direito-aplicado-i

Embed Size (px)

Citation preview

DIREITO APLICADO I

PROFESSORES: CAP PM JAILSON DAMASCENO DE JESUS SANTOSGraduado em Segurana Pblica Graduando em Direito E-mail: [email protected]

Cap PM ADENILTON PINTO LOPESGraduado em Segurana Pblica Graduado em Direito E-mail: [email protected]

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

2

SUMRIO

APRESENTAO

7

1 BREVE HISTRICO DO DIREITO E CONCEITO 8 2 DIREITO E MORAL 9 3 ORGEM E CARACTERSTICA DAS NORMAS JURDICAS 10 4 FONTES DO DIREITO 11 5 CESSAO DA OBRIGATORIEDADE DA LEI 13_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

3

6 RELAO JURDICA

13

7 ORDENAMENTO JURDICO 15 8 O DIREITO OBJETIVO 9 O DIREITO SUBJETIVO 10 O DEVER SUBJETIVO 16 16 17

11 A DIVISO NO DIREITO POSITIVO 17 12 HIERARQUIA DAS LEIS (NUNES, 2003). 20 13 ESTUDO DOS PRCIPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS 23_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

4

14 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (BRASIL, 1988). 27 15 BREVE HISTRICO SOBRE O DIREITO PENAL E CONCEITO 34 16 ENTENDENDO NOSSO CDIGO PENAL (BRASIL, 1940). 38 17 NORMAS DA PARTE ESPECIAL DO CP (BRASIL, 1940). 44

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

5

18 CLASSIFICAO LEGAL DOS CRIMES EM ESPCIE (BITTECOURT, 2003). 45 19 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 46 20 HOMICDIO 48 21 INDUO, INSTIGAO E AUXLIO AO SUICDIO 64 22 LESO CORPORAL 65 23 ABANDONO DE INCAPAZ 68 24 OMISSO DE SOCORRO 69_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

6

25 CRIMES COMISSIVOS POR OMISSO OU OMISSIVOS IMPRPRIOS 70 26 OMISSO DE SOCORRO NO TRNSITO 71 27 MAUS TRATOS 28 RIXA 71 74

29 ABUSO DE AUTORIDADE 75 30 CRIMES CONTRA A HONRA 79 REFERNCIAS BIBLIOGRAFIACap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

83 84

_____________________________________________________________________________

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

7

Apresentao necessrio iniciarmos nossos estudos sobre noes de Direito, sabendo que a importncia em apreend-los em nossas mentes e aplic-los no nosso dia-a-dia fundamental para que possamos desenvolver com eficcia as nossas atividades profissionais. Conhecer os nossos deveres pr-requisito para buscarmos os nossos direitos e cumprirmos com excelncia as nossas misses. Diante de tantas mudanas sociais que vem ocorrendo desde o incio da vigncia da constituio intitulada cidad (CF/88), ns, profissionais que temos o privilgio de _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

8

promover a segurana ostensiva e, por conseguinte o respeito dignidade da pessoa humana, temos o compromisso de presteza com ns mesmos e com toda a sociedade. notrio que diante da amplitude e da importncia do presente estudo, o contedo aqui apresentado apenas serve de base para os futuros profissionais, tendo estes a obrigao e necessidade de buscar conhecimentos complementares em outras fontes, pois a formao um processo dinmico, e como tal, no h espao para acomodaes. Indo de encontro ao verso da msica Pra no dizer que no falei de flores composta por Geraldo Vandr, onde se afirma que nos quartis se ensinam a morrer pela Ptria e a viver sem razo, o novo profissional de segurana pblica deve ter noo da importncia da carreira que por motivos diversos acaba de abraar, e por conta disso, no se pode viver sem razo, mas atravs da qualificao profissional, contribuir com a sociedade na busca da paz e do respeito aos Direitos Humanos, objetivos estes razes da nossa existncia profissional. Bons estudos! Cap PM Adenilton

1 BREVE HISTRICO DO DIREITO E CONCEITO interessante iniciarmos nossa abordagem por este tpico, haja vista, tratar-se de um tema polmico para aqueles que tero contato pela primeira vez no estudo desta cincia jurdica, porm sem ter a oportunidade, face no estar em um curso regular da graduao, de um aprofundamento nos estudos. Isto por que no existe um consenso sobre o conceito de DIREITO. Desta forma, v-se logo que no tarefa das mais fceis, dada a enorme quantidade de vises ideolgicas que a envolvem. Por isso vamos nos servir de definies fornecidas pelo mestre Rubem Nogueira, que afirma em sua obra: direito a cincia normativa da conduta social do homem.Outra definio fornecida por RADBRUCH (1940, p.4): o conjunto das normas gerais e positivas, que regulam a _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I _____________________________________________________________________________

9

vida social. Ou ainda, conjunto de normas de conduta impostas para regularizar a convivncia humana. Como expomos, no existe uma definio nica, todavia, todas possuem a mesma essncia. Origina-se a palavra direito do latim directum, significando aquilo que reto, que est de acordo com a lei. Nasceu junto com o homem, que um ser eminentemente social. Destina-se a regular as relaes humanas. As normas de direito asseguram as condies de equilbrio da coexistncia dos seres humanos, da vida em sociedade. Imaginem e reflitam: como seria uma sociedade sem normas reguladoras de conduta? Qual o nosso papel como policial frente a tais normas? 2 DIREITO E MORAL O ser humano no um produto simples da natureza, mas o resultado do convvio com outros homens. Por isso, apesar de sua sociabilidade, h nele, sempre, algo de prprio, tipicamente individual, que no se dissolve no social nem se torna comum. Assim, no possvel negar que o homem jamais se desnuda, por completo, de seus instintos egostas, motivo pelo qual no se consegue apagar, nem mesmo superar, a sua inclinao, muito natural, de fazer prevalecer os seus interesses quando em confronto com seus semelhantes. Alm disto, todo arcabouo social, respaldado no aparato que visam a adapt-lo, no consegue suprimir ou reduzir o seu livre arbtrio na escolha de como se comportar. Parece indiscutvel, no entanto, que se cada qual fosse permitido socialmente como bem lhe aprouvesse, deixando-se governar pelo seu egosmo e ambio, tendo como medida de ao o seu poder e a fraqueza do outro, a vida em comunidade seria intolervel e praticamente impossvel o avano para formas superiores de civilizao. No se poderia, ao menos, considerar sociedade humana um agrupamento dessa ordem. Portanto, no h que falar em direito sem alteridade, isto , a relao com o outro. Observemos o exemplo: enquanto Robinson Cruso vivia sozinho na ilha, no importava o surgimento do direito. Que importncia teria de reconhecer o seu direito de propriedade sobre sua cabana, se era o nico morador da ilha? Entretanto, com o aparecimento do ndio Sexta-feira, houve a necessidade social de se implantarem regras de conduta que viabilizariam a convivncia pacfica entre ambos. Outro exemplo o papel desempenhado pelo ator Tom Hanks, no filme o Nufrago. Assistam !!! _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 10 _____________________________________________________________________________ A vida em sociedade exige a observncia de outras normas para estabelecer o processo de adaptao social a Religio, a Poltica, a Educao, a MORAL e etc. As jurdicas e morais tem em comum o fato de constiturem normas de comportamento. No entanto, distinguem-se precipuamente pela sano (que no direito imposta pelo Poder Pblico para constranger os indivduos observncia da norma, e na moral somente na conscincia do homem, traduzida pelo remorso, pelo arrependimento, porm sem coero) e pelo campo de ao, que na moral mais amplo. Mas no h que confundir a Moral com qualquer outro processo de adaptao social. A importncia da existncia e do cumprimento de imperativos morais est relacionada a duas questes: a) a de que tais imperativos buscam sempre a realizao do bem - ou da justia, da verdade, etc. enfim, valores positivos. b) a possibilidade de transformao do ser - comportamento repetido e durvel, aceito amplamente por todos (consenso) em dever ser, pela verificao de certa tendncia normativa do real. As outras, apesar de sua importncia para adaptao humana, so normas estritamente sociais. 3 ORGEM E CARACTERSTICA DAS NORMAS JURDICAS Na sua finalidade de ordenar a conduta humana, obrigatoriamente, o direito valora os fatos e, atravs das normas jurdicas, erige a categoria de fato jurdico aquele que tem relevncia para o relacionamento inter-humano. V-se, portanto, que os fatos sociais relevantes para o relacionamento inter-humano so normatizados, ou seja, os fatos jurdicos so um campo do universo dos fatos sociais, fazendo surgir direitos, deveres, pretenses, obrigaes, etc.

FATOS SOCIAIS

FATOS JURDICOS

Figura 1. Diferena entre fatos sociais e fatos jurdicos (Nunes, 2000).

