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Direito Civil – Obrigações 1 01 - OBRIGAÇÕES .................................................................................................................................. 5 Noções iniciais – Direitos pessoais e direitos reais ............................................................................... 5 Distinções entre direitos reais e creditícios: ....................................................................................... 5 Categorias mistas (híbridas): ............................................................................................................. 6 Obrigações propter rem ................................................................................................................. 6 Conceitos e elementos ......................................................................................................................... 6 Elementos constitutivos das obrigações ............................................................................................... 6 02 - FONTES DAS OBRIGAÇÕES.......................................................................................................... 8 Fontes das obrigações.......................................................................................................................... 8 03 - CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES............................................................................................. 9 OBRIGAÇÃO CIVIL E EMPRESARIAL ............................................................................................... 10 OBRIGAÇÃO MORAL ........................................................................................................................ 10 OBRIGAÇÃO NATURAL..................................................................................................................... 10 04 - OBRIGAÇÃO DE DAR .................................................................................................................... 12 Generalidades .................................................................................................................................... 12 Conceituação ...................................................................................................................................... 12 Divisão das obrigações de dar ............................................................................................................ 12 Obrigação de dar coisa certa ............................................................................................................. 13 Generalidades ................................................................................................................................. 14 Perda ou deterioração da coisa ....................................................................................................... 14 Cômodos ......................................................................................................................................... 15 Obrigação de dar a coisa incerta ........................................................................................................ 15 Generalidades ................................................................................................................................. 15 Competência para escolha e seleção da coisa - CC. Art. 244. ....................................................... 16 Efeitos da concentração - CC. Art. 245 .......................................................................................... 16 Obrigação de solver dívida em dinheiro .............................................................................................. 17 05- OBRIGAÇÃO DE FAZER ................................................................................................................. 18 Obrigação de fazer ............................................................................................................................. 18 Generalidades ................................................................................................................................. 18 Diferenças entre a obrigação de dar e fazer .................................................................................... 18 Espécies de obrigações de fazer .................................................................................................... 19 Conseqüências do descumprimento das obrigações....................................................................... 19 06 - OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (AD NON FACIENDUM) ................................................................ 21 Generalidades .................................................................................................................................... 21 Inadimplemento das obrigações de não fazer ..................................................................................... 21 07 - OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS ......................................................................................... 22 Obrigações líquidas ............................................................................................................................ 22 Obrigações ilíquidas ........................................................................................................................... 22 Diferença entre ilíquida e de dar a coisa incerta ................................................................................. 23 Efeitos da obrigação ilíquida ............................................................................................................... 23 08- OBRIGAÇÕES SIMPLES E CUMULATIVA ...................................................................................... 24 Obrigações simples ............................................................................................................................ 24 Obrigação cumulativa ......................................................................................................................... 24 09 - OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (DISJUNTIVAS) ......................................................................... 25 Generalidades .................................................................................................................................... 25 Concentração do débito na obrigação alternativa ............................................................................... 25 Conseqüência da inexeqüibilidade das prestações ............................................................................. 27 10 - OBRIGAÇÃO FACULTATIVA (OBRIGAÇÃO COM FACULDADE ALTERNATIVA) ........................ 29 11 - OBRIGAÇÃO MOMENTÂNEA E CONTINUADA............................................................................. 30 Obrigação momentânea ou instantânea ............................................................................................. 30 Obrigação de execução continuada ou periódica................................................................................ 30 12 - OBRIGAÇÕES CONDICIONAIS ..................................................................................................... 32 Introdução........................................................................................................................................... 32 Definição............................................................................................................................................. 32 Efeitos................................................................................................................................................. 32 13 - OBRIGAÇÃO MODAL ..................................................................................................................... 36 Generalidades .................................................................................................................................... 36

Direito Civil – Obrigações 1 01 - OBRIGAÇÕES

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Page 1: Direito Civil – Obrigações 1 01 - OBRIGAÇÕES

Direito Civil – Obrigações

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01 - OBRIGAÇÕES ..................................................................................................................................5 Noções iniciais – Direitos pessoais e direitos reais ...............................................................................5

Distinções entre direitos reais e creditícios:.......................................................................................5 Categorias mistas (híbridas):.............................................................................................................6

Obrigações propter rem .................................................................................................................6 Conceitos e elementos .........................................................................................................................6 Elementos constitutivos das obrigações ...............................................................................................6

02 - FONTES DAS OBRIGAÇÕES..........................................................................................................8 Fontes das obrigações..........................................................................................................................8

03 - CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES.............................................................................................9 OBRIGAÇÃO CIVIL E EMPRESARIAL...............................................................................................10 OBRIGAÇÃO MORAL ........................................................................................................................10 OBRIGAÇÃO NATURAL.....................................................................................................................10

04 - OBRIGAÇÃO DE DAR ....................................................................................................................12 Generalidades ....................................................................................................................................12 Conceituação......................................................................................................................................12 Divisão das obrigações de dar............................................................................................................12 Obrigação de dar coisa certa .............................................................................................................13

Generalidades.................................................................................................................................14 Perda ou deterioração da coisa.......................................................................................................14 Cômodos.........................................................................................................................................15

Obrigação de dar a coisa incerta ........................................................................................................15 Generalidades.................................................................................................................................15 Competência para escolha e seleção da coisa - CC. Art. 244. .......................................................16 Efeitos da concentração - CC. Art. 245 ..........................................................................................16

Obrigação de solver dívida em dinheiro ..............................................................................................17 05- OBRIGAÇÃO DE FAZER.................................................................................................................18

Obrigação de fazer .............................................................................................................................18 Generalidades.................................................................................................................................18 Diferenças entre a obrigação de dar e fazer....................................................................................18 Espécies de obrigações de fazer....................................................................................................19 Conseqüências do descumprimento das obrigações.......................................................................19

06 - OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (AD NON FACIENDUM) ................................................................21 Generalidades ....................................................................................................................................21 Inadimplemento das obrigações de não fazer.....................................................................................21

07 - OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS.........................................................................................22 Obrigações líquidas ............................................................................................................................22 Obrigações ilíquidas ...........................................................................................................................22 Diferença entre ilíquida e de dar a coisa incerta .................................................................................23 Efeitos da obrigação ilíquida ...............................................................................................................23

08- OBRIGAÇÕES SIMPLES E CUMULATIVA......................................................................................24 Obrigações simples ............................................................................................................................24 Obrigação cumulativa .........................................................................................................................24

09 - OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (DISJUNTIVAS) .........................................................................25 Generalidades ....................................................................................................................................25 Concentração do débito na obrigação alternativa ...............................................................................25 Conseqüência da inexeqüibilidade das prestações.............................................................................27

10 - OBRIGAÇÃO FACULTATIVA (OBRIGAÇÃO COM FACULDADE ALTERNATIVA) ........................29 11 - OBRIGAÇÃO MOMENTÂNEA E CONTINUADA.............................................................................30

Obrigação momentânea ou instantânea .............................................................................................30 Obrigação de execução continuada ou periódica................................................................................30

12 - OBRIGAÇÕES CONDICIONAIS .....................................................................................................32 Introdução...........................................................................................................................................32 Definição.............................................................................................................................................32 Efeitos.................................................................................................................................................32

13 - OBRIGAÇÃO MODAL.....................................................................................................................36 Generalidades ....................................................................................................................................36

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Direito Civil – Obrigações

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Conseqüências jurídicas .....................................................................................................................36 14 - OBRIGAÇÃO A TERMO .................................................................................................................37

Exigibilidade da obrigação a termo .....................................................................................................37 15 - OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL E INDIVISÍVEL........................................................................................38

Introdução...........................................................................................................................................38 Indivisibilidade difere de solidariedade ............................................................................................38

Conceito de obrigação indivisível e divisível .......................................................................................38 A divisibilidade e indivisibilidade nas demais modalidades de obrigação ............................................39 Efeito da indivisibilidade da prestação ................................................................................................40 Perda da qualidade de indivisibilidade - CC. Art. 263.........................................................................42

16 - OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS..........................................................................................................43 Generalidades ....................................................................................................................................43 Caracteres da solidariedade ...............................................................................................................43 Espécies de obrigação solidária..........................................................................................................43 Normas comuns a solidariedade.........................................................................................................43 Distinção entre solidariedade e indivisibilidade ...................................................................................44 Vantagens da solidariedade................................................................................................................45 Fontes da solidariedade......................................................................................................................45 Solidariedade ativa .............................................................................................................................45

Generalidades.................................................................................................................................45 Efeitos .............................................................................................................................................45

Solidariedade passiva.........................................................................................................................47 Generalidades.................................................................................................................................47 Conseqüências................................................................................................................................48

Solidariedade recíproca ou mista........................................................................................................51 Extinção da solidariedade...................................................................................................................51

17 - OBRIGAÇÃO DE MEIO...................................................................................................................52 18 – OBRIGAÇÃO DE RESULTADO .....................................................................................................52 19 – OBRIGAÇÃO DE GARANTIA.........................................................................................................52 20 – OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS ...............................................................................53

Efeitos jurídicos ..................................................................................................................................53 21 - DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES ...............................................................................................55

Considerações gerais .........................................................................................................................55 22 - MODOS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES.................................................................................56

Generalidades ....................................................................................................................................56 23 - DO PAGAMENTO...........................................................................................................................57

Generalidades ....................................................................................................................................57 Requisitos essenciais ao exato cumprimento da obrigação ................................................................57

Satisfação exata do objeto da prestação.........................................................................................57 Presença da pessoa que paga - SOLVENS ..................................................................................58 Pessoa que recebe ACCIPIENS .....................................................................................................59

Tempo do pagamento.........................................................................................................................61 Convencionado o termo ..................................................................................................................61

Não ajustado o termo de vencimento..................................................................................................62 Vencimento das obrigações condicionais ........................................................................................62

Lugar de pagamento...........................................................................................................................62 Do pagamento e sua prova.................................................................................................................63

Requisitos da quitação ....................................................................................................................63 Do pagamento indevido ......................................................................................................................65

Introdução .......................................................................................................................................65 Requisitos para caracterização do pagamento indevido..................................................................65 Repetição do pagamento ................................................................................................................66 Casos excludentes da restituição do indébito..................................................................................67

24 - DO PAGAMENTO INDIRETO .........................................................................................................68 Generalidades.................................................................................................................................68

25 - DO PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO.......................................................................................69 Conceito .............................................................................................................................................69

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Direito Civil – Obrigações

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Casos legais em que se justifica a consignação – art. 335 do CC .....................................................69 Requisitos da consignação .................................................................................................................70 Levantamento do depósito..................................................................................................................71 Processo de consignação...................................................................................................................72 Efeitos do depósito judicial..................................................................................................................72

26 – PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO ............................................................................................73 CONCEITO.........................................................................................................................................73 NATUREZA JURÍDICA .......................................................................................................................73 MODALIDADES DE SUB-ROGAÇÃO PESSOAL...............................................................................74 EFEITOS ............................................................................................................................................76

27 - IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO .....................................................................................................77 DEFINIÇÃO ........................................................................................................................................77 REQUISITOS......................................................................................................................................77 ESPÉCIES..........................................................................................................................................78 EFEITO...............................................................................................................................................79

28 - DAÇÃO EM PAGAMENTO .............................................................................................................80 CONCEITO, OBJETO A NATUREZA JURÍDICA ................................................................................80 Requisitos...........................................................................................................................................81 Efeito ..................................................................................................................................................81 Nulidade .............................................................................................................................................82

29 - NOVAÇÃO ......................................................................................................................................83 Conceito .............................................................................................................................................83 Requisitos essenciais .........................................................................................................................83 Espécies .............................................................................................................................................84 Efeitos.................................................................................................................................................85

Efeitos da novação quanto à obrigação extinta ...............................................................................85 Efeitos da novação em relação à nova obrigação ...........................................................................86

30 - COMPENSAÇÃO ............................................................................................................................87 Conceito a natureza jurídica ...............................................................................................................87 Espécies .............................................................................................................................................87 Compensação legal ............................................................................................................................87 Requisitos...........................................................................................................................................88 Compensação convencional ...............................................................................................................90 Compensação judicial.........................................................................................................................90

31 - TRANSAÇÃO.................................................................................................................................91 Definição e elementos constitutivos ....................................................................................................91 Caracteres ..........................................................................................................................................92 Modalidades e formas de transação ...................................................................................................92 Objeto.................................................................................................................................................93 Natureza jurídica.................................................................................................................................93 Nulidade .............................................................................................................................................93 Efeitos.................................................................................................................................................94

32 - COMPROMISSO.............................................................................................................................96 Conceito a natureza jurídica ...............................................................................................................96 Espécies .............................................................................................................................................96 Pressupostos subjetivos a objetivos ...................................................................................................97 Compromisso a institutos afins ...........................................................................................................98 Efeitos do compromisso......................................................................................................................99 Nulidade do laudo arbitral ...................................................................................................................99 Extinção do compromisso.................................................................................................................100

33 - CONFUSÃO..................................................................................................................................101 Conceito a requisitos ........................................................................................................................101 Espécies ...........................................................................................................................................102 Efeitos...............................................................................................................................................102 Extinção............................................................................................................................................102

34 - REMISSÃO DAS DÍVIDAS............................................................................................................103 Conceito a natureza jurídica .............................................................................................................103

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Direito Civil – Obrigações

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Modalidades .....................................................................................................................................103 Casos de remissão presumida..........................................................................................................104 Efeitos...............................................................................................................................................104

35 - EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL SEM PAGAMENTO ................................................106 Generalidades ..................................................................................................................................106 Prescrição.........................................................................................................................................106 Impossibilidade de execução sem culpa do devedor ........................................................................106

Noções gerais ...............................................................................................................................106 Caso fortuito a força maior ............................................................................................................106 Efeitos da inexecução da obrigação por fato inimputável ao devedor...........................................107 Advento de condição resolutiva ou de termo extintivo ...................................................................108

36 - Execução forçada por intermédio do Poder Judiciário ...................................................................109 Conseqüências da inexecução das obrigações por fato imputável ao devedor.................................111

Inadimplemento voluntário ............................................................................................................111 Fundamento da responsabilidade contratual do inadimplente...........................................................111

37 - MORA ...........................................................................................................................................113 Conceito a espécies de mora............................................................................................................113 Mora do devedor...............................................................................................................................113

Noção e modalidades....................................................................................................................113 Requisitos .....................................................................................................................................113 Efeitos jurídicos .............................................................................................................................114

Mora do credor .................................................................................................................................114 Conceito a pressupostos ...............................................................................................................115 Conseqüências jurídicas ...............................................................................................................116

Mora de ambos os contratantes........................................................................................................116 Juros moratórios ...............................................................................................................................117

Conceito a classificação dos juros.................................................................................................117 Juros moratórios............................................................................................................................117 Extensão dos juros moratórios ......................................................................................................118 Momento da fluência dos juros de mora........................................................................................118

Purgação da mora ............................................................................................................................118 Cessação da mora............................................................................................................................119

39 - CLÁUSULA PENAL.......................................................................................................................120 Conceito a funções ...........................................................................................................................120 Caracteres ........................................................................................................................................120 Modalidades .....................................................................................................................................122 Requisitos para sua exigibilidade......................................................................................................122 Paralelo com institutos afins .............................................................................................................123 Efeitos...............................................................................................................................................124

40 - CESSÃO .......................................................................................................................................126 Conceito de cessão ..........................................................................................................................126 Espécies de cessão..........................................................................................................................126 Cessão de crédito.............................................................................................................................126 Cessão de crédito a institutos similares ............................................................................................127 Requisitos.........................................................................................................................................127 Efeitos...............................................................................................................................................129 Cessão de débito..............................................................................................................................130

Conceito a pressupostos ...............................................................................................................131 Modos de realização .....................................................................................................................131 Efeitos ...........................................................................................................................................132

Cessão de contrato...........................................................................................................................132 Conceito........................................................................................................................................132 Requisitos .....................................................................................................................................133 Efeitos ...........................................................................................................................................133

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Direito Civil – Obrigações

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01 - OBRIGAÇÕES Noções iniciais – Direitos pessoais e direitos reai s O direito das obrigações consiste num complexo de normas que regem as relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito para outro. (Clóvis Bevilaqua). Os direitos patrimoniais consistem no conjunto de bens, direitos e obrigações de uma pessoa natural ou jurídica, sendo suscetíveis de estimação pecuniária, dividindo-se em pessoais e reais. Desta forma, os direito das obrigações trata dos direitos pessoais, vínculo jurídico entre sujeito ativo (credor) e sujeito passivo (devedor), em razão do qual o aquele pode exigir deste uma prestação. Assim, podemos afirmar que os direitos de crédito são: Direitos Relativos: pois dirigem-se a pessoas determinadas (não erga omnes), pois a prestação só pode ser dirigida ao devedor. Direitos a uma prestação positiva ou negativa: exigem certo comportamento do devedor - que reconhecerem o direito do credor de reclamá-la.

Distinções entre direitos reais e creditícios:

• Quanto aos sujeitos: o Pessoais: dualidade de sujeitos – ativo e passivo; o Reais: só um sujeito (relação homem e coisa).

• Quanto a ação:

o Pessoais: atribuem a seu titular uma ação pessoal dirigida somente a um indivíduo; o Reais: conferem a seu titular uma ação contra quem indistintamente detiver a coisa;

• Quanto ao limite:

o Pessoais: ilimitado – autonomia da vontade – permite criação de novas figuras contratuais;

o Reais: não pode ser objeto de livre convenção – numerus clausus – tipos impostos.

• Quanto ao modo de gozar os direitos: o Pessoais: exige sempre um intermediário o obrigado a prestação o Reais: supõe exercício direto pelo titular do direito sobre a coisa.

• Quanto a extinção:

o Pessoais: extingue-se pela inércia do sujeito; o Reais: conserva-se até que se constitua uma situação contrária em proveito de outro

titular.

• Quanto a seqüela: o Pessoais: consiste no poder de exigir certa prestação que deve ser realizada por

determinada pessoa, não vinculando terceiros. o Reais: segue o seu objeto onde quer que se encontre.

• Quanto ao abandono:

o Pessoais: não é possível; o Reais: possível o abandono quando o titular não quer arcar com o ônus.

• Quanto ao usucapião:

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Direito Civil – Obrigações

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o Pessoais: não é possível; o Reais: um dos modos aquisitivos;

• Quanto a posse:

o possível nos direitos reais – exteriorização do domínio.

Categorias mistas (híbridas): Certas situações requerem a reunião de direitos obrigacionais e reais em uma só obrigação.

Obrigações propter rem A obrigação propter rem passa a existir quando o titular do direito real é obrigado, devido a sua condição, a satisfazer certa prestação. É uma obrigação entre o direito real e o pessoal , pois só existe em razão da detenção ou propriedade da coisa. Nessas obrigações o devedor é determinado de acordo com sua relação em face de uma coisa (provém sempre de um direito real). Caracteres:

• Vinculação a um direito real – coisa possuída; • Possibilidade de exoneração pelo abandono da coisa; • Transmissibilidade por meio de negócios jurídicos;

Conceitos e elementos “A obrigação é um vínculo jurídico pelo qual somos compelidos pela necessidade de pagar a alguém qualquer coisa, segundo os direitos de nossa cidade” (Institutas). “A obrigação é a relação jurídica , de caráter transitório , estabelecida entre devedor e credor cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento, o patrimônio do devedor” (Washington Monteiro de Barros). OBRIGAÇÃO: vínculo de direito pelo qual alguém - sujeito passivo - se propõe a dar, fazer, não fazer qualquer coisa - objeto - em favor de outrem - sujeito ativo . Essa definição contém os elementos fundamentais das obrigações. Elementos constitutivos das obrigações 1- VÍNCULO JURÍDICO : sujeita o devedor à realização de um ato positivo ou negativo no interesse do credor. É jurídico pois, é acompanhado de sanção. Teorias:

• Monista : obrigação uma só relação jurídica vinculando credor e devedor, cujo objeto é a prestação;

• Dualista : a relação obrigacional contém dois vínculos: um atinente ao deve do sujeito passivo de satisfazer a prestação em benefício do credor (debitum) e outro relativo a autorização dada pela lei ao credor que não for satisfeito, de acionar o devedor , alcançando seu patrimônio (obligatio). Essa teoria valoriza o obligatio esquecendo que o adimplemento da obrigação é regra , e seu descumprimento exceção. Para essa teoria, em regra, os dois elementos estão reunidos numa mesma pessoa, pois o devedor deve e responde pelo adimplemento da prestação.

• Eclética : os dois elementos debitum e obligatio são essenciais – reúnem-se e se completam.

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2- PESSOAL - PARTES NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL : duas partes determinadas ou determináveis, um sujeito ativo - credor - e um sujeito passivo - devedor . Importante a presença dos dois sujeitos na relação obrigacional, permitida a mudança subjetiva..

• Sujeito ativo - credor - tem a expectativa de obter do devedor o desempenho da obrigação. Pode ser único ou coletivo. Não precisa ser individuado ou determinado; basta que seja determinável, identificando-se no momento do adimplemento da obrigação. Tem o direito de exigir o cumprimento da prestação.

• Sujeito passivo : cumpre-se o dever de colaborar com o credor fornecendo a prestação devida; limita-se o devedor a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, que adveio de sua vontade, ato ilícito ou imposição legal. Está o devedor vinculado legalmente, na hipótese de inadimplemento pode o credor recolher judicialmente. Pode ser único ou plural. Se houver mais de um devedor , a prestação devida consistira quer em uma fração do objeto, quer na totalidade , nesse último caso, uma vez paga, competirá ao que a cumpriu direito regressivo em relação aos co-devedores quanto a parte proporcional que lhe cabe.

3 – MATERIAL - OBJETO DA PRESTAÇÃO: ato humano positivo ou negativo: dar, fazer ou não fazer alguma coisa. Credor só dispõe de direito a prestação e não sobre o bem devido . Para que a prestação seja cumprida pelo devedor é preciso que ela seja:

• Lícita : conforme o direito, a moral bons costumes e à ordem pública, sob pena de nulidade da relação obrigacional (CC. Arts. 104 e 166 I e II);

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

• Possível : física e juridicamente, ou seja, não deve contrariar as leis da natureza (contrariar

leis físico-naturais, superar as forças humanas ou ser irreal) e não ser proibida por lei. Deve a impossibilidade ser absoluta, se temporária e cessar antes do implemento da condição não será causa de nulidade da obrigação.

Determinada ou determinável : sob pena de não haver obrigação válida. Quando houver perfeita individuação do objeto da prestação. Será determinável quando sua individuação for feita no momento de seu cumprimento, mediante os critérios estabelecidos, no contrato ou na lei, baseados em caracteres comuns a outros bens, seja pela indicação do gênero e da quantidade (obrigação genérica - CC art. 234). A passagem da indeterminação relativa para a determinação designa-se concentração da pessoa devida . Podem ser objeto de obrigação não só as prestações presentes, bem como, as futuras. (CC. arts. 458 e 459) Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.

Parágrafo único - Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

• Patrimonial : suscetível de apreciação econômica;

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02 - FONTES DAS OBRIGAÇÕES Fontes das obrigações Fonte das obrigações são os fatos jurídicos que dão origem aos vínculos obrigacionais , em conformidade com as normas jurídicas 1 - FONTES IMEDIATAS (PRIMÁRIA) :

• LEI: pois todos os vínculos obrigacionais são relações jurídicas; 2 - FONTES MEDIATAS - FATOS JURÍDICOS (lato sensu) :

• FATO NATURAL : ocorre sem intervenção da vontade humana; • VONTADE HUMANA: decorre do contrato - vontade conjugada - ou de corre de - ato

unilateral da vontade - promessa de recompensa, título ao portador,etc.. Pode ser: o VOLUNTÁRIO : produz fatos querido pelo agente;

� Ato jurídico: em sentido estrito: mera realização da vontade do agente � Negócios jurídicos : cria normas que regula os interesses entre as partes –

autonomia privada. o INVOLUNTÁRIOS : conseqüência jurídica alheia a vontade do agente. ATO ILÍCITO:

são as que se constituem através de uma ação ou omissão culposa ou dolosa do agente, causando dano à vítima. São diretas do comportamento humano infringente de um dever legal ou social.

A LEI quando a obrigação advém diretamente da lei, independente de um comportamento humano.

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03 - CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 1) CONSIDERADAS EM SI MESMA : A) OBRIGAÇÕES DE MÚLTIPLOS OBJETOS (MODO DE EXECUÇ ÃO) PODEM SER :

� CUMULATIVAS : várias prestações , todas devem ser cumpridas pelo devedor, podem ser de: dar ou fazer, ou dar e não fazer.

� SIMPLES: só um credor, só um devedor, um só objeto � ALTERNATIVAS : objeto é mais de uma prestação , o devedor se libera se cumprir uma delas,

apenas uma das prestações constitui o seu débito. � FACULTATIVA : a lei ou contrato permite o devedor exonerar-se do vinculo obrigacional

mediante a entrega de outra prestação - a primeira era devida a segunda constitui faculdade concedida ao devedor de preferi-la para saldar seu débito.

B) OBRIGAÇÕES QUANTO A MULTIPLICIDADE (PLURALIDADE) DE SUJEITOS:

� DIVISÍVEL: reparte-se em obrigações autônomas ,tantas quantas forem as partes credoras ou devedoras;

� INDIVISÍVEL: a lei resolve; � SOLIDÁRIAS : em virtude da lei ou vontade das partes, obrigações entre vários devedores e

credores, que enfeixadas passam a constituir um único vínculo jurídico. C) QUANTO AO FIM :

� DE MEIO: devedor promete evidar esforços para alcançar o resultado, cumpre a obrigação desde que a preste diligentemente e escrupulosamente o serviço prometido.

� DE RESULTADO : promete um resultado, se não o cumpre é inadimplente, traz problemas no campo da responsabilidade civil.

� DE GARANTIA . D) QUANTO AO TEMPO DE ADIMPLEMENTO :

� MOMENTÂNEA OU INSTANTÂNEA; � EXECUÇÃO CONTINUADA OU PERIÓDICA .

E) OBRIGAÇÕES QUANDO A FORMA (NATUREZA) DO OBJETO ( PRESTAÇÃO):

� DAR; � FAZER ; � NÃO FAZER .

F) QUANTO A LIQUIDEZ DO OBJETO :

� LÍQUIDAS ; � ILÍQUIDAS .

G) QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS ;

� PURA; � CONDICIONAL; � MODAL; � A TERMO.

H) QUANTO AO SEU VÍNCULO :

� MORAL; � CIVIL; � NATURAL.

I) RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS :

� OBRIGAÇÃO PRINCIPAL; � OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA .

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OBRIGAÇÃO CIVIL E EMPRESARIAL Na primeira há um vínculo jurídico que sujeita o devedor à realização de uma prestação positiva ou negativa no interesse do credor estabelecendo um liame jurídico entre os dois. A segunda diz respeito à atividade do empresário abrangendo não só atos de comércio, mas também as atividades industriais e de crédito. OBRIGAÇÃO MORAL Mero dever de consciência , cumprida apenas por questões de princípios , juridicamente é uma mera liberalidade. Não há como constranger o “devedor”no caso de inadimplemento. Amparada pela direito, após cumprida a liberalidade torna-se irrevogável – solutio retent io – de modo que aquele que “cumpriu” não pode reclamar restituição , alegando que não estava obrigado ao seu adimplemento. OBRIGAÇÃO NATURAL Na obrigações naturais é preciso apreciar o vínculo. Na obrigação civil o vínculo jurídico está provido de ação , tendente a efetivar a prestação do devedor, de modo que este está juridicamente vinculado a execução da prestação estabelecida, o credor quando o devedor não a cumprir tem o direito de reclamá-la judicialmente. Tem-se o vinculum solius aequitatis , sem obligatio , ou seja, há o credor o devedor e o objeto, mas não há ação, não tem o credor como compelir o devedor ao pagamento da prestação. Diferentemente da obrigação moral quando cumprida considera-se uma liberalidade, na obrigação natural considera-se o cumprimento da obrigação como pagamento válido, podendo ser retida pelo credor e não repetida pelo devedor. Apesar do credor não ter direito a ação creditória ele possui a soluti retentio, assim, o devedor não pode exercer a condictio indebiti. Assim a obrigação natural é aquela em que o credor não pode exigir do devedor uma certa prestação, embora, em caso de seu adimplemento voluntário ou espontâneo, possa retê-la a título de pagamento e não de liberalidade.

Caracteres : � Não se trata de obrigação moral; � Acarreta inexigibilidade da prestação, daí ser também designada como obrigação juridicamente

inexigível; � Cumprida espontaneamente por pessoa capaz, ter-se-á a validade do pagamento � Irretratabilidade de seu pagamento � Seus efeitos de previsão normativa;

Efeitos : � Ausência do direito de ação do credor para exigir seu adimplemento; � Denegação do repetitio indebiti ao devedor que realizou; � Não é suscetível de novação, composição e compensação; � Não comporta fiança; � Não se aplica o regime prescrito no Código Civil para os vícios redibitórios;

Nosso C. Civil não menciona a obrigação natural resvalando-a quando trata da:

� irrepetibilidade da prestação paga – CC. Art. 882 e 883;

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� da dívida de jogo e aposta – 814 e 815; � mútuo feito a menor sem autorização – 588 e 589.

Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.

Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei.

Parágrafo único - No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz.

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.

§ 1º Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.

§ 2º O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos.

§ 3º Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares.

Art. 815. Não se pode exigir reembolso do que se emprestou para jogo ou aposta, no ato de apostar ou jogar.

Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor; V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

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04 - OBRIGAÇÃO DE DAR Generalidades A obrigação de prestação de coisa vem a ser aquela que tem por objeto mediato de uma coisa – certa (CC. art. 233 a 242) ou incerta (CC. art. 243 a 246). A obrigação será específica se tiver se tiver por objeto a coisa certa e determinada. Será genérica quando o seu objeto for indeterminado. Conceituação OBRIGAÇÃO DE DAR : consiste na entrega de alguma coisa, ou seja, na tradição de alguma coisa para o devedor. A prestação, na obrigação de dar, é essencial à constituição ou transferência do direito real sobre a coisa. Divisão das obrigações de dar As obrigações de dar se dividem em: dar a coisa certa , dar coisa incerta, restituir.

� RESTITUIR: envolve uma devolução, como ocorre com o depositário, comodatário que recebida coisa alheia encontra-se adstrito a devolvê-la - o credor é dono da coisa, o que não ocorre na simples obrigação de dar .

� Se provar a perda da coisa que deve ser restituída sem que tenha havido culpa do devedor , o credor, por ser proprietário arcará com todos os prejuízos, e a obrigação se extinguirá (CC. art. 238).Havendo perda da coisa por culpa do devedor , este responderá pelo equivalente mais perdas e danos (CC. arts. 239, 583 e 1995).

Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.

Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior.

Art. 1.995. Se não se restituírem os bens sonegados, por já não os ter o sonegador em seu poder, pagará ele a importância dos valores que ocultou, mais as perdas e danos.

� Sofrendo deterioração sem que tenha havido culpa do devedor , o credor deverá

recebê-lo no estado em que se encontrar, sem qualquer indenização, caso a deterioração ocorra por culpa do devedor o credor pode exigir o equivalente , podendo, optar pelo recebimento do bem do bem no estado em que se encontra, acrescido de perdas e danos (CC. arts. 240, 1435 IV).

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado:

IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida;

� Valorizando-se a coisa restituível em virtude de melhorias e acréscimos que se derem sem despesa ou trabalho do devedor, lucra o credor sem pagar indenização (CC. arts.241, 629, 1435). Mas se teve melhoramentos em razão do dispêndio do devedor, deve o credor pagá-los (CC. art. 242), neste caso deve se observar se o devedor procedeu de boa ou má fé. Se de boa fé terá direito à indenização dos melhoramentos necessários e úteis, podendo, sem deterimento

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para coisa levantar os voluptuários, se não reembolsado; terá ainda direito a retenção no que concerne o valor dos acréscimos úteis e necessários. Se dá má fé terá apenas direito á indenização dos melhoramentos necessários sem que lhe assista o direito de retenção pela importância destes e dos úteis, não podendo levantar os de mero deleite, perde em favor do credor o útil ou voluptuários.

Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização.

Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.

Parágrafo único - Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.

Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado:

I - à custódia da coisa, como depositário, e a ressarcir ao dono a perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na dívida, até a concorrente quantia, a importância da responsabilidade; II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono dela, das circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação possessória; III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433, inciso V) nas despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital da obrigação garantida, sucessivamente; IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida; V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no caso do inciso IV do art. 1.433.

� Os frutos percebidos serão do devedor de boa fé, assim, o de má fé responde por

todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber.

� A diferenciação entre a obrigação de dar e de restituir tem importância no campo

processual, já que somente na resituição é cabível a busca e apreensão .

� DAR COISA INCERTA : não considerada em sua individualidade mas no gênero a que pertence. Deve ter dados como gênero e quantidade. No momento em que se efetua a escolha , individualiza o objeto da obrigação, a obrigação de dar a coisa incerta , transforma-se em obrigação de dar a coisa certa.

� DAR COISA CERTA : estabelece um vínculo entre as partes , devedor compromete-se a

entregar ou restituir objeto determinado, assim considerado em sua individualidade. Para exonera-se o devedor deve entregar o objeto determinado - ajustado no contrato - se não houver disposição em contrário o acessório seguirá o principal da obrigação.

� DE SOLVER DÍVIDA EM DINHEIRO : que abrange prestações especiais, consistentes não só

em dinheiro, mas abrangendo também aqui, perdas e danos e pagamento de juros.

� OBRIGAÇÕES DE CONTRIBUIR : CC. Arts. 1.315 e 1.568 – rege-se pelas normas da obrigação de dar e pelas disposições legais alusivas às obrigações pecuniárias.

Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita.

Parágrafo único - Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.

Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária.

Obrigação de dar coisa certa

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Generalidades Ter-se-á a obrigação de dar coisa certa, quando seu objeto foi constituído por um corpo certo e determinado, estabelecendo-se entre as partes da relação obrigacional, um vínculo em que o devedor deverá entregar ao credor uma coisa individuada. Rege-se por um princípio fundamental de que o devedor não poderá ser obrigado a receber outra coisa , ainda que mais valiosa, logo o devedor , para exonerar-se da obrigação , está adstrito a entregar exatamente o objeto determinado na convenção (CC. Art. 313). Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Mas se o credor aceitar aliud pro alio , ou seja uma coisa por outra, Ter-se- á dação em pagamento (CC. Art 356) devendo o devedor celebrar outro acordo com o credor, já que não pode mudar unilateralmente o objeto da prestação, da mesma forma para pagar a dívida parceladamente precisará efetuar novo pacato. Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.

A obrigação de dar a coisa certa , evidentemente, abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. (CC. Art. 233). Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Perda ou deterioração da coisa Deve o devedor conservar a coisa que deva entregar ao credor, devendo ainda, defendê-la de terceiros. (CC. art. 239) recorrendo, inclusive a medidas judiciais. Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.

Perdendo-se a coisa sem culpa do devedor, antes de efetuada a tradição ou pendente a condição suspensiva resolve-se a obrigação para ambos contratantes (CC. art. 234 – 1ª parte). Se já ocorreu a tradição e a coisa vier a se perder logo em seguida, o risco deverá ser suportado pelo comprador já que é seu dono, salvo se houver fraude. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Se a coisa se deteriorar sem culpa do devedor caberá ao credor escolher se considera extinta a relação obrigacional ou se aceita o bem no estado em que se encontra, abatido no seu preço o valor do estrago. (CC. art. 235). Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

Perecendo a coisa por culpa do devedor, ele deverá responder pelo equivalente, pelo valor que a coisa tinha no momento em que pereceu, mais as perdas e danos (dano emergente e lucro cessante.(CC. art. 234 2ª parte). Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

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Deteriorando o objeto por culpa do devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se achar, com direito a reclamar, em um ou outro caso, indenização de perdas e danos (CC. art. 236). Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.

