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DIÁRIOS IMAGINÁRIOS

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Páginas de diários imaginários.

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Nota de abertura

Estes textos foram elaborados pelos alunos do 7º C, a partir de algumas propostas de escrita.

Além das propostas, apresentadas pela professora, surgiram outros temas propostos pelos alunos, que com grande entusiasmo se dedicaram à escrita.

Estão todos de Parabéns e aqui ficam registados os vossos textos, cheios de imaginação e criatividade. Confesso que me diverti a lê-los.

Boas leituras e boa escrita.

Prof.Elsa

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Proposta 1

DIÁRIO DE UM EXTRATERRESTRE

Um extraterrestre, vindo de um planeta distante, aterrou na tua Escola. Todos os dias, ele faz um relatório curto para transmitir para o seu planeta informações das coisas estranhas que observa (e tudo é estranho para ele...)

Imagina o diário desse extraterrestre, que tenta explicar aos seus semelhantes os costumes deste planeta Terra, a partir daquilo a que assiste diariamente na tua escola. O tom com que ele escreve pode ser irónico.

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Páginas do diário de um Arasmiano

532 de Fyddro de 56288 Olá César,

Hoje foi um dia muito especial, resolvi partir à aventura e visitar um planeta, chamado de planeta azul (acho eu, pelo menos é desta forma que o designam nas comunicações inter-planetárias). É muito diferente do meu, tem muitas «cenas» esquisitas.

Do nosso planeta Arasmin, vemos aqueles pássaros gigantes a poisar na lua do planeta azul, e hoje vi um: é de facto mesmo gigante. Penso que os utilizam para pesquisas. Ah, já me esquecia, há umas coisas que eu odeio e que estes estranhos usam para se deslocar e que, quando se irritam, põem a buzinar. Cheira mesmo mal, mas o mais engraçado é que já vi alguns a empurrar o dito objecto que devia servir para os transportar, talvez por estar avariado…não percebi a lógica! E para dormir, dormem numas esponjas muito fofinhas, muito estranhas, mas fofinhas. Há também umas coisas que estes estranhos ingerem, parecem-se com as nossas barbatatas (ou será que são barbatanas?) mas isso não interessa. Ontem, estava a preparar-me para ir dormir antes da viagem, quando de repente ouvi um estrondo enorme. Fui ver o que era e afinal tinha sido uma explosão no planeta azul provocada por aqueles estranhos seres. Estava um monte de estranhos à frente duma coisa esquisita que lançava chamas em direcção a outros seres iguais para os magoar e alguns ficavam no chão e não se levantavam mais. Aquilo durou mais de dois anos pelo menos (anos dos nossos, que eles contam o tempo de outra forma).

Há também uma coisa que te quero contar, nós somos muito diferentes destes estranhos. Nós temos três ouvidos e cinco olhos e as outras coisas que tu sabes, mas estes só têm duas coisas de cada lado de um rosto oval (penso que são os seus ouvidos) e duas pérolas na parte superior da face, que suponho que sejam os olhos destes estranhos. Pronto, por hoje já me exprimi o suficiente. Só te quero dizer mais uma coisa, no meio desta situação toda, sinto-me contente por um lado e triste por outro, pois conheço muitas coisas novas, mas por outro, sou o único diferente aqui no planeta azul. Resumindo, não sei o que fazer, vou pensar se hei-de voltar para o meu planeta e para a minha família ou

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se hei-de ficar aqui mais uns séculos. Adeus, fica bem, amanhã falamos. Vou dormir.

533 de Fyddro de 56288 (oito da manhã)

Olá,

Estive a pensar e vou ficar mais um tempinho por aqui: quero conhecer melhor os hábitos destes seres estranhos e levar umas recordações. Na verdade, acho que há aqui coisas muito interessantes para levar, mas para comprar lembranças tenho que procurar umas peças metálicas e uns rectângulos de papel que eles usam nas suas trocas e aos quais dão muita importância. Estou ansioso por voltar ao meu planeta, meu querido Arasmin, pois parece-me ter passado já muito tempo, uns quarenta e cinco anos-luz.