A eficcia do fato jurdico a concretizao das suas conseqncias jurdicas, representadas estas pelo surgimento de direitos e deveres entre as partes envolvidas no _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 11 _____________________________________________________________________________ relacionamento. Mas importante que se compreenda: Todo fato jurdico antes demais nada um fato social. Um exemplo para ficar mais bem compreendido: As meras relaes de cortesia no criam direito, como a de A poder exigir que seu vizinho B o cumprimente toda manh, sob pena de ser constrangido a faz-lo ou punido por no o fazer. Este mesmo fato do cumprimento, em outras situaes, pode acarretar resultados jurdicos o acontece entre os militares (nossa realidade!!), em que pode ser punido o subordinado que no prestar continncia ao seu superior porque h uma norma jurdica que assim o estabelece. Assim, as normas jurdicas so as regras imperativas pelas quais o direito se manifesta, e que estabelecem as maneiras de agir ou de organizar, impostas coercitivamente aos indivduos, destinando-se ao estabelecimento da harmonia, da ordem e da segurana da sociedade humana. Mas no h que confundir norma jurdica com lei. A primeira tem o carter de contedo, j a segunda de natureza formal. Agora j podemos entender que as normas jurdicas, como estabelece Antonio Nunes (2000), elas renem as seguintes caractersticas: Bilateral envolve duas partes Generalidade - geral; atinge a todos sem distino. Imperatividade poder de mando da norma; impe conduta individual e coletiva e tambm a organizao social. Abstrata no personaliza. Coercitiva impe-se vontade do indivduo e imposta pelo Estado Sano estabelece uma punio. 4 FONTES DO DIREITO Devemos de incio buscar entender o sentido da expresso fonte do direito. No precisamos sair do senso comum para entender o seu significado. Fonte a nascente da gua, e especialmente a bica donde verte gua potvel para o uso _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 12 _____________________________________________________________________________ humano. De forma figurativa, ento o termo fonte designa a origem, a procedncia de alguma coisa. Vai-se dizer, ento, que fonte do direito o local de origem do Direito; , na verdade, j o prprio Direito, mas sado do oculto e revelado ao mundo. A fim de evitar uma polmica ou um debate acirrado sobre o tema, j que, conceitos e classificaes podem vir a variar de autor para autor. Vamos utilizar a previso prescrita na Lei de Introduo do Cdigo Civil (BRASIL, 1942) que considera fontes formais do direito, a lei, a analogia, o costume e os princpios gerais de direito e no formais a doutrina e a jurisprudncia. Lei regra de direito, abstrata e permanente, dotada de sano, expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho obrigatrio e de forma escrita; Analogia Processo de raciocnio lgico pelo qual o juiz estende um preceito legal a casos no diretamente compreendidos na descrio legal. O juiz pesquisa a vontade da lei, para transport-la aos casos que a letra do texto no havia compreendido; Costume uso reiterado de uma conduta pelos membros ou uma parcela do corpo social, formando-se paulatinamente, quase imperceptivelmente, chegando a determinado momento, em que aquela prtica reiterada tida como obrigatria. necessrio que o costume tenha certo lapso de tempo, pois se deve constituir em um hbito arraigado, bem estabelecido. Princpios gerais do direito Existem muitas teorias de ordem filosfica o que procuram explicar os Princpios gerais de Direito. Didaticamente podemos dizer que so regras oriundas da abstrao lgica do que constitui o substrato comum do direito. Por ser um instrumento to amplo e de tamanha profundidade, sua utilizao difcil por parte do julgador, pois requer traquejo com conceitos abstratos e concretos do Direito e alto nvel cultural. Doutrina o trabalho dos juristas, dos estudiosos do direito dentro dos campos tcnico, cientfico e filosfico. Jurisprudncia Conjunto de decises dos tribunais, ou uma srie de decises similares sobre uma mesma matria. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 13 _____________________________________________________________________________

5 CESSAO DA OBRIGATORIEDADE DA LEI Revogao consiste na cessao da obrigatoriedade da lei. A lei s perde sua obrigatoriedade quando outra lei de mesma ou superior hierarquia a revoga. Formas de revogao: Quanto ao contedo a) b) Ab-rogao consiste na revogao de todo o texto da lei. Derrogao a revogao parcial do texto legal, permanecendo em vigor

alguma parte da norma. - Quanto forma a) Auto-revogao a prpria lei fixa o prazo de sua vigncia, ou seja,

determina a data em que deixar de ser obrigatria. b) revogados. c) Tcita - a lei revogadora nada diz a respeito dos textos revogados, seu Expressa quando a lei revogadora diz quais os textos da lei anterior so

contedo e que incompatvel com o texto da lei anterior, seja total ou parcialmente.

6 RELAO JURDICA O estudo deste tema necessita a compreenso sobre desdobramentos da palavra direito, ou seja, diversas denotaes da mesma palavra que so, para o nosso interesse, traduzidas pelas expresses direito objetivo e direito subjetivo. O ilustre mestre Monteiro (2006) traz baila a conceituao com clareza solar. Direito Objetivo a regra de direito, a regra imposta ao proceder humano, a norma de comportamento a que o indivduo deve se submeter, o preceito que deve inspirar sua atuao. A no observncia pode ser compelido mediante coao. O direito objetivo designa o direito enquanto regra. Direito Subjetivo o poder. So as prerrogativas de que uma pessoa titular, no sentido de obter certo efeito jurdico, em virtude da regra de direito. A expresso designa _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 14 _____________________________________________________________________________ apenas uma faculdade reconhecida pessoa pela lei e que lhe permite realizar determinados atos. a faculdade que para o particular deriva da norma. Por outras palavras, direito objetivo o conjunto das regras jurdicas (norma agendi), direito subjetivo o meio de satisfazer interesses humanos (facultas agendi). Como exemplo, respeitar as normas de trnsito um direito objetivo imposto ao indivduo. Ao abrir o Cdigo Penal (BRASIL, 1940) e ler o art. 138 que tipifica o crime de Calnia est ali exposto o direito objetivo que a proibio de A caluniar B. Como exemplo de direito subjetivo, exemplificamos o direito a propriedade que gera as prerrogativas de usar, gozar e dispor do bem. Outro exemplo a faculdade de B que foi caluniado exigir do sistema jurdico a aplicao de uma sano institucionalizada. A partir deste entendimento torna-se fcil compreenso deste tpico. A relao jurdica antes de tudo uma relao social. No uma relao social comum. na verdade uma relao social especial, estabelecendo uma correlatividade entre os direitos e poderes e as obrigaes e deveres. Uma vez produzido o fato jurdico, surge um vnculo entre dois ou mais sujeitos de direito, em virtude do qual um deles tem a faculdade de exigir algo que o outro deve cumprir. Basicamente, constitui-se a relao jurdica de quatro elementos essenciais, que so: a) SUJEITO ATIVO b) SUJEITO PASSIVO c) VNCULO JURDICO ou VNCULO DE ATRIBUTIVIDADEd) OBJETO. (MONTORO, 2006). Sujeito Ativo , propriamente o titular do direito subjetivo, aquele que, tem as vantagens dele e dele pode tirar os benefcios e proventos exercitando-o nos termos da lei. (PLCIDO E SILVA, 2003). Sujeito Passivo aquele que se pode exigir o cumprimento de uma obrigao, estando assim submetido a um dever jurdico de satisfazer o objeto da obrigao, de que o devedor. (PLCIDO E SILVA, 2003). Os sujeitos ativos e passivos so extremamente dinmicos. Vnculo Jurdico a concreo da norma jurdica no mbito do relacionamento estabelecido na relao jurdica. o que garante a pretenso do titular do direito. Objeto a figura central em torno do qual se constitui a prpria relao jurdica. Observemos o exemplo ilustrativo: Xisto furta Tcio. Vejamos. Sujeito Ativo. Xisto. Sujeito Passivo. Tcio. Vinculo Jurdico. Art. 155 do Cdigo Penal (BRASIL, 1940).

