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http://www.campogrupal.com/dinamica.html ACESSO EM: 27/01/2014 DINÂMICA GRUPAL: CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA, CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE APLICAÇÃO Por Francisco Danúzio de Macêdo CARNEIRO (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL/ESCRITÓRIO DE DIREITOS AUTORAIS/CERTIFICADO DE REGISTRO N O 173.454) ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 1 2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL 2.1. Concepção Ideológica 3 2.2. Concepção Tecnológica 4 2.3. Concepção Fenomenológica 5 3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL 3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA 3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal 3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt 3.2.2. Pesquisas de Hawthorne 3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo 3.2.4. Criação da Sociometria

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ACESSO EM: 27/01/2014

DINÂMICA GRUPAL:

CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA, CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE APLICAÇÃO

 

Por Francisco Danúzio de Macêdo CARNEIRO

(FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL/ESCRITÓRIO DE DIREITOS AUTORAIS/CERTIFICADO DE REGISTRO

NO 173.454)

 

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1

2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

2.1. Concepção Ideológica 3

2.2. Concepção Tecnológica 4

2.3. Concepção Fenomenológica 5

3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL

3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA

3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal

3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt

3.2.2. Pesquisas de Hawthorne

3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo

3.2.4. Criação da Sociometria

3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal.

4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL

4.1. Dinâmica Grupal: Psicologia e Sociologia

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4.2. Dinâmica Grupal: Antecedentes e Desdobramentos

5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

5.1. Saúde

5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas

5.1.2. Grupos Balint

5.1.3. A Comunidade Terapêutica

5.1.4. Grupos de Auto-Ajuda

5.2. Educação

5.2.1. Apreensão do Conhecimento

5..2.2. Métodos para Formação de Educadores.

5.3. Administração

5.3.1. Teoria Z

5.3.2. Sociotécnica

5.4. Serviço Social

5.4.1. Serviço Social de Grupos-SSG.

6. REFERÊNCIAS

7. O AUTOR

 

 

 

I - INTRODUÇÃO

Neste trabalho estão sintetizados vinte anos de múltiplas experiências e contínuas leituras sobre Dinâmica Grupal.

Acreditamos que, por propiciar respostas necessárias para a compreensão e resolução do mais essencial dilema humano - o relativo à sua convivência social, nos próximos tempos a Dinâmica Grupal ocupará nas ciências humanas um papel com importância semelhante ao que a Psicanálise vem ocupando desde o início deste século.

Aliás, observa-se que, ao mesmo tempo em que essas duas vertentes do conhecimento humano têm uma série de convergências em seus postulados teóricos e em sua aplicabilidade na prática - sobre isso, Sigmund Freud foi o primeiro a reconhecer que a psicologia individual era também psicologia social - entre elas há também contrastes significativos, dos quais, pela sua pertinência a esta introdução, destacamos apenas um: enquanto a psicanálise foi criada e desenvolvida principalmente por uma única

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pessoa, o próprio Freud, a Dinâmica Grupal é o resultado de trabalhos de múltiplas pessoas, em múltiplos campos do conhecimento e da atividade humana.

Nesta Apostila, tentamos fazer uma síntese dessa multiplicidade, o que será feito através de quatro capítulos:

è O primeiro contém uma explanação sobre a conceituação da Dinâmica Grupal. Nesse capítulo, a natureza interdisciplinar da Dinâmica Grupal está expressa numa tríade conceitual: ideológica, fenomenológica e tecnológica.

è O segundo é um relato contendo os principais fatos e as condições históricas, especialmente as relacionadas aos Estados Unidos da América, que permitiram o surgimento e o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana.

è O terceiro é um sistema de classificação composto de duas partes: uma considera a Dinâmica Grupal como sendo um ramo pertencente simultaneamente à Psicologia e à Sociologia; na outra, apresenta-se um esquema classificatório em que partindo-se dos três autores cujas obras consideramos estruturantes para a Dinâmica Grupal — quais sejam, Freud com a Psicanálise; Kurt Lewin, com a Teoria de Campo; e Jacob Levy Moreno com o Psicodrama e a Sociometria; chega-se aos principais desdobramentos teóricos e técnicos da Dinâmica Grupal.

è No quarto e último capítulo, escolhemos quatro dos principais campos da atividade humana — isto é, Saúde, Educação, Administração de Empresas e Serviço Social, para demonstrar como é grande a fertilidade, e como já é enorme a quantidade de áreas beneficiadas pelos conhecimentos da Dinâmica Grupal.

Finalmente, chamamos ainda a atenção para o fato de que o conteúdo desta apostila se articula e, como acontece num díptico, complementa-se com o conteúdo do trabalho "Grupo: esquema estrutural e dinâmica grupal", que publicamos em julho de 1999.

 

 

 

2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

Há diversas concepções para a Dinâmica Grupal. Observamos que, no geral, cada uma delas reflete uma posição particular do que seja, e para que serve essa especialidade do conhecimento que trata das relações humanas quando em grupos sociais. Basicamente, pode-se classificar todas as concepções de três maneiras: ideológica, tecnológica, fenomenológica.

2.1. Concepção Ideológica. Considera que a Dinâmica Grupal é uma forma especial de ideologia política na qual são ressaltados os aspectos de liderança democrática e da participação de todos na tomada de decisões. Também ressaltam-se as vantagens, tanto para a sociedade como para os indivíduos comuns, das atividades cooperativas em pequenos grupos. Dessa concepção verifica-se duas linhas de pensamento e ação: uma, idealista; outra, pragmática.

2.1.1. Linha Idealista-Utópica. Foi especialmente defendida por Jacob Levy Moreno em seu amplo Sistema Socionômico - esse seria formado por comunidades baseadas no amor espontâneo,

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na generosidade e na santidade, na bondade positiva e na cooperação pura [1: p. 22]. Para estruturar essas comunidades, Moreno propôs as técnicas sociométricas. Através delas uma pessoa poderia decidir, de maneira consciente e livre, sobre sua participação em um grupo social qualquer.

2.1.2. Linha Pragmática. Foi cientificamente experimentada por Kurt Lewin. Com as pesquisas sobre o fenômeno da boa liderança, Lewin demonstrou que, quando os seres humanos participavam de atividades em grupos democráticos, não somente sua produtividade era intensificada, como também o seu nível de satisfação era elevado e as suas relações com os outros membros baseavam-se na cooperação e na redução das tensões (...) nessas circunstâncias, o grupo tornava-se suficientemente autônomo para prosseguir sua tarefa mesmo quando o líder se ausentava [2: p. 98].

2.2. Concepção Tecnológica. Conforme essa concepção, a Dinâmica Grupal refere-se a um conjunto de métodos e técnicas usadas em intervenções nos chamados grupos primários, como famílias, equipes de trabalho, salas de aula etc. A rigor, o uso de qualquer uma dessas técnicas objetiva aumentar a capacidade de comunicação e cooperação e, consequentemente, incrementar a espontaneidade e a criatividade dos seres humanos quando em atividade grupal. Todas elas podem, didaticamente, ser enquadradas em duas variantes de intervenção: uma, dos Jogos Dramáticos; outra, do Psicodrama.

2.2.1. Jogos Dramáticos. Essa variante privilegia o jogo espontâneo, muitas vezes sem regras pré-estabelecidas, para dinamizar a grupalidade humana. Essa variante de concepção da Dinâmica Grupal é universalmente difundida, isso se dá basicamente pelo fato de que a necessidade lúdica do jogo é inerente ao crescimento e desenvolvimento humano, e também porque é especialmente aplicada na área da educação. - Nos países anglo-saxônicos o jogo dramático espontâneo é uma atividade comum nas escolas de primeiro e segundo grau, sendo incluído na disciplina conhecida como Teatro na Educação, pois é reconhecido como um meio efetivo de aprendizagem tanto para o conteúdo das matérias quanto para a própria vida [3: p. XI/XII].

2.2.2. Psicodrama. Assim como o seu corolário o Sociodrama, o Psicodrama historicamente se originou no Teatro Espontâneo ou Teatro da Improvisação fundado por Moreno em Viena no ano de 1921. Do Teatro Espontâneo que pretendia pôr fim à repetição da conserva dramática do teatro convencional e dos clichês de papéis, permitindo uma contribuição inteiramente criadora e espontânea para que assim pudesse desenvolver novos papéis, nasceu o Psicodrama [4: p. 31].

Essa variante tecnológica que é centralizada na noção de papéis sociais, e que enfatiza a ação corporal, tem sido utilizada de uma maneira muito especial no campo terapêutico. Para isso, foram desenvolvidas múltiplas técnicas direcionadas especialmente para treinamento de papéis (role playing) caracterizados como saudáveis. Entre as técnicas criadas por Moreno, as mais usadas são: solilóquios, inversão de papéis, duplos, espelhos, realização simbólica, psicodança.

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2.3. Concepção Fenomenológica. Aqui estão autores que priorizam suas atividades em torno da idéia de que os fenômenos psicossociais que ocorrem nos pequenos grupos é resultado de um sistema humano articulado como um todo, uma gestalt. Entre esses fenômenos, citam-se: coesão, comunicação, conflitos, formação de lideranças etc. Nessa concepção, também pode-se observar duas formações teóricas: uma, a Psicologia da Gestalt, que é descritiva, pois centra seus postulados na descrição dos fenômenos que ocorrem no aqui-agora do mundo grupal — por exemplo, a configuração espacial adotada regularmente por uma unidade grupal; a outra, a Psicanálise, que é explicativa por que procura explicar a unidade do grupo através da idéia de uma ‘mentalidade grupal’ (instinto social), muitas vezes inconsciente para os membros do próprio grupo.

2.3.1. Psicologia da Gestalt. Dessa escola da Psicologia, o grande impulsionador da Dinâmica Grupal foi Kurt Lewin. Lewin, em sua Teoria de Campo, desenvolveu um esquema sui-generis para explicar as interações humanas: baseando-se nos princípios da topologia — ramo da geometria que trata das relações espaciais sem considerar a mensuração quantitativa, estabeleceu uma teoria dinâmica da personalidade centrada na idéia de campo psicológico [5: p. 83] que mantém interpendência com múltiplas forças sociais; daí, desenvolveu uma metodologia de trabalho: pesquisa-ação (action research), na qual o indivíduo é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da ação em estudo; e criou o primeiro laboratório de Dinâmica Grupal, onde em estudos realizados com grupos primários (face to face groups) introduz conceitos retirados da física do campo magnético para descrever os fenômenos da existencialidade social do ser humano — entre os termos os mais comuns são: coesão, locomoção em direção a objetivos, procura de uniformidade, atração e equilíbrio de forças; e a partir deles concebe a idéia do grupo como um todo dinâmico, uma gestalt que não é só resultado da soma dos seus integrantes, mas é possuidor de propriedades específicas enquanto ‘um todo’ [6: P. 5323].

