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SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
A CONSCIÊNCIA DA ARTE DE APRENDER PARA O AUTODESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
Noemi Salgado Soares1
RESUMO: Este artigo apresenta algumas reflexões sobre o significado da arte de aprender ou do autoconhecimento para o processo de ativação da consciência do ser humano planetário. Além de ressaltar que o eixo pedagógico e epistemológico da educação transdisciplinar é a vivência da arte de aprender, o conteúdo da sua abordagem, fundamentada em algumas concepções pedagógicas de Jiddu Krishnamurti, evidencia que, no século XXI, esta vivência é imprescindível para o autodesenvolvimento humano, também compreendido como o processo de cuidado-cura da doença psicológica do serhumanohumanidade.
PALAVRAS-CHAVE: Autoconhecimento, arte de aprender, Jiddu Krishnamurti, autodesenvolvimento humano, educação transdisciplinar, cuidado-cura da doença psicológica do serhumanohumanidade
1. O QUE É ISTO, A VIVÊNCIA DA ARTE DE APRENDER? : diálogo com algumas perspectivas educacionais de Jiddu Krishnamurti
A realidade do contexto histórico-sócio-cultural da nossa humanidade
planetária, nesta primeira década do século XXI, também foi formatada pela prática
de um sistema educacional, mecânico-fascista, que adestrou e adestra o ser
humano a construir e a escravizar-se a um condicionado processo de inconsciência
existencial. Este processo se baseia em uma ancestral ignorância da natureza e da
estrutura da sua mente, principalmente no que se refere ao funcionamento da
1 Educadora, Mestre em Letras Vernáculas, Doutora em Filosofia da Educação. Desde 1983 é professora da Universidade Federal da Bahia, onde, atualmente, é coordenadora e docente do curso de Pós-Graduação Educação transdisciplinar e Desenvolvimento Humano: a arte de aprender. Desenvolve pesquisas sobre “Princípios filosóficos e pedagógicos da educação transdisciplinar” no Centro de Estudos Baianos (CEB/UFBA) e no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da Faculdade de Educação da UFBA, na linha de pesquisa em Educação Transdisciplinar. Também é docente da disciplina Desenvolvimento Humano e Ação Educativa, do curso de Mestrado Multidisciplinar em Desenvolvimento humano e Responsabilidade Social da Fundação Visconde de Cairu. É autora do livro Educação transdisciplinar e a arte de aprender para o desenvolvimento humano: diálogo com a compreensão pedagógica de Jiddu [email protected]
2SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
programação de uma das suas modalidades que é velha, mecânica, confusa,
condicionada, pessoal, transmilenarmente egocêntrica.
Mente velha condicionada2 foi a denominação que o educador Jiddu
Krishnamurti (1895-1986) deu a essa modalidade da mente. Na sua concepção, a
mente velha do ser humano, ativada desde há milhões de anos atrás, está
condicionada pela educação, pelas religiões, pelas ideologias, pelos dogmas, pelas
tradições. Esta mente possui uma memória psicológica ancestral, que está
armazenada nas velhas células cerebrais de todos os seres humanos.
É essa mente velha condicionada que produz, sustenta e legitima a ancestral
crueldade, tão visível não apenas nos contextos sócio-político-econômicos das
pessoas que planejam, preparam e gerenciam as ações terroristas e os
bombardeios das antigas e atuais guerras-carnificinas – acontecendo em várias
regiões do planeta – como também nos doentios relacionamentos emocionais,
sexuais, familiares, profissionais, intelectuais, econômicos, religiosos, científicos dos
encontros sociais intersubjetivos dos seres humanos.
Nas suas investigações, esse autor apresentou algumas diferenças
pedagógicas entre os termos educação correta e educação incorreta3. Para ele, o
objetivo primordial da educação incorreta é tornar o ser humano (o educando e o
educado) incapaz de conhecer o funcionamento da programação da mente velha
2 “O que o mundo necessita é uma mente toda diferente, uma mente inteiramente livre do medo que
em cada dia a atormenta. E nenhuma possibilidade tendes de encontrar com a velha mente essa mente nova.” ( KRISHNAMURTI, 1973b: 43, grifo meu) “A mente está toda condicionada. Não há uma só parte da mente que não esteja condicionada [...] A mente está toda condicionada, o que é um fato evidente, se refletimos a tal respeito. Isso não é invenção minha, é um fato. Pertencemos a uma dada sociedade, fomos educados de acordo com determinada ideologia, certos dogmas, tradições, e a vasta influência da civilização, da sociedade, condiciona-nos incessantemente o espírito.”(KRISHNAMURTI,1956a:11) “A mente está condicionada desde a infância, desde o começo da vida, desde há milhões de anos.” ( KRISHNAMURTI, 1977b:36) Empregamos a palavra “mente velha condicionada” para significar o “processo total” do pensamento-sentimento condicionado, como memória, conhecimento, e incluindo as células cerebrais [...] O cérebro é o resultado de milhares de anos de experiência, na luta pela sobrevivência e segurança. ( KRISHNAMURTI, 1973 c: 135)
3 “A educação não é um simples exercício da mente (condicionada). O exercício leva à eficiência, mas
não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o prolongamento do passado, nunca pode descobrir o que é novo. Eis porque para averiguarmos o que é educação correta, cumpre-nos investigar o total significado do viver.” (KRISHNAMURTI,1969a, p.12) “Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, nem coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. Mas o todo não pode ser alcançado pela parte.” (KRISHNAMURTI,1969a, p.l3)
3SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
condicionada em sua existência. Conseqüentemente, condicioná-lo a ser
inconsciente de si mesmo.
A finalidade principal dessa educação incorreta4 é ativar e desenvolver,
mecanicamente, o intelecto condicionado do estudante e do professor, para que
possam adquirir e memorizar conhecimentos teóricos e/ou técnicos, que irão
capacitá-los a apropriarem-se de uma “eficiência exterior”, totalmente dissociada da
vivência da arte de aprender ou da arte de autoconhecer-se.
A educação correta5 foi o termo que Krishnamurti utilizou para se referir à
ação pedagógica que objetiva educar o ser humano não somente para ativar
a capacidade de adquirir conhecimentos
filosóficos/científicos/técnicos/éticos/estéticos/artísticos/poéticos, como também para
que possa ativar a capacidade de conhecer, através da vivência da arte de aprender
ou do autoconhecimento, o funcionamento da programação da mente velha
condicionada em sua própria existência.
