Diáspora gaúcha - pedro Simon

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    SENADO FEDERAL

    SENADOR PEDRO SIMON

    A DisporA

    Do povo GAcho

    BRASLiA 2009

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    Smon, Pedro.A dspora do povo gacho/Pedro Smon.

    Brasla : Senado Federal, 2009.191 p.

    1. Emgrao, Ro Grande do Sul. 2. Mgraonterna, Brasl. 3. xodo rural, Brasl. i. Ttulo.

    CDD 304.8098165

    Foto da capa: Acervo do Espao Cultural do incra.

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    SUMRIO

    Pg.

    Apresentao ........................................................................... 5

    Panorama geral do xodo ........................................................ 19

    Santa Catarna: o comeo da saga .......................................... 39

    A marcha at o Paran ............................................................ 55

    A conqusta do Cerrado .......................................................... 67

    A pujana de Mato Grosso ..................................................... 89

    A ocupao da Amazna........................................................ 111

    A fora do tradconalsmo ..................................................... 135

    Anexos

    Reportagens ..................................................................... 153

    A dspora gacha ................................................... 155

    Bah, Mnas, tch! ................................................. 163

    Pau vra novo eldorado para os gachos ............... 165Hstra pecular de uma gente em terra nspta ... 168

    Pronuncamentos sobre o xodo ............................................. 173

    Pronuncamento em 4 de agosto de 1970 .................... 175

    Pronuncamento em 27 de outubro de 1970 ................ 186

    Pronuncamento em 11 de setembro de 1971 .............. 188

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    APRESENTAO

    H mutas dcadas a mgrao de agrcultores gachos paratodos os rnces do Brasl um tema que, pela sua grandeza, mechama a ateno. Passe ento a estud-lo com muto nteresse.Os nmeros do xodo dos nossos conterrneos so grandosos.Estma-se que hoje um mlho e duzentos ml gachos vvam fora

    das dvsas do Estado.Assm, recentemente, resolv esboar, da trbuna do Senado,

    um panel dessa verdadera dspora do nosso povo. assuntoque nteressa a todos os brasleros. assunto que nteressa a to-dos senadores, em especal queles cujos Estados tveram sua vdaeconmca totalmente modfcada com a chegada dos gachos. Eesses Estados so mutos.

    Acompanho ao longo de toda a mnha vda poltca a sadado nosso Estado de um grande nmero de pessoas. H entre osmgrantes um bom nmero de profssonas lberas e de pessoasdplomadas em unversdades que partem em busca de uma vdamelhor nas grandes cdades do centro do pas. Os estudos demogr-fcos apontam anda que mportante o nmero de trabalhadoresque vo tentar a vda em cdades ndustras dos Estados vznhos.So numerosos anda os casos de funconros pblcos federas,cvs ou mltares, transferdos. Os ofcas e graduados gachos sonumerosos dentro do Exrcto Braslero, por exemplo.

    O que sempre me mpressonou mas fo a sada em massa dosnossos agrcultores, que formam a corrente mgratra de longe amas numerosa deste pas. Cabe aqu um parntese. Fala-se mutona mgrao de cdados nordestnos para o centro do Pas, emespecal para o Estado de So Paulo. Mas a verdade : so vros os

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    estados do Nordeste que fornecem esses mgrantes. isoladamente,creo, o Ro Grande do Sul a undade da Federao cujos ha-btantes mas saem em busca de outros horzontes. A partda dohomem do campo, que deixa para trs a terra onde nasceu e daqual aprendeu a tirar o seu sustento, me parece a mais dramticade todas as migraes.

    Ao longo dos ltimos quarenta anos, o Rio Grande perdeumuita gente que oi em busca de um pedao maior de terra nasnovas ronteiras agrcolas que estavam sendo abertas na regio doscerrados e das grandes orestas. Com sua extraordinria experinciaagrcola e com sua prounda dedicao ao trabalho, esses pioneiros

    gachos arontaram inmeros desafos e acabaram transormandoem celeiro o que antes era terra devoluta.

    Um outro motivo que me levou a azer essa srie de pronuncia-mentos oi o desinteresse que, em geral, os polticos eleitos pelas ci-dades e muitos dos governantes demonstram em relao ao homemdo campo. O que me impressiona que, na vida poltica nacional,poucos percebem que os supervits agrcolas vm garantindo e

    h muito tempo! as contas externas do pas. Se no osse a nossaagricultura to competente, to mltipla, eiciente, estaramos amar-gando grandes diiculdades nas nossas contas com o exterior.

    Ora, quando se ala em supervit agrcola, temos que, obriga-toriamente, citar os gachos. E no me reiro apenas queles quevivem no Rio Grande. Eu estou me reportando a todos os nossosirmos que transormaram a ace econmica de inmeros outrosEstados da Federao.

    Pode parecer imodesto o que vou dizer, mas a verdade que oBrasil s uma potncia na produo de alimentos por causa da mi-grao dos gachos. Isso cil comprovar com dados estatsticos.

    PRODUO

    Para comprovar o que digo, basta examinar o quadro da ati-vidade agrcola dos ltimos trinta anos. Como se sabe, a produo

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    brasileira de gros saltou de 47 milhes de toneladas, na sara1976/1977, para 122 milhes de toneladas em 2005/2006. Ocrescimento, portanto, oi da ordem de 260 por cento em uma d-cada. Porm, quando se observa isoladamente a produo daquelesEstados que receberam as maiores levas de agricultores vindos dosul a verdade do que estou airmando ainda mais contundente.

    O caso mais impressionante , sem dvida, o da Bahia. Nin-gum desconhece que aquela unidade da ederao tornou-se umapotncia na produo de gros depois do desembarque em massade agricultores sul-rio-grandenses no Oeste daquele Estado nosltimos quinze, vinte anos. Aquele Estado registrou um salto im-

    pressionante de 900 por cento no que produziu nos ltimos trintaanos. Repito: 900 por cento em trs dcadas. Saltou de 460 miltoneladas para 4,1 milhes de toneladas em anos recentes.

    Em segundo lugar est Minas Gerais, cujas saras de grostiveram um aumento de 870 por cento. Num pronunciamentoque iz sobre a abertura de ronteiras agrcolas mostre a presenamaca de produtores gachos naquele Estado, prncpalmente nas

    cdades prxmas a Brasla e tambm cte o caso surpreendentede Chapada Gacha, muncpo que se tornou um plo de rquezano empobrecdo Norte mnero.

    O tercero caso mas notvel o do Mato Grosso, onde seestma que vvam hoje 100 ml gachos. A produo daquele Es-tado cresceu 740 por cento nas trnta ltmas safras. O quartomaor crescmento, da ordem de 500 por cento, fo regstrado emRondna. A segur, vm Gos e Pau com, respectvamente, 443por cento e 296 por cento.

    Ora, como sabdo, todos esses Estados receberam grandeslevas de agrcultores gachos que se destacam em geral pela pro-duo de soja e de arroz.

    Quem for examnar as estatstcas sobre produtvdade tambmver que as colhetas se tornaram muto mas fartas nos Estadosque receberam fortes correntes de agrcultores vndos do sul. O

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    exemplo mas marcante gualmente o da Baha, cuja produtvda-de por hectare subu de 499 qulos, na safra 1976/77, para 1.481qulos na safra 2005/2006. Ou seja, regstrou um crescmento de

    cerca de 300 por cento em uma dcada.CONTAS NACiONAiS

    Passo agora para o mpacto da nossa dspora nas contas bra-sleras. Em 2007, o Brasl regstrou nas suas contas externas umsupervt total de 40 blhes de dlares. Porm, quando vamosexamnamos o supervt agrcola constatamos quem ele fo, no

    mesmo ano, de 49,7 blhes de dlares. Portanto, na verdade, opas teve um dfct de 9 blhes de dlares. Quem garantu nossascontas, em suma, fo a produo agrcola.

    Vejamos sso com mas detalhes. Em 2007, o pas conseguuexportar o equvalente a 58 blhes e 400 mlhes de dlares emprodutos da agropecura, ao mesmo tempo em que mportavaapenas 8 blhes e 700 mlhes de dlares. Portanto, a est o

    supervt de 49,7 blhes de dlares.Smultaneamente, no que se refere ao total das transaes co-

    mercas, o Brasl exportou o equvalente a 160 blhes e 600 m-lhes de dlares e mportou o valor correspondente a 120 blhese 600 mlhes de dlares. A est, pos, o saldo total de nossobalana comercal: 40 blhes de dlares. Saldo que fo sustentadopelo nosso ganho na agrcultora.

    Mas o que precso destacar que aqulo que ocorreu no anopassado no um fato solado. isso j vem ocorrendo h mutomas tempo. Quando examnamos as contas entre 1989 e 2007,vemos que o supervt agrcola , em todos os anos, sempre maordo que o naconal. Nesses 19 anos menconados acma, o super-vt agrcola somou 378 blhes de dlares, enquanto o supervtnaconal fo de apenas 274 blhes.

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    DCADA DE 70

    Como dsse de nco, esse assunto a dspora do povo ga-cho algo que me preocupa h dcadas. Fu testemunha da

    da dos prmeros colonos gachos para a Amazna, durante ogoverno mltar, no comeo dos anos 70. E partcpe dos ntensosdebates que foram ento travados na Assembla Legslatva do RoGrande do Sul sobre o tema.

    Penso que, se tvssemos feto uma reforma agrra anda naprmera metade do sculo passado, no tera ocorrdo esse xodoem massa da nossa gente. Na verdade, a reforma agrra uma

    necessdade que o Brasl devera ter enfrentado anda no sculoXiX, mas que, pela omsso de sucessvos governos, permanecelatente hoje em da.

    mportante lembrar que, nos prmrdos da dcada de 70,era extremamente delcado falar sobre esses temas. Vvamos otempo do arbtro. Pela legslao ento vgente, qualquer opnopodera ser consderada uma ameaa segurana naconal. E seuautor podera pagar com o banmento da vda pblca.

    Quero ressaltar aqu que, nos meus pronuncamentos na As-sembla gacha, eu no me posconava contra a mgrao dosgachos para a Amazna, que ento estava sendo promovda peloregme mltar. inmeros assentamentos surgam margem dasrodovas que ento estavam sendo abertas. Hava um nteresse dogoverno mltar em ocupar com homens aquelas vastdes de terrasdevolutas.

    Na verdade, o que eu defenda com nfase era que, prmor-dalmente, a transfernca dos nossos agrcultores sem terra deveraser feta para a Metade Sul do nosso prpro Estado, onde tnha-mos grandes extenses de campo mal utlzadas.

    Para contextualzar melhor esses pronuncamentos, eu gostarade falar um pouco da questo da terra ao longo da hstra bra-slera. Afnal, fo a manera como o Brasl ldou com suas terras

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    que acabou gerando grandes problemas, entre os quas eu ncluoo xto maco dos nossos conterrneos.

    OPORTUNiDADE PERDiDA

    infelzmente, o Brasl no fez a reforma agrra no momentomas propco, que tera sdo no fnal do sculo XiX. Naquelapoca tnhamos, de um lado, uma enormdade de terras sem ttu-lao e, de outro, notadamente ao fnal da escravatura, mlhes dehomens recm lbertos, que poderam ter recebdo um pedao decho para dal trarem o almento para s e para os seus.

    Penso que mesmo mas adante, durante a prmera metade

    do sculo passado, anda tera sdo relatvamente fcl dar terras atodos que nelas qusessem trabalhar.Ora, como sso no ocorreu, nos vemos anda hoje, no n-

    co do sculo XXi, sucederem-se as lutas pela posse da terra, osassassnatos de camponeses e de suas lderanas e a devastao dasflorestas.

