Diogo de Carvalho Poemas de Verao

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  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

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    1ª Edição

    Câmara Brasileira de Jovens Escritores

    Poemas

    de Verão

    Diogo Carvalho

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

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    Copyright©Diogo Carvalho

    Câmara Brasileira de Jovens EscritoresRua Marquês de Muritiba 865, sala 201 - Cep 21910-280

    Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 3393-2163

    [email protected]

    Abril de 2015

    Primeira Edição

    Conselho Editorial

    Presidente: Glaucia HelenaEditor: Georges Martins

    Coordenação editorial: Luiz Carlos MartinsEditor de Arte: Alexandre CamposProdução gráfica: Fernando Dutra

    Comissão de Avaliação: Leo Martins, Leonardo Ach,Milena Patrícia, Fernando Dutra,

    Vânia Ferreira, Fernanda Redon, Rodrigo Tedesco,

    Bruna Gala, Arthur Henrique SantosRevisão: do Autor 

    É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização

    prévia, por escrito, do autor.Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

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    Rio de Janeiro - Brasil

    Abril de 2015

    Poemas

    de Verão

    Diogo Carvalho

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    Prova 01

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    Diogo Carvalho

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

    I.Te amo como o sal

    Te amo como ao sal que se diluiComo o amor ama amarTe amo como uma filosofia ou uma religião.Te amo como um grito de liberdade

    Ou a paz do silêncio.Te amo como desejo estar amando eComo navegar numa canoa interestelar.Te amo do tamanho das coisas que nãoConheço.

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    Prova 01

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    Diogo Carvalho

    II.Persiste em meu pensamento

    Persiste em meu pensamento A sombra de um momentoEm que ter era ser alguém.Persiste ainda também

     As lágrimas sobre o mantoQue por desencanto derrameiQuando ainda amante amei.

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    CBJE

    Poemas de Verão

    III.

     Não necessito da lua 

    Não necessito da lua para sonharMas necessito do teu sorriso para sorrir eDe teus pés para mostrarem-me o caminho.Caminhando tropeço em tantas lembranças

    E mesmo sem querer recordo a cor de seu vestidoE o tom da sua voz que há tanto não ouço.Meu pecado é amar o perdido.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

    IV.

    Com o tempo aprendi

    Em louvor de Willian Shakespeare

    Com o tempo aprendi... Aprendi que minhas ofensas geram respostas

    E más respostas geram dor. Aprendi que gestos dizem mais que a combinação de todasas palavras. Aprendi que não se pode caminhar para o futuro sem ligarpontosEntre o presente e o passado. Aprendi que o amor é mais que acaso. É uma questão de

    sorte. Aprendi que escolher é abdicar e que escolhas são umfuturo que deixa de acontecer. Aprendi que a beleza abre portas, mas é preciso algo alémdela para não fechá-las novamente. Aprendi que o homem é um ínfimo grão de areia e quejuntos somos poeira do universo.

     Aprendi que não se teme a morte até que ela se aproximeE que a felicidade é tudo o que procuram e tudo o que nãoconseguem encontrar, pois está sempre no lugar maisóbvio. Aprendi que um carinho não é um contrato e flores nãosão promessas.

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    Poemas de Verão

     V.

    Saudade

    É deixar quem ama sem quererÉ perceber que amor ficou e aPessoa amada partiu.

    É ter guardada, não a sementeMas o fruto de um amor intenso.É desejar estar tão distante paraTer alguém por perto outra vez.É pagar por fazer a vida valer a pena.É sofrer silenciosamente.No fundo só não sofre quem não ama,

     Assim, o maior sofrimento é não sofrer.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     VI.

    Pensar é não compreender

    Pensar é não compreender.Rego as minhas plantas,Limpo o meu quintal.Todo o resto é sombra duma árvore

    Que não me pertence.

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    Prova 01

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    Poemas de Verão

     VII.

    Se

    Se não podes voar como uma águia no céuSeja passarinho em teu ninhoOu doe tuas asas.Se não podes ser árvore centenária

    Seja os mais efêmeros frutosSe não pode ser a abelha rainhaSeja o doce mel duma colméia.Se não podes ser bailarinaSeja as pernas a guiar um caminho.Se não poder ser o canto da sereiaSeja o silêncio que faz adormecer.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     VIII.

