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1 Facultad de Filología Universidad de Salamanca O PORTUGUÊS BRASILEIRO E O PORTUGUÊS EUROPEU A TRAVÉS DA MÚSICA Prof. Manaíra Aires Athayde (Cadeira: Portugués de Brasil) estudante: Alexandra Cristina Croitoru (Erasmus, Roménia) (2014/2015)

Diferenças entre o Português Brasileiro e o Português Europeu

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As diferenças fonético-fonológicas, morfo-sintáticas e lexicais entre o PB e o PE.

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Page 1: Diferenças entre o Português Brasileiro e o Português Europeu

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Facultad de Filología

Universidad de Salamanca

O PORTUGUÊS BRASILEIRO E O

PORTUGUÊS EUROPEU A

TRAVÉS DA MÚSICA

Prof. Manaíra Aires Athayde

(Cadeira: “Portugués de Brasil”)

estudante: Alexandra Cristina Croitoru

(Erasmus, Roménia)

(2014/2015)

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Como estudante de PLE (Portugês Língua Estrangeira) sempre foi difícil separar de

alguma maneira as duas variantes da Língua Portuguesa: o Português Europeu (PE) e o

Português Brasileiro (PB), no que diz respeito ao léxico, à morfologia ou à sintaxe. Porque

um brasileiro não respeta a “norma’’ que nós estudámos na escola e fala: “Me dói a

garganta” ou “Meus amigos estão aqui’’? E, o mais importante de tudo: Qual das duas

variantes é “mais correta”?

Conforme mostrou Biderman, “no plano do sistema lingüístico o PB e o PE são a

mesma língua com a mesma estrutura e as mesmas oposições funcionais”, as diferenças

surgem no entanto no domínio da norma e não no sistema. Desde 1532, quando começou

efetivamente a colonização para o Brasil, até hoje em dia, tanto o PE como o PB sofreram

bastantes alterações por terem estado em contato direto com outras línguas. Em concreto, o

PB esteve em contato não só com as línguas indígenas faladas no territorio brasileiro (como

o tupi) ou com as línguas africanas dos descendentes de escravos, mas também com as

línguas dos imigrantes (italianos, alemães, japoneses, holandeses, coreanos etc.) que vieram

para o Brasil entre 1880-1930. O PE também evoluiu porque esteve em contato com outras

línguas européias, como o castelhano ou o francês.

Assim mesmo, as mudanças que se produziram no léxico ao longo dos séculos no PB,

devem-se à realidade distinta que lá encontraram os colonizadores portugueses. A língua

que eles trouxeram para o continente americano acabou por aclimatar novas palavras de

origem indígena ou africana, que em geral, associam-se com a flora, a fauna, os alimentos

ou podem ser também topónimos.

O PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB):

Vou mencionar e classificar abaixo algumas peculiaridades da língua portuguesa falada

no território brasileiro:

I. Características fonético-fonológicas:

a) A realização africada das consoante /t/ y /d/ diante de [i] ou [e] em algumas

regiões do país como no Sudeste, o Sul (sem o litoral catarinense), no

Centro-Oeste e no Norte; nas demais regiões, assim como nos outros

territórios de fala protuguesa, este fenómeno não ocorre. Exemplos: [ t∫ ]:

tia, ajudante; [d∫]: dia, amplitude.

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b) A realização semivocálica da consoante /l/ em final de sílaba [w], em

oposição com a pronúncia ibérica em que este som é velarizado [ł]. Porém,

no Sul do Brasil há ainda dialetos em que este som mantem-se velar.

c) A realização fricativa da consoante /s/ em final de sílaba: casca [s], seis [s].

Este fenómeno não ocorre no PE, nem no falar carioca ou no de

Florianópolis, onde a realização é palatalizada: casca [∫], seis [∫].

d) A pronúncia das vogais pré-tónicas é tal vez uma das características mais

importantes do PB, já que no PE há uma tendéncia clara para a redução

[pronúncia fechada das vogais pré-tónicas].

e) Outro processo que se desenrola é a elevação da vogal: /e/ -> [i] e /o/ -> [u].

f) Além disso, pode ocorrer também que se acrescentasse um /i/ só na fala

para facilitar a pronúncia de certas sequências de consoantes: p[i]sicologia,

ab[i]surdo, ad[i]mirar etc.

g) A supressão do /r/ final, em geral na forma do infinitivo: faz[é], beb[é], etc.

h) O fechamento das vogais que antecedem as sílabas nasais: quil[ô]metro,

g[ê]nio, etc.

