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ESPECIALIZAÇÃO EM SEXOLOGIA APLICADA – PRESENCIAL e EAD DIREITO AO NOME NO REGISTRO CIVIL Ana Carolina Borges Advogada, Graduada em Direito pela Instituição Toledo de Ensino – ITE Bauru, Pós Graduanda em Direito Processual Civil pelo Complexo Educacional Damásio de Jesus, Presidente da Comissão da Diversidade Sexual da OAB Bauru/SP, Membro do Projeto TransEmpregos, Presidente do Núcleo de Diversidade Sexual do IBDFAM (Instituto Brasileiro do Direito de Família) de Bauru, Membro da Comissão da Diversidade Sexual da OAB/SP E-mail: [email protected] Facebook: https://www.facebook.com/acborgesadv

DIREITO AO NOME NO REGISTRO CIVIL - inpasex.com.br · por objetivo promover a defesa da integridade física, ... Isto posto, necessário se faz a readequação do nome de uma pessoa

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ESPECIALIZAÇÃO EM SEXOLOGIA APLICADA – PRESENCIAL e EAD

DIREITO AO NOME NO REGISTRO CIVIL

Ana Carolina BorgesAdvogada, Graduada em Direito pela Instituição Toledo de Ensino– ITE Bauru, Pós Graduanda em Direito Processual Civil peloComplexo Educacional Damásio de Jesus, Presidente da Comissãoda Diversidade Sexual da OAB Bauru/SP, Membro do ProjetoTransEmpregos, Presidente do Núcleo de Diversidade Sexual doIBDFAM (Instituto Brasileiro do Direito de Família) de Bauru,Membro da Comissão da Diversidade Sexual da OAB/SPE-mail: [email protected]: https://www.facebook.com/acborgesadv

1. INTRODUÇÃO E CONCEITOO que é pessoa?

Existem dois tipos de pessoas no mundo jurídico.

Temos a pessoa natural, que é o ser humano e a pessoa jurídica, que é um ente moral epersonificado.

1.1 DA PESSOA NATURAL“Pessoa natural é todo ser humano considerado como sujeito de direito e deveres. É o sujeito derelação jurídica, conforme reza o artigo 1º do Código Civil” (CASSETTARI, 2017, p. 46).

De acordo com o art. 1º do Código Civil:“Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”

Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 99) explica que:“A nomenclatura ‘pessoa natural’ revela-se, assim, a mais adequada como reconhece a doutrinaem geral, por designar o ser humano tal como ele é, com todos os predicados que integram a suaindividualidade.”

O que são sujeitos de uma relação jurídica?O direito assim como as demais ciências regulam a vida em sociedade e essa é composta depessoas.

No direito moderno, pessoa é sinônimo de sujeito de direito ou sujeito de relação jurídica.

Por definição:“Relação jurídica é toda relação da vida social regulada pelo direito”.(GONÇALVES. 2010, p. 98)

Abortamos toda forma conceitual presente nas doutrinas que define o nome de pessoa naturalcomo “coisa” ou “objeto”, pois definir o nome de uma pessoa natural como “coisa” ésimplesmente apavorante. Uma pessoa não pode ser considerada coisa ao menos que estaseja uma pessoa jurídica. Coisa é coisa e gente é gente.

Pessoa humana não é coisa e sim ser humano, que segundo a doutrina moral de Kant:

“É o ser humano, que não tem preço, mas dignidade”, por isso, como consigna renomadodoutrinador, “o ser humano é concebido como um fim em si mesmo e não deve ser tratadocomo meio, pois não tem equivalente” (KANT, 1986, p. 77).

Coisa é aquilo que podemos segurar em nossas mãos e transportá-la para qualquer lugar semobjeção desta e sem que a coisa sofra qualquer risco de vida; diferente da pessoa humana quenão se pode pegar nas mãos e fazer o que quisermos, então, embora respeitamos a formacomo alguns doutrinadores conceituam o nome da pessoa natural, apenas ressaltamos quepessoa natural, portanto, é pessoa humana, é gente e não coisa.