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 15 _____________________________________________________________________________ Objeto. O bem juridicamente tutelado, neste caso, a propriedade, posse e deteno da coisa. E onde o Policial Militar integra esta relao jurdica? Em lugar algum, mas sim, como instrumento do poder pblico que tem a obrigao de evitar que o delito ocorra, pois dever do Estado proporcionar segurana e harmonia as pessoas. Uma vez acontecendo o fato tpico, dever ser envidado todo esforo para identificar e conduzir a autoridade policial competente. fundamental a leitura e o entendimento do Art. 144, 5 e 6 da Constituio Federal. 7 ORDENAMENTO JURDICO A abordagem sobre este tema, em posio abaixo dos tpicos acima elencados, difere da disposio normalmente encontrada nas obras jurdicas. Agimos assim, por vislumbrar tornar, desta maneira, mais fcil sua assimilao. Recorrendo ao dicionrio jurdico (PLCIDO E SILVA, 2003), vem baila a seguinte conceituao para Ordenamento Jurdico: complexo de regras e princpios ditados pelo poder pblico, como normas obrigatrias, para que se regulem e se protejam todas as relaes e interesses dos cidados entre si, e entre eles e o prprio Estado, no intuito de manter a prpria ordem social e poltica do estado. Desta forma, podemos afirmar que existe o Ordenamento Jurdico Brasileiro, sendo, justamente, o conjunto de normas vigentes no nosso pas regulando nossa sociedade. Como tambm existe o Argentino, Colombiano, etc. Recomendamos a obra Teoria do Ordenamento Jurdico do grande saudoso mestre Bobbio (1995) queles que pleitearem um maior aprofundamento sobre o tema. 7.1 DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL Dentre os autores consultados para elaborao do nosso estudo, acreditamos que quem apresentou uma conceituao satisfatria e de fcil entendimento foi o mestre Nunes (2003), por isso o escolhemos para compor este tpico, ilustrando nosso aprendizado. Vejamos: DIREITO NATURAL a idia abstrata do direito, o ordenamento ideal, correspondente a uma justia superior. O jusnaturalismo foi defendido por Santo Agostinho e So Toms de _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 16 _____________________________________________________________________________ Aquino, bem como pelos doutores da igreja e pensadores dos sculos XVII e XVIII ( NUNES, 2003). DIREITO POSITIVO o conjunto das normas jurdicas escritas e no escritas (o costume jurdico), vigentes em determinado territrio e, tambm, na rbita internacional na relao entre os Estados, sendo o direito positivo a aquele estabelecido nos tratados e costumes internacionais. Ou ainda, o conjunto de normas jurdicas reconhecidas e aplicadas pela autoridade pblica, ou o sistema de normas coercitivas, que regularam ou regulam a convivncia social pacfica. o Direito que se revela nas leis, nos costumes jurdicos, na jurisprudncia, nos princpios gerais de Direito e cuja observncia pode ser exigida por quem quer que tenha um interesse legtimo a proteger. principalmente Direito formulado pelos homens, de modo racional, e que rege a vida de uma determinada comunidade. (NUNES, 20003) Esse direito positivo pode ser separado em dois elementos: de um lado, o direito objetivo e, de outro, o direito e o dever subjetivos. Obs. Apesar de j tratarmos sobre este tema vamos exp-lo mais uma vez para uma melhor compreenso. O direito objetivo revela e faz nascer o direito e o dever subjetivos, e estes s tm sua razo de ser naqueles, isto , devem-lhe as existncias. 8 O DIREITO OBJETIVO a regra social obrigatria imposta a todos, que venha sob forma da lei ou mesmo sob a forma de um costume, que deva ser obedecido.(PLCIDO E SILVA, 2003) Por isso, o direito objetivo acaba sendo confundido com o prprio direito positivo. Mas a distino deve ser feita, para um melhor entendimento. O direito objetivo corresponde norma jurdica em si, enquanto comando que pretende um comportamento. Lembrem do exemplo citado. O Direito Positivo a soma do direito objetivo com o direito e o dever subjetivo (NUNES, 2003). 9 O DIREITO SUBJETIVO A idia de direito subjetivo aponta para muitas alternativas de explicao, existindo mesmo uma srie de teorias que disputam seu sentido. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 17 _____________________________________________________________________________ Pode-se dizer que direito subjetivo a prerrogativa colocada pelo direito objetivo, disposio do sujeito do direito. Essa prerrogativa h de ser entendida como a possibilidade de uso e exerccio efetivo do direito, posto disposio do sujeito. Assim, o direito subjetivo tanto o efetivo exerccio do direito objetivo quanto a potencialidade do exerccio desse mesmo direito. Direito subjetivo se caracteriza, portanto, pela potencialidade e pelo exerccio efetivo do direito objetivo, podendo o sujeito fazer uso da ameaa desse exerccio, que ao ser efetivado no o pode ser de forma abusiva. Alguns direitos subjetivos, no entanto, sendo inatos no sujeito por garantia e designao do direito objetivo independem do exerccio, mesmo em potencialidade, para existirem. E, como j existem plenamente, no caso desses direitos subjetivos, no quer se falar em ameaa ou mesmo abuso do direito exercitado (NUNES, 2003).

10 O DEVER SUBJETIVO A doutrina no faz com clareza a distino entre direito e dever subjetivos, e nem as classificaes que explicitam o direito objetivo falam no surgimento de um direito e de um dever subjetivo. A noo de dever subjetivo imanente ao conjunto de normas jurdicas objetivas. O direito subjetivo est limitado por um dever subjetivo. Todo aquele que vai exercitar seu direito subjetivo s o pode faz-lo at certo ponto. Justamente o dever subjetivo. Ou seja, no pode haver abuso. (NUNES, 2003). As excees a esse limite esto nos direitos subjetivos inerentes prpria pessoa, como direito vida, honra, imagem, etc. 11 A DIVISO NO DIREITO POSITIVO Nunca existiu um critrio de rigor lgico e satisfatrio capaz de designar claramente a distino, pretendida pela dogmtica jurdica, entre Direito Publico e Direito Privado. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 18 _____________________________________________________________________________ A separao, de cunho eminentemente prtico, est estabelecida desde o Direito Romano e tem por funo estabelecer dogmaticamente segurana e certeza para a tomada de deciso (NUNES, 2003). Mas qualquer critrio que se buscasse para diviso no conseguia apresentar de forma definitiva uma eventual linha divisria que existiria entre os dois ramos disputados. Desde que se comeou a tomar conscincia de novos direitos sociais que se firmaram com o desenvolvimento da sociedade de massa (especialmente o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental) surgiu um conceito diferente que acabou possibilitando a elaborao de nova classificao, agora capaz de dar conta dos problemas que os limites entre Direito Privado e Publico punham. 11.1 Direito Pblico (NUNES, 2003). Aquele que rene as normas jurdicas que tem por matria o Estado, suas funes e organizao, a ordem e segurana interna com a tutela do interesse pblico, tendo em vista a paz social. Divide-se em Interno e Externo: 11.1.1 Direito Pblico Interno (NUNES, 2003). O Direito Constitucional Engloba as normas jurdicas constitucionais em

toda sua amplitude, dentre as quais se destacam as atinentes forma e organizao do Estado, ao regime poltico, competncia e funo dos rgos estatais estabelecidos, etc. O Direito Administrativo Conjunto de normas jurdicas que organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a forma de ao para a consecuo de seus objetivos. O Direito Tributrio - Normas jurdicas voltadas para arrecadao de tributos, bem como as que cuidam das atividades financeiras do estado, regulando sua receita e despesa. O Direito Processual Regula o processo judicial, bem como a organizao O Direito Penal Conjunto de normas jurdicas que regulam os crimes e as judiciria. contravenes penais, com as correspondentes penas aplicveis.

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 19 _____________________________________________________________________________ O Direito Eleitoral Conjunto de normas jurdicas que disciplinam a escolha O Direito Militar Regula as normas que afetam os militares.

dos membros do Poder Executivo e do Poder legislativo.

11.1.2 Direito Pblico Externo (NUNES, 2003). Direito Internacional Publico Normas convencionais e costumes jurdicos internacionais. 11.1.3 Direito Privado (NUNES, 2003). Rene as normas que tem por matria os particulares e as relaes entre eles estabelecidas, cujos interesses so privados, tendo por fim a perspectiva individual. O Direito Civil Englobam as normas jurdicas que regem, entre outros, a capacidade e o estado das pessoas, o nascimento, o fim, o nome, etc., as relaes familiares, etc. O Direito Comercial Engloba as normas jurdicas que regulam a atividade comercial, assim como, relaes entre empresrios, que exercem as atividades com vistas ao lucro. 11.2 Direito Difuso (NUNES; 2003). So aqueles cujos titulares no podem ser especificados. So os fatos que determinam a ligao entre essas pessoas, cujos direitos no podem ser partidos: so indivisveis. O Direito do Trabalho normas jurdicas que regulam as relaes entre o empregador e o empregado, compreendendo o contrato de trabalho, o registro do empregado, a resciso, a despedida, os salrios e seus reajustes, etc. O Direito Previdencirio Normas jurdicas que cuidam da Previdncia Social, atravs de seus rgos, estabelecendo os benefcios e a forma de sua obteno, etc. O Direito Econmico Normas jurdicas que regulam a produo e a circulao de produtos e servios, com vistas ao desenvolvimento econmico do Pas, especialmente no que diz respeito ao controle do mercado interno, na luta e disputas entre empresas, etc. O Direito do Consumidor Normas institudas para proteo e defesa do consumidor. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 20 _____________________________________________________________________________ O Direito Ambiental Normas jurdicas que cuidam do meio ambiente em geral. 12.2.1 Direito Difuso Externo (NUNES, 2003). O Direito Internacional Privado Normas jurdicas que regulam as relaes privadas no mbito internacional. Conforme se verificou veio baila uma classificao diversa da apresentada por alguns autores que j se tenha estudado como Maria Helena Diniz, Rubem Nogueira e outros, vez que, trouxe Rizzato Nunes um novo elemento do Direito Positivo O Direito Difuso, provocando com isto uma nova classificao nos diversos ramos do direito positivo. Alguns doutrinadores questionam esta diviso. 12 HIERARQUIA DAS LEIS (NUNES, 2003). Mais uma vez vamos recorrer s lies do mestre NUNES (2003) para exposio deste tpico. A estrutura do ordenamento jurdico organizado hierrquica. Por hierarquia legal, entende-se que umas normas so superiores a outras, isto , algumas normas para serem vlidas tm de respeitar o contedo, formal e material, da norma jurdica superior. Assim, por exemplo, se diz que uma lei ordinria inconstitucional, quando contraria a Constituio; que um decreto regulamentar ilegal, quando contraria a lei que lhe superior (nesse caso o decreto regulamentar , tambm, simultaneamente, inconstitucional, porque contrariou pelo menos a hierarquia). Essa estrutura hierrquica, atravs da qual as normas jurdicas legisladas se interrelacionam, umas das outras, faz nascer aquilo que se chama estrutura piramidal (que comporta o sistema jurdico, conforme veremos). Destarte, o ordenamento jurdico pode ser assim vislumbrado:

Constituio Federal

Leis Complementares; leis ordinrias; leis delegadas;

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 21 _____________________________________________________________________________Decretos regulamentares; Resolues; Medidas Provisrias. Outras normas de hierarquia inferior, tais como

Portarias, Circulares, etc.