    Quero fazer aqu algumas reflexes sobre as questes sem-pre palptantes da posse e do uso da terra, da reforma agrra

    e da mgrao do homem do campo, que, como dsse anteror-mente, esto undas. E, quando eu falo de mgrao, eu merefro especalmente aos agrcultores gachos porque foram elesos brasleros que mas terras ncorporaram ao sstema produ-tvo do pas.

    O que eu gostara de destacar que o Brasl comeou a setransformar numa potnca na produo de almentos quando, no

    nco do sculo XX, os flhos dos mgrantes talanos e alemesestabelecdos no nosso Estado comearam a adentrar o terrtrocatarnense, ento tomado pelas florestas.

    Naquele Estado vznho reproduzu-se o modelo dos nossoprmeros mgrantes, que em pequenas propredades pratcavamuma agrcultura de subsstnca. Dezenas de cdades que esto hojeentre as maores de Santa Catarna foram fundadas pelos gachosno Oeste e no Meo-Oeste daquele Estado.

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    Depos que essas terras foram ncorporadas produo, numprocesso que se estendeu por trs ou quatro dcadas, a mar huma-na formada pelos agrcultores gachos e seus famlares avanou para

    o Oeste do Paran. Nessa nova frontera, mutas das terras foramvenddas por empresas colonzadoras com sede no Ro Grande doSul.

    Ao longo de todo esse tempo, os gachos contnuavam a sardo Estado por um mesmo motvo: o excessvo fraconamento daspropredades em funo das dvses entre flhos nos nventros.

    Porm, a questo do campo se agrava a partr dos anos 50,quando comea a mecanzao das lavouras. Ao mesmo tempo, opas ngressa num perodo de acelerada ndustralzao. Os cda-dos das pequenas cdades e do campo acorrem s grandes cdadesem busca de um trabalho melhor remunerado ou em busca deeducao para seus flhos.

    No comeo dos anos 70, desata-se a grande mgrao. Os ga-chos e tambm os flhos de gachos nascdos em Santa Catarna eno Paran avanam em grandes fluxos para o Norte. Bascamente,todos queram uma poro maor de terras para plantar. O proces-so de mecanzao da agrcultura passara a permtr que um grupofamlar, com a ajuda de tratores e colhetaderas, pudesse exploraruma rea bem mas extensa.

    Paralelamente, comeava o avano da botecnologa. Surgaa Embrapa, empresa que orgulha todos os brasleros. Os solospassaram a ser estudados e melhorados com corretvos. As semen-

    tes so aperfeoadas. Novos e melhores defensvos combatem osurgmento de pragas.

    Ao longo dos anos 70, mas com maor velocdade no fnaldaquela dcada e at a metade dos anos 80, os gachos se espraampor Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondna, Par, Amazo-nas, Brasla, Gos, Mnas Geras, Baha e Maranho. Na dcadade 90, ser a vez do Pau.

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    CONCENTRAO DAS TERRAS

    Se examnarmos com cudado a hstra do nosso Pas ve-remos que ela transcorre sob o sgno da devastao das rquezas

    naturas e da concentrao da terra, duas pragas que se arrastamat nossos das.

    J no nascmento da Nao, em pouco mas de trs dcadas,os portugueses destruram as matas de pau-brasl da nossa costa,a prmera rqueza que aqu fo explorada. Depos, para povoare defender a nova terra, a Coroa portuguesa concedeu grandesextenses de terras chamadas captanas a cdados de posses

    que pudessem explor-las.A segur, tem nco o cclo de explorao da cana-de-acar,que, por quase trs sculos, sera desenvolvdo com a utlzaode mo-de-obra escrava.

    Logo aps a independnca, em 1822, houve um breve per-odo em que homens lvres, aprovetando brechas na le, tomaramposse de pequenas reas de terras devolutas. Porm, o nmerode posseros fo to reduzdo que nada mudou no panoramaagrro.

    Em 1850, com a edo da Le das Terras, o impro probua ocupao de reas pblcas e determnou que a aquso deterras sera restrta a grandes glebas, obrgatoramente pagas emdnhero. Essa le nvablzou a pequena propredade.

    Com a Abolo, em 1888, formou-se um menso contn-gente de trabalhadores lvres que poderam ter sdo ncorporados atvdade agrcola, se no fossem mpeddos, pela Le das Ter-ras, de adqurr e cultvar seu prpro pedao de cho.

    Depos do fm do trfco de escravos, surgram algumasncatvas do Governo mperal para trazer colonos europeuspara o Brasl. Na poca, trs grandes naes em formao Estados Undos, Argentna e Austrla - dsputavam essa mesmamo de obra.

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    Als, quero fazer aqu um comentro paralelo. Fo justamen-te com a exportao de mlhes de seus cdados mas pobrespara os novos pases que as naes europas, como Alemanha, it-la, Portugal e Espanha, conseguram superar os graves problemasdecorrentes da ndustralzao o desemprego e a fome que seexpanda pelo contnente europeu.

    No Brasl, os colonos vndos da Europa foram concentradosno Sul porque o governo mperal tema a nvaso daquelas terraspor tropas de pases vznhos, mas especfcamente pela Argentna.Os mgrantes alemes, que chegaram prmero, foram nstaladosem vlas s margens dos prncpas ros do Ro Grande do Sul. Os

    talanos, que desembarcaram depos, ganharam pequenos lotes narego serrana, ento totalmente tomada pelas matas.

    Als, fo justamente por causa de uma dvso equnme dasterras que as estruturas fundras do Ro Grande do Sul e de SantaCatarna anda hoje se dferencam do resto do pas. Como temosmaor nmero de pequenas propredades, a renda dos nossos agr-cultores acaba sendo maor do que a mda no resto do pas.

    Voltando questo da terra, lembro que nem mesmo a chega-da da Repblca, em 1889, alterou o perfl da dstrbuo de ter-ras. O poder poltco contnuou nas mos dos olgarcas regonas,todos eles latfundros. Terra era snnmo de poder poltco.

    S no fnal dos anos 50 e nco dos anos 60, com a ndustra-lzao e a urbanzao do pas, que a questo fundra comeoua ser debatda pela socedade braslera.

    Por tudo o que alnhe anterormente, o Brasl hoje campeoem estatstcas que nos envergonham: o prmero do mundo emconcentrao de renda e o prmero em concentrao de terras. Onmero quase nacredtvel: estma-se que, hoje, menos de trspor cento dos propretros possuam mas da metade das terrasagrcultves. Na outra ponta, temos quatro mlhes de famlasde trabalhadores ruras que no possuem terra e vvem na masextrema pobreza.

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    REGiME MiLiTAR

    instalado o regme mltar, em 1964, os novos governantes,surpreendentemente, ncluram a reforma agrra entre suas pro-

    rdades. Em novembro daquele ano o presdente Castello Brancosanconou o Estatuto da Terra. Pouco depos, o governo crou oinsttuto Braslero de Reforma Agrra (ibra) e o insttuto Naco-nal de Desenvolvmento Agrro (inda), em substtuo Supra.Esses dos rgos se fundram, em julho de 1970, no insttutoNaconal de Colonzao e Reforma Agrra (incra).

    A da ncal do governo mltar era envar para a Amazna

    - ao longo da Rodova Transamaznca, que estava sendo aberta -agrcultores sem terra do Nordeste e do Sul, sendo que dos terosdas vagas seram para os nordestnos e um tero para os sulstas.No entanto, na prtca, a grande maora das famlas contempla-das com lotes sau do extremo Sul do pas.

    No af de povoar aquelas reges remotas, foram crados n-meros programas de assentamento durante o governo mltar. Mas

    tarde fcou claro que, apesar de o custo desses programas ter sdoelevado, o nmero de famlas assentadas fo reduzdo e o m-pacto socoeconmco sobre a rego fo pequeno. Os problemasdetectados de nco fzeram com que boa parte dos contempladoscom lotes acabasse voltando ao sul depos de algum tempo. Mu-tos agrcultores foram vtmados por doenas. Outros no tveramcomo transportar e comercalzar o que produzam. Faltava umanfraestrutura mnma de cudados com a sade e com a educao

    das cranas. Talvez se possa dzer que a reforma agrra do gover-no mltar resumu-se a onerosas tentatvas fracassadas de colon-zao da Amazna.

    Os resultados mas postvos foram obtdos pelos projetos decolonzao levados adante por ncatvas partculares, em espe-cal por cooperatvas. Tambm foram melhor suceddas mutasdas ncatvas empreendedores partculares. Aconteca o segunte:

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    um cdado gacho comprava terras mas baratas num Estado doCentro-Oeste e comeava a plantar. Vendo que os resultados erambons, ele tratava de chamar logo seus parentes e vznhos do sul.Assm, logo se formava um ncleo de gente conhecda. E fcavamas fcl trabalhar e progredr nessa nova terra.

    Agora, ao reler com ateno meus pronuncamentos do come-o dos anos 70, vejo que, no Ro Grande do Sul, anda estvamoslonge do grande trauma que sofreramos em 1978 quando mlha-res de agrcultores pobres foram expulsos das reservas ndgenas.

    Mutos desses cdados, levados para a Amazna, no tveramo respaldo prometdo pelo regme mltar. O nteresse que o Pre-

    sdente Ernesto Gesel orgnro de famla de agrcultores comascendnca alem mostrou pela colonzao no teve sequncano Governo Fgueredo. E, por sso, mlhares de agrcultores ga-chos foram jogados prpra sorte no meo da floresta.

    Olhando retrospectvamente, vejo que meus pronuncamentosforam fetos apenas ses anos aps a nstalao do regme mltar,tempo em que era precso ser cauteloso porque tudo era passvel

    de enquadramento na tenebrosa Le de Segurana Naconal.Creo que fz um bom trabalho nessa questo. Analse mnu-cosamente a questo fundra braslera, ataque o governo ml-tar, que se dza nteressado em resolver os problemas no campo,mas que nada fez de efetvo. E suger que nossos agrcultores fos-sem levados para a rego do pampa, para a Metade Sul.

    Acredto agora que, se eu tvesse sdo ouvdo naquela poca,muta gente no tera sado do Ro Grande. Julgo tambm que, damesma forma, a Rego Sul do nosso Estado, atualmente estagna-da economcamente, sera hoje muto mas prspera.

    O VALOR MAiOR DOS iMiGRANTES

    Todas as culturas admram aqueles que tm a coragem demudar suas vdas para melhor. O mgrante, de modo geral, vstocom respeto porque ousou sar de um ambente que domnava

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    para enfrentar o desconhecdo. Porm, quando esses mesmo m-grante, apesar das grandes adversdades, consegue vencer, o seuxto o engrandece perante os olhos dos outros.

    Quem de ns no gosta de contar o exemplo de um parente que,tendo sado de uma condo humlde, alcanou rqueza ou poder?Dezenas de mlhares de modestos agrcultores gachos vra-

    ram o jogo. Dexando uma passado de pobreza e dfculdades,conseguram na sua nova terra, medante trabalho dos mas rdu-os, recursos para construr boas casas e para educar seus flhos.

    Estudo recente do insttuto de Pesqusa Econmca Aplcada,organsmo do Mnstro do Planejamento, mostrou que quem m-

    gra ganha, em mda, 8,5% mas do que as pessoas naturas do esta-do onde ele se fxou. J na comparao com o seu conterrneo quepermaneceu no estado de orgem, o mgrante ganha 15,0% mas.

    De acordo com os pesqusadores do ipea, quem mgra , namda, mas apto, motvado, empreendedor ou ambcoso. Hum rsco muto grande na mgrao, porque o destno um am-bente mas hostl do que sua casa. O fato de que nesse ambente

    o mgrante j estara sando um pouco em desvantagem, e mesmoassm na mda ganha mas, um forte ndcatvo de que ele, dealguma forma, mas habldoso, tem mas fora de vontade, dzPedro Cavalcant Ferrera, da FGV. Essa sera uma caracterstcaque o leva a mgrar, completa ele.