1.2 DO INÍCIO DA PERSONALIDADE JURÍDICA“Art. 2º - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,desde a concepção os direitos do nascituro”.

Personalidade jurídica é compreendida como a aptidão genérica para ser titular de direitos econtrair obrigações (limitadas até que adquira capacidade).

Tem-se o nascimento com vida como o marco inicial da personalidade (matéria viva).

A personalidade jurídica é um dos temas mais importantes dentro do âmbito do Direito, posto que asua regular caracterização é o ponto de partida de todo ser humano, bem como para todo equalquer debate.

Existem autores que entendem que a pessoa natural precisa nascer com vida para que passe aadquirir personalidade jurídica e a partir daí dizer que esta é um sujeito titular de direitos.

A personalidade civil é tratada pelo ramo do Direito Civil e por ser um tema de bastanterelevância também é um dos temas causadores de conflitos acerca do início da personalidadeentre os juristas renomados desde os mais tradicionais aos considerados modernos ou oscontemporâneos.

Todavia em razão de tratar-se de um tema bastante abrangente que reflete em todos os demaiscampos da sociedade e da vida da pessoa merece atenção especial.

1.3 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE (arts. 11 a 21, CC)

“São direitos inerentes à pessoa natural ou jurídica, dotados de personalidade jurídica, que tempor objetivo promover a defesa da integridade física, moral e intelectual.” (CASSETTARI, 2017, p. 66)

Os direitos da personalidade embora sejam regulamentados pelo Direito Privado não devemosignorar ser este um desdobramento da Constituição Federal que, sob o manto dos “Direitos eGarantias Fundamentais” garante aos cidadãos proteção, onde, em conjunto com os objetivos daRepública visam tutelar os direitos inerentes à pessoa humana.

Desdobramento do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

São espécies de direitos da personalidade:- Direito à vida: proteção da existência da pessoa natural e do nascituro;

- Direito à integridade física: proteção à saúde pessoal;

- Direito ao corpo e partes separadas: utilização do corpo como lhe aprouver, exceto se atentar contra à vida, saúde física e mental (vedada também a comercialização de partes do corpo);

- Direito à imagem: proteção à imagem, a expressão visual do titular;

- Direito à honra: proteção a aspectos morais da personalidade;

- Direito à voz: retirar proveito econômico da sua expressão vocal;

- Direito aos alimentos: de receber alimentos para subsistência quando necessitar;

- Direito ao nome: de ter, substituir, proteger quando utilizado sem autorização;

Características dos direitos da personalidade:

a) intransmissíveis;b) irrenunciáveis;c) indisponíveis;d) incomunicáveis;e) impenhoráveis;f) imprescritíveis;g) perpétuo;h) oponível erga omnes.

2. DO DIREITO AO NOMEO direito ao nome encontra-se estabelecido no artigo 16 do Código Civil que assim prescreve:“Art. 16 – Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.

Por uma questão lógica, compete-nos a tarefa de, primeiramente definir o conceito de nome para,depois apresentarmos as suas características, especificidades, bem como a forma como esteinstituto é tratado dentro do ordenamento jurídico e, por fim, seus reflexos legais que envolve apessoa natural.

Contudo, sabemos que no campo do “direito ao nome” este compreende não somente o nome dapessoa natural, mas também da pessoa jurídica, contudo, dado o desiderato desta auladispensaremos estudos apenas quanto ao nome da pessoa natural e seus aspectos civis e sociais,cujos olhos encontram-se voltados em específico ao nome (identidade) das pessoastransgêneras.

2.1 Conceito“É através do nome que as pessoas se distinguem umas das outras tanto nas relações civis quantonas jurídicas”. (BORGES, 2015, p. 37)

Para Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 148):“Nome é a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa identifica-se no seio da família e dasociedade”.