Figura 2. Pirmide demonstrando a hierarquia das leis (Nunes, Rizzato, 2003).

V-se, desse modo, que no pice do sistema piramidal est a Constituio Federal. Note-se que as normas constitucionais esto no topo do sistema, porm dentro dele e no fora. Dessa maneira, elas constituem o ponto de partida do ordenamento jurdico inteiro, mas so j o primeiro momento efetivo, isto , as normas constitucionais formam um conjunto de regras que esto em plena vigncia dentro do sistema desde a sua edio, e que no caso da Constituio Federal (BRASIL, 1988) atual esto em vigor desde 05.10.1988. A Constituio espalha no sistema toda sua influncia. o chamado princpio da constitucionalidade, que obriga a que todas as outras normas de hierarquia inferior estejam conforme seus fundamentos, sob pena de se tornarem inconstitucionais e deixarem de pertencer ao ordenamento jurdico. A seguir, na hierarquia do sistema jurdico esto as leis complementares, as leis ordinrias, as leis delegadas, os decretos legislativos, resolues e as medidas provisrias, todos no mesmo patamar hierrquico. As leis complementares tm como funo tratar de certas matrias que a Constituio entende devam ser reguladas por normas mais rgidas que aquelas disciplinadas por leis ordinrias e demais de mesma hierarquia. Por isso, o quorum legislativo exigido para sua aprovao especial, isto , o de maioria absoluta, tal como preceitua a Constituio Federal (BRASIL, 1988): As leis complementares sero aprovadas por maioria absoluta (art. 69). No passado a doutrina situava a lei complementar como intermediria entre as normas constitucionais e as leis ordinrias e as outras da mesma hierarquia destas, ou seja, a lei complementar era inferior Constituio Federal (BRASIL, 1988) e superior lei ordinria e demais normas. que existiam leis ordinrias que deviam sua validade s leis complementares; logo, estas eram superiores.

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 22 _____________________________________________________________________________ Atualmente no h hierarquia entre lei complementar e lei ordinria. A diferena entre ambas diz respeito matria a ser legislada e ao quorum previsto para sua aprovao. As leis complementares esto elencadas taxativamente na Carta Magna (BRASIL, 1988), que determina, como dissemos, que elas tratem de certas matrias importantes, tais como: o Estatuto da Magistratura: Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal dispor sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princpios: (art. 93); a organizao e o funcionamento da Advocacia-Geral da Unio: A Advocacia-Geral da Unio a instituio que, diretamente ou atravs de rgo vinculado, representa a Unio, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organizao e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurdico do Poder Executivo (art. 131); a regulamentao da dispensa do trabalhador contra despedida arbitrria ou sem justa causa: So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: I relao de emprego protegida contra despedida. arbitrria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que prever indenizao compensatria, dentre outros direitos (art.7, I); o estabelecimento de condies para a integrao de regies em desenvolvimento: Para efeitos administrativos, a Unio poder articular sua ao em um mesmo complexo geoeconmico e social, visando a seu desenvolvimento e reduo de desigualdades regionais. 1 Lei complementar dispor sobre: I as condies para integrao de regies em desenvolvimento (art. 43, 1, I) etc. A seguir vm as leis ordinrias. So elas fruto da atividade tpica e regulamentar do Poder Legislativo. Como exemplos de lei ordinria temos: o Cdigo Civil, o Cdigo de Processo Civil (BRASIL; 1973), o Cdigo Penal (BRASIL; 1945), o Cdigo de Defesa do Consumidor (BRASIL; 1990), a Lei de Falncias (BRASIL, 1945) etc. Conforme j dissemos, lembre-se que, da mesma forma que se pode falar em inconstitucionalidade de uma lei e demais normas de hierarquia inferior Constituio, pode-se falar em ilegalidade das normas de hierarquia inferior s leis ordinrias e s outras do mesmo plano. Ao lado das leis ordinrias, no mesmo patamar hierrquico e na esfera federal, esto as leis delegadas: O processo legislativo compreende a elaborao de (...) IV leis delegadas e As leis delegadas sero elaboradas pelo Presidente da Repblica, que dever solicitar a delegao ao Congresso Nacional arts. 59, IV, e 68 (BRASIL; 1988), _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 23 _____________________________________________________________________________ respectivamente; os decretos legislativos: O processo legislativo compreende a elaborao de (...) VI decretos legislativos art. 59, VI (BRASIL,1988); e as resolues: O processo legislativo compreende a elaborao de: (...) VII resolues art. 59, VII; da (BRASIL; 1988). E, ainda, no mesmo patamar esto as medidas provisrias, previstas no ar. 62 da Carta Magna (BRASIL, 1988); submet-las que dispe: Em caso de relevncia e urgncia, o Presidente da Repblica poder adotar medidas provisrias, com fora de lei, devendo de imediato ao Congresso Nacional, que, estando em recesso, ser convocado extraordinariamente para se reunir no prazo de cinco dias. O entendimento pleno da primeira parte desta apostila fundamental para os assuntos que agora viro baila. Comearemos a trazer questes que abraam o nosso cotidiano e esto prescritos na carta magna. No primeiro tpico abordaremos o entendimento sobre o texto dos artigos 1 e 2 (BRASIL; 1988) da Constituio. No tpico 02 vamos expor o art. 5, que trata sobre Direitos Fundamentais, todavia, extramos apenas aqueles incisos que se relacionam de forma mais contundente com nossa profisso. Os comentrios que se seguem foram retirados das obras do mestre Pinto Ferreira, Bittencourtt (2003), Noronha (2003) e Alexandre de Moraes (2003). 13 ESTUDO DOS PRCIPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS

TTULO I - DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS Art. 1. A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo poltico.Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio. (BRASIL, 1988, P.76).

13.1 REPBLICA A repblica significa destarte uma forma no-hereditria, isto , uma forma eletiva de governo, e princpio bsico do sistema poltico brasileiro. Segundo Bittencourtt (2003), os sistemas polticos devem distinguir-se segundo quatro perspectivas escalonadas: a) Formas de Estado, que dividem no Estado centralizado (Estado unitrio ou simples); b) formas de governo, diferenciando o carter _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 24 _____________________________________________________________________________ hereditrio (monarquia) ou representativo-popular de governo (repblica); c) regimes de governo, tendo em vista as influncias recprocas e polticas institucionais entre os Poderes Legislativo e Executivo (parlamentarismo, presidencialismo, regime colegiado como na Sua); afinal, d) regime poltico, considerando o poder de deciso e a acessibilidade do povo ou a sua real participao no setor dos negcios pblicos. Neste ltimo caso, os regimes polticos se discriminam em: I regime democrtico (democracia direta; democracia semidireta ou mista com o plebiscito referendo, iniciativa popular e real; democracia indireta ou representativa); II regime poltico no-democrtico, chamado por Thomas e Hermens de Estado de privilgios, com carter totalitrio, ditatorial e autoritrio.

13.2 FEDERAO A Repblica federativa foi instituda no Brasil pelo Decreto n. 1, de 15 de novembro de 1889, quando o Governo Provisrio, munido de poder constituinte, aboliu a monarquia, aps uma revoluo vitoriosa, tal como ocorreu no sculo XVIII na Frana e depois na Rssia, com a Revoluo de 1917. Pelo art. 1 da Constituio vigente o Brasil um Estado federal. H muito desacordo na doutrina sobre o conceito de Estado federal. O Brasil foi um Estado unitrio durante o Imprio (1882-1889), transformando-se em Estado federal a partir de ento. O Estado federal distingue-se por uma forma especial de descentralizao, compondo-se de Estados-Membros que possuem autonomia constitucional com o poder de eleio ou designao dos agentes do poder, participando da formao da vontade coletiva do Estado federal.(BITENCOUT, 2003). 13.3 ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO A expresso Estado Democrtico de Direito significa a subordinao do Estado lei e Constituio votada livremente pelo povo. Os termos Estado de Direito provm da literatura jurdica alem: Rechtsstaat. O que significa Estado de Direito? _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 25 _____________________________________________________________________________ Significa o Estado subordinado ou submetido legalidade constitucional, ao regime constitucional. O Estado Democrtico de Direito significa essencialmente que o Estado de Direito deve ter um contedo democrtico, basear-se em eleies livres e peridicas feitas pelo povo. Legalidade no significa a mesma coisa que legitimidade. A legalidade repousa na fora e no poder. A legitimidade tem o seu fundamento no consenso e na aceitao das regras de conduta pelo povo. Em grau mais elevado a legitimidade deve fundamentar-se ainda no sentimento da justia, no iderio da justia social e de bem-estar da comunidade. As aes dos policiais militares sempre devero ter por base o respeito e a proteo conquista! 13.4 DEMOCRACIA.(NUNES, 2003). A democracia repousa no pensamento de que poder emana do povo, que o exerce por meio de delegados ou representantes, como tambm diretamente. o governo do povo pelo povo, com o povo, para o povo. O poder estatal defende de tal modo organizado que os titulares que o exercem o faam como servidores, e no como senhores do povo e como quem exerce uma funo sem lhe ter a propriedade permanente. o que assinala Guenther Kuechenhoff em frase lacnica e lapidar. Tal sentido profundo de que o poder estatal emana do povo. A democracia exige na sua realidade prtica a existncia de eleies peridicas, que so o instrumento hbil e necessrio para que se efetive a representao popular. A eleio o mtodo normal de escolha, mas no absoluto, visto que os juzes podem ser designados diferentemente, como por concursos de ttulos e provas, isto , por merecimento. 13.5 SEPARAO DE PODERES (NUNES, 2003) do Estado Democrtico de Direito. Devemos ser os garantidores desta

