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25 DIREITO ANIMAL: A EXPANSÃO DA INCORPORAÇÃO DO CONCEITO DE SENCIÊNCIA ANIMAL PELO ESTADO BRASILEIRO * Arthur H. P. Regis** RESUMO A senciência animal foi o argumento basilar utilizado para iniciar, sus- tentar e desenvolver os direitos dos animais. Sob este argumento, países passaram a não mais interpretar os animais como meros objetos, mas como seres vivos que merecem proteção e respeito. Entretanto, o siste- ma normativo brasileiro ainda considera os animais como bens. Nesse contexto, pretende-se analisar como o fundamento da senciência animal é percebido e tratado pelo Estado brasileiro, realizando-se pesquisa ex- ploratória na ordem jurídica vigente. Identificou-se que o argumento da senciência animal, ainda que implicitamente e/ou de forma reflexa, norteia a ordem jurídica nacional, uma vez que há a vedação de crueldade, maus- -tratos e abusos aos animais, servindo de fundamento para as decisões do Supremo Tribunal Federal. Alinham-se à incorporação da senciência animal, os vários Códigos Estaduais de Proteção aos Animais e seus con- gêneres vêm promovendo evolução da matéria no âmbito estadual, uma vez que os projetos de lei no Congresso Nacional ainda permanecem em tramitação. No que se refere às políticas públicas, percebe-se a existên- cia de iniciativas pontuais e sob a perspectiva antropocêntrica. Pode-se concluir que há a incorporação e uma expansão da senciência animal pelo * Texto revisado e atualizado do original publicado sob o título “Recepção da Senciência Animal pelo Estado Brasileiro”, nos “Anais do V Congresso Bra- sileiro e II Congresso Latinoamericano de Bioética e Direito Animal” (ISBN: 978-65-80729-01-2). ** Advogado e professor universitário. Bacharel em Ciências Biológicas e em Direito, Mestre e Doutor em Bioética. Coordenador do Observatório de Di- reitos Animais e Ecológicos – ODAE (www.direitosanimais.eco.br), autor de livros e artigos sobre Direito Animal. Presidente da Comissão de Direitos dos Animais e Ambientais da Subseção de Taguatinga (OAB/DF). E-mail: [email protected].

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DIREITO ANIMAL: A EXPANSÃO DA INCORPORAÇÃO DO CONCEITO

DE SENCIÊNCIA ANIMAL PELO ESTADO BRASILEIRO*

Arthur H. P. Regis**

RESUMOA senciência animal foi o argumento basilar utilizado para iniciar, sus-tentar e desenvolver os direitos dos animais. Sob este argumento, países passaram a não mais interpretar os animais como meros objetos, mas como seres vivos que merecem proteção e respeito. Entretanto, o siste-ma normativo brasileiro ainda considera os animais como bens. Nesse contexto, pretende-se analisar como o fundamento da senciência animal é percebido e tratado pelo Estado brasileiro, realizando-se pesquisa ex-ploratória na ordem jurídica vigente. Identificou-se que o argumento da senciência animal, ainda que implicitamente e/ou de forma reflexa, norteia a ordem jurídica nacional, uma vez que há a vedação de crueldade, maus--tratos e abusos aos animais, servindo de fundamento para as decisões do Supremo Tribunal Federal. Alinham-se à incorporação da senciência animal, os vários Códigos Estaduais de Proteção aos Animais e seus con-gêneres vêm promovendo evolução da matéria no âmbito estadual, uma vez que os projetos de lei no Congresso Nacional ainda permanecem em tramitação. No que se refere às políticas públicas, percebe-se a existên-cia de iniciativas pontuais e sob a perspectiva antropocêntrica. Pode-se concluir que há a incorporação e uma expansão da senciência animal pelo

* Texto revisado e atualizado do original publicado sob o título “Recepção da Senciência Animal pelo Estado Brasileiro”, nos “Anais do V Congresso Bra-sileiro e II Congresso Latinoamericano de Bioética e Direito Animal” (ISBN: 978-65-80729-01-2).

** Advogado e professor universitário. Bacharel em Ciências Biológicas e em Direito, Mestre e Doutor em Bioética. Coordenador do Observatório de Di-reitos Animais e Ecológicos – ODAE (www.direitosanimais.eco.br), autor de livros e artigos sobre Direito Animal. Presidente da Comissão de Direitos dos Animais e Ambientais da Subseção de Taguatinga (OAB/DF).

