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ROSÂNGELA FRANÇA OLIVEIRA DIREITO AO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE VITÓRIA DA CONQUISTA SOB A ÓPTICA DOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL Vitória da Conquista - BA 2016

DIREITO AO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE … · 2020-01-22 · Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca

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ROSÂNGELA FRANÇA OLIVEIRA

DIREITO AO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE VITÓRIA DA

CONQUISTA SOB A ÓPTICA DOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL

Vitória da Conquista - BA

2016

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ROSÂNGELA FRANÇA OLIVEIRA

DIREITO AO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE VITÓRIA DA

CONQUISTA SOB A ÓPTICA DOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fundação Oswaldo Cruz, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública. Área de concentração: Desenvolvimento e políticas públicas. Orientador: DSc. Gabriel Eduardo Schütz

Vitória da Conquista - BA

2016

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Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

O48d Oliveira, Rosângela França

Direito ao acesso à Estratégia de Saúde da Família de Vitória

da Conquista sob a óptica dos usuários com hipertensão arterial.

/ Rosângela França Oliveira. -- 2016.

88 f. : tab. ; mapas

Orientador: Gabriel Eduardo Schütz

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública

Sergio Arouca, Vitória da Conquista - BA, 2016.

1. Hipertensão. 2. Direito à Saúde. 3. Estratégia Saúde da

Família. 4. Acesso aos Serviços de Saúde. I. Título.

CDD – 22.ed. – 616.132098142

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ROSÂNGELA FRANÇA OLIVEIRA

DIREITO AO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE VITÓRIA DA

CONQUISTA SOB A ÓPTICA DOS USUÁRIOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fundação Oswaldo Cruz, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública. Área de concentração: Desenvolvimento e políticas públicas. Orientador: DSc. Gabriel Eduardo Schütz

Aprovada em: 14/04/2016

Banca Examinadora

_______________________________________________________

Prof. DSc. Gabriel Eduardo Schütz (Orientador)

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP /FIOCRUZ

_______________________________________________________

Prof. DSc. Adriano Maia dos Santos (Membro titular)

Universidade Federal da Bahia – UFBA/IMS/CAT

________________________________________________________

Prof. DSc. José Patrício Bispo Júnior (Membro titular)

Universidade Federal da Bahia – UFBA/IMS/CAT

________________________________________________________

Prof. DSc. Argemiro Ribeiro de Souza Filho (Membro suplente)

Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR

________________________________________________________

Profª. DSc. Regina Maria de Carvalho Erthal (Membro suplente)

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP /FIOCRUZ

Vitória da Conquista - BA

2016

Número de classificação

do assunto principal.

Solicitar na biblioteca

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À minha mãe, Dalvina, que convive com a hipertensão arterial há alguns anos, exemplo de mulher guerreira e de muitas virtudes. E a todos os usuários do SUS que lutam pela garantia do direito à saúde.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, agradeço por sempre me dar forças para vencer os desafios da vida e

permitir que eu não desistisse ao longo da caminhada. Só Ele sabe o quanto

aguardei por esta oportunidade, dos esforços e osbstáculos que superei para

conseguir chegar até aqui.

Ao meu orientador Gabriel Eduardo Schütz, pela confiança, paciência, atenção e

apoio em todos os momentos ao longo desta jornada. Motivou-me a cada instante.

Muito obrigada pelos ensinamentos que me fizeram deslumbrar ainda mais o

universo da pesquisa e do ensino.

Ao meu esposo, Edgar, companheiro de todas as horas, que nunca hesitou em me

incentivar, desde a inscrição para seleção do mestrado até o último ponto final deste

trabalho. Obrigada pela compreensão, amor e por cuidar de mim.

À minha família, em especial aos meus pais, Dalvina e Jesuíno, meus exemplos de

caráter, superação e humildade, que mesmo diante das dificuldades, sempre

incentivou seus filhos a buscar uma vida melhor através do estudo. Serei

eternamente grata pelo amor incondicional.

Às minhas irmãs, Juliana, Fabiana, Luciana, Maria das Graças, Euzília e meu irmão

João Francisco pelo apoio em todos os momentos tristes e alegres da minha vida.

Aos meus amigos, em especial à minha amiga Mariana Romana (Mare), agradeço

pelo carinho, por sempre estar presente em minha vida, ouvindo as minhas

lamentações e compartilhando os momentos felizes.

Aos docentes e coordenadoras do Curso de Mestrado em Direito e Saúde, pela

troca de conhecimentos e experiências que contribuíram para minha vida

profissional e pessoal, em especial à coordenadora Maria Helena Barros de Oliveira,

qual tenho tamanha admiração e respeito.

Aos colegas de mestrado, que me fizeram companhia nessa caminhada, por

partilharem dos seus conhecimentos e também dos “lanches ostentação” de todas

as aulas.

À Cynthia pela atenção e apoio durante as aulas do mestrado.

Aos professores membros da Banca Examinadora pelos ensinamentos.

Aos meus colegas de trabalho da Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação do

SUS, bem como os colegas dos Postos Avançados, que me faz acreditar que

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podemos contribuir para uma construção de um Sistema Único de Saúde melhor a

cada dia, a partir das nossas ações.

Aos funcionários das Unidades de Saúde da Família que me deram apoio na coleta

de dados, e principalmente, agradeço os usuários destas unidades que fizeram parte

desde estudo, tornando-o algo concreto. Obrigada a todos os entrevistados pela

colaboração, em partilharem as suas vivências, opiniões e anseios.

Ao Polo de Educação Permanente em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, por

autorizar a realização da pesquisa nas Unidades de Saúde da Família.

À Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista e a Fundação Oswaldo Cruz, por

fazer do Mestrado Profissionalizante em Direito e Saúde um meio propício para

qualificação de profissionais que contribuirão para uma melhor gestão e assistência

à saúde da população conquistense.

À FAINOR, que cedeu o espaço físico para que nossas aulas acontecessem.

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Aula de Voo

Poema: Mauro Iasi

O conhecimento caminha lento feito lagarta.

Primeiro não sabe que sabe

e voraz contenta-se com o cotidiano orvalho deixado nas folhas vívidas das manhãs.

Depois pensa que sabe

e se fecha em si mesmo: faz muralhas,

cava trincheiras, ergue barricadas.

Defendendo o que pensa saber

levanta certezas na forma de muro, orgulhando-se de seu casulo.

Até que maduro explode em voos

rindo do tempo que imaginava saber ou guardava preso o que sabia.

Voa alto sua ousadia reconhecendo o suor dos séculos

no orvalho de cada dia.

Mesmo o voo mais belo descobre um dia não ser eterno.

É tempo de acasalar: voltar à terra com seus ovos

à espera de novas e prosaicas lagartas. O conhecimento é assim: ri de si mesmo

e de suas certezas.

É meta da forma metamorfose movimento

fluir do tempo que tanto cria como arrasa

a nos mostrar que para o voo é preciso tanto o casulo como a asa.

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RESUMO

A hipertensão arterial (HA) é uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT) caracterizada pela elevação dos níveis pressóricos, representando o principal fator de risco para o desenvolvimento as doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. No Brasil, o Sistema Único de Saúde lançou recentemente o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (2011-2022), estabelecendo uma política pública de promoção e proteção à saúde que inclui o combate à HA como parte das ações da Estratégia de Saúde da Família (ESF). OBJETIVO: Identificar as dificuldades e facilidades encontradas pelos usuários adultos e idosos com hipertensão arterial no acesso à Estratégia de Saúde da Família (ESF) em Vitória da Conquista, BA. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada em 4 Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Vitória da Conquista. A população do estudo foi constituída por 40 usuários, aos quais aplicou-se uma entrevista semiestruturada. Para tratamento das informações coletadas foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo na Modalidade Análise Temática. O estudo atendeu as recomendações da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo o projeto submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os usuários que fizeram parte da pesquisa tinham 30 a 78 anos, a maioria é do gênero feminino (33/40), com baixa escolaridade e assalariada. Os resultados indicam boa facilidade de acesso aos serviços de saúde básicos do ponto de vista geográfico, mas foram relatados entraves limitadores do acesso associados à organização dos serviços, em especial, com relação às: (i) frequentes demoras na marcação de consultas, bem como na realização e entrega de exames; e (ii) dificuldades nas relações intersubjetivas entre usuários, profissionais e trabalhadores da saúde. Outros achados que chamaram atenção foram: (i) a falta de participação dos usuários no controle social; (ii) o desconhecimento das políticas públicas de saúde em geral, e das ações específicas para prevenção e tratamento da HA em particular; (iii) a forte tendência à medicalização, com foco na demanda de medicamentos, e (iv) a percepção de que o serviço público de saúde está em forte desvantagem com relação aos serviços particulares, condicionando o uso das USF às eventuais limitações econômicas dos usuários. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O resultado da pesquisa traz à baila elementos que dificultam a construção social da saúde como direito da cidadania, tanto pela determinação cultural, histórica e social do senso comum sobre serviços sanitários no Brasil, quanto das próprias deficiências na execução das políticas públicas de saúde por parte do Poder Público.

Descritores: Hipertensão, Direito à Saúde, Estratégia de Saúde da Família, Acesso aos Serviços de Saúde.

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ABSTRACT

Raised blood pressure (RBP) is a chronic Non Communicable Disease (NCD),

characterized as the persistence of high blood pressure levels, is a major risk factor

for coronary heart disease and ischemic as well as hemorrhagic stroke and kidney

diseases. In Brazil, the Unified Health System recently launched the Strategic Action

Plan for Prevention and Control of Chronic Non communicable Diseases (2011-

2022), establishing a public policy of promoting and protecting health that includes

the fight against RBP as part of the actions of the Family Health Strategy (FHS).

OBJECTIVES: Identifying the difficulties and facilities faced by adult and elderly

affected by RBP in accessing the Family Health Strategy (FHS) in Vitória da

Conquista, Bahia. METHODOLOGY: Designed as a Qualitative study, the research

was held in four Family Health Units (USF) in the city of Vitoria da Conquista. Forty

RBP users responded a semi-structured interview. The content analysis of collected

data has been developed by using the technique of Thematic Analysis. The study

meets the commitments of Resolution No. 466/2012 of the National Health Council,

and have the project submitted and approved by the Research Ethics Committee of

the National School of Public Health Sergio Arouca. RESULTS AND DISCUSSION:

The study subjects are aged among 30-78 years old, most female (33/40), with low

levels of education and salaried. The results indicate relative ease of geographical

access to basic health services, but inform about of barriers limiting access to the

services, associated with the organization management, in particular in respect to: (i)

frequent delays in the medical appointments, as well as the completion and delivery

of exams; and (ii) difficulties in interpersonal relations between users, professionals

and health workers. Other meaningful findings were: (i) the lack of user participation

in social control; (ii) the lack of knowledge about the public health policy in general

and the specific actions for the prevention and treatment of hypertension in particular;

(iii) the strong tendency to medicalization, focusing on demand for drugs; and (iv) the

perception that the public health service is at a severe disadvantage in relation to

private services, subordinating the use of USD to ordinary economic difficulties of

users. CONCLUSION: The results of this study brings up elements that hinder the

social construction of health as a right of citizenship, both due to cultural, historical

and social determination of common sense about health services in Brazil, as well as

own shortcomings in the implementation of public policy of health managed by the

Government.

Subject Headings: Hypertension, Right to Health, Family Health Strategy, Health Services Accessibility.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

HA Hipertensão Arterial

AVC Acidente Vascular Cerebral

IAM Infarto Agudo do Miocárdio

ESF Estratégia de Saúde da Família

USF Unidade de Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

DM Diabetes Mellitus

PNAB Política Nacional de Atenção Básica

ABS Atenção Básica à Saúde

APS Atenção Primária à Saúde

PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde

MS Ministério da Saúde

PIDESC Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

CNS Conselho Nacional de Saúde

SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica

PA Pressão Arterial

Hiperdia Cadastro e Acompanhamento de Hipertensos e/ou Diabéticos

NOAS Norma Operacional de Assistência à Saúde

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

DSTs Doenças Sexualmente Transmissíveis

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

PMVC Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista

SMS Secretaria Municipal de Saúde

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

EFI Ensino Fundamental Incompleto

EFC Ensino Fundamental Completo

EMI Ensino Médio Incompleto

EMC Ensino Médio Completo

ESI Ensino Superior Incompleto

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LISTA DE FIGURAS

Mapa 1. Distritos do município de Vitória da Conquista, Bahia .......................... 36

Mapa 2. Localização das Unidades de Saúde da Família na cidade de Vitória da Conquista, BA. ........................................................................................................ 39

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1. Codificação e características das Unidades de Saúde da Família.

Vitória da Conquista, 2016 ..................................................................................... 40

Tabela 1. Perfil sociodemográfico – Composição familiar; escolaridade e

profissão / ocupação de usuários com HA atendidos em USF de Vitória da

Conquista-BA, 2016 ............................................................................................... 44

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 18

2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 18

2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 18

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 19

3.1 Hipertensão Arterial (HA) ................................................................................... 19

3.2 A Hipertensão Arterial nas Políticas Públicas de Saúde .................................... 22

3.3 Garantia do Acesso à Estratégia de Saúde da Família ...................................... 25

3.4 Direito e Saúde ................................................................................................... 31

4 METODOLOGIA ................................................................................................. 35

4.1 Tipo de Estudo ................................................................................................... 35

4.2 Local do Estudo .................................................................................................. 35

4.3 Sujeitos do Estudo ............................................................................................. 40

4.4 Técnica e Instrumento de Coleta de Dados ....................................................... 41

4.5 Análise das Informações .................................................................................... 41

4.6 Considerações Éticas .......................................................................................... 42

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 43

5.1 Perfil Sociodemográfico dos Sujeitos da Pesquisa ............................................ 43

5.2 Acessibilidade Geográfica .................................................................................. 45

5.3 Fatores Organizacionais das Unidades de Saúde da Família ............................ 47

5.4 O acesso sob a Perspectiva da Dimensão Econômica ...................................... 54

5.5 Participação dos Usuários no Controle Social ..................................................... 57

5.6 Percepções dos Direitos ..................................................................................... 59

5.7 Percepções sobre a Doença .............................................................................. 62

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 68

APÊNDICES ........................................................................................................ 78

Apêndice A – Roteiro de Entrevista ...................................................................... 78

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 80

ANEXOS ............................................................................................................... 83

Anexo A – Ofício de Autorização de Coleta de Dados .......................................... 83

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Anexo B – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa ............... 84

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1 INTRODUÇÃO

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são consideradas um

desafio para a saúde pública, uma vez que correspondem a 72% das causas de

mortes e atingem em maior parte os grupos sociais mais vulneráveis e pobres

(BRASIL, 2011).

Nas últimas décadas, houve um aumento das taxas de morbimortalidade por

DCNT associadas a modificações sociais e comportamentais decorrentes do

processo de globalização da economia mundial, e dentre estas doenças há uma

incidência cada vez maior de doenças cardiovasculares, cujo principal fator de risco

é a hipertensão arterial (MELO, 2011).

A hipertensão arterial (HA) é considerada um dos principais problemas de

saúde pública por ser uma patologia crônica que envolve uma série de fatores de

risco e possui elevada morbimortalidade. Cada vez mais as pessoas vêm sendo

acometidas, sendo que no Brasil cerca de 17 milhões de pessoas são portadoras da

HA e aproximadamente 65% dos portadores tem menos de 40 anos (SANTOS,

NERY e MATUMOTO, 2013).

A doença é caracterizada por níveis pressóricos elevados, sendo que

valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg, identificados em duas ou mais

aferições da pressão arterial, diagnosticam a doença (MEIRA et al., 2012). É

relatado que os níveis pressóricos elevados possuem relação com a ocorrência de

acidente vascular cerebral (AVC) e de infarto agudo do miocárdio (IAM),

representando 54% e 47% dos casos, respectivamente (ZATTAR et al., 2013).

Como doença multifatorial, a HA tem vários fatores de risco associados à

sua instalação como os relacionados ao estilo de vida: sobrepeso, obesidade,

consumo elevado de sal e álcool, além do uso do tabaco e a falta de atividade física

(SILVA e OLIVEIRA, 2012; BALDISSERA, CARVALHO e PELLOSO, 2009).