Estou a pensar sair para fazer compras, volto já. Depois conto-te o que se passou. Adeus.

533 de Fyddro de 56288 (vinte horas)

Olá César,

Cheguei e não venho muito contente. Comprei o que queria, sim, mas na loja só comentavam sobre mim. Olhavam e desviavam olhares. Mas eu lá me consegui impor. Quando chegou a minha vez, a senhora desmaiou. Depois, um homem lá veio dar-me as minhas coisas. Eu quis dar-lhe as moedas de troca que eu já tinha conseguido (tinha estado num cofre, graças ao nosso laser ultra-sónico, de onde retirei muitas moedas e notas) mas ele nem aceitou, mandou-me embora com um olhar assustado. Peguei nas minhas coisas e desatei a voar para casa. Como vês, mais valia nem ter saído de casa, mas pronto já está. Agora vou fazer as malas para partir para o meu lar. Ai lar, doce lar. Já nem quero saber disto para nada, giro, giro mas agora quero é ir para casa. Não fico aqui nem mais um minuto. Vou fazer as malas. Adeus. Tenho mais de três biliões de quilómetros para percorrer. Fica bem, amanhã falamos, pois de certeza vou estar muito contente, com a minha família, amigos e planeta, sobretudo.

Adeus. Adeus planeta azul!

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534 de Fyddro 56288

Olá César,

Hoje vou falar muito pouco, pois tenho que ajudar os meus pais a preparar o almoço. Vem cá a minha família e os meus amigos. Vou apresentar as minhas lembranças ao almoço. Estou nervoso: até já preparei um discurso. Ontem, quando cheguei, falei com a minha mãe sobre as minhas «férias» e as coisas estranhas que vi e vivi naquele planeta de cor aprazível, mas com habitantes tão estranhos e antipáticos. Mas pronto, o que lá vai, lá vai e temos de viver o presente e o futuro e não o passado. Olha, a minha mãe está a chamar, adeus. Eu disse que não podia falar muito. Adeus. Até amanhã. Deseja-me sorte!

Henrique Afonso

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Dia 22 de Janeiro de 2110

Meu amigo Diário Digital:

Hoje cheguei á dita escola em Torres Novas e tudo foi estranho… Havias de ter visto aquele monte de gente a olhar para mim e a cochichar:”…Ele é azul, e olha, tem quatro braços!...” “…Que fofo!...” e coisas desse género.

Mas muito mais estranho que isso, foi quando tive uma aula de “Física e não sei quê”, e a professora começou a explicar que no nosso planeta não havia vida, devido á sua distância do sol e á sua composição de gases e poeiras ( Só mentiras).

De qualquer maneira, sempre fiz um amigo. O nome dele é Vasco , tem 14 anos e acho que anda com problemas com as miúdas. Enfim, coisas que eu não percebo e que sinceramente não quero perceber… Mas já agora aproveito para dizer que a comida até tem bom aspecto e não sabe assim tão mal, mas o pior é a resmungona da cantina , que não me deixa comer com as mãos e ainda por cima me insultou, dizendo que eu parecia um animal. Animal?... Mas afinal que coisa é essa? Só espero que não seja uma dessas coisas peludas que eu já vi por aí a comer nos caixotes… Realmente era só o que me faltava “ Olha ali vai o esquesitote azul e peludo que come nos caixotes”…. Um abraço do teu amigo: CM2897 Dia 25 de Janeiro de 2110

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Meu amigo Diário Digital: Desculpa não te ter escrito no fim-de-semana, mas andei bastante ocupado, porque os professores lá da escola fizeram questão de mandar montes de trabalhos para casa…

Mas agora que estão todos feitos e cheguei da escola, vou escrever para ti.