    O nteressante que, alm de ganhar mas do que o no m-grante do seu Estado de orgem, o mgrante tambm ganha masque o no mgrante do seu Estado de destno, afrma NarcoMenezes Flho, da Unversdade de So Paulo.

    O estudo dos economstas brasleros, reforando a tese deque o mgrante mas motvado e empreendedor do que o nomgrante, guarda semelhana com estudos realzados por pesqu-sadores amercanos. Estes concluram que as pessoas que morampessoas vndas de outros pases que resdem nos Estados Undosso mas aptas e ambcosas do que as nascdas naquele pas.

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    Quero, portanto, dedcar aos valentes mgrantes, que saramdo Ro Grande do Sul em busca de um futuro melhor para seusflhos, esses pronuncamentos em que tento esboar um quadrodessa grande epopa que a dspora do povo gacho.

    ANEXOS

    Ao fnal deste lvro, na seo de anexos, esto transcrtos trspronuncamentos fetos por mm na Assembla Legslatva do RoGrande do Sul, no comeo dos anos 60, tratando da mgrao dosgachos, bem como reportagens jornalstcas sobre o assunto.

    Pesqusando nos arquvos da Assembla Legslatva gacha en-

    contre pronuncamentos, do nco daquela dcada, nos quas meposcono sobre a mgrao de agrcultores sul-ro-grandenses e areforma agrra, assuntos que eram e anda so ndssocves. Noprmero trabalho, ao comentar a fundao do incra, analso a ques-to da reforma agrra. Nos outros dos afrmo a necessdade denstalarmos nossos agrcultores tambm na metade Sul do Estado.

    A prmera das reportagens transcrtas aqu, publcado pela

    revstaVeja, em 1996, d uma da geral do xodo dos gachospelo Norte e pelo Centro-Oeste. A segunda reportagem, tam-bm daVeja, de 1998, mostra um aspecto quase desconhecdo damgrao gacha para o Norte do Estado de Mnas Geras, nossertes de Gumares Rosa. A tercera reportagem, publcada em2005, pelaFolha de S. Paulo, mostra como os mgrantes gachosmudaram o perfl econmco do Estado do Pau. O quarto tex-to, dvulgado pelo jornal da Unicamp, em 2006, d uma quadro

    bastante aproxmado do que fo a epopa da ocupao do Oestedo Paran pelos mgrantes vndos do extremo Sul.

    Senador Pedro Simon

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    PANORAMA GERAL DO XODO

    Pretendo traar aqu um lgero esboo de um acontecmentoverdaderamente pco: a dspora do povo gacho, saga que jdura mas de um sculo. A movmentao de propores bblcas

    do povo sul-ro-grandense pelas novas fronteras agrcolas de todoo nosso Brasl tema que devera receber a ateno dos nossoshstoradores.

    Mostrare neste captulo, com pnceladas lgeras, um panora-ma geral do xodo dos nossos conterrneos. Mas adante, apro-fundare alguns casos, como a ocupao dos cerrados, o avanopela Amazna e, nos prmrdos, a passagem por Santa Catarnae Paran

    Posso dzer sem medo sem nenhum medo de errar - que,em todos os lugares deste menso Pas em que novas terras foramncorporadas produo agrcola, l estavam os gachos.

    Alm do hbto cotdano do chmarro e do churrasco, leva-ram na bagagem a tca do trabalho duro que herdaram de seusancestras. Para todos os lugares para onde mgraram, nossos colo-nos carregaram consgo suas danas, sua cultura, sua msca, sua

    poesa.Mlhares de Centros de Trado Gacha, os tradconas

    CTG, espalham-se hoje do Oapoque ao Chu. Em todas as no-vas terras que ocuparam os gachos fzeram prevalecer o hbtodo trabalho cooperatvo, de forte coeso comuntra. Trabalhosempre se ampara no ncleo famlar e, na sequnca, as famlasj nstaladas vo ajudando as outras famlas que vm depos.

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    Estma-se que mas de um mlho e 200 ml gachos, aforaseus descendentes, vvem hoje fora do Ro Grande do Sul. Essenmero supera em muto o do xodo da gente dos grandes estados

    do Nordeste, tradconalmente consderados os prncpas plosde mgrao nterna. Pode-se dzer que um de cada nove gachosmora fora da terra que o vu nascer.

    Se eu uso aqu esta palavra forte dspora! , porque amovmentao dos gachos guarda alguma cosa de dsperso dosjudeus, que, mesmo espalhados pela Terra, ao longo dos sculos,mantveram seus rtuas e sua crena.

    Als, mportante ressaltar que os gachos no se espalharamapenas pelo terrtro braslero. L esto eles no Paragua, na Ar-gentna, no Urugua, na Bolva, levando sua cultura de trabalho,sua tecnologa de produo e sua cultura.

    A palavra dspora serve para ndcar a dsperso de um povoem consequnca de preconceto ou perseguo poltca, relgosaou tnca. No caso do Ro Grande do Sul, o problema que afastoua nossa gente fo sempre de natureza econmca.

    De nco, o fator determnante fo o fraconamento das pe-quenas propredades. Sem terras sufcentes para produzr, mutospartam em busca de uma stuao melhor para s e para seus fa-mlares. Em sua maora lgados agrcultora, os gachos partramem busca de terras mas baratas onde pudessem ter propredadesmas extensas. Nos anos 70 e 80, agrcultores gachos que ven-dam poucas dezenas de hectares e compravam grandes extenses

    no Centro e no Norte do pas.Ao tratar dessa saga moderna, mportante frsar um aspecto

    relevante da economa braslera que nunca fo examnado com aprofunddade que mereca. A verdade que os grandes supervtsbrasleros das ltmas dcadas, obtdos em grande parte com aexportao de nossos produtos agrcolas, pecuros ou de agron-dstra, foram gerados prncpalmente por esses mgrantes gachos

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    hoje espalhados pelo Brasl ntero, bem como pelos que contnu-am trabalhando no Ro Grande do Sul.

    Ocorre que todos os prncpas Estados exportadores de pro-

    dutos agropecuros no Brasl receberam, em um ou outro mo-mento, grandes levas de mgrantes gachos ou de descendentesde gachos nascdos em outros Estados. Por exemplo, foram osgachos que levaram o progresso e o desenvolvmento ao Oestedo Paran e de Santa Catarna, e os flhos desses gachos nascdosj no Paran ou em Santa Catarna foram para Mato Grosso oupara a Amazna.

    O setor agrcola braslero fechou o ano de 2007 com

    um supervt recorde de cerca de US$50 blhes. ExportamosUS$58,4 blhes de produtos agrcolas contra mportaes deUS$8,7 blhes. Como o saldo da nossa balana comercal fode R$40 blhes, pode-se dzer que, sem o agronegco, noteramos saldo postvo. Pelo contrro, teramos um saldo ne-gatvo de R$10 blhes.

    O mpressonante recorde do setor agrcola em 2007 basta

    para provar o que venho dzendo: gachos ou seus descendentesesto na orgem das sucessvas safras recordes de gro, de aumentodas exportaes de carne, de sucessvos aumentos de vendas aoexteror da nossa agrondstra ao longo dos ltmos dez anos. isso o que precsa ser regstrado.

    O que dgo sobre a mportnca dos mgrantes gachos podeser testemunhado em Santa Catarna, Paran, Mato Grosso doSul, Mato Grosso, Gos, Baha, Pau, Maranho, Par, Rond-na, Rorama e Amap. Hoje grandes centros da agrondstra eda produo agropecura, esses so justamente os Estados quemas receberam agrcultores sul-ro-grandenses ou seus descenden-tes nascdos em outras undades da Federao.

    Rondna, por exemplo, um Estado que recebeu um grandenmero de gachos, mas seu maor fluxo de mgrao partu doParan. No entanto, esses paranaenses, em grande parte, so des-

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    cendentes dos nossos conterrneos que foram para o Paran. Osgachos chegaram ao oeste e ao sudoeste do Paran a partr de1940; seus flhos e netos foram para Rondna prncpalmentenos anos 70.

    O Ro Grande do Sul recebeu, no sculo XiX, dos grandesfluxos mgratros vndos de uma Europa ento empobrecda ecom muta gente passando fome. Como a rego do pampa, deterras planas, j estava ocupada desde o sculo XViii, os mgran-tes europeus, notadamente talanos e alemes, foram trazdos paradomar as florestas e as serras que fcavam no Norte do Ro Grandedo Sul.

    Os germncos comearam a chegar a partr de 1824, e ostalanos desembarcaram meo sculo depos, em 1875. A pe-quena propredade, em que se mescla a produo de almentose de anmas para consumo prpro vendendo-se apenas osexcedentes , ser a marca comum da colonzao levada adantepor essas duas etnas.

    Por terem chegado antes, os alemes receberam terras s mar-

    gens dos ros. isso explca a rpda ascenso econmca de mu-tos mgrantes dessa naconaldade, em especal os que passaram avender o que era produzdo na colna aos comercantes de PortoAlegre.

    J aos talanos foram destnadas as serras ngremes, entotomadas pelas florestas. Al foram obrgados a enfrentar uma na-tureza que desconhecam, de matas cerradas, com clma mutodferente daquele com o qual estavam acostumados. Em mutoslugares, tveram de se proteger do assalto dos ndos que reagamao avano dos brancos.

    Sem o apoo das autordades que os havam atrado ao Brasle vvendo num Pas cuja lngua no domnavam, esses mgran-tes acabaram desenvolvendo um forte senso de vda comuntra.Em torno de uma greja, luterana ou catlca, alemes e talanosconstruram suas escolas e hosptas. Dotados de forte sentdo de

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    uno, craram assocaes de mtuo socorro: santas casas, escolase clubes.

    Tem orgem nos prmrdos da nossa colonzao no Ro

    Grande do Sul a adeso entusasmada que os gachos sempre de-monstraram pelo cooperatvsmo, anda hoje um trao dferenca-dor das nossas comundades espalhadas pelo Brasl.

    No nco do sculo XX, as terras do norte e do nordeste doRo Grande do Sul j estavam ntegralmente ocupadas. Naquelapoca, 12% da populao do Estado era formada por estrangeros.Os ntegrantes da prmera gerao nascda na nova terra comea-vam a alcanar a dade adulta. Os mgrantes chegados em meados

    do sculo anteror entravam na velhce. Com a morte dos masdosos, fo precso dvdr as colna. Mas como fazer a sucessose tnham mutos flhos?

    As famlas de ento eram numerosas porque os pas precsa-vam de mutos braos para ajud-los no duro trabalho do campo.Sem falar, claro, nas doenas que dzmavam um grande nmerode recm-nascdos e cranas. Era comum que, de uma dezena de

    flhos, apenas cnco ou ses chegassem dade adulta.Em mda, uma propredade de colonzao tnha 25 hectares.Ora, a sua dvso entre vros flhos nvablzara a sustentaoeconmca de qualquer um deles.

    Tradconalmente entre os europeus, a propredade era her-dada pelo prmognto. Assm, os demas flhos tnham que bus-car novos horzontes. sso que va desencadear a passagem deagrcultores gachos para os ntocados campos do Oeste de SantaCatarna.

    Na vrada do sculo, a economa daquela rego catarnenseestava calcada na erva-mate e na extrao de madera. Entre 1912e 1916, ocorre na rego lmtrofe entre Paran e Santa Catarnaum conflto sangrento, conhecdo como Guerra do Contestado,que tem caracterstcas semelhantes Guerra de Canudos, mas fezum nmero bem maor de vtmas: 20 ml.