Existem também outros fatores, tais como: fatores constitucionais (idade,

gênero, etnia), fatores ambientais ligados ao trabalho (estresse, exposição a agentes

físicos e/ou químicos), fatores ligados à classe social e fatores genéticos resultantes

da influência do ambiente na expressão de genes que determinam a manifestação

da doença (SILVA e OLIVEIRA, 2012; BALDISSERA, CARVALHO e PELLOSO,

2009).

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Embora não exista cura para esta doença, ela é facilmente detectada e

geralmente controlável (MAHAN e ESCOTT-STUMP, 2010). O tratamento

fundamenta-se no uso de medicamentos anti-hipertensivos prescritos sob controle

médico conforme a gravidade do quadro, bem como em medidas não

farmacológicas tais como: controle do peso, reeducação alimentar, redução do

consumo do sal e de bebidas alcoólicas, prática regular de exercício físico,

abstenção do tabagismo e controle do estresse psicoemocional, sendo que o

controle da doença no início de seu desenvolvimento é primordial para a redução de

suas complicações (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010;

MONTEIRO, FARIAS e ALVES, 2009).

O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas

Não Transmissíveis lançado recentemente no Brasil (2011-2022), estabelece a

adoção de políticas de promoção e proteção à saúde e combate à hipertensão

arterial (BRASIL, 2011).

A partir da descentralização das ações integradas de saúde, a Atenção

Básica passou a ser considerada o espaço prioritário para a atenção à saúde das

pessoas com hipertensão arterial através de ações desenvolvidas pela equipe

multiprofissional da ESF. Sabe-se que o controle da HA representa atualmente um

grande desafio para a gestão e os profissionais de saúde, pois trata-se de uma

doença com alta prevalência na população brasileira nas últimas décadas, e por

isso, é de grande relevância a implementação de ações que visem o controle e

redução das suas complicações (OLIVEIRA e MOREIRA, 2010).

No Plano de Atenção Básica de Assistência à Saúde do Adulto encontra-se

inserido o Programa de Controle da HA que possibilita o controle da doença através

do acompanhamento e atendimento individualizado ou em grupo, da identificação

dos fatores de risco e promoção do autoconhecimento da pessoa com HA

(DANTAS, 2013).

Em 2001, foi implantado o Plano de Reorganização da Atenção aos

portadores de HA e Diabetes mellitus (DM), que visa a confirmação de casos

suspeitos; a elaboração de protocolos clínicos e treinamentos dos profissionais de

saúde; a garantia da distribuição gratuita de medicamentos anti-hipertensivos,

hipoglicemiantes orais e insulina; e a criação de um sistema informatizado de

cadastramento e acompanhamento de hipertensos e diabéticos denominado

Hiperdia (DANTAS, 2013).

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Considera-se de fundamental importância a implementação de ações de

promoção da saúde que colaborem significativamente para a compreensão da

realidade deste grupo, considerando o perfil socioeconômico e sociocultural, com o

estímulo do autocuidado e o reconhecimento que a saúde é um direito fundamental

da cidadania.

Entretanto, as ações de saúde só terão melhores resultados se forem dadas

as garantias do acesso às ações e serviços de saúde, sendo que se a população

tem consciência deste e de outros direitos, facilita que as mesmas possam lutar pela

garantia dos seus direitos. Para alguns estudiosos, o acesso é um meio para

entender as iniquidades existentes na assistência à saúde, ou seja, reflete a

desigualdades de acesso ou variação na disponibilidade de recursos tecnológicos

empregados no cuidado à saúde de determinados grupos populacionais (JUNIOR,

JESUS e CREVELIM, 2010).

Neste contexto, levantou-se a hipótese da existência de entraves que

dificultam o acesso ao tratamento desta doença no município de Vitória da

Conquista, sendo elaboradas as seguintes questões norteadoras: Qual é a

percepção deste grupo a respeito dos direitos garantidos pelas políticas de saúde

com relação à HA? E como se caracteriza o acesso aos serviços ofertados pela

Estratégia de Saúde da Família?

Desta forma, resulta relevante, por um lado, explorar as percepções e

conhecimentos dos portadores de HA sobre a doença, seus fatores de riscos e

tratamento e principalmente sobre seus direitos no tocante ao acesso aos serviços

de saúde. E por outro lado, também é importante conhecer a forma em que os

usuários com HA caracterizam o acesso à ESF.

Este tipo de informações é de fundamental importância na reelaboração,

monitoramento e avaliação de políticas públicas de proteção e promoção à saúde,

de tal forma que permita aprimorar à assistência ao grupo hipertenso usuário da

ESF, no caso, com foco no município de Vitória da Conquista. E como defende

Azevedo (2007), o olhar dos usuários sobre os serviços de saúde não pode ser

desconsiderado, pois este aponta claramente as necessidades dos atores sociais a

partir da sua própria visão.

É a partir da visão do usuário sobre qualidade da Atenção Primária à Saúde

que se tem indícios sobre os benefícios, bem como as dificuldades dos serviços de

saúde em atender as necessidades das pessoas, apresentando-se como uma

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ferramenta de fundamental importância na investigação, administração e

planejamento do processo de trabalho em saúde, colaborando para uma melhor

organização da assistência aos usuários (ROSA, PELEGRINI e LIMA, 2011).

Portanto, o presente estudo pretende contribuir para a melhoria das

condições do acesso as ações e serviços de saúde disponibilizados para a

população na Atenção Básica, pois há poucos estudos que aprofundam as questões

relativas ao direito à saúde e que caracterizam o acesso à Estratégia de Saúde da

Família em Vitória da Conquista.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Identificar as dificuldades ou facilidades encontradas pelos usuários adultos e idosos

com hipertensão arterial no acesso à Estratégia de Saúde da Família (ESF) em

Vitória da Conquista, BA.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Investigar a percepção que os usuários adultos e idosos com hipertensão

arterial têm sobre a doença e sobre seus direitos ao acesso à Estratégia de

Saúde da Família;

Explorar a forma em que estes usuários caracterizam o acesso à Estratégia

de Saúde da Família;

Conhecer os fatores, situações e condições mencionados que, de acordo com

os usuários, facilitam e/ou dificultam o acesso dos usuários às ações de

saúde.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL (HA)

As intensas transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas no

cenário brasileiro nas últimas décadas têm gerado complexos processos de

transição demográfica, epidemiológica e nutricional. As principais consequências

dessas transições foram o aumento da expectativa de vida e as modificações nos

estilos de vida. Diante disso, passou-se do perfil de elevada mortalidade infantil, com

predomínio das doenças infecciosas e parasitárias, para um perfil de mortalidade em

idades mais avançadas, provocadas principalmente por Doenças Crônicas Não

Transmissíveis (DCNT) e por causas externas (COSTA, SILVA e CARVALHO,

2011).

Para Girotto et al. (2013) as doenças cardiovasculares constituem

atualmente principal causa de morbidade e mortalidade no mundo, dentre as quais

destaca-se a doença arterial coronariana, as cerebrovasculares, insuficiência

cardíaca e a hipertensão arterial, que é também um importante fator de risco para

essas doenças. As doenças do aparelho circulatório também aparecem como a

principal causa de óbito no município de Vitória da Conquista, representando 21%

do total de mortes, segundo o atual Plano Municipal de Saúde (VITÓRIA DA

CONQUISTA, 2014).

No cenário mundial, a HA se destaca como um dos grandes desafios da

saúde pública, apresenta-se como um fator de risco modificável para doenças

devido a sua magnitude, risco e dificuldades no seu controle. Considerada a

principal causa de óbitos evitáveis no mundo (BEZERRA et al., 2013). Esta patologia

afeta aproximadamente 30% da população adulta, chegando a 50% nos idosos

(GOMES, SILVA e SANTOS, 2010) e prevalece nas pessoas do gênero masculino

entre 45 e 50 anos de idade. Após essa faixa etária, a prevalência é maior nas

mulheres (COSTA, SILVA e CARVALHO, 2011).

No Brasil, a HA representa um sério problema pelo desenvolvimento de

agravos e complicações que resultam em também, impactos relevantes nos custos

hospitalares, econômicos, sociais previdenciários (CAMARGO, ANJOS e AMARAL,

2013), correspondendo a 40% das aposentadorias precoces (GOMES, SILVA e

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SANTOS, 2010). Além disso, é responsável por aproximadamente 40% dos óbitos por

acidente vascular cerebral (AVC), 25% das mortes por doenças coronárias e,

quando combinada o desenvolvimento de diabetes representa 50% dos episódios de

insuficiência renal no estágio terminal (COUTINHO e SOUSA, 2011).

A hipertensão arterial é caracterizada pelo aumento dos níveis pressóricos,

levando a eventos cardiovasculares e metabólicos que podem causar alterações

funcionais e/ou estruturais de diversos órgãos, dentre eles, o coração, cérebro, rins

e vasos periféricos (PIERIN et al., 2011; RENOVATO e BAGNATO, 2012;

CAMARGO, ANJOS e AMARAL, 2013). A HA duplica o risco do aparecimento da

doença cardiovascular, representa o principal fator de risco para o acidente vascular

cerebral, e desde a década de 1960, é a doença que mais mata no país

(CONTIERO et al., 2009; COSTA, SILVA e CARVALHO, 2011).

Na literatura muitos autores mencionam que a etiologia da HA seria

multifatorial, isto é são vários os fatores de risco envolvidos na emergência e

expressão da doença no indivíduo, incluindo fatores tanto genéticos quanto

ambientais e culturais, tais como: sexo masculino, tabagismo, obesidade, idade

avançada, etnia negra, ingestão excessiva de álcool, falta de atividade física,

elevação dos níveis séricos de gorduras, principalmente de colesterol, diabetes

mellitus, consumo elevado de alimentos com grande quantidade de sódio (GIROTTO

et al., 2013; MAHAN e SCOTT-STUMP, 2010) e fatores psicoemocionais, dentre

outros (SILVA e MURA, 2010).

Em geral, esta patologia é conhecida como “assassina silenciosa”, pois

várias pessoas portadoras da hipertensão podem não apresentar sintomas durante

muito tempo e então desenvolver um acidente vascular cerebral (AVC) ou até

mesmo uma parada cardíaca fatal (MAHAN e SCOTT-STUMP, 2010). Quando

apresenta sinais e sintomas, os indivíduos afetados costumam relatar dores de

cabeça, próximo a nuca, tonturas, dificuldade para respirar, visão turva, cansaço aos

pequenos esforços, sangramento no nariz e em casos de crises hipertensivas pode

ainda apresentar palpitações, caracterizada como uma “angustia no peito”, suor

excessivo, vômitos, náuseas, tremores e palidez (MELO 2011).

O fato de se apresentar em forma assintomática pode dificultar na maioria

dos casos, o diagnóstico precoce e a prescrição de tratamento adequado

(RENOVATO e BAGNATO, 2012). É visto que para controle dos níveis pressóricos é

necessário o seguimento da terapia farmacológica e/ou nutricional durante toda a

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vida, o que dificulta a adesão ao tratamento, tornando-se um sério problema de

saúde pública (CONTIERO, et al., 2009).

Para Silva e Mura (2010) o principal objetivo terapêutico da hipertensão

arterial é diminuição da morbimortalidade cardiovasculares e renais. A prevenção e

tratamento dessa doença são baseados, sobretudo na adoção de estilo de vida

saudável, por meio de medidas dietéticas e comportamentais.

Essas mudanças de comportamento necessárias para o controle dos níveis

pressóricos se configuram com um desafio tanto para os próprios para os pacientes

hipertensos quanto para os serviços de saúde, uma vez que essas medidas ainda

não se encontram totalmente incorporadas nas práticas educativas dos profissionais

de saúde (GIROTTO et al., 2013).

No que tange às medidas não farmacológicas, o tratamento da HA está

atrelado à realização de atividade física de modo regular, abstenção do tabaco,

diminuição da ingestão alcóolica, redução no consumo de sódio e de alimentos com

alto teor de lipídios, controle do peso, alimentação rica em frutas e hortaliças,

aumento do consumo de potássio, dentre outras medidas que estão associadas ao

controle dessa doença (SANTA-HELENA, NEMES e NETO, 2010; MELO, 2011;

HOEPFNER e FRANCO, 2010; PAZ et al., 2011).

Em relação à terapia medicamentosa, o Sistema Único de Saúde

disponibiliza gratuitamente vários fármacos, especialmente nas unidades de saúde,

além de propiciar o acesso aos profissionais de saúde responsáveis pela prescrição

e a devida orientação quanto ao uso e posologia (HOEPFNER e FRANCO, 2010).

A baixa adesão ao tratamento por parte de portadores constitui um dos

fatores que mais contribuem para a prevalência da hipertensão. E como qualquer

processo fisiopatológico, essa doença também é envolta de outras dimensões, como

as experiências, vivências e significados percebidos pelos pacientes (RENOVATO e

BAGNATO, 2012), sendo que essa a percepção do indivíduo doente em relação a

sua condição de saúde, sintomatologia da doença e a terapia pode interferir de

modo positivo ou negativo na adesão ao tratamento (COUTINHO e SOUSA, 2011).

Para Gomes, Silva e Santos (2010), a educação em saúde é um instrumento

primordial no controle adequado da HA, pois o paciente dotado de conhecimento

sobre a doença e o tratamento tende a aderir melhor a terapia recomendada. Nesse

processo, é essencial a construção do vínculo entre profissional de saúde e usuário.

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Neste sentido, desde 2001, o programa Hiperdia visa o cadastramento e

acompanhamento de portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus

atendidos na rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS) (CONTIERO et

al., 2009). Ressalta-se que o direcionamento de programas e políticas de saúde

para a atenção dos usuários com HA constitui etapa importante da assistência,

sustentada por uma rede de informação que viabilize a caracterização da população-

alvo e o seguimento desta (PIERIN et al., 2011).

Desse modo, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), enquanto ferramenta

estruturante e ordenadora do cuidado em saúde na Atenção Básica é responsável

pela assistência à saúde de milhões de brasileiros com hipertensão arterial (SANTA-

HELENA, NEMES e NETO, 2010), Girotto et al. acrescenta ainda que

As equipes de saúde da família devem atuar, de forma integrada, na abordagem da avaliação de risco, na adoção de medidas de promoção à saúde e no atendimento aos portadores de hipertensão arterial. As estratégias utilizadas por essas equipes refletem diretamente na demanda dos serviços e nas condições de saúde dos usuários dos serviços e comunidade. Portanto, o planejamento e a execução de suas atividades são fundamentais para minimizar os gastos dos serviços, especialmente os de média e alta complexidade, e, principalmente, para melhorar a qualidade de vida das pessoas (GIROTTO et al., 2013, pág. 1771).

Portanto, a ESF deve atuar na comunidade visando uma melhoria dos

serviços, proporcionando um acompanhamento adequado que atenda o hipertenso

de maneira integral e contínua, possibilitando o controle da doença e a redução de

eventuais complicações (COUTINHO e SOUSA, 2011).

3.2 A HIPERTENSÃO ARTERIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

Atualmente, doenças crônico-degenerativas como a hipertensão arterial

devem ser inseridas no interior de práticas tecnológicas disponibilizadas no âmbito

da atenção à saúde que se denomina de Atenção Básica (BERSUSA,

PASCALICCHIO e PESSOTO, 2010).

É a partir de políticas públicas de saúde, especialmente de uma política de

promoção e proteção da saúde, junto com o combate às doenças que se controlam

os agravos e enfermidades (SILVA et al., 2013). No que concerne à definição de

políticas públicas, Cordeiro, Villasante e Júnior (2010) expressam que

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As políticas públicas, com o intuito de nortear soluções para a problemática social, compreendem estratégias de grande relevância para o enfrentamento das necessidades e o desenvolvimento de ações sistemáticas que serão institucionalizadas para esse fim e estruturadas numa rede de determinantes que delinearão os caminhos a serem trilhados. Nesse contexto, diversos atores entram em cena, com diferentes interesses e poder de barganha político-econômico, como também a negociação de concepções de mundo, estratégias de ação e campos de luta por direitos e deveres sociais. É uma disputa de saberes e interesses travada no campo político, permeada por aspectos socioeconômicos e culturais (CORDEIRO, VILLASANTE e JÚNIOR, 2010, pág. 2124).

