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1 DIÁLOGO DIDÁTICO DE INGLÊS À LUZ DA PRAGMÁTICA 1 Giselda dos santos Costa CEFET-PI – UNED-Floriano -2004 [email protected] Resumo Partindo dos pressupostos teóricos das Teorias dos Atos de Fala da Abordagem Comunicativa, este trabalho objetiva apresentar e discutir a ocorrência em diálogos na língua inglesa. Os traços pragmáticos encontrados em nosso corpus 2 de análise que podem ser de efetiva utilização para os professores de Inglês no Brasil como fundamento para sua comunicação em sala de aula. Para isso, foi utilizado um corpus constituído de extratos de diálogos retirados de 6 coleções de series didáticas nacionais, destinadas alunos de terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental. Com base na dissertação teórica e na analise do corpus, concluiu-se que (1) ocorreu um aumento dos traços pragmáticos nos diálogos, objetivando satisfazer ao critério de potencial comunicativo e (2) uma adequação ao papel de modelo conversacional. Palavras-chaves: Atos de fala, pragmática, livro didático. ANÁLISE DOS DIÁLOGOS DIDÁTICOS SOB UMA ÓTICA PRAGMÁTICA O diálogo é uma das amostras lingüísticas mais significativas de apresentação do discurso falado durante a aquisição de uma língua estrangeira. E o que temos de concreto no trabalho comunicativo em sala de aula é ensinar o aluno a se comunicar na língua estrangeira através dos diálogos das lições. Segundo Nascimento (2000), o diálogo didático se revela um tópico ainda pouco estudado sob uma ótica pragmática. Ele abrange a representação da linguagem falada natural e é um dos elos do processo de ensino/aprendizagem entre o falante não-nativo, o aprendiz e a língua-alvo. Para a mesma estudiosa (2000), o diálogo já é desenvolvido como uma conversa menos padronizada, por exemplo, tipificada na forma de conversas telefônicas, conversas em restaurantes e pedidos de informação. O diálogo didático constitui-se numa das formas pelas quais o aprendiz pode desenvolver suas habilidades comunicativas encenando diversas situações do cotidiano da língua alvo. Na medida em que busca uma 1 O artigo a seguir é a apresentação condensada das conclusões da analise do terceiro capitulo sobre “O livro didático de inglês: usos de intensificadores em diálogos”, tema da dissertação de mestrado da autora acima. Apresentada e aprovada em janeiro de 2002 na Universidade Federal de Recife-UFPE. A pesquisa teve a orientação do Prof. Dr. Francisco Gomes de Matos. 2 Coleção 1: Compact Dynamic English Antonio de Siqueira e Silva – Rafael Bertolin – livros - 1.2 Coleção 2: ACE Eduardo Amos – Elisabeth Preescher – livros –1.2.3.4 Coleção 3: New English Point Eliana - Maria Clara – Neusa – livros - 1.2.3 4 Coleção 4: Blow Up Dirce Guedes de Azevedo – Ayrton de Azevedo Gomes – livros -1.2.3.4 Coleção 5: Hello Eliete Canesi Morino – Rita Brugin de Faria – livros - 1.2.3.4 Coleção 6: Our Way: English Junior Series Eduardo Amos – Ernesto Pasqualin – Elisabeth Martins- livros – 1.2.3.4 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

DIÁLOGO DIDÁTICO DE INGLÊS À LUZ DA PRAGMÁTICA1€¦ · diálogos para que simule um ambiente real de fala. ... “Os diálogos são o mais eficiente meio de apresentação da

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DIAacuteLOGO DIDAacuteTICO DE INGLEcircS Agrave LUZ DA PRAGMAacuteTICA1

Giselda dos santos CostaCEFET-PI ndash UNED-Floriano -2004

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ResumoPartindo dos pressupostos teoacutericos das Teorias dos Atos de Fala da Abordagem Comunicativaeste trabalho objetiva apresentar e discutir a ocorrecircncia em diaacutelogos na liacutengua inglesa Os traccedilospragmaacuteticos encontrados em nosso corpus2 de anaacutelise que podem ser de efetiva utilizaccedilatildeo paraos professores de Inglecircs no Brasil como fundamento para sua comunicaccedilatildeo em sala de aula Paraisso foi utilizado um corpus constituiacutedo de extratos de diaacutelogos retirados de 6 coleccedilotildees de seriesdidaacuteticas nacionais destinadas alunos de terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental Combase na dissertaccedilatildeo teoacuterica e na analise do corpus concluiu-se que (1) ocorreu um aumento dostraccedilos pragmaacuteticos nos diaacutelogos objetivando satisfazer ao criteacuterio de potencial comunicativo e (2)uma adequaccedilatildeo ao papel de modelo conversacional

Palavras-chaves Atos de fala pragmaacutetica livro didaacutetico

ANAacuteLISE DOS DIAacuteLOGOS DIDAacuteTICOS SOB UMA OacuteTICA PRAGMAacuteTICA

O diaacutelogo eacute uma das amostras linguumliacutesticas mais significativas de apresentaccedilatildeo dodiscurso falado durante a aquisiccedilatildeo de uma liacutengua estrangeira E o que temos deconcreto no trabalho comunicativo em sala de aula eacute ensinar o aluno a se comunicar naliacutengua estrangeira atraveacutes dos diaacutelogos das liccedilotildees

Segundo Nascimento (2000) o diaacutelogo didaacutetico se revela um toacutepico ainda poucoestudado sob uma oacutetica pragmaacutetica Ele abrange a representaccedilatildeo da linguagem faladanatural e eacute um dos elos do processo de ensinoaprendizagem entre o falante natildeo-nativo oaprendiz e a liacutengua-alvo

Para a mesma estudiosa (2000) o diaacutelogo jaacute eacute desenvolvido como uma conversamenos padronizada por exemplo tipificada na forma de conversas telefocircnicas conversasem restaurantes e pedidos de informaccedilatildeo O diaacutelogo didaacutetico constitui-se numa dasformas pelas quais o aprendiz pode desenvolver suas habilidades comunicativasencenando diversas situaccedilotildees do cotidiano da liacutengua alvo Na medida em que busca uma

1 O artigo a seguir eacute a apresentaccedilatildeo condensada das conclusotildees da analise do terceiro capitulo sobre ldquoO livro didaacuteticode inglecircs usos de intensificadores em diaacutelogosrdquo tema da dissertaccedilatildeo de mestrado da autora acima Apresentada eaprovada em janeiro de 2002 na Universidade Federal de Recife-UFPE A pesquisa teve a orientaccedilatildeo do Prof DrFrancisco Gomes de Matos

2 Coleccedilatildeo 1 Compact Dynamic EnglishAntonio de Siqueira e Silva ndash Rafael Bertolin ndash livros - 12Coleccedilatildeo 2 ACEEduardo Amos ndash Elisabeth Preescher ndash livros ndash1234Coleccedilatildeo 3 New English PointEliana - Maria Clara ndash Neusa ndash livros - 123 4Coleccedilatildeo 4 Blow UpDirce Guedes de Azevedo ndash Ayrton de Azevedo Gomes ndash livros -1234Coleccedilatildeo 5 HelloEliete Canesi Morino ndash Rita Brugin de Faria ndash livros - 1234Coleccedilatildeo 6 Our Way English Junior SeriesEduardo Amos ndash Ernesto Pasqualin ndash Elisabeth Martins- livros ndash 1234