Enfim, para Lewin, esse grupo como uma totalidade dinâmica, busca formas de equilíbrio no seio de um campo de forças sociais, sendo isso, por exemplo, o que explica a emergência de lideranças, fenômenos que aparecem como que reunindo um campo social de alto privilégio, e funciona como centro de atração de todos os movimentos coletivos [7: P. 10].

2.3.2. Psicanálise. A utilização dos postulados da Psicanálise para explicar a Dinâmica Grupal foi inicialmente tentada por Freud em sua obra "Psicologia de grupo e análise do ego". No entanto, o esquema conceitual, referencial e operativo [8: p. 98] no qual ele desenvolvia sua tarefa, estava referido não propriamente ao que atualmente se concebe como grupo humano (microgrupo; grupo primário; face to face groups), mas sim a fenômenos sociológicos como raças, castas, profissões, multidões etc.

No entanto, Freud ao reconhecer que a psicologia individual é, ao mesmo tempo, também psicologia social [9: p. 13], teve uma intuição primordial: quando as pessoas se organizam em grupos, surgem fenômenos como expressão de um instinto especial que já não é redutível — instinto social: herd instinct, group mind —, que não vêm

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à luz em nenhuma outra situação [9: p. 14). Completa sua intuição com um raciocínio irrefutável: é possível descobrir os primórdios da evolução desse instinto no círculo familiar [9: p. 14].

Wilfredo Bion, partindo das proposições formuladas por Melanie Klein em suas pesquisas na clínica psicanalítica com crianças, esclareceu, com o termo mentalidade de grupo, o significado desse instinto social - esse termo designa uma atividade mental coletiva que se produz quando as pessoas se reúnem em grupo (...) a hipótese de sua existência deriva do fato de que o grupo funciona em muitas oportunidades como uma unidade, ainda que seus membros a isto não se proponham nem disto tenham consciência [10: p. 24].

A mentalidade grupal seria assim uma espécie de continente, ‘um todo’ que englobaria todas as contribuições feitas pelos membros do grupo. Conforme a concepção bioniana, esse fenômeno comporta dois níveis: nível da tarefa; nível dos pressupostos básicos — o primeiro, mais ou menos relacionado com algo consciente, designado; o segundo, menos evidente, mas está rotineiramente presente sob forma dos três processos que podem ser inferidos da dinâmica grupal, ou seja, dependência, acasalamento e luta-fuga. [11: p. 23].

Enrique Pichon-Rivière, um psicanalista argentino da escola kleiniana, desenvolveu, com sua teoria e técnica do Grupo Operativo, esse esquema de Bion. Pichon-Rivière inicia com uma definição de grupo - conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui sua finalidade [12: p. 53].

Nessa definição Pichon-Rivière sintetizou as duas condições sine qua non para a existência de todos os grupos humanos: primeira, o termo pessoas articuladas por sua mútua representação interna, pressupõe que essas pessoas tenham algo que as una num nível superior ao que o filósofo francês Jean Paul Sartre definiu como serialidade [12: p. 53]; isto é, quando as pessoas se somam sem efetivamente estabelecerem comunicações que as unam afetivamente como acontece numa fila humana qualquer (em estabelecimento bancário, por exemplo); a segunda condição é a tarefa que constitui sua finalidade.

Nessa tarefa, de acordo com a construção bioniana, Pichon-Rivière percebeu dois níveis: explícito, implícito. O explícito está representado pelo trabalho produtivo e planificado cuja realização constitui a razão de ser do grupo - por exemplo, produção material, aprendizagem, cura, lazer etc. Sob essa tarefa explícita, subjaz outra, a tarefa implícita, que consiste na totalidade das operações mentais que devem realizar os membros do grupo, conjuntamente, para constituir, manter e desenvolver a sua grupalidade. [12: p. 53/54].

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Os pressupostos básicos de Bion estão assim implicitamente contidos na mentalidade do grupo em tarefa. E aí se colocam como verdadeiros esquemas organizadores do comportamento desse grupo, e que, frequentemente, poderá determinar um funcionamento grupal aberrante - ou excessivamente centrado numa liderança pessoal (na hipótese da dependência); ou excessivamente centrado numa idéia colocada como promessa, esperança para o futuro (na hipótese do acasalamento); ou excessivamente centrado na sua autopreservação, que é mantida como que o grupo reagisse atacando ou fugindo de ameaças internas ou externas (hipótese da luta-fuga).

 

 

3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL

O interesse científico pela Dinâmica Grupal é recente — trata-se de uma ciência do século XX.

No entanto, já no século XVIII que, por ter sido caracterizado por enormes avanços no conhecimento humano e pelas grandes revoluções políticas da Inglaterra, da França e da Independência Americana, foi chamado de Século das Luzes, viveu Giambattista Vico (1688-1744), um pensador italiano que hoje é reconhecido por sua aura de precursor das ciências humanas.

Vico, em sua obra: "Princípios de uma ciência nova", estabeleceu a diferença entre Ciências Naturais e Ciências Humanas, e propôs, como base de estudo dessa última, um princípio epistemológico considerado fundamental para o desenvolvimento dos diversos campos do conhecimento humanista — quais sejam, Antropologia, Sociologia, Psicologia e a Dinâmica Grupal, um ramo da psicologia social. Esse princípio está expresso na fórmula latina: verum ipsum factum — isto é, só o feito é verdadeiro; ou, só posso demonstrar logicamente o que é obra minha [13: contracapa].

Nos termos da Dinâmica Grupal, esse preceito implicou diretamente na contemporânea metodologia científica denominada de pesquisa-ação — nessa, o sujeito pode demonstrar logicamente um fenômeno grupal que também é feito, verdadeiramente, por ele enquanto membro desse grupo em estudo. Ou seja, ele torna-se sujeito-objeto da pesquisa.

Há também uma notável pertinência epistemológica dessa proposição com a Teoria da Espontaneidade de Moreno. A palavra espontâneo, um termo central na teoria moreniana, etimologicamente deriva do latim sua sponte: ‘de livre vontade’; o que se produz por iniciativa própria do agente, sem ser o efeito de uma causa exterior. Dado que se demonstra a relação dos estados espontâneos com as funções criadoras [4: p. 53], então pode-se presumir que, em verdade, só o que é criado de maneira espontânea, ‘de livre vontade’, pode ser considerado como obra minha; e também disso inferir que só o espontaneamente feito é verdadeiro.

Posteriormente a Vico, já durante o século XIX, ocorreram os avanços nas ciências humanas que permitiram o estabelecimento das bases conceituais e operativas e a atual sistematização científica da Dinâmica Grupal. Dos avanços, três fatos científicos foram fundamentais:

è Em 1839, o pensador francês Augusto Comte em seu "Curso de filosofia positiva" criou o termo sociologia — formado do latim socius — companheiro; e do grego logía, estudo, para definir a nova ciência da sociedade [6: p: 10513].

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è Em 1879, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt criou na Universidade de Leipzig o primeiro laboratório de psicologia, que, com isso, tornou-se objetiva e experimental;

è Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841-1931) apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre a Psicologia das Multidões, a proposição básica para o entendimento de uma psicologia social: sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento [9: p. 18]. Essa proposição e os argumentos de Le Bon para justificá-la, serviu de parâmetro para o estudo sobre Psicologia de Grupo publicado por Freud em 1921.

Contudo, só no século XX, foram estabelecidas as condições para se conferir cientificidade aos temos da Dinâmica Grupal. Um relato sobre essas condições pode ser feito considerando-se dois níveis de fatos: 1o) Dinâmica Grupal e condições históricas dos EUA. Considera-se alguns fatos especificamente relacionados à história dos Estados Unidos da América e suas relações com o desenvolvimento da Dinâmica Grupal; 2o) Fatos da história do desenvolvimento da Dinâmica Grupal. Apresenta-se uma seqüência de cinco acontecimentos históricos relevantes para a consolidação dessa ciência na atualidade.

3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA. As excepcionais condições nos campos político-ideológico, econômico, e científico-tecnológico dos EUA neste século, foram extremamente favoráveis para o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana naquele país. Quanto a isso, o que é sempre ressaltado é a radical coerência entre os postulados da Dinâmica Grupal e os parâmetros do campo político-ideológico norte-americano. Essa coerência pode ser observada nos seguintes fatos:

3.1.1. Os ideais de democracia e participação estão presentes desde os primórdios da formação social americana — quanto a isso o pensador francês Alexis de Tocqueville acentua sobretudo o sistema de valores dos imigrantes puritanos que povoaram a América, e o seu duplo sentido da igualdade e da liberdade [14: p. 214].

3.1.2. O associativismo, como uma resposta pragmática às enormes dificuldades encontradas pelos primeiros colonizadores, é inerente ao processo de formação da nação americana. Sobre isso, o mesmo Tocqueville em seu célebre tratado "Sobre a democracia na América", publicada em 1864, fez a seguinte observação: tenho encontrado na América todos os tipos de associações. Os americanos de diversas idades, condições e opiniões se associam constantemente. Não somente em termos comerciais e industriais, mas também religiosos, morais, sérios ou fúteis, gerais ou particulares e de grandes ou pequenas associações. Na França, você encontra liderando um novo projeto, o Estado; na Inglaterra, um grande proprietário e, na América, uma associação. [15: p. 2].

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3.1.3. A peculiar situação política dos EUA no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Na década de 30, a sociedade americana, em contraposição aos sistemas totalitários que predominavam no mundo de então (nazismo na Alemanha, stalinismo na Rússia, monarquia absoluta no Japão etc., era o que Karl Popper caracterizou como sociedade aberta [16: p. 53], pois regida por parâmetros democráticos. Isto é, a liberdade de comunicação e associação é uma garantia da Constituição Federal, e há funcionamento independente dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

Foram essas condições democráticas que permitiram que, nessa década de 30, inúmeros cientistas e pensadores de renome abandonassem seus países de origem e fossem desenvolver seus trabalhos nos Estados Unidos - entre eles, muitos eram de origem judáica que fugiam do nazismo alemão, como os já citados autores fundamentais para a Dinâmica Grupal: Kurt Lewin e Jacob Levy Moreno.

