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Diferentes perspectivas educacionais das tecnologias da educação à
distância e o processo ensino e aprendizagem
Eliamar Godoi1 Universidade Federal de Uberlândia
Resumo: O objetivo desse trabalho é descrever as diferentes perspectivas educacionais das tecnologias da educação a distância no processo ensino e aprendizagem de cursos on-line. Assim, numa abordagem sistêmica, como metodologia, adotamos a pesquisa quantitativa e qualitativa de natureza exploratória. Pesquisamos elementos como: ferramentas utilizadas no ambiente on-line, design Instrucional, metodologias de ensino, modelos pedagógicos, além da interação. Os dados foram coletados de alguns cursos on-line oferecidos pela Universidade Federal local. Como resultado, percebemos que ensino a distância faz emergir um novo papel para o professor e cria inúmeras possibilidades de ensino, promovendo a constituição de um novo sujeito professor inscrito no momento das novas tecnologias. Palavras-chave: Tecnologia. Educação à distância. Ensino-aprendizagem.
Abstract: The aim of this paper is to describe the different perspectives of educational technologies of distance education in the teaching and learning online courses. Thus, a systemic approach as a methodology, we adopted the quantitative and qualitative research of an exploratory nature. Searched elements as tools used in the online environment, Instructional design, teaching methodologies, pedagogical models, besides the interaction. Data were collected from some online courses offered by the Federal University here. As a result, we realize that distance learning brings out a new role for the teacher and creates numerous opportunities for education, promoting the formation of a new teacher insured at moment of new technologies.
Keywords: Technology. Distance education. Teaching and learning.
Como a área de educação a distancia ainda está em busca da formalização de uma base
teórica, iniciamos nosso trabalho esclarecendo que na expressão ‘Educação a Distância’
(EAD) o termo Educação normalmente é substituído por Ensino, embora muitos estudiosos
prefiram o primeiro termo, já que remete ao um conceito mais amplo que o de Ensino. Em
nosso trabalho, nos permitimos adotar o termo Ensino, já que atuamos num campo mais
específico de pesquisa que é investigar como ocorre o processo ensino-aprendizagem em
cursos on-line, mas com um enfoque na área do Ensino.
Nesse caso, como pretendemos descrever as diferentes perspectivas educacionais das
tecnologias da educação a distância no processo ensino e aprendizagem, partimos de um 1 Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Estudos Linguísticos – PPGEL, Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas e Práticas em Educação Especial – GEPEPES e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. [email protected]
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conceito de Ensino a Distância como um meio que possibilita à comunicação, o ensino, a
aprendizagem, o desenvolvimento de competências, habilidades e construção de
conhecimento. Sendo assim, para esse estudo apresentaremos pressupostos em que
percebemos a ‘distância’ como conceito pedagógico prevalecendo mais suas variáveis
psicológicas e pedagógicas, no que se refere à recepção e à facilitação do aprendizado.
É nesse contexto que nosso trabalho se enquadra, já que intentamos descrever as
diferentes perspectivas educacionais em relação ao ensino e à aprendizagem disponibilizados
pelo modelo instrucional de cursos oferecidos a distância na modalidade on-line. A formação
a distância por meio de um ensino pautado em ações que privilegiam o uso das tecnologias é
algo posto e não há mais como negar esse fato.
Sendo assim torna-se imprescindível desenvolver estudos e pesquisas sobre a
funcionalidade pedagógica e sobre as perspectivas educacionais das tecnologias da educação a
distância. É nesse contexto que nosso trabalho se justifica, pois objetivamos investigar e
descrever as diferentes perspectivas educacionais que envolvem o processo ensino e
aprendizagem sendo mediado pelas tecnologias.
Esse formato de ensino que acontece mesmo em espaço diferente entre professor e
aluno requer algumas ferramentas. Aqui essas ferramentas dão tidas como dispositivos
motivadores, instrumentos pedagógicos dinâmicos que desencadeiam novas formas de pensar,
construir conhecimento, novos modos de ensinar e de aprender amparados pela interação. E é
pela interação que o ensino acontece acompanhando e desencadeando certas variáveis em
ensino e aprendizagem e na interação entre ensino e a aprendizagem.
Aos analisar essas variáveis, percebemos que no contexto das novas tecnologias, há
papeis bem definidos para os principais atores que atuam nessa modalidade: aluno e
professor. Nesses termos, discorreremos sobre o fato de que no contexto a distância o
professor e aluno assumem papeis distintos.
Sendo assim, todas as ações de um ensino a distância são direcionada à obtenção de
um aprendizado significativo no contexto a distância do aprender fazendo. A denominada
Aprendizagem experimental. Nesse trabalho, discorremos sobre um tipo de ensino que prevê
um aprendizado que vai da experiência à significação.
Trabalhos de ensino a distância prevêem para o corpo docente: sincronia, dinamismo,
capacitação e avaliação. A avaliação, nesse aspecto, assume um caráter somativo.
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Discorreremos sobre cibercultura e a chamada Netiqueta, demonstrando a necessidade de
adequação de comportamentos para acessar a rede.
Outro aspecto do ensino a distância abordado nesse trabalho será o modelo pedagógico
que suscita o novo contexto e modelo da educação moderna abrindo novas perspectivas
pedagógica para o ensino, influenciando todo o processo ensino-aprendizagem a distância.
Desse modo, discorremos sobre os Modelos Pedagógicos que se constitui com interface do
design instrucional. Sendo assim, apresentaremos as possibilidades de novos caminhos para
dinamizar o ensino e o aprendizado.
Ao organizar tais relações e interações entre indivíduos e recursos de aprendizagem de
todos os tipos, o ambiente on-line parece surgir como novo suporte de informação e de
comunicação, pois lançam gêneros de conhecimento inusitados, critérios de avaliação inéditos
para orientar o saber, novos participantes na produção e tratamento dos conhecimentos.
A nossa proposta de trabalho partirá dessas concepções acima relatadas. Serão
conceitos chaves ligados à formulação das considerações que buscamos explorar e apresentar
nesse trabalho. A seguir discorreremos sobre tipos de aprendizagem, os diferentes papeis que
compõe o ambiente do ensino à distância.