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aproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea a liacutengua alvo torna-se o principal veiacuteculo decomunicaccedilatildeo em sala de aula Por isso busca-se uma maior autenticidade possiacutevel nosdiaacutelogos para que simule um ambiente real de fala Daiacute a crescente importacircncia de obrasque ajudam professores natildeo-nativos a perceberem aspectos do inglecircs conversacionalcom base em corpora Veja-se por exemplo Carter McCarthy (1997)

Dentro dessa nova realidade a liacutengua estrangeira falada passa a ser examinada edescrita O foco de atenccedilatildeo transfere-se da forma para a comunicaccedilatildeo e para o discurso -a linguagem no seu uso contextualizado Isso influencia o processo de aquisiccedilatildeo deconteuacutedos num enfoque da liacutengua falada e que contempla alguns dos gecircneros dodiscurso oral

Segundo Paiva (2000) as atividades de compreensatildeo oral devem ser vinculadas agraverealidade cotidiana dos alunos ou seja as tarefas e o conteuacutedo dos exerciacutecios devemrefletir o tipo de uso da linguagem que os alunos utilizam no seu dia-a-dia na liacutenguamaterna Eis uma amostra de como eacute apresentado o gecircnero diaacutelogo no manual doprofessor das coleccedilotildees de nuacutemero 1 e 5 que compotildeem nosso corpus de anaacutelise

Nesses livros os autores justificam que cada tipo de diaacutelogo tem como finalidaderepresentar a fala do cotidiano da liacutengua alvo tencionando reproduzir funccedilotildees da liacutenguacom o propoacutesito comunicativo

Para Campos (2000) saber comunicar significa ser capaz de produzir enunciadoslinguumliacutesticos de acordo com a intenccedilatildeo de comunicaccedilatildeo (pedir permissatildeo por exemplo) econforme a situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo (status escala social do interlocutor etc) SegundoAndrade et al (1990) a forma de situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo eacute aquela de uma conversaccedilatildeodialogada entre dois interlocutores um diante do outro E essa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeoou seja essa situaccedilatildeo dialogada segundo esses linguumliacutesticos eacute constituiacuteda de setecomponentes

1 Os parceiros da troca verbal o locutor (enunciador) e a alocutado(destinataacuterio)

2 As competiccedilotildees propriamente linguumliacutesticas (coacutedigos) e para-linguumliacutesticasutilizadas pelos dois parceiros

3 A enunciaccedilatildeo o ato que consiste em produzir um enunciado emcircunstacircncias determinadas

4 O enunciado que eacute o produto propriamente linguumliacutestico do ato deenunciaccedilatildeo

ldquo() Os textos abordam assuntos os mais variados e se relacionam com avivecircncia dos estudantesrdquo

Amostra 1 ndash Fonte Manual do Professor livro 12

ldquoOs diaacutelogos satildeo o mais eficiente meio de apresentaccedilatildeo da liacutengua faladaestabelecendo situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo nas quais o idioma eacute usado Eles satildeodesenvolvidos com a utilizaccedilatildeo de temas proacuteximos agrave realidade dosadolescentes ()rdquo

Amostra 2 ndash Fonte Manual do professor livro 52

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5 O objetivo da atividade enunciativa os objetivos comunicativos que oenunciador inscreve no enunciado ( informar questionar) e que fazem de suaenunciaccedilatildeo um ato de linguagem ( ato ilocutoacuterio)

6 O universo de discurso que agrupa os conhecimentos que se supotildeemsejam compartilhados pelos parceiros da troca verbal

7 O contexto imediato da enunciaccedilatildeo que assegura a sua localizaccedilatildeoespaccedilo-temporal mas que compreende tambeacutem a informaccedilatildeo fornecida pela situaccedilatildeo epelo contexto que assegura a transmissatildeo do enunciado

Segundo Marcuschi (2000) essa visatildeo da liacutengua em funcionamento diretamenteligada a contextos situacionais eacute uma ideacuteia-chave que surge no contexto da Teoria dosAtos de Fala e numa perspectiva explicativa das accedilotildees intencionais com a liacutengua

No uso da liacutengua natildeo se tem apenas ato de dizer mas atos de fazer Portanto alinguagem natildeo deve ser examinada em abstrato mas sempre em relaccedilatildeo a uma situaccedilatildeo(real ou imaginaacuteria mas possiacutevel) em que faz sentido ou natildeo usar determinados atos defala Vejamos estas amostras transcritas e analisadas Podemos verificar a existecircncia deinteresse de alguns autores em contextualizar seus diaacutelogos

Outra boa soluccedilatildeo de contextualizaccedilatildeo da coleccedilatildeo 5livro 1105 eacute a situaccedilatildeo para oensino do presente contiacutenuo Neste diaacutelogo (amostra 6) uma pessoa telefona para outrae pergunta o que estaacute fazendo O texto desta forma adquire coerecircncia pois osinterlocutores natildeo podem se ver o que tornam apropriadas as perguntas e respostas

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Constatamos tambeacutem um grande nuacutemero do gecircnero estoacuterias em quadrinhos(exemplo acima) nas coleccedilotildees (134e 5) oferecendo uma melhor compreensatildeo econtextualizaccedilatildeo no que se referem a imagem e texto As noccedilotildees de figura e fundosegundo Hopper (1979) se aplicam aqui eacute no ldquofundordquo (ou background) que o leitor podeperceber as opiniotildees os sentimentos as atitudes dos participantes diante de umacontecimento A ldquofigurardquo (foreground) projeta o acontecimento em si Esta possibilidadeno tratamento temaacutetico soacute pode ser realizada com a inserccedilatildeo do diaacutelogo na estoacuteria emquadrinho dessa forma muitas das reaccedilotildees dos personagens podem ser desvendadaspara o leitor em quadro agrave parte

Outro meacuterito tambeacutem observado nesse mesmo livro pode ser atribuiacutedo agravesilustraccedilotildees que ajudam a contextualizar e tornar as atividades menos monoacutetonas Assimexerciacutecios de YesNo questions satildeo feitos atraveacutes de desenhos

Nem todos os materiais didaacuteticos poreacutem lidam com os diaacutelogos descritos acimaPodemos encontrar diaacutelogos nos quais inexistem contexto mais proacuteximo (local tempo) efatos natildeo linguumliacutesticos (status idade relaccedilotildees de parentesco dos participantesdescaracterizaccedilatildeo dos participantes ausecircncia de motivos claros para sua ocorrecircncia)

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No exemplo acima natildeo haacute contexto social e nem os participantes da interaccedilatildeo Mascomo jaacute foi dito a linguagem depende de um contexto socialmente determinado para nospermitir ascender ao significado dos enunciados

No entanto o significado eacute transmitido natildeo apenas atraveacutes da linguagem verbalmas tambeacutem atraveacutes da entonaccedilatildeo que eacute explorada para identificar o estado de acircnimodos personagens E para enfatizar a entonaccedilatildeo os livros que compotildeem nosso corpusutilizam recursos como caricaturas negritos e principalmente balotildees Portanto esterecurso graacutefico em forma de balotildees auxilia a suprir formas verbais Haacute uma variedade detipos de balotildees indicando pensamentos surpresa gritos espantos Exemplos

Todos os recursos graacuteficos visuais utilizados na composiccedilatildeo de um diaacutelogo seconstituem numa matriz rica de informaccedilotildees soacutecio-pragmaacuteticas que podem dirigir ainterpretaccedilatildeo das falas Os recursos graacuteficos satildeo usados na maioria das vezes para darsuporte agrave compreensatildeo dos diaacutelogos caracterizados pelo uso das imagens Observamostambeacutem que o tipo de letra (maiuacutescula e de formato grande) faz parte desta estrateacutegiausada nos livros didaacuteticos para enfatizar emoccedilotildees dos personagens dando significadoaos seus enunciados Exemplifiquemos