3.1.4. As dramáticas mudanças na economia americana ocorridas na década de trinta, mais especificamente entre os anos de 1929, crack da bolsa de New York, e 1941, ano do ataque japonês a Pearl Harbour e da entrada americana na II Guerra. Nesse curto período de tempo, a economia americana desenvolveu-se, com dramáticas modificações, em três etapas: 1a) inicialmente, a grave recessão com desemprego em massa; 2 a) depois, a fase de recuperação determinada por uma planejada intervenção governamental com reorganização financeira, mobilização coletiva e pesados investimentos econômicos na área pública, uma política denominada de New Deal; 3a) finalmente, a aceleração do crescimento da economia que foi impulsionada pelos esforços coletivos organizados para a guerra.

Todas essas fases econômicas propiciaram situações muito favoráveis ao desenvolvimento de trabalhos com grupos: na época da recessão, a preocupação com "rendimento" determinou o estudo, por parte dos psicólogos, dos fatores de rendimento das equipes de trabalho [15: p. 2]; na fase de recuperação, foi necessário um amplo processo de mobilização coletiva e a utilização de métodos massivos de propaganda e mobilização, e isso instigou os dirigentes a programarem, nas suas pesquisas e análise dos fenômenos coletivos, meios de ação sobre os grupos humanos; a preparação para a guerra obrigou os especialistas a intensificarem suas pesquisas sobre os fatores de coesão e eficácia das pequenas unidades de trabalho, os elementos do ‘moral’ dos grupos isolados em operações, e os processos acelerados de formação pelos métodos de grupos [15: p. 2].

3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal. Os cinco fatos mais marcantes para a história da Dinâmica Grupal no século atual aconteceram nos Estados Unidos da América, e foram os seguintes:

3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt. Em 1905, o médico Joseph Pratt trabalhando num sanatório de Boston, introduziu entre seus pacientes internados com tuberculose uma metodologia de

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trabalho chamado de classes coletivas [17: p. 23]. As classes tinham como finalidade acelerar a recuperação física dos enfermos mediante uma série de medidas sugestivas que eram administradas através de informações técnicas sobre a doença e dentro de um clima de cooperação grupal. Com esse método, que foi concebido como terapias exortativas paternais que atuam pelo grupo [17: p. 23], Pratt tornou-se pioneiro, pois foi o primeiro a utilizar-se de forma sistemática e deliberada das emoções coletivas com fins terapêuticos.

A notável eficácia da abordagem de Pratt, fez com que fosse estendida para muitas outras categorias nosológicas, como diabetes, neuroses, e alcoolismo — Alcóolicos Anônimos (AA), organização iniciada em 1935, é o exemplo mais significativo dessa tendência terapêutica [17: p. 23].

3.2.2. Pesquisas de Hawthorne. Em 1928, na usina de eletricidade de Hawthorne da Western Electric em Chicago, foi realizado um conjunto de pesquisas lideradas pelo australiano Elton Mayo. Esses estudos foram concebidos com base nos métodos da Psicologia Experimental usados por Wilhelm Wundt em Leipzig, e inicialmente procurava determinar o efeito de determinados fatores ambientais, iluminação do ambiente por exemplo, sobre a produtividade. Com o andamento da experiência, verificou-se que os operários comportavam-se como acreditavam que deveriam, e não como os pesquisadores esperavam — por exemplo, aumentavam sua produção quando os pesquisadores diziam que a iluminação aumentava, quando ela na realidade não se alterava. A partir daí, o experimento demonstrou que era impossível estabelecer uma correlação simples e direta entre os fatores físicos do ambiente de trabalho e a produtividade. As causas do desempenho estavam no comportamento humano.

Como conseqüência de um trabalho de quase uma década, Mayo e seus colaboradores lançaram as bases de uma nova filosofia de administração, que passou a ser chamada de Relações Humanas no Trabalho. Os pontos principais dessa filosofia são os seguintes:

è O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do trabalho individual que quase nunca coincide com os padrões impostos pela administração;

è A administração não deve estabelecer relações com o indivíduo, mas com o grupo [18: p. 27].

3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo. Por volta de 1932 estava completo o desenvolvimento para sistematização da Psicoterapia de Grupo.

Inicialmente deve-se ressaltar que a psicoterapia de grupo começou como uma ciência do grupo terapêutico e não do grupo "em si". A contribuição que a psicoterapia de grupo

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forneceu à Dinâmica Grupal é a de que ela se ocupa, de forma realística, com a patologia do grupo [19: p. 19].

Por volta de 1931, começaram quase que simultaneamente em Nova Iorque dois movimentos com a utilização de pequenos grupos para o tratamento de transtornos psíquicos: início dos trabalhos psicodramáticos por Moreno; início da Grupoterapia ativa de Samuel R. Slavson.

Com o início desses dois trabalhos, foram criadas as duas principais organizações de terapeutas de grupo: a Associação Americana de Psicoterapia de Grupo fundada por Slavson, e a Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama criada por Moreno [11: p. 7].

E também delineiam-se os dois modelos básicos para se abordar um grupo com objetivos terapêuticos: diretivo; não diretivo. O primeiro, um estilo que Moreno, um líder narcísico e carismático [11: p. 6], desenvolveu na terapia pela ação do Psicodrama. O segundo modelo institucionalizou-se na Sociedade de Slavson, um educador progressista influenciado pelas idéias democráticas de John Dewey (...) um autodidata, pioneiro da terapia psicanalítica de grupo com crianças [11: p. 119, 467].

è O Modelo psicodramático de Moreno representou uma revolução conceitual e operativa para o manejo psicoterápico de grupos humanos.

Conceitualmente, a maior contribuição moreniana à Dinâmica Grupal foi a introdução do termo tele. Tele é um fator que na sociometria, uma outra criação de Moreno que será abordada num próximo item, indica encontro humano.

Esse mesmo sentido de tele permitiu a Moreno propor o psicodrama como um método terapêutico único, abrangente e capaz de, via o encontro na ação grupal, efetivar uma cura. A justificativa moreniana é expressa na seguinte construção: Mesmer afirmava que as curas hipnóticas são devidas ao magnetismo animal. Bernheim demostrou que não é o magnetismo animal que produz a cura, mas a sugestionabilidade do sujeito. Freud descartou a terapia pela hipnose e declarou que o eixo da sugestionabilidade (e portanto da cura) é a transferência [20: p. 18]. Completando esse raciocínio, Moreno propôs o tele como superação da relação transferencial — o tele é o corolário do encontro que se estabelece entre o terapeuta e o cliente-grupo, sendo assim o autêntico eixo da cura.

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Operativamente, o novo da proposta moreniana está no formato terapêutico. Um formato terapêutico consiste em duas partes, uma é o veículo, tal como o divã, a cadeira, o palco do teatro terapêutico etc.; e outra, são as instruções relativas ao modo de comportar-se quanto ao veículo [20: p.117].

Quanto ao veículo, a grande contribuição moreniana à terapia grupal consistiu na introdução do palco. Esse permitiu a ativa participação do grupo, enquanto atores e platéia de um drama terapêutico, nos processos de cura.

O palco também propiciou um ambiente terapêutico com instruções específicas: o desempenho de papéis.

Na terminologia inglesa, desempenhar papéis significa role playing, e consiste em colocar as pessoas (atores) em várias situações e em vários papéis [20: p. 157]. Com isso, busca-se a espontaneidade e o seu corolário a criatividade que são os fatores fundamentais para um vida humana saudável.

è Slavson, em suas contribuições à psicoterapia de grupo, partilha da crença subjacente do primado da abordagem do indivíduo em grupo. Em sua abordagem individualista a Dinâmica Grupal era minimizada e as concepções do grupo funcionando como uma entidade eram vigorosamente atacadas [11: p. 133].

O modelo terapêutico de Slavson, que é chamado de intrapessoal por acentuar o primado da psicodinâmica individual no grupo, e por ver na situação da terapia grupal uma réplica do tratamento um-a-um (um terapeuta, um paciente) da psicanálise individual, foi contestado pelo modelo integralista que vê o grupo como um todo, como o local e a força motivacional principal para a mudança terapêutica [11: p. 10].

O modelo integralista mais consistente foi apresentado na já citada concepção de Wilfredo Bion.

Bion, que se achava familiarizado com a teoria de campo de Kurt Lewin, e via o grupo como dinamicamente diferente dos membros individuais [11: p. 31], concebeu,

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a partir de suas experiências como psicoterapeuta de grupo na Tavistock Clinic de Londres durante a Segunda Guerra Mundial, a citada teoria dos pressupostos básicos para explicar o grupo como um todo.

Em termos práticos Bion defendeu a idéia de que o papel do terapeuta de grupo reside essencialmente em confrontar o grupo como um todo com seus temas de fantasia inconscientes partilhados sob forma dos pressupostos básicos [11: p. 8].

O trabalho de Bion com a Dinâmica Grupal foi muito breve. Contudo, suas concepções e o campo de trabalho estruturado na Tavistock Clinic impulsionaram as pesquisas e as experiências com terapia grupal em todo o mundo.

Na América Latina, mais especificamente na Argentina do final de década de cinqüenta, um fértil campo terapêutico foi desenvolvido, ocupando lugar central os trabalhos com grupo operativo de Pichon-Rivière.

A concepção de grupo operativo surgiu a partir da idéia bioniana de que as atividades grupais comportam dois níveis: nível da tarefa, e nível dos pressupostos básicos. Pichon-Rivière propôs uma psicoterapia de grupo centrada na tarefa [8 p. 84]. Para ele, juntamente com a idéia de que o grupo é o agente da cura, o terapeuta deve fazer uma análise sistemática das dificuldades do grupo em tarefa. Isto é, a atividade terapêutica está centrada na mobilização de estruturas e condutas estereotipadas que imobilizam a realização de uma tarefa pelo grupo [8 p. 84].

Conforme o esquema pichoniano, essas estruturas estereotipadas são determinadas pelas ansiedades despertadas pelas mudanças que uma tarefa impõe ao grupo. Por sua vez, Pichon-Rivière, inspirado na teoria dos mecanismos de defesa primitivos de Melanie Klein, identificou duas modalidades básicas de ansiedades que podem paralisar a atividade grupal: (a) ansiedade depressiva, determinada pelo abandono do vinculo que o grupo mantinha com uma tarefa anterior; (b) ansiedade paranóide, criada pelo novo vínculo que o grupo deverá manter com a outra atividade a que estará submetida.

Nessas circunstâncias, o papel do coordenador (terapeuta) deve ser a de diminuir

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essas ansiedades, favorecendo o vínculo entre o grupo e o campo de sua tarefa. Conseqüente a isso, é estruturado um grupo operativo onde o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a resolução de tarefas coincidem com a cura [8: p. 98].