Serpa Lopes (1959, p.165) e anota que:“Visa o nome ministrar o conjunto de elementos que permitem, de um lado distinguir socialmenteuma pessoa de outra; de outra parte, a sua fixação jurídica, quando necessária. Essaindividualização é conseguida por meio do nome correspondendo a uma necessidade de ordempública, qual seja, a de impedir que uma pessoa com outra se confunda, e a facilitar a aplicação dalei, o exercício de direitos e o adimplemento de obrigações”.

Em suma e de maneira simplista o nome é entendido como elemento individualizador da pessoanatural (diríamos que é um dos elementos individualizadores da pessoa natural) segundo o qual éempregado em sentido amplo e integra a personalidade do indivíduo não somente durante avida, mas também após a morte.

E assim como a vida, o nome dada sua fundamental importância merece ampla proteção, posto quedecorre de um Direito Fundamental (inerente ao ser humano).

Assim nos lembra Flávio Tartuce (2016, p. 97):“Sabe-se que o Título II da Constituição de 1988, sob o título “Dos Direitos e GarantiasFundamentais”, traça as prerrogativas para garantir uma convivência digna, com liberdade e comigualdade para todas as pessoas, sem distinção de raça, credo ou origem. Tais garantias sãogenéricas, mas também são essenciais ao ser humano, e sem elas a pessoa humana não podeatingir sua plenitude e, por vezes, sequer pode sobreviver.”

Todavia, ao dizermos que o nome é um dos elementos individualizadores da pessoa naturalestamos abrindo aspas para lembrar que há outros elementos que também individualizam apessoa no mundo jurídico e civil.

Ex.: Domicilio, estado civil, naturalidade, nacionalidade, idade, sexo, raça, identidade, etc.

Como se nota o gênero de uma pessoa também é algo inerente à pessoa natural e que porconsequência lógica serve de individualizador e também deve refletir a realidade da pessoa.

Maria Berenice Dias ressalta que:“O nome e o gênero sexual cumprem duas funções: de representação, que é como o sujeito sereconhece e assim se apresenta no meio social; e de identificação, como o meio social oreconhece” (DIAS, 2014, p. 279).

Além dessa característica que o uso do nome decorre de uma individualização, é imperioso notarsua importância sob outros aspectos, em especial sob a ótica da cidadania, bem como pelaperspectiva social reforçada pelo Registro Civil da Pessoa Natural por meio da Certidão de RegistroCivil.

Sob esse aspecto, Cassettari explica que:“O registro civil das pessoas naturais é serviço público de organização técnica e administrativadestinado a garantir publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos e fatos da vida, bemcomo do estado da pessoa natural”.

De tal modo, é por meio desse documento denominado de Registro Civil que as pessoas sãoindividualizadas onde toda e qualquer averbação futura serão prenotados nesse documento, comopor exemplo, casamento, óbito, união estável, interdição, divórcio ou dissolução de união estávelentre outros; o mesmo deve ocorrer quando da substituição do nome admitidas na legislaçãoconforme veremos adiante.

As informações registrais servem de base de dados para o bom desenvolvimento social, razão pelaqual o registro deve refletir necessariamente a realidade da pessoa humana.

Isto posto, necessário se faz a readequação do nome de uma pessoa transgênera para que o seuregistro reflita a sua realidade física e psíquica, sob pena de violação da dignidade humana.

Para tanto, temos a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73) que regulamenta questõesrelativas ao nome, traçando a forma como este deve ser registrado, assim como as limitações quedevem ser observadas pelo Registrador e disciplina ainda quanto a possibilidade de suasubstituição, respeitadas as hipóteses permitidas, entre outras peculiaridades existentes nessanorma.

Em suma, significa dizer que ao nascer a pessoa obrigatoriamente é registrada no Cartório deRegistro Civil de Pessoas Naturais cujo documento deverá constar seu nome, prenome,sobrenome, filiação, data e local de nascimento, nacionalidade entre outras observações que alideverão constar conforme previsão estipulada pela Lei de Registros Públicos.