II. Características morfo-sintáticas:

a) A preferência pela posição proclítica (antes da forma verbal) dos pronomes

átonos (me, te, se, lhe, o, a, os, etc) é muito comum no Brasil: A mãe me dá

uma maçã.

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b) O PB caracteriza-se pela construção de gerúndio (ESTAR + gerúndio) para

expressar uma ação durativa em certo momento do passado o do presente.

Estive lendo toda a tarde da sexta-feira.

c) Por outra parte, o PB prefere o Futuro do Pretérito para pedir ou requisitar

alguma coisa: Gostaria de ir à praia este fim de semana?

d) Também, no Brasil são mais frequentes as expressões com a preposição em:

estar em, chagar em, etc.

e) No que dizem respeito às formas de tratamento, o PB tem um sistema

binário (você X o/a senhor/a), embora se use as formas te e contigo (formas

oblíquas de tu, IIa pessoa do singular), em vez das formas de III

a do singular

(se e consigo).

f) A omissão dos artigos definidos que determinam os adejetivos e os

pronomes possessivos: Esta noita quero sair com meus amigos na balada.

g) A expressão “a gente” é muitas vezes utilizada no PB e refere-se à Ia pessoa

do plural (nós), embora se conjugue como a IIIa pessoa do singular.: A gente

não precisa ir ao cinéma. <=> Nós não precisamos ir ao cinéma.

III. Características lexicais:

Estas diferenças devem-se ao fato de que, o PB incorporou várias palavras das

línguas índigenas (o tupi) e africanas com as quais entrou em contato, e depois foi

influenciado pelo fenómeno

migratório (XIX-XX).

PE PB

comboio trem

bica cafezinho

fato paletó

sandes sanduíche

pequeno-almoço café-da-manhã

fado

piranha

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Vou analisar aqui abaixo algumas características do PB que aparecem nestas canções

brasileiras:

I. Luan Santana- “Te vivo”

“Quando me sinto só

Te faço1 mais presente

Eu fecho os meus olhos

E enxergo a gente2.

Em questão de segundos

Voo pra outro mundo

Outra constelação

Não dá para explicar

Ao ver você3 chegando

Qual a sensação

A gente2 não precisa

2 tá colado pra tá juntos

Nossos4 corpos se conversam

1 por horas e horas

Sem palavras tão dizendo5 a todo instante um pro outro

O quanto se adoram

Eu não preciso te olhar1

Pra te ter em meu4 mundo

Porque aonde quer que eu vá

Você3 está em tudo

Tudo, tudo que eu preciso

Te vivo1...”

LUAN SANTANA, campo-grandense

Campo Grande, Mato Grosso do Sul

(Centro-Oeste)

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Desde o ponto de vista fonético-fonológico, assim como assinalei acima, é evidente

a realização africada das consoantes /t/ e /d/ antes de [e] ou [i], tendo em conta que

Luan Santana é um falante do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul), região em que se

dá este fenómeno. Exemplos: [t∫]: te faço , presente, gente, instante; [d∫]: dizendo,

de. Outros fenómenos pelos quais se caracteriza a pronúncia de Luan S. são: a

realização semivocálica da consoante /l/ em final de sílaba em palavras como: [w]:

qual; a elevação das vogais em posição pré-tónica: /e/ -> [i] e /o/ -> [u]: me, te,

presente, instante, chegando, dizendo; a realização fricativa da consoante /s/ em

final de sílaba: [s] e não [∫] como no PE: juntos, mais, segundos etc. e também a

supressão do /r/ final na forma do infinitivo, porém mantem-se o acento tónico na

última sílaba: explica[r], ve[r], olha[r].

Desde o ponto de vista morfo-sintático, há certas características que se dão só no

português do Brasil:

1. “Te faço”, “se conversam”, “te olhar”, “te vivo”- a preferência pela

posição proclítica (antes da forma verbal) dos pronomes átonos.