Ambiente de comunicação promovendo a aprendizagem significativa: da experiência à
significação
Para o processo ensino e aprendizado de cursos on-line ocorrer ainda se faz necessário
o desenvolvimento de didática, ferramentas de ensino e modelos pedagógicos adequados à
modalidade. Segundo Levy (1999), o conhecimento e o aprendizado estão associados ao
cenário de valores e tecnologias de uma sociedade. Desse modo, reconhecemos que o design
instrucional disponibiliza ferramentas digitais que nos permitem pensar vastos sistemas de
ensino e aprendizado se constituindo por meio da interação. Trata-se de ferramentas
acessíveis que podem ser acessadas a qualquer momento e de qualquer lugar que tenha
sistemas de redes.
Para Ausubel ela acontece em relação a um determinado conteúdo e são necessárias
algumas condições como: o material instrucional com conteúdo estruturado de maneira
lógica; a existência na estrutura cognitiva do aprendiz de conhecimento organizado e
relacionável com o novo conteúdo; a vontade e disposição desse aprendiz de relacionar o
novo conhecimento com aquele já existente (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980).
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Por outro lado, no contexto do ensino a distância, o participante é levado a aprender
fazendo, guiado pelo desenho instrucional e pela curiosidade se consegue o aprendizado
significativo cujo conhecimento adquirido pode ser usado em contextos e situações outras
com as devidas adequações. Surge a teoria da Aprendizagem experimental proposta por
Rogers (1993) que propõe que se deve buscar sempre o aprendizado experimental, pois as
pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais
para o aprendizado bem sucedido e eles se apresentam mais claramente quando o aprendiz
consegue visualizar uma aplicação prática do que está sendo aprendido.
Para Rogers (1993) o professor, nesse caso, se constitui como um facilitador que cria
um ambiente propício ao aprendizado, provocando a curiosidade do aluno. O professor deve
usar freqüentemente o relacionamento interpessoal nessa facilitação da aprendizagem
deixando de lado o papel de transmissor de informação.
Esse autor enfatiza que o professor deve promover uma facilitação não diretiva do
conhecimento, como se oferecesse uma questão ou um convite para explorar algo que pode
ser vivenciado (experienciado). Como se o professor fizesse uma doação de percepção ou
oferecesse insights para os participantes em suas aulas.
Fica clara para esse autor a importância da interação entre professor e aluno a qual
influencia sobremaneira no aprendizado do participante. Outro fator relevante a ser observado
na teoria de Rogers (1993) é a valorização da função do professor.
Com a evolução das tecnologias na Educação, tem-se o mito de que o papel do
professor tende a ser desconsiderado e relegado a níveis baixos de importância, já que a maior
relevância do processo é dada ao aluno e aos dispositivos educativos. Para Rogers (1933) a
figura do professor se constitui como peça chave para o sucesso do processo ensino e
aprendizagem.
Em relação à valorização do papel do professor como mediador do conhecimento na
modalidade a distância, a contribuição mais conhecida desse autor para obtenção de uma
educação de qualidade são as chamadas “condições essenciais" para facilitadores que são: o
aconselhamento, a educação, a prática, a congruência (realismo), a aceitação e a empatia.
Segundo Rogers (1993), ao criar um ambiente desse nível, o professor realmente
proporcionaria ao participante a possibilidade da aprendizagem experimental e significativa
que poderia ser usada em contextos diversos, pois o aluno aprende por meio de experiências e
tentativas que favorecem a aprendizagem significativa.
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No ambiente virtual dos cursos on-line, aprender constitui-se por uma apropriação de
conhecimento que ocorre numa realidade concreta, ou seja, parte da situação real vivida pelo
educando apoiado na presença mediadora e gestora do professor compromissado com seus
alunos e com a construção de conhecimentos advindos das informações disponibilizadas no
design instrucional pelo professor, procurando, nesse caso, responder ao princípio da
aprendizagem significativa proposta por Ausubel articulada com a aprendizagem experiencial
proposta por Rogers.
Uma aprendizagem significativa de abordagem experiencial pressupõe o oferecimento
ao educando de informações relevantes, que possam ser relacionadas com os conceitos já ou
pré-existentes em sua estrutura cognitiva e com a experiência de aprender fazendo. Essas
ações acabam por influenciar na aprendizagem e no significado atribuído aos novos conceitos
aprendidos, podendo estes ser aplicados em contextos outros.
Nessa perspectiva, os docentes e discentes interagindo com os dispositivos e com a
instituição devem proporcionar retornos sobre o desenvolvimento das atividades nos cursos
oferecidos. Nesse caso, a avaliação dos programas e dos cursos se constituiria como fator
fundamental para o acompanhamento do processo e percepção sobre a relevância/qualidade
do instrumento se tornando um mecanismo crítico-transformador que daria esse retorno à
sociedade.
No que se refere à avaliação, ela deve se constituir como um processo que envolve
todos os atores do processo ensino e aprendizagem, além das mídias educativas. Nesse caso, a
avaliação necessita do envolvimento de toda a comunidade de aprendizagem proporcionando-
lhe o feedback sobre as experiências de ensino on-line e é de grande relevância e influencia no
processo ensino-aprendizagem.
Desse modo, a autora pondera que o resultado da avaliação se relaciona diretamente ao
processo de tomada de decisões sobre o desenvolvimento ou continuidade do curso, além de
sua repercussão.
A seguir, apresentamos mais uma interface do design instrucional que se mostrou
bastante relevante para o desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem em ambientes
on-line. Trata-se do modelo pedagógico que se constitui como parte fundamental da instrução,
responsável pela ideal sistematização do conteúdo na área de ensino a distância.
Modelos pedagógicos: perspectivas, interface do design instrucional e possibilidade de
novos caminhos para dinamizar o ensino e o aprendizado
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O enfoque aqui é fundamentar teoricamente o modelo pedagógico para formação de
professores no contexto do ensino a distância. Trata-se de conceitos, definições e os aspectos
metodológicos dos modelos pedagógicos tendo como finalidade oferecer subsídios aos
professores para que estes possam construir seu próprio modelo pedagógico a ser aplicado no
ensino on-line,além de contribuirmos com a pesquisa e divulgação dessa ferramenta didática
tão relevante para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem em ambientes virtuais,
cujos estudos ainda se encontram em processos tímidos de evolução.
Atualmente, aumentar a qualidade das ações educacionais realizadas em ambientes on-
line se constitui como a grande busca dos profissionais envolvidos no processo ensino e
aprendizagem do ensino a distância. Nesse sentido, a definição de uma abordagem
pedagógica clara e formal é fundamental para garantir o sucesso do ensino e do curso.