Notamos, também, nos casos expostos que quem sofre o prejuízo, em regra, é o DONO DA COISA, seja pôr perda ou deterioração - Res perit domine.

Cômodos Cômodos são as vantagens produzidas pela coisa, ou seja, seus melhoramentos e acrescidos, que na obrigação de dar a coisa certa, pertencem ao devedor, que poderá por eles exigir aumento no preço ou a resolução da obrigação se o credor não concordar. (CC. Art. 237) Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

Parágrafo único - Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

No que atina aos frutos da coisa certa, os percebidos até a tradição serão do devedor, e os pendentes ao tempo da tradição do credor. (CC. Art. 237 – parágrafo único) Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

Parágrafo único - Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

Obrigação de dar a coisa incerta

Generalidades A obrigação de dar a coisa incerta consiste na relação obrigacional em que o objeto, indicado de forma genérica no início da relação, vem a ser determinado mediante um ato de escolha, por ocasião de seu adimplemento. Prestação é indeterminada, suscetível de determinação. O objeto da obrigação é referido em gênero e quantidade (CC. Art. 243), sem que nenhuma individualização seja feita. Não se pode cogitar os riscos derivados de seu perecimento ou deterioração. Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

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Para o cumprimento da obrigação a coisa indeterminada deve tornar-se determinada, individualizada; essa individualização se faz através da - ESCOLHA - o ato de seleção das coisas constantes do gênero. No momento desta escolha é que se aperfeiçoa a obrigação , transformando-se em obrigação de dar coisa incerta em obrigação de dar coisa certa , o devedor não poderá dar coisa pior, nem ser obrigado a prestar a melhor.

Competência para escolha e seleção da coisa - CC. Art. 244. Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.

Para que a obrigação de dar a coisa incerta seja suscetível de cumprimento, será preciso que a coisa seja determinada por meio de um ato jurídico unilateral de escolha - concentração , que é a sua individuação manifestada no instante de cumprimento de tal obrigação, mediante atos apropriados, como a separação (pesagem, medição e a contagem) e a expedição. A indeterminação é transitória. As partes estipulam a quem compete a escolha, que poderá inclusive ser delegada a terceiro (CC. Art.485), no seu silêncio, pertence ao devedor o direito de escolha, a lei limita a liberdade de seleção do devedor, não poderá prestar coisa pior que o credor escolheria, nem será obrigado a prestar a melhor. MÉDIA. Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa.

Se o contrato conferir ao credor a escolha (não poderá o credor praticar abusivamente o seu direito, os contratos devem ser interpretados em boa-fé, atendendo mais a sua intenção que ao sentido literal das palavras) .este será citado para esse fim sob pena de perder esse direito, caso em que o devedor deverá providenciá-la. (CC. Art. 342 c/c CPC Art. 629), qualquer das partes poderá impugnar a escolha feita pela outra no período de 48 horas. Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.

Efeitos da concentração - CC. Art. 245 Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.

Após escolha pelo devedor, ou pelo credor, a obrigação de dar coisa incerta passará a ser de dar a coisa certa, regendo-se pelas normas desta espécie, conseqüentemente , o credor poderá exigir o bem escolhido, não podendo entregar, o devedor , outro, ainda que mais valioso. Antes da concentração, sendo a obrigação de dar a coisa incerta, a coisa permanece indeterminada. Logo se houver perda ou deterioração da coisa, não poderá o devedor falar em culpa, em força maior ou em caso fortuito. Isto é assim porque genus nunquam perit , ou seja, se alguém vier a prometer 50 sacos de laranja, ainda que se percam em sua fazenda todas as existentes, nem por isso eximir-se-á da obrigação, uma vez que poderá obter laranjas em outro local.

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Obrigação de solver dívida em dinheiro Abrange prestação consistente em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros – dívida pecuniária, dívida de valor e dívida remuneratória. Trata-se de uma modalidade de obrigação de dar, que se caracteriza pelo valor da quantia devida. É obrigação de valor nominal não se admitindo que seja contraída pelo valor não se admitindo que seja contraída pelo valor intrínseco (valor da qualidade e quantidade de metal) ou pelo valor aquisitivo da moeda – CC. art. 315 – nulas as obrigações que repudiem nossa unidade monetária. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes.

Somente se o credor concordar a dívida em dinheiro poderá ser paga de outra forma. È possível s inclusão de certas cláusulas que evitem a desvalorização da moeda, são elas:

� Cláusula de escala móvel: pagamento que deverão ser feitos de acordo com a variação do preço de determinada mercadoria ou serviços (cláusula-mercadoria) ou do índice geral de custo de vida (cláusula index-number).

� Cláusula de correção monetária: de atualização de valores monetários, segundo índices

oficiais regularmente estabelecidos, que consistem em revisões estipuladas pelas partes, ou impostas por lei, que têm por ponto de referência a desvalorização da moeda.

Dívida de valor : não tem por objeto diretamente o dinheiro – seu objeto não é dinheiro mas uma prestação de outra natureza, sendo aquele apenas um meio necessário de liquidação da prestação em certo momento, aqui o devedor arca com a possível valorização. Obrigação pecuniária : tem por objeto uma quantia fixa em dinheiro, devendo ser satisfeita com o número de unidades monetárias estipulado no contrato, ainda que tenha sido alterado seu poder aquisitivo. Dívida remuneratória : prestação de juros, objeto da obrigação, remuneração pelo uso do capital alheio deve ser determinada por estipulação contratual ou por lei.

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05- OBRIGAÇÃO DE FAZER Obrigação de fazer

Generalidades OBRIGAÇÃO DE FAZER : devedor vincula-se à um comportamento, determinado consistindo em praticar um ato ou realizar uma tarefa, que gera vantagem para o credor. Envolve uma atividade humana. Dentro da idéia de fazer encontra-se a de dar, só que de dar a prestação de fato e não de coisa. Obrigação de fazer é a que vincula o devedor à prestação de um serviço ou ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro, em benefício do credor ou de terceira pessoa. Ex.: a de construir um edifício, a de escrever um poema, etc.. O inadimplemento da obrigação de fazer conduz, via de regra, ao ressarcimento das perdas e danos, já que não há como penhorar, arrestar ou apreender o objeto da obrigação de fazer, exceto quando se tratar de declaração de vontade, que pode ser suprimida judicialmente.

Diferenças entre a obrigação de dar e fazer Ambos constituem obrigações positivas, e muitas vezes se mesclam. QUANTO : DAR FAZER à prestação da obrigação Entrega de um objeto Realização de um ato ou

confecção de uma coisa À tradição Imprescindível Não ocorre

Ao devedor

Fica num plano secundário, prestação pode ser praticada por terceiros. CC art. 304 e 305 Erro sobre a pessoa do devedor não acarreta anulabilidade.

Personalíssima, a pessoa do devedor tem uma significância especial – CC art. 247, in fine Ë possível a anulação da obrigação por erro sobre a pessoa do devedor.

À execução Completa-se com a entrega da coisa

Não comporta a execução por entrega da coisa - inadimplemento resolve-se por perdas e danos

à astreinte Não é possível ser usada

Somente aqui é cabível, já que a astreinte é a multa destinada a forçar indiretamente o devedor a fazer o que deve e não repara o dano decorrente do inadimplemento. CC art. 287

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único - Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

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Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios.

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

Espécies de obrigações de fazer

� DE FAZER INFUNGÍVEIS - PESSOA DO DEVEDOR PREOCUPAÇÃ O ESSENCIAL DO CREDOR - CC. Art. 247 : Obrigação de fazer infungível consiste seu objeto num facere que só poderá ante a natureza da prestação ou por disposição contratual, ser executado pelo próprio devedor, sendo, portanto, intuitu personae , uma vez que se levam em conta as qualidades pessoais do obrigado. O credor poderá exigir que a prestação avençada seja fornecida pelo próprio devedor, devido sua habilidade técnica, cultura, reputação, etc.. NÃO estando obrigado a aceitar substituto. São os negócios

que elaboram-se intuitu personae , pois o credor visa a prestação avençada, se for fornecida por aquele devedor, cujas qualidades pessoais ele tem em vista. Por vezes não se funda em qualidades pessoais e objetiva do devedor, mas em condições particulares a critério do credor. Em nossa codificação civil a regra e a fungibilidade da prestação, para que seja considerada infungível , requer-se menção expressa , embora, em certos casos, em que não haja expressa menção, pode-se a infungibilidade ser reconhecida, dada as circunstâncias e acontecimentos do negócio (quando o devedor deve prestá-la pessoalmente)..

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

� DE FAZER DE NATUREZA FUNGÍVEIS : o que importa não é a pessoa do devedor, mas a tarefa a ser cumprida. Pode ser cumprida por terceiros, caso em que o credor será livre mandar executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da cabível indenização por perdas e danos.(CC. Art 249 c/c CPC. Art. 632 a 641). O objetivo do credor não leva em conta as qualidades pessoais do obrigado. São fungíveis todas as prestações que não requerem para sua execução aptidões pessoais, além dos requisitos comuns da especialização profissional.

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único - Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

Conseqüências do descumprimento das obrigações A – IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO - CC. Art. 248 A prestação torna-se impossível, irrealizável.

� POR CULPA DO DEVEDOR: responderá este por perdas e danos, deve compor o prejuízo; .(CC. Art. 248 – 2a parte e 389)

� SEM CULPA DO DEVEDOR : pela ocorrência de força maior ou caso fortuito, a

obrigação se resolve, voltam as partes ao status quo ante , havendo devolução do que,

porventura , tenham recebido, prevalecendo assim o princípio de que ad impossibilia nemo tenetur , ou seja, ninguém é obrigado a efetivar coisas impossíveis.(CC. Art. 248 – 1a parte e CC. art. 393).

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Se a prestação se impossibilitou por culpa do devedor, responderá por perdas e danos (CC arts. 248, in fine e 389) – não se pode realizar o impossível – ad impossibilia nemo tenetur. Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

B – INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO O devedor voluntariamente não cumpre a obrigação por não lhe convir, descumprimento do dever.

� SE INFUNGÍVEL: por ser intuitu personae , não pode em regra, o credor exigir a

execução direta da obrigação, ante o princípio de que nemo potest precise cogi ad factum , ou que ninguém pode ser coagido a praticar ato a que se obrigara; sem o agravo da liberdade do devedor, o credor reverte a reparação do prejuízo experimentado em perdas e danos. CC. Art. 247

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

� SE FUNGÍVEL: tem alternativa o credor, de um lado as perdas e danos, já referidas, e de

outro lado possibilita mandar executar a prestação por terceiro à custa do faltoso, devendo, nesse caso , recorrer a via judicial para comprovação da recusa do devedor e se alcança a aprovação da substituição pretendida .CC. Art. 249. Em caso de manifesta urgência , poderá o credor , independente de autorização judicial , executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. (CC.art. 249, in fine).

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único - Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

C - DE PRESTAR DECLARAÇÃO DE VONTADE : se o devedor não imite a declaração prometida (avençada), ela pode ser suprida judicialmente. A sentença transitada em julgado produzirá o efeito da declaração não emitida.

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06 - OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (AD NON FACIENDUM) Generalidades OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER : É aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato que poderia praticar , não fosse o vínculo que o prende - obrigação negativa. Será sempre lícita, desde que não envolva sensível restrição à liberdade individual. Abstenção de um ato. Obrigação negativa , devedor conserva-se numa situação omissiva, pois a prestação negativa a que se comprometeu consiste numa abstenção ou num ato de tolerância. Inadimplemento das obrigações de não fazer Ocorre quando o devedor comete o ato que deveria abster-se. A – IMPOSSÍVEL - CC. Art. 250 .: Se tornou-se impossível sem culpa do devedor a obrigação se extingue; Se a obrigação de não fazer se impossibilitar , sem culpa do devedor, que não poderá abster-se do ato, em razão de força maior ou caso fortuito, resolver-se-á exonerando-se o devedor. Se por ventura o credor fez algum adiantamento ao devedor, este deverá restituí-lo, esta restituição não tem o caráter de indenização, mas repõe as partes no status quo ante. Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.

B – INADIMPLEMENTO (INEXECUÇÃO CULPOSA) - CC. Art. 251: O devedor realiza, por negligência ou por interesse ato que não poderia, caso em que o credor:

• Pode exigir o desfazimento do ato, sob pena de desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado em perdas e danos, salvo se o desfazimento for satisfatório ao credor;

• Sendo impossível ou inoportuno desfazer o ato sujeita-se o devedor a perdas e danos. Em havendo urgência no desfazimento, o credor está autorizado a desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem o prejuízo do ressarcimento devido (CC. art.251, parágrafo único). Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.

Parágrafo único - Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.

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07 - OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS Obrigações líquidas LÍQUIDA: a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto a seu objeto. Especificada de modo preciso, numericamente e / ou em cifras a qualidade, a quantidade e a natureza do objeto devido. O termo inicial para contagem de juros, decorre de acordo entre as partes, arbitramento ou sentença judicial. CC.art 397 e 407 Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Parágrafo único - Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Obrigações ilíquidas ILÍQUIDA: é aquela incerta quanto à sua quantidade e que se torna certa pela liquidação, que é o ato de fixar o valor da prestação momentaneamente indeterminada, para que esta se possa cumprir. Assim, sem a liquidação dessa obrigação, o credor não terá possibilidade de cobrar o crédito. Depende de prévia apuração visto ser incerto o montante da prestação. Toda a obrigação ilíquida tende a converter-se e, líquida, tal conversão obtêm-se, em regra, no juízo pelo processo de liquidação, quando a sentença não fixar o valor da condenação ou não lhe individualizar o objeto. Pode resultar, também, a liquidação da transação (CC. art 840). A liquidação judicial dá-se sempre que não houver a legal e a convencional (CC. art. 948 a 954).. Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único - O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado.

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Parágrafo único - Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele.

Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo único - Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único - Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:

I - o cárcere privado; II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé; III - a prisão ilegal.

Diferença entre ilíquida e de dar a coisa incerta Esta nasce a incerteza com a própria obrigação, mas é determinável; já aquela não é originaria, não a escolha. Efeitos da obrigação ilíquida MORA: Não pode haver já que é ilíquida, salvo se a iliquidação é oriunda do devedor; a mora só é fixada após processo de liquidação. JUROS: contam-se desde a citação; NÃO COMPORTA: compensação (CC.art.369), imputação do pagamento (CC. art.352), consignação em pagamento e concessão de arresto (CPC. Art. 814, §1°) Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.

§ 1º Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.

SUSCETÍVEL DE FIANÇA : fiador só poder ser demandado depois de tornada líquida a prestação do devedor. (CC. Art. 821) Art. 821. As dívidas futuras podem ser objeto de fiança; mas o fiador, neste caso, não será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor.

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08- OBRIGAÇÕES SIMPLES E CUMULATIVA Obrigações simples É aquela cuja a prestação recai somente sobre uma coisa (certa ou incerta) ou sobre um ato (fazer ou não fazer). Produz um único efeito libera-se o devedor quando cumpre a obrigação. Obrigação cumulativa A obrigação cumulativa ou conjuntiva é uma relação obrigacional múltipla, por conter duas ou mais prestações – de dar, fazer ou não fazer, decorrentes da mesma causa ou do mesmo título, que deverão realizar-se totalmente, pois o inadimplemento de uma envolve o seu descumprimento total. Vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a realizar diversas prestações, de tal modo que não se considerará cumprida a obrigação até a execução de todas as prestações prometidas, sem exclusão de uma só. Satisfaz várias prestações como se fosse uma. O credor não pode ser obrigado a receber, nem tão pouco o devedor a pagar, por partes , se assim não se convencionou (CC. art. 314), se ajustado o pagamento poderá ser simultâneo ou sucessivo. Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

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09 - OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (DISJUNTIVAS) Generalidades OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS : Obrigações que embora múltiplo seu objeto o devedor se exonera satisfazendo uma das prestações dentre as várias. (nas cumulativas devem ser prestadas todas as prestações.). É a contém duas ou mais prestações, com objetos distintos, da qual o devedor se libera com o cumprimento de uma só delas, mediante escolha sua ou do credor. Caracteriza-se por:

• Haver dualidade ou multiplicidade de prestações heterogêneas; • Opera a exoneração do devedor pela satisfação de uma única prestação, escolhida para

pagamento ao credor. Chega um momento em que deve ser escolhido o objeto - a prestação - a ser prestada, importante observação é que as prestações são determinadas , diferente da obrigação de dar coisa incerta que refere-se à todo um gênero. Nas obrigações alternativas, perecendo alguns dos objetos, presta-se com o objeto remanescente, nele se concentrará, se todas perecem a obrigação se extingue. Obrigações alternativas oferecem vantagens tanto ao devedor, que pode oferecer a mais vantajosa, bem como, ao credor assegura o melhor adimplemento do contrato. Concentração do débito na obrigação alternativa : O cerne da obrigação alternativa está na concentração (ato da escolha) da prestação de que múltipla e indeterminada, passa a ser, então simples e determinada, uma vez escolhida, o débito se concentrará na prestação selecionada extinguindo a obrigação. Feita a escolha, a obrigação antes complexa torne-se simples. Esse ato de escolha denomina-se de concentração – sendo feita por que tem o direito de fazê-lo, nossa legislação dá liberdade as partes de convencionarem a quem cabe a escolha, em nada se estipulando caberá a escolha ao devedor – parte mais fraca da relação - (CC. art. 252). Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

A escolha terá lugar in solutione quando couber ao devedor, bastando simples declaração unilateral da vontade seguida da oferta real (CC. art. 252 § 1º). Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

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§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

Quando a escolha toca ao credor , ela terá lugar in petitione, mediante uma declaração de vontade receptícia (declaração unilateral da vontade comunicada à outra parte , sem necessidade de aceitação), só quando a outra parte toma conhecimento é que se terá a concentração do débito. Se o credor tiver que acionar o devedor deve indicar na inicial sua predileção (CPC art. 571 § 2º). Se o objeto da prestação for indeterminado e a escolha couber ao credor será ele citado para exercer esse direito em 5 dias se outro prazo não constar da lei ou do contrato, sob pena de perder o direito de escolha e ser depositada a coisa que o devedor escolher (CC. art. 342 c/c art. 894 do CPC) Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.

Sendo vários os credores deliberará a maioria, calculada pelo valor de suas cotas. Nada impede que a escolha seja dada a terceiro (CC.art. 252 § 4º) ou por sorteio (CC art. 817). Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

Art. 817. O sorteio para dirimir questões ou dividir coisas comuns considera-se sistema de partilha ou processo de transação, conforme o caso.

Não se aplica aqui, o princípio do meio-termo ou da qualidade média, o titular do direito pode optar livremente por qualquer das prestações da obrigação alternativa. Direito de escolha comporta transmissibilidade, pois pode ser, em regra, transferida aos herdeiros do credor e do devedor. Feita escolha, por quem quer que seja esta é definitiva e irrevogável. Se tratar-se de prestações periódicas ou reiteradas, a escolha efetuada em determinado tempo não privará o titular do seu direito da possibilidade de optar por prestação diversa no período seguinte. A lei reconhece o jus variandi , apenas para o devedor, logo se a escolha couber ao credor, ele não poderá valer-se do jus variandi. Ex.: o devedor obriga-se a pagar anualmente ao credor, dez valiosas obras de arte ou dois milhões de reais, a cada ano que passa poderá optar ora pela entrega das obras de arte, ora pelo pagamento da quantia, pois a escolha que fez num ano não obriga a mantê-la no ano seguinte. (CC.Art. 252 § 2o.). Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

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§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

Conseqüência da inexeqüibilidade das prestações 1) IMPOSSIBILIDADE ORIGINÁRIA OU SUPERVENIENTE EM RAZÃO DE PERECIMENTO OCASIONADO POR FORÇA MAIOR OU CASO FORTUITO

• Se UMA SÓ das prestações se impossibilitar SEM culpa do devedor, há uma concentração automática, e a obrigação subsiste quanto a outra. (CC. art. 253).

Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

• Se TODAS as prestações perecerem SEM culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação,

liberando-se as partes, só haverá exoneração se o devedor não estava em mora (CC. art 399). Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

• Havendo liberação em virtude de impossibilidade superveniente, deverá o devedor restituir ao

credor o que porventura recebeu anteriormente, e, havendo recusa da parte deste, poderá recobrar o indevido.

2) INEXEQÜIBILIDADE POR CULPA DO DEVEDOR

• Se a escolha competir ao credor e uma das prestações se tornar i mpossível por culpa do devedor, o credor terá o direito de exigir ou a prestação subsistente ou o valor da outra com perdas e danos (CC. art. 255, 1ª parte).

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.

• Se a escolha couber ao devedor e uma das prestações se tornar impossível por culpa sua ,

a obrigação concentrar-se-á na remanescente, pois o devedor não pode forçar o credor a receber o valor da que se perdeu.

• Se por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo a

escolha ao credor ficará o devedor obrigado a pagar o valor da última que se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar (CC. art. 254).

Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.

• Se por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, competindo a escolha

ao credor, este poderá pedir o valor de qualquer das duas, além da indenização pelas perdas e danos. (CC. art. 255, 2ª parte).

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.

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3) PERECIMENTO POR CULPA DO CREDOR A legislação não trata dessa hipótese, tem-se entendido que se a escolha competir ao devedor e uma das prestações se impossibilitar por culpa do credor, ficará o devedor liberado da obrigação, quando não preferir satisfazer a outra prestação exigindo que o credor indenize por pelas perdas e danos. Se perecer uma só prestação e a escolha for do credor culposo, liberar-se-á o devedor , salvo se o credor preferir exigir a outra prestação ou ressarcir perdas e danos. Se os dois objetos da prestação perecem por culpa do credor, o devedor a quem cabia a escolha ou não, poderá este pleitear o equivalente de qualquer delas , mais perdas e danos e exonera-se da obrigação. 4) IMPOSSIBILIDADE DA PRIMEIRA PRESTAÇÃO POR CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR, E DA SEGUNDA , POR CULPA DO DEVEDOR OU VICE-VERSA Perecendo a primeira sem culpa do devedor e a outra por sua culpa aplica-se o CC. Arts. 253 e 234, 2a. parte – subsiste a dívida em relação a remanescente – responde o devedor pela restante que se impossibilitou por culpa sua, pelo equivalente mais perdas e danos. Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Se a primeira perece por culpa do devedor e a segunda sem culpa sua aplicar-se-á o disposto no CC.art. 255, 1a. parte – onde o credor poder a optar entre a subsistente ou o valor da outra com perdas e danos. Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.

5) PERECIMENTO, PRIMEIRO DE UMA DAS PRESTAÇÕES, POR CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR E DEPOIS DA OUTRA POR CULPA DO CREDOR OU VICE E VERSA Perdendo uma das obrigações por motivo alheio a vontade dos interessados, a obrigação concentrar-se-á na restante, e se esta vier a desaparecer por culpa do credor, exonera-se o devedor. 6)INEXEQÜIBILIDADE DE UMA DAS PRESTAÇÕES POR CULPA DO DEVEDOR E OUTRA POR CULPA DO CREDOR : Se perece por culpa do devedor e a escolha cabe a ele concentra-se na remanescente; se por culpa do credor, este não pode pretender qualquer prestação, exonerado está o devedor.

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10 - OBRIGAÇÃO FACULTATIVA (OBRIGAÇÃO COM FACULDADE ALTERNATIVA)

Este tipo de obrigação não está prevista em nosso Código Civil. Podemos conceituá-la como aquela, que não tendo por objeto uma só prestação, permite a lei ou contrato ao devedor substituí-la por outra, para facilitar-lhe o pagamento. A prestação in facultae solutionis não é objeto da obrigação, logo o credor não pode reclamá-la. Pode o devedor optar por ela , se isso for de sua vontade. No caso de impossibilidade sem culpa do devedor, de prestar a obrigação ela se resolve, não se concentrando na prestação substitutiva. Se por culpa do devedor aplica-se por analogia o artigo 234, 2a. parte do CC, ou o cumprimento da obrigação supletória. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Não se confunde:

• Dação em pagamento : esta exige anuência expressa do credor, já a obrigação facultativa depende exclusivamente da vontade do devedor para substituição do objeto da relação obrigacional.

• Cláusula penal : são ambas exoneração do devedor mediante prestação diversa, pois na obrigação facultativa o credor só pode pedir o objeto da obrigação e na cláusula penal só pode pedir a pena convencional. Na obrigação facultativa o devedor se libera realizando a prestação principal, na cláusula penal o devedor não pode ofertar a multa em lugar do objeto principal.

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11 - OBRIGAÇÃO MOMENTÂNEA E CONTINUADA Obrigação momentânea ou instantânea A obrigação momentânea, instantânea, transitória ou transeunte é a que se consuma num só ato em certo momento. Obrigação de execução continuada ou periódica A obrigação de execução continuada, duradoura, contínua, de trato sucessivo ou periódica é a que se protrai no tempo, caracterizando-se num espaço mais ou menos longo de tempo. Os efeitos do inadimplemento da obrigação de execução continuada se dirigem ao cumprimento das prestações futuras e não ao das pretéritas, já extintas pelo seu cumprimento. A prescrição se aplica as prestações isoladas da obrigação e não a obrigação toda. (CC. art. 206). Art. 206. Prescreve:

§ 1º Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo; V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.

§ 3º Em três anos:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V - a pretensão de reparação civil; VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

§ 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

§ 5º Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

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II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Se a condição resolutiva for oposta em negócio de execução continuada, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé (CC. art. 128 2ª parte). Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

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12 - OBRIGAÇÕES CONDICIONAIS Introdução O negócio jurídico apresenta elementos estruturais (constitutivos), são eles: Elementos essenciais: imprescindíveis à existência do negócio jurídico, podem ser: Gerais: comuns a maioria dos negócios jurídicos; Particulares: peculiares a certas espécies por atinarem à sua forma. Elementos naturais: decorrentes do negócio jurídico, sem que seja necessário qualquer menção expressa a seu respeito, visto que a própria norma jurídica já determinam quais são essas conseqüências jurídicas.Ex.: art. 441 do CC. Elementos acidentais: são estipulações ou cláusulas acessórias – adicionadas pelas partes para modificar uma ou algumas de suas conseqüências naturais, como condição, modo encargo ou termo (CC. art. 121, 131 e 136). São encargos que modificam o negócio jurídico sem, entretanto, serem indispensáveis, pois sem a presença destes o negócio se perfaz. Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

Definição Obrigação condicional é a que contém cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e incerto. (CC.art. 121). Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Obrigação será condicional quando seu efeito, total ou parcial, depender de um acontecimento futuro ou incerto. São elementos dessa obrigação: futuridade e incerteza. Pode uma obrigação receber mais de uma condição podendo serem cumulativas ou alternativas. Difere a obrigação condicional com aleatória, ambas tem em comum a incerteza em relação a um evento futuro – na condicional : a existência depende de um acontecimento futuro e incerto - na aleatória : a incerteza recai tão somente sobre a extensão dos lucros e das perdas dos contraentes. Efeitos Quanto: Possibilidade :

• Física ou juridicamente possíveis : se puderem realizar conforme as leis físico-naturais e as normas de direito.

• Física ou juridicamente impossíveis:

� quando resolutivas : têm-se por inexistentes, bem como, as de não fazer coisas impossíveis – ato negocial deixa de produzir seus efeitos como se a obrigação fosse pura e simples;

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� quando suspensivas : serão tidas como inválidas, fulminando sua própria eficácia.

Licitude :

• Lícitas : as que não contrariam a lei – CC art. 122 1ª parte – a ordem e os bons costumes.;

• Ilícitas : se condenadas pela norma jurídica e pelos bons costumes – desde que absolutas (se afetarem a liberdade da pessoa) se relativas cumpre admitir a licitude.

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

Natureza :

• Necessárias : as inerentes à natureza do ato negocial.

• Voluntárias : são os autênticos atos negociais condicionais. Participação da vontade dos contraentes :

• Causais : dependem de um caso fortuito alheio à vontade das partes;

• Potestativas : decorrem da vontade de um dos contratantes, podem ser:

o Puramente potestativas : advindas de um mero arbítrio do agente, sendo consideradas defesas ou inválidas – CC. art. 122, 2ª parte;

o Simplesmente potestativas : se dependerem da prática de um ato, além do arbítrio exige-se uma atuação especial do sujeito.

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

• Promíscuas : que se apresentam no momento inicial como potestativas, vindo a perder essa

característica por fato superveniente, alheio à vontade do agente, que venha dificultar sua relação.

• Mistas : decorrem deliberadamente parte da vontade e em parte de elemento casual, que pode ser até mesmo a vontade de terceiro alheio a relação obrigacional.

Modo de atuação :

• Suspensivas : quanto os contraentes protelarem temporariamente a eficácia do negócio até a realização do evento futuro e incerto. Pendente tal condição o comprador não terá direito adquirido, contrato ó se aperfeiçoará com advento dessa condição. Conseqüentemente:

o Se pendente a condição, o credor não pode exigir o cumprimento da obrigação antes de seu implemento;

o Se o devedor pagar a obrigação antes do implemento da condição, caber-lhe-á a repetitio indebiti (CC. art. 876);

Art. 876. Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.

o Se a condição não se realizar, operar-se-á a extinção da obrigação; o Se alguém dispuser de um bem sob condição suspensiva, e , na pendência desta, fizer

novas disposições, estas não terão validade se, realizada a condição forem incompatíveis com ela (CC. art. 126);

Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

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o Se pendente a condição suspensiva, o prazo prescricional não correrá (CC. art. 199, I);

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

I - pendendo condição suspensiva;

o Pendente a condição o devedor da obrigação condicional poderá praticar os atos normais de gestão a te perceber os frutos da coisa, correndo os riscos pela sua conta, já que a condição suspensiva não obsta os atos conservativos – CC. art. 130.

Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.

o Ocorrendo implemento da condição na mesma data deve ser cumprida a obrigação;

o Perdendo-se o objeto da obrigação pendente a condição, sem culpa do devedor, resolve-

se a obrigação para ambos os contratantes (CC. art. 233 e 234) sendo o devedor culpado, deverá responder por perdas e danos.

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

o Deteriorando-se o objeto da prestação sem culpa do devedor, o credor poderá resolver a obrigação ou pedir abatimento do preço, se a deterioração for oriunda da culpa do devedor, o credor pode aceitar o bem no estado em que se encontra ou exigir o equivalente, em qualquer hipótese tem o direito a indenização das perdas e danos.

o Havendo condição suspensiva estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, ela não poderá agravar a posição dos demais sem anuência destes (CC. art. 278).

Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

• Resolutivas : subordinam a ineficácia do ato negocial a um evento futuro e incerto –

enquanto a condição não se realizar vigorará o negócio jurídico, podendo exercer desde o momento deste direito por ele estabelecido, mas, verificada a condição para todos os efeitos se extingue o direito a que ela se opõe (CC art. 127 e 128 1ª parte). Imediata a aquisição de direitos.O artigo 1.359 do CC confere efeito retroativo a condição resolutiva. Assim:

o Perdendo-se a coisa antes da tradição sem culpa do devedor (adquirente) sofre o credor (alienante) a perda, resolvendo-se a obrigação;

o Perdendo-se a coisa por culpa do devedor responderá ele pelo equivalente mais perdas e danos;

o Deteriorando-se sem culpa do devedor, o credor a receberá no estado em que estiver, sem direito a indenização.

o Deteriorando-se por culpa do devedor o credor poderá exigir o bem no estado em que se encontra ou o equivalente tendo o direito de reclamar , em qualquer dos casos indenização por perdas e danos.

Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

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Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

Sobre as condições temos ainda : A capacidade das partes e a forma do negócio regem-se pela norma jurídica que vigora ao tempo de sua constituição; O direito condicional é transmissível por ato inter vivos ou causa mortis; Reputa-se verificada a condição cujo o implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, do mesmo modo sucede com a condição dolosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.

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13 - OBRIGAÇÃO MODAL Generalidades Obrigação modal é a que se encontra onerada com um modo ou encargo, por cláusula acessória , que impõe um ônus à pessoa natural ou jurídica contemplada pela relação creditória. O onerado passa a ter o deve de empregar o bem recebido pela maneira e com a finalidade estabelecida pelo instituidor, de tal sorte que se houvesse essa cláusula ele não estaria vinculado a qualquer prestação, pois o modo, em regra, adere-se a atos de liberalidade. A obrigação modal pode ter por objeto uma ação (dar ou fazer) ou uma abstenção (não fazer) do onerado, em favor do dispoente, de terceiro ou do próprio beneficiário sendo que, neste último caso, o encargo assume a forma de um conselho, cujo descumprimento não acarretará nenhum efeito de direito, visto que não é admitida a reunião do débito e do crédito numa só pessoa. Conseqüências jurídicas Não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando imposto como condição suspensiva (CC. art 136); Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

A iliceidade ou impossibilidade física ou jurídica do encargo, será considerada como não escrita, salvo ter sido ela causa determinante do negócio caso em que será anulada (CC. art. 317). Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Gera declaração de vontade qualificada ou modificada que não pode ser destacada pelo negócio – deve o beneficiário cumprir o encargo sob pena de se revogar a liberalidade. Consistindo o encargo em uma obrigação personalíssima, falecendo o devedor sem o cumpri, resolve-se o ato negocial, voltando o bem ao poder do dispoente ou herdeiros Podem exigir o cumprimento do encargo o próprio instituidor, seus herdeiros, as pessoas beneficiadas ou o representante do MP. A resolução do negócio jurídico em virtude de inadimplemento de modo não prejudica os direitos de terceiros.

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14 - OBRIGAÇÃO A TERMO È aquela em que as partes subordinam os efeitos do ato negocial a um acontecimento futuro e certo. Termo é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico . Inicial (dies a quo) ou suspensivo : se fixar o momento em que a eficácia do negócio deve-se iniciar, retardando o exercício do direito (CC. art. 131). Não suspende a aquisição do direito, que só se torna exercitável com a superveniência do termo, os riscos da coisa certa ficam a cargo do credor, o devedor pode pagar antes do advento do termo, o credor não pode exigir a prestação da obrigação antes do tempo, salvo se estabelecida a seu favor, a prescrição começa a fluir do momento em que o direito se torna exeqüível e permitido estão os atos destinados a conservar esse direito. Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.

• Final (dies ad quem) ou resolutivo : determina a data da cessação dos efeitos do ato negocial, extinguindo as obrigações dele oriundas (CC. art. 135).

Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.

• Certo : quando estabelece-se um data (dia, mês e ano);

• Incerto : se referir a um acontecimento futuro, que ocorrerá em data indeterminada.

Exigibilidade da obrigação a termo A obrigação constituída sem prazo, reputar-se-á exeqüível desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em local diverso ou depender de tempo (CC. art. 134). Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

A obrigação a termo só poderá ser exigida depois de expirado o termo. O devedor só poderá ser compelido a cumprir o dever assumido no dia seguinte ao da expiração do termo convencionado. A obrigação para cumprimento em dia certo dispensa notificação ou interpelação para que, em caso de sua inexecução se configure mora do devedor ou do credor. O credor poderá cobrar o débito antes de vencido o prazo, quando:

• Falido o devedor, se abrir concurso creditório;

• Os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução em execução por outro credor;

• Cessarem ou se tornarem insuficientes as garantias do débito, fidejussórias ou reais, e o devedor intimado nega-se a reforçar.