Krishnamurti não compreendia a ação pedagógica da educação correta como
uma ideologia ou uma utopia, nem como uma forma para adestrar/condicionar o
indivíduo a existir dentro de alguns padrões determinados. Também não entendia
esta educação como um processo de modelagem da mente da
criança/adolescente/jovem/adulto/ancião a um padrão idealista de se ser um ser
humano.
Na sua concepção, a educação correta visa ajudar o ser humano a
descondicionar a dimensão psicológica da sua existência, estruturada e controlada
pela programação da mente velha condicionada6. Os princípios pedagógicos desta
4 “A educação atual (ou educação incorreta) está toda interessada na eficiência exterior, desprezando
inteiramente ou pervertendo, com deliberação, a natureza intrínseca do homem; só cuida de desenvolver uma parte dele, deixando que o resto se arraste como possa. Nossa interior confusão, nosso antagonismo e temor acabam sempre por subverter a estrutura exterior da sociedade, por melhor que ela tenha sido concebida e por mais habilmente que se tenha edificado. Não havendo educação correta, destruímo-nos uns aos outros, e é-nos negada a segurança física. Educar o estudante corretamente é ajudá-lo a compreender o processo total de si mesmo; porque só com a integração da mente e do coração, no agir cotidiano, é que pode haver inteligência e transformação interior.” (KRISHNAMURTI,1969a, p. 44-45)
5 “O objetivo da educação correta é criar entes humanos integrados e, por conseguinte, inteligentes. Podemos tirar diplomas e ser mecanicamente eficientes, sem ser inteligentes. A inteligência não é mera cultura intelectual; não provém dos livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes”. (KRISHNAMURTI,1969a, p. l3)
6 “Assim, a verdadeira função da educação correta é não só ajudar-vos a descondicionar-vos, mas também a ajudar-vos a compreender o inteiro processo do viver, dia a dia, para que possais crescer em liberdade e criar um novo mundo totalmente diferente. [...] Eis porque a educação deve ser um processo de educar tanto o educador como o estudante.” (KRISHNAMURTI, 1973a, p. 28)
4SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
educação sustentam que uma das suas funções é educar o ser humano para
vivenciar o processo da arte de aprender7 ou do autoconhecimento e, através desta
vivência, ajudá-lo a tornar-se um individuo amadurecido e livre para florescer
ricamente em amor e bondade .
Um dos objetivos primordiais dessa educação é libertar a mente do ser
humano das próprias experiências psicológicas condicionadas, para que possa
ativar a dimensão criadora da sua potencialidade amorosa.
1.1. A arte de aprender como um princípio pedagógico da educação correta
Na concepção de Jiddu Krishnamurti, a educação incorreta, ao invés de
despertar a inteligência integral do ser humano, lhe adestra a adaptar-se ao padrão
da programação psicológica da mente velha condicionada, que lhe impede ver e
compreender a si mesmo inserido e circunscrito na existência da vida do
serhumanohumanidade 8.
A educação incorreta condiciona o ser humano a viver a sua existencialidade
dentro de um padrão em que a sua vida interior psicológica, por ser negada –
consequentemente, desordenada, desconhecida e desconsiderada – , tem que estar
radicalmente dissociada do processo de aquisição-acúmulo de conhecimentos.
No entendimento desse autor, a educação incorreta, ao ocupar-se somente
com a aquisição de conhecimento técnico e intelectual, separando-o da
compreensão global da vida, alimenta e legitima o processo de deterioração-
destruição da mente humana, provocada pela crueldade inerente ao funcionamento
da ancestral programação psicológica da mente velha condicionada.
7 “O que queremos dizer com aprendizagem? Há aprendizagem quando apenas se acumulam conhecimentos, reúnem-se informações? Como aluno de engenharia, você estuda matemática e outras matérias; você aprende informa-se acerca dessas matérias. Você está acumulando co-nhecimento a fim de empregá-lo de maneira prática. Essa aprendizagem é cumulativa, aditiva. Ora, quando a mente está apenas assimilando, acrescentando, adquirindo, estará ela aprendendo? Ou será a aprendizagem uma coisa completamente diferente? Afirmo que o processo aditivo que hoje chamamos de aprendizagem não é aprendizagem alguma. É apenas um cultivo da memória, que se torna mecânica; e uma mente que funciona de modo mecânico, como uma máquina, não tem capacidade de aprender. Uma maquina só é capaz de aprender no sentido aditivo. Aprender não tem nada que ver com isso.” (KRISHNAMURTI, 1996d, p. 110-111)
8 Criei o neologismo serhumanohumanidade para ressaltar a compreensão semântica de que cada
ser humano representa toda a humanidade. De acordo com Jiddu Krishnamurti, aquilo que um ser humano faz com a sua existência interfere na existência de toda a humanidade. Para ele, cada ser humano, no âmbito do condicionamento da programação psicológica, é toda a humanidade.
5SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Um dos equívocos da educação incorreta provém da sua concepção
pedagógica, que alicercia-se na idéia de que educar consiste em ensinar o que
pensar. Uma das conseqüências das graves falhas desta educação expressa-se, por
exemplo, na maneira como ela impede o serhumanohumanidade de apropriar-se do
direito ontológico de vivenciar o processo da arte de aprender9.
Porque condiciona o ser humano a ser incapaz vivenciar a arte de
aprender ou a arte de autoconhecer-se, a educação incorreta o torna subserviente,
mecânico, interiormente/ontologicamente incompleto, estultificado e estéril,
analfabeto psicológico de si mesmo, incapaz de descobrir e construir diferentes
sentidos do significado da sua vocação espiritual de existir.
Inseridos nos objetivos da educação incorreta, encontram-se os fundamentos
da teoria e da prática de uma pedagogia da crueldade, que fragmenta a
existencialidade do ser humano e lhe condiciona a ser violento e não afetivo. Tal
fragmentação lhe incapacita integrar a sua mente com o seu coração, em ações
conscientes vivenciadas no presente da vida vivente dos diferentes momentos do
seu acontecimento existencial diário.
Os princípios filosóficos da educação incorreta, ao compreenderem a
natureza emocional-psicológico-intelectual do ser humano a partir da ótica de uma
pedagogia da crueldade, sustentam que o mecânico processo de aquisição-acúmulo
de conhecimentos é a finalidade fundamental da aprendizagem escolar.