E-mail: [email protected].

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Estado brasileiro, configurando-se como importante elemento propulsor do Direito Animal pátrio.Palavras-chave: Direito Animal. Senciência. Dignidade Animal. Estado Brasileiro.

ANIMAL LAW: THE EXPANSION OF INCORPORATION OF ANIMAL SENTIENCE BY THE BRAZILIAN STATE

ABSTRACTAnimal sentience was the basic argument used to initiate, sustain and develop animal rights. Under this argument, countries no longer interpret animals as mere objects, but as living beings that deserve protection and respect. However, the Brazilian regulatory system still considers animals as material goods. In this context, it is intended to analyze how the fun-damental of animal sentience is perceived and treated by the Brazilian State, carrying out exploratory research in the current legal order. It was identified that the animal sentience argument, although implicitly and/or reflexively, guides the national legal order, since there is a prohibition of cruelty, mistreatment and abuse to animals, serving as a basis for the decisions of the Federal Court of Justice. In line with the incorporation of animal sentience, the various State Codes for the Protection of Animals have been promoting the evolution of the matter at the state level, since the bills in the National Congress are still in progress. With regard to public policies, one can perceive the existence of specific initiatives and from an anthropocentric perspective. It can be concluded that there is the incorporation of animal sentience by the Brazilian State, configuring itself as an important propelling element of Brazilian Animal Law.Keywords: Animal Rights. Sentience. Animal Dignity. Brazilian State.

INTRODUÇÃO

A senciência animal (compreendida como a capacidade dos seres vivos de sentirem e expressarem sensações de sofrimento, angústia, prazer, felicidade etc., ou seja, experienciarem situações positivas e negativas) foi o argumento basilar utilizado para ini-ciar, sustentar e desenvolver os direitos dos animais (SINGER, 2002; SINGER, 2004; FRANCIONE, 2013), embora existam outras propostas referentes ao Direito Animal (REGAN, 2006). Sob o

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fundamento da senciência animal, alguns países (tais quais: a Suíça, a Alemanha, a Áustria, a França etc.) passaram a não mais interpretar juridicamente os animais como meros objetos, mas como seres vivos que merecem proteção e respeito (OLIVEIRA, 2013; GERRITSEN, 2016; NEUMANN, 2016).

Entretanto, o sistema normativo brasileiro ainda inter-preta os animais, inseridos no meio ambiente, como bens de uso comum das presentes e das futuras gerações, nos termos da Constituição Federal: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988) e como meros bens semoventes (conforme dispõe o Código Civil: “Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social”) (BRASIL, 2002), embora nos textos legais exista a vedação à prática de crueldade, maus-tratos e abusos em relação aos animais (conforme, por exemplo, o dispositivo normativo da Lei dos Crimes Ambientais: “Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”) (BRASIL, 1998), mas sem adentrar na discussão sobre a questão da senciência.

Nesse contexto, pretende-se analisar como o fundamento da senciência animal é percebido e incorporado pelo Estado brasilei-ro, realizando-se pesquisa exploratória na ordem jurídica vigente.

1. DO PODER LEGISLATIVO

Cabe ao Poder Legislativo a competência precípua de alte-rações normativas, existindo no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) proposições, fundamentadas na senciência animal, que objetivam alterar o enquadramento

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jurídico dos animais e/ou reconhecer a existência de direitos basilares aos animais. Os projetos de lei podem ser esquemati-zados da seguinte forma:

Quadro 1 – Projetos de lei que alteraram o enquadramento jurídicos dos animais (REGIS, 2018, p. 61)

Projeto de lei Casa legislativa Proposta e fundamento

PLS nº 351/2015 Senado Federal

Altera o Código Civil para que os animais não sejam considerados objetos, espelhan-do-se na legislação de países como a Suíça, a Alemanha, a Áustria e a França (que se fundamentam na senciência animal).

PLS nº 631/2015 Senado Federal Propõe o Estatuto dos animais (apenas para os vertebrados), alicerçado na senciência.

PLS nº 650/2015 Senado FederalCria o SINAPRA e o CONAPRA (para verte-brados), baseado na senciência (espelha o PLS nº 631/2015).

PLS nº 677/2015 Senado Federal

Institui o Estatuto dos Animais (inicialmen-te, aplicável apenas aos vertebrados, mas há no texto legal a possibilidade de extensão), ao reconhecer que os animais são sencien-tes.