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15 - OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL E INDIVISÍVEL Introdução O direito real caracteriza-se pela relação entre o homem e a coisa, que se estabelece diretamente e sem intermediário, contendo, portanto três elementos:

• O sujeito ativo; • A coisa; • Inflexão do sujeito sobre a coisa.

O direito pessoal se caracteriza como uma relação entre pessoas, abrangendo tanto o sujeito ativo (credor) como o passivo (devedor) e a prestação que o primeiro deve para o segundo. Esse direito só pode ser exercido se houver unicidade de credor ou devedor, caso em que se tem uma obrigação única. Fala-se em indivisibilidade da obrigação ou em solidariedade somente quando houver mais de um devedor ou se apresentar mais de um credor. A pluralidade de sujeitos encerra tantas obrigações quantas forem as pessoas credores e devedores – trata-se de uma obrigação múltipla ou conjunto, pois cada credor terá direito a uma parte e cada devedor responderá por sua quota. (CC. art. 257). Essa afirmação sofre duas exceções indivisibilidade e a solidariedade., pois aqui embora concorram vários sujeitos, cada credor apesar de ser uma parte, poderá reclamar o pagamento integral da prestação – cada devedor responderá pelo débito todo. Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Assim, REGRA: divisão da obrigação em tantas obrigações independentes quantas forem as partes. CC. Art. 257

� VÁRIOS CREDORES: cada um deles tem direito de receber uma parte da prestação; � VÁRIOS DEVEDORES: cada um deve pagar uma fração correspondente ao seu débito.

EXCEÇÃO A ESSA REGRA : indivisibilidade e solidariedade,:

• CREDORES: pode exigir de cada qual o pagamento integral; • DEVEDORES: paga integralmente à um dos credores e liberta-se da dívida.

Indivisibilidade difere de solidariedade � NA INDIVISIBILIDADE : a prestação é exigível por inteiro de um só devedor em virtude da

natureza do seu objeto, insuscetível de repartição. � NA SOLIDARIEDADE: prestação a ser prestada é exigível por inteiro, pois advém da lei que

assim o determina ou da vontade das partes que assim ajustaram Conceito de obrigação indivisível e divisível Nosso código não conceituou a obrigação divisível mas sim a divisível (CC. art. 258). Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

Divisibilidade ou indivisibilidade, só é relevante se houver mais de um credor, mais de um devedor, caso contrário é irrelevante. Quando fracionando o objeto devido não só se alteraria sua substância, como representa sensível diminuição de seu valor. (CC. Art. 87 e 88). Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

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Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes Como vimos, ordinariamente a indivisibilidade e divisibilidade é oriunda da prestação da obrigação, de seu objeto, mas pode decorrer da vontade da lei, excepcionalmente da vontade das partes, ou seja, convencionam as partes que uma prestação de natureza divisível, será considerada para o negócio em questão indivisível e por decisão judicial.

� OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL : é aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor. Havendo multiplicidade de devedores ou credores esta presumir-se-á dividida em tantas obrigações quantos forem os credores e devedores.

� OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL: É aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não

comportando sua cisão em várias obrigações parceladas distintas, pois uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral. A indivisibilidade pode ser: física, legal, convencional ou judicial. (CC. Art. 258) Havendo pluralidade de devedores cada um será obrigado pela dívida toda (CC art. 259). Havendo multiplicidade de credores cada um deles poderá exigir o débito por inteiro, mas o devedor somente se desobrigará pagando a todos conjuntamente ou a um deles, dando este caução de ratificação dos outros credores.

o Física: não pode ser fracionada em prestações homogêneas, cujo o valor seja proporcional ao todo.

o Legal: motivos variáveis que impedem sua divisão, ainda que seja naturalmente divisível. o Convencional ou contratual : advém da vontade das partes; o Judicial : através de sentença.

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único - O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

A divisibilidade e indivisibilidade nas demais moda lidades de obrigação Obrigação de dar : pode ter uma prestação divisível ou indivisível, sendo divisível quando:

• Tiver como objeto a transferência do domínio ou de outro direito real, ante a divisão em partes ideais;

• Tratar-se de obrigação pecuniária; • Se referir a entrega de coisa fungível • Tratar-se de obrigação genérica compreendendo um certo número de objetos da mesma

espécie, igual ao dos co-credores ou co-devedores ou submúltiplo desse número. Será indivisível se atinar á constituição de servidões prediais, indivisíveis por disposição legal (CC. art. 1.386). Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem, no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada uma das porções do prédio dominante, e continuam a gravar cada uma das do prédio serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só se aplicarem a certa parte de um ou de outro.

Obrigação de restituir : geralmente é indivisível, o mesmo ocorre com o contrato de mútuo e de depósito. O credor não pode ser forçado a receber pro parte o objeto que se encontra na posse de outrem, a não ser que o permita. Obrigação de fazer : poderá ser:

• Divisível : se sua prestação constituir um ato fungível ou se relacionar com divisão do tempo, levando-se mais em conta a quantidade do que a qualidade;

• Indivisível : se sua prestação consistir em serviço dotado de individualidade própria.

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Obrigação de não fazer: em regra é indivisível, pois seu inadimplemento seja ele total ou parcial, acarreta sempre uma perda para o credor, entretanto, poderá ser divisível se sua prestação consistir num conjunto de abstenções que não se relacionem entre si. Efeito da indivisibilidade da prestação Divisível se reparte em tantas quantas obrigações forem os credores ou devedores. A – OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL COM UNICIDADE DE CREDOR E D EVEDOR: Havendo unicidade de sujeitos (um só credor e um só devedor), irrelevante será averiguar se a prestação é divisível ou não, pois o credor não poderá ser obrigado a receber nem o devedor a pagar por parte, se assim não se convencionou. B – OBRIGAÇÃO COM MULTIPLICIDADE DE DEVEDORES E CR EDORES - CC. Art. 257 : Havendo multiplicidade de credores ou de devedores em obrigação divisível, haverá presunção legal, juris tantum , de que a obrigação está dividida em tantas obrigações iguais e distintas quanto forem os credores ou os devedores. Tal presunção e juris tantum já que os contraentes podem dispor que seus quinhões não sejam equivalentes. Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Dessa presunção decorre o concursu partes fiunt, ou seja, havendo concurso de mais participantes numa mesma obrigação, nenhum credor poderá pedir senão a sua parte, nenhum devedor está obrigado senão pela sua parte material ou intelectual conforme o caso. Havendo a insolvência de um dos co-devedores sua quota-parte não onera as dos demais C - OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL COM PLURALIDADE DE DEVEDO RES - CC. Art. 259 :

� Cada um será obrigado pela dívida toda. Cada devedor só deve parte da dívida, todavia, em virtude da natureza indivisível da prestação pode ser compelido a satisfazê-la por inteiro. (CC. art. 259);

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único - O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

� Cabe ao devedor que paga a dívida indivisível por inteiro, ação contra os co-devedores, pois só devia parte da dívida.(CC.Art.259, parágrafo único). Trata-se de sub-rogação legal - CC. ART. 346 III – esse direito de regresso não vai além da soma desembolsada, deduzida a parcela que lhe competia (CC. Art. 350). A ação regressiva deverá ser proposta proporcionalmente às quotas de cada devedor e não a um só dos demais co-obrigados. (CC. Art 283 e 285).

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

� O credor não pode recusar o pagamento por inteiro feito por um dos co-devedores, sob pena de

ser constituído em mora. � A prescrição aproveita a todos os devedores, mesmo que reconhecida a favor de um só deles.

Sua suspensão ou interrupção aproveita e prejudica a todos (CC. Arts. 201 e 204 § 2º).

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Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

� Nulidade quanto a um dos devedores estende-se a todos. � O defeito do ato quanto a uma das partes se propaga as demais , não permitindo que ele

subsista válido (CC. Art 171). Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

� A insolvência de um dos co-devedores não prejudica o credor , pois está autorizado a demandar

de qualquer deles a prestação integral recebendo o débito todo do que escolher. D - OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL COM PLURALIDADE DE CREDOR ES - CC. Art. 260 :

� Cada credor pode exigir a dívida por inteiro. � o devedor se desobriga pagando a todos os credores conjuntamente poderá, entretanto, pagar

a dívida integralmente a um dos credores quando autorizado pelos demais ou se este der caução de retificar os demais, pois se contrário fosse, o devedor poderia pagar a credor insolvente que não repassaria as quota partes aos demais. Não havendo essa garantia real ou fidejussória , o devedor deverá, após constituí-los em mora, promover o depósito judicial da coisa devida. (CC. Art. 260 I e II).

Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:

I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

� Cada co-credor , sendo indivisível a obrigação , terá direito de exigir em dinheiro, daquele que

receber a prestação por inteiro, a parte que lhe caiba no total. CC. Art. 261 Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

� O co-credor que vier a receber o quadro X de Portinari, insuscetível de fracionamento, deverá ,

feita a sua avaliação, pagar aos demais co-credores, em dinheiro, a parte cabível ao crédito de cada um, restabelecendo-se a igualdade entre eles.

� CC. Art. 262 - Como se vê o perdão da dívida é pessoal, abrange apenas o que perdoou; logo

os demais co-credores deverão indenizar o devedor em dinheiro da parte que foi perdoada. A transação, a novação, a compensação e a confusão em relação a um dos credores não operam a extinção do débito para com os outros co-credores, que só poderão exigir descontada a quota dele.

Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.

Parágrafo único - O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

� A anulabilidade quanto a um dos co-credores estende-se a todos (CC. Art. 177).

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.

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Perda da qualidade de indivisibilidade - CC. Art. 263 Os devedores de uma prestação indivisível convertida no seu equivalente pecuniário passarão a dever, cada um deles, a sua quota-parte, pois a obrigação torna-se divisível ao se resolver em perdas e danos. O inadimplemento da obrigação converte-a em perdas em danos, dando lugar à indenização, em dinheiro, dos prejuízos causados ao credor. Se apenas um dos devedores foi culpado pela inadimplência, só ele responderá pelas perdas e danos, exonerando-se os demais; mas se a culpa for de todos, todos responderão por partes iguais, pro rata, cessando, assim a indivisibilidade. Aplica-se à indivisibilidade o princípio cessante causa, cessat effectus . (CC. art. 263 §§ 1º e 2º) Quanto a cláusula penal se só um dos co-devedor for culpado, todos os demais incorrerão na pena, entretanto ela só poderá ser demandada por inteiro do culpado, visto em relação aos demais a responsabilidade é dividida proporcionalmente à quota parte de cada um - ficando-lhes reservada a ação regressiva contra o que deu causa à aplicação da pena. (CC. Art. 414 , parágrafo único). Mas se o objeto da pena for indivisível , todos os coobrigados dela serão devedores integralmente. Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.

§ 1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais.

§ 2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota.

Parágrafo único - Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.

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16 - OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Generalidades SOLIDARIEDADE: É aquela em que, havendo uma multiplicidade de credores ou devedores, ou de uns ou de outros, cada credor terá direito a totalidade das prestações como se fosse um único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo débito total, como se fosse um único devedor (CC art. 264). È uma exceção a regra de que a obrigação se divide em tantas quantas forem os sujeitos. Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.

Na mesma obrigação concorre mais de um credor ou mais de um devedor, cada um com direito ou obrigação a dívida toda. (CC. Art. 264). Enfeixamento de várias relações jurídicas (conforme o número de devedores ou credores) em uma só relação jurídica Fusão em uma só de tantas obrigações individuais e autônomas quantos forem os devedores, após estabelecida a relação jurídica a modificação introduzida por um não afeta os demais Caracteres da solidariedade

� Pluralidade de sujeitos- ativos ou passivos : mais de um credor, mais de um devedor ou vários credores e devedores simultaneamente;

� Multiplicidade de vínculos : distinto ou independente o que une o credor a cada um dos co-devedores solidários e vice-versa.

� Unidade de prestação : cada devedor responde pelo débito todo e cada credor pode exigi-lo por inteiro;

� Co-responsabilidade dos interessados : pagamento da prestação efetuado por um dos devedores extingue a obrigação dos demais.

Espécies de obrigação solidária

� SOLIDARIEDADE ATIVA : mais de um credor; � SOLIDARIEDADE PASSIVA: mais de um devedor; � SOLIDARIEDADE RECÍPROCA OU MISTA : se houver pluralidade subjetiva ativa e passiva

simultaneamente,. Normas comuns a solidariedade

� Só se opera nas relações externas (co-credores e devedor / co-devedores e credor), não se opera nas relações internas (sujeitos que estejam na mesma categoria devedores e credores).

� Pagamento feito por um dos sujeitos o recebido por um, extingue a relação obrigacional.

Princípios comuns à solidariedade

� Será princípio comum à obrigação solidária o da variabilidade do modo de ser obrigação, visto que não é incompatível com sua natureza jurídica a possibilidade de estipulá-la como condicional ou a prazo para um dos co-credores ou co-devedores, e pura e simples para outro, desde que estabelecido no título originário. Isto é assim porque a solidariedade diz respeito à prestação e não a maneira pela qual ela é devida . (CC.Art. 266) Se a condição ou termo for pactuada após o estabelecimento da obrigação por um dos co-devedores este fato não pode agravar a situação dos demais sem o consentimento destes.(CC. Art.278);

Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.

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Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

� Solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes (CC art. 265);

Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

� Inocorrendo solidariedade ativa recebendo um dos credores os outros suportam o ônus do não

pagamento, se solidários o pagamento parcial efetuado á um deles, deve ser rateado por todos.

� Devedor não solidário torna-se insolvente, o credor sofre a perda e não pode reclamar dos outros devedores, na ocorrência da solidariedade se um dos devedores torna-se insolvente, escolhe o credor um ou mais de um devedor para cobrar o total da dívida.

Distinção entre solidariedade e indivisibilidade

QUANTO: SOLIDÁRIA INDIVISÍVEL

Fontes Próprio título - subjetiva - reside nas próprias pessoas – sendo oriunda da lei ou negócio jurídico

Natureza da prestação que não comporta a execução fracionada – objetiva – unidade da prestação

Extinção Com o falecimento de um dos co-devedores ou co-credores CC. Art. 270 e 276)

O óbito de um co-credor ou co-devedor não altera a relação jurídica.

Inadimplemento

Perdura ainda que se transforme em perdas e danos – CC ART. 271 e 263. Todos os co-devedores respondem pelos juros, ainda que a ação tenha sido proposta contra um deles. CC. Art. 280

Transformada em perdas e danos, torna-se divisível . Sendo culpa só de um dos devedores , os outros ficam exonerados de responder por perdas e danos. CC. Art. 263 § 1o.

Prescrição Interrupção aberta por um dos credores aproveita os demais . CC Art. 204 § 1o.

Interrupção aberta por um dos credores não aproveita os demais . CC Art. 204 § 2o.

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.

§ 1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais.

§ 2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

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Vantagens da solidariedade

� SOLIDARIEDADE ATIVA: de menor interesse; � SOLIDARIEDADE PASSIVA : arma eficiente de garantia dos credores, em vez de acionar cada

qual devedor para pagamento de sua fração de crédito, reclama de um ou alguns o pagamento do todo.

� Fontes da solidariedade SOLIDARIEDADE , como exceção ao princípio geral das obrigações, não se presume resultando da lei ou da vontade das partes.

� SOLIDARIEDADE LEGAL: deriva da vontade da lei. Como interpretação das partes, como

garantia aos credores, como sanção. A finalidade da solidariedade é a garantia do credor. Exs.: CC. Arts. 154, 672, 680, etc... Inadmissível em nosso direito a solidariedade presumida, resultando ela de lei ou de vontade das partes e por importarem um agravamento da responsabilidade dos devedores, que passarão a ser obrigados pelo pagamento total da prestação. Os vários credores ou vários devedores acham-se unidos por força de lei ou por ato de vontade para consecução de um objetivo comum. Se a lei não impuser ou o contrato não a estipular, não se terá solidariedade. CC. Art. 265.

Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

� CONVENCIONAL: provém da vontade das partes, essa vontade deve ser inequívoca, através

de negócio jurídico contratual ou unilateral.; contrato, testamento etc..

Solidariedade ativa

Generalidades SOLIDARIEDADE ATIVA: havendo vários credores , cada qual pode exigir do credor comum a dívida por inteiro, tem como inconveniente que os co-credores ficam a mercê de um só dentre eles que pode receber a totalidade da dívida e tornar-se insolvente, carecem, neste caso, de ação contra o devedor original. Solidariedade ativa é a relação jurídica entre vários credores de uma obrigação, em que cada credor tem o direito de exigir do devedor a realização da prestação por inteiro, e o devedor se exonera do vínculo obrigacional pagando o débito a qualquer um dos co-credores.

Efeitos NAS RELAÇÕES EXTERNAS (entre co-credores e devedore s):

� cada credor solidário tem direito de exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro (CC. Art. 267) ;

Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.

� qualquer credor poderá promover medidas assecuratórias do direito de crédito;

� cada um dos credores poderá constituir em mora o devedor sem concurso dos demais;

� A interrupção da prescrição requerida por um co-credor, a todos aproveita; CC. Art. 204 § 1o..

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Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

� A suspensão da prescrição em favor de um dos credores solidários só aproveitará aos outros, se

o objeto da obrigação for indivisível – CC. Art 201; Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

� A renúncia da prescrição em face de um dos credores a todos aproveitará;

� Qualquer co-credor poderá ingressar em juízo com ação adequada para que se cumpra a

prestação, extinguindo o débito : o Só poderá executar a sentença o próprio credor-autor e não outro estranho à lide. o O devedor não poderá opor a um dos credores, as exceções pessoais oponíveis aos

outros. CC. Art. 273 o Julgamento contrário a um dos credores solidários não atingirá os demais e o favorável

aproveitar-lhe-á, salvo se fundada em exceção pessoal. Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros.

� Se um dos credores decai da ação, os demais ficarão inibidos de acionar o devedor comum; � A incapacidade de um dos credores solidários , não influencia a solidariedade;

� Enquanto algum dos co-credores não demandar o devedor, a qualquer deles poderá este pagar;

CC. Art. 268 Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar.

� Pagamento feito a um credor - CC. Art. 269 - Pagamento direto ou indireto produzirá efeito de

liberação total da dívida, pois se o credor tem o direito de liberar o devedor ao receber –lhe o pagamento, passando a devida quitação, tê-lo-á da mesma forma quando perdoar, inovar ou compensar o débito. Este artigo se coaduna perfeitamente à solidariedade: una obligatio, plures personae . A quitação do solvens o liberará em face dos demais co-credores.

Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago.

� O devedor poderá opor em compensação a um dos credores o crédito que tiver contra ele até a

concorrência do montante integral do débito;

� A confusão, na pessoa de um dos credores ou do devedor, da qualidade de credor e do devedor - terá eficácia pessoal; CC. Art. 383;

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.

� A constituição em mora do credor solidário, pela oferta de pagamento por parte do devedor

comum, prejudicará todos os demais – CC. Art. 400 Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

� Morte de um dos credores - CC. Art. 270 - Os herdeiros do credor falecido só poderão reclamar

o respectivo quinhão hereditário, ou seja, a parte no crédito solidário cabível ao de cujos, e não a totalidade do crédito. Mas a prestação poderá ser exigida por inteiro se o falecido deixou único herdeiro, se todos os herdeiros agirem em conjunto e se a prestação for indivisível.

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Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

� Conversão em perdas e danos - CC. Art. 271 e 407.

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

NAS RELAÇÕES INTERNAS (entre os co-credores solidár ios)

� Remissão da dívida - CC. Art. 272 - A solidariedade ativa acarreta conseqüências jurídicas nas

relações internas, isto é, entre os co-credores solidários, já que o credor que tiver perdoado a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba, ante o princípio da comunidade de interesses. Extinta a obrigação por pagamento , novação, remissão, compensação ou transação, o co-devedor favorecido será responsável pelas quotas-partes dos demais, que terão por sua vez, direito de regresso, isto é, de exigir do credor que recebeu a prestação a entrega do que lhe competir.

Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

Solidariedade passiva

Generalidades SOLIDARIEDADE PASSIVA: credor tem direito de exigir e receber de um ou de algum devedores, pode cobrar parte de um, continuando credor do restante, que remanescem pela solidariedade. A obrigação solidária passiva é a relação obrigacional, decorrente de lei ou da vontade das partes, com multiplicidade de devedores, sendo que cada um responderá IN TOTUM ET TOTALITER pelo cumprimento da prestação como se fosse o único devedor. Direitos do credor - CC. Art. 275 - O credor terá, sendo a solidariedade passiva , o direito de:

� escolher, para pagar o débito, o co-devedor que lhe aprouver e, se este não saldar a dívida, poderá voltar contra os demais conjunta ou isoladamente;

� exigir total ou parcialmente a dívida, embora ao devedor não seja lícito realizar a prestação em parte. Se reclamar de um deles parte da prestação, não se extinguirá a solidariedade, uma vez que os demais co-devedores continuarão obrigados solidariamente pelo restante do débito.

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Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único - Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

Conseqüências Nas relações entre os co-devedores solidários e o c redor :

� Credor terá direito de exigir de qualquer coobrigado a dívida , total ou parcialmente; CC. Art. 275 Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único - Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

� Pagamento parcial feito por um dos devedores solidários - CC. Art. 277 - Se um dos devedores

efetuar o pagamento parcial do débito, este não aproveitará aos demais, senão até a concorrência da quantia paga. O credor de uma dívida de 30,00, tendo recebido de um dos devedores solidários a quantia de 10,00, só pode reclamar dos demais 20,00, descontando os 10,00 já recebidos. O perdão dado pelo credor a um dos devedores solidários não terá o poder de apagar os efeitos da solidariedade relativamente aos demais co-devedores, que permanecerão vinculados, tendo apenas a redução da dívida proporcionalmente à concorrência da importância relevada.

Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada.

� Credor poderá escolher qualquer devedor para cumprir a prestação – mas os devedores terão a

liberdade de cumpri-la, tão logo crédito vença, independentemente da vontade do credor, desde que satisfaçam integralmente a prestação;

� Estipulação adicional - CC. Art. 278 Condição assumida por um co-devedor não atingirá os

demais, se estabelecida à revelia deste. Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

� Interrupção da prescrição operada contra um dos coobrigados, estender-se-á aos demais e seus

herdeiros (CC. Art. 204, § 1o.), entretanto quanto operada contra um herdeiro do devedor solidário não prejudicará aos outros herdeiros ou devedores , senão quando se tratar de obrigações ou de direitos indivisíveis (CC. Art. 204, § 2o.)

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

� Morte de um dos devedores solidários - CC. Art. 276 - O falecimento de um dos devedores

solidários não rompe a solidariedade que continuará a onerar os demais co-devedores. Os herdeiros o sucedem tanto no ativo como no passivo, sucedem na mesma posição que este

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ocupa na relação obrigacional, os herdeiros responderão pelos débitos do falecido desde que não ultrapassem as forças da herança. Com o óbito o devedor solidário, dividir-se-á a dívida, se divisível, em relação a cada um de seus herdeiros, pois cada qual responderá pela quota respectiva, salvo se a obrigação for indivisível, hipótese em que os herdeiros serão considerados, por ficção legal, como um só devedor solidário relativamente aos outros co-devedores solidários .

Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

� Confusão extingue a obrigação na proporção do valor do crédito adquirido, assim, se o credor

se tornar devedor solidário, a obrigação se resolverá proporcionalmente até a concorrente quantia do respectivo quinhão do débito, subsistindo a solidariedade quanto a parte remanescente.

� Renúncia da solidariedade - CC. Art. 282 - Pode se referir à algum, alguns ou todos os

devedores.: o RENÚNCIA TOTAL : solidariedade desaparece, a obrigação se divide em tantos quantos

forem os devedores, respondendo cada um pela sua quota parte. o RENÚNCIA PARCIAL: credor exonera um só devedor, a obrigação se biparte: contra o

exonerado torna-se simples, ficando esse devedor obrigado somente pela sua quota parte. A solidariedade continua contra os demais devedores , devendo ser abatido o valor do crédito destes, o quantum do devedor da obrigação simples. (CC. art. 282, parágrafo único).

Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.

Parágrafo único - Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.

� A novação entre o credor e um dos co-devedores, faz com que subsistam as garantias e

preferências do crédito novado somente sobre os bens do que contrair nova obrigação, ficando os demais devedores solidários exonerados por este fato. CC. art. 36

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.

� O devedor solidário pode compensar com o credor o que este deve ao seu coobrigado, até ao

equivalente da parte deste na dívida comum. O devedor apenas poderá fazer compensação no equivalente da parte que, na relação interna, é cabível àquele devedor que é, ao mesmo tempo, seu credor.

� Transação não aproveita nem prejudica senão àqueles que nela intervieram, ainda que diga

respeito à coisa indivisível, mas, se for concluída entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida relação aos co-devedores. (CC. art. 844 § 3º).

Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível.

§ 3º Se entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores.

� Cessão de crédito somente terá validade se o credor cedente notificar todos os devedores

solidários.

� Cessão de crédito somente terá validade se o credor-cedente notificar todos os devedores solidários.

� O credor pode acionar, se quiser, todos os co-devedores ou qualquer um deles à sua escolha,

propondo contra um dos co-devedores solidários não fica inibido de acionar os outros – CC. art. 275, parágrafo único.

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Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único - Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

� Todos os co-devedores solidários responderão perante o credor pelos juros moratórios, mesmo

que a ação tenha sido proposta somente contra um deles – CC. art. 280, 1ª parte. Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

� O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a

todos, não lhe aproveitando porém as pessoais a outro co-devedor – CC. art. 281 Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.

� A sentença proferida contra um dos co-devedores solidários não pode constituir coisa julgada

relativamente aos outros que não foram parte na demanda - CPC art. 472.

� Recurso interposto por um dos coobrigados aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns.

� O credor poderá cobrar o débito, antes de seu vencimento, de um dos co-devedores solidários

que se encontrar em algum dos casos do art. 333, I, II e II do CC. Não vencerá quanto a devedor solvens.

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:

I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.

Parágrafo único - Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

� Impossibilidade da prestação:

o Sem culpa dos devedores solidários , por ser decorrente de força maior ou caso fortuito, extingue a relação obrigacional, libera todos os co-devedores.

o Por culpa de um ou de alguns devedores solidários, subsiste a solidariedade para todos no que concerne ao encargo de pagar o equivalente, pelas perdas e danos responderá o culpado – CC. art. 279.

Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

Nas relações internas entre os coobrigados : Co-devedor que satisfez espontânea ou compulsoriamente a dívida, por inteiro, terá o direito de exigir de cada um dos coobrigados a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente se houver – CC. art. 283. Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Co-devedor a quem a dívida solidária solidária interessar exclusivamente responderá sozinho por toda ela para com aquele que a solveu – CC. art. 285.

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Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

O co-devedor culpado pelos juros de mora responderá aos outros pela obrigação acrescida – CC. art. 280 2ª parte. Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

O coobrigado que solver inteiramente o débito, supondo que a obrigação era solidária, terá direito á repetição da parte excedente à sua, visto que conjunta era a relação obrigacional. Solidariedade recíproca ou mista É aquela que apresenta concomitantemente pluralidade de credores e devedores. Extinção da solidariedade A solidariedade legal ou convencional pode desaparecer, desta forma, o credor ou devedor solidário perde a possibilidade de receber ou pagar a prestação por inteiro.

• Solidariedade ativa : extingue-se se os credores desistirem dela, estabelecendo, convencionalmente, que o pagamento da dívida se fará pro rata. A morte de um dos credores solidários não extingue a solidariedade, subsistindo quanto aos demais credores, entretanto, os herdeiros recebem o credito sem a solidariedade – CC. art. 270.

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

• Solidariedade passiva : desaparece com a morte de um dos coobrigados, em relação aos seus

herdeiros, sobrevindo quanto aos demais co-devedores solidários, assim, o credor só poderá receber do herdeiro do devedor finado a quota-parte de cada um, salvo nos casos de obrigação indivisível – CC. art. 276.

Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

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17 - OBRIGAÇÃO DE MEIO È aquela em que o devedor obriga-se tão somente a usar de prudência e diligência normais na prestação de certo serviço para atingir um resultado, sem, contudo, se vincular a obtê-lo.

18 – OBRIGAÇÃO DE RESULTADO É aquela em que o credor tem direito de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o que se terá o inadimplemento da relação obrigacional, tem em vista o resultado em si mesma.

19 – OBRIGAÇÃO DE GARANTIA É a que tem por conteúdo a eliminação de um risco, que pesa sobre o credor. Repara as conseqüências de realização do risco. São exemplos dessa obrigação: a do segurador e a do fiador, a do contratante relativamente aos vícios redibitórios, nos contratos comutativos, etc.... Em todas essas obrigações o devedor não se liberará da prestação , mesmo que haja caso fortuito ou força maior, já que o conteúdo da obrigação é a eliminação de um risco e o caso fortuito ou força maior o são. Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio.

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20 – OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS Em regra as obrigações são autônomas , dotadas de existência própria, excepcionalmente há obrigações que depende de outras. Assim, aquela que existe de per si chama-se obrigação principal. E aquela cuja existência supõe a da principal denomina-se acessória. Assim, há acessoriedade:

1. Nos juros; 2. Na fiança; 3. Nos direitos reais de garantia; 4. Na evicção; 5. Nos vícios redibitórios ; 6. Na cláusula penal; 7. Na cláusula compromissória; 8. Na cláusula de irrevogabilidade;

Efeitos jurídicos As obrigações acessórias e principais regem-se pelos mesmos princípios norteadores das relações entre coisa principal e coisa acessória, assim segue o preceito de que o acessório segue o principal, que produz os seguintes efeitos jurídicos:

• A extinção da obrigação principal implica, em regra, o desaparecimento da acessória;

• A ineficácia ou nulidade da principal reflete-se na acessória, nem sempre, como é o caso da nulidade por incapacidade do devedor em que permanece a fiança.

Art. 824. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor.

Parágrafo único - A exceção estabelecida neste artigo não abrange o caso de mútuo feito a menor.

Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor; V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

• A prescrição da principal afeta a acessória; Art. 206. Prescreve:

§ 3º Em três anos:

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

• A obrigação acessória estipulada por um dos co-devedores solidários, não poderá agravar os demais sem anuência destes;

Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

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• A cessão de um crédito abrange todos os seus acessórios. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios.

Ressalte-se que a sorte da acessória não atinge a principal, sendo independente a principal da acessória.

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21 - DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES Considerações gerais O efeito das obrigações abrange:

• Modos extintivos das obrigações • Das conseqüências do inadimplemento das obrigações.

PESSOAS SUJEITAS AOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES : Se a obrigação não for personalíssima alcançara não só as partes como também seus herdeiros, ou seja, o sujeito ativo e o sujeito passivo e seus respectivos herdeiros ou sucessores, quer por ato causa mortis , quer por ato inter vivos, vinculando-os juridicamente, de modo que se sujeitem aos efeitos da obrigação. PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO: Não se pode vincular terceiro a uma obrigação. Só será devedor o que se comprometer a cumprir uma prestação por manifestação de sua própria vontade, por determinação legal , ou por decorrência de ato ilícito por ele mesmo praticado . Logo se alguém vier a prometer ato de terceiro, este terceiro não estará obrigado a menos que consinta nisso. Se o terceiro não executar o ato prometido por outrem, sujeita o que prometeu obter tal ato à indenização do prejuízo. CC. art 439. Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.

Parágrafo único - Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.

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22 - MODOS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Generalidades

• Pelo pagamento direto ou execução voluntária da obrigação pelo devedor. CC. art. 304 a 333, 876 a 883

• Pelo pagamento indireto:

o Consignação; o Sub-rogação; o Imputação do pagamento; o Novação; o Compensação; o Transação; o Compromisso; o Confusão; o Remissão de dívidas;

• Pela prescrição, pela impossibilidade de execução sem culpa do devedor e implemento de

condição ou termo extintivo – extinção da obrigação sem pagamento, sem que o devedor cumpra sua prestação.

• Pela execução forçada, em virtude de sentença.

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23 - DO PAGAMENTO Generalidades FIM DA OBRIGAÇÃO: é o cumprimento por meio do qual se alcança o objeto por ela perseguido e se põe termo a relação jurídica entre o credor e o devedor. ADIMPLEMENTO: abrange todos os modos diretos ou indiretos de extinção das obrigações, pela satisfação do credor . Ato jurídico que extingue a obrigação, realizando-lhe o conteúdo. Inclui a novação, compensação, transação e confusão. PAGAMENTO: espécie do gênero adimplemento, desempenho voluntário da prestação por parte do devedor. PAGAMENTO: é a execução voluntária e exata , por parte do devedor, da prestação devida ao credor, no tempo, forma e lugar previstos no título constitutivo. Tem o pagamento natureza jurídica controvertida, pois pode ser um ato jurídico, um fato jurídico, um ato devido, um ato causal etc.. Requisitos essenciais ao exato cumprimento da obrig ação Presunção de um vínculo obrigacional que o justifique que derive de lei ou negócio jurídico que o justifique; Intenção de solver tal vínculo ou animus solvendi; Satisfação exata da prestação (objeto da obrigação): Presença da pessoa que paga - SOLVENS: pessoa que recebe ACCIPIENS. Satisfação exata do objeto da prestação : Só há exoneração com a entrega da exata coisa devida, abstenção de fazer ou fazendo determinado ato. Sendo complexa a obrigação o devedor só se libera se cumprir o débito integralmente o avençado, na forma e tempo. Desta forma só se libera o devedor se satisfizer exatamente a prestação devida, não poderá o credor ser obrigado a receber outra prestação, ainda que mais valiosa, e o devedor não poderá ser obrigado a pagar outra, senão a devida. Pagamentos em dinheiro devem ser por moeda corrente nacional. Lícita convenção de aumento progressivo de prestações sucessivas. Anuindo o credor na substituição do objeto da obrigação, teremos dação em pagamento e não pagamento. O devedor não poderá exigir que o credor receba por partes um débito convencionado a ser pago por inteiro, ainda que divisível a prestação. O devedor deverá satisfazer a prestação no modo, tempo e local convencionados.

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Presença da pessoa que paga - SOLVENS Imprescindível saber quem deve pagar. O principal interessado no pagamento da dívida é o devedor. Tratando-se de obrigação personalíssima , apenas este deverá cumpri-la, de forma que o credor não poderá aceitar de outrem a prestação (CC. art. 249) Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único - Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

Se a obrigação não for intuitu personae, será indiferente ao credor a pessoa que solver a obrigação – o próprio devedor ou outra por ele – pois o que lhe importa é o pagamento, já que a obrigação se extinguirá com ele. CC.art 304. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Outros podem igualmente ter os mesmos interesses (ex.: fiador), a lei confere a estes prerrogativas de pagar, obrigando o credor a receber e dar a quitação. Se este se recusa, o pagamento oferecido pelo interessado pode ser suprido pela consignação do mesmo em juízo. Esse pagamento efetuado pelo interessado tem como conseqüência a sub-rogação deste, em todos os direitos do accipiens .(CC. art 346, I a III). Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

SUB-ROGAÇÃO: transferência dos direitos do credor para aquele que solveu a obrigação ou empresta o necessário para solvê-la. Se houver pagamento por terceiro interessado, ao devedor somente será permitido opor ao sub-rogado as exceções que o crédito comportar, impugnando-o por nulidade ou por prescrição ou por qualquer outro motivo excludente da obrigação.CC. art 306. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Permite nosso CC. arts. 304 e 305, que terceiro não interessado pague a dívida, o credor não pode recusar tal pagamento. Terceiro não interessado juridicamente é aquele que não está vinculado à relação obrigacional existente entre credor e devedor, embora possa Ter interesse de ordem moral (ex.: pai que paga dívida da filha.).Terceiro não interessado não poderá pagar se o devedor se opuser. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único - Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

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Se o terceiro não interessado solver a dívida em nome e por conta do devedor, será considerado seu representante, tendo direito de reembolsar-se no que dispendeu. CC. art 304 Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Se o terceiro não interessado pagar em seu nome próprio , tem direito a ser reembolsado por meio da ação in rem verso, mas não sub-roga-se nos direitos do credor . Pois esse pagamento poderá ser um meio de vexar o devedor, como também, poderá possibilitar que o terceiro maldoso formule contra o devedor exigências mais rigorosas que as do primitivo credor.CC. art 305 Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único - Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

Se terceiro não interessado vier a efetuar o pagamento antes de vencida da dívida, somente terá direito ao reembolso no vencimento dela; logo terá que aguardar o vencimento fixado para reclamar do devedor a quantia que despendeu. CC. art 305, parágrafo único. Se terceiro não interessado efetuou o pagamento com desconhecimento ou contra a vontade do devedor, que se opôs, não poderá obter o reembolso, se o devedor tinha meios de ilidir a ação. CC. art 306. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Pagamento não raro se refere a entrega de dinheiro, ou transmissão do domínio de uma coisa , móvel ou imóvel, por vezes se efetua pela dação em pagamento que consiste na entrega de uma outra coisa que não a prestação devida para extinguir a obrigação, depende da anuência do credor. Consistindo a prestação a entrega de uma coisa, o pagamento só valerá quando feito por quem possa alienar o objeto - não só a capacidade genérica, bem como, a requerida pelo ato - . Não basta ter legitimidade para o pagamento, o objeto deve ser idôneo para efetuar o pagamento (não ser inalienável ou fora do comércio). CC. art 307 Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.