Uma das evidências que demonstra as falhas da educação incorreta revela-
se, também, no fato dela continuar ser incapaz de promover a cura de um dos
aspectos da doença psicológica humana, expresso, por exemplo, na crueldade,
que dá origem, alimenta e legaliza a violenta e absurda realidade das guerras,
proveniente da ausência da compreensão-diálogo-comunicação entre os seres
humanos.
Ao contrário da ação pedagógica unilateral da educação incorreta, a
educação correta ocupa-se tanto com o processo da aquisição-assimilação-
memorização de conhecimentos teóricos e técnicos, como também com a vivência
da arte de aprender ou do autoconhecimento do ser humano. A prática desta
9 O que compreendemos por aprender? Geralmente é entendido como memorização, acumulação,
armazenamento para uso especializado ou não, conhecimento de idioma, leitura, escrita, comunicação etc. Os modernos computadores podem fazê-lo melhor. São extraordináriamente rápidos. Então qual a diferença entre nós e o computador?
6SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
educação fundamenta-se em uma proposta pedagógica que não separa o processo
da aquisição de conhecimentos do processo do autoconhecimento inerente à
vivência da arte de aprender ou da arte de viver.
Um dos objetivos primordiais da educação correta é convidar o ser humano a
libertar a sua mente das próprias experiências psicológicas condicionadas, para que
possa ativar a dimensão criadora da sua potencialidade amorosa. Os seus princípios
pedagógicos sustentam que uma das suas funções é educar o ser humano para
vivenciar o processo da arte de aprender ou do autoconhecimento e, através desta
vivência, ajudá-lo a tornar-se consciente de que ele é responsável pela construção
dos diferentes significados da sua vocação espiritual de existir.
Esse objetivo revela que uma das finalidades da educação correta é ajudar o
ser humano a ativar, a partir do conhecimento e da compreensão dos mecanismos
psicológicos da mente velha condicionada em sua existência, as suas
potencialidades ontológicas relacionadas à amorosidade criadora de ser presença
autoconsciente no aqui-agora de cada acontecimento existencial.
Tal objetivo também evidencia que uma das funções da educação correta é
ajudar o ser humano a construir um estado de liberdade de ser aberto para assumir
o seu direito espiritual de viver em intima conexão-comunhão com a Energia Divina
Criadora.
1.2. Algumas diferenças entre a vivência da arte de aprender e o processo de
aquisição-acúmulo de conhecimentos
Apesar de reconhecer que o processo de construção e aquisição de
conhecimentos teve e tem uma função importante e necessária para a
sobrevivência da humanidade, Jiddu Krishnamurti considera que este processo é
totalmente distinto da vivência da arte de aprender10. Esta vivência sempre implica o
acontecimento de uma ação-movimento existencial autoconscinte, que se processa
10 “Há, portanto, uma diferença entre a aquisição de conhecimento e o ato de aprender. É preciso ter
conhecimento; do contrário, não vamos saber onde moramos, vamos nos esquecer do nosso próprio nome, etc. Logo, num dado nível, o conhecimento é imprescindível. Mas quando ele é empregado para compreender a vida – que é um movimento, uma coisa viva, móvel, dinâmica, que se altera a cada instante –, quando a pessoa é incapaz de caminhar com a vida, ela vive no passado e tenta compreender essa coisa extraordinária chamada vida. E para compreender a vida, é preciso aprender a cada minuto sobre ela e nunca abordá-la já tendo aprendido.” (KRISHNAMURTI,1996d, p. 118)
7SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
no presente desconhecido de cada momento inusitado da vida vivente do ser
humano.
Em oposição à vivência da arte de aprender, o processo de aquisição de
conhecimento sempre está fora (não participa) do pulsar da Presença Criadora do
aqui-agora do presente ativo da existência do ser humano. Isto acontece porque a
aquisição de conhecimentos também implica o processo de reunir/coletar/organizar
o conjunto das informações adquiridas, construídas em várias épocas da história da
humanidade antiga e atual, que são assimiladas nas diferentes
circunstâncias/experiências vivenciadas pelo ser humano na vida vivida do passado
do tempo cronológico da sua existência. Tal processo, que deixa um resíduo na
forma de conhecimento, é o conjunto da memorização do vivenciado no passado
longínquo ou no passado de um minuto atrás da vida vivida.
Assim, todo conhecimento é sempre conhecimento do passado. Ou seja, todo
conhecimento é passado, pois implica a reunião-organização-assimilação do que foi
experimentado/observado/percebido/construído na vida vivida do ser humano
Nas suas investigações, Jiddu Krishnamurti evidenciou que o processo de
aquisição de conhecimento é uma capacidade que não somente o ser humano tem.
No início dos anos sessenta do século XX, ele ressaltava que os cérebros
eletrônicos dos computadores também podiam adquirir conhecimentos e passar/dar
informações, às vezes, de uma maneira muito mais ágil e sofisticada do que o
próprio cérebro humano. Apesar de reconhecer a capacidade dos cérebros
eletrônicos de acumularem um cabedal enorme de conhecimentos-informações,
este educador reconhecia que eles não podiam aprender ou vivenciar o processo da
arte de aprender11.
Na sua perspectiva, todo conhecimento supõe alguma autoridade não no
sentido etimológico de autoria, mas como forma de superioridade constituída, ou
como domínio, ou então como poder que exige obediência, subserviência. Ele
considera que a mente que se fortificou na autoridade de modo nenhum pode
aprender. 11 “A aprendizagem é bem mais importante do que a aquisição de conhecimento. Aprender é uma
arte. O cérebro eletrônico, o computador, pode adquirir conhecimento e dar todo tipo de informações, mas essas máquinas, por mais espertas que sejam, por mais bem-informadas, não podem aprender. Só a mente humana é capaz de aprender. Nós fazemos uma distinção radical entre a arte de aprender e o processo de aquisição do conhecimento.” (KRISHNAMURTI, 1996d, p. 117)
8SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Na compreensão desse educador, onde há autoridade, inclusive a autoridade
do conhecimento, não pode acontecer a vivência da arte de aprender, pois esta
vivência implica a ativação de um estado existencial ou de uma dimensão da
realidade ontológica do ser humano em que a sua mente não é oprimida por
nenhum tipo de autoridade: nem a autoridade externa dos conhecimentos dos
professores, pais, ou de qualquer outro ser humano, nem a autoridade dos
conhecimentos das tradições, das crenças
religiosas/intelectuais/científicas/ideológicas e nem a autoridade interna dos seus
próprios conhecimentos, adquiridos na vivência das suas experiências existenciais
e gravados nos arquivos da sua memória.