A primeira tentativa de implementação de uma política voltada para HA

ocorreu no final da década de 1980, momento em que a organização das ações

estava fundamentada na lógica dos programas de saúde de caráter vertical e

centralizado no Ministério da Saúde (COSTA, SILVA e CARVALHO, 2011).

Nesta época, a assistência à saúde dos hipertensos, se baseava

predominantemente em ações individuais, principalmente com a utilização de

medicamentos. Paula et al. (2011), afirmam que o processo de medicalização invade

o cotidiano dos indivíduos, de tal maneira que, se tornam alvo de intervenções,

independentemente ter ou não sinais e sintomas da doença.

Nessa lógica, esta política teve resultados considerados pouco satisfatórios

sobre a morbimortalidade por enfermidades cardiovasculares em nível populacional.

No entanto, mesmo com uma baixa efetividade, esse programa norteou a política de

prevenção e controle da HA por mais de dez anos (COSTA, SILVA e CARVALHO,

2011).

Em 2001 foram estabelecidas novas diretrizes para orientação da atenção a

esse agravo, a exemplo da promulgação da Norma Operacional da Assistência à

Saúde (NOAS) e do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao

Diabetes mellitus. Este plano trouxe uma série de benefícios para os usuários

hipertensos uma vez que visa a realização de ações de promoção da saúde e

controle de fatores de risco, a garantia de diagnóstico e vinculação dos hipertensos

às unidades básicas de saúde para tratamento e acompanhamento, a

disponibilização contínua de medicamentos e a instituição de elencos mínimos de

informações sobre a ocorrência desses agravos (COSTA, SILVA e CARVALHO,

2011).

Para Silva et al. (2013) o acompanhamento dos usuários através desse

plano, permitiu um melhor controle da hipertensão arterial e dos fatores de risco,

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promovendo uma qualidade de vida melhor para os hipertensos. Isso é feito através

da capacitação de agentes multiplicadores, busca ativa dos portadores de HA e DM,

e vinculação e o cadastramento destes ao serviço básico de saúde, por meio de um

sistema informatizado, denominado Cadastro e Acompanhamento de Hipertensos

e/ou Diabéticos - Hiperdia.

Esse sistema de cadastro fornece uma série de informações que contribuem

para o processo de aquisição, dispensação e distribuição dos remédios utilizados

pelos usuários do SUS no tratamento da HA e DM (PAULA et al., 2011). Portanto, o

Hiperdia, tem facilitado a identificação da hipertensão arterial e garantido a terapia e

o acompanhamento dos indivíduos nos serviços da Rede de Atenção Primária em

Saúde, além de disponibilizar um banco de informações que podem ser utilizadas

para a gestão e o planejamento em saúde (SILVA et al., 2013).

Em complementação ao plano mencionado anteriormente, foi instituído em

2002, o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e

o Diabetes Mellitus, que visa a organização da assistência, ações de prevenção e

promoção à saúde, vinculação dos hipertensos as unidades de saúde, além do

desenvolvimento de programas de educação permanente voltados para essas

patologias, sendo que o principal foco desse programa a distribuição de

medicamentos aos hipertensos e diabéticos pelo SUS nas unidades de saúde e nos

locais que são atendidos pelo Programa de Saúde da Família, a entrega desses

fármacos também pode ser feita através da Farmácia Popular (PAULA et al., 2011).

Hoje em dia, os programas federais voltados à atenção a saúde das pessoas

com esta patologia estabelecem que o seguimento de rotina dos pacientes deve ser

realizado na Estratégia de Saúde da Família (ESF) (BERSUSA, PASCALICCHIO e

PESSOTO, 2010).

Portanto, a própria Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) estabelece

um conjunto de ações individuais e coletivas voltadas para a promoção à saúde, a

prevenção de doenças e complicações, diagnóstico, a terapia e a reabilitação,

dentre outras estratégias que visam promover uma assistência integral a saúde dos

usuários do SUS (BRASIL, 2012).

Segundo Camargo (2013), na Atenção Básica as ações estratégicas de

responsabilidade dos municípios compreendem ações para o controle da doença,

diagnóstico de casos, cadastramento de portadores, busca ativa, tratamento e ações

educativas.

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A difusão dos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS), com ênfase

para a Estratégia Saúde da Família (ESF), incorporou um leque de ações e serviços

que também possibilitou o acompanhamento longitudinal dos pacientes, o que se

torna relevante para adesão ao tratamento por parte dos usuários com Doenças

Crônicas Não Transmissíveis (SILVA et al., 2013).

Nesse sentido, os profissionais que atuam na assistência do cuidado

primário à saúde deveriam exercer um papel importante no controle e tratamento da

hipertensão arterial, bem como na prevenção de complicações e na realização de

atividades educativas. Assim, as Unidades de Saúde da Família são vistas como

espaços importantes para a realização das ações de promoção da saúde e

identificação de precoce de prováveis agravos (PAZ et al., 2011).

Recentemente foi divulgado o Plano de Ações Estratégicas para o

Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (2011-2022) que tem

como objetivo promover a ampliação e a execução de políticas públicas que sejam

mais efetivas, integradas, amparadas em ações sustentáveis e direcionadas a

vigilância das doenças crônicas (BRASIL, 2011).

Diante do exposto, as políticas públicas de saúde são fruto de um processo

histórico de forte busca do direito à cidadania, que contribuem para garantia do

acesso aos serviços públicos de saúde. E o que se percebe atualmente no cenário

nacional é que por mais que toda a legislação discutida aponte para um avanço no

sentido da melhoria do acesso as ações de saúde, ainda é necessário articular as

reivindicações da população para que o Estado cumpra as leis que garantem o

direito à saúde (CUNHA, CESSE, FONTBONNE, 2011).

3.3 GARANTIA DO ACESSO À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Durante o período da ditadura cívico-militar, movimentos sociais envolvidos

no processo de redemocratização do Brasil, a exemplo do movimento da reforma

sanitária na década de 1980, lutaram por mais equidade e justiça social por meio da

democracia, buscando minimizar as desigualdades, reivindicando melhores

condições de vida e de saúde da população e um acesso aos serviços de saúde

mais equânime. No entanto, décadas pós redemocratização e da implantação do

SUS, ainda se tem apontado para uma elevação, em alguns casos, da desigualdade

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no acesso aos serviços de saúde e nas desigualdades sociais de modo geral

(COELHO, 2010; JESUS e ASSIS, 2010).

O processo de descentralização da saúde ocorrido no início da década de

1990 trouxe mudanças no âmbito social, econômica e ideológica, que se conectou

às propostas estabelecidas Constituição Federal de 1988. No entanto, esse

processo foi se tornando pouco efetivo na medida em que se deparou com

diferentes realidades regionais. Sendo que essa descentralização resultou em

lacunas no planejamento regional, uma vez que tiveram poucos investimentos e

implementação de políticas favoráveis as peculiaridades locais que trouxesse

melhorias nas condições de acesso à saúde e no uso dos recursos financeiros

destinados à saúde (LIMA et al., 2012).

Por outro lado, em meados dos anos de 1990, tinham sido construídas no

Brasil, condições políticas mais propícias à redução das desigualdades sociais e as

iniquidades no acesso aos serviços de saúde, por meios de um conjunto de

iniciativas que vieram a fortalecer a Atenção Primária à Saúde como local de acesso

para o SUS, sendo implantado o Programa de Agentes Comunitários (PACS) e o

Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, em alguns municípios. Por meio

destes programas, o Ministério da Saúde, almejava a ampliação e reorganização

dos serviços da rede de cuidados básicos de saúde, de modo a superar o modelo

biomédico e a valorizar a integralidade da assistência (MITRE, ANDRADE e COTTA,

2012).

Além disso, com a elaboração da Norma Operacional de Assistência à

Saúde (NOAS) em 2001 e o Pacto pela Saúde, em 2006, a regionalização teve

maior destaque no país, permitindo analisar os determinantes sociais de saúde e

sua influência no território, programar as ações de saúde baseadas nas

necessidades da população; montar rede de atenção com pactuação entre

municípios; utilizar os recursos humanos e tecnológicos de maneira mais racional

propiciando maior resolutividade na assistência, dentre outros aspectos (LIMA et al.,

2012).

No entanto, o PSF encontrou dificuldades, sobretudo nos municípios de

pequeno porte, por limitar-se a populações socialmente mais vulneráveis,

submetidas condições sanitárias mais desfavoráveis. Ainda, os municípios com

maior contingente populacional tiveram pouca adesão ao programa. Atrelado a isso,

havia uma série de obstáculos que dificultava o acesso aos serviços públicos, como

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o sucateamento e insuficiência de equipamentos e estabelecimentos de saúde e o

serviço era caracterizado pela presença de longas filas, práticas de saúde

fragmentadas, apresentavam pouca resolubilidade e não eram de qualidade

(MITRE, ANDRADE e COTTA, 2012).

No entanto, a Portaria Nº 2488, de 21 de outubro de 2011 que estabelece a

Política Nacional de Atenção Básica, propõe uma revisão de diretrizes e normas

para a organização da atenção básica, para a Estratégia de Saúde da Família e o

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Esta portaria defende a

consolidação da ESF como ferramenta primordial na reorganização da atenção

básica no Brasil e que os estados, municípios e o distrito federal necessitam

adequar suas normas para melhor atender as necessidades básicas de saúde da

população (BRASIL, 2012).

A nova PNAB reafirma a Saúde da Família como ferramenta necessária para

expansão e consolidação dos princípios e diretrizes preconizados pelo SUS e que a

implantação da estratégia nos municípios é de responsabilidade de todos os entes

federados, cabendo ao Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde

estimular os municípios a adotarem a ESF para reorganização da Atenção Básica à

Saúde (FERTONANI et al., 2015). Ressalta-se que na PNAB os termos “Atenção

Básica” e “Atenção Primária à Saúde” são análogos e no presente trabalho estes

termos também são usados como equivalentes.

A ESF é uma política do Ministério da Saúde (MS) que tem por objetivo a

reorganizar as ações e serviços de saúde no âmbito da atenção básica e trazer

novas concepções para o cuidado em saúde pautadas na responsabilização dos

profissionais e usuários, que tentará romper com modelo biomédico hegemônico

(PAZ et al., 2011).

Essa estratégia se caracteriza pela proposta de um conjunto de ações de

saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da

saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a

redução de danos e a manutenção da saúde no intuito de desenvolver uma atenção

integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos

determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2012).

As ações previstas pela ESF são de caráter interdisciplinar e

multiprofissional na perspectiva de construir relações acolhedoras e vínculos entre

profissionais de saúde e usuários, de modo a se obter uma corresponsabilidade no

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cuidado à saúde. Além disso, as práticas em saúde de vigilância e promoção à

saúde defendida pela ESF são orientadas pelos determinantes sociais de saúde,

considerando o usuário no seu contexto social, cultural e como parte integrante de

um grupo ou uma comunidade (FERTONANI et al., 2015).

Nessa perspectiva, se destaca como instrumento de reorganização do

sistema de serviços de saúde, por meio de práticas gerenciais e sanitárias,

democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, dirigidas às

populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade

(CAMARGO, ANJOS e AMARAL, 2013).

Levando em consideração estas questões, Fertonani et al. (2015), defende

que a ESF vem reafirmar a lógica dos cuidados primários de saúde contidos na

Declaração de Alta Ata e nos princípios doutrinários e diretrizes do SUS, através da

garantia de uma assistência integral e contínua aos indivíduos e coletividades.

Sendo assim, essa estratégia enquanto política de saúde pública é discutida e

considerada na Atenção Primária como o ponto inicial prioritária para o SUS, tendo

resolutividade de 80% dos problemas de saúde da população (ONOCKO-CAMPOS

et al., 2011).

Além disso, a ampliação da cobertura dos serviços básicos de saúde

proporcionada pela Estratégia de Saúde da Família melhorou o acesso da

população aos serviços básicos de saúde. Essa estratégia permitiu, entre outros

avanços, a criação de um elo entre os usuários e a Equipe de Saúde da Família,

propiciando um melhor acompanhamento e aproximação dos hipertensos as

atividades de promoção e prevenção. Esses avanços vieram somar esforços à

implantação das diretrizes propostas pelo Plano de Reorganização da Atenção à

Hipertensão Arterial e ao Diabetes mellitus (COSTA, SILVA e CARVALHO, 2011).

O acesso universal e a efetiva qualidade na atenção básica são elementos

que contribuem para diminuir as diferenças em saúde e interferem nos níveis do

sistema de saúde de maior complexidade (DIAS-DA-COSTA et al., 2010). Porém

Santos (2015) defende que com a lógica da ESF, ao implantar USF em locais de

maior vulnerabilidade social, se reduz iniquidades de acesso na atenção à saúde,

correspondendo com o princípio da equidade estabelecida pela Constituição. No

entanto, isso contribui para o pensamento de que os serviços primários são

direcionados para a população carente e acaba excluindo parte da população que

poderia cooperar no sentido da melhoria da qualidade dos serviços ofertados.

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É relevante ressaltar que a Constituição Federal garante o acesso universal

aos serviços de saúde, e que isto é um resultado da luta dos movimentos sociais

brasileiros, passando a ser um elemento fundamental na construção de cidadania.

Neste contexto, o exercício de cidadania traz resultados que contribuem para a

melhoria no atendimento e acesso à saúde (JESUS e ASSIS, 2010).

O acesso é considerado como um direito individual e coletivo do ponto de

vista do “modelo sanitarista-politicista”, com base filosófica marxista, na qual se

defende um modo participativo e cidadão do controle social, pois considera que os

direitos sociais somente se garantem por meio da consciência e a prática de

cidadania. Nesse sentido, o significado do termo „acesso‟ supera o mero conceito de

porta de entrada e passa a configurar-se como uma ferramenta transformadora da

realidade (JESUS e ASSIS, 2010).

Até nos dias atuais, muitos usuários do SUS ainda não percebem a saúde

como direito-dever e sim, como um serviço que está condicionado ao pagamento de

impostos ou até mesmo a contribuição feita ao Instituto Nacional do Seguro Social

(INSS). Diante disso, é que se destaca a importância de despertar a consciência

cidadã, trazendo a reflexão para muitos cidadãos sobre seu direito à saúde e quais

estratégias podem ser utilizadas para garanti-lo (ASENSI, 2012).

Na análise das dimensões que abrangem o acesso deveriam destacar os

princípios doutrinários e diretrizes fundamentados pelo SUS, e mais do que isso, a

atuação dos sujeitos sejam eles individuais ou coletivos na busca pela

materialização da equidade e universalização na atenção à saúde (JESUS e ASSIS,

2010).

Junior, Jesus e Crevelim (2010) consideram que o estudo do acesso é

importante nos processos de avaliação dos sistemas de saúde, bem como para a

reformulação das políticas públicas de saúde. Estes autores classificam as

dimensões que permeiam a categoria do acesso da seguinte maneira: (1)

disponibilidade, que está atrelada à oferta de serviços; (2) acessibilidade, que

relaciona-se com a distância do ponto de vista geográfico e também incorpora

questões ligadas ao modo de organização do serviço e do processo de trabalho,

como fluxos, horários de atendimento, rotinas, entre outros aspectos; e (3)

aceitabilidade, que se encontra relacionada ao perfil socieconômico, cultural da

população, o nível de satisfação do usuário em relação aos serviços, dentre outras

questões.

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Para Jesus e Assis (2010), a avaliação do acesso aos serviços de saúde

geralmente é feita sob quatro dimensões: (1) econômica, relacionada a oferta e

demanda, ao uso racional e equânime dos recursos; (2) técnica, que abrange o

planejamento e programação em saúde; (3) política, que trata das políticas de

saúde, controle social e dos modelos de assistência à saúde; e por último; (4) a

dimensão simbólica, que aborda as concepções, percepções bem como a atuação

dos sujeitos e também as representações sociais na atenção as necessidades de

saúde.