Hoje, a escola estava uma confusão, os miúdos corriam de um lado para o outro como robôs avariados e os professores cochichavam uns com os outros sobre os alunos. (incluindo eu…)

Como é que há pessoas que aguentam anos e anos disto? Às vezes, ponho-me a pensar o porquê das coisas serem tão diferentes lá no nosso planeta. Lá não há tanta confusão, está bem que somos menos, mas mesmo assim… E porquê comer com talheres? Com ou sem é a mesma coisa, ou melhor, com ainda é pior porque demoramos imenso tempo… E porquê os diferentes tipos de professores e salas? Só servem para gerar confusão… Gente estranha.

Eu só tenho a certeza de uma coisa, quero voltar para casa o mais depressa possível, estou a dar em maluco e tenho muitas saudades da mãe e do pai. A vida sem eles torna-se difícil. Está na hora de me deitar. Falamos Amanhã. Abraço! CM2897 Carolina Matos

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19 De Novembro de 2009 Querido diário: Hoje, quando acordei, fui lavar a cara e quando me vi ao espelho tinha duas antenas espetadas em cima da cabeça, unhas de ferro e o meu corpo era idêntico ao de um robô. Tinha cerca de 1.10 m e os meus pés deviam calçar o 26 ou 27. Tinha uma boca rectangular com electricidade à volta e tinha olhos quadrados todos pretos que se acendiam quando se carregava no botão ON, situado na parte lateral esquerda da cabeça, ao pé da orelha. Quando saí de casa, reparei que tinha saído de uma nave espacial branca que mais parecia um disco enorme. Assim que cheguei à escola, ninguém me reconheceu e pensaram que eu fosse um extra terrestre, vindo de outra galáxia, pois tinha postura disso e movia-me como um robô ou se quisesse voava como um pássaro. Fui com os meus colegas para a aula de Língua Portuguesa, com a professora Elsa Giraldo, que começou por fazer a chamada: Ana Beatriz, Beatriz Nunes,... Tiago Neves e depois mais nada. Eu perguntei à professora: -Ó professora esqueceu-se de mim! – e ela respondeu: -Quem és tu? Cada vez temos alunos mais estranhos... Vieste de que galáxia? E eu só pensava ”porque é que não estava ali o meu nome?” De seguida, olhou melhor para no livro de ponto e a caneta da professora deslizou no quadro e mostrou o que tinha escrito: Tom@s S@£&/&*^$# ! Toda a turma se riu e eu fiquei pasmado a olhar para quadro, para todos aqueles símbolos que lá estavam e pensei que fosse nome de extraterrestre. Durante a aula discutimos o que queriam dizer os símbolos. O Neves disse logo que podia ser um gémeo do Diogo Sá. O Carlos, sempre com as suas ideias malucas , disse que era um nome em código de outro planeta que em português se pronunciava: “TOREFVGAMAX “. A Ana Beatriz disse que para Bruno me cumprimentar teria que se pôr de joelhos.

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Quando saímos da aula fomos para o intervalo e eu, cheio de fome, pedi ao Chico um bocado do seu “Bolicao”e meti-o dentro da boca, mas como o meu cérebro robótico não o aceitou pensei ”Esquisito, fixe e mágico”. Estávamos quase a entrar para Matemática quando percebi que tinha uma tomada atrás das costas e que tinha de carregar a bateria como se fosse uma PSP. Abriu-se uma portinhola no joelho e saiu um fio que se foi ligar à minha tomada e passados dois minutos tinha a bateria 100% carregada. Fui para a aula de Matemática com a professora Adosinda Almeida. Íamos dar as sequências e a professora fez-me uma pergunta da matéria e eu respondi como se tivesse tudo na ponta da língua. Durante a aula , fizemos uma ficha de trabalho que que eu fiz em 5 minutos e os meus colegas demoraram a aula inteira e ainda por cima, tive tudo certo e os meus colegas tiveram bastantes dificuldades. Depois fomos almoçar. Os meus amigos foram todos ao Mac e eu também queria comer um Big Mac, mas, o corpo robótico não deixava. Só consegui beber coca cola e com sorte. À tarde tive aula de História com a professora Ana Lopes. Estivemos a dar o antigo Egipto. A aula foi longa e um pouco secante. A coisa mais fixe foi que programei na minha cabeça uma visita ao tempo dos egípcios para eu e a minha turma termos uma ideia daquilo que se passava antigamente Chegámos e o Neves disse: -Ya pá! Bué fixe! – e a Carlota acrescentou: -É lindo! Que pirâmides tão giras! E o Carlos a gozar disse: -São tão lindas como tu! Toda a gente se riu e depois fomos ver as pirâmides de perto, as feiras de rua, as casas e os monumentos. Era tudo antiquado para o nosso tempo, mas todos, e até a professora gostaram. Quando voltámos para a aula já eram 16.15h e a professora marcou o TPC, embora contra a nossa vontade. Eu fiz aquilo na aula em 2 minutos e o Dinis copiou tudo por mim. Quando cheguei a casa, tudo tinha voltado ao normal. A casa já não era