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    Termnada a Guerra do Contestado, tem nco a mgraogacha. A maor cdade do Oeste catarnense, Chapec, hoje com160 ml habtantes, fo fundada por um sul-ro-grandenses em

    1917. Todos os maores Muncpos daquela rego Concrda,Xanxer, So Mguel do Oeste nasceram de modo semelhan-te. Tambm fo fortssma a nflunca de mgrantes gachos naformao de cdades do Meo Oeste, outra rego rca de SantaCatarna.

    Quando os gachos chegaram, grande parte das florestas cata-rnenses tnha sdo derrubada por madereras de captal estrange-ro, que exploravam as terras s margens da Ferrova So PauloRoGrande do Sul.

    Naquele Estado, repete-se a colonzao de pequenas pro-predades. isso va garantr ao Estado de Santa Catarna o ttuloque ostenta hoje de undade da federao que tem a melhordvso de renda do Pas. E os Estados brasleros que tm a me-lhor dvso da renda so justamente aqueles em que prevaleceo mnfndo.

    Sobre a colonzao pelos gachos do Oeste do Paran, o re-prter Luz Sugmoto, do Jornal da Unicamp, escreveu em marode 2006:

    Est fazendo 60 anos que 21 gachos partrampara uma extenuante vagem at o extremo Oeste doParan, s alcanando o destno graas a trlhas abertaspela tropa do Marechal Rondon em perseguo Colu-

    na Prestes. Eram desbravadores em rego nspta, quencaram a demarcao das terras rcas em madera e desolo roxo, com o propsto de vend-las a agrcultoresgachos. A notca correu rpdo em Porto Alegre e naSerra Gacha, entre famlas sem chance de nsero nasreas ruras ou urbanas no Estado...

    E prossegue o reprter do Jornal da Unicamp:

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    Em 1940, hava 7.645 habtantes em todo o ex-tremo Oeste do Paran. A populao saltou para 16.421em 1950 e para 135.697 em 1960. Pesqusa realzada

    por um grupo de gegrafos, em 1958, apontou que essefluxo fo bascamente de gachos vndos do Norte eNordeste do Ro Grande do Sul e tambm de Santa Ca-tarna que naquele ano representavam 69% do totalde mgrantes.

    O Oeste do Paran fo conqustado na Guerra do Paragua,mas, em funo de dvdas assumdas na poca, fo em parte ex-

    plorado por uma empresa maderera nglesa que, em meados dadcada de 40, devolve a terra ao Governo braslero.E conclu o jornalsta da Uncamp:

    Fo quando os desbravadores gachos, que jvnham exercendo atvdade de colonzao no Oes-te de Santa Catarna, souberam que as glebas seramdsponblzadas a bom preo e se cotzaram para crar,

    em Porto Alegre, a industral Maderera ColonzadoraRo Paran, empresa prvada de colonzao. A ntensacampanha de vendas, prncpalmente junto a descen-dentes alemes e talanos na Serra Gacha, estmulougrandes [mensos] fluxos de mgrantes para o Oesteparanaense.

    A produo de mlho, soja, algodo e trgo avanou rapda-mente, arrastando consgo a crao de sunos e de aves. As cda-des de Cascavel e Toledo, prncpalmente, cresceram num rtmontenso. No entanto, j no fnal da dcada de 70, mutos dosdescendentes dos que havam chegado ao Oeste do Paran tveramque mgrar para as novas fronteras agrcolas em busca de melhoresoportundades. Mato Grosso do Sul e Rondna sero os prnc-pas destnos dessa nova gerao.

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    MATO GROSSO DO SUL

    Embora se consdere que fo na dcada de 50 que comeou amgrao dos gachos e seus descendentes para o hoje Mato Gros-

    so do Sul, a hstra regstra que os prmeros sul-ro-grandensesa desembarcarem naquela rego teram chegado pouco depos daRevoluo Federalsta, no fnal do sculo XiX.

    Esses gachos poneros drgram-se para l, com suas carro-as e cargueros, por terem sdo nformados sobre as semelhanasentre os campos do sul e os da nova terra, tambm aproprados crao de gado.

    Essa mgrao ncal concentrou-se na rego dos atuas Mu-ncpos de Ponta Por, Bela Vsta e Amamba. Al, onde orgna-ramente s se explorava erva-mate, os gachos passaram a desen-volver a pecura extensva.

    Na dcada de 70, uma nova leva de mgrantes gachos estabe-leceu-se em Mato Grosso do Sul, segundo padres de colonzaodferentes da prmera. Em vez da pecura, o que atraa o sul-ro-

    grandense era a possbldade de cultvo mecanzado da soja narego centro-sul do Estado. Como as terras anda eram baratas,os colonos vendam suas terras no Ro Grande do Sul e podamcomprar l extenses maores.

    A segunda maor cdade do Estado, Dourados, j nos anos60, sofreu um acelerado aumento populaconal graas mgrao,que tnha os gachos como maora. Mas hava tambm mutoscatarnenses e paranaenses, por sua vez, descendentes de gachos.Os sul-ro-grandenses ntroduzram uma cultura agrcola que ob-teve sucesso medato porque deram tratamento adequado ao solo.Fzeram explodr a rea plantada.

    No caso do Mato Grosso do Sul, penso que deve-se dar espe-cal ateno a cdade de So Gabrel do Oeste, Aquele Muncpoque hoje conta com 25 ml habtantes fo fundado no fnal dosanos 70 por gachos. O churrasco e o chmarro so hbtos lo-

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    cas. Sua base econmca est na produo agrcola, sendo a sojao prncpal produto, segudo por mlho e sorgo. S para se teruma da do progresso desse Muncpo, basta dzer que ele o

    maor produtor de soja e o segundo maor produtor de mlho deMato Grosso do Sul. Mas tambm o maor produtor de sorgodo Brasl! Alm dsso, o maor produtor de sunos e de avestruzesdo Estado.

    MATO GROSSO

    Neste trecho, vou tratar de forma breve a mgrao gachapara o Mato Grosso, Estado ao qual dedcare um outro trabalho

    bem mas aprofundado. Destacare apenas a presena gacha emuns poucos Muncpos que, julgo, so emblemtcos dos motvosque levaram nossos agrcultores quele Estado, nos anos 70.

    O Muncpo de Canarana, hoje com 30 ml habtantes, sur-gu no nco dos anos 70, quando se nstalaram por l os pr-meros agrcultores recrutados no Muncpo gacho de TenentePortela, pela Cooperatva Colonzadora 31 de Maro, fundada e

    drgda pelo pastor Norberto Schwantes e pelo economsta JosRoberto Schwantes.A cooperatva colonzadora no vsava lucro, j que o obje-

    tvo de seus cradores era assentar famlas gachas luteranas emterrtro mato-grossense. A ncatva tnha o apoo do GovernoFederal e do ento Governo do Ro Grande do Sul que desejavamtanto atrar empresros ruras para a rego quanto dmnur astenses nos confltos de terras que comeavam a explodr no RoGrande do Sul.

    A cdade de Sorrso tambm nasceu em decorrnca de ncen-tvos do Governo Mltar para colonzao e ocupao da chamadaAmazna Legal no fnal da dcada de 70 do sculo passado. Ape-sar de a colonzao ter mutos paranaenses e catarnenses, atra-dos pela Colonzadora Felz, tambm so numerosos os gachos,prncpalmente os da rego de Passo Fundo.

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    Elevada condo de Muncpo em 1986, Sorrso tem hoje55 ml habtantes. A exploso demogrfca decorreu em funoda pavmentao da BR-163, que barateou o escoamento da pro-duo. Atualmente, consderado o maor produtor de soja doPas. Tambm se destaca pela produo de algodo e mlho. oMuncpo que, ndvdualmente, mas produz gros no Brasl: 3%da produo naconal e 17% da produo estadual.

    Caso semelhante o da cdade de Prmavera do Leste que,emancpada, em 1987, tem quase 30 ml habtantes uma dasmaores arrecadaes de iCMS do Estado. Tpca cdade de m-grao gacha, l se produz at mesmo vnho, embora o clma seja

    muto quente quando em comparao com o da serra gacha.Cto o exemplo anda de Lucas do Ro Verde. Hoje, com

    30 ml habtantes, Muncpo modelo, que ocupa um lugar dedestaque no ranking dos melhores ndces de DesenvolvmentoHumano (iDH) em nosso Pas. O nteressante que, at fnal dosanos 90, a cdade cuja populao predomnante sulsta noera servda nem por rede de energa eltrca.

    Quero regstrar que o Mato Grosso o Estado que mas temCTGS, depos dos trs Estados da Rego Sul. Funconam l 39centros de trades gachas.

    FASES DA MiGRAO

    Os estudosos de demografa consderam que so trs as fasesde mgrao braslera com o objetvo de ocupao de fronterasagrcolas.

    A prmera, que va dos anos 30 at a dcada de 60, corres-ponde ocupao, pelos gachos, do Oeste de Santa Catarna,Norte e Oeste do Paran e Sudeste de Mato Grosso. Tambmnessa mesma poca ocorre o avano da produo agrcola no Oestede So Paulo.

    A segunda grande onde mgratra se espalha por Gos, MatoGrosso do Sul e Maranho, sendo que a construo de Brasla - ao

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    mesmo tempo em que se abram estradas para o centro do Pas -fo o fator essencal dessa movmentao.

    A tercera e ltma fase a da ocupao da Amazna, desen-

    cadeada a partr dos anos 70, por ncatva do Governo mltar,cuja da central era a ocupao por agrcultores brasleros daque-le menso espao vazo.

    RONDNiA

    A colonzao de Rondna se enquadra nessa tercera etapa.Os maores contngentes dos que para l se drgram, nos anos 70saram do Paran, de Santa Catarna e do Ro Grande do Sul. Os

    paranaenses e catarnenses, em mutos casos, eram descendentesde gachos que foram para aqueles Estados em dcadas anterores.Os gachos se encontram espalhados pelas cdades de J-Paran,Vlhena, Cacoal, Arquemes e Porto Velho.

    Alm dos produtores agrcolas, em Rondna exste uma gran-de numero de sul-ro-grandenses que trabalham com mnerao deouro e de outros metas e tambm com a explorao de madera.

    AMAZONAS

    No Estado do Amazonas, tambm so numerosos os gachos.Escrevendo na revstaVeja, em 1996, o jornalsta Joo Flvo Ca-mnoto conta a saga de uma cdade, Apu, no sul daquele Estado,que fo crada por mgrantes do Ro Grande do Sul:

    Em 1975, Arlndo e Zulmra Marmentn, ele catarnenseflho de gachos, ela, gacha de Caxas do Sul, fazam uma vagempela Transamaznca num trailer e se mpressonaram com a to-pografa e o tamanho colossal das rvores da rego. Anda vamosmorar neste lugar, dsse Arlndo. No deu outra: o casal largouuma vda confortvel em Curtba, onde tnha uma empresa detransportes, e mudou-se para a floresta...

    Em 1996, a cdade j chegava a 20 ml habtantes e era con-sderada o prncpal celero do Estado do Amazonas.

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    E acrescenta o jornalsta: Todas as cranas esto na escola. Amortaldade nfantl nsgnfcante. Uma centena de mgrantesdo Sul desembarca todo ms em busca de terra, dstrbuda de

    graa pelo Governo.O reprter daVejamencona anda outra cdade do Amazo-nas:

    O preo do hectare nas cercanas de Humat, aprncpal cdade do sul do Estado do Amazonas, trpl-cou nos ltmos meses. A valorzao concdu com achegada de uma nova leva de gachos. sempre assm:

    um gacho chama outro e, em pouco tempo, forma-seuma cdade.

    NORDESTE E NORTE

    A partr dos anos 80, os gachos comeam tambm a se es-tabelecer na Baha, no Maranho, em Rorama, no Pau e noTocantns.

    No caso da Baha, de se destacar o extraordnro surto dedesenvolvmento regstrado nas duas ltmas dcadas, na rea quetem Barreras como cdade prncpal. Aquela rego responsvelpor 60% da produo de gros do Estado, e sua rendaper capita uma das maores do nteror do Nordeste.