Há, porém, necessidade de uma abordagem pedagógica que sirva de base para que
todos os envolvidos no processo educacional sigam o mesmo direcionamento. Nesse caso, o
Modelo Pedagógico é o referencial teórico metodológico que contém os fundamentos
pedagógicos orientadores das ações educacionais.
Embora haja uma bibliografia vasta sobre ensino e aprendizagem e formação do
professor, e até mesmo sobre ensino a distância, contudo pesquisas e produções envolvendo
modelos pedagógicos têm se mostrado bastante tímidas.
Para tratar desse tema relativamente desconhecido, optamos buscar por conceitos que
pudessem nos orientar. Assim, encontramos num trabalho proposto por Behar; Passerino e
Bernardi (2007) informação e conceitos esclarecedores em que elas apresentam uma
discussão teórica em torno do conceito de modelo pedagógico para o ensino a distância e dos
elementos que o compõem.
Nesse sentido, essas autoras, a partir de estudos sobre metodologia, currículo, teorias
de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo definem modelo pedagógico como
um sistema de premissas teóricas que representa, explica e orienta a forma como se aborda o currículo e que se concretiza nas práticas pedagógicas e nas interações professor-aluno-objeto de conhecimento. Nesse triângulo (professor, aluno e objeto) é estabelecida uma relação triádica de atenção conjunta e na qual o modelo concretiza-se em ação e estabelece um contexto intersubjetivo construído a partir da subjetividade de cada participante compartilhando uma definição de situação determinada (BEHAR; PASSERINO; BERNARDI, 2007, p. 4).
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Segundo essas autoras há necessidade de conceituar os modelos pedagógicos para
alicerçar a construção de um significado mais aprimorado do termo modelo pedagógico
vinculado à educação a distância.
O modelo pedagógico engloba também a sistematização do conteúdo. É por meio dele
que se dá a ordenação das informações conteudísticas e favorece ao acesso dos alunos ao
conhecimento. Devemos nos lembrar que um professor não passa ou transfere conhecimento
ao aluno. Na realidade, o que o professor faz é repassar e disponibilizar informações. Nesse
contexto, o aluno tendo acesso a essas informações ele se construirá o conhecimento.
É por isso, que no ensino a distância o aluno carece de ser ativo e participar
ativamente do processo ensino e aprendizagem, encontrando formas de abstrair informações
para construir o próprio conhecimento. O papel do professor, nesse caso, é disponibilizar as
informações de forma que motive e facilite ao aluno o acesso e apreensão das informações
para que com elas e construa o conhecimento.
Percebemos que o modelo pedagógico influencia fortemente nesse processo e se
constitui em uma ferramenta relevante para articular teoria e prática, além de servir como guia
orientador no processo de ensino feito a distância. O modelo pedagógico, nesse caso, supre e
ameniza a distância transacional nos cursos oferecidos a distância representando o papel de
direcionador do conteúdo como se espelhasse o perfil do próprio professor no design
instrucional.
Nessa perspectiva, o modelo pedagógico expressa a concepção de aluno e o perfil do
profissional que a que o curso deseja desenvolver, além de definir as teorias de aprendizagem
que melhor permitam orientar o desenvolvimento desse perfil. Alinha-se ao planejamento
estratégico proposto pelo professor e às competências do aluno e da equipe, bem como ao
desenvolvimento dos indivíduos, na busca constante de aprendizagem significativa e de
educação continuada.
Nesse aspecto, já podemos delinear alguns dos objetivos do modelo pedagógico como,
por exemplo, o de definir os fundamentos pedagógicos que servirão como referencial para as
ações educacionais promovidas pelo curso; ainda se propõe explicitar a estrutura curricular, os
agentes da aprendizagem e seus papéis, metodologia de avaliação e as diretrizes do
planejamento educacional disponibilizado pelo design instrucional do curso on-line, mas
também se propõe a servir como documento base para constante reflexão do papel da
educação dentro da perspectiva do ensino a distância de cursos on-line.
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O modelo pedagógico expressa o perfil, a intenção, as competências e ainda orienta as
ações de todos os participantes. Primeiro porque parte do pressuposto de que o curso é
planejado, organizado e aplicado baseado nas necessidades e características do discente e
segundo porque traz em si um demonstrativo da formação, dos ideais, dos pressupostos
metodológicos, das crenças, do conhecimento, da perspectiva e da orientação pedagógica-
didática do professor enquanto professor.
É dessa forma que o modelo pedagógico disponibilizado no design instrucional de
ambiente educacional virtual tem por objetivo disponibilizar recursos criteriosamente
selecionados para o desenvolvimento intelectual e profissional de forma prática, flexível e
adequada às necessidades dos envolvidos no processo ensino aprendizagem de cursos on-line.
O modelo pedagógico disposto nesse ambiente do design instrucional também permite
acesso a uma grande gama de conteúdos e vários recursos pedagógicos-tecnológicos como,
por exemplo, recursos de vídeo, áudio, texto, simulações, testes. E, entre outros, o modelo
pedagógico também disponibiliza acesso às dicas e ferramentas virtuais de trabalho, às
orientações práticas sobre como desempenhar tarefas, leitura de artigos importantes e
atualizados, avaliação dos conhecimentos, além de oportunizar o conhecimento de
experiências dos demais alunos por meio das ferramentas de interação assíncrona e síncrona
como: fóruns, chats, diários, etc.
Por conter recursos altamente práticos, o modelo pedagógico de um ambiente
educacional virtual pode ser utilizado pelos participantes como ferramenta de suporte no
trabalho diário, assim como ambiente de realização de estudos programados.
Desta forma, consegue-se aliar aprendizagem e trabalho, conhecimento e ação
oferecendo aos participantes um completo sistema de educação e aprendizagem on-line, que
converge ensino e aprendizado via design instrucional, possibilitando o acesso integral aos
dois pilares da educação a distância: conteúdo e tecnologia.
Os modelos pedagógicos normalmente abordam um referencial teórico metodológico e
trazem fundamentos pedagógicos capazes de orientar as ações educacionais como foi dito
anteriormente. Nesse caso, eles funcionam como um plano estratégico que tem por finalidade
nortear os atos educacionais a serem aplicados.
Entretanto Behar; Passerino; Bernardi (2007, p. 3) argumentam que
Embora um modelo pedagógico possa ser embasado numa ou mais teorias de aprendizagem, de forma geral os modelos são “reinterpretações” de teorias a partir de concepções individuais dos professores que se apropriam parcial ou totalmente de tais
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construtos teóricos imbuídos num paradigma vigente. Desta forma, o modelo construído muitas vezes recebe o nome de uma teoria (piagetiana, rogeriana, etc.) ou de um paradigma (construtivista, interacionista, etc.) sem contanto, ter propriamente sua epistemologia embasada nos mesmos paradigmas ou teorias mencionados.