Em Pichon-Rivière esse funcionamento aberrante emerge como ansiedades e conflitos que podem paralisar a realização da tarefa pelo grupo. Por isso é necessário que seja trabalhado para que o grupo continue a existir eficazmente em torno de uma tarefa. Nesse sentido, ocupa papel fundamental uma liderança formal ou informal. Essa liderança, no acontecer grupal, é representada por aquele indivíduo que se faz depositário dos aspectos positivos do grupo, tornando-se assim uma espécie de direcionador das diversas atividades desenvolvidas pelo grupo [12: p. 56].

Para finalizar, deve-se atentar que, para desempenhar um bom papel corretor e bem direcionador das atividades grupais, a liderança, ao mesmo tempo em que deve desmistificar (desvelar) essa dinâmica subjacente que paralisa os trabalhos em grupo, deve também assumir a função de aglutinar a cooperatividade do grupo em torno do planejamento e realização da tarefa produtiva.

3.2.4.Criação da Sociometria. Em 1932, Moreno cria, simultaneamente com o Psicodrama, a Sociometria.

Na apresentação desse método, Moreno define a sociometria como a ciência da medida do relacionamento humano [19: p. 39]. Contudo, coloca um pressuposto nessa definição científica — o método sociométrico foi concebido a partir de uma outra referência epistemológica básica, qual seja, a religiosa.

Moreno reconhece que, rigorosamente, a religião não é considerada um referencial científico. Apesar disso ele próprio contra-argumenta com pertinência: religião vem de religare, que é o princípio de tudo reunir, de ligar em conjunto. [19: p. 21], e daí propõe a sociometria como a ciência que busca a essência da ligação, da re-ligação, e da vinculação humana.

Ademais, a base religiosa permitiu-lhe a criação de uma verdadeira estrutura cosmológica para a sociedade humana. Essa estrutura formaria um sistema social utópico por ele denominado de socionômico cujo projeto, em princípio, visava a uma elucidação do fenômeno social tal qual era vivido no seu interior pelos seres humanos que dele participavam, o que exigiria a adoção de métodos diretos e

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experimentais [4: p. 121]. Ou seja, exigiria a adoção do método sociométrico.

Ainda nesse ideal utópico, estavam implicitamente delineados os três eixos que fundamentariam a sociometria, e que também se constituiria na principal contribuição de Moreno à ciência da Dinâmica Grupal, quais sejam, o conceito de espontaneidade-criatividade, o fator tele, a teoria do papel.

Quanto a isso, Moreno afirma numa citação autobiográfica que minha posição religiosa original compreendia três aspectos: primeiro, a hipótese da espontaneidade-criatividade como força propulsora do progresso humano, acima e independente da libido e dos motivos sócio-ecônomicos; segundo, a hipótese do amor e da partilha mútua como princípio funcional poderoso e indispensável na vida de um grupo; terceiro, a hipótese de uma comunidade superdinâmica baseada nestes princípios que pode ser efetivida através de técnicas sociométricas [1: p. 23].

Ou seja, repetindo, esses três aspectos englobam o que atualmente é considerado os fundamentos da concepção moreniana relativa à pessoa humana: o conceito de espontaneidade-criatividade para a dimensão individual; o amor, e sua expressão o fator tele, em sua projeção social; o papel, como eu tangível, resultado da conjugação dessas duas dimensões anteriores.

A espontaneidade está no princípio da sociometria, pois um processo sociométrico só merece fé quando os seus participantes manifestam espontaneamente suas preferências. [21: p. 120].

O papel, um conceito derivado do teatro e introduzido na sociologia e na psiquiatria por Moreno, indica a posição (status) que a pessoa assume dentro da sociedade. [21: p. 211]. O teste sociométrico visa justamente captar esse status num indivíduo de uma relação grupal.

O tele é um corolário do religioso conceito amor — summum bonum [22: p. 24]. Na Dinâmica Grupal o que unifica e constitui a unidade grupal é o tele [21: p. 195].

O fator télico possibilita o encontro na grupalidade humana. Nessa mesma grupalidade, o fator que opera facilitando o desencontro, a desagregação grupal, é a "força" descrita pela psicanálise como transferência.

O tele é ainda uma proposição sociométrica que pode ser expressa na seguinte relação: eleição e percepção do indivíduo para o grupo/eleição e percepção do grupo para o indivíduo.

Com isso o tele torna-se fatorável. Significando que, através de um teste sociométrico, ele pode ser expresso num fator numérico; o qual, num primeiro plano, indica um valor relativo

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ao status que um indivíduo ocupa numa grupalidade; e, num plano maior, indica um valor relativo ao nível de agregação conseguido pelo grupo do qual esse indivíduo faz parte.

Esses valores relativos, por sua vez, podem ser apresentados através de tabelas e gráficos denominados de sociogramas.

Encerrando com Dalmiro Bustos, um psicodramatista argentino que, mercê de sua formação psicanalista, realizou, após visitar Moreno em seu Instituto de Beacon (Nova York) em 1969, um trabalho para aperfeiçoamento do Teste Sociométrico: tele implica um conceito existencial e totalizador, intelectivo, afetivo, biológico e social. Ao abandonar o acaso em nossa infância começa a seleção. Buscamos sociometricamente aqueles que complementem positivamente nossos objetivos, rechaçamos outros ou permanecemos indiferentes a terceiros. Quando se dá o encontro, existe a certeza e não são necessárias verbalizações de confirmação. Produzem-se respostas-condutas coerentes com as propostas. Deste modo sabemos que é o fator télico que está funcionando. [23: p. 17].

3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. Em 1945 Kurt Lewin funda, a pedido do Instituto Tecnológico de Massachusets (Massachusets Institute of Technology-M.I.T.), o primeiro centro de pesquisas dedicado especificamente à Dinâmica Grupal.

Como acontece com todas as outras ciências, a história da Dinâmica Grupal também pode ser dividida em dois períodos: pré-científico e científico.

Pode-se dizer que o período pré-científico desenvolveu-se até a década de trinta quando Kurt Lewin e seus colaboradores realizaram as primeiras pesquisas empíricas, teoricamente significativas com grupos humanos. Até esse período, quem sentia curiosidade pela natureza dos grupos para obter respostas às suas questões dependia, sobretudo, da experiência pessoal e de documentos históricos. Foram criados sistemas teóricos complexos e muito amplos, pois foram concebidos por homens de notável capacidade intelectual, entre os quais: Cooley, Durkheim, Tarde, Le Bon, Freud. [24: p. 6/7].

As pesquisas que Lewin e sua equipe realizaram entre a década de trinta e quarenta, e que levaram ao reconhecimento científico e ao convite para fundação do laboratório no M.I.T. representaram para as ciências sociais, sobretudo para a psicologia e a sociologia, uma verdadeira rebelião empírica. Nesses trabalhos, em vez de se aceitar a especulação sobre a natureza dos grupos, procuraram-se os fatos e buscaram-se separar dados objetivos e impressões subjetivas. [24: p. 7].

Entre esses trabalhos, dois são destacados, tanto porque apresentam um procedimento metodológico de fácil

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operacionalização e reprodutibilidade; como também pelo alto valor heurístico de suas conclusões, podendo, por isso, ser consideradas como um verdadeiro padrão-ouro utilizável no campo das pesquisas científicas com a Dinâmica Grupal.

Em virtude da mencionada importância histórica dessas duas pesquisas, será apresentado um relato sobre as mesmas, e também será feita uma apresentação do que ficou conhecido como T-Group, uma técnica iniciada por Lewin a partir dessas pesquisas com a Dinâmica Grupal.

Porém, antes desse relato, deve-se considerar que a lewiniana equipe iniciou cada uma das duas pesquisas com um pressuposto básico: na primeira, a pressuposição era a de que os grupos funcionam como totalidades dinâmicas, e que realizam seu equilíbrio num "campo de forças". No entanto, mesmo sendo um "campo de forças", uma pressão exterior pode modificá-lo ou basta que se integre a informação no campo perceptivo do grupo para provocar a mudança [2: p. 95]; a segunda, referiu-se aos estados de equilíbrio grupal. Nesta, pressupunha-se que, como uma gestalt, o grupo busca uma "boa forma" em seu equilíbrio. [2: p. 97];

Primeira pesquisa: em 1943, o estado de relativa penúria devido à constituição de reservas para o exército levou as autoridades norte-americanas a se voltarem para os meios de mudar os hábitos alimentares dos estadunidenses. Era necessário persuadi-los de que as vísceras (coração, rins etc.), muitas vezes rejeitadas, tinham as mesmas qualidades nutritivas da carne considerada "de primeira". Toda uma campanha de informações pela imprensa, pelo rádio, por cartazes tinha tentado demonstrar as vantagens econômicas desta mudança.

Apesar dos meios utilizados, os resultados se revelaram insignificantes. Lewin foi então encarregado pelo governo americano de estudar um novo modo de ação. De princípio constatou que eram as donas-de-casa que representavam o elemento de decisão em toda compra de carne consumida pelas famílias. Decidiu então atuar sobre pequenos grupos de donas-de-casa.

Ao iniciar os trabalhos, achou-se diante do seguinte problema: ou acentuava o caráter positivo do consumo das vísceras; ou diminuía as reticências diante desses alimentos julgados negativamente.

Reuniu então vários grupos de uma quinzena de pessoas. Em metade desses grupos, especialistas qualificados (como médicos e nutricionistas) explicaram como e por que

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deveria se consumir tais pedaços de carne. Essas explicações revelaram-se decepcionantes, pois somente 3% dos membros dos grupos aceitaram realmente as informações, traduzindo-as em seus comportamentos alimentares.

Na outra metade dos grupos, a equipe de pesquisadores contentou-se em colocar o problema para os participantes: tendo em vista a difícil situação econômica com grave escassez de carne, de que modo é possível mudar o consumo para que haja disponibilidade de carne para toda a população?

Depois deixou a discussão desenvolver-se sem intervir, exceto para fornecer informações, quando eram pedidas. Essas discussões permitiram a cada dona de casa a possibilidade de falar sobre seu próprio comportamento, de analisar suas atitudes diante dos problemas etc. Ficou rapidamente claro que a recusa desses alimentos baseava-se em certos receios subjetivos, preconceitos que pareciam possíveis de ultrapassar. Resoluções foram tomadas em comum, e as participantes se comprometeram a modificar suas atitudes. Com efeito, os resultados mostraram que 32% delas modificaram suas compras, e passaram a usar em seu cardápio as vísceras.

Lewin e sua equipe tiraram do fato constatado a seguinte conclusão: na primeira metade dos grupos, ao trazer a informação por meio de autoridade, aumentava-se a pressão por uma mudança. No entanto, seria necessário uma pressão mais forte, mais autoritária para que essa solução tivesse êxito, o que poderia desencadear tanto agressividade quanto recusa por parte do grupo.