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 26 _____________________________________________________________________________ Art. 2.(BRASIL, 1988) So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. No Estado de Direito opera-se uma diviso de poderes e tambm de funes. O poder poltico uno, indivisvel indelegvel, porm se desdobra em diversas funes, para a realizao de suas tarefas. Os Poderes da Unio na Repblica Federativa do Brasil so o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. Poder legislativo o que elabora, modifica, altera e emenda as leis, como ensina Watson (1993). O referido Poder edita normas gerais, abstratas, impessoais, a que se d genericamente o nome de leis, que regulam o comportamento das pessoas. O processo legislativo rico e variado, comportando diversas espcies de atos normativos, vrias espcies normativas. O Poder Executivo administra a coisa pblica e resolve casos concretos de acordo com as leis, no se limita simples execuo delas. Ele tambm exerce funes de governo, com atribuies polticas. Por isso Malberg (1948) chega a falar de uma quarta funo, a funo poltica ou de governo, apontando o exerccio do direito de graa ou o incio do processo legislativo. Seria a nota distintiva da autoridade considerada como poltica, a arte do governo. melhor contudo proceder distino do Poder Executivo, realizando duas funes bsicas, como observa Silva (2003, p.539): A funo executiva se distingue em funo de Governo, com atribuies polticas, co-legislativa e de deciso, e funo administrativa, com suas trs divises bsicas: interveno, fomento e servios pblicos. O Poder Judicirio tem por finalidade aplicar a lei a casos concretos, decidindo os conflitos de interesses. Atravs de juzes e tribunais o Estado substitui-se s partes envolvidas em conflito, intervm de forma substitutiva vontade dos litigantes em rota de coliso, decidindo o direito a ser aplicado. Alvim (2004, p.149), em seu Curso de direito processual civil, escreve: Podemos, ainda, afirmar que funo jurisdicional aquela realizada pelo Poder Judicirio, tendo em vista aplicar a lei a uma hiptese controvertida mediante processo regular, produzindo, afinal, coisa julgada, com o que substitui, definitivamente, a atividade e a vontade das partes. Lessa (1915, p.110), em seu livro Do _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 27 _____________________________________________________________________________ Poder Judicirio, define-o da seguinte maneira: O Poder Judicirio o que tem por misso aplicar contenciosamente a lei a casos particulares. 14 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (BRASIL, 1988). TTULO II - DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS CAPTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSArt. 5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL, 1988).

A ordem constitucional brasileira assegura a inviolabilidade de cinco direitos fundamentais: a) direito vida; b) direito liberdade; c) direito igualdade; d) direito segurana; e) direito propriedade.(BRASIL, 1988). A garantia da inviolabilidade ainda se estende aos estrangeiros residentes no Pas, conforme se verifica do texto constitucional vigente. Mas tal garantia ainda se amplia aos estrangeiros no residentes no Brasil, pois a declarao de direitos possui carter universal. O sentido da expresso estrangeiro residente deve ser interpretado para significar que a validade e a fruio legal dos direitos fundamentais se exercem dentro do territrio brasileiro. Desta forma se algum turista estrangeiro estiver passeando no Brasil goza dos mesmos direitos. Trata tambm o texto do PRINCPIO DA IGUALDADE, norma constitucional bsica, chamada tambm de princpio da isonomia, consistindo na igualdade jurdicoformal de todos diante da lei. O seu objetivo extinguir privilgios.I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio; II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. ( BRASIL, 1988)

Emerge o PRINCPIO DA LEGALIDADE. Visa combater o poder arbitrrio do Estado. S por meio das espcies normativas devidamente elaboradas conforme as regras do processo legislativo constitucional, podem criar-se obrigaes para o indivduo, pois so expresses da vontade geral. Com o primado soberano da lei, cessa o privilgio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefcio da lei.III - ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (BRASIL, 1988, P. 75).

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 28 _____________________________________________________________________________ No af de resolver questes ilcitas alguns policias acabam utilizando de meios violentos para obteno de informaes ou depoimentos ou, s vezes, colocando-se como aplicadores da justia exercem conduta de humilhao para acusados presos. Tal comportamento vai de encontro previso constitucional positivado.IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem; VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias; (BRASIL, 1988).

O Estado brasileiro um Estado laico. Admite a legalidade de todas as religies e mesmo a ausncia de qualquer culto ou religio, respeitando a crena e os sentimentos de cada pessoa.VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas entidades civis e militares de internao coletiva; VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei; IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena;X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao; XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial; (1988, Brasil).

Tema de extrema relevncia para nossa profisso. O preceito constitucional consagra a inviolabilidade do domiclio. Estar exposto na parte 03, quando tratarmos dos crimes em espcie. Funciona o Cdigo Penal (Brasil, 1945) como sancionador do preceito constitucional, conforme destaca:XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, salva, no ltimo caso, por ordem judicial, nas hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigao criminal ou instruo processual penal; XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer; XIV - assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente; (BRASIL, 1988).

A Constituio Federa (BRASIL, 1988) garante que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 29 _____________________________________________________________________________ mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente, tratando-se, pois, de direito individual o coligar-se com outras pessoas, para fim lcito. Isto no exclui a necessidade de comunicao prvia s autoridades a fim de que exercitem as condutas a elas exigveis, tais como a regularizao do trnsito, a garantia de segurana e da ordem pblica, o impedimento da realizao de outra reunio.XXIII - a propriedade atender a sua funo social; (BRASIL, 1988).

Este inciso envolve os atos perpetrados pelo Movimento dos sem Terra (MST), no tocante s invases de propriedades. A Constituio (Brasil, 1988) garante o direito propriedade, contudo necessrio que ela atenda a sua funo social. Ou seja, imperioso que atenda ao seu papel de produo (entendam que estamos nos referindo a latifndios). Conforme a garantia ou tutela jurdica constitucional da conservao, ningum pode perder a propriedade salvo por necessidade ou utilidade publica, ou por interesse social. Nos interessa de forma primeira, o interesse social que ocorre sempre que a desapropriao tenha efeito para garantir a paz, o progresso ou o desenvolvimento da sociedade. A desapropriao s, e somente s, pode ser realizada pelo Estado, portanto, todo ato desenvolvido pelo movimento dos Sem terra, realizado de maneira violenta e estranha ao Estado ilegal. Assim:XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio; XXXVIII - reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votaes; c) a soberania dos veredictos; d) a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; (BRASIL, 1988).

O jri um tribunal popular, de essncia e obrigatoriedade constitucional, regulamentado na forma de legislao ordinria, e, atualmente, composto por um juiz de direito que o preside, e por 21 jurados, que sero sorteados dentre cidados que constem do alistamento eleitoral do Municpio, formando o conselho de sentena com sete deles. Desta forma:XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal; (BRASIL, 1988).

Do enunciado deste princpio resultam duas regras fundamentais: 1- da reserva legal. Somente a lei, elaborada na forma que a constituio permite, pode determinar o _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 30 _____________________________________________________________________________ que crime e indicar a pena cabvel. Deve, portanto, ser lei federal, oriunda do Congresso Nacional. 2 - Da anterioridade. Para que qualquer fato seja considerado crime, indispensvel que a vigncia da lei que o define como tal seja anterior ao prprio fato. Por sua vez, a pena cabvel deve ter sido cominada (prevista) tambm anteriormente. Assim:XL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru; XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei; XLIII - a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-los, se omitirem; (BRASIL, 1988).

A lei n. 8.072 (BRASIL, 1990), de 25 de julho de 1990, trata dos crimes hediondos. Encontra-se no anexo A. Como princpios constitucionais responsabilidade disposto no inciso seguinte de fundamental importncia, devendo ser analisado com muita ateno. Vejamos:XLV - nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio transferido; (BRASIL, 1988).

Intransmissibilidade da pena. As sanes penais so intransmissveis, e as penas no passaro da pessoa do delinqente, nem para parentes, nem para pessoas estranhas. o princpio da Responsabilidade Subjetiva ou Pessoal. Desta forma:XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as seguintes: a) privao ou restrio da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestao social alternativa; e) suspenso ou interdio de direitos; (BRASIL, 1988).

As penas privativas de liberdade, conforme entendimento doutrinrio de Mirabete (2002) so: A recluso - aplicada aos crimes mais graves. cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A deteno- aplicada aos crimes menos graves. cumprida em regime semiaberto ou aberto. A priso simples - aplicada s contravenes.

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 31 _____________________________________________________________________________ Quanto aos regimes, ou o ru perde totalmente a liberdade e, portanto, est em regime fechado, caso em que ficar dia e noite na cadeia. Ou ento ele a perde parcialmente - trabalha de dia em colnia penal agrcola e noite se recolhe para dormir na cadeia dessa mesma colnia, o regime semi-aberto. No regime aberto, o ru, durante o dia, trabalha em seu servio normal e noite se recolhe a uma sala especial da cadeia, chamada de casa do albergado. No caso de no existir essa sala especial, o juiz o autoriza a dormir em sua prpria casa. Conforme previsto na constituio( BRASIL, 1988):XLVII - no haver pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de carter perptuo; c) de trabalhos forados; d) de banimento; e) cruis; (BRASIL, 1988).