Outros pesquisadores, como Azevedo e Costa (2010) emprega a palavra

“acesso” como sinônimo de “acessibilidade” e analisa a acessibilidade em quatro

dimensões, as quais baseou-se para discussão do presente estudo: (1) dimensão

geográfica, que se referente aos aspectos físicos limitantes do acesso, como rios,

grandes avenidas e também leva em consideração a distância entre os usuários e

os serviços; (2) dimensão organizacional, relacionada as barreiras na maneira de

organização do serviço, como demora para marcação e realização consulta, modo

de agendamento, horário, tempo de espera para atendimento, mecanismos de

referência e contrarreferência; (3) dimensão sociocultural, refere-se aos aspectos

perceptíveis do indivíduo ou da população quanto a doença, diagnóstico e

tratamento, também relaciona-se com as crenças, costumes, formação dos

profissionais e a participação social; (4) dimensão econômica analisa os aspectos

financeiras atrelados a busca e garantia da atenção á saude, como gasto de

recursos, tempo, energia e bem com, outros questões que implicam em prejuízos

econômicos, como despesas com o tratamento e falta no trabalho.

Há outro entendimento de que o acesso se refere à entrada do indivíduo no

serviço de saúde e à continuidade da assistência, abrangendo a oferta dos serviços

de acordo com as necessidades do usuário, sendo o acesso classificado em: acesso

potencial, que diz respeito aos elementos disponíveis para alcançar a assistência à

saúde e acesso realizado que se caracteriza pelo uso dos serviços propriamente dito

(ALVES et al., 2014).

Do ponto de vista do pensamento ético-político, o acesso dos usuários a

assistência prestada pelo profissional de saúde é visto como direito que se sustenta

na solidariedade social, em que os serviços e recursos devem ser disponibilizados

aos enfermos e a população sadia, de forma adequada, acessível, levando em

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consideração os preceitos da equidade e da universalidade (TESSER e NORMAN,

2014).

Por outro lado, Junior, Jesus e Crevelim (2010) discutem que a

disponibilidade de serviços por si só não garante o acesso, pois há outros fatores

ligados ao consumo e oferta que exercem influência no acesso, como a distribuição

desigual de recursos tecnológicos em determinados serviços, além dos aspectos

culturais e econômicos, do processo de trabalho em saúde e nível de satisfação dos

usuários em relação ao uso dos serviços, entre fatores.

Diante de tudo que foi do exposto percebe-se que a saúde é influenciada por

fatores sociais, políticos e econômicos e cabe ao Estado garantir o acesso de todos

os usuários a esse direito. O direito ao acesso à saúde deve ser promovido

mediante disponibilidade e prestação de serviços de maneira organizada e

articulada em uma rede e a um contexto político, além da tomada de consciência da

população para a participação nas atividades individuais e coletivas que colaboram

para a concretização do direito à saúde (PASSAMANI, SILVA e ARAÚJO, 2008).

Nessa direção, o controle social se apresenta como uma ferramenta

importante na garantia do acesso à saúde, através do qual se supera a relação de

dominação entre o governo e a sociedade, revelando um instrumento democrático.

Assim, as instâncias do controle social, como os conselhos de saúde contribuem na

formação de uma consciência sanitária dos sujeitos (JESUS e ASSIS, 2010).

3.4 DIREITO E SAÚDE

A saúde é um direito social com prioridade lexical, ou seja, uma condição

básica para que se realizem todos os demais direitos fundamentais. Somente com

saúde o indivíduo consegue que sua vida em sociedade seja uma vida digna. No

entanto, a população deve ter consciência das dimensões individual, coletiva e de

interesse da comunidade desse direito. E para que a saúde seja garantida é

fundamental que haja compreensão dos processos que determinam a relação

saúde-doença e que se tenha ciência de que a participação da comunidade ajuda

garanti-la (JESUS e ASSIS, 2010).

Entendida como resultado das relações do humano com o ambiente e seu

próprio corpo, a saúde, sofre influência de uma série de fatores biopsicossociais e

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condicionantes como trabalho, moradia, alimentação, meio de transporte, dentre

outros elementos que sustentam a vida (VASCONCELLOS e OLIVEIRA, 2009).

É declarada pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais

e Culturais (PIDESC) de 1976 com direito humano, sendo que neste documento se

determina que os Estados membros reconhecem que todos têm o direito de gozar o

mais alto estado de saúde seja física ou mental possível de se atingir (SAMPAIO,

ALBURQUERQUE e VASCONCELLOS, 2011). Para Azevedo e Costa (2010) a

saúde representa a capacidade do sistema em satisfazer as demandas e

necessidades das pessoas; garantindo-lhes um direito humano e social, ou seja, o

direito à saúde.

No decorrer da história do Brasil a saúde ganhou vários sentidos no contexto

sócio-político e jurídico até se firmar como um direito constitucional a partir de 1988.

Assim, em um período da história a saúde era vista como um favor atrelado um

serviço resultante de um direito trabalhista ou até mesmo de um serviço particular.

Anos depois, estas concepções tiveram grande impacto na institucionalização da

saúde, na formação dos seus princípios, diretrizes, normas e também contribuíram

para a efetivação dos direitos sociais e coletivos (ASENSI, 2012).

Assim, na Constituição Federal, mais especificamente no artigo 196, se

observa a ideia de universalização do direito à saúde, entendida como um direito de

todos, sendo o Estado responsável por garanti-lo. Por outro lado, o direito é visto

como um produto humano que norteia as relações em sociedade por meio da

justiça, buscando resolver possíveis conflitos. Ainda que, às vezes a justiça não seja

realizada de maneira mais justa (VASCONCELLOS e OLIVEIRA, 2009).

Em 1990, o Movimento da Reforma Sanitária, envolto pelo processo

redemocratização e reorganização do sistema de saúde, traz uma grande conquista

na direção da garantia de estruturação das ações e serviços de saúde com a criação

Sistema Único de Saúde (SUS). Sistema que tem grande importância na defenda os

direitos universais, fundamentando-se nos princípios de universalidade, equidade e

integralidade, descentralização, regionalização e participação social (BISPO

JÚNIOR e MARTINS, 2012; MITRE, ANDRADE e COTTA, 2012).

Assim o arcabouço jurídico-legal do Sistema Único de Saúde com a Lei nº

8.080/1990 e a Lei nº 8.142/1990 estabelecem regras e princípios que norteia a

política de saúde brasileira como um direito de todos sem quaisquer distinções, mas

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para que isso se concretize é necessário a participação dos sujeitos nos Conselhos

e Conferências de Saúde (ASENSI, 2012).

Nesse sentido, Assis, Villa e Nascimento (2003) afirma que a saúde se

traduz como um direito da cidadania que deve ser assegurado pelo Estado, sendo

imprescindível a luta por direitos através do diálogo, pactuações e estratégias para a

sua concretização na interface entre Estado, sociedade e instâncias jurídicas

(ASENSI, 2012).

Estas duas ciências, direito e saúde se entrelaçam ao longo da história do

ser humano na perspectiva da busca pela garantia da saúde, mesmo que restringida

frente às necessidades reais da população (VASCONCELLOS e OLIVEIRA, 2009).

Nessa lógica, a intersecção destas áreas do conhecimento simboliza um

novo olhar na formulação e desenvolvimento das políticas públicas e um instrumento

na construção da cidadania (VASCONCELLOS e OLIVEIRA, 2009). E como defende

Schütz (2009) o campo direito e saúde enquanto práxis “é um espaço intersetorial

que requer a ativa participação dos atores sociais envolvidos” (SCHÜTZ, 2009, p. 67

e 68).

Deste modo, os conselhos e conferências são espaços que prestam papel

importante na continuidade do processo de garantia do direito à saúde, onde a

sociedade estabelece uma relação horizontal perante o Estado. Por meio do controle

social, a cidadania tem a oportunidade de ser protagonistas no processo decisório

de formulação, implantação e controle das políticas públicas de forma constante e

duradoura. A partir deste momento, estes espaços públicos tornam-se um lugar

aderente à participação e ao exercício da cidadania (ASENSI, 2012).

No entanto, existem vários obstáculos, como fatores econômicos e culturais,

que impedem o pleno exercício da cidadania, sobretudo no que diz respeito aos

grupos mais desfavorecidos da sociedade. Mas, a cidadania como práxis propicia ao

indivíduo agir tanto sozinho, quanto, em grupo, de modo a provocar transformações

na sua vida e da comunidade, participação nas decisões políticas. Em vista disso,

não basta ter a titularidade dos direitos, mas é preciso que os cidadãos participem

ativamente para terem a garantia dos seus direitos (SERAPIONI, 2014).

Bispo Júnior (2013) defende que apesar de existir alguns entraves no

funcionamento dos Conselhos de Saúde, estes são tidos como dispositivos

legítimos, por mais que não sejam suficientes para garantir a participação efetiva da

população nas políticas públicas de saúde. As políticas públicas, por sua vez, com a

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finalidade de propor soluções para as questões sociais, abrangem estratégias de

fundamental importância para o enfrentamento das demandas e necessidades, por

meio da elaboração de ações sistemáticas (CORDEIRO, VILLASANTE e JÚNIOR,

2010).

Para Oliveira e Vasconcellos (2011) o controle social necessita passar por

algumas mudanças em vários aspectos para que se aproxime mais da comunidade.

Falta ao controle social do SUS uma maior intimidade com a norma instituída, e mesmo ainda não instituída, do ponto de vista de seus significados, abrangência, fluxos e legalidade. O espaço instituinte dessa vertente é a própria instância de controle social, passando por uma revisão de sua estrutura, de sua representatividade, de sua formação, de uma educação continuada e de uma relação mais efetiva com a sociedade (OLIVEIRA e VASCONCELLOS, 2011, pág.33).

Portanto, os mecanismos de participação social propostos na legislação do

Sistema Único de Saúde requerem o envolvimento contínuo dos cidadãos nos

processos decisórios, deliberativos e no controle das políticas públicas de saúde

(BISPO JÚNIOR e MARTINS, 2014) e nessa perspectiva que se faz necessário a

interação entre o campo do direito e o da saúde.

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4 METODOLOGIA

4.1 TIPO DE ESTUDO

As Unidades de Saúde da Família devem ser os principais locais de acesso

do usuário na Rede de Atenção Básica, no entanto, se considera que, nesses

espaços, o usuário vivencia os mais diversos obstáculos para terem acesso aos

serviços de saúde em uma relação complexa que envolve diferentes atores sociais.

No sentido de explorar as experiências e percepções dos usuários no acesso a

esses serviços optou-se pela abordagem qualitativa do estudo.

Para Costa e Cardim (2009), a pesquisa qualitativa é aquela que surge

diante da impossibilidade de investigar e compreender, através da estatística, alguns

fenômenos voltados para a percepção, a intuição e a subjetividade.

Portanto, este tipo de estudo dá acesso às significações das relações

humanas, em que suas ações são influenciadas/motivadas por desejos, atitudes,

aspirações, das crenças, dos valores e das emoções e/ou sentimentos aflorados

diante das situações vivenciadas no cotidiano (MINAYO, 2009).

4.2 LOCAL DO ESTUDO

O município de Vitória da Conquista está localizado na Região Sudoeste da

Bahia, a 527 km de Salvador. É o terceiro maior município da Bahia, possui uma

área territorial de 3.405,580 km² e faz limite com os seguintes municípios: Anagé,

Planalto, Encruzilhada, Cândido Sales, Itambé, Barra do Choça, Anagé e Belo

Campo.

O território de Vitória da Conquista abrange a sede, 284 povoados e 11

distritos: Bate-Pé, Cabeceira da Jibóia, Cercadinho, Dantilândia, Iguá, Inhobim, José

Gonçalves, Pradoso, São João da Vitória, São Sebastião e Veredinha. O Mapa 1

mostra a distribuição geográfica dos distritos do município de Vitória da Conquista,

BA.

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Mapa 1. Distritos do município de Vitória da Conquista, Bahia.

Fonte: Núcleo da Tecnologia da Informação – PMVC, 2016.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de

2010, a população do município de Vitória da Conquista estimada em 2015 é de

343.230 pessoas (BRASIL, 2016). Apresenta altitude relativa, chegando a atingir

mais de 900 metros em alguns pontos, o que contribui para grandes variações

climáticas, sendo que a temperatura média anual é de aproximadamente 18 ºC.

A principal atividade econômica do município é representada pelo comércio

e serviços e a cidade se destaca como grande polo educacional, abarcando várias

instituições de ensino superior públicas e particulares.

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É o município da Macrorregião de Saúde de Vitória da Conquista que dispõe

de uma rede de serviços de saúde mais completa, atendendo além da população

local, a população de outros 73 municípios pactuados que contratualizam seus

serviços e muitas vezes, recebe pacientes da Região Norte de Minas Gerais que

fazem fronteira com a Bahia (SANTOS, 2013).

A Rede de Atenção Básica do município possui: 37 Unidades Básicas de

Saúde, 11 Equipes de Programa de Agentes Comunitários de Saúde, 42 Equipes de

Saúde da Família, 30 Equipes de Saúde Bucal, 4 Núcleos de Apoio a Saúde da

Família e 1 Unidade móvel odontológica (PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE 2014-

2017).

O Plano Municipal de Saúde vigente menciona que “a programação de

expansão de cobertura da atenção básica está vinculado à efetivação da Estratégia

Saúde da Família / ESF, que atualmente tem uma cobertura de 51%” (PLANO

MUNICIPAL DE SAÚDE 2014-2017, pág. 40).

Os serviços disponíveis nas unidades de saúde são: consultas médicas, de

enfermagem e odontológicas, visitas domiciliares, imunização, nebulização, curativo,

coleta de exames laboratoriais, testagem e aconselhamento do HIV/AIDS (Vírus da

Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e outras

Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), teste rápido de gravidez,

dispensação de medicamentos, aferição da pressão arterial (PA), teste de glicemia

capilar, procedimentos odontológicos, ações de educação em saúde, notificação de

doenças e agravos, dentre outros. Portanto, os profissionais de saúde realizam

ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de várias patologias, inclusive

da hipertensão arterial (PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE 2014-2017).

Segundo informações de março de 2015 disponibilizadas pelo Sistema de

Informação de Atenção Básica (SIAB) do Ministério da Saúde, a Rede Básica de

Atenção à Saúde do município de Vitória da Conquista tem cadastrado 22.188

usuários hipertensos, sendo estes cadastros realizados pelas equipes da Estratégia

de Saúde da Família, Equipe de Saúde da Família/Saúde Bucal Modalidade I e

também pelas equipes de agentes comunitários de saúde. Destes 22.188

hipertensos, 15.433 são acompanhados pelas equipes, sendo a maior parte (11.515)

acompanhada pela Estratégia de Saúde da Família (BRASIL, 2015).

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Diante deste contexto, a pesquisa foi desenvolvida na área de abrangência

de quatro Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Vitória da

Conquista que identificam e realizam o cadastramento dos indivíduos hipertensos.

A seleção das unidades de saúde ocorreu através de um sorteio aleatório

englobando apenas as USF da zona urbana. As unidades da zona rural do município

não fizeram parte da pesquisa pela dificuldade de deslocamento dos pesquisadores

até esta área. Sendo assim, as quatro USF sorteadas foram as que se localizam nos

bairros: URBIS VI, Miro Cairo, Pedrinhas e Nossa Senhora Aparecida.

A USF Urbis VI se localiza na região Sul da cidade, em um terreno

predominantemente plano, sem muitas áreas de declives. Atende uma população de

vários bairros, dentre os quais destaca-se àqueles onde residem os sujeitos da

pesquisa: Morada Real e Urbis VI.

A USF Miro Cairo está situada na região Oeste, em uma área

predominantemente plana. Dentre os bairros que fazem parte do território encontra-

se o do Miro Cairo e Senhorinha Cairo.

Em relação a localização da USF Pedrinhas, trata-se de um local com

muitas áreas declinadas, situando-se na região Norte da cidade. Dentro da sua

abrangência atende a população dos bairros Pedrinhas, Cruzeiro e Petrópolis.

A outra unidade de saúde que fez parte do estudo, USF Aparecida assim,

como a anterior se localiza na região Norte e o terreno é bastante acidentado. A

unidade em questão atende exclusivamente os habitantes do bairro Nossa Senhora

Aparecida.

O Mapa 2 ilustra o espaço onde estão situadas as unidades de saúde

mencionadas.

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Mapa 2. Localização das Unidades de Saúde da Família na cidade de Vitória da Conquista, BA.