Para esse autor, a vivência da arte de aprender só é possível acontecer
quando o ser humano ativa o potencial da sua mente nova criadora12 que, por ser
vazia e sempre nova, é totalmente desapegada ao passado de qualquer forma de
conhecimento. Ele entende que a vivência da arte de aprender só pode acontecer
quando o ser humano vê uma coisa nova ou um fato novo, ou então vivencia um
acontecimento existencial novo e não o traduz em termos do conhecido,
arquivado/estocado no armazém da memória psicológica do seu velho cérebro. Isto
significa dizer que, para aprender, o ser humano precisa ativar a dimensão da sua
mente que, por ser nova e vazia, está livre do peso/autoridade do conhecimento.
1.3. A ativação da presença autoconsciente inerente à vivência da arte de aprender
A vivência da arte de aprender, apesar de ser totalmente distinta da vivência
do processo de aquisição/acúmulo de conhecimentos, possibilita o ser humano usar
o conjunto de informações/conhecimentos de uma forma “hábil”, que lhe concede
meios para se localizar existencialmente e viabilizar a sua sobrevivência de maneira
equânime e autoconsciente.
12 “Quando a mente está livre do conhecido, ela é uma mente nova criadora, inocente, purificada.
Acha-se num estado de criação, imensurável, inominável, fora do tempo”. (KRISHNAMURTI, 1981 a: 222) “A mente inocente, a mente nova criadora é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos – eis a verdadeira inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente, não pode ferir-se, porque nunca transporta um ferimento de dia para dia”. (KRISHNAMURTI, 1975 c : 69)
9SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Através da vivência da arte de aprender, o ser humano pode ativar uma
potencialidade existencial, que lhe capacita apropriar-se da possibilidade de
vivenciar o processo aquisitivo-acumulativo sem precisar ficar, psicologicamente,
aprisionado às limitações do conhecimento que, por exemplo, lhe impõem ser
escravo: a) da ânsia de poder sobre o outro; b) da ilusão de se considerar superior a
outro ser humano; c) da busca da certeza e da segurança psicológica inexistentes;
d) do aprisionamento ao medo psicológico; e) da dependência psicológica às ilusões
do desejo; f) da fuga do acontecimento existencial do aqui-agora da vida vivente; g)
da ignorância a respeito da sua vocação espiritual de ser consciente de si mesmo
em íntima conexão com a Energia Divina Criadora.
Ou seja, a vivência da arte de aprender proporciona ao ser humano
possibilidades existenciais para que possa adquirir e usar os seus conhecimentos,
sem ter que submeter-se à condição de prisioneiro-vítima das diferentes
modalidades psicológicas da ativação da programação da mente velha
condicionada em sua existência.
De acordo com Jiddu Krishnamurti, cessa a vivência da arte de aprender
quando o ser humano está aprisionado e identificado com o processo de
acúmulo/aquisição de conhecimento13. A vivência do aprender desta arte é um
perene fluir, que não acumula absolutamente nada. Ou seja, o aprender da vivência
da arte de aprender não é um movimento acumulador, nem tampouco um processo
aditivo ou aquisitivo.
Ao contrário do conhecimento que é adquirido, a vivência da arte de
aprender não é adquirida, pois acontece no momento presente da vida vivente, que
não se repete. Ou seja, a ação-vivência da arte de aprender sempre acontece no
presente ativo de cada momento desconhecido da vida vivente do ser humano. Esta
vivência não está relacionada com o passado, pois o ato de aprender é uma ação
presente, vivenciada no instante atual irrepetível da vida vivente do ser humano.
Krishnamurti considera que na vivência da arte de aprender não existe o
processo de memorização ou do registro de informações/conhecimentos. Isto não
significa dizer que as informações e os conhecimento não são necessários à 13 “Não há o “movimento de aprender ” quando há aquisição de conhecimentos; as duas coisas são
incompatíveis, contraditórias. O “movimento do aprender ” implica um estado em que a mente não tem, guardada como conhecimento, nenhuma experiência.” (KRISHNAMURTI, 1981a, p. l66-l67)
10SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
existência do ser humano. Nesta vivência, a pessoa aprende a dar lugar exato às
informações que adquiriu e a agir, consciente e habilmente, de acordo com aquilo
que aprende, sem ficar psicologicamente aprisionado às limitações da programação
psicológica da mente velha condicionada.
O aprender da vivência da arte de aprender é o acontecimento presente do
desconhecido, que dança com o Mistério desconhecido inerente ao pulsar da vida
vivente de cada instante do acontecimento existencial do ser humano. Nesta
dimensão compreensiva, a vivência da arte de aprender também implica a ação do
indivíduo ser, conscientemente, presença no aqui agora da vida vivente.
O estado de ser presença autoconsciente de si mesmo manifesta a
potencialização do acontecimento da plenitude de uma liberdade ontológica, que
possibilita o ser humano estabelecer uma nova aliança entre o Espírito
Autoconsciente da Energia Divina Criadora – pulsando em sua existência – e a
matéria inerente a sua constituição biológica, corpórea, psicológica e emocional,
também movida pelo funcionamento dos sistemas reptiliano, límbico e neocortical
do seu cérebro.
2. A ARTE DE APRENDER NA EDUCAÇÃO TRANSDISCIPLINAR
Considero que a educação transdisciplinar também pode ser compreendida
como um termo sinônimo da educação correta, preconizada e praticada por Jiddu
Krishnamurti. Ao educar o ser humano para conhecer o funcionamento da mente
velha condicionada em sua própria existência, esta educação objetiva, também,
ajudá-lo a reconhecer e a compreender a realidade existencial da sua vida interior
psicológica. Conseqüentemente, ajudá-lo a encarar, a enfrentar e a solucionar
alguns problemas humanos vitais, originados pela inconsciência
(ignorância/desconhecimento) do funcionamento da programação desta mente em
sua psique.