    As demas cdades da rego Desdro, Formoso do RoPreto, Baanpols, Correntna e Racho das Neves so gran-des produtoras de soja. Mas o maor destaque fca mesmo paraa cdade de Lus Eduardo Magalhes, a mas gacha delas, cujocrescmento explosvo em pouco tempo chega a causar espanto.

    Em 2004, a populao da cdade de Lus Eduardo Magalhesno passava de 20 ml habtantes. Atualmente, so cerca de 50ml habtantes, grande parte deles mgrantes do sul. A presenaesmagadora de gachos tem forte nflunca tanto na manera dese comportar e falar como na manera de se almentar.

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    Apesar de crada h menos dez anos, a cdade de Lus EduardoMagalhes possu a dcma economa do Estado da Baha. Seu par-que ndustral conta com nmeras grandes empresas, mutas delas

    multnaconas. Sua agrcultura pujante, dversfcada e de grandeprodutvdade, possundo grandes reas rrgadas. Sua pecura de alta qualdade, tanto na rea gentca como na tecnolgca.

    MARANHO

    Os gachos esto concentrados no Sul do Maranho, prnc-palmente na cdade de Balsas, cuja populao anda em torno de70 ml habtantes. Com crescmento de 20% ao ano, aquele mun-

    cpo tem forte nflunca dos mgrantes do Ro Grande do Sul.Fque muto mpressonado com a frase de um dos gachos

    precursores nessa rego, Elton Tonazo. Ao ser entrevstado pelarevstaVeja, ele dsse que, em 1983, quando chegou a Balsas umhectare de terra vala uma cartera de cgarro.

    A produo al se d em lavouras mecanzadas, que usam atecnologa desenvolvda para a explorao do cerrados, transforma-

    dos em mensos e rcos campos de soja, mlho, cana-de-acar ealgodo. A pecura tambm tem uma partcpao mportante naeconoma do muncpo, bem como a psccultura.

    A partr de 1992, a rego de Balsas comeou a produzr sojapara o mercado externo, transportando-a atravs do CorredorNorte de Exportao. Em dez anos, a produo de gros cresceumas de 1.700%.

    PiAU

    NaFolha de S.Paulo, em mao de 2005, depos de menconara grave seca que se abateu naquele ano sobre o Ro Grande do Sul,o jornalsta Mauro Zafalon escreveu:

    Os gachos do sul esto com produtvdade de560 qulos de soja por hectare. Os gachos do Pau

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    conseguem 3.200 qulos... Os snas da pujana dessesgachos no Nordeste na produo de gros comeam afcar evdentes nas estradas que levam s novas fronterasde produo: dezenas de camnhes transportam para asnovas fronteras as colhetaderas que esto sendo poucoutlzadas no sul.

    O jornalsta fala ento de Uruu uma pequena cdade quetem forte presena de agrcultores gachos e que vem regstrandocrescmento anual de 20% na sua produo agrcola:

    H poucos anos, a soja no era cultvada no mun-

    cpo. Atualmente, so 90 ml hectares. O Pau, que hcnco anos plantava apenas 62 ml hectares com gros,deve atngr 240 ml hectares neste ano... O Estado temquatro mlhes de hectares dsposo. A produtvdade boa na rego porque os agrcultores aprenderam as pr-meras les no Sul, aprmoraram-se no Centro-Oeste ej chegaram formados e experentes ao Pau.

    Depos de entrevstar vros agrcultores gachos, o jornalstadaFolhaconta a hstra Jos Antno Grgen, conhecdo comoZezo, ponero no planto de soja, que fo chamado de loucoquando decdu r para o Pau. Hoje, ele j cultva 10,3 ml hec-tares no Pau e 2,1 ml no Maranho.

    J Anacleto Barrchelo, da cdade de Nova Santa Rosa (cdadepauense que repete o nome de uma cdade gacha), que chegaa colher at 75 sacas de soja por hectare em algumas reas de suafazenda, dz que s tem uma cosa a lamentar: Pena que no vmpara c dez anos antes.

    PARAGUAi

    Quero menconar tambm, anda que de forma breve, o casodo Paragua. Centenas de mlhares de brasleros moram e traba-lham naquele pas. Certos estudos apontam que eles sera cerca

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    de 500 ml. Acontece que mutos desses brasguaos so gachose, como se d em todo lugar, em sua maora so empreendedo-res agrcolas. Eles chegaram quele pas em meados dos anos 80,

    quando o custo das terras paraguaas era muto baxo. Hoje, mu-tos deles esto perfetamente adaptados ao novo pas, mas mantmvnculos fortes com o Ro Grande do Sul. Os CTG esto presentespor l tambm. A maor parte da produo agrcola do Paraguavem das terras dos brasguaos.

    EPOPiA

    A dspora do povo gacho um tema que merece exame

    aprofundado. A epopa do povo gacho tem que ser contada emdetalhes, analsada com profunddade. O que pretendo, com essespronuncamentos, mostrar para todos os brasleros, do campo eda cdade, a mportnca da saga desses novos banderantes. Na ver-dade, os gachos so os banderantes do sculo XX. Se os paulstasestenderam as nossas fronteras procurando por ouro e prata, nsasseguramos a posse para o Brasl de vastas extenses devolutas.

    Sm, foram os gachos que alargaram as fronteras agrcolasdeste Pas. E anda hoje, com seu trabalho e seu suor, eles cont-nuam a ser desbravadores de novas terras neste nco de sculo.

    O Brasl muto deve aos mgrantes gachos. Foram eles queasseguraram os segudos supervts da nossa balana. O trabalhohercleo desenvolvdo por esta gente que dexou para trs tudoo que tnha para sar em busca de um sonho de progresso deveser reconhecdo por todos os brasleros. Os agrcultores gachosespalhados por este menso pas merecem respeto.

    CULTURA GACHA

    ndspensvel, neste prmero captulo, falar da fora dacultura gacha. muto dfcl encontrar um outro grupo socalde brasleros que se assemelhe aos gachos no exlo. Quando semudam do estado, eles levam tudo: o lnguajar, as vestmentas,

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    a almentao, as bebdas, as danas e as mscas. isso no se dcom as pessoas de outros estados. Essas chegam e logo se adaptamao rtmo local.

    Estejam onde estverem, os nossos rmos do sul dzem quecontnuam a se sentr gachos. Mesmo os que moram al h anos,dcadas, de declaram de alma gacha. Eles amam o seu novo es-tado, amam a terra que os recebeu, nunca querem voltar ao Sul.Mas contnuam amando profundamente o Ro Grande do Sul. Seusflhos se sentem gachos, embora tenham nascdo na Amazna ouno Nordeste.

    Os gachos amam sua nova terra porque, no fnal da contas,

    so agrcultores. Vvem dos frutos da terra. A terra muto lhes d.Mas tambm eles do muto ela. No h trabalho mas rduo doque o do homem do campo. A jornada va do nascer ao pr dosol. E o produtor depende dos elementos, do sol da chuva.

    Os gachos amam suas novas terras porque tm sangue dedesbravadores. Eles sabem que tm uma msso grandosa: garan-tr a posse da terra para os brasleros. Eles sabem que tm uma

    msso grandosa: produzr almentos para o mundo todo.Estejam onde estverem, os mgrantes gachos guardam como maor desvelo os costumes do Sul. Estejam onde estverem, osnossos conterrneos acompanham pelas tevs a cabo ou pelo rdoos jogos do campeonato gacho de futebol. E quando aconteceum Gre-nal l esto eles, reundos num CTG ou numa churrasca-ra, acompanhando lance a lance as dsputas entre os dos maorestmes do Ro Grande do Sul.

    Com o mesmo nteresse os gachos exlados acompanham osprogramas de rdo que tocam mscas natvstas. E o mas curoso que exstem programas de cultura gacha com grande audn-ca em nmeras cdades de outros estados, como Santa Catarna,Mato Grosso e Paran.

    E mesmo nos mas dstantes rnces, onde estejam reundasalgumas famlas gachas, sempre tem por perto um armazm que

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    venda erva-mate, vnho de garrafo, salame e quejo. Como es-creveu o jornalsta Joo Fbo Camnoto, na Veja: como selevassem o Ro Grande do Sul nas costas.

    QUASE UMA ETNiA

    O curoso que flhos de gachos, cranas e jovens nascdosem outros estados, at mesmo aqueles que nunca vajaram ao RoGrande do Sul, dzem que se sentem nteramente gachos. E por sso que eles cultvam as trades gachas com uma dedcaoque supera a de mutos que vvem no Sul. Sm, porque o gachoque mora no Ro Grande se sente em casa. J o que emgrou sentesaudade, uma profunda saudade que no va jamas superar. Comodsse o jornalsta Carlos Wagner, os gachos formam quase umaetna dentro do pas.

    A Rede Brasl Sul, RBS, apresentou em 2004 uma excepconalproduo televsva. Trata-se de uma sre especal de reportagensnttuladaA Conquista do Oeste. Vajando mas de 30 ml qulme-tros pelo Brasl e pelo Paragua, a equpe de produo entrevstoucentenas de gachos que vvem em outros Estados.

    Os depomentos de todos os entrevstados sempre concdemnsso: os gachos amam o Ro Grande, mas amam tambm a terraque os recebeu de braos abertos. Pelo que perceb, nenhum querretornar.

    TRADiO

    Uma outra constatao dz respeto aos CTGs. Em qualquerrego na qual se nstalam, os sul-ro-grandenses cram logo umcentro de trades gachas. Passam a danar e a cantar as mscasdo Sul e logo recebem a adeso de pessoas da comundade local. nteressante ver, no trabalho da RBS, amazonenses e nordestnosdanando as nossas mscas e mesmo tocando nstrumentos totpcos nossos quanto a sanfona.

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    Certa vez fu a Mato Grosso do Sul, convdado pelo SenadorRamez Tebet. Vajamos para o nteror daquele estado. Na cda-de em que chegamos, por concdnca, estava sendo realzado o

    Congresso Estadual dos CTG de Mato Grosso do Sul. Fque m-pressonado coma pujana daquele movmento. Perceb logo queeles tnham orgulho de levar adante a cultura e a hstra do RoGrande do Sul.

    Lembro tambm de um outro epsdo o corrdo aqu na ca-ptal da Repblca. Certa vez fu casa do doutor Eduardo Ferro,um dos mas destacados advogados gachos em Brasla, para acomemorao do 20 de setembro. No pto, hava sdo constru-

    do um galpo croulo. Pees fardados empunhavam lanas. Havaprendas. Quando comeou a tocar do hno do Ro Grande, nosemoconamos. V muta gente chorando.

    Repto: em qualquer lugar do Brasl, os gachos se dedcam agrcultura, amam sua nova terra e seu novo estado. Mas cont-nuam guardando total dedcao aos usos e costumes, aos hbtosarragados, do sul. Fque mpressonado ao ver no Cerrado e no

    Nordeste gachos tomando chmarro e comendo churrasco, debombachas, no meo da seca e do calor.

    METADE SUL

    Outro aspecto que eu gostara de comentar se refere faltade competnca dos sucessvos governadores do Ro Grande doSul e eu me ncluo entre eles que no conseguram estacar essesangramento populaconal. Eu sempre defend que deveramos le-var os nossos colonos sem terra tambm para a Metade Sul doEstado. Como todos sabem, aquela rego do pampa, que durantemas de um sculo, fo a mas rca do nosso Estado vve, hoje emgraves dfculdades. O problema que a nossa zona de frontera,com suas terras planas, sempre fo, desde os prmrdos, destnada pecura. Acontece, porm, que a pecura das atvdades quemenos gera empregos porque bastam poucos homens para cudar

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    de grandes rebanhos. Alm dsso, atualmente, a pecura nem geraas altas rendas do passado, que gerava em dcadas anterores.