    Razões para amar-te

    Por mostrar a perpétua novidade da vida

    Por vendar meus olhos quando a luz

    De certas verdades são fortes demais

    Por não pedir mais do que lhe trago

    E trazer-me mais do que lhe peço

    Por encher meu coração com divina fé

    Por chorar quando ameaço partir

    Por quere-me mais do que ontem

    E menos do que amanhã

    Por apagar a luz ao perceber o meu cansaço

    Ou meu desejo.

    Por saber o que penso sem lhe dizer

    Por dizer que sente e não sentir rancor

    Por acordar primeiro e adormecer como uma criança

    Por dar-me a esperança de que a tempestade vai passar

    Por falar coisas belas quando ninguém mais diz

    Por escutar-me sempre e calar-me quando preciso.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

    Por querer o meu bem e estar ao meu alcancePor fazer-me encarar todos os perigos

    Por dar-me o sabor de teu perdão mesmo diante

    Da minha estupidez.

    Por colorir em minha alma a fé e a tolerância

    Por fazer-me justo.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

    IX.

    Tira-me o ar

    Tira-me o ar e a carne,Mas não tira-me a alegriaQue brota de teu sorriso.Deixa-me também as preces

    Que trazem paz na guerraE a calma em meio ao tumulto.Tira-me o sal,Tira-me o doce,Mas não tira-me do teu pensamentoE ama-me mesmo que por mais um instante.

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    Prova 01

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    Poemas de Verão

     XI.

    Tu

    Faz-me crer no queNão posso ser.Faz-me sim pensarQue sou de mim.Faz-me ver o queConheço além de tiSer tudo falso.Faz-me ser o queTe basta e a vidaSer mais vasta.Faz-me ser o teu poderE a tua lei.Faz-me ingênuo acreditarFeliz que sou teu rei.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XII.

    Passam na rua cortejos

    Passam na rua cortejosDe mortos inexistentes.Meu coração tem desejosE esmago-os entre dentes.

    Passam na vida lampejosDe coisas sempre tão ausentesUma delas são os beijosDe quem jamais me dá presentes.

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    Prova 01

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    Poemas de Verão

     XIII.

    Minha boca 

    Minha boca a lhe SorrirE meu coração a chorar.Contaria só por não ir Á capela para orar.

    Meu coração é sempre ateuE nunca consegue crer. Aquilo que lhe deu?Ele pede para ver.Sim, sabe bem olhar o céuE sabe que não há o melQue tanto dizem que há.

     As vezes quer ser Deus A imagem e semelhança As vezes no fundo é A imagem duma criança.Este meu coração são asCoisas que já fui.Sem saber do céu, aqui

    Tudo flui...; tudo flui.

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    Prova 01

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    Diogo Carvalho

     XIV.

    Coração

    Bate bate coração de corda.Bate coração que já bateuPor aquela que não acordaPelo amor que não morreu.

    Bate bate coração ateu.Bate descrença no amorPula carne que chorar sem ser seuPula pedaço de minha dor.

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    Poemas de Verão

     XV.

    O Peregrino

    Em busca do sonho a andarPasseia por descaminhos a sorrir.Não consegue o peregrino chegarMas assim, indo está a ir.É bem verdade, viver é se iludir.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XVI.

    Quero te amar

    Quero te amar de todas as maneirasPorque o meu silêncio precisa de suas palavrasE meus olhos querem enxergar o seu sorrisoQuero te amar a cada instante, chorar seu pranto

    Sorrir suas alegrias, decifrar seus segredos.E quando sentir saudades e não me encontrar saberáQue em algum lugar eu também sinto e não te encontro,Saberá que te amo só para aprender a te amarE que posso reconstruir o infinito se preciso for.Quero te amar de todas as maneirasQue Deus pôde conceber para as criaturas da Terra.

     Vou aceita-la quando me amar e lutar mesmo que merejeite.O tempo não irá separar e a distância não existe nadimensãoDos seres que se amamE que vivem para ver a felicidade brilhar na alma de outroalguém.

    Somos tão jovens, nossa caminhada mal começou,Mas a realidade já nos acolhe dizendo que faltam muitospassosE que a juventude precisa sonhar.Mas que sonho há que seja maior que eternamente amar?De todas as maneiras.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XVII.

    Sei bem

    Sei bem que não mais consigo Andar pela estrada do quererQue até mesmo prossigoPelo caminho de não ter.

    Sei bem do futuro que abdiqueiE das coisas que a alma sente.Das coisas das quis me conformeiDorme o coração inda contente.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XVIII.