Na outra metade, ao invés de aumentar, por meios autocráticos, as pressões externas, ele preferiu reduzir as resistências que se opunham à mudança através do diálogo do compromisso com a mudança pelos participantes. Com isso, houve deslocamento para um novo equilíbrio grupal.

Segunda pesquisa: os estudos dos estados de equilíbrio levam Lewin e sua equipe a procurar qual deva ser "a boa forma" de um grupo. Isto é, para que tipo de organização um grupo deva dirigir-se. O experimento que ilustra essas pesquisas é conhecido com o nome de "experimento dos três climas".

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Três grupos de crianças eram voluntários para a construção de maquetes de teatro. Essas crianças foram agrupadas por afinidades, o que facilitava a coesão no grupo e motivação na tarefa. Daí, pensava-se que os resultados do grupo dependeria do tipo de organização utilizada. Em cada grupo um experimentador induziu uma forma diferente de organização.

No primeiro grupo, o experimentador define os objetivos e os meios para atingí-los, e as crianças devem obedecer a seguinte exigência: é um grupo autocrático, em que a organização é definida "de fora", pelo experimentador.

No segundo grupo, o experimentador define com as crianças as finalidades, os meios e a divisão das tarefas: é um grupo democrático, em que os indivíduos interagem para encontrar a melhor organização.

No terceiro grupo, o experimentador não impõem nem propõe nada, o grupo é entregue a si mesmo: é um grupo sem diretrizes, um grupo laissez—faire.

O experimento mostrou resultados diferentes, conforme os três tipos de organização.

No grupo autocrático a tarefa é efetuada sem entusiasmo; a produção é "média"; as relações interpessoais são tensas; os participantes sentem-se frustrados e suas atitudes oscilam entre a apatia e a agressividade. Assim que o experimentador deixa a sala. o trabalho é interrompido.

No grupo democrático a produção é "boa", o nível de satisfação elevado, e as relações entre os membros baseiam-se na cooperação com a redução das tensões. O grupo é suficientemente autônomo para prosseguir em sua tarefa quando o animador se ausenta.

No grupo "laissez-faire" a produção é pequena, os participantes mostram um constante sentimento de frustração e de fracasso, a agressividade entre os membros é intensa.

Desse experimento, foi tirado uma conclusão quanto à "boa forma" grupal: o grupo democrático, por ser o mais produtivo e por trabalhar dentro do "melhor clima", mostrou-se a forma ideal de organização social.

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T-Group: Após essas duas pesquisas, e com a fundação do laboratório no M.I.T., Kurt Lewin e seu grupo de colaboradores ampliaram o campo de experiências aplicando a Dinâmica Grupal em treinamentos de relações humanas.

O método utilizado então passou a ser denominado de T-Group (Training Group, ou Grupo de Treinamento). Para viabilização desse método, Lewin partiu de uma outra pressuposição básica: é possível a modificação da conduta individual através de transformação do comportamento em grupo [25: p. 13].

A comprovação desse pressuposto, que também é coerente com os formulados para as duas pesquisas anteriores, deu-se com uma série de sessões de grupos. Dessas, será apresentado um resumo histórico da experiência inicial, quando Lewin e sua equipe fez, fortuitamente, a descoberta do poderoso meio de formação e de mudança em Dinâmica Grupal, o T-Group. [15: p. 69].

A história do T-Group começa em 1946 quando, numa escola estadual para formação de professores primários em Connecticut-EUA, foi realizada uma experiência sob a responsabilidade técnica do centro de pesquisa de Dinâmica Grupal dirigido por Lewin. Essa experiência tinha como finalidade principal testar hipóteses concernentes aos efeitos comparados das conferências e dos estudos de casos sobre o comportamento e suas mudanças. Ao mesmo tempo também objetivava formar animadores de grupo em organizações pedagógicas.

Nas sessões iniciais, os participantes, em número de 30, eram divididos em três grupos que se reuniam sob a coordenação de um monitor e com a presença de um observador que preenchia as folhas de observação das interações e da dinâmica grupal. Os sub-grupos empregavam seu tempo entre estudos de casos com jogos de papéis e exposições magistrais.

Para avaliação dessas reuniões foram organizadas sessões especiais de trabalho, as quais reuniam os animadores oficiais e os observadores para verificar as observações e discutí-las. Durante o desenvolvimento dos trabalhos, alguns participantes da experiência que moravam nessa escola pediram para assistir a essas sessões de avaliação. Após discussões entre os membros da equipe

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coordenadora, eles foram admitidos. Aconteceu então algo imprevisto que é descrito assim: Lewin e sua equipe de animadores não previra os efeitos sobre os participantes da descrição de seus comportamentos, nem a maneira pela qual seria preciso orientar as relações entre a equipe e os ouvintes voluntários. Aberta a discussão, o efeito foi elétrico, primeiramente, foi preciso, inexoravelmente, abrir essas reuniões às demais pessoas interessadas, e logo todos passaram a comparecer. As reuniões prolongavam-se por três horas seguidas. Os participantes declaravam que elas eram essenciais, e ninguém mais deixou de lembrar o programa previsto, os casos que a equipe preparava, as situações trazidas pelos membros voluntários, os jogos de papéis etc. [15: p. 69].

Logo depois nasceu a idéia de substituir o conteúdo das sessões que era baseado em fatos ocorridos "um outro lugar, num outro tempo", pela análise do comportamento dos próprios membros do grupo no "aqui-agora" (em latim: hic et nunc) das sessões. E assim o papel do monitor passou a consistir em atrair a atenção do grupo sobre o hic et nunc vivido e não apenas racionalizado pelos membros do grupo.

Infelizmente, no início de 1947 Kurt Lewin morre subitamente, o que certamente dificultou a continuidade e o aprofundamento teórico das pesquisas por sua equipe. No entanto, os seus achados com o T-Group influenciaram de maneira decisiva o desenvolvimento teórico e prático de diversas áreas da Dinâmica Grupal na atualidade — Gestalterapia, Sócio-Análise, Grupos de Encontro, Grupo Operativo etc. Para encerrar este capítulo, cita-se apenas duas dessas áreas de influência: (a) Grupos de Encontro; (b) Grupo Operativo.

(a) Grupos de Encontro. Em verdade constituiu-se num amplo movimento grupalístico que se desenvolveu, especialmente na sociedade americana, durante a década de sessenta. Esse movimento foi iniciado pelo psicólogo Carl Rogers e se caracterizou pela amplitude de uma organização multitudinária, pelas experiencias comunitárias, e pela postura liberalizante em sua prática grupal [26: p. 130]. Esta última característica, um aspecto fundamental da concepção dita rogeriana, se expressa numa postura que é prescritiva para

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o animador de um Grupo de Encontro, qual seja, a não-diretividade.

Sobre isso, ressalve-se ainda dois fatos: primeiro, conforme uma observação crítica, com sua técnica, Rogers buscou apenas uma fundamentação ético-filosófica, não existindo nele qualquer preocupação científico-epistemológica. [26: p. 130]; segundo, essa fundamentação ético-filosófica foi absorvida por correntes pedagógicas contemporâneas que encontraram em Rogers, com o seu personalismo radicalmente libertário e a sua recusa de toda relação de autoridade na experiência pedagógica, [6: p. 3621], o modelo ideal para a prática de uma almejada educação humanista.

(b) Grupo Operativo. Iniciou-se com a denominada "Experiência Rosário", um seminário coordenado por Pichon-Rivière, em 1958, numa instituição universitária da cidade de Rosário na Argentina.

Em Rosário ocorreu uma experiência de laboratório social que se efetivou mediante as técnicas de investigação ativa de Kurt Lewin, e que teve como propósito a aplicação de uma didática interdisciplinar e de caráter acumulativo [12: p. 88]. Dela resultou a técnica do Grupo Operativo que está centrada na tarefa, onde teoria e prática se resolvem numa práxis permanente e concreta do "aqui-agora" de cada campo grupal assinalado.

Finalmente, deve-se assinalar que Grupo Operativo não é um termo utilizado para se referir a uma técnica específica, e nem a um tipo determinado de grupo — Grupo Terapêutico, por exemplo. Mas refere-se a uma forma de pensar e operar em grupos, que pode se aplicar à coordenação de diversos tipos de atividades grupais, existindo, portanto, grupos operativos terapêuticos, familiares, de aprendizagem, de reflexão, entre outros. [12: p. 53].

 

 

4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL

A Dinâmica Grupal é uma ciência Interdisciplinar. Portanto, qualquer um dos modelos que se use para sua classificação deve considerar as múltiplas disciplinas científicas a ela relacionada. Nesta obra será apresentado um modelo composto de dois itens:

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primeiro, um esquema classificatório com posicionamento da Dinâmica Grupal perante a Psicologia e a Sociologia, ou seja, perante as duas ciências humanas a que está diretamente vinculada; segundo, um quadro divisório relacionando os grandes antecedentes, e as linhas de influência mais significativa da Dinâmica Grupal.

4.1. Dinâmica Grupal X Psicologia e Sociologia

    1.1.1. Behaviorismo

(Psicologia Comportamental)

 

     

1.1. Psicologia

Individual

   

     

    1.1.2. Psicanálise

(Psicologia Dinâmica)

 

1. Psicologia

     

    1.2.1. Psicologia das Massas (Multidões)

 

     

1.2. Psicologia

Social

   

       

  1.2.2. Psicologia dos Grupos

 

       

      Dinâmica Grupal

     

  2.1. Micro-Sociologia  

       

2. Sociologia

     

2.2. Macro-Sociologia

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Observar que a Dinâmica Grupal foi colocada numa situação de dupla equivalência: a psicologia de grupos e a micro-sociologia. No entanto, pode-se afirmar, com fundamentos, que a Dinâmica Grupal está ligada primordialmente à Psicologia, e secundariamente à Sociologia. Uma fundamentação para esta afirmativa será apresentada nos parágrafos seguintes.

No campo da Sociologia é feita a divisão entre macro-sociologia e micro-sociologia. A primeira trata da vida social na escala mais ampla das organizações sociais, das comunidades e das sociedades inteiras. A segunda focaliza o mundo face-a-face da interação social. [27: p.139].

A micro-sociologia refere-se ao que C.H. Cooley, num dos estudos clássicos das ciências sociais define como "grupos primários", isto é, aqueles grupos que se caracterizam pela associação íntima, face-a-face entre seus membros. [6: p. 5516].