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uma nave espacial e eu já não era um extraterrestre! Fixe! Depois ouvi a minha mãe a chamar: -Tomás, anda tomar o pequeno-almoço para ires para a escola que já estás atrasado! Pensei para mim:”Afinal era só um sonho !” ´

Até amanhã querido diário.

Tomás Souto

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20 de Novembro de 2009 ESAG, Torres Novas

Olá de novo, querido amigo diário:

Este planeta é muito mais estranho do que tu imaginas. Se tu

conseguisses ver, ficavas uma semana de boca aberta. É que o Joaquim pôs-me a dormir numa cama!! Numa cama!!! Aquela coisa até é confortável, mas dormir numa coisa a que eles chamam “cama” é das coisas mais malucas que já vi, deviam estar todos no manicómio.

Bem, hoje o Joaquim levou-me a uma coisa a que eles chamam “aulas” onde eles ficam o dia todo a ouvir uma mulher ou homem a falar. É que, em vez de brincarem com uma bola propulsora (como eu e os meus amigos brincávamos em M41375), não, ficam o dia todos sentados numa cadeira.

Depois fomos à cantina e estava em cima de uma mesa uma mistela nojenta! Estive quase a vomitar! Mas o Joaquim disse-me que aquilo era comida e eu perguntei-lhe se eles não comiam alumínio. Ele disse-me que não e então eu fui a uma coisa chamada “loja” comprar alumínio. Mas quando cheguei lá, o homem da loja fugiu como uma galinha (devia ser como um galo, porque é homem) logo que me viu. Não sei porquê, eu sou alguma aberração? Até amanhã, para mais uma página.

João Afonso

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Proposta 2:

Observa atentamente as imagens, assume-te como uma das personagens aí retratadas, e cria uma página do seu diário.

Quadros de Edward Hopper

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Segunda-feira, 24 de Outubro de 1942

Franckfurt Querida Suzy :

Agora, que perdi a pessoa que fazia a minha vida ter sentido, sinto-me só. Estou viva de corpo, mas a minha alma partiu com ele. A única coisa de que tenho vontade, é de chorar.

Este comboio vai levar-me até à minha mãe, talvez a única pessoa com quem consigo falar neste momento.

A cada minuto que passa, o comboio avança e as paisagens parecem ficar a conhecer-me melhor e a consolar-me, algo que preciso nesta altura de grande desespero.

Nunca fui pessoa positiva, alegre, que atraísse a felicidade. A verdade é que sempre fui negativa e triste. Mas, ultimamente, sentia-me satisfeita. Pela primeira vez, a vida sorria-me e estava admirada. Porém, a minha sorte não durou muito tempo. Agora, perdi-o!

Assombra-me pensar que não voltarei a vê-lo, que só me restam para recordação as fotografias de alegres momentos vividos na sua companhia e, que não voltarão a repetir-se nunca mais … É a realidade, difícil de aceitar e que, infelizmente, não posso mudar!

O comboio só parou em Berlim. Cheguei ao destino. Despeço-me assim, voltarei…

Tua Anne

Terça-feira, 25 de Outubro de 1942 Berlim

Querida Suzy:

O reencontro com a senhora de cabelos ruivos que não via há anos, deixou-me emocionada.