Parágrafo único - Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.

COISA FUNGÍVEL: entregue ao credor de boa-fé que a recebeu e consumiu, o pagamento é válido ainda que o solvens não tivesse capacidade legítima para efetuá-lo.Neste caso não há enriquecimento ilícito, pois o dono da coisa, em tese, teria ação contra o devedor. Se todavia , a coisa não chegou a ser consumida, o seu dono poderá reivindicá-la do accipiens. CC. art. 307 parágrafo único. Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.

Parágrafo único - Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.

Pessoa que recebe ACCIPIENS

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Deve-se pagar ao credor ou a quem de direito o represente, assim não ocorrendo, ou seja feito a terceiro desqualificado, o devedor pagou mal, e quem paga mal paga duas vezes, será inválido o pagamento e não terá força liberatória, exceto se: o credor ratifica e o pagamento aproveita o credor. CC. art 308. Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

É o credor, ordinariamente pessoa indicada para o pagamento, somente excepcionalmente não libera o devedor. Credor não é somente a quem foi constituído o crédito, mas o co-credor, quem o represente legal, judicial ou convencionalmente, seus sucessores, causa mortis (herdeiro ou legatário) ou inter vivos (cessionário do crédito, sub rogado no direito creditório) que são credores derivados. PAGAMENTO A CREDOR INCAPAZ DE QUITAR: Pagamento ato do devedor, quitação ato do credor - prova a quitação que a obrigação se extinguiu total ou parcialmente pelo adimplemento. Feito o pagamento à credor incapaz de quitar não deflui qualquer prova, pois o ato dele emanado é nenhum, tal pagamento será nulo ou anulável, conforme seja a pessoa que recebeu o pagamento absolutamente ou relativamente incapaz. Não vale o pagamento efetuado ao credor cientemente incapaz de quitar. Só valerá se ficar provado que o pagamento feito ao credor incapaz reverteu em benefício do credor.CC. art. 310 e 181. Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga.

PAGAMENTO A CREDOR IMPEDIDO DE RECEBER: Não libera o devedor, se este houver sido intimado, que a penhora foi efetuada sobre o débito que é responsável, ou, foi oposta à ele uma impugnação por terceiros. Cuida, aqui, de se preservar certos direitos dos credores do credor. Se o devedor paga a um desses credores, prejudicará os demais, que poderão exigir que pague novamente. CC. art. 312. Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. Uma vez penhorado o crédito deve ser intimado o devedor da penhora e para não pagar ao executado, confessando o débito deverá o devedor consigná-lo em juízo. Em ambos os casos, não deve ser pago ao credor , se o devedor assim o faz, deve pagar novamente, pois quem paga mal paga duas vezes, restando-lhe somente reclamar do accipiens (direito regressivo) aquilo que impensadamente lhe entregou. PAGAMENTO EFETUADO AO REPRESENTANTE DO CREDOR: Considera-se válido o pagamento quando efetuado ao representante do credor. Representantes: • LEGAIS: pais, tutores, curadores em relação aos incapazes;

• CONVENCIONAIS: são os portadores de mandato;

• JUDICIAIS: nomeados pelo juiz. Ex.: depositário. Qualquer um destes é capaz para receber, presume-se - juris tantum - que a pessoa que se apresenta para receber a dívida munido da quitação outorgada pelo credor é seu mandatário. O devedor poderá recusar o pagamento ao terceiro mesmo que tenha em mãos a quitação, exigindo prova de autenticidade do mandato tácito ou provando sua falsidade, uma vez que, se pagar mal, será obrigado a pagar novamente. Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.

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PAGAMENTO A CREDOR PUTATIVO: é aquele que passa aos olhos de todos como o verdadeiro credor, embora não o seja; apesar de estar de posse do título obrigacional (herdeiro ou legatário que perderão essa qualidade após anulação do testamento), para que o pagamento a ele efetuado tenha validade, será preciso que (CC. art. 309):

• boa-fé do solvens (devedor);

• escusabilidade de seu procedimento, uma vez que agiu cautelosamente. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.

Tempo do pagamento Questão do tempo de pagamento é relevante, antes do vencimento a obrigação não pode ser reclamada e tudo passa como se a dívida para efeito de sua exigibilidade inexistisse. VENCIMENTO DA DÍVIDA: O momento em que se pode reclamar o débito é o de seu vencimento. DISTINGUE-SE :

• obrigações puras: com ou sem vencimentos fixados;

• obrigações condicionais.

Convencionado o termo São menores as dificuldades apresentadas neste caso, no vencimento deve a obrigação ser cumprida, sob pena de incorrer em mora e demais conseqüências. CC arts 394 e 389. Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

No dia do vencimento dívida o devedor não pode retardar sua execução e o credor não poderá exigir antecipadamente a dívida, sob pena de esperar o tempo que faltava para o vencimento, de descontar os juros correspondentes e de pagar as custas em dobro. CC. art. 939 Tal assertiva comporta duas exceções: Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.

• antecipação por força da lei. CC. art. 333, I a III - se o credor falir, se o devedor for executado e se abrir concurso creditório, concurso revela não só a impontualidade, como a insolvência do devedor; se os bens hipotecados, empenhados ou dados em anticrese, forem penhorados em execução por outro credor; se as suas garantias asseguradoras do débito cessarem, ou se tornarem insuficientes e o devedor intimado, se negar a reforçá-las. Se houver, na dívida, solidariedade , na dívida, solidariedade passiva, seu vencimento antecipado, nos casos acima arrolados, relativo a um dos co-devedores, não atingirá os demais.

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:

I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.

Parágrafo único - Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

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• antecipação do pagamento por conveniência do devedor, quando o prazo houver sido estabelecido em seu favor , caso seja em favor do credor tem este o direito de recusar o pagamento antecipado.Presume-se que os prazos dos contratos haja sido estabelecidos em favor do devedor.CC art. 133

Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.

Não ajustado o termo de vencimento . Se as partes contratantes não vierem a ajustar a data para o pagamento da dívida, o credor poderá exigi-la imediatamente.CC art 331. Vigorando, então, o princípio da satisfação imediata, que poderá ser afastado pela própria natureza da prestação CC. art 134. (ex.: ninguém poderá exigir, imediatamente, a obrigação de encontrar uma mercadoria que se encontra em Paris, ou a de restituir objeto alugado para certa finalidade antes que seja alcançada). Credor pode por vezes exigir imediato pagamento, deriva da própria natureza do negócio, implica na concessão tácita de um intervalo. Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.

Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

Vencimento das obrigações condicionais CONDIÇÃO: cláusula que subordina o efeito do ato jurídico a evento futuro e incerto, aquele não adquire eficácia enquanto este não ocorrer. Só no momento de implemento da condição é que o débito resultante do negócio é exigível; a exigibilidade do crédito depende de evidenciar-se o implemento da condição, incumbe ao credor, a quem interessa o pagamento, a prova desse fato, prova de que houve ciência do devedor. Lugar de pagamento Em regra o pagamento se efetua no domicílio do devedor; supletiva é a vontade das partes , só se aplicando se as partes convencionaram a respeito ou se outras circunstâncias, a natureza da obrigação ou a lei não dispuserem sentido contrário. Lugar do pagamento é o do cumprimento da obrigação, que, está, em regra, indicado no título constitutivo do negócio, ante o princípio da liberdade de eleição.CC. art. 78 Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

DÍVIDA QUERABLE (QUESÍVEL) – se a partes nada convencionarem no contrato a respeito do lugar onde o pagamento deverá ser feito, este deverá ser efetuado no domicílio do devedor; no tempo do pagamento e não no do contrato. CC. art 327. Haverá uma presunção legal de que o pagamento é quesível (querable), uma vez que deverá ser procurado pelo credor o domicílio do devedor. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. A presunção do pagamento ser efetuado no domicílio do devedor sofre exceção quando:

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Se houver estipulação de que competirá ao devedor oferecer o pagamento no domicílio do credor, Ter-se-á dívida portável. - domicílio do credor, DÍVIDA PORTABLE (PORTÁVEL). CC. art. 327 Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Se certas circunstâncias especiais exigirem outro local para pagamento, não prevalecerá a presunção de que o pagamento deverá ser feito no domicílio do devedor. CC. art. 327, segunda parte. Ex.: o empregador deverá remunerar empregado no local de trabalho. O princípio in domo debitoris , não poderá prevalecer conforme a natureza da obrigação, que por si só, mostra o local do pagamento. Ex.: quando se despachar mercadoria por via férrea, com frete a pagar, solver-se-á a obrigação no instante em que o destinatário retirar o despachado. CC. art. 327, segunda parte. Casos existem em que a lei estipula o lugar do pagamento. Ex.: é a lei que determina onde deverão ser pagas as letras de câmbio. Se designarem dois ou mais lugares de pagamento, o credor deverá eleger o que lhe for mais favorável para receber o débito. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Do pagamento e sua prova Prova de pagamento é a quitação, escrito no qual o credor reconhecendo , ter recebido o que lhe era devido, libera o devedor até o montante do que lhe foi pago. Devedor que paga tem direito a quitação regular, se esta não lhe for entregue ou desacompanhada dos requisitos legais, a lei abre meios de defesa:

• pode reter o pagamento; em face da recusa da quitação, ou sua não regularidade, devedor susta o pagamento, não se podendo falar em culpa ou mora; (CC art. 319)

Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.

• pode consignar a prestação devida. Ante a recusa do credor em dar a quitação, ou dá-la irregularmente, o devedor cita-o para vir receber em dia, local, hora, designados pelo juiz. CC. art. 335, I

Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;

Requisitos da quitação Quitação é o documento em que o credor ou seu representante, reconhecendo Ter recebido o pagamento de seu crédito, exonera o devedor da obrigação. A quitação não precisa ter a forma do contrato, deve ter forma escrita, pode ser dada por instrumento particular, designando valor, espécie da dívida quitada, o nome do devedor ou quem por este pagou, o tempo e o lugar de pagamento e a assinatura do credor ou de seu representante, e para valer perante terceiros deve ser registrada no Registro de Títulos e Documentos. CC art. 320.

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Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.

Parágrafo único - Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.

A quitação poderá ser dada pela devolução do título, se tratar-se de débitos certificados por um título de crédito (nota promissória, letra de câmbio, título ao portador, etc..), pois, se o devedor o tiver em suas mãos, o credor não poderá cobrá-lo , salvo se provar que o devedor o conseguiu ilicitamente. Se o devedor tem o título em seu poder, há presunção do pagamento , uma vez que se supõe que o credor não o entregaria se não recebesse o que lhe era devido. Todavia, essa presunção é juris tantum, já que se o credor conseguir provar, dentro do prazo decadencial de 60 dias que não houve pagamento, ficará sem efeito a quitação. CC art 324 e 386. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.

Parágrafo único - Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Se der a quitação por escritura pública, Ter-se-á presunção juris et de jure de pagamento, salvo se o credor provocar a falsidade deste documento, o que acarretará nulidade do próprio ato, ou seja, da escritura pública de quitação. Com o pagamento, o credor deverá devolver o título ao devedor, quitando , assim a dívida. Todavia, poderá ocorrer que ao credor seja impossível a devolução do título particular em razão de sua perda ou extravio. Deverá, então, fornecer ao devedor uma declaração circunstanciada do título extraviado, contendo quitação cabal do débito, inutilizando-se o título não restituído. E se por ventura o credor se recusar a fazer tal declaração para invalidar o título que se perdeu, o devedor poderá reter o pagamento até receber esse documento. CC. art. 321 Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido.

da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.

Nas obrigações de prestação sucessiva e no pagamento em quotas periódicas, o cumprimento de qualquer uma faz supor que os das anteriores também se deu e o da última cria a presunção juris tantum, até prova em contrário, de que houve extinção da relação obrigacional, uma vez que não é comum o credor receber sem que as prestações anteriores tenham sido pagas. CC. art 322. Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação Se o credor der quitação do capital sem reserva de juros, haverá presunção juris tantum de que houve pagamento destes, por serem acessórios do capital. Presumir-se-á que a quitação abrange também os juros até que haja prova em contrário. Levenhagen acha que a presunção é juris et de jure . CC. art 323 Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.

As despesas com o pagamento e quitação, salvo estipulação em contrário, presumir-se-ão a cargo do devedor. Se, porém, o credor vier a mudar de domicílio ou a falecer, deixando herdeiros em locais diversos, arcará, pessoalmente ou através dos sucessores, com a despesa acrescida. CC art. 325 Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.

O devedor terá o direito de consignar em pagamento, ante a recusa do credor em dar a quitação citando este para esse fim, de forma que o devedor ficará quitado pela sentença que vier a condenar o credor, uma vez que a recusa deste caracteriza mora creditoris .

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As obrigações que têm por objeto uma prestação de dinheiro são denominadas pecuniárias, por visarem proporcionar ao credor o valor que as respectivas espécies possuam como tais. O pagamento em dinheiro far-se-á em moeda corrente no lugar de cumprimento da obrigação, ou seja, em real. No Brasil comina-se pena de nulidade às convenções que repudiarem essa unidade monetária. O pagamento mediante cheque deverá ser recebido pro solvendo e não pro soluto , pois, se não houver fundo, tal pagamento não terá eficácia . Do pagamento indevido

Introdução O pagamento indevido constitui, parte, de um assunto mais amplo que é o enriquecimento sem causa. Este representa o gênero, do qual aquele não passa de espécie. O repúdio ao enriquecimento indevido estriba-se no princípio maior da equidade, que não permite o ganho de um, em detrimento de outro, sem uma cause que o justifique. A restituição será devdida não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas se esta também deixou de existir. CC. art. 885 É ele alcançado através da ação in rem verso , concedida ao prejudicado Art. 885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.

PAGAMENTO INDEVIDO: é um das formas de enriquecimento ilícito, por decorrer de prestação feita, espontaneamente, por alguém com intuito de extinguir uma obrigação erroneamente pressuposta, gerando ao accipiens, por imposição legal , o dever de restituir, uma vez estabelecido que a relação obrigacional não existia, tinha cessado de existir ou que o devedor não era o solvens ou que o accipiens não era o credor. Espécies de pagamento indevido:

• PAGAMENTO OBJETIVAMENTE INDEVIDO : quando alguém vier a pagar dívida inexistente – há uma prestação errônea do solvens, que ignorava a inexistência do débito, assim, na ação de repetição de indébito, competir-lhe-á a prova do erro, demonstrando que estava convencido de que devia, quando na verdade nada devia.

• PAGAMENTO SUBJETIVAMENTE INDEVIDO : alguém ante a existência de uma dívida , vier a pagá-la , erroneamente , julgando ser o devedor, deverá para receber a restituição do valor pago, provar a ocorrência do erro.

Requisitos para caracterização do pagamento indevid o

• Enriquecimento por parte do accipiens : um aumento patrimonial , e igualmente, verifica-se pela diminuição do passivo de uma pessoa.

• Empobrecimento por parte do solvens : consiste ou numa diminuição de seu ativo patrimonial ou num acréscimo em seu passivo.

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• Relação de causalidade : entre o enriquecimento de uma e o empobrecimento de outra parte. Enriquecimento e empobrecimento são resultantes do mesmo fato.

• Ausência de causa : do empobrecido que paga a prestação indevida por erro de fato ou de direitoum pressuposto básico, para admissão de ação de in rem verso. Se um dos contratantes enriqueceu à custa de outro, mas tal fato se prende a uma causa derivada do contrato ou da lei, a ação de enriquecimento é incabível. Ex.: permite, a lei, o enriquecimento do beneficiário da prescrição em detrimento do credor.

• Falta de justa causa : jurídica que justifique no pagamento efetuado pelo solvens; Princípio do enriquecimento sem causa jurídica, que cause diminuição do patrimônio de outrem é que acarreta a obrigação de restituir o lesado com o pagamento.

• Subsidiariedade da ação in rem verso : inexistência de outro meio jurídico pelo qual o empobrecido possa corrigir a situação de enriquecimento sem causa. Não deve ser utilizada quando outra possa socorrer o lesado. CC. art. 886

Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.

Presente os requisitos autoriza-se ao lesado a obter o reestabelecimento de seu patrimônio, até o montante do lucro havido pelo enriquecido sem causa, reclamando a repetição de indébito por meio de ação in rem verso.Prazo prescricional de 3 anos DIREITO DE REPETIÇÃO: é aquele de se exigir a restituição do que se pagou indevidamente por erro.

Repetição do pagamento Se o pagamento não tem causa jurídica que o legitime, deve ser restituído. A lei impõe a quem recebeu o que não lhe era devido a obrigação de restituir. Do mesmo modo será devida a devolução, quando a obrigação for condicional e não houver ocorrido o implemento da condição. CC. art 876 e art 125 Art. 876. Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

A pessoa que vier a receber pagamento de dívida condicional antes de cumprida a condição ficará obrigada a devolver o que recebeu, pois se terá a presunção juris et jure de que o devedor pagou por erro. Não se pode dizer o mesmo das obrigações a termo, o pagamento efetuado antecipadamente, não gera enriquecimento ilícito do credor, pois a dívida já é existente. Sendo a obrigação de fazer ou de não fazer, aquele que recebeu o pagamento indevido deverá indenizar o que cumpriu na medida do lucro obtido CC art. 881. Art. 881. Se o pagamento indevido tiver consistido no desempenho de obrigação de fazer ou para eximir-se da obrigação de não fazer, aquele que recebeu a prestação fica na obrigação de indenizar o que a cumpriu, na medida do lucro obtido.

ACCIPIENS DE BOA-FÉ : deverá restituir o que recebeu indevidamente, mas terá direito de conservar os frutos percebidos e de ser indenizado relativamente as benfeitorias úteis e necessárias que fez, retendo-as até ser pago. Poderá levantar as voluptuárias, desde que não altere a substância da coisa. Não responderá pela perda ou deterioração da coisa ocorrida sem culpa sua. ACCIPIENS DE MÁ-FÉ : aquele que maliciosamente vier a receber indevidamente, deverá restituir tudo o que recebeu, juntamente com os frutos percipiendos e percebidos, sem ter direito à indenização das benfeitorias úteis, nem de levantar as voluptuárias, respondendo pela perda ou deterioração do bem, ainda que decorrente de caso fortuito ou força maior, salvo se provar que o fato ocorreria ainda

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que não tivesse havido o pagamento indevido. Terá contudo o direito ao valor da benfeitoria necessária que se fizer sem ter o direito de retê-la até ser ressarcido.CC. art . 878 Art. 878. Aos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações sobrevindas à coisa dada em pagamento indevido, aplica-se o disposto neste Código sobre o possuidor de boa-fé ou de má-fé, conforme o caso.

Se o objeto do pagamento indevido for um imóvel: ALIENAÇÃO ONEROSA DE IMÓVEL FEITA POR QUEM RECEBEU INDEVIDAMENTE: CC. art. 879, caput

• ALIENOU O IMÓVEL DE BOA-FÉ (3º DE BOA-FÉ): devolverá tão-somente o valor que recebeu; Segundo Silvio Rodrigues, o solvens deve absorver o prejuízo, tendo direito de regresso contra o accipiens.

• ALIENOU O IMÓVEL DE MÁ-FÉ (3º DE BOA-FÉ): além do valor de imóvel, deverá pagar uma indenização por perda e danos que, porventura, tenha causado ao solvens.

Art. 879. Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos.

Parágrafo único - Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, alienado por título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe ao que pagou por erro o direito de reivindicação.

ALIENAÇÃO GRATUITA DE IMÓVEL FEITA POR QUEM RECEBEU INDEVIDAMENTE : ALIENOU O IMÓVEL DE BOA OU MÁ-FÉ (3º DE BOA OU MÁ-FÉ): o solvens terá o direito de reivindicar o bem; CC. art. 879 parágrafo único. ALIENAÇÃO GRATUITA OU ONEROSA DE IMÓVEL FEITA POR QUEM RECEBEU INDEVIDAMENTE, À 3º DE MÁ-FÉ: Terá o que pagou por erro, o direito de reivindicar o bem.

Casos excludentes da restituição do indébito O accipiens que recebe de quem não é o devedor pagamento por conta de dívida verdadeira e inutilizou o título, deixou prescrever a ação ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito, não deve restituir o indébito. CC art. 880, 1ª parte. Entretanto, o solvens que pagou por erro fica garantido , podendo propor ação regressiva contra o verdadeiro devedor e fiador, para ressarcir-se de prejuízos que sofreu. CC art. 880, 2ª parte. Art. 880. Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador.

Se o pagamento se destinou a solver dívida prescrita ou natural. CC. art. 882. Obrigação natural é aquela desprovida de sanção, que o devedor a cumpre se lhe aprouver. A dívida natural e a prescrita são inexigíveis juridicamente, não terá direito a devolução, visto que não há enriquecimento indevido do accipiens, uma vez que há causa jurídica. Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.

Se o solvens pagou certa importância com o intuito de obter fim ilícito ou imoral CC. art. 883, não poderá nesses casos o solves reclamar judicialmente o que pagou indevidamente. Baseia-se no princípio de que ninguém pode ser ouvido alegando a sua própria torpeza. Nemo auditor propriam turpidunem allegans. O que deu reverterá em favor de estabelecimento de beneficência, a critério do órgão judicante. CC. art. 883, parágrafo único. Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei.

Parágrafo único - No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz.

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24 - DO PAGAMENTO INDIRETO

Generalidades Como foi visto o adimplemento da relação obrigacional pode ser feito por pagamento direto ou indireto. O direto trata-se do pagamento propriamente dito, já a forma indireta são os modos especiais de pagamento, a saber:

• Pagamento por consignação • Pagamento com sub-rogação • Imputação do pagamento • Dação em pagamento • Novação • Compensação • Transação • Compromisso • Confusão • Remissão de dívidas.

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25 - DO PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO Conceito A consignação é depósito judicial feito em pagamento de uma dívida. Modo indireto de se libertar-se o devedor da sua obrigação , consistente num depósito judicial da coisa devida. É pagamento que libera o devedor do liame obrigacional. CC. art. 334 Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

Pagamento por consignação é o meio indireto de o devedor exonerar-se do liame obrigacional, consistente no depósito judicial da coisa devida, nos casos e formas legais. Modo especial de se liberar da obrigação concedido por lei ao devedor somente nos casos nela previstos, caso contrário será carente de consignatória Tem a natureza jurídica, pagamento por consignação, híbrida ou mista, estatuto de direito civil e de direito penal. Casos legais em que se justifica a consignação – a rt. 335 do CC Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

• Se o credor, sem justa causa, recusar receber o pagamento ou dar quitação na devida forma,

hipótese em que se configura mora accipiendi. Nesta condição o devedor não é obrigado a efetuar a consignação (Silvio Rodrigues ), mas abre-lhe a lei tal faculdade. Se o devedor sem que nada o justifique depositar o objeto da prestação, em vez de pagar diretamente ao credor, seu depósito será julgado improcedente e o pagamento não ocorrerá, sofrendo o depositante as conseqüências de seu ato desastroso

• Se o credor não for nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos (dívida

quesível), essa omissão acarretará mora accipiendi, podendo o credor consignar a coisa. CC. arts. 327, 341, 635 e 641.

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

Art. 635. Ao depositário será facultado, outrossim, requerer depósito judicial da coisa, quando, por motivo plausível, não a possa guardar, e o depositante não queira recebê-la.

Art. 641. Se o depositário se tornar incapaz, a pessoa que lhe assumir a administração dos bens diligenciará imediatamente restituir a coisa depositada e, não querendo ou não podendo o depositante recebê-la, recolhê-la-á ao Depósito Público ou promoverá nomeação de outro depositário.

• Se o credor for desconhecido (ex. sucessão), for declarado ausente, residir em lugar incerto de

acesso perigoso ou difícil, por ser dívida portable o devedor só libera-se por meio da consignação em pagamento.

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• Se houver dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento. CC art. 344 e

345 – CPC arts 895 e 898. Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.

Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.

• Se pender litígio entre credor e terceiro (não devedor), caberá a consignação, quando esta

litigiosidade for de conhecimento do devedor. CC. arts. 344 e 345 CPC. art. 672 § 2º. Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.

Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.

Essa relação é meramente exemplificativa, e não taxativa, pois há outros casos de consignação na legislação, ex.: art. 437 do Cód. Com. Só é admissível a consignação nos casos legais. Requisitos da consignação São os mesmos necessários para a validade do pagamento, quer em relação às pessoas, quer em relação ao objeto, quer em relação ao modo de efetuá-lo. CC. art. 360 Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

� Quanto as pessoas a ação deve ser proposta contra o credor, ou aquele que tenha capacidade

para representá-lo. CC. art. 308. Deve ser feita a consignação por pessoa capaz de pagar, ou seja, devedor, representante legal, mandatário, terceiro (interessado ou não)

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

� Quando ao objeto , mister se faz que exista um débito líquido e certo, sem um quantum

determinado descabe o depósito judicial, deve a prestação ser oferecida na íntegra, isto é , que consista na entrega da coisa avençada e na quantidade devida. CC. arts. 233, 244, 313 e 314. Se o objeto da consignação for coisa incerta e a escolha for do devedor , deverá ele ser citado para dentro de 5 dias (se não houver outro prazo contratual ou legal) exercer seu direito de escolha sob pena de perder este direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher. CC. arts 342, 244 e 252 – CPC art. 894

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

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Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

� Quanto ao modo: será preciso a observância de todas as cláusulas estipuladas no ato negocial

para que o depósito judicial seja considerado pagamento indireto.

� Quanto ao tempo : o devedor poderá consignar assim que a dívida estiver vencida, ou seja, quando expirar-se o termo convencionado contratualmente em favor do credor e, em qualquer tempo, se tal prazo se convencionou a seu favor, ou quando se verificar a condição que o débito estava subordinado.Não podendo o devedor em mora consignar.

� Quanto ao lugar : a oferta deve ser feita no local convencionado para pagamento. CC art. 337.

Feito o depósito judicial, liberado estará o devedor, cessando, com o desaparecimento do débito, os juros e os riscos, exceto se for ação de consignação julgada improcedente, porque nessa hipótese, em pagamento não houve

Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.

Somente as obrigações de dar podem ser objeto de consignação, sendo absurdo imaginar uma obrigação de fazer. Não só as dívidas em dinheiro, como também as consistentes em outras coisas, são suscetíveis de depósito. Levantamento do depósito O depositante no curso da ação consignatória, poderá requerer o levantamento da coisa depositada:

• Antes da contestação da lide, desde que pague as despesas processuais decorrentes daquela ação. O processo extinguir-se-á, então, mas a dívida subsistirá com todos os seus efeitos, ou seja, juros , cobrança judicial, etc. CC. art 338. Consignação é meio de cumprir a obrigação, oferecida ao interessado a fim de evitar efeitos do inadimplemento, não está o devedor adstrito a utilizá-la. Permitindo, a lei, que o devedor levante o depósito, se assim, proceder, é transportado para a mesma posição que se encontrava anteriormente à consignação, pois a obrigação em vez de se extinguir, subsiste integralmente .

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito.

• O depositante poderá levantar o depósito, no curso da consignatória, depois da aceitação ou da

impugnação judicial pelo credor, desde que com anuência deste, que, então perderá a preferência e garantia que tiver relativamente ao bem consignado, ficando logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não concordarem, tendo em vista que a renúncia do credor não poderá lesá-los. CC. art. 340

Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído.

• Se o depósito judicial for julgado procedente, o devedor não mais poderá levantá-lo, mesmo que

haja consentimento de seu credor, exceto se houver acordo com outros devedores e fiadores para resguardar seus direitos. Se consentido por todos que o devedor, levante o depósito, surge uma nova dívida, que não se confunde com a anterior – ocorre novação da dívida. CC. art. 339

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.

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Se o credor aceitar o depósito, a dívida se extingue , pois a consignação tem o efeito de pagamento. Processo de consignação Só admite-se a consignação nos expressos casos previstos em lei. O devedor requer a consignação da quantia ou coisa devida, inclusive corrigida monetariamente, pedindo na inicial a citação do réu (credor) para vir ou mandar receber a prestação sob pena de ser feito o respectivo depósito judicial. Contestação deve ser oferecida no prazo de 15 dias, podendo alegar o réu-credor que:

• Não houve recusa ou mora em receber a coisa devida; • Foi justa a recusa; • O depósito não se efetuou no lugar e prazo devido; • O depósito não é integral;

Se o credor receber a coisa ou sua contestação não for oferecida dentro do prazo, o juiz declarará extinto o vínculo obrigacional . As despesas com o depósito judicial: guarda, conservação, honorários, etc.. – quando julgado procedente, correrão por conta do credor, e se improcedente, por conta do devedor. CC. art 343. CPC arts. 890, 899, 893, 896 e 897. Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor.

Efeitos do depósito judicial Se julgada procedente a ação, o depósito judicial da quantia ou coisa produzirá os seguintes efeitos:

• Exonera o devedor, mesmo efeito do pagamento strictu sensu; • Constitui o credor em mora; • Cessa para o depositante, os juros da dívida e os riscos a que estiver sujeita a coisa. CC. art.

337 in fine; • Transfere os riscos da coisa para o credor; • Libera os fiadores; • Impõe ao credor o ressarcimento dos danos que sua recusa causou ao devedor, o reembolso

das despesas feitas na custódia da coisa, honorários, etc... Improcedente a ação, o devedor permanece na mesma posição que estava anteriormente, caracterizando-se a mora solvendi, sendo responsável pelas despesas processuais. Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.

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26 – PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO CONCEITO O termo sub-rogação advém do latim subrogatio, designando substituição de uma coisa por outra com os mesmos ônus a atributos, caso em que se tem sub-rogação real, ou substituição de uma pessoa por outra, que terá os mesmos direitos a ações daquela, hipótese em que se configura a sub-rogação pessoal de que trata o Código Civil no capítulo referente ao pagamento com sub-rogação. A sub-rogação pessoal vem a ser a substituição, nos direitos creditórios, daquele que solveu obrigação alheia ou emprestou a quantia necessária para o pagamento que satisfez o credor. Efetivado o pagamento por terceiro, o credor ficará satisfeito a não mais terá o poder de reclamar do devedor o adimplemento da obrigação; porém, como o devedor não solveu o débito, continuará a ter o dever de prestá-lo ante o terceiro solvente, alheio à relação negocial primitiva, até que o pagamento de sua parte extinga o liame obrigacional. O devedor não se exonerará do vínculo negocial, visto que ele sobreviverá relativamente ao terceiro que pagou o débito (exceção à regra de que o pagamento extingue a obrigação a libera o devedor).. NATUREZA JURÍDICA Ante a singularidade de haver na sub-rogação um pagamento sem extinção de dívida, há várias concepções divergentes, pois alguns doutrinadores nela vislumbraram:

• Um caso especial de cessão de crédito. A cessão de crédito consiste numa sucessão particular nos direitos creditórios, decorrente de manifestação de vontade, independentemente do pagamento. Já a sub-rogação requer pagamento, podendo ou não advir da vontade de transferir a titularidade do crédito; portanto, poderá haver sub-rogação mesmo que o credor não tenha intenção de passar ao terceiro que paga dívida alheia a qualidade creditória. A cessão de crédito visa lucro, ao passo que a sub-rogação não tem aspecto especulativo, pois tão-somente assegura a quem solveu o débito de outrem a possibilidade de se reembolsar (CC, art. 350). A sub-rogação dispensa notificação do devedor, enquanto a cessão de crédito a exige (CC, art. 290). Na sub-rogação não se tem transferência, legal ou convencional, do direito creditório, pois o credor satisfeito não pode transmitir uma qualidade que vem a perder ao receber o pagamento da prestação devida; na cessão de crédito, ao contrário, sempre se terá uma transferência de crédito consensual.

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

• Um ato misto, contendo um pouco de pagamento a um pouco de cessão de direito de crédito. • Uma sucessão singular "ope legis ", o que não se pode aceitar, uma vez que o crédito extinto e o

novo são diferentes pela diversidade de sujeitos. Deveras, extingue-se o direito do credor com a prestação do terceiro, e a idéia de sucessão é incompatível com qualquer extinção de relação jurídica precedente, ou melhor, apenas a cessão poderia ser tida como um fenômeno de sucessão.

• Uma novação, porém nela não se configura esse instituto, por faltar o aliquid novi e o animus novandi.

• Um mandato pois o solvens agiria na qualidade de mandatário ou gestor de negócios do devedor.

• Um instituto autônomo, mediante o qual o crédito, com o pagamento feito por terceiro, se extingue ante o credor satisfeito, mas não em relação ao devedor, tendo-se tão-somente uma substituição legal ou convencional do sujeito ativo.

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MODALIDADES DE SUB-ROGAÇÃO PESSOAL Duas são as modalidades de sub-rogação pessoal admitidas em nosso direito, a legal e a convencional, conforme a substituição do sujeito ativo se opere por lei ou por convenção das partes. 1) A sub-rogação legal é a imposta por lei, que contempla vários casos em que terceiros solvem dívida alheia, conferindo-lhes a titularidade dos direitos do credor ao incorporar, em seu patrimônio, o crédito por eles resgatado. Opera, portanto, de pleno direito nas hipóteses taxativamente previstas no Código Civil, art. 346, I a III, independentemente de manifestação da vontade dos interessados a até mesmo contra a vontade do devedor ou do credor. Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

I - Do credor que paga a dívida do devedor comum (CC, arts. 259 e 1.478, parágrafo único). Nessa hipótese, a sub-rogação restringe-se à situação creditória com garantia real, em que o solvens e o accipiens são credores da mesma pessoa, porém o crédito do accipiens desfruta de preferência sobre o do solvens, de modo que, para beneficiar este último, a norma concede-lhe sub-rogação, se pagar o crédito do primeiro. Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único - O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Art. 1.478. Se o devedor da obrigação garantida pela primeira hipoteca não se oferecer, no vencimento, para pagá-la, o credor da segunda pode promover-lhe a extinção, consignando a importância e citando o primeiro credor para recebê-la e o devedor para pagá-la; se este não pagar, o segundo credor, efetuando o pagamento, se sub-rogará nos direitos da hipoteca anterior, sem prejuízo dos que lhe competirem contra o devedor comum.