Considerando que essa definição de Cooley é compatível com o conceito que Pichon-Rivière dá ao fenômeno grupo, então, pode-se afirmar que, por terem nos "grupos primários" o mesmo objeto de estudo, a Dinâmica Grupal e a micro-sociologia referem-se a uma mesma especialidade das Ciências Humanas.

Contudo, sobre isso deve-se ainda considerar que há pertinência na perspectiva teórica que percebe no fenômeno grupo um arcabouço entremeado em espiral e constituído pela tríade: a) estrutura; b) processo; c) conteúdo. [28: p. 16].

a) Estrutura. Em termos sociológicos, refere-se ao conceito de morfologia social, e tem quase o mesmo sentido que os geógrafos utilizam para designar o modo pelo qual a população se distribui pela terra. A estrutura é essencialmente material, física. [6:p. 4303]. Isto é, refere-se aos aspectos espaço—temporais do quando, onde e quem, que é exemplificado nos termos grupos primários ou secundários, classes sociais, instituições, comunidades, sociedade etc.

b) Processo. Refere-se aos aspectos dinâmicos que são ativados dentro e entre essas estruturas. [28: p. 17]. A ação se desenvolve como interação e comunicação na estrutura social.

c) Conteúdo. Diz respeito ao significado desta ação nesta estrutura. Significado este que estabelece a coesão, a coerência e a continuidade grupal [28: p. 18].

Sendo assim, e observando-se que desde os seus fundadores Augusto Comte, Herbert Spencer e Emil Durkheim, a sociologia esteve particularmente interessada na estrutura social — Durkheim em 1901, definiu a sociologia como a ciência das instituições [28: p. 17] - tendo secundarizado a abordagem dos processos e dos significados da ação social.

Ainda deve-se considerar que o tangível num processo grupal é o comportamento de seus membros; e que o significado desse processo está baseado na subjetividade desses componentes. Assim, considerando-se que os elementos comportamento e subjetividade constitui-se no próprio objeto de estudo da Psicologia, então, a Dinâmica

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Grupal, que também busca estudar esses elementos na grupalidade humana, é, sobretudo, uma derivação da Psicologia.

De fato, para completar, foi principalmente o desenvolvimento da Psicologia entre o final do século XIX e o início do século XX que permitiu o surgimento e a sistematização de uma ciência do grupo humano.

Nesse desenvolvimento da Psicologia destacam-se duas linhas teóricas: a psicanálise e a psicologia da gestalt; e uma área prática: a psicoterapia de grupo. A Dinâmica Grupal constituiu-se, enquanto especialidade das ciências humanas, principalmente referenciada nesses três campos da Psicologia, de onde ela retirou os seus principais conceitos e os elementos necessários para operacionalizar os seus termos. Baseado na argumentação acima exposta, apresenta-se a seguir o já citado Quadro Divisório. Nele estão relacionados os principais antecedentes, e os desdobramentos mais significativos da Dinâmica Grupal.

4.2. Dinâmica Grupal X Antecedentes e Desdobramentos

 

Quanto ao quadro da pagina anterior deve-se fazer apenas três considerações:

10) Ele é resultado de uma adaptação de um quadro apresentado no manual sobre Psicoterapia de Grupo que foi elaborado por uma equipe coordenada por Osvaldo Saidon. O quadro, segundo seus autores, representa uma tentativa de decifrar as linhas de influência que podem ser identificadas em relação às práticas terapêuticas de grupo mais difundidas no panorama atual deste campo; [26: p. 16];

20) O denominador comum entre os citados autores estruturantes está justamente no caráter estruturalista de suas investigações. Sobre isso, observa-se que o grupo é um fato privilegiado para investigação social, pois nele o caráter de totalidade próprio às estruturas [29: p. 10] é evidente.

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30) A propósito dessa última afirmação, sabe-se que através da sociometria pode-se demonstrar, matematicamente, a procedência da propriedade expressa na fórmula: o todo é mais do que a soma de suas partes. Isto é, exemplificando: considere o tele como o fenômeno grupal que preenche esse caráter de totalidade. Então, ao se buscar um cálculo de um índice télico num grupo operativo qualquer, pode-se verificar que, mais do que o simples somatório das manifestações télicas de cada um dos participantes nessa atividade grupal, deve ser considerado outras propriedades estruturais de grupo [29: p. 10], como os subgrupos em parelhas e triangulações formadas entre os indivíduos em interação operativa.

 

5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL

Como está na classificação, a Dinâmica Grupal é uma ciência interdisciplinar. Isso significa que são múltiplas as suas aplicações técnicas, e, por conseguinte, também são múltiplos os campos dos saberes humanos que podem ser beneficiados com seus conhecimentos.

Entre os saberes beneficiados, citaríamos um enorme rol: saúde, educação, serviço social, administração de empresas, política, esportes, religião etc. No entanto, para efeitos descritivos, escolhemos apenas os quatro primeiros relacionados acima — Saúde, Educação, Administração e Serviço Social, para fazer uma sucinta descrição sobre os seus termos que são particularmente beneficiados com os conhecimentos da Dinâmica Grupal.

5.1. Saúde. Na área da saúde humana é onde se situam os resultados mais promissores das aplicações práticas da Dinâmica Grupal.

Neste sentido o destaque cabe às já apresentadas psicoterapias grupais. No entanto, além desse campo de aplicação, o qual já foi suficientemente relatado em capítulos anteriores, os trabalhos grupais têm se mostrado de grande utilidade em muitas outras áreas da saúde humana. Apresenta-se quatro exemplos:

5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas. Trabalhos de Grupos Operativos são largamente utilizadas como adjuvantes no tratamento de pessoas com doenças orgânicas consideradas crônicas. Desse modo, em diversas instituições médicas têm sido formados grupos operativos com portadores de diabetes, nefropatias, tuberculoses etc.

Esses grupos têm funcionado com objetivos diversos. No nosso meio hospitalar, já funcionam Grupos Operativos formados por esse tipo de clientela, um deles reúne pacientes dialisados do setor de nefropatia do Hospital Geral de Fortaleza. O grupo objetiva melhor prepará-los para enfrentarem as dificuldades inerentes a sua enfermidade, e contribuir para o bom êxito do processo de hemodiálise. Nas reuniões são realizadas atividades para incentivar o acompanhamento rotineiro com nefrologista; para transmitir informações úteis sobre a doença e métodos terapêuticos, para facilitar o estabelecimento de hábitos considerados saudáveis para o nefropata crônico, e, enfim, para melhorar o suporte psico-emocional, e Integrar os familiares no processo terapêutico [30: p. 1].

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5.1.2. Grupos Balint. Nos grandes Hospitais de Ensino Universitário são aplicadas muitas técnicas grupais para facilitar a formação e o aperfeiçoamento médico. Entre essas técnicas, é imprescindível uma menção aos Grupos Ballint. Esses grupos, cujo nome homenageia o psicanalista inglês Michel Ballint que, nos anos 50-60, desenvolveu essa técnica grupal, consiste, basicamente, em discutir a dinâmica das relações humanas contidas no bojo das situações clínicas trazidas pelos médicos participantes do grupo, na medida em que os mesmos experimentavam e reconheciam em sí próprio os dinamismos inconscientes inerentes a essa tarefa [31: p. 352]. Nas reuniões busca-se fazer com que os integrantes do grupo desenvolvam a capacidade de refletir acerca dos fenômenos relacionais inconscientes. Essa capacidade de reflexão implica no desenvolvimento simultâneo das capacidades para perceber, sentir, pensar, agir e, especialmente, o aprender a aprender manejar as diversas situações no dia-a-dia da atividade clínica.

5.1.3. A Comunidade Terapêutica e suas reuniões comunitárias nas quais todos os pacientes e membros do quadro de pessoal de uma unidade de saúde mental se reunem, é o mais complexo dos grupos terapêuticos [11: p. 498].

A primeira experiência de Comunidade Terapêutica aconteceu no Northfield Military Hospital, na Inglaterra durante a II Guerra Mundial. Nesse hospital militar, onde, entre outros, trabalhavam Bion, Tom Main, Pat de Mare e Sigmund Foulkes, aconteceram, nesse período, mudanças radicais em sua organização social, havendo transformações quanto aos cuidados médicos e ao papel dos pacientes em seu processo terapêutico — com os pacientes buscava-se superar as atitudes de passividade e retraimento estimulando a participação ativa numa comunidade de estrutura grupal [11: p. 498].

Nas décadas que se seguiram a essa primeira experiência em Northfield, a onda de comunidades terapêuticas espraiou-se pelas instituições psiquiátricas do mundo ocidental e, com ela, sua marca distintiva: a reunião comunitária.

Quanto a essa modalidades de reunião pode-se dizer que elas, do ponto de vista da terapêutica, apresentam vantagens e desvantagens. Contudo, como é inerente uma índole positiva nesta obra, será dito apenas sobre o que Sigmund W. Karterud, professor de psiquiatria na Universidade de Oslo, considera a função de Foro para Partilha de Informações a vantagem mais óbvia das assembléias de comunidade terapêutica, isto é: a reunião comunitária pode alcançar a todos e informá-los a respeito de acontecimentos que afetam a unidade como um todo. Quem se acha presente, quem não compareceu e por quais razões? Novos pacientes são apresentados, alguns pacientes podem estar indo embora, e membros do quadro de pessoal falam a respeito de suas próprias ausências. Atuações dramáticas — tais como comportamentos grosseiramente aberrantes, rompimento de normas e tentativas de suicídio — são geralmente trazidas ao conhecimento geral na

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reunião comunitária. Ao lado de seu puro valor informativo, a reunião também fornece oportunidades para avaliar-se a importância dinâmica dos eventos comunitários e corrigir percepções distorcidas [11: p. 499].

5.1.4. Grupos de Auto-Ajuda. Um movimento grupal que se universalizou e se diversificou graças a uma imagem modelada por poucas idéias simples mas bastante poderosas: pessoas comuns com um problema comum reunem-se, partilham seus problemas e aprendem umas com as outras, sem utilizar-se da ajuda de profissionais, em settings que os membros do grupo possuem e controlam [11: p. 244].

Atualmente, em todo o mundo, é enorme a quantidade de grupos de auto-ajuda — Morton A. Lieberman, um professor de psiquiatria do San Francisco School of Medicine, realizou um estudo com mais de 3.000 grupos de auto-ajuda somente da Califórnia. Também é enorme a diversidade de suas linhas de ação: alcoolistas, narcóticos, neuróticos, comedores compulsivos, fumantes etc.