    Se nos anos 60 ou 70, ns, poltcos do Ro Grande, tvsse-

    mos consegudo levar para a metade Sul os nossos agrcultores queestavam sendo expulsos das reas antgas de colonzao, hoje astuao do estado sera bem outra. Creo que a rego do pampa,que mas extensa da metade Sul, estara numa outra stuao,bem melhor, se tvesse recebdo a nossa gente expulsa da sua terra.Mas acontece que o latfndo se manteve.

    Hoje, a metade Norte do estado rene a esmagadora maora

    da populao, dos empregos e da gerao de rqueza. Na velhametade Sul, onde nasceu o Ro Grande, que por muto tempo foa mas rca e mportante do nosso Estado, vve agora a mnora danossa populao. Em stuao dfcl. Temos muncpos na meta-de Sul e tambm na rego Noroeste que tm ndcadores socasparecdos com os das cdades mas pobres do Nordeste.

    Dou mas alguns dados sobre a stuao daquela rea do RoGrande do Sul. Em 1890, a metade Sul concentrava mas da me-tade da populao gacha; pouco mas de meo sculo depos,contava somente com cerca de 25% do total. Segundo relatroda Assembla Legslatva do Estado do Ro Grande do Sul, em1939, a rego era responsvel por 38% do Produto interno Bru-to (PiB) gacho. Atualmente, esta partcpao cau para apenas16%, ndce preocupante, consderando-se que a rego representa56% do terrtro gacho.

    Als, quando se debateu no Senado a questo da reformaagrra, apresente emenda sugerndo a ncluso da metade Sul doRo Grande do Sul e a mesorrego do Noroeste do Ro Grandedo Sul como reas preferencas para ngressar em programas defnancamento ao setor produtvo atravs das nsttues fnan-ceras de carter regonal, de acordo com os planos regonas dedesenvolvmento.

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    NOROESTE DO ESTADO

    Quanto mesorrego Noroeste, outrora prspera, deve-sedestacar que ela tnha sua economa baseada no mnfndo. No

    entanto, nos ltmos quarenta anos, sofreu o mpacto negatvo damonocultura da soja e da ntensa mecanzao das lavouras.

    Hoje, aquela mesorrego mantm uma atvdade agropecu-ra de sobrevvnca, baseada na produo de sunos e aves, masno consegue garantr renda e empregos sufcentes para manterseus jovens no campo. Ora, a falta de perspectvas provocou umforte movmento de mgrao em dreo aos centros maores,prncpalmente a rego das fbrcas exportadoras de calado doVale dos Snos.

    Os mgrantes gachos que fzeram muto pelo progresso deSanta Catarna, Paran e Mato Grosso tambm poderam ter tra-balhado pelo nosso prpro Estado, na Metade Sul. O pampa,quem sabe?, podera ser hoje, de novo, snnmo de rqueza epujana.

    Eu era deputado estadual quando, durante o regme mltar,

    se formaram cooperatvas para levar essa gente de nbus ou deavo para a Amazna. Eu dza: Por que nossa gente no levadatambm para aqueles mlhares de latfndos? Por que no so le-vados para trabalhar em terras de fazendas que poderam produzrmuto mas rqueza?

    Naquela poca, reconheo, no se tnha a alta tecnologa quese tem hoje para a agrcultura. Acho que, hoje, possvel para uma

    famla vablzar-se economcamente numa propredade de apenas25 hectares. Mas eu anda tenho esperana. Talvez anda chegue oda em que as reas mas pobres do nosso estado, como a metadeSul e a rego noroeste, possam receber ver essa gente do prproRo Grandelevar tambm para l o crescmento que levaram paraos mas remotos rnces do Brasl.

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    SANTA CATARINA: O COMEO DA SAGA

    A movmentao de propores bblcas da gente sul-ro-grandense para fora das fronteras do Estado, em dreo s novasfronteras agrcolas do nosso Brasl, comeou por Santa Catarna.

    Essa movmentao que tem todas as caracterstcas de umaverdadera epopa algo que nos orgulha. Esses brasleros que,com determnao e patrotsmo, se transformaram nos banderan-tes do sculo XX, contrbundo - entre outras tantas conqustas -para que nosso Pas mantenha a ntegrdade de seu terrtro.

    A mgrao dos nossos agrcultores tm levado rqueza e pros-perdade s undades da federao que os acolhem. Mas, embo-ra catvados pelas plagas que lhes oferecem novas oportundades,

    gostam de preservar seus costumes e honrar suas trades da terraem que nasceram.

    Analso hoje o marco ponero dessa dspora: a mgrao dosnossos conterrneos em dreo ao oeste e meo-oeste do Estadode Santa Catarna, anda no nco do sculo passado.

    claro que o deslocamento de um enorme contngente deseres humanos, de uma terra para outra, nunca ocorre por acaso.

    isso s acontece quando se apresentam motvaes de grande re-levnca econmcas, poltcas, relgosas, tncas ou culturas ,soladas ou em conjunto.

    No caso daqueles gachos que se aventuraram rumo ao Nor-te, h que se falar especalmente das motvaes econmcas. Af-nal, foram essas crcunstncas que orgnaram a mgrao rumoa Santa Catarna, tema que abordo aqu. Anda no sculo XiX, o

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    Ro Grande recebera dos mportantes fluxos mgratros. Fugndoda fome, ameaa que se tornava quase permanente numa Europabastante empobrecda, grupos numerosos de alemes e de talanos

    chegaram ao Brasl.Aqu, foram encamnhados s reges norte e nordeste do RoGrande, para domar as florestas e serras al exstentes. Com a mor-te dos poneros, a reparto das colnas entre os herderos asnvalzara. Como a propredade era passada ao prmognto, aosdemas flhos s restou uma opo: buscar novos horzontes. E oshorzontes mas prxmos estavam em Santa Catarna.

    Naquela poca, vrada do sculo XX, uma pequena parte dasflorestas do Oeste catarnense tnha sdo derrubada por madere-ras. As terras de grande fertldade, propcas agrcultura eram emsua maor extenso devolutas, a no ser pela presena eventual deuns poucos agrcultores esparsos.

    Alm dsso, um mportante fator que gerava forte de nsta-bldade poltca acabara de ser removdo. Termnara a Guerra doContestado, conflto com caracterstcas semelhantes Guerra deCanudos, que se deu entre 1912 e 1916 na rego lmtrofe entreo Paran e Santa Catarna, e no qual morreram cerca de 20 mlbrasleros.

    A bem da verdade, devo regstrar que j na prmera dcadado sculo XX algumas famlas de mgrantes gachos tnham seaventurado pelo Oeste catarnense. Mas a guerra, evdentemente,funconou como um fator de medo e ncerteza, a nbr os sonhos

    de muta gente de deslocar-se para aqueles cantos.Fndos os combates, as condes se mostraram bem mas fa-

    vorves, e por sso que uma leva consdervel de gachos sedrge ao Oeste de Santa Catarna, dando nco a uma das masbelas sagas de nossa Hstra.

    Antes de me debruar sobre essa mgrao, quero menconarum fato pecular: tvemos aqu nesta Casa, nesta legslatura, dos

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    partcpantes da dspora do povo gacho, ambos representantesdo Estado de Santa Catarna.

    Estou me referndo aos meus companheros Senador Casldo

    Maldaner, que nasceu em Selbach, e ao Senador Neuto de Conto,natural de Encantado. A vda de ambos se mescla com a vda demlhares de pessoas que, nascdas no Ro Grande do Sul, saramem busca de um futuro melhor quando a elevao do custo daterra e as dvses das propredades os foraram a emgrar.

    Esse um aspecto fascnante da dspora do povo gacho.Mal se nstalam na nova terra, os nossos patrcos logo se voltams atvdades poltcas. So nmeros os casos de sul-ro-granden-

    ses que se elegem vereadores, prefetos e deputados estaduas nasmas dversas undades da federao, bem como os que assumemmandatos em Brasla, seja no Senado Federal seja na Cmara dosDeputados.

    VOCAO POLTiCA

    Ao estudar a mgrao dos gachos, esse um dos fatos que

    mas me chamou a ateno fo justamente a forte vocao polt-ca da nossa gente. At mesmo nos Estados mas dstantes tenhoencontrado vereadores, prefetos, deputados estaduas ou federasque nasceram no Ro Grande do Sul. A atuao em prol da co-mundade, que um trao marcante do nosso carter, acaba noslevando vda pblca em busca de soluo para os problemas dosnossos rmos.

    CASiLDO MALDANERSo ncontves os casos de gachos que se destacaram na vda

    pblca de Santa Catarna. Aqu vou destacar apenas dos deles.Comeo pelo meu velho amgo e companhero de luta poltca Ca-sldo Maldaner que, nascdo no nteror de Caraznho, onde hojeest a cdade de Selbach, aos dos anos mgrou com sua famlapara Chapec.

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    Era o ano de 1944. Naquela poca, daramente chegavam cen-tenas de famlas do Sul para ocupar o Oeste catarnense. As florestastnham que ser derrubadas para que os campos pudessem ser plan-

    tados de medato. A famla Maldaner que no Ro Grande do Sulexplorava uma pequena propredade rural trabalhou ncalmente,em Santa Catarna, com a extrao e venda de madera. Como nohava escola na rego, o jovem Casldo, ento com pouco mas dedez anos, fo envado para o semnro em Santo ngelo.

    Mas tarde, a famla Maldaner se nstalou no Muncpo deModelo. Por essa poca, possuam um camnho com o qual bus-cavam no Ro Grande do Sul a mudana dos que se transferam

    para Santa Catarna. Mas adante, comearam tambm a fazervagens para o Sudoeste do Paran, que era o destno segunte dosmgrantes catarnenses e gachos. Anda muto jovem, o nossoCasldo partcpou de nmeras dessas vagens.

    Als, fo na cdade de Modelo que, aos 20 anos, ele comeoua brlhante carrera poltca que o fez deputado estadual em duasoportundades; deputado federal, vce-governador e governador,

    bem como, em duas ocases, Senador dos catarnenses.NEUTO DE CONTO

    Tambm o meu amgo e companhero Neuto de Conto temsua vda lgada mgrao do povo sul-ro-grandense. Em 1958,aos 22 anos, formado em contabldade, dexou sua cdade natalpara se nstalar em So Mguel do Oeste. Naquela poca, o Oestecatarnense tnha apenas dez muncpos Hoje so mas de cem. Ohoje senador Neuto de Conto fo testemunha da chegada de levase levas de famlas vndas do Ro Grande do Sul. A hstra detodas elas era semelhante: mgravam porque a terra era nsufcentepara dvdr entre os flhos, quase sempre em torno de uma deze-na. O custo do hectare de terra manteve-se mas barato em SantaCatarna at o nco dos anos 60, quando o fluxo mgratro jsegua pujante em outras drees.

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    Da BR-116 at a frontera com a Argentna a maora dascdades fo fundado por gachos, conta o Senador Neuto de Con-to, que desenvolveu uma bem-sucedda carrera poltca em Santa

    Catarna. Antes de 1964, j partcpava ntensamente da vda po-ltca daquele Estado, como ntegrante do PTB. Depos, duranteo regme mltar, ajudou a crar o MDB e o PMDB. Fo trs vezesvereador, trs vezes deputado federal e ocupou com dgndade ecompetnca quatro secretras de governo daquele Estado (Fazen-da, Agrcultura, Casa Cvl e Secretara do Oeste) antes de chegarao Senado Federal.