Fonte: Núcleo da Tecnologia da Informação – PMVC, 2016.

Vale ressaltar que os locais onde se situam as USF que fizeram parte da

pesquisa são periféricos, atendendo grande parcela da população de baixa renda da

cidade.

Após o sorteio das unidades e encaminhamento do projeto a Comissão de

Ética do Polo de Educação Permanente em Saúde da Secretaria Municipal de

Saúde, a Assessora do Polo elaborou um ofício direcionado aos gestores de cada

USF informando a autorização da pesquisa.

A entrega do ofício de liberação do estudo facilitou a entrada da

pesquisadora nas USF, porém ainda assim, a pesquisadora encontrou resistência de

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uma das enfermeiras, não gerente, de uma USF em aceitar a realização da

pesquisa, alegando que ela não autorizava a entrevista com “seus” pacientes.

Porém, após conversa com a enfermeira responsável pela gestão da USF, esta

profissional não impediu a realização do estudo.

Optou-se por codificar as USF, no intuito de facilitar o manuseio das

informações, evitando-se também citar o nome das unidades de saúde ao longo do

trabalho. O Quadro 1 mostra maiores detalhes das Unidades de Saúde que

compuseram o estudo, bem como a definição da codificação das mesmas.

Quadro 1. Codificação e características das Unidades de Saúde da Família. Vitória

da Conquista, 2016.

Unidade de Saúde da Família

Código N º de Equipes de Saúde da Família

Estimativa de usuários com

HA

N° de entrevistados

Urbis VI USF A 02 1197 10

Miro Cairo USF B 02 960 10

Pedrinhas USF C 02 837 10

Aparecida USF D 01 460 10

4.3 SUJEITOS DO ESTUDO

Os sujeitos do estudo incluíram os indivíduos a partir de 20 anos, de ambos

os gêneros, sendo este um dos critérios de inclusão, além de estarem

diagnosticados hipertensos em qualquer estágio, terem capacidade de compreender

e responder aos questionamentos, concordarem em participar da pesquisa, estarem

ciente da natureza do estudo e de seus objetivos, mediante assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

Os critérios de exclusão adotados foram: ter idade inferior a 20 anos,

apresentar problemas cognitivos que impossibilite a compreensão dos

questionamentos e limite o poder de decisão e a autonomia.

A população deste estudo foi constituída de 40 pessoas com HA

cadastrados nas referidas USF, sendo que em cada unidade foi realizada 10

entrevistas. Realizou-se uma média de 3 entrevistas por dia e em turnos alternados

(matutino e vespertino). Os usuários que fizeram parte do estudo foram aqueles que

chegaram primeiro na unidade em busca de atendimento e aceitaram participar da

pesquisa. Ressalta-se a pesquisadora antes de iniciar a entrevista perguntava se o

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usuário era hipertenso e muitas vezes, o paciente mostrava o cartão de anotações

de aferições da pressão arterial.

4.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados no período de outubro a dezembro de 2015,

através da aplicação de uma entrevista semiestruturada, gravada com autorização

dos participantes. A entrevista semiestruturada é um tipo de entrevista que requer a

elaboração prévia de um roteiro contendo questões básicas abordando o assunto

proposto, de modo a captar pensamentos, sentimentos, memórias, planos e

discussões dos indivíduos (COSTA e CARDIM, 2009).

O roteiro de entrevista (Apêndice A) abrangeu aspectos pessoais e

sociodemográficos dos informantes, tais como idade, sexo, escolaridade, profissão,

os quais foram utilizados para caracterizar os informantes e, questões relacionadas

diretamente com o objeto de estudo, através das quais foram devidamente

analisadas.

No entanto, realizou-se um teste piloto com 4 pessoas em duas USF, no

qual se fez preliminarmente a entrevista para verificar se as questões colocadas no

roteiro estavam de fácil entendimento para a população estudada e deste modo,

após o teste percebeu-se a necessidade de fazer algumas correções/adequações no

roteiro.

4.5 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

Foi utilizada como técnica de análise das informações a análise temática

categorial proposta por Bardin (2011), na qual os procedimentos de análise e

interpretação dos dados serão feitos por meio da análise de conteúdo das falas dos

entrevistados e categorizados segundo temáticas emergidas nas mesmas.

Trata-se de uma análise que é realizada em 3 etapas: 1. Pré-Análise (fase

de organização): Consiste na escolha dos documentos a serem analisados, 2.

Exploração do material (fase de codificação): Consiste essencialmente na operação

de codificação e 3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretação (fase de

categorização).

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Procedeu-se a análise dos dados da pesquisa da seguinte maneira: Foi feita

transcrição na íntegra das entrevistas e várias leituras minuciosas dos textos e um

agrupamento inicial segundo temática e significação das palavras. Posteriormente,

fez-se a análise temática propriamente dita, identificando-se os núcleos de sentido

que constituíam os discursos dos sujeitos, que cuja aparição representou algo para

os pesquisadores. A partir de então, fez-se categorização, ou seja, a classificação

dos elementos constitutivos desse conjunto, por diferenciação e reagrupamento

segundo a analogia.

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O presente trabalho foi submetido à Comissão de Ética do Polo de

Educação Permanente da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista,

sendo emitido ofício autorizando a pesquisa nas USF (Anexo A).

O projeto de pesquisa também foi encaminhado ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – Fundação

Oswaldo Cruz para apreciação. Logo após avaliação, o projeto foi aprovado sob o

parecer 1.229.297, CAAE: 46043515.3.0000.5240 (Anexo B).

Seguindo as orientações da Resolução nº 466 do Conselho Nacional de

Saúde (CNS), de 12 de dezembro de 2012, antes da entrevista, os participantes

foram informados sobre o objetivo do estudo e os procedimentos aos quais seriam

submetidos, sendo em seguida convidados a assinar o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Apêndice B).

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

O universo de pesquisa foi constituído por 40 indivíduos (33 mulheres e 7

homens), com idades entre 30 e 78 anos (média de aproximadamente 55 anos).

Portanto, se observa que a amostra foi constituída predominantemente por

mulheres. Uma provável explicação é que culturalmente as mulheres possuem maior

conhecimento sobre sua condição de saúde e tende a priorizar o cuidado com a

saúde, tendo uma maior procura pelos serviços de saúde, diferente ao gênero

masculino (BUBACH e OLIVEIRA, 2011; MELO, 2011).

Para Reis et al. (2013), a diferença na utilização dos serviços por parte dos

homens e mulheres, sugere mudanças comportamentais entre gêneros, e reflete as

particularidades da oferta de serviços. É defendido que os sujeitos do gênero

masculino acabam buscando menos os serviços da Atenção Básica e, muitas vezes,

optam por adentrar no Sistema Único de Saúde através dos atendimentos

especializados.

No que concerne à idade, alguns pesquisadores afirmam que com os

avanços da idade a prevalência desta doença aumenta progressivamente, que sofre

influência de fatores biológicos e demográficos, do estilo de vida predominante em

cada uma delas, do ambiente físico e psicossocial, das características da

organização dos serviços e das interações entre esses vários elementos (SOUZA,

2011; CONTIERO et al., 2009).

Em relação à escolaridade, observou-se a preponderância de pessoas com

Ensino Fundamental Incompleto (23/40) e alta prevalência de analfabetos e

semianalfabetos (8/40 = 20%) em comparação à média nacional (8,3%), porém, com

menos da metade da média estadual (42,86%), em ambos casos, de acordo com o

boletim da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A falta ou baixa formação escolar dos usuários podem gerar dificuldades

para a assimilação das orientações dispensadas pelos profissionais de saúde e

influenciar na percepção da gravidade da doença, levando à aquisição de

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informações incompletas sobre os aspectos necessários para manter ou melhorar

seu bem-estar (LIMA et al., 2012).

Além disso, a maioria dos indivíduos entrevistados (31/40) não recebe

nenhum benefício social, ao tempo em que sete disseram receber Bolsa Família e

duas pessoas relataram aderir à tarifa social na conta de luz ou na compra de gás.

Com relação às fontes de renda, a maioria dos entrevistados é assalariada (20/40),

sendo as pessoas restantes donas do lar (13/40) e aposentados (7/40).

Finalmente, foi possível conferir que os grupos familiares são pequenos,

maiormente, compostos de duas pessoas (14/40) e três pessoas (8/40). Maior

detalhamento dos resultados é mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Perfil sociodemográfico – Composição familiar; escolaridade e profissão /

ocupação de usuários com HA atendidos em USF de Vitória da Conquista-BA, 2016.

Composição familiar n Ocupação/ profissão

n Escolaridade n

Esposo (a) 09 Aposentado (a) 07 Não sabe ler/escrever

04

1 filho (a) + esposo (a) 06 Empregada doméstica

08 Semianalfabeto 04

2 filhos + 1 irmã 01 Dona do lar 13 EFI 23

2 filhos (as) + esposo (a) 03 Lavadeira de roupas 01 EFC 03

1 filho (a) 05 Cuidadora de idosos 01 EMI 02

4 filhos 01 Auxiliar de consultório

01 EMC 03

1 filha + esposa + 1 neto 01 Monitora escolar 01 ESI 01

2 filhos + 1 irmão + 2 netos

01 Ajudante de serviços gerais

02

1 filha + esposo + 1 genro + 1 neto

01 Vendedor ambulante 01

3 filhos + 4 sobrinhos + 1 neto

01 Zeladora 01

3 filhos (as) + esposo (a) 02 Diarista 02

1 filha + esposa + 3 netos

01 Agente de portaria 01

1 filho + 3 netos 01 Pedreiro 01

1 filho + esposo + 2 netos 01

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1 filho + mãe 01

3 filhos + 1 neto 01

2 filhos 01

Sozinho (a) 03

Fonte: Elaboração própria ESI= Ensino Superior Incompleto; EMC= Ensino Médio Completo; EMI= Ensino Médio Incompleto; EFC= Ensino Fundamental Completo; EFI= Ensino Fundamental Incompleto.

Além dos fatores sociodemográficos, muitas vezes, implicarem de alguma

maneira no acesso da população aos serviços de saúde, existem outros fatores que

podem dificultam ou facilitar esse acesso, sendo que alguns deles foram apontados

pelos informantes deste estudo, conforme pode ser observado nas categorias e

subcategorias apresentadas e discutidas a seguir:

5.2 ACESSIBILIDADE GEOGRÁFICA

O acesso, do ponto de vista da dimensão geográfica se apresenta como

uma condição importante na garantia da utilização dos serviços de saúde pelos

usuários, uma vez que, quando há proximidade dos serviços em relação às

residências das pessoas, este acesso é facilitado (AZEVEDO, 2007).

Ademais, é amplamente difundido que quanto menos especializados são os

serviços de saúde, mais próximos estes se localizam da população (AZEVEDO e

COSTA, 2010), isto reforça a importância da Atenção Básica, enquanto

coordenadora do cuidado e a principal responsável pela garantia desse acesso.

Quanto à “acessibilidade geográfica”, no presente estudo, a maioria dos

participantes (25/40) relatou não ter nenhum tipo de dificuldades para chegarem as

USF, ou seja, de modo geral isto se deve ao fato de morarem próximos a unidade,

não precisarem utilizar ônibus, ou qualquer outro meio de transporte, para se

deslocarem até a unidade. E apesar de alguns entrevistados informarem a presença

de ladeiras no trajeto da sua casa até a unidade de saúde, isto não foi configurado

como um obstáculo que interferisse na sua chegada ao serviço básico de saúde.

Estas afirmações se resumem nos seguintes depoimentos:

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Eu vim andando. É bom, eu moro aqui nas imediações. É bem pertinho. (Entrevistado 08, USF D) É pertinho, eu vim andando mesmo. Tem uma ladeirinha que a gente sobe, mas não dificulta não. (Entrevistado 10, USF B)

Esta questão também nos revela um ponto positivo da implantação da

Estratégia de Saúde da Família no município de Vitória da Conquista, uma vez que

demonstra que as unidades de saúde estudadas realmente se localizam no território

onde os usuários e suas famílias residem.

Corroborando os achados desta pesquisa, o estudo desenvolvido por Assis

et al. (2010) constatou que 77,4% usuários se desloca a pé até a unidade de saúde

e em pesquisa feita por Azevedo e Costa (2010) em duas Unidades de Saúde da

Família do Recife, mostrou que os usuários não criticaram o acesso, sob a

perspectiva geográfica, pois as unidades se localizavam próximas as moradias

destes.

No entanto, é importante reconhecer que tem-se ainda muito a avançar para

a garantia do acesso aos serviços da Rede de Atenção Primária à Saúde, pois ainda

que a maior parte dos entrevistados não considere o espaço/distância como

obstáculo para resistências a sua movimentação, alguns participantes relataram a

existência de algumas barreiras (distância relativamente longa, presença de

ladeiras, ausência de transporte coletivo próximo à residência) que, de certo modo,

interferem negativamente nesta acessibilidade, como pode ser notado nos

depoimentos abaixo:

Venho a pé. Tem uma ladeirinha. Atrapalha um pouco, porque eu tenho falta de ar. (Entrevistado 10, USF D) Eu venho andando, é uma distância boa, chego aqui já colocando o coração pela boca. Sinto cansaço, já ando muito e tenho que vim andando por falta de ônibus que não passa na porta. (Entrevistado 08, USF A)

Ainda sobre a questão da “acessibilidade geográfica” pode se observar que

a Unidade de Saúde da Família B, foi a que se apresentou como a mais acessível a

seus usuários em relação às demais unidades que fizeram parte da pesquisa.

Provavelmente, isto se deve ao fato de ser uma unidade que se localiza em um

bairro, onde o terreno é predominantemente plano.

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5.3 FATORES ORGANIZACIONAIS DAS UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Para Souza et al. (2009) o acesso ao serviço de saúde leva em

consideração à distância entre a residência da pessoa e a unidade; o tempo para o

seu deslocamento; os possíveis entraves conseguir atendimento, o período de

espera; a terapêutica adotada pelos profissionais, dentre outras questões.

No que tocante à dimensão organizacional, Assis (2015) revela que o modo

de organização dos serviços fornecidos pela Estratégia Saúde da Família tem se

baseado em ações programáticas estabelecidas a nível nacional, contrapondo-se as

necessidades da população local.

Sendo assim, podemos destacar os seguintes fatores organizacionais das

unidades de saúde apontados pelos usuários com hipertensão arterial que podem

estar interferindo positivamente ou negativamente no acesso aos serviços de saúde

da Atenção Básica.

Demora na marcação de consultas

É sabido que a Atenção Básica deve ser o ponto inicial para as pessoas

terem acesso aos serviços e ações oferecidos pelo Sistema Único de Saúde, e mais

do que isso é assegurado a todos os cidadãos o acesso ao sistema de saúde de

maneira ordenada e organizada.

Assim, mesmo que o acesso aos serviços de saúde seja reconhecido no

mundo como um direito fundamental do cidadão, ainda pode ser visto entraves que

dificultam o acesso da população aos cuidados básicos de saúde (SILVA e

RABINOVICH, 2013).

Nesse sentido, no estudo em questão, foi possível visualizar que há uma

relativa preponderância da insatisfação dos usuários em relação a alguns aspectos

da organização dos serviços das Unidades de Saúde da Família estudadas, como

na avaliação da marcação de consultas, como é retratado trechos das falas dos

entrevistados:

Eu acho difícil. Porque é muita gente que passa por aqui, o posto é pequeno, pouco médico e pra gente conseguir uma ficha dá trabalho. (Entrevistado 06, USF B)

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Ah! É péssimo. Porque é muita gente. É muito cheio, atende muitas pessoas de outros bairros [...]. Demora muito para marcar e, às vezes, não consegue. (Entrevistado 05, USF B)

Pode-se observar nestes depoimentos que, muitas vezes os usuários

entendem que a demora na marcação de consultas se deve à grande demanda pelo

serviço. Isso ganha sentido ao avaliarmos o avanço no crescimento populacional da

cidade nas últimas décadas, onde se vê uma grande ocupação das áreas

periféricas, inclusive com a criação de novos bairros. [...] A ruindade é que é muitos

bairros pra um posto só. Muita demanda. (Entrevistado 07, USF B).