Tudo isso demonstra que a exploraccedilatildeo dos recursos visuais serve para facilitar oentendimento dos diaacutelogos e para imitar a realidade Imitando a realidade em conviacuteviosocial os personagens utilizam a liacutengua como meio de comunicaccedilatildeo observando a

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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aproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea a liacutengua alvo torna-se o principal veiacuteculo decomunicaccedilatildeo em sala de aula Por isso busca-se uma maior autenticidade possiacutevel nosdiaacutelogos para que simule um ambiente real de fala Daiacute a crescente importacircncia de obrasque ajudam professores natildeo-nativos a perceberem aspectos do inglecircs conversacionalcom base em corpora Veja-se por exemplo Carter McCarthy (1997)

Dentro dessa nova realidade a liacutengua estrangeira falada passa a ser examinada edescrita O foco de atenccedilatildeo transfere-se da forma para a comunicaccedilatildeo e para o discurso -a linguagem no seu uso contextualizado Isso influencia o processo de aquisiccedilatildeo deconteuacutedos num enfoque da liacutengua falada e que contempla alguns dos gecircneros dodiscurso oral

Segundo Paiva (2000) as atividades de compreensatildeo oral devem ser vinculadas agraverealidade cotidiana dos alunos ou seja as tarefas e o conteuacutedo dos exerciacutecios devemrefletir o tipo de uso da linguagem que os alunos utilizam no seu dia-a-dia na liacutenguamaterna Eis uma amostra de como eacute apresentado o gecircnero diaacutelogo no manual doprofessor das coleccedilotildees de nuacutemero 1 e 5 que compotildeem nosso corpus de anaacutelise

Nesses livros os autores justificam que cada tipo de diaacutelogo tem como finalidaderepresentar a fala do cotidiano da liacutengua alvo tencionando reproduzir funccedilotildees da liacutenguacom o propoacutesito comunicativo

Para Campos (2000) saber comunicar significa ser capaz de produzir enunciadoslinguumliacutesticos de acordo com a intenccedilatildeo de comunicaccedilatildeo (pedir permissatildeo por exemplo) econforme a situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo (status escala social do interlocutor etc) SegundoAndrade et al (1990) a forma de situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo eacute aquela de uma conversaccedilatildeodialogada entre dois interlocutores um diante do outro E essa situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeoou seja essa situaccedilatildeo dialogada segundo esses linguumliacutesticos eacute constituiacuteda de setecomponentes

1 Os parceiros da troca verbal o locutor (enunciador) e a alocutado(destinataacuterio)

2 As competiccedilotildees propriamente linguumliacutesticas (coacutedigos) e para-linguumliacutesticasutilizadas pelos dois parceiros

3 A enunciaccedilatildeo o ato que consiste em produzir um enunciado emcircunstacircncias determinadas

4 O enunciado que eacute o produto propriamente linguumliacutestico do ato deenunciaccedilatildeo

ldquo() Os textos abordam assuntos os mais variados e se relacionam com avivecircncia dos estudantesrdquo

Amostra 1 ndash Fonte Manual do Professor livro 12

ldquoOs diaacutelogos satildeo o mais eficiente meio de apresentaccedilatildeo da liacutengua faladaestabelecendo situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo nas quais o idioma eacute usado Eles satildeodesenvolvidos com a utilizaccedilatildeo de temas proacuteximos agrave realidade dosadolescentes ()rdquo

Amostra 2 ndash Fonte Manual do professor livro 52

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5 O objetivo da atividade enunciativa os objetivos comunicativos que oenunciador inscreve no enunciado ( informar questionar) e que fazem de suaenunciaccedilatildeo um ato de linguagem ( ato ilocutoacuterio)

6 O universo de discurso que agrupa os conhecimentos que se supotildeemsejam compartilhados pelos parceiros da troca verbal

7 O contexto imediato da enunciaccedilatildeo que assegura a sua localizaccedilatildeoespaccedilo-temporal mas que compreende tambeacutem a informaccedilatildeo fornecida pela situaccedilatildeo epelo contexto que assegura a transmissatildeo do enunciado

Segundo Marcuschi (2000) essa visatildeo da liacutengua em funcionamento diretamenteligada a contextos situacionais eacute uma ideacuteia-chave que surge no contexto da Teoria dosAtos de Fala e numa perspectiva explicativa das accedilotildees intencionais com a liacutengua

No uso da liacutengua natildeo se tem apenas ato de dizer mas atos de fazer Portanto alinguagem natildeo deve ser examinada em abstrato mas sempre em relaccedilatildeo a uma situaccedilatildeo(real ou imaginaacuteria mas possiacutevel) em que faz sentido ou natildeo usar determinados atos defala Vejamos estas amostras transcritas e analisadas Podemos verificar a existecircncia deinteresse de alguns autores em contextualizar seus diaacutelogos

Outra boa soluccedilatildeo de contextualizaccedilatildeo da coleccedilatildeo 5livro 1105 eacute a situaccedilatildeo para oensino do presente contiacutenuo Neste diaacutelogo (amostra 6) uma pessoa telefona para outrae pergunta o que estaacute fazendo O texto desta forma adquire coerecircncia pois osinterlocutores natildeo podem se ver o que tornam apropriadas as perguntas e respostas

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Constatamos tambeacutem um grande nuacutemero do gecircnero estoacuterias em quadrinhos(exemplo acima) nas coleccedilotildees (134e 5) oferecendo uma melhor compreensatildeo econtextualizaccedilatildeo no que se referem a imagem e texto As noccedilotildees de figura e fundosegundo Hopper (1979) se aplicam aqui eacute no ldquofundordquo (ou background) que o leitor podeperceber as opiniotildees os sentimentos as atitudes dos participantes diante de umacontecimento A ldquofigurardquo (foreground) projeta o acontecimento em si Esta possibilidadeno tratamento temaacutetico soacute pode ser realizada com a inserccedilatildeo do diaacutelogo na estoacuteria emquadrinho dessa forma muitas das reaccedilotildees dos personagens podem ser desvendadaspara o leitor em quadro agrave parte

Outro meacuterito tambeacutem observado nesse mesmo livro pode ser atribuiacutedo agravesilustraccedilotildees que ajudam a contextualizar e tornar as atividades menos monoacutetonas Assimexerciacutecios de YesNo questions satildeo feitos atraveacutes de desenhos

Nem todos os materiais didaacuteticos poreacutem lidam com os diaacutelogos descritos acimaPodemos encontrar diaacutelogos nos quais inexistem contexto mais proacuteximo (local tempo) efatos natildeo linguumliacutesticos (status idade relaccedilotildees de parentesco dos participantesdescaracterizaccedilatildeo dos participantes ausecircncia de motivos claros para sua ocorrecircncia)

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No exemplo acima natildeo haacute contexto social e nem os participantes da interaccedilatildeo Mascomo jaacute foi dito a linguagem depende de um contexto socialmente determinado para nospermitir ascender ao significado dos enunciados

No entanto o significado eacute transmitido natildeo apenas atraveacutes da linguagem verbalmas tambeacutem atraveacutes da entonaccedilatildeo que eacute explorada para identificar o estado de acircnimodos personagens E para enfatizar a entonaccedilatildeo os livros que compotildeem nosso corpusutilizam recursos como caricaturas negritos e principalmente balotildees Portanto esterecurso graacutefico em forma de balotildees auxilia a suprir formas verbais Haacute uma variedade detipos de balotildees indicando pensamentos surpresa gritos espantos Exemplos