Apenas há pouco soube do que me aconteceu. Quando cheguei, estava para sair, ao meu encontro.

Disse-me que podia ter avisado que vinha, pois nesse caso teria recheado o frigorífico e arrumado toda a casa.

Recebeu-me da melhor maneira, tal como esperava. Ficarei por aqui, até estar preparada para enfrentar o que me

espera lá fora e ir ao encontro da vida.

Tua Anne

Ana Beatriz Silva

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22 de Novembro de 1961

Querida mãe: Sempre que pensava que a minha vida se estava a recompor,

acendia-se uma pequenina chama cá dentro, à qual a mãe, se ainda aqui estivesse, chamaria esperança. No entanto, acabou por se apagar quando as duras e frias pedras de gelo lhe caíram em cima, queimando todos os pequenos pedacinhos de felicidade que eu conseguira semear.

Pois é, querida mãe, tal como eu temia, o Pai recebeu a carta. Fechou-se a tarde inteira no escritório. Leu e releu… Mas só ao jantar é que recebi a notícia. O Pai estava estranho e muito calado. Quando finalmente ergueu a cabeça, lançou a bomba: “Vou para a guerra” e ficou a olhar-me durante todo o tempo do mundo. Foram apenas segundos, mas que pareciam uma eternidade. Fiquei imóvel. Nada disse e nada fiz. Apenas chorei. Chorei baixinho, por dentro. Mas chorei muito e até tenho receio que, com tanta lágrima, me tenha transformado por dentro num imenso oceano. Um oceano sem vida, completamente só. Um oceano sem nada, a não ser um pequeno barquinho a remos, que mal se vê, no meio da escuridão total. Barco esse, onde navego sozinha, até ao dia em que uma gigantesca onda me engolirá.

Fingi estar bem, porque sou uma irmã responsável e não quis mostrar ao mano, que estava completamente desfeita, apesar de ele já ter catorze anos e perceber tudo o que me acontece. Quando recuperei do choque (o que foi muito complicado), perguntei ao Pai: “ E nós?”. Na altura não respondeu. Só mais tarde vim a saber que tinha de fazer as malas, e partir para Espanha. Vou para casa da tia Magda, o que é a mesma coisa que ir para um cemitério. Quanto ao mano, vai para o colégio militar. Não sei quando o voltarei a ver.

E é por tudo isto, que estou neste comboio, para Espanha. Vesti-me a rigor, o que me faz parecer mais velha do que sou. Em casa da tia Magda, a educação é diferente. Há muito tempo que não a vejo, mas sei perfeitamente como ela é. Só fica comigo porque o Pai lhe pediu. Porque eu, para ela sou uma adolescente de dezasseis anos que só traz problemas. De qualquer maneira, o Pai disse que uma jovem como eu, se deve comportar como uma senhora, para não arranjar problemas.

Hoje de manhã, o Pai partiu para Angola. Vai combater na guerra colonial. Porquê? Logo agora, que estava a habituar-me ao facto de nunca mais poder estar consigo, Mãe. Mas isso já não importa. Já nada importa nesta vida completamente desfeita em cinzas.

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Ao contrário desta viagem, em que sei quando e onde vai terminar, este pesadelo de vida parece não mais acabar! Estou farta de tudo e não aguento mais! Quero ir com o Pai para a guerra! E lá, quero morrer, para finalmente ir ter consigo, esteja onde estiver… Beatriz Gonçalves

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Quarta-feira, 28 de Novembro de 1949 Paris, França

Querido diário:

Eu sei que não são propriamente coisas para mim, mas, estou triste, muito... não sei, não consigo exprimir o que sinto, estou sozinha, estou só.

Às vezes, vejo a luz, a felicidade, mas penso e sei que não passa de um mero sonho e que, quem sabe, poderá tornar-se realidade.