    Em busca da beleza 

    Sonho de bardo epicuristaIlusão que vai e vêm tão vãE mesmo que a mente insista,Não ouve- se flauta de Pã.

    Flauta de Pã está além do HorizonteOnde ouvidos não podem alcançarOnde só a imaginação é a fonteDa mentira de a ter e tocar.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XIX. Ama 

    Não quero despetalar-teNem tomar o teu poder.Só quero sujar teu leiteE ser teu bem querer. Vou idolatrar tuas mamasQuando com leite pingar o melSerá para o filho das tramasPequenas gotas do céu.

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    Prova 01

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    Diogo Carvalho

     XX.

    Sonhar?

    Sonhar? Sonhe quem acorda.Sentir? Sinta quem lê.Quem escreve tem a cordaE desenrola sem saber.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXI.

    Olha 

    Olha o que não quer.Diz o que não sei.Será então a mulherQue um dia amei?

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXII.

     Amo-te

     Amo-te porque te amo. Que outra razão teria para amar-te senão amar-te? Amo-te em todos os instantes, no sonho em que tudo élindo,Na realidade que não ouso compreender. Amo-te mais do que preciso e menos do que possa imaginar.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXIII.

    Tenho o meu modo

    Tenho o meu modo de serEm que existir é não morrerE saber é saber que não se sabe.Tenho o meu modo de ter

     As coisas que não tenho, A maneira com que amo As coisas que desenho.

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    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXIV 

    Tempo

    Que venha o tempo em queDesabroche a flor violetaNa terra das laranjeiras.

    Que venha o tempo em que A lembrança da coisa perdidaSe evapore mesmo queSuguemo-na pelas narinas.

    Que venha o tempo em queDe cem em cem anos abra-seO arcabouço das horas felizesE faça-se luz no olhar de relíquia.

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    Prova 01

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    Poemas de Verão

     XXV.

    Moça do campo

    Canto uma moça do campoEm meu verso juvenilComo um discípulo do grande ShakespeareComo sombra do admirável Neruda.

    Naquela fronte brilha a brancuraMenos do que na alma reluz a frescor da idade.

    Sigo-a por entre trigaisImagino-a quando não vejoEm sonhos faço-a glorificada

    Pois só para ela canto.

    Dar-te-ei os figos mais maduros,Dar-te-ei o fogo de minhas palavrasQueimando a pele acariciada,Inocente e virginal.

    Canto uma moça do campoEm meu verso juvenilEla tem flor no cabelo, olhos negrosLábios selvagens guerrilhando.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXVI.

    Sou como a linha fina:Qualquer brisa enverga,Mas nenhuma espada corta.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXVII.

    O Tempo

    Os dias breves se vãoE depois não os apanho.Há muita suavidade nas coisas que passam,

    Pouca nas coisas que ficam,E nenhuma nas que buscamos outra vez.

    Que venha o novo de novoMas que o retrato não se faça espelhoOs dias breves se vão e vêem como as ondasSuaves, e sem mim.

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    Prova 01

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    Diogo Carvalho

     XVIII.

     V 

     V de vinho e de virgemDe pedra e de margem,De mar e de planta

    Que cresce trepadeira,Da vingança e da voz vinilNos pilares de madeira V Desenhado. Em volta labaredas.

    Letra que se escreve no cadernoÍntimo, no baú e na alma.

    Símbolo descoberto embaixoDo coração ferido por amor.

    Quantos caminhos levaram-me a V É primavera velha V.Como é bom ter sua companhia.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXIX.

    Poucos caminhos levaram- me a tiEntretanto os encontrei e segui. Agora estamos juntos como a plantaE suas raízes.Eu te olho, tu me olhas,

    O amar a nossa frente.Estaríamos jovens se não fossemos tão velhosMãos dadas em cadeiras reclinadas.Nunca é tarde demais para amar quem nos ama.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXX.

     A solidão

     A solidão em nada me aumenta.Na vida perdido corto ramos escuros de cipreste.Meus lábios sedentos não levantam qualquer sussurro,

    Busco súbito o passado que abandoneiMinha terra,Meu menino,Minhas mulheres.É claro, nada encontro.Minha terra não é igual, meu filho agora é homem,Minhas mulheres já não são minhas.

    E se encontrasse de que adiantaria? Acaso sou o mesmo? A solidão em nada aumenta, mas não raro diminui.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXXI.