PL nº 215/2007 Câmara dos Deputados

Estabelece o Código Federal de Bem-Estar Animal, visando a redução e a eliminação do sofrimento animal, mas sem que sejam criados obstáculos para a cadeia produtiva.

PL nº 2.156/2011 Câmara dos Deputados

Dispõe sobre o Código Nacional de Proteção aos Animais, vedando condutas que violem sua integridade (não há limitação ou defini-ção de quais animais seriam atingidos pela norma), baseia-se na senciência animal.

PL nº 3.676/2012 Câmara dos Deputados

Elabora o Estatuto dos Animais, declarando que aos animais sencientes será outorgado um rol de Direitos Fundamentais.

PL nº 6.799/2013 Câmara dos Deputados

Outorga natureza sui generis aos animais domésticos e silvestres, sendo sujeitos de direitos despersonificados, em face da sua senciência.

PL nº 7.991/2014 Câmara dos Deputados

Atribui personalidade jurídica sui generis aos animais (sem haver delimitação), atri-buindo-os Direitos Fundamentais, uma vez que são seres sencientes.

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Em virtude do lapso temporal próprio da tramitação legis-lativa no sistema brasileiro (modelo bicameral) e em razão de haver a possibilidade das proposições sequer restarem aprovadas e promulgadas, várias unidades da República Federativa do Brasil editaram leis próprias sobre a questão da proteção aos animais e da alteração da sua interpretação jurídica:

(a) Lei do Estado do Rio de Janeiro nº 3.900/2002: instituiu o Código Estadual de Proteção aos Animais, vedando “ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência” (artigo 2º) (RIO DE JANEIRO, 2002).

(b) Lei do Estado do Paraná nº 14.037/2003: implantou o Código Estadual de Proteção aos Animais, proibindo “ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar-lhes sofrimento, humilhação ou dano, ou que, de alguma forma, provoque condições inaceitáveis para sua existência” (artigo 2º) (PARANÁ, 2003).

(c) Lei do Estado de São Paulo nº 11.977/2005: constituin-do o Código de Proteção aos Animais, impedindo “ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência, prática ou atividade capaz de causar-lhes sofrimento ou dano, bem como as que provoquem condições inaceitáveis de existência” (artigo 2º) (SÃOPAULO, 2005).

(d) Lei do Estado do Espírito Santo nº 8.060/2005: estabe-leceu o Código Estadual de Proteção aos Animais, criminalizando algumas práticas e se fundamentando no conceito de desenvolvi-mento sustentável: “Art. 1º Fica instituído o Código Estadual de Proteção aos Animais estabelecendo normas para a proteção dos animais no Estado do Espírito Santo, visando compatibilizar o desenvolvimento sócio-econômico com a preservação ambiental” (ESPÍRITO SANTO, 2005).

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(e) Lei do Distrito Federal nº 4.060/2007: definiu as san-ções a serem aplicadas pela prática dos atos elencados configu-radores de maus-tratos aos animais: “Art. 3º Para efeitos desta Lei, entendem-se por maus-tratos atos que atentem contra a liberdade psicológica, comportamental, fisiológica, sanitária e ambiental dos animais” (DISTRITO FEDERAL, 2003).

(f) Lei do Estado do Maranhão nº 10.169/2014: estabeleceu “normas para proteção dos animais do Estado do Maranhão, vi-sando compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a preservação ambiental” (artigo 1º), assim como definiu crueldade como “toda e qualquer ação ou omissão que implique em abuso, maus tratos, ferimentos ou mutilação de animais silvestres ou nativos, exóticos, domésticos, domesticados, e em criadouro” (artigo 3º) (MARANHÃO, 2014).

(g) Lei do Estado da Pernambuco nº 15.226/2014: institui o Código Estadual de Proteção aos Animais, vetando “ofender ou agredir física e psicologicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento físico ou emocional, ou dano, bem como as que criem condições inacei-táveis de existência” (artigo 2º) (PERNAMBUCO, 2014).