Mesmo assim, no design instrucional, os modelos pedagógicos são responsáveis por
definir os fundamentos pedagógicos que orientarão os métodos educacionais a serem
aplicados e demonstra pelo design instrucional a estrutura curricular, a metodologia de ensino
e de avaliação, sempre com vistas a alcançar os objetivos pretendidos.
É dessa forma, que orientar os métodos educacionais, comportar e apresentar a
estrutura curricular do curso e a metodologia de ensino e de avaliação se constitui como os
princípios básicos necessários e fundamentais do modelo pedagógico.
Nesse sentido, o modelo pedagógico agregado aos outros recursos tecnológicos do
ensino a distância, propicia a construção e a gestão do conhecimento e o desenvolvimento de
habilidades e competências necessárias, capacitando o aprendiz a transformar informação em
conhecimento e ainda aplicar e gerir esse conhecimento em outros contextos.
Diante das possibilidades que o modelo pedagógico oferece as autoras Behar;
Passerino; Bernardi (2007, p. 3) apresentam os elementos que compõe um modelo pedagógico
para o ensino a distância, quais sejam: 1- planejamento pedagógico; 2- Conteúdo/objeto de
estudo; 3- aspectos metodológicos, 4- aspectos tecnológicos.
Sendo assim, reafirmamos que o modelo pedagógico deve ser elaborado de acordo
com a formação que se deseja conceder ao aluno, com características próprias dentro do que
se entende serem os elementos mais importantes da carga educacional e conteudista a serem
repassadas. Nesse caso, o modelo pedagógico embasará todas as ações do processo ensino e
aprendizado no que se refere às tomadas de decisões ao longo de todo o processo educacional.
Os elementos que compõem um modelo pedagógico para o ensino à distância:
perspectivas e contextualização de um processo
Nessa parte do nosso estudo realizamos um embasamento teórico-prático sobre os
elementos que compõem o modelo pedagógico no contexto do ensino a distância. Buscamos
apresentar conceitos, definições e os aspectos metodológicos desses elementos cuja finalidade
ainda é oferecer subsídios aos professores para que estes possam construir seu próprio modelo
pedagógico a ser aplicado no ensino on-line. Trata-se de ferramentas didáticas fundamentais
da instrução, responsáveis pela ideal sistematização do conteúdo no ambiente virtual.
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Contudo, as autoras Behar; Passerino; Bernardi (2007, p. 3) esclarece que
Muitas vezes, percebe-se que o termo modelo pedagógico é interpretado como metodologia de ensino, que sem dúvida é um dos elementos do mesmo... Mas esta “redução” do modelo à sua parte visível ignora outros elementos que o constituem e que são fundamentais de serem explicitados para a compreensão do processo educativo, principalmente, na formação de professores.
As autoras acima enumeram em quatro os elementos que compõe um modelo
pedagógico para o ensino a distância, quais sejam: 1- planejamento pedagógico; 2-
Conteúdo/objeto de estudo; 3- aspectos metodológicos, 4- aspectos tecnológicos. Segundo
elas, esses elementos compõem a chamada arquitetura pedagógica que se constitui a parte
principal do modelo pedagógico.
Essa arquitetura seria a parte aparente da sistematização do conteúdo expresso no
design instrucional. As estratégias de aplicação dessa arquitetura pedagógica se constituem
num ato didático que aponta à articulação e ajuste de uma arquitetura para uma situação de
aprendizagem determinada (turma, curso, aula). Trata-se das instruções disponibilizadas com
intuito de direcionar e motivar o aluno a buscar pelo conhecimento.
Behar; Passerino; Bernardi (2007) apresentam a arquitetura pedagógica como os
aspectos organizacionais que dizem respeito à definição dos objetivos da aprendizagem em
termos das intenções; da organização social da classe na qual se estabelecem agrupamentos e
separações, definição de papéis, direitos e deveres de cada agente tanto o aluno quanto o
professor; da organização do tempo e do espaço considerando principalmente as questões que
o ambiente virtual propicia em termos de flexibilização.
Os modelos pedagógicos ao se constituir com uma das interfaces do design
instrucional é responsável pelo bom desenvolvimento do aprendiz, pois agrega em si aspectos
que envolvem o perfil do professor e do aluno. No que se refere ao perfil do professor, o
modelo pedagógico demonstra as concepções que o professor congrega.
Nesse caso, o sucesso depende da abordagem teórica que o professor defende, das
concepções de língua e de linguagem, das concepções de ensino e de aprendizado que o
professor desenvolveu, das concepções de espaço pedagógico, espaço geográfico e de tempo,
concepções sobre modalidades de ensino presenciais e a distância, concepções de
sistematização de conteúdo, entre outros aspectos.
Já quanto ao aluno, o modelo pedagógico traz seu perfil representado quando o curso
esclarece o seu público alvo, pois o curso é todo articulado e planejado em torno das
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características e necessidades do seu público alvo. O curso ao apresentar os objetivos a serem
alcançados também demonstra o perfil do aluno e suas possibilidades educativas e de
formação e é no modelo pedagógico apresentado pelo design instrucional que se pode
perceber todas essas características.
É justamente por toda essa possibilidade de agrupamento de informações e
possibilidades didáticas e pedagógicas que o professor-autor deve ter claras em sua mente
todas essas concepções haja vista a grande possibilidade de equivocar-se ao tentar defender
uma abordagem ou outra.
Um elemento possível que faz parte dos modelos pedagógicos emergentes da
modalidade on-line, segundo Behar; Passerino; Bernardi (2007) é a metodologia de ensino. É
na escolha desse elemento que o professor apresentará sua concepção de ensino. Nesse caso, o
professor deverá decidir por uma abordagem em que privilegia os aspectos instrucionais
empiristas, portanto dando privilégios ao papel do professor ou uma abordagem que privilegie
apenas o aluno em seus aspectos de sujeito valorizando a auto-realização e o crescimento
pessoal respaldado por a teoria humanista de Carl Rogers.
O professor pode optar também por uma abordagem que privilegia a interação
valorizando a aprendizagem cooperativa que tem como ponto em comum a máxima que os
indivíduos são agentes ativos na busca e construção do conhecimento em um contexto
significativo.