2. “a gente não precisa”: A expressão “a gente” é utilizada no PB para fazer

referência à Ia pessoa do plural (nós), embora se conjugue como a IIIa

pessoa do singular: “precisa”. Então, a pessoa morfológica é a IIIa do

singular e a pessoa pragmática a Ia do plural: “a gente não precisa”= nós

não precisamos. Mas seria incorreto conjugá-lo como *a gente não

precisamos.

3. A forma de tratamento “você” utilizada na canção, que geralmente é

bastante ambígua no PB, remete ao tratamento informal porque o contexto

ajuda a desfazer a ambigüidade. É necessário mencionar que se utiliza a

forma “te” (forma oblíqua de tu, IIa pessoa do singular), em vez da forma

de IIIa do singular (lhe).

4. A omissão dos artigos definidos que determinam os adejetivos e os

pronomes possessivos nestes casos: “nossos corpos” (vs. “os nossos

corpos” no PE) e “meu mundo” (vs. “o meu mundo”).

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5. A preferência pela construção de gerúndio (ESTAR + gerúndio) para

expressar a duratividade duma ação: “tão dizendo”= “estão dizendo” (o

equivalente no PE seria “tão/estão a dizer = ESTAR + A + infinitivo).

II. Luan Santana- “Tudo que você quiser”

“Tem dias que eu acordo pensando em você1

Em fração de segundos vejo o mundo desabar

E aí que cai a ficha que eu não vou te ver2

Será que esse vazio um dia vai me abandonar2?

Tem gente que tem cheiro de rosa, e de avelã

Tem o perfume doce de toda manhã

Você1 tem tudo

Você1 tem muito

Muito mais que um dia eu sonhei pra mim

Tem a pureza de um anjo querubim

Eu trocaria tudo pra te1 ter aqui

Eu troco minha paz3 por um beijo seu

Eu troco meu destino3 pra viver o seu

Eu troco minha cama3 pra dormir na sua

Eu troco mil estrelas pra te1 dar a lua

E tudo que você1 quiser

E se você1 quiser te dou

2 meu

3 sobrenome

4

Tem gente que tem cheiro de rosa, e de avelã

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Tem o perfume doce de toda manhã

Você1 tem tudo

Você1 tem muito

Muito mais que um dia eu sonhei pra mim

Tem a pureza de um anjo querubim

Eu trocaria tudo pra te1 ter aqui

Eu troco minha paz3 por um beijo seu

Eu troco meu destino3 pra viver o seu

Eu troco minha cama3 pra dormir na sua

Eu troco mil estrelas pra te1 dar a lua

E tudo que você1 quiser

E se você1 quiser te dou

2 meu

3 sobrenome

4”

Desde o ponto de vista fonético-fonológico, tal como já apontei na primeira canção,

é evidente a realização africada das consoantes /t/ e /d/ antes de [e] ou [i], tendo em

conta que Luan Santana é um falante do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul), região

em que se dá este fenómeno. Exemplos: [d∫]: “dias”, “desabar”, “destino” e [t∫]:

“te”, “destino”. Ocorre novamente a elevação da vogal em posição pré-tónica: /e/ -

> [i]: “te”, “me”, “perfume”, “doce”, “sobrenome”. Também ocorre realização

fricativa da consoante /s/ em final de sílaba: [s]: “dias”, “segundos”, “estrelas”; e

também a supressão do /r/ final na forma do infinitivo: “desaba[r]”, “ve[r]”,

“abandona[r]”. No entanto, há um fenómeno que não ocorria na canção de acima:

o acréscimo dum /i/ só na fala para facilitar a pronúncia na palavra “paz” que se

ouve [pajs] e poderia confundir-se com “pais” (este mesmo fenómeno produz

ambigüidade no PB com as palavras “mas” y “mais”: [majs]).

Desde o segundo ponto de vista, ou seja, morfo-sintático:

1. A forma de tratamento “você” utilizada também na primeira canção, que

geralmente é bastante ambígua no PB, remete ao tratamento informal porque

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o contexto ajuda a desfazer a ambigüidade. É necessário mencionar que se

utiliza a forma “te” (forma oblíqua de tu, IIa pessoa do singular), em vez da

forma de IIIa do singular (lhe).