2.2 ELEMENTOS QUE COMPÕE O NOME

De acordo com art. 16 do Código Civil:“Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.

• Nome: É entendido em sentido amplo, indicando o nome completo que compõe-se deprenome (antigamente denominado de nome de batismo) e de sobrenome ou apelidofamiliar (nome de família ou simplesmente nome).

• Prenome: É o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguis membros da mesmafamília.

• Sobrenome: É o sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ouestirpe. Escolhido livremente pelos pais, desde que não exponha o filho ao ridículo.

nome completo

Exemplo: “Paulo Henrique dos Santos”(prenome) (sobrenome)

O nome divide-se em: aspecto público e individual- Aspecto Público: decorre do fato de o Estado ter interesse que todas as pessoas sejamperfeitamente identificadas e individualizadas corretamente na sociedade pelo nome, e por essarazão, o uso do nome é regulamentado pela Lei de Registros Públicos – Lei nº 6.015/73, “proibindo”a alteração do prenome, salvo exceções expressamente admitida em lei e em hipóteses em que oregistro do prenome são suscetíveis de expor o sujeito (pessoa) ao ridículo.

- Aspecto Individual: consiste no direito ao nome, no poder de por ele ser reconhecido eidentificado, podendo ainda, reprimir qualquer abuso cometido por terceiros.

Existem outras variações (elementos nominais)Utilização de apelido público (nome social) ou pseudônimo ou codinome em substituição do nomecivil.

• Pseudônimo (ou codinome): designa alguém com qualidades e tendências diferentesdaquela do registro civil.

Ex.: Di Cavalcanti, Fernando Pessoa, Paulo Coelho.

• Nome Social (apelido público ou popular): é entendido como apelido público que podemsubstituir o prenome oficial (art. 58 – LRP).

Ex.: Xuxa, Lula, Pelé.

Obs.: qualquer designação diversa do nome de registro integra a personalidade da pessoa.

PARTINDO DO PRINCÍPIO DE QUE ...

Duas pessoas se unem com a finalidade de procriação ou ainda lembrando a possibilidade daadoção a primeira coisa com a qual os genitores se preocupam, sejam estes biológicos ouadotivos é quanto ao sexo morfológico (genitália) da pessoa ali gerada.

Então partindo dessa descoberta (pênis ou vagina / menino ou menina) a segunda preocupaçãoé quanto ao nome que irão atribuir a esta pessoa que, segundo a sociedade o nome dessapessoa “deve” ir de encontro com o sexo morfológico (feminino ou masculino) da pessoa gerada.

Notamos com essa afirmação que são os pares que escolhem o nome do nascituro e,portanto, estes ao escolher o nome com isso também passam a imaginar e atribuir ascaracterísticas futuras da pessoa gerada.

Como dito acima, via de regra o nome acaba sendo uma decorrência do sexo (morfológico)daquela pessoa que, após o nascimento com vida, será este o seu designativo identificador eindividualizador.

Isto é, aquela pessoa será identificada por aquele nome escolhido pelos seus pais.

Importante voltar os olhos para a afirmação que acabamos de fazer: o nome é escolhido pelospais em razão do sexo morfológico.

Se menino, deverá utilizar a cor azul... Se menina, cor-de-rosa... E assim vai...

Todavia, não raras as vezes o nome atribuído pelos pares ao nascituro pode não ser de “gosto” dapessoa pelo simples fato de não lhe agradar, ou então, por vezes, o nome que lhe foi atribuído podeser capaz de gerar constrangimentos, ou ainda, não ser este nome (indicativo, individualizador)adequado com o gênero pelo qual essa pessoa se identifica (e aqui falamos de sexo psicológico).

Exemplo: “Maria da Silva Pinto” “Maria da Silva Pinto”

Exatamente como ocorre no caso das pessoas transgêneras – que recebem um nome quandodo nascimento correspondente ao sexo biológico, mas que no decorrer da vida reconhece a sua nãoidentificação com aquele sexo biológico, logo, àquele nome atribuído a pessoa passa também a nãoser compatível com a identidade física e psíquica da pessoa.