Enfim reconhecemos que a mais importante compreensão que os professores on-line
precisam é reconhecer o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias para
isso. Nessa perspectiva, uma abordagem adequada envolvendo os aspectos metodológicos e
tecnológicos são de suma importância para a eficiência do modelo pedagógico e portanto da
qualidade do curso.
Sobre tais aspectos a autoras Behar; Passerino; Bernardi (2007, p. 6) defendem que
Os aspectos metodológicos e tecnológicos tratam não somente da seleção das técnicas, procedimentos e dos recursos informáticos a serem utilizados na aula, mas também da relação, articulação e estruturação que a combinação destes elementos terão. Esta vai depender dos objetivos a serem alcançados e da ênfase dada aos conteúdos previamente estabelecidos. Logo, a ordem e as relações constituídas determinam, de maneira significativa, o modelo e as características de uma aula. Esta ordem denomina-se seqüência didática ou de atividades e, a partir da análise de diferentes seqüências, podem ser estabelecidas as características diferenciais presentes na prática educativa.
278
A seqüência didática como elemento da arquitetura acaba por se constituir como mais
um elemento do modelo pedagógico. Nossas pesquisas confluíram para a seguinte
conceituação de seqüência didática: As seqüências didáticas são um conjunto de atividades
ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa. Organizadas de acordo
com os objetivos que o professor quer alcançar para a aprendizagem de seus alunos, elas
envolvem atividades de aprendizagem e de avaliação.
Pudemos perceber sua relevância na constituição do modelo pedagógico no que se
refere ordenação do conteúdo. Numa comparação superficial, percebemos que a seqüência
didática se equivale aos organizadores prévios propostos por Ausubel (1980) que os define
como estratégias para deliberadamente manipular a estrutura cognitiva do aluno, entendida
como estrutura de conhecimento do indivíduo, a fim de facilitar a aprendizagem significativa.
Essas seqüências orientam o professor para o trabalho com os diferentes conteúdos no
que se refere à sistematização, organização e ordenação nas páginas virtuais do curso on-line.
Dessa forma, as seqüências didáticas podem e devem ser usadas em qualquer disciplina ou
conteúdo, pois auxiliam o professor a organizar o trabalho na sala de aula de forma gradual,
partindo de níveis de conhecimento que os alunos já dominam para chegar aos níveis que eles
precisam dominar.
Por isso, ao professor caberá a função de criar ordenamentos de nível de complexidade
médio, já que se elevar muito o nível de complexidade ou se apresentar seqüências muito
simples poderá causar desestímulos no aluno culminando em abandono do curso. Nesse caso,
o modelo pedagógico apresentado pelo design não deve dificultar o processo de interação,
mas estimulá-lo, melhorando a acessibilidade não dificultando o acesso às informações e
atividades.
Com o objetivo de contribuir com a orientação teórica de professores-autores de
ambientes on-line apresentamos uma sugestão de seqüência didática adaptada de pressupostos
advindos de alguns trabalhos de Behar; Passerino; Bernardi (2007) que poderá ser adequada
em qualquer situação do conteúdo e disciplina.
1. Apresentação da proposta: o professor deve apresentar a proposta da disciplina e
convidar o aluno a participar da mesma. Deve, também, demonstrar vivacidade na
suas intenções e interesse na participação do aluno;
2. Partir das características gerais e específicas do público alvo e do possível
conhecimento prévio dos alunos cursistas;
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3. Contato inicial com o conteúdo: devem ser esclarecidos os termos técnicos específicos
do conteúdo. Termos, expressões e nomenclaturas específicas sem definição ou
esclarecimento prévio, dificultam a compreensão e o acompanhamento do conteúdo
pelo aluno;
4. Produção do texto inicial introduzindo os temas e conteúdos, mais esclarecimentos
sobre as possíveis trajetórias;
5. Usar textos complementares (se possível disponível em rede ou no próprio curso) para
a ampliação do repertório sobre o conteúdo em estudo, por meio de leituras e análise
de textos do gênero.
6. Organização e sistematização do conhecimento sobre o tema: estudo detalhado de sua
situação de produção e circulação;
7. Criar e postar atividades que incentivam a produção coletiva e individual;
8. Fazer revisão e reescrita dos textos a serem postados sempre que necessário. Todas as
revisões e correções devem ser feitas antes da postagem, já que embora seja possível
fazê-las depois, essa ação aumentaria o trabalho de forma considerável e demorada.
Já em relação ao conteúdo, as autoras Behar; Passerino; Bernardi (2007) acreditam
que os aspectos de conteúdo relacionados com materiais instrucionais, objetos de
aprendizagem e outros elementos, especialmente, utilizados com a finalidade de apropriação
do conhecimento são relativos ao tipo de conteúdo que se pretende trabalhar. Estudiosos
como Zabala (1998) defendem que o conhecimento geral da aprendizagem adquire
características determinadas segundo as diferenças tipológicas de cada um dos diversos tipos
de conteúdo.
Para tanto, com o intuito de exemplificar a proposta desse autor, utilizamos alguns
exemplos de uma disciplina oferecida a distância pelo curso de Letras da Universidade
Federal local, já que ela contempla muito dos pressupostos de Zabala (1998) que defende a
criação de oportunidades de aprendizagem autônoma e colaborativa. Trata-se da disciplina
Inglês Instrumental oferecida a alunos dessa mesma universidade, especificamente aos
graduandos.
Depois de refletirmos sobre alguns elementos que compõe o modelo pedagógico como
planejamento pedagógico; aspectos metodológicos e tecnológicos, percebemos que a
disposição pedagógica do conteúdo em ambiente virtual também é fator relevante para que o
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ensino aconteça temos em Zabala (1998) um direcionamento para o ensino na modalidade
presencial, contudo, observamos a relevância desse estudo para o ensino na modalidade a
distância. Sendo assim, apresentamos alguns dos pressupostos de Zabala sob uma adaptação
feita por nós para o contexto de ensino a distância.
Perspectivas: disposição pedagógica do conteúdo em ambiente virtual
Segundo Zabala (1998) saber como se aprende permite aos professores-autores à
conclusão de que os modelos de ensino devem ser capazes de atender à diversidade dos
alunos. Numa abordagem construtivista, esse autor esclarece que para que o processo de
aprendizagem se desencadeie é necessário que diante do conteúdo e das atividades propostas
o aluno possa atualizar os esquemas de conhecimento, compará-los como o novo saber,
identificar semelhanças e diferenças e integrá-los. É estabelecendo essas relações entre o que
já fazia ou sabia e o que lhe foi ensinado é que o aluno está produzindo uma aprendizagem
significativa dos conteúdos apresentados.