Parágrafo único - Se o primeiro credor estiver promovendo a execução da hipoteca, o credor da segunda depositará a importância do débito e as despesas judiciais.

II - Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário (CC, art., 1.479 a 1.481, § 4°, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel). Art. 1.479. O adquirente do imóvel hipotecado, desde que não se tenha obrigado pessoalmente a pagar as dívidas aos credores hipotecários, poderá exonerar-se da hipoteca, abandonando-lhes o imóvel.

Art. 1.480. O adquirente notificará o vendedor e os credores hipotecários, deferindo-lhes, conjuntamente, a posse do imóvel, ou o depositará em juízo.

Parágrafo único - Poderá o adquirente exercer a faculdade de abandonar o imóvel hipotecado, até as vinte e quatro horas subseqüentes à citação, com que se inicia o procedimento executivo.

Art. 1.481. Dentro em trinta dias, contados do registro do título aquisitivo, tem o adquirente do imóvel hipotecado o direito de remi-lo, citando os credores hipotecários e propondo importância não inferior ao preço por que o adquiriu.

§ 1º Se o credor impugnar o preço da aquisição ou a importância oferecida, realizar-se-á licitação, efetuando-se a venda judicial a quem oferecer maior preço, assegurada preferência ao adquirente do imóvel.

§ 2º Não impugnado pelo credor, o preço da aquisição ou o preço proposto pelo adquirente, haver-se-á por definitivamente fixado para a remissão do imóvel, que ficará livre de hipoteca, uma vez pago ou depositado o preço.

§ 3º Se o adquirente deixar de remir o imóvel, sujeitando-o a execução, ficará obrigado a ressarcir os credores hipotecários da desvalorização que, por sua culpa, o mesmo vier a sofrer, além das despesas judiciais da execução.

§ 4º Disporá de ação regressiva contra o vendedor o adquirente que ficar privado do imóvel em conseqüência de licitação ou penhora, o que pagar a hipoteca, o que, por causa de adjudicação ou licitação, desembolsar com o pagamento da hipoteca importância excedente à da compra e o que suportar custas e despesas judiciais.

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III - Do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte (CC, art. 304). Trata-se do caso do fiador que solve débito do afiançado (CC, art. 831); do devedor solidário que paga a totalidade da dívida, passando a ter o direito de reclamar dos demais coobrigados a quota de cada um (CC, art. 283); do devedor de obrigação indivisível que satisfez por inteiro prestação em que era só parcialmente interessado (CC, art. 259, parágrafo único); do herdeiro ou sucessor que remir penhor ou hipoteca, ficando, por isso, sub-rogado nos direitos do credor pelas quotas que houver satisfeito (CC, art. 1.429, parágrafo único). Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único - O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota.

Parágrafo único - A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros.

Art. 1.429. Os sucessores do devedor não podem remir parcialmente o penhor ou a hipoteca na proporção dos seus quinhões; qualquer deles, porém, pode fazê-lo no todo.

Parágrafo único - O herdeiro ou sucessor que fizer a remição fica sub-rogado nos direitos do credor pelas quotas que houver satisfeito.

2) A sub-rogacão convencional resulta do acordo de vontade entre o credor a terceiro ou entre o devedor a terceiro, desde que tal convenção seja contemporânea do pagamento , a expressamente declarada, pois, se o pagamento é um ato liberatório, a sub-rogação não se presume. Com efeito, essa modalidade de sub-rogação pode processar-se:

• por iniciativa do credor, que procura, com ou sem conhecimento do devedor, uma pessoa que, pagando seu crédito, assuma sua posição na relação negocial;

• por iniciativa do devedor, que obtém de outrem, com ou sem ciência do credor, um empréstimo da importância necessária para satisfazer o débito, convencionando a sub-rogação do mutuante na posição do credor originário.

Realmente, prescreve o art. 347, I e II, do Código Civil que a sub-rogação será convencional: Quando o credor receber o pagamento de terceiro a expressamente lhe transferir todos os seus direitos. Trata-se de hipótese bem semelhante à cessão de crédito,mas que com ela não se confunde, apesar de ser regulada pelos mesmos princípios (CC, art. 348). Art. 347. A sub-rogação é convencional:

I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito.

Quando terceira pessoa emprestar ao devedor a quantia necessária para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

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EFEITOS Tanto na sub-rogação legal como na convencional passam ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios a garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal a os fiadores (CC, art. 349), embora na convencional as partes possam restringir alguns direitos do sub-rogado. Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.

Percebe-se que a sub-rogação, legal ou convencional, produz dois efeitos:

a) o liberatório, por exonerar o devedor ante o credor originário, a b) o translativo, por transmitir ao terceiro, que satisfez o credor originário, os direitos de crédito que

este desfrutava, com todos os seus acessórios a inconvenientes, pois o sub-rogado passará a suportar todas as exceções que o sub-rogante teria de enfrentar.

Os efeitos da sub-rogação legal se diferenciam dos da convencional, pois estatui o Código Civil no art. 350 que "na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos a as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor"; logo, na convencional predomina a autonomia da vontade, de maneira que nada impede que as partes estipulem o que lhes aprouver a respeito. Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

Se a sub-rogação for parcial, "o credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever" (CC, art. 351). Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.

O sub-rogado não terá ação contra o sub-rogante para obter reembolso em caso de insolvência do devedor, a não ser que haja convenção a respeito. Se o débito satisfeito inexistir, o sub-rogado poderá, com o apoio das regras da repetitio indebiti, mover ação de repetição contra o accipiens Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

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27 - IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO DEFINIÇÃO Se alguém for obrigado a saldar mais de uma prestação, da mesma espécie, ao mesmo credor, a oferece pagamento insuficiente para extinguir todas as dívidas, surge a questão de se saber qual dos débitos foi satisfeito. P ex.: suponha-se que "A" deva a "B" R$ 10.000,00, em razão de fornecimento de mercadoria; R$ 10.000,00, de aluguel, a R$ 25.000,00, em virtude de um empréstimo. Essas dívidas, como se vê, decorrem de causas diversas a vencem em épocas diferentes. "A" remete a "B" a quantia de R$ 35.000,00, que lhe possibilita o resgate de dois débitos, porém não alcança a solução de todos. Quais as dívidas que se extinguirão com tal pagamento? A imputação do pagamento é a operação pela qual o devedor de dois ou mais débitos da mesma natureza a um só credor, o próprio credor em seu lugar ou a lei indicam qual deles o pagamento extinguirá, por ser este insuficiente para solver a todos` (CC, arts. 352 a 355). Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo.

Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

Nosso Código Civil permite que o devedor use, em primeiro lugar, do direito de indicar a dívida imputável; se ele não o fizer, esse direito se transferirá ao credor, a se nem um nem outro lançar mão desse instituto, a lei mencionará o critério que deverá ser seguido, prevalecendo, então, a imputação legal`. REQUISITOS A imputação do pagamento pressupõe os seguintes requisitos (CC, art. 353): Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo.

• Existência de dualidade ou pluralidade de dívidas, pois, se houvesse um só débito, não haveria como imputar;

• Identidade de credor a de devedor, uma vez que as diversas relações negociais devem vincular o mesmo devedor a um só credor. Se se tratar de obrigação solidária ativa ou passiva, para efeito de imputação do pagamento a extinção da obrigação, o credor será tido como um só, o mesmo ocorrendo com o devedor, sob pena de não se configurar materialmente a imputação.

• Igual natureza dos débitos, ou melhor, as dívidas devem apresentar fungibilidade recíproca, de tal modo que ao credor seja indiferente receber uma ou outra. O que se exige é que as prestações devidas consistam em coisas fungíveis de igual espécie a qualidade, sem o que não haverá imputação.

• As dívidas deverão ser líquidas, ou seja, certas quanto à sua existência, a determinadas quanto ao seu objeto, e vencidas, exigíveis, por ter ocorrido o termo estabelecido para o vencimento.

• Suficiência do pagamento para resgatar qualquer das dívidas, pois, se a prestação oferecida não puder extinguir pelo menos uma das dívidas, não se terá imputação, pois constrangeria o credor a receber o pagamento em parcelas, o que, pelo art. 314, só estaria permitido se ajustado entre as partes.

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Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

ESPÉCIES Em nosso direito, três são as espécies de imputação do pagamento: do devedor, do credor a legal. A imputação do pagamento feita pelo devedor (CC, art. 352) é aquela em que o próprio devedor ou terceiro, nos casos em que tiver direito de fazê-lo, indica qual das dívidas deseja que o pagamento extinga. Entretanto, esse seu direito não é absoluto, pois se submete a certas limitações legais, tais como: Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

a) havendo capital a juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e, depois, no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital (CC, arts. 323 e 354). Isto é assim porque a norma jurídica objetiva impedir que o devedor, ao exercer seu direito de imputação do pagamento, prejudique o credor que, por sua vez, tem o direito de receber primeiramente os juros e depois o capital. O devedor, portanto, não poderá, ao pagar certa importância ao credor, exigir que ela seja imputada no capital, se houver juros vencidos, a não ser que o credor consinta nisso; Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.

b) impossibilidade de imputar invito creditori ao que se paga numa dívida cujo montante seja maior, porque senão o credor seria compelido a receber pagamento parcial, quando assim não se convencionou (CC, art. 314); Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

c) não estando a dívida vencida nem sendo líquida, o devedor não poderá nela imputar pagamento. A imputação do pagamento pelo credor ocorrerá se o devedor não usar de seu direito de indicar a dívida que será resgatada com o pagamento. Deveras, o Código Civil, art. 353, estatui que "não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas a vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo". Infere-se desse dispositivo legal que, para a configuração da imputação do pagamento pelo credor:

a) será preciso aceitação de quitação de uma delas, feita no momento do pagamento; b) não tenha havido coação ou dolo por parte do credor.

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo.

Ter-se-á a imputação do pagamento feita pela lei se nem o devedor nem o credor fizerem a indicação da dívida a ser extinta com o intuito de suprir a vontade das partes. Havendo omissão quanto ao débito solvido, quer no pagamento, quer na quitação, prescreve o art. 355 do Código Civil que:

a) a imputação se fará nas dívidas líquidas a vencidas em primeiro lugar; b) a imputação se fará na mais onerosa, se as dívidas forem todas líquidas a vencidas ao mesmo

tempo". A mais onerosa será a que produz juros, em relação à que não os produz; a que produz juros mais elevados, relativamente à que os produz mais módicos; a que for garantida por direito real, em relação à que não contiver tal ônus; a que justificar ação executiva, relativamente à que ensejar a ordinária; a garantida por cláusula penal, em relação à que não a encerrar; a garantida por fiança, relativamente à não assegurada ; aquela em que o solvens é devedor principal a não mero coobrigado; a já ajuizada, em relação à que não o foi; a caucionada, relativamente à não caucionada.

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Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

EFEITO A imputação é meio indireto de pagamento; logo, seu efeito, como o de todo pagamento, é operar a extinção do débito a que se dirige. Essa extinção compreende a das garantias reais a pessoais, não podendo, por isso, o credor ou o devedor, de comum acordo, revivê-las em prejuízo de terceiro.

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28 - DAÇÃO EM PAGAMENTO CONCEITO, OBJETO A NATUREZA JURÍDICA A dação em pagamento vem a ser um acordo liberatório, feito entre credor a devedor, em que o credor consente na entrega de uma coisa diversa da avençada (CC, art. 356). A dação em pagamento pode ter por objeto prestação de qualquer natureza, não sendo dinheiro de contado: bem móvel ou imóvel, fatos a abstenções. Isto é assim porque se for dinheiro a coisa dada em pagamento, ou se, não sendo dinheiro, se lhe taxar o preço, a dação em pagamento será, ensina-nos Clóvis Beviláqua, uma compra a venda. Na dação em pagamento a prestação em dinheiro é substituída pela entrega de um objeto, que o credor não recebe por preço certo e determinado. Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros.

Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

• Se se fixar soma precisa para a coisa, cujo domínio a posse passarão ao credor, ter-se-á

compra a venda . Analogicamente, se o débito não for pecuniário a houver dação, aplicar-se-ão as normas da troca (CC, art. 533).

Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações:

I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.

• "Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão" (CC,

art. 358), devendo, então, ser notificada ao cedido (CC, art. 290), responsabilizando-se o solvens pela existência do crédito transmitido (CC, art. 295).

Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão.

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

• Se a dação em pagamento tiver por objeto bem imóvel, deverá ser provada por escrito, por meio

de instrumento capaz de justificar a transcrição no Registro Imobiliário competente, isto é, da circunscrição imobiliária onde se localizar o imóvel.

• Se for móvel, para que produza seus efeitos, suficiente será a tradição. Isto porque é um acordo

liberatório, que pressupõe a transferência, ao credor, da propriedade do bem que é seu objeto; logo, se a aquisição da propriedade só se dá pela transcrição do título, se o bem for imóvel, ou pela tradição, se móvel, a dação em pagamento apenas terá efeito jurídico se se completar com uma ou com outra, pois nítido é o seu caráter translatício, associado à substituição convencional da coisa devida.

. Bastante controvertida é a natureza jurídica da dação em pagamento:

• Há quem nela vislumbre uma novação objetiva, por implicar uma mudança do objeto devido, que não se poderá dar sem que a dívida seja novada.

• Outros vêem nela um contrato, porém não se pode aceitar essa tese, porque os contratos têm

por efeito criar obrigações, ao passo que a dação objetiva extingui-las, exonerando o devedor.

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Entretanto, esses entendimentos têm sofrido muitas críticas, surgindo a concepção de que a dação seria pagamento indireto, pois, por ser um acordo liberatório, visando extinguir a não criar uma relação obrigacional, teria a mesma índole do pagamento. Requisitos Como pudemos apontar, a dação é uma forma de extinção do liame obrigacional, dependente da vontade do credor. Daí se pode deduzir que os requisitos imprescindíveis para sua configuração são": 1°) Existência de um débito vencido, pois entregar algo a outrem sem que haja uma obrigação convencionada, não se terá dação em pagamento. . 2°-) "Animus solvendi ", isto é, entrega da coisa p elo devedor ao credor com a intenção de efetuar um pagamento. 3°-) Diversidade de objeto oferecido em relação ao devido, ou seja, a coisa dada em pagamento deverá ser diversa da que constitui o objeto da prestação. Não será preciso que o valor da coisa recebida pelo credor seja correspondente ao montante do débito. O accipiens poderá receber objeto mais valioso ou não, pois o que importa é a entrega de coisa que não seja a devida, em pagamento da dívida. 4º) Concordância (verbal ou escrita, tácita ou expressa) do credor na substituição sem a qual não se poderá compeli-lo a receber objeto diverso do convencionado, ainda que mais valioso. Analogia com compra e venda

COMPRA E VENDA DAÇÃO EM PAGAMENTO a venda subsiste mesmo quando o vendedor nada deve ao comprador, e a dação, na ausência de cause debendi, implica a repetição do indevido

a datio in solutum tem por escopo extinguir a dívida, liberando o devedor, e a compra a venda não sofre influência do modo de pagamento no que concerne à sue existência ou eficácia;

enquanto a compra a vendo não é hábil pare transferir a propriedade do bem, pois cria apenas o dever de transmitir o domínio de algo ou de pagar certo preço em dinheiro (CC, art. 481), engendrando exclusivamente uma obrigação de dar.

a dação em pagamento só se consume, como vimos, com a tradição ou transcrição da coisa dada em pagamento, por pressupor transferência de domínio,

Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

Efeito O efeito da dação em pagamento é produzir a extinção da dívida, qualquer que seja o valor do objeto ofertado em lugar do convencionado. Entretanto, pode acontecer que o credor receba coisa não pertencente ao solvens, havendo, então, a sua reivindicação por terceiro, que prove ser seu proprietário. Ter-se-á, então, a evicção, ou seja, a perda total ou parcial do objeto em virtude de sentença judicial, que confere seu domínio a terceira pessoa. Dessa forma, se o devedor oferece coisa que não lhe pertence, a lei determina o restabelecimento da antiga obrigação, com todos os seus

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acessessórios, isto é, garantias reais ou fidejussórias, como se não tivesse havido dação em pagamento tornando sem efeito a quitação. Nulidade A jurisprudência tem considerado nula a datio in solutum se:

• feita por erro e compreensiva de todos os haveres do devedor; • efetuada por ascendente a descendente sem assentimento dos demais descendentes; • realizada no período suspeito de falência, ainda que contemple credor privilegiado; • levada a efeito com fraude de credores.

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29 - NOVAÇÃO Conceito Ocorre novação quando as partes interessadas criam uma nova obrigação com o escopo de extinguir uma antiga. Assim, toma-se fácil denotar que se trata de um especial meio extintivo de obrigações. A novação vem a ser o ato que cria uma nova obrigação, destinada a extinguir a precedente, substituindo-a. Nesse mesmo sentido vai a conceituação de Clóvis: "A novação é a conversão de uma dívida por outra para extinguir a primeira" Constitui um novo vínculo obrigacional para extinguir o precedente, mas extinguir substituindo-o, de modo que não há uma imediata satisfação do crédito, visto que o credor não recebe a prestação devida, mas simplesmente adquire outro direito de crédito ou passa a exercê-lo contra outra pessoa. A novação é simultaneamente causa extintiva a geradora de obrigação. Requisitos essenciais Ater-nos-emos em nosso estudo a cinco requisitos: 1°) Existência de uma obrigação anterior, que se ex tingue com a constituição de uma nova, que a substitui (obligatio novanda). É óbvio que não poderão ser objeto de novação as obrigações nulas, extintas ou inexistentes, conforme dispõe o art. 367 do Código Civil pátrio: "Não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas". Todavia, as obrigações anuláveis poderão ser confirmadas pela novação. A obrigação anulável permanecerá válida enquanto não for anulada por sentença. O vício que torna anulável a obrigação não afeta a ordem pública, e a disposição legal que prescreve seu desfazimento visa tão-somente a proteção do relativamente incapaz ou do que foi vítima de um vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude (CC, art. 171); por isso, é permitida a ratificação do ato jurídico defeituoso. Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

Bastante controvertido é o problema de se saber se a obrigação natural é suscetível de novação. Entre nós assim pensam, dentre outros, Serpa Lopes, que admite novação de obrigação natural desde que ela não seja oriunda de uma causa ilícita; Silvio Rodrigues, para quem a obrigação natural é mais do que um simples dever moral, pois a própria lei tem como válido o seu pagamento, tanto que não admite repetição (CC, art. 882); sendo assim, as partes podem nová-la, e a nova obrigação, extinguindo a anterior, é jurídica a exigível. Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.

Dentre os nossos civilistas, contestam a referida possibilidade: Washington de Barros Monteiro, porque as obrigações naturais são insuscetíveis de pagamento compulsório; Clóvis Beviláqua, para quem tais obrigações não constituem deveres jurídicos, mas morais, de maneira que, a seu ver, os interessados poderão obrigar-se civilmente, se quiserem, porém tal operação é criação de vínculo jurídico originário a não novação. e Carvalho de Mendonça, que também entende que essas obrigações não podem ser objeto de novação. 2°-) Criação de uma obrigação nova, em substituição à anterior, que se extinguiu. Importantíssimo é esse requisito, uma vez que o que dá origem à extinção da antiga obrigação é a criação de uma nova relação obrigacional que vem substituí-la. Sem essa nova obrigação não há que se falar em novação; pode haver mera remissão, ou seja, liberação graciosa do débito por parte do credor. Como os problemas que decorrem do exame da obrigação precedente podem surgir no que se refere à nova, podem se assentar os seguintes corolários:

a) se nula a nova obrigação, não haverá novação; b) se o débito que se pretende novar for nulo, o novo vínculo obrigacional será ineficaz em virtude

de lei a por the faltar a causa debendi;

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c) se a antiga dívida for válida e a nova anulada, esta última dará lugar à revivescência da antiga obrigação;

d) se o débito anterior for puro a simples e o novo condicional, a extinção do antigo não se dará antes da realização do evento condicional.

3°) Elemento novo (aliquid novi), pois, como asseve ra Silvio Rodrigues, a inserção de um aliquid novi na segunda obrigação é que a tornará diferente da anterior. Tal inovação pode recair sobre o objeto ou sobre o sujeito ativo ou passivo da relação obrigacional. Sem esse pressuposto não se terá novação. Se faltar esse elemento novo, ter-se-á a confirmação ou o reforço da obrigação anterior. 4°-) Intenção de novar (animus novandi), que consti tui o elemento psíquico da novação. Para que esse instituto jurídico se configure, será necessário que as partes interessadas no negócio queiram que a criação da nova obrigação seja a causa extintiva do antigo liame obrigacional . Tamanha é a necessidade da presença desse requisito que nosso Código Civil, no seu art. 361, prescreve que "não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira". O animus novandi não se presume; deverá ser expressamente declarado pelas partes ou resultar de modo inequívoco da natureza das obrigações. Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.

Assim, não se terá a intenção de novar quando:

a) se adicionarem à obrigação novas garantias; b) se abate o preço; c) se concedem maiores facilidades de pagamento; d) se dilata ou prorroga o prazo do vencimento; e) se reduz o montante da dívida; f) se anui a modificação da taxa de juros.

5°) Capacidade a legitimação das partes interessada s, pois se a novação reclama a criação de novo liame obrigacional, pressupõe a emissão de vontade, sem a qual não se terá nenhum negócio jurídico com força de novar. Deveras, a novação, por produzir concomitantemente a criação de uma nova obrigação com a extinção da antiga, requer, para sua pactuação, a capacidade das partes que a realizam. Os incapazes não poderão assumir o novo vínculo obrigacional, a não ser por meio de seus representantes legais. Espécies Duas são as espécies de novação: a objetiva ou real e a subjetiva ou pessoal. O Código Civil pátrio contempla essas hipóteses no seu art. 360, segundo o qual dá-se a novação: Art. 360. Dá-se a novação:

I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Portanto, ter-se-á:

• Novação objetiva ou real quando houver alteração no objeto da relação obrigacional, ou, por outras palavras, quando houver mutação do objeto devido entre as mesmas partes.

• Novação subjetiva ou pessoal, que, por sua vez, subdivide-se em: novação subjetiva passiva a

novação subjetiva ativa, porque uma se opera pela mudança do devedor e a outra pela do credor. O elemento novo diz respeito aos sujeitos da relação obrigacional, alterando ora o sujeito passivo, ora o ativo. Assim, configurar-se-á:

o Novação subjetiva passiva quando a pessoa do devedor se altera, ou seja, quando

houver a intervenção de um novo devedor. Essa mudança do devedor pode-se dar de dois modos: pela delegação a pela expromissão. Pela delegação, a substituição do

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devedor será feita com o consentimento do devedor originário, pois é ele quem indicará uma terceira pessoa para resgatar o seu débito, com o que concorda o credor. Esse tipo de novação está previsto no Código Civil, art. 360, II. Pela expromissão, um terceiro assume a dívida do devedor originário, substituindo-o sem o assentimento deste, desde que o credor concorde com tal mudança". Na expromissão temos apenas duas partes: o credor e o novo devedor, por ser dispensável o consentimento do devedor primitivo. Essa espécie de novação é permitida pelo nosso Código Civil no art. 362, que reza: "A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste".Como nos diz Washington de Barros Monteiro, a expromissão consiste num ajuste exclusivo entre o credor a terceiro.

Art. 360. Dá-se a novação:

I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste.

o Novação subjetiva ativa quando, pelo Código Civil, art. 360, III, o credor originário, por

meio de nova obrigação, deixa a relação obrigacional e um outro o substitui, ficando o devedor quite para com o antigo credor. São os seguintes requisitos para que se tenha tal espécie de novação:

� o consentimento do devedor, que contrai uma nova obrigação perante um novo credor, ficando liberado da antiga dívida;

� o assentimento do antigo credor, que renuncia o seu crédito, permitindo ao devedor que se obrigue para com o novo credor;

� a anuência do novo credor, que aceita a promessa do devedor. Art. 360. Dá-se a novação:

I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Efeitos Verificamos no decorrer deste estudo que a novação tem um duplo efeito: ora se apresenta como força extintiva, porque faz desaparecer a antiga obrigação, ora como energia criadora, por criar uma nova relação obrigacional. Exerce, concomitantemente, uma dupla função: pela sua força extintiva, é ela liberatória, a como força criadora, é obrigatória.

Efeitos da novação quanto à obrigação extinta O principal efeito é, obviamente, a extinção da dívida antiga, que é substituída pela nova. Com a extinção da obrigação anterior, desaparecerão todos os seus efeitos, tais como:

• paralisação dos juros inerentes ao débito extinto; • extinção de todas as garantias a acessórios, sempre que não houver estipulação em contrário

(CC, art. 364, 1ª parte). Dessa forma, se assim convencionarem as partes, os juros ou a cláusula penal, relativos à antiga relação obrigacional, poderão continuar como acessórios; tais acessórios, porém, serão produto da nova manifestação de vontade. Entretanto, o acordo das partes nesse sentido não vinculará terceiros, que não consentiram; é o que preceitua o Código Civil, art. 364, 2ª parte;

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Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.

• desaparecimento do estado de mora em que porventura se encontrar o devedor; • subsistência de preferências a garantias do crédito novado somente sobre os bens do que

contrair a nova obrigação, se a novação se operar entre credor a um dos devedores solidários. Os demais devedores solidários ficarão por esse fato exonerados (CC, art. 365). A novação, ao extinguir o débito, libera os co-devedores da relação obrigacional; assim, as garantias a preferências que recaiam sobre seus bens desaparecerão a só poderão ressurgir se eles concordarem com isso. Se não o fizerem, ficarão alforriados da obrigação;

Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados.

• perda, por parte do devedor, ou do novo devedor, do benefício de todas as exceções resultantes

da antiga obrigação"; • extinção das ações ligadas à obrigação anterior;

• desaparecimento da fiança que garantia a obrigação anterior, pois, sendo acessória,

desaparecerá com a extinção da obrigação principal; mesmo que o credor e o devedor concordem em mantê-la, tal avença será impotente para que o referido acessório sobreviva, sem que o fiador também anua. Código Civil, art. 366;

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.

• insolvência do novo devedor, em novação passiva, correrá por conta e risco do credor, pois para

a substituição será necessária a sua aquiescência. A insolvência do novo devedor não autoriza o credor a mover ação regressiva contra o primeiro, ou melhor, há impossibilidade do credor, que aceitou, no caso de novação subjetiva passiva, novo devedor, que é insolventa, mover ação regressiva contra ele, salvo se este obteve por má fé a substituição (CC, art. 363), hipótese em que reviverá a obrigação anterior, para esse efeito como se a novação fosse nula".

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.

Efeitos da novação em relação à nova obrigação Quanto à nova obrigação bastará acentuar que se cogita de um débito criado ex novo, em conseqüência da novação, sem outra vinculação com a obrigação anterior senão a de uma força extintiva, sem que se opere a transfusio e a translatio. Tudo o que for estabelecido, continua ele, na nova relação obrigacional, mesmo que nela se mantenha algo da antiga, advém da própria estrutura do acordo que foi feito, sem que se possa vislumbrar qualquer elemento vinculativo, no tocante à transmissão de direito ou obrigação, inerente ao débito extinto..

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30 - COMPENSAÇÃO Conceito a natureza jurídica Estatui o Código Civil, art. 368, que, "se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor a devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem". Assim, se dois indivíduos se devem mutuamente, serão, recíproca a concomitantemente, credor a devedor um do outro, a solver-se-á a relação obrigacional até a concorrência dos valores das prestações devidas, de modo que, se um tiver de receber mais do que o outro, continuará credor de um saldo favorável a decorrente do balanço. Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

Assim sendo, a compensação seria um meio especial de extinção. de obrigações, até onde se equivalerem, entre pessoas que são, ao mesmo tempo, devedoras a credoras uma da outra. Seria a compensação o desconto de um débito a outro ou a operação de mútua quitação entre credores recíprocos. Portanto, claro está que, quanto à sua natureza jurídica, poder-se-á dizer que se trata de pagamento indireto, ou seja, de uma variação de pagamento ou de um modo especial de extinção da obrigação:

a) por exigir que os credores sejam concomitantemente devedores um do outro; b) por extinguir as dívidas recíprocas antes de serem pagas, a c) por permitir fracionamento de um dos débitos, representando exceção ao princípio geral de que

o credor não pode ser obrigado a receber por partes. Espécies Em nosso direito admitem-se três espécies de compensação:

a) a legal, prevista no Código Civil, cujos efeitos operam de pleno direito; b) a convencional ou voluntária, oriunda de acordo entre as partes, que podem dispensar qualquer

um de seus requisitos, a c) a judicial, decorrente de sentença que conheceu do crédito alegado pelo réu contra o autor, em

reconvenção. Compensação legal A compensação legal é a decorrente de lei, independendo de convenção das partes a operando mesmo que uma delas se oponha. A compensação, entre nós, se processa automaticamente, ocorrendo no momento em que se constituírem créditos recíprocos entre duas pessoas, já que o Código Civil pátrio preferiu a compensação legal. A compensação legal não poderá ser, no entanto, declarada ex ofiicio, cumprindo ao interessado alegá-la na fase própria do processo. Para que essa modalidade de compensação produza efeitos, será irrelevante a questão da capacidade das partes, reciprocamente credoras e devedoras; assim sendo, embora figure na relação negocial um incapaz, extinguir-se-á a obrigação, independentemente de sua vontade, desde que se configure, objetivamente, a hipótese de se apresentarem duas partes que sejam, recíproca a concomitantemente, credora a devedora uma da outra. Seu efeito é operar a extinção de obrigações recíprocas, liberando os devedores a retroagindo à data em que a situação fática se configurou. Dessa forma, apesar de ter sido alegada posteriormente, operará desde o instante em que o réu, cobrado de uma prestação, se tomar credor do autor. Tal efeito retroativo alcança ambas as dívidas, com todos os seus acessórios, de modo que os juros a as garantias do crédito deixam de existir a partir do momento em que se tiver a coexistência de dívidas. No

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caso, p. ex., de um devedor cujo débito se extinguiu, a partir desse instante ele estará exonerado dos efeitos da mora a da incidência da cláusula penal`. Requisitos A lei estabelece os pressupostos essenciais da compensação legal, que são: 1°-) Reciprocidade de débitos (CC, art. 368), pois será necessário que duas pessoas sejam, ao mesmo tempo, credora a devedora uma da outra. Daí as conseqüências: Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

a) terceiro não interessado poderá pagar, se o fizer em nome a por conta do devedor (CC, art. 304,

parágrafo único), salvo oposição deste, porém não poderá compensar; Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

b) devedor solidário, pelo revogado Código Civil, art. 1.020, apenas poderia compensar com o

credor o que este devia a seu coobrigado até o equivalente da parte deste na dívida comum. No débito solidário, a prestação dividia-se em tantas partes quantos fossem os devedores, mas pela solidariedade cada um podia ser cobrado a responder pelo débito todo, embora, a rigor, só devesse uma quota correspondente à sua parte. Assim, se o credor escolhesse um dos co-devedores para efeito de cobrança, este podia opor a compensação com aquilo que o credor devesse a seu coobrigado, pois desde o momento em que as dívidas opostas se constituíram, elas automaticamente se extinguiram. Entretanto, a compensação se circunscrevia à quota do co-devedor na obrigação solidária, uma vez que, no que excedesse a esse montante, não havia reciprocidade das obrigações, e, cessando a reciprocidade, não se tenha compensação. Apesar da omissão do novo Código, viável seria esse raciocínio.

Art. 1.020. Os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

c) pessoa que se obriga por terceiro não poderá compensar essa dívida com a que o credor lhe

dever (CC, art. 376), por não haver reciprocidade de obrigação, pois o mandante deve ao credor e o credor ao mandatário, visto que o mandatário, ao se obrigar pelo mandante, transformará o mandante em devedor. Igualmente, a dívida do tutor para com terceiro não se compensa com a dívida deste em relação ao tutelado, nem a do filho com o crédito do pai, ou a do sócio com o crédito da sociedade.

Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.

d) o devedor notificado que não se opôs à cessão de crédito não poderá levantar contra o

cessionário a compensação que teria podido articular contra o cedente (CC, art. 377), porque não haverá prestações recíprocas. P. ex.: se "A" deve a "B" a "B" a "A", as dívidas se compensarão.

Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.

2°) Liquidez das dívidas, que devem ser certas quan to à existência a determinadas quanto ao objeto, pois não se pode conceber compensação que opere ipso iure sem que haja certeza quanto ao montante de um dos débitos. E óbvio que a liquidez das dívidas não requer menção expressa da soma em seus títulos, mas que sejam certas a precisas, ou seja, que tenham sua existência determinada independentemente de qualquer processo (medição, levantamento pericial, acerto de contas etc.) que apure seu quantum.

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3°) Exigibilidade atual das prestações (CC, art. 36 9), isto é, deverão estar vencidas; caso contrário, privar-se-ia o devedor do benefício do termo a ter-se-ia injustificável antecipação do pagamento. Somente débitos vencidos poderão ser exigidos ipso jure. Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

4°) Fungibilidade dos débitos (CC, art. 369), porqu e as prestações deverão ser homogêneas entre si a da mesma natureza. Assim, dívidas de dinheiro, p. ex., só se compensarão com dívidas de dinheiro; as de café, com café. Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

5°) Identidade de qualidade das dívidas, quando esp ecificada em contrato (CC, art. 370), pois se os objetos, embora da mesma espécie, forem de qualidade diversa, não haverá compensação. Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.

6°) Diversidade de causa não proveniente de esbulho , furto ou roubo; de comodato, depósito ou alimentos; de coisa impenhorável (CC, art. 373). Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:

I - se provier de esbulho, furto ou roubo; II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.

Pode-se compensar tanto as dívidas privadas como as tributárias. Se a dívida for de natureza fiscal a parafiscal, sua compensação rege-se pelos arts. 368 a 380 do Código Civil. 7°) Ausência de renúncia prévia de um dos devedores (CC, art. 375, 2ª parte), por ser a compensação um benefício. Essa renúncia poderá ser tácita quando o devedor, apesar de ser credor de seu credor, solver espontaneamente o seu débito, a expressa, quando houver uma declaração afastando a possibilidade de compensação. Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.

8°) Falta de estipulação entre as partes, excluindo a possibilidade de compensação (CC, art. 375, 1ª parte). Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.

9°) Dedução das despesas necessárias com o pagament o se as dívidas compensadas não forem pagáveis no mesmo lugar (CC, art. 378). Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação.

10°) Observância das normas sobre imputação do paga mento (CC, arts. 379, 352 a 355), havendo vários débitos compensáveis, indicando o devedor qual a dívida que pretende compensar. Se omitir tal indicação, a escolha competirá ao credor. Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.

11) Ausência de prejuízo a terceiros (CC, art. 380), pois a compensação não poderá lesar direitos ou interesses de terceiros.

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Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia.

Compensação convencional A compensação convencional ou voluntária resulta de acordo de vontade entre as partes, que podem transigir, quando a ausência de algum dos pressupostos da compensação legal impedir a extinção dos débitos por essa via, estipulando-a livremente a dispensando alguns de seus requisitos, desde que se respeite a ordem pública; daí a impossibilidade de compensação voluntária que recaia sobre dívida alimentar. Não se poderá impor compensação, sendo imprescindível, nos casos em que não se opera a compensação legal por não haver homogeneidade, liquidez, exigibilidade de dívidas recíprocas etc., o ajuste entre os interessados. Compensação judicial A compensação judicial é determinada por ato decisório do magistrado, que perceber no processo o fenômeno, em cumprimento das normas aplicáveis à compensação legal. Entretanto, será necessário que cada uma das partes alegue o seu direito de crédito contra a outra. Por isso o réu precisará reconvir, procurando elidir, no todo ou em parte, o pedido do autor (CPC, arts. 315 a 318). A compensação poderá ser deduzida ainda em execução de sentença (CPC, art. 741, VI), quando, então, o fato extintivo ocorrerá após a prolatação da sentença exeqüenda .'.