E o que é possível fazer quando uma pessoa transgênera não se identificacom o seu gênero e tão logo com o seu nome de registro que lhe foi dadoquando de seu nascimento?

É possível substituir o nome de registro por outro?

Como isso é feito?

Esse é o Victor...

Retificação de Prenome: quando, como e porque?Assim como a vida o nome é um direito fundamental, faz parte da personalidade da pessoa.

Uma pessoa sem vida, não é possível dizer que esta existe no mundo jurídico, do mesmo modo, umapessoa sem nome, também não é considerada existente e, uma pessoa transgênera que sem umnome condizente com a sua realidade física e psíquica também não.

Logo, uma pessoa transgênera que sem um nome condizente com sua realidade física e psíquica éconsiderada como que inexistente – incapaz de exercer seus direitos. Tão logo, uma pessoatransgênera em situação como esta não possui uma vida digna.

Se a Constituição Federal nos diz que um dos princípios da Federação é o Direito a Dignidade Humana inicia-se daí a justificativa e fundamentação para que uma pessoa transgênera possa existir e além de existir ter seunome e gênero adequados à sua realidade.

A Lei de Registros Públicos VEDA que uma pessoa receba um nome que lhe cause situação vexatória, eautoriza que uma pessoa que tenha sido registrada com um nome vexatório o substitua por outro.

A mesma lei autoriza que uma pessoa substitua o seu prenome por um apelido público, desde que essapessoa seja conhecida de forma pública e notória por esse apelido.

NOME SOCIAL = APELIDO PÚBLICO

“Art. 55 da LRP - Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial lançará adiantedo prenome escolhido o nome do pai, e na falta, o da mãe, se forem conhecidos e não o impedira condição de ilegitimidade, salvo reconhecimento no ato.Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor aoridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, estesubmeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisãodo Juiz competente.

“Art. 58 da LRP - O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição porapelidos públicos notórios.”

Retificação de Prenome e Sexo de Pessoa TransexualNecessariamente deve preencher dois requisitos:

- Nome Vexatório- Apelido Público

Mas a lei não diz que pessoa transexual pode alterar o prenome...Não diz, mas também não proíbe, logo não havendo na letra da lei qualquer proibiçãorelativamente a transexuais – e, como se sabe, onde a lei não discrimina, não cabe ao interprete,portanto, discriminar, consoante a melhor hermenêutica. Logo, a existência de permissivo legalexpresso (e, ainda que assim não fosse, a ausência de proibição expressa) torna o pedidojuridicamente possível e cabível.

“Ora, se uma pessoa, digamos, não transexual tem o direito a realizar a alteração de seuprenome nos registros civis (preenchidos os requisitos legais) sem maiores delongas, porque arecíproca para uma pessoa transexual não é verdadeira? Ambos são iguais em direitos eobrigações e assim deve se reiterar o entendimento dos Tribunais.”

Ana Carolina Borges

E o sexo (gênero)?A lei não dispõe sobre alteração de gênero, mas por uma questão lógica entende-se que o sexo(gênero) é atributo que segue (acompanha) o prenome.

“É de se salientar que alterar somente o prenome e não alterar o sexo é também criar umaproblemática, uma futura e provável situação vexatória e constrangedora para a pessoa, quiçá,maior do que a já vivenciada, pois enquanto de um lado um problema é sanado outro é criado.”

Ana Carolina Borges

“Sexo é algo morfológico e, portanto, relativamente ligado à questão biológica ao passo quegênero enquanto construção social e psicológica segue direções nem sempre compatíveis com adeterminação biológica e dessa aparente contradição, surge a transgressão e toda dificuldadeem entender e lidar com o assunto.”

Alexandre Saadeh.