2. A preferência pela posição proclítica (antes da forma verbal) dos pronomes

átonos: “vou te ver”, “vai me abandonar”, “te dou”.

3. A omissão dos artigos definidos que determinam os adejetivos e os

pronomes possessivos nestes casos: “minha paz” (frente a “a minha paz” do

PE), “meu destino” (frente a “o meu destino” do PE), “minha cama”, “meu

sobrenome”.

Desde o ponto de vista lexical, nesta canção aparece a palavra “sobrenome” que, no

Brasil, significa : “Nome que se acrescenta ao nome de baptismo; nome de

família”. Porém, em Portugal, o seu equivalente seria “apelido”, já que

“sobrenombre” é, de fato: “Designação, geralmente distintiva e não ofensiva, que

se usa em vez do nome próprio de certas pessoas ou de certos grupos”. Conforme o

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,

http://www.priberam.pt/dlpo/sobrenome).

III. Marisa Monte- “A sua”

“Eu só quero que você1 saiba

Que eu estou pensando2 em você

1

Agora e sempre mais

Eu só quero que você1 ouça

A canção que eu fiz pra dizer

Que te1 adoro cada vez mais

E que eu te1 quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade

Tô pensando2 em você

Como eu te1 quero tanto bem

Aonde for não quero dor

MARISA MONTE, carioca

Rio de Janeiro (Sudeste)

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Eu tomo conta de você1

Pois te quero3 livre também

Como o tempo vai o vento vem

Eu só quero que você1 caiba

No meu colo porque

Eu te adoro3 cada vez mais

Eu só quero que você1 siga

Para onde quiser

Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade

Tô pensando2 em você

Como eu te1 quero tanto bem

Aonde for não quero dor

Eu tomo conta de você1

Pois te quero3 livre também

Como o tempo vai o vento vem”

Desde o ponto de vista fonético-fonológico, o primeiro fenómeno que me chamou a

atenção foi a realização palatalizada da consoante /s/ -> [∫] final de sílaba, que

ocorre no PE, e no falar carioca ou no de Florianópolis, frente à realização fricativa

que caracteriza a maior parte do Brasil. Exemplo selecionados do texto: “mais”,

“fiz”, “paz”, “sintomas”. Também, a região do Sudeste caracteriza-se pela

realização africada das consoante /t/ y /d/ diante de [i] ou [e] -> [t∫] e [d∫].

Exemplos: “dizer”, “te”, “saudade”, “aonde”. Outra característica que eu achei

foi a elevação da vogal /e/ -> [i] em palavras como: “aonde”, “te”, “saudade”,

“livre” etc.

Desde o segundo ponto de vista, ou seja morfo-sintático:

1. Óbviamente, a forma de tratamento “você” utilizada também nas outras

duas canções, que geralmente é bastante ambígua no PB, remete ao

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tratamento informal porque o contexto ajuda a desfazer a ambigüidade. É

necessário mencionar que se utiliza a forma “te” (forma oblíqua de tu, IIa

pessoa do singular, em vez da forma de IIIa do singular, lhe).

2. A preferência pela construção de gerúndio (ESTAR + gerúndio) para

expressar a duratividade duma ação: “estou/tô pensando” (o equivalente no

PE seria “tô/estou a pensar” = ESTAR + A + infinitivo).

3. A preferência pela posição proclítica (antes da forma verbal) dos pronomes

átonos: Exemplos: “te quero”, “te adoro”.

O PORTUGUÊS EUROPEU/ DE PORTUGAL (PE)

Vou mencionar e classificar abaixo algumas propriedades da língua portuguesa falada

no território lusitano:

I. Características fonético-fonológicas:

a) A realização velarizada da consoante /l/ em final de sílaba [ł]: “animal”,

“Portugal”, “Brasil” etc.

b) A realização palatalizada da consoante /s/ em final de sílaba: casca [∫], seis

[∫] como no falar carioca ou no de Florianópolis.

c) No PE há uma tendéncia clara para a redução ou pronúncia fechada das

vogais em posição pré-tónica.

d) A abertura das vogais que antecedem as sílabas nasais: quil[ó]metro,

g[é]nio, Ant[ó]nio, Rom[é]nia etc.