Estou triste porque... sou diferente, e o que é diferente, ao olhar das outras pessoas, não presta! Descobri que... não sei, não sei se consigo dizer, é difícil para mim, saber que morro daqui a alguns meses, talvez semanas, dias, horas, ou até mesmo minutos, e que não posso fazer nada. É um... não quero, não sei, não posso, não consigo, quero mas não quero, sei mas não sei. Tenho... uma vida triste, desde que descobri que... um aneurisma cresce dentro de mim a cada minuto que passa.

Esta viagem. Esta viagem serve para viver os meus últimos dias, talvez, como se fosse o meu último. Foi a primeira de muitas que fiz, em que não usei o sorriso que, pelo que as pessoas diziam, era muito alegre e bonito.

Eu sei que é triste mas... cada vez que penso nisto, fico com um nó no estômago, e com a minha cabeça a andar à roda, sinto-me mal, parece que vou... tu já sabes. Não consigo superar esta dor. Às vezes, parece que vou explodir, com tanta coisa que vem e vai na minha cabeça e não me dá descanso. Estas paisagens. Estas paisagens, as que passam por mim, pelo vidro do comboio, estão mortas, desenhadas a preto e branco, tal e qual como a minha vida, já sem sentido.

O meu café, o que tenho na mão, está frio e já nem sabe a nada (parece água deslavada), os meus lábios, estão gretados e feridos, em sangue, como o meu corpo por dentro. Eu estou viva, o meu corpo anda, salta, corre, mas a minha alma, já foi, não conseguia viver assim, com esta amargura por dentro, que ao mesmo tempo me começa a matar por fora. Não consigo mais! Sinto o meu corpo a morrer, mas lentamente, para me fazer ver a vida de outra maneira.

Sei que era feliz até... mas agora, a morte veio buscar-me. Sei que a vida é difícil para toda a gente, mas agora sei e compreendo todas as pessoas que têm problemas, tal como eu. Já sabia que isto me estava destinado, mas assim? Tão cedo? Agora não posso fazer nada, a morte é a morte e ninguém a vence.

A tua amiga e admiradora Carolina Parra

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Proposta 3 - Página de diário

Se os animais tivessem um diário, o que escreveriam sobre o seu dia-a-dia e sobre a forma como eram tratados? Põe-te na pele de um animal e imagina essa página do seu diário.

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Dia 9 de Setembro de 2004 Querido Friskies:

Hoje foi o dia mais estranho da minha curta vida, até agora. Eu estava com os meus irmãos naquela pequena montra, daquela grande loja, onde a toda a hora vinham famílias visitar-nos. Eram todos estranhos, por mais sérios que viessem chegavam ali e sorriam, abanavam as mãos e abanavam a cabeça. Bem… mas hoje, aparece uma família radiante a olhar para mim de uma forma esquisita, embora tivessem um ar carinhoso achei-os fora do comum. O pai era alto e fininho, a mãe, mais volumosa, aparecia debaixo do braço do pai e por baixo dela ainda dois seres a que chamam crianças, que não conseguiam parar quietos nem calados, ameaçadores do sossego de qualquer lar. Eu mesmo já estava a ficar cansado só de olhar para eles, naquele curto espaço de tempo. Sim! Porque eles, tal como todos os outros anteriormente, também pararam alí e foram embora. ENGANO! Para grande surpresa minhas voltaram mais contentes, mais barulhentos e mais irrequietos que nunca. Pior! A minha amiga, aquela que todos os dias nos dava, a mim e aos meus irmãos, comida, água e festas (fora a casa de banho) vinha com eles e sorria.

Abriu-se a montra e uma enorme mão dirigiu-se a mim, agarrou-me… foi tudo muito rápido, de repente os meus irmãos ficaram para trás, só havia ruído à minha volta, todos riam e as crianças estavam enlouquecidas. Meteram-me numa caixa com uns buracos para eu respirar e ver luz. Nunca mais consegui ver ninguém, só ouvia o barulho, a vida naquela caixa era impossível. Eu abanava a caixa, eles não tinham sossego e eu não estava a perceber o que me estava a acontecer. De repente a caixa parou, fecharam-se umas portas e eu senti-me ligeiramente embalado, mas entrei em pânico, onde estou? Para onde vou? O que querem de mim? Quem são eles? Miei tudo o que os meus pequenos pulmões tinham para dar. Ia ficando cada vez mais calmo.