(h) Lei do Estado de Sergipe nº 8.366/2017: implementou o Código de Proteção aos Animais, reconhecendo a senciência animal e vedando os maus-tratos:

Art. 2º Considerando que os animais são seres sencientes, é vedado:I - ofender ou agredir fisicamente ou psicologi-camente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência, prática ou atividade capaz de causar-lhes sofrimento ou dano, bem como as que provoquem condições inaceitáveis de existência;II - manter animais em local desprovido de asseio ou que lhes impeça a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade;III - obrigar os animais a trabalhos excessivos ou

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superiores às suas forças e a todo ato que resulte em sofrimento, para deles obter esforços que não se alcançariam senão com castigo;[...]§ 1º O rol de vedações do “caput” deste artigo é meramente exemplificativo, devendo o bem-estar aos animais ser alcançado através da busca de que todos os animais sejam livres de medo e estresse, de fome e sede, de desconforto, de dor e doenças e de que tenham liberdade para expressar seu comportamento ambiental.§ 2º Para atingir os objetivos previstos nesta Lei o Estado de Sergipe poderá promover parcerias e convênios com universidades, ONG’S e iniciativa privada, e garantir que no ensino de meio ambiente sejam enfatizadas as noções de senciência, bem--estar e proteção aos animais como indivíduos (SERGIPE, 2017).

(i) Lei do Estado da Paraíba nº 11.140/2018: constituiu o Có-digo de Direito e Bem-estar Animal sob o pilar da senciência e, de forma precursora, reconheceu direitos fundamentais aos animais:

Art. 2º Os animais são seres sencientes e nascem iguais perante a vida, devendo ser alvos de políti-cas públicas governamentais garantidoras de suas existências dignas, a fim de que o meio ambiente, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida dos seres vivos, mantenha-se ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.Art. 3º É dever do Estado e de toda a sociedade garantir a vida digna, o bem-estar e o combate aos abusos e maus tratos de animais.Art. 4º O valor de cada ser animal deve ser reco-nhecido pelo Estado como reflexo da ética, do res-peito e da moral universal, da responsabilidade, do comprometimento e da valorização da dignidade e diversidade da vida, contribuindo para os livrar de ações violentas e cruéis.

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Art. 5º Todo animal tem o direito:I - de ter as suas existências física e psíquica res-peitadas;II - de receber tratamento digno e essencial à sadia qualidade de vida;III - a um abrigo capaz de protegê-lo da chuva, do frio, do vento e do sol, com espaço suficiente para se deitar e se virar;IV - de receber cuidados veterinários em caso de doença, ferimento ou danos psíquicos experimen-tados;V - a um limite razoável de tempo e intensidade de trabalho, a uma alimentação adequada e a um repouso reparador.[...]Art. 7º Esta Lei estabelece a política a ser adotada pelo Poder Executivo e seus órgãos, envolvendo a relação entre a sociedade e os animais no âmbito do Estado da Paraíba.[...]XI - bem-estar animal: as satisfatórias condições fisiológica e psicológica do animal decorrentes de sua própria tentativa em se adaptar ao meio ambiente em que vive, tendo-se como parâmetros para se aferir tais condições, dentre outras, a liber-dade do animal para expressar seu comportamento natural, bem como a ausência de fome, sede, des-nutrição, doenças, ferimentos, dor ou desconforto, medo e estresse;XII - crueldade: tratamento doloso ou culposo que causa sofrimento, danos físico-psíquicos e/ou morte de animais;XIII - vida digna: diz respeito às necessárias con-dições físico-psicológicas garantidoras da sobre-vivência do animal no meio ambiente em que se encontra inserido, tendo-se como parâmetros para se aferir tais condições, dentre outras, a sua liber-dade para expressar seu comportamento natural, bem como a ausência de fome, sede, desnutrição, doenças, ferimentos, dor ou desconforto, medo e estresse;

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[...]XXVII - senciência: diz respeito à capacidade de o animal sofrer, sentir dor, prazer ou felicidade (PARAÍBA, 2018).

(j) Lei do Estado do Rio Grande do Norte nº 10.326/2018: estruturou a Lei de Proteção e Defesa dos Animais, observando-se “a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, a Constituição Federal, bem como a legislação federal aplicável a matéria” (artigo 1º), bem como proibindo “ofender ou agredir física e psicologica-mente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento físico ou emocional, ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência” (artigo 2º) (RIO GRANDE DO NORTE, 2018).

(k) Lei do Estado de Santa Catarina nº 12.854/2003: criou o Código Estadual de Proteção aos Animais, vedando “agredir fisicamente os animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar-lhes sofrimento ou dano” (artigo 2º) (SANTA CATARINA, 2003) e, em posterior alteração, reconheceu cães e gatos como sujeitos de direito: “Art. 34-A. Para os fins desta Lei, cães e gatos ficam reconhecidos como seres sencientes, sujeitos de direito, que sentem dor e angústia, o que constitui o reconhe-cimento da sua especificidade e das suas características face a outros seres vivos” (SANTA CATARINA, 2018).