Todos os recursos graacuteficos visuais utilizados na composiccedilatildeo de um diaacutelogo seconstituem numa matriz rica de informaccedilotildees soacutecio-pragmaacuteticas que podem dirigir ainterpretaccedilatildeo das falas Os recursos graacuteficos satildeo usados na maioria das vezes para darsuporte agrave compreensatildeo dos diaacutelogos caracterizados pelo uso das imagens Observamostambeacutem que o tipo de letra (maiuacutescula e de formato grande) faz parte desta estrateacutegiausada nos livros didaacuteticos para enfatizar emoccedilotildees dos personagens dando significadoaos seus enunciados Exemplifiquemos

Tudo isso demonstra que a exploraccedilatildeo dos recursos visuais serve para facilitar oentendimento dos diaacutelogos e para imitar a realidade Imitando a realidade em conviacuteviosocial os personagens utilizam a liacutengua como meio de comunicaccedilatildeo observando a

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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5 O objetivo da atividade enunciativa os objetivos comunicativos que oenunciador inscreve no enunciado ( informar questionar) e que fazem de suaenunciaccedilatildeo um ato de linguagem ( ato ilocutoacuterio)

6 O universo de discurso que agrupa os conhecimentos que se supotildeemsejam compartilhados pelos parceiros da troca verbal

7 O contexto imediato da enunciaccedilatildeo que assegura a sua localizaccedilatildeoespaccedilo-temporal mas que compreende tambeacutem a informaccedilatildeo fornecida pela situaccedilatildeo epelo contexto que assegura a transmissatildeo do enunciado

Segundo Marcuschi (2000) essa visatildeo da liacutengua em funcionamento diretamenteligada a contextos situacionais eacute uma ideacuteia-chave que surge no contexto da Teoria dosAtos de Fala e numa perspectiva explicativa das accedilotildees intencionais com a liacutengua

No uso da liacutengua natildeo se tem apenas ato de dizer mas atos de fazer Portanto alinguagem natildeo deve ser examinada em abstrato mas sempre em relaccedilatildeo a uma situaccedilatildeo(real ou imaginaacuteria mas possiacutevel) em que faz sentido ou natildeo usar determinados atos defala Vejamos estas amostras transcritas e analisadas Podemos verificar a existecircncia deinteresse de alguns autores em contextualizar seus diaacutelogos

Outra boa soluccedilatildeo de contextualizaccedilatildeo da coleccedilatildeo 5livro 1105 eacute a situaccedilatildeo para oensino do presente contiacutenuo Neste diaacutelogo (amostra 6) uma pessoa telefona para outrae pergunta o que estaacute fazendo O texto desta forma adquire coerecircncia pois osinterlocutores natildeo podem se ver o que tornam apropriadas as perguntas e respostas

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Constatamos tambeacutem um grande nuacutemero do gecircnero estoacuterias em quadrinhos(exemplo acima) nas coleccedilotildees (134e 5) oferecendo uma melhor compreensatildeo econtextualizaccedilatildeo no que se referem a imagem e texto As noccedilotildees de figura e fundosegundo Hopper (1979) se aplicam aqui eacute no ldquofundordquo (ou background) que o leitor podeperceber as opiniotildees os sentimentos as atitudes dos participantes diante de umacontecimento A ldquofigurardquo (foreground) projeta o acontecimento em si Esta possibilidadeno tratamento temaacutetico soacute pode ser realizada com a inserccedilatildeo do diaacutelogo na estoacuteria emquadrinho dessa forma muitas das reaccedilotildees dos personagens podem ser desvendadaspara o leitor em quadro agrave parte

Outro meacuterito tambeacutem observado nesse mesmo livro pode ser atribuiacutedo agravesilustraccedilotildees que ajudam a contextualizar e tornar as atividades menos monoacutetonas Assimexerciacutecios de YesNo questions satildeo feitos atraveacutes de desenhos

Nem todos os materiais didaacuteticos poreacutem lidam com os diaacutelogos descritos acimaPodemos encontrar diaacutelogos nos quais inexistem contexto mais proacuteximo (local tempo) efatos natildeo linguumliacutesticos (status idade relaccedilotildees de parentesco dos participantesdescaracterizaccedilatildeo dos participantes ausecircncia de motivos claros para sua ocorrecircncia)

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No exemplo acima natildeo haacute contexto social e nem os participantes da interaccedilatildeo Mascomo jaacute foi dito a linguagem depende de um contexto socialmente determinado para nospermitir ascender ao significado dos enunciados

No entanto o significado eacute transmitido natildeo apenas atraveacutes da linguagem verbalmas tambeacutem atraveacutes da entonaccedilatildeo que eacute explorada para identificar o estado de acircnimodos personagens E para enfatizar a entonaccedilatildeo os livros que compotildeem nosso corpusutilizam recursos como caricaturas negritos e principalmente balotildees Portanto esterecurso graacutefico em forma de balotildees auxilia a suprir formas verbais Haacute uma variedade detipos de balotildees indicando pensamentos surpresa gritos espantos Exemplos

Todos os recursos graacuteficos visuais utilizados na composiccedilatildeo de um diaacutelogo seconstituem numa matriz rica de informaccedilotildees soacutecio-pragmaacuteticas que podem dirigir ainterpretaccedilatildeo das falas Os recursos graacuteficos satildeo usados na maioria das vezes para darsuporte agrave compreensatildeo dos diaacutelogos caracterizados pelo uso das imagens Observamostambeacutem que o tipo de letra (maiuacutescula e de formato grande) faz parte desta estrateacutegiausada nos livros didaacuteticos para enfatizar emoccedilotildees dos personagens dando significadoaos seus enunciados Exemplifiquemos

Tudo isso demonstra que a exploraccedilatildeo dos recursos visuais serve para facilitar oentendimento dos diaacutelogos e para imitar a realidade Imitando a realidade em conviacuteviosocial os personagens utilizam a liacutengua como meio de comunicaccedilatildeo observando a

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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Constatamos tambeacutem um grande nuacutemero do gecircnero estoacuterias em quadrinhos(exemplo acima) nas coleccedilotildees (134e 5) oferecendo uma melhor compreensatildeo econtextualizaccedilatildeo no que se referem a imagem e texto As noccedilotildees de figura e fundosegundo Hopper (1979) se aplicam aqui eacute no ldquofundordquo (ou background) que o leitor podeperceber as opiniotildees os sentimentos as atitudes dos participantes diante de umacontecimento A ldquofigurardquo (foreground) projeta o acontecimento em si Esta possibilidadeno tratamento temaacutetico soacute pode ser realizada com a inserccedilatildeo do diaacutelogo na estoacuteria emquadrinho dessa forma muitas das reaccedilotildees dos personagens podem ser desvendadaspara o leitor em quadro agrave parte

Outro meacuterito tambeacutem observado nesse mesmo livro pode ser atribuiacutedo agravesilustraccedilotildees que ajudam a contextualizar e tornar as atividades menos monoacutetonas Assimexerciacutecios de YesNo questions satildeo feitos atraveacutes de desenhos

Nem todos os materiais didaacuteticos poreacutem lidam com os diaacutelogos descritos acimaPodemos encontrar diaacutelogos nos quais inexistem contexto mais proacuteximo (local tempo) efatos natildeo linguumliacutesticos (status idade relaccedilotildees de parentesco dos participantesdescaracterizaccedilatildeo dos participantes ausecircncia de motivos claros para sua ocorrecircncia)