E, portanto, tudo isso contribui para uma maior demanda pelos serviços de

saúde da Rede de Atenção Básica no município e de outros serviços especializados,

de modo geral, o que reflete a necessidade de adequação do número de usuários

atendidos por cada equipe conforme estabelecido pela ESF.

Além disso, foi notável nas falas dos entrevistados a dificuldade de terem

que chegar muito cedo à unidade para que nem tenham a garantia da marcação da

consulta, o que é visto como um fator frustrante por parte destes. Situação está

resumida no trecho do depoimento de um dos usuários: Eu acho difícil. [...] tem

pessoas que chega duas, três horas da manhã para agendar uma consulta, isso é

um absurdo. (Entrevistado 07, USF A).

É importante lembrar que, apesar de todos os avanços na assistência à

saúde da população no município, sendo um dos pioneiros a adotar e implantar

políticas públicas na Atenção Básica, ainda há questionamentos em relação aos

modos de organização dos serviços nas USF, dividindo opiniões entre os usuários

de uma mesma unidade de saúde em relação a utilização de fichas para o

agendamento de consultas.

Antigamente era através de triagem. Agora eu tô achando melhor porque é por ficha. E atende todas as pessoas que pegam as fichas. (Entrevistado 05, USF D) Horrível, porque antes era aquela triagem, eu achava melhor, que pelo menos demorava de atender mais atendia todo mundo, e hoje a gente tem que sair de casa quatro horas e meia, cinco horas da manhã, igual hoje mesmo tive que sair de casa cinco horas, cheguei aqui só deu dezesseis fichas. Fiquei sem atender. (Entrevistado 01, USF D)

Esta problemática na marcação de consultas foi encontrada na pesquisa de

Azevedo e Costa (2010), e também no estudo de Silva e Rabinovich (2013)

realizado com idosos de Unidades de Saúde da Família de Itabuna, Bahia, onde os

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sujeitos informaram que ficavam muito tempo esperando marcar e, muitas vezes não

conseguiam marcar a consulta.

O estudo de Reis et al. (2013) suscita a necessidade de melhoria dos

indicadores relacionados ao tempo de espera pela consulta, que se mostraram

insatisfatórios em sua pesquisa.

Portanto, é necessário que a Rede Básica de Saúde esteja mais engajada

para atender a população, com a obtenção de mais recursos de saúde que sejam

condizentes com as necessidades demandadas pelos usuários.

Demora na realização e entrega do resultado de exames

Com relação à realização de exames e entrega dos resultados, em todas as

USF, os usuários relataram dificuldades, sendo a demora um dos principais entraves

nestas situações.

Isso aí é uma parte que é muito demorado, entendeu? [...] geralmente demora muito. Dependendo do exame demora até 3 meses. (Entrevistado 08, USF D) [...] eu acho um pouco demorado, o de laboratório mesmo demora, é quase três meses para entregar o resultado, mas para fazer num demora muito não. (Entrevistado 02, USF B)

Conforme o Plano Municipal de Saúde vigente (2014-2017), a regulação do

acesso da oferta de vagas para exames, consultas e procedimentos especializados

é feita pela Central de Regulação de Procedimentos e Exames Especializados

(CRPEE) desde 1999, para que se tenha a garantia da integralidade da assistência

à saúde.

No entanto, o acesso dos usuários a este serviço é feito através da unidade

de saúde, que é responsável por encaminhar para a CRPEE, e assim, que o exame

é agendado, ele retorna à unidade de origem para ser entregue ao paciente e por

fim ser realizado, porém nem todo usuário dos serviços básicos de saúde conhecem

esse fluxo.

É importante ressaltar que todo esse trâmite necessário para

encaminhamento do exame e por existir uma cota referente a cada tipo de exames,

acaba contribuindo para a demora na realização dos procedimentos. Isto foi

visualizado nas respostas de alguns participantes.

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Bom, tem vez que demora, porque às vezes a gente faz um exame aqui hoje, o pedido eles levam pra Central, espera vir o resultado [...] A gente tem que esperar um pouco, aí a gente fica preocupado de dar um problema rapidamente. (Entrevistado 07, USF C) Já aí demora um pouco. Coloca pra marcar, aí já demora pra chegar. Esses exames que demoram mais para chegar são aqueles que levam lá pra baixo. Mas demora mais o resultado [...]. (Entrevistado 06, USF C)

Como defende Silva e Rabinovich (2013), estes entraves na execução de

procedimentos se configuram como um desafio para os gestores da rede pública de

saúde, uma vez que convivem com a grande demanda por serviços de apoio e

diagnóstico especializados e que muitas vezes, não conseguem solucionar,

resultando em longas filas e maior tempo de espera para alguns tipos exames.

Perante esta temática, o estudo de Azevedo (2007) constatou que as

reclamações de seus entrevistados não se davam exatamente pela dificuldade na

realização de exames e sim, pela demora a entregar seus resultados.

Aspectos relacionados ao atendimento

Quanto ao funcionamento das USF em relação ao modo de organização dos

serviços, forma e horário de atendimento, dentre outros aspectos, percebeu-se que

de modo geral houve queixas da utilização de fichas para atendimento, em que se

julga oferecer uma quantidade insuficiente para atender a população, gerando filas a

espera de atendimento e levando o usuário a ter que acordar cedo para tentar

garantir sua vaga.

Como afirma Souza et al. (2008), as filas permanecem sendo um dos pilares

que caracteriza a insatisfação para usuários nas unidades de saúde, como podemos

conferir nos depoimentos abaixo:

É péssimo, é fila de lado, é fila de outro, você não sabe que é quem, como vai ser atendido, quem vai ser o primeiro, você não sabe de nada. Aqui é tudo misturado e tem que ser uma coisa organizada. (Entrevistado 08, USF A) Pra pegar uma ficha aqui, a gente tem que acordar de madrugada. Às vezes pega e às vezes não pega. Não dá muita ficha não, as fichas são poucas. (Entrevistado 10, USF D)

Outro aspecto que merece destaque neste estudo é a avaliação de como se

dá a relação da equipe de saúde da família e dos demais funcionários da unidade

com os hipertensos, o que pôde-se observar é que de modo geral, não houve muitas

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reclamações referentes aos profissionais de saúde, inclusive aos médicos. Embora

haja referências que demonstram falhas no processo de humanização do

atendimento no âmbito do SUS.

Pra mim é bem. A médica mesmo é ótima, atende super bem. Com os outros profissionais é mais ou menos, às vezes, assim, eles não atendem bem, às vezes estão mal humorados, aí respondem mal, só isso. (Entrevistado 02, USF A)

A necessidade em investir mais na humanização na Atenção Básica, que

envolva não só os profissionais, mas também todos os trabalhadores da área de

saúde que lidam diretamente com o público, se torna mais evidente com as queixas

direcionadas ao pessoal de apoio (recepcionistas, porteiros, dentre outros), que

atuam, sobretudo nas unidades de saúde A e D.

O atendimento é bem. Tem um grupo que atende super bem, tem outros que humilha as pessoas, atende quando quer e quando não quer é tchau, volta outro dia e tal. Não era assim, eu acho que a pessoa só tem que insistir pro cliente ser atendido, não é menosprezar as pessoas não, porque todo mundo é iguais. E uns eles tratam bem e outros tratam mal. É como se a gente tivesse pedindo esmola para eles. Eles estão aqui para atender nós. O que atende melhor é os médicos, as enfermeiras, mas as atendentes é o “o”. Não tô falando de todos, mas tem um grupo que é mal educados. (Entrevistado 08, USF A) O médico me trata bem. O pessoal da recepção é muito mal educado, eles atendem a gente com muito mal gosto, cara feia, da bronca na gente. (Entrevistado 10, USF D) Minha relação com os funcionário é médio, porque tem 3 colegas minhas que trabalha aqui, trabalha na prefeitura. E com relação a outros funcionários é péssimo porque tem umas que tem mal atendimento, se tratando de pessoas doentes, você tem que saber tratar, senão a pessoa ficar mais doente ainda. Então falta o acolhimento, falta aquele sorriso, aquela paz, aquela tranquilidade, e você não tem, pelo contrário você chega aqui fica mais doente. (Entrevistado 04, USF A)

No estudo de Souza et al. (2008) foram encontrados resultados similares,

como a existência da falta de acolhimento aos usuários por parte dos profissionais,

sobretudo de quem trabalha na recepção. Sendo assim, estes autores citam a

inclusão do “saber tratar bem as pessoas” como necessária para a construção do

ser profissional.

No que diz respeito a formação do vínculo entre profissionais de saúde e

usuários, as pesquisadoras Santos, Nery e Matumoto (2013) expressam que o

interesse dos profissionais em ouvir de modo acolhedor as aflições e anseios dos

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usuários é uma maneira de mostrar para o usuário que ele é percebido como um

cidadão, e que lhes são assegurados os seus direitos.

Diante desta realidade vivenciada pelos usuários, é preciso que seja

cobrado dos profissionais de saúde e dos demais servidores públicos que trabalham

nas unidades de saúde uma postura acolhedora, pautada nos valores humanísticos,

na escuta qualificada, no uso das tecnologias leves em detrimento das tecnologias

duras. E, que a equipe de saúde enxergue e trate o usuário na sua complexidade

biopsicossocial, possibilitando um cuidado integral.

A existência do vínculo entre a equipe de saúde e os usuários é visualizada

como fundamental para a efetividade das ações de saúde, além de facilitar a

participação do usuário, de modo a atuarem como cidadão, dotados de autonomia e

respeito (SILVA et al., 2013).

Por outro lado, quando questionados a respeito do atendimento em outros

serviços de saúde, como ambulatório e/ou pronto socorro, os sujeitos demostraram-

se em sua maioria satisfeitos com o atendimento que lhes foram dispensados. Ao

compararmos o nível de satisfação entre as USF, a que se destacou mais foi a USF

B, com aprovação dos 10 entrevistados. E a que obteve menor aprovação foi a USF

A.

Este fato pode estar relacionado a uma maior densidade de recursos

tecnológicos encontrados nos estabelecimentos de saúde especializados que

causam nas pessoas uma ideia de que os seus problemas de saúde serão

resolvidos mais facilmente. Para Souza et al. (2009), os pacientes acreditam que os

serviços de urgência e emergência dispõe de mais equipamentos e tem profissionais

“mais capacitados” para o atendimento do que as Equipes de Saúde da Família.

Somando-se a isso, houve reclamações em relação ao horário de

funcionamento das unidades. Alguns entrevistados revelaram que o horário de

atendimento no balcão, geralmente ocorre muito tarde em relação ao horário que de

fato deveria ser e que, muitas vezes, os profissionais chegam atrasados no local de

trabalho.

O atendimento é tudo por ficha. Tem que chegar cedo pra pegar a senha [...] Agora aqui pra conseguir um exame, passar pelo médico tem que vim de madrugada, porque senão não acha não e o horário do balcão é muito tarde, eu acho. (Entrevistado 10, USF B) O horário deles aqui para abrir é sete horas. [...] eu tô esperando a doutora chegar, porque ela chega oito e meia, aí ela vai chegar, vai conversar com as agentes de saúde e quando libera as agentes de saúde começa a fazer o atendimento pra gente. E a gente fica esperando. (Entrevistado 02, USF D)

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Diante dessa situação, deve ser vislumbrado um atendimento integral que

atenda a demandas/necessidades dos usuários e como afirma Assis (2015) a rede

de atenção primária à saúde deve estar integrada nos diversos níveis de atenção. A

autora reforça que a instituição de rede na coordenação do cuidado depende da

participação dos cidadãos, comprometimento da equipe de profissionais, estrutura

adequada e qualidade no atendimento. Estes elementos se apresentam no

panorama atual da saúde pública como desafios a serem superados na efetivação

do direito à saúde como direito universal.

Nesse sentido, a avalição do atendimento prestado aos usuários do SUS se

torna de fundamental importância para o aperfeiçoamento de práticas profissionais e

do modo de organização e coordenação das redes de saúde.

Demanda por mais profissionais de saúde na Atenção Básica

Neste estudo, observou-se que a maioria dos indivíduos se referiu a

necessidade de ter mais profissionais médicos para integrarem as equipes de saúde

da família. Essa demanda por mais médicos, sobretudo por mais especialistas como

visto nos discursos, é um retrato da valorização do modelo biomédico que ainda

persiste nos dias atuais, além de mostrar a falta de conhecimentos dos usuários em

relação ao modo de organização e funcionamento das unidades de saúde, uma vez

que, na ABS não há médico especialista na equipe de saúde, e sim, um médico

generalista.

Portanto, muitos acabam por cobrar por mais profissionais que de fato não

fazem parte do rol de profissionais que integram as equipes de saúde da família. Os

depoimentos de alguns entrevistados retratam esta situação.

Eu sinto falta de uma ginecologista. [...]. e uma pediatra também. Não tem pediatra, só clínico geral. (Entrevistado 09, USF D) Eu acho pouco, mas pouco assim, eu acho que deveria ter mais um médico clínico aqui para a população, porque é muita gente. [...] deveria ter mais médico. (Entrevistado 03, USF A)

Ao mesmo tempo, é válido destacar, que a reivindicação por mais

profissionais de saúde nas unidades, se torna relevante a medida que a insuficiência

quantitativa destes refletem, de certa maneira, na qualidade dos serviços prestados.

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Além de ter muita cobrança pela falta de médicos, há também uma exigência

por mais odontólogos, que do ponto de vista dos usuários a quantidade não é

suficiente para atender as necessidades de todos. As falas seguintes nos remetem a

essa questão:

Não tem. Olha, o clínico mesmo se fosse mais era melhor, dentista também, que vai fazer dois anos que eu moro aqui e eu não consigo passar pelo dentista [...]. (Entrevistado 02, USF B) Falta mais um dentista, falta mais uma equipe, porque o bairro é grande e só tem praticamente duas equipes, ainda tem outros bairros. (Entrevistado 10, USF A)

Na pesquisa de Azevedo e Costa (2010), a quantidade de profissional de

odontologia também se apresentou insuficiente para atender toda a demanda, pois,

geralmente há apenas uma equipe de saúde bucal para atender as

necessidades/demandas da população adscrita de duas Equipes de Saúde da

Família.

Ao avaliar essa situação nas quatro unidades que fizeram parte do estudo,

pode-se notar que a USF B teve total insatisfação por parte dos participantes quanto

ao número de profissionais de saúde, principalmente de médicos.

Portanto, o que se percebe é que a Estratégia de Saúde da Família não

conseguiu romper com esse modelo assistencial médico-centrado. Para reduzir a

influência desse modelo nas práticas de saúde é preciso que os usuários usufruam

de seus direitos de acesso universal e deixam de ser meros expectadores do

cuidado em saúde. Além disso, serão necessárias mudanças no modo de produzir o

cuidado, que traga melhoria nas relações profissional-paciente e profissional-

profissional (SCHWARTZ et al., 2010).

5.4 O ACESSO SOB A PERSPECTIVA DA DIMENSÃO ECONÔMICA

A dimensão econômica corresponde ao modo de acesso aos bens e

serviços de saúde pelos usuários e como esse acesso está dependente das

condições socioeconômicas das pessoas e limitado pela capacidade de intercessão

do Estado na coordenação da rede de atenção à saúde (ASSIS, VILLA e

NASCIMENTO, 2003).

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Disponibilidade de medicamentos

O Sistema Único de Saúde (SUS), mais especificamente a Estratégia de

Saúde da Família, deve adotar ações direcionadas ao acompanhamento de

indivíduos com hipertensão arterial de modo sistemático, promovendo o cuidado à

saúde de maneira integral, inclusive com a garantia do acesso a medicamentos

essenciais (PANIZ et al., 2008).

Como defendem pesquisadores, o acesso aos medicamentos distribuídos na

Atenção Primária a Saúde são fundamentais nos cuidados básicos de saúde da

população, devendo sempre estar disponível. A falta destes medicamentos interfere

diretamente no processo de cura, reabilitação e prevenção de doenças e também

representa uma das principais causas de retorno de pacientes aos serviços de

saúde (REIS et al., 2013; PANIZ et al., 2008).