Entendo que o eixo pedagógico e epistemológico do princípio trans da
educação transdisciplinar é a vivência da arte de aprender ou da arte de
autoconhecer-se. Um dos objetivos desta educação é ajudar o ser humano, através
11SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
desta vivência, a conhecer a si mesmo. Ou seja, ajudar o ser humano, nos seus
encontros sócio-relacionais inter e intrasubjetivos, a conhecer e compreender:
� o processo de constituição e do funcionamento da sua corporeidade;
� a forma como os diferentes mecanismos de funcionamento dos sistemas
reptiliano, límbico e neocortical do seu cérebro atuam em sua existência;
� a maneira como a programação da mente velha condicionada é ativada
em sua psique (consciência da estrutura e da natureza da dimensão
existencial interior-psicológica das suas emoções, seus pensamentos-
sentimentos, seus afetos, seus desejos, suas feridas psicológicas do
passado, seus apegos, seus medos psicológicos, suas projeções, seus
devaneios, que alimentam o processo de auto-afirmação do eu
psicológico e a ilusão do vir-a-ser, etc);
� a potência criadora da sua vontade de viver;
� a dialogicidade entre a sua respiração e o pulsar da respiração da Vida
Criadora;
� as diferentes dimensões da sua vocação ontológica e do significado
espiritual da sua existência.
A educação transdisciplinar também objetiva ajudar o ser humano a construir o
sentido de uma individuação ontológica, alicerçada e movida pela dinâmica do
processo do conhecimento e da compreensão do funcionamento dos diferentes
mecanismos da programação da mente velha condicionada em sua psique.
Conseqüentemente, ajudá-lo a construir o sentido-significado de uma existência
autoconsciente, responsável, alegre, harmônica, amorosa, criativa, aberta para o
reconhecimento e o respeito pela diferença do outro, livre de dependências
psicológicas, sexuais, emocionais, intelectuais, financeiras, espiritual e outras
dependências.
Outro objetivo da educação transdisciplinar é ajudar o ser humano a construir-
conquistar a vivência de uma genuína liberdade de sersendo, para que possa tomar
consciência e apropriar-se do seu direito de viver em comunhão ontológico-
existencial-espiritual com a Vida Abundante, cheia da Presença do Pulsar da
Energia Divina Criadora em cada movimento do seu existir diário.
Tais objetivos evidenciam que a finalidade primordial da educação
transdisciplinar está direcionada para a vivência da arte de aprender ou da arte de
12SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
autoconhecer-se do ser humano. Para os postulados pedagógicos desta educação,
o significado essencial de todo processo de aprendizagem não pode estar
dissociado da finalidade da vida mesma de cada estudante-educando-educador.
Para a educação transdisciplinar, a vivência da aprendizagem também implica
o despertar da potência criadora da vontade de vida do ser humano, que lhe
impulsiona a construir-conquistar um estado ontológico de liberdade de sersendo, o
qual lhe permite apropriar-se do direito de ser livre para, diariamente, criar sentidos e
significados, conscientemente amorosos, para a sua vocação de existir.
3. A ARTE DE APRENDER OU O AUTOCONHECIMENTO COMO PROCESSO DE AUTODESENVOLVIMENTO HUMANO NO SÉCULO XXI
Compreendo que no processo do desenvolvimento do ser humano, que se
desenrola a partir do seu nascimento até a sua morte, também está implícita a
vivência do autoconhecimento. Esta compreensão sugere que, no século XXI, o
desenvolvimento humano também abarca vivência da arte de aprender ou da arte
de autoconhecer-se.
O desenvolvimento humano na dimensão da vivência do autoconhecimento
tem a finalidade de ajudar o indivíduo a se realizar como um ser integrado (corpo,
emoções, sentimentos-pensamentos, intelecto, sexualidade, sensibilidade,
espiritualidade, criatividade), para que possa apropriar-se da capacidade e do direito
de tomar o seu destino nas próprias mãos e contribuir para o processo do cuidado
com a vida do serhumanohumanidade, a partir de atitudes existenciais baseadas na
consciência da responsabilidade individual direcionadas para a consolidação da
consciência da responsabilidade social.
Nessa dimensão compreensiva, para que desenvolvimento humano aconteça
no século XXI faz-se necessária a vivência do autoconhecimento. Ou seja, sem a
vivência da arte de aprender, ou da arte de autoconhecer-se, é impossível o
acontecimento de um desenvolvimento humano no século XXI, necessário à
sobrevivência do serhumanohumanidade.
Na perspectiva do cuidado, o desenvolvimento humano também refere-se à
possibilidade do indivíduo, através do autoconhecimento ou da arte de aprender, a
vivenciar o processo de construção e de conquista da autoconsciência da sua
responsabilidade social interligada à construção de relacionamentos inter e
13SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
intrasubjetivos fundamentados no respeito, na afeição, na ternura, na dialogia, na
solidariedade, no serviço ao bem estar comum, na aceitação e no respeito `a
diferença do outro, na equanimidade, na bondade, na consideração e na reverência
pela singularidade de cada pessoa. Esta vivência também implica o processo de
construção do autodesenvolvimento do ser humano.
Ao assumir essa responsabilidade social, o ser humano também pode
tornar-se co-autor da pró-cura da saúde-cuidado com a existência do
serhumanohumanidade, a partir do processo de uma consciente revolução
psicológica em sua psique, produzida pela vivência do autoconhecimento.
Provavelmente, o processo da vivência da sua arte de autoconhecer-se, ou do seu
autodesenvolvimento, poderá lhe oferecer condições para assumir a sua
responsabilidade em relação à violenta crise social, provocada pela doença
psicológica humana, produzida pela ativação obsoleta da mente velha condicionada.
Essa crise social que, nas últimas décadas, assola todos os países do
planeta, também é evidenciada pela pobreza, fome, miséria, desigualdade
econômica, pela formação de diferentes organizações terroristas, pelo
acontecimento de várias guerras e de inúmeros atentados terroristas, pela insana
ânsia de poder da busca da hegemonia militar de uma única superpotência, pela
loucura da pedofilia, pela máfia do narcotráfico, pelos exorbitantes lucros da
economia bélica (fornecidos pelo mercado mundial de armas através da fabricação
de revolver, canhão, metralhadora, bomba atômica, mísseis, armas químicas e
biológicas, e outros armamentos), pela prática de um processo educativo escolar
mecânico-fascista e por tantos outros fatos,
Tal crise social, que retrata o doentio ambiente social “civilizatório” de
descuidado e de descaso com a vida do serhumanohumanidade, revela, por
exemplo, como a doença psicológica da mente velha condicionada do ser humano é
responsável pela absurda idéia do nacionalismo. Esta idéia fomenta e alimenta a
podre ânsia dos enlouquecidos poderes legitimadores do desejo de uma nação ou
algumas nações quererem ser mais poderosas do que as outras.