De todos esses grupos o mais disseminado e popular é o constituído pelo movimento mundial de Alcoólicos Anônimos (AA). O primeiro grupo de AA aconteceu após um encontro casual entre um cirurgião de renome: o Dr. Bob, e um corretor de imóveis conhecido como Bill W., ambos de Nova York e alcoólicos desenganados pela medicina. Eles fundaram o primeiro grupo de Alcoólicos Anônimos no ano de 1935 em Akron, Ohio-EUA.

Uma análise mais cuidadosa da estrutura dos grupos AA, revela que seu dinamismo e real efetividade no tratamento do alcoolismo se assenta em três elementos, os quais como que se articulam em três níveis ideológicos: fundo religioso; metodologia grupalística; ação individualizante.

è O fundo religioso colocou-se desde as idéias primordiais para criação dos primeiros grupos de AA. Sobre isso Bill W. diz que foi convencido por seu médico, o Dr. Silkworth, de que as experiências espirituais libertam pessoas que sofrem do alcoolismo [32: p. 58].

Bill W. também relata que, em 1934, estava internado no Hospital Charles B. Towns em Nova York quando leu um livro de William James — Variedades da experiência religiosa — no qual ele encontrou uma resposta para sua profunda crise existencial e, ao mesmo tempo, entendeu aquilo que poderia ser uma fórmula para efetivar a cura de um alcoolismo como o seu. Bill W. diz: James achava que as experiências espirituais poderiam ter realidade objetiva, quase do mesmo modo como as dádivas do céu poderiam transformar as pessoas. Algumas eram, de repente, iluminações brilhantes, outras vinham muito gradativamente. Algumas nasciam de fontes religiosas, outras não. Mas quase todas tinham denominadores comuns de dor, sofrimento, e calamidade. Total desespero

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e fundo do poço eram quase sempre necessários para se chegar à aceitação [32: p. 58].

A fórmula encontrada por Bill W. se formou com esses dois termos: fundo do poço, aceitação.

O fundo do poço estava representado na condição de absoluta miséria existencial a que estava lançado devido ao seu alcoolismo; e também no total desespero pela constatação de que tanto ele, como todas as outras pessoas (especialistas) tinham fracassado no intento de resgatá-lo de tão baixa condição.

Daí, houve uma súbita compreensão: somente Deus lhe restava como superior autoridade capaz de presidir o seu destino. Também houve a aceitação da idéia de que, como ponto de apoio humano, só lhe restavam aqueles que eram semelhantes a ele na tão miserável condição de alcoólatra.

Essa aceitação implicou na concepção da citada fórmula, a qual está apresentada numa citação que se grifa de Bill W.: O Dr. Carl Jung tinha contado a um amigo quão sem esperança era o seu alcoolismo. O Dr. Silkworth tinha dito a mesma coisa em relação a mim. É provável que somente esses testemunhos nunca fizessem com que eu aceitasse completamente o veredicto. Mas, quando um alcoólico começou a falar com outro alcoólico a coisa deu certo [32: p. 58/59].

Dessa aceitação também derivou um duplo compromisso: missionário associativista. Isto é, a sua missão seria trabalhar pela recuperação dos que padecem do alcoolismo, e isto seria feito através de associações entre alcoólatras. Esse duplo compromisso, posteriormente, se materializou em dois Códigos de Ética, os quais fundamentam a existência da própria organização grupal: As doze tradições; Os doze passos.

è A metodologia grupalistica é claramente delineada nas Doze Tradições: nosso bem estar deve estar em primeiro lugar; a reabilitação individual depende da unidade de A.A. [33: p. 13] diz a primeira tradição.

No entanto, é na quarta onde está explicitado aquilo que pode ser considerado, nos termos da Dinâmica Grupal, o elemento que melhor justifica a eficácia dessa metodologia. Essa outra tradição diz: cada grupo deve ser autônomo [33: p. 13].

Em termos práticos e teóricos a questão da autonomia ocupa lugar primordial no acontecer grupal. Sobre isso o conceito central é Projeto.

Max Pagés, um professor de psicologia social da Universidade de Paris-Dauphine, afirma, com muita propriedade, que existe uma projeto auto-gestionário inconsciente em todos os grupos, independente das ideologias ou das origens sociais. É um projeto em que o grupo assume a

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responsabilidade de todos os aspectos de sua própria vida [34: p. 89].

Pichon-Rivière também pensou sobre essa questão. Para ele, o projeto surge, num processo dialético, como emergente da tarefa, e dá-se quando todos os membros do grupo conseguem visualizar o objetivo grupal. Isto significa ter conhecimento de que pertence a um grupo específico, com objetivos também específicos [12: p. 55]. O Projeto, geralmente, se concretiza na elaboração de um Plano de Trabalho ou de um Código de Ética.

Por outro lado, ainda conforme Max Pagés, o projeto é ao mesmo tempo individual e relacional. Ele visa afrontar a contradição entre a expressão sem repressão nem inibição, dos desejos individuais, e a ação em relação com os outros [34: p. 89].

Essa duplicidade do Projeto está bem definida no que preceituam mais duas das tradições: a quinta que diz que cada grupo é animado de um único propósito primordial — o de transmitir sua mensagem ao alcoólatra [34: p. 33]; e a terceira tradição: para ser membro de A.A., o único requisito é o desejo de abandonar a bebida [33: p. 23].

Em suma, um propósito (projeto) grupalístico voltado primordialmente para um desejo individual de abandonar o alcoolismo. Mas esse desejo individual também deveria estar bem delineado e isso foi feito nos Doze Passos.

è A ação individualizante é expressão dos Doze Passos. Esse código surgiu da idéia religiosa de que a embriaguez e a desintegração do alcoólatra não são penalidades impostas por nenhuma autoridade; elas são os resultado da desobediência pessoal aos princípios espirituais. Portanto, o alcoólatra precisa obedecer certos princípios se não morre [32: p. 108].

Pode-se dizer que, dos doze passos, três sintetizam tudo o que foi dito acima sobre os A.A. Apresenta-se os três para encerrar este capítulo:

Primeiro passo: admitimos que éramos impotentes perante o álcool — que tinhamos perdido o domínio sobre nossas vidas [35: p. 13].

Segundo passo: viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade [35: p. 17].

Décimo-Segundo passo: tendo experimentado um despertar espiritual graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades [35: p. 93].

5.2. Educação. A pedagogia dos grupos permite uma síntese perfeita entre instrução e socialização do indivíduo. Todas as vertentes da Dinâmica Grupal contribuem para

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essa perfeição, no entanto, foram os achados de Lewin e de Moreno que mais contribuíram para esse objetivo pedagógico.

Didaticamente, ao se diferenciar as contribuições entre um e outro desses autores, pode-se dizer que os postulados lewinianos se relacionam mais à apreensão do conhecimento dentro do processo de aprendizagem; e os achados morenianos são diretamente aplicáveis no treinamento do papel do educador no processo de sua formação profissional.

5.2.1.Apreensão do Conhecimento. As já relatadas experiências de Lewin permitiram o desenvolvimento de uma nova mentalidade pedagógica em que se destacam três princípios: no primeiro, o grupo (classe) não é concebido como ambiente de competição, mas sim como ele mesmo, um fato de cooperação, sendo por isso um objeto de sua própria instrução; o segundo preceitua que o papel do monitor (professor) é motivar o grupo, controlar seu funcionamento e seus resultados, e ajudá-los a definir suas dificuldades; por fim o terceiro implica num método pedagógico ativo. Ou seja, nele os "alunos", através de suas próprias experiências, devem chegar ao conhecimento.

Observar que a tríade ambiente, educador, educando se articula em momentos considerados ideais por alguns educadores, para o processo ensino-aprendizagem, ou seja, momentos fecundos em que se sente no aluno a tensão por conhecer, em que se percebe a ruptura do equilíbrio em sua visão e compreensão do mundo que o rodeia, e com isso, o surgimento do interesse para recuperar esse equilíbrio. Nesses momentos, depois de surpreender-se ou desconcertar-se, o aluno começa a perguntar, e as questões que formula são autênticas, porque são espontâneas e, por essa mesma razão, provocadoras de novos interesses [36: p. 47].

Ainda sobre isso, é interessante se ressaltar que na literatura dedicada à educação na perspectiva construtivista não se encontram referências bibliografias relativas a Kurt Lewin. No entanto, foi ele quem demonstrou, pela primeira vez, o valor da principal da tese construtivista: o ser humano nasce com potencialidades para aprender. Mas este potencial só se desenvolverá na interação com o mundo, na experimentação com o objeto de conhecimento, na reflexão sobre a ação [37: p. 94].

Quanto às muitas outras referências bibliográficas do Construtivismo, são principalmente citados os trabalhos em Epistemologia Genética do psicólogo suíço Jean Piaget. Porém, é importante se saber que Piaget apenas propõe um projeto estruturalista e, portanto, gestáltico para o desenvolvimento cognitivo humano; não sendo essa sua proposta, de modo direto como no caso dos trabalhos de Lewin, uma metodologia aplicável aos trabalhos pedagógicos com grupos humanos.

5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. A metodologia constitui uma dimensão pedagógica que, provavelmente,

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poderia ser mais beneficiada com a utilização de técnicas psicodramáticas.

A dúvida expressa no "provavelmente poderia ser" se justifica quando escutamos a educadora argentina Maria Alicia Romaña lamentar-se que, em geral, os professores se formam apenas baseando-se em sua intuição, em seu afeto por crianças e adolescentes e nos estereótipos de professores introjetados em suas vivências como alunos. Além disso, lhes são oferecidas fórmulas ou receitas sobre como deve ser um professor, o que deve ou o que não deve fazer. (...). Se em vez desses elementos que, com pequenas variações, intensificam-se nas cadeiras do último ano de formação de educadores, trabalhássemos com role-playing (treinamento de papéis), o futuro professor teria a possibilidade de elaborar suas expectativas e seus temores. Tomaria também conhecimento de suas idealizações com relação à futura profissão, e perceberia, finalmente, com maior objetividade, os limites de sua tarefa como educador [36: p. 53].

5.3. Administração. Se é no campo da saúde onde se verificam as mais auspiciosos experiências de aplicabilidade da Dinâmica Grupal, é no campo administrativo onde mais se universalizou a sua ideologia.

A história desse processo de universalização tem dupla entrada: uma ocidental, outra oriental. Na cultura ocidental, o primeiro passo para o reconhecimento da importância da Dinâmica Grupal na área da administração de empresas foram as pesquisas realizadas, em 1928, na usina de Hawthorne. Como já historiado, essas pesquisas constataram, cientificamente, que os pequenos grupos de trabalho tendem a engendrar estruturas informais nas suas relações, havendo com isso profundas mudanças quanto ao significado do trabalho, do rendimento e das relações formais e hierarquizadas das áreas de produção empresarial.