     A morte

     A morte chega como um carteiroTrazendo um telegramaE a vida toda se torna um grão

    Que nada mais fecunda.Em breve seremos apenas um corpoPor quem alguém rezouMais adiante, o pó que o vento varre.

    Nem todo instante é o último, mas todos

    Podem bem ser.

    Contudo não murchamos a flor antes da horaCantemos e dancemos em torno da fogueiraDepois de ouvir nossos mestres.Tudo tem um fim.Mas quem disse que viver não é celebrar?

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXXII.

    Tenho fome de tua pele, de teu cheiro,De tua boca que me beija deixandoMeu pêlo arrepiado.Sigo faminto de teu corpo e de tua almaQue reluzem na escuridão.

    Caminho por bosques desnutrido de tua carneE dos frutos que dela brotam.Quero engolir a luz de teus poros e aSombra de teus cílios de mulher egípcia.

    Meu olfato vai seguindo tuas pegadas

    Buscando tua matéria.Quero tatear os teus milímetrosE encontrar lá no fundo o sabor da maça carnal.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXXIII.

    Tristeza de alma 

    Minha alma é triste na noite aflitaQue o corpo não acorda.Nem contente fica quando imita

     A alegria e arte dos sonhos.Posso bem querer o puro,Posso bem dar rosas ao futuro,Mas nada de tudo adiantaria.

     A alma é triste na noite aflita

    E espalha pelo trecho sementesQue crescem, mas não frutificam.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXXIV.

    Ela canta pobre menina que passaCrendo que cantar é ser felizCanta bem forte, não embaraçaNinguém a desmente ou a desdiz.

    Ela canta rica menina que passa Aquilo que convém, que condizNão sê-la é minha desgraça:Ela sim sabe ser mesmo feliz.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXXV.

    Te quero e não te queroTe amo e não te amoDe tanto querer-teE de tanto amar-te.

    Quando diante de ti minha voz se calaE quando diz as palavras se confundemMeu corpo estremece, os pensamentosParecem se esquecer.Sinto-me tão pequeno perante a união improvável.

    Desejo bradar a todos os ventos o meu amor

    De modo a torná-lo teu inteiramente, mas não consigo.

    Graças a Deus que a pessoa amada capita sinais sutis.

    O amor não se revela. Descobre-se.Descubra-o e ame.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXXVI.

     A Beleza 

    Pouco a tendo perdi-a de vistaFicando solitário busquei-a com presaDesejando a reconquista.

    Nem a defini nem a achei, mas ainda assim existe. Ah! Foi transitório o prazer de colhê-laMas que não seja no fim uma efemeridade triste.Noutros corpos posso revê-la.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXXVII.

    Eu pouco estive na cidade, mas quando estive é como senão estivesse.Meus pés andam sobre aquilo do que a terra é feitaMinhas mãos seguram os dedos da natureza.Não desejo a vida breve e intensa,

    Repudio o som das máquinas,Espanta- me as coisas técnicas.

    Desejo apenas o rio que ouve pacienteSilencioso e sem julgamentos.

    Quando triste por minha solidão sento- me sobre

     A grande pedra que as águas do rio banham e conto aminha tristezaO rio não me responde, apenas chia continuamenteCom toda a beleza e nenhuma filosofia.

    Quem dera todo o resto fosse assim, belo e isento de ideias,Comunicativo e desprovido de linguagem,

    Companheiro e ausente de opiniões.

    Tenho o meu modo de existir e ser poeta,De apreciar minha cegueira quando os cegos são os outrosQue enxergam o que não precisam.Eis o segredo mestre da vida; saber o mínimoDaquilo que se precisa saber.

    De minha cabana vejo homens elétricos e suas máquinaseletrônicas

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

    Passeiam sem se dar conta que sabem demais e por issosabem nada ou pouco. A eles desejo rosas e o cheiro da terra depois da chuva,Desejo pássaros e cachoeiras, mas nenhuma abstração.

    Quando a natureza obriga, vou â cidade e lá encontro casas,carros e gentes que estão sempre acompanhadas e cada

     vez mais sozinhas.Que tristes figuras mecânicas vejo nas cidades.Quem dera as casas fossem cavernas, os carros fossemcavalos xucros e as gentes fossem galinhas d’Angola oupatinhos selvagens destes que se come ao anoitecer.