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No exemplo acima natildeo haacute contexto social e nem os participantes da interaccedilatildeo Mascomo jaacute foi dito a linguagem depende de um contexto socialmente determinado para nospermitir ascender ao significado dos enunciados

No entanto o significado eacute transmitido natildeo apenas atraveacutes da linguagem verbalmas tambeacutem atraveacutes da entonaccedilatildeo que eacute explorada para identificar o estado de acircnimodos personagens E para enfatizar a entonaccedilatildeo os livros que compotildeem nosso corpusutilizam recursos como caricaturas negritos e principalmente balotildees Portanto esterecurso graacutefico em forma de balotildees auxilia a suprir formas verbais Haacute uma variedade detipos de balotildees indicando pensamentos surpresa gritos espantos Exemplos

Todos os recursos graacuteficos visuais utilizados na composiccedilatildeo de um diaacutelogo seconstituem numa matriz rica de informaccedilotildees soacutecio-pragmaacuteticas que podem dirigir ainterpretaccedilatildeo das falas Os recursos graacuteficos satildeo usados na maioria das vezes para darsuporte agrave compreensatildeo dos diaacutelogos caracterizados pelo uso das imagens Observamostambeacutem que o tipo de letra (maiuacutescula e de formato grande) faz parte desta estrateacutegiausada nos livros didaacuteticos para enfatizar emoccedilotildees dos personagens dando significadoaos seus enunciados Exemplifiquemos

Tudo isso demonstra que a exploraccedilatildeo dos recursos visuais serve para facilitar oentendimento dos diaacutelogos e para imitar a realidade Imitando a realidade em conviacuteviosocial os personagens utilizam a liacutengua como meio de comunicaccedilatildeo observando a

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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No exemplo acima natildeo haacute contexto social e nem os participantes da interaccedilatildeo Mascomo jaacute foi dito a linguagem depende de um contexto socialmente determinado para nospermitir ascender ao significado dos enunciados

No entanto o significado eacute transmitido natildeo apenas atraveacutes da linguagem verbalmas tambeacutem atraveacutes da entonaccedilatildeo que eacute explorada para identificar o estado de acircnimodos personagens E para enfatizar a entonaccedilatildeo os livros que compotildeem nosso corpusutilizam recursos como caricaturas negritos e principalmente balotildees Portanto esterecurso graacutefico em forma de balotildees auxilia a suprir formas verbais Haacute uma variedade detipos de balotildees indicando pensamentos surpresa gritos espantos Exemplos

Todos os recursos graacuteficos visuais utilizados na composiccedilatildeo de um diaacutelogo seconstituem numa matriz rica de informaccedilotildees soacutecio-pragmaacuteticas que podem dirigir ainterpretaccedilatildeo das falas Os recursos graacuteficos satildeo usados na maioria das vezes para darsuporte agrave compreensatildeo dos diaacutelogos caracterizados pelo uso das imagens Observamostambeacutem que o tipo de letra (maiuacutescula e de formato grande) faz parte desta estrateacutegiausada nos livros didaacuteticos para enfatizar emoccedilotildees dos personagens dando significadoaos seus enunciados Exemplifiquemos

Tudo isso demonstra que a exploraccedilatildeo dos recursos visuais serve para facilitar oentendimento dos diaacutelogos e para imitar a realidade Imitando a realidade em conviacuteviosocial os personagens utilizam a liacutengua como meio de comunicaccedilatildeo observando a

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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existecircncia de certas regras que se impotildeem para que haja realmente comunicaccedilatildeo nosentido de interaccedilatildeo e compreensatildeo do que dizemos e do que nos eacute dito de forma diretae indiretamente

Na opiniatildeo de Cunha (1991) quando realizamos um ato de linguagem direto tudoeacute simples ouvimos literalmente Todavia na maioria de nossos atos de linguagem osentido literal da frase e o sentido que ela adquire em contexto (sentido pragmaacutetico) natildeosatildeo o mesmo Para explicar este fenocircmeno Searle (1997) estabeleceu que nos Atos deFala Indiretos (cf capiacutetulo I) o locutor comunica ao ouvinte ldquomais do que efetivamente dizapoiando-se num fundo de informaccedilotildees linguumliacutesticas e natildeo linguumliacutesticas e ao mesmotempo na capacidade de inferecircncia do ouvinterdquo Ou seja aquilo que natildeo eacute dito masentendido Vejamos exemplos de manifestaccedilotildees discursivas indiretas retiradas de nossocorpus

Muitas vezes enunciados como ldquommmrdquo lsquoahrsquo lsquouhrsquo ou ldquogestosrdquo ao inveacutes deenunciados completos jaacute satildeo respostas aceitaacuteveis numa interaccedilatildeo e estatildeo sendoincorporados aos diaacutelogos Observamos no extrato acima que um dos participantesresponde a pergunta do amigo com um enunciado ldquouhrdquo e o outro interlocutor inferiu aresposta do amigo ou seja os locutores acabaram fazendo entender mais do que narealidade disseram Grice (1975) afirma em seus estudos que aleacutem dos atos indiretos deSearle as Implicaccedilotildees Pragmaacuteticas ou Implicaccedilotildees Conversacionais no seu Princiacutepio deCooperaccedilatildeo tentam explicar frases e enunciados nos quais o locutor parece querer dizermais do que realmente diz

Abaixo na amostra 17 duas pessoas conversam sobre habilidades culinaacuterias euma delas responde que na cozinha gosta de pocircr agrave mesa Ou seja neste enunciado elaquis dizer que natildeo gosta de cozinhar

O Princiacutepio de Cooperaccedilatildeo de Grice tem um papel altamente regulativo manter oequiliacutebrio social e as relaccedilotildees de amizade que nos permitem supor que nossosinterlocutores estatildeo sendo cooperativos Mas tambeacutem natildeo podemos deixar de introduzirnestes exemplos a noccedilatildeo de Forccedila Ilocucionaacuteria que para Austin eacute um dos elementoscentrais para a compreensatildeo de linguagem como accedilatildeo Segundo ele os enunciadospodem ter uma funccedilatildeo ou seja uma forccedila ilocucionaacuteria mais ampla ou ateacute mesmo opostaao que aparentemente manifesta Verificamos na amostra 18 que a forccedila ilocutoacuteria estaacute

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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na palavra ldquogenuinerdquo que significa legiacutetimo na qual podemos observar que natildeo eacute umlegiacutetimo carpete egiacutepcio ao contraacuterio eacute um carpete chinecircs Vejamos

Uma vez que nosso estudo eacute de anaacutelise da liacutengua conversacional escrita soacutepodemos avaliar bem o valor de como um ato ilocucionaacuterio eacute reconhecido oucompreendido quando o imaginamos realizar espontaneamente Ou seja um texto sem aforccedila ilocucionaacuteria simplesmente natildeo faz sentido Mesmo quando uma pessoa vecirc o textoescrito para entendecirc-lo necessita obrigatoriamente de decodificaacute-lo e processaacute-lo comose fosse dizecirc-lo foneticamente E somente assim consegue dispor de todos os elementosnecessaacuterios para ler algo e entender

No exemplo acima nos chama atenccedilatildeo o fato de que no diaacutelogo apesar derealizarem-se diversos tipos de atos haacute sempre um objetivo principal a ser atingido parao qual concorrem todos os demais (macroatos) Isto eacute o ato global que se pretenderealizar Neste exemplo (amostra 18) os autores colocam o ensino do Passado Simplescomo atos principais Van Dick (1981) mostrou em seus estudos que numa sequumlecircncia deatos de fala (cf Capitulo I) pode-se distinguir um ato principal e outros complementarescomo atos de justificativa atos preparatoacuterios entre outros dando assim uma noccedilatildeo deatos principais e acessoacuterios