Partindo, então de pressupostos construtivistas, Zabala (1998) apresenta uma
concepção da aprendizagem dos conteúdos segundo sua tipologia. É nessa perspectiva que
Zabala (1998) apresenta uma análise diferenciada dos conteúdos com suas devidas
denominações. Esse autor pondera, a princípio, que não deve haver a compartimentação dos
elementos separando-os em estruturas de conhecimento, mesmo porque o processo do
aprendizado acontece quando há uma integração desses elementos. Nesse caso, a
compartimentação apresentada por ele se constitui apenas para melhor explanação didática do
assunto, já o processo se dá de modo integrado.
Zabala (1998) defende, assim, que todo o conteúdo, por mais específico que seja,
sempre se associa a outro e, portanto, será aprendido juntamente com o outro. Considerando
esse aspecto, a estratégia de diferenciação apenas tem sentido a partir da análise da
aprendizagem e não do ensino. Sendo assim, as atividades de ensino precisam integrar ao
máximo o conteúdo para se conseguir significado à aprendizagem.
Essa integração, segundo ele, tem uma maior justificação quando os conteúdos se
referem a um mesmo objeto específico de estudo. Nesse sentido, Zabala (1998) propõe que a
aprendizagem dos conteúdos pode ser: factual, conceitual, procedimental e atitudinal. Por ora,
281
interessa-nos os conceitos como forma compreender e nos direcionar ao como montar os
modelos pedagógicos de modo a levar o aluno ao aprendizado significativo.
Segundo Zabala (1998) os conteúdos factuais são os que envolvem o conhecimento de
fatos, acontecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e singulares: idade de uma
pessoa, conquista de um território, a localização de alguma floresta, nomes, códigos. Nesse
caso, é a singularidade e o caráter descritivo e concreto define o conteúdo factual. Considera-
se que o aluno aprendeu o conteúdo quando ele consegue expressar uma lembrança mais fiel
possível de todos os elementos que a compõe e as relações pertinentes – a trama de um
romance ou um acontecimento histórico.
Ao considerar esse aspecto no ensino a distância, o professor deve lançar mão de
modos de narrativas, fatos relacionados, vídeos com comentários sobre o tema, fotos,
gravuras representativas e ao apresentar o conteúdo, o professor deve direcionar atividades de
leitura e compreensão do texto concomitante.
As mídias podem colaborar bastante para o aprendizado significativo, mas o professor
deve relacioná-las a favor da interatividade. Sempre convidando o aluno à participar da
atividade seja de leitura, seja da execução de atividades de treinamento ou avaliativas. Zabala
(1998) sugere listas agrupadas segundo idéias significativas, relações com esquemas ou
representações gráficas, associações entre o conteúdo e outros fortemente assimilados.
Em relação aos conceitos e princípios, o autor esclarece que são termos abstratos e que
conceitos são conjunto de fatos, objetos ou símbolos que têm características comuns, já os
princípios se referem às mudanças que se produzem num fato, objeto ou situação em relação a
outros fatos, objetos que descrevem relações de causa-efeito ou de correlações. São exemplos
de conceitos: densidade, impressionismo, função, etc. São exemplos de princípios: leis,
regras, conexões entre diferentes axiomas de qualquer disciplina.
Trata-se de dois tipos de conteúdos de concepção integrada, já que não é possível
aprendê-los separadamente. Sabe-se que o aluno aprendeu o conceito ou princípio quando este
é capaz de situar os fatos, objetos ou situações concretas naquele conceito que os inclui.
Segundo Zabala (1998) sempre existe a possibilidade de ampliar ou aprofundar o
conhecimento dos conceitos de modo mais significativo, já que a compreensão vai além
reprodução e não pode ser considerada acabada.
No contexto do ensino a distância on-line, podemos sugerir atividades que envolva a
curiosidade do aluno relacionando os conceitos aos fatos do cotidiano dos participantes e
282
incentivando-os a produzir e encontrar proposições nas ações apresentadas, além de
direcionar leis e princípios que regem determinadas ações.
O professor-autor pode postar vídeos com determinados acontecimentos e pedir aos
alunos para avaliarem tentando apontar os conceitos e princípios estudados, nesse caso, o
professor pode lançar mão de materiais autênticos para postagem como: recortes de jornais e
revistas, vídeos retirados dos meios de comunicação em massa como a TV, cinema, pode
utilizar diversos tipos de música: populares, temáticas, de protesto.
Já Zabala (1998) sugere atividades experimentais que favoreçam que os novos
conteúdos de aprendizagem se relacionem com os conhecimentos prévios. Devem ser
atividades que favoreçam a compreensão do conceito a fim de utilizá-lo para interpretação ou
conhecimento de situações, ou para construção de outras idéias. Acreditamos, porém, que no
contexto atual e no ambiente virtual, nossas sugestões de atividade e postagem podem
colaborar para o planejamento e montagem do modelo pedagógico compreendendo essa
concepção.
No que se refere ao conteúdo procedimental, Zabala (1998) esclarece que esse
conteúdo inclui entre outras coisas as regras, as técnicas, os métodos, as destrezas ou
habilidades, as estratégias ou procedimentos. Trata-se, segundo ele, de um conjunto de ações
ordenadas e com uma finalidade. São exemplos de conteúdos procedimentais: ler, desenhar,
observar, calcular, classificar, traduzir, inferir, etc.
Ou seja, são conjunto de ações que direcionam certos procedimentos. Esse autor
considera que é a realização das ações que leva ao aprendizado e defende, também, a
exercitação múltipla como imprescindível para o aprendizado competente. Nesse caso, ele
defende uma espécie de repetição consciente das atividades.
Outro aspecto que Zabala (1998) defende é a reflexão sobre a própria atividade, pois
essa ação permite que o sujeito tome consciência da atuação. Para melhorar o exercício, o
aluno deve refletir sobre a maneira de realizá-lo e sobre quais as condições ideais de uso dessa
ação. Segundo esse autor, é fundamental conhecer as chaves desse conteúdo para melhorar
sua ação.
Perceber a nuance do conteúdo permite ao professor atribuir importância aos
componentes teóricos dos conteúdos procedimentais a serem aprendidos, mas para que ocorra
o aprendizado significativo essas informações a serem trabalhadas devem envolver a
funcionalidade e o seu uso. Para Zabala (1998, p.46) “é preciso ter um conhecimento
283
significativo dos conteúdos conceituais associados ao conteúdo procedimental que se exercita
ou se aplica”.