    Eu tive os planos, tive os sonhos e nada deu mais desgosto

    que os planos e os sonhos.Depois, passado o desencanto desvendei meus olhos, e vique ver é mais lindo que planejar ou sonhar por que osplanos e os sonhos estão sempre no tempo do por- vir e oenxergar se enxerga agora.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XXXVIII.

    Tudo é com Deus quando não é comigoSolitário olho a natureza e recebo sua mensagem.Com tristeza ou alegria querendo prossigoBradando meu gládio, lutando com coragem.

    Nem a perca nem a falha desfaz a grande féNaquilo que outrora foi, um dia seráMa que ainda não é, não está ao pé.Esperanças no já foi, mas a conquista o fará.

    De joelhos desfiro golpe no peito do inimigo Vejo-o ao chão e assim me torno maior.

    Que pena, oh! Deus, um dia foi um amigo.Que lástima, até vencer nos causa dor.

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XXXIX.

    Poema sobre a cegueira 

    De tanto tatear, triste estouSem saber onde ando,Desconhecendo quem eu sou

    Contudo sigo, caminhando.Não vejo quem me ama, se amaSequer enxergo quem me cegou.Bebo o leite que tu derramaE nem sei o que bebendo estou.

     Viajo sabendo dor do mundoE a cada passo antevejo a morte.Contudo, sei a cor bem no fundo.Caminho e conto com a sorte.

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XL.

    Bodas de cinza 

    No que há entre nós tudo é escuroE segue sempre desconhecidoQue contradição ser ainda pura

    Esse amor morno e adormecido.Parece sempre aquilo que foiQue não se alcança e não é meuO amor que finge que ama, mas dói.

    Tenho pés e asas, dou-lhe rubis

    Mas não te lanço nem te laçoNão recordo o balanço dos quadrisContudo, mornamente a vida passo.

    Um dia há de ascender a brasaE de fato se fará o fogoMais amor e alegria em nossa casa

    Que seja amanhã, hoje, que seja logo.

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XLI.

    O artista envelhecido

     Afino as cordas da minha lira pura, limpo na roupa puídaas marcas do meu pincel,Descanso a cabeça branca na rede dos sonhos perdidos,

    tardo no caminhar, tardo no Chegar, amanheço nodespertar.Tudo em mim amanhã será menos que hoje. Ou talvezseja nada.Que importa, afinal?! As cortinas do palco se fecharam, mas não sem aplausos.Nenhuma mão segura a minha agora, mas outrora eu

    soube amar e ser amado.Filho algum dá-me carinho, mas não desaprendi a ser pai. A canção do momento é triste, também pudera. Contudoo sol ainda nasce para clarear o mundo e o coração doshomens. Afinadas as cordas da minha lira pura toco um fadodaqueles tristes, comoventes.

    Tocando desfruto da solidão da idade e a imperdível chancede não poder fazer o que se quer quando se quer.Tocando espero novamente o fechar das cortinas, masdesta vez sem aplausos nem segundo ato.

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

    47/50

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    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XLII.

    Essa mulher

    Essa mulher que me desdenha, friaE foge de meus braçosÉ a mesma que me beija e me arrebata,

    Que faz votos de amor e diz nomes feios.Essa mulher que cor da alegriaQue ri de minhas declarações de amáveisÉ a única a quem me declarei.

    Hoje sei, essa mulher é a felicidade

    Maior que há na Terra- ou será uma vadia?Que importa? Nenhuma mulher é ruimNa moldura de uma cama.

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

    48/50

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    Prova 01

    CBJE

    Diogo Carvalho

     XLII.

    O ano de 1996

    Meu olhar,Nossos olhares,Sepultam o silêncio.

    Nossa terra desolada Jaz morta e sepulta também.

    O que será do amanhã?Questiono-a mudo.

    Como saber, se ontemDesconhecíamos o presente?Responde-me telepática.

    Mas o que sei,O que nós sabemos,É que o passado é prólogo do futuro.

    Não obstante, amanhã é novo dia.

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

    49/50

    49

    Prova 01

    CBJE

    Poemas de Verão

     XLIII.

    Na praia do amor beijei a fronte vivaE por encanto vi escorrer dos olhosO milagre da pessoa certa.

    Que efêmero e eterno instante!

    Que pessoa certa mais errada encontrei!Que esperanças as minhas!

    Na praia do amor beijei a fronte vivaE por encanto vi escorrer dos olhosO milagre da pessoa certa. E isso basta.

  • 8/18/2019 Diogo de Carvalho Poemas de Verao

    50/50

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