II. Características morfo-sintáticas:

a) A preferência pela posição enclítica (depois da forma verbal) dos pronomes

átonos (me, te, se, lhe, o, a, os, etc) e mesoclítica (colocação do pronome

inserido no verbo quando estiver no futuro do presente ou no futuro do

pretérito). Exemplos: “A minha mãe dou-me uma maçã.” (ênclise) e “A

minha mãe dar-me-á/ dar-me-ia uma maçã.” (mosóclise).

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b) O PE caracteriza-se pela construção de infinitivo (ESTAR + A + infinitivo)

para expressar uma ação durativa em certo momento do passado o do

presente. “Estive a ler toda a tarde da sexta-feira.”

c) Por outra parte, o PE prefere o Pretérito Imperfeito para pedir ou requisitar

alguma coisa: “Gostavas de ir à praia este fim de semana?”

d) Também, em Portugal são mais frequentes as expressões com a preposição a:

estar a, chagar a, etc.

e) No que dizem respeito às formas de tratamento, o PE tem um sistema

ternário (tu X você X o/a senhor/a). Neste caso, os pronomes oblíquos

correspondentes são: tu -> ti, contigo, te; você, o/a senhor/a -> si, consigo,

se, o, a, lhe.

f) Uso dos artigos definidos que determinam os adjetivos e os pronomes

possessivos: “Esta noita quero sair com os meus amigos na balada.”

IV. Carminho- “Talvez”

“Talvez digas1 um dia o que me queres

1,

Talvez não queiras1 afinal dizê-lo

2,

Talvez passes1 a mão no meu

3 cabelo,

Talvez eu pense em ti1 talvez me esperes

1.

Talvez, sendo isto assim, fosse melhor

Falhar-se2 o nosso

3 encontro por um triz

Talvez não me afagasses1 como eu quis,

Talvez não nos soubéssemos de cor.

Mas não sei bem, respostas não mas dês1.

Vivo só de murmúrios repetidos,

De enganos de alma e fome dos sentidos,

Talvez seja cruel, talvez, talvez...

CARMINHO

fadista lisboeta

Lisboa, Portugal

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Se nada dás1, porém, nada te

1 dou

Neste vaivém que sempre nos sustenta,

E se a própria saudade nos inventa,

Não sei talvez quem és1 mas sei quem sou.

Se nada dás1, porém, nada te

1 dou

Neste vaivém que sempre nos sustenta,

E se a própria saudade nos inventa,

Não sei talvez quem és1 mas sei quem sou.”

Desde o ponto de vista fonético-fonológico, a pronúncia de Carminho diferencia-se

da brasileira por várias razões: a realização velarizada da consoante /l/ em final de

sílaba [ł]: “talvez”, “afinal”, “cruel”; a realização palatalizada da consoante /s/ em

final de sílaba, [∫]: “digas”, “queres”, “quis”, “passes”, “sustenta”, “repetidos”,

etc. É necessário também mencionar que n o PE há uma tendéncia clara para a

redução ou pronúncia fechada das vogais em posição pré-tónica: “pense”, “me”,

“fosse”, “fome”, “saudade”.

Características morfo- sintáticas:

1. No que dizem respeito às formas de tratamento, o PE tem um sistema ternário

(tu X você X o/a senhor/a). Em comparação com o PB que utilizava o pronome

“você”, o PE utiliza o “tu” para o tratamento informal. Os oblíquos

correspondentes de “tu” são: ti, contigo, te.

2. A preferência pela posição enclítica (depois da forma verbal) dos pronomes

átonos (me, te, se, lhe, o, a, os, etc) como nos seguintes casos: “dizê-lo” (frente

a “o dizer” do PB), “falhar-se” (frente a “se falhar” do PB).

3. Uso dos artigos definidos que determinam os adjetivos e os pronomes

possessivos: “o meu”, “o nosso”.