A outra ação defendida por esse autor é a aplicação do que foi aprendido em contextos
diferenciados, já que a pessoa aprende mais rapidamente aquilo que for precisar para aplicar
em outro contexto. Essa ação deve ser pautada por uma série numerosa de exercícios que
devem ser aplicados em vários contextos para que a aprendizagem possa ser utilizada em
qualquer ocasião.
O curso Inglês Instrumental IngRede apresenta vários exemplos de postagem de
conteúdo para essas ações defendidas por esse autor em que a atividade faz com que o aluno
possa aplicar o que aprendeu em diversas outras situações, tais como: “Leia o primeiro
parágrafo do artigo, colocando as pausas nos lugares marcados e veja como fica mais fácil
entender (...) Caso você tenha tido alguma dificuldade em entender a posição das pausas, não
se preocupe! A prática da leitura ao longo do curso tornará a percepção desses grupos cada
vez mais fácil”.
Essa atividade demonstra que o conteúdo aprendido por meio da repetição reflexiva e
da aplicação do conhecimento em outras situações leva o aluno ao aprendizado significativo.
No caso do exemplo acima, o curso primeiramente apresenta esclarecimento sobre a
importância de se reconhecer agrupamentos de palavras no texto em língua estrangeira.
Logo após, apresenta um texto para que o aluno tente dividi-lo em agrupamentos, e
como atividade apresenta um texto em inglês com os agrupamentos já feitos e marcados e
pede ao aluno que tente lê-lo fazendo as devidas pausas.
Dessa forma, incentiva o aluno a praticar essa técnica sempre que se defrontar com um
texto em língua estrangeira, esclarecendo que é com a prática que o aluno conseguirá êxito.
Notamos que apenas o curso de Inglês Instrumental IngRede apresenta atividades seguindo
tão claramente os princípios defendidos por Zabala (1998).
Ainda em relação à disposição pedagógica do conteúdo atitudinal, esse autor esclarece
que essa ação engloba uma série de conteúdos que por sua vez pode agrupar valores, atitudes
e normas. Esse autor pondera que como os conteúdos atitudinais apresentam características
bastante diferenciadas, deve-se atentar que essas características da aprendizagem desses
conteúdos estão diretamente relacionadas com os componentes cognitivos, afetivos ou
conduturais que cada um deles contém.
284
Segundo Zabala (1998) os processos vinculados à compreensão e elaboração dos
conceitos associados ao valor, somados à reflexão e tomada de posição que comporta,
envolvem um processo marcado pela necessidade de elaborações complexas de caráter
pessoal, mas sempre estabelecendo uma relação afetiva condicionada pelas necessidades
pessoais, pelo ambiente, pelo contexto e ascendência das pessoas promovendo sempre a
reflexão e a identificação com os valores que surgem por experiências promovidas a partir de
modelos advindos dos grupos ou das pessoas vinculadas a nós.
Nesse caso, o princípio do conteúdo atitudinal pode ser verificado em nos três cursos
analisados. No entanto selecionamos um exemplo do Curso de Inglês Instrumental IngRede
em que a afetividade é valorizada, por meio de um diálogo entre o tutor e o aluno
demonstrando certa proximidade e preocupação, estimulando o valor do compromisso e da
responsabilidade e sugerindo a técnica da exercitação múltipla e reflexiva:
“Olá pessoal! Vale lembrar que a Unidade I está programada para ser feita até amanhã (24/10). A partir do domingo 25/10, já se inicia a Unidade II, no qual vocês terão mais 01 semana para realizá-la. Ressaltamos que vocês podem fazer todas essas atividades de uma vez só e quantas vezes vocês quiserem, mas aconselhamos que os exercícios não se acumulem”. “Caros alunos, A Bússola é uma oportunidade de vocês avaliarem e revisarem o que aprenderam durante o estudo independente das lições feito através do CD da disciplina (...)Você verá seus erros e acertos após clicar nesse botão. Aproveite esse momento para rever o assunto e avaliar o seu desempenho”. (Exemplos da página do Curso de Inglês Instrumental – IngRede – Atividade da Bússola I).
Nessa parte de nosso estudo, pudemos observar que o conteúdo se difere de disciplina
para disciplina, de área para área e portanto, de curso para curso. Sendo assim, Zabala (1998)
defende que o que difere é apenas o conteúdo, mas que certas formas de ensinar e de aprender
são sempre as mesmas, podendo ser divididos em ações seguindo certa tipologia e as
intenções educativas.
Nesse caso, esse autor sugere que ao invés de se ensinar por matéria o trabalho deve
ser feito segundo a tipologia conceitual, procedimental e atitudinal, pelo fato de que os
conteúdos serem conceitos, fatos, métodos, procedimentos e/ou atitudes e não uma disciplina
em si.
Ao analisar os pressupostos de Zabala (1998) em relação ao elemento conteúdo,
percebemos que os cursos on-line têm seguido muitos de seus princípios agrupando em si,
também todos esses princípios. De modo geral, o princípio primeiro do construtivismo tem
sido bastante aplicado em todas as instâncias dos cursos analisados que não lança
285
simplesmente o conteúdo em suas páginas virtuais como se fosse um livro didático, mas os
lançam em forma de conceitos, procedimentos e atitudes conforme postulado por Zabala
(1998).
Nesse aspecto, e de modo geral, pudemos perceber até aqui que os estudos em
ambiente virtuais exercem hoje um papel de grande importância no processo de
desenvolvimento intelectual e social no Brasil, depois de ter percorrido diversas etapas de
crescimento e evolução ao longo de anos de história no país. Mais do que nunca, o trabalho
do pesquisador de ambientes virtuais é fundamental para que os atuais desafios deste setor
sejam conhecidos por todos os segmentos da sociedade.
Depois de apresentarmos os pressupostos de Zabala (1998) para um elemento bastante
relevante para a arquitetura do modelo pedagógico que é o conteúdo e suas formas de
sistematização, a seguir abordaremos o ensino mediado pelas tecnologias, o contexto de uso
pedagógico de ferramentas e o processo de interação.
O Ensino e os ambientes virtuais: o uso pedagógico da interação à distância
No contexto do ensino de línguas a distância no âmbito de ambientes virtuais, optamos
por demonstrar discussões a respeito dos recursos técnicos e o uso pedagógico da interação a
distância apresentadas por Braga (2004) pela relevância desses assuntos para o
desenvolvimento de nossa pesquisa.