5.3.1. Teoria Z. Do oriente, vem a grandiosa contribuição da cultura Zen, uma sabedoria milenar que humaniza a administração de empresas no Japão. Sobre isso, W. Ouchi, um japonês naturalizado norte-americano, publicou um livro sobre o que ele denominou de teoria Z. Essa teoria serve para explicar alguns dos principais procedimentos que levaram ao proverbial êxito de grandes grupos econômicos japonesas, os quais Ouchi chamou de empresas do tipo Z, por que nelas a "democraticidade" e a integração são considerados um fator de eficiência, e daí estimula-se a participação dos empregados nas decisões da diretoria e acionam-se vários mecanismos para que a competitividade característica do ambiente de trabalho dê lugar à cooperação durante o expediente e ao coleguismo nos momentos de lazer [38: p. 336].

Esses dois movimentos de orientação geográfica e cultural diferentes implicaram em qualificativas mudanças no campo da administração de empresas na contemporaneidade. Mudanças essas que, tanto do ponto de vista prático como do conceitual, podem representar um conjunto de rupturas de

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grande relevância em relação ao paradigma clássico de organização empresarial [39: p. 16].

Desse modo, hoje é trivial afirmar que, do ponto de vista técnico, no setor de recursos humanos do mundo empresarial predominam os postulados do movimento de relações humanas veiculados através da teoria e da prática grupal - por exemplo, contemporaneamente coloca-se como um requisito de eficácia a utilização de métodos da Dinâmica Grupal durante o processo de recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento de pessoal em grandes empresas produtivas.

Mas não é só na área da administração propriamente dita que a ideologia do trabalho grupal tem predominado, também já acontecem auspiciosas experiências no campo da organização do trabalho socialmente produtivo.

Apenas para melhor situar o alcance da afirmativa do parágrafo anterior, apresenta-se dados de uma concepção, a Sociotécnica, e exemplifica-se com um fato referente à aplicabilidade de um dos postulados dessa concepção, qual seja, a de grupos produtivos semi-autônomos.

5.3.2. Sociotécnica. Essa proposta surge a partir da década de 50 com base em estudos realizados por pesquisadores reunidos no Instituto Tavistock de Relações Humanas de Londres. Ao contrário do modelo de produção clássico que, elaborado por Frederick Taylor e Henry Ford no início do século XX, está fundamentado no trabalho individualizado, a escola sociotécnica procura desenvolver projetos conceituais e intervenções práticas com fundamentos nos trabalhos em grupo.

O início do desenvolvimento dessa abordagem deu-se na década de cinqüenta, contudo observa-se que somente a partir dos anos 90 é que houve possibilidades de difusão do princípio sociotécnico centrado na idéia de grupos semi-autônomos na produção. Também houve condições para o surgimento de metodologias mais detalhadas e sistemáticas (por exemplo, Total Quality Control-TQC) para implantação dessa modalidade de trabalho em grupo [39: p. 29].

Diversas experiências com aplicação dos princípios sociotécnicos do trabalho em grupo na produção industrial já foram realizadas. Nesse sentido, uma experiência considerada paradigmática acontece com a empresa sueca Volvo.

Nessa empresa automobilística, as mudanças no processo social de produção culminaram numa experiência que já se desenvolve desde 1989 e que pode ser resumida no dístico: "Na Volvo, grupos de operários montam carros do começo ao fim".

A Volvo é uma empresa que historicamente tem se notabilizado por inovações na área da organização do trabalho. A partir dos anos 70 essas inovações começam a ser

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implantadas em sua produção automobilística. Nesse período, embora não tenha abandonado as linhas de montagem, introduziu "mini-linhas, separadas por buffers de produtos em processo, como estratégia para possibilitar que grupos semi-autônomos pudessem gerir de maneira mais independente cada uma dessas "mini-linhas" [39: p. 38].

No mencionado ano de 1989 foi aberta, em uma de suas unidades produtivas, uma planta industrial com esquema de organização baseado em grupos semi-autônomos. Nessa planta, que atualmente encontra-se voltada para a fabricação de carros esportivos, a autonomia e o trabalho em grupos são prioritários, e os produtos, automóveis no caso, são montados do começo ao fim, em fases sucessivas - docas [39: p. 40].

As principais características dessa planta são os poucos níveis hierárquicos; o reduzido staff na área de serviços de apoio, com grande parte das atividades desses setores sendo desenvolvida pelos próprios grupos; o processo de gestão que se baseia no estabelecimento de metas e resultados de período; e o auto-controle das partes responsáveis pelo dia-a-dia da produção.

Enfim, é preciso salientar que essa experiência tem enfrentado algumas dificuldades para sua consolidação. Isso se verifica especialmente quanto ao fato de que a estratégia de sua produção não se coadunou com a dos produtos a ela designada [39: p. 44]. No entanto, com base em seu desenvolvimento, tem se observado o valor dos grupos semi-autônomos, e apontado para sua viabilidade em outros tipos de sistemas de produção [39: p. 45].

5.4. Serviço Social. Essa área foi uma das primeiras a reconhecer explicitamente que os grupos podem ser orientados de forma a obterem dos seus participantes as modificações desejadas [24: p. 15].

Apesar desse pioneirismo, observa-se que, infelizmente, ainda são pouco aproveitados os muitos recursos que a Dinâmica Grupal coloca a disposição do trabalho que o Serviço Social realiza para que os indivíduos e os grupos socialmente necessitados de assistência sejam protegidos e recuperados em sua dignidade.

Esse fato é bem evidenciado e criticado especialmente no Trabalho Social realizado na América Latina. Quanto a isso, Ezequiel Ander-Egg, um autor argentino relacionado ao Serviço Social, desvenda uma realidade com os seguintes termos: uma questão que vejo no trabalho social latino-americano é a do uso não-dialético do marxismo. O manualismo e o discurso ideológico oco de alguns trabalhos me parecem deprimentes. Às vezes se debatem em pura tautologia, não acrescentam absolutamente nada ao conhecimento da realidade... Há livros de Trabalho Social escritos por trabalhadores sociais que não citam uma única experência de Trabalho Social e o fazem com abundância no referente a livros marxistas. Querem ser científicos mas (...). Em vez disso, as questões que lhe concernem são tratadas de passagem, ou se inserem em um discurso teórico que nada acrescenta à compreensão da realidade e nem oferece instrumentos para atuar sobre ela [40: p. 161/162].

Porém, nos Estados Unidos e Europa as técnicas e esquemas metodológicos da Dinâmica Grupal são incorporadas pelo Serviço Social fazendo parte do seu projeto de ação social e de resolução de problemas coletivos.

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Um exemplo notável disso está na incorporação da lógica lewiniana da pesquisa-ação nos procedimentos metodológicos do trabalho social. Assim a metodologia da pesquisa-ação tem sido utilizada para: a) identificar problemas relevantes dentro da situação investigada; b) estruturar a explicação dos problemas; c) definir um programa de ação para a resolução dos problemas escolhidos como prioritários; d) acompanhar os resultados da ação [41: p. 138].

5.4.1. Serviço Social de Grupos-SSG. O principal representante dessa concepção é Natálio Kisnerman, um trabalhador social da Argentina que, influenciado pelos pioneiros trabalhos sociais de Mary Richmond e tendo como pressupostos os conhecimentos da psicanálise, iniciou, na década de 60, uma investigação operacional sobre os processos de grupo e suas aplicações terapêuticas a nível de comunidades.

O esquema teórico e operacional do SSG ainda está em fase de estruturação. Para finalizar este capítulo, apresenta-se uma interessante classificação de grupo formulada por Kisnerman, a qual, certamente é representativa de um grande valor heurístico para a idéia do SSG: aceitamos uma divisão em grupos orientados para o crescimento, pela necessidade de ajuda sentida por seus membros, e grupos orientados para a ação social, nos quais os membros necessitam de auxílio para conseguirem um bom padrão de relacionamento com os outros, em vista dos quais orientam sua ação. Os primeiros são os grupos de tratamento, recreação, discussão, aprendizagem. Os segundos são os grupos de trabalho, de comunidade, institucionais (sociedades de fomento, de vizinhos, comissões etc). O crescimento do grupo ocorre em ambos, no primeiro de forma direta, como objetivo metodológico básico; no segundo de forma indireta, pois se procura principalmente o crescimento dos que recebem a ação executada pelo grupo [42: p. 114].

 

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Sílvia Mourão Neto, revisão técnica de Paulo Alberto Topal). São Paulo: Summus, 1983.

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30] HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA - Projeto de grupo operativo com

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31] OSÓRIO, Luiz Carlos et al. — Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

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tradições. Centro de Distribuição de Literatura A.A. para o Brasil, 1976.

34] PAGÉS, Max — A vida afetiva nos grupos. Coleção Concientia, n. 1, 1974, Ed.

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37] GOULART, Iris Barbosa et al. — A educação na perspectiva construtivista:

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39] MARX, Roberto — Trabalho em grupos e autonomia como instrumentos de

competição: experiência internacional, casos brasileiros, metodologia da implantação. São Paulo: Atlas, 1997.

40] SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE. São Paulo: Cortez, ano III, n. 9, Ago 1985,

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41] THIOLLENT, Michel — Notas para o debate sobre a pesquisa-ação. Serviço

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42] KISNERMAN, Natalio — Serviço social de grupo: uma resposta ao nosso

tempo, (tradução de Ephraim Ferreira Alves). Petrópolis: Vozes, 1980.

 

7. O AUTOR

 

Médico, formado pela Universidade Federal do Ceará (1975-1981). Especialização em Psiquiatria pela Residência Médica do Hospital de Saúde Mental de

Messejana (1982-1983). Especialização em Psicodrama pela Federação Brasileira de Psicodrama (1979-1983). Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (1994-1997). Professor da disciplina "Dinâmica Grupal e Relações Humanas", no Curso de

Psicologia da Universidade de Fortaleza (1987-1990). Professor da disciplina "Grupoterapia", na Residência Médica do Hospital de Saúde

Mental de Messejana (1984-1993).

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Professor da disciplina "Sociometria", no Curso de Especialização em Psicodrama do Instituto do Homem de Fortaleza (1994-1999).

Médico-Psiquiatra e Supervisor de Grupo Operativo nos Serviço de Hemodiálise, de Internamento Pediátrico e da Cirurgia Oncológica do Hospital Geral de Fortaleza (1996-1999)

Endereço Comercial: Condomínio Clinics, Rua Coronel Linhares, 1741, Aldeota, CEP 60170-241, sala 304, fone (085) 224.8767, Fortaleza-Ce. E-Mail: [email protected]