CONCLUSÕES:

A língua de Camões é, sem dúvida nenhuma, uma língua pluricêntrica, já que se fala em

vários países do mundo: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau

ou São Tomé e Príncipe. De fato, a ideia de “uma nação, uma língua” é tão inverossímil

como a ideia de uma comunidade lingüística homogénea. Esta utopia foi promovida ao

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longo do século XX por ditadores nacionalistas como Franco, que proibiu as línguas das

pequenas comunidades (o galego, o catalão ou o vasco) para que o espanhol se impusesse

como língua oficial e única. Se falarmos de diversidade, o melhor exemplo é o Português

Brasileiro que, dentro do macrossistema onde se diferenciam as variantes do português de

cada país lusófono, a variante brasileira contem microssistemas que representam as

peculiaridades de algumas regiões. A riqueza do PB deve-se a vários fatores que

contribuiram na sua evolução: a superfície grande do país, os bandeirantes que traziam o

seu falar e o seu vocabulário às regiões conquistadas, as influências que exerceram os

imigrantes que se estabeleceram em certas regiões (XIX - XX) ou a chegada da Corte em

1808 no Rio de Janeiro. Porém, hoje em dia, o português brasileiro não é ainda uma língua

autónoma, mas tal vez seja em cerca de 200 anos.

Em pleno século XXI, a língua é pluricêntrica até dentro do próprio povo, já que este é

um fenómeno normal, generalizado num mundo globalizado. O português não é a única

língua onde ocorre tal coisa, porque o mesmo ocorre, por exemplo, com o espanhol ibérico

e o latino-americano, ou com o inglês británico e o americano. Contudo, todos os falantes

têm que estar conscientes que não há uma variante melhor do que a outra, porque ainde

trata-se da mesma língua com o mesmo sistema, mas com normas diferentes. Por isso, em

1990 foi aprovada uma reforma ortográfica, “O Novo Acordo Ortográfico” , pensada com

o objetivo de unifirmizar a língua portuguesa de todos os países de fala portuguesa. Mas,

embora tivesse sido aprovada em dezembro de 1990, o Parlamento Português aprovou o

Novo Acordo apenas em maio de 2008. A reticência surgiu porque o princial promotor da

nova grafía foi o Brasil, que tal vez quisesse ter o monopólio editorial dos livros didáticos

(PLE- Português Língua Estrangeira).

LIGAÇÕES:

As ligações para o YouTube são muito úteis para ouvir e fazer uma comparação entre a

pronúncia brasileira e a pronúncia portuguesa. Por isso vou facilitar a pesquisa da música:

Luan Santana (PB):

− “Te vivo”: https://www.youtube.com/watch?v=dWpGsK8Md28

− “Tudo que você quiser”: https://www.youtube.com/watch?v=-YzDsDMYqdw

Marisa Monte (PB):

− “A sua”: https://www.youtube.com/watch?v=9WAc1aZO_58

Carminho (PE):

− “Talvez”: https://www.youtube.com/watch?v=kUI3SeKwOx0

Outras ligações que utilizei:

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− Dicionário: http://www.wordreference.com/

− Dicionário: http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx

− http://www.vagalume.com.br/

BIBLIOGRAFIA CITADA:

− AIRE, ATHAYDE, Manaíra, “Entra em vigor o Acordo Ortográfico”,

fevereiro/2009

− CAMARGO, BIDERMAN, Maria Tereza “O Português Brasileiro e o Português

Europeu: Identidade e contrastes”, in: revue belge de philologie et d’histoire. Tome

79 fasc. 3, 2003. Langues et littératures modernes- Moderne taal-en letterkunde. pp.

963 - 975

− FIORAVANTI, Carlos, “Um português bem brasileiro: análise de textos antigos

mostra evolução do idioma no país”, revista Pesquisa FAPESP, São Paulo,

10/05/2015- 06h00

− GUIMARÃES, Eduardo, “A língua portuguesa no Brasil”, artigo do Línguas do

Brasil.

− Instituto Camões, “Características Fonéticas do Português Europeu VS Português

Brasileiro”, http://cvc.instituto-camoes.pt

− ORLANDI, E. P. “A Língua brasileira”, Ciência e cultura on-line version, ISSN

2317- 6660, Cienc. Cult. vol.57, no.2, São Paulo, Apr./ June 2005