Atualmente, virou lugar comum o processo de ideação da paz justificar e
legitimar atitudes violentas de assassinato de pessoa ou de um grupo de pessoas
de uma rua, ou de um bairro, ou de uma cidade, ou de um estado ou de um país.
Esta crise, além de evidenciar como a doença psicológica tem elevado o grau de
14SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
descaso e de descuidado com a vida do ser humano, também revela o quanto a sua
existência perdeu importância.
Tal contexto sócio-planetário evidencia como o desenvolvimento humano, na
perspectiva do cuidado, continua sendo inibido e reprimido pela ativação da
programação da mente velha condicionada, que fomenta e justifica a insana
mentalidade – construída pela doença psicológica do serhumanohumanidade – das
cruéis idéias nacionalistas e do uso do sofrimento alheio para a lucratividade da
economia bélica, da economia do narcotráfico, da economia do terrorismo, da
economia da prostituição de crianças e de tantas outras violentas economias.
4. O DESENVOLVIMENTO HUMANO NA PERSPECTIVA DO CUIDADO-CURA DA DOENÇA PSICOLÓGICA DO SERHUMANOHUMANIDADE
Diante do atual contexto sócio-histórico-econômico-planetário, movido pela
crueldade da doença psicológica de nós seres humanos, que alimenta e legitima as
violentas e insanas atitudes existenciais, inerentes ao processo de ativação da
mente velha condiconada, considero urgente a prática de uma consciente e vigorosa
ação educativa transdisciplinar a serviço do desenvolvimento humano,
compreendido como vivência do processo de cuidado-cura desta doença
psicológica.
Entendo que o significado do desenvolvimento humano no século XXI implica
não somente o processo de conscientização da gravidade da doença psicológica do
serhumanohumanidade, como também o processo de cuidado-cura desta doença.
Ou seja, o desenvolvimento humano, nesta dimensão compreensiva, implica o
processo de cuidado com a vida do serhumanohumanidade manifesta na existência
de cada pessoa, inserida no montante dos sete bilhões de pessoas habitantes da
Terra.
De acordo com Antenor Nascentes, a etimologia do vocábulo cuidado, deriva
da palavra latina cura. Nas suas pesquisas filológicas ele ressaltou que o cura é o
homem que cuida das almas, pois verificou que a origem do verbo curar tem o
sentido de cuidar. Também esclareceu que de cuidar (por exemplo, de um doente) o
verbo curar passou ao termo do tratamento (sarar). Nesta semântica de cuidado,
este verbo também associou-se ao latim cogitare. O vocábulo cuidar, também
15SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
proveniente do latim cogitare, significa pensar, cuidar. O seu significado evidencia
que naquilo que se cuida a gente sempre pensa. (NASCENTES, 1932: 225 e 229).
Para o filólogo Antonio Geraldo da Cunha, o substantivo feminino cura
significa cuidado, zelo, desvelo. Nas suas investigações ele esclarece que a
etimologia do verbo curar implica o sentido de ter cuidado com, vigiar, cuidar, livrar
da doença e o verbete cuidar significa tratar de, dar atenção, ter cuidado, curar.
(CUNHA, 1982: 234)
Confirmando a perspectiva de Antenor Nascentes e Antonio Geral Cunha, F.
R. dos Santos Saraiva, nos seus estudos etimológicos, apresenta os seguintes
significados para o substantivo feminino cura-ae:1. cuidado, diligência, aplicação; 2. administração, governo; 3. tratamento, cura; 4. guardar, vigiar, vigiador, guardador; 5. cuidado, inquietação amorosa provocada pela necessidade do querer cuidar; 6. amor, objeto amado, amar a alguém; 7. olhar pelo bem estar de alguém. (SARAIVA, s/d: 326)
A partir desses referenciais etimológicos é possível afirmar que o significado
originário da palavra cura refere-se ao processo do cuidado, do desvelo, da
solicitude, da responsabilidade, da consideração, da atenção amorosa e da pré-
ocupação por uma pessoa.
Cuidar significa considerar, dar atenção, zelar, estar com cuidado, ter
cuidado, tratar com cuidado, ver com cuidado, ouvir com cuidado, ser solícito, ser
amorosamente responsável. Ou seja, um dos sentidos etimológicos originários do
vocábulo cuidado está relacionado com a vivência da cura movida pelo processo
amoroso do cuidar. O cuidado implica o acontecimento de uma atitude afetiva para
com alguém, movida pela energia do amor, desprovida de qualquer intenção de
lucratividade, tanto a psicológica, a emocional, a econômica, a sexual, a intelectual e
outras.
A atitude afetiva do cuidado baseia-se na afetividade, que está alicerçada na
consciência do direito à ternura que todo ser humano possui por inerência
ontológica. A etimologia da palavra afetividade vem do latim affeição, que significa
afeto, amizade, amor, afeiçoamento, conexão, ligação, relação.
Assim, ter cuidado também significa ter afeto. Ser afetivo é ser cuidadoso, é
vivenciar o exercício da não-violência praticado, por exemplo, pelo educador Gandhi,
o qual, com a sua consciente ação educativa, assumiu o seu direito existencial de
16SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
vivenciar a amorosa responsabilidade social pelo processo do autodesenvolvimento
do ser humano.
Ser cuidadoso é reconhecer que o(a) outro(a) não é objeto de uso
(econômico,bélico, emocional, psicológico, sexual, espiritual, intelectual, etc), mas
um(a) companheiro(a) na caminhada existencial da vida humana. Ou seja, uma
pessoa afetiva não se relaciona com o outro com o objetivo de lucrar
financeiramente, emocionamente, sexualmente, intelectualmente, psicologicamente,
espiritualmente, ou qualquer intenção de lucro ou usofruto do outro.
O desenvolvimento humano na perspectiva do cuidado, evidencia que a
existência do serhumanohumanidade pode ser construída por laços afetivos
alicerçados e direcionados por uma consciente atitude de cuidado ou de atenção
amorosa pela Vida Criadora, que vive e pulsa na existência de cada pessoa, a partir
de atitudes existenciais não mais movidas pela ignorância do funcionamento da
programação da mente velha condicionada na própria psique.