Nessa obra, Braga (2004), em seu artigo, discorre a respeito das vantagens
pedagógicas do ensino mediado por computador e sobre o uso pedagógico da interação a
distância mediada por computador.
Segundo essa autora o uso do computador como ferramenta de ensino oferece além da
agilidade da comunicação a distância traz novas maneiras de organizar e veicular informação
no ambiente virtual. Outra vantagem do uso desses recursos técnicos é a possibilidade de
facilitar a construção do conhecimento favorecendo a aprendizagem independente, além de
desenvolver o pensamento reflexivo.
No que se refere ao uso pedagógico da interação a distância, Braga (2004) esclarece
que a participação ativa dos alunos na construção compartilhada do conhecimento tende a se
expandir favorecidos pelo contexto a distância numa situação de ensino e aprendizagem via
rede. Assim, deixa para trás todo um contexto de postura autoritária e centralizada do
professor e/ou da instituição da situação presencial.
286
Braga (2004) acredita que mesmo havendo uma distância física entre professor e
aluno, os avanços tecnológicos viabilizam a simultaneidade nas trocas interativas em que “no
espaço da sala de aula virtual todos podem interagir com todos indiscriminadamente. Os
textos escritos pelos alunos aparecem linearmente na tela, cabendo ao leitor/interlocutor a
opção de ler, ou não ou mesmo responder ou não, às diferentes emissões (BRAGA, 2004, p.
161).
Essa situação apresentada por Braga (2004) demonstra que muitas das dificuldades de
interação apresentadas no contexto presencial como competição pelo turno de fala,
obrigatoriedade de silêncio, timidez, limites espaciais como a disposição das carteiras que
limitam a comunicação restringindo-a apenas aos colegas que estejam mais próximos,
imposições institucionais, do professor e do tempo, todos esses fatores são superados quando
em ambiente virtual.
Nesse contexto, “o aluno não sofre a pressão de tempo imposta pela situação face a
face e pode interagir como menor sanção social, já que a intermediação da tela pode dar a
sensação de um maior distanciamento, um fator que pode diminuir a inibição” (BRAGA,
2004, p. 161).
Outro fator relevante exposto por essa autora é que a tela do computador funciona
como neutralizadora das reações sociais que presencialmente transmitiriam censura e
desagrado tanto por parte do aluno como por parte do professor. Trata-se da comunicação não
verbal como expressões, olhares, posturas de corpo, tom de voz entre outras atitudes que
demonstrariam repressão ou agressividade que num contexto virtual seriam neutralizados,
oferecendo mais privacidade e liberdade para os envolvidos no processo a distância.
Braga (2004) defende que esse conjunto de fatores que viabiliza o ensino e o
aprendizado a distância explica por que as interações pedagógicas via rede têm sido bastante
valorizadas como uma alternativa que favorece a participação ativa do aluno.
Desse modo, essa autora elege como fonte de interação pedagógica mais valorizada
algumas ferramentas como chat, fórum de discussão ou e-mail. Segundo Braga (2004, p.161)
“essa participação amplia as possibilidades de construção de conhecimento, já que o aluno
passa a contar com um apoio pedagógico diversificado, oferecido não só pelo professor, mas
também pelos demais colegas da classe”.
287
Diante disso, em consonância com os pressupostos dessa autora, percebemos que
todos esses aspectos mediados pelas novas tecnologias favorecem amplamente as mudanças
de postura e metodologias tanto de ensino quanto de aprendizado.
Como nós, essa autora acredita que no contexto on-line os papeis se definem
favorecidos pela mudança de postura dos envolvidos no contexto da educação. Na interação
pedagógica, o professor assume a posição de orientador do processo de aprendizagem e o
aluno a de colaborador e co-construtor do seu próprio conhecimento.
Em nosso trabalho, além das diversas formas de interação, investigamos a mudança de
postura nos papeis de alunos e professores favorecida pelo contexto on-line de educação, além
dos reflexos dessa mudança no uso pedagógico das ferramentas disponíveis no contexto
virtual de ensino.
Em relação às interações virtuais encontramos em Marquesi, Silva Elias e Cabral
(2008) cujo trabalho discorre a respeito da produção de material para cursos a distância.
Assim, esses autores discorrem sobre estratégias textuais para a ampliação da informação e
para a construção de relações.
Segundo essas autoras, essas estratégias textuais orientam a construção dos sentidos,
indicando um percurso de leitura que funciona como estratégia argumentativa. Ela ainda
discute as características da linguagem utilizada em ambientes virtuais, além das
possibilidades que a tecnologia oferece para a organização textual dos conteúdos a serem
veiculados em um curso a distância, oferecido na modalidade on-line.
Marquesi, Silva Elias e Cabral (2008) se fundamentam na Lingüística Textual e nos
estudos sobre a linguagem na internet e mostra como um curso se organiza, como acontece a
articulação dos conteúdos teóricos e como os elementos hipertextuais participam da
construção da coerência do curso e traduzem uma orientação argumentativa.
Nesse caso, a abordagem dessa autora vai ao encontro de nossa proposta de trabalho
no que se refere às análises, avaliações e elaboração do curso como desdobramento de nossa
pesquisa sobre o processo ensino-apredizagem em curso oferecidos na modalidade on-line.
Lembrando sempre que a existência das inúmeras abordagens que coexistem
simultaneamente, nos leva a considerar inúmeras possibilidades de usos das tecnologias
também coexistindo simultaneamente, ora se integrando ora se completando.
Enfim, o processo de ensino e aprendizagem deve centrar-se na análise e na
interpretação de situações, na busca de estratégias de solução, na análise e comparação entre
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diversas estratégias e abordagens, na discussão de diferentes pontos de vista e de diferentes
métodos de solução. Até aqui, já pudemos inferir que não se pode considerar uma única
abordagem em relação ao modo adequado de transmitir/construir conhecimento na modalidade
de ensino a distância.
Torna-se necessário vislumbrar a pertinência de todas as situações, pois todas as
tecnologias estão simultaneamente presentes em diferentes níveis e graus de desenvolvimento,
no mesmo espaço geográfico. Cada situação de ensino requer uma aplicação distinta e
específica de estratégias. Nesse contexto multicultural surge a necessidade de cogitar sempre
novas possibilidades de ensino para se conseguir qualidade do aprendizado.
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Porto Alegre: Artmed. 1998. 224 p.