de inovação, 50% das empresas estão muito satisfeitas com a utilização das

práticas A e C. Cerca de 67% estão satisfeitas com o uso de redes externas e envolvimento de

clientes; 50% muito satisfeitas ou satisfeitas com a prática F e 100% das empresas que

utilizam a prática G (P&D terceirizado) possui grau de satisfação pouco satisfatório.

5. Considerações finais

Não é tarefa fácil para grande parte das empresas hoje em dia, enfrentar um mercado

competitivo. As empresas devem estar atentas aos processos e ferramentas que surgem, de

modo que o desenvolvimento e o crescimento da organização sejam mais eficazes.

Limitar-se às fronteiras da empresa, não é uma boa alternativa. O que se vê diante desse novo

contexto tecnológico é a necessidade de caminhar fora dos limites organizacionais e

estabelecer sinergia com o ambiente ao seu redor. Este é o propósito da abordagem

denominada de inovação aberta.

Muitas organizações, dentre elas, grandes empresas, têm utilizado a inovação aberta para

melhoria de processos e desenvolvimento de produtos e serviços. E muitos trabalhos têm sido

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publicados nessa área. Entretanto, poucos trabalhos têm relacionado inovação aberta e

startups.

Esta questão é instigante, pois grande parte das empresas graduadas que passaram pelo

processo de incubação reside num ambiente propício ao desenvolvimento da inovação.

Ante a dinamicidade e tecnologias utilizadas por essas empresas, torna-se relevante a

avaliação do perfil dessas organizações, como também, a identificação das principais práticas

de inovação aberta empregadas no processo de desenvolvimento de produtos e serviços.

Assim, a pesquisa apontou que das empresas pesquisadas, apenas uma revelou não utilizar

quaisquer práticas. Das demais empresas graduadas aqui analisadas, todas aplicam, no

mínimo, duas práticas de inovação aberta nos processos de inovação.

Grande parte das empresas graduadas utiliza como “instrumentos” para a melhoria dos

processos, produtos e serviços: apoio de colaboradores, capital de risco, envolvimento de

clientes e redes externas.

Os resultados da pesquisa ajudam a entender que a inovação e a adoção das práticas de forma

geral, podem ser a chave para o desenvolvimento das empresas nascentes.

Uma limitação do presente trabalho, entretanto, foi não verificar a auto-avaliação das

empresas em relação ao quesito “maturidade”. Isso poderia ser feito in loco ou até mesmo por

meio da avaliação por parte da gerência da incubadora. Isso será feito posteriormente quando

da continuidade dessa pesquisa.

Ademais, os resultados do trabalho sugerem perspectivas para trabalhos futuros, como por

exemplo, uma avaliação mais aprofundada sobre as práticas de inovação utilizadas pelas

empresas graduadas e qual o impacto real dessas práticas no desenvolvimento de produtos,

serviços e processos, o que reflete de imediato, na ampliação sócio-econômica do ambiente

onde essas empresas estão inseridas.

Tais trabalhos poderiam investigar como as empresas graduadas de tecnologia utilizam tais

práticas, as dificuldades encontradas, os benefícios ou resultados diretos obtidos e a

sistemática para iniciar e implantar essas práticas.

Outra sugestão seria realizar o mesmo processo de pesquisa para um diagnóstico das empresas

incubadas, que ainda não se graduaram.

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Referências

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Anexo 1- Questionário de Pesquisa – Avaliação Preliminar de Startups

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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