“Discutir transexualidade nos remete a discutir identidade de gênero deslocada da biologia porquesão pessoas que tem todas as genitálias normais, toda estrutura biológica, cromossosmosabsolutamente normais e, no entanto, não se reconhecem no corpo. E, nesse sentido, a genitália éapenas uma das partes do corpo”.

Berenice Bento

Ah, mas como que eu vou alterar o sexo (gênero) de alguém sem que essa pessoa tenha um órgão genital equivalente ao prenome?

Ah, mas a pessoa trans não fez a cirurgia de adequação sexual ou genital...

De acordo com os Princípios de Yogyakarta (2007, p. 13 e 14):“Nenhuma pessoa deverá ser forçada a se submeter a procedimentos médicos, inclusive cirurgia demudança de sexo, esterilização ou terapia hormonal, como requisito para o reconhecimento legal desua identidade de gênero”.

“A não realização de uma cirurgia seja mastectomia, seja de redesignação sexual ou outra qualquer,não pode ser considerada causa impeditiva para a alteração/retificação de prenome e sexo noregistro civil.”

Ana Carolina Borges

“O Estado não pode interferir ou impor como condição a realização de uma cirurgia seja ela qual forpara que uma pessoa seja devidamente reconhecida dentro da sociedade e viva de maneira dignacomo toda e qualquer outra pessoa”.

Ana Carolina Borges

Como é feita a substituição do prenome e gênero de uma pessoa ?

01 de Março de 2018*ADI nº 4275 STF

Via Judicial Via AdministrativaProvimento CNJ nº 73 de 28.06.2018

*ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade)

VIA JUDICIAL

E A QUESTÃO DO LAUDO...PRECISA DE LAUDO OU NÃO??

Criação da jurisprudência...

DECISÃO DO STF – ADI 4275Em 01.03.2018 foi julgada a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) proposta pela PGR(Procuradoria Geral Regional) que teve como objeto a questão da retificação de prenome e sexode pessoas transgêneras nos registros civis independente de cirurgias e com base nos Princípiosda Dignidade da Pessoa Humana, da Não Discriminação, Igualdade e Isonomia, devendo nessesentido o artigo 58 da Lei 6.015/73 ser interpretado de acordo com a Constituição Federal cujo pedidofeito pela Procuradoria também englobou não só a desnecessidade de cirurgia, mas também adesnecessidade de apresentação de laudos médicos ou psicológicos, atestados dehormonioterapia e também o pedido comportava o afastamento da intervenção Judicial, ouseja, para que a retificação pudesse ser feita de forma administrativa – direto em cartório.

Por decisão unanime, a Suprema Corte decidiu pela procedência total dos pedidos.

À época a decisão dependia de regulamentação de como os Cartórios de Registros Civis deveriamproceder com essa retificação.

VIA ADMINISTRATIVA (Provimento do CNJ nº 73 de 28.06.2018)

Como de praxe o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) cumpriu com essa tarefa e entãoregulamentou o procedimento e as atividades dos Cartórios os quais hoje são obrigados aproceder com a retificação de prenome e sexo da pessoa transgênera que assim se declare.

Evidentemente que não é tão simples assim e além de o Provimento conter alguns “erros” que nãoeram vedados quando do ajuizamento de uma ação exige uma série de documentos.

Os Cartórios devem se resguardar, pois infelizmente vivemos em um País onde há muitas pessoascuja intenção é fraudar a lei e não simples se adequar enquanto ser humano.

Provimento do CNJ nº 73 de 28.06.2018

Quais são os meus direitos?- Vida

- Nascimento (adoção, reprodução assistida, fertilização in vitro)

- Nome

- Saúde

- Educação

- Casamento/união estável

- Divórcio/dissolução união - Guarda Compartilhada- Alimentos- Partilha de bens

- Aposentadoria

- Morte - Sucessão (herança)

... (TODOS!!!!!!!!!!)

YANN

Homenagem à Larissa Giannoccaro Linares: O nome Larissa tem origem Grega e significa CHEIA DE ALEGRIA.