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31 - TRANSAÇÃO Definição e elementos constitutivos A transação é um negócio jurídico bilateral, pelo qual as partes interessadas, fazendo-se concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas. É o que dispõe o Código Civil, art. 840. Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.

A transação seria uma composição amigável entre os interessados sobre seus direitos, em que cada qual abre mão de parte de suas pretensões, fazendo cessar as discórdias. Desta definição será possível extraírem-se os elementos constitutivos da transação, que são: 1°-) Acordo de vontade entre os interessados, pois, por ser um negócio jurídico bilateral em que as partes abrem mão de seus interesses, será imprescindível a manifestação volitiva dos transatores; logo, não poderá haver transação em virtude de lei. Daí a exigência de capacidade das partes não dizer respeito somente à capacidade genérica para a vida civil, mas também à legitimação para alienar, ou seja, à capacidade de disposição, por ser necessário que o transator a tenha, visto que a transação constitui um modo especial de extinção de dívidas, envolvendo renúncia de direitos. Entretanto, por importar renúncia de direitos, a lei proíbe a transação:

• ao tutor a ao curador, referentemente aos negócios do tutelado a do curatelado (CC, arts. 1.748, III, e 1.774), a não ser que a transação seja do interesse deles a desde que haja autorização judicial expressa, decidindo a conveniência da transação;

• aos pais, quanto aos bens a direitos de seus filhos menores, salvo mediante prévia autorização do juiz;

• ao mandatário sem poderes especiais a expressos (CC, art. 661, § 1°; CPC, art. 38); • aos procuradores fiscais a judiciais das pessoas jurídicas de direito público interno; • ao representante do Ministério Público; • à pessoa casada, exceto no regime de separação absoluta (CC, art. 1.647), sem o

consentimento do outro consorte, desde que a transação seja relativa a imóveis; • ao sócio que não tenha a administração da sociedade (CC. arts. 1.010 e 1.021); • ao inventariante, no caso do art. 992, Il, do Código de Processo Civil; • ao síndico, sobre dívidas a negócios da massa, salvo licença judicial a audiência do falido (Dec.-

lei n. 7.661/45, art. 63, XVIII). 2°) Impendência ou existência de litígio ou de dúvi da sobre os direitos das partes, suscetíveis de serem desfeitos, já que o Código Civil, art. 840, refere-se à prevenção ou extinção de um litígio ou de uma res dubia entre os interessados, e é por meio da transação que se afastam essas incertezas sobre um direito ou relação jurídica preexistente. Só poderá haver transação quando os direitos sobre que versa forem litigiosos ou duvidosos. Se os direitos não forem litigiosos ou duvidosos, ter-se-á reconhecimento ou renúncia, conforme se admitam as pretensões contrárias ou se desista das próprias, pois a transação perderá sua finalidade, e o acordo dos interessados poderá configurar uma doação ou uma remissão de dívidas. Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.

3º) Intenção de pôr termo à "res dubia" ou litigiosa, visto que a vontade de eliminar incerteza aparece como elemento essencial da transação, com o escopo de poupar a lentidão de um processo a de evitar riscos na solução da lide, bem como discussão polêmica inconveniente, de resultado imprevisível. 4°) Reciprocidade de concessões, pois será necessár io que ambos os transigentes concedam alguma coisa ou abram mão de alguns direitos em troca da segurança oferecida pela transação. Daí o caráter oneroso desse instituto, já que cada parte procura tirar uma vantagem do acordo, sem que as concessões mútuas devam implicar equivalência ou proporcionalidade das prestações ou correspondência das vantagens a sacrifícios.

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5°) Prevenção ou extinção de um litígio ou de uma d úvida, por visar a transformação de um estado jurídico inseguro a incerto em outro seguro e certo. Portanto, com a transação, que conjura iminente litígio, põe-se fim à pendência em andamento a arreda-se controvérsia ou dúvida sobre certa pretensão, surgindo uma situação definida, pela consumação da prevenção ou pela extinção do litígio ou da incerteza. Não se admite, ainda, transação condicional, que não ponha termo à controvérsia. Se não atender a tal finalidade, será ato constitutivo de direito ou um pagamento. Caracteres A transação apresenta os seguintes caracteres: 1°) É indivisível, pois a indivisibilidade é essenc ial à transação, que constitui negócio jurídico com todos os elementos característicos da relação negocial, uma vez que, pelo Código Civil, art. 848, "sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta". Contudo, acrescenta o parágrafo único desse dispositivo legal que: "Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um, não prejudicará os demais". Isto é, se a transação disser respeito a vários negócios autônomos, não relacionados entre si, não perderá sua validade, se um deles for nulo, quanto aos demais ajustes, que prevalecerão, por não lesar nenhum dos interessados. Art. 848. Sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta.

Parágrafo único - Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não prejudicará os demais.

2°) É de interpretação restrita, ante o disposto no Código Civil, art. 843, 1° parte. Por envolver uma renúncia de direitos a por ter a finalidade de extinguir obrigações, deve ser sempre interpretada restritivamente, não comportando aplicação analógica, nem extensão da vontade liberatória além dos termos em que se manifestou, restringindo-se tão-somente às questões expressamente especificadas no instrumento. Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.

3°) É negócio jurídico declaratório, pois não visa transmitir nada, mas declarar ou reconhecer direitos (CC, art. 843, 2ª parte), tomando certa e segura uma situação jurídica preexistente, que era controvertida a incerta. Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.

Modalidades e formas de transação A transação poderá ser: 1°) Judicial, se se realizar no curso de um process o, recaindo sobre direitos contestados em juízo, hipótese em que, pelo Código Civil, art. 842, 2° pa rte, deverá ser feita (CPC, arts. 447 a 449, 794, Il;): Art. 842. A transação far-se-á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.

a) por termo nos autos, assinado pelos transigentes a homologado pelo juiz. Imprescindível será, após parecer favorável do representante do Ministério Público, tal homologação judicial, porque ela completa o ato, tomando-o perfeito a acabado, permitindo a produção de efeitos jurídicos a encerrando o processo, ao positivar a desistência do direito que assistia às partes de obter do órgão judicante uma decisão sobre o mérito da questão.

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b) por escritura pública. Os transigentes juntarão aos autos a escritura pública; em seguida, ter-se-á homologação judicial, sem a qual não cessará a instância (CPC, art. 269). Portanto, tal transação substitui a decisão que o juiz proferiria se a causa chegasse ao fim . 2°) Extrajudicial, se levada a efeito ante uma dema nda ou litígio iminente, evitado, preventivamente, mediante convenção dos interessados que, fazendo concessões recíprocas, resolvem as controvérsias, por meio de escritura pública, se a lei reclamar essa forma, ou particular, nas hipóteses em que a admitir (CC, arts. 842, 1ª parte, e 104,III). Não há necessidade de se homologar, por via judicial, tal transação, por ter sido feita, com função preventiva, antes de haver litígio ou demanda, justamente com a finalidade de evitá-los. Art. 842. A transação far-se-á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

III - forma prescrita ou não defesa em lei. Objeto Nem todas as relações jurídicas poderão ser objeto de transação, pois, pelo Código Civil, art. 841, só é permitida em relação a direitos patrimoniais de caráter privado, suscetíveis de circulabilidade. Daí a ilicitude e a inadmissibilidade de transação atinente a assuntos relativos a bens fora do comércio; ao estado a capacidade das pessoas ; à legitimidade ou dissolução do casamento; à guarda dos filhos; ao pátrio poder; à investigação de paternidade; a alimentos, por serem irrenunciáveis, embora se possa transigir acerca do quantum; às ações penais, pois, pelo Código Civil, art. 846. Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.

Art. 846. A transação concernente a obrigações resultantes de delito não extingue a ação penal pública.

Natureza jurídica A transação é um instituto jurídico sui generis, por consistir numa modalidade especial de negócio jurídico bilateral, que se aproxima do contrato, na sua constituição, a do pagamento, nos seus efeitos, por ser causa extintiva de obrigações, possuindo dupla natureza jurídica: a de negócio jurídico bilateral e a de pagamento. É um negócio jurídico bilateral declaratório, uma vez que, tão somente, reconhece ou declara direito, tornando certa uma situação jurídica controvertida a eliminando a incerteza que atinge um direito. A finalidade da transação é transformar em incontestável no futuro o que hoje é litigioso ou incerto. Nulidade São inteiramente aplicáveis à transação não só as normas relativas ao regime das nulidades dos negócios jurídicos em geral , mas também as concernentes aos motivos especiais de nulidade do acordo dos transatores. O Código Civil, art. 850, Estabelece duas causas de nulidade absoluta da transação:

a) litígio já decidido por sentença passada em julgado, sem o conhecimento dos transatores. Assim sendo, se o que demandar a nulidade houver tido ciência de que havia uma sentença transitada em julgado, não terá legitimatio ad causam para demandar a nulidade da transação. Trata-se de causa de nulidade absoluta, posto que, havendo litígio encerrado por sentença passada em julgado, ignorada pelos transacionistas, não havia sobre que transigir, pois uma das finalidades da transação é a incerteza dos direitos ou a prevenção ou cessação da demanda. Portanto, se esta já estava terminada pela coisa julgada, a transação ficou sem objeto

b) descoberta de título ulterior, que indique ausência de direito sobre o objeto da transação em relação a qualquer dos transatores.

Art. 850. É nula a transação a respeito do litígio decidido por sentença passada em julgado, se dela não tinha ciência algum dos transatores, ou quando, por título ulteriormente descoberto, se verificar que nenhum deles tinha direito sobre o objeto da transação.

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Além do mais, é preciso lembrar o art. 848 do Código Civil, concernente à nulidade da transação, em face da sua natureza indivisível. A indivisibilidade da transação acarreta, sendo nula qualquer de suas cláusulas, a nulidade da própria transação. Inadmissível será a nulidade parcial, salvo quando a transação versar sobre diversos direitos contestados a não prevalecer em relação a um, ficando, não obstante, válida relativamente aos outros (CC, art. 848, parágrafo único). Art. 848. Sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta.

Parágrafo único - Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não prejudicará os demais.

O art. 849 do Código Civil aponta os casos de nulidade relativa ou anulabilidade, ao prescrever que a transação só se rescinde por dolo, coação ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa, aplicando-se as mesmas normas estabelecidas para a hipótese de anulabilidade por erro, dolo, coação ou violência dos negócios jurídicos em geral. "A transação não se anula por erro de direito a respeito das questões que foram objeto de controvérsia entre as partes" (CC, art. 849, parágrafo único). Art. 849. A transação só se anula por dolo, coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa.

Parágrafo único - A transação não se anula por erro de direito a respeito das questões que foram objeto de controvérsia entre as partes.

Efeitos Sendo a transação uma modalidade especial de negócio jurídico bilateral, produz os seguintes efeitos jurídicos:

a) aplicabilidade do art. 476 do Código Civil a das disposições legais relativas à condição, à mora a às perdas a danos oriundos de descumprimento da obrigação avençada;

b) admissibilidade da pena convencional (CC, art. 847), pois as partes que transigirem estão obrigadas a cumprir a obrigação que assumiram; daí a possibilidade de se pactuar cláusula penal para reforçar a observância do que foi objeto da transação a que será paga por aquele que a infringir.

Art. 849. A transação só se anula por dolo, coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa.

Parágrafo único - A transação não se anula por erro de direito a respeito das questões que foram objeto de controvérsia entre as partes.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Como é meio indireto de extinção da obrigação, produz os seguintes efeitos extintivos:

a) desvinculação do obrigado mediante acordo liberatório; b) equiparação à coisa julgada, pois, a transação judicial homologada produz entre as partes o

efeito de coisa julgada. Trata-se da exceptio litis per transactionem finitae, que equivale à exceptio rei judicatae;

c) identidade de pessoas, isto é, a transação só vincula os que transigiram. Estatui o art. 844 do Código Civil que: "A transação não aproveita, nem prejudica se não aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível".;

d) responsabilidade pela evicção, pois prescreve o Código Civil, art. 845, que: "Dada a evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida à outra pane, não revive a obrigação extinta pela transação; mas ao evicto cabe o direito de reclamar perdas a danos", já que sem indenização o evicto teria somente prejuízos e a outra parte apenas benefícios, e é imprescindível na transação que os transatores, como vimos alhures, façam concessões recíprocas;

e) prevenção a extinção de controvérsias; f) possibilidade de exercício de direito novo sobre a coisa transigida; portanto, se, depois de

concluída a transação, um dos transigentes vier a adquirir novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, não estará inibido de exercê-to (CC, art. 845, parágrafo único), visto que a transação não implica renúncia a qualquer direito futuro, mas somente ao que o litígio ou dúvida

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objetivava, e, além disso, trata-se de direito independente do que deu causa à transação. Art. 845. Dada a evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida à outra parte, não revive a obrigação extinta pela transação; mas ao evicto cabe o direito de reclamar perdas e danos.

Parágrafo único - Se um dos transigentes adquirir, depois da transação, novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, a transação feita não o inibirá de exercê-lo.

É mister salientar, ainda, que a transação produz efeitos declaratórios, por apenas declarar a reconhecer direitos existentes, não operando qualquer transmissão ou constituição de direitos.

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32 - COMPROMISSO Conceito a natureza jurídica Na transação os próprios interessados resolvem suas controvérsias, mediante concessões mútuas. Pode ocorrer que por qualquer razão não estejam habilitados a solucionar, pessoalmente, as questões litigiosas ou duvidosas que surgirem em suas relações obrigacionais, remetendo, por isso, a terceiros, de comum acordo, a solução de suas pendências judiciais ou extrajudiciais. Trata-se do juízo arbitral. Compromisso vem a ser o acordo bilateral, em que as partes interessadas submetem suas controvérsias jurídicas à decisão de árbitros, comprometendo-se a acatá-la, subtraindo a demanda da jurisdição da justiça comum. O compromisso é matéria de direito substantivo, por preceder ao juízo arbitral. Primeiro o compromisso, depois a decisão do árbitro. O compromisso pode existir sem juízo arbitral, porém este não poderá existir sem a formação daquele. A Lei n. 9.307/96 rege o compromisso a disciplina o funcionamento do juízo arbitral (CC, art. 853). Art. 853. Admite-se nos contratos a cláusula compromissória, para resolver divergências mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial.

Semelhantemente à transação, vislumbramos no compromisso uma natureza jurídica "sui generis", contendo um misto de contrato a de pagamento, por isso dele aqui tratamos apesar de o Código Civil tê-lo abordado, nos arts. 851 a 853, Título VI, alusivo às várias espécies de contrato. Nítida é sua natureza contratual, visto que advém do acordo de vontades das partes interessadas, que escolhem árbitros, vinculando-se a acatar a solução dada por eles; logo, cria obrigações para cada um dos participantes, exigindo capacidade das partes, forma própria a objeto lícito. Firmando o compromisso, com a aprovação a aceitação de todos, as partes contratantes terão o dever de acatar a decisão arbitral, cumprindo-a nos termos do próprio compromisso, e os árbitros assumirão a obrigação de proferir o laudo decisório dentro dos poderes conferidos. É também um pagamento, pois, ao dirimir questões controvertidas, extingue relações obrigacionais. Art. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contratar.

Art. 852. É vedado compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial.

Art. 853. Admite-se nos contratos a cláusula compromissória, para resolver divergências mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial.

Espécies Conforme a Lei n. 9.307/96, o compromisso arbitral pode ser: 1°) Judicial, referindo-se à controvérsia já ajuiza da perante a justiça ordinária, celebrando-se, então, por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal por onde correr a demanda. Tal termo será assinado pelas próprias partes ou por mandatário com poderes especiais (CC, arts. 661 § 2°, e 851; CPC, art. 38; Lei n. 9.307/96, art. 9°-, § 1°-). Feito o compromisso, cessarão as funções do juiz togado, pois os árbitros decidirão. Art. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contratar.

Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração.

§ 2º O poder de transigir não importa o de firmar compromisso.

2°) Extrajudicial, se ainda não existir demanda aju izada. Não havendo causa ajuizada, celebrar-se-á o compromisso por escritura pública ou particular, assinada pelas partes a duas testemunhas (CC, art. 851 a Lei n. 9.307/96, art. 9°, § 2°). Art. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contratar.

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Instituído, judicial ou extrajudicialmente, o juízo arbitral, segue o procedimento previsto nos arts. 19 a 30 da Lei n. 9.307/96. Proferida a sentença arbitral, findar-se-á a arbitragem a sua cópia deve ser entregue diretamente às partes, mediante recibo, ou a elas enviada por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, desde que se comprove seu recebimento. As partes terão cinco dias para solicitar ao árbitro a correção de qualquer erro material ou o esclarecimento de dúvidas (arts. 29 a 30 da Lei n. 9.307/96). A sentença arbitral produz entre as panes e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença prolatada pelo órgão do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo (art. 31 da Lei n. 9.307/96), não sendo, portanto, necessária a homologação judicial para que tenha eficácia executiva. O árbitro é juiz de fato a de direito, logo sua sentença não ficará sujeita a recurso nem à homologação pelo Poder Judiciário (art. 18 da Lei n. 9.307/96). Pressupostos subjetivos a objetivos Ante a natureza contratual do compromisso, imprescindível será, para a sua existência a validade, a presença de pressupostos subjetivos, atinentes às partes que se comprometem a ao árbitro, a objetivos, concernentes ao seu objeto a conteúdo. Os pressupostos subjetivos são: 1°) Capacidade de se comprometer, abrangendo, além da capacidade em geral para os atos da vida civil, a possibilidade dos contratantes de dispor dos direitos em controvérsia a de ser parte em juízo, por envolver a submissão da controvérsia aos árbitros. 2°) Capacidade para ser árbitro, pois só pode ser á rbitro quem tiver a confiança das partes, excetuando-se:

a) os incapazes (Lei n. 9.307/96, art. 1°-); b) os analfabetos; c) os legalmente impedidos de servir como juiz (CPC, art. 134), ou os suspeitos de parcialidade

(CPC, art. 135; Lei n. 9.307/96, art. 14). As pessoas jurídicas não poderão ser árbitros ante as mutações que podem sofrer seus órgãos direcionais, incompatíveis com a confiança pessoal que as partes neles depositam. As partes devem nomear um ou mais árbitros sempre em número ímpar, para evitar um possível empate, que dificultaria um acordo sobre a questão controvertida, e podem, ainda, indicar também seus suplentes (Lei n. 9.307/96, art. 13, § 1°). Se nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados a nomear mais um, porque seu objetivo é solucionar o litígio, e, sem indicação do desempatador, não se obterá solução alguma para a controvérsia. Não havendo acordo, as partes requerem ao Judiciário competente para julgar a causa a nomeação de árbitro (art. 13, § 2°, da Lei n. 9.307/96). Se vários forem os árbitros, estes elegerão por maioria o presidente do tribunal arbitral, e, se não houver acordo, o mais idoso será o presidente (art. 13, § 4°, da Lei n. 9.307/96).

São pressupostos objetivos: 1°) Em relação ao objeto do compromisso, que não po derá compreender todas as questões controvertidas, mas tão somente aquelas que pelo juiz comum são passíveis de decisão, com eficácia inter partes, desde que não versem sobre assuntos da seara penal, de estado civil, ou melhor, desde que relativas a direito patrimonial disponível de caráter privado (Código Civil art. 852). Art. 852. É vedado compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial.

2°) Atinente ao conteúdo do compromisso que, pela L ei n. 9.307/96, art. 10, deverá conter, sob pena de nulidade:

a) nomes, sobrenomes, domicílio, profissão a estado civil das pessoas que instituírem o juízo arbitral e dos árbitros, bem como os dos substitutos nomeados para os suprir, no caso de falta ou impedimento; ou se for o caso a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;

b) as especificações e valor do objeto do litígio, isto é, da controvérsia, que os árbitros deverão

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solucionar, podendo até a estes formular quesitos para serem respondidos, atribuindo às respostas as conseqüências que quiserem;

c) local em que será proferida a sentença arbitral. E poderá, se as partes preferirem, conter (Lei n. 9.307/96, art. 11, I a VI):

a) o prazo em que deve ser dada a decisão arbitral; b) indicação do local ou locais onde se desenvolverá a arbitragem; c) autorização para que o árbitro ou árbitros julguem por eqüidade; d) indicação da lei nacional ou das normas corporativas aplicáveis à arbitragem; e) a fixação dos honorários dos árbitros e a proporção em que serão pagos, além da declaração de

responsabilidade pelo pagamento dos honorários dos peritos a das despesas processuais. A falta de qualquer um desses requisitos não tomará nulo o compromisso por não serem obrigatórios como os do art. 10.

Compromisso a institutos afins É mister distinguir o compromisso da cláusula compromissória. A cláusula compromissória ou pactum de compromittendo é um pacto adjeto dotado de autonomia (art. 8° da Lei n. 9.307/96 a art. 853 do CC) relativamente aos contratos civis ou mercantis, principalmente os de sociedade, ou em negócios jurídicos unilaterais, em que se estabelece que, na eventualidade de uma divergência entre os interessados na execução do negócio, estes deverão lançar mão do juízo arbitral. É avençada no momento do nascimento do negócio principal, como medida preventiva dos interessados, com a intenção de evitar desentendimento futuro. Art. 853. Admite-se nos contratos a cláusula compromissória, para resolver divergências mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial.

O compromisso muito se aproxima da transação, pois, como vimos em páginas anteriores, ambos participam da natureza contratual, sendo também meios indiretos de extinção de relações obrigacionais, com a função comum de pôr termo a um litígio, dúvida ou desavença. Daí esses institutos se regerem pelos mesmos princípios:

a) são indivisíveis (CC, art. 848); b) interpretam-se restritivamente (CC, art. 843, 1ª parte); c) são meramente declaratórios a não-constitutivos de direito (CC, art. 843, 2a parte); d) aproveitam a prejudicam apenas aos que transigem ou se comprometem (CC, art. 844); e) não extinguem a ação penal pública (CC, art. 846); f) terão por objeto exclusivamente questões patrimoniais (CC, arts. 841 e 852, 2ª parte).

Art. 848. Sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta.

Parágrafo único - Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não prejudicará os demais.

Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.

Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível.

§ 1º Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador.

§ 2º Se entre um dos credores solidários e o devedor, extingue a obrigação deste para com os outros credores.

§ 3º Se entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores.

Art. 846. A transação concernente a obrigações resultantes de delito não extingue a ação penal pública.

Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.

Art. 852. É vedado compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial.

Apesar dessa grande afinidade, há uma diferença essencial entre esses dois institutos, pois pela transação os interessados previnem ou fazem cessar a controvérsia, ao passo que pelo compromisso apenas a retiram da apreciação da justiça ordinária, submetendo-a ao juízo arbitra.

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Efeitos do compromisso Produz o compromisso efeitos: 1°) Relativamente aos compromitentes, tais como:

a) exclusão da intervenção do juiz estatal para solucionar o litígio surgido entre eles; b) submissão dos compromitentes à sentença arbitral, que apenas têm o direito de recorrer para o

tribunal no caso de nulidade do laudo (art. 33, §§ 1º a 3º, da Lei n. 9.307/96) ou extinção do compromisso.

2°) Entre as partes e o árbitro:

a) investidura do árbitro após a sua aceitação;

b) substituição do árbitro se houver falta, recusa ou impedimento (arts. 14, § 2°, 15 e 16 da Lei n. 9.307/96). Em todas essas hipóteses será convocado o substituto, se houver. Não havendo substituto, aplicam-se as normas do órgão arbitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na convenção de arbitragem. Se esta nada dispuser e não chegando as partes a um acordo, o juiz nomeia árbitro único para solucionar o litígio, a menos que as partes tenham declarado expressamente, na convenção de arbitragem, não aceitar substituto (art. 16, §§ 1º e 2°-. da Lei n. 9.307/96);

c) indicação de um terceiro desempatador, no caso de empate (art. 13, § 2°-, da Lei n. 9.307/96);

d) percepção pelo árbitro dos honorários ajustados pelo desempenho de sua função. À falta de

acordo ou de disposição especial no compromisso, o árbitro, depois de apresentado o laudo, poderá requerer ao juiz que seria competente para julgar a causa que lhe fixe o valor dos honorários por sentença, valendo esta como título executivo (art. 11, parágrafo único, da Lei n. 9.307/96);

e) responsabilidade por perdas a danos do árbitro que, no prazo, não proferir o laudo, acarretando

a extinção do compromisso, ou que, depois de aceitar o encargo, a ele renunciar injustificadamente;

f) aplicação da norma estabelecida no Código de Processo Civil, art. 133, sobre deveres a

responsabilidades dos juízes, aos árbitros que o merecerem. Nulidade do laudo arbitral Pelo art. 32, I a VIII, da Lei n. 9.307/96, nulo será o laudo arbitral:

• se nulo o compromisso;

• se proferido fora dos limites do compromisso, ou em desacordo com o seu objeto, ou seja, se os árbitros ultrapassarem os poderes conferidos no compromisso;

• se não julgar toda a controvérsia submetida ao juízo;

• se emanou de quem não podia ser nomeado árbitro;

• se comprovado que foi proferido por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;

• se desrespeitados, no procedimento, os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro a de seu livre convencimento;

• se não contiver os requisitos essenciais exigidos pelo art. 26 da Lei n. 9.307/96, a saber: o relatório, contendo nomes das partes a resumo do litígio; os fundamentos da decisão, mencionando-se expressamente se esta foi dada por eqüidade; o dispositivo em que os árbitros resolveram as questões que lhes foram submetidas, prazo para cumprimento da decisão; o dia, mês, ano e lugar em que foi prolatado;

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• se proferido fora do prazo. Extinção do compromisso Extinguir-se-á o compromisso (Lei n. 9.307/96, art. 12, I a III): 1°) escusando-se qualquer dos árbitros antes de ace itar a nomeação, desde que as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto; 2°) falecendo ou ficando impossibilitado de dar o s eu voto algum dos árbitros, sem que tenha substituto aceito pelas partes; 3°) tendo expirado o prazo para apresentação da sen tença arbitral, desde que a parte interessada tenha notificado o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolação e apresentação do laudo.

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33 - CONFUSÃO Conceito a requisitos Confusão apresenta a idéia de fundir com, misturar, reunir, juridicamente, o termo confusão possui três acepções diversas: 1ª) Representa a mescla de várias matérias líquidas pertencentes a pessoa diversa, de tal forma que seria impossível separá-las, caso em que se terá confusão propriamente dita, que constitui um dos modos derivados de aquisição a perda da propriedade móvel. P ex.: a mistura de vinhos de dois tonéis, pertencentes cada um a um dono, impossibilitando sua separação ou tornando esta tão dispendiosa que aos proprietários não compense efetuá-la. Contudo, tal palavra poderá representar a mistura entre coisas secas ou sólidas, hipótese em que se configurará a comistão, ou a justaposição de uma coisa à outra, de forma que não seja mais possível destacar a acessória da principal sem deterioração, quando se dará a adjunção. 2ª) Indica a reunião, numa mesma pessoa, de diversos direitos sobre bem corpóreo ou incorpóreo, os quais anteriormente se encontravam separados. Isto é, na confusão ou consolidação reúnem-se no mesmo titular a propriedade a um direito real sobre coisa alheia, como é o caso, p. ex., do usufrutuário que sucede nos direitos do nu-proprietário (CC, art. 1.410, VI); do senhorio que adquire o domínio útil do foreiro; do proprietário do prédio serviente, que passa a ter a propriedade do dominante; do credor da renda constituída sobre imóvel, que passa a ser proprietário do imóvel vinculado; do credor pignoratício que adquire, por ato inter vivos ou causa mortis, o domínio do objeto gravado (CC, art. 1.436, IV e § 2°); do credor hipotecário que passa a ser proprietário do imóvel hipotecado. Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis:

VI - pela consolidação;

Art. 1.436. Extingue-se o penhor:

IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa; § 2º Operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto.

3ª) Designa o concurso, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor de uma obrigação. Infere-se daí que a confusão, na seara jurídica, participa do direito das coisas no primeiro a no segundo sentido, a do direito das obrigações, na terceira acepção. No direito obrigacional, portanto, confusão é a aglutinação, em uma única pessoa a relativamente à mesma relação jurídica, das qualidades de credor a devedor, por ato inter vivos ou causa mortis, operando a extinção do crédito. Como ninguém pode ser credor a devedor de si mesmo, ou demandar contra si mesmo, pois o direito creditório reclama a coexistência de um sujeito ativo (credor) a de um sujeito passivo (devedor), qualidades que devem, irredutivelmente, recair em pessoas diversas. (Código Civil, art. 381) Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.

A confusão deriva de ato causa mortis ou inter vivos. Requisitos essenciais da confusão:

1. unidade da relação obrigacional, que pressupõe, portanto, a existência do mesmo crédito ou da mesma obrigação;

2. união, na mesma pessoa, das qualidades de credor a devedor, pois apenas quando a pretensão e a obrigação concorrerem no mesmo titular é que se terá a confusão;

3. ausência de separação dos patrimônios, de modo que, p. ex., aberta a sucessão, não se verificará a confusão enquanto os patrimônios do de cujus a do herdeiro permanecerem distintos, não incorporando o herdeiro, em definitivo, o crédito ao seu próprio patrimônio.

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Espécies O Código Civil, art. 382, ao prescrever que "a confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela", está admitindo duas espécies para esse instituto: 1ª) total ou própria, se se realizar com relação a toda a dívida ou crédito; 2ª) a parcial ou imprópria, se se efetivar apenas em relação a uma parte do débito ou crédito. Código Civil, art. 383. Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.

Efeitos Claro está, pelo art. 381 do Código Civil, que um dos efeitos da confusão é operar a extinção da obrigação, desde que na mesma pessoa se aglutinem as qualidades de credor a devedor. Se acarretar a extinção da obrigação principal, ipso facto extinguir-se-á a relação acessória, já que accessorium sequitur principale; a recíproca, porém, não é verdadeira. O efeito da confusão extinção do crédito a de seus acessórios - apenas se dará definitivamente se não houver nenhum meio que tonne possível o desfazimento da confusão, visto que, se ela cessar, restabelecer-se-á a obrigação tom todos os acessórios. Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.

Extinção Ter-se-á a extinção da confusão e conseqüentemente a restauração da obrigação com todos os seus acessórios, em virtude de uma situação jurídica transitória ou de uma relação jurídica ineficaz, sendo esse princípio uma exceção à regra geral de ser a confusão um modo extintivo do vínculo obrigacional. Esse princípio se acha consignado no Código Civil, art. 384: "Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior". Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.

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34 - REMISSÃO DAS DÍVIDAS Conceito a natureza jurídica Remissão advém do latim remissio, remittere, significando perdão. Remissão seria o perdão da dívida pelo credor, colocando-se este na impossibilidade de reclamar o adimplemento da obrigação. A remissão das dívidas é a liberação graciosa do devedor pelo credor, que voluntariamente abre mão de seus direitos creditórios, com o escopo de extinguir a obrigação, mediante o consentimento expresso ou tácito do devedor. Por consistir numa alienação, sua eficácia dependerá, de um lado, não só da capacidade ordinária de quem a faz, mas também de legitimação para dispor, uma vez que, diminuindo o patrimônio do credor, equivaleria a ato de disposição, e, de outro lado, da capacidade de adquirir do devedor. O remitente deverá ser capaz de alienar, tendo livre disponibilidade sobre seus bens, e o remitido, capaz de adquirir (CC, art. 386, in fine). Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

A remissão é um direito exclusivo do credor de exonerar o devedor, visto ser a extinção dos direitos creditórios pela simples vontade do credor. Por essa razão todos os créditos, seja qual for a sua natureza, são suscetíveis de serem remitidos, desde que visem o interesse do credor e a remissão não prejudique interesse público ou de terceiro. A natureza jurídica do ato remissivo é questão prenhe de controvérsia, pois a doutrina contém amplas discussões a respeito de sua unilateralidade ou bilateralidade. Alguns juristas se inclinam a considerá-lo como um negócio jurídico unilateral, por entenderem que, para remitir, o credor não precisará de declaração da vontade do devedor, visto que a essência do perdão está na vontade abdicativa do credor, independendo da aceitação do devedor. Outros, aos quais nos filiamos, nela vislumbram um negócio jurídico bilateral, entendendo que o credor não poderá exonerar o devedor sem a anuência deste, não lhe sendo lícito sobrepor-se à vontade do devedor de cumprir a relação obrigacional, uma vez que a obrigação é um vínculo jurídico que não se poderá desatar sem o concurso da vontade das panes que o constituíram. O devedor não pode ser obrigado a aceitar o perdão que lhe é oferecido pelo credor, de forma que a declaração feita pelo credor, resolvendo remitir o débito, será tão-somente mera manifestação volitiva, sem caráter obrigatório, que poderá ser retirada enquanto não for aceita pelo devedor. E se o devedor não quiser aceitar o perdão, poderá consignar o valor do seu débito em juízo, havendo recusa do credor em receber o pagamento do que lhe é devido. Nítida é sua natureza contratual, visto que o Código Civil, art. 386, in fine, requer capacidade do remitente para alienar a do remido para consentir a adquirir. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Não há, pois, como confundir renúncia tom remissão, embora a renúncia seja o gênero de que a remissão é a espécie. A renúncia pode incidir sobre determinados direitos pessoais sem caráter patrimonial, enquanto a remissão só diz respeito aos direitos creditórios. A renúncia é ato unilateral, aperfeiçoando-se sem anuência do beneficiado, ao passo que a remissão é convencional, dependendo da vontade do remitido que, como vimos, em caso de recusa poderá lançar mão da ação de consignação em pagamento. Modalidades A remissão poderá ser: 1°) Total ou parcial. Será total se tiver por objet o a completa extinção da obrigação, a parcial se o credor reduzir o débito, que subsistirá em parte e em parte será remitido.

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2°) Expressa ou tácita. Será expressa quando firmad a por ato escrito, isto é, se estiver contida num instrumento, público ou particular, inter vivos ou causa mortis (testamento ou codicilo), oriundo de formal manifestação de vontade do credor de remitir o devedor. Será tácita se decorrer dos casos previstos em lei, como os dos arts. 386 a 387 do Código Civil, nos quais se presume a vontade do credor de remitir, por resultarem de atos que indicam o seu intento de perdoar o débito. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida.

Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

Casos de remissão presumida A remissão tácita ou presumida, convém repetir, é a que se dá quando ocorrer qualquer dos casos previstos em lei, como efeito de uma presunção firmada na aparência de certos fatos, que indicam o desinteresse do credor pelo seu crédito a sua intenção de liberar o devedor da dívida. Tais presunções legais estão contidas no Código Civil, arts. 386 a 387, e não comportam aplicação analógica, por serem suscetíveis unicamente de interpretação estrita. Ter-se-á remissão de dívida presumida pela: 1ª) Entrega voluntária do título da obrigação por escrito particular, ante o disposto no Código Civil, art. 386: "A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor a seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor, capaz de adquirir". Infere-se daí que:

a) a restituição do instrumento deverá ser feita pelo credor ou seu representante, pois se feita por terceiro não terá efeito liberatório;

b) o devedor ou seu representante legal deverá receber o título do credor; c) a efetiva entrega deverá ser espontânea ou voluntária, abrigando a intenção de abdicar direito

creditório; d) a entrega será restrita ao instrumento particular, sendo irrelevante a posse de uma escritura

pública; e) a restituição do título da dívida principal extingue os acessórios, mas a entrega do título da

fiança. 2ª) Entrega do objeto empenhado, prevista no Código Civil, art. 387, que assim reza: "A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida" (CC, art. 1.436, III, e § 1°). Fácil é denotar que, nessa hipótese, há presunção de que houve remissão da garantia real, isto é, do penhor, que consiste na tradição de uma coisa móvel ou mobilizável, suscetível de alienação, realizada pelo devedor ou por terceiro ao credor, a fim de garantir o pagamento do débito. O penhor é direito acessório da obrigação que gera a dívida que visa garantir, de forma que nada obsta que o credor abdique dele, sem perdoar a dívida, que é a obrigação principal. A remissão da obrigação principal atingirá a acessória, mas a da acessória não terá eficácia relativamente à principal. Art. 1.436. Extingue-se o penhor:

III - renunciando o credor; § 1º Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia.