    COLONiZAOUm panorama snttco, mas rretocvel, do que fo o povo-

    amento e a ocupao do Oeste Catarnense, em especal da suarego mas a Leste, pode ser encontrada num mportante trabalhoacadmco de autora de Paulo Rcardo Bavaresco, professor nocampus da Unversdade do Oeste de Santa Catarna (UNOESC)em So Mguel do Oeste e que fez seu doutorado na Unversdadedo Vale do Ro dos Snos.

    Segundo esse professor, o processo tem nco, nos prmrdosdo sculo XX, quando o Governo do Estado de Santa Catarna- mpossbltado de promover com meos prpros o desenvolv-mento daquela ento remota rego - delegou essa tarefa a empre-sas de colonzao:

    O sstema era o segunte: empresas colonzadoras

    recebam do governo pores de terra e, em troca, deve-ram proporconar a ocupao defntva da rea e cons-trur estradas para o transporte e deslocamento dos colo-nos. Esperava-se que, com essas meddas, promovessemo desenvolvmento e a nsero da rea ao restante doEstado. As empresas colonzadoras, ao receber a rea paracolonzar, exploravam a madera mas nobre e, s deposvendam as terras aos colonos; por sso que a ndstra

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    maderera logo comeou a se destacar no Oeste. A re-go se desenvolva medda que novas famlas de colo-nos se nstalavam nas reas abertas colonzao. Nesseponto, a mgrao de colonos do Estado vznho do RoGrande do Sul contrbuu para o sgnfcatvo aumentopopulaconal da rego, bem como para a explorao dasmatas. Com a extrao da madera e a derrubada da matapara as lavouras de subsstnca, as madereras aproveta-vam a matra-prma dsponvel. Sua abundnca, e, porsua vez, o baxo preo da madera da decorrente, eracompensado pela quantdade e dversdade do produto

    comercalzado, fomentando contnuamente a atvdadede derrubada e comercalzao.

    A partr da dcada de 1940, cresce rapdamente o nmero depovoaes recm formadas bascamente por descendentes de tala-nos, alemes e, em menor nmero, poloneses vndos do Ro Gran-de do Sul para as novas terras. Esse mgrante de orgem europapassou logo a ser vsto como o fator que sera decsvo para o de-senvolvmento econmco, como explca Paulo Rcardo Bavarescono trabalho nttulado Colonzao do Extremo Oeste Catarnense(Contrbues para a Hstra Campesna da Amrca Latna):

    PiONEiROS

    As transformaes que se processam no ExtremoOeste Catarnense a partr do perodo da colonzao es-to ntmamente lgadas s relaes socas que se desen-volveram nas novas colnas. Essas relaes se verfcamno modo de vda, lazer, trabalho, uso da terra, ou seja,no cotdano dos colonos. Fruto dessas relaes possvelobservar a construo da pasagem cultural, j que a ocu-pao ocorreu por ocaso do esgotamento das terras doRo Grande do Sul. Para contnuarem as atvdades agr-

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    colas, esses agrcultores dexavam a terra natal e mgra-vam ao encontro de novas terras, em que poderam serpropretros. Assm, dexavam os lotes desbravados pelos

    pas e tornavam-se poneros, colonzando outras reas.Explca-se, assm, a mo de obra com baxa remunerao,dsponvel para as madereras e empresas colonzadoras.O trabalho braal na abertura de estradas, em troca dopagamento do lote colonal, bem como, trabalho combaxa remunerao nas madereras, para compensar ocaptal nvestdo na terra, fo a alternatva encontrada poralguns mgrantes. A dfcl stuao da nfraestrutura, o

    tamanho do lote colonal que no ultrapassava 24 hecta-res, propcou s comundades desenvolverem uma pro-duo para subsstnca. O sentdo econmco do lotecolonal a autosufcnca, que serve para explcar, jncalmente, a polcultura. Planta-se, preferencalmente,as espces vegetas destnadas almentao humana, eos respectvos excedentes permtem ao colono efetuar a

    troca, geralmente num armazm.A extrao e venda de madera que se consttu no segundo

    cclo econmco da rego (o prmero fora o da coleta e venda deerva mate) desempenhou papel determnante na vda dos colon-zadores poneros porque as rvores abatdas forneceram matra-prma para a construo de casas, celeros, cercas, galpes, estbu-los e galnheros.

    TEMPOS DiFCEiS

    De nco, os agrcultor que chegavam do Sul passaram porgrandes dfculdades, assm descrtas pelo professor Paulo RcardoBavaresco:

    O baxo preo pago pelo produto agrcola, porparte dos comercantes locas, justfcado pela dstnca

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    dos grandes centros consumdores, dfcultava o ac-mulo de captal pelos colonzadores. Esse acmulo defundamental mportnca no nco da colonzao, pos

    proporconava ao agrcultor condes de adqurr se-mentes, nstrumentos e anmas para transporte, que sondspensves para o aumento e melhora da produoagrcola.

    As peculardades locas que acabaram determnando a eco-noma regonal, com sua vocao drgda especalmente para aagrondstra, assm esmuada pelo professor da Unoesc:

    A dversdade da produo agrcola nas colnas ge-rava pequeno excedente, que serva para a venda e troca.A dfculdade de transporte para os gros propcava aocolono a crao de galnhas e porcos. que os por-cos poderam ser tropeados em comboos at as cdades.Logo, produzr excedentes para o mercado herana cul-tural dos mgrantes provenente das colnas velhas do

    Ro Grande do Sul. A necessdade da poupana fatormportante na aquso de ferramentas para o trabalho,produtos que no era possvel obter na colna, e pou-pana tambm se faza necessra para o pagamento daterra. Assm, papel mportante nessas relaes desempe-nhou o comercante ou vendsta. O comercante passoua ser o centro dos negcos nas vlas ou pequenos ncleoscolonas. nesses pontos que o colono repassava seuexcedente e, em troca se abasteca de sal, querosene, te-cdos, ferramentas e medcamento. Raras vezes, o colonoreceba dnhero em troca dos seus produtos, preferndodexar em conta junto ao comercante. Assm, o colono,em determnados perodos, encontrava-se com bom cr-dto no comrco, outras vezes, em dbto. Mesmo assm,estabeleca-se certa confana entre um e outro. Quan-

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    do os frgorfcos surgram na rego Oeste do Estadode Santa Catarna, j encontraram al uma consderveloferta de matra-prma. que a crao de sunos foum procedmento tpco nessas reas colonas. meddaque aumentava a demanda do produto pelos centros con-sumdores, o pequeno agrcultor amplava sua produocom vstas ao comrco. Avultava, assm, seu sgnfcadocomercal devdo a demanda para os frgorfcos nstala-dos no Ro Grande do Sul, So Paulo e Paran.

    MUNiCPiOS

    Para falar dessa extraordnra aventura que fo a ocupao devasta parcela do terrtro catarnense pelos meus conterrneos vouconcentrar-me aqu no exame da hstra dos prncpas munc-pos daquele Estado que tveram, na sua orgem e no seu desen-volvmento, a partcpao predomnante de mgrantes gachos.

    CHAPEC

    Comeo pela fundao, em 25 de agosto de 1917, de Cha-pec, hoje a maor cdade do Oeste catarnense, com mas de 164ml habtantes. O nome vem do tup Xapeco, com xs , e mutoapropradamente quer dzer lugar de onde se avsta a plantao.Esse um detalhe nteressante. Na verdade, chega a ser uma de-nomnao premontra porque, em pouco tempo, os colonosdo Ro Grande do Sul transformaram a pasagem daquelas terrasanda ncultas com suas plantaes, com seus curras, com seusmonhos, seus engenhos. Comeava a surgr al um dos mas m-portantes plos da agrondstra braslera.

    necessro ressaltar que, em 1940, ocorrer um novo fluxode colonos gachos anda mas ntenso que aquele ncado em1917. Essa corrente mgratra ser a responsvel pela caracterst-cas da cultura e da arqutetura, de fortes traos europeus, que sermarcante em Chapec.

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    Como j mencone anterormente, a forte agrondstra quenaquelas terras se desenvolveu fo mpulsonada ncalmente pelagrande produo de aves e sunos nos mnfndos.

    claro que hoje, at por sua condo de mas mportante c-dade do Oeste catarnense, Chapec tambm se destaca como plocomercal e de prestao de servos, alm de abrr espao paraoutros setores ndustras. Mas a prncpal vocao da cdade, semdvda alguma, contnua a ser aquela que fo determnada desdeseus prmrdos pelos colonos chegados do Ro Grande do Sul.

    CONCRDiA

    Passo agora a falar sobre Concrda, que rene hoje mas de67 ml habtantes, o que faz dela a maor cdade do Alto UruguaCatarnense, Meo-Oeste do Estado, rea que tambm recebeu ossucessvos fluxos de colonzadores gachos. At 1920, a frtl re-go em que se stua Concrda era habtada somente por unspoucos moradores, que pratcavam uma agrcultura rudmentar.O nome do muncpo deve-se ao fato de al ter sdo o assnado o

    acordo de paz que deu fm Guerra do Contestado.Entre os anos 1920 e 1930, os Governos estadual e federaldecdram estmular a venda de pequenas propredades ruras paraos colonos gachos. Os resultados foram os melhores possves.Rapdamente prolferaram nos mnfndos as plantaes de mlhoe de soja. De outro lado, a crao de anmas favorecera, depos,o surgmento al de algumas das maores empresas frgorfcas doPas.

    Mas tarde, o progresso da cdade tornou nevtvel o desen-volvmento de outros setores, tanto na rea do comrco comona da ndstra, com destaque para a nformtca. Em Concrdavve-se anda o esprto dos gachos poneros, abertos congrega-o e celebrao da amzade. Todos os anos, por exemplo, temosa Festa do Vznho, que comeou, com poucas ruas, em 1997.Hoje, mas de qunhentas ruas fazem a festa, reunndo 30 ml

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    pessoas. Nesse da, os vznhos se juntam para um almoo comu-ntro, quase sempre o nosso velho churrasco. A festa acontece naprpra rua, especalmente decorada para a ocaso, e va do meo

    da manh at o anotecer.ViDEiRA

    Passo agora a uma outra cdade mportante na cronologa dadspora do povo gacho. Refro-me Vdera que at 1918 eraconhecda como Vla do Ro das Pedras. A partr daquele ano,mutas famlas de mgrantes de orgem talana, orundas do RoGrande do Sul, fxaram-se naquelas terras e entregam-se produ-o agrcola em moldes famlares.

    Mas tarde, em 1944, j com uma produo de uvas bastantesgnfcatva, o muncpo de Vdera consegue a emancpao. Apartr da, v consoldar-se um vgoroso processo de crescmento,baseado tambm na produo de outras frutas, como pssego eamexa, e na crao de aves e sunos. A agrondstra adqureum papel econmco preponderante, gerando mlhares de em-pregos.

    CAADOR

    Nesse perambular em busca das pegadas dos mgrantes ga-chos para Santa Catarna, passo agora a falar de Caador, destaca-do Muncpo do Meo-Oeste catarnense, atualmente com masde 67 ml habtantes. Em 1910, os trlhos da ferrova So Paulo

    Ro Grande do Sul chegaram estao Ro Caador, no AltoVale do Ro do Pexe. Com os trlhos, veram mgrantes de or-gem talana, provenentes quase todos do Ro Grande. Rompeu,porm, a Guerra do Contestado, e o processo de colonzao ar-refeceu. Somente fo retomado com o fm do conflto, quando aento Vla de Ro Caador recebe mgrantes poloneses, ucrana-nos, espanhs, portugueses e sro-lbaneses.

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    XANXER

    Nesse trajeto pelas cdades de Santa Catarna que contaramcom a presena de gachos na sua formao mportante tam-

    bm falarmos de Xanxer. At porque os anseos de emancpaodaquele muncpo se tornaram mas fortes quando para suas ter-ras comearam a mgrar famlas vndas dos mas dversos lugares- mas em sua grande maora do Ro Grande do Sul - atradasprncpalmente pelas rquezas naturas l exstentes, pelos vastospnhas e pelas matas cobertas de maderas nobres.