Realmente essa unidade funcional vai permitir uma oacutetima percepccedilatildeo dacomunicaccedilatildeo Pois os professores e alunos dar-se-atildeo conta de todas as situaccedilotildees dessediaacutelogo o qual ldquocoloca em cenardquo a ldquomacrofunccedilatildeordquo comunicativa estudada ao longo daunidade do livro Como tambeacutem reconhece o papel da coesatildeo e coerecircncia no discurso ea necessidade de apresentar a linguagem em um contexto real e autecircntico decomunicaccedilatildeo possibilitando uma maior flexibilidade em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de umdiaacutelogo

O modelo de competecircncia comunicativa para o desenvolvimento de ensino daliacutengua estrangeira se concretizou com Canale e Swain (1980) que reformularam algunstermos essenciais e criaram quatro ramificaccedilotildees da mesma competecircncia gramaticalcompetecircncia sociolinguumliacutestica competecircncia discursiva e competecircncia estrateacutegica (cfCapitulo I)

A competecircncia gramatical se ateacutem ao coacutedigo linguumliacutestico das estruturas e regrasMas em nossas anaacutelises haacute diaacutelogos usados como pretexto para apresentar estruturas evocaacutebulos novos dando ecircnfase assim agrave abordagem tradicional conhecida por ldquoGramaacuteticae Traduccedilatildeordquo

Essa designaccedilatildeo indica os principais pilares desta abordagem uma progressatildeolinear de unidades gramaticais partindo do morfologicamente simples para chegar nomorfologicamente mais complexo independente da complexidade semacircntica de umaestrutura de implicaccedilotildees pragmaacuteticas

Assim esses diaacutelogos ocupam um espaccedilo vital determinado pelas funccedilotildees deldquointrodutorrdquo e ldquoilustradorrdquo de estruturas novas reconhecidas pela grande maioria dos livros

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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didaacuteticos e asseguradas geralmente nos prefaacutecios pelos proacuteprios escritores emafirmaccedilotildees como as seguintes

Haacute diaacutelogos didaacuteticos analisados em nosso corpus que adotam uma organizaccedilatildeodo conteuacutedo gramatical tatildeo ostensiva que melhor seria referir-se a itens gramaticais emforma de diaacutelogos ao inveacutes de diaacutelogos gramaticais O exemplo abaixo eacute bastanteesclarecedor e o negrito das palavras ocorre no proacuteprio livro

Diaacutelogos como os exemplificados perdem a funcionalidade comunicativa nosentido pragmaacutetico Logo neste caso a intenccedilatildeo verdadeira do diaacutelogo eacute abrigardeterminadas estruturas morfossintaacuteticas e natildeo promover a interaccedilatildeo com o destinataacuterioperdendo assim muito dos elementos que constituem a coerecircncia e a coesatildeo elementosreferenciais (decirciticos pronominalizaccedilatildeo etc) os quais constituem a o conjunto de regrasdiscursiva nos estudos de Canale e Swain (1980)

Sabemos que a aprendizagem de uma liacutengua estrangeira requer mais do que odesenvolvimento da competecircncia gramatical do aprendiz Tambeacutem envolve o usoadequado da liacutengua em diferentes contextos ou seja requer o desenvolvimento dacompetecircncia estrateacutegica e sociolinguumliacutestica de modo que o aprendiz possa se comunicarefetivamente (Canale e Swain 1980)

Os estudos em Sociolinguumliacutestica tecircm reivindicado uma abordagem paracompreender os atos de fala na sua totalidade ou seja natildeo basta identificar as relaccedilotildeesinerentes entre forma e funccedilatildeo de cada ato de fala mas procurar outros valores impliacutecitosintrinsecamente relacionados com a cultura e as regras da estrutura social pois aofazerem uma anaacutelise descritiva das convenccedilotildees dos padrotildees e das restriccedilotildees quecompotildeem o comportamento linguumliacutestico dos falantes de uma comunidade de fala ossociolinguumlistas fazem vir agrave tona o que eacute especiacutefico de cada cultura possibilitando assimuma comunicaccedilatildeo intercultural

Essa comunicaccedilatildeo intercultural facilita a aprendizagem da liacutengua porque a conexatildeoliacutengua-cultura reflete quase todos os aspectos linguumliacutesticos e sociais da comunicaccedilatildeo (Wegmann et al 1994xii citado em Dalacorte1999)

ldquoEacute por meio de diaacutelogos que o alunotoma contato com a estrutura e ovocabulaacuterio que seratildeo desenvolvidos naunidaderdquo

Amostra 19ndash Fonte Coleccedilatildeo 6 livro 1introduccedilatildeo

ldquoO Aluno observa e estuda o pontogramatical e o vocabulaacuterio a ser ensinadonas paacuteginas de aberturas nos exerciacuteciosde praacutetica oralrdquoAmostra 20 ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1introduccedilatildeo

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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Encontramos na coleccedilatildeo 2 itens chamados ldquonota culturalrdquo e na coleccedilatildeo 6 ldquooff therecordrdquo Essas coleccedilotildees didaacuteticas jaacute despertam atenccedilatildeo quanto ao ensino do que Cohen(1996) chama de habilidades socioculturais e sociolinguumliacutesticas ao tratarem das relaccedilotildeesentre a cultura brasileira e a da liacutengua-alvo conforme ilustramos a seguir

Cohen considera que discussotildees acerca de diferenccedilas socioculturais esociolinguumliacutesticas como o que exemplificamos acima devem ocorrer nas salas de aulauma vez que natildeo entendecirc-las e natildeo ser capaz de identificar suas caracteriacutesticasdistintivas podem levar a mal-entendidos culturais e consequumlentemente a julgamentosinterculturais equivocados

A amostra 26 eacute exemplo esclarecedor da habilidade sociocultural No Brasil muitagente estaacute sempre atrasada e natildeo pede desculpas Embora os reloacutegios apresentem nomundo todo um padratildeo de ldquodesignrdquo uacutenico o mesmo natildeo eacute verdade para os ldquoreloacutegiosrdquointernos culturais de cada povo A imensa maioria dos brasileiros natildeo atribui significaccedilatildeoaos intervalos de tempo compreendidos entre cinco minutos mas para os ingleses taisintervalos significam muito

Eis outros exemplos retirados de nosso corpus

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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O falso cognato ldquoterrificrdquo que parece indicar algo semelhante ao nosso ldquoterriacutevelrdquo narealidade significa ldquooacutetimo excelenterdquo (veja na amostra 25) Portanto essa habilidadesociolinguumliacutestica requer o controle do falante ao atuar linguumlisticamente para realizar atosde fala apropriados se desconhecer tais regras tal falante pode vir a ser grosseiro rudeou mal-educado

Segundo Maher (1998) ao trazer agrave tona diferenccedilas nos atos de falar eacute importantefrisar ter cuidado de natildeo lhes atribuir juiacutezos de valor jaacute que a intenccedilatildeo natildeo consiste emanular estas diferenccedilas e sim tornaacute-las conhecida Com esse tipo de procedimentodeve-se buscar natildeo mudar drasticamente o comportamento interacional de nossos alunospara tornaacute-los clones perfeitos dos falantes nativos nova liacutengua mas sim dar condiccedilotildeespara que suas tomadas de decisatildeo na conversaccedilatildeo e suas interpretaccedilotildees docomportamento sociolinguumliacutestico dos estrangeiros com quem interagem seja feita de modoconsciente em sua comunicaccedilatildeo intercultural