A Constituio Federal (BRASIL, 1988) probe a possibilidade de cominao da pena de morte (salvo em caso de guerra declarada), de carter perptuo, de trabalhos forados ou de banimento. A guerra externa declarada permite a aplicao da lei penal militar. O tempo de guerra se inicia com o reconhecimento ou a declarao de guerra externa. Est previsto na prpria constituio. A execuo da pena de morte feita por fuzilamento. Assim:XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral; LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. (BRASIL, 1988).

Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente at que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento pblico no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessrias sua defesa.(Declarao Universal dos Direito do Homem).Assim:LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurado o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, 1988).

Por ampla defesa, entende-se o asseguramento que dado ao ru de condies que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo omitir-se ou calar-se, se entender necessrio, enquanto o contraditrio a prpria exteriorizao da ampla defesa, impondo a conduo dialtica do processo, pois a todo ato produzido pela acusao, caber igual direito da defesa de _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 32 _____________________________________________________________________________ opor-se-lhe ou de dar-lhe a verso que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretao jurdica diversa daquela feita pelo autor.LVI -no so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos; (BRASIL, 1988).

Entende-se como aquelas conseguidas em infringncia s normas do direito material (por exemplo tortura fsica ou psicolgica) configurando-se importante garantia em relao ao persecutria do Estado.LVlI - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria; (BRASIL, 1988).

Princpio da Presuno da Inocncia. H a necessidade de o Estado comprovar a culpabilidade do indivduo, que constitucionalmente presumido inocente, sob pena de voltarmos ao total arbtrio estatal. necessrio que todos os recursos legais sejam esgotados. Assim:LVIII - o civilmente identificado no ser submetido identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei; LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (BRASIL, 1988).

A Constituio assegura a liberdade fsica da pessoa, permitindo a existncia do estado normal de incoercibilidade do homem. Em princpio ningum poder ser preso, exceto nos caos permitidos pela lei fundamental. Flagrante delito a plena posse da evidncia, a evidncia absoluta, o fato que acaba de cometer-se, que acaba de ser provado e em presena do qual seria absurdo ou impossvel neg-lo. Priso em flagrante delito , assim, a priso daquele que surpreendido no instante mesmo da consumao da infrao penal hiptese em que a lei deixa de exigir ordem judicial escrita para efetivao da priso, que, segundo a lei poder ser feita por qualquer pessoa que se depare com a infrao. De observar, todavia, que se relativamente aos cidados a realizao da priso em flagrante uma possibilidade, em relao aos policiais um dever, j que a lei prev que o PM dever obrigatoriamente agir e deter o criminoso. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 33 _____________________________________________________________________________ O art. 302 do Cdigo de Processo Penal (BRASIL, 1941, p.1048) expe quem se considera em Flagrante delito:a) est cometendo a infrao penal; b) acaba de comet-la; c) perseguido, logo aps, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situao que faa presumir ser autor da infrao; d) encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papis que faam presumir ser ele o autor da infrao.

> Quais as espcies de flagrante? Depreende-se, portanto, as espcies de flagrante: Flagrante prprio - quando o agente surpreendido praticando a infrao ou acaba de comet-la, pouco importa esteja o agente em legtima defesa, estado de necessidade ou qualquer situao que justifique a infrao, para configurar o flagrante, basta que esteja sendo praticado o fato definido como crime. Entende-se, pois, que o agente estava, por exemplo desferindo o disparo de arma de fogo ou acabava de faz-lo, da a existncia do termo flagrante. Alneas a e b. Flagrante imprprio - a lei considera tambm em flagrante quem perseguido logo aps, pela autoridade, pelo ofendido ou por outra pessoa, em situao que faa presumir ser autor da infrao. O indivduo possua evidncias de que cometeu o crime, mas j saiu da situao visvel que caracteriza o flagrante prprio. Alnea c. Flagrante presumido - quando o autor do fato encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papis que faam presumir ser ele o autor da infrao. No necessrio perseguio, mas sim que a pessoa seja encontrada logo depois da prtica da infrao, com coisas que traduzam fortes indcios de sua participao no crime. Alnea D. Flagrante preparado e flagrante esperado - se o agente induzido a cometer o crime pela polcia ou por terceiros de forma que jamais poder consumar o fato, o flagrante ilegal e a priso ser relaxada. Lembrem-se do falamos em relao s reportagens da televiso. Afirma o STF: "No h crime quando a preparao do flagrante pela polcia torna impossvel a sua consumao.

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 34 _____________________________________________________________________________ O flagrante esperado aquele onde o fato chega ao conhecimento da autoridade militar com certa antecedncia e est toma providncias para que ocorra a priso do infrator no instante em que este venha a consumar o delito. Da mesma maneira configura o flagrante, com palavras praticamente idnticas, o Cdigo de Processo penal Militar, art. 244.LXII - a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero comunicados imediatamente ao juiz competente e famlia do preso ou pessoa por ele indicada; LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada assistncia da famlia e de advogado; LXIV - o preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial; LXV - a priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria; (BRASIL, 1988).

Trataremos agora sobre leis penais ordinrias. Isto porque no apenas o Cdigo Penal que estabelece condutas ilcitas e comina sanes. H outras, como as leis dos crimes hediondos (BRASIL, 1990), Estatuto da Criana e Adolescente (BRASIL, 1990), Estatuto do Desarmamento (BRASIL, 2003) e outras. claro que vamos t-lo como objeto de estudo mais prximo, pois, encontra-se elencado em sua parte especial a grande maioria dos delitos que envolvem o nosso servio ordinrio. Iniciaremos nossa abordagem com uma sntese histrica e conceitual. Posteriormente, mostraremos sua estrutura organizacional e partiremos para o estudo dos crimes em espcie. 15 BREVE HISTRICO SOBRE O DIREITO PENAL E CONCEITO 15.1 BRASIL COLONIAL Quando se processou a colonizao do Brasil, embora as tribos aqui existentes apresentassem diferentes estgios de evoluo, as idias de Direito Penal que podem ser atribudas aos indgenas estavam ligadas ao direito costumeiro, encontrando-se nele a vingana privada, a vingana coletiva e o talio. Foram, porm, as Filipinas nosso primeiro estatuto, pois os anteriores muito pouca aplicao aqui poderiam ter, devido s condies prprias da terra que ia surgindo para o mundo. Tudo estava por fazer e organizar. Refletiam as Ordenaes Filipinas o direito penal daqueles tempos. O fim era incutir temor pelo castigo. O morra por ele se encontrava a cada passo. Alis, a pena de morte comportava vrias modalidades. Havia a morte simplesmente dada na fora (morte _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 35 _____________________________________________________________________________ natural): a precedida de torturas (morte natural cruelmente); a morte para sempre, em que o corpo do condenado ficava suspenso e putrefazendo-se, vinha ao solo, assim ficando, at que a ossamenta fosse recolhida pela Confraria da Misericrdia, o que se dava uma vez por ano; a morte pelo fogo, at o corpo ser feito em p. Cominados tambm eram os aoites, com ou sem barao e prego, o degredo para as gals ou para a frica e outros lugares, mutilao das mos, da lngua etc., queimadura com tenazes ardentes, capela de chifres na cabea para os maridos tolerantes, polaina ou enxavaria vermelha na cabea para os alcoviteiros, o confisco, a infmia, a multa etc. Afirma Bittecourtt (2003) quanto ao crime, era confundido com pecado e com a mera ofensa moral. Comeava pela incriminao dos hereges e apstatas, prosseguindo com a punio dos feiticeiros, dos que benziam ces etc. Realce especial merecia o crime de lesa-majestade, comparvel lepra, inflamando tambm os descendentes, posto que no tenham culpa. Fatos que hoje depem contra a decncia e a moral eram considerados delitos gravssimos haja vista. V.g., o Ttulo XIII Dos que cometem pecado de sodomia e com alimrias em que era queimado, at ser o corpo reduzido a p, o homem que tivesse relaes carnais com um irracional, declarando os anotadores que o mesmo sucedia a este.(BITENCOURT, 2003). De acordo com Bitecout (2003) consagravam amplamente as Ordenaes a desigualdade de classes perante o crime; devendo o Juiz aplicar a pena segundo a graveza do caso e a qualidade da pessoa: os nobres, em regra, eram punidos com multa; aos pees ficavam reservados os castigos mais pesados e humilhantes. 15.2 CDIGO CRIMINAL DO IMPRIO Proclamada a Independncia era necessrio um novo Cdigo Penal. Como isso no se podia fazer de um momento para outro, mandou-se, pela lei de 20 de outubro de 1823, que continuassem a ser observadas as Ordenaes, o que se daria at 1830, embora, no interregno, diversas leis se destinavam a abrandar a rigor daquelas. (BITENCOURT, 2003). Jos Clemente Pereira e Bernardo Pereira de Vasconcelos foram encarregados da elaborao de projetos. Ambos foram apresentados s comisses do Legislativo, sendo dada preferncia ao de Vasconcelos. (BITENCOURT, 2003). _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 36 _____________________________________________________________________________ Foi aprovado o Projeto em sesso de 20 de outubro de 1830 na Cmara, sendo remetido ao Senado. Em 16 de dezembro. D. Pedro I sancionava. O Cdigo honrava a cultura jurdica nacional. De ndole liberal, a que, alis, no podia fugir, em face do liberalismo da Constituio de 1824, inspirava-se na doutrina utilitria de Bentham. Influenciavam-no igualmente o Cdigo francs de 1810 e o Napolitano de 1819. (BITENCOURT, 2003). Claro que apresentava defeitos. No definiria a culpa, aludindo apenas ao dolo (arts. 2. e 3. ) embora no art. 6 a ela j se referisse, capitulando mais adiante crimes culposos (arts 125 e 153), esquecendo-se, entretanto, do homicdio e das leses corporais por culpa, omisso que veio a ser suprida pela Lei n. 2.033, de 1871. Tal silncio explica-se pela poca em que veio luz o Cdigo, na qual os meios de transportes, a indstria etc. no ofereciam os perigos que mais tarde se fizeram sentir. Espelhara-se tambm na lei da desigualdade no tratamento inquo do escravo, Cominava as penas de gals e de morte. Esta, por sinal, provocou acalorados debates, quando foi da discusso do Projeto, dividindo-se liberais e conservadores, prevalecendo por pequena maioria opinio destes, cujo argumento principal era a necessidade da pena capital para o elemento servil, em face de seu nvel inferior de vida, pelo que incuas lhe seriam as outras penas. 15.3 PERODO REPUBLICANDO (BITENCOURT, 2003). Com o advento da Repblica, Batista Pereira foi encarregado de elaborar um projeto de cdigo Penal, que foi aprovado e publicado em 1890, portanto, antes da Constituio de 1891. Como tudo que se faz apressadamente, este, espera-se, tenha sido o pior Cdigo Penal de nossa histria; ignorou complemente os notveis avanos que ento se faziam sentir, em conseqncia do movimento positivista, bem como, o exemplo de cdigos estrangeiros mais recentes. O Cdigo Penal de 1890 apresentava graves defeitos de tcnica, aparecendo atrasado em relao cincia de seu tempo. As crticas no se fizeram esperar e vieram acompanhadas de novos estudos objetivando sua substituio. Os equvocos e deficincias do Cdigo Republicano acabaram transformando-o em verdadeira colcha de retalhos, tamanha a quantidade de leis extravagantes que,