Entregue à minha sorte e ao destino, não sei se cheguei a adormecer, mas o sossego durou pouco. A Caixa abanou, as portas bateram e eu não conseguia parar sossegado dentro da caixa. O barulho lá fora era imenso e, de repente, tudo parou. Levantaram-se as portas da caixa, lá estavam os esquisitos a olharem para mim… de repente,

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senti que se passava alguma coisa nas minhas tripas e miei:” Parem de olhar para mim e digam-me onde é que é a casa de banho! “ Mas eles não perceberam o que, olhando para a cara deles, também não era de estranhar que não percebessem.

Resultado, isto com as tripas não correu bem, um gato também não tem de saber onde é que é a casa de banho. Claro que isto gerou muita confusão e lá me mostraram de uma vez por todas onde era a minha casa de banho. Havia também um recipiente com água e comida e uma enorme cesta com uma coisa fofa lá dentro, onde insistiam que me deitasse, fazendo-me festas. A comida pareceu-me bem, mas eu estava demasiado enjoado para comer. A cama era boa, quente e confortável, as tripas não paravam quietas e pareceu-me bem ficar ali sossegado, perto da casa de banho. As luzes apagaram-se, os esquisitos saíram de ao pé de mim, o barulho foi diminuindo e acho que adormeci. Francisco Matos

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24 de Março Querido diário

Eu sou uma cadela que se chama Cleo. Hoje eu faço anos e o meu dono mais novo também.

O meu dono mais novo vai com os seus pais ao supermercado, fazer compras e comprar prendas para nós. Eu, normalmente, recebo sacos de gomas para cães e ele recebe um brinquedo de que gosta. Quando chegam, o meu dono, às vezes, tem que estudar para os testes e não brinca comigo.

25 de Março Querido diário Hoje, o meu dono já tem mais tempo para brincar comigo, porque ele já estudou muito. O meu dono anda sempre de bicicleta, quando tem tempo e lhe apetece, mas, às vezes, gosta mais de futebol. Estes são os melhores dias da minha vida. João Neves

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Outras temáticas

13 De Maio de 2009 Querido diário:

Hoje faço anos, e é um dia muito importante para mim porque, para além de fazer anos, também vai estrear o meu último filme que se chama “Um dia muito estranho”.

Só tenho pena de não ter tempo de estar com a minha família nesta dia tão especial, às vezes, gostava de ter uma vida normal como todas as pessoas.

Toda a gente pensa que ser uma celebridade é óptimo e que se tem tudo e mais alguma coisa, mas não é bem assim, eu também gostava de ter algum tempo para descansar.

Bom, chega de coisa “tristes” vamos mas é falar de coisas alegres como por exemplo…

Estão a chamar-me é a minha vez de actuar, mas volto quando o filme acabar!

Beijinhos Carolina

14 De Maio de 2009 Querido diário:

Desculpa não te ter “dito” nada ontem mas quando acabei de fazer o filme já era muito tarde e eu não tive tempo para “falar” contigo.

Mas hoje, cá estou eu! Ontem o filme correu super bem apesar de termos de repetir algumas cenas. Hoje, vou ter com a minha família a Portugal, vou de avião. Quando lá chegar, primeiro vou às compras e vou comprar uma prenda para cada membro da família.

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Apesar de às vezes me chatear com a minha mãe ou com o meu irmão mais novo, ou até mesmo com o meu pai, eu no fundo gosto muito deles.

Eu e a minha irmã mais velha damo-nos muito bem, ela já tem 28 anos, já trabalha e está grávida de um menino chamado Salvador.

Agora tenho mesmo de ir, já tive o meu momento de sossego, agora voltamos à vida de uma super star, tenho de me ir arranjar e preparar as malas para seguir viagem.