Como afirma Campos (2000) essa postura intercultural no ensino de liacutenguaparece entatildeo conduzir o aluno a uma consciecircncia cultural atraveacutes do qual ele entendeas representaccedilotildees sociais e os papeacuteis assumidos por cada um diante de sua cultura poisldquoo entendimento interculturalrdquo torna-nos mais conscientes de nossas proacutepriasindividualidades e de nossa competecircncia comunicativa

Van Lier (1988) jaacute citado no capiacutetulo I considera que tambeacutem eacute parte dacompetecircncia comunicativa do indiviacuteduo operar com eficiecircncia no sistema de mudanccedila deturno de uma liacutengua Os sistemas de mudanccedila de turno da conversaccedilatildeo satildeo baacutesicos eservem como paracircmetros para a descriccedilatildeo dos outros sistemas de mudanccedilas de turnoque dele derivam

Os estudos realizados por Nascimento (2000) mostram que a entrega do turno eacuteuma outra estrateacutegia que propocions maior naturalidade ao diaacutelogo didaacutetico A troca deturno de fala acontece sem necessariamente completar os atos de cada turno Ao longoda interaccedilatildeo traccedilos de oralidade como ldquoerrdquo ldquowowrdquo ldquoughrdquo ldquoouchrdquo ldquoyeahrdquo ldquommrdquo ldquoyukrdquo ldquoahrdquoe marcas de hesitaccedilotildees e pausas satildeo caracteriacutesticas constantes que auxiliam as tomadasde turnos A amostra 16 deste capitulo eacute um exemplo de tomada de turno onde haacutehesitaccedilotildees pausas e marcas de oralidade No extrato abaixo observamos traccedilos deoralidade na tomada de turno Vejamos

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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A incorporaccedilatildeo desses traccedilos sugere maior aproximaccedilatildeo com a conversaespontacircnea Entregar o turno de fala ao outro interlocutor ou tomaacute-lo satildeo duas estrateacutegiasimportantes na interaccedilatildeo Ambas fazem com que o aprendiz se torne mais ativo durante oprocesso conversacional e que o diaacutelogo seja mais espontacircneo

Levison (1987) afirma que a troca de turno determina quem estaacute no comando dafala e por quanto tempo O participante A que fala e paacutera um outro B que comeccedila falae paacutera com isso temos uma interaccedilatildeo do tipo A-B-A-B-A-B Podemos observar que amaioria dos diaacutelogos do nosso corpus ainda partilham dessa caracteriacutestica Abaixo temosexemplo

Apesar da didaacutetica da liacutengua vir passando por diversas mudanccedilas na absorccedilatildeo dodiscurso de teorias inovadoras (que privilegiam o ensino voltado para questotildees reais deuso funcional da liacutengua) percebemos a manutenccedilatildeo de praacuteticas tradicionais no que dizrespeito agrave compreensatildeo ou interpretaccedilatildeo dos diaacutelogos e da maneira como os autoressugerem esses trabalhos em sala de aula

Segundo Marcuschi (1996) compreender natildeo eacute uma atividade de precisatildeo eacute umaatividade de seleccedilatildeo reordenaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo em que uma certa margem decriatividade eacute permitida A compreensatildeo eacute aleacutem de tudo uma atividade dialoacutegica que sedaacute na relaccedilatildeo com o outro Segundo o mesmo linguumlista (1996) os exerciacutecios decompreensatildeo dos livros didaacuteticos falham em pelo menos trecircs aspectos centrais

1 supotildeem uma noccedilatildeo instrumental de linguagem e imaginam que a liacutenguafunciona apenas literalmente como transmissora de informaccedilotildees

2 supotildeem que os textos satildeo produtos acabados que contecircm em siobjetivamente inscritas todas as informaccedilotildees possiacuteveis

3 supotildeem que compreender repetir e memorizar sejam a mesma coisa ouseja compreender eacute identificar informaccedilotildees textuais objetivas

Abordamos essas questotildees no Capiacutetulo I no qual Coracini ( 1999) afirma que acompreensatildeo oral nos livros didaacuteticos se restringe aos diaacutelogos - base de cada liccedilatildeo-sobre os quais se fazem normalmente pequenas perguntas a respeito da situaccedilatildeo ndash quemfala a quem fala de quecirc por quecirc onde ndash e da relaccedilatildeo texto imagem Abaixoapresentamos exemplos extraiacutedos das coleccedilotildees 2 5 e 6 onde esses traccedilos estatildeopresentes nas sugestotildees dos autores dos livros ensinando aos professores comotrabalhar os diaacutelogos Vejamos

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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Como citar este artigo

COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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Podemos constatar que as instruccedilotildees dos autores natildeo reproduzem umapossibilidade real de conversaccedilatildeo O foco eacute puramente gramatical e nesta ldquofarsaconversacionalrdquo haacute um acordo entre os participantes o professor faz perguntas apenaspara provocar a ocorrecircncia das formas gramaticalmente corretas enquanto os alunosrespondem com falas artificiais natildeo interativas para servirem de exemplo aoleitoraprendiz Na verdade o texto apresentado sob a forma de diaacutelogo se assemelha auma ldquoaula de demonstraccedilatildeordquo onde professor e alunos tecircm falas ensaiadas

Marcuschi (1996) afirma que destas observaccedilotildees negativas eacute bom lembrar queesses exerciacutecios natildeo satildeo inuacuteteis Eles podem ser feitos e talvez sejam necessaacuterios mas

Professor proceda da seguinte forma

Leve os alunos a analisar a ilustraccedilatildeo que contextualiza o diaacutelogo e seu tiacutetulo

Peccedila-lhes que escutem a fita com os livros fechados

Solicite-lhes que abram os livros e leiam silenciosamente o diaacutelogo para constar se suassuposiccedilotildees aproximaram-se do diaacutelogo real

Destaque as palavras jaacute conhecidas e as transparentes (ou cognatas palavras parecidascom vocaacutebulos da liacutengua materna)

Enumere palavras de significado desconhecido (Primeiro pergunte seu significado aosalunos caso natildeo saibam tente induzir a traduccedilatildeo por meio de gestos ou utilizandosinocircnimos)

Peccedila agrave classe que ouccedila a gravaccedilatildeo do diaacutelogo na fita cassete acompanhando-o pelo livro

Leia o diaacutelogo em voz alta para a classe (frase por frase)

Quando a classe jaacute for capaz de ler o diaacutelogo sem o auxilio do professor divida a turma emtantos grupos quanto forem os personagens Peccedila que cada grupo leia sua parte em voz altae depois proceda agrave leitura dramatizada Faccedila rodiacutezio de forma que todos os gruposrepresentem todos os personagens Sugerimos a filmagem da dramatizaccedilatildeo dos diaacutelogossempre que possiacutevel Enquanto dramatiza o aluno vivencia o significado do texto que entatildeoeacute intergrado agrave sua vivecircncia

Amostra 32ndash Fonte Coleccedilatildeo 5 livro 1 4

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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COSTA GS 2004Dialogo didaacutetico de inglecircs agrave luz da pragmatica [Online] Disponiacutevel em lt httpwwwgt Consulta em

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natildeo satildeo exerciacutecios de compreensatildeo pois se preocupam apenas com aspectos formais ouentatildeo reduzem todo o trabalho de compreensatildeo agrave identificaccedilatildeo de informaccedilotildees objetivase superficiais

Considerando os fragmentos acima podemos verificar a ocorrecircncia das sugestotildeesinovadoras de atividades de interaccedilatildeo envolvendo o role play o qual Cohen (1996) eTrosborg (1995) citado em Boas (2001) consideram uma das melhores atividadesinterativa no ensino de atos de fala