Assim como no estudo de Reis et al. (2013) realizado na ESF de São Luís,

na presente pesquisa, se observou uma relativa insatisfação acerca da

disponibilidade dos medicamentos oferecidos na Atenção Básica, como se resume

nos trechos dos depoimentos abaixo:

Aqui no posto, ultimamente tá muito a desejar, eu pegava sempre aqui, aí eu passei a pegar em farmácias por causa disso [...]. (Entrevistado 09, USF A). Quando tem o medicamento completo a gente pega, quando não tem é obrigado comprar. (Entrevistado 07, USF C)

É importante lembrar que geralmente os remédios distribuídos nas unidades

de saúde são utilizados no tratamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis,

como a hipertensão arterial e que são de uso contínuo, isto significa que a

interrupção do tratamento pelo não uso do medicamento pode trazer sérios prejuízos

para a saúde dos hipertensos, visto que esta doença se não tratada adequadamente

pode levar a um infarto do miocárdio, a um acidente vascular cerebral, com

sequelas, muitas vezes, irreversíveis, e até a morte.

A falta de medicamentos nas unidades reflete, de certo modo, em lacunas

no planejamento e no sistema de monitoramento e controle para aquisição destes.

Cabendo a gestão municipal rever todo o processo que envolve a compra de

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medicamentos e a partir de então, criar novos mecanismos que possam garantir a

dispensação desses remédios aos usuários.

Pode-se perceber que esta situação está sendo amenizada pela distribuição

gratuita de medicamentos anti-hipertensivos pelas farmácias cadastradas pelo

governo, como se vê na fala deste usuário: Tenho. Tem uns que faltam, mas vou na

farmácia e pego na farmácia cadastrada. (Entrevistado 01, USF C).

No entanto, alguns pacientes ainda assim, tem dificuldades para adquirir

determinados medicamentos, tendo que comprar, o que acaba comprometendo o

orçamento da família, que em sua maioria depende do salário mínimo, de

aposentadorias e da Bolsa Família.

Corroborando com este estudo, Paniz et al. (2008) afirma que a maioria da

população atendida no serviço público de saúde tem baixo poder aquisitivo e que, a

aquisição de medicamentos gratuita, se torna a única alternativa de acesso que

estes pacientes têm ao medicamento.

No entanto, a pesquisa elaborada por Busato e Lunkes (2012) enfatiza a

existência da “cultura da medicalização” e a percepção da população de que o

medicamento é um bem de consumo, e, portanto, não é visto como um insumo

básico de saúde. Por isso, a disponibilidade ao medicamento deve ser

acompanhada da conscientização dos usuários, de modo a estimular o uso racional

dos medicamentos.

Oferta dos serviços básicos de saúde

Nas entrevistas, ficou explícito que os usuários com hipertensão arterial, em

síntese afirmaram que os serviços oferecidos no âmbito da Atenção Básica atendem

as suas necessidades básicas de saúde. Até agora eu acho que atende.

(Entrevistado 06, USF B).

Comparando-se as demais unidades de saúde, a USF C teve maior índice

de satisfação (8/10) em relação ao atendimento das necessidades/demandas de

saúde da população assistida.

Em contrapartida, ainda se observa a supervalorização dos serviços

ofertados na rede privada de saúde. Essa forte percepção de que pagando nos

serviços particulares se terá melhor atendimento do que no SUS é retratado nos

seguintes trechos:

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Eu procuro porque se eu tivesse o dinheiro eu fazia mais particular. (Entrevistado 08, USF C) [...] encaminhada eu prefiro não fazer pelo SUS. Porque demora. Eu prefiro! Quando não pago, normalmente tem que ter muita paciência [...] (Entrevistado 01, USF A)

Ressalta-se que muitas ações e serviços característicos da Atenção Básica

não são proporcionados para os pacientes que buscam atendimento na rede

particular ou que tenham seguros de saúde.

Conforme outros autores, isso se deve ao próprio cenário em que se

perpetuou a cultura neoliberal no campo da saúde, resultando em um sistema de

saúde baseado na cidadania regulada. Sendo assim, em desacordo com o sistema

público de saúde brasileiro, ainda é perceptível certa preferência pelos serviços

encontrados em estabelecimentos de saúde privados (ASSIS, VILLA e

NASCIMENTO, 2003).

5.5 PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS NO CONTROLE SOCIAL

No contexto da participação social em saúde, os conselhos e as

conferências de saúde são instâncias estabelecidas legalmente para tal fim

(MARTINS et al., 2011). No entanto, a participação dos usuários do SUS deve ir

além dessas instâncias, devendo ser a cada dia impulsionada nos serviços do SUS

(REIS et al., 2013), através da construção de espaços que permitam não apenas a

escuta das demandas/necessidades dos usuários, mas que possibilitam uma

participação das pessoas como cidadãs capazes de propor mudanças no modelo de

atenção à saúde.

Nesse sentido, o estudo revela que esta participação nas unidades de saúde

é praticamente ausente, pois os usuários apresentam uma postura de sujeitos

passivos, que apesar de terem a noção da importância da participação para a

garantia dos direitos, isso é delegada “a comunidade” ou se assumem a falta própria

sem muita autocrítica. Os trechos abaixo resumem este pensamento:

A comunidade não é muito atenta para atuar nas reuniões, até eu mesmo. Mas eu sou muito preocupado e às vezes cai num dia que não estou aqui e tal, num dia que a gente já tem os compromissos. Mas eu vejo aqui as reclamações que o pessoal num participa muito não, mas divulgam e os responsáveis estão presentes, é o pessoal que não vai. (Entrevistado 01, USF B)

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Já aí não posso nem dizer. Já ouvir falar, mas nunca participei não. (Entrevistado 05, USF C)

A USF A teve a pior performance, isto é, foi a unidade de saúde com menor

adesão as ações de controle social por parte dos usuários. Estes resultados vão ao

encontro com os da pesquisa de Martins et al. (2011) realizada em Teixeira, Minas

Gerais, em que os participantes não conheciam a função do Conselho Municipal de

Saúde, porém muitos avaliavam a participação da população como algo importante

na tomada de decisões que dizem respeito as políticas de saúde do município,

porém poucos entrevistados (17,6%) mostrou interesse em participar das reuniões

do Conselho.

O estudo desenvolvido por Viana e Assis (2009) nas Unidades de Saúde da

Família de Feira de Santana também foi constatado pouco interesse dos usuários e

de trabalhadores de saúde em participar do Conselho Local de Saúde, o que para

estes autores mostra certa passividade dos sujeitos. Nesse sentido, o Conselho

Local de Saúde deveria ser encarado como um espaço democrático propício ao

exercício da cidadania.

A pesquisa de Bispo Júnior e Martins (2012) realizada em Vitória da

Conquista também aponta para o pouco envolvimento e participação da população

nos Conselhos Locais de Saúde, e que as pessoas se mostram individualistas, pois

só se envolvem nos espaços de participação social se lhes trouxerem benefícios

pessoais e imediatos.

Diante desses relatos, é preciso que haja um processo de empoderamento

dos usuários do SUS, que lhes traga a consciência sanitária para atuarem como

cidadãos nos mais diversos espaços de decisões políticas, sobretudo no campo da

saúde.

Serapioni (2014) também reforça o empoderamento (empowerment) para

estimular a participação dos usuários na comunidade. O sentimento de

pertencimento à comunidade promovido pelo empoderamento que faz os sujeitos

atuarem em prol de um projeto político comum.

Outra observação é que há confusão entre a participação no controle social

e “reuniões na igreja”, tipo palestra sobre algum assunto que lhes interessa, ou seja,

não participam como cidadãos pelo bem comum, mas apenas como usuários para o

bem deles próprios, como se segue no depoimento de um dos entrevistados:

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Eu não sei bem, tô por fora. Não costumo vir muito no Posto. Mas já participei de reunião na Igreja com a fisioterapeuta, psicóloga [...]. (Entrevistado 03, USF A)

Conforme Assis, Villa e Nascimento (2003), a tomada de consciência

sanitária é uma ação pessoal e coletiva importante na garantia do acesso aos

serviços de saúde, portanto, os usuários necessitam ter plena consciência do seu

papel enquanto ator social e da sua inserção nos espaços de discussão e definição

das políticas públicas.

Por outro lado, a gestão pública tem a função de mobilizar a população a

participarem ativamente de conferências, fóruns, conselhos de saúde. Sendo que

teoricamente, em muitas unidades de saúde do município há reuniões dos

Conselhos Locais de Saúde, que ocorrem periodicamente para discussão dos

problemas demandados pelos pacientes e profissionais das equipes de saúde.

Também chamou atenção que alguns entrevistados apontaram os agentes

comunitários de saúde como divulgadores das reuniões dos conselhos locais de

saúde. Sendo assim, como defende Santos, Nery e Matumoto (2013), os agentes

comunitários de saúde exercem função fundamental por facilitar a troca de

informações e diálogo entre a comunidade e a equipe de saúde.

Portanto, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) deve ser fortalecida no

sentido de desenvolver práticas concretas e construir espaços que sirvam de apoio

para a produção de sujeitos reflexivos que estejam comprometidos em transformar a

realidade em que vivem, fazendo valer a sua cidadania.

5.6 PERCEPÇÕES DOS DIREITOS

Ao avaliarmos a questão do reconhecimento dos direitos dos usuários pelos

serviços de saúde, percebeu-se que em todas as Unidades de Saúde da Família, os

usuários referiram ser bem atendidos e sempre respeitados nestes locais. Com

certeza! Eu sou bem atendida e muito respeitada, nunca tive desrespeito nenhum.

(Entrevistado 05, USF D).

Todavia o direito é visto pelos entrevistados não na perspectiva da

cidadania, da reivindicação pela garantia de cumprimento dos direitos fundamentais,

mas como um “direito do consumidor” de ter acesso aos serviços (consulta, exames

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e medicamentos) e, fundamentalmente, de ser bem tratado. A seguir serão descritas

algumas falas que ilustram a melhor esta situação:

Tem todos os direitos, né, de ser bem atendida, se precisar de um exame assim, de uma operação [...] tem direito ao remédio se precisar, ter médico [...]. (Entrevistado 02, USF A) Ter acesso aos remédios, ser bem atendida, fazer meus exames. Estar sempre aqui procurando atendimento. (Entrevistado 05, USF D)

É importante reconhecer que o olhar do usuário sobre o sistema público de

saúde ainda é bastante focalizado nas atividades e práticas assistenciais, há sempre

uma maior valorização do uso/consumo de procedimentos e consultas.

Em outras palavras, Martins et al. (2011) explicam que tal situação se deve à

falta de conhecimento do sistema sanitário pela sociedade, pois ainda existe muitas

pessoas que não consideram a saúde com um direito do cidadão, demonstrando

falhas ao exercerem a cidadania, perdendo dessa forma, a oportunidade de agirem

como protagonista para criação e aprimoramento das políticas públicas de saúde.

Esses autores mencionados acima nos lembram dos avanços alcançados

após a VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986, que culminaram com a criação

do SUS e conquistas de muitos direitos sociais para a população.

Sendo assim, os direitos são frutos das relações sociais que acontecem no

cotidiano e são conduzidos pelo reconhecimento do próximo como sujeito de valores

e de necessidades reais (SCHWARTZ et al., 2010). Nesse sentido, a participação

social pode ser vista como um meio para a busca dos direitos coletivos, não

servindo apenas para a defesa dos interesses individuais (SERAPIONI, 2014).

Outro aspecto que chamou atenção nesta pesquisa foi o desconhecimento

da política pública de saúde voltada para o atendimento do paciente hipertenso

pelos próprios beneficiários da política, como se visualiza nas seguintes falas:

Nesse caso eu não sei, porque eu não tenho esse conhecimento. (Entrevistado 09, USF D) Se tem, eu não sei. (Entrevistado 03, USF A)

Outros usuários admitiram que sabem onde se informar sobre a política,

porém demonstram pouco ou nenhum interesse. Somado a isso, sente-se forte

influência da mídia na divulgação de informações que, muitas vezes, mostram

situações que não condizem com o que são estabelecidas pelas políticas públicas

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de saúde e não fazem parte das práticas de saúde que são desenvolvidas no

cotidiano das unidades de saúde. O depoimento de um dos entrevistados resume

esta reflexão. Os benefícios que o idoso tem ou qualquer outro tem com os

medicamentos, eles estão tirando, eu vi na televisão. (Entrevistado 08, USF D).

O que se percebe em um discurso é a mera repetição de jargões e

pensamentos transmitidos pelos meios de comunicação sem a devida reflexão sobre

o que de fato norteia e define a política de saúde dos portadores de hipertensão

arterial.

Pois muitas horas o governo não ajuda muito não [...] muitos aí morrem até na fila dos hospitais. Porque é muita gente precisando. Aí é com o governo, pra botar aparelho porque tem horas que falta. (Entrevistado 04, USF D)

Por outro lado, os poucos usuários que se dizem sentir beneficiado com a

política de saúde, apenas se referem à distribuição gratuita de medicamentos, isto

mostra, que desconhecem todos os outros benefícios que são disponibilizados na

rede de saúde pública para o hipertenso, como podemos notar nas falas destes

participantes:

Acho que só a medicação mesmo. Eu me sinto, evita da gente comprar. (Entrevistado 10, USF C) Acho que ele (governo) só manda os remédios. Me sinto beneficiada, porque senão fosse isso que a gente ia fazer, né? (Entrevistado 10, USF B)

Sabe-se que a política nacional de saúde que se preocupa especificamente

com a pessoa com hipertensão arterial, vai além do fornecimento de medicamentos,

é também a garantia do cadastramento e acompanhamento de modo sistemático

dos hipertensos e traz uma série de ações de promoção de saúde e a prevenção de

outras doenças e complicações (CUNHA, CESSE e FONTBONNE, 2011).

Vale salientar que se os usuários não assumem uma postura de cidadãos

comprometidos em exercerem a sua cidadania através do conhecimento das

políticas públicas que garantem os seus direitos, se torna inviável a efetivação de

tais políticas na prática.

Portanto, é concebível que a saúde é um direito de todos, porém o acesso a

esse direito, segundo Lanzoni et al. (2009) é facilitado aos usuários que tem

conhecimento de seus direitos. Nesse sentido, é preciso inserir a temática dos

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direitos e deveres dos usuários do SUS em atividades educativas nos mais diversos

espaços do campo da saúde.

5.7 PERCEPÇÕES SOBRE A DOENÇA

A Rede de Atenção Primária à Saúde no Brasil, mais especificamente, os

serviços oferecidos nas Unidades de Saúde da Família são responsáveis pelo

cuidado de milhões de brasileiros com hipertensão arterial (SANTA-HELENA,

NEMES e NETO, 2010). Nesse sentido, o acesso a todos os métodos terapêuticos é

primordial para o controle dessa patologia.

Para Silva et al. (2013), a expansão da Estratégia Saúde da Família permitiu

o desenvolvimento de um conjunto de ações (ações de promoção, vigilância

prevenção, assistência e acompanhamento longitudinal) que se mostra essencial no

tratamento dos usuários com Doenças Crônicas Não Transmissíveis, incluindo a HA.

Na presente pesquisa, ao explorar a percepção do usuário sobre a própria

doença, a maioria dos usuários demonstrou pouco conhecimento acerca da

hipertensão arterial e muitas respostas estavam relacionadas aos sinais, sintomas e

complicações da doença, como ilustra os seguintes relatos:

Pressão alta a pessoa sente dor de cabeça, não tá dormindo. A pessoa sente muita mudança no corpo. (Entrevistado 05, USF C) É péssimo. Porque se tem dia que se eu ficar sem tomar o remédio eu começo a ficar tonta. Fico com dor de cabeça. (Entrevistado 05, USF D)

Apesar de um considerável desconhecimento da patologia, alguns usuários

revelam que se trata de uma doença assintomática, outros fizeram relação com a

morte, o que mostra certa consciência a respeito da gravidade da doença. Isto se

traduz nas falas abaixo:

[...] a hipertensão é problema que ela traz muito perigo, que ela é muito silenciosa e você não sabe, de repente pode ter um piripaque e não sabe. Você às vezes você pode tá no meio da rua, fazendo alguma coisa [...] de repente pode passar mal. (Entrevistado 04, USF A) É ruim. Pois não dorme direito, tem insônia, não dorme. E outra coisa pode tontura, dar outros tipos de coisa, pode ter até derrame nas vista e se a pressão tá alta pode até morrer. (Entrevistado 06, USF D)

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Observa-se que apesar da maioria dos usuários terem um relativo

conhecimento sobre o tratamento, há dificuldades na adesão a esse tratamento.