Até logo

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Uma página de diário 14 De Novembro de 2009

Querido diário, vou-te contar como passei este dia. Como era fim-de-semana, fui com os meus colegas do coro juvenil

actuar a Carcavelos. Levantei-me às sete horas da manhã e tomei o pequeno-almoço, arranjei-me e cheguei ao ponto de encontro às oito e vinte pois a partida era às oito e meia, mas, como sempre, partimos meia hora atrasados. Mal chegámos, fomos ensaiar e à uma e trinta e cinco fomos almoçar.

Depois do almoço, estava na hora do concerto que teve duas partes com um intervalo de dez minutos no meio. Na primeira parte, estivemos a assistir aos outros coros e na segunda parte fomos actuar sozinhos e com outros coros de Carcavelos. No final do concerto, pediram um representante de cada coro para receber a lembrança que nos iam dar e quem foi receber a lembrança fui eu.

Depois disso, fomos lanchar. Ainda havia um concerto em Almada no domingo e quem ia a esse concerto ficava a noite de sábado para domingo em Carcavelos . Eu não, por acaso não pude ficar a dormir em Carcavelos, pois tinha que estudar para os três testes da semana seguinte e por isso fui com os outros que também iam para Torres Novas.

No caminho, não parámos de cantar. Entretanto, chegamos a Torres Novas por volta das oito da noite, a minha mãe veio-me buscar e fui para casa. Tomei um banho rápido, fui jantar e depois fui para a escola de música ver o concerto que os professores prepararam para os alunos verem. Cheguei a casa por volta das onze, vi um pouco de televisão com a minha mãe e fui-me deitar. Foi um dia cansativo mas diverti-me. Gabriel Domingues

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Diário de um australopiteco

18-11-4000000 a.C. Querido diário sem nome (ainda)

Hoje estou a começar o meu diário. Sou um australopiteco chamado “Tozé Pedra” e tenho dois amigos que são dinossauros, um é o Henrique Zé e o outro é o João Zé. Eles são fixes, já mencionei que a minha alcunha é Peludo ? Isso também não interessa. Agora tenho de ir, vou apanhar coelhos para lhes tirar os intestinos, pois o jantar vai ser intestino de coelho com terra e caruma. Amanha vou-te dar um nome, mas ainda tenho de pensar nas hipóteses.

O teu peludo

17-11-4000000 a.C.

Querido diário sem nome

Hoje vou dar-te um nome, as hipóteses são: -o sem nome -picus benjamina -ponta de seta -pedra lascada -o caçador de hipopótamos -ponta de aço

Agora tens de esperar, eu vou pensar um bocadinho (se isso for possível) e já cá venho outra vez. Ok? Bem, já pensei e já escolhi o teu nome, o teu nome vai ser (ai, isto é um momento tão feliz) ”Picus Benjamina”. Agora tu deves querer saber porque é que eu te dei este nome, queres? Pois eu também queria, mas não consigo descobrir. Agora tenho de ir. A minha mulher tem vindo a ficar cada vez mais gorda e eu não sei o que é, devo de andar a caçar muito bem. Adeus!!!!!!!

O teu Peludo

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Diários Imaginários

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15-11-4000000 a.C. Querido Picus Benjamina

Ontem, dia 16 de Novembro, aconteceu uma coisa muito estranha, disseram-me que os dinossauros já não existiam, e eu fiquei a pensar, se já não existem, por que é que eu conheço dois? Fui consultar o australopiteco mais velho e perguntei-lhe. Ele disse que eram amigos de imaginação, mas eu não acreditei e vim-me embora.

Bem, agora falando de outra coisa, como sabes, os australopitecos são”nómadas”, logo, estamos sempre a mudar de sítio amanhã vamos embora daqui, por isso, se eu não escrever durante muito tempo, não te preocupes, não morri. Agora tenho de ir arrumar as coisas, mas não te preocupes, não me esqueço de ti.

Até depois. O teu Peludo Bruno Antunes

FIM