Martin Heidegger (1889-1976), na sua análise ontológica sobre a existência
humana, ressalta que só o homem é o ser que indaga sobre a questão essencial do
Sentido do Ser. Suas investigações filosóficas evidenciam que, desde os gregos pré-
socráticos, a pergunta fundamental sobre o sentido do ser sempre esteve presente
na filosofia ocidental. Nesta pergunta está inserida a questão da cuidado/cura
enquanto essência do ser-no-mundo. A sua abordagem hermenêutica parte do
princípio que o cuidado significa um fenômeno ontológico-existencial básico da
constituição humana.14
Fundamentado na história do significado etimológico do vocábulo cura, esse
filósofo considera que o acontecimento do cuidado, enquanto cura, dirige-se para o
sentido de reconduzir o homem de volta à sua essência, para que possa tornar-se
humano. Na sua perspectiva, a interpretação existencial e ontológica da Presença
também é compreendida como cura ou como cuidado com a vida do ser humano.
14 “A analítica da pre-sença que conduz ao fenômeno da cura deverá preparar a problemática
ontológica fundamental, isto é, a questão do sentido do ser.” (HEIDEGGER, 2001, p. 246) “Porque, em sua essência, o ser-no-mundo é cura, pode-se compreender, nas análises precedentes, o ser junto ao manual como ocupação e o ser como co-pre-sença dos outros nos encontros dentro do mundo como preocupação. O ser-junto a é ocupação porque, enquanto modo de ser-em, determina-se por sua estrutura fundamental que é a cura.” . (HEIDEGGER, 2001, p. 257) “A expressão ‘cura’ significa um fenômeno ontológico-existencial básico.” (HEIDEGGER, 2001, p. 261)
17SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Para ele, a existência humana articula, no próprio ato da sua manifestação, a
questão do cuidado. 15
Esse educador filósofo, entende que a universalidade do fenômeno da cura
pertence à estrutura ontológica da pre-sença, enquanto acontecimento de cuidado
com a existência humana. Ele compreende que o humanismo é curar e cuidar que o
homem seja humano e não inumano, isto é, estranho à sua Essência.16
Portanto, para Martin Heidegger, o ser humano é humano porque sua
condição existencial constitutiva é o cuidado. Ele compreende que sem o cuidado o
ser humano deixa de ser humano, pois entende que ser um ser humano implica a
condição de ser o cuidado. Assim, mais do que ter cuidado, o ser humano é o
cuidado na sua essência ontológica existencial. 17
O cuidado com a vida, compreendido como desenvolvimento humano,
anuncia o direito de toda pessoa, através da vivência do autoconhecimento ou da
arte de aprender, conhecer as dimensões condicionadas dos sistemas reptiliano,
límbico e neocortical do seu cérebro, as quais produzem e cultivam a doença
psicológica proveniente da programação da crueldade, da violência, do egoísmo,
inerente à estrutura e natureza da mente velha condicionada, que originam e
legitimam a barbárie das guerras, do terrorismo, do narcotráfico, da falta de diálogo
nas relações políticas internacionais, nacionais, estaduais, municipais, profissionais,
bem como da falta de diálogo e de amor nas domésticas relações familiares entre
pais, filhos, irmãos,esposas e esposos, amantes, sogras, genros, nora, etc.
O cuidado com a existência do ser humano, entendido como processo de
cura da grave doença psicológica, também provocada pela ativação indevida da
mente velha condicionada, evidencia a possibilidade de cada indivíduo apropriar-se
do direito de viver uma existência fundamentada em um estado de consciência
15 “A história do significado do conceito ôntico de ‘cura’ permite ainda a visualização de outras
estruturas fundamentais da pre-sença. Burdach chama a atenção para um duplo sentido do termo “cura” em que ele não significa apenas um ‘esforço angustiado’, mas também o ‘cuidado’ e a ‘dedicação’.” (HEIDEGGER, 2001, p. 264)
16 “Enquanto totalidade originária de sua estrutura, a cura se acha, do ponto de vista existencial a-priori, ‘antes’ de toda ‘atitude’ e ‘situação’ da presença, o que sempre significa dizer que ela se acha em toda atitude e situação de fato.” HEIDEGGER, 2001, p. 258)
17 “Faz-se, pois, necessária uma confirmação pré-ontológica da interpretação existencial da pre-sença como cura. Essa, por sua vez, consiste no fato de que a pre-sença, desde cedo, quando se pronunciou sobre si mesma, foi interpretada como cura..” (HEIDEGGER, 2001, p. 246)
18SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
afetiva de ser o cuidado, de ser sensível a si mesmo e ao outro, de sentir-se
responsável pela cura desta doença.
Portanto, falar de desenvolvimento humano na dimensão do cuidado
enquanto processo de cura da supracitada doença psicológica é também falar da
vivência do autodesenvolimento humano, fundamentado na construção e na
conquista da autoconsciência de cada pessoa.
Sem a vivência da arte de aprender, ou da arte de autoconhecer-se, o
cuidado com o acontecimento da saúde da existência do ser humano fica
comprometido pela ignorância do domínio da programação psicológica da mente
velha condicionada. Sem a vivência da arte de aprender é impossível o
acontecimento do autodesenvolvimento do ser humano na atualidade.
Ou seja, sem a vivência do autoconhecimento é impossível o processo de
construção do autodesenvolvimento humano na dimensão do cuidado-cura da
referida doença psicológica. Nesta perspectiva compreensiva, o
autodesenvolvimento humano também implica a vivência pessoal de cuidado com a
saúde da existência do ser humanohumanidade. Este autodesenvolvimento também
se processa através da vivência da arte de aprender ou da arte de autoconhecer-se,
também compreendida como vivência do indivíduo conhecer e compreender o
funcionamento da mente velha condicionada na sua própria existência.
O cuidado compreendido como processo de cura da doença psicológica do
serhumanohumanidade, provocada pela ignorância do funcionamento da
programação da estrutura e da natureza da mente velha condicionada na própria
psique, pode ser reconhecido como um fenômeno da consciência humana.
Enquanto fenômeno da consciência humana, o cuidado como vivência do processo
de pró-cura da saúde humana pode ser compreendido como sinônimo de
autodesenvolvimento humano no século XXI.
19SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
5. A CONSCIÊNCIA DA ARTE DE APRENDER PARA O PROCESSO DE AUTODESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
A perspectiva semântica do processo do autodesenvolvimento do ser
humano, que apresento neste artigo, compreende que ser cuidadoso é também
sinônimo de ser um ser humano consciente do funcionamento da programação
psicológica desta mente, a partir da vivência da arte de autoconhecer-se ou da arte
de aprender. Sem a vivência do autoconhecimento o desenvolvimento humano e a
responsabilidade social com a existência do serhumanohumanidade ficam
totalmente comprometidos.
Assim, o cuidado também é um modo de ser um ser humano consciente da
sua integração no corpo do serhumanohumanidade, a partir da compreensão de que
aquilo que faz com ele mesmo e com o outro interfere na vida de toda a
humanidade.Aquilo que ele faz com ele mesmo pode piorar a doença psicológica do
serhumanohumanidade ou pode contribuir para o processo de sua cura.
Esse cuidado também implica o exercício consciente de uma
responsabilidade social totalmente vinculada `a vivência da responsabilidade
individual, direcionada para o desenvolvimento humano, proveniente do processo
de autodesenvolvimento humano de cada pessoa particular.
Considero importante ressaltar que a perspectiva epistemológico-filosófico-
ontológico sobre o processo do desenvolvimento humano, enquanto vivência do
cuidado-cura da doença psicológica humana, que apresento na abordagem deste
artigo, não nega, em hipótese alguma, as concepções interpretativas dos
estudos/pesquisas científicas e das ações sociais nas dimensões econômica,
sociológica, biológica, psicológica, antropológica, historiográfica , ecológica e outras
a serviço do desenvolvimento humano sustentável.
No entanto, apesar de não negar essas concepções, que apresentam
diferentes abordagens que se complementam, entendo que a perspectiva
epistemológico-filosófico-ontológico sobre o desenvolvimento humano,
compreendido como cuidado/pró-cura da saúde psicológica humana, evidencia que,
se o serhumanohumanidade não reconhecer, através da vivência da arte de
aprender ou da arte de autoconhecer-se, que a programação da mente velha
condicionada é responsável pelo fenômeno da sua violência/crueldade psicológica,
a qual produz a miséria, a fome, a desigualdade social, as guerras, os atentados
20SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
terroristas, o desiquilíbrio ecológico e tantos outros sofrimentos, os diferentes
estudos econômico, antropológico, sociológico, psicológico, político ecológico,
juntamente com as ações sociais dos governos, das ongs e de outras várias
organizações a serviço do processo do desenvolvimento não poderão tratar da raiz
do problema que inviabiliza a construção de um coerente processo de
autodesenvolvimento do ser humano individual, necessário à sobrevivência coletiva
do serhumanohumanidade no século XXI.
Entendo que um dos objetivos da educação transdisciplinar é, justamente, a
realização de projetos pedagógicos direcionados para o desenvolvimento integrado
do ser humano. Os fundamentos filosóficos e a prática pedagógica desta educação
sustentam que o desenvolvimento humano, no século XXI, precisa ser
compreendido, epistemologicamente e existencialmente, como sinônimo da vivência
do cuidado-cura da doença psicológica do serhumanohumanidade, produzida pela
programação da mente velha condicionada.
O desenvolvimento humano, compreendido como cuidado com a vida do
serhumanohumanidade, é movido pela construção-conquista da autoconsciência da
responsabilidade pessoal integrada à consciência da responsabilidade social. Esta
compreensão evidencia que a responsabilidade social empresarial, tão explorada
nesta primeira década do século XXI, não abarca o significado da responsabilidade
social necessária à sobrevivência da existência do serhumanohumanidade.
O fundamento ontológico, epistemológico e espiritual do desenvolvimento
humano na perspectiva do cuidado também baseia-se na orientação de Jesus
Cristo, que reconhece que o ser humano, ao apropriar-se da consciência amorosa
da Graça Divina Redentora em sua própria existência, através da vivência do NOVO
NASCIMENTO (“nascimento da água e do espírito”)18, pode acessar a
potencialidade ontológica do amor na dimensão vivencial do amar ao próximo como
a si mesmo.
A Nova Lei do Amor19 e As bem aventuranças20, anunciadas e praticadas
por Jesus Cristo, o mestre do processo de ativação da autoconsciência amorosa do
18 “Jesus respondeu: em verdade, em verdade te digo que quem não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus. Em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne , mas o que é nascido do Espírito, é Espírito.” (Evangelho de João, Capitulo III, versículos 3, 5e 6, pagina 82)
19 “A NOVA LEI DO AMOR – Mas a vós que me ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem, bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir
21SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
serhumanohumanidade, são alguns dos fundamentos que sustentam a vivência do
desenvolvimento humano como processo de cuidado e pró-cura da saúde da
existência do ser humano.
Sem a prática da Nova Lei do Amor e das Bem aventuranças é impossível o
acontecimento do desenvolvimento humano nessa perspectiva do cuidado-cura da
referida doença psicológica. Esta vivência, provavelmente, poderá ser uma semente
que fará germinar a raiz e o fruto do autodesenvolvimento do ser humano.
Tal germinação, talvez, poderá ajudar o ser humano, não mais dominado pela
ignorância do funcionamento da programação psicológica da mente velha
condicionada em sua própria existência, a tornar-se co-responsável pelo
desenvolvimento humano de uma humanidade mais humana, mais espiritualizada,
mais solidária e dialógica, aberta para a ternura do aprendizado do amor na vivência
da construção de responsáveis relações sociais afetivo-amorosas. Ou seja, uma
humanidade menos cruel e violenta, capaz de vivenciar o princípio amoroso da não-
violência praticado e testemunhado por Mahatma Gandhi, um educador
transdisciplinar do século XX, que transformou a ensinança crística do ser humano
amar ao próximo como a si mesmo, em princípio e significado da sua existência e da
sua morte.
numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que tirar a tua capa, deixe que leve também a túnica. Dá a qualquer que te pedir, e ao que tomar o que é teu, não o peças de volta. Como vos quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vos também. Se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam os que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem o mesmo. Se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem, emprestai, sem nada esperardes.” (Evangelho de Lucas Capitulo VI, versículos 27 a 35, pagina 56) 20 “ AS BEM AVENTURANCAS – Vendo Jesus as multidões, subiu a um monte e assentou-se. Aproximaram-se os seus discípulos, e ele começou a ensina-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” (Evangelho de Mateus Capitulo V, versículos 1 a 10, pagina 3)
22SOARES, Noemi. A consciência da arte de aprender para o autodesenvolvimento do ser humano. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
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