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 37 _____________________________________________________________________________ finalmente, se concentraram na conhecida Consolidao das Leis penais de Vicente Piragibe, promulgada em 1932. Durante o Estado Novo, em 1937, Alcntara Machado apresentou um projeto de Cdigo Criminal Brasileiro, que apreciado por uma comisso Revisora, acabou sendo sancionado, por decreto de 1940, como Cdigo Penal, passando a vigorar desde 1942 at os dias atuais, embora parcialmente reformado. 15.4 REFORMAS CONTEPORNES (BITENCOURT, 2003). Desde 1940, dentre as vrias leis que modificaram nosso vigente Cdigo Penal, (BRASIL, 1940) merecem destaque: a Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, que procurou atualizar as sanes penais, a lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984, que instituiu uma nova parte geral, com ntida influncia finalista e a Lei 11.106/2005 que altera os artigos 148, 215, 216, 226, 227, acrescenta o artigo 231-A, e revoga os incisos VII e VIII do artigo 107, os artigos 217, 219, 220, 221, 222, o inciso III do caput do artigo 226, o 3 do artigo 231, e o artigo 240 do cdigo penal. Dispositivos esses, que em sua maioria, so referentes aos crimes contra os costumes. A lei n. 7.209/84(BRASIL, 1984), que reformulou toda a Parte Geral do Cdigo de 1940, humanizou as sanes penais e adotou penas alternativas priso, alm de reintroduzir no Brasil o festejado sistema de dias-multa. No entanto, embora tenhamos um dos melhores elencos de alternativas pena privativa de liberdade, a falta de vontade poltica, que no dotaram de infra-estrutura nosso sistema penitencirio, tornou, praticamente, invivel a utilizao da melhor poltica criminal penas alternativas -, de h muito consagrada nos pases europeus. O direito penal o ramo do Direito Pblico interno que trata das normas que o Estado estabelece, fixando os delitos, e as penas com que os delitos devem ser reprimidos, bem como o conjunto de normas, jurdicas repressoras e preventivas dos fatos prejudiciais atividade e ao indivduo chamados de crimes. Pode-se afirmar tambm que o Direito Penal ramo do Direito Pblico, porque o delito geralmente representa um ataque direto aos direitos do indivduo; atenta sempre de forma mediata ou imediata, contra os direitos do corpo social, alm do que a aplicao das Leis penais no fica ao arbtrio da iniciativa ou do poder dos particulares, cabendo ao Estado, atravs do poder pblico, processar e julgar o delinqente. _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 38 _____________________________________________________________________________ Importante lembrar que a competncia para legislar sobre crime no ordenamento jurdico brasileiro reside, exclusivamente, no Poder Legislativo da Unio nada restando competncia supletiva dos Estados-membros, conforme Constituio Federal art. 2, I (BRASIL, 1988). 16 ENTENDENDO NOSSO CDIGO PENAL (BRASIL, 1940). O Cdigo Penal est dividido em duas partes: Parte Geral; Parte Especial. Faremos primeiramente o estudo da Parte Geral, explicando os artigos que extramos por reputar de importncia fundamental para nossa profisso, logo depois, apresentaremos a Parte Especial, com sua estruturao e estudo dos crimes em espcie. 16.1 PARTE GERAL A Parte Geral est contida nos arts. 1 A 120; A Especial nos arts. 121 a 361. Ambas contm normas panais incriminadoras e no incriminadoras. Na Parte Geral, as normas penais se classificam em: 1 ) normas penais no incriminadoras; 2 ) normas penais permissivas; e 3) normas penais complementares ou explicativas. As normas penas permissivas e complementares so denominadas no incriminadoras. Normas penais de incriminao so as que definem infraes penais e cominam as respectivas sanes. Exs.: 123 e 129, caput, do Cdigo Penal(CP) ( BRASIL, que definem respectivamente, os crimes de infanticdio e leso corporal. Normas penais permissivas so as que prevem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, no obstante sejam tpicos diante das normas penais de incriminao. Exs.: disposies dos arts. 20, 21, 23 a 25, 26 a 28, 128 etc. Normas penais complementares, finais ou explicativas, so as que esclarecem outras disposies ou delimitam o mbito de sua incidncia. Exs.: disposies dos arts. 5, 7, 10,327 etc (BRASIL, 1940). A Parte Geral do CP (BRASIL, 1940) cuida das normas penais no incriminadoras, permissivas e explicativas. A Parte Especial trata da definio legal dos crimes em espcie. Assim, a definio legal dos crimes no encontrada na Parte Geral, mas na _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 39 _____________________________________________________________________________ Parte Especial, embora aquela contenha algumas normas de extenso, como o caso das previstas nos arts. 14, II, e 29, que tratam, respectivamente, das figuras da tentativa e do concurso de agentes. Nos dois casos, as disposies servem de complemento das normas penais incriminadoras. A Parte Geral cuida da aplicao da lei penal, do crime, da responsabilidade, do concurso de agentes, das penas e das medidas de segurana, enquanto a Parte Especial descreve os delitos e impe as penas. 16.1.1 ARTIGOS DA PARTE GERAL Anterioridade da leiArt. 1 - No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal. (BRASIL, 1940).

Assim: A lei penal incriminadora apenas garante o individuo quando o permite conhecer a proibio de determinada conduta antes de aplic-lo, ou seja, apenas a conduta anteriormente definida como infrao penal pode ser punida. Lei penal no tempo Atividade da lei o perodo no qual ela surte efeitos, e normalmente se confunde com o perodo de sua vigncia. No entanto, possvel, como observado, que a lei venha a atingir fatos anteriores sua vigncia, como nos casos da lei penal que favorece o acusado, sendo retroativa. O referido artigo traz o princpio da retroatividade da lei penal que beneficia, de qualquer forma, o indivduo. O mesmo princpio tem patamar constitucional no art. 5, XL (BRASIL, 1988).Art. 2 - Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria. Pargrafo nico - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado. (BRASIL, 1940).