    SO MiGUEL DO OESTE

    Tambm ndspensvel dzer algumas palavras a respeto deSo Mguel do Oeste, hoje a maor cdade do extremo-oeste cata-rnense. Regstros hstrcos dzem que nas dcadas de 40 e 50 dosculo passado, quase todos os das, chegavam ento Vla Oeste,na poca dstrto de Chapec, nmeras caravanas com colonosprovenentes do Ro Grande do Sul. Aquela rego no oferecaaos mgrantes as condes bscas para uma vda confortvel, maseles, com seu trabalho ncessante, bem como suas artculaes po-ltcas, conseguram a emancpao da Vla Oeste, transformadadepos no Muncpo de So Mguel do Oeste.

    Examne aqu as prncpas cdades do Oeste e do Meo OesteCatarnense que foram formadas, em grande parte, por agrcul-tores que mgravam do Ro Grande do Sul, mas o nmero decdades nas outras reges no muto menor.

    TROPEiROS

    Faxnal dos Guedes e Arvoredo, por exemplo, nada mas eram,ncalmente, que pontos de passagem dos troperos que saam doRo Grande do Sul em dreo a outros Estados, prncpalmenteParan e So Paulo. Aos poucos, foram catvando os vajantes quenelas se nstalaram. Ao fazer meno aos troperos, obrgatora-

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    mente devo menconar outro pedao do solo catarnense em quetambm marcante a nflunca do povo gacho: a rego serra-na.

    o caso de Lages, a maor cdade do Planalto Catarnense queconta atualmente com cerca de 170 ml habtantes. Fundada em1766, fo ncalmente uma mportante estalagem na rota comer-cal entre o Ro Grande do Sul e os Estados mas ao Norte, pelaqual era levado o gado dos campos gachos a fm de ser abatdopara almentar os trabalhadores das mnas de extrao de ouro emMnas Geras.

    Mutas outras cdades daquela rego como Bom Jardm da

    Serra, por exemplo tveram gnese semelhante. Para sso contr-buram as peculardades da geografa local. As vagens pela regoserrana eram extremamente cansatvas e pergosas. Sempre havao rsco de as mulas carem nas rbanceras, morrendo e levandoconsgo as precosas cargas que transportavam. De modo que ostroperos preferam acampar em Lages, recobrando foras e prepa-rando-se para a descda do da segunte.

    Com o passar dos anos, o acampamento deu orgem a umpequeno vlarejo, que logo se estruturava para oferecer aos vajan-tes um comrco rudmentar e a prestao de alguns servos bs-cos. Dessa manera consoldaram-se mutos Muncpos da regoserrana de Santa Catarna, que mantm, at hoje, traos que osaproxmam dos gachos que moram no nosso planalto. O sotaquee o vesturo, por exemplo.

    CONViVNCiAJ na mgrao para Santa Catarna fcou patente aquele trao

    que sera caracterstco dos mgrantes gachos: a ncrvel capacda-de de, nas zonas de colonzao, convver pacfca e harmonosa-mente com pessoas orundas de outras reges e com os moradoreslocas. J fale de cdades em que eles veram a ter a companhade poloneses, espanhs, portugueses, sro-lbaneses... Pos bem! A

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    convvnca fo sempre respetosa e fraterna. Uma demonstrao amas, na verdade, da natureza gregra do povo gacho.

    Depos dessa relao amstosa com as pessoas de outros rn-

    ces, quero destacar aqu, mas uma vez, o nosso proverbal sent-mento de amor terra natal. Ao longo de todo esse tempo, que seestende por mas de um sculo, contnuaram os mgrantes gachosespalhados pela Nao a cultvar seus costumes e trades.

    A mas clara demonstrao de que o amor pelo Ro Grandedo Sul contnua nabalvel , sem sombra de dvda, a exstncade mlhares de CTGs, os Centros de Trado Gacha. So osCTGs, com seu carter gregro, com sua altvez, com seu esprto

    generoso e soldro, que favorecem a coeso dos mgrantes sul-ro-grandenses em todos os rnces deste mundo.

    Em torno de qualquer agrupamento de gachos desbravado-res, logo surge um CTG. E o novo galpo ergudo s pressas, svezes bastante precro, logo se transforma no centro das dec-ses mas mportantes para o futuro daquela comundade. Al sofetas reunes para tratar da venda das safras, do fnancamento

    dos bancos ofcas, das melhoras em nfra-estrutura que se fazemnecessras.Mas al, prncpalmente al, mas que tudo , o que se faz

    preservar a cultura gacha. Al se preservam as vestmentas, otpo de almentao, o lnguajar, os esportes, a flosofa, a poesa,as mscas e as danas de nossa terra.

    Em Santa Catarna, de acordo com levantamento do Mov-mento Tradconalsta Gacho daquele Estado, exstem atualmente534 CTG. A esses esto vnculados 1.866 Pquetes de Laado-res. Os Pquetes de Laadores ajudam a zelar pelas trades doRo Grande; organzam reunes de carter cultural, recreatvo ecampero entre seus ntegrantes e convdados, com o objetvo deconservar e dvulgar os aspectos peculares da vda no campo e dotraje gacho; e partcpam em torneos de tro de lao, rodeos,desfles, cavalgadas e outros eventos camperos.

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    Ao todo, os CTG de Santa Catarna tm mas de 26 ml e300 scos. Mlhares de pessoas que nos ajudam a lembrar, tododa, quo mportante fo a contrbuo da gente sul-ro-grandensepara transformar aquele Estado num dos mas desenvolvdos denosso Pas, tanto do ponto de vsta econmco como, prncpal-mente, do ponto de vsta socal. Mlhares de pessoas que nos aju-dam a lembrar, todo da, que em Santa Catarna, especalmente nooeste e na rego serrana, exste muto do povo gacho, da almagacha, do sentmento gacho.

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    A MARCHA AT O PARAN

    Durante quase todo o sculo passado, mlhares de famlasgachas dexaram dversas reges do Ro Grande do Sul para des-bravar a mensa hnterlnda do Pas. incalmente, penetraram nasterras vrgens de Santa Catarna e, depos, Paran. Povoando os

    mensos espaos vazos, desenvolveram a agrcultura e construrama nfraestrutura, expandram a nossa frontera agrcola e ajudarama fxar os prmeros plares do complexo agrondustral braslero,que hoje um dos mas desenvolvdos e mas compettvos domundo.

    inegavelmente, no podemos dexar de reconhecer que os co-lonos gachos so responsves, em grande parte, pelos valosos

    lucros que hoje so gerados pela moderna agrcultura braslera. Osresultados obtdos atestam claramente a grandeza de nossa capa-cdade agrcola, que fo alcanada graas a muto trabalho, mutaluta, muto sacrfco e muta coragem.

    Os colonos que partam do Sul desde o nco do sculopassado costumavam escrever cartas nas quas relatavam sobrea vda nas novas terras. Contavam suas experncas, falavam so-bre as boas perspectvas e encorajavam seus parentes e amgosa segurem a mesma trlha. Todos se nteressavam em saber dashstras narradas pelos que se afastavam do rnco, e assm es-sas correspondncas eram passadas de mo em mo e ldas comgrande nteresse. influencados por essas notcas, outras levas degachos tomaram a estrada.

    mportante no esquecer que os nossos mgrantes saramem busca de terras em reges remotas que anda no fazam par-

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    te dos nteresses medatos dos grandes propretros e do grandecaptal fundro, que no tnham, poca, grande motvao paranvestr na vabldade econmca dessas reas. Para os pequenos

    propretros, ao contrro, vala a pena o sacrfco de desbravaros espaos mas remotos.

    A CAMiNHO DO OESTE

    No fnal da dcada de 1930, a necessdade de ocupao me-data das grandes extenses despovoadas do Brasl j era uma rea-ldade para o ento Presdente Getlo Vargas, o maor estadstaque este Pas j teve. incorporar esses espaos passou a ser vtal

    para mpulsonar o desenvolvmento e at mesmo para facltara naconalzao de propredades que, durante o sculo XiX enco do sculo XX, havam permanecdo em mos de empresasestrangeras. Era mportante para a Nao ncorporar novas terrasao processo produtvo, aumentando as exportaes de produtosagrcolas, como forma de reduzr as possbldades de confltos so-cas agrros em reas potencalmente sensves. Em suma, era um

    assunto mportante para a segurana naconal.Com essas ntenes, o Governo consegura, fnalmente, abrrum novo espao em favor da expanso do captal e, no caso espe-cfco do oeste do Paran, oferecer aos gachos a possbldade decolonzao da rego. A fm de tornar possvel a realzao dessegrande projeto, o Estado no poupou esforos para crar poltcasque ncentvassem a ocupao das reas seleconadas.

    Dessa forma, no nco de 1940, mlhares de gachos acre-dtaram nas facldades oferecdas pelo Governo e partram paraconqustar o oeste do Paran. Grosso modo, fo assm que GetloVargas estabeleceu as bases da chamada Marcha para o Oeste,cujo objetvo era colonzar, ntegrar e alargar as fronteras agr-colas do Pas.

    Als, o nteresse naconal pela questo da ntegrao dosgrandes espaos vazos fcou anda mas aguado com o nco da

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    Guerra Fra, logo aps a derrota do naz-fascsmo na Europa. Con-vm destacar anda que, at hoje, essa poltca de ocupao estmas vva do que nunca. Hoje, o grande temor naconal anda

    o vazo amaznco, a ameaa de ocupao estrangera que parasobre o terrtro e a destruo acelerada da floresta, que poderamotvar uma nterveno nternaconal.

    PREO DA TERRA

    Sem dvda, o maor atratvo para povoar essas reges foo baxo preo da terra e a sua fertldade, sobretudo no oestedo Estado de Santa Catarna; no oeste e no sudoeste do Estado

    do Paran e no sul do Mato Grosso do Sul, onde predomna-vam as chamadas terras roxas. Os gachos foram os prncpasalvos dessa poltca porque eram donos de propredades mutopequenas, ou nem mesmo tnham propredades ruras; ou por-que comeavam a formar um forte excedente de mo de obra. Amaora descenda de mgrantes europeus, bascamente talanose alemes, que havam ncado a colonzao do Ro Grande do

    Sul durante o sculo XiX.Nas dcadas de 1950 e 1960, a mgrao organzada dos ga-chos para o oeste do Paran fo ntensa. Geralmente, partam emgrupos com suas famlas, vznhos e amgos. Ao chegarem, procu-ravam a empresa colonzadora e adquram lotes em uma mesmarea, trabalhavam em conjunto para derrubar a mata subtropcal,construam suas casas, preparavam a terra e cultvavam os produ-tos necessros para a subsstnca. Podemos dzer que o nco dadcada de 1970 marcou o fm da colonzao gacha no oeste doParan.

    iTAiPU

    Com a execuo do 1o e do 2o Plano Naconal de Desen-volvmento Econmco e Socal, a agrcultura braslera deu osprmeros passos em dreo modernzao captalsta que ha-

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    vera de mudar radcalmente as relaes socas e econmcas nocampo. Ao mesmo tempo, com a assnatura do tratado entre asRepblcas do Brasl e do Paragua, em abrl de 1973, para va-

    blzar o aprovetamento hdreltrco dos recursos do ro Paran,com a crao da empresa Bnaconal itapu, fo selado um novodestno para toda a rego.

    A obra teve nco em 1975. Em setembro de 1982, ocorreua nundao de 1.460 qulmetros quadrados de reas margnasao ro Paran. Destes, 855 qulmetros quadrados stuavam-seem terrtro braslero. Evdentemente, mutos colonos antgosforam benefcados com a chegada da energa eltrca. Entretanto,