(l) Lei do Estado do Rio Grande do Sul nº 11.915/2003: propôs o Código Estadual de Proteção aos Animais, impedindo “ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qual-quer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência (artigo 2º) (RIO GRANDE DO SUL, 2003). Posteriormente, a Lei do Estado do Rio Grande do Sul nº 15.363/2019 consolidou as legislações de proteção animal (RIO GRANDE DO SUL, 2019) e a Lei do Estado do Rio Grande do Sul nº 15.434/2020 admitiu

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a senciência animal, atribuiu direitos aos animais e reconheceu a sua natureza jurídica especial (para os animais domésticos e de estimação):

Art. 216. É instituído regime jurídico especial para os animais domésticos de estimação e reconhecida a sua natureza biológica e emocional como seres sencientes, capazes de sentir sensações e senti-mentos de forma consciente.Parágrafo único. Os animais domésticos de esti-mação, que não sejam utilizados em atividades agropecuárias e de manifestações culturais re-conhecidas em lei como patrimônio cultural do Estado, possuem natureza jurídica “sui generis” e são sujeitos de direitos despersonificados, de-vendo gozar e obter tutela jurisdicional em caso de violação, vedado o seu tratamento como coisa (RIO GRANDE DO SUL, 2020).

(m) Lei do Estado de Minas Gerais nº 22.231/2016: consi-derou “maus-tratos contra animais quaisquer ações ou omissões que atentem contra a saúde ou a integridade física ou mental de animal” (artigo 1º) (MINAS GERAIS, 2016) e, no ano de 2020, evoluiu o texto legal para acrescer o parágrafo único ao artigo 1º: “Para os fins desta lei, os animais são reconhecidos como seres sencientes, sujeitos de direito despersonificados, fazendo jus a tutela jurisdicional em caso de violação de seus direitos, ressalvadas as exceções previstas na legislação específica” (MI-NAS GERAIS, 2020).

Acrescente-se que o Conselho Nacional de Controle de Ex-perimentação Animal, por meio da sua Resolução Normativa nº 13/2013, que aborda a questão da eutanásia animal, discorre que: “A eutanásia não se limita apenas ao momento da morte. Todo o processo desde o alojamento dos animais e à contenção física deve ser cuidadoso para minimizar ao máximo o sofrimento, o medo, a ansiedade e a apreensão” (BRASIL, 2013), e a o Conselho

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Federal de Medicina Veterinária, tratando da mesma matéria, em sua Resolução nº 1.000/2012, reconhece “que os animais submetidos à eutanásia são seres sencientes e que os métodos aplicados devem atender aos princípios de bem-estar animal” (BRASIL, 2012).

E, por fim, imperioso registrar que o Município de Bonito, no Estado de Pernambuco, evoluiu sua Lei Orgânica para reconhecer, de forma inédita no Brasil, direitos à própria natureza (COSTA, 2018), inspirando-se no ordenamento jurídico do Equador e da Bolívia (PACHECO, 2012; OLIVEIRA, 2013):

Art. 236. O Município reconhece o direito da natu-reza de existir, prosperar e evoluir, e deverá atuar no sentido de assegurar a todos os membros da comunidade natural, humanos e não humanos, no Município de Bonito, o direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado e à manu-tenção dos processos ecossistêmicos necessários à qualidade de vida, cabendo ao Poder Público e à coletividade, defendê-lo e preservá-lo, para as gerações presentes e futuras dos membros da comunidade da terra (BONITO, 2016).

2. DO PODER JUDICIÁRIO

O Supremo Tribunal Federal, corte constitucional brasileira, analisa a questão da senciência animal sob o enfoque do texto constitucional, ou seja, da expressa vedação constitucional aos animais sofrerem crueldade (nos termos do inciso VII, §1º, do artigo 225: “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”) (BRASIL, 1988):

(a) Recurso Extraordinário nº 153.531-8/SC (1997): reco-nheceu-se que a prática denominada “farra do boi” era cruel,

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concordando com os argumentos apresentados que defendiam a sua suspensão:

Bem disse o advogado da tribuna: manifestações culturais são as práticas existentes em outras partes do país, que também envolvem bois subme-tidos à farra do público, mas de pano, de madeira, de “papier maché”; não seres vivos, dotados de sensibilidade e preservados pela Constituição da República contra esse gênero de comportamento (BRASIL, 1997).