Crime impossvelArt. 17 - No se pune a tentativa quando, por ineficcia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, impossvel consumar-se o crime. (BRASIL, 1940).

tambm chamado quase-crime ou tentativa impossvel. O meio totalmente ineficaz para prtica do ato delituoso. Mas necessrio verificar a tipificao do crime a _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 40 _____________________________________________________________________________ ser executado. Por exemplo, no haver condenao por tentativa de homicdio quando o agente utiliza arma de brinquedo ou revlver sem munio, contudo, o agente pode ser condenado por crime de roubo ao utilizar os mesmos instrumentos para prtica do ato ilcito. Ao policial cabe atuar conforme a inteno desenvolvida pelo agente em consonncia com o resultado atingido, deixando para a justia sua condenao ou no. Ttulo II DO CRIME (BRASIL, 1940). 16.2 Diviso dos ilcitos penais No Brasil, s h dois tipos de infraes penais: 1. Os crimes (tambm chamados delitos). 2. as contravenes. Na verdade, inexiste um dado exato que sirva de divisor entre crime e contraveno. Nem mesmo a diferena entre as penas (LICP, art. 1) critrio suficiente, pois existem crimes que podem ser punidos s com pena de multa. Tanto os crimes como as contravenes so comportamentos que infringem mandamentos legais, que contm, como sano, a imposio de pena. A nica distino entre crimes e contravenes reside na maior ou menor gravidade com que a lei v tais condutas, denominando "contravenes" s mais leves e "crimes" s mais graves. Entretanto, dependendo da vontade do legislador, um comportamento que hoje crime pode passar, amanh, a contraveno e vice-versa. Por isso, esto certos os italianos quando chamam as contravenes de delitos anes (delitti nani). Noo de crime: Embora o CP (BRASIL, 1940) no defina o que seja crime, devem ser apresentados seus conceitos material e formal. Conceito material: Crime a violao de um bem jurdico protegido penalmente. aquele que se diz consumado com o resultado pretendido pelo agente, no se admitindo nele a presuno de inteno sem a evidncia do dano material, punido pela lei penal (De Plcido e Silva, 2003). Conceito formal: Somente o comportamento humano positivo (ao) ou negativo (omisso) pode ser crime. No entanto, para que uma conduta seja considerada criminosa, necessrio que ela seja um fato tpico e antijurdico. Ser fato tpico quando a conduta estiver definida por lei como crime, segundo o principio da reserva legal (CP, art., 1). E antijurdico quando o comportamento for contrrio ordem jurdica como um todo, pois, alm das causas de excluso expressas no CP, h outras implcitas (chamadas _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 41 _____________________________________________________________________________ supralegais, que excluem, a antijuridicidade ou ilicitude). Assim, presente um fato tpico e antijurdico (tipicidade + antijuridicidade ou ilicitude), teremos um crime, mas a aplicao de pena ainda ficar condicionada culpabilidade, que a reprovao ao agente pela contradio entre sua vontade e a vontade da lei.(Bettecourtt, 2003) Art. 18 - Diz-se o crime: (BRASIL, 1940). Crime dolosoI - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; (BRASIL, 1940).

Crime culposoII - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia.Pargrafo nico - Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente. (BRASIL, 1940).

O dolo, que pode ser direto (1 parte do inciso) e indireto (2 parte do inciso) gira em torno da vontade e finalidade do comportamento do sujeito, a culpa no cuida da finalidade da conduta (que quase sempre lcita), mas da no observncia do dever de cuidado pelo sujeito, causando o resultado e tornando punvel o seu comportamento. Tem como modalidades a imprudncia (prtica de ato perigoso); negligncia (falta de preocupao; impercia (falta de aptido tcnica, terica ou prtica). A punio por dolo a regra, enquanto a sano por culpa excepcional. S admissvel quando a lei textualmente prev. Excluso de ilicitudeArt. 23 - No h crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legtima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerccio regular de direito. (BRASIL, 1940).

Excesso punvelPargrafo nico - O agente, em qualquer das hipteses deste artigo, responder pelo excesso doloso ou culposo. (BRASIL, 1940).

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 42 _____________________________________________________________________________ Estrito cumprimento de dever legal ou exerccio regular de direito No necessrio existir a norma legal de cumprimento do dever legal apenas no Cdigo Penal (BRASIL, 1940), pode estar em qualquer norma legal. Como exemplo apresentamos a violncia esportiva. Em certos tipos de esportes regulamentados (futebol, boxe, jud, etc.) podem resultar leses nos competidores. Esto elas compreendidas nesta causa de excluso, desde que obedecidas s regras prprias do esporte que disputam. Ao fazer uma busca pessoal em algum na entrada do barrado, ou mesmo, as aes preventivas desenvolvidas pela polcia de abordagem a coletivos, por exemplo, est o policial agindo em estrito cumprimento do dever legal. Estado de necessidade O Cdigo Penal Brasileiro (BRASIL, 1940) positiva:Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito prprio ou alheio, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigirse. 1 - No pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. 2 - Embora seja razovel exigir-se o sacrifcio do direito ameaado, a pena poder ser reduzida de um a dois teros. (BRASIL, 1940).

Estado de Necessidade a situao de perigo atual, no provocado voluntariamente pelo agente, em que este lesa bem de outrem, para no sacrificar direito seu ou alheio, cujo sacrifcio no podia ser razoavelmente exigido. A afirmao do pargrafo primeiro do referido artigo, nos atinge em determinadas circunstncias, bem como, aos bombeiros militares. Contudo, no se cogita a atuao se houver a certeza do sacrifcio da prpria vida. Outro exemplo: Numa gruta h duas pessoas e oxignio para uma s. Uma delas, para sobreviver, mata a outra e, com essa atitude, salva-se.

Legtima defesaArt. 25 - Entende-se em legtima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (BRASIL, 1940).

_____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 43 _____________________________________________________________________________ Exemplo: Algum entra na sua casa, meia-noite, para roub-lo. Voc, para se defender da agresso, puxa de sua arma e atira, defendendo-se. Houve, no caso, legtima defesa. A legtima defesa pode ser prpria ou de terceiros, dependendo do bem ameaado. Mas importante entender que s existe legtima defesa contra agresso humana e tem que ser atual ou iminente, e, ainda, suficiente para conter o agressor. O excesso punvel. TTULO III: DA IMPUTABILIDADE PENAL (BRASIL, 1940). InimputveisArt. 26 - isento de pena o agente que, por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Reduo de pena Pargrafo nico - A pena pode ser reduzida de um a dois teros, se o agente, em virtude de perturbao de sade mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado no era inteiramente capaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940).

Menores de dezoito anosArt. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos so penalmente inimputveis, ficando sujeitos s normas estabelecidas na legislao especial. (BRASIL, 1940).

a capacidade de entender e querer. a aptido para ser culpvel. o conjunto de condies pessoais que do ao agente capacidade de lhe ser juridicamente imputados prtica de fato punvel. A imputabilidade encontrada por excluso. A imputabilidade a regra, a inimputabilidade a exceo. Todo indivduo imputvel salvo quando ocorrer uma causa de excluso. Segundo Bittecourtt (2003), so utilizados dois critrios: 1 - o biolgico: adotou-se o critrio. Idade no caso dos menores (so inimputveis menores de 18 anos). O Cdigo Penal adotou de forma absoluta que menor inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato, (desta forma respondem perante a lei ECA); 2 - o biopsicolgico: que diz que inimputvel aquele que, ao tempo da infrao penal, no tinha capacidade de entender a capacidade do carter criminoso do fato, nem _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 44 _____________________________________________________________________________ de determinar-se, de acordo com esse entendimento, em razo da doena mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Entendam que o agente pode ter excludo a culpabilidade, e, em conseqncia, excluem a pena, sem apagar a existncia do crime. Haver um crime, s que quem o cometeu no ser punido. TTULO IV: DO CONCURSO DE PESSOAS (BRASIL, 1940).Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 1 - Se a participao for de menor importncia, a pena pode ser diminuda de um sexto a um tero. 2 - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada pena deste; essa pena ser aumentada at metade, na hiptese de ter sido previsvel o resultado mais grave. (BRASIL, 1940).

Hiptese em que o crime no cometido por uma s pessoa, mas duas (ou mais) pessoas concorrem (isto , contribuem, cooperam) para a prtica do ilcito penal. O CP (BRASIL, 1940) distingue duas espcies de concurso: 1 Co-autoria. So co-autores os que executam o comportamento que a lei define como crime. a realizao conjunta, por mais de uma pessoa, de uma infrao penal. Co-autoria em ltima anlise a prpria autoria. Exemplo. No roubo, um ameaa enquanto o outro recolhe o dinheiro da vtima.(); 2 Participao. O partcipe quem, mesmo no praticando a conduta que a lei define como crime, contribui de qualquer modo, para sua realizao. Existem duas formas de participao: a) Participao moral (ou instigao). A pessoa contribui moralmente para o crime, agindo sobre a vontade do autor, quer provocando-o para que nele surja vontade de cometer o crime (chama-se determinao), quer estimulando a idia criminosa j existente ( a instigao propriamente dita). b) Participao material (ou cumplicidade). A pessoa contribui materialmente para o crime, por meio de um comportamento positivo ou negativo (ex.: a ao do vigilante, emprestando a arma, ou a omisso desse mesmo vigia, no fechando a porta que deveria trancar, para facilitar o roubo). S h um crime para todos os co-autores e partcipes. A culpabilidade, porm individual, respondendo cada um na medida de sua culpabilidade. Ao aplicar a pena, deve o juiz levar em considerao a reprovabilidade do comportamento de cada um, co-autor e partcipe, individualmente. 17 NORMAS DA PARTE ESPECIAL DO CP (BRASIL, 1940). _____________________________________________________________________________ Cap PM Jailson Damasceno de Jesus Santos Cap PM Adenilton Pinto Lopes

CFSd Direito Aplicado I 45 _____________________________________________________________________________ As normas penais da Parte Especial do CP (BRASIL, 1940) podem ser classificadas em: 1) normas penais em sentido amplo; 2) normas penais em sentido estrito. As normas penais em sentido amplo esto definidas nos arts. 121 a 361 (BRASIL, 1940). As normas penais em sentido estrito so as incriminadoras, descritivas de delitos e impositivas das respectivas