Brown (1994) considera role play uma atividade linguumliacutestica que inclui atribuir umpapel a um ou mais membros de um pequeno grupo (de 2 a 4) e dar um objetivo oupropoacutesito a ser atingido Outra possibilidade seria a de propor-se um tema polecircmico comcada elemento do grupo discutindo um ponto de vista

O conceito de role play para Cohen (1996) natildeo difere fundamentalmente daquelede Brown O primeiro esclarece que o aluno pode realizar uma preacute-atividade como verum viacutedeo ler um livro ou uma entrevista e com base neste insumo realizar atividade oralfictiacutecia Por exemplo formando pares um elemento desempenha uma personagem outroo entrevistador

Para Harmer (1996) a atividade do role play leva os alunos a se ldquosoltaremrdquo naclasse perdendo a inibiccedilatildeo e se tornando mais comunicativos e participantes ndash maissujeitos do processo - e que constitui preacute-requisito para aceitarem compartilhar com oprofessor a responsabilidade pelo sucesso do processo pedagoacutegico O role play contribuipara desfazer a dicotomia entre ensino e praacutetica de liacutengua aprender-se fazendo oumelhor fazendo e refletindo

Infelizmente o que observamos nos exemplos acima eacute que essa teacutecnica deinteraccedilatildeo tambeacutem estaacute sendo negligenciada dando lugar agrave memorizaccedilatildeo Laudusse(1988) considera que as teacutecnicas de drama com diaacutelogos preparados memorizados eapresentados diante do resto da classe natildeo satildeo role play Isto porque perde-se um traccediloconsiderado baacutesico num role play e importante no ensino de liacutengua a relativaimprevisibilidade da liacutengua em uso

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns livros analisados apresentam um nuacutemero significativo de diaacutelogos comsequumlecircncias riacutegidas de turnos de fala objetivos de ordem gramatical bem como umacontinuaccedilatildeo da produccedilatildeo correta de frases isoladas que seriam inapropriadas numaatividade real de comunicaccedilatildeoTanto os alunos quanto o professor satildeo estimulados arepetir ler e memorizar os diaacutelogos com um pano de fundo chamado role play A rigoresta atividade de encenaccedilatildeo de papeacuteis (role play) obriga os participantes a ajustaremsuas falas tanto de acordo com o status dos papeacuteis que lhe foram destinados como coma contribuiccedilatildeo do outro o que natildeo foi constado em nossa anaacutelise

Contudo os resultados mostraram que os diaacutelogos didaacuteticos no corpus de anaacutelisedessa dissertaccedilatildeo apresentaram um crescimento do gecircnero com vista a atender cadavez mais o potencial comunicativo que nele pode ser reproduzido A sua presenccedila tiacutemidae artificial no meacutetodo direto eacute substituiacuteda paulatinamente por uma praacutetica significativa denatureza conversacional Este fato eacute suficiente para responder positivamente a primeirapergunta do trabalho no que diz respeito agrave presenccedila de traccedilos pragmaacuteticos Podemosafirmar que o diaacutelogo didaacutetico estaacute comeccedilando a suprir de forma adequada o papel demodelo conversacional

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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A incorporaccedilatildeo de traccedilos pragmaacuteticos ou seja usos informais interrupccedilotildees marcade oralidade e instruccedilotildees de como interagir em certas situaccedilotildees indicam uma maioraproximaccedilatildeo com a conversaccedilatildeo espontacircnea Isto demonstra que os autores estatildeoassimilando em seus diaacutelogos essas caracteriacutesticas que colocam o professor eouaprendiz em contato com amostras mais representativas da liacutengua alvo

Observamos na pesquisa que amostras de notas culturais jaacute comeccedilam a sercontempladas nesses novos materiais (2 livros em nossos estudos) poreacutem falta recebero mesmo tratamento que a dimensatildeo gramatical como tambeacutem a conscientizaccedilatildeodesses estudos por parte dos autores nos manuais do professor

O manual do professor precisa interagir com seu leitorprofessor e se transformarem um espaccedilo onde o autor mostre sugestotildees resultados de pesquisas bibliografiasatualizadas materiais suplementares incorporados aos suportes teoacutericos objetivando asmudanccedilas ocorridas nas abordagens de ensino de liacutengua estrangeira em nosso paiacutes

O professor soacute passaraacute a se auto-observar e monitorar seu desempenhopedagoacutegico se cuidar de sua capacitaccedilatildeo teoacuterica Essa teoria eacute que lhe permitiraacute umolhar criacutetico de sua proacutepria praacutetica e a competecircncia de poder explicar os seus porquecircs Acapacitaccedilatildeo teoacuterica permitiraacute ao professor explicitar cada vez mais sua abordagem econsequumlentemente visualizar com mais eficaacutecia as possiacuteveis incoerecircncias entre o seuldquopensarrsquoe o seu rdquofazerrdquo Tambeacutem quanto mais o olhar criacutetico dos professores for aguccediladomais exigentes seratildeo para decidir uma adoccedilatildeo e tanto mais cuidado teratildeo editores eautores para se aproximarem do padratildeo de qualidade reclamado

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AUSTIN J L 1962 How to do things with words London Oxford University PressBOAS IV 2001Teaching speech acts explicitly CTJ Journal Rio de Janeiro v40p8-19 AbrilCAMPOS VCA 2000 Ensinondashaprendizagem em leitura em liacutengua estrangeira umaaccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar para a escola puacuteblica Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica UFPECARTER R McCARTY 1997 Exploring spoken English Cambridge University Press

CANALE M SWAIN M1983 From communicative competence to communicativelanguage pedagogy In RICHARD J C SCHMIDT R (Eds) Language andCommunication London Longman p1-27COHEN A D1996 Speech acts In McKAY SL HORNBERGER NH (eds)Sociolinguistics and language teaching Cambridge University PressCORACINI MJRF 1999 O processo de legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico na escola deensino fundamental e meacutedio uma questatildeo de eacutetica In CORACINI M J (org)Interpretaccedilatildeo autoria e legitimaccedilatildeo do livro didaacutetico liacutengua materna e liacutenguaestrangeira Campinas SP PontesCHIARETTI A P 1993 Performance do diaacutelogo no livro didaacutetico de inglecircsEvoluccedilatildeo e limites do gecircnero Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Linguumliacutestica Aplicada agraveLiacutengua Inglesa Belo Horizonte UFMGFALEDALACORTEMC F1999 A participaccedilatildeo dos aprendizes da interaccedilatildeo em sala deaula de inglecircs um estudo de caso Tese de Doutorado UFMG

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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GRICE HP1975 Logic and conversation In COLE MORGANJ(eds)Speech ActsSyntax and semantic v3 New York Academic PressHARMER J 1996 The practice of English language teaching New York LongmanLASOUSSEGP1988 Roleplay Oxford Oxford University PressMARCUSCHI LA2000 O papel da linguumliacutestica no ensino de liacutenguas UniversidadeFederal de Pernambuco Disponiacutevel em lt lumarcelogicacombr gt Acesso em 23 deagosto 2001MAHER TM 1998 Cultura internacional e ensino de liacutenguas Revista do Instituto deLetras Campinas SP PUC dezembroNASCIMENTO K H 2000 O diaacutelogo nos livros didaacuteticos de liacutengua inglesa umarepresentaccedilatildeo dos gecircneros do discurso oral natural Dissertaccedilatildeo de Mestrado emLinguumliacutestica Aplicada UFMGVAN DIKTA 1981Studies in the pragmatics of discourse The Hague Mouton

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