Assim, muitos apresentam resistência principalmente para seguir as orientações

nutricionais e, por vezes, sentem-se frustrados, como constatado nos depoimentos

de uns entrevistados:

[...] eu não posso comer certos tipos de coisa, eu tenho que maneirar, se eu comer hoje, aí só daqui umas 2 semanas para poder comer e os remédios que tenho que tomar, que às vezes eu esqueço, aí minha pressão vai para 19. (Entrevistado 02, USF B) Minha alimentação tá muito chata. Não como quase gordura, não como pão. O médico já falou pra mim não tomar muito café, mas não tem jeito. (Entrevistado 08, USF B)

Corroborando com esta pesquisa, Maciel et al. (2011) revelam que os

usuários associam o conhecimento da enfermidade apenas a manifestações

fisiológicas e complicações provocadas pela HA. Além disso, os autores citam que

modificações do hábito alimentar e o uso contínuo de medicamentos foram

apontados pelos pacientes como os principais empecilhos no tratamento da doença.

Assim, como na pesquisa de Paz et al. (2011), os entrevistados, de modo

geral apresentavam um considerável conhecimento das medidas que devem ser

adotas no tratamento não medicamentoso, porém há indícios de que as

recomendações dos profissionais de saúde não eram seguidas por eles.

Somando-se a isso, é visto uma alta prevalência de indivíduos com baixa

escolaridade e baixa renda no presente estudo, o que segundo Paz et al. (2011)

pode interferir negativamente no controle da hipertensão arterial.

Na literatura, alguns autores relacionam a baixa adesão ao tratamento aos

fatores sociodemográficos e culturais. Afirmam que os indivíduos com baixa

escolaridade têm dificuldade para assimilar as orientações acerca da doença, de

entenderem o diagnóstico, os sinais e sintomas e todo o esquema necessário para o

tratamento (GIROTTO et al., 2013; VERAS e OLIVEIRA, 2009; COUTINHO e

SOUSA, 2011).

É relevante ressaltar que os hábitos alimentares não saudáveis estão se

elevando na população de baixo poder aquisitivo, sobretudo, o aumento na ingestão

de alimentos com alto teor de sal e de gorduras saturadas e ácidos graxos trans, o

que representa um risco potencial de desenvolvimento de doenças cardiovasculares

nesse grupo vulnerável (MALTA, NETO e JUNIOR, 2011).

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Portanto, os resultados encontrados apontam para importância do

desenvolvimento de ações que envolva equipes interdisciplinares na Saúde da

Família a fim de promover a prevenção e o controle da hipertensão arterial. Estas

ações devem ter um foco no cuidado integral da saúde do grupo hipertenso,

valorizando todo um contexto social e cultural em que se encontra inserido essas

pessoas.

Também é preciso despertar no usuário a reflexão para a sua

corresponsabilidade no enfrentamento da doença e disponibilizar meios e

ferramentas para que tenha acesso ao conhecimento sobre o processo saúde-

doença que lhe acomete. E com o apoio da equipe de saúde possa ser mostrado

que é possível vencer as barreiras que envolvem mudanças comportamentais e no

estilo de vida.

Porém, há muitos desafios a serem vencidos, uma vez que a atenção à

saúde ainda se encontra muita ligada à figura do médico, sendo os cuidados de

saúde delegados fortemente a esta categoria profissional, demonstrando a

predominância do modelo biologicista (SILVA et al., 2013).

Mas, a responsabilidade pela assistência à saúde do paciente hipertenso é

também atribuída ao enfermeiro e a outros profissionais que prestam apoio a Equipe

de Saúde da Família, como o nutricionista, o farmacêutico e o educador físico. Sabe-

se que as atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional sejam elas

individuais ou coletivas contribuem significativamente para a melhoria da qualidade

de vida do usuário com hipertensão.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste estudo os usuários apontaram algumas fragilidades no acesso

as ações e serviços da Estratégia de Saúde da Família em Vitória da Conquista,

como a demora no agendamento de consultas e realização de exames, grande

demanda por especialidades médicas, descrédito da população em relação aos

serviços públicos de saúde, falta de humanização no atendimento, insuficiência de

profissionais de saúde, sobretudo médicos e irregularidade no fornecimento de

medicamentos nas Unidades de Saúde da Família.

Também foi evidenciado o desconhecimento dos usuários acerca da

doença, das políticas de saúde e dos seus direitos enquanto cidadão, sendo a saúde

vista com um bem de consumo, não relacionando a um direito social. Além disso, a

participação no controle social é ausente ou muito pequena, o que nos remete a

constituição de sujeitos passivos, pouco preocupados em defender os interesses

coletivos.

Com base no exposto, consideramos que apesar de terem mencionado

facilidades no acesso aos serviços básicos de saúde, como proximidade das

unidades de saúde aos seus locais de moradia, ainda há lacunas, principalmente na

organização assistência da ESF que limita o acesso das pessoas aos cuidados de

saúde na Atenção Básica e em outros níveis de atenção à medida que ocorre

entraves no fluxo de serviços e procedimentos entre as diferentes redes de cuidado,

o que de certo modo, inviabiliza o acesso a integral à saúde.

Nesse sentido, observa-se que há falha do SUS não apenas em satisfazer

as demandas destes sujeitos, mas principalmente na construção dos sujeitos da

cidadania sanitária, capazes de conhecer os seus direitos, de controlar, criticar e

propor políticas que garantam seus direitos sociais em geral, e à saúde em

particular.

Portanto, é preciso juntar esforços no sentido de vencer as barreiras

impostas pelo modelo biomédico ainda predominante no imaginário dos usuários e

nas práticas dos profissionais de saúde, que faz com que se perpetue a ideologia de

que os serviços ofertados na rede privada (mercadorias a ser consumidas) são

melhores dos que ofertados nos serviços públicos (concebidos como espaço

participativo de garantia do direito à saúde, mas praticado como oferta de

mercadoria com menor qualidade). Cabe ao próprio SUS promover a superação

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desta cultura mercadorizante que, desde há várias décadas, vem “medicalizando” a

sociedade. No caso da HA, a medicalização é particularmente relevante, embora o

atendimento dos usuários das USF priorize a prática da provisão individual de

medicamentos em detrimento das ações coletivas que promova mudanças no estilo

de vida e nos hábitos alimentares. Por um lado, tal medicalização implica uma

relação que privilegia a figura do médico (que prescreve a medicalização) com

relação ao restante da equipe multidisciplinar, desconfigurando a proposta fundante

da ESF como estruturante da atenção básica da saúde. E por outro lado, gera uma

relação usuário-serviço centrada nas figuras consumidor-provedor de cunho

individualista que dificulta a percepção da saúde como direito que se conquista

através da participação.

Nesta perspectiva, seria recomendável que a ESF diversifique e humanize

suas atividades relacionadas ao tratamento da HA, organizando ações coletivas

educativas, lúdicas, participativas e horizontalizantes (ou seja, sem a frequente

formalidade e verticalidade das palestras informativas). Este tipo de socialização,

além de favorecer o empoderamento da cidadania sanitária, promoveria a

aproximação dos usuários às unidades de saúde, estimulando a participação dos

mesmos também no controle social.

As mudanças necessárias para facilitar o acesso às ações e serviços de

saúde e vislumbrar uma qualidade melhor no atendimento no âmbito da Atenção

Básica à Saúde, envolvem questões referentes à revisão e reorganização da

assistência com a participação dos gestores, profissionais e usuários, além de

propiciar meios para o fortalecimento das relações e das práticas de humanização

do tratamento no SUS.

Ademais, a população precisa entender que o direito à saúde visando ao

acesso da população às ações e serviços de saúde essenciais não se resume na

obtenção de consultas, exames, procedimentos e medicamentos, mais que o direito

à saúde é antes de tudo um direito social indispensável para qualquer ser humano.

Vale ressaltar que para que esse direito se efetive nas práticas cotidianas dos

espaços sanitários é fundamental a participação dos sujeitos na construção e

implementação das políticas públicas de saúde.

Diante da realidade, o desenvolvimento deste estudo possibilitou uma maior

compreensão do acesso aos serviços de saúde via Estratégia de Saúde da Família

no município de Vitória da Conquista, se tornando um instrumento para elaboração

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de políticas públicas locais e poderá subsidiar futuras pesquisas no Campo da

Saúde e Direito.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Data: _____/______/_______

1. Identificação do (a) entrevistado (a) e dados sociodemográficos:

1.1 Nº da entrevista: ______

1.2 Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

1.3 Idade: _____ anos

1.4 Bairro:_____________

1.5 Escolaridade: _____________________________________________________

1.6 Recebe algum benefício social do governo (Bolsa Família, programa social,

etc.)? Qual? _______________________________________________________

1.7 Ocupação/profissão: _______________________________________________

1.8 Como é composta a sua família? Quantas dessas pessoas moram na sua

casa?_______________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. Caracterização do acesso (Dimensão geográfica)

2.1 Descreva como o senhor (a) faz para chegar até a USF? Como é o trajeto da

sua casa até a Unidade?

3. Caracterização do acesso (Dimensão organizacional)

3.1 Como o (a) senhor (a) avalia o atendimento para marcação de consultas?

3.2 Fale um pouco como é a sua relação com os profissionais de saúde. E a sua

relação os outros funcionários (recepcionista, porteiro, etc.)?

3.3 como é o atendimento quando é encaminhado (a) para outros serviços de saúde

(ambulatório/pronto socorro) para realização de consultas/exames?

3.4 Fale o que acha do prazo para realização e entrega de resultados de exames?

3.5 Como é o funcionamento da USF com relação a organização dos serviços, forma

e horário de atendimento, acolhimento, dentre outros aspectos?

3.6 Como é a disponibilidade e o acesso aos medicamentos na USF?

3.7 O (a) senhor (a) considera que têm profissionais suficientes na USF? Se não,

então qual é o (os) profissional (ais) que está fazendo mais falta?

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4. Caracterização do acesso (Dimensão Sociocultural)

4.1 Quais são os principais motivos levam (ou levariam) o (a) senhor a procurar os

serviços oferecidos na USF?

4.2 Os serviços oferecidos na unidade atendem suas necessidades básicas de

saúde? Se não, o que estaria lhe faltando?

5. Caracterização do acesso (Dimensão Econômica)

5.1 Quais são as despesas que o (a) senhor (a) tem ou já teve com saúde

(medicamentos, exames, consultas, etc.?

5.2 De que modo a comunidade participa das ações de saúde e controle ou

fiscalização da USF? Como o (a) senhor (a) procura participar?

6. Percepção sobre a doença

6.1 Como é ter pressão alta/hipertensão?

6.2 O (a) senhor (a) sente alguma coisa diferente quando está com pressão alta?

Sabe me dizer o que aumenta a sua pressão? Como o (a) senhor (a) faz para

controlar (tratar) a pressão alta?

6.3 Fale um pouco o que o (a) senhor (a) costuma comer no dia a dia.

7. Percepção do direito ao acesso à ESF

7.1 O que é saúde na visão do senhor (a)?

7.2 Quando procura atendimento à saúde, aqui na USF ou em geral, sente-se

respeitado nos seus direitos de cidadão? Se não, em quais situações sente-se ou já

sentiu-se desrespeitado?

7.3 Sabe me dizer se o governo tem alguma política ou programa específico para

atender as pessoas que sofrem de pressão alta? Se sim, o (a) senhor (a) sente-se

beneficiado? De que forma?

7.4 Que direitos o (a) senhor (a) tem enquanto cidadão usuário do Sistema Único de

Saúde? Como o (a) senhor (a) e/ou a comunidade faz/fez para garantir estes

direitos?

Roteiro adaptado de: Azevedo (2007)

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Prezado participante,

Convidamos você a participar da pesquisa Direito ao acesso à Estratégia de

Saúde da Família de Vitória da Conquista sob a óptica dos usuários com

hipertensão arterial, elaborada por Rosângela França Oliveira, aluna do Mestrado

em Direito e Saúde para o Município de Vitória da Conquista da Escola Nacional de

Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), sob

orientação do professor Dr. Gabriel Eduardo Schütz. O objetivo principal desta

pesquisa é conhecer as percepções dos usuários com hipertensão arterial

sobre o direito ao acesso à Estratégia de Saúde da Família em Vitória da

Conquista - BA. O convite a sua participação neste estudo se deve a importância

de saber a percepção das pessoas adultas e idosas que têm pressão alta sobre o

acesso aos serviços básicos de saúde, diante a necessidade de se aprimorar a

assistência à saúde da população usuário do Sistema Único de Saúde, sobretudo,

dos hipertensos. Sua participação é voluntária, portanto, não é obrigatória. Além

disso, uma vez consentida a sua participação na pesquisa você poderá desistir a

qualquer momento, sem sofrer qualquer tipo de penalização. No entanto, a sua

participação é de extrema importância para a execução da pesquisa. Você não será

exposto, nem seu nome divulgado e as informações dadas ficarão em sigilo e

guardadas em local seguro por pelo menos 5 anos, sendo manipuladas somente

pelos responsáveis pela pesquisa, assegurando proteção da sua identidade. Os

resultados da pesquisa serão analisados e posteriormente serão divulgados na

dissertação de mestrado, para a população em geral e em eventos científicos,

porém sua identidade não será divulgada nestas apresentações nem será utilizada

qualquer informação que permita a revelação da sua identidade. Você poderá

solicitar da pesquisadora informações sobre a sua participação e/ou sobre a

pesquisa a qualquer instante, em qualquer fase da pesquisa, isto pode ser feito

através dos meios de contato que se encontra no final deste Termo.

Rubrica pesquisador: ______________

Rubrica participante: ______________

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Com relação aos procedimentos adotados na pesquisa, saiba que primeiramente, a

pesquisadora dará informações sobre a pesquisa, e logo após fará uma entrevista,

Na entrevista é preciso que você responda algumas perguntas do roteiro de

entrevista, que serão gravadas e terá duração de aproximadamente 20 a 30

minutos. Esta pesquisa foi devidamente avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e será

desenvolvida de acordo as normas e diretrizes estabelecidas pela Resolução

466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A sua participação neste estudo trará

benefícios indiretos a população, pois irá colaborar na elaboração de estratégias que

facilite o acesso dos usuários hipertensos a ações de prevenção e promoção à

saúde no município de Vitória da Conquista e também contribuir para o

aprimoramento do Campo Direito e Saúde. Sabe-se que toda pesquisa apresenta

riscos, umas maiores outras menores a depender da escolha do objeto, dos

objetivos e da metodologia adotada, sendo assim, esta pesquisa possui riscos

mínimos para o participante, pois não serão adotados procedimentos invasivos,

envolve apenas aplicação de uma entrevista que poderá causar algum

desconforto/constrangimento ao responder alguma pergunta do roteiro de entrevista.

Este termo de consentimento possui duas vias que devem ter todas as páginas

rubricadas pelo pesquisador e participante da pesquisa (ou por uma pessoa

delegada e sob sua responsabilidade), constando as assinaturas de ambos na

última página do termo, sendo que uma via do termo ficará com você e a outra via

será mantida com a pesquisadora.

“Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade”.

Rubrica pesquisador: ______________

Rubrica participante: ______________

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Tel e Fax - (055) 21- 25982863

E-Mail: [email protected]

http://www.ensp.fiocruz.br/etica

Endereço: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua

Leopoldo Bulhões, 1480 –Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-

210

Se desejar, consulte ainda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep):

Tel: (61) 3315-5878 / (61) 3315-5879

E-Mail: [email protected]

___________________________________________

Rosângela França Oliveira – pesquisadora responsável

Contato com a pesquisadora responsável (mestranda na ENSP/FIOCRUZ):

Tel.: (77) 8818-7088. E-mail: [email protected]

VITÓRIA DA CONQUISTA, _____/ _____/2015

Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e

concordo em participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

Polegar Direito

Rubrica pesquisador: ______________

„ Rubrica participante: ______________

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ANEXOS

ANEXO A – OFÍCIO DE AUTORIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS

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ANEXO B – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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