Efeitos A remissão das dívidas produz os seguintes efeitos:

• a extinção da obrigação, equivalendo ao pagamento e à quitação do débito, por liberar o devedor a seus coobrigados;

• a liberação do devedor principal extinguirá as garantias reais e fidejussórias, mas a recíproca não será verdadeira;

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• a exoneração de um dos co-devedores extinguirá a dívida na pane a ele correspondente, de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não poderá cobrar o débito sem dedução da parte remitida (CC, arts. 388, 277 e 282);

Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada.

Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.

Parágrafo único - Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.

Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

• a liberação graciosa do devedor, levada a efeito por um dos credores solidários, extinguirá inteiramente a dívida (CC, art. 269), e o credor que over remitido a dívida responderá aos outros pela pane que lhes caiba (CC, art. 272);

Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago.

Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

• a indivisibilidade da obrigação impedirá, mesmo se um dos credores remitir o débito, a extinção da relação obrigacional em relação aos

• demais credores, que, contudo, somente poderão exigir o pagamento tom o desconto da quota do credor remitente (CC, art. 262);

Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.

Parágrafo único - O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

• a extinção da execução se o credor perdoar toda a dívida (CPC, art. 794, II);

• a ausência de prejuízo a terceiro, tom a extinção da obrigação por perdão do débito aceito pelo devedor (CC, art. 385).

Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

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35 - EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL SEM PAGAMENTO Generalidades Como já apontamos alhures, ter-se-á a extinção do vínculo obrigacional: a) pela prescrição; b) pela impossibilidade de execução do prometido sem culpa do devedor, isto é, em virtude de

ocorrência de força maior ou de caso fortuito, a c) pelo implemento de condição ou termo extintivo. Todas essas hipóteses acarretam a cessação da obrigação, sem que o devedor cumpra a prestação, operando, conseqüentemente, a extinção do liame obrigacional sem que tenha havido pagamento. Prescrição A prescrição é um dos modos extintivos da obrigação sem que o devedor cumpra a prestação. A prescrição tem por objeto a ação, pr ser uma exceção oposta ao seu exercício com a finalidade de extingui-la e tendo por fundamento um interesse jurídico-social. Realmente, esse instituto é uma medida de ordem pública para proporcionar segurança às relações jurídicas, que se comprometeriam ante a instabilidade decorrente do fato de se possibilitar o exercício da ação por tempo indeterminado. É, portanto, uma pena para o negligente, que deixa de exercer seu direito de ação dentro de certo prazo, diante de uma pretensão resistida. A prescrição é a extinção de uma ação em razão da inércia de seu titular durante certo lapso de tempo. Assim, p. ex., os profissionais liberais têm direito de cobrar seus honorários por ação judicial se os clientes se recusarem a pagá-los. Mas se dentro de cinco anos (CC, art. 206, § 5º, II) não formalizarem a demanda, perderão o direito de fazê-lo, por haver interesse social em não permitir que as pendências fiquem sempre em aberto. Art. 206. Prescreve:

§ 5º Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Por conseguinte, a prescrição, que extingue a ação, faz desaparecer, por via oblíqua, o direito por ela tutelado, que não tinha tempo fixado para ser exercido. Com isso extinguir-se-á a relação obrigacional entre o médico a seu cliente sem qualquer pagamento. Impossibilidade de execução sem culpa do devedor

Noções gerais A impossibilidade de cumprir a obrigação sem culpa do devedor equivale ao caso fortuito e à força maior. Convém lembrar que a ausência de culpa aparece como elemento integrante da força maior a do caso fortuito, de tal sorte que se a execução da prestação se impossibilitar por fato imputável ao devedor, porque este agiu culposamente, não há que se falar de caso fortuito a força maior.

Caso fortuito a força maior A impossibilidade, sem culpa do devedor, de cumprir a prestação devida equivaleria à força maior ou ao caso fortuito, que se caracterizam pela presença de dois requisitos:

a) o objetivo, que se configura na inevitabilidade do acontecimento, sendo impossível evitá-lo ou impedi-lo (CC, art. 393, parágrafo único); logo, no caso fortuito a na força maior há sempre um fato que produz prejuízo,

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Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

b) o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do evento. Na força maior conhecesse o

motivo ou a causa que dá origem ao acontecimento, pois se trata de um fato da natureza. No caso fortuito o acidente que acarreta o dano advém de causa desconhecida, como o cabo elétrico aéreo que se rompe a cai sobre fios telefônicos, causando incêndio, explosão de caldeira de usina, a provocando morte. Pode ser ocasionado por fato de terceiro, como greve, que provoca a paralisação da fábrica a impede a entrega de certo produto prometido pelo industrial, motim, mudança de governo, colocação do bem fora do comércio, de modo a causar graves acidentes ou prejuízos, devido à impossibilidade do cumprimento de certas obrigações.

Efeitos da inexecução da obrigação por fato inimput ável ao devedor Consagra nosso Código Civil, no art. 393, caput, o princípio da exoneração do devedor pela impossibilidade de cumprir a obrigação sem culpa sua, visto que anuncia a sua irresponsabilidade pelos danos decorrentes de força maior ou de caso fortuito; conseqüentemente, o credor não terá direito a qualquer indenização, salvo se: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

1°) As partes convencionarem expressamente que o de vedor responderá pelo cumprimento da relação obrigacional, mesmo ocorrendo força maior ou caso fortuito, de forma que nessa hipótese prevalecerá a vontade dos contraentes. 2°) O devedor estiver em mora (CC, arts. 394 a 399) , por não ter efetuado o pagamento no tempo, lugar a forma estipulados, devendo, então, responder não só pelos prejuízos causados pela sua mora, mas também pela impossibilidade da prestação, resultante de força maior ou caso fortuito ocorridos durante o atraso, exceto se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria, mesmo que a obrigação tivesse sido desempenhada no momento oportuno. Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Parágrafo único - Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Parágrafo único - Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

3°) O mandatário, não obstante proibição do mandant e, se fizer substituir na execução do mandato, pois pelo Código Civil, art. 667, § 1°, deverá responder ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto, embora provenientes de força maior ou caso fortuito, salvo se provar que os danos sobreviriam, ainda que não tivesse havido substabelecimento.

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Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.

§ 1º Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na execução do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento.

4º) O devedor tiver de cumprir obrigação de dar coisa incerta, antes da escolha não poderá alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (CC, art. 246). Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.

O caso fortuito e a força maior, portanto, nem sempre têm efeito extintivo do liame obrigacional, pois em certas circunstâncias o devedor não se exonerará, sob a alegação de perda ou deterioração da coisa devida por acontecimento inevitável. Se o acontecimento extraordinário não trouxer a impossibilidade total da prestação, eximir-se-á o devedor apenas da parte atingida, não podendo invocar a força maior ou o caso fortuito para sua liberação absoluta.

Advento de condição resolutiva ou de termo extintiv o A condição resolutiva vem a ser uma cláusula que subordina a ineficácia da obrigação a um evento futuro a incerto (CC, arts. 121, 127 e 128). É um pacto inserido no negócio jurídico para modificar o efeito da relação obrigacional, de forma que, enquanto a condição não se realizar, vigorará a obrigação, mas a sua verificação extinguirá, para todos os efeitos, o liame obrigacional. Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

Enquanto pendente a obrigação condicional, o credor poderá exigir seu cumprimento; no entanto, advindo o acontecimento futuro a incerto, desfazer-se-á o negócio retroativamente, como se nunca tivesse existido. Esse mesmo princípio será aplicado ao termo final ou resolutivo, que determina a data de cessação dos efeitos do negócio jurídico, extinguindo as obrigações dele provenientes.

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36 - Execução forçada por intermédio do Poder Judic iário Quando o devedor não cumprir voluntariamente a obrigação assumida, o credor poderá obter seu adimplemento, havendo a exeqüibilidade da prestação por meio da execução forçada, isto é, mediante medidas aplicadas pelo Estado no exercício da atividade jurisdicional. O crédito poderá ser satisfeito coativamente por meio de:

a) execução específica, se o credor tiver por escopo obter exatamente a prestação prometida, consista ela na entrega de coisa, na prática de ato não personalíssimo, mandando executá-lo por terceiro à custa do devedor, quando a obrigação não se resolve em perdas a danos, ou na abstenção de um comportamento a que o devedor se tenha obrigado, exigindo que o ato seja desfeito ou mandando desfazê-lo a expensas do devedor, resolvendo-se em perdas a danos, se impossíveis tais práticas, com o auxilio do Poder Judiciário. Para tanto, deverá acionar o devedor com o objetivo de conseguir uma sentença judicial, que o condene a efetuar a prestação a que se obrigara;

b) execução genérica, se o credor executar bens do devedor, para obter o valor da prestação não

cumprida, por ser física ou juridicamente impossível. P. ex.: se a coisa que devia ter sido entregue não o foi, porque se perdeu em razão de negligência do devedor, será possível que o credor pretenda não só sua substituição pelo equivalente em dinheiro, mas também a indenização dos prejuízos causados pela inexecução da obrigação, decorrentes de mora ou de inadimplemento. Nessa hipótese, havendo dano resultante de retardamento, o devedor deverá pagar juros moratórios. A parte equivalente em dinheiro é acrescida da importância representativa do ressarcimento dos danos causados pela inexecução da obrigação pelo devedor. As perdas a danos deverão ser arbitradas pelo juiz em atenção ao valor que tiverem no momento da condenação a não na ocasião do inadimplemento.

O patrimônio do devedor, com exceção dos bens arrolados na Lei n. 8.009/90, constitui a garantia do credor; assim sendo, será imprescindível, para haver execução forçada, a existência de bens livres, suficientes para pagar o débito, malogrando a execução se o devedor não os possuir em quantidade bastante para cobrir a dívida. Logo, a solvabilidade do executado é necessária para o êxito da execução coativa ou forçada. Se os bens forem insuficientes, ter-se-á o concurso de credores para o efeito de rateá-los, caracterizando-se o estado de insolvência, pois as dívidas, nesse caso, excedem à importância dos bens do devedor (CPC, art. 748; CC, art. 955; Lei n. 4.839/65; Lei n. 6.830/80). Instaurado o concurso de credores, cada um deles estará sujeito a um rateio, recebendo proporcionalmente ao quantum do seu crédito o que remanescer do patrimônio colocado à venda, conformando-se com a redução proporcional dele, a fim de que seja possível a participação de todos os credores. Art. 955. Procede-se à declaração de insolvência toda vez que as dívidas excedam à importância dos bens do devedor.

O concurso de credores é regido pelo princípio contido no Código Civil, art. 957, de que todos os credores terão igual direito sobre os bens do devedor comum, salvo se houver, dentre eles, algum que possua título legal à preferência, que terá, então, a prerrogativa de ser pago preferencialmente com o produto dos bens do devedor, de modo que somente depois de satisfeito o seu crédito é que os outros credores serão pagos com o remanescente. Art. 957. Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual direito sobre os bens do devedor comum.

Quando concorrerem aos mesmos bens, a por título igual, dois ou mais credores da mesma classe especialmente privilegiados, haverá entre eles rateio proporcional ao valor dos respectivos créditos, se o produto não bastar para o pagamento integral de todos" (CC, art. 962). "Os títulos legais de preferência são os privilégios a os direitos reais" (CC, art. 958). As garantias reais são constituídas pelo penhor, pela anticrese a pela hipoteca. Art. 958. Os títulos legais de preferência são os privilégios e os direitos reais.

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Art. 962. Quando concorrerem aos mesmos bens, e por título igual, dois ou mais credores da mesma classe especialmente privilegiados, haverá entre eles rateio proporcional ao valor dos respectivos créditos, se o produto não bastar para o pagamento integral de todos.

Conforme nosso Código Civil, art. 963, o privilégio pode ser: Art. 963. O privilégio especial só compreende os bens sujeitos, por expressa disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece; e o geral, todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial.

a) especial, compreensivo de bens sujeitos, por disposição legal, ao pagamento do crédito, que

visa favorecer. Assim, pelo Código Civil, art. 964, I a VIII, tem privilégio especial sobre: a coisa arrecadada a liquidada, o credor de custas a despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução ou melhoramento; os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos a serviços à cultura, ou à colheita; as alfaias a utensílios de use doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente a do anterior; os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato de edição; o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, a precipuamente a quaisquer outros créditos, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários;

Art. 964. Têm privilégio especial:

I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.

b) geral, abrangendo todos os bens não sujeitos a crédito real ou privilégio especial. Pelo Código

Civil, art. 965, I a VIII, gozam de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor: o crédito por despesas do seu funeral, feito segundo a condição do finado e o costume do lugar; o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação a liquidação da massa; o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivente a dos filhós do devedor falecido, se forem moderadas; o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido a sua família, no trimestre anterior ao falecimento; o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente a no anterior; mas, pelo Decreto n. 22.866/33, a CTN, art. 186, o crédito tributário terá preferência sobre qualquer outro; o crédito pelo salário dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida, e os demais créditos de privilégio geral.

Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:

I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar; II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa; III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas; IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento; VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;

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VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; VIII - os demais créditos de privilégio geral.

A dívida proveniente de salário do trabalhador agrícola será paga, precipuamente a quaisquer outros créditos, pelo produto da colheita para a qual houver concorrido com o seu trabalho (CC, art. 1.422, parágrafo único). Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro.

Parágrafo único - Excetuam-se da regra estabelecida neste artigo as dívidas que, em virtude de outras leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer outros créditos.

Não havendo qualquer a preferência, todos os credores terão igual direito sobre os bens do devedor comum (CC, art. 957). Art. 957. Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual direito sobre os bens do devedor comum.

Conseqüências da inexecução das obrigações por fato imputável ao devedor

Inadimplemento voluntário As obrigações devem ser cumpridas; o devedor está obrigado a efetuar a prestação devida de modo completo, no tempo a lugar determinados na obrigação, assistindo ao credor o direito de exigir o seu cumprimento na forma convencionada. O adimplemento da obrigação é a regra, e o inadimplemento, a exceção. Ter-se-á o inadimplemento da obrigação quando faltar a prestação devida, isto é, quando o devedor não a cumprir, voluntária ou involuntariamente. Se o descumprimento da obrigação resultar de fato imputável ao devedor, haverá inexecução voluntária, pois o obrigado deixa de cumprir a prestação devida sem a dirimente do caso fortuito ou força maior. A infração do dever de cumprir a obrigação poderá ser intencional, caso em que se terá dolo, ou resultar de negligência, imprudência ou imperícia do devedor, hipótese em que haverá culpa. Se o descumprimento decorrer de evento estranho à vontade do devedor, será involuntário, por configurar-se caso fortuito ou força maior, não originando, em regra, a sua responsabilidade . O Código Civil, art. 389, ao prescrever que, "não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas a danos, mais juros a atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, a honorários de advogado", está admitindo o modo de inadimplemento voluntário absoluto que se dá se a obrigação não foi cumprida nem poderá sê-lo, e o credor não mais terá possibilidade de receber aquilo a que o devedor se obrigou, como, p. ex., no caso de ter havido perecimento do objeto devido por culpa deste. O inadimplemento absoluto será total, se a obrigação deixou de ser cumprida em sua totalidade, a será parcial, se a obrigação compreender, p. ex., vários objetos, sendo apenas um deles entregue, porque os demais pereceram por culpa do devedor. O inadimplemento relativo se dá quando a obrigação não for cumprida no tempo, lugar a forma devidos, porém poderá sê-lo, com proveito para o credor, hipótese em que se terá a mora (CC, art. 394) Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Fundamento da responsabilidade contratual do inadim plente Todo aquele que voluntariamente infringir dever jurídico, estabelecido em lei ou em relação negocial, causando prejuízo a alguém, ficará obrigado a ressarci-lo (CC, arts. 186 e 929), pois, uma vez vulnerado direito alheio, produzindo dano ao seu titular, imprescindível será uma reposição ao status quo ante ou um reequilíbrio ao desajuste sofrido. A responsabilidade do infrator, havendo liame

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obrigacional oriundo de contrato ou de declaração unilateral de vontade, designar-se-á responsabilidade contratual; não havendo vínculo obrigacional, será denominada responsabilidade extracontratual ou aquiliana. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

A responsabilidade contratual funda-se na culpa, entendida em sentido amplo, de modo que a inexecução culposa da obrigação se verifica quer pelo seu cumprimento intencional, havendo vontade consciente do devedor de não cumprir a prestação devida, com o intuito de prejudicar o credor (dolo), quer pelo inadimplemento do dever jurídico, sem a consciência da violação, sem a intenção deliberada de causar dano ao direito alheio, ha vendo apenas um procedimento negligente, imprudente ou omisso (culpa), prejudicial ao credor. Sendo a culpa, nesse sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito, o principal fundamento da responsabilidade contratual, o dever de indenizar apenas surgirá quando o inadimplemento for causado por ato imputável ao devedor; daí a necessidade de se apreciar o comportamento do obrigado, a fim de se verificar, para a exata fixação de sua responsabilidade, se houve dolo, negligência, imperícia ou imprudência de sua pane, que resultou em prejuízo para o credor. Para se provar se houve ou não fato que possa eximir o devedor da culpa, será imprescindível demonstrar se houve:

a) obrigação violada; b) nexo de causalidade entre o fato e o dano produzido; c) culpa; a d) prejuízo ao credor .

Verificados tais pressupostos essenciais à determinação do dever de reparar, armar-se-á uma equação em que o montante da indenização equivalerá ao valor do bem jurídico lesado, a fim de se evitar o enriquecimento ilícito por pane do credor. Nosso Código Civil afastou as diferenças de tratamento ao transgressor que agiu por dolo do que agiu por culpa, a apenas excepcionalmente, no art. 392, distinguiu entre inadimplemento doloso a culposo para definir a responsabilidade do inadimplente. Deveras, o art. 392, 1ª alínea, do Código Civil reza: "Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, a por dolo aquele a quem não favoreça". Com isso, nosso Código entende que, nos negócios jurídicos benéficos, só o dolo, relativamente àquele que não tira nenhum proveito, poderá dar fundamento à responsabilidade por perdas a danos..

Por outro lado, se o contrato for oneroso, cada uma das partes responderá por culpa (CC, art. 392, 2ª. alínea), devendo indenizar o prejudicado, visto que ambas têm direitos a deveres recíprocos, devendo responder em pé de igualdade por culpa ou dolo. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

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37 - MORA Conceito a espécies de mora O Código Civil, art. 394, explicita a noção de mora, ao dispor: "Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar a forma que a lei ou a convenção estabelecer". Portanto, a mora vem a ser, não só a inexecução culposa da obrigação, mas também a injusta recusa de recebê-la no tempo, no lugar a na forma devidos. Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

A mora é, pois, mais do que simples retardamento, visto que o Código Civil considera como mora o cumprimento da obrigação fora do lugar a de forma diversa da ajustada. Ter-se-á mora quando a obrigação não for cumprida no tempo, no lugar e no modo devidos, podendo sê-lo proveitosamente para o credor. Percebe-se por essa definição que tanto o devedor como o credor poderão incorrer em mora, desde que não tenha ocorrido fato inimputável, isto é, caso fortuito ou força maior, impediente do adimplemento da relação obrigacional. Três são as espécies de mora admitidas em nosso direito:

a) mora solvendi ou debitoris ou mora do devedor; b) mora accipiendi ou mora do credor; c) mora de ambos os contratantes, as quais passaremos a analisar.

Mora do devedor

Noção e modalidades Configurar-se-á a mora do devedor quando este não cumprir, por culpa sua, a prestação devida na forma, tempo a lugar estipulados. Dois são, portanto, seus elementos: o objetivo, a não-realização do pagamento no tempo, local a modo convencionados, e o subjetivo, inexecução culposa por parte do devedor. A mora do devedor manifesta-se sob dois aspectos:

1) Mora ex re, se decorrer de lei, resultando do próprio fato do descumprimento da obrigação, independendo, portanto, de provocaçao o credor. A mora do devedor ocorrerá pleno iure, não sendo necessário qualquer ato ou iniciativa do credor se houver vencimento determinado para o adimplemento da obrigação. Aplicar-se-á, portanto, a regra dies interpellat pro homine, ou seja, o termo interpela em lugar do credor, pois a lex ou o dies assumirão o papel de intimação.

2) Mora ex persona, se não houver estipulação de termo certo para a execução da relação

obrigacional; nesse caso, será imprescindível que o credor tome certas providências necessárias para constituir o devedor em mora, tais como: interpelação judicial ou extrajudicial, ou citação feita na própria causa principal, pelo credor ajuizada para discutir a relação jurídica (CPC,art. 219).

Requisitos A mora do devedor pressupõe a existência dos seguintes requisitos: 1) Exigibilidade imediata da obrigação, isto é, existência de dívida positiva, líquida a vencida, uma vez que, na pendência de condição suspensiva ou antes do termo final, será impossível a incidência da

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mora. Entretanto, nosso Código Civil, art. 405, amenizando a rigidez do princípio in illiquidis non fit mora, admite que se contêm os juros da mora desde a citação inicial. Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

2) Inexecução total ou parcial da obrigação por culpa do devedor. Deveras, estatui o Código Civil, art. 396, que: "Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora". Para haver mora solvendi, indispensável será o inadimplemento da obrigação imputável ao devedor. Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

3) Interpelação judicial ou extrajudicial do devedor, se a dívida não for a termo ou com data certa. Trata-se da hipótese de mora ex persona, que só se constituirá se o credor a provocar por meios adequados. Se a mora for ex re, o devedor ficará constituído em mora pleno iure.

Efeitos jurídicos A mora solvendi produz os seguintes efeitos jurídicos: 1) Responsabilidade do devedor pelos prejuízos causados pela mora ao credor (CC, art. 395), mediante pagamento de juros moratórios legais ou convencionais; indenização do lucro cessante, isto é, daquilo que o credor deixou de ganhar em razão da mora, compreendendo os frutos a rendimentos que poderia ter tirado da coisa devida; reembolso das despesas efetuadas em conseqüência da mora; satisfação da cláusula penal, resultante, pleno iure, do não-pagamento a dos honorários de advogado, sem olvidar da atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Parágrafo único - Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

2) Possibilidade de o credor exigir a satisfação das perdas a danos, rejeitando a prestação, se por causa da mora ela se tornou inútil (CC, art. 395, parágrafo único) ou perdeu seu valor. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Parágrafo único - Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

3) Responsabilidade do devedor moroso mesmo decorrente de caso fortuito ou força maior, se estes ocorrerem durante o atraso, salvo se provar isenção de culpa ou que o dano sobreviria, ainda que a obrigação fosse oportunamente desempenhada (CC. arts. 393 e 399). Isto é assim porque, se o devedor tivesse cumprido a obrigação em tempo, teria resguardado a coisa devida da força maior ou do caso fortuito, desaparecendo, no entanto, sua responsabilidade se provar que a impossibilidade ' , tivesse havido o adimplemento da obrigação Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

Mora do credor

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Conceito a pressupostos A mora accipiendi ou creditoris é a injusta recusa de aceitar o adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma devidos. São pressupostos da mora do credor: 1) Existência de dívida positiva, líquida a vencida, pois o devedor tem o direito de liberar-se no tempo, local a forma devidos. Mesmo se se tratar de prazo instituído em benefício do devedor, a antecipação do pagamento não pode ser imposta pelo credor, constituindo-o em mora, visto que, juridicamente, apenas no momento em que se vencer a obrigação é que se pode exigir o recebimento da prestação devida. 2) Estado de solvência do devedor, por ser imprescindível que o obrigado se encontre em condições de efetuar o pagamento. 3) Oferta real a regular da prestação devida pelo devedor; trata-se de requisito fundamental para originar a mora do credor, sendo insuficiente a simples afirmativa do devedor de que pretende cumpri-la. Não haverá mora do credor sem a efetiva oferta a ele da res debita. Logo, a oferta verbal só será idônea para constituir o credor em mora, se o devedor tiver meios de comprová-la. Será hábil para a constituição em mora do credor não só o pagamento feito por terceiro, interessado ou não (CC, arts. 304 e 305), mas também o realizado mediante procurador munido de poderes bastante. A oferta, porém, só poderá ser feita ao credor ou a seu representante (CC, art. 308), salvo no caso de pagamento de boa fé a credor putativo (CC, art. 309), que a lei tem como válido. Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único - Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único - Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.

4) Recusa injustificada, expressa ou tácita, em receber o pagamento no tempo, lugar a modo indicados no título constitutivo da obrigação. 5) Constituição do credor em mora, pois, havendo recusa injustificada, o devedor que quer solver a dívida não poderá suportar as conseqüências da omissão do credor, uma vez que a solutio depende da colaboração deste, competindo, então, a ele, devedor, constituir o credor em mora. Todavia, tal direito não é personalíssimo, podendo ser exercido por qualquer terceiro que possa efetuar pagamento válido. A constituição em mora do credor dependerá da comprovação da oferta que lhe foi feita, seguida de sua injustificada recusa em recebê-la, de forma que a consignação em pagamento (CC, art. 335) terá grande utilidade como efeito probatório, uma vez que pela sua propositura se tomará possível definir a conduta do credor, verificando-se se ele efetivamente pretendeu ou não recusar a oferta de pagamento. Além disso, o devedor, fazendo o depósito judicial, exonerar-se-á completamente do vínculo obrigacional, pois equivalerá a pagamento. Deveras, a simples oferta não libera o devedor da obrigação; exonera-o da falta. Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

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Conseqüências jurídicas A mora accipiendi acarreta, conforme o Código Civil, arts. 335 e 400, as seguintes conseqüências jurídicas: Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

1) Liberação do devedor, isento de dolo, da responsabilidade pela conservação da coisa. Assim, os prejuízos a ela causados por negligência, imperícia ou imprudência do devedor serão irressarcíveis, por não haver a intenção de causar dano, assumindo o credor todos os riscos, de maneira que, se o objeto perecer ou se deteriorar, o credor em mora sofrerá a perda ou terá de recebê-lo no estado em que se achar. 2) Obrigação do credor moroso de ressarcir ao devedor as despesas efetuadas com a conservação da coisa recusada, pois o devedor deverá mantê-la em seu poder, a não ser que se alforrie dessa obrigação, mediante consignação. Infere-se daí que o reembolso das despesas feitas pelo devedor incluirá tão-somente as benfeitorias necessárias, isto é, aquelas que visam conservar o bem ou evitar sua deterioração (CC, art. 96, § 3°). Assim sendo, as benfeitorias úteis ou voluptuárias não autorizam o direito de reembolso, já que o Código Civil, art. 400, faz menção apenas às despesas de conservação. Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.

§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.

3) Obrigação do credor de receber a coisa pela sua estimação mais favorável ao devedor, se o valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento, e o da sua efetivação, isto é, do recebimento efetivo da execução. P. ex.: se o devedor entregar 200 sacas de café e o credor se recusar, sem justa causa, a recebê-las, ficará este último responsável pelos prejuízos, a quando, posteriormente, tiver de recebê-las, ficará sujeito à estimativa mais favorável ao devedor. Assim, se no dia da entrega efetiva o preço se elevar, pagará de conformidade com a elevação a não de acordo com o preço anterior; porém, se o preço cair após a mora, pagará, obviamente, o do dia da mora. 4) possibilidade da consignação judicial da "res debita" pelo devedor. Mora de ambos os contratantes Verificando-se mora simultânea, isto é, de ambos os contratantes, dá-se a sua compensação aniquilando-se reciprocamente ambas as moras, com a conseqüente liberação recíproca da pena pecuniária convencionada. Nessa hipótese, as coisas deverão permanecer no mesmo estado em que se achavam anteriormente, como se não tivesse havido mora quer do devedor, quer do credor. Imprescindível será a simultaneidade da mora, pois, se for sucessiva, apenas a última acarretará efeitos jurídicos.

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Juros moratórios

Conceito a classificação dos juros Os juros são o rendimento do capital, os frutos civis produzidos pelo dinheiro, sendo, portanto, considerados como bem acessório (CC, art. 92), visto que constituem o preço do uso do capital alheio, em razão da privação deste pelo dono, voluntária ou involuntariamente. Os juros remuneram o credor por ficar privado de seu capital, pagando-lhe o risco em que incorre de não mais o receber de volta. Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

Daí a classificação dos juros em: 1) Juros compensatórios: decorrem de uma utilização consentida do capital alheio, pois estão, em regra, preestabelecidos no título constitutivo da obrigação, onde os contraentes fixam os limites de seu proveito, enquanto durar o negócio jurídico, ficando, portanto, fora do âmbito da inexecução. Realmente, o Código Civil, art. 591, estatui que se o mútuo tiver fins econômicos, os juros presumir-se-ão devidos, mas não poderão exceder a taxa legal, permitida à capitalização anual. Tais juros deverão ser convencionados com ou sem taxa fixa. As partes interessadas combinam os juros pelo prazo da convenção, e, se porventura não os fixarem, a taxa será a constante da lei, ou seja, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (CC, art. 406), desde que haja estipulação a respeito. Todavia, é preciso lembrar que o Decreto n. 22.626/33, parcialmente alterado pelo Decreto-lei n. 182/38, ao reprimir os excessos da usura, proibiu a estipulação, em quaisquer contratos, de taxas superiores ao dobro da legal (art. 12), cominando pena de nulidade para os negócios celebrados com infração da lei, assegurando ao devedor a repetição do que houvesse pago a mais (art. 11). Assim sendo, a taxa de juros não poderá ultrapassar 12% ao ano, sendo vedado receber, a pretexto de comissão, taxas maiores que as permitidas pela lei (art. 2°) e, proibindo-se (art. 4°), ainda, contar juros dos jur os; tal proibição, entretanto, não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano. Pune-se a usura em todas as suas modalidades. A Lei n. 1.521/51, art. 4°, comina penas para o mesmo fato, expressamente incluído entre os crimes contra a economia popular. Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

2) Juros moratórios: constituem pena imposta ao devedor pelo atraso no cumprimento da obrigação, atuando como se fosse uma indenização pelo retardamento no adimplemento da obrigação

Juros moratórios Os juros moratórios consistem na indenização pelo retardamento da execução do débito: Os juros moratórios poderão ser: 1°) Convencionais, caso em que as partes estipularã o, para efeito de atraso no cumprimento da obrigação, a taxa dos juros moratórios até 12% anuais ou 1% ao mês (CC, art. 406; Dec. n. 22.626/33). 2°) Legais, se as partes não os convencionarem, poi s, mesmo que não se estipulem, os juros moratórios serão sempre devidos, na taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (CC, art. 406). A própria lei pune o que se aproveita do alheio, impondo pagamento de juros moratórios para o caso de retardamento na execução da obrigação.

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Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Para não serem devidos os juros moratórios, será necessário que a lei estabeleça a isenção

Extensão dos juros moratórios Reza o Código Civil, art. 407, que, "ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes". Daí os seguintes efeitos: a) os juros moratórios serão devidos independentemente da alegação de prejuízo, decorrendo da própria mora, isto é, do atraso na execução da obrigação (CPC, art. 219); b) os juros moratórios deverão ser pagos, seja qual for a natureza da prestação, pecuniária ou não. Se o débito não for em dinheiro, contar-se-ão os juros sobre a estimação atribuída ao objeto da prestação por sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as partes. Se a parte interessada não pediu expressamente, na inicial, a condenação ao pagamento de juros moratórios, a sentença, ante o Código de Processo Civil, art. 293, poderá condenar o vencido, pois os pedidos são interpretados restritivamente, compreendendo no principal os juros legais.

Momento da fluência dos juros de mora Os juros moratórios são devidos a partir da constituição da mora, independentemente da alegação de prejuízo (CC, art. 407). Nas obrigações a termo, caracterizar-se-á a mora pelo simples advento do vencimento, a nas obrigações sem fixação de prazo certo para seu cumprimento, ter-se-á mora com a interpelação judicial ou extrajudicial. Se a obrigação em dinheiro for líquida, os juros da mora contar-se-ão a partir do vencimento (CC, art. 397). Porém, contar-se-ão os juros da mora, nas obrigações ilíquidas, desde a citação inicial para a causa (CC, art. 405), que é o dies a quo da contagem desses juros, salvo contra a Fazenda Pública (Súmula 163). Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Parágrafo único - Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Se a obrigação for de outra natureza que não dinheiro, os juros moratórios começarão a fluir desde que a sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as partes lhes fixe o valor pecuniário. Os juros da mora, nas reclamações trabalhistas, serão contados desde a notificação inicial (Súmula 224). Relativamente à letra de câmbio, os juros serão devidos desde o protesto, ou, na falta, desde a propositura da ação. Purgação da mora A emenda ou purgação da mora vem a ser um ato espontâneo do contratante moroso, que visa remediar a situação a que deu causa, evitando os efeitos dela decorrentes, reconduzindo a obrigação à normalidade. Purga-se, assim, o inadimplente de suas faltas. A purgação da mora é sempre admitida, exceto se lei especial regulamentar diferentemente, indicando as condições de emendar a mora. É o que se dá na alienação fiduciária, em que só será possível purgá-la se tiver ocorrido o pagamento de 40% do preço financiado.

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O devedor terá direito à purga da mora, desde que a prestação não se tome inútil ao credor, hipótese em que se terá inadimplemento absoluto e não mora a purgação. Ocorrerá a purgação da mora do credor quando este se oferecer a receber o pagamento e se sujeitar aos efeitos da mora até a mesma data (CC, art. 401, I). Art. 401. Purga-se a mora:

I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;

Na hipótese de ocorrer mora por pane de ambos, ter-se-á tão-somente a cessação da mora pela renúncia ao direito de ser indenizado, que tanto pode ser de um como de outro. Não há propriamente uma purgação da mora, mas sua extinção, sem que produza seus efeitos naturais. Cessação da mora Urge não confundir a purgação com a cessação da mora. A purgação da mora consiste em extinguir os efeitos advindos do estado moroso de um dos contratantes, referindo-se, obviamente, aos efeitos futuros a não aos pretéritos, isto é, a emendatio morae só produz efeitos para o futuro, não destruindo os efeitos danosos já produzidos, visto que estes constituem parte inerente ao prejuízo causado com a mora, podendo o prejudicado reclamar os danos sofridos desde o dia da incidência em mora até a execução tardia da obrigação. Logo, a purgação da mora se consuma com a oferta da prestação. A cessação da mora ocorrerá por um fato extintivo de efeitos pretéritos a futuros, como sucede quando a obrigação se extingue com a novação, remissão de dívidas ou renúncia do credor. Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.