(b) Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.514-7/SC (2005): discutia-se a prevalência entre a vedação aos maus-tratos e a prática da “briga de galo”, prevalecendo o entendimento que “a sujeição da vida animal e experiências de crueldade não é compatível com a Constituição do Brasil” (BRASIL, 2005).

(c) Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.776-5/RN (2007): a Corte Suprema ratifica o entendimento anterior no sentido que “é inconstitucional a lei estadual que autorize e regulamente, sob título de práticas ou atividades esportivas com aves de raças ditas combatentes, as chamadas ‘rinhas’ ou ‘brigas de galo’ “ (BRASIL, 2007).

(d) Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ (2011): resultou em mais um julgamento no qual findou descaracteri-zada o combate entre aves como prática cultural, pois é vedada as práticas cruéis aos animais no ordenamento jurídico pátrio:

A proteção jurídico-constitucional dispensada à fauna abrange tanto os animais silvestres quanto os domésticos ou domesticados, nesta classe in-cluídos os galos utilizados em rinhas, pois o texto da Lei Fundamental vedou, em cláusula genérica, qualquer forma de submissão de animais a atos de crueldade. Essa especial tutela, que tem por fundamento legitimador a autoridade da Consti-

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tuição da República, é motivada pela necessidade de impedir a ocorrência de situações de risco que ameacem ou que façam periclitar todas as formas de vida, não só a do gênero humano, mas, também, a própria vida animal, cuja integridade restaria comprometida, não fora a vedação constitucional, por práticas aviltantes, perversas e violentas con-tra os seres irracionais, como os galos de briga (“gallus-gallus”) (BRASIL, 2011).

(e) Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.983/CE (2016): vedou a prática de vaquejada por entender lesiva aos animais (equinos e bovinos), assim como houve, no bojo do acórdão pro-ferido, discussão expressa sobre a senciência animal (no voto do Ministro Roberto Barroso):

No tópico seguinte, pretende-se demonstrar que o constituinte fez uma avançada opção ética no que diz respeito aos animais. Ao vedar “práticas que submetam animais a crueldade” (CF, art. 225, § 1º, VII), a Constituição não apenas reconheceu os animais como seres sencientes, mas também reconheceu o interesse que eles têm de não sofrer. A tutela desse interesse não se dá, como uma in-terpretação restritiva poderia sugerir, tão-somente para a proteção do meio-ambiente, da fauna ou para a preservação das espécies. A proteção dos animais contra práticas cruéis constitui norma autônoma, com objeto e valor próprios.[...]Portanto, a vedação da crueldade contra animais na Constituição Federal deve ser considerada uma norma autônoma, de modo que sua proteção não se dê unicamente em razão de uma função ecológica ou preservacionista, e a fim de que os animais não sejam reduzidos à mera condição de elementos do meio ambiente. Só assim reconheceremos a essa vedação o valor eminentemente moral que o constituinte lhe conferiu ao propô-la em benefício dos animais sencientes. Esse valor moral está na

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declaração de que o sofrimento animal importa por si só, independentemente do equilibro do meio ambiente, da sua função ecológica ou de sua importância para a preservação de sua espécie.[...]O termo crueldade está associado à ideia de inten-cionalmente causar significativo sofrimento a uma pessoa ou a outro ser senciente. O sofrimento pode ser físico ou mental. O sofrimento físico inclui a dor, que pode ser aguda ou crônica, ligada a lesões de efeitos imediatos, duradouros ou permanentes. Já o sofrimento mental assume formas variadas, que compreendem a agonia, o medo, a angústia e outros estados psicológicos negativos. A crueldade, nos termos do art. 225, § 1º, VII da Constituição, consiste em infligir, de forma deliberada, sofri-mento físico ou mental ao animal (BRASIL, 2016).