Parágrafo único - Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

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39 - CLÁUSULA PENAL Conceito a funções Nosso Código Civil disciplina a cláusula penal no título concernente às modalidades das obrigações, por representar um dos modos pelos quais a obrigação, uma de suas funções consiste em prever o seu inadimplemento, sendo uma predeterminação das perdas a danos estabelecidos a priori, e constituindo uma compensação dos prejuízos sofridos pelo credor com o descumprimento da obrigação principal. A cláusula penal vem a ser um pacto acessório, pelo qual as próprias partes contratantes estipulam, de antemão, pena pecuniária ou não, contra a parte infringente da obrigação, como conseqüência de sua inexecução completa culposa ou à de alguma cláusula especial ou de seu retardamento, fixando, assim, o valor das perdas a danos, a garantindo o exato cumprimento da obrigação principal. Constitui uma estipulação acessória, pela qual uma pessoa, a fim de reforçar o cumprimento da obrigação, se compromete a satisfazer certa prestação indenizatória, seja ela uma prestação em dinheiro ou de outra natureza, como á entrega de um objeto, a realização de um serviço ou a abstenção de um fato, se não cumprir o devido ou o fizer tardia ou irregularmente, fixando o valor das perdas a danos devidos à parte inocente em caso de inexecução contratual. Oferece, pois, dupla vantagem ao credor, por aumentar a possibilidade de cumprimento do contrato a por facilitar o pagamento da indenização das perdas a danos em caso de inadimplemento, poupando o trabalho de provar judicialmente o montante do prejuízo a de alegar qualquer dano, pois, pelo Código Civil, art. 416, 1ª alínea, não será necessário que o credor alegue prejuízo para exigir a pena convencional. E o credor não poderá exigir indenização suplementar, a pretexto de o prejuízo exceder a cláusula penal (CC, art. 416, parágrafo único), salvo se isso for convencionado, pois ela resulta de avença prévia, decorrente da vontade das partes, que a fixaram para reparar dano eventualmente oriundo de inadimplemento; deve-se, portanto, supô-la justa, valendo então como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.

Parágrafo único - Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

Caracteres Ante nosso direito a nossa doutrina, a cláusula penal, por sua função ambivalente, tem ao mesmo tempo feição ressarcitória de perdas a danos e índole penal; analisada, porém, teoricamente, possui origem a natureza contratual, requerendo capacidade para contratar, consentimento das partes contratantes a objeto lícito, nos mesmos termos das normas inerentes ao contrato, de forma que seus caracteres comuns não diferem dos da generalidade dos negócios jurídicos. Entretanto, possui caracteres específicos, tais como: 1º) Acessoriedade, pois a cláusula penal é contrato acessório, estipulado, em regra, conjuntamente com a obrigação principal, embora nada obste que seja convencionado em apartado, em ato posterior (CC, art. 409, 1ª parte), antes, porém, do inadimplemento da obrigação principal. Apesar de ser mais freqüente nos contratos, poderá também inserir-se em outros negócios jurídicos, como, p. ex., em testamentos, para estimular o herdeiro à fiel execução do legado. Como conseqüência desse caráter de acessoriedade, a nulidade da cláusula penal não acarretará a da obrigação principal, embora a nulidade do contrato principal importe a sua anulação (CC, art. 92). Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

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2ª) Condicionalidade, uma vez que o dever de pagar a cláusula penal está subordinado a um evento futuro a incerto: o inadimplemento total ou parcial da prestação principal ou o cumprimento tardio da obrigação, por força de fato imputável ao devedor, pois se resolvida a obrigação, não tendo culpa o devedor, resolver-se-á a cláusula penal (CC, art. 408). Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.

3ª) Compulsoriedade, visto que os contraentes a pactuam prevendo, de antemão, a possibilidade de eventual inexecução da obrigação, constrangendo, assim, o devedor a cumprir o contrato principal. Esse seu caráter intimidatório representa um reforço do vínculo obrigacional, assegurando sua execução. O devedor inadimplente sujeitar-se-á à cláusula penal, não podendo furtar-se a seus efeitos, alegando que não houve prejuízo. Os contraentes a convencionam, então, para compelir o devedor a preferir o cumprimento da obrigação a ser forçado a pagar determinada importância, além de que ela exime o credor do ônus de provar a ocorrência de dano. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.

Parágrafo único - Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

4ª) Subsidiariedade, porque, salvo na hipótese da pena moratória, substitui a obrigação principal não cumprida por culpa do devedor, se o credor assim o preferir. Assim, se o devedor deixar de cumprir a prestação a que se obrigou, competirá ao credor escolher entre o cumprimento da obrigação e a pena convencionada. Realmente, se tal não ocorresse, tendo o devedor a opção entre a execução da obrigação e o pagamento da multa, a cláusula penal desfigurar-se-ia, passando a ser uma alternativa em benefício do devedor, perdendo sua função de reforço do liame obrigacional. Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

5ª) Ressarcibilidade, por constituir prévia liquidação das perdas e danos, que serão devidos ao credor pelo devedor no caso de inexecução da obrigação assumida. A cláusula penal representa uma preestimativa das perdas a danos que deverão ser pagos pelo devedor no caso de descumprimento do contrato principal. As partes contratantes serão livres para estabelecê-la; porém, essa autonomia não é ilimitada, já que o Código Civil, art. 412, estatui que o valor da cominação imposta na cláusula penal não poderá exceder o da obrigação principal, com o escopo de coibir abusos e injustiças. Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

6ª) Imutabilidade relativa, porque, embora em nosso direito prevaleça o princípio da imutabilidade da cláusula penal por importar pré-avaliação das perdas a danos, esta poderá ser modificada ou reduzida eqüitativamente pelo magistrado, ainda que não haja pedido a respeito, ou mesmo que os contratantes tenham estipulado seu pagamento por inteiro, pois a norma do Código Civil, art. 413, é de jus cogens, não podendo ser alterada pelas partes:

a) quando o valor de sua cominação for manifestadamente excessivo, superando o do contrato principal ou se tendo em vista a natureza a finalidade do negócio,

b) quando houver cumprimento parcial da obrigação, hipótese em que se terá redução proporcional da pena estipulada (CC, art. 924). O juiz só poderá reduzir a cláusula penal nessas duas circunstâncias, no firme propósito de evitar enriquecimento sem causa (CC, art. 884).

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

Art. 924. Ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

Parágrafo único - Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.

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Se a cláusula penal for inadequada ou não proporcional ao prejuízo, o juiz não poderá aumentá-la, visto que a pena convencional corresponde, presumidamente, em nosso direito, ao justo valor dos danos sofridos pelo credor, embora seja tolerado que, mediante ressalva especial a expressa, o devedor passe a responder também por custas processuais a honorários advocatícios. Modalidades Ante o Código Civil, art. 409, 2ª parte, poder-se-ão identificar duas modalidades de pena convencional: Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

1ª) A compensatória, se estipulada:

a) para a hipótese de total inadimplemento da obrigação, quando o credor, pelo Código Civil, art. 410, poderá, ao recorrer às vias judiciais, optar livremente entre a exigência da cláusula penal e o adimplemento da obrigação, visto que a cláusula penal se converterá em alternativa em seu benefício. O credor, ao optar, concentrará o vínculo, não tendo mais direito de recuar, ante a irretratabilidade de sua escolha; se esta, p. ex., recair sobre a pena, desaparecerá a prestação principal, embora o credor não fique privado de receber as custas processuais a as despesas com honorários advocatícios (CPC, art. 20). Com isso, vedado está acumular o recebimento da multa e o cumprimento da obrigação;

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

b) para garantir a execução de alguma cláusula especial do título obrigacional, possibilitando ao

credor o direito de exigir a satisfação da pena cominada juntamente com o desempenho da obrigação principal (CC, art. 411).

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

2ª) A moratória, se convencionada para o caso de simples mora; ao credor, então, assistirá o direito de demandar cumulativamente a pena convencional e a prestação principal (CC, art. 411). Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

Requisitos para sua exigibilidade Para que a cláusula penal seja passível de exigibilidade, imprescindível será a ocorrência de certos requisitos, tais como: 1°) Existência de uma obrigação principal, anterior ao fato que motiva a aplicação da pena convencional por ela prevista. 2°) Inexecução total da obrigação (CC, arts. 409 e 410), pois se a cláusula for compensatória, necessário será que a obrigação garantida por cláusula penal seja descumprida para que ela possa ser exigida. Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

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Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

3°) Constituição em mora (CC, arts. 408, 409 a 411) . Sendo moratória, quanto à sua exigibilidade convém verificar:

a) se há prazo convencionado para seu adimplemento, pois se houver o simples vencimento do termo, sem cumprimento da prestação devida, induz o devedor, pleno iure, à mora (ex re); logo, a pena convencional poderá ser exigida desde logo (CC, art. 397);

b) se não há prazo certo de vencimento, o credor terá de constituir o devedor em mora, mediante interpelação judicial ou extrajudicial (CC, art. 397, parágrafo único; CPC, arts. 867), cientificando o devedor de que não abrirá mão de seus direitos (mora ex persona), sujeitando-o aos efeitos da cláusula penal, que se tomará, então, devida a exigível. –

Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.

Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Parágrafo único - Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

4°) Imputabilidade do devedor, pois se o inadimplem ento do contrato principal se deu por caso fortuito ou força maior, ter-se-á a extinção da obrigação, e, por conseguinte, da cláusula penal (CC, art. 92 e 393). Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

Paralelo com institutos afins Não há que se confundir: 1°) Cláusula penal e perdas a danos, pois na pena c onvencional o quantum já está antecipadamente fixado pelos contratantes, a nas perdas e danos o juiz é que fixará seu montante, após regular a liquidação ou comprovação. 2°) Cláusula penal e multa penitencial, porque:

a) a cláusula penal é instituída em benefício do credor, ao passo que a multa o é em vantagem do devedor, que terá opção entre cumprir a prestação devida ou pagar a multa;

b) a cláusula penal constitui um reforço da obrigação, e a multa, um enfraquecimento. 3°) Cláusula penal e arras (CC, arts. 417.), pois, apesar de terem por finalidade garantir o adimplemento da obrigação e a indenização de danos a serem ambas pactos acessórios, apresentam nítidas diferenças:

a) a cláusula penal só é exigível em caso de inadimplemento da obrigação e mora, enquanto as arras se pagam por antecipação no ato constitutivo da obrigação, sendo por isso denominadas sinal;

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b) a cláusula penal visa beneficiar o credor, a as arras, o devedor; c) a cláusula penal poderá ser reduzida pelo juiz (CC, art. 413), o que não se dá com as arras, que

podem ser estipuladas livremente pelas partes. Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

4°) Cláusula penal e obrigação alternativa, pois: a) na obrigação alternativa há duas prestações in obligatione; enquanto na obrigação com cláusula penal o devedor deve uma única prestação, já que a pena convencional só será devida se houver inadimplemento da obrigação principal.; b) na alternativa, se uma das prestações se perder sem culpa do devedor, a obrigação concentrar-se-á na remanescente (CC, art. 253), ao passo que, na obrigação com cláusula penal, a impossibilidade de cumprir a prestação principal, sem que tenha havido culpa do devedor, extingue a obrigação a conseqüentemente a pena convencional, ante o seu caráter acessório (CC, arts. 92 393). Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

5ª) Cláusula penal a obrigação facultativa. Embora em ambas o objeto devido seja um só, possibilitando a exoneração do devedor mediante prestação diversa, e o perecimento da prestação principal acarrete a extinção da obrigação de entregar o objeto ou de pagar a pena convencional, diferenciam-se os institutos, visto que:

a) na obrigação facultativa, o credor só poderá exigir a coisa que constitui objeto da obrigação, enquanto na obrigação, com cláusula penal, na hipótese do Código Civil, art. 410, ele poderá reclamar a pena;

b) na obrigação facultativa, o devedor liberar-se-á mediante a entrega do objeto principal, permitindo-se-lhe a substituição por outro no ato do pagamento; na obrigação com cláusula penal, o devedor não poderá oferecer a pena em resgate da obrigação principal.

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

6°) Obrigação com cláusula penal a obrigação condic ional, pois na obrigação condicional o evento previsto pelos contraentes permanece em suspenso, podendo efetivar-se ou não; Já na obrigação com cláusula penal, o direito do credor existe plenamente, desde o momento em que se constitui a relação obrigacional; a pena convencional é que somente será devida se o devedor não cumprir a obrigação e é apenas nesse sentido que se diz que a cláusula corresponde a uma condição. Efeitos O efeito primordial da cláusula penal é o de sua exigibilidade pleno iure, no sentido de que independerá de qualquer alegação de prejuízo por parte do credor (CC, art. 416), que não terá de provar que foi prejudicado pela inexecução culposa da obrigação ou pela mora. A única coisa que o credor terá de demonstrar será a ocorrência do inadimplemento da obrigação e a constituição do devedor em mora. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.

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Parágrafo único - Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

Tomando-se inadimplente ou moroso o devedor, por culpa sua, a cláusula penal passará a ser exigível por meio de ação judicial. Desempenha, indubitavelmente, o mesmo papel das perdas a danos, com a diferença de dispensar a prova do dano. O credor, todavia, não está obrigado a reclamar a cláusula penal, podendo optar pela execução da prestação, exceto:

a) se a execução específica se tornar impossível; b) se a cláusula for moratória, pois o credor, pelo Código Civil, art. 411, tem o direito de cumular a

satisfação da pena convencional com o desempenho da obrigação principal; c) se se convencionar cláusula penal para assegurar outra cláusula, caso em que o credor poderá

cumular a execução e a pena (CC, art. 411). Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

Quanto ao efeito da obrigação com cláusula penal, havendo pluralidade de devedores a sendo indivisível a obrigação, todos os devedores a seus herdeiros, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; esta, porém, só se poderá demandar integralmente do culpado, de modo que cada um dos outros apenas responderá, se o credor optou pela cobrança individual de cada devedor, pela sua quota, tendo, contudo, ação regressiva contra o co-devedor faltoso, que deu causa à aplicação da pena convencional (CC, art. 414, parágrafo único). Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota.

Parágrafo único - Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.

Se a obrigação for divisível, só incorrerá na pena aquele devedor, ou o herdeiro do devedor, que a infringir, a proporcionalmente à sua quota na obrigação (CC, art. 415), porque o credor apenas foi prejudicado em relação a essa parte. Art. 415. Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação.

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40 - CESSÃO Conceito de cessão A transmissão das obrigações é uma conquista do direito moderno, representando uma sucessão ativa, se em relação ao credor, ou passiva, se atinente ao devedor, que não altera, de modo algum, a substância da relação jurídica, que permanecerá intacta, pois impõe que o novo sujeito (cessionário) derive do sujeito primitivo (cedente) a relação jurídica transmitida. A relação obrigacional é passível de alteração na composição de seu elemento pessoal, sem que esse fato atinja sua individualidade, de tal sorte que o vínculo subsistirá na sua identidade, apesar das modificações operadas pela sucessão singular ativa ou passiva. O ato determinante dessa transmissibilidade das obrigações designa-se cessão, que vem ser a transferência negocial, a título gratuito ou oneroso, de um direito, de um dever, de uma ação ou de um complexo de direitos, deveres a bens, com conteúdo predominantemente obrigatório, de modo que o adquirente (cessionário) exerça posição jurídica idêntica à do antecessor (cedente) Espécies de cessão Para haver transmissibilidade das várias posições obrigacionais, será preciso verificar se a posição do credor é suscetível de transmissão; se o for ter-se-á a cessão de crédito, desde que se configurem.os requisitos necessários para sua eficácia; se há possibilidade de se transferir a posição de devedor, hipótese em que surgirá a cessão de débito, estando presentes as condições imprescindíveis para tanto, e se as partes, nos contratos com prestações correspectivas, que implicam direitos a deveres recíprocos, podem transmitir, como um todo, sua inteira posição contratual, visto ser cada uma delas credora a devedora de prestações, caso em que se teria cessão de crédito a de débito, ou, como preferem muitos autores, cessão de contrato. Cessão de crédito A cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral bilateral, ou melhor, de um contrato, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor de uma obrigação (cedente) transfere, no todo ou em parte, a terceiro (cessionário), independentemente do consentimento do devedor (cedido), sua posição na relação obrigacional, com todos os acessórios a garantias, salvo disposição em contrário, sem que se opere a extinção do vínculo obrigacional. A cessão de crédito poderá ser: 1ª) Gratuita ou onerosa, conforme o cedente a realize com ou sem uma contraprestação do cessionário. 2ª) Total ou parcial. Se total, o cedente transferirá todo o crédito; se parcial, o cedente poderá permanecer na relação obrigacional, se retiver parte do crédito, ou então poderá retirar-se, se ceder a outrem a remanescente. Embora nosso Código Civil não faça menção à cessão parcial, ela é admissível. 3ª) Convencional, legal ou judicial (CC, art. 286, 1ª parte). A convencional é a que decorre de livre a espontânea declaração de vontade entre cedente a cessionário, ou seja, de contrato entre os interessados, podendo ser gratuita ou onerosa. A legal resulta de lei que, independentemente de qualquer declaração de vontade, determina a substituição do credor. Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

4ª) "Pro soluto" a "pro solvendo"'°. Ter-se-á cessã o pro soluto quando houver quitação plena do débito do cedente para com o cessionário, operando-se a transferência do crédito, que inclui a exoneração do

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cedente. O cessionário correrá o risco da insolvência do devedor (cedido), desde que o crédito exista a pertença ao cedente, considerando-se extinta a dívida antiga desde o instante da cessão. A cessão pro solvendo é a transferência de um direito de crédito, feita com intuito de extinguir uma obrigação, que, no entanto, não se extinguirá de imediato, mas apenas se e na medida em que o crédito cedido for efetivamente cobrado. Cessão de crédito a institutos similares A cessão de crédito se distingue da novação pelo simples fato desta se caracterizar pelo aliquid novi, havendo extinção da dívida anterior em razão da criação de um novo débito, tanto na novação subjetiva como na objetiva, enquanto na cessão de crédito há somente uma alteração subjetiva, permanecendo a mesma dívida, que apenas se transmite ao cessionário. Igualmente, não há como confundir a cessão de crédito com a sub-rogação, porque:

a) na cessão há propósito de lucro e o cessionário poderá exercer os direitos cedidos em toda a sua plenitude, ao passo que na sub-rogação legal não há caráter especulativo, pois o sub-rogado (CC, art. 350) não poderá exercer os direitos a ações do credor além dos limites da soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor;

b) o cedente assume, em regra, a responsabilidade pela existência do crédito cedido, o que já não ocorre com o sub-rogante;

c) o cessionário não será assim considerado por terceiros, a não ser a partir do instante em que se notifica a cessão; já o sub-rogado sê-lo-á perante terceiros, sem que seja preciso tomar qualquer medida de publicidade.

Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

Requisitos Sendo um negócio jurídico, requer a presença dos requisitos do Código Civil, art. 104: capacidade das partes, objeto lícito, possível, determinado ou determinável a forma prescrita ou não defesa em lei. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.

A cessão é um negócio jurídico bilateral que, além de não prescindir de consentimento, representa ato de disposição, por força do qual o crédito sai do patrimônio do cedente para se incorporar ao do cessionário. Logo, por induzir alienação, exige não só a capacidade genérica para os atos comuns da vida civil, como também a especial, reclamada para os atos de alienação, tanto do cedente como do cessionário. O cedente deverá ter o poder de disposição, que supõe a titularidade do crédito. Se o cedente for incapaz, a cessão só será possível com prévia autorização judicial (CC, art. 1.691), por ser ato que ultrapassa os limites da mera administração do representante legal. Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.

Parágrafo único - Podem pleitear a declaração de nulidade dos atos previstos neste artigo:

I - os filhos; II - os herdeiros; III - o representante legal.

O cessionário deverá ter o poder de tomar o lugar do cedente, visto a cessão importar aquisição de um direito creditório

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Quanto ao objeto da cessão, é preciso lembrar que qualquer crédito poderá ser cedido, conste ou não de um título, esteja vencido ou por vencer, se a isso não se opuser (CC, art. 286): Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

a) a natureza da obrigação, pois é óbvio que serão incedíveis os créditos oriundos dos direitos

personalíssimos; os créditos vinculados a fins assistenciais, como o crédito alimentício; os créditos atinentes aos vencimentos de funcionários ou os créditos por salários; os créditos decorrentes de direitos sem valor patrimonial; os créditos acessórios, enquanto tais, sem a transferência do principal; os créditos que não possam ser individualizados, pois a cessão é negócio dispositivo, devendo ser seu objeto determinado, de forma que não valerá a cessão de todos os créditos futuros, procedentes de negócios, por ser imoral;

b) a lei, visto que não serão cedíveis a herança de pessoa viva (CC, art. 426); créditos já

penhorados (CC, art. 298); a obrigação de fazer, se infungível a prestação (CC, art. 249); a preempção (CC, art. 520); a obrigação resultante de ingratidão do donatário (CC, art. 560); a do locador de serviço (CC, art. 607); a do mandatário, salvo se houver possibilidade de substabelecimento (CC, art. 682, II); o usufruto, com exceção do caso do art. 1.393; o benefício da justiça gratuita (Lei n. 1.060/50, art. 10); o direito de remir . Entretanto, poderão ser cedidos: o direito do autor de ligar o nome a todos os seus produtos intelectuais (Lei n. 9.610/98, art. 49); o exercício do usufruto (CC, art. 1.393); o direito de haver reparação do dano causado pelo delito; as indenizações que não tenham caráter alimentar, como despesas de tratamento médico a hospitalar;

Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único - Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro.

Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros.

Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide.

Art. 607. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada por força maior.

Art. 682. Cessa o mandato:

I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes;

Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso.

c) a convenção com o devedor, pois não poderão ser cedidos os créditos quando as partes

ajustaram a sua intransmissibilidade. A extensão do objeto da cessão, pelo Código Civil, art. 287, exceto disposição em contrário, abrangerá todos os acessórios do crédito cedido. Não havendo convenção em contrário, além do direito à prestação principal, transmitir-se-ão ao cessionário todos os acessórios do crédito, isto é, os direitos pessoais a os reais de garantia, os direitos de preferência, não concedidos em atenção à pessoa do credor o direito a juros compensatórios ou moratórios e a correção monetária; cláusula penal; cláusulas relativas ao modo, tempo a lugar de pagamento; cláusula de compromisso arbitral; estipulação de foro convencional; direitos potestativos inerentes ao crédito

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Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios.

A nossa legislação não exige forma específica para que se efetue a cessão de crédito; logo, esta se configura como um negócio não solene ou consensual, por independer de forma determinada, aperfeiçoando-se com a simples declaração de vontade do cedente a do cessionário. Porém, para que possa valer contra terceiros, exceto nos casos de transferência de créditos, operados por lei ou sentença, prescreve o Código Civil, art. 288, que será necessário que seja celebrada mediante instrumento público ou particular, revestido das solenidades do § 1º do an. 654 desse mesmo diploma legal. Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1º do art. 654.

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.

§ 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.

Efeitos A cessão de crédito produz efeitos: 1°) Entre as partes contratantes, isto é, entre o c edente e o cessionário. O cedente assumirá uma obrigação de garantia, tendo, então, responsabilidade perante o cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lho cedeu, se se tratar de cessão por título oneroso; entretanto, terá a mesma responsabilidade nas cessões por título gratuito, se procedeu de má fé (CC, art. 295). Ter-se-á, assim, a responsabilidade dente pela existência do crédito: Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

a) quando o crédito por ele cedido não existir no momento da cessão, que será, então, nula por

falta de objeto; b) quando o cedente não for o seu legítimo titular, em razão de uma exceção qualquer ou de um

modo extintivo da obrigação (novação, compensação etc.), pois, se o crédito existir em favor de terceiro, ter-se-á cessão de crédito alheio;

c) quando o crédito estiver inquinado de vício idôneo a torná-lo suscetível de anulação ou de nulidade;

d) quando pender sobre o crédito direito impeditivo de sua transferência plena. Convém lembrar que a responsabilidade do cedente abrange, além do crédito, os seus acessórios, de modo que o cedente deverá assegurar a existência de garantias reais ou fidejussórias, mas não.a sua eficácia. Contudo, para constatar tal fato, o cessionário somente poderá demandar o cedente depois de ter agido contra o devedor, para ressarcir-se de prejuízo sofrido pela conduta ilícita do cedente. O cedente não responderá pela solvência do devedor, salvo estipulação em contrário (CC, art. 296); mesmo assim, a sua responsabilidade pela solvência do devedor, em regra, na cessão pro solvendo, não irá além do que o cessionário recebeu no tempo da cessão, com os respectivos juros, acrescido das despesas da cessão, a das que houverem sido feitas com a cobrança (CC, art. 297). O cedente terá, ainda, a obrigação de:

• prestar informações necessárias ao exercício do direito de crédito, solicitadas pelo cessionário;

• entregar os documentos indispensáveis para que o cessionário possa realizar o crédito, a • fornecer documento hábil para provar a cessão, se o crédito não for titulado.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança.

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O principal efeito da cessão é transmitir para o cessionário a titularidade da relação jurídica cedida. O cessionário terá os mesmos direitos do credor a quem substituiu na obrigação, com todos os seus acessórios, vantagens e ônus, podendo exercer os atos conservatórios do direito cedido (CC, art. 293). Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido.

O cessionário passará a ocupar a mesma posição do cedente, pois, ante a mutação subjetiva operada, poderá proceder em relação ao crédito como se fosse credor originário. Como a cessão não atinge a substância da obrigação transmitida, se esta era a termo ou condicional, o cessionário deverá aguardar o vencimento do prazo a sujeitar-se aos efeitos do implemento da condição suspensiva ou resolutiva. E responderá pela solvência do devedor, correndo, como apontamos alhures, os riscos da insolvência do devedor-cedido na cessão pro soluto. Com o óbito do cedente, o cessionário poderá prosseguir na causa, juntando aos autos o respectivo título a provando sua identidade (CPC, art. 1.061). O cessionário terá direito de promover a execução ou nela prosseguir (CPC, art. 567, II). 2ª) Em relação ao devedor: a) antes da notificação, pois neste caso o devedor poderá pagar válida a legitimamente ao credor originário, como se não tivesse havido a cessão, uma vez que não foi notificado, exonerando-se da obrigação, de modo que o cessionário nenhuma ação terá contra o devedor não notificado, mas sim contra o cedente (CC, art. 292,). Se o crédito tiver sido penhorado, o credor, sabendo da penhora, não mais poderá transferi-lo, devendo notificar o devedor a respeito, pois, se não o fizer, o devedor que o pagar liberar-se-á, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro (CC, art. 298; CPC, art. 938); b) após a notificação, hipótese em que a cessão vinculará o devedor ao cessionário, de tal forma que deverá pagar o débito a ele. Se porventura mais de uma cessão for notificada, pagará ao cessionário que lhe apresentar, com o título da cessão, o da obrigação cedida (CC, art. 292,). Pagará bem o devedor que o fizer a quem se lhe apresentar como portador do instrumento representativo da cessão. Se não for,notificado das várias cessões do mesmo crédito, desobrigar-se-á pagando àquele dos cessionários que lhe mostrar, com o instrumento da cessão, o título da obrigação transmitida, porque a cessão se completa com a tradição do título do crédito cedido (CC, art. 291). Se nenhum cessionário se apresentar com o título da dívida, o devedor deverá lançar mão da ação consignatória para obter a sua exoneração (CC, art. 335, IV). Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.

Art. 335. A consignação tem lugar:

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; Sem embargo, não se cortam todas as relações entre o credor originário e o devedor cedido, pois pelo Código Civil, art. 294, este poderá opor tanto ao cessionário como ao cedente as exceções que lhe competirem no momento em que tiver ciência da cessão; mas não poderá opor ao cessionário de boa fé a simulação do cedente. Será conveniente que o devedor, ao ser notificado, ressalve o seu direito de oponibilidade. Assim do, se a obrigação for passível de anulação por erro, dolo ou incapacidade relativa do agente, ou se já houve pagamento do débito ou mesmo compensação, o devedor só poderá argüir tal exceção ou esses vícios contra o cedente ou contra o cessionário, se reclamou ao ser notificado, porque seu silêncio equivalerá a anuência com os termos do negócio, indicando seu propósito de pagar ao cessionário a prestação devida. Mas, se não foi notificado da cessão, poderá opor ao cessionário aquelas exceções que contra o cedente tinha antes da transferência. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

Cessão de débito

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Conceito a pressupostos O Código Civil prevê a cessão de débito expressamente nos arts. 299 e 303. Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Parágrafo único - Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.

A cessão de débito ou assunção de dívida é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com anuência expressa do credor, transfere a um terceiro os encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional, substituindo. Dessa definição poder-se-ão inferir seus pressupostos: 1°) Existência a validade da obrigação transferida. 2°) Substituição do devedor sem alteração na substâ ncia do vínculo obrigacional. A cessão é substituição na mesma relação jurídica, pois do contrário configurar-se-ia novação. 3°) Concordância do credor, uma vez que a pessoa do devedor é muito importante para ele, pois o valor do crédito dependerá da sua solvência ou idoneidade patrimonial, de forma que não seria conveniente ao credo de pessoa solvente vê-la substituída por outra com menos possibilidade de resgatar a dívida. O consentimento do credor precisará ser expresso (CC, art. 299, 1ª parte). "Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa" (CC, art. 299, parágrafo único). Nisto está a diferença entre cessão de débito a de crédito, pois nessa dispensa-se a anuência do devedor, porque lhe é indiferente a pessoa do credor; seja este quem for, o montante devido será sempre o mesmo. Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Parágrafo único - Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Deve observar os requisitos atinentes aos atos negociais, por ser esta a sua natureza jurídica. Necessários serão:

a) capacidade dos contraentes, que manifestam consentimento livre a espontâneo; b) objeto lícito e possível, podendo abranger todos os débitos, presentes a futuros, exceto os que

deverão ser cumpridos pessoalmente pelo devedor, a c) forma legal que, em regra, será livre, mas se a prestação devida consistir na entrega de bem

imóvel para a transmissão de seu domínio, a escritura pública será imprescindível.

Modos de realização A cessão de débito realizar-se-á mediante: 1°) Expromissão, que é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa assume espontaneamente o débito de outra. Por outras palavras, consiste no contrato entre terceiro (expromitente) e o credor, pois o devedor originário não toma parte nesta convenção. O expromitente não assume a dívida por ordem do dçvedor, mas espontaneamente. A expromissão poderá ser:

a) liberatória, se houver perfeita sucessão no débito, pela substituição do devedor na relação obrigacional pelo expromitente, ficando exonerado o devedor primitivo, exceto se o terceiro que assumiu sua dívida era insolvente e o credor o ignorava (CC, art. 299, 2ª parte);

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b) cumulativa, se o expromitente entrar na obrigação como novo devedor, ao lado do devedor primitivo, passando a ser devedor solidário, de forma que o credor poderá reclamar o pagamento de qualquer deles.

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Parágrafo único - Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

2º) Delegação, se o devedor transferir a terceiro, com a anuência do credor, o débito com este contraído. Haverá, pois, um contrato entre terceiro e o devedor. O devedor-cedente designar-se-á delegante; o que transfere o débito, delegado, e o credor, delegatário. Trata-se de delegação imperfeita, por não operar a extinção do débito, a poderá ser:

• privativa, se o delegante se exonerar, de maneira que o delegado assuma toda a responsabilidade pelo débito, sem responder pela insolvência deste;

• simples, se o novo devedor entrar na relação obrigacional unindo-se ao devedor primitivo, que continuará vinculado; não poderá, contudo, ser compelido a pagar senão quando o novo devedor deixar de cumprir a obrigação que assumiu, não havendo, portanto, entre eles nenhum vínculo de solidariedade.

Efeitos Se o débito transferido é o mesmo primitivo, por haver identidade de relação jurídica a de objeto, ter-se-á a mesma obrigação, que não se extinguirá,passando ao novo devedor, que assumirá a mesma posição do devedor originário. Assim sendo, a cessão de débito produz os seguintes efeitos": 1°)Liberação do devedor primitivo, com subsistência do vínculo obrigacional. 2°) Transferência do débito a terceiro, que se inve stirá na conditio debitoris. 3º)Cessação dos privilégios a garantias pessoais do devedor primitivo, de forma que o novo devedor não terá o direito de invocar as exceções pessoais do antigo sujeito passivo (CC, art. 302). 4°) Sobrevivência das garantias reais que acediam à dívida, com exceção das que foram constituídas por terceiro alheio à relação obrigacional,a não ser que ele consinta na sua permanência. Apenas com anuência expressa do devedor originária ter-se-á a extinção, a partir da assunção da dívida, das garantias especiais que deu ao credor (CC, art. 300). Se não for dado seu assentimento, a hipoteca, ou penhor dado pelo devedor, como garantia do débito ao credor, permanecerá. 5°) Anulação da substituição do devedor, acarretand o a restauração da dívida, com todas as suas garantias, salvo as prestadas por terceiro, a não ser que ele tivesse ciência do vício que inquinava a obrigação (CC, art. 301). 6°) Possibilidade de o adquirente de imóvel hipotec ado tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor notificado não impugnar em 30 dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento (CC, art. 303). '' Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.

Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.

Cessão de contrato

Conceito Apesar de não ser regulamentada pelo direito brasileiro, a cessão de contrato tem existência jurídica como negócio jurídico inominado, por decorrer do princípio da autonomia negocial, pois desde que os

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contraentes tenham capacidade, sendo lícito a possível o objeto a não recorrendo a forma proibida legalmente, as partes poderão estipular o que quiserem. A cessão de contrato é a transferência da inteira posição ativa a passiva, do conjunto de direitos a obrigações de que é titular uma pessoa, derivados de contrato bilateral já ultimado, mas de execução ainda não concluída. A cessão de contrato possibilita a circulação do contrato em sua integralidade, permitindo que um estranho ingresse na relação contratual, substituindo um dos contratantes primitivos, assumindo todos os seus direitos e deveres. Há, portanto, uma transferência da posição ativa a passiva de uma das partes a terceiro, que passará a fazer parte da relação jurídica, como, p. ex., nos contratos de cessão de locação, de empreitada, de compromisso de compra a venda, de mandato, em que, por meio do substabelecimento, o contrato-base é transferido, transmitindo-se ao cessionário todos os direitos a deveres dele decorrente.

Requisitos Efetivar-se-á a cessão de contrato somente se: 1°) O contrato transferido for bilateral, isto é, d e prestações correspectivas, pois se for contrato unilateral, ou seja, em que a vantagem ou o ônus se encontra com uma das partes contratantes, a hipótese será de cessão de crédito ou de débito. 2°) O contrato for suscetível de ser cedido de mane ira global, pois só poderá ser transferido depois de sua formação a antes de sua execução. 3°) Houver transferência ao cessionário não só dos direitos como também dos deveres do cedente. 4°) O cedido consentir, prévia ou posteriormente, p ois uma vez que a cessão de contrato implica, concomitantemente, uma cessão de crédito e uma cessão de débito, a anuência do cedido será indispensável para a eficácia desse negócio, sob pena de nulidade. Isto é assim porque para o cedido é muito importante a pessoa do cessionário, que passará a ser seu devedor. 5°) Se observarem os requisitos do negócio jurídico , ou seja, capacidade das partes, objeto lícito a forma legal.

Efeitos A cessão de contrato produz as seguintes conseqüências jurídicas: 1°) Transferência do crédito a do débito de um dos contraentes a um terceiro, que ingressa na relação negocial, substituindo-o a assumindo sua posição ativa a passiva na obrigação. 2°) Subststência da obrigação, que não sofrerá nenh uma alteração substancial. 3°) Liberação do cedente do liame contratual se hou ver consentimento do credor, externado previamente por ocasião do contrato-base, numa disposição contratual expressa ou numa cláusula à ordem, ou dado ao tempo da cessão, ou se se configurar hipótese em que a lei dispensa tal anuência. Casos há de cessão de contrato sem exoneração do cedente, que continuará vinculado ao negócio não apenas como garantia de seu adimplemento, mas como principal pagador, embora o cessionário assuma a responsabilidade pelas obrigações oriundas do contrato.

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Direito Civil – Obrigações

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