É certo que os precedentes do Supremo Tribunal Federal repercutem na interpretação jurisprudencial da compreensão dos animais não humanos, resultando em decisões judiciais em outras cortes de justiça que também promovem o início da quebra do pa-radigma antropocêntrico. Nesse contexto, exemplificativamente, o Superior Tribunal de Justiça, quando da sessão de julgamento do Recurso Especial nº 1.797.175/SP, consignou sobre a imperiosa necessidade de reflexão “sobre o conceito kantiano, antropocên-trico e individualista de dignidade humana, ou seja, para incidir também em face dos animais não humanos, bem como de todas as formas de vida em geral, à luz da matriz jusfilosófica biocêntrica (ou ecocêntrica)” (BRASIL, 2019a); por seu turno, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, proferiu decisão, na Ação Civil Pública Cível nº 0704386-45.2019.8.07.0018, onde discorre sobre a senciência animal e sobre a impossibilidade de se manter a interpretação segundo a qual seriam meros objetos para o ordenamento jurídico pátrio:

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Ainda que sob a antiquada concepção antropo-cêntrica, os animais não-humanos não podem ser reputados como meros objetos, dado que a prote-ção constitucional instituída no art. 225, § 1º, VII denota claramente que foram reconhecidos como seres sencientes e indispensáveis à composição e integridade do equilíbrio ecológico. Logo, a sorte de animais silvestres, mormente quando amea-çados de extinção, como é o caso de alguns dos espécimes tratados nesta demanda, não submete-se apenas à lógica do objeto de mercado, mas à da especial tutela jurídica ambiental (BRASIL, 2019b).

Portanto, na conjuntura posta, percebe-se que:

Proíbe-se a crueldade porque se pressupõe que os animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sofrer. Não haveria sentido em se proibir a crueldade contra coisas inanimadas, destituídas da capacidade de sentir dor ou de serem impactadas pela crueldade. O fato senciência, portanto, está implicitamente reconhecido pela Constituição.Assim, ainda que, filosoficamente, se possa discu-tir qual seria o melhor fundamento para direitos animais, é certo que, no Brasil, o Direito Animal se fundamenta na senciência animal.Ao valorar positivamente a senciência animal, proi-bindo as práticas cruéis, a Constituição brasileira considerada os animais não-humanos como seres importantes por si próprios, os considera como fins em si mesmos, ou seja, reconhece, implicitamente, a dignidade animal (ATAIDE JUNIOR, 2019, p. 115).

3. DO PODER EXECUTIVO

Sobre a temática do Direito Animal há, na esfera do Poder Executivo, escassas Políticas Públicas - “campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em ação’ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário,

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propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável de-pendente)” – (SOUZA, 2006, p. 26), ou seja, interpretou-se Polí-ticas Públicas como “um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos (Poder Executivo) e decisões (Poder Judiciário) tendentes à realização dos fins primordiais do Estado” (CANELA JUNIOR, 2009, p. 69).

No âmbito federal, a questão é percebida sob o viés antro-pocêntrico da proteção à saúde humana. Desse modo, o Minis-tério da Saúde, por meio da Portaria nº 1.138/2014, definiu “as ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a saúde pública” (artigo 1º) (BRASIL, 2014), abrangendo ações e estratégias re-lacionadas a animais de relevância para a saúde pública, guarda e posse responsável, vacinação animal, recolhimento e coleta animal, eutanásia animal, entre outras.

A ausência de Política Públicas nacionais pode ser explicada em virtude de “políticas públicas de direitos para animais sem-pre foram tratadas como uma piada na Câmara dos Deputados” (DOURADO, 2013), resultando na ausência de um arcabouço jurídico mais robusto para nortear as ações do Poder Executivo.

Nesse contexto, há tentativas de provocar a Administração Pública para que ocorram mudanças, bem como iniciativas pontu-ais de alguns entes federativos, como: “Programas de Castrações Gratuitas de Cães e Gatos” (FERREIRA, 2017); a implantação de hospital veterinário público no Distrito Federal – há o “atendi-mento clínico (incluindo emergenciais), atendimento cirúrgico, realização de exames laboratoriais e de imagem, acompanha-mento dos tratamentos, gestão dos medicamentos e gestão de prontuários para a prestação de serviços veterinários” – (DIS-TRITO FEDERAL, 2018); no município de Porto Alegre, houve a criação da Secretaria Especial dos Direitos Animais (que “faz uma abordagem com caráter jurídico, cujo enfoque recai em um

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princípio constitucional que estabelece os animais não humanos como portadores de direitos e devendo ser tutelados pelo Esta-do”) (PONTES, 2012, p. 141); entre outras iniciativas existentes.

E embora as Políticas Públicas em relação aos animais tam-bém se justifiquem pela necessidade de abordar a questão sob o viés de uma saúde única, ou seja, inter-relacionar a questão dos animais e dos humanos (RIBEIRO & MAROTTA, 2017; SANTANA & OLIVEIRA, 2019), entende-se que a perspectiva deva superar o viés antropocêntrico e fundamentar-se na dignidade animal (MA-ROTTA, 2019), sem esquecer que “de fato, a questão é emergente, relacionando-se à um misto de fatores, como aqueles ligados à saúde pública, à crise ambiental e às reivindicações de movimen-tos sociais ligados à sociedade civil e a responsabilidade pública com relação aos animais” (MENEZES FILHO, 2013, pp. 7-8).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o argumento da senciência animal, ainda que implicitamente e/ou de forma reflexa, norteia a ordem jurídica nacional no que se refere ao Direito Animal, uma vez que há a vedação à crueldade, aos maus-tratos e aos abusos aos animais, em reconhecimento à dignidade dos animais não humanos. Por-tanto, há a sua percepção e incorporação pelo Estado brasileiro, embora os animais permaneçam, no texto da lei vigente, como bens ou objetos.

Nesse contexto, os projetos de lei em tramitação no Con-gresso Nacional que objetivam alterar o enquadramento jurídico dos animais estão alicerçados, em harmonia com outros países, na senciência animal, destacando-se a existência de críticas em relação à limitação do seu alcance, pois estruturaria os animais em dois grupos: os com sencientes e os não sencientes, segundo o atual nível de desenvolvimento biotecnocientífico (REGAN, 2006; REGIS, 2018). Acrescente-se que o Equador e a Bolívia já

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possuem interpretação mais extensiva ao reconhecerem o valor intrínseco da própria natureza (PACHECO, 2012; OLIVEIRA, 2013), ocorrendo influência direta na Lei Orgânica do Município de Bonito, no Estado de Pernambuco.

Alinham-se à incorporação da senciência animal, os vários Códigos Estaduais de Proteção aos Animais e seus congêneres vedam expressamente os maus-tratos animais, havendo, mais recentemente, evoluções legislativas nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais que reconhecem direitos fundamentais e/ou como sujeitos de direitos (embora, em alguns casos, exista essa declaração em relação a grupos específicos de animais).

Espera-se que as recentes legislações estaduais existentes sejam propulsoras de Políticas Públicas efetivas no âmbito das diferentes unidades da federação, alicerçadas no reconhecimento da dignidade animal, uma vez que na esfera federal identificou-se um declarado desinteresse dos congressistas, além das ínfimas ações da administração pública existentes compreenderem e proporem, em nítido caráter antropocêntrico, uma cisão entre os seres humanos e os demais animais.

No campo jurídico, a análise focou-se nas decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (que, conforme explicitado, reper-cute em outros tribunais), o qual manifestou-se reiteradamente pela impossibilidade da execução de práticas defendidas como manifestações culturais quando em detrimento ao bem-estar dos animais, assim como houve a adição patente da questão da senci-ência animal quando do julgamento da Ação Direta de Inconsti-tucionalidade nº 4.983/CE (que tratava da prática da vaquejada).

Evidencia-se uma paulatina e nítida imersão da senciência animal nas posturas do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. Entretanto, registre-se, que, após a proibição da prática de va-quejada pela Corte Suprema, houve uma rápida reação contrária do Congresso Nacional, resultando na apresentação da Proposta

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de Emenda Constitucional nº 50/2016 (BRASIL, 2016) e na sua posterior aprovação (na forma da Emenda Constitucional nº 96/2017):

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.[...]§ 7º Para fins do disposto na parte final do in-ciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem ani-mais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos (Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017) (BRASIL, 1988).

Atualmente, a questão encontra-se novamente na esfera judicial (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.728/DF e Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.772/DF), ambas aguardando julgamento pela Corte Constitucional.

Por fim, sobre a incorporação do conceito da senciência animal pelo Estado brasileiro (que verificou estar em expansão), reforçado pela natureza da matéria, em franca evolução e cons-tante estruturação, impõe-se, “sobretudo, não concluir. Resistir à tentação da última palavra [...]. Não, não é preciso concluir. É preciso pelo contrário, abrir o círculo; ei-lo tornado em espiral e turbilhão, circularidade em movimento como a própria vida e as ideias” (OST, 1995, p. 389), com intuito que haja uma progres-siva discussão e evolução da questão (no Poder Legislativo, no Poder Judiciário e no Poder Executivo, gerando Políticas Públicas

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amplas, integradas e efetivas), e, consequentemente, o desenvol-vimento do Direito Animal no Brasil.

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